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permitiu a produção em larga escala, empreendida pelo capitalismo, em que pese o
processo urbanização desenfreada promovida pelo sistema social vigente.
A caracterização sobre as classes sociais pressupõe uma análise objetiva do modo
como a sociedade se organiza para produzir seus meios de vida e a forma dela se apropriar
dos valores de uso. Todavia, a caracterização das classes sociais não é uma tarefa formal,
ela deve compreender a forma como determinados grupos se manifestam e as funções que
eles exercem em um dado contexto. Por isso, trata-se de um caracterização essencialmente
política
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, pois tal como Marx e Engels (1848/2001) afirmam no Manifesto comunista, a luta
de classe é uma luta essencialmente política.
Assim, a classe trabalhadora no capitalismo pode estar representada por meio de três
elementos básicos: (1) são aqueles que, no seu foco central, realizam um intercambio
orgânico com a natureza com vistas à produção dos valores essenciais à reprodução da vida
individual e em sociedade: (2) aqueles que vendem sua força de trabalho e, portanto, são
assalariados; (3) aqueles, enquadrados como pequena burguesia, que, ao mesmo tempo em
que são assalariados, não ascendem socialmente e estão sempre mais suscetíveis à pressão
exercida pelo capitalismo (salário baixo, juros crescente, impostos, taxas, desemprego,
invisibilidade social e política, em suma, sua condição histórica não lhe permite ascender
socialmente, seu campo de possibilidades é restrito, dificultando também sua organização
política à medida que o tempo livre lhe é escasso).
A burguesia, por outro lado, pode ser caracterizada pelos diferentes ramos da
produção e pelas diferentes modalidades do capital. De qualquer forma, sendo este um
proprietário rural, ou um proprietário industrial, para citar alguns exemplos, a burguesia
apresenta um ponto em comum: a propriedade privada dos meios de produção
9
. Mais do
8
A este respeito considero de fundamental importância a análise de Trotski em O programa de transição
(1938/1996) sobre o papel do campesinato no processo da revolução russa, ocorrida no início do século XX.
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Esta também é uma questão polêmica no seio do marxismo. Alguns autores como Bettelhein (1974), ao
analisar o processo de transição no período da revolução russa e, ao tratar da luta de classes da União
Soviética considera que, para caracterizar a classe burguesa não basta apenas compreender a propriedade
privada dos meios de produção. Para o autor, o elemento fundamental desta análise remete ao controle efetivo
dos meios de produção. Com isso, Bettelhein argumenta que a revolução russa e a condução do partido neste
processo retratam o aparecimento de uma burguesia de Estado na União soviético, pois, uma vez
considerando o Estado soviético, sobretudo com a ascenção do Estalinismo, como um Estado capitalista, ele
compreende a constituição de uma classe social dominante (referente aos membros do partido bolchevique)
pelo fato de que esta passou a exercer o controle efetivo dos meios de produção. É sabido que Trotski analisa
de maneira diferente este processo ao tratar o Estado soviético como um Estado proletário degenerado, pois