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INSTITUTO OSWALDO CRUZ
Mestrado em Biologia Parasitária
ANA LUIZA CHAVES VALADÃO
CONSTRUÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE VÍRUS FEBRE AMARELA (FA) 17D
RECOMBINANTES EXPRESSANDO O DOMÍNIO III DA PROTEÍNA E DE
DENGUE 2 NA REGIÃO INTERGÊNICA E/NS1 DO VÍRUS FA 17D
Dissertação apresentada ao Instituto Oswaldo Cruz como
parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em
Biologia Parasitária
Orientadora: Drª. Myrna C. Bonaldo
RIO DE JANEIRO
Abril de 2008
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i
INSTITUTO OSWALDO CRUZ
Mestrado em Biologia Parasitária
Esta dissertação intitulada:
CONSTRUÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE VÍRUS FEBRE AMARELA (FA) 17D
RECOMBINANTES EXPRESSANDO O DOMÍNIO III DA PROTEÍNA E DE DENGUE 2
NA REGIÃO INTERGÊNICA E/NS1 DO VÍRUS FA 17D
apresentada por
ANA LUIZA CHAVES VALADÃO
Será avaliada pela banca examinadora composta pelos seguintes membros:
Prof. Dr. Carlos Roberto Alves, Laboratório de Biologia Molecular e Doenças Endêmicas,
IOC, FIOCRUZ.
Prof. Dr. Andréa Cheble de Oliveira, Laboratório de Termodinâmica de Proteínas e
Estruturas Virais Gregorio Weber, Instituto de Bioquímica Médica, UFRJ.
Prof. Dr. Marcos da Silva Freire, Gerente do Programa de Vacinas Virais, Bio-
Manguinhos, FIOCRUZ.
Rio de Janeiro, abril de 2008.
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ii
V176
Valadão, Ana Luiza Chaves
Construção e caracterização de vírus febre amarela (FA) 17D recombinantes
expressando o domínio III da proteína e de dengue 2 na região intergênica e NS1 do vírus FA
17D / Ana Luiza Chaves Valadão. – Rio de Janeiro, 2008.
xix, 135 f. : il. ; 30 cm.
Dissertação (mestrado) – Instituto Oswaldo Cruz,
Biologia Parasitária, 2008.
Bibliografia: f. 113-128
1.Vírus recombinante. 2. Febre amarela. 3. Dengue. 4. Vírus da
dengue. 5. Vacina contra Dengue. 6. Domínio III. 7. Flavivirus I. Título.
CDD 614.541
iii
Trabalho realizado no Laboratório de Biologia Molecular de Flavivírus,
IOC, e no Laboratório de Tecnologia Virológica (LATEV) do
Departamento de Desenvolvimento Tecnológico/Bio-
Manguinhos/FIOCRUZ , sob a orientação da Dr
a
Myrna C. Bonaldo.
iv
“Mas é preciso ter força, é preciso ter raça
É preciso ter gana sempre
(...)
Mas é preciso ter manha, é preciso ter graça
É preciso ter sonho sempre
Quem traz a fé nessa marca
Possui a estranha mania de ter fé na vida...”
Milton Nascimento
v
Dedico esta dissertação
a meus pais Antônio e Lisia, pela formação moral e educacional;
aos meus avôs Alcir e Manoel, pelo exemplo de vida; e
ao Gustavo, pelo amor, amizade e companheirismo
vi
Agradecimentos
À Dra. Myrna Bonaldo, por ter me permitido integrar sua equipe, pelo crédito e confiança
depositados em mim e por ter me contemplado com um projeto audacioso e desafiador. Obrigada
pela oportunidade, aprendizado, crescimento profissional e orientação.
Ao Dr. Ricardo Galler, pelas grandiosas e valiosas discussões durante os seminários,
questionamentos e cobranças que me impulsionavam para seguir adiante. Pela objetividade,
praticidade, eficiência e inteligência imensurável.
À toda equipe do laboratório de Biologia Molecular de Flavivírus, em especial: à
Michelli Faria e Ana Paula Montenegro, duas guerreiras, companheiras de experimentos
“overday”, “overnight” e “overweekend”, muitíssimo obrigada pela colaboração, conversas
durante as incubações, que faziam o tempo passar muito mais rápido; pela companhia: durante as
caminhadas inevitáveis no campus da Fiocruz, durante os almoços, congressos e viagens a
trabalho e por vários outros motivos que não caberiam nesse breve agradecimento; à Adriana
Duarte, exemplar técnica do laboratório, por todo conhecimento compartilhado, palavras de
conforto quando algo não saía como o esperado e pela pessoa que és dentro e fora do ambiente de
trabalho; à Raquel Tayar, por sua inacreditável calma em tudo o que faz, obrigada pelo apoio nos
experimentos com as cobaias, e pelas caroninhas providenciais de volta para casa; à Gisela
Freitas, pelo auxílio durante os experimentos de imunofluorescência, obrigada por ter sempre
uma palavra amiga e de incentivo nos momentos em que mais precisei; ao Armindo Rocha, por
providenciar materiais em ótimas condições para o trabalho, por sempre atender aos meus
pedidos de última hora, e pelas maravilhosas tortas de sobremesa; à Samanta de Mello e Ingrid
Horbach, por resolver minhas dúvidas com uma simples olhadela em seus protocolos e pelos
agradáveis momentos que compartilhamos; ao Marlon, exemplo de dedicação, perseverança e de
vida, obrigada por ter sempre os artigos que precisava e por estar sempre por perto para resolver
probleminhas temperamentais de nossos computadores; à Adriana Vallochi, pela ajuda com a
estatística, com o EndNote, pela criteriosa leitura dessa dissertação, pelas sessões gratuitas de
terapia em grupo e por tentar descomplicar a tão temida Imunologia; à Danielle de Paula, nossa
ex-secretária, sinônimo de eficiência, obrigada por resolver todas as burocracias, por todas as
guloseimas e pelo bate-papo na hora do almoço; e à Patrícia Carvalho, nossa nova secretária, por
tornar o ambiente ainda mais descontraído.
Ao chefe do Laboratório de Tecnologia Virológica (LATEV), Dr. Marcos Freire, por
disponibilizar seu laboratório e toda a infra-estrutura necessária para a realização de parte dos
vii
experimentos desta dissertação. Agradeço também a toda sua equipe pela boa recepção,
companheirismo, atenção e simpatia.
Aos Drs. Richard Garratt e João Renato Muniz, pelo trabalho em colaboração de
modelagem molecular de DIII den-2 realizado na USP de São Carlos. Também a Lucas Bleisher,
pelo apoio bibliográfico e explicações super didáticas e à Nayara Cavalcante, cicerone nota
1.000!
À Dra. Aymara Rangel, pelo carinho, preocupação e exemplo de protocolo perfeito!
Ao Dr. Carlos Roberto Alves, revisor desta dissertação, pela cuidadosa leitura, sugestões,
acessibilidade e simpatia.
Aos membros da banca examinadora e aos suplentes desta, por terem aceitado o convite
para avaliar esta dissertação.
À FIOCRUZ, ao Instituto Oswaldo Cruz e ao CNPq, pelo suporte financeiro para
realização desta dissertação.
Aos meus pais, Antônio e Lisia, por estarem sempre a meu lado, me aconselhando e me
incentivando. Obrigada pela torcida constante, pelas caronas durante a semana e finais de semana
de trabalho. Obrigada pelas rezas, promessas, cafés, chocolates, amor e criação.
Aos meus avôs, Alcir e Manoel, dois lindos exemplos de vida, pela curiosidade em
entender como esta dissertação foi desenvolvida, apesar de não entenderam nada de Biologia
Molecular ou Virologia, e pelos numerosos estímulos positivos.
Ao meu namorado, Gustavo, por compartilhar todos os momentos desta dissertação
comigo, por me agüentar reclamando da vida, por rir e vibrar comigo a cada nova conquista e
pelo apoio incondicional. Muito obrigada pela “reforma geral” em meu computador, sem a qual
esta dissertação não teria acontecido.
Ao meu amigo Expedito, presente sempre nos momentos urgentes e que parecem
impossíveis!
À Tia Maria, Dona Rosa e Seu Zé, pelos ensinamentos, apoio e por tentar me ensinar a
forma simples de ver a vida.
À minha querida amiga Renyele Castelo, pela verdadeira amizade e por entender minha
ausência e as chamadas não atendidas.
Às minhas amigas de faculdade Cíntia Fernades e Caroline Passaes, por tanto me
encorajarem a fazer a prova de mestrado para Biologia Parasitária e por toda a ajuda durante
meus estudos.
viii
À toda minha turma de mestrado, em especial às amigas Joanna Reis e Érika Abi-Chacra,
vulgo chupa-cabra, pelas risadas, momentos descontraídos e por todas as chupiças!
À Deus, pela vida e força de cada dia.
A todos aqueles que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização desta
dissertação.
ix
ÍNDICE
1. INTRODUÇÃO ________________________________________________________ 1
1.1 Histórico da Dengue, sua Emergência e Patogenia ______________________________ 1
1.2 A Dengue no Mundo _____________________________________________________ 5
1.3 A Dengue no Brasil ______________________________________________________ 6
1.4 Ciclo Biológico _________________________________________________________ 8
1.5 O Vírus da Dengue: Etiologia, Genoma e Replicação ___________________________ 9
1.6 As Proteínas Estruturais e Não-estruturais de Flavivírus ________________________ 12
1.7 Ciclo Replicativo _______________________________________________________ 15
1.8 Domínio III da Proteína de Envelope dos Flavivírus ___________________________ 16
1.9 Desenvolvimento de Vacinas Dirigidas à Dengue _____________________________ 19
1.10 O Vírus Vacinal Febre Amarela 17D ____________________________________ 21
1.11 A Metodologia do Clone Infeccioso _____________________________________ 23
1.12 O Uso do Vírus da Febre Amarela 17D como Vetor de Expressão do Domínio III da
Proteína E dos Vírus Dengue 2 _______________________________________________ 24
2. JUSTIFICATIVA DO PROJETO __________________________________________ 29
3. OBJETIVOS __________________________________________________________ 30
4. MATERIAL E MÉTODOS _______________________________________________ 31
4.1 Certificados ___________________________________________________________ 31
4.2 Cultura de Células ______________________________________________________ 31
4.3 Amostras Virais Utilizadas _______________________________________________ 32
4.3.1 Vírus FA 17DD ______________________________________________________ 32
4.3.2 Vírus Parental FA 17D/G1.2-T3 _________________________________________ 32
4.3.3 Vírus Dengue-2 44/2 __________________________________________________ 33
4.4 Modelagem Molecular por Homologia do domínio III da proteína E do vírus dengue __ 34
4.5 Extração do RNA Viral __________________________________________________ 35
4.6 Construção dos Vírus FA Recombinantes ____________________________________ 36
4.6.1 Obtenção do Cassete de Expressão DIII den-2/HA trunc den-4 __________________ 36
4.6.2 RT-PCR para Ampliação do Domínio III do Vírus den-2 genótipo BR64022/98 ____ 36
4.6.3 PCR para Ampliação do Domínio III do Clone Infeccioso do Vírus Quimérico FA/den-
2________________________________________________________________________ 37
x
4.6.4 PCR para Amplificação da Região Truncada da Haste-Âncora (HA) da Proteína E do Vírus
Dengue-4 ________________________________________________________________ 38
4.6.5 Purificação dos Produtos de PCR por Eletroforese Preparativa em Gel de Agarose __ 38
4.6.6 PCR de Fusão dos Fragmentos de DNA para a Montagem do Cassete de Expressão do
Domínio III ______________________________________________________________ 39
4.6.7 Clonagem do Cassete de Expressão do Domínio III den-2 no Vetor PCR-Blunt II-TOPO
_______________________________________________________________________41
4.6.8 Extração em Pequena Escala dos Plasmídeos PCR-Blunt II-TOPO Recombinantes _ 43
4.6.9 Digestão das Minipreparações Plasmidiais com Eco RI _______________________ 44
4.6.10 Análise por Eletroforese de Ácidos Nucléicos em Gel de Agarose ______________ 44
4.6.11 Preparação de Estoque Bacteriano _______________________________________ 44
4.6.12 Seqüenciamento Nucleotídico __________________________________________ 45
4.7 Preparação do Molde de cDNA Viral _______________________________________ 46
4.7.1 Subclonagem do Cassete de Expressão DIII den-2 no Plasmídeo pT3 ____________ 46
4.7.1.2 Digestão de pT3 com Nar I ____________________________________________ 46
4.7.1.3 Precipitação de Ácidos Nucléicos _______________________________________ 47
4.7.1.4 Desfosforilação do Plasmídeo pT3/Nar I com SAP _________________________ 47
4.7.1.5 Digestão das Amostras Plasmidiais Recombinantes com Nar I ________________ 48
4.7.1.6 Ligação do Cassete de Expressão em pT3 _________________________________ 48
4.7.1.7 Subclonagem do Cassete de Expressão DIII den-2/HA trunc den-4 no Plasmídeo
pT3______________________________________________________________________49
4.7.1.8 Extração de Plasmídeos em Grande Escala ________________________________ 50
4.7.1.9 Montagem do Molde de cDNA Viral ____________________________________ 51
4.7.1.10 Digestão dos Plasmídeos com Nsi I e Sal I e Ligação dos Fragmentos _________ 51
4.7.1.11 Digestão da Preparação de DNA Ligado com Xho I ________________________ 52
4.7.1.12 Síntese in vitro do RNA Viral _________________________________________ 53
4.8 Transfecção do RNA Viral em Cultura de Células Vero_________________________ 53
4.9 Produção dos Estoques Virais _____________________________________________ 55
4.10 Caracterização dos Vírus FA Recombinantes ________________________________ 55
4.10.1 Titulação dos Vírus FA Recombinantes ___________________________________ 55
4.10.2 Cinética de Replicação Viral em Monocamadas de Células Vero _______________ 56
4.10.3 Estabilidade Genética Viral ____________________________________________ 57
4.10.4 Imunofluorescência e Microscopia Confocal _______________________________ 58
4.10.5 Microscopia em Contraste de Fase _______________________________________ 59
5. RESULTADOS ________________________________________________________ 60
xi
5.1 Estudos Preliminares da Estrutura do Domínio III do Vírus Dengue-2: Análise por
Alinhamento Seqüencial e Modelagem Molecular ________________________________ 60
5.1.1 Mapeamento dos Sítios Antigênicos no Modelo tridimensional de DIII den-2 ______ 70
5.2 Estratégia para Construção de Vírus FA 17D Recombinantes, Expressando Domínio III de
Dengue-2 na Região Intergênica E/NS1 _____________________________ ____________75
5.3 Obtenção do Molde de cDNA Genômico Contendo o Cassete de Expressão do DIII den-2
_______________________________________________________________________76
5.4 Obtenção dos Vírus FA Recombinantes Expressando DIII den-2 __________________ 85
5.5 Produção e Titulação de Estoques Virais ____________________________________ 87
5.6 Análise da Replicação Viral em Células Vero ________________________________ 88
5.7 Estabilidade Genética dos Vírus FA 17D Recombinantes _______________________ 93
5.7.1 Vírus FA 17D/DIII den-2 IGA ___________________________________________ 94
5.7.2 Vírus FA 17D/DIII den-2 VGA __________________________________________ 95
5.8 Análise da Expressão do Cassete DIII den-2 pelos Vírus Recombinantes FA 17D por
Microscopia Confocal de Fluorescência ________________________________________ 97
6. DISCUSSÃO _________________________________________________________ 99
7. CONCLUSÃO___________________________________________________________112
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS _________________ _____________________113
9. ANEXO________________________________________________________________129
9.1. Meios de Cultura e Soluções_______________________________________________129
xii
ABREVIATURAS E SIGLAS
(-) RNA Ácido ribonucléico de polaridade negativa
+ (+) RNA Ácido ribonucléico de polaridade positiva
-FA Anticorpo anti-Febre Amarela
A Adenina
aa Aminoácido
ADE Intensificação da infecção dependente de anticorpo (do inglês,
Antibody-Dependent Enhancement)
Asibi Linhagem Asibi selvagem do vírus da Febre Amarela
ATCC Coleção Americana de Culturas e Depósitos (American Type
Culture Collection)
BHK Células de rim de camundongo jovem. Do inglês, Baby Hamster
Kidney
BLAST Do inglês, Basic Local Alignment Search Tool
BSA Albumina sérica bovina (do inglês, Bovine Serum Albumin)
BHI Do inglês, Brain Heart Infusion
C 1. Citosina 2. Capsídeo ou proteína do capsídeo
C6/36 Linhagem de célula de mosquito Aedes albopictus
CCL Linhagem Celular Certificada (do inglês, Certified Cell Line)
cDNA DNA complementar
cap Resíduo G metilado (7-metil G) na extremidade 5´ do mRNA
CEF Fibroblasto de embrião de galinha (do inglês, Chicken Embryo
Fibroblast)
COS-7 Células de rim de macaco verde africano (do inglês: African
green monkey kidney)
CHO Do inglês, Chinese Hamster Ovarian Cell
CMC Carboximetilcelulose
CNTBio Comissão Técnica Nacional de Biossegurança
CPE Efeito citopático (do inglês, Cytopathic Effect)
CTBio Comissão Técnica de Biossegurança
DEDT Departamento de Desenvolvimento Tecnológico
den-1 Vírus dengue sorotipo 1
den-2 Vírus dengue sorotipo 2
den-3 Vírus dengue sorotipo 3
den-4 Vírus dengue sorotipo 4
DEPC Dietil pirocarbonato
DSS Síndrome de Choque por Dengue (do inglês, Dengue Shock
Syndrome)
DTT 1,4-ditiotreitol
E Envelope ou proteína do envelope viral
EB Tampão de eluição (do inglês, Elution Buffer)
EDTA Etileno-diamino tetra acetato de sódio
et al
e colaboradores
FA Vírus da Febre Amarela ou Febre Amarela
FD Febre por dengue ou dengue clássico
FHD Febre hemorrágica por dengue ou dengue hemorrágico
xiii
FRhL Do inglês, Fetal Rhesus Lung
G Guanina
GAG Glicosaminoglicanas
EGFP Do inglês, Enhanced Green Fluorescent Protein
GMP Boas práticas de fabricação (do inglês, Good Manufacturing
Practices)
ICTV Comissão Internacional de Taxonomia Viral (do inglês,
International Comission for the Taxonomy of Viruses)
IFN Interferon
IgG Imunoglobulina G
IgM Imunoglobulina M
JE Vírus da encefalite japonesa (do inglês, Japanese Encephalitis virus)
LA LipofectAmine® - lipídeo catiônico
LASV Lassa vírus
LB Luria-Bertani
Log ou log
10
Logarítmo de base 10
LPS Lipopolissacarídeo
LS Lote semente
M Proteína de Membrana
MDM Do inglês, Monocyte-Derived Macrophages
MHC Complexo principal de histocompatibilidade (do inglês, Major
Histocompatibility Complex)
m.o.i. Multiplicidade de infecção (do inglês, multiplicity of infection)
MOPS 3-N-ácido morfolino propanosulfônico
MVE Do inglês, Murray Valley Encephalitis Virus
N Concentração normal ou normalidade
n Nano (x10
-9
)
n
o
Número
NITD
Do inglês, Novartis Institute of Tropical Diseases
NGC rus dengue sorotipo 2 genótipo Nova Guinea C
NS Proteína não estrutural (do inglês, Non-Structural Protein)
nt Nucleotídeo
OMS Organização Mundial da Saúde (WHO – World Health
Organization)
ORF Fase de leitura aberta (do inglês, Open Reading Frame)
pb Par de bases
PBS Solução salina fosfato tamponada (do inglês, Phosphate Buffered
Saline solution)
PCR Reação em cadeia da polimerase (do inglês, Polimerase Chain
Reaction)
PDB Do inglês, Protein Data Bank
PDK Do inglês, Primary Dog Kidney
PDVI Do inglês, Pediatric Dengue Vaccine Initiative
pfu Unidade formadora de placa (do inglês, plaque forming unit)
PGMK Do inglês, Primary Green MonkeyKidney
pH Potencial de hidrogênio
xiv
p.i. Pós-infecção
PM Peso molecular
Poli-A Estrutura poliadenilada da extremidade 3’ do mRNA
POP Protocolo de Operação Padronizado
prM Precursor da proteína de membrana
PRNT Teste de neutralização da redução da formação de placas de lise (do
inglês, Plaque Reduction Neutralization Test)
q.s.p. Quantidade suficiente para preencher
RE Retículo endoplasmático
RNA Ácido ribonucléico
RNAm Ácido ribonucléico mensageiro
RNase Ribonuclease
RT 1. Transcriptase reversa ou RNA polimerase dependente de DNA;
2. Reação de transcrição reversa
SDS Dodecil sulfato de sódio (do inglês, Sodium Dodecil Sulfate)
SOC Meio SOC (do inglês, Super Optimal Catabolite)
SFB Soro fetal bovino
SPF Livre de patógeno específico (do inglês, Specific Pathogen Free)
SURE Do inglês, Stop Unwanted Rearrangement Events
T Timina
TA Temperatura ambiente
TAE Tampão tris-acetato-EDTA
TBE Vírus da Encefalite Tick-Borne (do inglês, Tick-Borne Encephalite
virus)
TE Tampão Tris-EDTA
TNF Fator de necrose tumoral (do inglês, Tumor Necrosis Factor)
Tris Tris (hidroximetil) aminometano
U 1.Uracila 2. Unidade
UPR Do inglês, Unfolded Protein Response
UTR Região não traduzida (do inglês, Untranslated Region)
VLP Do inglês, Virus Like Particle
YF Yellow Fever
WNV Vírus do Oeste do Nilo (do inglês, West Nile Virus)
xv
LISTA DE FIGURAS
Figura 1.1 - Distribuição geográfica do Aedes aegypti nas Américas em 1930, 1970 e
2001______________________________________________________________3
Figura 1.2 - Distribuição global de dengue, Febre Amarela e o seu vetor Aedes aegypti_______3
Figura 1.3 - Vírus da dengue evidenciando a proteína E e seus domínios__________________9
Figura 1.4 - Estrutura Genômica e Processamento da Poliproteína nos Flavivirus___________11
Figura 1.5 - Topologia de membrana das proteínas de Flavivírus no RE__________________12
Figura 1.6 - Estrutura da proteína E do vírus dengue 3 presente nas partículas virais
maduras___________________________________________________________13
Figura 1.7 - Representação dos ectodomínios da proteína E e seus domínios
transmembranares___________________________________________________14
Figura 1.8 - Ciclo de vida de um Flavivírus_________________________________________16
Figura 1.9 - Mapeamento das áreas de DIII relacionadas a mutantes de escape de neutralização
por anticorpos______________________________________________________18
Figura 1.10 - Comparação entre os resíduos não conservados entre os vírus den-2 e den-
3________________________________________________________________19
Figura 1.11 - Histórico de passagens do genótipo selvagem Asibi e sua derivação até os
genótipos vacinais
17D_____________________________________________________________22
Figura 1.12 - Representação esquemática da proteína E do vírus da Febre Amarela e das
plataformas de expressão referentes às Construções I e II, e a organização das
mesmas no retículo endoplasmático_____________________________________26
Figura 4.1 - Obtenção do cassete de expressão inserido na região intergênica E/NS1 do genoma
de FA 17DD_______________________________________________________40
Figura 4.2 - Mapa do vetor PCR-Blunt II-TOPO, parte do sistema comercial de clonagem Zero
Blunt TOPO, indicando os genes de resistência aos antibióticos canamicina e
zeocina___________________________________________________________42
Figura 4.3 - Mapas dos plasmídeos pT3 íntegro e pT3 recombinante, contendo a inserção do
domínio III de dengue-
2________________________________________________________________47
xvi
Figura 4.4 - Mapa do plasmídeo pG1.2. Este plasmídeo contém as regiões 3’ e 5’ do genoma do
vírus FA 17DD_____________________________________________________52
Figura 5.1 - Alinhamento múltiplo das seqüências de aminoácidos de DIII de diferentes
genótipos do vírus dengue, sorotipo 2, com suas respectivas fitas
________________________________________________________________62
Figura 5.2 - Alinhamento múltiplo das seqüências de aminoácidos de DIII entre os 4 sorotipos
do vírus dengue, incluindo o cassete de expressão__________________________63
Figura 5.3 - Análise seqüencial dos componentes do cassete de expressão DIII den-2 HA trunc
den-4_____________________________________________________________65
Figura 5.4 - Alinhamento múltiplo das seqüências molde para a realização da modelagem do
DIII den-2 utilizado para a geração do cassete de inserção___________________67
Figura 5.5 - Modelo do domínio III da proteína E de den-2 utilizado para a construção do vírus
recombinante FA 17D/DIII den-2______________________________________68
Figura 5.6 – Plot de Ramachandran gerado pelo programa PROCHECK__________________69
Figura 5.7 – Substituições de aminoácidos observadas entre os genótipos de den-2 (esferas
amarelas)__________________________________________________________70
Figura 5.8 - Epítopos mapeados no DIII den-2______________________________________71
Figura 5.9 - Modelo do DIII den-2 evidenciando o resíduo D390 (esfera violeta)___________72
Figura 5.10 - Modelo do DIII den-2- domínio de ligação a receptores celulares_____________73
Figura 5.11 - Mapa da superfície eletrostática do DIII den-2___________________________74
Figura 5.12 - Regiões da proteína E e NS1 do vírus Febre Amarela 17D usadas na montagem do
cassete de expressão do domínio III da proteína E dos vírus dengue
2________________________________________________________________76
Figura 5.13 - Obtenção do cassete de expressão DIII den-2 HA truncada den-4____________78
Figura 5.14 - Mapa do plasmídeo PCR-Blunt II TOPO recombinante, contendo o cassete de
expressão do domínio III de dengue-2___________________________________78
Figura 5.15 - Sub clonagem do cassete de expressão no vetor pT3 e transformação em E. coli
SURE____________________________________________________________81
Figura 5.16 - Obtenção do molde de cDNA do vírus FA 17DD DIII den-2 HA truncada den-
4________________________________________________________________82
Figura 5.17 - Transcrição in vitro dos moldes de cDNA do vírus FA 17DD DIII den-2 HA
truncada den-4_____________________________________________________83
xvii
Figura 5.18 - Clonagem e Sub-clonagem para obtenção do molde de cDNA completo viral
recombinante______________________________________________________84
Figura 5.19 - Cromatogramas dos vírus recombinantes FA 17D/DIII den-2 VGA – sem mutação
(A) e FA 17D/DIII den-2 IGA – mutado (B)______________________________86
Figura 5.20 - RT-PCR dos sobrenadantes de transfecção e infecção dos vírus recombinantes FA
17D/DIII den-2 IGA (mutado) e FA 17D/DIII den-2 VGA (sem
mutação)__________________________________________________________88
Figura 5.21 - Cinética de replicação dos vírus recombinantes FA 17D/DIII den-2 VGA e FA
17D/DIII den-2 IGA, e dos vírus controle FA 17DD e FA 17D/G1.2-T3 em
monocamadas de células
Vero_____________________________________________________________89
Figura 5.22 - Fotomicrografias da cinética de replicação viral__________________________92
Figura 5.23 - Estabilidade genética dos vírus FA 17D recombinantes____________________96
Figura 5. 24 - Detecção da expressão do DIII de den-2_______________________________98
xviii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1.1 - Comparação entre doenças causadas por Flavivírus e transmitidas por
mosquitos_________________________________________________________6
Tabela 1.2 - Lista parcial das vacinas candidatas contra dengue em
desenvolvimento__________________________________________________21
Tabela 4.1 – Seqüência dos oligonucleotídeos utilizados para a construção do cassete de
expressão DIII den-2 HA den-4_______________________________________39
Tabela 4.2 - Características genotípicas da cepa bacteriana usada durante o processo de
transformação com o Kit de clonagem Zero Blunt TOPO__________________41
Tabela 4.3 - Seqüência dos oligonucleotídeos utilizados para o seqüenciamento do cassete de
expressão DIII den-2 HA den-4 clonado no vetor comercial PCR-Blunt II-TOPO___________45
Tabela 4.4 - Características genotípicas da cepa bacteriana usada durante o processo de
subclonagem do cassete de expressão no vetor pT3_______________________49
Tabela 4.5 - Seqüência dos oligonucleotídeos utilizados para o seqüenciamento do cassete de
expressão DIII Den-2 HA Den-4 subclonado em pT3_____________________50
Tabela 4.6 - Oligonucleotídeo sintético utilizados no seqüenciamento nucleotídico do cassete de
expressão do domínio III den-2, clonado na região intergênica E/NS1 de FA
17D____________________________________________________________55
Tabela 5.1 - Alterações observadas na seqüência de aminoácidos de DIII após alinhamento
múltiplo entre diferentes genótipos do vírus dengue
2_______________________________________________________________68
Tabela 5.2 - Identidade das seqüências de DIII e Haste-âncora da proteína E utilizadas na
montagem do cassete de expressão____________________________________71
Tabela 5.3 - Títulos dos vírus FA 17D controles e recombinantes_______________________93
Tabela 5.4 - Cinética de Replicação Viral em Cultura de Células Vero___________________95
Tabela 5.5 – Estabilidade Genética do vírus recombinante FA17D/DIII den-2 VGA________99
Tabela 5.6 - Estabilidade Genética do vírus recombinante FA17D/DIII den-2 IGA ________100
Tabela 5.7 – Mutações observadas no vírus recombinantes FA 17D/DIII den-2 IGA________102
Tabela 5.8 Mutações observadas no vírus recombinantes FA 17D/DIII den-2 IGA________103
xix
RESUMO
A dengue é uma arbovirose transmitida ao homem por meio da picada de insetos vetores
que albergam o vírus dengue (gênero Flavivírus, família Flaviviridae). Este vírus apresenta-se
como 4 sorotipos (den-1 a den-4), antigenicamente distintos, embora todos possuam mesma
epidemiologia e causem os mesmos sintomas. A infecção por dengue é caracterizada por amplo
espectro de manifestações clínicas e sua re-emergência é responsável por grande impacto na
saúde pública mundial. Apesar de diversas tentativas para o desenvolvimento de uma vacina
contra dengue, nenhuma ainda está disponível. Neste trabalho utilizamos o vírus vacinal da Febre
Amarela 17D (FA 17D) para expressão do domínio III (DIII) da proteína de envelope (E) de den-
2, na região intergênica E/NS1, baseado nas boas propriedades da vacina contra FA. A escolha do
DIII den-2 justifica-se por ele estar associado a processos de infecção celular e por ser o principal
indutor de resposta imune mediada por anticorpos neutralizantes dirigida à partícula viral. O
estudo de alinhamento do DIII de diferentes genótipos e a sua modelagem molecular permitiram
uma melhor caracterização desta região em relação à sua variabilidade, mutantes de escape de
neutralização e sítios de ligação a receptores celulares. A abordagem de expressão do DIII da
proteína E de den-2 no genoma do vírus FA 17D baseou-se na montagem do cassete de expressão
contendo motivos duplicados de aminoácidos conservados, flanqueadores da região intergênica E
e NS1 (Bonaldo et al., 2007), permitindo desta forma, o correto processamento da poliproteína
viral em associação ao retículo endoplasmático (RE) celular. Foram gerados dois diferentes vírus
FA recombinantes que albergavam a inserção heteróloga correspondente ao DIII den-2,
indicando que esta inserção não acarretou em um grande comprometimento da estrutura e função
virais. Estes vírus FA recombinantes diferiam entre si quanto à porção C-terminal do cassete de
expressão, onde um deles apresentava uma mutação no sítio de clivagem da enzima peptidase
sinal do hospedeiro, entre as proteínas E e NS1. A expressão do DIII den-2 por ambos os
recombinantes foi confirmada por imunofluorescência confocal. Seus perfis proliferativos foram
avaliados por meio de cinética de replicação em monocamadas de células Vero, onde os vírus
recombinantes exibiram menores taxas de replicação quando comparados aos controles. A
estabilidade genética destes recombinantes foi analisada por passagens seriadas em culturas de
células Vero, cujos sobrenadantes foram submetidos a RT-PCR para avaliação da presença da
inserção heteróloga. Ambos os vírus mostraram-se estáveis até a 5ª passagem seriada e
apresentaram perda total do cassete de expressão a partir da décima passagem. No entanto, o
vírus que apresentou a mutação em sua porção C-terminal foi ainda mais instável, pois mostrou
deleção de cerca de 300 aminoácidos no cassete de expressão. A perda da inserção heteróloga em
ambas as construções virais sugere que a clonagem e expressão de DIII den-2/HA truncada den-4
exerce um efeito deletério na viabilidade viral. No entanto, este fato não limita a utilização destes
vírus como modelo de estudos para vacinação e indução de anticorpos neutralizantes dirigidos ao
vírus den-2 ou outro Flavivírus.
xx
ABSTRACT
Dengue is an arboviruse transmitted to human throught insect vector’s bite which bear the
dengue virus. Dengue virus consists of four serotypes (den-1 to den-4), which are antigenically
distinct, sharing the same endemic tropical and subtropical areas in the world. The dengue virus
infection is characterized by a wide range of clinical manifestations and its re-emergence is
responsible for a great impact on global public health. Despite all attempts towards a dengue
vaccine, there is no available one. In this work, we have employed the Yellow Fever 17D
Vaccine Virus (YF 17D) as a vector for expression of domain III (DIII) of dengue virus type 2
(den-2) envelope protein (E) within the intergenic region E/NS1, based on the advantageous
characteristics of YF 17D as a human vaccine. DIII den-2 was chosen due to its association with
cellular infection and for being the main inductor of immune response mediated by neutralizing
antibodies against the viral particle. Multiple alignments of different DIII genotypes and its
molecular modeling allowed a better characterization of this region in respect of the recognition
of amino acid sequence positions which are variable, involved in escape from neutralizing
antibodies and cellular receptor binding sites. The expression of envelope protein domain III of
dengue 2 virus was accomplished using a previously described approach to insert a foreign gene
in the E/NS1 intergenic region (Bonaldo et al., 2007). Thus, DIII gene was fused to functional
duplicated motifs of conserved amino acids sequences, which occur flanking the E/NS1
intergenic region and are important to the correct processing of the viral polyprotein precursor in
association with the endoplasmic reticulum (ER). It was generated two distinct viable YF
recombinant viruses bearing the heterologous DIII den-2 insertion, demonstrating the feasibility
of this methodology. One of these recombinant viruses has presented a mutation on the cleavage
site of the cellular signal peptidase, at the end of the last transmembrane of anchor domain,
between the proteins E and NS1. The expression of DIII den-2 by both recombinants virus was
confirmed by confocal immunofluorescence microscopy. Its proliferative profiles were assessed
by means of growth kinetic studies in Vero cells, which pointed to a lower replication capability
in comparing to the viral vaccine control viruses. The genetic stability of these recombinants was
also analyzed by serial passages in Vero cells and the RNA virus samples derived from different
passages were submitted to RT-PCR in order to evaluate the presence of the heterologous
insertion. Both recombinant viruses were genetically stable up to the fifth serial passage in Vero
cells and exhibited completely loss of the expression cassette starting from the tenth serial
passage. Nevertheless, the recombinant virus which carried the IGA motif mutation at the C-
terminal of the cassette was even more unstable, since it displayed a deletion of about 300 amino
acids in the expression cassete at fifth passage. The loss of the heterologous cassete in both of the
viral constructs suggests that the cloning of DIII den-2 fused to a portion of the stem anchor
region of den 4 E protein induced a deleterious effect on the viral viability. Notwithstanding, this
fact does not limit the use of these viruses as a model of vaccination for studies of induction of
neutralizing antibodies against den-2 virus or other Flavivirus.
1
1. INTRODUÇÃO
1.1 Histórico da Dengue, sua Emergência e Patogenia
A dengue é uma arbovirose transmitida ao homem por meio da picada de insetos vetores
que albergam o vírus da dengue (Mackenzie, 2004). Seus vetores são mosquitos do gênero Aedes
(Aedes aegypti e Aedes albopictus), tendo como o principal deles o mosquito Ae. aegypti. Uma
série de boas características contribuem para a preponderância deste vetor: ter ampla distribuição
mundial, ser altamente suscetível ao vírus dengue, alimentar-se preferencialmente de sangue
humano, ter hábitos diurnos e peridomiciliares, ter picada praticamente imperceptível, e ser capaz
de interromper seu repasto sanguíneo ao menor movimento, permitindo que um grande número
de indivíduos seja picado durante uma única alimentação (Gubler, 1998; Gibbons e Vaughn,
2006).
A dengue é caracterizada clinicamente por vasto espectro de doença que pode variar desde
uma infecção não-aparente, normalmente confundida com resfriados comuns, até casos mais
severos de febre hemorrágica da dengue (DHF) e síndrome de choque por dengue (DSS) (Gubler,
2004). É o único membro entre os arbovírus que teve sua evolução direcionada para a perfeita
adaptação ao homem como seu hospedeiro, eliminando a necessidade de manutenção de um ciclo
biológico restrito à vida silvestre (Gubler, 2002b).
Os primeiros registros de casos de dengue no mundo estão reunidos em uma enciclopédia
chinesa de sintomas e remediações de doenças, publicada durante a Dinastia Chinesa (265 a 420
DC) (Gubler, 1998). A doença era chamada de “água venenosa”, pois acreditavam que ela era
transmitida via insetos que tinham seu ciclo biológico associado à água (Gubler, 1998). O autor
ainda evidencia que houve surtos da doença em 1635 nas “French West Indies”, bem como no
Panamá, em 1699, fatos que comprovam a ampla distribuição geográfica da dengue antes do
século 18.
A inicial expansão geográfica desta doença está intimamente ligada à disseminação do
vetor Ae. aegypti a partir da África para outras regiões tropicais, no período de crescimento da
navegação e do comércio durante os séculos 17 e 18 (Gubler, 2004). Os navios armazenavam
água, onde era realizada a postura dos ovos e eclosão das larvas, assegurando, assim, a
manutenção do ciclo, mesmo em viagens de longas distâncias (Gubler, 2002a). Quando o navio
2
aportava no seu destino, ambos, mosquito e vírus, eram introduzidos e, devido à morosidade
desse tipo de transporte, as epidemias não eram freqüentes, tendo intervalos que variavam de 10 a
40 anos (Gubler, 2002a).
Uma vez presente vírus e seu vetor, a propagação de ambos foi possível nas regiões
portuárias, onde, por sua vez, estabeleceram-se e passaram a ser transportados para outras
localidades tropicais ao redor do mundo (Gubler, 2004). Todavia, a origem do vírus dengue ainda
permanece incerta e não é bem explicada pelos autores.
Diversas epidemias de dengue já foram reportadas nas Américas, desde a ocorrida em
1780 na Filadélfia. Na Ásia, a ocorrência da epidemia de dengue foi comum nos primeiros anos
do século 20 e, no continente Africano, cuja epidemiologia não é bem documentada, a presença
do vírus da dengue não foi notificada antes de 1960 (Gubler, 2004).
A erradicação do mosquito vetor Ae. aegypti ocorreu no ano de 1947, em toda a América
tropical, resultado do programa de controle da Febre Amarela urbana (doença que também tem
como vetor o Ae. aegypti), a partir do uso do inseticida diclorodifeniltricloroetano (DDT)
(Gubler, 2002a). Dessa forma, o índice epidêmico de dengue diminuiu e até desapareceu em
muitas regiões (Gubler, 2002a; Senior, 2007; Figura 1.1).
No entanto, no período após a 2ª Guerra Mundial, algumas condições formaram o
conjunto ideal para a continuidade da transmissão da dengue: o rápido crescimento populacional
somado à urbanização desordenada, as precárias condições sanitárias e a rapidez do transporte
aéreo, fato este que proporcionou meios para maior mobilidade das populações humanas entre as
regiões epidêmicas (Gubler, 1998). Devido a esses motivos, a dengue tomou proporções
mundiais e passou a ser considerada como uma pandemia, sendo encontrada em regiões tropicais
e subtropicais ao redor do mundo, em áreas urbanas e também rurais (Gubler, 1998; Monath,
1999; Chaturvedi, 2006; Figura. 1.2).
3
Figura 1.1 - Distribuição geográfica do Aedes aegypti nas Américas em 1930, 1970 e 2001 – cor verde
(Fonte: Gubler, 2002a).
Figura 1.2 - Distribuição global de dengue, Febre Amarela e o seu vetor Aedes aegypti. Em rosa, são
mostradas as áreas geográficas infestadas com o mosquito vetor. Em lilás, as áreas em que o Ae. aegypti e
atividades endêmicas para dengue estão presentes e nas áreas listradas, regiões endêmicas para Febre
Amarela. (Fonte: Monath, 2007).
4
O vírus dengue apresenta-se como 4 sorotipos distintos já descritos (den-1, den-2, den-3 e
den-4), classificados de tal forma devido a diferentes antígenos expressos na superfície viral, que
induzem a produção de anticorpos neutralizantes sorotipo-específico (Burke e Monath, 2001).
Embora haja grande reatividade cruzada entre esses vírus em testes sorológicos, a proteção
cruzada entre eles não é observada: uma primeira infecção causada por um sorotipo é capaz de
induzir imunidade protetora por toda a vida contra este sorotipo, embora a imunidade contra os
demais perdure somente alguns meses (Mackenzie et al., 2004). Este curto período de proteção
cruzada é resultado da presença de anticorpos neutralizantes reativos que diminuem rapidamente
após a infecção (Sabin, 1952). Por estes motivos, um indivíduo pode contrair a dengue por até
quatro vezes ao longo de sua vida (Mackenzie et al., 2004).
Todos os quatro sorotipos têm a mesma epidemiologia e causam os mesmos sintomas da
doença no homem (Gubler, 2002b). Um único sorotipo viral pode estar presente em uma região,
fato que caracteriza sua endemicidade, normalmente associado a doenças mais suaves, chamadas
de febre da dengue (DF), apresentando a seguinte sintomatologia: febre alta, dor de cabeça, dor
retro-orbital, mialgias e artralgias generalizadas, vômitos e coceira na pele (Monath, 2007).
Em outro panorama, vários sorotipos podem estar co-circulando em uma mesma
população, o que define a hiperendemicidade (Gubler, 2002b). Infecções secundárias, virulência
do sorotipo, carga genética e imunidade pré-existente do hospedeiro são fatores de risco para a
evolução em doenças mais severas, como a DHF e a DSS (Chaturvedi, 2006 e Guy, 2008). Estas
formas mais graves da DF, a princípio, lembram essa forma mais branda da doença, porém
evoluem para quadros de trombocitopenia; manifestações hemorrágicas causadas por fragilidade
capilar, como o sangramento de mucosas e trato gastrointestinal; aumento da permeabilidade
vascular com vazamento de fluido intravascular para o espaço intersticial (hipovolemia); ascite;
falência hepática (hepatomegalia) e, em se tratando de viremia, esta é normalmente de 10 a 100
vezes maior quando comparada com a forma clássica da doença (Gubler, 1998; Whitehead,
2007). A patogênese da DHF e DSS é bastante complexa e ainda não está completamente
entendida (Whitehead, 2007).
As alterações observadas quanto à coagulação e permeabilidade vascular podem estar
relacionadas ao aumento da taxa replicativa do vírus, morte acentuada das células pela infecção
ou por células citotóxicas do sistema imune ou ainda por anticorpos; ativação do complemento e
aumento da liberação de mediadores inflamatórios pelas células infectadas ou por células do
sistema imune. A resposta imune contra a infecção por dengue não apenas media a proteção
5
contra a doença, como também parece ser responsável pela patogenia observada em DHF e DSS,
além dos outros fatores já mencionados acima. Uma das possíveis explicações para este
fenômeno é chamado de ADE, do inglês “antibody-dependent enhancement” e é observada após
uma infecção secundária por um sorotipo diferente do responsável por ter causado a infecção
primária (Halstead, 1988). Anticorpos não neutralizantes pré-existentes adquiridos ativamente a
partir da primeira infecção, ou transmitidos passivamente pela mãe a recém-nascidos, ligam-se ao
vírus sorotipo distinto, formam um complexo e facilitam a acesso deste a porções Fc de
receptores presentes em células dendríticas e macrófagos (Monath, 2007 e Whitehead, 2007).
Este fato aumenta a carga viral, por facilitar a entrada de vírus nas células hospedeiras e sua
conseqüente replicação. Além disso, ocorre aumento na liberação de citocinas e mediadores pró-
inflamatórios responsáveis pelo choque hipovolêmico e morte, enquanto que o aumento da
replicação viral contribui para uma elevação no título do vírus na corrente sanguínea dos
pacientes com DHF e DSS (Monath, 2007 e Whitehead, 2007).
1.2 A Dengue no Mundo
O primeiro caso de DHF foi registrado em 1950, durante as epidemias de dengue nas
Filipinas e Tailândia. Somente nove países tinham apresentado casos de DHF antes de 1970,
enquanto que nos dias de hoje essa prevalência cresceu dramaticamente, com números que
norteiam mais de 100 países acometidos pela doença, em vários continentes (Chaturvedi, 2006).
Uma das causas para estes surtos é o aumento da migração das populações das áreas rurais em
direção às urbanas, o que leva a uma ocupação desordenada, com acúmulo de água parada,
gerando um ambiente ideal para a criação de mosquitos vetores (Normile, 2007).
Durante a década de 80, menos de 300.000 casos de dengue foram registrados pela OMS;
desde o ano de 2000, este número subiu para 925.000 e, devido ao fato de a vigilância ser
precária, estima-se que o verdadeiro número de casos anuais de dengue seja superior a 50
milhões, dentre os quais, 400 mil são representativos de DHF (Normile, 2007).
Aproximadamente 5% dos casos de DHF são fatais se não tratados, mas o tratamento adequado
reduz este índice para menos de 1% (Normile, 2007). Globalmente, cerca de 2,5 bilhões de
pessoas vivem em áreas onde a dengue é endêmica e 90% dos casos de DHF acometem crianças
com idade inferior a 15 anos (média de idade entre 5-10 anos) (Normile, 2007; Edelman, 2005 e
2007).
6
O Sudeste Asiático experimenta o pior surto de dengue registrado na última década, tendo
a dengue quase que superado outra doença comum neste continente, a malária, quanto ao índice
de hospitalizações pediátricas e de adultos e o número de mortes infantis (Hombach, 2007 e
Normile, 2007) (Tabela 1.1). Na Indonésia, mais de 100.000 indivíduos contraíram a doença e,
desses, 1.100 foram a óbito, com 93% dos 310 distritos desta província reportando casos da
doença (Edelman, 2005 e Nature, 2007).
Tabela 1.1 - Comparação entre doenças causadas por Flavivírus e transmitidas por mosquitos.
DOENÇAS TRANSMITIDAS POR MOSQUITOS
Doença
Agente
etiológico
Gênero do
mosquito
Casos
anuais
estimados
Mortes
anuais
estimadas
Países
afetados
Vacina
Dengue Vírus dengue Aedes
50-100
milhões
20.000 > 100
Em ensaios
clínicos
Febre
Amarela
Vírus da
Febre
Amarela
Aedes e
Haemagogus
200 mil 30.000 > 42 Disponível
Malária
Plasmodium
falciparum,
P. vivax, P.
malaria e P.
ovale
Anopheles 500 milhões > 1 milhão > 105
Em ensaios
clínicos
Fonte: Adaptado de Nature, 2007.
Uma vez que não há tratamento específico para dengue, faz-se necessário uma mudança
de paradigma para o controle desta doença, sendo inviável pensar que somente o tratamento com
inseticidas será responsável pela total contensão do Ae. aegypti (Senior, 2007). Medidas
preventivas que giram em torno da conscientização individual devem ser tomadas, além de haver
um fortalecimento das leis sanitárias, da qualidade da atenção médica para um diagnóstico mais
rápido e eficiente, maior acesso da população aos serviços de saúde e a promoção da educação
sanitária (Guy, 2008 e Guzman, 2007).
1.3 A Dengue no Brasil
A primeira epidemia de dengue confirmada por testes laboratoriais no Brasil ocorreu em
Boa Vista, Roraima, no final do ano de 1981, quando foram isolados a partir de soros de paciente
7
e “pool” de Ae. aegypti, os sorotipos 1 e 4 do vírus dengue (Osanai et al., 1983). Em 1986, no
estado do Rio de Janeiro, cidade de Nova Iguaçu, foi registrado o primeiro caso de dengue tipo 1
e uma epidemia causada por este sorotipo se estendeu até 1987, com aproximadamente 140.000
casos reportados (Schatzmayr et al., 1986; Miagostovich et al., 1993). Os estados de Alagoas e
Ceará, em 1986, e Mato Grosso do Sul, em 1987, também foram afetados pelo sorotipo 1 do vírus
dengue (Ministério da Saúde, 1990). Em 1987, um surto foi registrado em São Paulo, sendo
controlado em 1990 (Figueiredo, 1996).
A partir de abril de 1990, começaram a surgir casos de dengue tipo 2 no Rio de Janeiro e
Niterói, exatamente quatro anos após a primeira detecção de dengue-1, fato provavelmente
resultante de uma mesma rota de entrada utilizada pelos vetores durante o verão (Nogueira et al.,
1990). Entre os meses de maio e abril do mesmo ano, foram isoladas representantes do sorotipo 1
de dengue em Niterói, indicando a co-circulação desses dois sorotipos (Nogueira et al., 1990 e
1993). O sorotipo 2 de dengue também foi detectado em Tocantins e Alagoas, indicando a rápida
disseminação do vírus (Nogueira et al., 1993). A introdução do tipo 2 resultou no surgimento de
infecções mais graves acompanhadas de DHF/DSS, com 283 casos classificados como DHF em
1991 (Nogueira et al., 1991; Dias et al., 1991). O número de casos reportados de dengue sorotipo
1 diminuiu após 1991, fato que se deu pelo aumento do número de casos relacionados ao tipo 2,
ao status de imunidade atingido pela população contra o tipo 1, bem como a susceptibilidade ao
novo sorotipo (Nogueira et al., 1993).
O sorotipo 3 do vírus dengue foi isolado a partir de um caso importado de um paciente
residente em Limeira, estado de São Paulo, no ano de 1998 (Rocco et al., 2001). Em janeiro de
2001 na cidade de Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, este sorotipo foi isolado de uma paciente que
apresentava sinais e sintomas de dengue clássico (Nogueira et al., 2001). O den-3 foi responsável
pela epidemia mais grave já observada, até então, no estado do Rio de Janeiro, durante os verões
de 2001 e 2002, com 288.245 casos notificados de dengue, incluindo 91 mortes por infecções
primárias causadas por esse sorotipo (De Simone et al., 2004; Nogueira et al., 2002).
De acordo com dados da Secretaria Municipal de Saúde, no ano de 2007 foram
registrados 23.399 casos de dengue no município do Rio de Janeiro, e só nos dois primeiros
meses de 2008, este número já atinge mais de 10.000 casos, mostrando a grave situação de surto
epidêmico nesta localidade. (Secretaria Municipal de Saúde – RJ). Dada a responsabilidade do
estado do Rio de Janeiro na introdução e disseminação dos sorotipos 1, 2 e 3 de dengue, sua
importância na epidemiologia desta doença no Brasil é clara e, como um importante centro
8
turístico, este estado merece atenção diferenciada, já que apresenta altos níveis de infestação pelo
mosquito Ae. aegypti (Nogueira et al., 2007).
1.4 Ciclo Biológico
Lourenço-de-Oliveira (2005) mostra que o ciclo inicia-se quando o mosquito fêmea, ao
realizar seu repasto sanguíneo, ingere sangue contendo partículas virais e, quanto mais altos
forem os títulos virais, maiores serão as chances de transmissão.
No estômago do inseto, o vírus é capaz de escapar da matriz peritrófica, dirigindo-se ou
para a hemolinfa ou para a rede de traquéias que oxigenam todos os tecidos do vetor. Alguns
tecidos têm preferência pelo vírus, como, por exemplo, o nervoso, o corpo gorduroso, os ovários
e as glândulas salivares. Nas glândulas salivares, as partículas virais replicam-se, acumulam-se e
são inoculadas num próximo vertebrado durante a alimentação com sangue realizada pelo
mosquito vetor (Lourenço-de-Oliveira, 2005). Este período é chamado de incubação extrínsico,
representado pelo tempo necessário para que ocorra a replicação e disseminação viral no
mosquito e ele se torne infectivo (8 a 12 dias) (McBride e Bielefeldt-Ohmann, 2000).
Após o homem ter sido picado por um mosquito infectado, o vírus passa por um período
de incubação entre 3 e 14 dias, depois do qual o vírus irá infectar primeiramente células
dendríticas imaturas da pele e células de Langerhans, com subseqüente infecção de macrófagos e
linfócitos (Gubler, 1998; Wu et al., 2000; Marovich, 2001). Depois desta replicação inicial, o
vírus é encontrado na corrente sanguínea nos períodos de febre aguda que duram de 3 a 5 dias,
fato responsável pela doença ser chamada de “febre de quebrar os ossos”, em algumas regiões do
mundo (Normile, 2007; Guy, 2008). Este período é chamado de fase virêmica, uma vez que é
nesta fase que ocorre a contaminação de mosquitos ao picar um indivíduo infectado. Outros
locais do corpo podem ser escolhidos pelo vírus como sítio replicativo, como é o caso do fígado,
timo e baço (Jessie et al., 2004).
O ciclo é mantido numa transmissão homem-mosquito-homem, sendo que a transmissão
pelo ciclo selvagem é vista em florestas da Ásia e África ocidental entre primatas não-humanos e
mosquitos do gênero Aedes. No entanto, a contribuição deste ciclo para a transmissão de
epidemias urbanas parece ser mínima (Whitehead, 2007).
9
1.5 O Vírus da Dengue: Etiologia, Genoma e Replicação
O vírus da dengue faz parte da família Flaviviridae e do Gênero Flavivírus. No entanto, o
primeiro vírus desse grupo a ser descrito foi o vírus da Febre Amarela e, por isso, o nome dado ao
grupo deve-se a ele (do latim flavus, amarelo). A família Flaviviridae ainda é formada por dois
outros Gêneros: Pestivus (do latim pestis, praga) e Hepacivirus (do latim hepar, fígado)
(Lindenbach e Rice, 2001).
A família Flaviviridae inclui 70 representantes, dos quais 40 destes estão relacionados a
doenças em animais e humanos, dentre elas: febre da dengue (“Dengue Fever”), encefalite
japonesa (“Japanese Encephalitis - JEV”), encefalite transmitida por carrapato (“Tick-Borne
Encephalitis - TBE”), Vírus do Oeste do Nilo (“West Nile - WNV”), e Vírus da Febre Amarela
(“Yellow Fever Virus - YFV”) (Burke e Monath, 2001). Estes representantes se dividem em dois
grupos de acordo com o vetor de transmissão: aqueles que são transmitidos por mosquitos como,
por exemplo, dengue e Febre Amarela, e aqueles transmitidos por carrapatos, como é o caso de
TBE, Vírus Langat (LGT), dentre outros (Lindenbach e Rice, 2001).
Os Flavivírus são vírus esféricos, pequenos, medindo de 40 a 60 nm de diâmetro,
envelopados e com capsídeo icosaédrico, que alberga em seu interior uma molécula de RNA fita
simples positiva (ssRNA+), sendo, portanto, seu próprio genoma infectivo (Burke e Monath,
2001; Ball, 2001).
A Figura 1.3 representa a estrutura de um vírus da dengue maduro. As diferentes cores
representam os distintos domínios da proteína E, a principal proteína do envelope viral dos
Flavivírus. Os domínios da proteína E serão melhores abordados posteriormente.
Domínio I
Domínio II
Domínio III
Peptídeo de fusão
Proteína do Envelope (E)
Figura 1.3 - Vírus da dengue evidenciando a proteína E e seus domínios. (Fonte: Adaptado de
Whitehead, 2007).
10
O genoma RNA fita simples positiva dos Flavivírus tem aproximadamente 11 kb de
comprimento (Figura 1.4), apresentando, na extremidade 5’, a estrutura “cap” e uma curta região
não traduzida (UTR); e, na extremidade 3’, não existe a cauda poliadenilada (Lindenbach e Rice,
2001). Estas regiões UTR virais têm extrema importância, uma vez elas são altamente
conservadas, responsáveis pela iniciação da replicação do vírus e pela tradução da poliproteína
precursora viral (Chambers et al., 1990; Zanotto et al., 1996; Corver et al., 2003; Lo et al., 2003;
Holden e Harris, 2004).
A organização genética do genoma do vírus da dengue é a mesma como em todos os
Flavivírus: o RNA fita positiva codifica para uma única poliproteína precursora de 3.411
aminoácidos, que sofre clivagem proteolítica, combinando proteases virais e celulares, dando
origem a 10 polipeptídeos específicos virais (Lindenbach e Rice, 2001).
Segundo Rice et al. (1985), na extremidade 5’ da molécula de RNA, ou seja, no primeiro
quarto do genoma, são codificadas 3 proteínas estruturais que estão envolvidas na incorporação e
na liberação da partícula viral a partir da célula hospedeira: a proteína do capsídeo (C; 12-14
kDa), a proteína de membrana (M; 8 kDa e seu precursor prM; 18-26 kDa) e a proteína do
envelope (E; 53-54 kDa). Em seguida, são codificadas as proteínas não estruturais (NS),
envolvidas na replicação viral, bem como no processamento deste polipeptídeo; são elas: NS1,
NS2A, NS2B, NS3, NS4A, NS4B e NS5. (Rice et al., 1985). A ordem em que as proteínas
estruturais e não-estruturais são codificadas no genoma, a partir da extremidade 5’ em direção a
3’ é a seguinte: 5’-C-prM/M-E-NS1-NS2A-NS2B-NS3-NS4A-NS4B-NS5-3’ (Rice et al., 1985)
(Figura 1.4).
A poliproteína precursora viral é sintetizada no citoplasma celular em associação com o
retículo endoplasmático (RE) rugoso. As proteínas estruturais são translocadas para o lúmen do
retículo sendo clivadas pela peptidase sinal da célula hospedeira e ali ancoradas, por meio dos
domínios âncoras transmembranares (Mukhopadhyay et al., 2005). A proteína C interage com o
RNA genômico e forma o nucleocapsídeo do virion (Lindenbach e Rice, 2001). Esta proteína
contém uma seqüência sinal hidrofóbica responsável por translocar a proteína prM para o lúmen
do RE (Mukhopadhyay et al., 2005). A proteína prM tem dois domínios transmembranares que
funcionam como seqüências de parada de transferência e também como seqüência sinal. Como
resultado, a proteína E também é translocada para o lúmen do RE (Mukhopadhyay et al., 2005)
(Figura 1.5).
11
Flavivírus: RNA genômico, polaridade positiva (~ 11 kb)
Protease viral
NS2B/NS3
Genes estruturais Genes não estruturais
5 3
Tradução e processamento da poliproteína viral (3.411 aa)
CEprM NS54BNS3
2B2A
NS1 4A
M
Parcula viral
Proteínas do envelope: prM/M e E
Proteína C do nucleocapsídeo
Replicão do genoma viral
Signalase
Furina
Figura 1.4 - Estrutura Genômica e Processamento da Poliproteína nos Flavivírus. As setas verdes
indicam os sítios de corte da peptidase sinal da célula hospedeira, responsável por clivar as proteínas virais
importadas para o RE. As setas amarelas indicam os sítios de corte da protease viral NS2B/NS3. A seta
rosa indica o sítio de corte da furina celular que cliva a proteína precursora prM antes da liberação do vírus
pela célula hospedeira (Fonte: Laboratório de Biologia Molecular de Flavivírus - Fiocruz).
Já as proteínas NS permanecem na face citoplasmática desta organela, sofrendo
processamento proteolítico pelo complexo viral NS2B-NS3, produzindo as proteínas NS2B, NS3,
NS4A e NS5 (Rice et al., 1985; Chambers et al., 1990; Mukhopadhyay et al., 2005) (Figura 1.5).
Assim, as proteínas NS1, prM e E encontram-se no lúmen do RE, as proteínas NS3 e NS5 no
citoplasma e NS2A, NS2B, NS4A e NS4B são predominantemente proteínas transmembranas,
associadas à membrana do RE (Figura 1.5). A translocação das proteínas prM e E para o lúmen
do retículo é o primeiro passo para a formação da partícula viral neste compartimento celular
(Mackenzie et al., 2004).
Pe
p
tidase sinal
12
M
pr
C
E
NS1
NS3
NS5
2B
4A
4B
Protease viral
NS2B/NS3
Peptidase sinal
Furina
?
RE
Citoplasma
2A
Figura 1.5 - Topologia de membrana das proteínas de Flavivírus no RE. As proteínas estruturais (em
vermelho) e as não-estruturais (em azul) são mostradas na membrana do RE, após a tradução e o
processamento da poliproteína viral pelas enzimas peptidase sinal, protease viral NS2B/NS3 e furina. A
interrogação representa a enzima responsável pela clivagem entre as proteínas NS1 e NS2A, ainda não
descrita na literatura. As linhas em vermelho representam os domínios transmembranares das proteínas
estruturais (Fonte: Laboratório de Biologia Molecular de Flavivírus - Fiocruz).
1.6 As Proteínas Estruturais e Não-estruturais de Flavivírus
O envelope viral é formado por uma bicamada lipídica proveniente da membrana da
célula hospedeira e possui duas proteínas de superfície (prM/M e E), que determinam importantes
funções biológicas, como a hemaglutinação, neutralização e ligação a receptores das células
hospedeiras. Além disso, é onde estão localizados os determinantes antigênicos, principais alvos
de ligação a anticorpos neutralizantes (Monath, 1999).
A proteína prM (associada à proteína M) forma um heterodímero intracelular, que tem por
função estabilizar a proteína E (Lorenz, 2002). A proteína prM é clivada por uma furina celular,
durante a exocitose e liberação do virion maduro, gerando a proteína M (Lindenbach e Rice,
2001). Acredita-se que prM também tenha função de impedir que E seja prematuramente ativada
pelo baixo pH durante o transporte do vírus no interior dos compartimentos ácidos nas cisternas
do Golgi (Heinz et al., 1994). Em seguida à exocitose, a proteína M adquire nova mudança
conformacional, que é necessária para a correta disposição de E, fato que sugere uma função
“chaperona-like” à proteína M (Lorenz et al., 2002). Em contraste com a superfície lisa dos
virions maduros, os virions imaturos, os quais a prM ainda não foi clivada, apresentam uma
superfície rugosa e assimétrica caracterizada por espículas que se projetam para fora deste,
mostrando ainda um diâmetro maior (600 Å) quando comparado ao observado nos virions
maduros (500 Å) (Kuhn et al., 2002 e Zhang et al., 2003).
13
A proteína E recobre a superfície viral com seus 90 dímeros, sendo o constituinte
majoritário da superfície dos Flavivírus, além de ser determinante de tropismo, ser o principal
alvo para anticorpos neutralizantes e ter papel central na fusão da membrana viral à membrana da
célula hospedeira (Figura 1.3) (Lindenbach e Rice, 2001; Kuhn et al., 2002). Anticorpos dirigidos
à E impedem a infecção das células por bloquear a ligação do vírus a receptores celulares (Crill e
Roehrig, 2001; He et al., 1995) ou por bloquear a fusão com a membrana da célula antes do
ancoramento viral (Butrapet et al., 1998; Gollins e Porterfield, 1986; Guirakhoo et al., 1991;
Roehrig et al., 1998; Stiasny et al., 2002).
Figura 1.6 - Estrutura da proteína E do vírus dengue 3 presente nas partículas virais maduras. (A):
Estrutura primária da proteína E solúvel, apresentando seus três domínios (sem a região de haste e âncora).
O domínio I ou central é representado em vermelho, o domínio II ou de dimerização, em amarelo e o
domínio III ou tipo Ig, em azul. Os aminoácidos de 393 a 493 representam a região haste âncora (HA) da
proteína E, sendo que esta última porção consiste no C-terminal transmembranar desta proteína. (B): Visão
frontal com o eixo duplo de simetria. (C): Vista perpendicular do dímero. Os resíduos glicanas são
indicados nos resíduos 67 e 153 do domínio II (Modis et al., 2005).
A proteína do envelope do vírus da encefalite transmitida por carrapato (“TBE vírus”) e
do vírus dengue tiveram sua estrutura cristalográfica determinada (Rey et al., 1995; Modis et al.,
2003). Esta proteína apresenta três domínios estruturais: o domínio I (DI) ou domínio central,
com aproximadamente 120 resíduos de aminoácidos; o domínio II (DII), ou domínio de
dimerização da proteína, representando a interface entre os outros dois domínios, e o domínio III
14
(DIII), que contém a região de estrutura semelhante a imunoglobulinas (Rey et al., 1995). Todos
esses três domínios são formados, na sua maioria, por estruturas em folhas -pregueadas e duas
curtas -hélices no DII (Rey et al., 1995) (Figuras 1.6 e 1.7) e participam dos contatos entre os
monômeros da proteína E (Rey et al., 1995). Estudos de crio-eletron microscopia eletrônica
mostraram que a proteína E é arranjada como um dímero na superfície viral, projetando-se
levemente para fora desta superfície, o que permite acesso dessa região a moléculas e anticorpos
(Kuhn et al., 2002; Mukhopadhyay et al., 2003).
Figura 1.7 - Representação dos ectodomínios da proteína E e seus domínios transmembranares. O
volume ocupado pelo domínio I está representado em vermelho, o domínio II em amarelo e o domínio III
em azul. As alças das proteínas E e M estão representadas em azul claro e laranja, respectivamente.
(Fonte: Adaptado de Zhang et al., 2003 e Mukhopadhyay et al., 2005).
As proteínas não estruturais estão basicamente envolvidas na replicação do vírus e seu
papel na patogênese ainda não está bem definido (Lindenbach e Rice, 2001; Umareddy et al.,
2006). A proteína NS1 (46 kDa) é encontrada tanto em formas oligoméricas secretadas pela
célula, como sob a forma de homodímero associado à membrana plasmática (Flamand et al.,
1999) e sua capacidade de induzir resposta imune protetora já foi comprovada (Schlesinger et al.,
1987; Costa et al., 2006). Sugere-se que a proteína hidrofóbica NS2A (22 kDa) se ligue a NS3 e
NS5, bem como à porção 3’ dos transcritos de RNA (Mackenzie et al., 1998) e sabe-se que ela é
a maior supressora da transcrição de IFN- (Liu et al., 2004). Já a NS2B (14 kDa), associada à
membrana, forma um complexo com a NS3 e é cofator para a função de serino-protease de NS3
(Chambers et al., 1991). A proteína citoplasmática NS3 (70 kDa) é bastante conservada entre os
Flavivírus e apresenta domínios com atividade enzimática: de helicase, NTPase e 5’ trifosfatase
(RTPase) em sua região C-terminal, e de serino-protease, na N-terminal, fato responsável pela
clivagem da poliproteína viral quando associada à NS2b durante a replicação do RNA (Murthy et
15
al., 1999; Sampath et al., 2006). A proteína hidrofóbica NS4A (16 kDa) também participa da
inibição de IFN-, como a NS2A (Munoz-Jordan et al., 2003), além de colaborar de alguma
forma com a replicação do RNA (Lindenbach e Rice, 2001). Já a NS4B (27 kDa), também
hidrofóbica, parece modular a replicação do vírus dengue via interação com a NS3 (Umareddy et
al., 2006). A última proteína NS maior e mais conservada entre Flavivírus, a NS5 (103 kDa),
funciona como uma RNA polimerase dependente de RNA durante a replicação viral e como
metiltransferase para a metilação do cap 5’ (Rice et al., 1985; Monath et al., 2007)
.
1.7 Ciclo Replicativo
O ciclo de infecção se inicia quando o vírus infecta uma célula pelo processo de
endocitose mediada por receptores, via reconhecimento entre os receptores celulares específicos e
as proteínas do envelope viral (Figura 1.8). Após esse reconhecimento, os vírus são
internalizados em vesículas pré-lisossomais endocíticas, onde ocorre acidificação gradativa. Com
o pH ácido, a proteína E sofre trimerização, ou seja, ocorre um rearranjo conformacional do
dímero em trímero, expondo seu domínio fusogênico conhecido como peptídeo de fusão ou alça
“cd”, localizado no domínio II da proteína E, resíduos 98 a 102 em den-2 (Modis et al., 2003 e
2004). A transição para o estado trimérico é irreversível e este é mais estável que a forma
dimérica da proteína E (Modis et al., 2004; Bressanelli et al., 2004). Essa alteração
conformacional favorece a fusão da membrana viral e da membrana do endossoma da célula
hospedeira, com conseqüente liberação do nucleocapsídeo do vírus no citoplasma da célula
infectada (Gollins e Poterfield, 1986; Stiasny et al., 1996; Stiasny et al., 2001; Heinz e Allison,
2001).
No citoplasma, o nucleocapsídeo viral dará início à sua replicação pela síntese de um
intermediário de RNA fita negativa que serve como molde para produção de novas fitas positivas
de RNA (Rice, 1996). Os virions maduros são montados na membrana do RE, fato que também
pode levar à formação de partículas virais imaturas. Os novos vírus brotam do RE adquirindo
uma membrana lipídica que formará o envelope, mantendo-se solúveis no interior deste
compartimento celular. Por meio de brotamento, a partir das membranas intracelulares do RE,
são formadas vesículas, cujo conteúdo está repleto de partículas virais. Estas partículas seguem o
caminho da via secretora celular, em direção ao Complexo de Golgi e fusionam-se com a
16
membrana plasmática, liberando os virions maduros no meio extracelular por exocitose
(Chambers et al., 1990; Lindenbach e Rice, 2001).
Figura 1.8 - Ciclo de vida de um Flavivírus (Fonte: Mukhopadhyay et al., 2005).
1.8 Domínio III da Proteína de Envelope dos Flavivírus
Devido à conformação “Imunoglobulina-like” adotada por DIII, foi proposto que este
domínio tenha função de se ligar a receptores da célula hospedeira, além do fato de albergar uma
alça que contém o motivo de ligação a integrinas (Arg-Gly-Asp - RGD), presente em diversas
flaviviroses (Rey et al., 1995; Crill e Roehrig, 2001; Hung et al., 2004; Chin et al., 2007). A
ocorrência ampla destes modelos Ig em proteínas de adesão celular está em consonância com a
noção de que este domínio participa da ligação a receptores celulares (Modis et al., 2005). Já
foram demonstradas duas estratégias eficientes de se impedir a infecção pelo vírus dengue. A
primeira consta em bloquear a sua entrada na célula hospedeira com o emprego de DIII
recombinante que irá bloquear os receptores celulares, e a segunda, utiliza a ligação de anticorpos
neutralizantes que neutralizam o vírus, impedindo assim, que esses se liguem aos receptores
celulares (Hung et al., 2004; Chu et al., 2005; Chin et al., 2007).
17
Células da linhagem monocítica são consideradas como os primeiros alvos para a infecção
pelo vírus dengue (McBridee e Bielefeldt-Ohmann, 2000), porém as moléculas da superfície
celular às quais o vírus se liga para que se proceda o início da infecção, ainda permanecem
obscuras (Bielefeldt-Ohmann et al., 2001).
Estudos mostraram que receptores do tipo heparan sulfato estão envolvidos na ligação do
vírus dengue a celulas de mamíferos, dentre elas Vero, CHO e células de hepatoma humano
(Chen et al., 1997; Germi et al., 2002; Hilgard e Stokert 2000). Essa ligação parece ser mediada
pela interação de resíduos de cargas positivas na superfície de DIII que se ligariam a cargas
negativas do receptor na superfície celular (Chen et al., 1997; Hung et al., 2004; Lee et al.,
2006). Já o DIII do vírus do Oeste do Nilo media a infecção celular através da ligação a
integrinas do tipo V3 (Chu e Ng, 2004; Lee et al., 2006). No caso de células de inseto, Hung et
al. (2004) indicaram que a ligação de DIII a estas células possa ser realizada por meio de uma
alça lateral exposta presente nesta região.
Foram identificadas diferenças entre o DIII dos membros dos grupos virais transmitidos
por mosquitos e carrapatos, onde, no primeiro grupo, esta região é pouco maior devido à presença
de quatro resíduos de aminoácidos localizados em uma alça lateral, representados pelo motivo
RGD em FA, MVE e WNV (Yu et al., 2004; Hung et al., 2004).
Anticorpos dirigidos ao DIII são eficientes na neutralização da infecciosidade dos
Flavivírus e são vírus/sorotipo-específicos (Roehrig, 2003). Diversos estudos com painéis de
anticorpos monoclonais foram realizados na tentativa de mapear os epítopos presentes no DIII da
proteína E de diversos Flavivírus (Lin et al., 1994; Serafin e Aaskov, 2001; Thullier et al., 2001;
Beasley e Barrett, 2002; Lin e Wu, 2003; Nybakken et al., 2005; Sánchez et al., 2005;
Gromowski e Barret, 2007; Sukupolvi-Petty et al., 2007). Crill e Roehrig (2001) mostraram que
anticorpos monoclonais contra o DIII inibem fortemente a adsorção do vírus dengue em células
Vero.
Os vírus que apresentam mutações de escape também são de extrema importância no
entendimento dos sítios de ligação a anticorpos e no mapeamento de epítopos neutralizantes
(Hiramatsu et al., 1996; Lin e Wu, 2003; Li et al., 2005; Modis et al., 2005) (Figura 1.9).
Mutações em DIII estão associadas com atenuação da virulência/neurovirulência ou à habilidade
de o vírus escapar da neutralização via sistema imune, fatos que corroboram a relação entre DIII
e o reconhecimento de receptores celulares (Hahn et al., 1987; Sanchez e Ruiz 1996; Ryman et
al., 1998; Ni e Barret 1998; Leitmeyer et al., 1999).
18
Figura 1.9 - Mapeamento das áreas de DIII relacionadas a mutantes de escape de neutralização por
anticorpos. (A) Três epítopos sorotipo-específicos foram mapeados: resíduo 291 (Beasley e Askov,
2001), resíduos 301 a 307 (Lin et al., 1994), e resíduos 381 a 383 (Hiramatsu et al., 1996; Hung et al.,
2004). As cadeias laterais dos três epítopos são evidenciadas em violeta, em representação de
preenchimento espacial. Modificações no resíduo 388, também não conservado e exposto na superfície
viral, correlacionam-se com virulência – em rosa (Leitmeyer et al., 1999). Em verde, o resíduo Phe-277
conservado em todos os sorotipos de dengue-2. (B) Visão lateral de (A) (Fonte: Modis et al., 2005).
A estrutura tridimensional do DIII da proteína E de diversos Flavivírus já foi resolvida
por cristalografia de raios-X ou por RMN para TBE (Rey et al., 1995), dengue-2 (Modis et al.,
2003), vírus da encefalite japonesa (Wu et al., 2003), dengue-3 (Modis et al., 2005), vírus do
Oeste do Nilo (Kanai et al., 2006; Nybakken et al., 2006) e dengue-4 (Volk et al., 2007). Estes
estudos mostraram que as estruturas diméricas e o dobramento da proteína E são bastante
semelhantes, com exceção do vírus do Oeste do Nilo, cuja proteína E não formou dímero nem em
solução, nem após a cristalização (Kanai et al., 2006). As principais diferenças observadas entre
as proteínas E destes Flavivírus são em relação ao número de fitas que compõem o DIII,
evidenciando uma maior conservação entre as estruturas secundárias quando comparadas às
primárias; a orientação entre DI e DII; a posição das glicanas e no conjunto de resíduos para
neutralização, os quais são vírus/sorotipo específicos (Rey et al., 1995; Modis et al., 2003 Wu et
al., 2003 Modis et al., 2005 Kanai et al., 2006 Nybakken et al., 2006 Volk et al., 2007).
Apesar da semelhança tridimensional verificada entre os modelos de DIII de Flavivírus,
cada um deles possui cargas eletrostáticas de superfície únicas, às quais contribuem para as
19
diferenciadas afinidades de ligação a uma série de receptores e anticorpos neutralizantes (Volk et
al., 2007).
Modis e colaboradores (2005) compararam os resíduos da proteína E de den-2 e den-3 e
identificaram que 86 deles (ou seja, um terço) não são conservados e, dentre esses, 56 estão
expostos na superfície viral, os quais acredita-se serem os principais contribuintes nas diferenças
de ligações dos anticorpos entre esses sorotipos de dengue (Figura 1.10).
A
B
Figura 1.10 - Comparação entre os resíduos não conservados entre os vírus den-2 e den-3. (A): Vista
superior do dímero da proteína E do sorotipo 3 de dengue, onde estão representados os resíduos não
conservados no sorotipo 2 em representação de preenchimento espacial. Os resíduos que se encontram
expostos na superfície estão assinalados em roxo e aqueles não estão expostos são indicados em cinza. (B)
vista perpendicular de (A) (Fonte: Modis et al., 2005).
Assim, devido ao conjunto destas características do DIII, este poderia ser utilizado para
obtenção de uma vacina dirigida a dengue, de modo a induzir resposta específica a estes
determinantes antigênicos sorotipo-específicos.
1.9 Desenvolvimento de Vacinas Dirigidas à Dengue
Os primeiros esforços para o desenvolvimento de uma vacina contra dengue iniciaram-se
em 1920, com o emprego de extratos inativados de Ae. aegypti infectados com o vírus dengue
(Hombach, 2007). O primeiro relato de uma vacina bem sucedida contra a doença data de 1945,
quando Sabin e Schlesinger atenuaram o genótipo do Havaí de den-1 por meio de passagens
20
sucessivas em cérebro de camundongo e a empregaram para imunizar dezesseis voluntários
durante a 2ª Guerra Mundial (Sabin, 1952).
Até o presente momento, não há vacina para dengue, apesar de já existirem várias
possíveis candidatas, em diversos estágios de desenvolvimento (Mackenzie et al., 2004). Dentre
os fatores limitantes estão: a complexa patologia da doença; a vacina deve ser tetravalente e
promover imunidade em alto grau, além de duradoura, contra os quatro sorotipos, a fim de não
contribuir com a ADE; ser segura o suficiente para ser administrada em crianças entre 9 e 12
meses de idade; a dificuldade de propagar o vírus em cultura; a falta de um modelo experimental,
uma vez que, apesar de os macacos serem susceptíveis à infecção pelo vírus dengue, produzirem
anticorpos, fornecerem dados sobre viremia, imunogenicidade e neurovirulência, eles não sofrem
da doença, nem mesmo após uma segunda infecção, limitando seu valor experimental; o modelo
murino de neurovirulência vem sendo utilizado para a discriminação de neurotropismo de
diferentes candidatos à vacinação, mas está longe de ser considerado como ideal; devido às
limitações do modelo experimental, é necessária uma série de testes em voluntários humanos
para ter acesso aos dados de reatogenicidade e imunogenicidade e, por isso, estudos em
populações vacinadas requerem um acompanhamento por longos períodos de tempo destes
indivíduos, fato que encarece o desenvolvimento destas vacinas (Halstead, 1973; Pugachev et al.,
2005; Normile, 2007; Hombach, 2007; Guy, 2008).
A Organização Mundial de Saúde colocou como prioridade o desenvolvimento de uma
vacina contra dengue (WHO, 2002). A fim de alcançar esse objetivo, uma série de estratégias já
foram traçadas (vacinas de vírus atenuados, vacinas inativadas e de subunidades, vacinas de DNA
e vacinas de vírus recombinantes), dentre as quais, algumas já se encontram em estágios mais
avançados de desenvolvimento e já são apontadas como possíveis candidatas a vacina (Tabela
1.2).
Algumas fundações estão investindo muitos recursos para o desenvolvimento de drogas
ou vacinas contra dengue. Uma delas é a firma suíça Novartis, que no ano de 2003 investiu 7
milhões de dólares no Instituto de Doenças Tropicais (NITD), em Singapura, para a produção de
drogas no combate à dengue, algumas com previsão de estarem prontas para teste em 2009
(Nature, 2007). O maior investimento no ramo de desenvolvimento de vacinas contra dengue
veio da Fundação Bill e Melinda Gates, que criou a organização não-governamental Iniciativa
para uma Vacina Pediátrica contra Dengue (PDVI), na Coréia do Sul (WHO, 2005; Edelman,
21
2007). Em julho de 2003, foram investidos 55 milhões de dólares a fim de acelerar o processo de
geração e testes clínicos dessas vacinas (Edelman, 2007; Normile, 2007).
Tabela 1.2 - Lista parcial das vacinas candidatas contra dengue em desenvolvimento
Responsável pelo projeto Tipo de abordagem Estágio de desenvolvimento
Universidade de Mahidol
(Bangkok)/Sanofi Pasteur
Vacina atenuada, produzida em
células PDK, formulação
tetravalente
Ensaios clínicos de fase II e
acompanhamento de indivíduos
vacinados por mais de oito anos
Instituto de Pesquisa Walter
Reed/GlaxoSmithKline
Vacina atenuada, produzida em
células FRhL, formulação
tetravalente
Ensaios clínicos de fase II
Acambis/Sanofi Pasteur
Vacina atenuada empregando o
vírus FA 17D como vetor,
formulação tetravalente
Ensaios clínicos de fase II
CDC/Inviragen/Santha (India) Vacina quimérica DEN/DEN Ensaios pré-clínicos
Hawaii Biotech
Vacina de subunidade com
proteínas de dengue e adjuvantes
Pré-clínico (primatas não
humanos) e testes em humanos já
agendados
Fonte: Adaptado de Normile, 2007; Monath, 2007; Hombach, 2007
1.10 O Vírus Vacinal Febre Amarela 17D
Nesta dissertação, utilizou-se o vírus vacinal FA para expressão do domínio III dos vírus
dengue sorotipo 2. O uso do vírus FA com vetor vacinal está fundamentado nas boas
propriedades da vacina contra Febre Amarela, que consiste no vírus atenuado FA 17D. Esta é
utilizada há mais de 70 anos (introduzida em 1937), tendo 2 milhões de pessoas vacinadas
somente entre os anos de 1938 e 1941 devido à campanha de vacinação em massa iniciada em
1938 (Monath et al., 2007). Desde então, cerca de 400 milhões de doses já foram administradas,
com baixo custo, excelentes registros de eficácia e segurança, uma vez que a vacina pode ser
administrada a partir dos nove meses de idade, com incidência mínima de efeitos adversos
(Monath, 2001 e 2003).
Uma única dose da vacina FA 17D é capaz de promover proteção duradoura, de cerca de
98% por um período médio de 10 anos, entretanto, alguns indivíduos apresentam anticorpos
22
neutralizantes mesmo após 35 anos pós-vacinação (Poland et al., 1981; Niedrig et al., 1999).
Além desse fator, a imunização com o vírus FA 17D é capaz de promover resposta imune
mediada por linfócitos T (Co et al., 2002). Um dos possíveis mecanismos envolvidos consistiria
na infecção de células dendríticas humanas imaturas e maturas, com a posterior ativação de
linfócitos T (Barba-Spaeth et al., 2005).
A vacina contra Febre Amarela, utilizada como referência nesta dissertação, utiliza o sub-
genótipo 17DD (FA 17DD) e é produzida por Bio-Manguinhos/FIOCRUZ, sob a forma
liofilizada, nas apresentações de 5, 10 ou 50 doses. Este vírus é derivado do genótipo selvagem
Asibi, obtido originalmente de um paciente de mesmo nome com Febre Amarela no Senagal, em
1927 (Stokes et al., 1928). Este genótipo foi cultivado em tecido embrionário de camundongo e
após 18 sub-culturas foi passado em culturas de embrião de galinha, com e sem tecido nervoso e
na passagem de número 58 foi designado como 17D (Theiler e Smith, 1937). Na passagem 195,
foi derivado o subgenótipo 17DD, que sofreu outras passagens em cultura de tecidos até a de
número 243 (Monath et al., 2007). Neste estágio, o genótipo 17DD foi submetido a outras 43
passagens em ovos embrionados de galinha até a passagem 284, genótipo este que foi utilizado
do ano de 1984 até 2002 (Marchevsky et al., 2006) (Figura 1.11). Passagens adicionais em foram
realizadas a fim de se preparar um novo lote semente denominado 13Z, que se encontra na
passagem atual, de número 287 (Marchevsky et al., 2006). O vírus regenerado a partir do
homogenato de ovos de galinha embrionados livres de agentes patogênicos é administrado aos
humanos sob a forma de vacina (Galler et al., 1998). Atualmente, existem dois genótipos
utilizados mundialmente: o 17DD e o 17D-204, que diferem entre si em apenas 10 resíduos de
aminoácidos (Galler et al., 1998; Monath et al., 2007).
23
Figura 1.11 - Histórico de passagens do genótipo selvagem Asibi e sua derivação até os lotes
sementes utilizados para a produção da vacina no Brasil. (Fonte: Marchevsky et al., 2006).
No Brasil, a vacina contra Febre Amarela constitui-se do genótipo 17DD, produzida por
Bio-Manguinhos/FIOCRUZ – o maior produtor mundial desta vacina, fato que evidencia todas as
condições favoráveis para o desenvolvimento e produção de novas vacinas amarílicas em nossa
Instituição, permitindo o desenvolvimento do vírus 17D como um vetor vacinal de expressão de
antígenos de interesse vacinal.
Devido ao conjunto destas boas características, acredita-se o vírus FA 17D possa ser
usado como uma plataforma vacinal de expressão para antígenos de patógenos humanos, com a
finalidade de desenvolvimento de novas vacinas humanas.
1.11 A Metodologia do Clone Infeccioso
O manuseio do genoma de FA, RNA fita positiva, é possível pela disponibilidade da
metodologia de clones infecciosos, primeiramente descrita por Racaniello e Baltimore (1981),
que demonstraram ser possível regenerar vírus a partir do DNA complementar (cDNA) do vírus
da poliomielite clonado em plasmídeos bacterianos.
A tecnologia do clone infeccioso foi aplicada em um segundo trabalho, realizado por Rice
et al. (1989), no qual os autores clonaram o genoma completo do vírus da Febre Amarela 17D-
24
204, como cDNA, utilizando um plasmídeo bacteriano como vetor de expressão. A partir da
metodologia de transcrição in vitro, foi produzido RNA viral, indistinguível em diversos
aspectos, de seu parental, o 17D-204, usado para clonagem do cDNA. Esse RNA transcrito foi
transfectado em cultura de células o que resultou na produção de novos virions, comprovando,
então, a infecciosidade do RNA viral.
O desenvolvimento da tecnologia do clone infeccioso tornou possível a manipulação de
genomas de RNA que podem ser transcritos in vitro em cDNA e, dessa forma, permitindo a
introdução de modificações genéticas em quaisquer regiões do genoma viral. Além disso, esse
sistema de transcrição in vitro permite a síntese da molécula completa de RNA com muito mais
eficiência quando comparada à transcrição de cDNA na célula (Bonaldo et al., 2000; Ball, 2001;
Van Epps, 2005). Os autores ratificam o emprego desta metodologia, haja vista a instabilidade
dos vírus que apresentam RNA como seu material genético.
No laboratório de Biologia Molecular de Flavivírus, Fiocruz, Brasil, a metodologia do
clone infeccioso é empregada rotineiramente e alguns trabalhos foram recentemente publicados
pelo grupo, tendo como objetivo a construção de vírus quiméricos e recombinantes,
que utilizam sempre como plataforma de expressão, o vírus vacinal da Febre Amarela 17D
(Bonaldo et al., 2002; Bonaldo et al., 2005; Galler et al., 2005; Bonaldo et al., 2006; Bonaldo et
al., 2007; Mateu et al., 2007).
1.12 O Uso do Vírus da Febre Amarela 17D como Vetor de Expressão do Domínio III da
Proteína E dos Vírus Dengue 2
A metodologia do clone infeccioso abriu caminho para que diversas abordagens fossem
realizadas na tentativa de manipular o genoma do vírus FA.
A primeira delas e a de maior sucesso diz respeito à produção de vírus quiméricos pela
troca dos genes prM/E de FA pelos genes homólogos de outro Flavivírus (Bray e Lai, 1991).
Alguns trabalhos já foram desenvolvidos por nosso grupo empregando esta estratégia (Caufour et
al., 2001; Galler et al., 2005).
Uma segunda abordagem refere-se à inserção de epítopos na região intergênica
flanqueada pelo motivo de clivagem da protease NS2B/NS3, que permitem que o peptídeo
inserido nesta região da poliproteína viral seja possivelmente liberado no citoplasma celular
(McAllister et al., 2000; US patent 6,589,531). Apesar de alguns resultados promissores (Tao et
25
al., 2005), esta região sofre uma limitação em relação ao tamanho do inserto e nosso grupo tentou
inserir o gene da proteína fluorescente verde de algas (EGFP) nas regiões intergênicas NS2A-2B
e NS2B-NS3, sem sucesso (Bonaldo e Galler, dados não publicados).
Nosso grupo foi pioneiro na inserção de seqüências exógenas de 10 a 25 aminoácidos na
alça fg da proteína E (Bonaldo et al., 2002; Bonaldo et al., 2005; Bonaldo et al., 2006). Um
segundo sítio de inserção na alça EoFo da proteína E foi determinado e estudos estão em vias de
finalização (Bonaldo, em preparação).
Outra possibilidade de uso do vírus FA 17D como vetor de expressão refere-se à inserção
de genes na região 3´ não traduzida (NTR) (Andino e McAllister, PCT WO 02/089840). No
entanto, todos os vírus FA 17D obtidos em nosso laboratório por meio desta metodologia foram
instáveis geneticamente, levando à perda da seqüência heteróloga logo na primeira passagem em
monocamadas celulares, resultados estes corroborados por dados de Pierson e colaboradores
(2005).
O vírus FA 17D pode também expressar antígenos heterólogos por meio do
desenvolvimento de replicons, moléculas que correspondem a partes do genoma viral de onde
foram removidos os genes estruturais necessários para a produção de partículas virais, embora
mantenham todos os elementos necessários para a replicação do RNA. Esta estratégia permite a
expressão transitória de genes heterólogos, sugerindo a possibilidade de uso em vacinação
(Khromykh, 2000; Westaway et al., 2003; Harvey et al., 2004; Tannis et al., 2005). No entanto,
as aplicações principais deste sistema de expressão, baseado no genoma do vírus FA 17D,
limitam-se a estudos sobre mecanismos de replicação e empacotamento do RNA viral e formação
de partículas virais.
Recentemente, uma nova abordagem foi desenvolvida por nosso grupo, a qual trata da
expressão de cassetes protéicos longos, maiores que 36 aminoácidos,
na região intergênica
E/NS1, metodologia inovadora que foi alvo de um depósito de patente efetuado em outubro de
2005 (Bonaldo, MC e Galler, R; Depósito 20050121605 realizado em 31/10/2005). Esta nova
abordagem de expressão de proteínas heterólogas no genoma do vírus FA 17D respeitou os
motivos funcionais e a seqüência de aminoácidos conservados flanqueadores da região
intergênica E e NS1, os quais foram duplicados e fusionados ao gene heterólogo, permitindo
desta forma, o correto processamento da poliproteína viral e da inserção exógena.
A primeira geração de vírus construídos por meio desta estratégia expressava a proteína
fluorescente verde (EGFP) de Aquorea victoria entre os genes E/NS1, com a HA duplicada
26
completa ou truncada de FA (Bonaldo et al., 2007; Mello, 2007). Estas plataformas de expressão
possuíam, fusionado ao gene da EGFP, em sua porção N-terminal, os 9 primeiros aminoácidos da
proteína NS1 e, em sua porção C-terminal, a região duplicada de Haste-âncora da proteína E de
FA completa ou truncada, a qual contém o sinal de translocação para NS1 e o sítio para clivagem
da peptidase sinal celular (Figura 1.12).
A região C-terminal da proteína E, ou seja, seus últimos 100 resíduos de aminoácidos é
denominada Haste e Âncora (HA) (Rey et al., 1995). A porção correspondente à Haste é formada
por duas regiões -hélices, denominadas H1 e H2, separadas por uma seqüência de conexão CS,
bastante conservada entre os Flavivírus. A região Âncora é formada por dois elementos
transmembranares chamados TM1 e TM2, mantendo-a associada à membrana do (RE) (Allison et
al., 1999). O primeiro elemento da haste, H1, forma um ângulo com a superfície externa da
bicamada lipídica, enquanto que H2 permanece fora da membrana, com sua porção hidrofóbica
arranjada em direção a ela (Zhang et al., 2003). A região TM1 serve como âncora da proteína E,
ao passo que TM2 é seqüência sinal para NS1 e interações entre essas duas têm papel importante
na formação do envelope viral (Op De Beeck et al., 2003). A região que conecta essas duas
porções transmembranares é muito variável tanto em seqüência como em comprimento dentre os
Flaviviridae, fato que sugere interações específicas (Cocquerel et al., 2000).
27
Figura 1.12 - Representação esquemática da proteína E do vírus da Febre Amarela e das
plataformas de expressão referentes às Construções I e II, e a organização das mesmas no retículo
endoplasmático. (A) Proteína E do vírus da Febre Amarela ancorada na membrana do RE. (B)
Construção I: cassete de expressão contendo a proteína heteróloga EEGFP fusionada à região HA
completa do vírus FA, na região intergência E/NS1 do vírus FA 17D. (C) Construção II: cassete de
expressão contendo a proteína heteróloga EEGFP fusionada à região HA truncada do vírus FA, sem os
elementos H1 e CS, na região intergência E/NS1, do vírus FA 17D.
28
Essa construção permitiu o adequado processamento da proteína E, ancorada na
membrana do RE, assim como a proteína NS1, garantiu a expressão da proteína heteróloga EGFP
e mostrou haver a produção de anticorpos específicos tanto para FA como para EGFP (Mello,
2007; Bonaldo et al., 2007). No entanto, estes vírus recombinantes mostraram-se menos
imunogênicos quando comparados ao vacinal FA 17DD, além de certo grau de instabilidade
genética provavelmente devido a um pareamento inespecífico entre as regiões de HA fusionada
ao 3’terminal do gene EGFP e a seqüência da HA natural do vírus FA (Mello, 2007; Bonaldo et
al., 2007). Sendo assim, algumas modificações fizeram-se necessárias a fim de aprimorar esta
estratégia que utiliza o vírus FA 17D como vetor de expressão de proteínas heterólogas, em sua
região gênica E/NS1.
Para esta dissertação, foi construída uma segunda geração de vírus que expressavam o
domínio III den-2 nesta mesma região, porém, com HA truncada (sem os domínios H1 e CS) do
vírus dengue 4, com objetivo de diminuir a identidade seqüencial entre essas duas porções,
tentando assim, melhorar a plataforma de expressão de antígenos heterólogos, visando a uma
nova e futura proposta de vacina contra dengue.
A obtenção destes vírus FA recombinantes, expressando epítopos de dengue, é
interessante no sentido de que é uma abordagem inteiramente nova, onde apenas os domínios III
dos vírus dengues seriam expressos em um vírus FA, onde a composição da partícula infecciosa e
a maquinaria de replicação viral seriam a do vírus FA. Isto pode consistir em uma vantagem na
obtenção de uma vacina tetravalente, pois as diferenças de propagação entre os vírus
recombinantes seriam minimizadas, o que poderia ser refletido em uma mesma capacidade de
estimulação do sistema imune.
29
2. JUSTIFICATIVA DO PROJETO
O uso do vírus da Febre Amarela 17D como vetor de expressão de antígenos heterólogos
é extremamente válido, uma vez que esse genótipo vacinal vem sendo utilizado há mais
de 70 anos, mostrando-se bastante estável, eficaz e seguro;
Esta estratégia de inserção de antígenos heterólogos no vírus de Febre Amarela 17D na
região intergênica E/NS1 representa uma abordagem nova, que tem mostrado bons
resultados em nosso laboratório;
Possibilidade de desenvolvimento futuro de uma vacina quimérica FA/Domínio III de
Dengue pode resultar numa abordagem inovadora, de importância para Fiocruz, o maior
produtor mundial da vacina dirigida à Febre Amarela.
30
3. OBJETIVOS
Objetivo Geral
Desenvolver o Vírus Vacinal da Febre Amarela (FA) 17D como um vetor de expressão do
domínio III da proteína E do vírus dengue-2.
Objetivos Específicos
Analisar a identidade seqüencial nucleotídica e de aminoácidos do DIII do vírus
dengue 2 e de outras seqüências de Flavivirus utilizadas na montagem do cassete
de expreso;
Realizar estudos de modelagem molecular do DIII den-2;
Construção de vírus FA 17D recombinante por inserção do domínio III da proteína
de envelope do sorotipo 2 do vírus dengue na região intergênica E/NS1 do genoma
do vírus da Febre Amarela 17D;
Obter um lote semente viral caracterizado de estoque viral na segunda passagem
em células Vero para uso em todas as etapas deste projeto;
Caracterização biológica do vírus FA 17D recombinante: estabelecer o potencial
replicativo dos vírus FA 17D recombinantes, analisar a expressão da proteína
heteróloga e analisar a estabilidade genética viral.
31
4. MATERIAL E MÉTODOS
As composições dos meios e soluções empregados neste trabalho encontram-se descritos
na seção de anexos desta dissertação.
4.1 Certificados
As etapas desta metodologia que abrangeram clonagem molecular para obtenção de vírus
recombinantes, por meio de manipulação do DNA in vitro e em culturas de células, foram
executadas no Laboratório de Biologia Molecular de Flavivírus, IOC, FIOCRUZ, classificado
como nível 1 para OGM, conforme licença emitida pela Comissão Técnica Nacional de
Biossegurança (CTNBio - CQB 105/99).
Os trabalhos que envolveram cultura de células eucariotas, regeneração e caracterização
biológica dos vírus obtidos, bem como o vírus dengue e o FA 17DD, foram realizados em
colaboração com o Laboratório de Tecnologia Virológica (LATEV/Bio-
Manguinhos/FIOCRUZ), classificado como nível 2, em concordância com o CQB 110/99 da
CTNBio. Todos os reagentes utilizados durantes estas etapas foram produzidos pelo Laboratório
de Sarampo (LASA/DEPRO/Bio-Manguinhos/FIOCRUZ), seguindo as normas de controle de
qualidade já estabelecidos pela instituição.
4.2 Cultura de Células
Para a propagação dos vírus FA em cultura celular, foram utilizadas preparações de
células epiteliais de rim de macaco verde africano (Cercopithecus aethiops) - células Vero -
originalmente obtidas a partir da Coleção Americana de Culturas e Depósitos (ATCC, 1994).
Esta linhagem Vero é certificada sob o registro CCL-81 (Certified Cell Line-81) e foi escolhida
para a realização de nosso trabalho por ser adequada para a produção e padronização de vacinas.
A manutenção das células foi feita por técnicos do LATEV, segundo as normas dos
Protocolos de Operação Padronizados (POP) desenvolvidos na FIOCRUZ.
Nos procedimentos de obtenção ou caracterização viral, culturas de células Vero foram
plaqueadas com 24 horas de antecedência em densidades variáveis de acordo com a técnica a ser
32
realizada. Por se tratar de uma linhagem celular aderente, a sua dissociação das garrafas de
cultura foi realizada adicionando-se uma solução de 50 mL verseno e 500 µL de tripsina. A
monocamada foi lavada levemente duas vezes com esta solução e sofreu incubação a 37
o
C em
atmosfera de CO
2
por 5 min. As células foram então ressuspensas em 5 mL de meio de cultura
199/Earle contendo 0,22% de NaHCO
3
e o número de células foi estimado por contagem em
câmara de Neubauer.
4.3 Amostras Virais Utilizadas
4.3.1 Vírus FA 17DD
O vírus usado como controle de todas as etapas de caracterização dos vírus
recombinantes foi o vírus vacinal FA 17DD produzido por Bio-Manguinhos/FIOCRUZ. Para a
reconstituição da vacina liofilizada, foi adicionado ao frasco 2 mL de água bidestilada, estéril e
gelada. O frasco foi homogeneizado em vortex por 30 s e a suspensão mantida em gelo por 10
min. A esta suspensão, foram adicionados 3 mL de meio 199/Earle completo com 0,11% de
NaHCO
3
e este homogeneizado foi propagado em monocamada de células Vero (frascos de 175
cm
2
sistema fechado - 80.000 células/cm
2
) até visualização de CPE intensa (4º dia pós-infecção),
quando o sobrenadante de cultura foi recolhido juntamente com o estabilizador sorbitol 8% e
armazenado a -70ºC. Esse estoque foi titulado em placas de 24 poços (seção 4.10.1) e apresentou
título médio de 3,21 x 10
7
pfu/mL ou 7,51 log
10
pfu/mL.
4.3.2 Vírus Parental FA 17D/G1.2-T3
O vírus parental FA 17D/G1.2-T3 foi construído a partir de um clone infeccioso
modificado. O clone infeccioso original do vírus FA 17D, proveniente do genótipo 204, é
formado pelos plasmídeos pYF5’3’IV e pYFM5.2 (Rice et al., 1989), a partir dos quais foram
introduzidas uma série de modificações genéticas, tais como, criação de sítios de enzimas de
restrição únicos, e alguns marcadores genéticos específicos do genótipo 17DD pelo processo de
mutagênese sítio-específica dirigida por oligonucleotídeos (Jabor, 2001).
33
Assim, o plasmídeo G1.2, que contém os extremos 5´e 3´do genoma viral, foi originado a
partir do pYF5’3’IV com as alterações nucleotídicas nas posições
1
: 1.140, 1.436/1.437, 8.656,
8.808 e 9.605; além do sítio para a enzima BstE II. Já o plasmídeo T3 foi originado a partir do
pYFM5.2, que contém as alterações nucleotídicas nas posições
1
: 1.946, 2.219/2.220, 8.656 e
8.808; além do sítio para as enzimas Sal I e BstE II, tornando esse novo plasmídeo mais longo
(de 9.229 pb para 9.939 pb). Essas alterações situam-se na proteína de envelope (E) e na proteína
não-estrutural NS5.
Foi preparado um estoque do vírus parental FA 17D/G1.2-T3 a partir de 2,0 mL de
sobrenadante de transfecção completado com 1 mL de meio 199/Earle completo 2,5% de
NaHCO
3.
Os 3 mL de suspensão foram utilizados para infecção de monocamadas de células Vero
com densidade de 80.000 células/cm
2
em frascos de 175 cm
2
,
sistema fechado. A suspensão viral
foi recolhida, 72 h após a infecção, quando CPE foi detectada no frasco. Essa suspensão foi
suplementada com o estabilizador sorbitol para uma concentração final de 8 % e armazenada a -
80°C. Após titulação em placas de 24 poços (seção 4.10.1), este estoque viral apresentou título
médio de 4,49 X 10
7
pfu/mL ou 7,65
log
10
pfu/mL.
4.3.3 Vírus Dengue-2 44/2
O vírus DEN-2 44/2 originou-se da purificação de uma placa viral em monocamadas de
células Vero, a partir de uma amostra previamente isolada de soro de paciente (Caufour et al.,
2001). Foi preparado um estoque viral a partir da amostra cedida pelo Dr. Marcos S. Freire do
LATEV/DEDET/Bio-Manguinhos, que apresentou um título de 2,52 X 10
6
pfu/mL ou 6,40 log
10
pfu/mL.
1
Essa numeração refere-se à posição do nucleotídeo no genoma do vírus FA 17DD.
34
4.4 Modelagem Molecular por Homologia do Domínio III da Proteína E do Vírus Dengue
A modelagem molecular por homologia, também conhecida por modelagem comparativa,
é uma ferramenta utilizada para a predição de estruturas tridimensionais de proteínas. Este
método baseia-se no fato de que uma pequena variação na seqüência de aminoácidos resulta,
geralmente, em uma pequena mudança na estrutura tridimensional da molécula. Portanto, pode-
se predizer a estrutura de uma proteína a partir da similaridade seqüencial desta com outras
proteínas que já foram determinadas experimentalmente por cristalografia por difração de raios-
X e ressonância magnética nuclear – principais métodos experimentais (Sali e Blundell, 1993;
Sali et al., 1995).
Todos os métodos de modelagem comparativa atuais baseiam-se em quatro passos
sucessivos. O primeiro deles visa a identificação e a seleção de proteínas-molde, ou seja, aquelas
que já tiveram suas estruturas tridimensionais determinadas. Já que a qualidade do modelo
depende muito da estrutura da proteína-molde utilizada, é preciso que esta última tenha sido
obtida com resolução igual ou superior a 2 Å (Filho e Alencastro, 2003). Assim, a probabilidade
de ocorrência de erros no modelo é inversamente proporcional ao grau de identidade entre as
seqüências de resíduos utilizadas (Filho e Alencastro, 2003). Além disso, é desejável que o grau
de identidade entre as seqüências das proteínas molde e do modelo seja igual ou superior a 25%,
quando o número de resíduos é superior a 80, pois estes parâmetros aumentam a probabilidade
de que estas proteínas tenham estruturas tridimensionais semelhantes (Sander e Schneider,
1991).
A busca por seqüências homólogas ao domínio III de dengue-2 genótipo NGC foi
realizada no programa BlastP (Altschul et al., 1990;
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/blast/Blast.cgi), utilizando-se como banco de dados o PBD
(Berman et al., 2000; http://www.rcsb.org/pdb/home/home.do), o qual contém as seqüências de
proteínas cujas estruturas já foram determinadas experimentalmente.
No segundo passo, é realizado um alinhamento entre as seqüências de aminoácidos da
proteína-molde com as seqüências da proteína-alvo ou modelo (aquela que será modelada).
Quanto maior o número de moldes escolhidos para serem alinhados ao modelo, mais confiável é
o alinhamento, pois o alinhamento múltiplo permite identificar com maior facilidade as regiões
conservadas e variáveis. As regiões conservadas correspondem a conformações muito
semelhantes. Já este fato não é observado nas regiões variáveis, que localizam-se principalmente
35
nas regiões de alças entre as fitas que constituem o modelo (Filho e Alencastro, 2003). O
alinhamento foi realizado com auxílio do programa Clustal W2, versão 2.01 (Jeanmougin et al.,
1998; http://www.ebi.ac.uk/Tools/clustalw2/index.html).
O terceiro passo é a construção das coordenadas do modelo a partir do alinhamento
seqüencial. Nesse trabalho, para a geração do modelo foi empregado o programa Modeller,
versão 9v2, r5542 (Sali e Blundel, 1993; http://salilab.org/modeller/), que se baseia na
modelagem por satisfação de restrições espaciais. Estas restrições podem ser distâncias entre os
pares de átomos (C-C, N-O etc), combinações de ângulos torcionais (Ø e ) dentre outros.
Tais restrições podem ser modificadas pelo usuário caso seja desejável relaxar ou restringir tais
parâmetros (Sali e Blundel, 1993). Uma segunda fonte de restrições espaciais considerada pelo
Modeller são as restrições estereoquímicas, que descrevem a geometria da cadeia polipeptídica,
são elas: distâncias interatômicas, ângulos diedros, planaridade de grupos peptídicos e anéis de
cadeia lateral, comprimento de ligação, dentre outras (Sali e Blundel, 1993).
No quarto passo, é realizada a validação do modelo, a partir de critérios de
estereoquímica, ambiente químico, contatos interatômicos, dentre outros (Sanchez e Sali, 1997;
Filho e Alencastro, 2003). Para a validação da qualidade do modelo, foram empregados os
programas PROCHECK (Laskowski et al., 1998) e Verify 3D (Luthy et al., 1992).
Foi gerado também o modelo das cargas eletrostáticas de superfície do domínio III
dengue-2 e para tal, foi utilizado o programa PyMol (http://pymol.sourceforge.net).
4.5 Extração do RNA Viral
Foram empregados dois métodos alternativos para a obtenção de amostras de RNA viral.
Todo o material utilizado para a extração de RNA foi tratado adequadamente para evitar
contaminação por RNases e a manipulação foi feita com luvas e jalecos descartáveis. No
primeiro método, empregou-se o sistema “QIAamp Viral RNA Mini Kit” (Qiagen). As amostras
foram submetidas ao tampão de lise AVL, em condições desnaturantes, a fim de inativar RNases
e garantir o isolamento do RNA viral. O RNA ligou-se à coluna formada por sílica, que foi
lavada com os tampões AW1 e AW2, para que os contaminantes fossem retirados do processo. O
RNA puro foi eluído em 60 µL de tampão AVE, livre de RNases.
Na segunda alternativa, o RNA viral foi extraído do sobrenadante da cultura pelo método
Trizol LS (Invitrogen), uma solução monofásica de fenol e guanidina isotiocianato comercial.
36
Adicionou-se 750 µL de Trizol LS (Invitrogen) a 250 µL de cada amostra de suspensão
viral. Em seguida, esta mistura foi homogeneizada e incubada por 5 min/TA. Após este
intervalo, foram adicionados 200 µL de clorofórmio (Merck) e a mistura foi homogeneizada em
vortex (15 s) e incubada (5 min/TA). Após esta etapa, as amostras foram centrifugadas (12.000
g/15 min) para separação de fases. A fase aquosa superior e transparente, onde se encontrava o
RNA viral, foi cuidadosamente retirada e transferida para um novo tubo de 1,5 mL. Foi
adicionado a ela 1 µL de glicogênio (20 µg/µL; Invitrogen) e 500 µL de isopropanol absoluto
(Merck). As amostras foram, mais uma vez, incubadas (15 min) e centrifugadas (12.000 g/15
min). O sobrenadante foi retirado e ao precipitado foi adicionado 1 mL de etanol 75 %, seguido
de última centrifugação (12.000 g/5 min). O sobrenadante foi descartado, o RNA viral obtido foi
seco à TA, ressuspenso em 20 µL de água livre de RNase, e incubado (5 min/65ºC) em
termobloco (Thermostat plus, Eppendorf). Em seguida, o RNA foi resfriado (5 min/TA),
aliquotado em alíquotas de 3 µL e estocado a – 70 ºC.
4.6 Construção dos Vírus FA Recombinantes
4.6.1 Obtenção do Cassete de Expressão DIII den-2/HA trunc den-4
Utilizou-se duas fontes para obtenção de uma seqüência codante do domínio III da
proteína E do vírus den-2, empregadas na síntese do cassete de expressão deste domínio no
genoma FA: o RNA viral do isolado genótipo BR64022/98, cedido pela Dra. Rita Nogueira do
Laboratório de Flavivírus do IOC, e o clone infeccioso FA 17D/Den 2 P/S (Caufour et al., 2001).
4.6.2 RT-PCR para Ampliação do Domínio III do Vírus den-2 genótipo BR64022/98
A extração de RNA do vírus den-2 genótipo BR64022/98 foi efetuada pelo sistema
“QIAamp Viral RNA Mini Kit” (Qiagen; seção 4.5). Para a obtenção da região gênica codante
para o domínio III do vírus dengue-2, preparações de RNA do vírus dengue-2 foram submetidas
à reação de RT-PCR, na qual foram empregados os oligonucleotídeos RG 392 (+) e RG 393 (-)
(Tabela 4.1). O desenho desses iniciadores abrangeu, além de seqüências nucleotídicas
homólogas aos extremos 5’ e 3’ do gene do domínio III, outras seqüências a fim de facilitar o
37
processo de clonagem molecular no genoma do vírus FA. O oligonucleotídeo RG 392 (+) possui,
na sua porção 5’, uma seqüência que não se pareia durante a reação, que corresponde à parte da
região codante para os 15 nucleotídeos 3´ terminais do gene E, contendo o sítio de restrição da
enzima Nar I, seguida dos 27 primeiros nucleotídeos do gene da proteína NS1. Já o RG 393 (-)
também possui uma seqüência nucleotídica que não se pareia durante a reação, correspondendo a
um fragmento da região codante para os 27 primeiros nucleotídeos da região haste âncora (HA)
do gene E, na sua porção 3’ (Figura 4.1).
Primeiramente, à preparação de RNA do vírus dengue-2 foram adicionados 20 pmoles do
RG 393 (sentido reverso) e essa mistura foi incubada (2 min/90
º
C) e mantida em banho de gelo.
Para a reação de transcrição reversa foram empregadas 200 U da enzima transcriptase reversa M-
MLV (“Moloney Murine Leukemia Virus Reverse Transcriptase”; Promega), tampão MULV 1X
(Promega), dNTPs a 1 mM cada (Promega) e 1 mM MgCl
2
(Promega), 20 U RNasin (Promega)
e água livre de nucleases para 20 µL de volume final. As reações foram incubadas em
termociclador Mastercycle ep (Eppendorf) por 1 ciclo (42ºC/60 min e 99ºC/5 min) e ciclo final
de 4ºC. Para a reação de PCR foi preparada uma mistura contendo tampão High Fidelity 1X
(Invitrogen), 1 mM MgSO
4
(Invitrogen), 1 U da enzima Taq Polimerase High Fidelity
(Invitrogen) e água livre de nucleases para volume final de 30 µL. Esses reagentes foram
adicionados ao DNA complementar sintetizado na etapa de transcrição reversa e submetidos à
ciclagem a partir de uma incubação inicial (94ºC/30 s) seguida de 30 ciclos: 94ºC/15 s, 55ºC/30
s, 68ºC/5 min e extensão final a 68ºC/5 min. Ao final, esta reação foi incubada (4ºC) e
armazenada a -70ºC. Alíquotas de 3 µL foram analisadas por eletroforese em gel de agarose
(seção 4.6.10).
4.6.3 PCR para Ampliação do Domínio III do Clone Infeccioso do Vírus Quimérico
FA/den-2
Alternativamente, outra fonte da região gênica do domínio III den-2 foi utilizada. Foi
realizado PCR do clone infeccioso 17D/Den 2 P/S (Caufour et al., 2001). O genoma desta
quimera é formado pelos genes codantes das proteínas estruturais prM/M e E do vírus dengue-2
Nova Guinea C (NGC) e o restante de seu genoma é compreendido pelas extremidades não
traduzidas, pelo gene C e pelos genes não estruturais do vírus FA 17D. Este plasmídeo do clone
infeccioso completo do vírus quimérico FA/den-2 foi utilizado como molde para reação de PCR
38
seguindo-se o mesmo protocolo descrito acima, com emprego dos mesmos oligonucleotídeos RG
392 (+) e RG 393 (-) (Tabela 4.1). Alíquotas de 3 µL foram analisadas por eletroforese em gel de
agarose (seção 4.6.10).
4.6.4 PCR para Amplificação da Região Truncada da Haste-Âncora (HA) da Proteína E
do Vírus Dengue-4
A amplificação da região C-terminal da proteína E, correspondente à haste-âncora (HA)
do gene E, foi realizada a partir de um segundo PCR. Essa região HA corresponde à HA
truncada do vírus dengue 4, uma vez que foram removidos seus elementos H1 e CS do domínio
Haste. Como molde, foi utilizado o plasmídeo que abrange o clone infeccioso completo do vírus
quimérico Den4/FA, contendo os genes E e prM do genótipo Venezuela 88 (R. Galler, em
preparação). O oligonucleotídeo RG 380 (Tabela 4.1), sentido reverso, possui em sua seqüência
a região N-terminal da proteína não-estrutural NS1 que não se pareia durante a reação, a porção
C-terminal da HA de den-4 e a seqüência correspondente ao sítio de restrição da enzima Nar I,
entre estas duas regiões (Figura 4.1.). Já o RG 394, sentido positivo, é formado pela região C-
terminal do DIII den-2 e pela porção N-terminal da HA de den-4 (Figura 4.1.).
Cerca de 10 ng do DNA do clone infeccioso completo Den4/FA foi amplificado na
presença de 20 pmoles dos oligonucleotídeos RG 394 e RG 380 e de 1 U da enzima Taq
polimerase High Fidelity (Invitrogen), segundo as especificações do fabricante. Essa reação foi
submetida ao mesmo programa de ciclagem, já descrito no item 4.6.2. Os fragmentos gerados
foram analisados por eletroforese em gel de agarose (seção 4.6.10).
4.6.5 Purificação dos Produtos de PCR por Eletroforese Preparativa em Gel de Agarose
As amostras contendo os produtos de PCR foram submetidas a eletroforese em gel de
agarose 0,8 % TAE (seção 4.6.10). Após a eletroforese, o fragmento de PCR correspondente à
HA truncada de den-4, contido no gel já corado com brometo de etídeo, foi cortado da matriz de
agarose, com auxílio de um estilete, e transferido para um tubo de 1,5 mL. Para a extração do
DNA, empregou-se o sistema “QIAquick Gel Extraction kit” (Qiagen). Adicionou-se ao
fragmento de gel, 3 V da solução QG (medido em relação ao peso, em gramas, do fragmento de
39
agarose extraído do gel), que foi mantida a 50
º
C/10 min. A amostra foi aplicada na coluna de
sílica, lavada com 0,75 mL da solução PE e o DNA eluído em 30 ou 40 µL da solução EB,
dependendo de sua concentração. A passagem pela coluna foi facilitada por centrifugação
(12.000 g/1 min/TA).
4.6.6 PCR de Fusão dos Fragmentos de DNA para a Montagem do Cassete de Expressão
do Domínio III
A última etapa para a construção do cassete de expressão do domínio III da proteína E do
vírus den-2 consistiu no PCR de fusão dos dois fragmentos de DNA já amplificados,
correspondentes ao DIII da proteína E de den-2 e à região da HA truncada do gene E de den-4.
Foi utilizado na reação o par de oligonucleotídeos RG 392 (+) e RG 380 (-) (Tabela 4.1). Esses
iniciadores pareiam-se nas extremidades opostas desses dois produtos de PCR, que por sua vez,
possuem regiões complementares (Figura 4.1). Isto permite que, após a síntese por PCR,
obtenha-se um único fragmento maior, correspondente aos dois fragmentos iniciais fusionados.
Para a reação, 40 ng do produto de RT-PCR ou PCR contendo o gene DIII den-2 (374pb), 30 ng
do produto de PCR contendo o gene da região HA truncada (253 pb), dNTPs (1 mM Promega),
MgSO
4
(1 mM Invitrogen), 20 pmoles de cada oligonucleotídeo (RG 380 e RG 392), 1 U de Taq
polimerase High Fidelity, segundo as especificações do fabricante, e água livre de nucleases para
50 µL de volume final. As reações sofreram um primeiro ciclo de incubação (94ºC/30 s) seguido
de 30 ciclos de incubação: 94ºC/15 s, 55ºC/30 s, 68ºC/35 s. Adicionalmente foi feita uma
incubação final de 68ºC/5 min e outra por tempo indeterminado a 4ºC. Os fragmentos foram
analisados por eletroforese em gel de agarose (seção 4.6.10).
Assim, o cassete de expressão DIII den-2 HA trunc den-4 deve conter, no sentido 5’
3’: a região 3’ do gene da proteína E, o sítio de restrição da enzima Nar I, os 27 primeiros
nucleotídeos do gene da proteína NS1, o DIII den-2, o sítio de restrição da enzima Nar I, a região
HA truncada do gene da proteína E de den-4 (sem os domínios H1 e CS) e os 27 primeiros
nucleotídeos do gene da proteína NS1, resultando em um produto final de PCR de 573 pares de
bases.
40
Tabela 4.1 – Seqüência dos oligonucleotídeos utilizados para a construção do cassete de
expressão DIII den-2 HA truncada den-4.
Oligonucleotídeo (polaridade) Seqüência (5’J3’)
RG 392 (+)
GGA GTT GGC GCC GAT CAA GGA TGC
GCC ATC AAC TTT GGC AAA GGG ATG
TCA TAC TCC ATG TGC
RG 393 (-)
CCT GGT GCA CAG CCT TTC CCA ATG
ATG TGG AAC TTC CTT TCT TGA ACC
AGT CC
RG 380 (-)
GCC AAA GTT GAT GGC GCA TCC TTG
ATC GGC GCC AAC TGT GAA GCC C
RG 394 (+)
GGA CTG GTT CAA GAA AGG TTC CAC
ATC ATT GGG AAA GGC TGT GCA CCA GG
Haste âncora Den-4Domínio III Den-2
N-term HA den-4 +
C-term DIII den -2
RG 392
RG 393
RG 394
RG 380
RG 392
RG 380
PCR
RT-PCR
PCR de Fusão
C-term HA FA +
N-term NS1 FA +
N-term DIII den-2
C-term DIII den -2 +
N-term HA den-4
N-term NS1 +
C-term HA den-4
Figura 4.1 - Obtenção do cassete de expressão inserido na região intergênica E/NS1 do genoma de
FA 17DD (Fonte: Laboratório de Biologia Molecular de Flavivírus - Fiocruz).
41
4.6.7 Clonagem do Cassete de Expressão do Domínio III den-2 no Vetor PCR-Blunt II-
TOPO
Após análise do cassete de expressão em gel de agarose, este foi purificado por meio do
sistema “QIAquick Gel Extraction” (Qiagen), cujo protocolo já foi descrito anteriormente (seção
4.6.5). O fragmento purificado do cassete de expressão do domínio III da proteína E do vírus
den-2 foi clonado no plasmídeo PCR-Blunt II-TOPO pelo sistema “Zero Blunt
TOPO
PCR
Cloning” (Invitrogen), de acordo com instruções do fabricante. Para a reação de clonagem, em
um tubo de 1,5 mL foram adicionados 100 ng (4 µL) do produto de PCR, 1 µL da solução de sal
(NaCl 1,2 M; MgCl
2
0,06 M) e 1 µL do vetor PCR-Blunt II-TOPO, totalizando um volume final
de 6 µL. Como controle positivo desta reação foi utilizado o plasmídeo pUC19, também oriundo
deste sistema comercial. Essas reações foram incubadas em gelo por 5 min e, em seguida,
iniciou-se a etapa de transformação em bactérias Escherichia coli linhagem DH5
quimiocompetentes comerciais (Tabela 4.2), provenientes do sistema de clonagem (Invitrogen).
Esta etapa de transformação bacteriana possibilita a introdução de um DNA circular exógeno, ou
plasmídeo, em uma bactéria (Sambrook et al., 1989).
Tabela 4.2 - Características genotípicas da cepa bacteriana usada durante o processo de
transformação com o Kit de clonagem Zero Blunt TOPO.
Cepa (E. coli) Genótipo
DH5-T1
R
F
-
ø80lacZ M15 (lacZYA-argF)U169 deoR
recA1 endA1 hsdR17 (r
k
-
,m
k
+
) phoA supE44
thi-1 gyrA96 relA1 tonA (resistente ao fago
T1)
Em tubos de 15 mL, para cada volume de 50 µL de bactérias competentes foram
adicionados 2 µL da reação de clonagem e essa mistura foi incubada em gelo por 30 min. Após
este período, as células bacterianas sofreram choque térmico de 42ºC/30 s. Imediatamente, as
células foram transferidas para banho de gelo, e a esta suspensão, foram adicionados 250 µL de
meio SOC (“Super Optimal Catabolite”, Invitrogen) e mantido sob nova incubação (37ºC/1
h/200 rpm). Após este intervalo, foi feito o plaqueamento de 50 e 150 µL desta cultura, em
42
placas de Petri, contendo 40 mL de meio LB com 1,5 % ágar (Difco) acrescido do antibiótico
canamicina (50 µg/mL) para a seleção de clones recombinantes. As placas de Petri foram
incubadas (37ºC/18 h) e após este período, 10 colônias de cada placa foram removidas e cada
uma foi cultivada individualmente em frascos de 15 mL com 5 mL de meio LB acrescido de
canamicina (50 µg/mL) (37ºC/18 h/200 rpm).
Figura 4.2 - Mapa do vetor PCR-Blunt II-TOPO (Invitrogen), parte do sistema comercial de
clonagem Zero Blunt TOPO, indicando os genes de resistência aos antibióticos canamicina e
zeocina. Este esquema também mostra os possíveis sítios de corte de diferentes enzimas de restrição
presentes no plasmídeo, além da região onde é realizada a clonagem (“Blunt PCR Product”). As áreas
marcadas com retângulos indicam os possíveis oligonucleotídeos a serem empregados no
seqüenciamento nucleotídico a fim de confirmação da clonagem. Extraído de Invitrogen
TM
(2006 -
http://www.invitrogen.com/content/sfs/manuals /zeroblunttopo_man.pdf).
43
4.6.8 Extração em Pequena Escala dos Plasmídeos PCR-Blunt II-TOPO Recombinantes
As culturas bacterianas crescidas foram submetidas à extração de DNA plasmidial em
pequena escala para confirmação da clonagem do cassete de expressão do domínio III den-2.
Para tal, foi utilizado o sistema comercial, que emprega colunas com sílica, QIAprep Miniprep
(Qiagen,http://www1.qiagen.com/literature/Default.aspx?Term=QIAprep+Miniprep&Language=
EN&LiteratureType=4%3b8%3b9%3b10&ProductCategory=0).
As culturas de bactérias foram transferidas para tubos de 1,5 mL e centrifugadas (12.000
g/1 min), por duas vezes, sendo o sobrenadante descartado a cada centrifugação, para a formação
de precipitado bacteriano. Primeiramente, este precipitado foi ressuspendido em 250 µL do
tampão P1 e, em seguida, foram adicionados aos tubos 250 µL do tampão P2. Estas soluções,
juntamente com o precipitado bacteriano, foram misturadas de 4 a 6 vezes por inversão, para que
ocorresse a lise das células bacterianas. Após estes procedimentos, foram adicionados 350 µL do
tampão N3 e esta solução foi misturada da mesma forma que na etapa anterior. Os tubos foram
centrifugados (12.000 g/10 min). Todo o sobrenadante formado a partir desta última
centrifugação foi aplicado na coluna de sílica encaixada previamente em um tubo de 1,5 mL,
seguido de centrifugação (12.000 g/1 min). O sobrenadante foi descartado e a coluna foi lavada
com 500 µL de tampão PB por meio de centrifugação (12.000g/1 min). O sobrenadante foi
novamente descartado e a coluna então lavada com 750 µL de tampão PE e submetida ao mesmo
processo de centrifugação. Após descartar o sobrenadante, a coluna foi submetida a mesmo ciclo
de centrifugação, a fim de retirar todo o resíduo de tampão de lavagem. Por fim, a coluna foi
transferida para um tubo de microcentrífuga limpo de 1,5 mL e o DNA, até então ligado à
coluna, foi eluído em 50 µL de tampão EB.
As preparações resultantes foram analisadas por eletroforese em gel de agarose. O perfil
de migração foi comparado ao perfil de amostras do plasmídeo vetor, com o objetivo de se
verificar quais culturas expressavam o DNA com tamanho pretendido, ou seja, maior que o
vetor. Estas amostras foram selecionadas para posterior análise de confirmação da inserção
clonada.
44
4.6.9 Digestão das Minipreparações Plasmidiais com Eco RI
A fim de avaliar a existência de bactérias recombinantes, as amostras de DNA plasmidial
foram submetidas à digestão com a enzima Eco RI, cujo sítio de corte flanqueia o inserto
clonado no vetor PCR-Blunt II-TOPO (Figura 4.2). Para cada reação de 10 µL, foram utilizados
60 ng de cada preparação plasmidial, que foram incubadas com 3 U da enzima Eco RI
(Promega), de acordo com as condições do fabricante. As reações foram incubadas (37ºC/1 h), e
as amostras digeridas foram analisadas por eletroforese em gel de agarose (seção 4.6.10).
4.6.10 Análise por Eletroforese de Ácidos Nucléicos em Gel de Agarose
A análise e a quantificação de DNA e RNA foram realizadas por eletroforese em gel
agarose em concentrações variáveis (0,8 ou 1%) em tampão TAE 1X. Foi aplicada uma corrente
elétrica média de 80 mA, permitindo a separação de ácidos nucléicos de acordo com o seu
tamanho e tipo de enovelamento.
Para cálculo de peso molecular, foram utilizados os marcadores comerciais Low DNA
Mass (Invitrogen), DNA/Hind III (Invitrogen) e DNA/Hind III Eco RI (Invitrogen).
Às amostras de ácido nucléico, foram adicionadas uma solução corante contendo xileno
cianol e azul de bromofenol ou tampão de amostra comercial Blue/Orange 6X Loading Dye
(Promega), para o acompanhamento do perfil de migração durante a corrida eletroforética. As
bandas de ácidos nucléicos foram detectadas por coloração do gel com brometo de etídeo 0,5
µg/mL (Biorad), a visualização das bandas de ácidos nucléicos foi feita sob luz ultravioleta 365
nm em transiluminador (Pharmacia LKB MacroVue) e as imagens dos géis foram obtidas pelo
sistema “Electroforesis Documentation and Analysis System 120 - Kodak”, câmera digital
(Kodak DC 120, programa Kodak 1D Image Analysis).
4.6.11 Preparação de Estoque Bacteriano
Os clones bacterianos recombinantes, após checagem realizada com enzimas de restrição
em gel de agarose, foram estocados em glicerol 16%. Para isto, 800 µL de cultura foram
adicionados a 200 µL de glicerol 80%. Os estoques foram armazenados a -20ºC.
45
4.6.12 Seqüenciamento Nucleotídico
Para a confirmação da integridade da seqüência nucleotídica do cassete de expressão
clonado, foi utilizada a técnica de terminação de cadeia por dideoxiribonucleotídeos (ddNTPs;
Sanger et al., 1977). Nas reações de seqüenciamento de amostras plasmidiais foram utilizados
entre 150 e 500 ng de DNA e 5 pmoles de cada oligonucleotídeo M13 F (+) e M13 R (-) (Figura
4.2 e Tabela 4.3). A mistura de DNA e oligonucleotídeo foi incubada (95ºC/5 min) e em seguida,
foram adicionados os reagentes do sistema comercial “BigDye Terminator v3.1 Cycle
Sequencing” (Applied Biosystems), com o uso de 2,0 µL de BigDye em volume final de 10 µL.
As reações foram incubadas em termociclador por 30 ciclos de 96ºC/10 s, 45ºC/5 s, 60ºC/4 min.
Após esta etapa, as reações de seqüenciamento foram precipitadas de acordo com o
seguinte protocolo: adicionou-se isopropanol (Merck) 60% às amostras que foram mantidas em
TA por no mínimo 15 min e, centrifugadas (12.000 g/20 min). Os sobrenadantes foram
desprezados e as amostras foram submetidas a dois ciclos de lavagens com etanol 60%. Após a
última centrifugação, as amostras foram aquecidas (65ºC/5 min) para que ficassem
completamente secas. Para finalizar o processo de precipitação, foram adicionados 10 µL de
formamida (Applied Biosystems) a cada amostra e estas, submetidas a seqüenciamento
nucleotídico.
O seqüenciamento nucleotídico foi realizado com o suporte da plataforma de
seqüenciamento PDTIS que conta com o seqüenciador automático ABI PRISM 3730 (Applied
Biosystems). Os cromatogramas correspondentes às seqüências nucleotídicas foram analisadas
com auxílio dos softwares Chromas version 3.0 (Technelysium Pty Ltd) e SeqMan II; este último
é proveniente do pacote de programas Lasergene, versão 5.07 (DNAStar Inc.).
Tabela 4.3 - Seqüência dos oligonucleotídeos utilizados para o seqüenciamento do cassete de
expressão DIII den-2 HA den-4 clonado no vetor comercial PCR-Blunt II-TOPO.
Oligonucleotídeo (polaridade) Seqüencia (5’J 3’)
M13F (+)
CAG GAA ACA GCT ATG AC
M13R (-)
GTA AAA CGA CGG GCC AG
46
4.7 Preparação do Molde de cDNA Viral
Para a obtenção do molde de cDNA viral recombinante foi utilizada a tecnologia do clone
infeccioso descrita por Rice e colaboradores (1989). Foi empregado o sistema de dois plamídeos,
que albergam, juntos, o genoma do vírus vacinal FA 17D sob a forma de cDNA. Neste presente
trabalho, foram utilizados o pT3 - derivado do pYFM5.2 (Rice et al., 1989) – contendo ou não a
inserção do gene correspondente ao cassete de expressão do domínio III da proteína E do vírus
den-2, e pG1.2 - derivado do pYF5’3’IV (Rice et al., 1989). Esses dois plasmídeos foram
construídos por Jabor (2001) e ambos podem ser propagados e amplificados de maneira estável,
fato que não acontece com plasmídeos individuais que carregam o genoma completo do vírus da
FA. Os plasmídeos utilizados nesta dissertação foram modificados a fim de seu genoma
assemelhar-se, fenotipicamente, ao genoma do víus vacinal 17DD, sendo, portanto, “17DD-
like”.
4.7.1 Subclonagem do Cassete de Expressão DIII den-2 no Plasmídeo pT3
4.7.1.2 Digestão de pT3 com Nar I
Dos clones bacterianos recombinantes que tiveram sua seqüência confirmada por
seqüenciamento nucleotídico, foi escolhido um exemplar para que fosse realizada a subclonagem
no plasmídeo pT3 (9.939 pb), o qual alberga, sob a forma de cDNA, a região central do genoma
do vírus FA17DD, que inclui parte do gene E, genes NS1, NS2A/B, NS3, NS4A/B e parte de
NS5 (Jabor, 2001) (Figura 4.3).
Primeiramente, o pT3 foi digerido com a enzima Nar I (Promega): para cada 50 ng de
plasmídeo foram utilizados 30 U de Nar I, de acordo com as recomendações do fabricante e água
deionizada para volume final de 250 µL. As reações foram incubadas (2 h/37ºC) e as amostras
digeridas foram analisadas em gel de agarose (seção 4.6.10).
47
Genoma central FA (9428 - 1373)
pT3/DIII den-2
(10473 pb)
Genoma central FA (1373 - 10473)
pT3
(9939 bp)
Figura 4.3 - Mapas dos plasmídeos pT3 íntegro e pT3 recombinante, contendo a inserção do
domínio III de dengue-2. O plasmídeo pT3 íntegro contém a região central do genoma do vírus FA
“17DD-like”. Estão indicados os sítios de restrição das endonucleases, a origem de replicação do
plasmídeo (ori) e o gene de resistência para beta-lactamase (bla) (“Gene Construction Kit” - GCK;
Textco, Inc., versão 2.5).
4.7.1.3 Precipitação de Ácidos Nucléicos
A fim de aumentarmos a concentração do material e otimizar as consecutivas etapas do
protocolo, as amostras digeridas com Nar I (Promega) foram precipitadas pelo método Acetato
de amônio/etanol (Sambrook et al., 1989). Adicionou-se às amostras 0,5 V de acetato de amônio
7,5 M e 3 V de etanol absoluto, seguido de centrifugação (12.000 g/10 min). O sobrenadante foi
desprezado e as amostras foram lavadas com 3 V de etanol 80%, seguindo o mesmo ciclo de
centrifugação. Novamente o sobrenadante foi descartado e o precipitado foi seco à temperatura
ambiente e ressuspenso em 20 µL de TE.
4.7.1.4 Desfosforilação do Plasmídeo pT3/Nar I com SAP
A fim de minimizar a recirculação do vetor durante a etapa de transformação bacteriana,
o plasmídeo pT3 já digerido com Nar I foi submetido ao processo de desfosforilação com a
48
enzima SAP (Promega). Para cada 100 ng de DNA foram utilizados 0,2 U de SAP, segundo as
especificações do fabricante em volume final de 30 µL. A reação de desfosforilação foi incubada
(37ºC/15 min) e novamente incubada (65ºC/15 min) para inativação da enzima.
4.7.1.5 Digestão das Amostras Plasmidiais Recombinantes com Nar I
Dando prosseguimento à montagem do molde de cDNA do vírus recombinante, as
bactérias recombinantes para o cassete de expressão DIII den-2/HA trunc den-4 também foram
submetidas à digestão com a enzima Nar I para que fosse realizada a clonagem no sítio desta
enzima no plasmídeo pT3. Para cada 1 µg das alíquotas provenientes da preparação plasmidial
em pequena escala, foram adicionados 30 U de Nar I (Promega) nas condições fornecidas pelo
fabricante para volume final de 100 µL. As reações foram incubadas (37ºC/3 h) e o produto desta
reação foi analisado por eletroforese em gel de agarose (seção 4.6.10). A banda correspondente
ao cassete de expressão do domínio III foi então extraída por meio do sistema comercial
QIAquick Gel Extraction (Qiagen), de acordo com o protocolo recomendado pelo fabricante e já
descrito anteriormente (seção 4.6.5).
4.7.1.6 Ligação do Cassete de Expressão em pT3
Após as etapas de digestões e desfosforilação, o cassete de expressão DIII den-2/HA
trunc den-4 foi ligado ao plasmídeo pT3, utilizando-se o cálculo da relação equimolar entre o
vetor e o inserto, de modo a empregarmos duas diferentes proporções – 1 molécula do vetor (100
ng) : 5 moléculas do inserto (30 ng) e 1 molécula do vetor (100 ng) : 10 moléculas do inserto (60
ng). Para a reação de ligação foi empregada 1 U da enzima T4 DNA ligase (Invitrogen), no
tampão fornecido pelo fabricante (Invitrogen), em volume final de 10 µL. As amostras foram
incubadas a 4ºC por um período mínimo de 12 h.
49
4.7.1.7 Subclonagem do Cassete de Expressão DIII den-2/HA trunc den-4 no Plasmídeo
pT3
Esta subclonagem teve como objetivo obter grande quantidade de DNA correspondente
ao cassete de expressão, e a certificação da obtenção de extremidades coesivas criadas pela
digestão dos plasmídeos com a enzima de restrição Nar I. Cepas de E. coli SURE (Stop
Unwanted Rearrangement Events) quimiocompetentes (Tabela 4.4) foram preparadas em nosso
laboratório pela técnica Adriana Duarte. Nessa preparação foi usado o método do cloreto de
cálcio descrito por Sambrook et al. (1989), com modificações. As células foram transformadas
com os produtos de ligação como descrito no item 4.6.7.
Tabela 4.4 - Características genotípicas da cepa bacteriana usada durante o processo de
subclonagem do cassete de expressão no vetor pT3.
Cepa (E. coli) Genótipo
SURE
(Stop Unwanted Rearrangement Events)
e14-(McrA-) (mcrCB-hsdSMR-mrr)171
endA1 gyrA96 thi-1 supE44 relA1 lac recB
recJ sbcC umuC::Tn5 (Kan
r
) uvrC [F´ proAB
lacIqZM15 Tn10 (Tet
r
)].
Foi realizada a extração de plasmídeos em pequena escala de cada colônia, para avaliar a
presença de células bacterianas recombinantes. O sistema empregado foi o comercial QIAprep
Miniprep (Qiagen), cujos procedimentos já foram descritos anteriormente. Essas preparações
foram submetidas à digestão com a enzima Pst I para confirmação da clonagem do cassete de
DNA. Para cada reação foram utilizados 60 ng de plasmídeos, em tampão H fornecido pelo
fabricante (Promega), 3 U de enzima Pst I (Promega) e água estéril para volume final de 10 µL.
As reações foram incubadas (37ºC/2 h) e as amostras digeridas foram analisadas por eletroforese
em gel de agarose (seção 4.6.10). A verificação do sentido correto da inserção foi realizada por
seqüenciamento nucleotídico, por tratar-se de uma clonagem bidirecional. Foram utilizados os
oligonucleotídeos RG 174 (+) e RG 19 (-) os quais flanqueiam a região do genoma da FA onde o
cassete foi inserido – entre as proteínas E e NS1 (Tabela 4.5). Os procedimentos realizados para
a reação de seqüenciamento estão descritos no item 4.6.12. Os clones recombinantes
50
confirmados por seqüenciamento foram estocados em glicerol 80%, conforme descrito em
4.6.11.
Tabela 4.5 - Seqüência dos oligonucleotídeos utilizados para o seqüenciamento do cassete de
expressão DIII Den-2 HA Den-4 subclonado em pT3
Oligonucleotídeo
(polaridade)
Posição ocupada no
genoma FA
Seqüência (5’J 3’)
RG 174 (+) 1.640 – proteína E
CGG GGT GTG GAG AGA
GAT GCA
RG 19 (-) 2.638 – proteína NS1
GGG AGT CAA CTG AAT
TTA GGC
4.7.1.8 Extração de Plasmídeos em Grande Escala
As construções contendo os cassetes de expressão íntegros e com orientação correta
foram submetidos a preparações plasmidiais em grande escala com a finalidade de obter maior
massa de plasmídeos para ser utilizada nas próximas etapas de obtenção do molde de cDNA
viral. O sistema comercial empregado foi “HiSpeed
Plasmid Purification Kit” (Qiagen),
conforme recomendações do fabricante. Um primeiro pré-inóculo de 5 mL em meio LB, 50
µg/mL de ampicilina e 15 µL da cultura estocada em glicerol foi incubado (37ºC/200 rpm/8 h).
A partir deste inóculo, a cultura sofreu diluição de 1/500 e foi adicionada a 150 mL de meio LB
e 50 µg/mL de ampicilina, sofrendo nova incubação (37ºC/200 rpm/12 h). A cultura bacteriana
foi então centrifugada (6.000 g/15 min/4ºC) e o precipitado resultante foi ressuspenso com
auxílio de vortex, em 10 mL de tampão P1. Em seguida foi adicionado mesmo volume de
tampão P2, responsável pela lise das células, que foi misturado por inversão à suspensão
bacteriana e incubado (5 min/TA). Após este período, foi adicionado 10 mL de tampão P3 para a
neutralização, misturado da mesma forma que na etapa anterior. O lisado bacteriano foi aplicado
na coluna de sílica deste sistema comercial permanecendo por 10 min/TA, para garantir uma
correta filtração do precipitado quando este fosse aplicado a uma segunda coluna, de maior
escala, previamente equilibrada por ação da gravidade, com 10 mL do tampão QBT. Também
por ação gravitacional, o lisado bacteriano foi purificado ao passar por esta coluna e o DNA
plasmidial ligado por afinidade à resina de sílica. Em seguida, esta coluna sofreu uma lavagem
com 60 mL de tampão QC e o DNA plasmidial foi eluído em 15 mL de tampão QF. Por fim, o
51
DNA foi precipitado com isopropanol e etanol 70%, com auxílio de seringas e filtros
constituintes do sistema comercial e, por fim eluído em 1 mL de tampão TE.
4.7.1.9 Montagem do Molde de cDNA Viral
Para a obtenção do molde de cDNA viral foi empregado o sistema de dois plasmídeos. O
plasmídeo pT3 contém a parte central do genoma FA, parental ou recombinante para o cassete de
expressão da seqüência codante do domínio III; e o plasmídeo G1.2 (6.905 pb), contendo o
cDNA correspondente às extremidades genômicas virais 5´ (UTR não traduzida, genes C,
prM/M e parte do gene E) e 3´ (parte de NS5) do vírus FA “17DD-like” (Jabor, 2001) (Figura
4.4).
4.7.1.10 Digestão dos Plasmídeos com Nsi I e Sal I e Ligação dos Fragmentos
Cerca de 2 µg dos plasmídeos pT3 parental e recombinante e pG1.2 foram digeridos com
as endonucleases Nsi I e Sal I. Foi utilizada em cada reação 30 U Nsi I (Promega) e 30 U Sal I
(Promega) nas condições fornecidas pelo fabricante em volume final de 200 µL. As reações
foram incubadas (37ºC/2 h) e submetidas à análise por eletroforese em gel de agarose (seção
4.6.10).
As amostras foram purificadas pelo sistema comercial QIaquick PCR Purification
(Qiagen) para retirar as enzimas de restrição e o tampão de clivagem. Neste procedimento, foi
adicionado a cada volume do produto de ligação, 5 volumes do tampão PB. Essa mistura foi
aplicada em coluna de sílica para que o DNA se ligasse a ela por afinidade e submetida à
centrifugação (12.000 g/1 min). O sobrenadante foi desprezado e a mesma coluna foi lavada com
750 µL de tampão PE e submetida ao mesmo ciclo de centrifugação. O sobrenadante foi
descartado e o DNA foi eluído em 50 µL de tampão EB.
Após purificação, as amostras foram analisadas por eletroforese gel de agarose (seção
4.6.10). A reação de ligação dos fragmentos de DNA foi executada com 300 ng do pT3
recombinante e 200 ng de G1.2 na presença de 1 U da enzima T4 DNA ligase (Invitrogen) em
tampão comercial apropriado em volume final de 30 µL. As amostras foram incubadas
52
(4ºC/mínimo de 12 h). A visualização da ligação foi realizada por eletroforese em gel de agarose
(seção 4.6.10). Após a reação, a enzima T4 DNA ligase foi inativada (65ºC/20 min).
Figura 4.4 - Mapa do plasmídeo pG1.2. Este plasmídeo contém as regiões 3’ e 5’ do genoma do
vírus FA “17DD-like”. Estão indicados os sítios de restrição das endonucleases, a origem de replicação
do plasmídeo (ori), o gene de resistência para beta-lactamase (bla) e o promotor para a polimerase SP6.
As extremidades 5’ e 3’do genoma do vírus FA estão indicadas em vermelho e verde, respectivamente.
Fonte: Rice et al. 1989 (“Gene Construction Kit” - GCK; Textco, Inc., versão 2.5).
4.7.1.11 Digestão da Preparação de DNA Ligado com Xho I
A ligação foi em seguida submetida à digestão com a enzima Xho I, cujo sítio delimita a
extremidade 3´ do molde de cDNA genômico viral. Foram empregadas na reação 20 U de Xho I
(Promega) em tampão comercial apropriado em volume final de 90 µL. As amostras foram
incubadas (3 h/37ºC) e após esta etapa, o material foi precipitado pelo método acetato de
amônio/etanol (Sambrook et al., 1989) conforme descrito na seção 4.7.1.3. As amostras foram
ressuspensas em 10 µL de TE e 1 µL desta preparação foi analisada por eletroforese em gel de
agarose (seção 4.6.10).
53
4.7.1.12 Síntese in vitro do RNA Viral
A transcrição in vitro dos moldes de cDNA permitiu a produção in vitro do RNA
infeccioso (clone infeccioso) utilizado para obtenção de partículas virais em cultura de células
Vero. A transcrição in vitro do molde de cDNA, pelo uso do promotor SP6 RNA polimerase,
localizado na extremidade 5’ deste molde, permite a produção de RNAs virais infecciosos que
serão transfectados utilizando o método do lipídeo catiônico (Lipofectamine 2000, Invitrogen).
Para o preparo de grandes quantidades do transcrito visando a transfecção foi utilizado o
sistema de transcrição “AmpliScrib SP6 High Yield Transcription Kit” (Epicentre), em
condições de esterilidade, livre de nucleases e segundo recomendações do fabricante.
Os moldes de cDNA linearizados (50-100 ng) foram transcritos na presença de 1 U de
SP6 RNA polimerase, 3 mM do análogo de CAP, rNTPs 7,5 mM (de cada, sendo que GTP está a
0,75 mM), 10 mM DTT e 20 U de RNasin, em tampão apropriado por 2 h/37ºC. A integridade e
o perfil dos RNAs transcritos foram verificados por eletroforese em gel de agarose 1,0 % em
tampão TAE, livres de nucleases.
4.8 Transfecção do RNA Viral em Cultura de Células Vero
Foi utilizado aproximadamente 1 µg de RNA total resultante da transcrição in vitro. O
método escolhido foi o do lipídeo catiônico Lipofectamine 2000 (Invitrogen) em concentração
final de 20 µg/mL em 1 mL de meio Opti-MEM I 1X (Reduced Serum Medium Modification of
MEM - Gibco). O RNA foi complexado ao lipídio catiônico em meio Opti-MEM 1X por 10 min
em banho de gelo. Passado este intervalo, o complexo foi adicionado à monocamada de células
Vero, preparada com 24 h de antecedência (30.000 células/cm
2
). Foi retirado o meio de cultura
da monocamada e sobre ela, aplicada a solução contendo RNA-Lipofectamina, durante
incubação de 20 min/TA, movimentando-as a cada 2 min. Após este tempo, o sobrenadante foi
retirado das garrafas e a monocamada foi lavada com 5 mL de PBS livre de RNase e coberta
com 12 mL meio 199/Earle completo com 0,22% de NaHCO
3
. As culturas transfectadas foram
mantidas em incubadora com atmosfera de 5% de CO
2
a 37ºC e visualizadas diariamente em
microscópio invertido para verificação de efeito citopático. Os frascos de 25 cm
2
infectados com
os vírus recombinantes foram tripsinizados e, para isto, o sobrenadante celular foi descartado e a
monocamada de células foi lavada por duas vezes com uma solução de 50 mL de verseno e 500
54
µL de tripsina. Os frascos foram incubados (37
º
C/5% de CO
2
/3 min) para que a monocamada se
desprendesse da parede da garrafa e, em seguida, esta foi neutralizada com 2 mL de meio Earle
suplementado com 5% de Soro Fetal Bovino e 0,22% de NaHCO
3.
Essa suspensão celular, na
proporção 1:4 ou 1:8, foi transferida para novos frascos de 25 cm
2
que já continham 12 mL de
meio 199/Earle 0,22% de NaHCO
3
. Os frascos foram incubados (37
º
C/5% de CO
2
) até
visualização de CPE e o sobrenadante das culturas foi coletado com adição de sorbitol a
concentração final de 8%. Este sobrenadante foi aliquotado e identificado como de primeira
passagem (1P), isto é, pós-tranfecção, e armazenado em freezer – 70°C.
Uma alíquota deste estoque foi submetida à extração do RNA viral (seção 4.5) e ao
procedimento de RT-PCR na presença de 20 pmoles dos oligonucleotídeos sintéticos RG 19 (-) e
RG 174 (+) (Tabela 4.5), por meio da técnica de RT-PCR (seção 4.6.2) para confirmação da
presença e integridade da inserção heteróloga.
Os fragmentos de DNA dupla fita antes de serem submetidos à reação de seqüenciamento
foram purificados por meio do “QIaquick PCR Purification” (Qiagen) (seção 4.7.1.10), a fim de
remover os dNTPs e os oligonucleotídeos restantes da reação de seqüenciamento.
Para a reação de seqüenciamento foi utilizada uma concentração desses fragmentos
purificados que variou de 20 ng a 80 ng e os oligonucleotídeos RG 174 (+), RG 175 (+) e RG 19
(-) na concentração de 5 pmoles. As seqüências dos oligonucleotídeos RG 174 (+) e RG 19 (-) já
se encontram descritas na tabela 4.5, enquanto que a descrição do oligonucleotídeo RG 175 (+)
está na tabela 4.6. As etapas em termociclador Mastercycle ep (Eppendorf), precipitação das
amostras e análise das seqüências já foram descritas na seção 4.6.12.
Tabela 4.6 - Oligonucleotídeo sintético utilizado no seqüenciamento nucleotídico do cassete de
expressão do domínio III den-2, clonado na região intergênica E/NS1 de FA 17D
Oligonucleotídeo
(polaridade)
Posição ocupada no
genoma FA
Seqüência (5’J 3’)
RG 175 (+)
1900- proteína E
CCC AAC TGA CAC TGG
CCA TGG
55
4.9 Produção dos Estoques Virais
Os estoques virais foram preparados em garrafas de 175 cm
2
, sistema fechado, cultivadas
com células Vero a uma densidade de 62.500 células/cm
2
. As culturas foram infectadas com
m.o.i (multiplicidade de infecção) desconhecida utilizando 3 mL de sobrenadante de transfecção
completado com 2 mL de meio 199/Earle com 0,22% de NaHCO
3,
para que ocorresse a adsorção
viral. Essas culturas permaneceram em estufa (37
o
C/ 5% de CO
2
/1 h) e após este período, foram
adicionados 75 mL de meio 199/Earle com 0,11% NaHCO
3
e a garrafa foi incubada novamente
(37
o
C/5% de CO
2
) até visualização de CPE, quando então o sobrenadante viral foi recolhido e
suplementado com sorbitol a uma concentração final de 8%. As suspensões foram separadas em
alíquotas de 0,5 ou 1,0 mL e armazenadas em freezer a –70ºC. Esta preparação foi utilizada ao
longo de todo este trabalho de dissertação.
4.10 Caracterização dos Vírus FA Recombinantes
4.10.1 Titulação dos Vírus FA Recombinantes
Foi realizado por meio do teste de plaqueamento descrito por De Madrid e Porterfield
(1969), com algumas adaptações, por ser o método padrão empregado na titulação de vírus FA.
Monocamadas confluentes de células Vero cultivadas em placas de 24 cavidades (2 cm
2
/
cavidade) (Nunc, Naperville, EUA), numa densidade de 50.000 células/cm
2
foram semeadas com
24 h de antecedência em meio 199/Earle com 0,22% de NaHCO
3
. Os vírus vacinal FA17DD,
vírus G1.2/T3 (controles positivos) e os recombinantes foram diluídos seriadamente da diluição
10
-1
até 10
-6
, em meio 199/Earle 0,22% de NaHCO
3
. As placas contendo células Vero tinham o
meio de cultivo 199/Earle retirado de cada cavidade, por aspiração, com o auxílio de uma bomba
de vácuo, tomando-se o cuidado de não tocar na monocamada. Em seguida foram depositados,
em duplicata, 100 µL das suspensões virais diluídas. As placas foram, então, incubadas (1
h/37
o
C/5% de CO
2
), agitando-se gentilmente as mesmas de 15 em 15 min para que ocorresse
igual adsorção viral em toda a monocamada. Após este período, os inóculos virais foram
retirados, também por aspiração, e cada cavidade recebeu 1 mL de CMC (Carboximetilcelulose,
Sigma) a 3,5% em meio 199/Earle, suplementado com 5% de soro fetal bovino e 0,22% de
56
NaHCO
3
. As placas foram incubadas por 10 dias em estufa (5% de CO
2
/37
º
C) e, após este
período, para a detecção e contagem das placas de lise, efetuou-se a fixação das monocamadas
com formaldeído 10% por cerca de 1 h. Após este intervalo, as placas foram lavadas em água
corrente e coradas com solução de cristal violeta a 0,04% por 30 min e novamente lavadas em
água corrente para retirada do excesso de corante. Foram realizadas três titulações independentes
para todos os vírus e o cálculo do título viral expresso em unidades formadoras de placa (pfu)
por mL foi determinado mediante a utilização da seguinte fórmula:
T = log
10
M + log
10
ID + log
10
FC, onde:
T é o título expresso em log
10
pfu/mL;
log
10
M é o logaritmo na base 10 da média do número de placas de lise contadas numa
determinada diluição;
log
10
ID é o logaritmo na base 10 do inverso da diluição onde as placas de lise foram
contadas.
log
10
FC é o fator de correção em log
10
do inóculo para mL, ou seja, é o logaritmo na base
10 da fração de 1 mL inoculada. Como o inóculo corresponde a 100 µL, que é a décima parte
(1000/10 = 100) de 1 mL, FC=1 (log 10 = 1).
As amostras obtidas a partir do estoque viral foram submetidas a seqüenciamento
nucleotídico da região entre as proteínas estrutural E e a não-estrutural NS1, onde o inserto foi
clonado, a fim de verificarmos a integridade da mesma.
4.10.2 Cinética de Replicação Viral em Monocamadas de Células Vero
Os experimentos de cinética de propagação viral foram realizados em triplicata, em
cultura de células Vero com densidade de 62.500 células/cm
2
, semeadas 24 h antes da execução
do experimento. As células foram cultivadas em frascos de 25 cm
2
(sistema aberto) contendo 12
mL de meio Earle/199 com 0,22% de NaHCO
3.
As garrafas tinham o meio de cultura retirado e
foram infectadas com os vírus recombinantes ou com o vírus controle FA 17DD e o parental FA
17D/G1.2-T3. A m.o.i escolhida para infecção foi de 0,02; valor considerado baixo como forma
de garantir que os vírus em replicação realmente tinham infectado as células. Passada uma hora
da adsorção dos vírus, adicionou-se 11 mL de meio Earle/199 com 0,22% de NaHCO
3.
O
sobrenadante foi coletado em duas alíquotas de 250 µL nos seguintes intervalos de tempo: 24 h,
48 h, 72 h, 96 h, 120 h e 144 h pós-infecção. As amostras coletadas foram estocadas a –70ºC e
57
uma das alíquotas coletadas de cada intervalo de tempo foi utilizada para posterior titulação, em
duplicata, em monocamadas de células Vero (50.000 células/cm
2
), de acordo com protocolo já
descrito. Esta titulação teve por objetivo avaliar o perfil de replicação dos vírus recombinantes
em relação aos controles, além de descobrir em qual intervalo de tempo ocorreria o pico de
replicação viral. Os gráficos correspondentes à curva de replicação viral ao longo do tempo (pós-
infecção) foram montados pelo programa Excel (Microsoft, 2003) e são resultado de uma média
dos 3 experimentos independentes, realizados sob as mesmas condições. O desvio padrão
também foi verificado e foi tido como insignificante quando mantido abaixo de 5%.
Para a análise estatística foi utilizado o programa GraphPad Prism versão 3.02
(GraphPad, Inc.). O teste ANOVA one-way com pós teste Tukey foi utilizado para a comparação
do título de cada vírus ao longo do tempo, e o teste ANOVA one-way com pós teste Bonferroni
foi empregado para comparar os títulos dos vírus estudados em cada período de infecção.
4.10.3 Estabilidade Genética Viral
Os dois vírus recombinantes FA 17D/DIII den-2 VGA e FA 17D/DIII den-2 IGA foram
submetidos a 10 passagens seriadas realizadas em duplicata (passagem 1 – P1 e passagem 2 –
P2), em monocamadas de células Vero, com o intuito de se determinar a estabilidade genética
das modificações inseridas no genoma do vírus parental, no caso, o vírus FA 17D/G1.2-T3, além
de possíveis modificações que pudessem ocorrer na região do inserto. As passagens seriadas
foram realizadas em garrafas com 25 cm
2
contendo 62.500 células/cm
2
e infectadas com o
volume de suspensão viral correspondente a uma m.o.i. de 0,02, a fim de garantir que um maior
número de ciclos replicativos virais ocorressem. A cada passagem, o sobrenadante recolhido das
culturas sofreu titulação de acordo com o descrito na seção 4.10.1 para que fosse realizado o
controle da m.o.i. utilizada na infecção daquela passagem já realizada. Caso ocorresse variação
da m.o.i., esta foi recalculada para o valor de 0,02 ao infectar-se a passagem consecutiva.
As passagens seriadas 5P1, 5P2, 10P1 e 10P2 foram submetidas à extração de RNA viral
(Método Trizol-LS), RT-PCR e seqüenciamento nucleotídico a fim de se averiguar a presença e
integridade do cassete de expressão. Estes procedimentos já foram descritos nas seções 4.5 e
4.6.2, respectivamente.
58
4.10.4 Imunofluorescência e Microscopia Confocal
Câmaras de 8 poços (Lab-Tek Chamber Slides, Nunc) foram semeadas com células Vero
em duas densidades: 20.000 e 30.000 células por poço. As câmaras foram infectadas com o vírus
controle FA 17DD, o vírus parental FA 17D/G1.2-T3 ou com os recombinantes FA 17D/DIII
den-2 VGA e FA 17D/DIII den-2 IGA, numa m.o.i. de 0,02 em 100 µL. As câmaras foram
incubadas (37
º
C/5% de CO
2
/72 h) e foi removido o sobrenadante celular de cada poço que foram
lavados por duas vezes com PBS 7,4 e, em seguida foi realizada a fixação das células com
paraformaldeído 4% em tampão fosfato. Após 10 min de incubação à TA, os poços foram
novamente lavados por duas vezes com PBS e foi iniciada a permeabilização das células com
0,5% de Triton X-100 em PBS. Passados 10 min de incubação à TA, a solução foi retirada e os
poços lavados com solução bloqueio composta por PBS 1% BSA seguida de outra incubação (20
min/TA). Após este intervalo, os anticorpos primários líquido ascítico murino anti dengue-2
(Gentry et al., 1982; Hiramatsu et al., 1996; 3H5-1-21 - Lote 077LAM001 - Data:16/07/07 –
cedido pelo LATAM/Bio-Manguinhos) e monoclonal anti-E de FA (Monath e Nystrom, 1984;
YF 17D 2D12 – Lote 0505001 – Data 10/05/2005 - cedido pelo LATAM/Bio-Manguinhos) eram
aplicados nos poços, na diluição 1:80 respectivamente. Em seguida, realizou-se uma incubação
de 1 h à TA e, após este intervalo, a preparação dos anticorpos foi removida e as câmaras lavadas
por três vezes com a solução de bloqueio. Para a marcação com o anticorpo secundário, foram
empregados os anti IgG de camundongo conjugados a Alexa Fluor 546 (Molecular Probes), nas
diluições 1:400, seguido de nova incubação por 1 h a TA. Passado este intervalo, os anticorpos
foram removidos e os poços lavados por três vezes com solução bloqueio. As lâminas foram
montadas com “SlowFade Gold antifade reagent with DAPI” (Molecular Probes) a fim de
minimizar a perda de fluorescência emitida pelos anticorpos secundários. As lâminas foram
visualizadas em microscópio invertido Olympus (IX51) para uma primeira avaliação da
qualidade e especificidade de marcação e após esta primeira análise as lâminas foram
visualizadas em microscópio confocal (laser scanning) (LSM 510 META, Carl Zeiss). A imagem
capturada foi arquivada com auxílio do programa “LSM Image Browse 3.5”, com suporte da
“Plataforma multi-usuário de microscopia confocal – PDTIS-FIOCRUZ”.
59
4.10.5 Microscopia em Contraste de Fase
Câmaras de 8 poços (Lab-Tek Chamber Slides, Nunc) foram semeadas com células Vero
na densidade 20.000 células por poço e infectadas com os vírus controle FA 17DD, parental FA
17D/G1.2-T3 ou com os recombinantes FA 17D/DIII den-2 VGA ou FA 17D/DIII den-2 IGA,
numa m.o.i. de 0,02. Como controle negativo, um poço de cada câmara não sofreu infecção
(Mock). As câmaras foram incubadas (37ºC/5% de CO
2
) e visualizadas em microscópio
invertido Olympus (IX51) nos aumentos de 200 e 400 X em intervalos de tempo de 24 h, 48 h,
72 h, 96 h, 120 h e 144 h pós-infecção. Imagens em contraste de fase foram adquiridas em
intervalos de tempo definidos de todos os poços infectados pelos vírus mencionados, inclusive o
Mock, a fim de comparar o efeito citopático entre os vírus controle, parental e os recombinantes.
60
5. RESULTADOS
5.1 Estudos Preliminares da Estrutura do Domínio III do Vírus Dengue-2: Análise por
Alinhamento Seqüencial e Modelagem Molecular
Antes que fosse realizada a clonagem do cassete de expressão do DIII den-2/HA truncada
den-4 na região intergência E/NS1, foi feito um estudo sobre a identidade das seqüências de DIII
entre os genótipos de den-2, entre os sorotipos de dengue, e das regiões que correspondem à
porção de HA de FA 17D e de den-4, a fim de se determinar o grau de conservação seqüencial
entre estes domínios de diferentes Flavivírus.
A seqüência de aminoácidos do DIII proveniente do clone infeccioso 17D/Den 2 P/S
(Caufour et al., 2001), utilizada para a construção do cassete de expressão, foi alinhada e
comparada com diferentes genótipos de den-2 escolhidas a partir de análises filogenéticas (Rico-
Hesse et al.,1998; Twiddy et al., 2002; dos Santos et al., 2002 e Rodriguez-Roche et al., 2005).
Foi utilizado pelo menos um representante de cada genótipo: NGC 44, Tailândia K008/93,
16681, Austrália TSV01/93, 16681, Jamaica 1409/83, BR64022/98, Peru IQT2913/96, além da
seqüência do genótipo candidato vacinal S1 Vaccine. A região que foi considerada como domínio
III neste trabalho é formada por 103 resíduos de aminoácidos, com início no resíduo 295 e fim no
397 da proteína E.
As estruturas secundárias (fitas 1-9) estão representadas em cores no alinhamento
(Figura 5.2) e foram nomeadas dessa forma seguindo a nomenclatura empregada por Volk et al.
(2007). Entretanto, caso seja seguida a nomenclatura utilizada por Rey e colaboradores (1995), as
fitas 1-9 equivalem a: A, B, Cx, C, D, Dx, E, F e G, respectivamente, observando-se algumas
alterações em relação às suas composições e/ou extensões. As fitas se organizam numa
configuração de três folhas, sendo a primeira, cuja superfície superior encontra-se exposta na
superfície da partícula viral, é formado pelas fitas 1, 2, 5 e 7 (retângulo azul claro na figura
5.1); a segunda folha e a menor delas é formada pelas fitas 3 e 6 (retângulo amarelo na figura
5.1); e a terceira folha é formada pelas fitas 4, 8 e 9 (retângulo azul escuro na figura 5.1).
O alinhamento entre os resíduos de aminoácidos do DIII de diferentes genótipos de den-2
mostrou 7 diferenças, sendo que 2 representam substituições conservadas, 3 são semi-
61
conservadas e 2 não conservadas (Figura 5.1 e Tabela 5.1). A conservação entre os resíduos de
aminoácidos é ditada pelo programa escolhido para a realização dos alinhamentos: o Clustal W2
(http://www.ebi.ac.uk/Tools/clustalw2/index.html). Este programa agrupa os aminoácidos de
acordo com suas propriedades físico-químicas, a seguir: AVFPMILW são classificados como
hidrofóbicos de cadeia lateral pequena, DE são ácidos, RK básicos e STYHCNGQ polares que
tenham em suas cadeias laterais um radical hidroxil ou amina, com exceção da glicina que é
apolar. No alinhamento entre as seqüências de nucleotídeos foram identificadas 50 trocas
nucleotídicas num total de 309 nucleotídeos.
Comparando-se a seqüência de aminoácidos do DIII entre os quatro sorotipos do vírus
dengue foram encontradas poucas variações quanto à formação e extensão das fitas que
compõem este domínio (Figura 5.2). Entre as variações observadas, 21 destas são conservadas,
11 são semi-conservadas e 26 não são conservadas, representando 43,7% de identidade entre as
cinco seqüências comparadas. Dentre as fitas, a 5 mostrou-se ser a mais variada entre as nove
que constituem a estrutura de DIII: em den-3 e den-4 ela é composta por apenas 2 aminoácidos,
enquanto que em den-2 ela apresenta mais 3 resíduos na sua porção N-terminal.
Em se tratando da identidade de nucleotídeos, a região de DIII mostrou-se bastante
diversificada entre os sorotipos de dengue. Foram observados apenas 128 nucleotídeos idênticos
num total de 310 possíveis que compõem o DIII (identidade seqüencial de 41,3%).
Tabela 5.1 - Alterações observadas na seqüência de aminoácidos de DIII após alinhamento múltiplo
entre diferentes genótipos do vírus dengue 2.
Mutação Posição na proteína E Localização em DIII
V I
308
1
I V T 335
Alça 3 e 4
H Y
346
Alça 4 e 5
V A 347
5
I T
352
Alça 5 e 6
V A
382
Alça 8 e 9
D N S
390
9
62
Figura 5.1 - Alinhamento múltiplo das seqüências de aminoácidos de DIII de diferentes
genótipos do vírus dengue, sorotipo 2, com suas respectivas fitas β. Os genótipos escolhidos com
as suas respectivas seqüências depositadas no GenBank foram: NGC 44 (AF038403), Tailândia
K008/93 (AF100459), Austrália TSV01/93 (AY037116), Jamaica 1409/83 (M20558), BR64022/98
(AF489932), Peru IQT2913/96 (AF100468), 16681 (U87411) e S1 Vaccine (M19197). A primeira
posição do alinhamento é ocupada pela seqüência de DIII, proveniente do clone infeccioso 17D/Den 2
P/S (Caufour et al., 2001) utilizada para a construção do cassete de expressão. Os asteriscos (*)
representam os resíduos idênticos em todas as seqüências do alinhamento, os dois pontos (:) indicam
substituições conservadas e o ponto (.) faz referência a substituições semi-conservadas (ClustalW2,
versão 2.01, http://www.ebi.ac.uk/Tools/clustalw2/index.html).
DIII den-2 cassete KGMSYSMCTGKFKVVKEIAETQHGTIVIRVQYEGDGSPCKIPFEIMDLEK 50
NGC 44 KGMSYSMCTGKFKVVKEIAETQHGTIVIRVQYEGDGSPCKIPFEIMDLEK 50
Tailândia K008/94 KGMSYSMCTGKFKVVKEIAETQHGTIVIRVQYEGDGSPCKVPFEIMDLEK 50
Austrália TS V01/93 KGMSYSMCTGKFKVVKEIAETQHGTIVIRVQYEGDGSPCKIPFEIMDLEK 50
Jamaica 1409/93 KGMSYSMCTGKFKIVKEIAETQHGTIVIRVQYEGDGSPCKIPFEIMDLEK 50
BR64022/98 KGMSYSMCTGKFKIVKEIAETQHGTIVIRVQYEGDGSPCKIPFEIMDLEK 50
Peru IQT2913/96 KGMSYSMCTGKFKIVKEIAETQHGTIVIRVQYEGDGSPCKIPFEIMDLEK 50
16681 KGMSYSMCTGKFKVVKEIAETQHGTIVIRVQYEGDGSPCKIPFEIMDLEK 50
S1 Vaccine KGMSYSMCTGKFKVVKEIAETQHGTIVIRVQYEGDGSPCKTPFEIMDLEK 50
*************:************************** *********
DIII den-2 cassete RHVLGRLITVNPIVTEKDSPVNIEAEPPFGDSYIIIGVEPGQLKLDWFKK 100
NGC 44 RHVLGRLITVNPIVTEKDSPVNIEAEPPFGDSYIIIGVEPGQLKLNWFKK 100
Tailândia K008/94 RYVLGRLITVNPIVTEKDSPVNIEAEPPFGDSYIIIGVEPGQLKLNWFKK 100
Austrália TS V01/93 RHVLGRLITVNPIVTEKDSPVNIEAEPPFGDSYIIIGVEPGQLKLSWFKK 100
Jamaica 1409/93 RHVLGRLITVNPIVTEKDSPVNIEAEPPFGDSYIIIGVEPGQLKLNWFKK 100
BR64022/98 RHALGRLITVNPIVTEKDSPVNIEAEPPFGDSYIIIGVEPGQLKLNWFKK 100
Peru IQT2913/96 RHVLGRLITVNPIVTEKDSPVNIEAEPPFGDSYIIIGAEPGQLKLDWFKK 100
16681 RHVLGRLITVNPIVTEKDSPVNIEAEPPFGDSYIIIGVEPGQLKLNWFKK 100
S1 Vaccine RHVLGRLTTVNPIVTEKDSPVNIEAEPPFGDSYIIIGVEPGQLKLDWFKK 100
*:.**** *****************************.*******.****
DIII den-2 cassete GSS 103
NGC 44 GSS 103
Tailândia K008/94 GSS 103
Austrália TS V01/93 GSS 103
Jamaica 1409/93 GSS 103
BR64022/98 GSS 103
Peru IQT2913/96 GSS 103
16681 GSS 103
S1 Vaccine GSS 103
***
β1
β2 β3
β5 β6 β7 β8 β9
β4
295
397
63
Cassete DIII den-2 KGMSYSMCTGKFKVVKEIAETQHGTIVIRVQYEGDGSPCKIPFEIMDLEK 50
NGC 44 KGMSYSMCTGKFKVVKEIAETQHGTIVIRVQYEGDGSPCKIPFEIMDLEK 50
Den 1 Hawaii KGMSYVMCTGSFKLEKEVAETQHGTVLVQVKYEGTDAPCKIPFSTQDEKG 50
Den 3 H87 KGMSYAMCLNTFVLKKEVSETQHGTILIKVEYKGEDAPCKIPFSTEDGQG 50
Den 4 H241 KGMSYTMCSGKFSIDKEMAETQHGTTVVKVKYEGAGAPCKVPIEIRDVNK 50
***** ** ..* : **::****** :::*:*:* .:***:*:. * :
Cassete DIII den-2 RHVLGRLITVNPIVTEKDSPVNIEAEPPFGDSYIIIGVEPGQLKLDWFKK 100
NGC 44 RHVLGRLITVNPIVTEKDSPVNIEAEPPFGDSYIIIGVEPGQLKLNWFKK 100
Den 1 Hawaii VTQNGRLITANPIVTDKEKPVNIEAEPPFGESYIVVGAGEKALKLSWFKK 100
Den 3 H87 KAHNGRLITANPVVTKKEEPVNIEAEPPFGESNIVIGIGDKALKINWYRK 100
Den 4 H241 EKVVGRIISSTPFAEYTNSVTNIELEPPFGDSYIVIGVGDSALTLHWFRK 100
**:*: .*.. .:. .*** *****:* *::* *.: *::*
Cassete DIII den-2 GSS 103
NGC 44 GSS 103
Den 1 Hawaii GSS 103
Den 3 H87 GSS 103
Den 4 H241 GSS 103
***
β1 β2
β3
β5
β6 β7 β8 β9
β4
Figura 5.2 - Alinhamento múltiplo das seqüências de aminoácidos de DIII entre os 4 sorotipos do
vírus dengue, incluindo o cassete de expressão. As fitas estão representadas por uma linha
sublinhando os respectivos resíduos de aminoácidos. As seqüências utilizadas neste estudo estão
depositadas no GenBank: den-1 genótipo Hawaii (AF425619), den-2 NGC 44 (AF038403), den-3
genótipo H87 (L11423), den-4 genótipo H241 (AY947539) e os números de acesso depositados no
banco de dados do NCBI estão indicados entre parênteses. O sorotipo Den 1 genótipo Hawaii não tem
as fitas do DIII identificadas, uma vez que este ainda não teve sua estrutura resolvida. Os asteriscos
(*) representam os resíduos idênticos em todas as seqüências do alinhamento, os dois pontos (:)
indicam substituições conservadas e o ponto (.) faz referência a substituições semi-conservadas
(ClustalW2, versão 2.01, http://www.ebi.ac.uk/Tools/clustalw2/index.html).
Uma primeira análise realizada com o cassete de expressão DIII den-2/HA trunc den-4 foi
feita alinhando-se as regiões do DIII da proteína E dos vírus FA 17D e den-2. A seqüência
nucleotídica do DIII do plasmídeo pT3, o qual alberga o genoma central do vírus FA foi
conseguida na patente (Bonaldo, MC e Galler, R; Depósito 20050121605 realizado em
31/10/2005), enquanto que a seqüência de DIII den-2 foi obtida a partir
do clone infeccioso
17D/Den 2 P/S (Caufour et al., 2001). A identidade seqüencial entre os resíduos de nucleotídeos
e aminoácidos dessas porções destes dois Flavivírus (Figura 5.3 – A, Tabela 5.2) foi de 52,1% e
47,6%, respectivamente. Em seguida, foi realizado o alinhamento entre as regiões de HA
64
completa de FA 17D e HA completa e truncada do vírus den-4 (Figura 5.3 – B, Tabela 5.2). Esta
seqüência para o vírus FA 17D foi obtida da mesma forma que a descrita acima e, para o vírus
den-4, foi utilizada a seqüência do molde de cDNA completo construído para geração de um
vírus quimérico FA/Den-4 contendo os genes E e prM do genótipo Venezuela 88 (R. Galler, em
preparação). Os domínios funcionais haste (H1, CS e H2) e âncora (TM1 e TM2) foram
delimitados usando por base a determinação previamente feita para estas regiões da proteína E do
vírus FA (Bonaldo et al., 2007) (Figura 5.3 - B). A versão truncada da HA de den-4 fusionada à
proteína heteróloga foi formada por 66 aminoácidos e não continha os elementos H1 e CS, em
contraposição à versão completa da HA de FA 17D, composta por 96 resíduos de aminoácidos.
Os percentuais de identidade observados entre as porções HA completa FA 17D e HA completa
de den-4 foram de 58% para nucleotídeos e 47,9%, para aminoácidos, enquanto que para as
versões de HA truncadas destes dois Flavivírus os percentuais de identidade foram ligeiramente
menores, apresentando 57,1% e 45,5%, respectivamente (Tabela 5.2). O cassete de expressão
DIII den-2 HA truncada de den-4 formado por 178 resíduos de aminoácidos, clonado no genoma
de FA está representado na figura 5.3, com seus componentes delimitados.
Tabela 5.2 - Identidade das seqüências de DIII e Haste-âncora da proteína E utilizadas na
montagem do cassete de expressão. Estão indicados os percentuais de identidade entre as seqüências de
nucleotídeos (nt) e aminoácidos (aa) das regiões de DIII de FA 17D e den-2; HA FA 17D e HA completa
e truncada den-4 e DIII FA 17D HA completa FA com DIII den-2 HA truncada den-4.
Região comparada
% Identidade
Nucleotídeos Aminoácidos
DIII (FA 17D x cassete den-2) 52,1 47,6
HA (completa FA x completa den-4) 58,0 47,9
HA (truncada FA x truncada den-4) 57,1 45,4
65
DQGCAINFGKGMSYSMCTGKFKVVKEIAETQHGTIVIRVQYEGDGSPCKIPFEIMDLEKRHVLGRLITVNPIVTEKDSPVNIEAEPPFGDSYIIIGVEPGQLKLDWFKKGSS
TSLGKAVHQVFGSVYTTMFGGVSWMIRILIGFLVLWIGTNSRNTSMAMTCIAVGGITLFLGFTVGA
N – term NS1
DIII den-2
H2
TM2
1 -
-178
TM1
Figura 5.3 - Análise seqüencial dos componentes do cassete de expressão DIII den-2 HA trunc den-4. (A) Alinhamento da seqüência de aminoácidos que
compõem o domínio III de FA 17D com aquela do domínio III de dengue-2 NGC utilizado para a construção do cassete de expressão. (B) Alinhamento da
seqüência de aminoácidos que compõem a porção da HA completa de FA 17D e den-4 (completa e truncada). Os retângulos indicam os elementos
formadores desta região e os traços horizontais a ausência destes elementos na HA truncada, a escolhida para a construção do cassete de expressão. (C)
Cassete de expressão DIII den-2 HA trunc den-4 clonado no genoma FA e seus elementos constituintes. Os asteriscos (*) representam os resíduos idênticos
em todas as seqüências do alinhamento, os dois pontos (:) indicam substituições conservadas e o ponto (.) faz referência a substituições semi-conservadas
(ClustalW2, versão 2.01, http://www.ebi.ac.uk/Tools/clustalw2/index.html).
(C)
66
5.1.2 Modelagem Molecular
A fim de comparar a estrutura tridimensional do DIII den-2 genótipo NGC, utilizada
para construção do cassete de expressão, com as demais estruturas já resolvidas do DIII de
outros sorotipos de dengue, bem como de outros Flavivírus, foi realizada a modelagem
molecular por homologia desta porção. Esta comparação teve como principais alvos:
identificar as regiões variáveis entre os genótipos de den-2 e mapear os possíveis resíduos que
representam escape de neutralização por anticorpos e apontar os resíduos que se ligariam a
receptores celulares, todos estes já descritos na literatura.
A busca de seqüências molde para o alinhamento destas com DIII den-2 NGC foi
realizada no programa BLAST (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/blast/ tendo como banco de
dados o PDB (http://www.rcsb.org/pdb/home/home.do). Duas seqüências de DIII foram
eleitas para o alinhamento, empregando-se dois parâmetros: boa resolução quando resolvidas
(igual ou superior a 2 Å) e maior identidade seqüencial (igual ou superior a 25%). Assim, o
DIII den-2 foi alinhado com DIII do vírus den-3 (nº de acesso PDB = 1uzg, resolução = 3,5 Å,
identidade = 57 %; Modis et al., 2005) e com DIII do vírus do Oeste do Nilo (nº de acesso
PDB = 2i69, resolução = 3,11 Å, identidade = 44 %; Kanai et al., 2006). O alinhamento
destas seqüências, realizado no programa ClustalW2
(http://www.ebi.ac.uk/Tools/clustalw2/index.html; Figura 5.4) apresentou 34 resíduos idênticos,
20 alterações conservadas e 11 não conservadas.
Para a geração do modelo tridimensional do DIII den-2, utilizado para a composição
do cassete de expressão, foi empregado o programa Modeller (http://salilab.org/modeller/). O
modelo final é constituído por 9 fitas desenhadas de acordo com os alinhamentos das
figuras 5.1 e o proposto pelo programa ClustalW2 (Figura 5.4), e a nomenclatura empregada
foi proposta por Volk et al. (2007). A constituição de cada fita , seus tamanhos e posições
estão descritos na figura 5.1. As nove fitas que compõem o modelo se organizam em três
folhas , numa conformação de -barril. A primeira folha é formada pelas fitas 1, 2, 5 e 7
(em azul claro na figura 5.5) e apresenta sua superfície superior exposta na partícula viral; a
segunda por 3 e 6 (em amarelo na figura 5.5) e a terceira delas, pelas fitas 4, 8 e 9 (em
azul escuro na figura 5.5). A fita 1 é a maior fita que compõe o modelo, totalizando 9
aminoácidos em sua constituição, enquanto que 3 e 6 são as menores, cada uma é formada
por 2 resíduos de aminoácidos.
67
Figura 5.4 - Alinhamento múltiplo das seqüências molde para a realização da modelagem do DIII den-2 utilizado para a geração do cassete de inserção.
A seqüência de DIII den-2 do cassete foi alinhada a seqüências obtidas no banco de dados PDB e estão representadas no alinhamento pelo seu código de acesso:
1uzg (DIII den-3, Modis et al., 2005) e 2i69 (DIII WNV, Kanai et al., 2006). O alinhamento foi realizado pelo programa ClustalW2 e os asteriscos (*)
representam os resíduos idênticos em todas as seqüências do alinhamento, os dois pontos (:) indicam substituições conservadas e o ponto (.) faz referência a
substituições semi-conservadas (ClustalW2, versão 2.01, http://www.ebi.ac.uk/Tools/clustalw2/index.html).
68
Figura 5.5 - Modelo do domínio III da proteína E de dengue-2 utilizado para a construção do
vírus recombinante FA 17D/DIII den-2. (A) Visão da face voltada para o interior do dímero da
proteína E, em contato com o domínio I. (B) Visão da face voltada para a superfície lateral do dímero
da proteína E. N-term (N), C-term (C) e a face voltada para superfície (S).
Para a avaliação da qualidade do modelo gerado pelo programa Modeller, foram
utilizados os programas PROCHECK e Verify 3D. O PROCHEK (Laskowski et al., 1993)
avalia a qualidade estereoquímica do modelo obtido, em termos dos comprimentos de
ligações, dos ângulos planos e ângulos torcionais da cadeia principal, da qualidade do gráfico
de Ramachandran, dentre outros quesitos, sendo o programa mais utilizado para tal (Filho e
Alencastro, 2003). A partir desta avaliação, o modelo gerado apresentou 90,5% dos resíduos
localizados dentro da área correspondente às regiões ótimas no gráfico de Ramachandran,
7,1% dos resíduos posicionados nas regiões adicionais, 2,4% deles nas regiões generosas e
nenhum resíduo (0%) nas regiões não permitidas, sendo considerado, portanto, um bom
modelo (Figura 5.6).
β1β2
β3
β4
β5
β6
β7
β8
β9
β1
β2
β3
β4
β5
β6
β7
β8
β9
(A)
(B)
S
N
C
S
N
C
β1β2
β3
β4
β5
β6
β7
β8
β9
β1
β2
β3
β4
β5
β6
β7
β8
β9
(A)
(B)
S
N
C
S
N
C
69
Figura 5.6 – Plot de Ramachandran gerado pelo programa PROCHECK.
O programa Verify 3D (Lüthy et al., 1992) analisa se a seqüência modelada é
compatível com o enovelamento do modelo. Este programa verifica a vizinhança na qual as
cadeias laterais dos resíduos de aminoácidos se encontram, baseando-se principalmente em
três propriedades: na área total não exposta da cadeia lateral, na fração da área coberta por
átomos polares (O e N) e na tendência desses resíduos de formarem estruturas secundárias
(Bowie et al., 1991 e Lüthy et al., 1992). Este programa faz a correlação entre a estrutura 3D
da proteína com valores para sua seqüência 1D, encontrados a partir de combinações entre os
parâmetros determinados acima, que colocam cada resíduo em uma de 18 possíveis regiões.
Para cada tipo de resíduo, há um escore que reflete sua compatibilidade com tal região
(definida previamente por análise estatística de proteína com estrutura conhecida). Cálculos
estatísticos e algoritmos tornam a estrutura da proteína mais maleável, podendo compará-la a
outras distantemente relacionadas, com a oportunidade de detectar relações estruturais que
não seriam vistas pela similaridade seqüencial (Bowie et al., 1991). O valor final esperado é
dado em relação ao número de resíduos que compõem a proteína em questão (Bowie et al.,
1991). Os valores determinados por este programa sinalizam que o modelo teórico para o DIII
está bastante satisfatório, apresentando como valor total 35,38; quando o ideal esperado seria
46,6 e um valor mínimo aceitável de 21, para o DIII, cujo número total de resíduos é 103.
70
5.1.1 Mapeamento dos Sítios Antigênicos no Modelo Tridimensional de DIII den-2
Com o modelo de DIII den-2 definido, foram mapeadas algumas regiões importantes
relacionadas à função desta porção, que já haviam sido descritas na literatura para os quatro
sorotipos do vírus dengue. As figuras a seguir com estas regiões identificadas orientam o DIII
em relação ao dímero da proteína E de tal forma que: as extremidades identificadas como N-
terminal (N) estão voltadas para o interior do DIII, ou seja, sinalizam a alça que se liga ao DI,
enquanto que a porção C-terminal (C) está na porção mais distal do dímero, sendo a porção
final da proteína E. As regiões que se encontram expostas na superfície viral foram
identificadas com (S).
Foram identificadas sete substituições entre os diferentes genótipos de den-2,
identificadas com esferas amarelas na figura 5.7: E308 (VI), E335 (IVT), E346
(HY), E347 (VA), E352 (IT), E382 (VA), E390 (DNS). Algumas destas
encontram-se dispersas ao longo da estrutura de DIII, enquanto que outras parecem estar
agrupadas preferencialmente em duas regiões deste domínio (Figura 5.7).
β1
β2
β3
β4
β5
β6
β7
β8
β9
390
308
346
352
347
382
335
S
C
308
390
β1
β7
β2
β3
β6
352
335
β9
β8
β4
β5
382
346
347
N
(A)
(B)
Figura 5.7 – Substituições de aminoácidos observadas entre os genótipos de den-2
(esferas amarelas). (A) Visão da face voltada para o interior do dímero da proteína E. (B)
Visão apical de (A).
Foram identificadas regiões do DIII que apresentaram um conjunto de resíduos de
escape de neutralização por anticorpos sorotipo específicos, os quais alteram a ligação ao
receptor celular (Modis et al., 2005). Estas regiões localizam-se principalmente nas fitas 1 e
9 deste presente modelo, representados pelos resíduos E303 (T), E304 (G), E305 (K), E306
71
(F), E307 (K), E308 (V), E309 (V), E383 (E), E384 (P) e E385 (G), identificados por esferas
cor de rosa na figura 5.8 – A.
Os resíduos E304 (G), E383 (E), E384 (P) e E385 (G), específicos para DIII den-2,
foram identificados como os sítios antigênicos de ligação do anticorpo monoclonal 3H5
utilizado neste trabalho nas etapas de microscopia confocal de fluorescência (Gentry et al.,
1982; Hiramatsu et al., 1996, Sukupolvi-Petty et al., 2007). Quando estes resíduos encontram-
se alterados, foi observada reduzida afinidade de ligação de 3H5 a este trecho (Gentry et al.,
1982; Hiramatsu et al., 1996, Sukupolvi-Petty et al., 2007). Todos estes resíduos estão
expostos na superfície viral por uma alça lateral de DIII (Figura 5.8 – B, esferas laranja).
Figura 5.8 - Epítopos mapeados no DIII den-2. (A) O conjunto de resíduos relacionados com escape
de neutralização por anticorpos específicos ao sorotipo den-2 são destacados em esferas cor de rosa
(Modis et al., 2005). (B) Resíduos de aminoácidos que afetam a ligação do anticorpo monoclonal 3H5
(esferas laranja). N-term (N), C-term (C) e a face voltada para superfície (S).
β1
β2
β3
β4
β5
β6
β7
β8
β9
T303
V309
P384
E383
G385
β1
β2
β3
β4
β5
β6
β7
β8
β9
E383
P384
G385
G304
(B)
303TGKFKVV309
(A)
S
S
C
C
NN
β1
β2
β3
β4
β5
β6
β7
β8
β9
T303
V309
P384
E383
G385
β1
β2
β3
β4
β5
β6
β7
β8
β9
E383
P384
G385
G304
(B)
303TGKFKVV309
(A)
S
S
C
C
NN
72
Outro resíduo importante em DIII consiste na posição E390 do sorotipo 2 do vírus
dengue. Esta posição não é conservada entre os sorotipos, e está exposta na superfície viral;
quando apresenta uma asparagina nesta posição parece causar maiores incidências de febre
hemorrágica por dengue (Leitmeyer et al., 1999; Modis et al., 2005). É representado por E390
(D) na figura 5.9.
Foram localizados também em nosso modelo resíduos responsáveis pela ligação do
vírus da dengue a receptores celulares. A porção de DIII promotora da ligação à célula C6/36
é mostrada na figura 5.10 – A (esferas vermelhas), sendo representada por 10 resíduos de
aminoácidos localizados numa alça lateral de DIII den-2; são eles: E380 (I), E381 (G), E382
(V), E383 (E), E384 (P), E385 (G), E386 (Q), E387 (L), E388 (K) e E389 (L) (Hung et al.,
2004). Outro domínio de ligação do DIII den-2 proposto por esses autores foi relacionado à
ligação a receptores celulares do tipo heparan sulfato (HS), contendo os seguintes resíduos,
todos lisinas: E295 (K), E305 (K), E307 (K), E310 (K), E393 (K) e E394 (K) (Figura 5.10 –
B, esferas verdes).
β1
β2
β3
β4
β5
β6
β7
β8
β9
D390
S
C
N
β1
β2
β3
β4
β5
β6
β7
β8
β9
D390
S
C
N
Figura 5.9 - Modelo do DIII den-2 evidenciando o
resíduo D390 (esfera violeta). N-term (N), C-term (C) e a
face voltada para superfície (S).
73
Figura 5.10 - Modelo do DIII den-2: domínio de ligação a receptores celulares. (A) Ligação a
células de inseto C6/36 (esferas vermelhas), correspondente aos resíduos 380 a 389. (B) Os seis
resíduos de lisina conservados em todos os quatro sorotipos de dengue que podem estar relacionados à
ligação a receptores do tipo heparan sulfato (esferas verdes). N-term (N), C-term (C) e a face voltada
para superfície (S).
Foi realizada uma avaliação quanto à carga eletrostática da superfície de DIII den-2
(Figura 5.10). A porção do modelo de DIII voltada para o interior do dímero da proteína E é
caracterizada por uma distribuição pouco uniforme de cargas e algumas regiões com acúmulo
de cargas positivas; enquanto que essa mesma porção, em visão apical, mostrou uma maior
concentração de cargas negativas e neutras (Figura 5.11 – A, B, C e D). Observando o modelo
em sua porção final (C-term), pode-se detectar um predomínio de cargas negativas localizadas
na região não exposta na superfície viral, e a visão apical desta porção também apresentou em
sua maioria cargas negativas e neutras (Figura 5.11 - E, F, G e H).
β1
β2
β3
β4
β5
β6
β7
β8
β9
I380
L389
β1
β2
β3
β4
β5
β6
β7
β8
β9
K295
K394
K393
K305
K307
K310
380IGVEPGQLKL389
S
S
CC
N
N
(A) (B)
β1
β2
β3
β4
β5
β6
β7
β8
β9
I380
L389
β1
β2
β3
β4
β5
β6
β7
β8
β9
K295
K394
K393
K305
K307
K310
380IGVEPGQLKL389
S
S
CC
N
N
(A) (B)
74
Figura 5.11 - Mapa da superfície eletrostática do DIII den-2. (A) Modelo em vista a partir da face voltada para o interior do dímero da proteína E, em
contato com o domínio I. (B) Superfície eletrostática de A. (C) Modelo em vista apical de A. (D) Superfície eletrostática de C. (E) Modelo em vista da face
voltada para a superfície lateral do dímero da proteína E. (F) Superfície eletrostática de E. (G) Modelo em vista apical de E. (H) Superfície eletrostática de G.
Azul indica cargas positivas, vermelho cargas negativas e branco, cargas neutras. N-term (N), C-term (C) e a face voltada para superfície (S).
75
5.2 Estratégia para Construção de Vírus FA 17D Recombinantes, Expressando
Domínio III de Dengue-2 na Região Intergênica E/NS1
A estratégia de clonagem do DIII den-2 na região intergênica E/NS1 do genoma do
vírus FA 17D foi desenhada de acordo com o descrito por Bonaldo e colaboradores (2007).
O cassete de expressão de DIII den-2 foi formado, no sentido 5´ para 3´ da fita codante:
pela porção N-terminal da proteína NS1 (27 nucleotídeos), por 309 nucleotídeos do gene DIII
e pela região gênica da haste e âncora (HA), que corresponde ao C-terminal da proteína E do
vírus den-4, obtido a partir do clone infeccioso completo do vírus quimérico Den4/FA (Figura
5.3 - C). No entanto, esta porção HA não foi empregada na sua versão completa, mas sim
truncada, com ausência dos elementos H1 e CS, constituintes da porção haste. Além destas
porções, após as amplificações por PCR e PCR de fusão, o cassete de expressão clonado no
vetor de expressão PCR-Blunt II-TOPO continha, em sua extremidade 5’, os 15 últimos
nucleotídeos da proteína E e, no extremo 3’ do cassete, a repetição dos 27 nucleotídeos da
porção N-terminal do gene NS1 (Figura 4.1). Esta estratégia foi adotada a fim de permitir que
o sítio Nar I flanqueasse o cassete de expressão, possibilitando sua inserção na região
intergênica E/NS1 do genoma de FA, uma vez que esta região também apresenta o sítio para
esta enzima de restrição.
A figura 5.12 mostra um esquema representativo da topologia de membrana da região
intergênica E/NS1 do vírus FA 17D onde foi realizada a clonagem do cassete de expressão, a
disposição e constituição deste na membrana do retículo endoplasmático.
76
(A)
(B)
Retículo endoplasmático
tio de clivagem da signalasecelular
Reculo endoplasmático
citoplasma
citoplasma
HA den-4
CS
CS
Figura 5.12 - Regiões da proteína E e NS1 do vírus Febre Amarela 17D usadas na montagem do
cassete de expressão do domínio III da proteína E dos vírus dengue 2. (A) é mostrada a topologia
da membrana do RE na região da poliproteína precursora onde foi inserido o cassete de expressão
(E/NS1), as possíveis clivagens proteolíticas realizadas pela peptidase sinal do RE (setas azuis) e todos
os elementos constituintes da região HA da proteína E. (B) é ilustrada a mesma região descrita acima
contendo o cassete de expressão DIII den-2 HA truncada den-4 (Fonte: Laboratório de Biologia
Molecular de Flavivírus – Fiocruz).
5.3 Obtenção do Molde de cDNA Genômico Contendo o Cassete de Expressão do DIII
den-2
Em uma primeira tentativa de obtenção do fragmento do domínio III do gene E do
vírus den-2, utilizou-se o RNA viral purificado do genótipo den-2 BR64022/98 para o
procedimento de RT-PCR, porém, não ocorria amplificação. Foram feitas algumas tentativas
nesse sentido, como a variação do método de extração de RNA empregado, a variação da
temperatura de ciclagem, entre outras. No entanto, estas não foram capazes de levar à síntese
do cassete de expressão.
Em vista dessas dificuldades para amplificação do domínio III de dengue-2 a partir de
preparações de RNA viral, foi utilizado o plasmídeo do clone infeccioso completo do vírus
quimérico YF 17D/DEN2 P/S, (Caufour et al., 2001). Esta quimera é composta pela proteína
C do capsídeo do vírus Febre Amarela 17D, por todos os genes não-estruturais de FA 17D e
77
pelas proteínas estruturais prM/M e E do vírus dengue-2 Nova Guinea C (NGC). Assim, foi
possível obter uma banda de 366 pb compatível com o tamanho esperado do produto de PCR
(Figura 5.13 – A, canal 1).
Para a amplificação do segundo produto de PCR correspondente à região HA truncada
do gene E, foi empregado o plasmídeo que abrange o clone infeccioso completo do vírus
quimérico Den4/FA (R. Galler, em preparação). A partir da reação de PCR, foi obtido um
produto com 250 pb que abrangia em sua seqüência: a porção N-terminal da NS1, a região C-
terminal do DIII den-2, a região da HA truncada de den-4, a seqüência correspondente ao sítio
Nar I, a região N-terminal da protna não-estrutural NS1, a porção C-terminal da HA de den-
4 (Figura 5.13 – A, canal 2).
O cassete de expressão foi construído a partir da fusão desses dois fragmentos de PCR,
utilizando-se do pareamento dos oligonucleotídeos empregados para amplificação das pontas
dos dois fragmentos e pelo pareamento interno dos dois fragmentos na região complementar.
(Figura 4.1). Dessa forma, o cassete de expressão foi formado no sentido 5’ 3’: a região 3’
do gene da proteína E de FA, o sítio de restrição para a enzima Nar I, os 27 primeiros
nucleotídeos do gene da proteína NS1, o DIII den-2, o sítio de restrição para a enzima Nar I, a
região HA truncada do gene da proteína E (sem os domínios H1 e CS) e os 27 primeiros
nucleotídeos do gene da proteína NS1, resultando em um produto final de PCR de 573 pares
de bases (Figura 5.13 – A, canal 3).
Este cassete de expressão foi clonado no vetor de expressão PCR-Blunt II-TOPO que
possui 3.519 pb (Figura 4.2). Após a clonagem e transformação dos produtos de ligação na
cepa DH5 de Escherichia coli, foram obtidas 56 colônias e 6 destas foram analisadas quanto
à presença de DNA plasmidial recombinante, cujo tamanho esperado seria de 4.092 pb
(Figuras 5.13 – B, canal 2 e 5.14). A análise consistiu na digestão destas amostras de DNA
plasmidial com a enzima de restrição Eco RI, uma vez que o cassete era ladeado por dois
sítios para esta enzima. Todas as preparações se mostraram positivas para o cassete de
expressão, detectado, após eletroforese em gel de agarose, como um fragmento de cerca de
590 pb (Figuras 4.2 e 5.13 – B, canal 3).
Entretanto, 5 dessas 6 amostras de DNA plasmidial apresentaram o cassete de
expressão íntegro confirmado por meio de seqüenciamento nucleotídico automático, e uma
destas foi escolhida para dar prosseguimento às etapas posteriores.
78
M
2
1
3
2
2,0
1,2
0,8
0,4
0,2
PM (kb)
2,0
1,2
0,8
0,4
0,2
PM (kb)
PM (kb)
M
1
1
3
2
M
2
23,1
9,4
6,5
4,3
2,3
(B)
(A)
Figura 5.13 - Obtenção do cassete de expressão DIII den-2 HA truncada den-4. (A) Análise
eletroforética em gel de agarose 0,8% dos produtos de PCR correspondentes à amplificação: da
seqüência do DIII den-2 (canal 1); da região truncada da seqüência HA den-4 (canal 2); do cassete de
expressão DIII den-2 HA truncada den-4 (canal 3). (B) Análise eletroforética em gel de agarose 0,8%
do clone recombinante para o cassete de expressão DIII: controle do plasmídeo PCR-Blunt II-TOPO
não recombinante (canal 1); DNA plasmidial do plasmídeo PCR-Blunt II-TOPO recombinante
contendo o cassete de expressão (canal 2); DNA plasmidial recombinante digerido com a enzima Eco
RI (canal 3). Nos canais M
1
e M
2
, são indicados os pesos moleculares dos padrões DNA/Hind III e
“Low DNA Mass”, respectivamente.
PCR-BluntII TOPO
DIII den-2
(4092 pb)
Figura 5.14 - Mapa do plasmídeo PCR-Blunt II TOPO recombinante, contendo o cassete de
expressão do domínio III de dengue-2. Estão indicados os sítios de restrição das endonucleases Eco
RI e Nar I, a origem de replicação do plasmídeo (PUC ori), o gene de resistência para canamicina e o
promotor para SP6 da RNA polimerase (“Gene Construction Kit” - GCK; Textco, Inc., versão 2.5).
79
Uma vez obtido o plasmídeo PCR-Blunt II-TOPO /DIII den-2 HA truncada den-4, a
próxima etapa consistia na sub-clonagem do cassete no cDNA genômico viral. A metodologia
empregada foi semelhante à da tecnologia do clone infeccioso que emprega o uso de dois
plasmídeos, descrita por Rice e colaboradores (1989). Neste projeto, foram empregados os
plasmídeos bacterianos pT3 (Figura 4.4) e pG1.2 (Figura 4.5). O primeiro plasmídeo, pT3, é
derivado do plasmídeo pYFM 5.2 (Rice et al., 1989) e contém a região central do genoma do
vírus FA 17D: do nucleotídeo 1.372 ao 8.704. Já o pG1.2 é derivado do plasmídeo pYF5’3’IV
(Rice et al., 1989) e contém as extremidades do genoma viral de FA 17D - porções 5’ e 3’ -
nucleotídeos de 1 a 2.271 e de 8.274 a 10.862, respectivamente.
Primeiramente, o plasmídeo recombinante PCR-Blunt II-TOPO foi clivado com a
endonuclease Nar I. Em vista de o cassete de expressão possuir dois tios de corte para a
enzima Nar I, ladeando as suas extremidades, e de o vetor PCR-Blunt II-TOPO também ter
dois sítios de corte para essa enzima nas posições 1.116 e 1.364 (Figura 5.14), ocorreu a
geração de 4 bandas distintas na análise por eletroforese em gel de agarose (Figura 5.15 - A).
Aquela que correspondia ao cassete de expressão apresentou 534 pb, a terceira banda
visualizada, a qual foi extraída do gel de agarose após eletroforese (Figura 5.15 - A e B). O
plasmídeo pT3 também foi digerido com a enzima Nar I (Figura 5.15 – C, canal 1) e para a
realização desta subclonagem, utilizaram-se duas diferentes relações molares, as proporções
5:1 e 10:1 (inserto:vetor) para clonagem do cassete de expressão no plasmídeo pT3 no sítio
Nar I, localizado na região intergênica E/NS1 (Figura 4.3). A transformação destas
preparações em E. coli SURE geraram aproximadamente 580 colônias na ligação 5:1 e 110
colônias na ligação 10:1 (Figura 5.15 - D).
A confirmação da clonagem do cassete, uma vez que a inserção exógena não altera o
tamanho do plasmídeo de forma significativa, foi feita pela clivagem do DNA plasmidial de
10 clones, provenientes de cada ligação, com a enzima Pst I (Figura 5.15 - E). Nesta etapa de
digestão poderia ter sido empregada a enzima Nar I que, após digestão e visualização dos
fragmentos em análise eletroforética, evidenciaria o próprio cassete de expressão clonado,
caso o plasmídeo fosse recombinante. Porém, devido à pouca disponibilidade, neste
momento, desta enzima em nosso laboratório foi empregada a Pst I, cujos sítios de restrição
no pT3 tem posições 597, 1.420 e 8.066 (Figura 4.3). Esta enzima é responsável por gerar
fragmentos de 823, 2.470 e 6.646 pares de base em clones não recombinantes (Figura 5.15 E,
canais 7, 8 e 9) e fragmentos de 1.357, 2.479 e 6.646 pares de base em clones recombinantes
(Figura 5.15 - E canais 2, 4, 6 e 11). Após visualização dos fragmentos de digestão por
eletroforese em gel de agarose, 2 colônias das 10 analisadas da proporção 5:1 eram
80
recombinantes, enquanto que da proporção 10:1, 5 colônias mostraram-se recombinantes para
o cassete de expressão.
Devido ao fato desta clonagem não ser direcional, dentre os clones bacterianos que
tiveram os perfis eletroforéticos avaliados e apresentaram tamanho condizente com o
esperado após o seqüenciamento nucleotídico, 1 clone da ligação “5:1” mostrou o cassete de
expressão clonado no sentido inverso, sendo que o outro clone desta mesma proporção e
todos os outros 5 da proporção 10:1 apresentaram deleções em sua seqüência. Por causa
desses fatores, mais 10 colônias de cada ligação foram analisadas e seqüenciadas até a
obtenção de um clone que mostrasse a construção íntegra e em fase correta de leitura. Após a
visualização da digestão com Pst I por análise eletroforética em gel de agarose, nenhum clone
da proporção 5:1 mostrou-se ser recombinante, mas 5 da proporção 10:1 apresentaram o perfil
de restrição compatível com o esperado. Esses 5 clones foram seqüenciados e 2 deles estavam
com a seqüência íntegra do cassete de expressão, enquanto os outros 3 apresentaram deleções,
mutações e a clonagem do cassete no sentido invertido.
Os dois clones de pT3 recombinantes foram escolhidos para a obtenção dos moldes de
cDNA viral, a serem montados juntamente com o plasmídeo pG1.2. Estes plasmídeos
contendo o cDNA genômico do vírus FA 17D foram clivados com as enzimas de restrição
Nsi I e Sal I (Figura 5.16 - A e B), produzindo bandas de 1.759 e 5.146 pb para pG1.2 e 8.298
pb e 2.175 pb para o recombinante de pT3. Os fragmentos de pT3 foram ligados aos de pG1.2
(Figura 5.16 - C) e submetidos à digestão com a endonuclease Xho I para a linearização do
molde de cDNA, definindo a extremidade 3´ do cDNA genômico viral (Figura 5.16 - D).
Foram gerados fragmentos que correspondem ao molde de cDNA viral recombinante
completo, além de outros fragmentos menores que correspondem a produtos de ligação
alternativos e fragmentos não ligados (Figura 5.16 - D).
81
2,0
1,2
0,8
0,4
0,2
PM (kb)
PM (kb)
23,1
6,5
4,3
2,3
9,4
2,0
2,0
1,2
0,8
0,4
0,2
PM (kb)
(A) (B)
(C)
1
2
1
2
1
M
2
M
1
M
2
PM (kb)
M
1
1
3
2
4
7
5
6
M
2
8
11
9
10
23,1
6,5
4,3
2,3
9,4
2,0
M
1
1
3
2
4
7
5
6
M
2
8
11
9
10
PM (kb)
23,1
6,5
4,3
2,3
9,4
2,0
(D) (E)
Figura 5.15 - Sub clonagem do cassete de expressão no vetor pT3 e transformação em E. coli SURE.
Análise eletroforética em gel de agarose 0,8%. (A) Digestão com a enzima Nar I do vetor PCR-Blunt II-
TOPO recombinante para o cassete de expressão do domínio III den-2 (canal 1). A seta indica a banda de
interesse extraída do gel. (B) Cassete de expressão do domínio III den-2 proveniente do plasmídeo PCR-
Blunt II-TOPO digerido com a enzima de restrição Nar I, e purificado a partir de gel de agarose (canais 1 e
2). (C): Vetor pT3 digerido com a enzima de restrição Nar I (canal 1) e o vetor controle pT3 não digerido
(canal 2). (D): Preparações plasmidiais em pequena escala do vetor pT3 em bactérias E. coli SURE
transformadas com a reação de ligação entre o cassete de expressão do domínio III den-2 e o vetor pT3
(canais 2 a 11). O canal 1 representa o vetor pT3 não recombinante. (E) Preparações plasmidiais em
pequena escala do vetor pT3 digeridas com a enzima Pst I (canais 2 a 11). O canal 1 exibe o vetor pT3
recombinante não digerido. Nos canais M
1
e M
2
são indicados os pesos moleculares dos padrões
DNA/Hind III e “Low DNA Mass”, respectivamente.
82
M
1
2
PM (kb)
23,1
6,5
4,3
2,3
9,4
2,0
(B)
M
1
2
PM (kb)
23,1
6,5
4,3
2,3
9,4
2,0
(A)
M
1
2
PM (kb)
6,5
4,3
2,3
3
(C)
23,1
9,4
2,0
PM (kb)
23,1
6,5
4,3
2,3
M
1
2
(D)
9,4
2,0
Figura 5.16 - Obtenção do molde de cDNA do vírus FA 17DD DIII den-2 HA truncada den-4.
Análise eletroforética em gel de agarose 0,8%. (A) Digestão do plasmídeo G1.2 com Nsi I e Sal I: No
canal 1, o plasmídeo G1.2 íntegro e no canal 2: o plasmídeo G1.2 digerido com Nsi I e Sal I. (B)
Digestão do plasmídeo pT3 com Nsi I e Sal I: No canal 1, o plasmídeo pT3 íntegro e no canal 2, o
plasmídeo pT3 recombinante digerido com Nsi I e Sal I. (C) Reação de ligação utilizando a enzima T4
DNA ligase. No canal 1, o pT3 digerido com Nsi I e Sal I; no canal 2, a reação de ligação entre os
plasmídeos G1.2 e pT3 não recombinante – controle positivo da reação, e no canal 3, a reação de
ligação dos plasmídeos G1.2 e pT3 recombinante. (D) Moldes de cDNA digeridos com a enzima de
restrição Xho I. No canal 1, molde de cDNA do vírus FA 17D/G1.2-T3 e no canal 2, molde de cDNA
do vírus FA 17D/DIII den-2. A seta indica o fragmento que corresponde ao molde de cDNA. Nos
canais M, são indicados os pesos moleculares do padrão DNA/Hind III.
Os moldes de cDNA linearizados foram submetidos à reação de transcrição in vitro
para a geração do RNA infeccioso do vírus FA 17D/DIII den-2, uma vez que na extremidade
5´do cDNA viral existe o promotor da RNA polimerase do fago SP6, que permite que o
molde seja transcrito in vitro na presença desta polimerase. O RNA foi visualizado por
eletroforese em gel de agarose, em condições não desnaturantes (Figura 5.17). As bandas de
83
tamanho inferior e em menor quantidade correspondem à transcrição de moldes de cDNA
viral incompletos que são formados juntamente com o íntegro.
23,1
6,5
4,3
2,3
PM (kb)
M
1
2
9,4
2,0
Figura 5.17 - Transcrição in vitro dos moldes de cDNA do vírus
FA 17DD DIII den-2 HA truncada den-4. Análise eletroforética em
gel de agarose 1,0%. No canal 1, RNA do vírus FA17D/G1.2-T3 e no
canal 2, RNA do vírus FA17D/DIII den-2. No canal M, são indicados
os pesos moleculares do padrão DNA/Hind III.
A figura 5.18 esquematiza todos os passos para a clonagem molecular de DIII den-2
no genoma do vírus FA 17D e a construção do molde de cDNA viral recombinante.
84
PCR-BluntII TOPO
DIII den-2
(4092 pb)
Genoma central FA (9428 - 1373)
pT3
(9939 bp)
pT3/DIII den-2
(10473 pb)
Genoma central FA (1373 - 10473)
Digestão Nar I
Digestão Nsi I e Sal I
Digestão Xho I
cDNA viral completo FA recombinante linearizado
Xho I
Sal I
SP6
Nsi I
3’ genoma FA
Genoma central FA
Cassete de
expressão
5’ genoma FA
Ori
G1.2
Genoma
Central FA
Amp R
G1.2
pG1.2
(6905 pb)
Extremidade 3’ genoma FA
(8215 - 10862)
Extremidade 5 genoma
FA (1 - 2271)
Figura 5.18 - Clonagem e Sub-clonagem para obtenção do molde de cDNA completo viral recombinante.
85
5.4 Obtenção dos Vírus FA Recombinantes Expressando DIII den-2
Após a transfecção dos RNAs infecciosos do vírus recombinante em monocamadas de
células Vero, não foi possível observar efeito citopático (CPE) passados 5 dias deste
procedimento, apesar de a cultura infectada com o vírus controle FA17D/G1.2-T3 ter
apresentado CPE intensa até este tempo de incubação. A detecção do vírus recombinante por
CPE foi somente possível após submeter as monocamadas de células Vero infectadas, com o
vírus FA 17D/DIII den-2, ao tratamento com tripsina e cultivá-las em meio novo por três dias.
O sobrenadante desta cultura foi coletado e devidamente identificado como 1P, ou seja,
sobrenadante de 1ª passagem celular – pós-transfecção pois esta foi a primeira vez que
houve propagação viral em um sistema celular.
O RNA viral obtido dos sobrenadantes de transfecção (1P) do vírus recombinante FA
17D DIII den-2 e do controle FA17D/G1.2-T3 foi submetido a RT-PCR na presença de
oligonucleotídeos específicos que flanqueavam a região de inserção do cassete (RG 19 e RG
174 – Tabela 4.5). A análise dos produtos desta reação revelou fragmentos de 1 kb para o
vírus controle FA17D/G1.2-T3, e fragmentos de 1.543 pb para o vírus recombinante FA 17D
DIII den-2, condizentes com os perfis esperados (Figura 5.20, canais 1 e 2). No entanto, o
seqüenciamento nucleotídico dos fragmentos de RT-PCR purificados do vírus recombinante
revelou uma mutação na região da HA truncada de den-4, na posição 526 do cassete de
expressão (GTTJATT), implicando na troca do aminoácido Valina por Isoleucina, na
posição 176 do cassete de expressão (Figura 5.19 - B). Nesta análise, foi possível detectar
uma mistura de populações virais, onde os dois códons estavam presentes. Isto pode ser
observado pela sobreposição dos picos do seqüenciamento nesta posição, indicados por seta
no cromatograma B da figura 5.19.
Mutações nesta região da TM2 não são detectadas entre Flavivírus, pois este motivo é
muito conservado no terminal carboxi da proteína E, uma vez que representa o sítio de
clivagem da enzima peptidase sinal do hospedeiro. Por este motivo, foi preparado um novo
molde de cDNA viral recombinante. Após transfecção do RNA viral sintetizado in vitro, mais
uma vez, não foi possível detectar CPE no intervalo de cinco dias pós-transfecção na cultura
transfectada com o vírus recombinante; apesar da condição controle, monocamada infectada
pelo vírus FA17D/G1.2-T3, ter apresentado um forte CPE neste tempo. Novamente, foi
realizada a tripsinização da monocamada de células Vero transfectadas com o vírus
recombinante e o CPE foi então detectado quatro dias após este procedimento. Após a
86
confirmação da inserção por meio de RT-PCR (Figura 5.20, canal 4) e seqüenciamento
nucleotídico da região correspondente à inserção heteróloga desta nova transfecção, não foi
observada nenhuma mutação, mantendo-se íntegra toda a região do inserto. Sendo assim,
foram obtidos dois vírus FA recombinantes para o cassete DIII den-2, denominados de FA
17D/DIII den-2 IGA (com mutação) e FA 17D/DIII den-2 VGA (sem mutação).
(A)
(B)
Figura 5.19 - Cromatogramas dos vírus recombinantes FA 17D/DIII den-2 VGA – sem
mutação (A) e FA 17D/DIII den-2 IGA – mutado (B). As setas indicam a posição 535 do cassete
de expressão onde houve mutação no códon GTT (A) para ATT (B), resultando na substituição do
aminoácido valina (A) por isoleucina (B).
87
5.5 Produção e Titulação de Estoques Virais
Foram preparados os estoques dos dois vírus recombinantes, a partir dos sobrenadantes de
transfecção (1P), a fim de se ter amostras homogêneas e em quantidade suficiente para todo o
processo de caracterização dos vírus FA recombinantes e também foram preparados estoques
dos vírus controles FA 17DD e do FA 17D G1.2/T3. Os títulos dos estoques virais
encontram-se listados na tabela 5.3.
Tabela 5. 3 - Títulos dos vírus FA 17D controles e recombinantes
Vírus
Título
(pfu/mL)
Título
(log10 pfu/mL)
FA17DD 3,21 x 10
7
7,51
FA 17D G1.2/T3 4,49 x 10
7
7,65
FA17D DIII den-2 IGA 1,90 x 10
6
6,28
FA17D DIII den-2 VGA 6,00 x 10
5
5,78
Para a confirmação da presença e integridade do cassete de expressão, amostras de
RNA dos estoques virais dos vírus recombinantes, FA 17D/DIII den-2 IGA e FA 17D/DIII
den-2 VGA, foram submetidas a RT-PCR (Figura 5.20, canais 3 e 5).
O vírus FA 17D/DIII den-2 IGA em sua primeira passagem celular (1P) mostrou um
perfil de amplificação homogêneo, exibindo uma banda de peso molecular compatível com o
esperado de 1.534 pb, equivalente à presença do cassete de expressão (Figura 5.20, canal 2).
Na passagem referente ao estoque viral, 2P, além do fragmento em torno de 1.500 pb,
também foi detectado um fragmento secundário de aproximadamente 1.200 pb, o qual poderia
estar indicando deleções parciais no cassete (Figura 5.20, canal 3). Porém, de acordo com
seqüenciamento nucleotídico, o cassete de expressão era inteiramente detectado, assim como
a mutação no códon GTT (V) J ATT (I), já detectada na 1P, evidenciando a mistura destes
códons nesta região genômica na população viral.
O vírus FA 17D/DIII den-2 VGA, também mostrou a banda de peso molecular
compatível com o esperado de cerca de 1.543 pb, para a presença do cassete de expressão, na
1P. Na 2P, esta banda, que confirma o cassete DIII den-2 clonado, foi visualizada, além de
uma segunda, mais fraca, de aproximadamente 1 kb (Figura 5.20, canal 5), tamanho
compatível com a banda visualizada no controle FA 17D/G1.2-T3, mostrando indícios de
perda do cassete de expressão. Após seqüenciamento nucleotídico, foi possível detectar o
cassete de expressão completo, sem nenhuma mutação pontual.
88
2,0
1,2
0,8
0,4
0,2
PM (kb)
M1
32
45
Figura 5.20 - RT-PCR dos sobrenadantes de transfecção e infecção dos vírus recombinantes FA
17D/DIII den-2 IGA (mutado) e FA 17D/DIII den-2 VGA (sem mutação): No canal 1, estoque
viral – 2P – do vírus parental FA 17D/G1.2-T3. No canal 2, o sobrenadante de transfecção – 1P – do
vírus recombinante FA 17D/DIII den-2 IGA. No canal 3, estoque viral – 2P – do vírus recombinante
FA 17D/DIII den-2 IGA. No canal 4, o sobrenadante de transfecção – 1P – do vírus recombinante FA
17D/DIII den-2 VGA. No canal 5, estoque viral – 2P – do vírus recombinante FA 17D/DIII den-2
VGA. No canal M são indicados os pesos moleculares do padrão “Low DNA Mass”.
5.6 Análise da Replicação Viral em Células Vero
A caracterização por meio da cinética de propagação teve como objetivo avaliar a
capacidade proliferativa dos vírus FA recombinantes em relação aos vírus FA controles. Após
a infecção de monocamadas de células Vero com m.o.i. de 0,02 em três experimentos
independentes, a replicação viral foi acompanhada até 144 h. A figura 5.21 mostra o gráfico
das curvas cinéticas resultantes desses três ensaios independentes para os vírus FA 17DD
(controle) e FA17D/ G1.2-T3 (parental), FA 17D/DIII den-2 VGA e FA 17D/DIII den-2 IGA
(recombinantes) em células Vero. A tabela 5.4 mostra os valores da média e desvio padrão
para cada ponto da cinética de replicação viral referentes a cada uma das construções virais.
89
3,50
4,00
4,50
5,00
5,50
6,00
6,50
7,00
7,50
8,00
8,50
24h 48h 72h 96h 120h 144h
Tempo (horas pós-infecção)
Título log10 pfu/mL
FA 17DD FA 17D/G1.2-T3 FA 17D/DIII den-2 IGA FA 17D/DIII den-2 VGA
Figura 5.21 - Cinética de replicação dos vírus recombinantes FA 17D/DIII den-2 VGA e FA
17D/DIII den-2 IGA, e dos vírus controle FA 17DD e FA 17D/G1.2-T3 em monocamadas de
células Vero. Cada ponto do gráfico representa a média dos títulos obtidos a partir de experimentos
em triplicata, com os respectivos desvios padrões.
Tabela 5.4 - Cinética de Replicação Viral em Cultura de Células Vero. Os valores apresentados
referem-se à média e desvio padrão, em log
10
pfu/mL. As células destacadas em negrito indicam os
picos de produção viral.
24 h 48 h 72 h 96 h 120 h 144 h
FA 17DD
4,00
± 0,18
6,44
± 0,21
7,47
± 0,41
7,50
± 0,35
7,13
± 0,20
6,94
± 0,17
FA 17D/G1.2-T3
5,01
± 0,52
7,23
± 0,19
7,34
± 0,15
7,23
± 0,08
6,73
± 0,24
6,43
± 0,65
FA 17D/DIII den-
2 IGA
4,21
± 0,26
5,96
± 0,25
5,90
± 0,36
5,65
± 0,28
5,38
± 0,35
5,72
± 0,12
FA 17D/DIII den-
2 VGA
4,16
± 0,13
5,94
± 0,05
6,15
± 0,20
6,05
± 0,06
6,30
± 0,40
6,71
± 0,40
Pode-se observar um padrão diferenciado de replicação tanto entre os vírus controle e
parental, como entre os recombinantes. Os perfis obtidos entre os vírus controles são mais
semelhantes entre si do que os dos vírus recombinantes, que são bem próximos. No entanto,
para todos os quatro vírus foi observado um rápido aumento nos títulos virais nas primeiras
24 h pós-infecção (p.i.). O vírus vacinal FA 17DD apresentou pico de replicação viral em 72 h
p.i., apresentando valores de título médio e desvio padrão de 7,47 ± 0,41 log
10
pfu/mL (Tabela
5.4), que se manteve até 144 h p.i., porém, entre os intervalos de 96 h e 144 h p.i., foi
encontrada diferença significativa entre as médias (P < 0,05), indicando uma diminuição do
título viral nos últimos intervalos do experimento.
90
O vírus parental controle FA 17D/G1.2-T3 exibiu pico de replicação em 48 h p.i.,
registrando como média e desvio padrão os valores de 7,23 ± 0,19 log
10
pfu/mL (Tabela 5.4);
após este intervalo de tempo, até 144 h p.i., não foi detectada diferença significativa entre os
títulos virais (P > 0,05).
Já o recombinante FA 17D/DIII den-2 IGA mostrou pico de replicação em 48 h p.i. e
valores de título médio e desvio padrão de 5,96 ± 0,25 log
10
pfu/mL (Tabela 5.4). A partir de
72 h p.i., os valores de título atingem um platô, não havendo diferença significativa entre eles
(P > 0,05).
O vírus FA 17D/DIII den-2 VGA foi o mais divergente entre os vírus em questão. Num
primeiro momento, este vírus mostrou pico de replicação em 48 h p.i., com valores de título
médio e desvio padrão de 5,94 ± 0,05 log
10
pfu/mL (Tabela 5.4), apresentando um padrão
bastante próximo ao do vírus recombinante FA 17D/DIII den-2 IGA. Entretanto, entre 48 h e
96 h p.i foi detectada uma queda nos títulos virais e novo incremento replicativo em 144 h p.i.
(P > 0,05), atingindo valores de título médio e desvio padrão de 6,71 ± 0,40 log
10
pfu/mL.
Foi realizada outra análise a fim de identificar possíveis diferenças significativas entre
os vírus controles e recombinantes em cada intervalo de tempo. Foram observadas diferenças
significativas entre a capacidade replicativa do vírus parental FA 17D/G1.2-T3, mais
acentuado em relação ao vírus vacinal FA 17DD, em 24 h e 48 h p.i. (P < 0,05 e P < 0,001,
respectivamente). Não foram vistas outras diferenças ao longo da cinética, indicando que
ambos os controles se assemelham em seus padrões replicativos passadas 48 h da infecção.
Entre o vírus vacinal e os dois recombinantes, foram identificadas diferenças em 72 h
e 96 h p.i. (P < 0,01 e P < 0,001, respectivamente), indicando uma menor taxa replicativa dos
recombinantes quando comparados ao vírus vacinal. Decorridas 120 h da infecção, foi
detectada diferença entre as replicações de FA 17DD e o recombinante FA 17D/DIII den-2
IGA (P < 0,01), não sendo observada esta mesma diferença em relação ao recombinante FA
17D/DIII den-2 VGA, uma vez que este apresenta títulos virais maiores a partir de 96 h p.i.,
aproximando-se da curva exibida pelo controle vacinal.
Comparando-se o vírus parental FA 17D/G1.2-T3 com os recombinantes, foram
observadas diferenças em 48 h p.i. que se perpetuaram até 96 h p.i. (P < 0,01), indicando
novamente uma menor taxa replicativa dos recombinantes quando comparados ao controle
parental. Em 120 h p.i., a diferença detectada foi somente entre o parental e o recombinante
FA 17D/DIII den-2 IGA (P < 0,01), novamente não sendo identificada no outro vírus
recombinante devido ao seu diferenciado padrão replicativo. Também no ponto de 120 h p.i.,
foi encontrada diferença significativa na taxa replicativa de ambos os recombinantes (P <
91
0,05) e, dentro do intervalo de tempo de 144 h p.i., nenhuma diferença estatística significativa
foi observada para qualquer vírus.
Uma vez que o vírus controle FA 17D apresentou pico de expressão em 72 h p.i.; os
vírus FA 17D/G1.2-T3 e FA 17D/DIII den-2 IGA exibiram seus picos em 48 h p.i., sem que
fossem observadas diferenças significativas para os demais intervalos de tempo e, o FA
17D/DIII den-2 VGA, de perfil mais diferenciado entre os demais, exibindo dois diferentes
aumentos nos títulos virais, sendo que o primeiro registrado foi em 48 h p.i., foi determinado
que o tempo necessário para que todos estes vírus atingissem seu máximo de replicação viral
era de 72 h p.i., uma vez que neste intervalo todos os vírus encontravam-se num platô. Este
intervalo de tempo foi seguido para todas as demais etapas de caracterização dos vírus
recombinantes.
A fim de tentar explicar se as diferenças no padrão replicativo exibido pelos vírus em
questão se refletiam na velocidade de indução e intensidade de CPE observada, foi realizada
microscopia de contraste de fase na tentativa de comparar o efeito citopático entre os vírus
controle, parental e recombinantes. O vírus parental FA 17D/G1.2-T3, quando comparado ao
vacinal FA 17DD, exibe maior nível de CPE em todos os tempos analisados (Figura 5.22),
assim como a visualização dos focos iniciais de CPE parecem ser mais precoces, em 72 h
quando comparado ao vírus vacinal FA 17DD, em 96 h p.i.. A evolução de CPE para os vírus
recombinantes foi semelhante à observada para o vírus parental FA 17D/G1.2-T3 (Figura
5.22).
92
144h p.i.
24h p.i.
48h p.i.
72h p.i. 96h p.i. 120h p.i.
Mock
FA 17DD
FA17D/
G1.2-T3
FA17D/
DIII den-2
VGA
FA17D/
DIII den-2
IGA
Figura 5.22 - Fotomicrografias da cinética de replicação viral. Monocamadas de células Vero foram infectadas com os vírus controle (FA 17DD), parental
(FA 17D/G1.2-T3) e com os vírus recombinantes FA 17D/DIII den-2 VGA e FA 17D/DIII den-2 IGA, com m.o.i 0,02. As fotos foram feitas em intervalos de
24, 48, 72, 96, 120 e 144 horas pós-infecção.
93
5.7 Estabilidade Genética dos Vírus FA 17D Recombinantes
A estabilidade do genoma dos vírus FA recombinantes FA17D/DIII den-2 IGA e
FA17D/DIII den-2 VGA foi aferida por meio de 10 passagens seriadas realizadas em
duplicata (passagem 1 – P1 e passagem 2 – P2), em células Vero. A cada passagem, o
sobrenadante das culturas foi recolhido por volta de 72 h p.i. e submetido à titulação para que
fosse realizado o controle da m.o.i. da passagem seguinte. Os valores de m.o.i eram
controlados de modo a ficarem ao redor de 0,02 e não ultrapassarem o valor de 0,1. Como
estes valores eram obtidos dez dias após a infecção da passagem correspondente, caso fosse
observada m.o.i. acima de 0,1 a passagem era refeita com a m.o.i. corrigida (Tabelas 5.5 e
5.6). A análise da estabilidade getica, para averiguação da presença e integridade do cassete
de expressão, foi realizada com as preparações de RNA viral das passagens 2P, 5P1, 5P2,
10P1 e 10P2 submetidas a RT-PCR (Figura 5.23) e seqüenciamento nucleotídico da região
que flanqueia a inserção. A seguir, os resultados estão apresentados por vírus recombinante.
Tabela 5.5 - Estabilidade Genética do vírus recombinante FA17D/DIII den-2 VGA. Número da
passagem viral em monocamada celular, título viral e m.o.i.
Passagem
Título
(pfu/mL)
Título
(log
10
pfu/mL)
m.o.i
(pfu/mL)
2P 6,00 x 10
5
5,78 0,02
3P1 7,90 x 10
5
5,9 0,02
3P2 8,60 x 10
5
5,93 0,02
4P1 4,72 x 10
6
6,67 0,02
4P2 4,10 x 10
6
6,61 0,02
5P1 4,72 x 10
6
6,67 0,1
5P2 5,32 x 10
6
6,73 0,1
6P1 1,36 x 10
7
7,13 0,1
6P2 1,16 x 10
7
7,06 0,1
7P1 1,60 x 10
7
7,2 0,05
7P2 2,32 x 10
7
7,37 0,04
8P1 1,06 x 10
7
7,03 0,06
8P2 1,60 x 10
7
7,2 0,08
9P1 2,10 x 10
7
7,32 0,09
9P2 1,85 x 10
7
7,27 0,05
10P1 1,26 x 10
7
7,1 0,08
10P2 9,62 x 10
6
6,98 0,06
94
Tabela 5.6 - Estabilidade Genética do vírus recombinante FA17D/DIII den-2 IGA. mero da
passagem viral em monocamada celular, título viral e m.o.i.
Passagem
Título
(pfu/mL)
Título
(log
10
pfu/mL)
m.o.i
(pfu/mL)
2P 1,90 x 10
6
6,28 0,02
3P1 3,82 x 10
5
5,58 0,02
3P2 5,20 x 10
5
5,72 0,02
4P1 3,72 x 10
6
6,57 0,04
4P2 2,85 x 10
6
6,45 0,05
5P1 5,82 x 10
6
6,76 0,03
5P2 7,12 x 10
6
6,85 0,02
6P1 8,25 x 10
6
6,92 0,06
6P2 3,50 x 10
6
6,54 0,07
7P1 6,30 x 10
6
6,8 0,08
7P2 6,65 x 10
6
6,82 0,03
8P1 6,90 x 10
6
6,84 0,06
8P2 7,62 x 10
6
6,88 0,06
9P1 6,95 x 10
6
6,84 0,07
9P2 6,87 x 10
6
6,84 0,08
10P1 2,95 x 10
6
6,47 0,07
10P2 4,30 x 10
6
6,63 0,07
5.7.1 Vírus FA 17D/DIII den-2 IGA
O vírus recombinante FA 17D/DIII den-2 IGA, já na passagem 2P, exibiu uma banda
secundária após visualização dos produtos de RT-PCR, de aproximadamente 1.200 pb,
sinalizando para algum tipo de deleção no cassete de expressão. O fragmento de 1.534 pb,
referente à manutenção da inserção, era claramente visualizado como a banda de maior
intensidade (Figura 5.23 - A, canal 3). Nas passagens 5P1 e 5P2, estes dois fragmentos ainda
foram detectados, e aquele que indicava algum tipo de deleção no cassete de expressão era o
majoritário dentre os dois (Figura 5.23 - A, canais 4 e 5, respectivamente). Após
seqüenciamento nucleotídico da região que flanqueava o inserto, foi detectada deleção de 303
pb no cassete de expressão, regiões tais que correspondem à: parte do DIII den-2 (a partir do
31º aminoácido até o 103, posição 127 a 345), toda região H2 (posição 346 a 402) e parte de
TM1 (seus 9 primeiros aminoácidos posição 403 a 429).
95
Além disto, a mutação na posição 534 do cassete de expressão observada na 2P, não
mais foi detectada, havendo reversão para o códon GTT (Valina), tanto em 5P1, como em 5P2
(Tabela 5.7). Na passagem 10P1, foi detectada somente a banda de aproximadamente 1.200
pb, referente à deleção mencionada acima (Figura 4.23, canal 6) e, após análise dos
cromatogramas, este fato foi confirmado (Tabela 5.7). A passagem 10P2 se mostrou
heterogênea e, dos dois fragmentos visualizados, nenhum deles apresentou tamanho esperado
para a detecção do cassete de expressão. Foi observada a banda de aproximadamente 1.200 pb
e uma outra, de 1 kb, cujo perfil é compatível com a perda total da inserção heteróloga (Figura
5.23 - A canal 7 e 1, respectivamente). Esta passagem, ao ser submetida a seqüenciamento
nucleotídico, mostrou ser uma população viral mista, a qual exibe muitas sobreposições de
picos, principalmente na região correspondente ao cassete de expressão.
5.7.2 Vírus FA 17D/DIII den-2 VGA
O vírus FA 17D/DIII den-2 VGA, na passagem 2P mostrava populações mistas, uma
vez que eram detectadas dois fragmentos, o primeiro de 1.534 pb, compatível com a presença
do cassete de expressão e, o segundo, de aproximadamente 1 kb, menos expressivo, cujo
tamanho era compatível com a perda total do cassete de expressão (Figura 5.23 - B canal 3).
Com o seqüenciamento nucleotídico, foi possível detectar o cassete de expressão íntegro. Na
passagem 5P1, este mesmo padrão de fragmentos visualizado na 2P foi mantido, o que foi
confirmado por seqüenciamento nucleotídico por exibir padrão misto de perfis nos picos dos
cromatogramas,confirmando a mistura de populações mostrada pelo RT-PCR (Figura 5.23 -
B, canal 4). A passagem 5P2 também exibiu este perfil, porém, com maior intensidade do
fragmento de 1 kb, que sinalizava para a perda do cassete de expressão (Figura 5.23 - B, canal
5). Após seqüenciamento nucleotídico, somente foram detectadas seqüências que apontavam
para a perda total do cassete de expressão, fato que pode estar relacionado a esta população
ser mais expressiva quando comparada à pequena parcela que ainda possui o inserto clonado.
Nas passagens 10P1 e 10P2, o padrão observado no RT-PCR (Figura 5.23 – B, canais 6 e 7) é
confirmado por seqüenciamento nucleotídico: a banda majoritária de 1 kb, tamanho
compatível com aquela observada no controle sem inserto, tem sua seqüência definida por
cromatogramas de picos claros, mostrando ser esta uma população homogênea que perdeu a
inserção referente ao DIII den-2. A tabela 5.8 lista os eventos ocorridos durante o estudo da
estabilidade genética do vírus FA 17D/DIII den-2 VGA.
96
(A) (B)
2,0
1,2
0,8
0,4
0,2
PM (kb)
M1
3
2
475
6
2,0
1,2
0,8
0,4
0,2
PM (kb)
M1
3
2
475
6
Figura 5.23 - Estabilidade genética dos vírus FA 17D recombinantes. Produtos de RT-PCR do
RNA viral extraído de diferentes passagens seriadas dos vírus FA 17D/DIII den-2 IGA (A) e FA
17D/DIII den-2 VGA (B). Análise eletroforética em gel de agarose 0,8%. (A): o canal (1) refere-se à
amostra derivada do sobrenadante de transfecção – 1P – do vírus parental FA 17D/G1.2-T3; e o
restante, amostras dos vírus FA 17D/DIII den-2 IGA correspondente a: (2) sobrenadante de
transfecção ou 1P; (3) passagem 2P; (4) passagem 5P1; (5) passagem 5P2; (6) passagem 10P1; (7)
passagem 10P2. (B): os canais se referem às amostras de produtos de RT-PCR: (1) sobrenadante de
transfecção – 1P – do vírus parental FA 17D/G1.2-T3; (2) sobrenadante de transfecção – 1P – do vírus
recombinante FA 17D/DIII den-2 VGA; (3) passagem 2P do vírus FA 17D/DIII den-2 VGA; (4)
passagem 5P1 do vírus FA 17D/DIII den-2 VGA; (5) passagem 5P2 do vírus FA 17D/DIII den-2
VGA; (6) passagem 10P1 do vírus FA 17D/DIII den-2 VGA. No canal 7, 10P2 FA 17D/DIII den-2
VGA. Nos canais M são indicados os pesos moleculares do padrão “Low DNA Mass”.
Tabela 5.7 – Mutações observadas no vírus recombinantes FA 17D/DIII den-2 IGA. São
indicadas as passagens em monocamadas celulares 1P, 2P, 5P1, 5P2, 10P1 e 10P2 além da mutação
detectada.
Passagem/Vírus Mutação detectada
1P/ FA 17D/DIII den-2 IGA
526 GTT (V) JATT (I)
2P/ FA 17D/DIII den-2 IGA
526 GTT (V) JATT (I)
5P1/ FA 17D/DIII den-2 IGA
526 ATT (I) J GTT (V)
posição 118 a 421
73 aa C-terminal DIII + 19 aa H2 + 9 aa do
N-terminal de TM1
5P2/ FA 17D/DIII den-2 IGA
526 ATT (I) J GTT (V)
posição 118 a 421
73 aa C-terminal DIII + 19 aa H2 + 9 aa do
N-terminal de TM1
10P1/ FA 17D/DIII den-2 IGA
526 ATT (I) J GTT (V)
posição 118 a 421
73 aa C-terminal DIII + 19 aa H2 + 9 aa do
N-terminal de TM1
10P2/ FA 17D/DIII den-2 IGA
526 ATT (I) J GTT (V)
posição 118 a 421
73 aa C-terminal DIII + 19 aa H2 + 9 aa do
N-terminal de TM1
FA 17D/DIII den-2 IGA
FA 17D/DIII den-2 VGA
97
Tabela 5.8 – Mutações observadas no vírus recombinantes FA 17D/DIII den-2 VGA. São
indicadas as passagens em monocamadas celulares 1P, 2P, 5P1, 5P2, 10P1 e 10P2 além da mutação
detectada.
Passagem/Vírus Mutação detectada
1P/ FA 17D/DIII den-2 VGA
______
2P/ FA 17D/DIII den-2 VGA
______
5P1/ FA 17D/DIII den-2 VGA
cassete de expressão DIII den-2/ 543 pb
População viral mista recombinante e não
recombinante
5P2/ FA 17D/DIII den-2 VGA cassete de expressão DIII den-2/ 543 pb
10P1/ FA 17D/DIII den-2 VGA cassete de expressão DIII den-2/ 543pb
10P2/ FA 17D/DIII den-2 VGA cassete de expressão DIII den-2/ 543 pb
5.8 Análise da Expressão do Cassete DIII den-2 pelos Vírus Recombinantes FA 17D
por Microscopia Confocal de Fluorescência
A detecção da expressão do DIII de den-2 foi possível por meio de infecção de células
Vero com os vírus controles FA 17DD e den-2 44/2 e os recombinantes FA 17D/DIII den-2
IGA e FA 17D/DIII den-2 VGA numa m.o.i de 0,02. A marcação com anticorpo anti-E FA foi
específica às preparações infectadas com vírus controle FA 17DD e não sendo detectada com
o vírus den-2 44/2 (Figura 5.24 - A e C). Do mesmo modo, a marcação com o anticorpo anti-
DIII den-2 foi específica para den-2 44/2 e não para FA 17DD, indicando assim a
especificidade de cada um dos anticorpos empregados (Figura 5.24 - B e D). Em ambos os
vírus recombinantes foi possível detectar a expressão do DIII den-2 por meio de marcação
desta região pelo anti-DIII den-2 (Figura 5.24 - F e H ). A detecção da proteína E de FA com
o anti-E de FA pode ser visualizada também nestas células infectadas com os vírus FA
recombinantes (Figura 5.24 - E e G). Esses resultados apontam para a dupla expressão de
antígenos da proteína E de FA e do DIII den-2 nos vírus recombinantes FA 17D/DIII den-2
IGA e FA 17D/DIII den-2 VGA.
98
Figura 5. 24 - Detecção da expressão do DIII de den-2. Monocamadas de células Vero foram infectadas com os vírus recombinantes FA 17D/DIII den-2 IGA e
FA 17D/DIII den-2 VGA, fixadas e marcadas contra os antígenos de FA com o anticorpo monoclonal 17D 2D12 anti-E FA (Monath e Nystrom, 1984) e den-2 com
o anticorpo monoclonal 3H5 (Gentry et al., 1982; Hiramatsu et al., 1996).
99
6. DISCUSSÃO
Esta dissertação propõe uma aplicação da nova metodologia que explora as boas
propriedades vacinais do vírus vacinal da Febre Amarela (FA) 17D, baseada na estratégia
empregada por Bonaldo et al. (2007), que utiliza este vírus como vetor de expressão de
antígenos heterólogos. De acordo com os resultados obtidos por estes autores, foi escolhida
uma região sabidamente imunogênica, o domínio III (DIII) da proteína de envelope (E) do
vírus dengue 2 (den-2), que participa da maioria dos eventos biológicos relevantes
relacionados à patologia do vírus (Chen et al., 1996), para ser clonado e expressado na região
intergênica E/NS1 do vírus da FA 17D. Foi descrito previamente que a expressão da proteína
fluorescente EGFP (“Enhanced Green Fluorescent Protein”), nesta região, provoca a sua
retenção e acúmulo no retículo endoplasmático (RE) celular (Bonaldo et al., 2007). Ainda, a
imunização de camundongos com o vírus FA expressando EGFP induz a formação de
anticorpos específicos dirigidos a esta proteína heteróloga (Bonaldo et al., 2007). Desse
modo, a expressão do DIII den-2 pelo vírus FA 17D na região intergênica E/NS1, poderia ser
utilizada como um modelo vacinal para a avaliação da produção de anticorpos neutralizantes
específicos anti-DIII.
Seguindo este método, para a construção do cassete de expressão do DIII den-2, a este
gene, foi fusionada a seqüência codificadora da porção haste âncora (HA) da proteína E do
vírus den-4 e os nove primeiros aminoácidos que compõe a proteína NS1. Este racional de
duplicação de seqüências flanqueadoras do DIII den-2 teve como objetivo manter preservados
os motivos para corretos endereçamento e processamento da poliproteína viral que ocorrem
em associação com o RE (Chambers et al., 1990; Allison et al., 1999). Dessa forma, o virion
recombinante é uma partícula do vírus FA 17D, que ao infectar uma célula, expressa em seu
interior, muito provavelmente no RE, o DIII de den-2. A expressão do DIII den-2, ou de
qualquer outro antígeno dos sorotipos de dengue, poderia se constituir em mais uma estratégia
para a busca de vacinas contra esta doença.
Nesta dissertação, é descrita a construção e a caracterização de um vetor com potencial
utilização para o desenvolvimento de vacina atenuada e combinada contra dengue e FA. Uma
formulação tetravalente, com quatro construções do vírus FA 17D expressando o DIII de cada
sorotipo de dengue na região intergênica E/NS1, seria constituída de partículas virais com
fenótipo do vírus vacinal FA 17DD. Os quatro diferentes vírus teriam potencialmente
tropismo celular e tissular equivalentes, uma vez que seriam virions FA 17D que
expressariam, intracelularmente, os diferentes DIII do vírus da dengue. Assim, esta
100
metodologia de expressão de antígenos do vírus dengue poderia proporcionar uma replicação
homogênea de todos os vírus FA recombinantes em formulação tetravalente, e promover uma
resposta imune equilibrada a todos os sorotipos do vírus dengue, sem que houvesse risco de
uma exacerbação da resposta imune devido ao ADE.
O domínio III de Flavivírus é formado por aproximadamente 100 aminoácidos (Rey et
al., 1995). A região delimitada neste estudo como DIII den-2 abrange os resíduos 295 a 397
da proteína E de den-2. Não existe um consenso sobre os limites deste domínio nos trabalhos
científicos que estudam o DIII de den-2 ou de outros sorotipos (Chu et al., 2005; Modis et al.,
2003; Gromowski et al., 2007; Sukupolvi-Petty et al., 2007; Volk et al., 2007). Foram
considerados dois principais critérios para a escolha dos resíduos limítrofes do DIII para este
trabalho: a manutenção de resíduos de aminoácidos com caráter não hidrofóbico e resíduos
que possuíssem cadeias laterais pequenas. A escolha do primeiro critério é justificada para
não alterar a solubilidade desta porção e assim, manter a expressão do DIII den-2 na sua
forma nativa, sem que fossem perdidas características que pudessem afetar seu
reconhecimento por anticorpos neutralizantes (Bhardwaj et al., 2001, Hung et al., 2004). A
porção C-terminal do DIII que se conecta à região de haste-âncora de E foi preservada, pois
esta é rica em resíduos pequenos e bastante conservados em Flavivírus, como serina e glicina
(GSS), aminoácidos que proporcionam maior flexibilidade à cadeia polipeptídica, o que
poderia ser relevante para que houvesse uma melhor acomodação de DIII den-2 em relação
aos domínios fusionados do cassete de expressão e ainda em relação à poliproteína viral.
Para a análise da seqüência do DIII de den-2 foram realizados alinhamentos múltiplos
entre diversos genótipos de den-2. Existem cinco principais grupos de genótipos circulantes
mundialmente e um genótipo de cada grupo foi escolhido para a realização deste alinhamento:
Grupo Americano (genótipo Peru IQT2913/96), Grupo Americano/Asiático (genótipos
BR64022/98 e Jamaica 1409/83), Grupo Asiático 1 (genótipos Tailândia K008/93 e 16681),
Grupo Asiático 2 (genótipo NGC 44) e Grupo Cosmopolita (genótipo Austrália TSV01/93)
(Rico-Hesse et al.,1998; Twiddy et al., 2002; dos Santos et al., 2002 e Rodriguez-Roche et
al., 2005). Foi também escolhido o genótipo candidato a vacina S1 Vaccine por esta já ter
sido bastante estudada em nosso laboratório. A seqüência gênica mostrou um grau alto de
conservação, cerca de 84%, apontando para uma maior variabilidade nucleotídica na terceira
posição dos códons em detrimento às outras.
A proporção de resíduos de aminoácidos idênticos da proteína E entre os Flavivírus é
de cerca de 40%, identidade esta que é refletida na conservação geral da estrutura
tridimensional desta proteína (Lisova et al., 2007). O modelo do DIII den-2 obtido por
modelagem molecular por homologia, utilizado para a construção do cassete de expressão,
101
mostrou-se bastante semelhante quando comparado a este domínio da proteína E de outros
Flavivírus (Rey et al., 1995; Modis et al., 2003; Wu et al., 2003; Modis et al., 2005; Kanai et
al., 2006; Nybakken et al., 2006; Volk et al., 2007). A proteína E de dengue assemelha-se
bastante à de TBE em sua estrutura dimérica, mas a principal diferença entre elas é um bolso
hidrofóbico localizado entre os domínios I e II da proteína E de dengue. Este bolso permite
uma maior flexibilidade entre esses domínios, facilitando mudanças conformacionais durante
os processos de maturação e fusão de membranas. A acessibilidade desta bolsa a ligantes
poderia ser uma alternativa para a inibição desses dois processos (Modis et al., 2003).
Apesar da semelhança tridimensional verificada entre os modelos de DIII de
Flavivírus, cada um deles possui cargas eletrostáticas de superfície únicas, as quais
contribuem para as diferentes afinidades de ligação apresentadas a uma série de receptores e
anticorpos (Volk et al., 2007). O modelo DIII den-2 mostrou-se condizente com o proposto
por Volk et al. (2007) quanto à disposição das cargas eletrostáticas de superfície.
A proteína E dos Flavivírus possui seis pontes dissulfeto altamente conservadas que
são importantes para a manutenção da correta estrutura terciária desta proteína (Winkler et al.,
1987). Uma destas pontes localiza-se no DIII e está representada no modelo DIII den-2 pelos
resíduos Cys 302 da alça Io 1 (conexão dos domínios I e III) e Cys 333 (fita 3). Devido aos
sinais de entrada ao RE e processamento pela peptidase sinal, a proteína heteróloga seria
translocada para esta organela, local onde ocorrem modificações pós-traducionais como a
formação de tais pontes. Assim, uma das conseqüências da localização de DIII no RE seria a
formação destas ligações entre os resíduos Cys 302 e Cys 333, reforçando a conformação
terciária mais favorável de DIII.
A maioria das substituições por troca de aminoácidos observadas no alinhamento entre
os genótipos de den-2 e a seqüência escolhida para compor o cassete de expressão deste
trabalho, ocorrem em alças fora de estruturas secundárias rígidas (fitas), que são importantes
para a formação da estrutura terciária de DIII. As regiões de alças são porções naturalmente
mais variáveis quando comparadas às fitas, pois constituem pontos de maior mobilidade do
modelo.
Algumas substituições encontram-se dispersas ao longo da estrutura de DIII. Este é o
caso da que ocorre entre resíduos alifáticos na posição E308 (VI) da fita exposta 1 e das
substituições não conservadas na posição E352 (IT) na alça 3 e 4, exposta na superfície
viral, e da E390 (DNS) na superfície lateral externa do dímero. No entanto, algumas
substituições se encontram agrupadas em regiões de DIII, como nas posições E346 (HY) e
E347 (VA) localizadas na alça 4 e 5 voltada para o domínio I e não exposta na superfície
viral; e nas E335 (IVT) e E382 (VA), localizadas na fita 5 não exposta e na alça
102
exposta 8 e 9, respectivamente. Os resíduos não expostos na superfície viral parecem não
ser relevantes em termos de interação com anticorpos. Nenhuma dessas substituições
verificadas entre os genótipos den-2 localiza-se nas alças mais acessíveis à superfície viral,
sendo possível uma associação entre a conservação dessas regiões às funções relevantes da
patogênese viral, como, por exemplo, à ligação a receptores celulares ou à manutenção da
estrutura tridimensional de DIII den-2.
Parte dos resíduos variáveis localizados na superfície de DIII, detectados pelo
alinhamento dos diferentes genótipos de den-2 analisados neste trabalho, está associada a
regiões que contêm epítopos neutralizantes. O primeiro resíduo variável E308 (VI) exposto
na superfície de DIII (fita 1) é constituinte do bolso hidrofóbico presente em den-2 e faz
parte de uma região associada à ligação de uma série de anticorpos neutralizantes específicos
ao subcomplexo dengue (Sukupolvi-Petty et al., 2007). Além disto, E308 (VI) é adjacente
ao resíduo E307 (K) que já teve sua função associada à ligação a receptores celulares do tipo
heparan-sulfato (HS). Outras lisinas também foram identificadas como participantes da
ligação à HS: E295, E305, E307, E310, E393 e E394, conservadas em todos os sorotipos de
dengue (Hung et al., 2004; Gromowski e Barret, 2007; Lisova et al., 2007). Entretanto, nem
todos esses resíduos encontram-se expostos na superfície viral (Modis et al., 2004),
contribuindo diretamente na ligação a HS, mas eles poderiam contribuir para um maior aporte
de cargas positivas que se ligariam a esse receptor, altamente negativo.
O resíduo variável E335 (IVT) encontra-se exposto na superfície viral (alça 3 e
4) e está adjacente a um grupo de resíduos relacionados com o escape de neutralização por
anticorpos sorotipo específicos (Roehrig et al., 1998; Kanai et al., 2006; Sukupolvi-Petty et
al., 2007).
O resíduo E382 (VA), exposto na superfície viral (alça 8 e 9), é adjacente aos
resíduos E383 (E), E384 (P) e E385(G), sítios de ligação ao anticorpo monoclonal 3H5
(Hiramatsu et al., 1996). Outros MAbs sorotipo-específicos também reconheceram a
seqüência E383 (E) e E384 (P), confirmando a importância deste epítopo para a neutralização
de Flavivírus (Sukupolvi-Petty et al. 2007; Gromowski e Barret, 2007). Além desses resíduos
indicados como sítio de ligação ao MAb 3H5, também foi identificado o E304 (G)
(Sukupolvi-Petty et al., 2007). Todos esses, E304 (G), E383 (E), E384 (P) e E385(G) são
conservados entre os genótipos de den-2, inclusive no escolhido para construção do cassete de
expressão desta dissertação, mas bastante variáveis entre os outros sorotipos (Sukupolvi-Petty
et al., 2007). Em posições correspondentes, o motivo RGD está localizado nos vírus FA,
MVE e WNV (Hiramatsu et al., 1996).
103
Os resíduos descontínuos conservados E304 (G), E383 (E), E384 (P) e E385(G) de
den-2 se sobrepõem a uma região análoga de WNV, onde foi identificado o sítio de ligação
para o MAb E16: E306 (S), E307 (K), E330 (T) e E332 (T) (Nybakken et al., 2005;
Sukupolvi-Petty et al., 2007). Assim como em den-2, esses resíduos são inteiramente
conservados em todas as seqüências disponíveis de WNV e bastantes variáveis entre os
Flavivírus, principalmente entre os sorotipos de dengue (Nybakken et al., 2005). Foram
identificados anticorpos neutralizantes flavivírus-específicos que se localizam em regiões
análogas a estas e, por isso, propõe-se que este epítopo tenha papel dominante na
neutralização de Flavivírus (Lin e Wu, 2003, Wu et al. 2003, Volk et al., 2004).
Hung et al. (2004) identificaram uma alça lateral responsável pela ligação do vírus
dengue a células de inseto C6/36, formada pelos resíduos 380 a 389 de DIII, localizada
lateralmente na supefície externa deste domínio, ao longo da alça que conecta 8 a 9 e na fita
9. Dessa forma, substituições no resíduo E382 poderiam levar a alterações na afinidade desta
ligação.
O resíduo E390 (DNS), localizado na superfície lateral do dímero, na fita exposta
9, mostra-se não conservado entre os sorotipos de dengue, e tem seu análogo na posição
E388 de den-3, identificado como sítio mutante de escape de neutralização por anticorpos
(Modis et al., 2005). Essa variação na posição E390 já foi associada a algumas características
biológicas virais (Lobigs et al., 1990; Sánchez e Ruiz 1996; Leitmeyer et al., 1999 e Pryor et
al., 2001). Nos genótipos americanos, caracterizados por serem menos virulentos, é comum
encontrar o resíduo Ácido aspártico nesta posição, enquanto que nos genótipos asiáticos,
associados a maiores números de casos de DHF/DSS, o resíduo Asparagina é mais
freqüentemente observado (Leitmeyer et al., 1999). Além deste evento, a substituição na
posição E390 foi relacionada com uma menor taxa replicativa para os genótipos americanos,
fato consistente com a proposta de que a falta de associação deste genótipo com doença grave
está relacionada com sua menor habilidade replicativa e Asp390 pode ser determinante para
este fato (Pryor et al., 2001). Também foi demonstrado que este resíduo tem influência na
replicação do vírus em cultura de células dendríticas (Cologna e Rico-Hesse, 2003). A
substituição E390 NH em den-2 foi relacionada com maior neurovirulência em
camundongos (Sánchez e Ruiz, 1996), enquanto que E390 GR em MVE está relacionada
com um fenótipo menos neuroinvasivo (Lobigs et al., 1990). Cabe ressaltar que essa posição
faz parte do motivo RGD (Arg-Gly-Asp) de ligação a receptores celulares do tipo integrina
(Pierschbacher e Ruoslahti, 1987).
A seqüência empregada na construção do cassete foi obtida do clone infeccioso FA
17D/Den 2 P/S (Caufour et al., 2001) e este plasmídeo foi construído a partir do genótipo
104
NGC neuroadaptado por meio de passagens seriadas em cultura de cérebro de camundongo.
Originalmente, esse genótipo é membro do grupo de genótipo Asiático 2 (Rodriguez-Roche et
al., 2005), sugerindo a presença de asparagina em E390. Porém, o resíduo encontrado foi um
ácido aspártico, fato que pode estar relacionado com sucessivas passagens seriadas que trazem
como conseqüência a atenuação viral.
O resíduo E390 ainda encontra-se no meio de um dos dois sítios putativos de ligação a
glicosaminoglicanas: E386 a E411 que é formado por múltiplas regiões enriquecidas em
aminoácidos básicos, podendo ainda interferir na ligação do vírus à célula hospedeira (Chen
et al., 1997).
Foi demonstrado que o anticorpo monoclonal (MAb) 4E11, que neutraliza todos os
sorotipos de dengue, mas não outros Flavivírus, interage com resíduos 389 e 391, entre outros
do DIII den-2, vizinhos ao E390 que, caso tenha suas características alteradas dada alguma
substituição nesta posição, pode impedir interações essenciais entre o vírus e componentes
celulares (Lisova et al., 2007).
Até o momento, o mapeamento de epítopos de anticorpos neutralizantes realizados no
DIII den-2 ou de outros Flavivírus indica que estes reconhecem trechos de resíduos do topo
da crista lateral deste domínio na superfície externa (alças Io 1/2 e 3/6 e 8/8 e 9)
(Nybakken et al., 2005; Modis et al., 2005; Gromowski et al., 2007; Sukupolvi-Petty et al.,
2007). Além destes, outros resíduos também são importantes para este reconhecimento e
situam-se em regiões adjacentes, em segmentos descontínuos, reponsáveis pela formação de
epítopos conformacionais em DIII (Hiramatsu et al., 1996; Modis et al., 2005; Gromowski et
al., 2007; Sukupolvi-Petty et al., 2007).
A conservação desses resíduos nestas posições superficiais do DIII entre os genótipos
de den-2 poderia ser uma vantagem no que diz respeito à resposta imune que se desenvolveria
no mesmo nível, contra esses genótipos. No entanto, foi demonstrado que houve diferenças na
neutralização por soro humano quando dois genótipos de den-3 diferiam entre si em apenas
quatro aminoácidos na região de DIII, sendo que três destes encontravam-se expostos na
superfície (Zuleta et al., 2006). Apesar de a variação entre genótipos do mesmo sorotipo ser
mínima, ela parece ter implicações importantes e afetar o reconhecimento de anticorpos
gerados pela imunização com outro genótipo do vírus dengue do mesmo sorotipo, conforme
descrito para den-3 (Zuleta et al., 2006).
A abordagem escolhida para clonagem e expressão do DIII den-2 foi alvo de depósito
de patente em outubro de 2005 (Bonaldo MC e Galler R; Depósito 20050121605 realizado em
31/10/2005) por ser uma metodologia inovadora de expressão de antígenos heterólogos na
região entre as proteínas E e NS1 do vírus FA 17D. Este local de inserção é uma região
105
natural de transição do genoma que delimita duas porções funcionais - os genes estruturais e
os não-estruturais dos Flavivírus, fato que proporciona a inserção de cassetes protéicos
maiores que 36 aminoácidos. Nesta metodologia, o cassete de expressão de DIII den-2 foi
construído de modo a expressar no seu N-terminal os noves aminoácidos do N-terminal da
proteína NS1, visto que a região DXGC é bastante conservada entre Flavivírus, além de
flanquear o motivo de clivagem da peptidase sinal entre E/NS1 (Bonaldo et al., 2007). À
porção C-terminal do cassete de expressão foi adicionada a região de HA truncada de den-4,
com seus elementos H2, TM1 e TM2. A região do elemento haste H2 tem sua função de
formar uma -hélice contínua com o elemento transmembranar TM1, que por sua vez é
responsável pelo ancoramento da proteína E na membrana do RE; já TM2, é responsável pela
estabilização da proteína heteróloga, além de conter a seqüência sinal para NS1 e o sítio de
clivagem da peptidase sinal (Allison et al., 1999, Zhang et al., 2003; Op De Beeck et al.,
2003).
Bonaldo et al. (2007) reportaram a geração de vírus viáveis que expressavam a proteína
EGFP fusionada à HA completa de FA, na região intergênica E/NS1. No entanto, apesar de
gerar vírus viável, foram identificados sinais de pareamentos inespecíficos após as análises de
estabilidade genética viral, levando à perda da inserção heteróloga. Este fato foi atribuído à
região repetitiva da HA de FA flanqueando o gene da EGFP, a qual apresenta identidade
seqüencial nucleotídica máxima com a região de HA da plataforma viral FA. Neste trabalho, a
fim de tentar aprimorar a plataforma de expressão, o cassete de inserção heteróloga contendo
o DIII den-2 apresentou uma modificação quanto à escolha da porção HA, optando-se pela
versão HA do vírus den-4. Esta substituição justifica-se pelo fato do vírus quimérico FA
17D/DEN4/Esa/6, que possuía duas HA, a de FA e a de den-4, ter se mostrado estável até a
20ª passagem seriada em monocamadas celulares, indicando que a redução da identidade
seqüencial destas regiões homólogas leva ao aumento da estabilidade do cassete de expressão,
apesar de esta quimera ter apresentado taxa de proliferação mais lenta e inferior aos controles
(Bonaldo et al., 2007).
Na construção do cassete de expressão DIII den-2, a HA den-4 foi empregada na sua
versão truncada, sem os elementos H1 e CS, pois queríamos evitar a inserção de uma
seqüência repetida de cerca de 600 nucleotídeos (DIII + HA completa), uma vez que já havia
sido comprovada a viabilidade de vírus FA recombinantes que expressavam EGFP fusionada
à versão truncada da HA de den-4 (Bonaldo MC, comunicação pessoal). Esses vírus
mostraram-se estáveis até a 15ª passagem seriada, sendo que esta construção viral apresentava
taxa de proliferação superior quando comparado à quimera FA 17D/DEN4/Esa/6 (Bonaldo
MC, comunicação pessoal). Estes fatos demonstraram que diminuindo a identidade seqüencial
106
entre essas porções foi possível aumentar a estabilidade genética dos vírus FA recombinantes
que expressavam proteínas heterólogas na região intergênica E/NS1, evitando a perda da
inserção por pareamento entre as HA complementares não alélicas durante a replicação do
vírus. A porção H1 da haste está envolvida na formação de homotrímeros da proteína E
quando submetida a tratamento de baixo pH e CS que, apesar de ter sua seqüência conservada
entre Flavivírus, ainda não teve definida nenhuma função a ele associada (Allison et al.,
1999).
A identidade nucleotídica seqüencial entre a porção HA truncada de FA e HA truncada
den-4 caiu para 57,1%. A identidade seqüencial da região do DIII de den-2 também foi
avaliada em comparação a esta mesma região de FA, mostrando 52,1% de nucleotídeos
idênticos e 47,6% de igualdade entre os aminoácidos.
Foram obtidos dois diferentes vírus FA recombinantes que continham a inserção
heteróloga correspondente ao DIII den-2 a partir desse sistema de clonagem e expressão, que
diferiam entre si na porção C-terminal do cassete de expressão, um apresentando o motivo
esperado VGA e o outro um motivo mutante IGA. Esta mutação foi observada nos vírus
recuperados após transfecção do RNA viral sintetizado in vitro e não no clone infeccioso,
indicando que esta ocorreu durante a replicação viral. No entanto, o vírus FA 17D/DIII den-2
IGA apresentava-se como uma mistura de populações virais contendo ambos os motivos
VGA e IGA. Estes motivos ficam no C-terminal do peptídeo sinal, responsável pela
translocação de NS1 ao lúmen do RE, e faz parte do sítio de clivagem da enzima peptidase
sinal celular. O motivo VXA é bastante conservado no extremo carboxi da proteína E dos
Flavivírus, fato que sugere sua crucial importância na maturação da poliproteína viral
(Chambers et al., 1990; Lobigs e Lee 2004).
O motivo de clivagem da enzima peptidase sinal, entre E/NS1, são os resíduos de
aminoácidos VXA, onde X pode ser representado por Q nos sorotipos de dengue; H em JEV,
KUN, MVE e WNV; e G em FA e TBE (Chambers et al., 1990). Devido ao fato de a mutação
encontrada ter ocorrido entre aminoácidos conservados e alifáticos (VJI), ela pode não ter
sido tão danosa ao correto processamento da poliproteína viral pela enzima signalase celular,
gerando vírus viáveis mesmo com mutação pontual em resíduo tão importante em Flavivírus.
O caráter deletéreo da mutação IGA pode ser confirmado pela fixação da população com o
motivo VGA na quinta passagem celular seriada, não sendo mais observada a mutação no
seqüenciamento de amostras provenientes desta passagem em diante.
A expressão do DIII den-2 nos dois vírus recombinantes pôde ser detectada juntamente
com os antígenos da proteína E de FA. Estes resultados confirmam que os vírus
recombinantes FA 17D/DIII den-2 IGA e FA 17D/DIII den-2 VGA foram capazes de
107
expressar a proteína heteróloga, mesmo em culturas celulares infectadas com multiplicidade
baixa de infecção (m.o.i. 0,02), evidenciando a habilidade de disseminação desses vírus para
células adjacentes. As imagens confocais de imunofluorescência sugerem uma localização
perinuclear do DIII den-2 ao mostrarem uma marcação mais intensa ao redor do núcleo. No
entanto, são necessários estudos de co-localização celular com emprego de traçadores de
organelas, a fim de confirmar a retenção do DIII den-2 no RE, além de ensaios de
imunoprecipitação com produtos de marcação metabólica para analisar a presença de DIII no
meio extracelular ou associado a compartimentos celulares. A expressão e localização da
proteína heteróloga por este sistema também foi observada nas construções que expressavam
a proteína EGFP desenvolvida com HA completa e truncada de FA ou den-4 (Mello, 2007;
Bonaldo et al., 2007 e Bonaldo MC comunicação pessoal) e a marcação metabólica com
metionina- [S
35
] de células Vero infectadas com o vírus FA recombinante que expressava
EGFP associada à HA completa de FA mostrou que esta proteína encontrava-se nos extratos
celulares. Estes autores puderam também demonstrar que esta proteína estava associada ao
RE das células infectadas, sugerindo que a ligação de EGFP pelo ancoramento de sua região
HA à membrana do RE fosse responsável por essa associação (Bonaldo et al., 2007). Além
disso, estudos de cinética de expressão do DIII ainda serão realizados com objetivo de
identificar se o pico de expressão da proteína heteróloga coincide com o pico de replicação
dos vírus recombinantes.
Os dois vírus recombinantes apresentaram características proliferativas menores que a
observada para os dois vírus controles. Assim, o cassete de expressão parece não causar
grande comprometimento da estrutura e função viral, dada à capacidade replicativa dos vírus
recombinantes. Porém, este fato tem relação com uma menor viabilidade dos vírus
recombinantes, já que estes exibem menores valores de multiplicação em certos pontos da
curva de cinética de proliferação viral. O pico de replicação dos vírus recombinantes ocorreu
em 48 h p.i., como observado para o parental, o que pode ser justificado pela mesma
plataforma genotípica replicativa compartilhada por eles, enquanto que o vírus vacinal
mostrou pico de replicação em 72 h p.i., indicando um menor vigor replicativo quando
comparado ao parental.
A semelhança replicativa entre os dois vírus recombinantes construídos nesta
dissertação foi notável, com rápido aumento no número de partículas virais até 48 h p.i.
Entretanto, a partir deste ponto, o recombinante FA 17D/DIII den-2 IGA apresentou rápida
queda no título viral que elevou-se novamente a partir de 120 h p.i. Um padrão semelhante foi
demonstrado por FA 17D/DIII den-2 VGA que exibiu um primeiro pico registrado em 48 h
p.i., atingindo um platô entre 72 e 96 h e, passadas 96 h de infecção até as próximas 144 h,
108
foi marcante o aumento do título viral, sendo registrado novo pico de replicação neste último
ponto da curva cinética. Provavelmente, a mutação observada no vírus recombinante FA
17D/DIII den-2 IGA afeta de alguma forma sua capacidade replicativa. Estudos
demonstraram que existe um controle e uma ordem exercidos pela peptidase sinal durante
suas múltiplas clivagens da poliproteína viral, que é crítico para a eficiente morfogênese viral.
Lobigs e Lee (2004) mostraram que uma mutação no sítio de clivagem da peptidase sinal
entre as proteínas C e prM favorecia a redução na incorporação do nucleocapsídeo por
membranas em brotamento, o que resultava em uma maior exocitose de vírus sem esta porção
(VLP, do inglês “Virus-Like Particles”), liberando, dessa forma, um menor número de
partículas virais infecciosas pelas células infectadas. Além disso, foi observado que o vírus
mutante exibia menor taxa replicativa em relação ao controle, em diferentes linhagens
celulares (Lobigs e Lee, 2004), assim como o recombinante FA 17D/DIII den-2 IGA,
podendo esta mutação, de alguma forma, estar interferindo na formação e/ou secreção de
partículas virais.
O estudo cinético de infecção de monocamadas de células Vero por microscopia em
contraste de fase dos vírus recombinantes permitiu observar que a indução de CPE ocorre em
nível semelhante e dentro do mesmo intervalo de tempo entre os recombinantes e o controle
parental. Este fato, mais uma vez pode ser justificado pela mesma constituição genética em
termos replicativos compartilhada pelos três.
A estabilidade genética de insertos no genoma viral é uma característica importante,
pois para que os vírus FA 17D recombinantes sejam utilizados no desenvolvimento de novas
vacinas virais atenuadas expressando antígenos de outros patógenos, eles necessitam ser
estáveis, ou seja, manterem a inserção heteróloga em seu genoma, ao longo das passagens
virais. A perda do cassete de expressão por parte da população viral poderia acarretar na
diminuição da imunogenicidade dirigida ao antígeno exógeno induzida pela vacinação com o
vírus recombinante.
As análises por estabilidade genética de vírus recombinantes dotados de inserções
heterólogas são realizadas por meio de infecções seriadas em monocamadas celulares. É
padrão, em nosso laboratório, que essas infecções sejam executadas a uma m.o.i. de 0,02,
considerada como baixa, a fim de que os vírus recombinantes realizem um maior número de
replicações de seu genoma, propiciando a ocorrência de eventos de recombinação que
poderiam levar à perda da inserção heteróloga. Outra justificativa seria para atingir uma maior
proximidade da condição utilizada para a produção de lotes vacinais.
A partir da segunda passagem celular seriada do vírus recombinante FA 17D/DIII den-2
IGA, já foram detectados fragmentos secundários que sinalizavam para certa instabilidade
109
deste recombinante. Esses fragmentos correspondiam tanto a deleções parciais no cassete de
expressão, nas passagens 2P, 5P1, 5P2, 10P1 e 10P2, como a perda total da inserção na 10ª
passagem de uma das séries independentes. As regiões não deletadas do cassete de expressão,
ou seja, os 9 primeiros aminoácidos de NS1, os 30 primeiros aminoácidos de DIII den-2 e os
últimos 38 aminoácidos de TM2, de certa forma contribuíram para sua estabilização,
mantendo este fragmento de inserção heteróloga por até dez passagens seriadas.
Um fato curioso detectado a partir das passagens 5P1 e 5P2 do recombinante FA
17D/DIII den-2 IGA foi a reversão da mutação e restabelecimento do sítio de clivagem da
peptidase sinal para VGA. Este fato mostrou o caráter deletério e aleatório daquela mutação
pontual que surgiu em um evento replicativo da transcrição viral, e confirma a importância
deste motivo na clivagem de E/NS1 durante o processamento da poliproteína viral. Lobigs e
Lee (2004) analisaram alguns exemplares virais oriundos de plaques purificados do mutante
para o sítio de clivagem da peptidase sinal entre C e prM, e detectaram reversão da mutação, o
que significou em aumento na eficiência replicativa desses vírus, comparável ao exibido pelo
vírus controle, indicando a importância da conservação deste sítio de clivagem em Flavivírus.
O vírus recombinante FA 17D/DIII den-2 VGA também mostrou um mesmo padrão
heterogêneo de fragmentos amplificados a partir da 2P, culminando na perda total do cassete
de expressão nas passagens 10P1 e 10P2. Porém, diferentemente do exibido pelo FA
17D/DIII den-2 IGA, só foram detectados fragmentos de tamanhos compatíveis com a
presença ou ausência do cassete recombinante, sem fragmentos intermediários entre esses
dois, referentes a possíveis deleções no cassete. Este fato já era algo esperado por nosso
grupo, uma vez que a nossa experiência acumulada no estudo da estabilidade genética de
diferentes vírus FA recombinantes indica que deleções de seqüências exógenas inseridas no
genoma viral são rapidamente fixadas após algumas passagens contínuas em monocamadas de
células Vero. Isto ocorre devido à pressão seletiva exercida sobre as populações virais de cada
amostra (com e sem a inserção heteróloga), pois, uma vez que a taxa replicativa dos vírus que
têm seu fenótipo revertido para o tipo vacinal (não carreadores da inserção heteróloga) é mais
alta, estes terminam por superar a replicação exibida pela população viral recombinante,
selecionada negativamente ao longo deste processo (Bonaldo et al., 2007).
Esses fatos apontam para relativa instabilidade genética de ambos os recombinantes que
expressavam o DIII den-2 na região intergênica E/NS1, uma vez que desde o estoque viral
(segunda passagem em monocamada celular) já era detectada uma relativa perda da inserção
heteróloga, sugerindo que a inserção, de alguma forma, desestabiliza a replicação viral. No
entanto, o recombinante FA 17D/DIII den-2 VGA se mostrou mais estável quando comparado
ao FA 17D/DIII den-2 IGA, uma vez que este primeiro não apresentou deleções parciais no
110
inserto heterólogo. Outro fator que confirma a menor estabilidade do recombinante FA
17D/DIII den-2 IGA é o fato de detectarmos fracamente o cassete íntegro nas passagens 5P1 e
5P2, quando o vírus FA 17D/DIII den-2 VGA nestas passagens apresentavam este fragmento
majoritariamente. Como possíveis explicações para a menor estabilidade deste recombinante
são à deleção de 303 aminoácidos do cassete de expressão e a mutação no sítio de clivagem
da peptidase sinal do hospedeiro.
Quando o resultado da estabilidade genética desses recombinantes que expressavam
DIII den-2 é comparado aos obtidos para a primeira geração de vírus que expressavam a
proteína heteróloga EGFP associada à HA truncada de FA foi observado um padrão parecido
quanto à perda da inserção heteróloga. O cassete de expressão da EGFP começou a ser
perdido já na 2P, sendo fixada a deleção total na 10ª passagem seriada (Mello, 2007).
No entanto, quando os resultados de instabilidade dos vírus FA recombinantes que
expressavam DIII den-2 na região intergência E/NS1 são comparados ao vírus recombinante
que expressava a proteína EGFP associada à HA truncada de den-4 grandes diferenças são
observadas. Análises por RT-PCR e citometria de fluxo deste último recombinante,
mostraram que ele foi estável até a 10ª passagem seriada, com indícios de perda da inserção
na 15ª passagem seriada (Bonaldo MC, comunicação pessoal). Sendo assim, a instabilidade
do recombinante que expressava o DIII den-2 não parece estar associada à plataforma de
expressão em si. O sistema que expressava DIII den-2 pode ter se mostrado mais instável,
pois esta região poderia estar se pareando com a homóloga de FA, regiões que compartilham
identidade nucleotídica de 52,1% e, de certa forma, contribuindo para menor estabilidade
genética. Outra possível explicação seria o pareamento de DIII den-2 com os demais
domínios do outro monômero da proteína E, em pontos onde normalmente não ocorre o
contato entre essas porções, facilitando a formação de fragmentos inespecíficos que
culminariam na perda da inserção heteróloga (Bonaldo et al., 2006).
Outra hipótese poderia estar associada a um caráter tóxico exercido pelo DIII às células
infectadas pelos vírus recombinantes, que estaria se acumulando no RE da célula hospedeira,
contribuindo para indução de apoptose. Estudos mostraram que o RE responde ao estresse
causado pelo acúmulo de proteínas com enovelamento incorreto em seu lúmen ativando vias
transdutoras de sinais chamadas de “unfolding protein response” ou resposta à proteína com
enovelamento incorreto (Ron e Walter, 2007).
Lorenz et al. (2002) observaram que as proteínas virais se associam logo após sua
síntese para que a clivagem de prM, a partir da poliproteína viral, seja eficiente e para que
ocorra o correto dobramento da proteína E. Essa associação entre prM e E é vital para
formação de heterodímeros intracelulares, na proporção 1:1 dessas proteínas, a fim de garantir
111
a maturação dos virions. Dessa forma, um acúmulo de DIII den-2 no interior da célula poderia
perturbar esta interação e, conseqüentemente o processo de maturação viral, levando à
geração de recombinantes menos viáveis e mais instáveis.
Bredenbeek et al. (2006) também elegeram a região E/NS1 do vírus FA 17D como o
local para a inserção de antígenos heterólogos. No entanto, a estratégia adotada por este grupo
abrangia somente a duplicação da região gênica de TM2 de FA após o gene da glicoproteína
LASV GPC de Lassa vírus (arenavírus), para servir de seqüência sinal e garantir a correta
inserção da proteína NS1 no RE. Foram gerados vírus viáveis que expressavam a
glicoproteína de Lassa vírus e que conferiram proteção de 80% das cobaias após desafio.
Porém, neste trabalho, não foi demonstrado nenhum dado referente à cinética de replicação
dos vírus recombinantes em comparação com o parental, além de dados de estabilidade
genética desses vírus.
Diversos trabalhos reportaram o uso do vírus FA 17D como vetor de expressão de
antígenos heterólogos (McAllister et al., 2000; Bonaldo et al., 2005; Tao et al., 2005; Barba-
Spaeth et al., 2005). Entretanto, para o desenvolvimento de Flavivírus como vetores de
expressão de antígenos heterólogos, é necessário o desenho de criteriosas estratégias, evitando
o comprometimento da estrutura e replicação virais, de forma a assegurar que a construção
gere um vírus não-patogênico, mantendo a seqüência exógena integrada de forma estável no
genoma viral. Além destes, deve-se garantir que o vírus FA recombinante, além de atenuado,
mantenha suas propriedades imunológicas, expressando o antígeno heterólogo de modo que
este induza resposta imune apropriada. Também é importante a manutenção da capacidade de
proliferação em culturas de células certificadas para a produção de vacinas.
Por fim, a comparação de nossos resultados com dados disponíveis na literatura
científica até o momento indica que a estratégia utilizada neste trabalho é promissora e
inovadora. No presente trabalho, foi apresentada a construção de dois vírus FA 17D que
expressam o domínio III do vírus den-2 na região entre os gene E e NS1 de FA. A
particularidade entre eles era representada por uma mutação pontual no sítio de clivagem
entre E/NS1 da peptidase sinal do hospedeiro. Ambos os recombinantes mostraram-se
estáveis até a 5ª passagem seriada e a perda da inserção heteróloga em ambos os construtos
virais indicaria que a clonagem e expressão de DIII den-2/HA trunc den-4 exerce um efeito
deletério na viabilidade viral. No entanto, este fato não limita o uso destes vírus vetores como
modelos para imunização de camundongos e dosagem de anticorpos neutralizantes para FA e
DIII den-2 por ensaios de PRNT, além da dosagem de anticorpos produzidos contra a proteína
heteróloga por ELISA. Além disso, estudos de desafio intracerebral com vírus FA e den-2
neuroadaptado podem avaliar o grau de proteção desempenhado por estes vírus
112
recombinantes. A clonagem e expressão de outros epítopos de dengue ou qualquer outra
proteína de Flavivírus poderiam ser realizadas empregando-se esta mesma abordagem ou
pequenas variações dela, como por exemplo, a inserção de seqüências sinais com objetivo de
secretar a proteína heteróloga, a fim de comparar sua expressão e apresentação frente ao
sistema imune com o sistema de expressão anterior.
113
7. CONCLUSÕES
A análise seqüencial nucleotídica e de aminoácidos, bem como a modelagem
molecular do DIII den-2, permitiram uma melhor caracterização desta região quanto à
sua estrutura, além de proporcionar a identificação de regiões conservadas e variáveis
entre os genótipos e sorotipos de den-2.
A modelagem molecular por homologia do DIII den-2 proporcionou o mapeamento no
modelo tridimensional dos resíduos não conservados entre os genótipos de den-2, dos
resíduos envolvidos no escape de neutralização por anticorpos e dos resíduos
responsáveis pela ligação a receptores celulares;
A estratégia de inserção do DIII den-2 entre o gene da proteína estrutural E e o gene
da proteína não-estrutural NS1 mostrou-se viável e promissora na obtenção de vírus
FA 17D recombinantes, não comprometendo consideravelmente a estrutura e função
virais;
Os perfis replicativos das construções que expressavam o DIII den-2/HA truncada
den-4 foram diferenciados quando comparados aos controles vacinal e parental. No
entanto, esses padrões são compatíveis com procedimentos experimentais deste
trabalho;
A perda da inserção heteróloga em ambas as construções virais sugere que a clonagem
e expressão de DIII den-2/HA truncada den-4 exerce um efeito deletério na
viabilidade viral. No entanto, este fato não limita a utilização destes vírus como
vetores vacinais, visto que são mantidas a integridade estrutural e funcional do cassete
heterólogo.
114
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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130
9. ANEXO
9.1. Meios de Cultura e Soluções
O meio 10X concentrado Earle 199 (GIBCO), PBS, tripsina solução estoque, Hepes
1 M, fungizona (500 mg/mL), Soro Fetal Bovino (SFB – Cutilab) não inativado foram
produzidos pela estrutura do Laboratório de Sarampo (LASA/Bio-Manguinhos), seguindo as
normas de controle de qualidade já estabelecidas pela instituição. No LATEV os reagentes de
cultura celular foram aliquotados e estocados, prontos para o uso.
Acetato de amônio 7,5 M
Acetato de amônio 28,87 g
Água tipo I q.s.p. 50 mL
Estocar a 4
º
C.
Agarose 0,8%
Agarose
0,8 g
Água tipo I q.s.p. 100 mL
Aquecer em microondas para mistura. Armazenagem à TA.
Bicarbonato de sódio 4,4% gaseificado (NaHCO
3
)
NaHCO
3
44 g
Vermelho de fenol 1% 1 mL
Água tipo I q.s.p. 1.000 mL
Adição de gelo seco com agitação até a solução atingir pH 7,0 – 7,2; aliquotar em 20 mL e
esterilizar por autoclave 121°C 15 min.
BSA 40 mg/mL
Soro albumina bovina 400 mg
Água tipo I q.s.p. 10 mL
Preparar e estocar a 4ºC.
Carboximetilcelulose (CMC) 3%
CMC
3 g
Água tipo I q.s.p. 100 mL
Homogeneização por agitação vigorosa (liquidificador); esterilização por autoclave (121°C
por 20 min). Armazenagem à TA.
131
Cloreto de Cálcio 100 mM
CaCl
2
1,11 g
Água tipo I q.s.p. 100 mL
Após o preparo, autoclavar (121
º
C/20 min) e estocar a 4ºC.
Cristal Violeta
Solução Estoque (2%)
Cristal Violeta
10 g
Metanol 100 mL
Água tipo I q.s.p. 500 mL
Solução de Uso (0,04%)
Cristal Violeta estoque 20 mL
Água tipo I q.s.p. 1.000 mL
Preparar e estocar à TA.
DEPC - Solução de tratamento de material contra RNase : 0,01% em água bidestilada.
EDTA 0,5 M (pH 8,0)
EDTA
186,1 g
Água tipo I q.s.p. 1.000 mL
Ajustar pH até 8,0 com pastilhas de NaOH. Estocar a 4
º
C.
Formaldeído 10%
Formaldeído 37% 1.000 mL
Água tipo I 2.700 mL
Preparar e estocar à TA.
Meio 199 com sais de Earle completo (199/Earle completo)
Meio 199 com sais de Earle 10X 10 mL
NaHCO
3
4,4% (pH 7,0) 2,5 mL ou 5 mL *
SFB inativado (Cutilab) 5 mL
Sulfato de gentamicina (4 mg/mL) 1 mL
Fungizona (500 mg/mL) 0,1 mL
Água tipo I q.s.p. 100 mL
Todo material estéril; preparo no momento do uso.
* Depende do tipo de sistema de cultura: 2,5 mL para sistema aberto ou sistema fechado.
132
Meio 199 com sais de Earle para inocular em camundongo
Meio 199 com sais de Earle 10X 10 mL
NaHCO
3
4,4% (pH 7,0) 2,5 mL
SFB inativado 5 mL
Água tipo I q.s.p. 100 mL
Todo material estéril; preparo no momento do uso.
Meio 199 com sais de Earle 2X concentrado (199/Earle 2X)
Meio 199 com sais de Earle 10X 20 mL
NaHCO
3
4,4% (pH 7,0) 10 mL
SFB inativado 10 mL
Sulfato de gentamicina (4 mg/mL) 2 mL
Fungizona (500 mg/mL) 0,2 mL
Água tipo I q.s.p. 100 mL
Todo material estéril; preparo no momento do uso.
Meio 199 com sais de Earle /CMC (199Earle/CMC)
Meio 199 com sais de Earle 10X 10 mL
NaHCO
3
4,4% (pH 7,0) 5 mL
SFB inativado 5 mL
Sulfato de gentamicina (4 mg/mL) 1 mL
Fungizona (500 mg/mL) 0,1 mL
CMC 3% (Sigma) q.s.p. 100 mL
Todo material estéril; preparo no momento do uso. Homogeneizar vigorosamente.
Meio 199 Earle / Hepes
Meio 199 com sais de Earle 10X 10 mL
NaHCO
3
4,4% (pH 7,0) 0,5 mL
SFB inativado 5 mL
Sulfato de gentamicina (4 mg/ml) 1 mL
Fungizona (500 mg/ml) 0,1 mL
Água tipo I q.s.p. 100 mL
Meio BHI (Brain Heart Infusion)
Meio BHI
37 g
Água tipo I q.s.p. 1.000 mL
Esterelizar por autoclavação por 15 min a 121ºC.
133
Meio LB (Luria-Bertani)
Bacto-triptona
10 g
Extrato de levedura 5 g
NaCl 10 g
Água tipo I q.s.p. 1.000 mL
Homogeneizar e ajustar pH 7,5 com solução de NaOH 1 N; esterilização por autoclave
(121°C por 20 min); armazenar a TA.
Obs.: Para meio LB sólido, acrescentar 1,5 g de agar bacteriológico para cada 100 mL de
meio LB.
Meio SOC (Super Optimal Catabolite) comercial
Bacto-triptona
20 g
Extrato de levedura 5 g
NaCl (10 mM) 0,58 g
KCl (2,5 mM) 0,186 g
MgCl
2
(1 M) 5 mL
MgSO
4
(1 M) 5 mL
Glicose (2 M) 10 mL
Água tipo I q.s.p. 1.000 mL
Adicionar os quatro primeiros ingredientes em um frasco de 2 L e verter água estéril q.s.p. 1
L. Homogeneizar e autoclavar por 30 min. Resfriar o frasco em TA, adicionar 10 mL da solução de
magnésio e misturar bem. Adicionar 10 mL de glicose e misturar bem.
Paraformaldeído 4%
Paraformaldeído
4,0 g
Água tipo I q.s.p. 50 mL
Tampão fosfato dibásico 2 mM 50 mL
Aquecer a água milli-Q até 70ºC. Adicionar, aos poucos, o Paraformaldeído. Clarificar a
solução com 1 ou 2 gotas de NaOH 1 N. Deixar esfriar e, em seguida, adicionar o tampão fosfato
dibásico.
PBS-1%BSA (Solução de bloqueio)
BSA 1%
5,0 g
PBS 1x q.s.p. 500 mL
134
PBS (salina tamponada com fosfato) – Livre de RNase – Para transfecção
NaCl 5 M
30 mL
Na2HPO 32 mL
NaH2PO 8 mL
Água tipo I q.s.p. 1.000 mL
Preparado com água tratada com DEPC (0,01%) e autoclavado (121°C por 20 min).
Sulfato de gentamicina (Garamicina)
5 ampolas de Garamicina (2 mL cada) para 90 mL de água bidestilada estéril.
Sulfato de Magnésio (MgSO4) 1 M
MgSO
4
12,03 g
Água tipo I q.s.p. 100 mL
Filtrar em millipore 0,22 µm. Estocar a 4
º
C.
Soro Fetal Bovino/SFB (Cultlab)
Inativado a 56ºC por 30 minutos. Aliquotado (50 mL) e armazenado a 4ºC.
TAE (solução de estoque 50X)
Tris base
242 g
Ácido acético glacial 57,1 mL
EDTA 0,5 M (pH 8,0) 100 mL
Água tipo I q.s.p. 1.000 mL
Estocar à TA.
Tampão PBS 10x pH7,4
NaCl
80,0 g
KCl 20,0 g
Na
2
HPO
4
.H
2
O 14,4 g
Água tipo I q.s.p. 1.000 mL
Ajustar pH 7,4; esterilização por autoclavação a 121ºC por 15 min; armazenagem à TA.
(Sambrook et al., 1989).
TE pH 7,6
Tris 10 mM
10 mL Tris 1 M (pH 7,6)
EDTA 1 mM 2 mL EDTA 0,5 M (pH 8,0)
Água tipo I q.s.p. 1.000 mL
Após o preparo autoclavar (121ºC/20 min) e estocar a 4
º
C.
135
Tripsina/PBS
Tripsina estoque 0,5 mL
PBS 1 X 50 mL
Preparar imediatamente antes do uso.
Tripsina/verseno
Tripsina estoque 0,5 mL
Verseno 50 mL
Preparar imediatamente antes do uso.
Tris 1 M (pH 7,6)
Tris base
121,1 g
Água tipo I q.s.p. 1.000 mL
Ajustar pH até 7,6 com HCl 1 N. Estocar a 4ºC.
Verseno
Solução estoque 5%
EDTA
50 g
Vermelho de fenol 1% 0,1 mL
Água tipo I q.s.p. 1.000 mL
Misturar e acertar o pH para 7,6 com NaOH 1 N. Estocar à TA.
Solução de trabalho
Solução estoque de verseno 20 mL
Vermelho de fenol 1% 0,1 mL
PBS pH 7,6 q.s.p. 1.000 mL
Homogeneizar, ajustar pH para 7,6 com NaOH 1 N. Aliquotar em frascos 50 mL, esterilizar
por autoclave 121°C por 20 min. Estocar à TA.
0,5% Triton X-100 em PBS
Triton X-100
1,0 g
PBS 1x q.s.p. 1000 mL
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