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A seguir passa para o estudo de ‘formas da arquitetura contemporânea’ e estruturas em concreto
armado. Os alunos devem interpretar formas exteriores de edifícios destinados a diferentes
funções [...] O último trabalho do semestre é uma maquete pequena, em barro, de uma residência
de fim-de-semana. No segundo semestre, após uma parte sobre levantamento topográfico, com
maquete de terreno com bloco construído, arruamento e jardim, voltam os estudos sobre formas
contemporâneas com a parte sobre estruturas de concreto armado. São vistas as relações de
forma e espaço entre colunas e lajes, e os alunos devem realizar um trabalho em barro, madeira,
gesso, vidro ou outro material plástico. A última parte são maquetes com detalhes arquitetônicos.
[...] Fica clara a disposição da disciplina em procurar voltar-se para o moderno, alinhando-se à
tendência das disciplinas centrais do curso e encaminhando os alunos já para questões
arquitetônicas e para o interesse pela arquitetura moderna. (FIORE, 1992, p. 224)
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Por outro lado, o currículo do primeiro ano das escolas contava ainda com a disciplina de Arquitetura
Analítica, cujo conteúdo privilegiava os estilos históricos da arquitetura mundial, tratados de forma
enciclopédica, com especial ênfase nas ordens clássicas.
As aulas são desenvolvidas através de uma série de preleções e trabalhos gráficos analíticos. As
preleções discorrem sobre os elementos arquitetônicos de cada período, os processos e técnicas
de construção, os elementos decorativos, leis de proporção, programas arquitetônicos, habitação,
monumentos importantes, condições históricas. Após estas aulas, os alunos realizam exercícios
gráficos de análise dos estilos e formas arquitetônicas estudadas. Os desenhos devem ser
bastante detalhados, reproduzindo as proporções, os elementos arquitetônicos e decorativos com
fidelidade, como, por exemplo, das ordens clássicas. Trata-se, na realidade, de uma reprodução
gráfica das formas arquitetônicas do passado, de uma cópia dos estilos históricos, sem uma visão
crítica, como colocam Nelson Souza e Charles Hugaud [...] Desenvolvida desse modo, Arquitetura
Analítica é uma "herdeira do academismo” (FIORE, 1992, p. 222)
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Estas duas disciplinas, Modelagem e Arquitetura Analítica, eram as porções do ensino introdutório que mais
se aproximavam, entre as práticas didáticas propedêuticas, da concepção arquitetônica. Não por acaso, a
primeira seria mantida e fortalecida na transição para o moderno e a segunda extinta nos seus moldes
originais.
De fato, nos anos que se seguiram, com a presença dos novos professores, uma visão mais ampla e
consistente do Movimento Moderno passou a ser assimilada pelo ambiente acadêmico, tornando a
manutenção do modelo tradicional de ensino cada vez mais desconfortável e constituindo, com isso, uma
atmosfera fértil para os debates em torno de reformas mais substanciais no ensino de arquitetura. Além da
ojeriza ao academicismo e a crescente desvalorização da história, o papel social do arquiteto aparecia em
destaque nas falas, cada vez mais atrelado a um impulso por mudar a sociedade. “Na época atual, no
Brasil, os arquitetos tentam conquistar o lugar que por direito lhes cabe como organizadores do ambiente da
vida, em todos os sentidos da palavra.”
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A exacerbação das esferas técnica e funcional na concepção
arquitetônica demonstrava traços de um determinismo formal que conviveria de modo algo incômodo nos
discursos dos docentes ao lado da imagem do arquiteto como artista da forma. A crença no papel diretivo
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Segundo programa de modelagem datado de 1950.
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Entrevista com Nelson Souza, Porto Alegre, 30/04/1991, e Charles René Hugaud, 01/04/1991.
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Demétrio Ribeiro em uma conferência proferida na ocasião da apresentação das propostas de reforma de ensino em 1960 na
Faculdade de Arquitetura da Universidade do Rio Grande do Sul. (SAN MARTIN; RIBEIRO, s.d., p. 5).