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Ela acompanha as idéias de Saussure, que considera um erro “ver na língua um
atributo, não mais da nação, mas da raça, ao mesmo título que a cor da pele ou a forma da
cabeça.” SAUSSURE (1916, p.221), ao que Cerqueira acrescenta o grau de audição.
Pensar em uma língua como um atributo, diz ela, “como característica de quem tem uma
patologia orgânica parece complicado”. Atribuir a uma raça, à cor da pele, a traços biológicos
uma cultura, uma língua, traz complicações político - ideológicas.
Saussure (1916) afirma que: “Embora a língua não forneça muitas informações
precisas e autênticas acerca dos costumes e instituições do povo que a usa, servirá ao menos
para caracterizar o tipo mental do grupo social que fala?” (SAUSSURE, op. cit., p.261).
Cerqueira considera esse um ponto fundamental para que se estabeleça um diálogo com o
bilingüismo. É comum encontrar na literatura relativa a essa corrente de pensamento que “a
língua de sinais reflete uma forma de pensar, reflete ‘a identidade’ do surdo”(CERQUIRA,
2006). Ela destaca que para Saussure “é opinião geralmente aceita a de que uma língua reflete
o caráter psicológico de uma nação; uma objeção bastante grave se opõe, entretanto, a tal
modo de ver; um procedimento lingüístico não está necessariamente determinado por causas
psíquicas” (SAUSSURE, 1916, p.266, apud CERQUEIRA, idem ibidem).
Como coloca Saussure, a língua “não está sujeita diretamente ao espírito dos que
falam” (SAUSSURE, op. cit., p. 268), ela não reflete uma forma de pensar, e nada revela a
respeito do falante. Ou como afirma Cerqueira, um “procedimento lingüístico” nada revela
sobre a “mentalidade” do falante. Neste sentido, acompanho a pesquisadora, pois, de fato,
“não parece que ‘o Surdo’ “decida” pela língua de sinais, porque esta “reflete a sua forma de
pensar”. A língua nada nos revela em relação à raça, filiação, relações sociais, costumes,
instituições, etc.”(CERQUEIRA, idem, ibidem). As questões trazidas por Cerqueira são
fundamentais para desnaturalizar uma série de afirmações sobre a língua de sinais, que não
enfrentam a complexidade envolvida na discussão sobre a natureza das línguas particulares e
da relação que elas entretêm com a Língua, conforme definida por Saussure.
Quadros (op.cit.) assinala que, frente às dificuldades enfrentadas pela proposta
oralista, surgiu uma alternativa, a segunda entre as três inicialmente destacadas pela autora,
que permitia o uso da língua de sinais com o objetivo de desenvolver a linguagem na criança
surda. Assim, na segunda proposta, os sinais passam a serem utilizados pelos profissionais
como um recurso que visava ao desenvolvimento da língua oral. Os sinais eram usados dentro
de uma estrutura da língua portuguesa. Esse sistema artificial, como diz a autora, passou a ser
chamado de português sinalizado. O ensino enfatiza o bimodalismo, que se caracteriza pelo
uso simultâneo de fala e sinais.