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1. Introdução e Justificativa
A entrada do indivíduo na universidade é freqüentemente acompanhada por uma
série de mudanças que caracterizam um período de transição em suas trajetórias pessoais.
Nessa etapa, as demandas crescentes de responsabilidade, a maior complexidade do processo
educacional e a exigência de atitudes mais maduras, muitas vezes, associam-se a limitações
econômicas, sociais e psicológicas somadas, em alguns casos, à necessidade de reorganização
da vida pessoal em uma nova cidade com o conseqüente distanciamento da família. Nessas
circunstâncias, podem ser precipitadas crises por aumento de demandas afetivas e/ou
financeiras, dúvidas quanto à escolha da futura profissão e/ou medo de fracassar. Pouca ou
quase nenhuma iniciativa institucional, no entanto, tem existido para dar suporte aos alunos
que ingressam nas universidades brasileiras. Percebe-se, inclusive, grande carência de
sistemas de apoio tanto para alunos quanto para professores que se dão conta da necessidade
desses serviços e que, quase sempre, não sabem a quem recorrer.
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A Universidade Federal de Santa Catarina não deverá ser exceção no cenário
brasileiro e mundial, adiando a necessária discussão e implantação de serviços institucionais
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Vide, por exemplo, extratos de um e-mail encaminhado ao grupo por uma colega professora do Curso de
Medicina da UFSC:
“(...) preciso conversar com alguém sobre os alunos da Medicina, (...). É sobre o problema de depressão dos
alunos da Medicina. Só neste semestre tenho 3 deles com esse tipo de problema, e os três já foram meus alunos
no semestre passado. (...) Também soube, por outro aluno (agora doutorando) que haveria um Núcleo de
Atendimento Psicológico para Alunos da Medicina (NAPSEM), mas também parece que isso ainda não está em
funcionamento.
(...) são muitos problemas familiares e financeiros, o que os impede de conseguir se tratar, pois não conseguem
pagar médicos e remédios. Eles acabam arrumando alguém que os trate, mas os remédios receitados têm muitos
efeitos colaterais, e os meninos continuam péssimos. Uma aluna está em tratamento há mais de 6 meses, e não há
resultado. Os medicamentos já foram mudados duas ou três vezes, e ela continua péssima (não melhorou nada).
(...) ela está mal, e quase não consegue sair de casa. Um outro menino tem situação semelhante, e eu não sei mais
sobre ele (...) fico sabendo por dois colegas que resolveram cuidar dele (esses colegas ficam como mendigos,
andando de professor em professor com atestado médico e atestado de matrícula do colega em depressão,
esmolando compreensão e pedindo ao professor que dê a oportunidade do colega entregar os trabalhos atrasados,
ou fazer uma prova substitutiva). A terceira é a melhorzinha, vem em algumas aulas, consegue conversar sem
chorar, consegue pedir ajuda, pede para fazer trabalhos atrasados, etc.
Será que o Curso não poderia cuidar desses alunos? - Vocês sabem que outras Universidades têm esse serviço, e
sabem que isso é necessário...(...) não se poderia pagar ao menos um psiquiatra e um psicólogo para atender
esses meninos? Conseguir os remédios através do hospital, e fornecer a eles sem custo, ou a um preço mais
acessível? Além dos casos de depressão, ainda temos os usuários de drogas... (...)
(...) sinceramente, eu acho que precisa muito pouco dinheiro para oferecer o necessário aos alunos, e acho que o
Curso de Medicina, justamente porque é de Medicina, não pode fechar os olhos ao que está acontecendo. (...),
pois esse Curso tem poder e visibilidade na Universidade. Eu estou agora falando de três alunos, mas eles são
muito mais, vocês sabem disso. Por favor, vamos fazer alguma coisa nesse sentido.”