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elaborações freudianas, pode-se encontrar uma noção energética seguindo as
linhas de seu pensamento, resultando assim na construção do conceito de
trieb. Esse conceito tem sua base na antiguidade, sobretudo do estoicismo
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e
na esteira da teoria da termodinâmica (a posição entre a energia livre e a
energia ligada), com Helmholtz. Como já vimos anteriormente, é somente sob
o domínio psicológico, que a noção é chamada a designar um princípio de
ação independente da vontade.
A pulsão foi desenhada por Freud no horizonte do discurso psicanalítico,
aquém do inconsciente e do recalque, escapando à trama da linguagem e da
representação e marca o limite do discurso conceitual. Freud, em seu artigo A
pulsão e suas vicissitudes, 1914-1916, adverte que o conceito de pulsão é um
Grundbergriff, isto é, um conceito fundamental. Em uma nota de rodapé
acrescentada no artigo (5) Pulsões parciais e zonas erógenas, informa que “a
teoria das pulsões é a parte mais importante da teoria psicanalítica, embora, ao
de um Drang (ânsia, pressão) com um objetivo definido. Apenas a título de menção, fica adiantado que
há uma relação entre Trieb, estímulo (Reitz), pressão (Drang), prazer-vontade (Lust) e coerção-
compulsão Zwang), idéia/representação (Vorstellung). Também se pode notar, no emprego corrente, a
concepção de pulsão como algo rigoroso e energético – seu caráter indefinível e absoluto e seu caráter
oscilante entre prazer e o desprazer. Na língua alemã, bem como no texto de Freud, Trieb pode
manifestar genericamente como uma Grande força que Impele ou Princípio da Natureza (em Freud,
pulsão de vida, de morte, etc). Finalmente, Trieb pode aparecer como manifestação dessa força que
impele na esfera do indivíduo. A força impelente e motivadora (Trieb) brotará no indivíduo como
fenômeno somático-energetico. É descrita por Freud como: a) fenômeno fisiológico que envolve os
neurônios, nervos, fontes pulsionais situadas em glândulas, etc. e b) como processo energético-
econômico onde está em jogo o acúmulo de energia, a circulação e a descarga. (Luiz Hanns, 1999,
Imago, A teoria pulsional na clínica de Freud).
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Estoicismo - Doutrina filosófica fundada no século III a.C. por Zenão de Cítio, propõe uma vida de
indiferença em relação a tudo o que é exterior ao ser. A ligação da Pulsão com o estoicismo remete ao
que o naturalismo estóico implica, num conhecimento da natureza susceptível de fundamentar uma
sabedoria. A Pulsão reflete o bem-dizer da invenção artística, da criação literária, da fundação do saber
subjetivo em ato poético. Na verdade, estamos falando de uma erótica, de uma energia pulsional mais
radical e própria do falante. Erotização, em potência, do sintoma humano em sua relação estética com o
mundo. Os modelos da física e da termodinâmica são uma permanente tentação explicativa. É o
momento dos opostos, dos antagonismos, da contraposição causa-efeito, do verdadeiro e do falso. Os
pares dicotômicos a partir dos quais se organiza o pensamento da época penetram nos redutos mais
íntimos da subjetividade (Ferrater Mora, p. 575.).