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(Lei dos Sexagenários), que, junto às pressões sociais abolicionistas, constantes na
segunda metade do oitocentos, acabaram por gerar apreensões nos senhores de escravos.
Dentro do contexto nacional de falta de trabalhadores pode-se enquadrar a zona
da Mata Mineira, já que, após 1850, a expansão cafeeira e a agrícola demandavam o
aumento da escravaria. Com o abalo do fim do tráfico de cativos via Atlântico, optou-se
pela importação interprovincial de cativos
112
, para manutenção das culturas. Os cativos
que vieram a somar o contingente escravo já existente provinham do tráfico
intraprovincial, se deslocando de várias regiões de Minas, como Barbacena, Serro e
áreas mineradoras; e do tráfico interprovincial, com cativos que chegavam da província
do Rio de Janeiro, capital e Vale do Paraíba, e do nordeste brasileiro
113
. Ao analisar
alguns documentos que contêm na sua relação as listas de matrículas de escravos de
1872, foram encontradas as origens mencionadas. Além de outras, é o caso de Eva e
Gabriel, matriculados no Serro-MG, Maria do Rosário, Ponte Nova-MG, ambos
escravos de Elisa Josephina de Castro Monteiro
114
. No requerimento de Audiência de
14/04/1886, cujo proprietário seria Antonio Vieira da Silva Rezende, há registro de
vários escravos da Bahia
115
. Lino Coutinho de Miranda Jordão possuía escravos
registrados em Paraíba do Sul
116
. No inventário de Antonio José Prazeres
117
, foi
encontrada uma lista de matrículas com escravos do Serro-MG, Montes Claros-MG,
Sabará-MG, Camarim-PE, Picus e Jaicás-PI, Pelotas-RS.
Além da hipótese do tráfico proposta por MARTINS, acredita-se que outros
elementos contribuíram para a manutenção da escravidão na região, é o caso da
reprodução natural
118
, encontrada na maior escravaria de Cataguases. O major Vieira da
112
Para MARTINS, Roberto B. “Minas e o tráfico de escravos no século, outra vez”. In: História e
Perspectiva
. Uberlândia, Minas Gerais, p.93-130, n. 11, julh-dez, 1994. p. 105-124. A Zona da Mata foi o
maior importador de escravos, com destaque nos municípios cafeeiros, segundo ele, Leopoldina, Mar de
Espanha, Santo Antônio do Paraibuna, Ubá e Pomba. Em meados do século XIX, Cataguases pertencia a
Leopoldina.
113
A análise dos documentos de fundo cartorário, tanto do 1º e 2º Ofício de Notas como os livros de notas
dos distritos, presente no Arquivo Público Municipal; dos registros de matrículas, dispersos em processos
criminais e cíveis do Centro de Documentação Histórica de Cataguases, poderão propiciar ao historiador
fontes para um estudo mais detalhado sobre o tráfico interno.
114
CDH, CAT-1 CV-392, Requerimento de Audiência.
115
CDH, CAT-1 CV-? Sem catalogação oficial, Requerimento de Audiência de 14/04/1886, nº. 13.
116
CDH, CAT-1 CV-394, Requerimento de Audiência.
117
CDH, Sem catalogação oficial, Inventário de Antonio José Prazeres, data: 22/06/1886.
118
BERGAD, L. D. Slavery and the demographic economic history of Minas Gerais, Brazil, 1720-1888.
Cambridge, Cambridge University Press, 1999. Citado por. p. 121. LIBBY, Douglas Cole e GRAÇA
FILHO, Afonso de Alencastro. “Reconstruindo a liberdade”: alforrias e forros na freguesia de São José do
Rio das Mortes, 1750-1850. In:
Varia História. Belo Horizonte, Minas Gerais, p. 112-151, nº. 30, julho
de 2003. p. 121.