Download PDF
ads:
UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE
PROGRAMA INSTITUCIONAL DE DOUTORADO TEMÁTICO
EM RECURSOS NATURAIS
Gustavo Maurício Filgueiras Nogueira
CONFLITO E NEGOCIAÇÃO EM RECURSOS HÍDRICOS:
Uma abordagem comportamental das decisões.
Campina Grande - PB
2006
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
2
CONFLITO E NEGOCIAÇÃO EM RECURSOS HÍDRICOS:
Uma abordagem comportamental das decisões.
por
Gustavo Maurício Filgueiras Nogueira
_____________________
Tese apresentada ao Programa Institucional de Doutorado Temático em Recursos Naturais
da Universidade Federal de Campina Grande – UFCG, como requisito à obtenção do Título
de Doutor em Recursos Naturais.
Orientador: Prof. Dr. Carlos de Oliveira Galvão
Campina Grande - PB
Abril de 2006
ads:
3
FICHA CATALOGRÁFICA
N778c Nogueira, Gustavo Maurício Filgueiras
2006 Conflito e negociação em recursos hídricos : uma abordagem comportamental
das decisões / Gustavo Maurício Filgueiras Nogueira.- Campina Grande, 2006.
159f.: il.
Referências.
Tese (Doutorado em Recursos Naturais) Universidade Federal de Campina
Grande, Centro de Tecnologia e Recursos Naturais.
Orientador: Doutor Carlos de Oliveira Galvão.
1– Recursos Hídricos - Conflito 2– Recursos Hídricos - Negociação 3
Recursos Hídricos - Decisão 4 – Recursos Hídricos - Comportamento I- Título
CDU 556.18
4
Gustavo Maurício Filgueiras Nogueira
CONFLITO E NEGOCIAÇÃO EM RECURSOS HÍDRICOS:
Uma abordagem comportamental das decisões.
Esta tese foi julgada e aprovada para a obtenção do grau de Doutor em Recursos
Naturais, no Programa Institucional de Doutorado Temático em Recursos Naturais da
Universidade Federal de Campina Grande – UFCG
Campina Grande – PB, abril de 2006.
Prof. Dr. Pedro Vieira de Azevedo
Coordenador do Curso
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr. Carlos de Oliveira Galvão
Orientador
Prof. Dr. José Nilson Campos / UFC
Examinador Externo
Prof. Dr. José Luiz de Sousa / OEA
Examinador Externo
Profª. Drª. Márcia Maria Rios/UFCG
Examinadora
Prof. Dr. Marx Prestes Barbosa / UFCG
Examinador
5
A Eduardo, Fernanda e Glauce, que sempre me
incentivaram, encorajando-me nos momentos desta
caminhada, dedico este trabalho.
6
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais – Geraldo Nogueira e Maria Adília – e meus irmãos – Denise e
Fábio –, pela compreensão, apoio e contribuição durante a minha formação pessoal e
acadêmica, muitas vezes, renunciando aos seus sonhos, para que eu construísse vitórias;
A minha esposa – Glauce – e aos meus filhos – Fernanda e Eduardo –, que comigo
compartilharam o ideal e me alimentaram o sonho, ofertando-me estímulo, carinho e
atenção dia a dia;
Ao meu Orientador – Professor Dr. Carlos Galvão – que acreditou no projeto e
comigo partilhou experiências, mostrando-me seu olhar crítico e construtivo, auxiliando-me,
sobremaneira, na superação dos desafios e na concretização deste trabalho;
Aos demais professores do Programa de Doutoramento em Recurso Naturais, os
quais me legaram o conhecimento, fortalecendo-me no propósito acadêmico;
Aos doutorandos do Programa, em especial, a Cybelle Braga, pelas enriquecedoras
discussões firmadas acerca do tema desta tese;
Aos colegas docentes do Departamento de Administração e Contabilidade da
Universidade Federal de Campina Grande, onde leciono e onde obtive aprendizado e
experiência, além de referências para a construção deste trabalho;
Aos meus orientandos e alunos do curso de Administração e Contabilidade da
UFCG, os quais, com a realização de críticas, intervenções e observações, incitaram-me a
buscar, cada vez mais, o conhecimento acadêmico;
À equipe participante das reuniões do Marco Regulatório do Sistema Curema-Açu,
em especial, aos representantes da ANA, DNOCS, SEMARH, AAGISA, SERHID e IGARN,
pela inestimável contribuição, durante a realização da pesquisa e do estudo objeto deste
trabalho;
7
Aos colaboradores da AAGISA, os quais, durante a minha permanência na
Presidência do Órgão, apoiaram-me, principalmente, a Laudísio Diniz, Diretor Técnico, com
quem tive a oportunidade de ampliar a compreensão acerca dos conceitos e da gestão dos
recursos hídricos;
A Jalf, pelo suporte, através do qual se permitiu a materialização dos conceitos da
DCN, traduzidos no sistema Dealer;
A Diana Renata e a Priscylla Almeida, pelas discussões e melhorias neste texto, não
me permitindo o afastamento do rigor das regras técnicas, e a Otávio Ney, pela colaboração
no desenho das figuras constantes nesta tese;
Ao companheiro de trabalho Jovino Neto, pelo aprimoramento didático e gramatical,
durante a revisão do texto;
Finalmente, a Deus, sustentáculo e ordenador dos meus destinos, permitindo-me a vida e a
coragem para buscar desafios e obter a marca das grandes realizações, como esta.
8
ÍNDICE
LISTA DE FIGURAS............................................................................................................ xi
LISTA DE QUADROS ........................................................................................................ xii
LISTA DE TABELAS ......................................................................................................... xii
LSTA DE GRÁFICOS ....................................................................................................... xiv
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ............................................................................ xv
RESUMO ...........................................................................................................................16
ABSTRACT .......................................................................................................................18
CAPÍTULO I
1. INTRODUÇÃO ...............................................................................................................20
1.1 Formulação da situação problema ...............................................................................20
1.2 Objetivos.......................................................................................................................24
1.2.1 Objetivo Geral ...........................................................................................................24
1.2.2 Objetivos Espeficos ................................................................................................25
1.3 Organização do Trabalho .............................................................................................25
CAPÍTULO II
2. O QUADRO TEÓRICO ..................................................................................................27
2.1 A crise ambiental ..........................................................................................................27
2.2 O desafio do desenvolvimento sustentável ..................................................................29
2.3 Conflitos em recursos naturais: foco nos Recursos Hídricos ........................................30
2.4 Os fundamentos de conflitos ........................................................................................33
2.5 A modelagem do conflito ..............................................................................................35
2.6 A Mediação e o papel do Mediador de conflitos.............................................................38
2.7 A natureza da negociação e seus instrumentos ...........................................................42
2.8 O processo de tomada de decisão gerencial ................................................................45
2.9 Os decisores ................................................................................................................46
2.10 Tomada de decisão e comportamento humano ..........................................................48
2.11 Os sistemas de apoio à decisão .................................................................................51
2.12 Sistemas de apoio à decisão em grupo ......................................................................54
2.13 Aplicações em recursos hídricos ................................................................................53
CAPÍTULO III
3. METODOLOGIA DA PESQUISA ...................................................................................61
9
3.1 Procedimentos metodológicos e operacionais no campo
do desenvolvimento teórico ......................................................................................63
3.1.1 Estruturação de um modelo conceitual-analítico ........................................................63
3.1.2 Evolução do modelo conceitual para a ferramenta de
suporte à negociação ............................................................................................63
3.2 Procedimentos metodológicos e operacionais no campo de
observação do contexto ...........................................................................................64
3.2.1 Categorização dos recursosdricos e arranjo institucional ......................................64
3.2.2 Registro dos enquadramentos ...................................................................................64
3.2.3 Mapeamento das estratégias de engajamento ..........................................................65
3.2.4 Pesquisa de identificação dos tipos psicológicos .......................................................69
3.3 Procedimentos metodológicos e operacionais no campo da aplicação ........................74
CAPÍTULO IV
4. OS RECURSOS HÍDRICOS NA BACIA DO RIO PIRANHAS–AÇU ..............................75
4.1 Aspectos fisiográficos ..................................................................................................75
4.1.1 Caracterização territorial da Bacia do Rio Piranhas–Açu ...........................................75
4.1.2 Climatologia ..............................................................................................................76
4.1.3 Geologia ....................................................................................................................77
4.1.4 Solos .........................................................................................................................78
4.1.5 Vegetação .................................................................................................................78
4.2 Recursos hídricos .........................................................................................................79
4.2.1 Recursos hídricos superficiais ...................................................................................79
4.2.2 Recursos hídricos subterrâneos ................................................................................80
4.3 Aspectos sócio-ecomicos .........................................................................................81
4.4 Demandas hídricas no trecho do Açude Curema-Mãe d’Água até a foz........................83
4.5 Construção do Marco Regulatório ................................................................................84
4.5.1 Conflitos na bacia pelo uso de água ..........................................................................84
4.5.2 Arranjo institucional ...................................................................................................85
4.5.3 Processo de construção do Marco Regulatório .........................................................88
CAPÍTULO V
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO .....................................................................................93
5.1 O campo do desenvolvimento teórico ...........................................................................94
5.1.1 A concepção do modelo conceitual da Dinâmica
Comportamental da Negociação (DCN) ...............................................................94
5.1.2 O modelo matemático da DCN ................................................................................103
10
5.1.3 O Sistema de Apoio à negociação ..........................................................................107
5.1.3.1 As funcionalidades da ferramenta Dealer .............................................................111
5.2 O campo de observação da pesquisa ........................................................................113
5.2.1 Enquadramento e identificação das estratégias de engajamento ............................113
5.2.2 As tipologias psicológicas presentes no contexto do Marco
Regulatório ........................................................................................................115
5.2.2.1 A análise das tipologias ........................................................................................116
5.2.2.2 A análise das tipologias comparadas entre PB e RN ............................................120
5.3 O campo de aplicação da teoria .................................................................................121
5.3.1 Evidências de adequação da “DCN” no contexto do Marco Regulatório
do Sistema Curema-Açu............................................................................................121
5.3.1. 1 – Reunião I do Marco Regulatório .......................................................................121
5.3.1. 2 – Reunião II do Marco Regulatório ......................................................................124
5.3.1. 3 – Reunião III do Marco Regulatório .....................................................................126
5.3.1. 4 – Reunião IV do Marco Regulatório .....................................................................128
5.3.1. 5. – Reunião V do Marco Regulatório .....................................................................130
5.3.1. 6 – Reunião do Marco Regulatório .........................................................................132
5.3.1. 7 – Reunião VII do Marco Regulatório ....................................................................134
5.3.1. 8 – Reunião VIII do Marco Regulatório ....................................................................139
CONCLUSÕES ................................................................................................................142
RECOMENDAÇÕES E SUGESTÕES PARA INVESTIGAÇÕES FUTURAS ..................147
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................................148
ANEXOS...........................................................................................................................159
11
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Classificação dos modelos ...............................................................................36
Figura 2 – Esquema de modelagem ..................................................................................36
Figura 3 – Hiatos da modelagem .......................................................................................38
Figura 4 – Componentes de um SSD ................................................................................52
Figura 5 – Processo de tomada de decisão com SAD .......................................................54
Figura 6 – Processo de tomada de decisão em grupo .......................................................55
Figura 7 – Evolução dos Sistemas de Apoio à Decisão .....................................................56
Figura 8 – Um novo paradigma para os SAD’s ..................................................................57
Figura 9 – Tipos de estratégias de engajamento ...............................................................66
Figura 10 – Processos Mentais .........................................................................................71
Figura 11 – Localização da Bacia Hidrográfica do Rio Piranhas-Açu. ................................76
Figura 12 – Bacia Hidrográfica do Rio Piranhas-Açu .........................................................90
Figura 13 – Modelo esquemático do processo utilizado ....................................................93
Figura 14 – Configuração do Modelo Conceitual da Dinâmica
Comportamental da Negociação (DCN) .........................................................96
Figura 15 –Esquematização do Modelo Matemático ........................................................103
Figura 16 – Diagrama de Classe .....................................................................................109
Figura 17 – Diagrama de Casos de Uso ..........................................................................109
Figura 18 – Diagrama de Objetos ....................................................................................110
Figura 19 – Diagrama de Colaboração ............................................................................110
Figura 20 – Modelo Esquemático do Dealer ....................................................................111
Figura 21Telas do Dealer I ..........................................................................................112
Figura 22Telas do Dealer II .........................................................................................113
Figura 23 – Negociação da vazão da divisa Paraíba e Rio Grande do Norte ..................139
12
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Exemplo de conflitos relacionados à água.......................................................32
Quadro 2 Percepção das diferentes estratégias de engajamento ...................................67
Quadro 3 As 16 possíveis combinações de perfis, segundo MBTI .................................73
Quadro 4 Ações realizadas para estabelecimento do Marco Regulatório –
Etapa Regulatória ...........................................................................................91
Quadro 5 Implementação do Marco Regulatório e da
Regularização de Usos – Etapa Gestão .........................................................92
Quadro 6 Atividades-chaves .........................................................................................101
Quadro 7 Tipos psicológicos ........................................................................................104
Quadro 8 Estratégias de engajamento .........................................................................104
Quadro 9 Tipos Psicológicos por Instituição .................................................................116
Quadro 10 – Vazões de negociação entre Paraíba e Rio
Grande do Norte .........................................................................................139
13
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Demandas atuais por tipo de uso para a Bacia
do Rio Piranhas-Açu, Paraíba .........................................................................83
Tabela 2 – Demandas atuais por tipo de uso para a Bacia
do Rio Piranhas-Açu, Rio Grande do Norte .....................................................83
Tabela 3 – Exemplo de um Critério da Base de Conhecimento .......................................105
Tabela 4 – Exemplo de Agrupamento ..............................................................................106
Tabela 5 – Exemplo da Ordenação pela Relevância do Critério ......................................107
14
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Distribuição dos usuários cadastrados segundo suas finalidades ...................84
Gráfico 2 – Estratégias de Engajamento .........................................................................115
Gráfico 3 –Tipos Psicológicos .........................................................................................117
Gráfico 4 – Distribuição das Preferências ........................................................................117
Gráfico 5 – Distribuição do Tempo ..................................................................................118
Gráfico 6 – Processos Mentais ..........................................................................................118
Gráfico 7 – Distribuição dos Temperamentos ..................................................................119
Gráfico 8 –Preferências por Quadrantes ............................................................................119
Gráfico 9 – Distribuição dos Temperamentos Perfil Paraíba ...........................................120
Gráfico 10 – Distribuição dos Temperamentos Perfil Rio Grande do Norte .....................120
Gráfico 11 – Distribuição das Preferências Perfil Paraíba ...............................................120
Gráfico 12 – Distribuição das Preferências Perfil Rio Grande do Norte ...........................120
15
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
AAGISA - Agência de Águas, Irrigação e Saneamento do Estado da Paraíba
ABES – Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental
ABRH – Associação Brasileira de Recursos Hídricos
ANA – Agência Nacional de Águas
ARG – Reservatório Armando Ribeiro Gonçalves
CAERN – Companhia de Água e Esgoto do Rio Grande do Norte
CAGEPA – Companhia de Água e Esgotos da Paraíba
CREA – Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura
DNOCS – Departamento Nacional de Obras contra a Seca
EUA – Estados Unidos da América
GAI – Grupo de Articulação Interinstitucional
GTO – Grupo Técnico-Operacional
IDH-M – Índice de Desenvolvimento Humano Municipal
IGARN – Instituto de Gestão das Águas do Estado do Rio Grande do Norte
IOCS – Inspetoria de Obras Contra as Secas
MBTI – Myers-Briggs Type Indicator
ONU – Organização das Nações Unidas
PERH-PB – Plano Estadual de Recursos Hídricos/Paraíba
SAD – Sistemas de Apoio à Decisão
SADG – Sistemas de Apoio à Decisão em Grupo
SADI – Sistemas de Apoio à Decisão Individual
SAN – Sistemas de Apoio à Negociação
SAPN – Sistema de Apoio ao Processo de Negociação
SEMARH – Secretaria Extraordinária do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e Minerais
SERHID – Secretaria de Estado dos Recursos Hídricos do Estado do Rio Grande do Norte
SGIN – Sistema de Gerenciamento da Informação para a Negociação
SNGRH – Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos
SPN – Sistema de Preparação à Negociação
SSD – Sistemas de Suporte à Decisão
SUDEMA – Superintendência de Administração do Meio Ambiente
UFCG – Universidade Federal de Campina Grande
UML – Unified Modeling Language
UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.
16
RESUMO
O escopo da tese consiste na proposição de um modelo conceitual analítico-
comportamental, consubstanciado na correlação de tipos psicológicos e estratégias de
engajamento, durante os processos de negociação, denominado de “Dinâmica
Comportamental da Negociação (DCN)”.
A DCN, notadamente ao articular os contextos que dão forma à resolução de
conflitos, através de uma visão sistêmica dos atributos comportamentais tipológicos e de
engajamento, vem propiciar elementos para a construção de conceitos em níveis superiores
que ocupem lacunas ainda existentes nesse processo evolutivo de valorização dos
componentes comportamentais presentes no palco das negociações e das decisões.
Tendo-se como campo de observação e insumo para as reflexões teóricas o estudo,
balizado pela perspectiva da DCN, centrou-se sua atenção na construção do Marco
Regulatório do Sistema Curema-Açu, localizado nos Estados da Paraíba e do Rio Grande
do Norte, mais precisamente na sua etapa regulatória. Tal escolha deve-se ao fato de tratar-
se de um processo decisório em grupo (ANA, DNOCS e Estados), do qual participam
gestores públicos da área de Recursos Hídricos, tendo sido tratados, aqui, sob a ótica da
dinâmica comportamental da negociação.
O estudo apresenta ainda uma pesquisa comportamental realizada durante a referida
etapa regulatória, destacando as tipologias e as estratégias frente às decisões que foram
tomadas, tendo como lastro os fundamentos teóricos da teoria dos tipos psicológicos
desenvolvidos por Carl Gustav Jung.
Resultante da pesquisa, constatou-se predominantemente, nos atores participantes
do processo, Tipologias Psicológicas Sensoriais “S” (83%) e Pensadores “T” (26%), os
quais, com características marcantes de observar conseqüências lógicas de uma escolha e
buscarem padrões e a aplicação de princípios, foram capazes de produzir um Convênio de
Integração para o Marco Regulatório bastante minucioso, com amplos detalhes técnicos
(incluindo dados) e com dispositivos jurídicos claros e precisos.
Resultante da concepção teórica da “DCN” e, ainda, como produto deste trabalho,
desenvolveu-se o sistema computacional Dealer, com direcionamento genérico, para ser
executado em computador de mão (PocketPC) que, correlacionando tipos psicológicos e
17
estratégias de engajamento, através de um algorítmo associado a uma base de
conhecimento, possibilita ao mediador antever os cenários prováveis de uma negociação
ocorrente, bem como determinar quais perfis e grupos são dominantes em um processo em
observação.
Por fim, apresentam-se evidências de adequação da DCN no Contexto do Marco
Regulatório - Saída Real (desfecho de reuniões de negociações do Marco Regulatório) e
observa coerência no Cenário Virtual, apresentado pela ferramenta Dealer, que é
alimentada com os dados do contexto observado.
Palavras-chaves:
Recursos Hídricos; Conflitos; Negociação; Decisão; Comportamento.
18
ABSTRACT
The scope of this thesis consists in the proposition of a behavioral-analytical
conceptual model, based on the correlation of psychological types and commitment
strategies during the negotiation processes, denominated “Negotiation Behavioral Dynamics”
(DCN).
When articulating the contexts which shape the conflict resolution — through a
systemic vision of the behavioral/typological as well as commitment attributes — DCN
provides elements to the construction of concepts in superior levels which occupy existing
gaps in this evolving process of highlighting the behavioral components present at the
negotiation and decision scenery.
The study was based on DCN perspective and focused on the Legal References of
the Curema-Açu System, more precisely on its legal normative stage, being it the field of
observation and input for theoretical reflections. Such choice is explained by the fact that it
was a group decision process (ANA, DNOCS, Paraíba and Rio Grande do Norte States), of
which participated Water Resources public officials. For this thesis, this process was
observed from the Negotiation Behavioral Dynamics perspective.
This study still presents a behavioral research carried out during the regulation stage,
drawing attention to the psychological types and strategies in relation to the decisions that
were made, based on the theoretical fundaments of the theory of psychological types
developed by Carl Gustav Jung.
Among the process actors, the research evidenced predominantly two Psychological
Typologies, namely Sensation “S” (83%) and Thinking “T” (26%), which — with outstanding
characteristics to observe logical consequences of a choice and to search patterns and
application of principles — were capable of producing a very detailed Accord of Integration
for the Legal References, with many technical details (including data) and with clear and
precise legal mechanism.
Resultant of DCN’s theoretical conception and still as a product of this thesis, the
Dealer system was developed to be executed in palm tops (Pocket PC), which — correlating
psychological types and commitment strategies through an algorithm associated to a
knowledge base — enables the mediator to foresee probable sceneries for an ongoing
19
negotiation, as well as determine which profiles and groups are dominant in a process under
observation.
Eventually, the thesis presents evidence of adequacy of the DCN to the Context of
Legal References — Real Outcome, that is, the outcome of negotiation meetings — and
observes coherence in the Virtual Scenery, presented by the Dealer tool when fed in with the
observed context data.
Key words:
Water Resources; Conflict; Negotiation; Decision-making; Behavior
20
CAPÍTULO I
1. INTRODUÇÃO
1.1 Formulação da situação problema
Nos últimos anos, tem-se observado um significativo esforço e devido engajamento
relativos ao aproveitamento dos recursos naturais com destaque aos recursos hídricos,
sobretudo nas áreas institucionais e gerenciais, evidenciados mediante uma série de leis
pertinentes, seguidas de iniciativas para a implantação de instrumentos de gestão.
São, também, constatáveis e crescentes os conflitos resultantes da disputa pela
água, o que pressupõe elevada capacidade de negociação entre as partes interessadas e
mediadoras deste bem público tão vulnerável.
Oportuno observar que a questão da gestão de recursos hídricos abrange política,
planejamento e gerenciamento, e seu processo decisório dá-se, no caso brasileiro, de forma
participativa e descentralizada. Na esfera governamental, é implementada através dos
órgãos gestores estaduais, conselhos nacional e estadual de recursos hídricos, comitês de
bacias hidrográficas, agências de bacias e Ministério Público; na sociedade civil, através de
associações comunitárias, associações de usuários de água, instituições de ensino superior,
organizações técnico-científicas (CREA, ABRH, ABES etc), ONG’s, entre outros.
Nessa linha, a Política Nacional de Recursos Hídricos tem seus fundamentos legais
postos na Lei Federal nº 9.433 / 1997 e na Lei Federal nº 9.984 / 2000. Trata-se de um
marco legal inovador, no que tange à organização do setor de planejamento e gestão dos
recursos hídricos, no contexto nacional e estadual, e demasiadamente rico, em termos de
participação dos atores envolvidos na questão.
Pereira (2003) destaca que:
De fato, o arcabouço institucional atualmente existente no país, a partir,
sobretudo, da instalação da Agência Nacional de Águas e dos Comitês de
Bacias, juntamente com os instrumentos de gestão de recursos hídricos,
legalmente definidos (Lei Federal nº 9.433), propiciaram as condições ideais
para a governabilidade dos recursos hídricos no Brasil. Esse novo desenho
institucional, que está disponível à sociedade brasileira, baseia-se numa
estreita parceira entre o Estado e a Sociedade Civil, o que requer a
21
construção de grandes acordos sociais, a partir de consensos sobre as
bases da política de recursos hídricos existente, tendo em vista os
requisitos e as exigências institucionais e técnicas para o funcionamento do
Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos (p.8).
Vale asseverar os princípios sobre os quais se fundamenta a Política Nacional de
Recursos Hídricos, os quais podem ser sintetizados da seguinte forma:
Reconhecimento da água como um bem público, não-substituível e vulnerável,
dotado de valor econômico;
Necessidade do uso múltiplo das águas: gestão integrada;
Prioridade do uso dos recursos hídricos em situação de escassez: consumo
humano e dessedentação de animais;
Adoção da bacia hidrográfica como unidade territorial de planejamento e gestão
das águas: gestão descentralizada;
Com destaque, a participação dos diferentes setores do poder público, dos
usuários e da sociedade civil, no processo de negociação e tomada de decisão:
gestão participativa.
Na visão de Campos (2003), as políticas de recursos hídricos devem respeitar as
peculiaridades locais. Destaca no caso brasileiro que:
[...] há estabelecidas várias políticas de recursos hídricos estaduais e uma
Política Nacional. A Política Nacional deve, ou deveria, ser suficientemente
geral para abrigar os aspectos que podem ser aplicados a todos estados. As
políticas estaduais devem respeitar a Política Nacional e inserir suas
particularidades. Devem ainda, por consistência com o princípio da
descentralização, deixar para os comitês de bacias as questões particulares e
de interesse das diferentes bacias hidrográficas. Não se pode esquecer que o
Brasil é um país imenso e que nele existem realidades bem distintas nos
aspectos hidrológicos, culturais e econômicos (p.25-26).
Oportuno, ainda, destacar que as leis estaduais trazem similitudes de princípios à Lei
Federal e que os instrumentos de gestão por ela instituídos são balizadores da intervenção
pública no âmbito da gestão de recursos hídricos nos Estados.
Diante desse contexto, é desafio significativo a adoção de estratégias e capacidades
para operacionalizar a aplicação dos princípios, conceitos e, sobretudo, dos instrumentos
presentes na lei federal e nas respectivas leis estaduais, em face da nebulosidade e dos
sombreamentos de atribuições ainda existentes entre os agentes participantes do setor, em
que pese a nova formatação orgânica proposta.
22
Ante o exposto, é fácil perceber, nesse contexto, que, à medida que as demandas
por água crescem acirram-se os conflitos pela disputa deste recurso, trazendo como
conseqüência novos atores ao palco decisório de origens e interesses distintos. É oportuno,
também, ressaltar que a tomada de decisão em recursos hídricos deve considerar os
aspectos ambientais, hidrológicos, econômicos, culturais, políticos e sociais qualificados,
sobretudo como mutáveis no tempo e associados a incertezas de difícil quantificação, o que
requer elevada capacidade de negociação dos agentes envolvidos.
Paralelamente a esse contexto e observando-se os chamados Sistemas de Apoio à
Decisão utilizados na gestão de recursos hídricos, nota-se que estes já estão consolidados
e difundidos, entretanto, e, de forma individualizada, é bastante comum a modelagem sob a
perspectiva de apenas um decisor.
Oportuno ressaltar que os sistemas de apoio à decisão, de forma geral, tiveram
origem na Pesquisa Operacional, em que o paradigma dominante até o início da década de
70 possuía, segundo Rsenhead (apud MATZENAUER et al.1989), as seguintes
características:
Formulação do problema em termos de um único objetivo. Caso fosse
reconhecida a existência de múltiplos objetivos, eram traduzidos em uma escala
única;
Necessidade expressiva de dados, gerando problemas de distorções,
indisponibilidades e falta de credibilidade dos dados;
Assumia-se a existência de consenso a priori;
Considerava-se que as pessoas eram passivas frente à decisão;
Suposição de um decisor único com objetivos claros, de onde seria possível
obter ações corretivas diretamente;
Tentativa de abolir incertezas e tomar decisões futuras antecipadamente.
Contrapondo-se a essa limitação, Checkland (apud MATZENAUER et al., 1985)
apresenta um paradigma alternativo, caracterizado por:
Não otimização, ou seja, a procura por soluções alternativas que são aceitáveis
em diferentes dimensões, sem necessidade de trocas (trade-off);
Necessidade reduzida de dados, alcançada através de uma grande integração
entre dados quantitativos e qualitativos com julgamentos subjetivos;
23
Simplicidade e transparência, objetivando tornar claras as situações de conflito;
Consideração de que as pessoas são sujeitos ativos do processo decisório,
Criação de condições que propiciem um planejamento de baixo para cima
(bottom-up);
Aceitação de incertezas, procurando deixar opções em aberto, para garantir
flexibilidade em relação a eventos futuros.
Matzenauer et al. (1985) afirmam, nesse novo contexto, que uma nova forma de
pensar surgiu dentro da própria Pesquisa Operacional, caracterizando-se, principalmente,
por considerar, como já visto, os aspectos qualitativos nas decisões e procurando gerar
métodos para o processo decisório.
Observa-se, então, que essa nova perspectiva procura explorar os elementos
subjetivos na definição dos problemas e utilizá-los de forma completamente partilhada na
busca de seu conhecimento.
Ao afirmar que iniciamos um novo século com um vasto conhecimento sobre como
usar a tecnologia para integrar dados e tomar decisões rotineiras, Bazerman (2004),
contudo, destaca que esse avanço não evoluiu nos aspectos inerentes a valores e a
preferências, quanto a risco, ou seja, naquilo que exige o julgamento humano. Sugere,
portanto, um vasto campo para estudos e pesquisa sobre as influências subjetivas
presentes aos processos de negociação e decisão.
Observa-se, ainda, que são diversos os estudos que propõem conselhos prescritivos
de suporte a negociadores, a exemplo dos desenvolvidos pela escola do pensamento
econômico, mais especificamente, a Teoria dos Jogos, em que são elaborados modelos
matemáticos, para analisar os resultados que surgirão em contextos de decisão, se as
partes agirem racionalmente. Trata-se de modelos prescritivos, pois não incorporam a
irracionalidade/emotividade do decisor. Por outro lado, já se percebe, também, um
movimento emergente focado em uma abordagem descritiva comportamental que defende a
focalização no modo como as pessoas realmente se comportam em oposição àquele como
deveriam se comportar.
Não obstante, constata-se que o GMCR, dentro da Teoria dos Jogos, busca, quando
da análise de sensibilidade, ainda com limitações, é certo, tenta minimizar as questões
focadas na racionalidade absoluta, como preconizado pelos estudos dominantes acerca
desse fundamento teórico.
24
Na linha da argumentação teórica da tese, é oportuno salientar que há um contexto
pouco racional, no que se refere aos processos internos de tomada de decisão, sejam eles
individuais ou em grupo. Mesmo quando se dispõe de conselhos racionais, os vieses
comportamentais podem induzir a mudanças, ainda não muito claras, quanto às opções
escolhidas.
O estudo ora apresentado centra-se na proposição de um modelo conceitual para a
dinâmica comportamental da negociação ancorado nos aspectos tipológicos –
fundamentados por Carl Gustav Jung – e de engajamento dos atores. Teve com palco de
observação o processo de alocação negociada e regularização dos usos dos recursos
hídricos do Sistema Curema-Açu, inserido na Bacia Hidrográfica do Rio Piranhas–Açu,
situada nos Estados da Paraíba e do Rio Grande do Norte.
A análise desse campo de observação está circunscrita à discussão do modelo de
gestão, disciplinado pelo Marco Regulatório do Sistema Curema-Açu, conduzido por atores
institucionais públicos com prerrogativas decisórias, os quais, ao representar seus Estados e
órgãos, buscam guardar estreita correlação com os interesses dos usuários da base de
consumo.
O contexto da negociação em observação assume contornos exemplares para a
evidência de conflitos e requer dos atores envolvidos uma elevada capacidade de
negociação e tomada de decisão, sendo, portanto, adequado como caso escolhido para
subsidiar o estudo.
Ao contextualizar o tema, encontrou-se um campo fértil para a pesquisa e a
construção de argumentos teóricos, estes ancorados nos aspectos tipológicos e
comportamentais dos atores participantes de processos de negociação e decisão.
1.2 Objetivos
1.2.1 Objetivo Geral
O presente estudo se propôs a prover um modelo baseado em uma configuração
conceitual descritiva comportamental para a negociação de conflitos, através da adição de
25
variáveis subjetivas com foco nos processos humanos internos e de engajamento, visando a
um desenho evolutivo em relação à racionalidade decisória.
Com lastro no perfilamento de tipologias psicológicas e estratégias de engajamento,
a pesquisa buscou mostrar como se estabelecem essas influências na dinâmica da
negociação, de modo que as conclusões possam ser modeladas em sistemas de apoio à
mediação negocial.
A partir de visão teórica, foi delimitado o problema da pesquisa tendo, como
alinhamento estratégico, focado no alcance dos objetivos estabelecidos, os seguintes
aspectos: (a) as tipologias comportamentais dos decisores; (b) as heurísticas nos processos
de negociação e decisão; (c) as abordagens e processos das negociações em Recursos
Hídricos.
1.2.2 Objetivos específicos
Os objetivos específicos foram dispostos sobre três perspectivas:
Conceber conceitualmente, no campo do desenvolvimento teórico, um modelo
descritivo comportamental para a negociação de conflitos, aplicável a recursos
hídricos, e desenvolver, para efeito evolutivo do modelo, um sistema
computacional de apoio à negociação, com vistas a prover estratégias a
mediadores de conflitos;
Identificar, no campo de observação de um processo de negociação em recursos
hídricos, as tipologias psicológicas, estratégias de engajamentos e decisões dos
atores participantes do contexto em observação;
Analisar, no campo da aplicação da teoria, o contexto real das reuniões do Marco
Regulatório do Sistema Curema-Açu, através da adequação das evidências do
modelo conceitual configurado, utilizando-o como referência, para verificar a
consistência dos resultados do sistema de apoio à negociação desenvolvido.
1.3 Organização do Trabalho
26
A tese está estruturada em seis capítulos, além das referências bibliográficas. O
primeiro capítulo apresenta a formulação da situação problema, contextualiza a
problemática da intervenção pública em matéria de recursos hídricos, define objetivo e
delineia o estudo.
O segundo capítulo evolui no quadro teórico, discorrendo sobre a crise e os conflitos
ambientais, levando-os até aos inerentes a recursos hídricos. Além disso, aborda os
fundamentos do conflito, da mediação, da negociação, da decisão e da cognição, bem como
dá ênfase ao processo de tomada de decisão, tipologias e comportamento humano.
O terceiro capítulo apresenta os procedimentos metodológicos utilizados durante o
processo de coleta e construção das argumentações teóricas e conclusões do estudo.
No capítulo quatro, retrata-se o contexto hidrológico e de recursos hídricos da bacia
do Rio Piranhas-Açu, através da caracterização territorial, climatologia, geologia, solos,
vegetação, recursos hídricos superficiais e subterrâneos, aspectos sócio-econômicos e
demandas hídricas, passando pela construção do Marco Regulatório até às discussões
institucionais.
O capítulo quinto apresenta o modelo conceitual da “Dinâmica Comportamental da
Decisão (DCN)” e respectivas argumentações teóricas. Apresenta também o Dealer - uma
ferramenta desenvolvida decorrente da concepção da DCN. No campo da observação,
categoriza as tipologias psicológicas presentes no Marco Regulatório do Sistema Curema-
Açu e suas respectivas influências no processo de negociação e decisão. Por fim, apresenta
evidências de adequação da DCN no Contexto do Marco Regulatório e, fazendo uso da
ferramenta Dealer, estabelece um paralelo dos cenários virtuais (saídas do Dealer) com a
saída real (desfecho das negociações do Marco Regulatório).
Finalmente, têm-se as conclusões, limitações e possibilidades de desenvolvimentos
evolutivos das argumentações defendidas na tese. Apresenta-se, ainda, a bibliografia
referenciada, seguida dos anexos.
27
CAPÍTULO II
2. O QUADRO TEÓRICO
2.1 A crise ambiental
O relatório do ProÁgua (2005) retrata que o semi-árido brasileiro estende-se por uma
área que abrange a maior parte de todos os Estados da Região Nordeste (89,5%), a região
setentrional do Estado de Minas Gerais (10,5 %), ocupando uma área total de 969,589 km
2
.
A área de semi-árido do Brasil teve sua delimitação atualizada em 10 de março de 2005 e
compreende o conjunto de suas unidades geoambientais, onde ocorre vegetação dos
diferentes tipos de caatinga. No semi-árido, as precipitações anuais estão entre 400 e 800
mm, variando, também, as épocas de início e de fim da estação chuvosa. Prevalecem,
entretanto, as chuvas de verão/outono.
A maioria das comunidades rurais dessa região cava cacimbas nos leitos dos rios,
para conseguir uma água barrenta e salobra, pois não dispõe de oferta regular de água de
boa qualidade, devido a só existir um rio, quando há chuvas, e isso quase nunca acontece.
Políticas públicas eficientes que tratem da questão das secas periódicas deveriam
existir de maneira permanente, com a participação efetiva de todos os atores que a
vivenciam ou que dela tratem nas diversas esferas decisórias.
Dos espaços semi-áridos do mundo, considere-se o brasileiro um dos mais
densamente ocupados. Essa condição impõe desafios significativos para sua gestão no
longo prazo (PROÁGUA, op cit.).
Segundo o relatório (PROÁGUA, op cit.) citado, os dois principais desafios do setor
de recursos hídricos no país são: redução da poluição da água nas Regiões Sul e Sudeste e
redução da variabilidade de oferta de água no Nordeste semi-árido.
Não dificilmente se observa nas regiões de semi-árido do Nordeste a situação de
miséria absoluta, agravada pela impossibilidade de cultivo das terras, devido à escassez de
água. Entre as várias necessidades da população, tem-se a água como fonte de
28
atendimento às necessidades primárias, e, no entanto, a mesma dificilmente chega de forma
potável às mãos dos habitantes destas regiões carentes.
Busca-se, portanto, meio para disponibilizar, de forma viável e permanente, a
distribuição das águas, atendendo a uma parte da demanda necessitada, eliminando alguns
dos problemas decorrentes das secas e, desse modo, buscando amenizar a situação
lamentável que o território do semi-árido brasileiro vivencia. São anos de secas periódicas, e
nenhuma solução contínua aplicada.
Em março de 2000, na cidade de Paris, foi aprovada pela UNESCO e divulgada por
The Earth Charter Initiative “A Carta da Terra” que traz como preâmbulo a seguinte reflexão:
Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época
em que a humanidade deve escolher seu futuro. À medida que o mundo
torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao
mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante,
devemos reconhecer que, no meio de uma magnífica diversidade de
culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade
terrestre com um destino comum. Devemos somar forças, para gerar uma
sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos
direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz.
Para chegar a esse propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra,
declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande
comunidade da vida e com as futuras gerações. (p. 1)
Moreira (2001) reporta que o agravamento dos problemas ambientais, decorrentes
da atividade humana, deu-se principalmente a partir da Revolução Industrial, em virtude da
produção em larga escala. A partir de então, o homem começou a produzir freneticamente
e, como conseqüência, a poluir na mesma intensidade.
Ao abordar o tema, Camargo (2003) qualifica o homem como um poderoso agente
de alterações dos ciclos naturais:
As principais conquistas civilizatórias da humanidade introduziram
perturbações no equilíbrio da biosfera, alterando ecossistemas vitais. Em
decorrência, jamais alguma civilização teve, em âmbito planetário, o poder
desestabilizador que a sociedade contemporânea. As mudanças ambientais
em curso estão concentradas em poucas décadas, possuem escopo global
e estão profundamente relacionadas com o comportamento humano. (p.13)
Por décadas, de forma predominante, considerou-se a degradação do meio ambiente
como conseqüência inerente ao desenvolvimento das organizações e ao progresso da
ciência e da sociedade, conforme aponta Cairncross (1992). Estarrecedor é perceber que
29
muitas pessoas ainda acreditam que o crescimento econômico descontrolado possa ser
saudável ao ambiente.
Percebendo a natureza como se possuísse uma elevada capacidade depuradora e
reguladora, sendo-lhe capaz digerir as agressões do homem, Vernier (1994) complementa
dizendo que essa visão de mundo também fantasia as descobertas da ciência como
suficientes para corrigir os eventuais danos da ação do homem.
Estamos, portanto, diante de um conflito provocador de uma crise ecológica
complexa, multidimensional, cujas facetas afetam todos os aspectos da vida humana, ou
seja, uma crise de uma sociedade, não restrita apenas às fragilidades de gerenciamento dos
recursos naturais (CAPRA, 1982; BRUGGER, 1994).
No mesmo balizamento, Hutchison (2000) e Gore (1993) (apud CAMARGO, 2003)
consideram o impasse ambiental como uma crise tripla: ecológica, econômica e de
consciência humana, revelada através de uma crise coletiva de identidade.
Com destaque, também merece ser observado, de forma paralela, que, no século
XX, presenciaram-se grandes transformações de setores da humanidade na percepção,
consciência e relação do homem com a natureza.
2.2 O desafio do desenvolvimento sustentável
Na visão de Leis (1991), o desafio ecológico que enfrenta a humanidade consiste em
encontrar, em um difícil contexto teórico-prático, as respostas que tenham capacidade
efetiva para preservar a biosfera e produzir uma relação sociedade-natureza equilibrada. Ao
longo do discurso teórico, são destacados pensamentos que buscam defender o
desenvolvimento sustentável mediante alternativas e readequações individuais e coletivas
que permitam uma postura sócio-ambiental responsável.
Para The World Wide Fund for Nature (1996), uma sociedade só começará a ser
sustentável, quando:
O estilo de vida humano e a população global não excederem a
capacidade de suporte da terra;
Houver preservação dos processos ecológicos que fazem a terra apta
para a vida;
30
Houver minimização do esgotamento dos recursos naturais não
renováveis;
Houver melhoria na qualidade de vida dos seres humanos. (1996, p. 1)
Schwartzman (2001 apud CAMARGO, 2003) ressalta a magnitude da complexidade
inerente à implementação do desenvolvimento sustentável, através de uma série de
indagações que merecem ser mensuradas, quais sejam:
Quais as necessidades humanas a serem atendidas de fato?
Como limitar o consumo excessivo, sem paralisar a economia e criar
problemas, como, por exemplo, o desemprego?
Quais os verdadeiros limites no uso dos recursos naturais?
Qual a capacidade de suporte da terra?
Qual a capacidade da terra de se regenerar?
Qual a capacidade das pessoas e das sociedades para se adaptarem a
novas realidades e condições do ambiente? (CAMARGO,2003)
Diante do que foi divisado até então, ressalta-se a necessidade de termos uma
compreensão profunda da dinâmica estabelecida na relação homem-natureza, alicerçada
em um princípio inalienável de preservação e de conservação dos recursos naturais. Em
alinhamento igualmente importante, há uma elevada capacidade de superação e resolução
de conflitos, só obtidos mediante decisões analíticas decorrentes de amplos processos de
negociação de interesses.
2.3 Conflitos em recursos naturais: foco nos Recursos Hídricos
Um campo fértil para potenciais e efetivos conflitos pelo uso, frente a uma crescente
escassez da oferta e paralela a uma demanda ascendente mais que proporcional, é
identificado nos múltiplos usos e domínios ocorrentes dos recursos hídricos no planeta.
Destaque-se que o ano de 2003 foi proclamado pela Assembléia Geral da
Organização das Nações Unidas (ONU) como o Ano Internacional da Água Doce, uma
sinalização clara para a grave situação por que passa este recurso no planeta. Tal
propositura objetiva despertar a comunidade internacional para uma crise hídrica que
ameaça tornar-se um dos mais graves problemas que a humanidade terá que enfrentar
neste século.
Como pressuposto fundamental, deve-se construir uma visão baseada na crença de
que a água deve ser protegida, desenvolvida, partilhada e utilizada como um bem comum
31
da humanidade e que a prioridade, portanto, deva garantir que todos tenham acesso a ela
(PETRELLA, 2002).
Estarrecedor é constatar, segundo Petrella op cit., que existe mais de 1,4 bilhão de
pessoas que não têm acesso à água potável, algo equivalente a 140 vezes a população da
Bélgica, a cinco vezes a população dos EUA ou, até de forma mais próxima, a 29 vezes a
população do Nordeste brasileiro.
Diante de tal situação, segundo a UNESCO (1998), projeta-se que, se nada for feito
para reverter a atual situação, teremos, no ano de 2025, sem acesso à água potável, mais
de quatro bilhões de pessoas. Para melhor balizar tal afirmativa, isso representa metade da
atual população mundial.
Petrella (2002) afirma, com muita propriedade, que o problema da água envolve três
situações críticas principais:
1,4 bilhão de pessoas não tem acesso a uma quantidade
suficiente de água potável, e dois bilhões, à água de qualidade
adequada;
A destruição/degradação da água como recurso fundamental
do ecossistema Terra e para a vida humana;
Uma ausência de regulamentos internacionais e de pessoas
que suportem uma política da água que tenha como base a
solidariedade, em uma época de fraquezas estruturais e
defeitos gritantes nas autoridades locais responsáveis pela
água. (2002, p.122-123)
Face ao divisado até então, pode-se afirmar que não são poucos nem menos
importantes os conflitos ocorrentes em recursos naturais nos mais diversos continentes,
conforme exemplificados a seguir (Quadro 1).
32
Quadro 1 Exemplo de conflitos relacionados à água
OBSERVAÇÕES
RIOS / LAGOS
PAÍSES ENVOLVIDOS QUESTÕES
ÁSIA
Brahmaputra,
Ganges, Farakka.
Bangladesh, Índia, Nepal
Depósito aluvial, barragens, enchentes, irrigação,
cotas internacionais
Mekong
Camboja, Laos, Tailândia,
Vietnã
Enchentes, cotas internacionais
ORIENTE MÉDIO
Tigre, Eufrates
Iraque, Síria, Turquia Cotas internacionais, níveis de salinidade
West Bank aqüífero,
Jordão
Israel, Jordânia, Líbano, Síria Desvio de água, cotas internacionais
ÁFRICA
Nilo
Principalmente Egito, Etiópia,
Sudão.
Depósito aluvial, desvio de águas, enchentes,
irrigação, cotas internacionais
EUROPA
Danúbio
Hungria, Eslováquia Poluição industrial
Elba
Alemanha, República Tcheca Poluição industrial, níveis de salinidade
Tejo
Espanha, Portugal Distribuição de água
AMÉRICA
Colorado, Rio
Grande
EUA, México
Poluição química, cotas internacionais, níveis de
salinidade
Grandes Lagos
Canadá, EUA Poluição
Lauca
Bolívia, Chile Barragens, salinidade
Cenepa
Equador, Peru Distribuição de água
Fonte: Adaptado- Fleick H.P., Water in crisis – A guide to the world’s freshwater resources, Nova Iorque; Oxford University
Press, 1993. In Petrella, 2002
Como exemplos de conflitos recentes em países da América do Sul relacionados aos
Recursos Naturais podem ser citados: Bolívia, Cochabamba e Achacachi, com disputas
envolvendo comunidades camponesas; Peru e Argentina, com rebeliões antiprivatistas do
setor de saneamento; Brasil, pela transposição das águas do Rio São Francisco (disputas
políticas e econômicas).
Diante do quadro exposto, percebe-se que o argumento mais difundido, com base na
escassez, dá-nos apenas uma meia visão do atual contexto. Outros fatores merecem
tamanha importância, tais como:
Rivalidade étnica, racial e xenofobia;
Nacionalismos de todos os tipos;
Lutas por hegemonias regionais, políticas, econômicas ou culturais.
33
2.4 Os fundamentos de conflitos
Conflitos existem, quando ocorrem posicionamentos opostos, ou seja,
posicionamentos rivais. Destaque-se que a palavra rival vem do latim rivus (corrente ou
riacho). Um rival, portanto, é alguém que, da margem oposta, usa a mesma fonte de água –
daí a idéia de perigo.
Do latim, conflictu significa embates dos que lutam, desavença, guerra, luta,
combate, luta entre diferentes forças etc. O conflito, então, pode ser devido a necessidades
bastante divergentes das partes envolvidas, podendo estar presentes nos processos (meios)
ou nos resultados.
Oportuno destacar que os processos de negociação têm, na sua base, a existência
de conflitos explícitos ou não, tendo esta um papel determinante na sua resolução.
Hodgson (1996), de forma mais precisa, expõe que, quando se pensa em
negociação, deve-se levar em conta que praticamente todas se iniciam a partir de um
conflito, que dá origem às negociações, podendo ser de diferentes naturezas, a saber:
“Conflitos de interesses;
Conflitos de necessidades;
Conflitos de opiniões”.
Interessante observar que podem ser de natureza totalmente amigável, de tal forma
que nem leve os participantes a pensar em termos de conflito.
Hodgson op cit. afirma, fruto de seus experimentos, que, para que haja conflito, basta
a existência de grupos. Conflitos, com destaque, são visíveis e derivados das relações de
poder econômico, social, étnico, político e cultural.
Em paralelo, como verdadeiras arenas para conflitos individuais ou grupais, em
disputas por recursos geralmente limitados, têm-se, com destaque, as organizações que são
constituídas por um aglomerado de subgrupos e interesses.
Outras causas dos conflitos podem ser as diferenças de personalidade, a existência
de atividades interdependentes no trabalho, metas diferentes, recursos mal compartilhados,
diferenças de informações e percepção etc.
34
De forma oposta, também se pode destacar resultados positivos do conflito. Citados
por Hampton (1991): a expansão do entendimento dos assuntos, a mobilização dos
recursos e energia das partes, os esclarecimentos das soluções competitivas, a busca
criativa de alternativas etc.
Hampton op cit. afirma a existência de quatro modos distintos de administrar
conflitos:
“Acomodação;
Dominação;
Compromisso;
Solução integrativa de problemas”.
Com destaque para a solução integrativa, observa-se que a mesma envolve três
passos:
1. Identificar as considerações básicas ou subjacentes a ambas as partes
envolvidas;
2. Procurar alternativas e identificar suas conseqüências para as duas partes;
3. Identificar a alternativa mais favorável.
Em uma visão mais atualizada, tende-se a dizer que o conflito entre partes pode ser
classificado em duas dimensões: uma distributiva, em que se dividem os resultados entre os
envolvidos, e outra integrativa, em que se procura o melhor para as duas partes.
Ainda que misturando comportamentos com etapas de uma abordagem
metodológica, oito passos são apresentados por Weeks (1992) como essenciais na
resolução de conflitos, quais sejam:
1. Criar uma atmosfera amigável e efetiva;
2. Esclarecer as percepções;
3. Concentrar-se em necessidades individuais e compartilhadas;
4. Construir um poder positivo compartilhado;
5. Olhar para o futuro e, em seguida, aprender com o passado;
6. Gerar opções;
7. Desenvolver degraus;
8. Estabelecer acordos de benefícios mútuos.
35
Concluindo esta seção, torna-se oportuno ressaltar que existem várias outras
maneiras de resolver conflitos, sendo a negociação apenas uma delas. Dependendo da
situação, podem-se citar como alternativas: luta, sorteio, exame, votação, uso de autoridade
etc.
Diante do que foi visto e contextualizando a problemática exposta, a negociação é o
meio mais eficaz para se alcançar a melhor solução para conflitos existentes, visto que, em
recursos naturais e, mais especificamente, em recursos hídricos, é amplo o debate de
idéias, necessitando de soluções com grau elevado de participação e comprometimentos
dos atores envolvidos.
2.5 A modelagem do conflito
A busca de soluções negociadas calcadas, sobretudo, na dimensão integrativa
requer um enfoque na solução de problemas, sejam estes situações atuais não desejadas
ou situações futuras esperadas.
Para entender um problema, temos que tentar, ao menos, algumas soluções mais
óbvias e descobrir que elas falham, então, redescobrimos que existem dificuldades – um
problema.
Um problema é, portanto, uma dificuldade que impede que vontades sejam
concretizadas. Daí, solucionar problemas – conflitos potenciais e/ou efetivos – exige a
capacidade de criar adequadas representações da realidade (modelos) e, com ajuda delas,
encontrar um algoritmo de solução que explique como remover ou superar tal dificuldade.
Solucionar problemas é, portanto, uma arte de criar ou escolher modelos, transmiti-
los e, com eles, construir algoritmos que funcionem na prática e sejam ágeis, de forma
suficiente, para ainda encontrarem o problema, quando oferecerem a solução ao conflito
existente.
Pode-se dizer que os modelos são representações simplificadas da realidade que
preservam, para determinadas situações e enfoques, uma equivalência adequada.
36
Classificando-os, tem-se:
Figura 1 – Classificação dos modelos
Fonte: Goldgarg & Luna (2000).
De forma esquemática, pode-se apresentar a modelagem seguindo o exposto
abaixo:
Definição do Problema
Formulação e Construção
do Modelo Inicial
Validação do Modelo
Reformulação do Modelo
Aplicação do Modelo
Simulação do Modelo
Figura 2 – Esquema de modelagem
Fonte: Goldgarg & Luna (2000).
Modelos
Físicos
Geométricos
Matemáticos
Lógicos
Esquemáticos
Concretos
Abstratos
37
De forma mais detalhada, Christofoletti (2000) apresenta as etapas relacionadas à
modelagem, seguindo o procedimento guia:
“Objetivos:
o Qual o sistema a ser modelado?
o Quais as principais questões a serem focalizadas pelo modelo?
o Qual a regra para finalizar a atividade da modelagem?
o Como os produtos do modelo serão analisados e utilizados?
Hipóteses: Trasladar os objetivos e o conhecimento disponível em enunciados de
hipóteses;
Formulação matemática: Essa etapa requer que as formulações e os conceitos
sejam definidos sob o critério da precisão e do rigor matemático;
Verificação: Consiste em atividades para verificar a precisão dos enunciados e
das equações propostas;
Calibragem: A calibragem do modelo consiste em estabelecer parâmetros para
as entradas e as condições internas do sistema, a fim de se verificar a
adequação das respostas;
Análise e avaliação do modelo: Essa fase corresponde à execução do projeto.
Depois de calibrado, pode-se utilizá-lo para produzir as respostas desejadas nos
objetivos que foram postos.”.
Na modelagem dita, alguns hiatos podem ser encontrados e merecem atenção
especial, quando da formulação do modelo, os quais são:
Hiato Lógico, ou seja, a diferença entre o problema real e o modelo lógico
concebido;
Hiato ferramental que nada mais é que a diferença entre o modelo lógico
concebido e o modelo computacional.
38
Figura 3 – Hiatos da modelagem
Fonte: Goldgarg & Luna (2000).
Oportuno destacar que modelos quantitativos não tomam as decisões, mas
certamente as tornam muito mais claras e fáceis, possibilitando solucionar conflitos
existentes.
Resumidamente, diz-se que a modelagem é a fase de estruturação do conflito,
quando são determinados os atores, suas opções, os estados (resultados), as preferências
relativas para cada estado que o conflito pode assumir e a análise, quando é calculada a
estabilidade de cada estado.
Por fim, torna-se oportuno também, particularmente, ressaltar que o mundo dos
conflitos está longe de ser uma realidade binária (lógica matemática), um grande número de
variáveis e situações imponderáveis serão estrangulamentos, muitas vezes, insuperáveis.
2.6 A Mediação e o papel do mediador de conflitos
A mediação é uma arte e uma ciência, ao mesmo tempo. Por conseguinte, existem
diferentes modos de ensino. Algumas técnicas básicas podem ser ensinadas, mas o
domínio completo do processo de mediação só pode ocorrer com a experiência adquirida
numa situação real de controvérsia. Em virtude das qualidades dinâmicas da mediação, é
óbvio que o processo está ligado às características específicas de uma dada situação,
sendo adaptável às necessidades das partes envolvidas (WAGNER, 2005).
Para Wagner op.cit., a resolução de conflitos abrange uma variedade de técnicas
que podem ser colocadas numa escala que começa com as menos intervencionistas até as
mais intervencionistas. Entre a forma menos e mais intervencionista, existem outros
39
processos que oferecem meios para a resolução de conflitos. Eis os procedimentos
simplificados, segundo o autor em referência (partindo do menos ao mais intervencionista):
o Facilitação: é a gestão de processos que permitem a discussão e a livre troca de
idéias. Em especial, a facilitação consiste em promover um intercâmbio entre as
partes de maneira tal, que possam ouvir e compreender os respectivos pontos de
vista;
o Negociação: é o processo que visa à obtenção de um acordo em relação a uma
questão de interesse comum para as partes;
o Parecer neutro: é como a mediação, mas a parte neutra é uma especialista na
matéria que sugere às partes sobre como poderia ser decidida, caso fosse ajuizada
a ação. Uma vez dado o parecer, as partes prosseguem com a negociação com ou
sem o especialista;
o Mediação: é a forma clássica de resolução de conflitos. Nesta, as partes detêm o
poder de decisão. As partes elaboram o acordo com a assistência de um terceiro, o
qual possui a formação específica para apoiar as partes na resolução do conflito e é
tido como autônomo pelas próprias partes. O terceiro é neutro, no que diz respeito
ao resultado;
o Procedimento sumário: combina a negociação com a adjudicação, em que os
advogados apresentam a causa a representantes das partes e a uma terceira parte
neutra. Em seguida, as partes negociam com a assistência da terceira parte neutra,
cuja função é a de auxiliar as partes na resolução da controvérsia;
o Arbitragem: é análoga ao procedimento anterior, mas as regras sobre as provas não
são muito rigorosas, e o procedimento é menos formalizado e mais breve. A decisão
do árbitro pode ser vinculante ou não, dependendo do acordo entre as partes.
Entende-se que mediação é o mais conhecido tipo de processo alternativo de
resolução de conflitos, pois: (i) Dá às partes um maior controle em relação à decisão a ser
tomada; (ii) O processo é menos formal, menos oneroso e de breve duração.
Nas reflexões de Wagner op.cit., encontram-se destaques para: 1. Como se
processam o sistema da mediação; 2. Diretrizes para quando usar apropriadamente a
mediação; 3. O modo de intervenção; 4. Fases para se criar confiança; 5. Os objetivos
fundamentais da mediação.
Com o sistema da mediação(1): (i) Satisfazem-se as partes; (ii) Surgem geralmente
soluções inovadoras; (iii) As partes geralmente se sentem melhor em relação à outra; (iv) As
40
partes detêm controle do processo de resolução; (v) Os interesses das partes são mais bem
tutelados.
Do mesmo modo que é importante saber o que é a mediação, é também importante
saber quando é apropriado usar a mediação (2). Eis algumas diretrizes: (i) Algumas relações
estão em tensão, mas devem continuar; (ii) A má comunicação é evidente, e a parte neutra
deve facilitar uma comunicação mais clara; (iii) A presença do terceiro, neutro, poderia
alterar a dinâmica; (iii) As partes demonstram a intenção de resolver ou rever as suas
posições. (iv) As partes estão interessadas em manter o controle do resultado. (v) Existe
tempo para alcançar uma solução através da mediação.
A mediação pode ser definida de dois modos (3): (i) A intervenção por parte de um
terceiro neutro que visa a facilitar o processo de negociação; (ii) O processo pelo qual um
terceiro imparcial presta assistência às duas partes em conflito na procura de uma solução
mútua adequada para a controvérsia, em caráter voluntário e confidencial.
No que trata ao processo da mediação em geral (4), a mediação segue uma série de
fases que visam a criar a confiança mútua, explorar questões e interesses comuns e
procurar soluções criativas. Todavia, não existe uma fórmula rígida aplicável para todos os
casos. O papel do mediador é o de auxiliar as partes, não é o de fazer juízos de valor ou
decidir quem tem razão.
Os acordos firmados pelas partes são legalmente vinculantes, como qualquer outro
contrato. Via de regra, estes acordos são cumpridos mais freqüentemente do que as
decisões judiciais impostas pelos Tribunais ou por um árbitro, pois as partes foram
envolvidas no processo de resolução.
Uma das atividades mais importantes para o mediador é a criação da confiança
mútua. Muitas vezes, as partes recorrem à mediação, quando já não mais existe confiança.
Para poder levar as partes à mediação e ajudá-las a trabalhar juntas e com sucesso na
resolução de diversas questões, o mediador deve, imediatamente e de maneira decisiva,
gerar e manter a confiança entre elas.
A confiança começa exatamente com o mediador em si. Se as partes confiam no
mediador, elas podem ter confiança no processo. Essa confiança é depois transferida no
acordo firmado no final de tal processo que será considerado justo e, por conseguinte, será
cumprido.
41
Os objetivos fundamentais da mediação (5) são os seguintes: (i) Desabafar a tensão
e reduzir hostilidades; (ii) Eliminar incompreensões; (iii) Facilitar a comunicação entre as
partes; (iv) Determinar interesses e preocupações subjacentes; (v) Procurar áreas
comuns/interesses mútuos; (vi) Incorporar tais áreas nas soluções que as partes
encontrarem.
Na linha dessa argumentação para Ribeiro (2005), o mediador deve ser capaz de
responder às expectativas das partes através do conhecimento das técnicas do processo de
mediação, da habilidade de se relacionar com as pessoas, sabendo escutar, entender e
transmitir os anseios, critérios e juízos de valores de outras pessoas, ter como foco principal
o interesse no bem-estar das partes. Deve, também, ser imparcial e flexível, além disso, é
importante saber interpretar as linguagens não verbais e mudar o rumo da discussão,
quando a mesma não estiver sendo proveitosa.
Não cabe ao mediador fazer juízo de valor sobre a negociação, mas é importante
que ele promova o equilíbrio de poder entre as partes, abrindo a possibilidade de
negociação e estabelecendo um tom de harmonia de forma aberta e positiva. Faz parte,
também, do papel do mediador, quando necessário, estabelecer conversa em separado com
cada uma das partes, para esclarecer pontos importantes do processo.
Continua Ribeiro dizendo que todos estes aspectos são de suma importância, mas é
necessário ressaltar que cabe ao mediador, antes de tudo, usar habilidade, para preparar
psicologicamente os participantes da negociação, construindo um ambiente cooperativo,
com base na confiança e no esforço mútuo.
Em paralelo, ao abordar ética e mediação, aspectos tão importantes quanto os
anteriores, Azevedo (2002) destaca como questões fundamentais:
o Os conflitos de interesses. O mediador deve (i) antecipar às partes tudo o
que puder causar qualquer aparente conflito de interesses, mesmo durante o
curso do processo, por exemplo: anteriores relações profissionais entre o
mediador e qualquer participante do processo ou quaisquer interesses
financeiros que possam vir a ter relação, mesmo que indireta, com o caso. O
mediador (ii) não deve prosseguir, se ele ou qualquer das partes tiver qualquer
dúvida sobre algum eventual interesse que possa ser conflitante com os dos
participantes; e (iii) não deve se aproximar de qualquer das partes, mesmo
depois do fim do processo.
42
o O impasse. O mediador deve (i) suspender ou mesmo terminar o processo, se
perceber que qualquer das partes não demonstra disposição para participar de
uma mediação produtiva, porque o processo é das partes, e forçar um acordo
pode aumentar, ainda mais, a indisposição das partes. De qualquer forma, o
mediador deve (ii) esgotar as possibilidades de uma mediação, e, se atingido o
impasse final, ele deve (iii) sugerir outro meio de resolver da disputa.
o A conclusão do processo. O mediador deve (i) assegurar que o estabelecido
não seja violado. Esse é o seu papel, pois o processo é das partes, bem como
as decisões quanto aos termos do acordo. Se esse for parcial, o mediador deve
(ii) trabalhar, para que o ainda controverso seja resolvido de outra forma.
Finalmente, o mediador deve (iii) redigir o acordo e incluir nele os termos de
sua implementação, lembrando que o processo é das partes e (iv) não deve ser
tentado incluir nenhuma nova idéia no acordo, por melhor que ela seja, sob
pena de colocar-se em risco todo o trabalho já realizado.
2.7 A natureza da negociação e seus instrumentos
Ressaltado por Martinelli (2002), é crescente a importância que o tema negociação
vem assumindo hoje, sobretudo, através do conhecimento e da utilização das diversas
classificações de estilos de negociação e dos diferentes perfis dos negociadores como
forma de auxiliar no encaminhamento e na solução dos conflitos.
São várias as definições encontradas na literatura para o termo negociação, com
destaque para:
É um processo de comunicação bilateral, com o objetivo de se chegar a uma
decisão conjunta (FISHER; URY, 1985);
É o processo de comunicação com o propósito de atingir um acordo agradável
sobre diferentes idéias e necessidades (ACUFF, 1993);
É o uso da informação e do poder, com o fim de influenciar o comportamento
dentro de uma rede de tensão (COHEN, 1980);
Depende da comunicação, pois ela ocorre entre indivíduos que agem por si
mesmos, bem como entre representantes de grupos organizados. Trata-se de um
elemento do comportamento humano (NIERENBERG, 1981);
43
É o processo através do qual as partes se movem das suas posições iniciais
divergentes até um ponto em que o acordo pode ser obtido (STEELE et al.,
1995).
Em uma breve revisão sobre o contorno das abordagens, encontramos a negociação
defendida por Cohen (1980) e Steele et al. (1995) como o processo de obtenção de
vantagens através do uso da informação, do poder e da barganha no processo. Dando
ênfase à importância da comunicação, há Fisher e Ury (1985); como processo de busca de
interesses comuns e participação, Matos (1989) e Acuff (1993).
Paralelamente, Nierenberg (1993); Gibbons e McGovern (1994) enfatizam o
relacionamento humano e a importância da flexibilidade, respectivamente. Mills (1993) e
Robinson (1996) destacam negociação como um processo contínuo desde o dia em que
nasce.
Conger (2000) apud Watikins (2005) – professor na Harvard Business School e
pesquisador nas áreas de Negociação e Liderança – destaca a persuasão como parte
fundamental de qualquer negociação e referencia quatro aspectos básicos: 1)
estabelecimento de credibilidade; 2) detecção de aspectos comuns; 3) fornecimento de
dados conclusivos para embasar sua posição e 4) vínculo emocional. Watikins op cit.
destaca ainda a publicação da Harvard Business Scholl Publishing. “How to what you want”.
Harvard Management Communication Letter, março 2000. Diz a publicação que se deve
começar averiguando como se pode beneficiar ou prejudicar seus concorrentes e como
estes, por sua vez, podem ajudá-lo ou prejudicá-lo, ou seja, conhecer as características e as
estratégias suas e da outra parte.
Um outro aspecto interessante diz respeito aos elementos sutis e não ditos dos
processos de negociação que podem dar o tom de qualquer negociação (KOLB et al. 2001).
Os autores apresentam três tipos de estratégias para ter êxito nas negociações: 1) jogadas
de poder mostram à outra parte que é interessante para ela negociar com você; 2) jogadas
de processo influenciam o modo como os outros enxergam a negociação e 3) jogadas
apreciativas alteram o tom da interação, de modo que as partes possam fazer um
intercâmbio mais colaborativo.
Hodsgson (1996) aponta a negociação como instrumento de satisfação das
necessidades. Lewicki et al. (1996) apresenta, em uma visão, negociação estratégica, e
Bazerman (2004) destaca elementos cognitivos e vieses comportamentais do negociador.
44
Lewicki et al. (2002) realçam que o planejamento e a estratégia eficiente são os
precursores mais importantes para se alcançar os objetivos em uma negociação. Com o
planejamento e o estabelecimento de alvos efetivos, a maior parte dos negociadores pode
alcançar seus objetivos, sem os quais os resultados ocorrem mais por acaso que pelo
esforço do negociador.
Um aspecto de imperiosa importância na compreensão do contexto de uma
negociação diz respeito ao enquadramento, que é entendido como o meio pelo qual as
partes, em uma negociação, definem o problema. Comumente, as partes, em uma mesma
situação, vêem-no ou o definem de maneira diferente.
Em paralelo, torna-se importante entender que os enquadramentos não são simples
características de cognição individual dos atores do processo, mas são construídos
conforme as partes definem o problema e os cursos de ação durante uma negociação.
Podem ser, portanto, dinâmicos. Dentre os vários autores que classificam enquadramentos,
destaca-se a categorização adotada por Lewicki et al. (2002):
a) Enquadramento como heurísticas cognitivas: Entendido como um mecanismo
através do qual um indivíduo tanto pensa sobre os riscos associados a um problema,
quanto emprega determinada heurística cognitiva (regras simples de decisão), não
necessariamente para tomar a melhor decisão, mas para tomar uma decisão que irá
simplesmente satisfazer (ser aceitável e razoável). É caracterizada como estática.
b) Enquadramento como categorias de experiência: Entendido como uma definição
individualizada de uma situação baseada em uma interação entre experiências
passadas e conhecimento e a situação existente, ou melhor, decorrente da sua
formação, treinamento profissional ou experiências passadas.
c) Enquadramento como desenvolvimento da questão: Parecida com a anterior,
entretanto essa abordagem enfoca os padrões de mudança (transformação) que
ocorrem, quando as partes se comunicam no processo. Não são simples
características de cognição individual, são construídos, conforme os negociadores
definem o problema e os cursos de ação conjuntamente durante a
discussão/conversa.
45
2.8 O processo de tomada de decisão gerencial
A dinâmica corporativa naturalmente propõe problemas, e, para cada problema,
existem várias alternativas de solução. Bazerman (2004) apresenta seis etapas que podem
ser seguidas, implícita ou explicitamente, ao aplicar um processo “racional” de tomada de
decisão a cada situação. Isto é, subtende-se que os tomadores de decisões (1) definem o
problema perfeitamente, (2) identificam todos os critérios, (3) ponderam acuradamente todos
os critérios segundo suas preferências, (4) conhecem todas as alternativas relevantes, (5)
avaliam detalhadamente cada alternativa com base em cada critério e (6) calculam as
alternativas com precisão e escolhem a de melhor valor percebido.
Não há nada especial nessas etapas, pois não são poucos os estudos em que
diversos pesquisadores especificam etapas diferentes, entretanto que costumam se
sobrepor.
Quando se fala em decisão racional, tem-se como base um modelo constituído por
um conjunto de premissas que determinam como uma decisão deve ser tomada, em vez de
descrever como a decisão é tomada. É processo em que se espera que a decisão leve ao
resultado ótimo.
Observa-se, entretanto, que uma série de circunstâncias que estão na órbita do
decisor – a exemplo de falta de informações importantes para a resolução do problema,
restrições quanto ao tempo, às limitações de inteligência e às percepções – impedem-no de
tomar decisões ótimas que o modelo pressupõe.
Bazerman op cit. afirma que o campo da tomada de decisões pode ser dividido não
muito rigorosamente em duas partes: (1) o estudo dos modelos prescritivos e (2) o estudo
dos modelos descritivos. Os cientistas da decisão prescritiva desenvolvem métodos para
tomar decisões ótimas. Por exemplo, poderiam sugerir um modelo matemático para ajudar
um tomador de decisões a agir mais racionalmente. Os pesquisadores da decisão descritiva
consideram os modos interligados como as decisões realmente são tomadas.
Pesquisadores descobriram que as pessoas se fiam em diversas estratégias
simplificadoras ou regras práticas, ao tomar decisões. Essas estratégias simplificadoras são
chamadas heurísticas, podendo ser definida como “conjunto de regras e métodos que
conduzem à descoberta, à invenção e à resolução de problemas” (AURÉLIO, 1999). Como
as regras-padrão que orientam implicitamente nosso julgamento, a heurística serve de
46
mecanismo para enfrentar o complexo ambiente que cerca nossas decisões. Em geral, elas
são úteis, mas sua utilização, às vezes, pode levar a sérios erros (BAZERMAN op cit.).
Os estudos de Bazerman op cit. defendem três heurísticas gerais: (a) a da
disponibilidade, (b) a da representatividade e (c) a da ancoragem e ajuste. Vejamos:
a) Heurística da disponibilidade: pessoas avaliam a freqüência, a probabilidade ou as
causas prováveis de um evento pelo grau com que exemplos ou ocorrências desse
evento estiverem imediatamente “disponíveis” na memória. Um evento que evoque
emoções e que seja vívido, fácil de imaginar e específico estará mais disponível que
um evento que é de natureza não-emocional, brando, difícil de imaginar ou vago;
b) Heurística da representatividade: ao fazer um julgamento, as pessoas tendem a
procurar peculiaridades que ele possa ter que correspondam a estereótipos
formados anteriormente;
c) Heurística da ancoragem e ajuste: pessoas fazem avaliações partindo de um valor
inicial e ajustando-o até produzir uma decisão final. O valor inicial – ou “âncora” –
pode ser sugerido a partir de antecedentes históricos, pela maneira como um
problema é apresentado ou por informações aleatórias.
Podemos, portanto, imaginar que o hábito poderá nos forçar a adotar um conjunto de
heurísticas difíceis de superar e que impõem restrições às nossas tomadas de decisões.
2.9 Os decisores
Alguns autores (KACPRZYK e NURMI, 1998 apud PRODANOVIC, 2001; LEE, 2002)
sugerem, na modelagem, diferentes níveis de importância dos decisores (a opinião de um
decisor vale mais que a de outro), podendo dar peso maior à preferência de certos
decisores, conforme suas posições na negociação. Em ambientes decisórios como, por
exemplo, o comitê de bacia, todos os decisores têm obrigatoriamente o mesmo peso (voto)
na decisão, mas não se pode deixar de considerar a capacidade de alguns decisores em
interferir no processo e nos posicionamentos de outros.
Quando do julgamento da alternativa, o decisor, isoladamente, é influenciado pelo
atendimento da mesma aos critérios por ele julgados pertinentes, pelos seus próprios
47
interesses (ele pode ser diretamente beneficiado ou prejudicado pela alternativa),
conhecimento, informações, incertezas, riscos, entre outros.
Em outra perspectiva, quando o decisor isolado passa a compor um grupo, a
situação muda, pois suas preferências e opiniões que antes eram individuais, agora, serão
aglutinadas às preferências de outros decisores para a formação de uma preferência única
representativa do grupo, a qual deve ser fruto da negociação entre os decisores.
Pode-se dizer, então, que o processo decisório em grupo ocorre nas seguintes
situações:
a) Os decisores estão em uma mesma localidade geográfica (“face a face”): as
preferências são expressas conjuntamente durante a negociação, e a decisão é
tomada (ANSON e JELASSI, 1990; THIESSEN et al., 1998);
b) Os decisores estão em diversas localidades geográficas: as preferências dos
decisores são tomadas individualmente e posteriormente agregadas em uma única
decisão (KACPRZYK et al., 1992; BARDOSSY et al., 1993; HSU e CHEN, 1996;
KWOK, 2002);
c) Os decisores estão em diversas localidades geográficas, mas associados: nesse
sentido, ferramentas como a Internet e a vídeo-conferência vêm possibilitando a
associação de decisores distribuídos em diversas localidades geográficas. Esta
associação é denominada, por SHIM et al. (2002), de “grupo virtual” (HIGHTOWER
e SAYEED, 1995; LIU e STEWART, 2004; CIL et al., 2005).
Devido à comunicação, no “grupo virtual”, ser menos eficiente que no grupo “face a
face”, os participantes “virtuais” tendem a ser mais voltados ao cumprimento objetivo da
tarefa decisória a eles alocada e a trocar menos informação sócio-emocional, retardando o
desenvolvimento das ligações relacionais (CHIDAMBARAM, 1996).
A tomada de decisão em grupo “face a face” atinge níveis mais elevados de
satisfação devido à maior interação de que a “virtual”. Conseqüentemente, já que os grupos
virtuais estão se transformando em uma ferramenta necessária, as organizações devem se
esforçar para melhorar o nível da satisfação dos decisores no uso dos Sistemas de Apoio à
Decisão em Grupo (SADG) para negociação (WARKENTIN et al., 1997, apud SHIM et al.,
2002).
48
2.10 Tomada de decisão e comportamento humano
Autores como Chi e Fan (1997), Grover, Fiedler e Teng (1999) e Wu (2003), Enns,
Huff e Golden (2003) são enfáticos, ao retratar a defesa da influência comportamental nos
processos de tomada de decisão. De forma semelhante, encontra-se a mesma defesa,
sobretudo no que diz respeito à questão da intervenção humana, da racionalidade e do tipo
de comunicação nos estudos de Ranganathan e Sethi (2002), Yi e Davis, (2001), Zhuge
(2003), Nakayama (2003).
Stefano (2001) pontua que as pessoas são, por essência, diferentes, relacionam-se e
interagem com interpretações próprias dos fenômenos e das estratégias e que, no nível
organizacional, tomam decisões e utilizam recursos na busca de objetivos individuais e
organizacionais.
Observa-se, ainda, que estudos e tendências são apresentados pela escola cognitiva
dirigida à tomada de decisões corporativas, objetivando compreender a estratégia do
decisor que dá origem às suas motivações. Nesse oriente, Hayes e Allinson (1994) nos
ensinam que a cognição está relacionada à forma como as pessoas adquirem, armazenam
e usam o conhecimento, diferenciando-se do estilo cognitivo que significa diferenças no
processamento de informações.
Ao abordar o estudo do comportamento organizacional na direção de uma
perspectiva mais cognitiva, Tenbrunsel et al (1998) nos afirmam que é necessário esse
entendimento, para visualizar-se o comportamento decisório e vice-versa, destacando,
ainda, que as negociações têm sido dominadas por uma orientação cognitiva.
Destarte, em um ambiente de disputa, não se pode pensar que os indivíduos são
completamente racionais e que não consideram a identidade da outra parte. Os dados e as
informações, indispensáveis ao processo de tomada de decisão, são passíveis à
interferência dos modelos mentais dos indivíduos, devido a sua dispersão e fragmentação
(ANGELONI, 2003). Nesse sentido, Coleman (1988, apud TENBRUNSEL et al., 1998)
argumenta que as relações entre os atores (decisores) influenciam no processo, pois
considera que suas ações são ajustadas, redirecionadas e compelidas por um contexto
social.
49
Paralelamente ao pensamento de Coleman, grandes autores, como Carrol,
Bazerman e Maury (1988, apud THOMPSON e DEHARPORT, 1994), sugerem uma relação
direta entre um julgamento preciso e o comportamento do decisor na negociação. Indivíduos
que fazem julgamento inexato de seu oponente são menos aptos a atingir um entendimento
integrativo. Assim, quanto mais se levar em conta, no processo de negociação, o perfil
comportamental dos decisores, mais próximo se estará da melhor decisão para as partes
envolvidas (THOMPSON e DEHARPORT, 1994).
De forma semelhante, Ackoff (1996), destaca a necessidade do conhecimento dos
perfis psicológicos como forma de prever antecipadamente algumas reações dos
participantes.
Kinston e Algie (1989) através de suas tipologias e tentando analisar como os
diversos perfis psicológicos agem na solução de problemas, procuram caracterizar o tipo de
tratamento a ser dado a cada um desses perfis, de maneira a tornar o relacionamento mais
adequado e a negociação mais efetiva.
Na perspectiva do conhecimento do perfil tipológico, como referência de estudos,
cita-se um dos mais conceituados psiquiatras da história – o suíço Carl Gustav Jung – que
propôs que cada indivíduo desenvolve um tipo psicológico, ou seja, uma maneira própria de
apreender o mundo. Para caracterizar sua tipologia, Jung descreve duas atitudes e quatro
funções da consciência, apresentando como a atitude/comportamento do indivíduo
influencia suas formulações filosóficas, psicológicas, religiosas, estéticas etc. (VARGAS,
2005).
Na linha da classificação tipológica, Pasquali (2003) destaca que essa temática
explodiu entre os psicólogos nos meados do século passado, particularmente na Holanda
(Heymans e Wiersma, com publicações na Revista Zeitschrift für Angewandte Psychologie),
na Alemanha (Spranger que publicou, já em 1914, o Lebensformen, e Klages, 1929) e,
sobretudo, na França (Binet, 1922; Gilliland, 1939; Le Senne, 1963; Breger, 1963; Le Gall,
1964). Contudo, foi a classificação do psiquiatra Jung (1967) que maior reconhecimento teve
até o presente entre os psicólogos. Tais estudos produziram uma grande quantidade de
publicações e instrumentos, entretanto a maior parte destes sendo re-elaborado, sobretudo
do MBTI – Myers-Briggs Type Indicator desenvolvido por Briggs-Myers & Myers (1997) e
derivado dos fundamentos de Jung.
50
Para Parikh (1998), Jung provavelmente vai desempenhar, na esfera empresarial
global do século XXI, o mesmo papel que Smith e Marx desempenharam nos três séculos
anteriores. Segundo este autor, o papel de Jung será o de romper a polaridade no
pensamento político e econômico e de substituí-lo por uma quaternidade (Pensamento –
Intuição – Sentimento – Sensação) em termos psicológicos e culturais, bem como
administrativos e comerciais.
Somando-se aos argumentos teóricos divisados até então, acha-se oportuno
destacar Camerer (2003), ao listar, em seu livro Behavioral Game Theory, aquilo que
chamou de Top Ten Open Research Questions. Segundo este autor, as cinco questões
elencadas inicialmente abaixo são mais conservadoras, tendo em vista que as respostas
fluem rapidamente, entretanto as últimas cinco são mais provocadoras de pesquisas,
conforme se destaca:
1. Como as pessoas avaliam os ganhos dos outros?
2. Como as pessoas aprendem?
3. Como as preferências sociais variam através dos povos e dos
ambientes (culturas)?
4. Que acontece, quando as pessoas se confrontam com "novos"
jogos?
5. Como exatamente as pessoas pensam, quando jogam?
Uma literatura emergente usa uma detalhada medição de
evidências cognitivas, tempos de resposta e atenção aos
lucros em sistemas computacionais, para entender o que as
pessoas estão pensando. Esses dados criam um desafio
econométrico (identificação de regras de decisão
simultaneamente com as escolhas e as medidas cognitivas).
6. Que jogo as pessoas pensam que estão jogando?
A teoria dos mapas de representações mentais é um campo
emergente de investigação que analisa como as pessoas
formam modelos mentais ou percepções dos elementos em
jogo.
7. Podem as experiências estimular projetos de novas
instituições?
8. Como as equipes, os grupos e as empresas jogam?
O fato de que as teorias relacionadas às tomadas de
decisões coletivas não serem sempre bem-desenvolvidas
não deveria inibir novos experimentos.
9. Como as pessoas se comportam em jogos muito complexos?
10. Como as dimensões sócio-cognitivas influenciam o
comportamento em jogos?
Os componentes da teoria de jogos comportamentais foram
cuidadosamente classificados e baseados em evidência e
intuição psicológica. Se novas ferramentas comportamentais
continuarem sendo estudadas com regularidade e
usualmente provadas teoricamente, elas deveriam ganhar
um lugar proeminente nas discussões acadêmicas. Então, o
51
termo comportamental será difundido. E quanto antes
melhor. (CAMERER, 2003).
Como visto, das dez questões apresentadas por Camerer (2003), pelo menos cinco
(05-06-07-08-10) abordam aspectos comportamentais e cognitivos como relevantes à
investigação científica, nos processos de interação de grupos. Foram, portanto,
motivadores, também, dos propósitos defendidos neste estudo, uma vez que se centra a
atenção na observação articulada entre as tipologias comportamentais através de seus
respectivos processos mentais e as estratégias de engajamento presentes na dinâmica da
negociação.
2.11 Os sistemas de apoio à decisão
As últimas décadas viram nascer metodologias de apoio a tomadas de decisões que
apropriam uma variedade de técnicas baseadas na intensa utilização de base de dados e
modelos matemáticos, genericamente chamados por Sistemas de Suporte à Decisão (SSD)
(BRAGA, et al., 1998; GALVÃO, 1999; BAGLIETTO et al., 2001).
Entendido como sistemas baseados em computador, auxilia o processo decisório,
utilizando modelos para resolver problemas não estruturados. O sistema analisa
alternativas, propõe soluções, pesquisa o histórico das decisões tomadas, simula situações
etc., participando diretamente do processo decisório (SPRAGUE, 1991;
LACHTERMACHER, 2002).
Estes Sistemas de Suporte à Decisão não têm a intenção de eliminar o tomador de
decisões, através da absorção de todo o seu conhecimento, mas auxiliá-lo, através da
provisão de informações relevantes, na difícil tarefa de tomar a melhor decisão, não
descartando do mesmo a necessidade de ter capacidade de entender estas informações,
muitas vezes, técnicas (FORTULAN, 2000).
Em geral, na visão de Braga et al. (1998), um sistema de suporte à decisão é
constituído de três componentes: diálogo, dados e modelos. O dialogo é a interface entre o
usuário e o sistema; os dados servem de suporte ao sistema, e os modelos proporcionam os
recursos para análises. A Figura 4 mostra uma representação gráfica das partes
componentes de um SSD.
52
Oportuno ressaltar que, nos dias atuais, raramente, uma decisão é tomada em
função de um único objetivo, sobretudo expresso exclusivamente de forma quantitativa. Vê-
se, através de uma análise multicriterial, que os processos decisórios envolvem vários
objetivos/critérios e múltiplas decisões que, em geral, estabelecem conflitos de interesse
entre os atores do sistema com visões distintas acerca das diretrizes (metas somadas ao
plano de ação) a serem adotadas.
Figura 4 – Componentes de um SSD
Fonte: Braga et al. (1998)
Porto e Azevedo (1997), também, salientam que as últimas décadas viram nascer e
prosperar uma metodologia de auxílio à tomada de decisão baseada na intensa utilização de
base de dados e modelos matemáticos e também na facilidade com que propicia o diálogo
entre o usuário e o computador.
Em uma definição restrita sobre o assunto, Sprague e Carlson (1982), Klein e
Methtlie (1990), Guariso (1984), Turban (1993) entre outros, conceituam os sistemas de
suporte à decisão (SSD) como sistemas computacionais que têm por objetivo ajudar
indivíduos que tomam decisões na solução de problemas não estruturados ou parcialmente
estruturados.
Problemas não estruturados são aqueles para os quais não existe solução através
de algoritmos bem definidos e ocasionam não serem facilmente tratáveis por computador.
Em conseqüência, a solução destes problemas exige uma estreita interação entre o homem
e a máquina, fato que constitui uma das principais características dos SSD. Deve ficar claro,
53
no entanto, que um SSD tem como objetivo apenas auxiliar o homem na tomada de decisão
e não tomar as decisões por ele.
Um sistema de suporte às decisões pode ter objetivo genérico ou específico. O
sistema genérico organiza uma arquitetura com ponto de partida para a solução de diversos
problemas, mas possuindo sempre uma trajetória similar para as soluções pretendidas. O
sistema específico baseia-se nos dados disponíveis, no problema concreto que deve ser
solucionado e nos instrumentos que podem ser utilizados (HAAGSMA, 1996 apud
CHRISTOFOLETTI, 2000).
As características dos modelos de sistemas de suporte à decisão devem refletir as
ajustagens necessárias à dimensão do problema e aos objetivos que se pretende atingir.
Parker e Al-Utabi apud Porto e Azevedo (1997) resumiram como as características
necessárias (ou desejáveis) de um SSD, após revisar 350 publicações sobre o tema, as
seguintes:
Assessorar administradores no processo de tomada de decisão, a
respeito de problemas não estruturados ou semi-estruturados;
Apoiar e aprimorar o julgamento humano e não tentar substituí-lo;
Melhorar a eficácia da decisão ou, em outros termos, dar mais
importância à qualidade da decisão que ao tempo necessário para
encontrá-la;
Combinar o uso de modelos (ou técnicas analíticas) com funções de
acesso a dados;
Enfatizar as características de flexibilidade e adaptabilidade, no que diz
respeito à mudança de contexto do processo decisório;
Enfatizar a facilidade de uso, inclusive por usuários inexperientes ou não
especializados.
Os avanços tecnológicos ocorridos após a pesquisa de Parker e Al-Utabi apud Porto
e Azevedo (1997) propiciaram novas perspectivas, adicionando-se outras características às
já citadas, sendo estas:
Facilitar a interação entre o usuário e o sistema e permitir a busca
de soluções por processos tentativos;
Permitir a incorporação de julgamentos subjetivos;
Incorporar o conhecimento de especialistas;
Incorporar, quando necessário, variáveis de cunho social, político
e psicológico.
54
2.12 Sistemas de apoio à decisão em grupo
Segundo Braga et al. (2005), a tomada de decisão pode ser definida,
simplificadamente, como a escolha entre alternativas, baseada nas avaliações destas,
segundo objetivos pré-definidos pelos decisores. A Figura 5 apresenta um arranjo
esquemático elaborado por Shim et al. (2002) do processo de tomada de decisão utilizando
o apoio dos Sistemas de Apoio à Decisão clássicos. Uma vez reconhecido e definido o
problema, geram-se alternativas genéricas de solução, desenvolvem-se modelos para
analisá-las e, então, dão-se a escolha e a implementação da alternativa (decisão).
Figura 5 – Processo de tomada de decisão com SAD
Fonte: Adaptado de Shim et al., 2002.
O ambiente de tomada de decisão requer uma ampla integração entre os aspectos
ambiental, social e econômico, o qual acarreta um aumento na complexidade do processo
decisório. Tal situação torna cada vez menos possível para um único decisor considerar
todos os aspectos relevantes de um problema. Assim, em muitos processos de tomada de
decisão, este decisor dá lugar a um grupo de decisores.
Nesse sentido, na Figura 6, Braga et al. (2005) apresentam um arranjo esquemático
do processo decisório em grupo, em que a decisão é construída a partir da negociação, esta
fundamentada nas fases de aquisição de conhecimento e simulação do processo, a qual
converge para um consenso entre os participantes do processo. A ausência de consenso
caracteriza a permanência de conflito e impasse, que deve ser solucionada, para que o
grupo tome sua decisão.
55
Figura 6 – Processo de tomada de decisão em grupo
Fonte: Braga, et al. (2005).
O uso de computadores para apoiar a tomada de decisão já é uma prática
consolidada, e os modelos evoluíram, no sentido de se aproximar cada vez mais das
situações do mundo real. A evolução dos Sistemas de Apoio à Decisão até a última década
é apresentada na Figura 7.
Nesse contexto, Mitroff e Linstone (1993 apud Shim et al. 2002) indicam que as
decisões dos gestores requerem uma abordagem ampla, inseridas em ambientes decisórios
cada vez mais globais, complexos e interconectadas, e que se deve incluir os aspectos
cultural, organizacional (institucional), pessoal, ético e estético.
56
Sistema de
Apoio à
Decisão
SAD
1982
Sistema de
Apoio à
Decisão em
Grupo
SADG
1985
SADI
Sistema de
Apoio à
Decisão
Individual
Sistema de
Apoio à
Negociação
SAN
1989
Sistema de
Gerenciamento
da Informação
para
Negociação
SGIN
1990
SPN
Sistema de
Preparação à
Negociação
Sistema de
Apoio ao
Processo de
Negociação
SAPN
1992
SPN
Sistema de
Apoio ao
Contexto de
Negociação
Figura 7 – Evolução dos Sistemas de Apoio à Decisão
Fonte: Thiessen et al., (1998).
Seguindo as idéias de Mitroff e Linstone (1993 apud Shim et al. 2002) e em
contraponto à abordagem clássica da tomada de decisão (Figura 5), Courtney (2001)
apresenta um novo paradigma para esse processo (Figura 8), sugerindo que os
pesquisadores incorporem aos SSD’s uma visão mais compreensiva da base organizacional
da tomada de decisão e que esta seja desenvolvida sob uma perspectiva técnica, pessoal e
organizacional, também. Destaca como ponto central do processo decisório os “modelos
comportamentais”, relacionando aquelas perspectivas do ponto de vista do participante do
processo, de forma a permitir que o problema seja discutido com eles ou a garantir, pelo
menos que todas as variáveis para eles consideradas relevantes sejam incorporadas ao
modelo e levadas em consideração na análise.
Nesse sentido, Shim et al. (2002) e Courtney (2001) indicam que a incorporação de
fatores mais humanísticos e não quantificáveis estende a forma de análise e é necessária
para uma tomada de decisão mais apropriada no futuro.
57
Figura 8 – Um novo paradigma para os SAD’s
Fonte: Adaptado de Courtney, (2001)
O “enquadramento”, como já citado anteriormente, é definido por Lewicki et al. (2002)
como o meio por que os atores, em uma negociação, definem o problema, o que, em geral,
ocorre de forma diferente.
Estes decisores operam em uma “arena” política, e é importante que ferramentas de
modelagem indiquem as questões essenciais nesta “arena” (Loucks, 1992), as quais são
influenciadas pelos objetivos e interesses dos decisores.
2.13 Aplicações em recursos hídricos
Rajasekaram et al. (2003), em pesquisa recente, abordam a questão dos conflitos
sobre água, mediante uma defesa dita sistêmica, centrada em cinco atividades funcionais
orientadas para o processo de resolução de conflito, como sendo: (1) comunicação; (2)
formulação do problema; (3) coleta e geração de informações; (4) compartilhamento de
informações e (5) avaliação das conseqüências. Dando ênfase às disciplinas como Direito,
Economia, Ciência Política, Engenharia, Geografia e teoria dos sistemas, desenvolveram
um Sistema de Suporte à Resolução de Conflitos – CRSS, com atuação no âmbito dos
recursos hídricos, para implementar essa visão sistêmica.
58
Elementos da abordagem sistêmica também são encontrados nos trabalhos de
Bender e Simonovic (1995) e Simonovic e Bender (1996), somando-se a aspectos
colaborativos das partes que aceitam trabalhar juntas, para identificar problemas,
compartilhar informações e, quando possível, desenvolver soluções mutuamente aceitáveis
em processos conflituosos.
Nesse diapasão, Simonovic (1996), ao definir um sistema computadorizado de
suporte à decisão como “uma ferramenta que permite aos decisores “combinar julgamento
pessoal com o resultado fornecido pelo computador”, em uma interface usuário-máquina,
para produzir informações relevantes”, realça, de certa forma, a importância dos aspectos
inerentes ao indivíduo – julgamento – nesse processo.
Em um estudo de caso que tratou do processo de decisão coletiva para a alocação
de água no Vale do Rio Drôme, Barreteau et al. (2003) apresentam como conclusões três
benefícios no uso de modelos como ferramentas de suporte à negociação e à decisão: (1)
As ferramentas de suporte à negociação são relevantes para os riscos da negociação,
através da adaptação à evolução do contexto; (2) Elas alargam o campo de informação das
partes envolvidas, através de pontos de vista variados sobre as dinâmicas do sistema; (3)
Elas revelam tópicos interconectados na discussão que foram previamente mantidos fora do
escopo da discussão, tanto consciente quanto inconscientemente.
Souza Filho (2001) destaca que no campo dos recursos hídricos, as decisões
técnicas e operacionais necessitam de modelos de previsão confiáveis, que proporcionem
respostas rápidas e tenham manuseio amigável. Estes modelos, segundo o autor, devem
levar em conta as condições de ambiência dos hidrosistemas, as restrições e os
condicionamentos de natureza jurídico-administrativa. Diz, ainda, que a Companhia de
Gestão dos Recursos Hídricos do Estado do Ceará vem elaborando um Sistema de Suporte
a Decisão Espacial (SSDE), para apoio ao planejamento operacional de várias bacias
hidrográficas do estado.
Em outra experiência na Bacia do Rio Piranhas-Açu, Silva Rufino (2005) analisa,
através da aplicação do Modelo Grafo para resolução de conflitos (The Graph Model for
Conflict Resolution – GMCR), a disputa pela definição da vazão da divisa entre os Estados
da Paraíba e Rio Grande do Norte, chegando a concluir que é possível, através do GMCR,
simular adequadamente o conflito, fornecendo subsídios importantes à tomada de decisão.
59
Em referência aos modelos, Lund & Palmer (1997) introduzem seu trabalho com uma
citação de Jon Liebman (1976), em que fica claro que, para este, a resolução de conflitos
está dissociada de auxílio eletrônico, ou seja, “(...) resolução de objetivos em conflito é uma
função unicamente humana, podendo, por isso, ser imperfeita e irracional. Nenhum método
de otimização — de fato, nenhum modelo — pode dizer a nenhum tomador de decisões
como avaliar as possibilidades de se conseguir ou conceder vários desejos individuais (ou
um grupo em comum)”.
No entanto, Lund & Palmer (op cit.), ainda concordando que quem resolve conflitos
são pessoas, defendem o fato de que os modelos de suporte à decisão podem contribuir
nesta tarefa. Dizem ainda que devemos alargar as análises dos sistemas, para incluir, nos
contextos de conflitos de recursos hídricos, conceitos da Economia, da Ciência Política e do
Direito, para auxiliar a desenvolver formas para administrar conflitos em recursos hídricos,
entretanto não citam a questão comportamental do decisor para esse propósito.
Na perspectiva dos modelos de suporte à decisão, está o papel de aumentar a
confiança dos tomadores de decisão, no sentido de que as soluções apresentadas
funcionarão como desejadas e as barganhas ficarão próximas àquelas compreendidas,
quando baseadas nos resultados sugeridos pelo modelo (GASS, 1984; LOUCKS, 1990).
Já no final do século passado, Hoch & Schkade (1996) afirmavam que os projetistas
de sistemas de suporte à decisão (DSS) esforçavam-se para incorporar novas tecnologias,
sem prestarem muita atenção se os novos sistemas eram compatíveis com a psicologia dos
tomadores de decisão. A premissa deles é a de que os DSS devem ser elaborados para
absorverem as competências distintas dos tomadores de decisão, enquanto usam a
tecnologia, para compensar as suas fraquezas inerentes.
Em paralelo, autores como Cai & Mckinney (1997), ao abordarem a questão da
negociação de recursos hídricos regionais, trabalharam um modelo multiobjetivo,
estruturando a análise através dos seguintes aspectos: (1) unir todos os negociadores em
torno de uma definição comum do problema, que é fundamental nas negociações; (2)
integrar as expectativas de todos os negociadores em uma formulação analítica, que é vital
para a análise de fatores de negociação entre estes e (3) permitir análises de hipóteses, o
que possibilita que os negociadores entendam mais sobre o problema, saibam mais sobre
os outros negociadores e entendam mais sobre o que eles buscam.
60
Na vertente de realçar os aspectos comportamentais, ainda que em campo distinto,
destaca-se Kersten (2003), ao construir um caso para engenharia de negociação eletrônica.
O autor reconhece que os avanços na pesquisa comportamental, juntamente com a ciência
cognitiva e lingüística computacional, entre outras áreas, permitiu que a riqueza da
negociação pudesse ser equiparada às configurações de modelo complementar. Na linha de
sua argumentação, reconhece que modelos propostos pela psicologia (entre outras áreas)
permitem enriquecer os sistemas de negociação eletrônica e estabelecer alguma forma de
sinergia entre os usuários e o sistema. O autor chama, ainda, atenção para a necessidade
de haver mais pesquisas sobre os papéis que os sistemas têm nas negociações, seu
impacto sobre esses processos e sobre o modelo de comportamento dos participantes.
61
CAPÍTULO III
3. METODOLOGIA DA PESQUISA
O método da pesquisa utilizado é o denominado não experimental. Segundo Cozby
(2003), há duas abordagens gerais para estudar relações entre variáveis, quando se trata de
ciência do comportamento: o método não experimental e o método experimental. Com o
método não experimental, as relações são estudadas por meio de observações ou
mensuração das variáveis de interesse, isto é, o comportamento é observado como ocorre
naturalmente. A segunda abordagem é o chamado método experimental, que envolve
manipulação direta e controle das variáveis. O pesquisador manipula a primeira variável de
interesse e, então, observa a resposta. Com esse método, as duas variáveis não variam
apenas conjuntamente; uma variável é introduzida primeiro, para se verificar se afeta a
segunda variável.
Já segundo Cozby op cit., no método não experimental, as duas variáveis variam
conjuntamente, ou seja, estão relacionadas. Como este método permite-nos observar a
variação conjunta de variáveis, outro termo frequentemente utilizado é o método
correlacional.
Como visto, a parte mais importante da pesquisa não experimental é a observação.
Portanto, a abordagem metodológica aplicada a este estudo se insere nos métodos
classificados de “Observação Sistemática”. Esse tipo de observação permite ao pesquisador
decidir quais são os comportamentos de interesse, escolher um ambiente em que irá
observar esses comportamentos e, mais importante, desenvolver um sistema de
categorização para medir os comportamentos. O pesquisador poderá desenvolver um
sistema próprio ou utilizar sistemas desenvolvidos por outros. A principal vantagem de usar
um sistema de categorização previamente desenvolvido é a existência de um corpo de
pesquisas demonstrando a utilidade do sistema.
A unidade de análise adotada foi o indivíduo e suas discussões no âmbito dos
recursos hídricos, uma vez que o estudo visa a abordar a dinâmica comportamental da
negociação através da correlação entre seu perfil psicológico e as respectivas estratégias de
engajamento em um conflito sobre a água.
62
Como unidade de observação, escolheu-se o processo de alocação negociada da
água, quando das discussões e da elaboração do Marco Regulatório do Sistema Curema–
Açu, situado na Bacia do Rio Piranhas – Açu. Esta bacia encontra-se geograficamente
localizada nos Estados da Paraíba e do Rio Grande do Norte.
Para consecução dos propósitos do Marco, foram criados dois grupos de trabalho,
denominados de Grupo de Articulação Institucional – GAI e Grupo Técnico-Operacional –
GTO, cujos participantes, população-alvo do estudo, eram Secretários de Estado, dirigentes
de órgãos, assessores, engenheiros e técnicos da área de Recursos Hídricos dos Estados
da Paraíba e do Rio Grande do Norte, bem como do Governo Federal, representados pela
Agência Nacional de Águas – ANA e pelo DNOCS.
A condução metodológica adotada no estudo evoluiu através das etapas dispostas
nas três perspectivas abaixo:
a) No campo do desenvolvimento teórico:
Concepção conceitual de um modelo para a Dinâmica Comportamental da
Negociação;
Modelagem conceitual e formulação matemática do modelo desenvolvido;
Desenvolvimento de uma ferramenta para suporte à mediação de conflitos.
b) No campo de observação do contexto:
Catalogação de informações;
Coleta dos dados e requisitos apropriados;
Análise dos dados e da dinâmica dos relacionamentos;
Tratamento integrado dos dados coletados.
c) No campo da aplicação:
Análise e avaliação do modelo conceitual proposto, através da busca de
evidências de adequação ao contexto observado;
Validação da saída virtual (ferramenta desenvolvida) com o resultado real do
Marco Regulatório do Curema-Açu.
63
3.1 Procedimentos metodológicos e operacionais no campo do desenvolvimento
teórico
3.1.1 Estruturação de um modelo conceitual-analítico
Na estruturação do modelo, foram utilizados instrumentos gráficos para possibilitar
uma representação configurada e emoldurada por eventos da realidade objeto de estudo da
tese, cujo propósito foi o de explicar o comportamento de determinadas variáveis deste
campo de observação.
O modelo foi consubstanciado em uma configuração conceitual que considera a
perspectiva dos decisores, levando-se em conta o enquadramento e a correlação entre tipos
psicológicos e estratégias de engajamento. Quando da fundamentação, buscou-se uma
concepção sistêmica do contexto da negociação de conflitos, articulando-se variáveis: a)
macroambientais e organizacionais; b) dos processos mentais dos atores envolvidos e c) de
suas respectivas estratégias de engajamento durante a negociação.
3.1.2 Evolução do modelo conceitual para a ferramenta de suporte à negociação
Christofoletti (2000) defende que a modelagem pode ser considerada com
instrumento entre os procedimentos metodológicos da pesquisa científica. A justificativa
reside no fato de que a construção de modelos a respeito de sistemas representa a
expressão de uma hipótese científica, que necessita ser avaliada como enunciado teórico
sobre o sistema ambiental focalizado. Sob essa perspectiva, a construção de modelos pode
ser considerada como sendo procedimento inerente à pesquisa científica, e a sua
elaboração deve ser realizada acompanhando os critérios e as normas da metodologia
científica.
Quando da modelagem conceitual da “Dinâmica Comportamental da Negociação
(DCN)” e quando do desenvolvimento da ferramenta Dealer (ferramenta de apoio à
mediação de conflitos), optou-se pela UML (Unified Modeling Language) – linguagem visual
para modelar sistemas de software orientados a objetos –, por proporcionar bases sólidas
para a formulação, a análise e a tomada de decisões relativas a processos, sistemas e
conflitos. A modelagem possibilitou:
64
Especificar a estrutura e o comportamento do sistema;
Visualizar o sistema como ele é ou como se deseja que ele seja;
Documentar todas as decisões tomadas no processo de construção.
Os diagramas desenvolvidos foram:
Diagrama de Classe;
Diagrama de Uso de Casos;
Diagrama de Colaboração;
Diagrama de Objetos.
No processo de desenvolvimento do sistema Dealer, foi usada a metodologia XP
(Extreme Programming), baseada em pequenos ciclos de análise e desenvolvimento, em
que durante o processo, são disponibilizados regularmente releases para avaliação.
3.2 Procedimentos metodológicos e operacionais no campo de observação do
contexto
Durante esta etapa, buscou-se o reconhecimento da bacia, o mapeamento dos
enquadramentos, das estratégias de engajamentos e a identificação das tipologias
psicológicas dos atores presentes no processo de construção do Marco Regulatório.
3.2.1 Categorização dos recursos hídricos e arranjo institucional
Catalogaram-se dados de fontes secundárias referentes aos aspectos fisiográficos,
hídricos, sócio-econômicos, bem como os que relatam o arranjo institucional da bacia,
sobretudo quando da elaboração do Marco Regulatório.
3.2.2 Registro dos enquadramentos
Buscou-se emoldurar o contexto do Marco Regulatório em observação, objetivando-
se compreender como os atores participantes do processo da negociação definiam o
problema-chave e como as transações podiam mudar e transformar aquele contexto.
65
A utilização deste procedimento metodológico possibilitou uma compreensão
preliminar de como as partes, no geral, definiram: a) suas expectativas e preferências para
os resultados possíveis; b) seus objetivos centrais da negociação; c) quais informações
procuravam e usavam para defesa de seus argumentos.
Adotou-se o modelo proposto por Lewicki (2002), em que as possibilidades para
enquadramento são: a) Enquadramento como heurísticas cognitivas; b) Enquadramento
como categorias de experiência; c) Enquadramento como desenvolvimento da questão.
Este registro serviu de lastro na identificação das estratégias de engajamento e nos
comparativos com os tipos psicológicos identificados.
3.2.3 Mapeamento das estratégias de engajamento
A dinâmica negocial das oito reuniões iniciais do Marco Regulatório do Sistema
Curema–Açu serviu como unidades de observação para o mapeamento das estratégias de
engajamento.
Nesse campo de observação, buscaram-se as estratégias de engajamento e o
respectivo grau de intensidade adotado pelos participantes, registrando-se sua evolução ao
longo do processo de negociação ocorrente.
Adotou-se, então, o modelo de Savage et al. (1989) para os respectivos registros.
Para identificação da estratégia de uma negociação, este modelo propõe que se busquem
respostas para as seguintes questões:
Quanto interesse o ator tem em atingir os resultados substantivos em
jogo nesta negociação (metas substantivas)?
Quanto interesse o ator tem pela qualidade atual e futura da relação com
a outra parte (metas relacionais)?
As respostas a estas questões sugerem quatro tipos de estratégias agrupadas em
dois grupos, a saber (Figura 9):
a) Estratégias de não Engajamento:
66
Evitação.
b) Estratégia de Engajamento Ativo:
Barganha Distributiva – Competição;
Negociação Integrativa – Colaboração;
Negociação Relacional – Acomodação.
Figura 9 – Tipos de estratégias de engajamento
Fonte: Adaptada de Savage et al. (1989).
No caso da estratégia de engajamento ativo, optou-se, para os registros dos
respectivos engajamentos ao longo das reuniões, pelo modelo de Robert W. Johnston,
Negotiation Strategies: Different Strokes for Different Folks, citado e adaptado por Lewicki
(op cit.), uma vez que possibilita a tradução de critérios através dos quais obtém-se um
conjunto de informações qualificadas acerca da dinâmica em referência.
Este modelo propõe uma classificação na estratégia acima citada, com base em 13
critérios, conforme disposto no quadro abaixo:
67
Quadro 2 Percepção das diferentes estratégias de engajamento ativo
ESTRATÉGIA
CRITÉRIOS
Barganha Distributiva
(Competição)
Negociação Integrativa
(Colaboração)
Negociação Relacional
(Acomodação)
1. ESTRUTURA DE
NEGOCIAÇÃO
Normalmente, uma
quantidade finita de recursos
a ser dividido.
Normalmente, uma quantidade
variável de recursos a ser
dividido.
Normalmente, uma
quantidade finita de
recursos a ser dividido.
2. BUSCA DE METAS Busca de metas próprias à
custa dos outros.
Busca de metas a serem
alcançadas em conjunto.
Subordinação de metas
próprias em favor dos
outros.
3. RELACIONAMENTOS Foco em curto prazo; as
partes não esperam trabalhar
juntas no futuro.
Foco de longo prazo; as partes
esperam trabalhar juntas no
futuro.
Pode ser de curto prazo
(ceder para manter a paz)
ou de longo prazo (deixar o
outro vencer, para
incentivar a reciprocidade
no futuro)
4. MOTIVAÇÃO
PRIMÁRIA
Maximizar resultados
próprios.
Maximizar resultados em
conjunto.
Maximizar resultados dos
outros ou deixá-los ganhar,
para melhorar
relacionamentos.
5. CONFIANÇA E
ABERTURA
Sigilo e defensiva; alta
confiança em si mesmo, baixa
confiança nos outros.
Confiança e abertura; ouve-se
ativamente exploração
conjunta de alternativas.
Uma parte relativamente
aberta expondo suas
venerabilidades às outras.
6. CONHECIMENTO DAS
NECESSIDADES
As partes conhecem suas
próprias necessidades, mas
escondem ou representam
incorretamente; nenhuma das
partes deixa a outra saber
suas reais necessidades.
As partes sabem e exprimem
suas reais necessidades,
enquanto buscam e
respondem as necessidades
das outras.
Uma parte é muito
responsável pela
necessidade da outra, a
ponto de reprimir as
próprias necessidades.
7. PREVISIBILIDADE As partes usam
imprevisibilidade e surpresa,
para confundir o outro lado.
As partes são previsíveis e
flexíveis; quando apropriado,
tentando não surpreender.
As ações de uma parte são
totalmente previsíveis,
sempre satisfazendo a
outra parte.
8. AGRESSIVIDADE As partes usam ameaças e
blefes, tentando manter a
posição de controle.
As partes compartilham
informações verdadeiras e se
tratam com respeito.
Uma parte abre mão de sua
própria posição para
apaziguar a outra.
9.COMPORTAMENTO DE
PROCURA DE SOLUÇÃO
As partes fazem esforços,
para parecerem
comprometidas com a
posição, usando
argumentação e manipulação
do outro.
As partes fazem esforço, para
encontrar soluções
mutuamente satisfatórias,
usando lógica, criatividade e
construtivismo.
Uma parte faz esforço, para
encontrar maneiras de
acomodar a outra.
10. MEDIDAS DE
SUCESSO
O sucesso é melhorado,
criando-se uma imagem ruim
do outro; altos níveis de
hostilidade e forte lealdade
intragrupo.
O sucesso exige abandono de
imagem ruim e a
consideração de idéias sobre
seus méritos.
O sucesso é determinado
pela minimização ou pelo
afastamento do conflito e
aliviando-se todo tipo de
hostilidade; os sentimentos
próprios são ignorados em
favor da harmonia.
11. EVIDÊNCIA DE UM
EXTREMO
NÃO SAUDÁVEL
Extremo não saudável
alcançado, quando uma das
partes assume o jogo de
soma total zero; derrotar o
outro se torna uma meta em
si.
Extremo não saudável
alcançado, quando um
classifica todo o interesse
próprio como bem comum,
perdendo a auto-identidade e
a auto-responsabilidade.
Extremo não saudável
alcançado, quando a
abdicação ao outro é
completa, a custo de metas
pessoais e/ou constituintes.
12. POSTURA-CHAVE A postura chave é “eu ganho,
você perde”.
A postura chave é “qual a
melhor maneira de nos
referirmos às necessidades de
todas as partes?”
A postura chave é “você
ganha, eu perco”.
13. SOLUÇÃO PARA UM
COLAPSO
Se ocorrer um impasse, pode
ser necessário um mediador
ou árbitro.
Se ocorrerem dificuldades,
pode ser necessário um
facilitador de grupo.
Se o comportamento se
tornar crônico, a parte
acaba em falência negocial
Fonte: Adaptado e ampliado de Johnston (1982).
Para fins de adequação do modelo à problemática do estudo, observaram-se os 13
critérios, conforme descritos abaixo:
68
1) Estrutura de Negociação:
Buscou-se observar aqui se os recursos a serem divididos, dispostos na estrutura da
negociação do Marco Regulatório, no caso, a alocação da água, eram entendidos como
fixos e finitos ou variáveis.
2) Busca de metas:
Foi observado se as partes buscavam atingir metas próprias às custas das outras
partes envolvidas no processo,ou em conjunto com elas, ou se, até mesmo, subordinavam
seus posicionamentos em favor do interesse de outros.
3) Relacionamentos:
Neste critério, buscou-se observar se os grupos estavam com foco no curto prazo, no
longo prazo ou se eles assumiam uma postura de deixar o outro vencer para aguardar uma
reciprocidade futura.
4) Motivação primária:
Neste critério, foi observado se as partes almejavam maximizar os objetivos
particulares dos Estados ali representados ou dos órgãos federais, se buscavam sinergia
para todos ou se apenas permitiam a maximização dos resultados pelos outros em prol de
uma provável preservação do relacionamento.
5) Confiança e abertura:
Aqui, procurou-se observar se as partes mantiveram-se em uma postura defensiva e
de sigilo, se exploraram soluções conjuntas através de confiança recíproca ou se tão-
somente mostraram suas vulnerabilidades.
6) Conhecimento de Necessidades:
Com este critério, buscou-se observar, no contexto da negociação, se as partes
expunham suas reais necessidades, se as deixavam camufladas ou se havia uma
preocupação exacerbada com as necessidades da outra parte, sobretudo quando das
definições das demandas setoriais apresentadas pelos dois Estados.
7) Previsibilidade:
Neste ponto, a intenção foi observar se os membros do Marco usavam a
imprevisibilidade e surpresa, para confundir outros, ou sendo previsíveis, quando
apropriado.
69
8) Agressividade:
Neste critério, a observação do comportamento dos atores teve seu foco na possível
postura de ameaças ou blefes, no intuito de manter o controle da situação ou não, com as
partes compartilhando informações e estabelecendo respeitos mútuos.
9) Comportamento de postura de procura de solução:
Buscou-se observar, neste critério, se os grupos pareciam comprometidos com a
posição, tentando controlar o outro, ou se eles buscavam, quando das discussões, soluções
que viessem a satisfazer os dois Estados ou, até mesmo, se havia alguma postura para
melhor acomodar a outra parte.
10) Medidas de sucesso:
Verificou-se, neste aspecto, se o comportamento dos participantes do grupo estava
orientado ou não ao sucesso da negociação através do intencional desgaste da imagem da
parte oposta na negociação. Ou, se possível, pelo afastamento do conflito.
11) Evidência de um extremo não saudável:
Buscou-se observar, neste critério, se existiu ou não a vontade deliberada de
derrotar a outra parte participante do processo, sendo esta postura uma meta em si.
12) Postura-chave:
Observou-se aqui se o foco do grupo como princípio balizador era ou não o de
assumir a postura chave de “eu ganho, você perde”, ou o de abdicar desta questão.
13) Solução para um colapso:
Neste critério, buscou-se verificar se os participantes do Marco Regulatório, em caso
de um impasse crítico, valorizariam a presença de um árbitro, de um mediador/facilitador ou
se assumiam um comportamento de falência/desistência.
3.2.4 Pesquisa de identificação dos tipos psicologicos
Quando da escolha da amostra da pesquisa dos tipos psicológicos, o método
adotado foi o não-probabilístico intencional por conveniência. A amostra foi escolhida pelo
critério de acessibilidade junto aos Grupos de Articulação Institucional – GAI e o Grupo
70
Técnico – Operacional - GTO, ou seja, os 23 participantes da sexta reunião do Marco
Regulatório.
Como ressalva, no tocante à representatividade da amostra adotada, para fins de
extrapolação, e sendo esta não-probabilística por conveniência, considera-se que a sua
representatividade não pode ser rigorosamente observada. Entretanto, é justificável como
palco de estudo para o modelo elaborado e teste da ferramenta desenvolvida.
Para a pesquisa de identificação dos Tipos Psicológicos dos participantes do Marco
Regulatório, optou-se pela aplicação do Myers-Briggs Type Indicator® (MBTI®) (Anexo A).
Trata-se de um instrumento baseado na “Teoria dos Tipos Psicológicos”, do psicólogo suíço
Carl G. Jung, desenvolvido por Katharine Briggs e Isabel Briggs Myers, consagrado
mundialmente, há décadas, na identificação do tipo psicológico, com mais de cinco milhões
de indicadores administrados anualmente no mundo e utilizados em países como Japão,
França, Espanha, Coréia, Alemanha, Itália, Suécia, China e Brasil, dentre outros.
Os dados foram tratados utilizando-se da estatística descritiva, que possibilitou a
análise das tipologias através da identificação de distribuição percentual dos tipos
psicológicos; administração do tempo; distribuição das preferências; processos mentais
dominantes; distribuição dos temperamentos e das preferências por quadrantes.
Segundo Myers (1995), após mais de 50 anos de pesquisa e desenvolvimento, o
MBTI é o instrumento mais amplamente utilizado para se compreender as diferenças de
personalidade. O instrumento destina-se a identificar preferências individuais que atuam na
manifestação das mais diversas situações, tais como: performance, trabalho de equipe,
aproveitamento de potencial, planejamento, organização, controle, liderança, estilo de
comunicação, ambiente de trabalho, processo decisório, administração de conflitos,
administração de tempo, relação com autoridade, flexibilidade, criatividade, sociabilidade,
priorização.
A teoria dos tipos psicológicos defendida por Jung encontrou padrões previsíveis e
diferenciados do comportamento normal, fruto das observações que teve de seus pacientes
e de outras pessoas. Esta teoria reconhece a existência destes padrões – ou tipos – e
explica como eles se desenvolvem.
71
Jung (1967) defende que as diferenças entre os indivíduos são causadas pelas
diferentes maneiras pelas quais as pessoas utilizam suas mentes. A idéia principal é que,
quando sua mente está ativa, você se envolve com uma destas duas atividades mentais:
Coleta de informações – Percepção ou
Organização dessas informações e conclusões – Julgamento.
Observou, ainda, que existem duas maneiras opostas através das quais percebemos
as coisas – Sensação e Intuição – e duas maneiras através das quais julgamos os fatos –
Pensamento e Sentimento (Figura 10).
Figura 10 – Processos Mentais
Fonte: Myers (1995).
Diante dessa perspectiva, sua teoria afirma que todas as pessoas se utilizam,
diariamente, destes quatro processos essenciais no mundo exterior e interior. Jung chamou
o mundo exterior das pessoas, coisas e experiências de Extroversão, e o mundo interior de
processos e reflexões internas de Introversão. Estes quatro processos básicos utilizados
tanto no mundo exterior como no interior lhe proporcionam oito maneiras diferentes de
utilizar sua mente.
Com a aplicação de um questionário (Anexo A) composto por 93 perguntas objetivas,
é identificada a tipologia psicológica do indivíduo, tendo como opção dezesseis tipos de
personalidades básicos. Os tipos ficam divididos em quatro preferências, que são
combinadas conforme as características pessoais: extrovertido ou introvertido, sensação ou
intuição, pensamento ou sentimento, julgamento ou percepção. Unindo cada uma dessas
características, aparecerão combinações que delineiam os participantes da pesquisa. Cada
indivíduo pode ter maior extroversão ou introversão, sensação ou intuição, pensamento ou
sentimento e julgamento ou percepção.
72
O resultado do questionário gera uma combinação de letras e leva ao
estabelecimento de preferências. Exemplificando: uma pessoa que seja ISTJ tira energia do
seu mundo interior e é bastante ligado a si mesmo (I), gosta de obter informações através
dos sentidos (S), prefere usar o pensamento para tomar decisões (T), e relaciona-se com o
mundo exterior através do julgamento (J). Uma pessoa com preferências totalmente opostas
seria ENFP, ou seja, tira energia do mundo exterior, das pessoas e dos acontecimentos
(E),gosta de obter informações sobre o "todo" e relaciona os fatos entre si (N), prefere usar o
sentimento para tomar decisões (F), e relaciona-se com o mundo exterior através da
percepção (P).
A identificação das tipologias obtida através do MBTI apresenta 16 combinações
possíveis de perfis em quatro escalas estabelecidas, conforme o Quadro 3.
73
Quadro 3 As 16 possíveis combinações de perfis, segundo MBTI
Tipos Sensitivos Tipos Intuitivos
ISTJ
Sérios, quietos, alcançam o sucesso
através da concentração e
meticulosidade. Práticos, metódicos,
factuais, lógicos, realistas e confiáveis.
Devido a isso tudo, são muito bem
organizados. Assumem
responsabilidades. Tomam decisões
baseados naquilo que é necessário e
agem de maneira estável, indiferentes
a protestos ou distrações.
IS
FJ
Quietos, amigáveis, responsáveis e
cuidadosos. Trabalham bastante, para
cumprir todas as suas obrigações.
Proporcionam estabilidade a qualquer
projeto ou grupo. Meticulosos,
cuidadosos e precisos. Seus interesses
normalmente são técnicos. Podem ser
pacientes com detalhes. Leais,
atenciosos, perceptivos, preocupados
com os sentimentos alheios.
IN
FJ
Atingem o sucesso através da
perseverança, originalidade e
desejo de fazer o que for
necessário. Concentram sua
energia no trabalho. Eficazes,
cuidadosos, preocupados com os
outros. Respeitados por seus
princípios firmes. Apreciados por
suas visões claras sobre como
servir ao bem comum.
INTJ
Criativos e movidos por suas
próprias idéias e propósitos. Têm
uma visão ampla e são rápidos
na identificação de padrões. Em
suas áreas preferidas, são muito
organizados e sempre cumprem
suas tarefas. Céticos, críticos,
independentes, determinados,
bastante competentes e
detalhistas.
ISTP
Observadores imparciais, quietos,
reservados. Observando e analisando
a vida com curiosidade neutra e com
“tiradas de bom humor” inesperadas.
Normalmente, interessados em causas
e efeitos, em como e por que as coisas
funcionam e na organização dos fatos
através de princípios lógicos. Têm
grande habilidade para chegar ao
centro de um problema prático e
encontrar soluções.
ISF
P
Reservados, simpáticos, sensíveis,
educados e modestos sobre suas
habilidades. Demonstram
discordâncias, mas não impõem suas
opiniões ou valores. Normalmente, não
se preocupam em liderar, mas são
seguidores leais. Geralmente, sentem-
se despreocupados com os seus
deveres, por apreciarem o momento
presente e não quererem estragá-lo
com precipitações exageradas.
INF
P
Observadores, idealistas, leais. É
importante que sua vida externa
seja compatível com seus valores
internos. Curiosos, enxergam novas
possibilidades rapidamente.
Geralmente, são catalisadores na
implantação de idéias. Adaptáveis,
flexíveis e compreensivos, a menos
que um valor seja ameaçado.
Procuram entender as pessoas e as
maneiras pelas quais os seus
potenciais humanos podem ser
satisfeitos. Dão pouca importância a
bens materiais.
INTP
Quietos e reservados. Gostam
principalmente de atividades
teóricas ou científicas. Gostam de
resolver problemas analítica e
logicamente. Interessados
principalmente nas idéias, com
pouco interesse por festas ou
conversas. Geralmente
apresentam interesses bastante
definidos. Precisam seguir uma
carreira em que algum grande
interesse possa ser aplicado de
maneira útil.
ESTP
Grande habilidade na solução rápida
de problemas. Gostam de ação e de
surpresas. Geralmente, gostam de
coisas mecânicas e de estar sempre
acompanhados de amigos. Adaptáveis,
tolerantes, pragmáticos. Focalizam a
obtenção de resultados. Não gostam
de explicações muito longas. São
excelentes com coisas concretas que
podem ser trabalhadas, manuseadas,
desmontadas e remontadas.
ES
FP
Comunicativos, compreensivos,
amistosos. Gostam de tudo e tornam
tudo mais divertido para os outros,
através de sua própria empolgação.
Gostam de ação e de fazer as coisas
acontecerem. Sabem o que está
acontecendo e querem participar
ativamente. Maior facilidade para se
lembrar de fatos que de teorias. São
ótimos em situações que requerem
bom senso e habilidade prática com as
pessoas.
EN
FP
Bastante entusiasmados, alegres,
criativos, imaginativos. Capazes de
fazer a maior parte das coisas que
lhes interessam. Acham soluções
rapidamente para quaisquer
dificuldades. Sempre prontos para
ajudar pessoas com problemas.
Preferem improvisações em vez de
planejamento prévio. Geralmente,
encontram razões convincentes
para aquilo que querem.
ENTP
Rápidos, criativos, com muitas
habilidades. São companhias
agradáveis, estão sempre atentos
e são sinceros. Discutem
somente por divertimento.
Grande habilidade na solução de
problemas novos e desafiantes,
porém podem ser negligentes
com tarefas rotineiras.
Apresentam diversos interesses.
Têm facilidade em encontrar
razões lógicas para o que
querem.
ESTJ
Práticos, realistas, naturalmente hábeis
para negócios ou mecânica. Não
mostram interesse por teorias
abstratas; querem aprender sobre
aplicações diretas e imediatas. Gostam
de organizar e conduzir atividades.
Geralmente, são bons administradores;
são determinados, rápidos na
implantação de decisões.
ESF
J
Afetuosos, faladores, populares,
cuidadosos, bons colaboradores,
membros ativos de comitês.
Necessitam de harmonia e têm
habilidade para criá-la. Tendem a estar
sempre fazendo o bem para alguma
pessoa. Trabalham melhor, se
encorajados e elogiados. Seu interesse
principal está naquilo que afeta direta e
visivelmente a vida das pessoas.
ENF
J
Prestativos e responsáveis.
Bastante preocupados com o que
os outros pensam e querem.
Tentam sempre respeitar os
sentimentos dos outros. Podem
apresentar propostas e liderar uma
discussão em grupo com bastante
tato e habilidade. Sociáveis,
populares, complacentes. Reagem
a elogios e a críticas. Gostam de
facilitar as coisas para as pessoas,
ajudando-as a atingir o seu
potencial.
ENTJ
Sinceros, decididos, líderes.
Desenvolvem e implantam
amplos sistemas para resolver
problemas organizacionais.
Habilidade especial para tudo
que necessita de explicações e
discursos inteligentes, tais como
falar em público. Geralmente, são
bem informados e gostam de
aumentar seus conhecimentos.
Fonte: Myers (1995)
Introvertidos
Extrovertidos
74
3.3 Procedimentos metodológicos e operacionais no campo da aplicação
Esta etapa consistiu nos procedimentos de, mediante observação e teste, buscar-se
verificar a precisão dos enunciados e formulações propostas no campo do desenvolvimento
teórico.
Centrou-se basicamente na identificação de evidências de adequações do modelo
conceitual elaborado frente o contexto negocial do Marco Regulatório do Sistema Curema–
Açu.
Em ato seguinte, de posse dos registros das estratégias e das respectivas
intensidades de engajamento e dos tipos psicológicos dos participantes do Marco
Regulatório resultantes da pesquisa realizada, procedeu-se à alimentação da ferramenta
Dealer, como fase conclusiva deste estudo.
Paralelamente aos cenários virtuais gerados pelo Dealer, estabeleceu-se um
comparativo com a saída real, ou seja, o desfecho das negociações do Marco, observada
reunião a reunião, visando-se a verificar a adequação das respostas oferecidas pelo sistema
desenvolvido.
75
CAPÍTULO IV
4. OS RECURSOS HÍDRICOS NA BACIA DO RIO PIRANHAS–AÇU
4.1 Aspectos fisiográficos
4.1.1 Caracterização territorial da Bacia do Rio Piranhas–Açu
O Rio Piranhas nasce na Mesorregião do Sertão Paraibano, microrregião de
Cajazeiras, nos divisores de água que correspondem aos limites geográficos dos Estados
da Paraíba e do Ceará.
A nascente do rio está localizada, mais especificamente, no município paraibano de
Bonito de Santa Fé. No Estado da Paraíba, forma um sistema hidrográfico constituído pelos
altos e médios cursos do Rio Piranhas e pelas sub-bacias dos Rios do Peixe, Piancó,
Espinharas e Seridó, os quais são seus principais afluentes em território paraibano. Ao
atravessar a divisa entre os Estados da Paraíba e do Rio Grande do Norte, recebe o nome
de Rio Açu, originando a denominação de Piranhas-Açu, quando visto como um todo. Cruza
a região central e deságua no litoral norte do Estado do Rio Grande do Norte, na sua foz
localizada no município de Macau, conforme pode ser observado na Figura 11 (PARAÍBA,
2004).
A Bacia Hidrográfica do Rio Piranhas-Açu drena, no Estado da Paraíba, uma área
correspondente a 26.041,59 km² e, no Estado do Rio Grande do Norte, ocupa uma
superfície de 17.498,5 km².
Trata-se, portanto, de uma bacia hidrográfica que possui um rio de domínio federal,
sendo uma das mais importantes do Nordeste semi-árido, com uma área total de
aproximadamente 43.600 km².
76
Figura 11 – Localização da Bacia Hidrográfica do Rio Piranhas-Açu
4.1.2 Climatologia
O regime de chuvas da área em estudo se apresenta com médias pluviométricas
anuais em torno de 800 mm para as sub-bacias dos Rios Espinharas, Piancó e alto e médio
curso do Rio Piranhas no Estado da Paraíba, o que confere à bacia características
dominantes de clima semi-árido. Já a precipitação média anual na sub-bacia do Rio do
Peixe é de 850 mm, o que, em termos de pluviometria do semi-árido paraibano, não se
constitui um valor modesto (PARAÍBA, 2004). No Estado do Rio Grande do Norte, as chuvas
médias anuais de longo período situam-se entre 500 e 600 mm, com tendência de
crescimento da foz para montante. Na região de Jucurutu, há núcleos com mais de 700 mm
(RIO GRANDE DO NORTE, 2000).
Entretanto, áreas com precipitações menores se distribuem ao longo da bacia, com
destaque para a sub-bacia do Rio Seridó, no Estado da Paraíba, a qual se caracteriza como
uma das regiões mais secas do Estado, apresentando as pluviometrias médias anuais na
faixa de 400 a 600 mm, e a região da borda leste da bacia do baixo Açu, no Rio Grande do
Norte, inclusive sua área litorânea, com precipitações anuais inferiores a 500 mm.
As variações sobre a distribuição de temperatura são de 20ºC a 24ºC, quando
atingem valores mínimos, e 28ºC a 33ºC, quando atingem valores máximos nos meses de
novembro e dezembro.
77
A evaporação anual média é relativamente alta. Dados obtidos a partir de tanque
classe A indicam uma variação anual da ordem de 2.000 a 2.500 mm, e os valores
decrescem do interior da bacia para o litoral. Entretanto, valores de evaporação anual
médios superiores a 3.000 mm foram registrados no médio curso do Piranhas e na sub-
bacia do Rio Seridó.
A umidade relativa do ar apresenta valores baixos, com uma média anual variando
de 45% a 65% no Estado da Paraíba. Observa-se que o mês mais úmido é fevereiro,
quando a umidade máxima atinge 60%; o mais seco é outubro, período em que a umidade
mínima atinge 41%.
4.1.3 Geologia
Do ponto de vista geológico, a litologia da Bacia do Rio Piranhas-Açu apresenta uma
predominância de terrenos cristalinos e sedimentares.
Os terrenos cristalinos precambrianos, pertencentes ao complexo gnáissico-
migmatítico e aos grupos São José e Seridó, representados, principalmente, por micaxistos,
paragnaisses e quartzitos, englobam todo o conjunto de rochas cristalinas do sistema de
dobramentos marginais Seridó, com as formações Seridó (micaxistos), Equador (quartzitos)
e Jucurutu (paragnaisses).
Já os terrenos sedimentares são constituídos por Depósitos Quaternários (aluviões
de areias diversas com intercalações de sedimentos pelíticos, ocupando principalmente o
baixo vale do rio, e dunas formadas por areias bem selecionadas, amareladas,
inconsolidadas e homogêneas, na faixa costeira), Depósitos Terciários (arenitos finos a
médios ou conglomeráticos com intercalações de siltitos e argilitos do Grupo Barreiras
(TTB)); arenitos médios a conglomeráticos, avermelhados ou amarelados, com níveis
pelíticos locais, da Formação Serra do Martins (TTm), na Serra de Santana, ao sul de
Santana do Matos e Sedimentos Mesozóicos (Grupo Apodi, Grupo Areia Branca e Grupo
Rio do Peixe).
Para a área da bacia localizada no Rio Grande do Norte, segundo dados do Plano
Estadual de Recursos Hídricos (RIO GRANDE DO NORTE, 1998), predominam rochas
cristalinas pré-cambrianas, nas porções centro-sul e sudeste, relacionadas aos complexos
78
Caicó, São Vicente e Seridó, com intrusões de rochas plutônicas e filonianas. No sudeste,
destaca-se, ainda, a ocorrência de duas grandes manchas, constituídas por arenitos
cauliníticos, arenitos ferruginosos e lateritas, relacionadas à Formação Serra do Martins, do
Terciário, recobrindo terrenos do embasamento Pré-Cambriano.
Na parte norte, menos representativa em área que na Bacia Apodi-Mossoró, ocorrem
calcários da Formação Jandaíra e arenitos da Formação Açu e Grupo Barreiras. A planície
flúvio-marinho, que constitui o renomado Vale do Açu, é constituída por sedimentos
quaternários.
4.1.4 Solos
Os tipos de solos mais comuns na área da Bacia Hidrográfica do Piranhas-Açu,
situada no Estado da Paraíba, são: Bruno não Cálcico, Litossolos, Podzólicos, Solonetz
Solodizados e Solos Aluviais. Na sub-bacia Espinharas, são identificados solos do tipo
Cambissolo e Regossolo em profundidade moderada e, na sub-bacia do Seridó, Vertissolos
Eutróficos, Regossolos Eutróficos com Fragipan e Afloramentos de Rochas.
No Estado do Rio Grande do Norte, os tipos de solo mais comuns são Bruno não
Cálcicos (35,1%), Solos Litólicos Eutróficos (29,0%), Solonetz Solodizados (7,5%),
Cambissolo Eutrófico (5,5%), Latossolo Vermelho-Amarelo Eutrófico (5,0%) e Latossolo
Amarelo Ditrófico (5,0%). Destaca-se ainda a presença de solos do tipo Podzólico
Vermelho-Amarelo Eutrófico, Solos Aluviais Eutróficos e Solonchak Sódico.
4.1.5 Vegetação
A vegetação natural da Bacia do Piranhas-Açu que abrange a área do Estado da
Paraíba é do tipo xerófila, pertencente ao bioma caatinga, mais especificamente a caatinga
hiperxerófila. Destaca-se ainda a presença de vegetação do tipo hipoxerófila nos maciços de
Monte Horebe, na porção sul do Alto Piranhas. As matas ciliares são praticamente
inexistentes. Na área da bacia que está inserida no Estado do Rio Grande do Norte, 57,9%
compreendem vegetação do tipo caatinga herbácea-arbustiva, e 4,2%, caatinga arbórea.
As espécies mais comuns são: Aroeira, Angico, Baraúnas, Bredo, Capim Pé de
Galinha, Capim Penhasco, Caraibeira, Catingueira, Coroa-de-Frade, Favela, Gitirana,
79
Jaramataia, Juazeiro, Jurema, Malva, Marmeleiro, Muçambê, Oiticica, Pereiro, Pinhão,
Vassourinha, Velame e Xique-xique.
O processo de degradação do Semi-Árido é uma constante, principalmente pela
interferência do homem através do uso agrícola. Pastagens e outros tipos de intervenções
antrópicas na bacia atingem 84,8% da área total no Estado da Paraíba. No Rio Grande do
Norte, 22,0% compreendem caatinga antropizada, e 8,5%, terras agrícolas.
4.2 Recursos hídricos
4.2.1 Recursos hídricos superficiais
Na região da Bacia Hidrográfica do Piranhas-Açu inserida no Estado do Rio Grande
do Norte, foram cadastrados 1.112 açudes, segundo dados do Plano Estadual de Recursos
Hídricos/RN (1998), os quais totalizam um volume de acumulação de 3.503.853.300 m³ de
água, o que corresponde, respectivamente, a 49,3% e 79,6% dos totais de açudes e
volumes acumulados no Rio Grande do Norte. Para o Estado da Paraíba, a açudagem, na
Bacia do Piranhas-Açu, totaliza um volume de acumulação de 4.246.310.148,27 m³
(PARAÍBA, 2000).
A Bacia do Rio Piranhas-Açu conta com um total de 39 reservatórios, com
capacidade de acumulação superior a 10 milhões de metros cúbicos, sendo 13 no Estado
do Rio Grande do Norte e 26 no Estado da Paraíba, conforme pode ser observado na
Tabela 6 (Anexo B). Dentre eles, destaque-se o reservatório Armando Ribeiro Gonçalves, no
Rio Grande do Norte, e o sistema de reservatórios Curemas-Mãe d’Água, na Paraíba,
considerados estratégicos para o desenvolvimento sócio-econômico dos dois Estados.
O sistema de reservatórios Curemas-Mãe d’Água, com capacidade de
armazenamento de 1,350 bilhão de metros cúbicos, garante o abastecimento urbano e rural
de várias localidades e pereniza 160 km do rio até encontrar o reservatório Armando Ribeiro
Gonçalves, possibilitando o desenvolvimento agrícola dessa região, além de perenizar o
trecho do Rio Piranhas até o lago da Barragem Armando Ribeiro Gonçalves, no Estado do
Rio Grande do Norte.
80
A Barragem Armando Ribeiro Gonçalves é o maior reservatório de água do Estado
do Rio Grande do Norte, com capacidade de armazenamento de 2,400 bilhões de metros
cúbicos, a partir da qual o Rio Piranhas-Açu torna-se perene em seus 100 km de curso até a
foz, permitindo o desenvolvimento da potencialidade agrícola de toda a região denominada
Baixo Açu, além de garantir o abastecimento de vários municípios e comunidades rurais,
utilizando diversos sistemas adutores.
4.2.2 Recursos hídricos superficiais
Relativamente às dimensões e às propriedades hidráulicas dos aqüíferos do Estado
da Paraíba, no Alto Piranhas-Açu, as aluviões, a exemplo do que acontece nos altos cursos
de outras bacias, apresentam largura variável de 50 a 400 m e ocupam uma área da ordem
274 km², em que a espessura média saturada é estimada em cerca de quatro metros. No
Médio Piranhas-Açu, a porosidade efetiva obtida em testes de bombeamento em aluviões
do Rio Seridó é da ordem de 17%. No Baixo Piranhas-Açu, as aluviões formam dois
aqüíferos: um superior livre, com espessura variável de 20 a 50 m e porosidade efetiva
estimada em 10%; um inferior confinado, com espessura variável de 27 m ao sul, 114 m, na
cidade de Carnaubais, e 248m no extremo norte (PARAÍBA, 2004).
Para os aqüíferos do Estado do Rio Grande do Norte, as aluviões e barreiras
ocupam uma área, respectivamente, de 494,1 km² e 565,2 km², e os poços alcançam uma
profundidade média de 6 a 50 m e 40 a 80 m. Já o aqüífero Cristalino é o mais
representativo, ocupando uma área de 13.642,0 km², com poços de profundidade média de
50 m. Destaque-se ainda o aqüífero Jandaíra, no Baixo Piranhas-Açu, o qual ocupa uma
área de 2367,3 km², com espessura variável entre 50 e 300 m, podendo-se admitir uma
espessura mediana de 175 m (PERH/RN, 1998).
As principais ocorrências de água em subsuperfície, em aluvião, na Bacia do Rio
Piranhas-Açu, ocorrem na região central da Bacia do Rio do Peixe, em uma área de 1600
km² (BRASIL, 2000).
As vazões dos poços da Bacia do Piranhas-Açu pode ser avaliada a partir dos 1.123
poços cadastrados, sendo 144 nas aluviões, 60 no calcário Jandaíra, 25 do arenito Açu, 26
nos arenitos do grupo Rio do Peixe e 868 no aqüífero Fissural. Nas aluviões, as vazões
variam de 0,3 a 225 m³/h; no aqüífero Jandaíra, a média é de 8,7 m³/h; no aqüífero Açu,
81
foram encontradas vazões de 1 a 55 m³/h, com média de 8,7 m³/h. As vazões de poços
perfurados no cristalino seguem uma distribuição log-normal com média de 3,8 m³/h.
4.3 Aspectos sócio-econômicos
A Bacia Hidrográfica do Rio Piranhas-Açu abrange, total ou parcialmente, 148
municípios, sendo 46 no Rio Grande do Norte e 102 na Paraíba.
A população total da Bacia do Rio Piranhas-Açu é de 1.551.541 habitantes, sendo
1.038.676 habitantes no Estado da Paraíba (657.037 na zona urbana e 381.639 na zona
rural) e 512.865 habitantes no Estado do Rio Grande do Norte (356.652 na zona urbana e
156.213 na zona rural).
Os municípios que se destacam como os mais populosos da Bacia do Rio Piranhas-
Açu, no Estado do Rio Grande do Norte, é Caicó, com 57.002 habitantes, e, no Estado da
Paraíba, Patos, com 91.761 habitantes. Já os municípios menos populosos da bacia são
Ipueira, no Rio Grande do Norte, com 1.502 habitantes, e Quixaba, na Paraíba, com 1.308
habitantes, segundo dados do Censo Demográfico do IBGE (2000).
A base econômica da região concentra-se na atividade agropecuária e, em menor
grau, na industrial, relativamente diversificada. Esta é a terceira região do Estado do Rio
Grande do Norte com propriedades rurais de tamanho médio (98,8 ha) e a primeira em
concentração de produtores na categoria de pequenos posseiros (40% do número total de
ocupantes do Estado), parceiros (44%) e arrendatários (47%), segundo Gruben e Lopes
(2002).
Na agricultura, o principal cultivo é o algodão, geralmente, consorciado ao milho, ao
feijão e à banana. Recentemente, a produção de banana tem se intensificado no Vale do
Açu, sendo cultivada, a exemplo do melão, através da irrigação. Desde a última década, a
base produtiva tradicional da agricultura vem se modernizando pela introdução da irrigação
(pública e privada) nas grandes, médias e pequenas propriedades. A criação bovina é uma
das atividades mais expressivas da região. Além disso, também estão presentes, na região,
as indústrias têxteis, de cerâmica, mineral e de produtos alimentares.
Como indicativo de desenvolvimento da região, um índice mundialmente aceito é o
Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M), que leva em consideração três
82
aspectos básicos da população: expectativa de vida, educação e renda per capita. Para a
referida região, o IDH-M 2000 encontra-se nas Tabelas 7 e 8 (Anexos C e D). O IDH-M
médio da região da Bacia do Rio Piranhas-Açu, inserida no Rio Grande do Norte, é de 0,658
e, na parte inserida na Paraíba, é de 0,661.
Em relação ao quadro sanitário da bacia em questão, destaque-se que, para o
Estado da Paraíba, o índice de cobertura de abastecimento de água é de 96%, atendendo,
portanto, a um total de 464.039 habitantes na zona urbana. Já no Estado do Rio Grande do
Norte, a população urbana total da bacia atendida por sistema de abastecimento de água é
de 268.202 habitantes, representando um índice de cobertura de abastecimento de água de
92%.
A população urbana da bacia atendida por rede de esgotamento sanitário, no Estado
da Paraíba, é de 12.395 habitantes, o que corresponde a 2,46 % da população atendida de
todo o Estado. Para o Estado do Rio Grande do Norte, o número de habitantes atendidos
por esse serviço público sobe para 31.672, ou seja, o equivalente a 13,95% da população
atendida, em sua maioria, utilizando fossas rudimentares (48,7%). Essa situação, em certas
zonas, começa a constituir um foco de preocupação, devido à contaminação dos rios e
lençóis freáticos, através dos efluentes domésticos (BRASIL, 2000).
De modo geral, os níveis de atendimento e de cobertura dos programas de
saneamento (esgotamento sanitário) ainda estão muito aquém dos parâmetros
considerados adequados à qualidade de vida da população. Essa situação compromete o
meio ambiente e o bem-estar da população. Os problemas se tornam ainda mais evidentes
pela infra-estrutura insuficiente e fragilidade dos serviços de saúde pública.
Não obstante, o Governo do Estado da Paraíba, desde 2003, realiza ações arrojadas
destinadas a sanar a deficiência sanitária que se apresenta. Através do Programa Boa
Nova, executam-se obras de abastecimento d’água, de esgotamento sanitário, de drenagem
e pavimentação em mais de 185 municípios do Estado.
Busca-se com isso dobrar a rede de esgotos da Paraíba de 26% para 52%. Por
exemplo, João Pessoa está saindo de 52% de área saneada para 82% – um salto de 60%;
Campina Grande estará quase 100% saneada. Apenas 13 municípios têm alguma coleta de
esgotos no Estado, serão 36, ao final das obras, e todo o esgoto da Paraíba será tratado,
um tento que poucos Estados no Brasil já conseguiram.
83
4.4 Demandas hídricas no trecho do Açude Curema-Mãe d’Água até a foz
Para que sejam compreendidas as demandas para o atendimento aos diversos usos
da água, é fundamental, além dos dados referentes aos parâmetros do ciclo hidrológico, o
conhecimento das vazões requeridas por usuários dos recursos hídricos, a fim de que
possam ser gerados subsídios que possibilitem a tomada de decisão dos gerenciadores dos
recursos hídricos de dada localidade.
Os setores e suas respectivas demandas de recursos hídricos, para a região da
Bacia do Piranhas-Açu, compreendida entre o Sistema Curema-Açu e a sua foz, objeto do
Marco Regulatório, podem ser observados nas Tabelas 1 e 2.
Tabela 1
Demandas atuais por tipo de uso para a Bacia do Rio Piranhas-Açu, Paraíba
Uso/Demanda (m³/s)
Trecho
Abastecimento
humano
Dessed.
animal
Irrigação
atual
Industrial Piscicultura
Subtotal
Trecho 1 – Açude 0,004 0,004 0,096 0,000 0,013 0,117
Trecho 2 – Rio Pian 0,583 0,004 0,702 0,000 0,001 1,290
Trecho 3 – Rio Piranhas 0,229 0,010 1,599 0,004 0,022 1,865
Subtotal 0,816 0,018 2,397 0,004 0,036
3,271
Total 3,271
Fonte: Diniz et al.
Tabela 2
Demandas atuais por tipo de uso para a Bacia do Rio Piranhas-Açu, Rio Grande do Norte
Uso/Demanda (m³/s)
Trecho
Abastecimento
humano
Irrigação Industrial
Piscicultura/
carcinicultura
Turismo e
lazer
Subtotal
Montante da ARG 0,270 0,817 0,005 0,001 0,001
1,094
ARG 0,157 0,076 0,001 0,000 0,000
0,234
Jusante da ARG 0,954 9,924 0,127 1,091 0,000
12,096
Subtotal 1,381 10,817 0,133 1,092 0,001 13,424
Total 13,424
Fonte: Diniz et al.
84
Tais valores de demandas indicam que o principal uso na região é a exploração
agrícola, correspondendo a 73,27% de toda a demanda, considerando-se a baixa eficiência
dos métodos de irrigação utilizados. Consecutivamente, seguem as demandas para
abastecimento humano, com 24,95%; piscicultura, com 1,09%; dessedentação animal, com
0,57%, e abastecimento industrial, com 0,12%.
Segundo dados do cadastro de usuários, realizado conjuntamente pelos Estados da
Paraíba e do Rio Grande do Norte e com o apoio do DNOCS, o eixo Curema-Açu conta com
um total de 2.678 usuários, sendo 1.634 usuários no Estado da Paraíba e 1.044 no Rio
Grande do Norte, totalizando uma vazão captada de 16,99 m³/s.
Cabe ressaltar que os usos mais demandados, verificados através de requerimentos
de outorga enviados à ANA, são a irrigação particular e em perímetros públicos e a
carcinicultura. A demanda requerida pelos diversos segmentos usuários da água na bacia
pode ser observada no Gráfico 1.
Demandas (m³/s) por setor usrio - Cerio Atual
0.47; 3%
1.66; 10%
6.26; 36%
5.70; 33%
0.14; 1%
0.46; 3%
0.80; 5%
1.50; 9%
0.00; 0%
abastecimento difuso
adutoras
irrigação difusa
irrigação perímetros
indústria
piscicultura
carcinicultura
Perenização
Ecológica na foz
Total: 16.99 m³/s
Gráfico 1 – Distribuição dos usuários cadastrados segundo suas finalidades
Fonte: Braga et al., 2004
4.5 Construção do Marco Regulatório
4.5.1 Conflitos na bacia pelo uso de água
85
Os usos intensivos comumente observados nesta bacia estão relacionados com o
atendimento a demandas para abastecimento humano, animal, exploração agrícola,
industrial e piscicultura, em especial, para irrigação particular e em perímetros públicos e
para carcinicultura, principalmente no trecho à jusante da Barragem Armando Ribeiro
Gonçalves, no Estado do Rio Grande do Norte. Assim, não estão ausentes conflitos
constantes pelo uso da água.
Dentre as principais causas de conflitos na bacia, destaque-se a inflexibilidade no
sistema de operação dos dois reservatórios supracitados e a inexistência de política formal
de operação. Tais condições refletem, de imediato, no abastecimento das cidades
ribeirinhas, particularmente, de Jardim de Piranhas, Caicó e Jucurutu, no Rio Grande do
Norte, as quais captam suas demandas em trechos mais distantes da fonte regularizadora e,
no Estado da Paraíba, adutora do Sabugi, Pombal, Paulista, São Bento, Brejo do Cruz e
Belém do Brejo do Cruz.
Outro aspecto relevante diz respeito à relativa escassez hídrica no sistema e
respectiva necessidade de aporte hídrico à região ou, até mesmo, uma gestão mais eficaz,
para viabilizar o desenvolvimento da região. Outros conflitos de usos na Paraíba e no Rio
Grande do Norte podem ser destacados neste sistema hídrico, em especial, na definição da
vazão de divisa entre os dois Estados.
A partir da percepção de tais conflitos, no primeiro semestre de 2003, a Agência
Nacional de Águas – ANA suspendeu a concessão de outorgas, sobretudo as relativas à
carcinicultura no baixo Açu, uma vez que as solicitações para esse tipo de empreendimento
ultrapassavam a capacidade de regularização dos sistemas hídricos da Bacia.
4.5.2 Arranjo institucional
A Agência Nacional de Águas – ANA iniciou, em junho de 2003, um processo de
articulação institucional com os Órgãos Gestores dos Estados da Paraíba e do Rio Grande
do Norte e o DNOCS, visando à definição de um Marco Regulatório e de um processo de
regularização de usos naquela bacia (BRAGA et al., 2004).
No sentido de minimizar os conflitos pelo uso da água presentes na Bacia do Rio
Piranhas-Açu, Órgãos Gestores Estaduais da Paraíba e do Rio Grande do Norte, a Agência
Nacional de Águas (ANA) e o Departamento Nacional de Obras contra a Seca (DNOCS)
86
resolveram implantar, conjuntamente, um Plano negociado de Regularização e
Ordenamento dos Usos do Sistema Curema-Açu, consolidado em um Convênio de
Integração, objetivando a construção de um Marco Regulatório para o Sistema. (Anexo E).
A construção do Marco Regulatório para o setor de recursos hídricos do Sistema
Curema-Açu constitui estratégia de suma importância para o desenvolvimento de
estratégias de articulação institucional que possibilitem efetivar a gestão compartilhada dos
recursos hídricos independente de sua dominialidade, que resulta na otimização de trabalho
e aumento de eficiência na aplicação dos recursos disponíveis.
Proposto para um horizonte de 10 anos, o Marco Regulatório tem como objetivos
principais a promoção da gestão integrada na Bacia Hidrográfica do Rio Piranhas-Açu, a
harmonização de critérios, normas e procedimentos relativos ao cadastro, à outorga e à
fiscalização de usos de recursos hídricos e a mobilização e articulação de usuários para o
processo de gestão participativa no eixo definido.
As instituições envolvidas no processo de construção do Marco Regulatório, no
âmbito federal, são a ANA e o DNOCS. A ANA é uma autarquia sob regime especial, com
autonomia administrativa e financeira, vinculada ao Ministério do Meio Ambiente, constituída
por uma Diretoria Colegiada e dez superintendências, sendo uma administrativa e nove com
função executor/reguladora, instituída pela Lei nº 9.984/00. Tem como missão regular o uso
da água dos rios e lagos de domínio da União, assegurando quantidade e qualidade para
usos múltiplos, e implementar o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos
– um conjunto de mecanismos jurídicos e administrativos que visam ao planejamento
racional da água com a participação de governos municipais e estaduais, além da sociedade
civil.
O DNOCS foi criado sob o nome de Inspetoria de Obras Contra as Secas (IOCS),
através do Decreto nº 7.619, de 21 de outubro de 1909, o qual foi alterado para autarquia
federal, através da Lei n° 4229, de 01/06/1963. Conforme dispõe a sua legislação básica,
tem por finalidade executar a política do Governo Federal, no que se refere ao
beneficiamento de áreas e obras de proteção contra as secas e inundações, irrigação,
radicação de população em comunidades de irrigantes ou em áreas especiais, abrangidas
por seus projetos, e, subsidiariamente, outros assuntos que lhe sejam cometidos pelo
Governo Federal, nos campos do saneamento básico, assistência às populações atingidas
por calamidades públicas e cooperação com os municípios.
87
No âmbito estadual, as instituições envolvidas são, as Secretaria de Recursos
Hídricos e as Agências de Água dos Estados envolvidos.
Na Paraíba, tem-se a Secretaria Extraordinária do Meio Ambiente, dos Recursos
Hídricos e Minerais (SEMARH), instituída pela Lei nº 6.544, de 20 de outubro de 1997
(PARAÍBA, 2003), que constitui órgão do primeiro nível hierárquico da Administração Direta
do Poder Executivo, de natureza substantiva, com a finalidade de planejar, coordenar,
supervisionar e executar as ações governamentais relacionadas com a identificação,
aproveitamento, exploração e utilização dos recursos hídricos, minerais e meio ambiente,
visando ao fortalecimento da economia do Estado e à melhoria da qualidade de vida de sua
população; e a Agência de Águas, Irrigação e Saneamento do Estado da Paraíba (AAGISA),
autarquia sob regime especial, com personalidade jurídica de direito público, sem fins
lucrativos, dotada de autonomia administrativa, financeira e patrimonial, vinculada
programaticamente à SEMARH, instituída pela Lei n° 7.033, de 29 de novembro de 2001,
regulamentada pelo Decreto nº 23.628, em 26 de novembro de 2002 (PARAÍBA, op cit.).
A Lei Complementar nº 67, de 07 de julho de 2005, introduziu, no Estado da Paraíba,
uma nova Estrutura Organizacional Básica, ensejando a transformação da SEMARH na
Secretaria de Estado da Ciência e Tecnologia e do Meio Ambiente – SECTMA, com o
objetivo precípuo de coordenar e gerenciar a política estadual de desenvolvimento científico
e tecnológico e da proteção do meio ambiente e dos recursos naturais, bem como coordenar
a política estadual da gestão hídrica, envolvendo planejamento, pesquisa, monitoramento de
recursos, acompanhamento da exploração e de projetos de recuperação ambiental e de
defesa dos recursos naturais.
Nesse sentido, houve, igualmente, o advento da Lei nº 7.779, de 07 de julho de 2005,
criando, em substituição à AAGISA, a Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado
da Paraíba – AESA, entidade da Administração Pública Indireta, dotada de personalidade
jurídica de direito público, sob a forma de autarquia, com autonomia administrativa e
financeira, sede e foro na Capital, jurisdição em todo o território do Estado da Paraíba e
prazo de duração indeterminada, tendo como objetivo primeiro o gerenciamento dos
recursos hídricos subterrâneos e superficiais de domínio do Estado da Paraíba, de águas
originárias de bacias hidrográficas localizadas em outros Estados que lhe sejam transferidas
através de obras implantadas pelo Governo Federal e, por delegação, na forma da Lei, de
águas de domínio da União que ocorrem em território do Estado da Paraíba.
88
No Rio Grande do Norte, está envolvida a Secretaria de Estado dos Recursos
Hídricos do Estado do Rio Grande do Norte (SERHID), criada pela Lei Complementar n°
163, de 25 de fevereiro de 1996, com a responsabilidade de planejar, coordenar e executar
as ações públicas estaduais relativas à oferta e à gestão dos recursos hídricos do Estado do
Rio Grande do Norte. Conduz a Política Estadual de Recursos Hídricos, compõe o Sistema
Integrado de Gestão dos Recursos Hídricos e exerce a gestão do Fundo Estadual de
Recursos Hídricos.
O Instituto de Gestão das Águas do Estado do Rio Grande do Norte (IGARN) é o
órgão estadual responsável pela gestão técnica e operacional dos recursos hídricos em todo
o território norte-rio-grandense. Criado pela Lei nº 8.086, de 15 de abril de 2002, é uma
autarquia vinculada à Secretaria dos Recursos Hídricos, dotada de personalidade jurídica de
direito público interno e autonomia administrativa e financeira, com patrimônio próprio.
Destaque-se, ainda, como coadjuvantes na responsabilidade de construção desse
processo, a participação das Companhias de Água e Esgotos dos Estados: a Companhia de
Água e Esgotos da Paraíba (CAGEPA) e a Companhia de Água e Esgoto do Rio Grande do
Norte (CAERN), bem como da Superintendência de Administração do Meio Ambiente da
Paraíba (SUDEMA/PB).
4.5.3 Processo de construção do Marco Regulatório
Para efetivação dos trabalhos de construção do Marco Regulatório, foram criados
dois Grupos de Trabalhos: Grupo de Articulação Interinstitucional (GAI) e o Grupo Técnico-
Operacional (GTO).
O Grupo de Articulação Interinstitucional, com poder decisório, delibera sobre os
temas relacionados à consecução dos assuntos do Marco Regulatório, bem como na
articulação político-institucional com vistas à implantação do mesmo. Neste grupo, tem
assento um decisor de cada órgão participante do processo.
O Grupo Técnico-Operacional objetiva dar suporte técnico ao Grupo de Articulação
Interinstitucional e é composto por dez representantes, distribuídos da seguinte forma: 02
representantes da ANA; 01 representante da SEMARH/PB; 01 representante da
AAGISA/PB; 01 representante da SERHID/RN; 01 representante do IGARN/RN; 02
representantes do DNOCS/Administração Central; 01 representante da Coordenadoria
89
Estadual do DNOCS no Estado da Paraíba; 01 representante da Coordenadoria Estadual do
DNOCS no Estado do Rio Grande do Norte.
Para definição das demandas futuras, foram criados, em cada Estado, Grupos de
Articulação Intersetorial, formados por representantes das Secretarias de Estado que
conduzem as políticas públicas de uso dos recursos hídricos na bacia em questão.
Para efeito do monitoramento e fiscalização dos recursos hídricos do eixo, nos
aspectos qualitativo e quantitativo, criaram-se os Grupos de Monitoramento e de
Fiscalização ligados ao Grupo Técnico-Operacional, composto por técnicos da ANA,
DNOCS, SEMARH, SUDEMA-PB, AAGISA, SERHID e IGARN.
A ANA propôs, como metodologia para os primeiros passos na direção de um
modelo de gestão integrada da bacia, adotar o eixo mais crítico da rede de drenagem
definido como Sistema Curema-Açu, compreendido pelo trecho do rio que vai do lago do
Açude Curemas-Mãe d’Água à foz, no Rio Grande do Norte, como cenário das definições
iniciais, inclusive dos trabalhos de cadastramento dos usuários da água. O Sistema Curema-
Açu foi dividido em seis trechos (em destaque na Figura 12), quais sejam:
Trecho 1: Lago do Reservatório Curemas-Mãe d’Água;
Trecho 2: Compreendido entre o Reservatório Curemas-Mãe d’Água e a
confluência dos Rios Piancó e Piranhas;
Trecho 3: da confluência até a divisa PB/RN;
Trecho 4: da divisa PB/RN até o Reservatório Armando Ribeiro Gonçalves;
Trecho 5: Lago do Reservatório ARG;
Trecho 6: do Reservatório ARG até a foz do Rio Açu.
90
Figura 12 – Bacia Hidrográfica do Rio Piranhas-Açu
A área de ação para o levantamento cadastral, sob a responsabilidade do Estado da
Paraíba, é aquela que se desenvolve desde o Açude Curemas-Mãe d'Água até a divisa da
Paraíba com o Rio Grande do Norte, compreendendo os trechos 1, 2 e 3, em um
comprimento total de 103 km, incluindo o referido açude. Abrange parte dos municípios de
Coremas, Cajazeirinhas, São Domingos de Pombal, Pombal, Paulista e São Bento, todos no
Alto Sertão Paraibano.
Durante o processo de construção do Marco Regulatório, definiram-se duas etapas a
serem consideradas no processo, quais sejam:
a) Etapa Regulatória
91
A etapa regulatória diz respeito à elaboração do Plano de Regularização e
Ordenamento dos Usos dos Recursos Hídricos no eixo Curema-Açu, com vistas ao
estabelecimento do Marco Regulatório.
As atividades de elaboração do Marco Regulatório foram iniciadas com a Primeira
Reunião de Articulação Interestadual, realizada em 18/06/2003. As demais reuniões
interestaduais foram sendo paulatinamente realizadas e sediadas, alternadamente, em
Natal/RN e João Pessoa/PB. Nestas reuniões, foram tratados, entre outros, assuntos como
balanço das atividades realizadas pelos Estados, DNOCS e ANA, negociação de demandas,
consolidação de metodologias e dados levantados e deliberações gerais. Algumas das
ações propostas e realizadas são apresentadas no Quadro 4.
Quadro 4 Ações realizadas para estabelecimento do Marco Regulatório – Etapa
Regulatória
AÇÃO OBJETIVO Situação
Elaboração do
Convênio de
Integração
Elaborar e celebrar o pacto de gestão de forma a possibilitar a
harmonização de critérios, normas e procedimentos relativos ao
cadastro, à outorga e à fiscalização de usos dos recursos hídricos.
Concluída
Definição e
classificação dos usos
setoriais (quantidade e
qualidade)
Diagnosticar a situação dos usos da água, a partir da análise dos
planos estaduais, do plano de bacia e planos setoriais, visando a definir
os usos e o pré-enquadramento.
Concluída
Levantamento das
condições da oferta de
água no sistema
Conhecer o comportamento hidrológico do sistema, a disponibilidade
hídrica e a qualidade da água dos reservatórios e do vale perenizado.
Concluída
Atualização cadastral Realizar cadastro censitário dos usuários, de forma a atualizar
informações de demanda, tais como cadastro, situação da outorga,
sazonalidade de usos e conflitos.
Concluída
Estabelecimento dos
“pacotes de água” por
trechos/ usos
Estabelecer os volumes de água por trechos e usos a partir de um
processo de negociação no Grupo de Articulação Institucional.
Concluída
Elaboração da
Resolução
Elaborar minuta de Resolução conjunta (ANA e Estados),
estabelecendo o Marco Regulatório de longo prazo, tanto quantitativo
como qualitativo, e ações de suporte à implementação.
Concluída
Aprovação da
Resolução nos CERH
Discussão e Aprovação da Resolução. Concluída
Fonte: Adaptado de Braga et al..(2004).
b) Etapa Gestão
92
A etapa gestão está relacionada com a implementação do Marco Regulatório. Dentre
as ações previstas para a efetivação de tal etapa, destaquem-se as apresentadas conforme
Quadro 5.
Quadro 5 – Implementação do Marco Regulatório e da Regularização de Usos - Etapa
Gestão
AÇÃO OBJETIVO Situação
Elaboração do Documento
Normativo
Elaborar e aprovar Resolução conjunta (ANA e Estados) relativa à
regularização de usos (cadastro e outorga).
Concluída
Elaboração dos
Convênios de Cooperação
Definida a macroalocação de água, serão celebrados os Convênios
de Cooperação entre a ANA e os Estados, visando à implementação
da regularização de usos.
Concluída
Mobilização para etapa
Convocatória
Sensibilizar os usuários da bacia para os procedimentos relativos ao
ato declaratório, a negociação entre usuários e a regularização de
usos.
Concluída
Convocação Realizar convocatória geral aos usuários com vistas à regularização
de usos, sendo prevista atualização anual.
Concluída
Ato Declaratório Apoiar os usuários, seja via contratação de ONG´s, participação de
associações ou suporte estadual, na implementação do cadastro
declaratório/pedido de outorga, prevendo-se 01 ano para que a
regularização de todos os usos seja efetivada.
Em
andamento
Instalação do sistema de
monitoramento
(quantitativo e qualitativo)
Conhecer a disponibilidade hídrica e a qualidade da água dos
reservatórios e dos trechos perenizados no decorrer do ano.
Concluída
Complementação e
atualização do Cadastro
de Usuários
Obter informações sobre todos os usos da água do sistema
Curema-Açu por trecho.
Em
andamento
Definição da Estratégia de
Alocação Negociada
Identificar os principais conflitos de uso e definir a estratégia e a
periodicidade da negociação entre usuários.
Não iniciado
Definição do Modelo de
suporte à decisão
Definir o instrumento de suporte às negociações entre usuários,
tendo por base o Marco Regulatório e o balanço hídrico anual do
sistema.
Não iniciado
Alocação de Água
Negociada
Negociar entre os usuários de água a alocação anual, com base no
Marco Regulatório.
Não iniciado
Concessão de Outorgas A outorga será concedida para um período de 05 anos, com ajustes
anuais, dentro dos limites estabelecidos no Marco Regulatório e na
alocação negociada de água.
Em
andamento
Elaboração do Convênio
de Cooperação
Trata-se da celebração de Convênio entre a ANA e o DNOCS para a
operação dos açudes e suporte à gestão.
Não iniciado
Elaboração do Convênio
de Integração
Elaborar e celebrar o pacto de gestão de forma a possibilitar a
harmonização de critérios, normas e procedimentos relativos ao
cadastro, à outorga e à fiscalização de usos dos recursos hídricos.
Não iniciado
Fonte: Adaptado de Braga et al. (2004).
93
CAPÍTULO V
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para auxiliar na visualização e na compreensão dos resultados da pesquisa,
apresenta-se um modelo esquemático (Figura 13), onde, inicialmente, observa-se o
desenvolvimento do modelo conceitual proposto nos objetivos, denominado de “Dinâmica
Comportamental da Negociação (DCN), com a devida fundamentação em âmbito teórico.
Em seguida, apresenta-se a evolução do Modelo para um Sistema de Apoio a Negociações
materializado na ferramenta Dealer, aqui desenvolvida. Em paralelo, no Campo de
Observação do contexto, é apresentado o resultado da pesquisa realizada no caso em
estudo (Marco Regulatório do Sistema Curema-Açu), o qual fornece insumos para a
validação da DCN e da ferramenta Dealer. Por fim, com delineamento inerente à teoria de
sustentação da DCN, têm-se as análises das evidências comportamentais do desfecho de
oito reuniões de negociações do Marco Regulatório (Saída Real) e os resultados
apresentados pela ferramenta Dealer (Cenário Virtual) das respectivas reuniões. Tais
informações servem de insumo para a elaboração das conclusões acerca do estudo.
Figura 13 – Modelo esquemático do processo utilizado
94
5.1 O campo do desenvolvimento teórico
5.1.1 A concepção do modelo conceitual da Dinâmica Comportamental da Negociação
(DCN)
O propósito central aqui tratado encontra-se na defesa de que não se pode ignorar
os sentimentos, emoções e imparcialidades, traduzidas pelas manifestações dos
comportamentos e estratégias de engajamento, quando dos processos de negociação e
decisão, ainda que estes pensados de forma racional.
O desafio maior, portanto, está na concepção de um modelo conceitual que venha a
representar analiticamente contextos de negociação que levam às decisões, considerando a
manifestação dos vieses tipológicos e comportamentais adicionalmente aos que restringem
estes contextos a uma racionalidade absoluta.
Negociar racionalmente exige, então, a necessidade adicional de buscar
compreender as influências subjetivas ao processo, sobretudo os estados emocionais, não
apenas no conhecimento pessoal como também dos comportamentos dos outros atores
envolvidos, ou seja, entender os fenômenos humanos explícitos e, na medida do possível,
implícitos.
Sabe-se quão complexo é entender a dimensão desse balizamento e aplicá-lo ao
nosso campo de estudo. Ressalta-se, entretanto, que, ao defendê-lo, tem-se claro como
convicção que cada pessoa é única em sua existência, nos sentimentos, nas emoções e na
expectativas de vida; ainda que alguns comportamentos sejam tidos como padrões
universais, a forma de percebê-los é singular.
Conforme divisado até então, buscou-se, portanto, prover um modelo analítico para a
negociação de conflitos, denominado de “Dinâmica Comportamental da Negociação (DCN)”.
Este modelo está consubstanciado na configuração conceitual que considera a perspectiva
dos decisores, levando-se em consideração o enquadramento e a correlação entre tipos
psicológicos e estratégias de engajamento.
95
Por modelo conceitual, entende-se uma esquematização emoldurada por eventos de
um contexto, cujo propósito basilar é o de ilustrar o comportamento de determinadas
varáveis deste campo de observação.
Boucinhas (1972) nos diz que, dependendo da complexidade do objeto de estudo, os
modelos podem apresentar configurações implícitas ou formalizadas explicitamente.
Quando formalizados explicitamente, as principais vantagem podem ser:
Especificação adequada do relacionamento entre variáveis envolvidas;
Objetividade na análise de problemas;
Facilidade de comunicação entre os agentes que utilizam os modelos;
Condições de teste, uma vez que estes podem ser testados em situações
distintas.
A DCN foi concebida sob uma abordagem sistêmica integrada aos contextos
macroambiental e organizacional, articulada através das variáveis (Figura 14):
a) Macroambientais;
b) Organizacionais;
c) Tipológicas comportamentais;
d) de Estratégias de engajamento.
96
Figura 14 – Configuração do Modelo Conceitual da Dinâmica Comportamental da
Negociação (DCN) concebido por esta pesquisa
a) O contexto macroambiental (1, na Figura 14) consiste dos fatores:
I. Ambientais, ilustrados através de características físicas, hidrológicas e biológicas
naturais (indicadores naturais), pressões das atividades humanas que causam modificações
destas características (indicadores de pressão) e as medidas políticas adotadas como
resposta a essas pressões, na busca da melhora do meio ambiente ou da diminuição da
degradação (medidas mitigadoras) (PHILIPI, 2001).
II. Político-legais, materializados através de leis tributárias, fiscais e trabalhistas,
regulamentações de comércio, leis de proteções ambientais, leis de direitos do consumidor
e preços;
97
III. Socioeconômicos, exteriorizados através de atitudes em relação ao estilo de vida,
ativismos e organização das populações, consciência ecológica, preocupação com a
qualidade de vida, alterações populacionais, aumento ou diminuição do produto interno
bruto, variação nas taxas de juros, inflação, câmbio, custos de produção;
IV. Tecnológicos, consubstanciados pelas inovações científicas, automação e gastos
com P&D.
b) Encontram-se, no campo institucional (2, na Figura 14), os fatores:
I. Culturais, retratados através do conjunto de conceitos, princípios, regras, formas
de comportamento e solução de problemas presentes na organização. Tais premissas são
percebidas pelos membros das organizações através de linguagens, símbolos, imagens,
histórias, mitos, rituais, hábitos e valores que permeiam a organização, como forma de
concretização dos hábitos organizacionais (SCHEIN, 1992).
II. Históricos, espelhados por toda a bagagem de experiências vivenciada pela
organização, desde sua criação, bem como as diversas mudanças que contribuíram para a
sua atual configuração.
III. Estruturais, referentes à forma como a organização distribui suas
responsabilidades e atividades em unidades funcionais, bem como ao formato como essas
unidades se relacionam.
IV. De regra, procedimentos e objetivos, traduzidos através dos aspectos formais da
organização, como a definição de funções, a determinação rigorosa das competências por
leis ou regulamentos, a racionalização da divisão de tarefas, baseando-se em regras
específicas, a fim de permitir o exercício das tarefas necessárias à consecução dos
objetivos da organização.
c) As variáveis tipológicas comportamentais influenciam, sobremaneira, na formação
da DCN.
Oportuno destacar, na linha da sustentação teórica, quão é necessário considerar a
inegável interferência dos vieses psicológicos e sociológicos no comportamento do tomador
de decisão, ou seja: seus relacionamentos, valores, crenças e costumes, bem como
emoções e sentimentos ou, de forma mais abrangente, seu tipo psicológico, vistos como
98
variáveis através das quais o decisor reconhece o problema (enquadramento), escolhe as
alternativas e define aquela que lhe parece mais adequada.
O enquadramento (4, na Figura 14) consiste na definição individualizada da situação
problema. Reflete como os atores definem os objetivos centrais e críticos da negociação,
quais são suas expectativas e preferências para os possíveis resultados e que informações
procuram e usam para argumentar. Durante o processo, o enquadramento se dá através da
concepção dos atos, dos resultados e das contingências associadas a uma escolha
particular.
É mister destacar, por oportuno, que esse processo é dinâmico, pois novos
enquadramentos (12, na Figura 14) vão sendo feitos durante a negociação.
Ressalta-se ainda que à escolha / decisão (14, na Figura 14) agrega-se o
conhecimento / cognição, resultante de um processo mental construído ao longo de sua
vida, fruto das experiências e decisões vivenciadas e de novos aprendizados, o Feedback
(15, na Figura 14). Podem-se caracterizar os processos cognitivos (5, na Figura 14), através
da formulação de conceitos individuais resultantes das percepções das informações obtidas
no decorrer do processo.
Diante dessa configuração, assume-se, destarte, que as variáveis tipológicas
comportamentais são resultantes dos seguintes tipos e processos mentais (9, na Figura 14)
(MYERS, 1995):
I. Extroversão (E), preferência por tirar energia do mundo exterior das pessoas,
atividades ou coisas. Pessoas que preferem a Extroversão costumam focalizar o mundo
externo das pessoas e eventos. Elas direcionam sua energia e atenção para fora e recebem
energia de eventos, experiências e interações externas.
II. Introversão (I), preferência por tirar energia do mundo interior das idéias, emoções
ou impressões pessoais. As pessoas que preferem a Introversão costumam focalizar sua
atenção no seu próprio mundo interior de idéias e experiências. Elas direcionam sua energia
e atenção internamente e recebem energia de pensamentos, sentimentos e reflexões
internas.
III. Sensação (S) é a observação pela qual há a preferência por obter informações
através dos cinco sentidos, sobretudo, naquilo que é real. As pessoas que preferem a
99
Sensação gostam de obter informações através dos olhos, ouvidos e outros sentidos para
descobrir o que realmente está acontecendo. Elas observam o que está acontecendo ao
redor e têm bastante facilidade para reconhecer a realidade prática de uma situação.
IV. Intuição (N) é a forma preferencial de observar através de informações, mediante
o “sexto sentido”, especulando sobre aquilo que pode ser. Enfatiza que as pessoas que
preferem a intuição gostam de obter informações observando o todo, focalizando as
relações e as conexões entre fatos. Elas se voltam para padrões e têm grande facilidade
para encontrar novas oportunidades e maneiras diferentes de fazer as coisas.
V. Pensamento (T) é a preferência por organizar e estruturar as informações, para
tomar decisões de maneira lógica e objetiva. Os indivíduos que preferem o Pensamento
para tomar decisões costumam observar as conseqüências lógicas de uma escolha ou
ação. Eles tentam mentalmente “sair” de uma situação para examiná-la com objetividade e
analisar suas causas e efeitos. Eles buscam um padrão objetivo da verdade e a aplicação
de princípios. Sua força está em descobrir o que está errado em uma situação, para
poderem usar a sua habilidade em resolver problemas.
VI. Sentimento (F) é a escolha por organizar e estruturar as informações, para tomar
decisões de maneira pessoal e orientada para os valores. As pessoas que preferem usar o
Sentimento para tomar decisões levam em consideração aquilo que é importante para elas e
para outras pessoas. Elas se colocam mentalmente numa situação e se identificam com as
pessoas envolvidas, de maneira que possam tomar decisões baseadas em valores
humanos. Seus objetivos são a harmonia e o reconhecimento dos indivíduos e seus pontos
positivos incluem a compreensão, a valorização e o apoio a outras pessoas.
VII. Julgamento (J) é o modo de vida que, preferencialmente, busca uma vida
organizada e planejada. Destaca que indivíduos que preferem utilizar o processo de
Julgamento no mundo exterior costumam viver de maneira planejada e metódica, buscando
controlar a vida. Eles tomam decisões, tiram conclusões e seguem em frente. Seu estilo de
vida é estruturado e organizado. Gostam de definições. Para eles, é muito importante seguir
horários e planejamento. Estas pessoas apreciam a própria capacidade em obter resultados.
VIII. Percepção (P) é o outro modo de vida em que, preferencialmente, aspira-se a
uma vida espontânea e flexível. As pessoas que preferem utilizar o processo de Percepção
no mundo exterior costumam viver de maneira bastante flexível e espontânea, procurando
experimentar e compreender a vida, em vez de controlá-la. Planejamento e decisões as
100
fazem se sentirem confinadas; elas preferem permanecer abertas para novas experiências e
opções de última hora. Gostam e confiam em sua criatividade e habilidade, para se adaptar
as exigências de uma situação.
Nesse alinhamento, pode-se afirmar como convicção que o tipo psicológico das
pessoas impacta diretamente em seus relacionamentos cotidianos, bem como na definição
de estratégias e ações em grupos corporativos.
Para a concepção dos tipos psicológicos da DCN, fez-se a opção, como pano de
fundo, pela teoria defendida por Carl Gustav Jung, pois esta possibilita o reconhecimento de
padrões – ou tipos – previsíveis e diferenciados do comportamento humano e explica como
eles se desenvolvem.
Para Jung, as diferenças básicas de personalidade são, então, decorrentes da
maneira como as pessoas preferem usar a mente, como elas percebem as coisas e como
fazem seus julgamentos. A percepção envolve o processo de tomada de consciência de
coisas, de pessoas, de fatos e de idéias. O julgamento envolve os processos através dos
quais chegamos a conclusões a respeito do que foi percebido. Enquanto a percepção
determina o que as pessoas vêem em certa situação, o julgamento determina as decisões
que elas tomam acerca disso (PARIKH, 1998).
Na teoria de Jung, observa-se, portanto, quatro atributos de personalidade no ser
humano, traduzidos através de duas formas de percepção em articulação com duas formas
de julgamento.
A idéia principal defendida por Myers & Briggs (1995), discípulos de Jung, é que,
quando ativa, a pessoa se envolve com uma das duas atividades mentais a seguir:
Coleta de informações – Percepção;
Organização dessas informações e conclusões – Julgamento.
Em paralelo, observou, ainda, que existem duas maneiras opostas através das quais
percebemos as coisas – Sensação e Intuição – e duas maneiras através das quais julgamos
os fatos – Pensamento e Sentimento.
101
Enfim, esta teoria afirma que todas as pessoas se utilizam, diariamente, destes
quatro processos essenciais no mundo exterior e interior (9, na Figura 14), os quais
proporcionam aos seres humanos oito maneiras diferentes de utilizar sua mente (Quadro 6).
Quadro 6 Atividades-chaves
Motivação
Extroversão Introversão
Observação
Sensação Intuição
Decisões
Pensamento Sentimento
Modo de vida
Julgamento Percepção
Fonte: Adaptado de Hirsh & Kummerow (1995).
d) Variáveis de Estratégias de Engajamento
No que trata as estratégias de engajamento, optou-se, na configuração conceitual da
DCN, pelo modelo proposto por Savage et al. (1989), anteriormente explicitado, o qual
sugere quatro tipos de estratégias (6, na Figura 14) agrupadas em dois grupos, a saber:
I. Estratégias de não Engajamento:
Evitação
Realizar atividades sem negociar nada, desde que haja motivação para tal;
A relação custo x benefício não justifica reservar tempo para tal;
Nenhuma expectativa gerada quanto a alternativas disponíveis etc.
II. Estratégia de Engajamento Ativo:
Barganha Distributiva - Competição
Esta estratégia é aquela em que as partes disputam pela distribuição de um valor
fixo; resulta no ganho de um lado às custa da outra parte. O objetivo central do
negociador é conseguir ficar com a maior parte que puder.
Questões afetas a relacionamentos e à reputação pouco significam nesta opção.
Quanto mais uma das partes souber sobre as limitações e as preferências da
outra e conhecer sua real capacidade de barganha melhor posicionada estará.
Negociação Integrativa – Colaboração
102
Neste tipo de engajamento, as partes competem para dividir o valor, contudo
cooperam, para obterem conjuntamente o máximo de benefícios, potencializando
os interesses;
É uma estratégia também conhecida como cooperativa, colaboradora, ganha-
ganha. Neste modelo, as metas da partes não são mutuamente excludentes;
Torna-se necessário, na adoção desta estratégia, o compartilhamento de
informações, objetivando a descoberta de benefícios recíprocos.
Negociação Relacional – Acomodação
Esta estratégia considera o relacionamento mais importante que o resultado
substantivo. Em geral, o negociador deixa a outra parte ganhar e não se
compromete com a busca de resultados substantivos, focando-se apenas na
manutenção da relação;
Em determinadas situações, pode ser utilizada / defendida, se o negociador tem
a expectativa de que a relação favoreça novas oportunidades de negociação,
possibilitando a adoção de uma estratégia diferenciada e compensadora.
Os engajamentos avaliam-se através de critérios (7, na Figura 14) estabelecidos pelo
observador e afetos à negociação em curso, em cada uma das quatro estratégias adotadas
como referência para este estudo.
Na modelagem conceitual da “DCN” – retratada em três momentos (3, na Figura 14):
Entradas, Transformação e Saídas –, apropriou-se desses pressupostos teóricos, ao
considerá-los, quando da tipificação dos atores correlacionados às respectivas estratégias
de engajamentos.
Observa-se, então, que a Dinâmica Comportamental da Negociação (DCN) (11, na
Figura 14) ocorre com a correlação entre Tipos Psicológicos (10, na Figura 14) e Estratégias
de Engajamento (6, na Figura 14) com respectivas intensidades de cada ator (8, na Figura
14). Como resultante, pode-se ter um ambiente distributivo, integrativo, relacional ou de
evitação (13, na Figura 14), em que as decisões (14, na Figura 14) são tomadas. Destarte,
que esta dinâmica traz, de forma subjacente, as variáveis do Campo Institucional (2, na
Figura 14) e do Macroambiente (1, na Figura 14), emoldurando todo o processo.
A “DCN”, notadamente ao articular o ambiente de negociação, através de uma visão
sistêmica das variáveis de contexto macroambiental e institucional, comportamentais /
tipológicas e de engajamento, vem propiciar elementos à correlação de conceitos em níveis
103
superiores, objetivando ocupar lacunas ainda existentes neste processo evolutivo de
valorização dos componentes comportamentais presentes no palco das negociações e
decisões.
5.1.2 O modelo matemático da DCN
A DCN foi implementada matematicamente em um algoritmo que representa as três
fases do contexto, representado, no modelo conceitual disposto, na Figura 14.
Objetivando auxiliar na visualização e na compreensão do modelo matemático
desenvolvido, apresentam-se, de forma esquematizada, as fases (Figura 15):
Figura 15 – Esquematização do Modelo Matemático
FASE 1
PREPARÃO
Seleção dos critérios
Ponderação dos critérios
FASE 2
ENTRADAS
Tipificação dos atores
Relevância dos atores
Identificação das estratégias
individuais e res
p
ectivas intensidades
Base de
conhecimento
FASE 3
SAÍDAS
Identificação da estratégia dominante
na ne
g
ocia
ç
ão
Identificação dos atores mais
evidentes em cada critério
Identificação dos atores mais
evidentes na ne
g
ocia
ç
ão
Saída
Saída
104
FASE 1: Preparação
Seleção e ponderação
Nesta fase, definem-se, identificam-se e ponderam-se, no contexto de uma
negociação:
os critérios que serão observados e considerados;
a relevância / peso que cada critério possui em uma escala de 1 a 5.
FASE 2: Entradas
Tipificação dos atores e identificação das estratégias individuais:
Registra-se o tipo psicológico (Quadro 7) e as estratégias de engajamento (Quadro
8) com as respectivas intensidades para cada ator, nos critérios definidos e
observados durante o processo da negociação.
Quadro 7 Tipos psicológicos
IS
TJ ISFJ INFJ
IN
TJ
ISTP ISFP INFP INTP
ESTP ESFP ENFP ENTP
ESTJ
ES
FJ ENFJ ENTJ
I – Introversão T – Pensamento
E – Extroversão F – Sentimento
S – Sensação P – Percepção
N – Intuição J – Julgamento
Quadro 8 Estratégias de engajamento
Negociação Integrativa
Negociação Relacional
Barganha Distributiva
Evitação
105
Relevância dos atores:
Destacados os atores, o algoritmo quantificá-los-á através da relevância dos seus
tipos psicológicos observados nos critérios da base de conhecimento (exemplo na Tabela
3).
Destaque-se que a base de conhecimento do modelo é elaborada a partir da
literatura e das respectivas deduções preliminares do mediador postas em cada critério
estabelecido para a negociação.
Tabela 3
Exemplo de um Critério da Base de Conhecimento
Estratégia
Critério
Competição Colaboração Acomodação
BUSCA DE
METAS
Busca de metas próprias à custa
dos outros
Busca de metas a serem
alcançadas em conjunto
Subordinação de metas próprias
em favor dos outros
ISTJ
6
ISFJ
3
INFJ
3
INTJ
5
ISTJ
5
ISFJ
6
INFJ
6
INTJ
5
ISTJ
2
ISFJ
5
INFJ
5
INTJ
3
ISTP
5
ISFP
2
INFP
2
INTP
5
ISTP
5
ISFP
1
INFP
6
INTP
4
ISTP
3
ISFP
6
INFP
6
INTP
3
ESTP
4
ESFP
3
ENFP
3
ENTP
4
ESTP
6
ESFP
6
ENFP
4
ENTP
5
ESTP
4
ESFP
5
ENFP
5
ENTP
4
MBTI
TIPOLOGIAS
ESTJ
6
ESFJ
3
ENFJ
3
ENTJ
5
ESTJ
6
ESFJ
6
ENFJ
7
ENTJ
6
ESTJ
1
ESFJ
4
ENFJ
4
ENTJ
2
FASE 3: Saídas
As etapas do processamento pelo algoritmo são:
Identificação do tipo de estratégia dominante:
Nesta etapa, identificam-se os agrupamentos de atores no contexto da negociação
pelas estratégias de engajamento escolhidas em cada critério anteriormente definido e
observado. (exemplo na Tabela 4)
Identificação dos atores mais evidentes em cada critério:
O modelo seleciona a estratégia de engajamento adotada pelo maior número de
atores observados através dos critérios estabelecidos para a negociação e destaca os
atores presentes.
106
Tabela 4
Exemplo de Agrupamento
Critério Competição Colaboração Acomodação Evitação
Critério 1 Ator 1
Critério 2 Ator 5
Critério 3 Ator 3
Critério 4 Ator 2
Critério 5 Ator 4
Soma 4 1
O algoritmo atua apenas na estratégia selecionada, ou seja, naquela que teve o
maior número de atores presentes.
A intensidade do engajamento no critério (forte, média, fraca) observada na
estratégia de cada ator serve de fator de desempate, ou seja, caso haja dois atores
posicionados no critério 1 da estratégia de Competição, será escolhido aquele que
apresentar maior grau de intensidade para aquela estratégia; no caso dos graus serem
iguais, haverá um empate.
Após a observação da relevância dos seus tipos, obtidos na base de conhecimento,
ordenam-se os atores pelo número de pontos em cada critério. É selecionado o ator com
maior relevância para cada critério.
Identificação dos atores mais evidentes na negociação:
Após identificados os atores mais evidentes em cada critério, o algoritmo, nesta
etapa, classifica os atores de acordo com a relevância do critério em que ele for vencedor.
Ao final, os atores que obtiverem mais pontos serão os dominantes naquela etapa da
negociação (exemplo na Tabela 5).
107
Tabela 5
Exemplo da Ordenação pela Relevância do Critério
Critério Peso Ator 1 Ator 2 Ator 3 Ator 4 Ator 5
1 3
3 3 - - -
2 5
- - - 5 -
3 5
5 - - - -
4 2
- - - - 2
5 4
4 - - - -
Soma
12 3 - 5 2
Ordenando os atores, tem-se:
1. Ator 1 = 12
2. Ator 4 = 5
3. Ator 2 = 3
4. Ator 5 = 2
5. Ator 3 = 0
O modelo matemático da DCN sugere, como saída, os prováveis cenários
resultantes do processo com os atores dominantes e respectivas tipologias expressos em
termos relativos. Os cenários apontados podem ser de forma excludente:
Um ambiente de Competição;
Um ambiente de Colaboração;
Um ambiente Relacional;
Um ambiente na linha da Evitação.
5.1.3 O Sistema de Apoio à Negociação
Derivado do modelo analítico da “Dinâmica Comportamental da Negociação (DCN)”
(Figura 14), o Dealer é um sistema desenvolvido para que, correlacionando tipos
psicológicos e estratégias de engajamento, através de um algoritmo associado a uma base
de conhecimento, possibilite a um mediador antever os cenários prováveis de uma
negociação ocorrente, bem como quais perfis e grupos são dominantes no processo em
108
observação. Quando do seu desenvolvimento, esta ferramenta teve como laboratório o
processo de elaboração do Marco Regulatório do Curema-Açu.
Oportuno destacar que os sistemas de suporte à decisão e, no caso específico, a
negociação podem ter objetivos genéricos ou específicos. O sistema Dealer, produto desta
tese, atende ao direcionamento genérico, pois, ao organizar uma arquitetura para sinalizar
cenários de diversos conflitos/problemas, possui uma trajetória similar para as soluções
pretendidas.
Para a modelagem da ferramenta Dealer, utilizou-se a linguagem visual UML,
elaborando-se, no processo de desenvolvimento, os seguintes:
Diagrama de Classe (Figura 16)
Este diagrama foi modelado para representar a arquitetura de classes do Dealer,
ou seja, a estrutura do sistema - suas classes e seus respectivos
relacionamentos.
Diagrama de Use Cases (Figura 17)
O diagrama de use e cases representa as operações do ponto de vista do
usuário da ferramenta Dealer;
Diagrama de Objetos (Figura 18)
O diagrama representa as instâncias das classes do Dealer em um estado do
mesmo;
Diagrama de Colaboração (Figura 19)
Modelado para representar como o sistema resolve um problema. No caso, a
saída do Dealer. Enfatiza, na sua forma, a ordenação estrutural em que as
mensagens são trocadas entre os objetos do Dealer.
109
Parti ci pant
Na me
Group
Phone
E-Mai l
Aspects
CalculatePoints()
PrimaryAspectType()
Negotiation
De scri p t i o n
Da t e
Participants
Title
Groups
Perceptions
Load()
Save()
BuildResults()
Gr o u p
Nam e
CalculatePoints()
Prof il e
MBTI_Name
MBTI_Description
As p ect
Na m e
De sc r i pt i o n
Knowledge
Base
Load()
Save()
As pec t
Ob s e r va t i o n
Aspect
Type
Val ue
A bas e de
conhecimento é
armazenada como
um arquivo XML
Representa um
engajamento de um
participante
Perfil MBTI
As p ectSet t i n gs
Na me
CollaborationDescription
CompetitionDescription
AcommodationDescription
Figura 16 – Diagrama de Classe
Figura 17 – Diagrama de Casos de Uso
Usuá rio
Alimentar base de
conhecimento
Adicionar Participante
Remover Participante
Editar Participante
Editar Percepção de
Engajamento
Criar negociação
Editar Negociação
Editar Ponderações
Exibir resultado
110
Figura 18 – Diagrama de Objetos
Janela de Participantes :
Negotiation
Participant :
Participant
1: Add()
Participant
Points
2: for all participants
Results :
Negotiation
Knowledge Base
3: GetData()
4: CalculatePoints()
5: CalculateResults()
Figura 19 – Diagrama de Colaboração
Negotiation :
Negotiation
KB : Knowledge
Base
ISTJ :
Profile
ENFP :
Profile
INFP :
Profile
João :
Participant
José :
Participant
Mari a :
Participant
Grupo1 :
Gr oup
Grupo2 :
Group
Estrutura de Negoci ação :
Aspect
Solução para um
Colapso : Aspect
Colaboração em nível intenso :
Aspect Observation
...
Observa
ç
ão do as
p
ecto
111
5.1.3.1 As funcionalidades da ferramenta Dealer
Desenvolvido para ser executado em computador de mão – PocketPC, o Dealer
garante a portabilidade e a mobilidade necessária ao mediador para, durante uma
negociação, permitir maior precisão na coleta das informações sobre participantes e na
observação da dinâmica da negociação em si. (Figura 20).
Figura 20 – Modelo Esquemático do Dealer
Como ferramenta de suporte ao mediador, o Dealer sinaliza o cenário provável de
uma negociação, explicitado como: Barganha Distributiva, Negociação Integrativa ou, ainda,
como Negociação Relacional, apresentando, ainda, os tipos psicológicos e organizacionais
112
proeminentes e seus respectivos descritores. A ferramenta, ao dar apoio a essa tarefa,
oferece a possibilidade de, mediante o conhecimento dos tipos psicológicos, o mediador
definir estratégias adequadas ao contexto sinalizado.
Como sistema, o Dealer foi desenvolvido com interface bastante amigável. Sua
operação é centrada em três janelas que permitem configurar as características da
negociação e de seus participantes: Propriedades, Enquadramento e Participantes, além de
um ícone para os resultados (Anexo F – Tutorial do Dealer).
Na aba “Propriedades”, pode-se definir o nome, o objetivo e o início da negociação.
Na aba de “Enquadramento”, pode-se definir a relevância de cada aspecto/critério
observado na negociação, antes estabelecidos na Base de Conhecimento.
A tipificação dos detalhes do participante se dá através da identificação do seu perfil
psicológico / MBTI, que pode ser escolhido através de uma lista que contém os dezesseis
tipos psicológicos ou de um questionário / roteiro que facilita a identificação/ inferência do
perfil adequado.
Figura 21Telas do Dealer I
Na aba de “Engajamento”, observa-se a postura de cada participante, apontando-se
sua estratégia de engajamento e respectiva intensidade para cada aspecto/critério definido
da negociação em observação.
113
A janela de resultados sinaliza o curso provável da negociação que poderá ser uma
Barganha Distributiva, uma Negociação Integrativa ou, ainda, uma Negociação Relacional,
além dos participantes e dos grupos dominantes do contexto observado.
Selecionando-se um participante ou grupo, é exibida uma janela com uma breve
descrição do perfil selecionado.
Figura 22Telas do Dealer II
O uso desta ferramenta é adequado para o processo negociatório, como o do Marco
Regulatório, contexto de observação deste estudo, visto que, ao simular a dinâmica da
negociação, indicando o provável cenário de engajamento e as tipologias dominantes,
facilita sobremaneira a definição de estratégias mediadoras para condutor na negociação.
No tópico seguinte, iniciam-se as análises no campo de observação da pesquisa. As
reflexões e os resultados ali processados serviram, sobremaneira, para consolidação dos
argumentos teóricos defendidos, bem como de elementos para se testar a ferramenta
Dealer desenvolvida.
5.2 O campo de observação da pesquisa
5.2.1 Enquadramento e identificação das estratégias de engajamento
114
Tomando-se como referência as categorias de enquadramento expostas no marco
teórico deste estudo, infere-se que a dinâmica da negociação, no contexto do Marco
Regulatório do Curema-Açu, aproximou-se significativamente da categoria de
Enquadramento como “Desenvolvimento da Questão”, pois foram dinâmicos e crescentes os
contornos integrativos encontrados ao longo do processo.
No que se refere às opções estratégicas de engajamento, destaca-se a Estratégia de
Engajamento Ativo frente à Estratégia de Não Engajamento, justificado pela importância e
pelo interesse simultâneo encontrados nos atores participantes da negociação, sobretudo no
que diz respeito ao alcance de resultados substantivos (metas substantivas) e à busca da
qualidade atual e futura, na relação com a outra parte (metas relacionais).
Diante de tal constatação, buscou-se, então, mapear as estratégias de engajamento
ativo, observando-se características entre as posturas de Competição (barganha
distributiva), Colaboração (negociação integrativa) e Acomodação (negociação relacional),
através dos critérios apresentados no Quadro 2.
De forma sintética, percebeu-se, nas primeiras reuniões, uma postura dos gestores
mais aproximada da Barganha Distributiva em quase todos os critérios estabelecidos. Esta
curva justifica-se pelo fato de que, nos momentos iniciais de interação de grupos, existe uma
natural desconfiança entre as partes, bem como uma dinâmica própria de reconhecimentos
mútuos. Entretanto, com o passar das reuniões, esta postura veio a evoluir, com graus de
intensidade diferentes, para a Negociação Integrativa (Anexo G).
Oportuno destacar que, quando da VII reunião, verificou-se uma postura de
Barganha Distributiva, pois, em que pesem todas as discussões realizadas nas reuniões
anteriores, nesta, foi definida a vazão do Rio Piranhas, na divisa PB/RN, a constar no Marco
Regulatório. Contudo, depois de encerradas as discussões, o grupo retorna uma postura
integrativa só possível, devido ao grau de maturidade e integração construído ao longo das
reuniões (Gráfico 2).
115
Gráfico 2 – Estratégias de Engajamento
5.2.2 As tipologias psicológicas presentes no contexto do Marco Regulatório
No contexto da negociação objeto do estudo, resultante da aplicação do instrumento
MBTI junto aos integrantes do Marco e com o intuito de aprofundar o conhecimento das
características dos grupos ali representados e reconhecer seus possíveis impactos na
dinâmica do processo em observação, mapearam-se os tipos psicológicos dos atores
envolvidos no processo, através de uma observação participante e mediante autorização
1
verbal da pesquisa para fins acadêmicos.
Após tabulados os dados, os tipos psicológicos por instituições participantes do
processo tiveram a seguinte distribuição, conforme disposto no Quadro 9.
1
Aplicação do MBTI com os participantes da VII Reunião de Articulação Interestadual realizada em Natal - RN, mediante
autorização dos mesmos.
116
Quadro 9 Tipos Psicológicos por Instituição
Instituição Qtde Tipos
ANA – Agência Nacional de Águas
1
1
ESTJ
ESFJ
DNOCS – Departamento Nacional de Obras contra a Seca
2
2
1
1
1
ENFP
ESTJ
ISTJ
ENTJ
ESTP
SEMARH – Secretaria Extraordinária do Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Minerais /
Paraíba
1
1
1
2
ESFP
ESFJ
ISTJ
ESTJ
AAGISA – Agência de Águas, Irrigação e Saneamento / Paraíba
3
1
1
ISTJ
ISFJ
INTJ
SERHID – Secretaria dos Recursos Hídricos / Rio Grande do Norte
1
1
1
ISTJ
ISFJ
ISTP
IGARN – Instituto de Gestão das Águas do Rio Grande do Norte
1
1
ISTJ
ESFP
Fonte: Dados da Pesquisa
5.2.2.1 A análise das tipologias
A análise das tipologias possibilitou identificar: 1) distribuição percentual dos tipos
psicológicos; 2) administração do tempo; 3) distribuição das preferências; 4) processos
mentais dominantes; 5) distribuição dos temperamentos; 6) distribuição das preferências por
quadrantes (Gráficos 3 a 8).
117
Distribuição dos Tipos Psicológicos
O Tipo Modal do Marco Regulatório é o
ISTJ, quase 1/3 do grupo apresenta este perfil,
que, como equipe, tende a ser um agrupamento
confiável e sólido, em que os aspectos de
obrigações e papéis são clara e sucintamente
explicitados para cada membro. A comunicação
é geralmente feita por escrito, e a interação das
pessoas é orientada, primeiramente, para
informação versus solução de problemas. Esse
perfil tende a usar informações sensoriais como
fatos e registros históricos para o
desenvolvimento de planos futuros.
ENFP
2
9%
ESFJ
2
9%
ISTP
1
4%
INTJ
1
4%
ENT J
1
4%
ISFJ
2
9%
ES FP
2
9%
EST J
4
17%
EST P
1
4%
ISTJ
7
31%
Gráfico 3 – Tipos Psicológicos
Fonte: Pesquisa de campo
Distribuição das Preferências
De forma geral, analisando-se a
dominância nos respectivos pares de
preferências, tem-se, no Marco Regulatório, a
seguinte distribuição: Extrovertidos “E” (52,2%);
Sensoriais “S” (82,6%); Pensamento “T”
(65,2%) e Julgamento “J” (73,9%).
Tal distribuição efetivamente retrata o
grupo estudado, sendo este composto, na
maioria, por pessoas que reconhecem a
realidade prática de que participam, costumam
observar conseqüências lógicas de uma
escolha, buscam padrões e aplicação de
princípios. Através do julgamento “J”,
costumam viver de maneira planejada e
metódica. Tomam decisões e tiram conclusões.
Apreciam a capacidade de obter resultados
(MYERS, 1995).
82,6%
65,2%
73,9%
17,4%
34,8%
26,1%
52,2%
47,8%
0,00%
100,00%
1
52,17% 82,61% 65,22% 73,91%
2
47,83% 17,39% 34,78% 26,09%
E x I S x N T x F J x P
Gráfico 4 – Distribuição das Preferências
Fonte: Pesquisa de campo
118
Administração do Tempo
Na administração do tempo, o grupo
com dominância sensorial, como o observado
no Marco Regulatório do Piranhas-Açu, distribui
30 minutos para os aspectos referentes à
observação, ou seja, àquilo que está orientado
a obter informações através dos cinco sentidos
e, sobretudo, ao que é real, prático, focado no
presente e construído mediante conhecimentos
(HIRSH; KUMMEROW, 1995).
Gráfico 5 – Distribuição do Tempo
Processos Mentais Dominantes
Estão presentes, no Marco Regulatório,
os Sensoriais “S” com 52,2%. Estes estão
primeiramente interessados nos fatos,
contrariamente os Intuitivos “N” (13,0%), que
são essencialmente interessados nas
possibilidades. O que vem diretamente dos
sentidos é parte da própria experiência dos
sensoriais e, portanto, confiável.
Outra preferência com destaque no
Marco foi “T” – Pensamento com 26,1%, o qual
rivaliza, em uma decisão, com “F” –
Sentimento. O “T” avalia do ponto de vista
“verdadeiro/falso”, e “F”, do ponto de vista
“agradável/desagradável” (MYERS et al. 1997).
N.
3
13%
F.
2
9%
S.
12
52%T.
6
26%
Gráfico 6 – Processos Mentais
Fonte: Pesquisa de campo
Distribuição dos Temperamentos
O temperamento dominante, com
65,2%, foi o “SJ”, denominado de Epimetéico.
Têm, como estilo de liderança, traços
119
tradicionalistas, estabilizadores e
consolidadores. No ambiente laboral, esta
combinação trabalha com senso de
responsabilidade, lealdade e assiduidade.
Ao comentar-se o estilo de aprendizado,
sabe-se que se dá através do passo a passo,
com a preparação para benefícios atuais e
futuros. A contribuição deste tipo de
temperamento é a produção rápida do que lhe
é conferido (MYERS et al., op cit.).
SP.
4
17%
NT.
2
9%
NF.
2
9%
SJ.
15
65%
Gráfico 7 – Distribuição dos Temperamentos
Fonte: Pesquisa de campo
Distribuição das Preferências por
Quadrantes
Com uma participação de 43,5% no
Marco, os “IS” são denominados de “Realistas
Pensadores”. Esta combinação tem como
característica liderar, dando atenção àquilo que
precisa ser feito. A concentração individual está
focada nas considerações práticas, e a
organizacional, na busca da continuidade dos
projetos e ações.
Paralelamente, a combinação “ES” teve
39,1%. Estes são focados na ação prática, e,
como grupo, sua concentração orienta-se para
os resultados.
As duas combinações somadas
representam 82,6% das combinações
presentes no Marco Regulatório.
IN.
1
4%
ES.
9
39%
IS.
10
44%
EN.
3
13%
Gráfico 8 – Preferências por Quadrantes
Fonte: Pesquisa de campo
5.2.2.2 A análise das tipologias comparadas entre PB e RN
No que se reporta às tipologias psicológicas, percebe-se que o temperamento
dominante, nos dois Estados, foi o “SJ”, com um percentual ligeiramente maior na PB. Este
120
temperamento tem como estilo de liderança traços tradicionalistas, estabilizadores e
consolidadores (Gráficos 8 e 9).
NF
0
0%
SP
1
11%
SJ
7
78%
NT
1
11%
NF
0
0%
SP
2
40%
SJ
3
60%
NT
0
0%
Gráfico 9 – Distribuição dos Temperamentos
Perfil Paraíba
Gráfico 10 – Distribuição dos Temperamentos
Perfil Rio Grande do Norte
Fonte: Pesquisa de campo
Analisando-se os pares de preferências, tem-se, nos dois Estados, a dominância de:
Introversão “I”; Sensação “S”; Pensamento “T” e Julgamento “J”. Observa-se ainda que a
semelhança dos dois Estados, no que diz respeito à distribuição das preferências e dos
temperamentos, favoreceu a compreensão do conflito em uma mesma perspectiva, a
geração de alternativas (cenários 5 e 10 anos) ao impasse ocorrente e a consolidação da
decisão, bem como a retomada para um ambiente colaborativo (Gráficos 10 e 11).
Gráfico 11 – Distribuição das Preferências
Perfil Paraíba
Gráfico 12 – Distribuição das Preferências
Perfil Rio Grande do Norte
Fonte: Pesquisa de campo
121
5.3 O campo de aplicação da teoria
5.3.1 Evidências de adequação da “DCN” ao contexto do Marco Regulatório do
Sistema Curema-Açu
O contexto real de oito reuniões do Marco Regulatório do Sistema Curema-Açu
encontra-se analisado através de evidências de adequação da Dinâmica Comportamental
da Negociação (DCN) e, em segundo momento, utilizado como referência para verificar a
consistência dos cenários propostos pela sua implementação matemático-computacional
(Dealer), após o processamento dos registros das referidas reuniões.
As reuniões observadas ocorreram no período compreendido entre 24 de junho de
2003 e 19 de outubro de 2004 e são analisadas a partir da pauta proposta e dos
encaminhamentos e decisões havidos, posteriormente, vêem-se as evidências de
adequação da DCN no Contexto do Marco Regulatório, apresentando, então, a saída virtual,
o cenário sugerido pelo Dealer.
5.3.1. 1 – Reunião I do Marco Regulatório (24/06/2003)
Pauta (Anexo H)
o Promover a integração das ações dos Órgãos Gestores Estaduais, da ANA e do
DNOCS, na Bacia Hidrográfica do Rio Piranhas–Açu e a definição de uma
estratégia de articulação institucional e de mobilização social que envolva os
diversos segmentos usuários de água da mesma, visando à definição do Marco
Regulatório e da alocação negociada da água para a bacia.
Encaminhamentos / Decisões
o Foi proposto um protocolo de intenções que deverá ser celebrado entre os
órgãos institucionais que integram a bacia, como também a definição da equipe
interestadual e interinstitucional, das entidades participantes e de um cronograma
de trabalho, visando à implementação do gerenciamento da bacia;
o Destacou-se a necessidade da criação de dois (02) Grupos de Trabalho de
Articulação, com o objetivo de elaborar e implementar o Plano de Regularização
e Ordenamento dos Usos dos Recursos Hídricos do Curema-Açu;
122
o Ficou definida a criação do Grupo de Trabalho Pró-Comitê da Bacia Hidrográfica
do Rio Piranhas-Açu, com representantes da ANA, SERHID-RN, SEMARH-PB,
DNOCS e Usuários de Água da bacia, visando a iniciar o processo de instituição,
instalação e funcionamento do futuro Comitê;
o Sugeriu-se que os representantes dos Órgãos Gestores dos Estados do RN e da
PB e o DNOCS analisem as Matrizes apresentadas;
o Apresentou-se um relato sobre a situação atual dos recursos hídricos na Bacia
Hidrográfica do Rio Piranhas-Açu, ressaltando a situação atual da regularização
dos usos (cadastro de usuários de água, outorgas e licenças), operação e
monitoramento quantitativo e qualitativo dos açudes públicos acima de 5 milhões
de m³ de água, fiscalização e os trabalhos de organização social direcionados
para a gestão dos recursos hídricos da bacia;
o Discutiu-se uma proposta de gerenciamento integrado dos açudes e a definição
das prioridades dos diversos usos pelas instituições interessadas no manancial;
o Houve discussões e encaminhamentos sobre o processo de instituição,
instalação e funcionamento do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Piranhas-
Açu, sobre o Marco Regulatório: Etapa Regulatória e Etapa de Gestão e
definição da estratégia de articulação entre os órgãos envolvidos, visando à
constituição de uma equipe interestadual e interinstitucional para a elaboração e
a implementação de um plano;
o Será criado um (01) Grupo de Trabalho Pró-Comitê Bacia da Hidrográfica do Rio
Piranhas-Açu, com representantes da ANA, SERHID-RN, SEMARH-PB, DNOCS
e Usuários de Água da bacia, visando a elaborar uma proposta de trabalho única,
para iniciar o processo de instituição, instalação e funcionamento do Comitê;
o Discutiu-se sobre o Marco Regulatório, apresentando as Matrizes das Etapas
Regulatória e de Gestão, solicitando que os participantes discutam, item por item,
as duas etapas.
Evidências de Adequação da DCN no Contexto do Marco Regulatório
123
Ao analisar-se a “Dinâmica Comportamental da Negociação (DCN)”, verifica-se que a
mesma transcorreu em ambiente de expectativas elevadas em relação ao andamento dos
trabalhos de elaboração do Marco Regulatório. Observou-se, nesta reunião, que os
membros participantes exercitaram a capacidade de reconhecimento do ambiente que
estava sendo construído em torno dos que ali estavam presentes.
Posicionamentos de reservas foram adotados, entretanto as argumentações das
partes procuraram influir sobre a forma como a outra parte considera um resultado final
desejável, ou seja, a utilização de estratégias de persuasão como apresentação de
informação e interpretações que favoreciam cada parte de forma exclusiva.
Oportuno destacar que os assuntos distributivos, como a alocação de um recurso
limitado como a água, podem, se não forem bem conduzidos, produzir orientações
competitivas difíceis de serem superadas.
Notadamente, observou-se que a estratégia da Barganha Distributiva foi adotada
pelos atores da PB, RN e DNOCS em aproximadamente 76% dos critérios observados. Em
60% destes critérios, os atores da RN engajaram-se com intensidade suave. Já os atores da
PB e do DNOCS, com intensidade forte (40% e 70% respectivamente). Nessa linha de
observação, destacam-se os critérios “Postura de Solução” e “Medidas de Sucesso”, em que
os atores dos 03 grupos engajaram-se com intensidade forte.
Os atores da ANA, encarregados da mediação da reunião, apresentaram-se, em
76,92% dos critérios observados, com uma estratégia de Negociação Integrativa moderada
ou fraca.
No que tange aos aspectos tipológicos dos atores na “DCN” e analisando-os através
dos pares de preferências, tem-se, nos dois Estados, a dominância de Introversão “I”,
Sensação “S”, Pensamento “T” e Julgamento “J”. Observa-se ainda que a semelhança dos
dois Estados, no que diz respeito à distribuição das preferências e dos temperamentos,
favoreceu a compreensão do conflito em uma mesma perspectiva e a possibilidade de
geração de alternativas em escala crescente desde o início das reuniões do Marco.
A tendência desta tipologia favorece atores que reconhecem a realidade prática de
que participam, costumam observar conseqüências lógicas nas escolhas, buscam padrões e
aplicação de princípios. Através do julgamento “J”, apresentam um comportamento
planejado e metódico coerente com o perfil do grupo observado.
124
Saída Virtual - Cenário sugerido pelo Dealer
A ferramenta Dealer, após alimentada com os dados – estratégias e perfis psicológicos
dos participantes –, apresentou um cenário correspondente ao contexto observado, ou seja,
a reunião transcorreria em um ambiente tendente a uma Barganha Distributiva.
5.3.1. 2 – Reunião II do Marco Regulatório (24/07/2003)
Pauta (Anexo I)
o Informes;
o Balanço das atividades desenvolvidas x Relatório da Reunião de Articulação
(Junho/2003);
o Detalhamento das Atribuições do Grupo Técnico-Operacional;
o Definição de Plano de Trabalho (Atividades/subatividades, prazos e
responsáveis) para a Fase I;
o Identificação de interfaces (atividades concomitantes) entre as duas fases e o
processo de constituição do Comitê de Bacia.
Encaminhamentos / Decisões
o Destacou-se que a metodologia de formação do comitê deve caminhar
juntamente com a elaboração do plano e a necessidade de estruturação dos dois
órgãos de gestão;
o Foram apresentados o documento “Legislação PB X RN X BRASIL: Comparativo”
e o Plano de Trabalho do Cadastro de Usuários de Água na Bacia Hidrográfica
do Rio Piranhas-Açu (subtrecho Paraíba);
o Foi preenchida a Planilha da Etapa Regulatória (definição das atividades,
responsáveis e prazos);
125
o Foi dado início às atividades de mobilização social do Comitê da Bacia
Hidrográfica do Rio Piranhas-Açu no Rio Grande do Norte e à elaboração da
Minuta da Proposta de Criação do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio
Piranhas–Açu em conjunto entre a Paraíba e o Rio Grande do Norte.
Evidências de Adequação da DCN no Contexto do Marco Regulatório
O ambiente ainda era de cautela entre os participantes da PB e do RN, ao se
observar através da Dinâmica Comportamental da Negociação (DCN), justificado pelo fato
de que, nos momentos iniciais de interação de grupos, existe uma natural desconfiança
entre as partes, bem como uma dinâmica própria de reconhecimentos mútuos.
Os atores da negociação utilizaram estratégias de realçar os assuntos importantes
para seu Estado e providências que já vinham adotando, objetivando dar relevo aos temas
tratados na linha de sua perspectiva. O propósito parecia o de adquirir maior controle para
situações futuras em temas mais polêmicos, tal como a definição da vazão da fronteira, o
que, com essa postura, o grupo demonstrava que já apresentava um comportamento
evolutivo na direção de uma postura mais integrativa, coerente com o perfil psicológico do
conjunto.
Destaque-se, ainda, o papel da mediação do processo, buscando adotar a estratégia
de organizar as discussões dos assuntos a partir dos pontos mais fáceis até o mais difícil. A
premissa desta abordagem é aquela em que, mediante acordos sucessivos, estabelece-se
uma atmosfera de confiança e de cooperação, propiciando um ambiente mais favorável,
quando as negociações ficarem mais difíceis.
Verificando-se os representantes desta reunião, percebe-se que os atores do
DNOCS (77% dos critérios), PB (62% dos critérios) e RN (70% dos critérios) continuam a
adotar uma postura de Barganha Distributiva, e a ANA, semelhante à primeira reunião,
permanece adotando a estratégia da Negociação Integrativa.
Ao observar-se a postura distributiva da PB, verifica-se um grau de engajamento de
intensidade forte nos critérios Relacionamentos, Agressividade e Postura-chave. Com o
mesmo grau de intensidade, os atores do RN engajaram-se nos critérios Estrutura do
Objeto, Busca de Metas, Relacionamento, Previsibilidade, Agressividade e Extremo não-
saudável.
126
Os participantes do DNOCS, ainda que na postura distributiva, adotaram, na maioria,
uma estratégia de engajamento mais suavizada, com destaque para os critérios Busca de
Metas, Relacionamento, Conhecimento das Necessidades, Agressividade, Postura de
Solução, Medidas de Sucesso, Postura-chave.
Saída Virtual - Cenário sugerido pelo Dealer
A Barganha Distributiva continua a ser o cenário apresentado pela Dealer, após
processados os registros desta reunião. Portanto, é coerente com o desdobramento da
mesma.
5.3.1. 3 – Reunião III do Marco Regulatório (09/08/2003 e 10/08/2003)
Pauta (Anexo J)
Dia 09/09/2003:
o Informes;
o Aprovação da Ata da Segunda Reunião de Articulação Interestadual da Bacia
Hidrográfica do Rio Piranhas–Açu e da Primeira Reunião do Grupo Técnico–
Operacional;
o Balanço das atividades desenvolvidas x Plano de Trabalho;
a) Estado do Rio Grande do Norte; b) Estado da Paraíba; c) DNOCS; d) ANA;
o Discussão e definição da Minuta de Convênio para a Gestão Integrada, a
Regularização e o Ordenamento dos Usos dos Recursos Hídricos;
Dia 10/09/2003:
o Discussão e encaminhamento de outras questões: Atividades de Mobilização
para Constituição do Comitê da Bacia;
o Comissões Gestoras de Açudes.
Encaminhamentos / Decisões
Dia 09/09/2003
127
o Informou-se a contratação de consultoria através do Programa Proágua Semi-
árido;
o Ata aprovada por unanimidade;
o Discutiu-se sobre: a) Classificação dos Usos Setoriais: Documentação – Base e
Pré–Enquadramento; b) Dados referentes à qualidade dos corpos d’água; c)
Dados sobre o Reservatório Curema-Mãe d’Água; d) Atualização cadastral;
o Discutiu-se e aprovou-se a Minuta de Convênio (Anexo E) elaborada pelo Grupo
Técnico-Operacional.
Dia 10/09/2003
o Relatou-se a situação atual do processo de mobilização social na bacia, no
Estado da Paraíba; apresentou-se, também, documentação referente à primeira
minuta da Proposta de Instituição do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio
Piranhas–Açu.
Evidências de Adequação da DCN no Contexto do Marco Regulatório
O processo de amadurecimento do grupo possibilitou que esta reunião viesse a
ocorrer em um ambiente com contornos integrativos.
As discussões ocorrentes desde o início dos trabalhos e, sobretudo, os sucessivos
entendimentos na elaboração da minuta do convênio que antecedeu a reunião contribuíram
para esse avanço. O convênio tem por objetivo regulamentar o pacto de gestão, de forma a
possibilitar a harmonização de critérios, normas e procedimentos relativos ao cadastro, à
outorga e à fiscalização de usos dos recursos hídricos entre os dois Estados.
A postura colaborativa, na dinâmica comportamental desta negociação, fortaleceu as
relações de trabalho do grupo.
No Gráfico 2, pode-se observar que os decisores adotaram um comportamento
colaborativo, com uma estratégia de Negociação Integrativa. Tal estratégia foi postulada por
decisores com tipologias psicológicas predominantemente Sensoriais “S” (83%) e
Pensadores “T” (26%), os quais, com características marcantes de observar conseqüências
lógicas de uma escolha e buscar padrões e aplicação de princípios, produziram um
128
convênio bastante minucioso, com amplos detalhes técnicos (incluindo dados) e com
dispositivos jurídicos claros e precisos.
Aprovada a minuta do convênio, as questões do Marco passaram a ser abordadas
de forma mais integrada, objetivada pelo grupo a obtenção de benefícios conjugados
através de acordos de interesse entre as partes.
Os atores da ANA, mediadores do processo, continuam na postura integrativa.
Também com a mesma postura, o DNOCS apresenta, entretanto, grau de intensidade,
quando do engajamento mediano.
De forma evolutiva, os atores da PB (61% dos critérios) e do RN (61% dos critérios)
passaram a adotar uma estratégia de Negociação Integrativa, com um grau de intensidade
mediano a fraco para o engajamento. Destacam-se, na PB, os critérios Motivação Primária,
Postura de solução, Medidas de sucesso, Extremo não-saudável, com intensidade mediana,
e, no RN, os critérios Relacionamento, Motivação Primária, Confiança e Abertura,
Agressividade, com intensidade fraca.
Saída Virtual - Cenário sugerido pelo Dealer
Registrados, no Dealer, os comportamentos desta reunião, o cenário gerado altera-
se para o direcionamento da Negociação Integrativa, mostrando simetria ao contexto
observado.
5.3.1. 4 – Reunião VI do Marco Regulatório (06/11/2003)
Pauta (Anexo L)
o Informes;
o Balanço das atividades desenvolvidas pela Paraíba, Rio Grande do Norte, ANA e
DNOCS;
o Cadastro de Usuários;
o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Piranhas-Açu;
129
o Encaminhamentos.
Encaminhamentos / Decisões
o Informou-se o envio da minuta de convênio, já aprovada pela ANA, aos Estados
e ao DNOCS, para análise das respectivas Procuradorias Jurídicas;
o Apresentaram-se as atividades desenvolvidas pelos Estados, ANA e DNOCS;
o Finalização de cadastro em 31/10/2003; iniciou-se a etapa denominada de “Pós-
Cadastro”, com o cálculo das demandas, a elaboração de mapas
georreferenciados, as análises de consistência e estatísticas;
o Acordou-se a elaboração do Sumário da Proposta de Criação do Comitê e dos
Termos de Adesão;
o Foi proposto que a próxima reunião de Articulação Interestadual seria realizada
na sede do DNOCS/Administração Central, em Fortaleza.
Evidências de Adequação da DCN no Contexto do Marco Regulatório
A “Dinâmica Comportamental da Negociação (DCN)” constata um processo
crescente de maturidade das equipes de negociadores dos Estados. Nos pontos de disputa,
a postura continua a ser a de encontrar consensos.
O ponto de destaque, nesta etapa, diz respeito à finalização do cadastro, que foi
elaborado pelos Estados em suas respectivas áreas, com a mesma metodologia de coleta e
tabulação, propiciando, portanto, a uniformidade da informação.
Com o cadastro concluído, discutido e compartilhado, foi possível construir um
ambiente de abertura para a elaboração de acordos. O compartilhamento das informações
passou a ser importante, como forma de propiciar um corte analítico no contexto hidrológico
do Sistema Curema–Açu. Tal postura de compartilhamento só é possível na Negociação
Integrativa, tendo sido a estratégia adotada por todos os negociadores do Marco, em todos
os critérios observados.
130
Os representantes da ANA e do DNOCS engajaram-se, com grau de intensidade
forte, em todos os critérios, enquanto a PB e o RN tiveram grau de intensidade forte apenas
nos critérios Motivação Primária, Postura de Solução, Medidas de Sucesso, Extremo não-
saudável e Solução para um colapso.
Uma característica tipológica de temperamento dominante diz respeito ao perfil “SJ”
(65,2% do grupo). Estes indivíduos possuem traços estabilizadores e de responsabilidade
acentuada. Têm, também, capacidade resolutiva, o que propiciou o bom andamento dos
trabalhos até então.
Saída Virtual - Cenário sugerido pelo Dealer
A Negociação Integrativa foi o cenário gerado pela ferramenta de apoio à
negociação, Dealer, o mesmo da saída real do Marco nesta reunião.
5.3.1. 5 – Reunião V do Marco Regulatório (10/12/2003 e 11/12/2003)
Pauta (Anexo M)
o Informes;
o Aprovação da Ata da Quarta Reunião de Articulação Interestadual da Bacia
Hidrográfica do Rio Piranhas–Açu e Terceira Reunião do Grupo Técnico
Operacional;
o Balanço das atividades desenvolvidas e compromissos assumidos na Quarta
Reunião de Articulação pelos Estados do Rio Grande do Norte e Paraíba, ANA e
DNOCS;
o Cadastro de Usuários;
o Análise da Consistência dos Dados do Cadastro, Identificação de Possíveis
Correções ou Complementações;
o Discussão do Balanço Hídrico (oferta x demanda);
131
o Definição dos encaminhamentos para assinatura do Convênio de Integração;
o Definição dos encaminhamentos para a complementação do Balanço Hídrico
(conclusão do cadastro, levantamento das demandas setoriais, entre outros);
o Discussão sobre Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Piranhas–Açu;
Encaminhamentos / Decisões
o Sugeriu-se a inversão da pauta e solicitou-se que os trabalhos sejam iniciados
com a apresentação do representante da ANA com a seguinte abordagem:
Simulações com os dados do Cadastro de Usuários apresentados pelos Estados
do RN e da PB;
o Aprovou-se, por unanimidade, a Ata da Quarta Reunião de Articulação
Interestadual da Bacia Hidrográfica do Rio Piranhas–Açu e Terceira Reunião do
Grupo Técnico-Operacional;
o Apresentaram-se e discutiram-se, com o Grupo Técnico Operacional, várias
alternativas possíveis de alocação negociada de água, a partir dos dados dos
cadastros apresentados;
o Relataram-se o Balanço das Atividades Desenvolvidas e Compromissos
Assumidos na Quarta Reunião de Articulação pelos Estados do Rio Grande do
Norte e Paraíba, ANA e DNOCS; cadastraram-se os usuários;
o Definiram-se os encaminhamentos para a assinatura do Convênio de Integração;
o Os participantes do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Piranhas-Açu
(SEMARH/PB e SERHID/RN) relataram a situação atual das atividades
desenvolvidas no processo de criação do Comitê em seus respectivos Estados,
ficando acertado o encaminhamento da Proposta de Criação do Comitê ao
Conselho Nacional de Recursos Hídricos - CNRH, no primeiro semestre de 2004.
Evidências de Adequação da DCN no Contexto do Marco Regulatório
A reunião transcorreu em um ambiente integrativo, consolidando a postura de
integração do grupo quanto às discussões de natureza substantiva. Com a apropriação das
132
informações no processo de negociação, o debate passou a ter um conteúdo densamente
técnico mais focado nas questões referentes ao Balanço Hídrico (oferta x demanda), bem
como as iniciais da alocação negociada da água.
Passou-se a observar que, mesmo com uma postura colaborativa, algumas questões
de natureza subjacente ficavam obscuras e nebulosas, a exemplo das estratégias que se
iriam utilizar, quando da definição da vazão da divisa entre os dois Estados. Observou-se,
nessa linha, algumas resistências nas equipes em compartilhar plenamente informações, já
interessadas em saber até que ponto se podia ir, sem dar demasiadamente informações, a
ponto de ficar vulnerável a questão de fundo do Marco – a vazão da divisa.
A ANA (100% dos critérios), o DNOCS (92% dos critérios), a PB (77% dos critérios) e
o RN (62% dos critérios) fizeram a opção pela estratégia da Negociação Integrativa.
Os atores da PB adotaram um engajamento com intensidade fraca nos critérios
Estrutura do Objeto, Relacionamentos, Motivação Primária, Confiança e Abertura,
Agressividade, Postura de solução, Medidas de sucesso, Extremo não-saudável e Postura-
chave.
Os representantes do RN, com a mesma intensidade de engajamento fraca
observada na PB, estiveram nesta reunião nos critérios: Estrutura do Objeto,
Relacionamentos, Motivação Primária, Postura de solução, Medidas de sucesso, Extremo
não-saudável e Postura-chave.
Saída Virtual - Cenário sugerido pelo Dealer
O Dealer continua a gerar como cenário a Negociação Integrativa.
5.3.1. 6 – Reunião VI do Marco Regulatório (16/02/2004)
Pauta (Anexo N)
o Informes sobre pendências e encaminhamentos;
o Apresentação dos resultados dos cadastros de usuários da Paraíba e do Rio
Grande do Norte;
133
o Apresentação e discussão das simulações hidrológicas e dos possíveis cenários.
Encaminhamentos / Decisões
o Informou-se a realização da Reunião Interinstitucional para Discussão da
Operação do Sistema Curema–Açu;
o Foram apresentados e discutidos os dados do cadastro da PB e do RN;
o Apresentaram-se os cenários elaborados pelo Grupo Técnico-Operacional,
seguido de discussões com os membros do Grupo de Articulação Institucional;
o Apresentou-se, discutiu-se e deliberou-se a estratégia para definição da agenda
de trabalho para o estabelecimento do Marco Regulatório para outorga na Bacia.
Evidências de Adequação da DCN no Contexto do Marco Regulatório
O ambiente integrativo continua como resultante da Dinâmica Comportamental da
Negociação. As discussões transcorrem de forma colaborativa, sobretudo no que diz
respeito à atualização do cadastro de usuários do Sistema Curema–Açu.
Observaram-se discussões mais acaloradas, quando das apresentações das
simulações hidrológicas e dos possíveis cenários para a bacia. As características
pragmáticas dos tipos Sensoriais “S” e Julgadores “J” foram evidenciadas nestes instantes.
Discussões setoriais de natureza substantiva foram realizadas e negociadas em
cada Estado, firmando-se, assim, posições e propostas desenvolvidas no âmbito de cada
equipe e cujo objetivo era fazer com que a outra parte aceitasse um acordo favorável. Este
modelo contribuiu para limitar as capacidades dos negociadores no desenvolvimento de
propostas conjuntas, porém foi desafiante para os atores do processo e, sobretudo, para os
mediadores encontrarem pontos de convergências.
Analisando a postura de engajamento, continua a ANA (100% dos critérios) e o
DNOCS (92% dos critérios) na estratégia integrativa com grau de intensidade forte.
134
Os atores da PB (85% dos critérios) e do RN (85% dos critérios) mantêm a postura
integrativa e, de forma semelhante, com intensidade de engajamento fraca nos seguintes
critérios: Estrutura do Objeto, Busca de Metas, Relacionamentos, Motivação Primária,
Confiança e Abertura, Agressividade, Postura de solução, Medidas de sucesso, Extremo
não-saudável e Postura-chave.
Saída Virtual - Cenário sugerido pelo Dealer
A Negociação Integrativa foi o cenário gerado pela ferramenta de apoio à
negociação Dealer, após os dados alimentados. Igual foi o resultado com o contexto da
reunião.
5.3.1. 7 – Reunião VII do Marco Regulatório (21/06/2004 e 22/06/2004)
Pauta (Anexo O)
Dia 21/06/04
o Informes Gerais:
a) Proposta de Convênio de Cooperação entre a Agência Nacional de Águas – ANA,
o DNOCS e os Governos do Rio Grande do Norte e Paraíba para a Fiscalização
Integrada da Bacia do Rio Piranhas–Açu; b) Relato das atividades desenvolvidas
pelas equipes de monitoramento da ANA, DNOCS e Estados do Rio Grande do
Norte e Paraíba, visando à definição de uma rede integrada de monitoramento
quantitativo e qualitativo para a Bacia do Rio Piranhas–Açu;
o Aprovação da Ata da VI Reunião de Articulação Interestadual da Bacia do Rio
Piranhas–Açu;
o Apresentação dos Resultados das demandas setoriais e dos critérios adotados
para a construção dos cenários: a) Estado do Rio Grande do Norte; b) Estado da
Paraíba;
o Apresentação das simulações do balanço hídrico (situação atual e cenários
futuros), com base nas informações fornecidas pelos Estados (oferta x demanda)
pela ANA.
135
Dia 22/06/04
o Discussão e deliberação sobre os quantitativos do Marco Regulatório;
o Discussão e definição das minutas de Resolução da ANA (Anexo Q) e de
Portarias dos CERHs sobre definições do Marco Regulatório;
o Encaminhamentos: definir procedimentos e cronograma para a aprovação e a
divulgação da Resolução e das Portarias do Marco Regulatório.
Encaminhamentos / Decisões
Dia 21/06/2004
o Foram feitos contatos pela Superintendência de Fiscalização da ANA, que
desenvolveu trabalhos voltados para se traçar um paralelo entre os
procedimentos adotados nas legislações dos dois Estados (PB e RN) e a
legislação nacional, nos aspectos referentes à fiscalização, de forma que, na
proposta, os procedimentos sejam os mais harmônicos possíveis, para que se
possa fazer uma gestão integrada da bacia;
o Houve incorporação de órgão, no intuito de montar, conjuntamente com os
Estados da Paraíba e do Rio Grande do Norte e com os DNOCS, a rede
hidrológica da Bacia do Rio Piranhas-Açu e otimizar certas instruções de
acompanhamento da quantidade e qualidade das águas da bacia;
o Ata aprovada por unanimidade;
o Ressaltou-se que, para a elaboração das demandas setoriais do Estado do RN,
foi criado um Grupo de Trabalho Intersetorial, visando a discutir, a sugerir e a
apresentar os projetos, em execução e planejados para o horizonte de 10 anos,
na Bacia do Rio Piranhas-Açu, com suas respectivas demandas de água.
Salientou-se que, para definição das demandas futuras, foi utilizada a
metodologia de dividir o Rio Piranhas – Açu, no RN, em três (03) trechos, e, em
seguida, foi apresentado o Quadro Resumo das Demandas Futuras;
o Ressaltou-se que, na 1ª Reunião Intersetorial, foi acordado que os órgãos
enviariam os dados referentes às projeções de demandas para a área em
136
questão e que foram encaminhados à SEMARH os dados da CAGEPA e da
Secretaria de Agricultura; em seguida, foram apresentados dados das demandas
setoriais (atuais e futura). Foram apresentados os seguintes resultados:
considerando os três (03) trechos e a finalidade (usos), o Estado da Paraíba
apresenta uma Demanda Atual Total (cadastro) de 4,133 m³/s e uma Demanda
Futura Total de 9,559 m³/s;
o Após a apresentação da metodologia, foi enfatizado que o número apresentado
no Cenário 5 (entre os 06 apresentados) – Projeção: 53,780 m³/s –,
fundamentado nas demandas apresentadas pelos Estados da Paraíba e do Rio
Grande do Norte, ultrapassa, consideravelmente, a vazão regularizada do
Sistema Curema-Açu, que é de 27,30 m³/s (95% Garantia, de acordo com os
estudos da Transposição).
Dia 22/06/2004
o Ficou assegurado e acordado que a vazão mínima de 1,50 m³/s na divisa PB/RN,
ao longo dos 10 anos, será escalonada da seguinte forma: do 1º ao 5º ano do
Marco Regulatório, será liberada pela Paraíba a vazão mínima de 1,50 m³/s na
divisa PB/RN, e, do 6º ao 10º ano do Marco Regulatório, será liberada pela
Paraíba a vazão mínima de 1,00 m³/s na divida PB/RN. Com relação às demais
demandas de uso do RN, estas sofreram, da mesma forma que no Estado da
Paraíba, os reajustes necessários, para se adequarem à vazão regularizada pela
Barragem Armando Ribeiro Gonçalves/RN, que é de 19,4 m³/s, com 90% de
Garantia, segundo os dados do Estudo da Transposição do Rio São Francisco;
para o Sistema de Reservatórios Curema-Mãe d’Água/PB, foi considerada a
vazão regularizada de 7,9 m³/s, com 95% de Garantia, fundamentada no Plano
Estadual de Recursos Hídricos da Paraíba. Para a Barragem Armando Ribeiro
Gonçalves/RN, foi considerada a vazão regularizada de 19,4 m³/s, com 90% de
Garantia, fundamentada no Estudo da Transposição das Águas do Rio São
Francisco; foram apresentados 06 Cenários, com as demandas de água
acordadas pelos Estados da Paraíba e do Rio Grande do Norte, para o Plano de
Macro Alocação de Água da Bacia do Rio Piranhas–Açu – MarcoRegulatório
(Horizonte de 10 anos) - Cenário 1: 16,991 m³/s; Cenário 2: 20,534 m³/s; Cenário
3: 29,980 m³/s; Cenário 4: 29,320 m³/s; Cenário 5: 53,780 m³/s e Cenário 6:
26,890 m³/s;
137
o Foi informado que a Resolução será elaborada pela ANA e posteriormente
encaminhada aos Estados e ao DNOCS, para que estes analisem e apresentem
suas considerações; foi feita uma Portaria Interministerial, criando um Grupo de
Trabalho, para analisar e propor o Sistema Operacional Sustentável para o
Projeto de Integração das Águas do Rio São Francisco, nas Bacias do Nordeste
Setentrional;
o Foi aceito, por unanimidade, que a ata constitua o documento oficial para
subsidiar a elaboração da minuta de Resolução que deverá ser feita pela ANA e
posteriormente analisada pelos dois Estados e pelo DNOCS; a Resolução
elaborada pela ANA deverá ser replicada pelos dois Estados, sendo esta
fundamentada em uma Nota Técnica. No caso do Marco Regulatório, como é
uma experiência muito rica, deverá ser feita uma Nota Técnica substancial,
relatando todas as situações aqui ressaltadas; com a Resolução pronta, deverá
ser marcada uma Reunião para assinatura contando com a participação de todos
os atores institucionais envolvidos no Convênio de Integração.
Evidências de Adequação da DCN no Contexto do Marco Regulatório
Um dos pontos mais importantes do Marco foi a definição da vazão mínima a ser
garantida na divisa dos Estados da Paraíba e do Rio Grande do Norte, a qual foi negociada
nesta reunião. A disputa ocorreu, pois cada Estado queria ter “direito a mais água”, ou seja,
a Paraíba queria uma menor vazão, em torno de 0,8 m³/s, enquanto o Rio Grande do Norte
pleiteava um valor maior, em torno de 1,5 m³/s. Assim, cada Estado teve seus valores
preferidos (oferta inicial), que foram negociados a partir dos valores de reserva (valores para
a negociação), como mostrado na Figura 23 e no Quadro 17.
No contexto desta decisão, as posturas dos atores da Paraíba e do Rio Grande do
Norte estavam claramente posicionadas em uma estratégia de Barganha Distributiva, ambos
em 84,61% dos critérios observados, enquanto os atores da ANA tinham uma postura
colaborativa (Figura 22). Vale salientar que, naquele momento, os atores do DNOCS não se
identificavam apenas com a sua Instituição, mas também com os Estados a que pertenciam,
dividindo-se na disputa.
Muito provavelmente, os representantes dos dois Estados já dispunham do nível
máximo de concessão e o estimado da outra parte. Tal conhecimento, liderado pelas
138
tipologias de referência dos Estados, converteu-se na base das estratégias de negociação
de posições.
Oportuno destacar que, em reuniões anteriores, ainda que em posturas
colaborativas, as análises técnicas elaboradas e discutidas indicavam o não atendimento
das demandas hídricas de cada Estado, sinalizando para o estabelecimento de um iminente
embate.
Iniciada a negociação, evidenciou-se um impasse no horizonte de 10 anos. Nessa
situação, lançou-se mão de um novo cenário, com o horizonte de 5 anos. Com esse novo
cenário, após várias discussões, o consenso se estabeleceu com uma vazão de 1,5 m³/s
nos 5 primeiros anos e de 1,0 m³/s até o final do 10º ano.
Como visto, a reunião transcorreu em ambiente tenso, tendo em vista que estavam
sendo efetivamente discutidos e acordados os termos da Resolução que irá disciplinar todo
o contexto do Marco Regulatório do Curema-Açu e, sobretudo, a vazão da divisa. Nela, os
atores participantes da negociação efetivamente se utilizaram de todos os seus argumentos
técnicos e de persuasão, buscando o convencimento da outra parte (PB x RN).
A mediação do processo, conduzida pela ANA, buscou equilibrar habilmente a
tensão gerada com técnicas de convencimento em uma postura estratégica integrativa.
Destaque-se que o conhecimento ampliado desta mediação permitiu a elaboração das
estratégias que tornaram possível fechar o acordo esperado, inclusive, em determinado
momento, com a apresentação de uma situação favorável alcançada por mérito de um
Estado, para fazer com que o outro se visse forçado a aceitar o ponto em debate.
Saída Virtual - Cenário sugerido pelo Dealer
Apontados os registros da VII Reunião do Marco na ferramenta Dealer, esta, de
forma coerente ao transcorrido na reunião, apresentou o cenário da Barganha Distributiva,
como sendo aquele que melhor retratava a Dinâmica Comportamental da Negociação –
DCN.
139
Figura 23 – Negociação da vazão da divisa Paraíba e Rio Grande do Norte
Quadro 10 – Vazões de negociação entre Paraíba e Rio Grande do Norte
Valores de Reserva Estado Oferta Inicial
(i)
r1 r2
PB i = 0,8 m³/s r1 = 1,0 m³/s R2 = 1,5 m³/s
RN i = 1,5 m³/s r1= 1,0 m³/s -
5.3.1. 8 – Reunião VIII do Marco Regulatório (18/10/2004 e 19/10/2004)
Pauta (Anexo Q)
o A pauta cumprida, nos dois dias de reunião, incluiu, no primeiro dia, a
apresentação do Consultor da SEMARH e o programa das discussões de
qualidade de água;
o Fechamento de metodologia para regularização de usos, com cronograma e
planilha de custos;
o Formação do Comitê da Bacia do Rio Piranhas-Açu;
o Monitoramento do Sistema Curema–Açu.
(m³/s) (i) 1,5 r(1) 1,0 0,8
Intervalo de negociação da
vazão entre PB e RN
(m³/s) (r2) 1,5 r(1) 1,0 (i) 0,8
140
Encaminhamentos / Decisões
o Recomendou-se a integração dos registros do processo de elaboração do
Marco Regulatório como um relato daquela reunião memorável;
o Foram elaboradas duas notas técnicas que darão suporte à elaboração do
Marco Regulatório;
o Foi proposto um critério para diminuir a demanda de água para carcinicultura
de 8,0 m³/s para 4,4 m³/s;
o Foram propostos dois modelos de certificados de regularidade de uso da
água;
o Foi proposto substituir o nome “uso insignificante” por “usos dispensáveis de
outorga”;
o Colocaram-se em discussão os encaminhamentos operacionais da fase de
regularização de usos;
o Sugeriu-se que a permuta entre cotas de água de uma finalidade para outra
só deva ocorrer por pedido do Governador à respectiva entidade gestora do
Sistema Curema-Açu.
Evidências de Adequação da DCN no Contexto do Marco Regulatório
Dado o elevado grau de maturidade do grupo, construído ao longo das discussões,
observou-se que a tensão gerada na última reunião não desestabilizou os membros
participantes do Marco.
A Dinâmica Comportamental da reunião transcorreu em ambiente colaborativo na
linha da discussão dos méritos dos assuntos abordados, bem como buscando-se encontrar
ganhos mútuos. Esse estilo de resolução dos problemas mediante a postura colaborativa
adotado pelos Estados da Paraíba e do Rio Grande do Norte fortalece as relações de
trabalho a longo prazo.
141
Considerando os aspectos da DCN, neste encontro da negociação, todos os atores
apresentam uma postura focada novamente na Negociação Integrativa. Tal constatação
diferencia-se da estratégia adotada na última reunião, em que a PB, o RN e o DNOCS se
posicionaram adotando uma estratégia distributiva.
A ANA, grupo de mediação das reuniões, conservando percentuais similares aos
apresentados nas demais reuniões, manteve-se em uma postura de Negociação Integrativa
de intensidade forte em 92,31% dos critérios analisados.
Saída Virtual - Cenário sugerido pelo Dealer
A Negociação Integrativa foi o cenário gerado pela ferramenta Dealer, semelhante
à saída real.
Destaque-se que, na quase totalidade das reuniões, os perfis dominantes sugeridos
pela ferramenta Dealer foi o ESTJ. Indivíduos que apresentam esta tipologia são
objetivamente críticos, severos quando a situação exige. Pessoas desse tipo preferem
basear seus planos e decisões em fatos e procedimentos concretos, não são intuitivas e
podem precisar ter um intuitivo por perto, para perceber a importância de novas idéias.
Os atores que possuem esta tipologia gostam de organizar projetos, operações,
procedimentos e pessoas, para, então, agir e executar as tarefas; vivem de acordo com um
conjunto de crenças e de padrões bastante definidos, esforçando-se sistematicamente para
segui-los, esperando o mesmo das outras pessoas, valorizam a competência, a eficiência e
os resultados.
142
CONCLUSÕES
O estudo teve como objetivo central prover um modelo para a negociação de
conflitos, com ênfase nas variáveis subjetivas presentes nos processos humanos internos e
de comportamento. Buscou-se uma concepção que viesse a pensar a negociação
considerando a manifestação dos vieses tipológicos e de engajamento em complementação
aos que limitam estes contextos a uma perspectiva de racionalidade absoluta.
Ao contextualizar o tema na área de recursos naturais – mais especificamente dos
recursos hídricos –, quando da observação do processo de alocação negociada da água na
construção do Marco Regulatório do Sistema Curema-Açu, encontrou-se uma arena propícia
à elaboração de seus argumentos teóricos.
Os direcionamentos específicos derivados do objetivo geral foram, para efeito
evolutivo do modelo conceitual concebido: 1) o desenvolvimento de um sistema de apoio à
negociação, com vistas a prover estratégias mediadoras a agentes mediadores de conflitos;
2) a identificação das tipologias e estratégias de engajamentos, bem como decisões dos
atores participantes do contexto em observação e 3) a análise do contexto real das reuniões
do Marco Regulatório do Sistema Curema-Açu, através dos pressupostos do modelo
configurado, utilizando-o como referência, para verificar a consistência da ferramenta de
apoio à negociação desenvolvida.
Como balizamento teórico, destacaram-se conceitos e estudos proeminentes à área
da negociação e do comportamento do decisor, ressaltando, na linha da argumentação
utilizada, que as relações entre atores influenciam no processo, sendo as ações decorrentes
de uma conjuntura social.
No mesmo diapasão, encontrou-se simetria com os argumentos de Thompson e
Deharport (1994), por, também, defenderem que indivíduos que fazem julgamento impreciso
da outra parte são menos aptos a atingir um entendimento integrativo. Dizem que quanto
mais se privilegiar, no processo de negociação, o perfil comportamental dos decisores, mais
próximo se estará da melhor decisão para as partes envolvidas. Essa defesa encontra-se,
também, abraçada com convicção nesta tese.
Nos tratados de Angeoli (2003), encontraram-se paralelismos ao estudo, pois afirmou
ele que, em um ambiente de disputa, não se pode pensar que os indivíduos são
143
completamente racionais e que não consideram a identidade da outra parte. Com
propriedade, destacou ainda que dados e informações, indispensáveis ao processo de
tomada de decisão, são passíveis à interferência dos modelos mentais dos indivíduos.
Neste estudo, os processos mentais são vistos no modelo configurado da Dinâmica
Comportamental da Negociação (DCN) e fundamentados na teoria junguiana.
Observou-se, também, em Simonovic (1996), a defesa de que os sistema de suporte
à decisão devem ser entendidos como uma ferramenta que permite aos decisores combinar
julgamento pessoal com os resultados fornecidos pelo computador, destacando, portanto, a
importância dos aspectos inerentes ao indivíduo.
Ao defender o modelo conceitual da DCN, ancoraram-se seus argumentos de origem
no posicionamento manifestado por Max H. Bazerman, conceituado pesquisador da Harvard
Business School. Bazerman (2004) afirma como já visto, que iniciamos o século XXI com
um vasto conhecimento sobre como usar a tecnologia, para integrar dados e tomar
decisões, não se evoluindo, entretanto, nos aspectos inerentes a valores e a preferências,
quanto a risco, ou seja, naquilo que exige o julgamento humano.
Quando da evolução do conceito da DCN para a ferramenta de suporte à decisão –
Dealer, observou-se um enquadramento aos argumentos de Camerer (2003), por ter ele dito
que, se novas ferramentas comportamentais continuarem sendo estudadas com
regularidade e provadas teoricamente, elas deveriam ganhar um lugar proeminente
nas discussões acadêmicas.
O procedimento metodológico adotado na concepção do modelo conceitual DCN
deu-se mediante a configuração de elementos gráficos, por possibilitar, através de
diagramas, explicar o comportamento de determinadas variáveis do campo da observação
e, no caso específico, da negociação de conflitos.
Paralelamente, por não manipular e controlar variáveis de interesse, quando do
estudo dos tipos psicológicos do Marco, e por focar o comportamento do negociador como
naturalmente ocorre, o método utilizado para a pesquisa de campo foi o não experimental, e
a amostra adotada foi não-probabilística intencional por conveniência.
Os resultados em si foram observados sob três direcionamentos: 1) campo do
desenvolvimento teórico; 2) campo de observação da pesquisa e 3) campo da aplicação da
teoria.
144
Sem pretensões de se atingir conclusões definitivas no campo da investigação, os
resultados revelam alguns princípios orientadores – estratégias de engajamento e tipos
psicológicos – que podem clarificar a dinâmica da negociação de conflitos, sob uma
perspectiva comportamental dos decisores.
Na linha do desenvolvimento teórico, atendendo ao objetivo geral, destacou-se como
elemento diferenciador o entendimento articulado entre variáveis de personalidade
(tipologias psicológicas) e comportamento (estratégias de engajamento), no processo de
negociação de conflitos, traduzidas na configuração do modelo conceitual da Dinâmica
Comportamental da Negociação (DCN).
Ancorado no argumento de que há uma necessidade adicional de se buscar
compreender as influências subjetivas ao processo de negociação de conflitos, sobretudo os
estados e tipos psicológicos não apenas do conhecimento pessoal, mas também das
tipologias e comportamentos dos outros atores envolvidos, esta tese, ao configurar
esquematicamente o modelo DCN, contribui para iluminar o pensamento crítico em um
campo de estudo fértil que demanda permanentemente novas pesquisas.
Paralelamente e ainda neste direcionamento, concebeu-se a ferramenta Dealer - um
produto concreto da tese, derivado do modelo defendido, delineado entre os objetivos
específicos. Como ferramenta de suporte ao mediador, o Dealer, que foi desenvolvido para
ser executado em PocketPC, vem ocupar uma lacuna na área da negociação, ao considerar
as variáveis tipológicas e comportamentais. Além da sua portabilidade, tem como propósito
possibilitar ao mediador a definição de estratégias adequadas, quando da mediação de
conflitos.
Quando direcionado ao campo de observação da pesquisa, também disposto nos
objetivos específicos, optou-se pela análise do processo da alocação negociada da água no
Marco Regulatório do Sistema Curema-Açu, por constituir-se de um ambiente favorável ao
delineamento do estudo, onde se observou um contexto complexo que exigiu muita
interação, negociação e integração dos entes federados (PB e RN) presentes na bacia.
Participaram instituições públicas federais e estaduais, todas afetas à gestão dos recursos
hídricos.
Vale destacar que ter a bacia hidrográfica como unidade de planejamento e gestão
dos recursos hídricos, conforme disposto no diploma legal (Lei nº 9.433 / 97), pressupõe a
145
integração de políticas públicas e requer, sobretudo, elevada capacidade de negociação de
interesses, o que foi visto, quando da observação das reuniões do Marco Regulatório.
Buscou-se, portanto, na perspectiva do modelo DCN, observar as tipologias e as
estratégias de engajamento dos atores envolvidos na construção do Marco Regulatório.
A pesquisa dos tipos psicológicos dos membros, através da aplicação do instrumento
MBTI, possibilitou observar uma presença de 43,5% de indivíduos introvertidos e sensoriais
“IS”, denominados de “Realistas Pensadores”. Essa combinação tem como característica
liderar, dando atenção àquilo que precisa ser feito. A concentração individual está focada
nas considerações práticas, e a organizacional, na busca da continuidade dos projetos e
ações. Com outra evidência importante, os extrovertidos e também sensoriais com 39,1%.
Estes são focados na ação prática, e, como grupo, sua concentração orienta-se para os
resultados. As duas combinações somadas representam 82,6% das combinações presentes
no Marco Regulatório.
Da análise realizada com todos os tipos e variações do estudo, percebeu-se
consistência nos resultados dado ao comprometimento evidente e à capacidade resolutiva
apresentada pelos membros do grupo durante as reuniões observadas.
Como ressalva, todavia, é oportuno destacar a pouca representatividade, para fins
de extrapolação, da amostra adotada, quando da tipificação psicológica dos atores
participantes do Marco que possibilitou subsidiar o estudo.
No que se refere à estratégia de engajamento, percebeu-se uma postura inicial dos
negociadores, mais aproximada a um comportamento distributivo (Barganha Distributiva),
entretanto, com a sucessão das reuniões, a postura veio a evoluir para um comportamento
mais integrativo (Negociação Integrativa) em todos os membros participantes do processo
em observação.
No alinhamento do campo da aplicação da teoria, buscou-se observar o contexto real
das reuniões do Marco Regulatório, analisando-as através das evidências de adequação da
DCN e utilizando os resultados como referência para verificar a consistência dos cenários
propostos pela ferramenta Dealer, como forma de atender aos objetivos específicos para o
estudo.
A DCN, observada durante as reuniões, reforça os argumentos de que as
146
semelhanças tipológicas e o reconhecimento destas favorecem a integração e a
convergência de propósitos, a exemplo do processo integrativo verificado nas reuniões que
definiram o Marco Regulatório.
A ferramenta Dealer mostrou-se coerente nos seus resultados, por apresentar, após
processados os dados, cenários semelhantes aos observados em todas as reuniões.
147
RECOMENDAÇÕES E SUGESTÕES PARA INVESTIGAÇÕES FUTURAS
Cabe assinalar que o presente estudo avança no direcionamento da valorização das
variáveis subjetivas presentes nos processos de negociação de conflitos, no entanto, por ser
um campo de investigação em que o componente humano possui significativo valor quão
maior for o número de pesquisas, mais aprofundamento e claridade teremos no
direcionamento escolhido.
De forma mais específica, aponta-se a aplicação dos conceitos da DCN em outros
contextos, sobretudo em recursos naturais, para fins de validação e evolução dos preceitos
estabelecidos, como, por exemplo, no processo de negociação de captação das águas do
Rio São Francisco.
No que trata a ferramenta Dealer, sugerem-se avanços na base de conhecimento, na
possibilidade de torná-la inteligente, tendo em vista que, no modelo atual, ela é elaborada a
partir da literatura e das deduções do mediador.
Especificamente, significativa evolução na base de conhecimento seria na linha da
utilização da Inteligência Artificial – IA, hoje entendida como uma disciplina científica que
utiliza as capacidades de processamento de símbolos da computação, com o fim de
encontrar métodos genéricos para automatizar atividades perceptivas, cognitivas e
manipulativas por via de algoritmos.
A Inteligência Artificial cabe perfeitamente a sistemas que exibem características que
estão associadas à inteligência no comportamento humano, como compreensão da
linguagem, do aprendizado, do raciocínio, da resolução de problemas, entre outros, daí ser
plenamente factível haver estudos que se devotem a evoluir o conceito original posto,
quando da modelagem da ferramenta Dealer.
Por fim, como convicção, assevera-se que cada passo na linha da construção de
elementos conceituais, em níveis superiores, constitui em si motivadores para se continuar
pesquisando os aspectos tipológicos e comportamentais nos processos de negociação e
interação de grupos, seja na área de Recursos Naturais, com louvor, ou em outras mais.
148
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ACKOFF, R. L. On paris and trios: the smallest social systems, in: Systems Research. 13,
4. Nova York e Londres: Plenum, 1996. p. 435, 446.
ACUFF, F.L. How to negotiate anything with anywhere around the word. New York:
American Management Association, 1993.
ANGELONI, M. T. Elementos intervenientes na tomada de decisão. v. 32, n. 1. Brasília,
2003. p. 17-22.
ANSON, R.; JELASSI, M.T. A Development Framework for Computer-Supported
Conflict Resolution. European Journal of Operational Research, 1990. p. 181–199
AURELIO, B.H.F. Mini Aurélio: o Dicionário da Língua Portuguesa. 6 ed. Paraná:
Positivo, 1999.
AZEVEDO, A. G. O Processo de Mediação: noções básicas sobre o processo de
mediação no ordenamento jurídico-processual brasileiro. Brasília: Faculdade de Direito
da Universidade de Brasília, 2002.
AZEVEDO, L.G.; PORTO, R. L. (Orgs). Sistemas de suporte à decisões aplicados a
problemas de recursos hídricos. Técnicas quantitativas para o gerenciamento de
recursos hídricos. Porto Alegre: Universidade / UFRGS, 1997.
BAGLIETTO, M. et al. Distributed-information neural control: the case of dynamic
routing in traffic networks. v. 12, n.3. Louisville: IEEE Transactions on Neural Networks,
2001. p. 485 – 502
BARDOSSY, A.; DUCKSTEIN; L. BOGARDI, I. Combination of fuzzy numbers
representing expert opinion. Fuzzy Sets and Systems 57. 1993. p. 173 – 181.
BARRETEAU, O.; GARIN, P.; DUMONTIER, A.; ABRAMI, G.; CERNESSON, F.
Agent-
Based Facilitation of Water Allocation: Case Study in the Drome River Valley. Group
Decision and Negotiation. Publisher: Springer Netherlands. v.ol 12, Number 5. 2003, p. 441
– 461.
BENDER, M.J.; SIMONOVIC, S.P. Proponent and stake-holder interaction in
collaborative water resources project planning. IAHS Publication nº.231:159-168, 1995.
BAZERMAN, M.H. Processo decisório. São Paulo: Campus, 2004.
149
BOUCINHAS, J. F. C. A aplicação de modelos ao processo de planejamento na
empresa. 1972. Tese de Doutorado. FEA/USP: São Paulo.
BRAGA, B. Sistemas de suporte à decisão em recursos hídricos. Porto Alegre: Revista
Brasileira de Recursos Hídricos - RBRH, v.3, n.3. julho/setembro 1998. p. 73 – 95.
BRAGA, C.F.C.; DINIZ, L.S.; GARJULLI, R.; SILVA, L.M.C.; NOGUEIRA, G.M.F.;
NASCIMENTO, C.N.S.; MEDEIROS, S.D.; RÊGO, M.F.F. Construção do Marco
Regulatório do Sistema Curema-Açu, Paraíba. In: Simpósio de Recursos Hídricos do
Nordeste, v.7, cd-rom. São Luís: Anais ABRH, 2004. 15 p.
BRAGA, C.F.C.; NOGUEIRA, G.M.F.; GALVÃO, C.O. Modelagem da Tomada de Decisão
com Múltiplos Participantes em Gestão de Recursos Hídricos. In: XVI Simpósio de
Recursos Hídricos do Nordeste. João Pessoa: Anais ABRH, 2005.
BRASIL. Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD. Atlas do
Desenvolvimento Humano no Brasil. 2000. Disponível em: http://www.pnud.org.br.
Acesso em 14.04.2004.
____________. nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997. Institui a Política Nacional de Recursos
Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos,
regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal, e altera o art. 1º da Lei nº
8.001, de 13 de março de 1990, que modificou a Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989.
____________. nº 9.984, de 17 de julho de 2000. Dispõe sobre a criação da Agência
Nacional de Água - ANA, entidade federal de implementação da Política Nacional de
Recursos Hídricos e de coordenação do Sistema Nacional de Gerenciamento de
Recursos Hídricos, e dá outras providências.
BINNET, A. Letude experimentale de l’intelligence. Paris: Alfred Coses, 1922.
BREGER, G. Traité pratique d’analyse du caractere. Paris: Press Universitaires de
France, 1963.
BRUGGER, P. Educação ou adestramento ambiental? Florianópolis: Letras
Contemporâneas, 1994.
CAI, X.; McKinney, D.C. A Multiobjective Analysis Model for Negotiations. 1997.
CAIRNCROSS, F. Meio ambiente: custos e benefícios. São Paulo: Nobel, 1992.
CAMARGO, A. L. Desenvolvimento sustentável: discussões e desafios. Campinas:
Papirus, 2003.
150
CAMERER, C. Behavioral game theory: experiments in strategic interaction. New
Jersey: Russell Foundation, 2003.
CAMPOS, J.N.B. Política de Águas. In: Gestão de águas: princípios e práticas. 2ª. ed./
Editado por Nilson Campos e Ticiana Studart. Porto Alegre: ABRH, 2003.
CAPRA, F. O ponto de mutação: a ciência, a sociedade e a cultura emergentes. São
Paulo: Círculo do Livro, 1982.
CHI, T.; FAN, D. Cognitive Limitations and Investment "Myopia". v. 28, Decision
Sciences, 1997. p. 27 – 58.
CHIDAMBARAM, L. Relational development in computer-supported groups. MIS
Quarterly 20, 1996. p. 143 – 163.
CHRISTOFOLETTI, A. Modelagem de sistemas ambientais. São Paulo: Edgard Blucher,
2000.
CIL, I., ALPTURK, O., YAZGAN, H. R. A new collaborative system framework based on a
multiple perspective approach: Intel Team. Decision Support Systems 39, 2005. p. 619 –
641.
CONGER, Jay. The necessary art of persuasion. Harvard Business Review, OnPoint
Enhanced Edition. Boston: Harvard Business School Publishing, 2000.
COHEN, H. Você pode negociar qualquer coisa. Rio de Janeiro: Distribuidora Record de
Serviços de Imprensa S.A., 1980.
COURTNEY, J. F. Decision making and knowledge management in inquiring
organizations: toward a new decision-making paradigm for DSS. Decision Support
Systems 31, 2001. p. 17-38.
COZBY, P. C. Métodos de pesquisa em ciências do comportamento. Tradução Paula
Inez Cunha Gomide. São Paulo: Atlas, 2003.
DINIZ, L. S.; BRAGA, C. F. C; SILVA Jr, O. B. Cadastro de usuários de água do sistema
Curema-Açu, Paraíba. In: Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste. v. 7, cd-rom. São
Luis: Anais ABRH, 2004. 15p.
ENNS, H. G.; HUFF, S. L.; GOLDEN, B. R. CIO influence behaviors: the impact of
technical background. v. 40, Information & Management, 2003. p 467 – 485.
151
FISHER, R; URY, W. Como chegar ao sim – A negociação de acordos sem
concessões. Rio de Janeiro: Imago, 1985.
FORTULAN, M. R. O uso de sistemas de apoio a decisão no chão-de-fábrica. XX São
Paulo: Encontro Nacional de Engenharia da Produção / ENEGEP, 2000.
GALVÃO, C.O. (Orgs). Controle de processos e sistemas de apoio a decisão. In: Sistemas
Inteligentes: aplicações a recursos hídricos e ciências ambientais. Porto Alegre:
Universidade / UFRGS, 1999.
GASS, S. I. Decision-aiding models: validation, assessment and related issues for policy
analysis. Operations Research. vol. 31, nº. 4, 1984. p. 601-631.
GIBBONS, P.; McGOVERN, I. How to prepare, present and negotiate a business plan.
Cingapura: EPB, 1994.
GROVER, V.; FIEDLER, K. D.; TENG, J. T. C. The Role of Organizational and
Information Technology Antecedents in Reengineering Initiation Behavior. v 30,
Decision Sciences, 1999. p. 749 – 781.
GRUBEN, A.; LOPES, P. D. Projeto marca d’água: Relatórios preliminares. A Bacia do Rio
Piranhas-Açu, Rio Grande do Norte – 2001. Brasília, 2002. Disponível em:
http://www.marcadagua.org.br. Acesso em 30.03.2005.
GOLDBARG, M.C.; LUNA, H.P. Otimização Combinatória e Programação Linear –
Modelos e Algoritmos. Editora Campus: Rio de Janeiro, 2000.
GUARISO, G.; E. WHERTNER, H. Environmental Decision Support Systems. John
Wisley e Sons, 1984. 240 p.
HAMPTON, D. R. Administração – comportamento organizacional. São Paulo: Makron
Books, 1991.
HAYES, J.; ALLINSON, C. W. Cognitive style and its relevance for management
practice. v. 5, n. 1. British Journal of Management, 1994. p. 53 – 71.
HIGHTOWER, R.T.; SAYEED, L. The impact of computer mediated communication
systems on biased group discussion. Computers in Human Behavior, 1995. p. 33 – 44.
HIRSH, S. K.; KUMMERROW, J. M. Introdução aos Tipos Psicológicos nas
Organizações. Right Saad Fellipelli. California: CP – Consulting Psychologists Press, 1995.
152
HOCH, S. J.; SCHKADE, D. A. A Psychological approach to decision support systems.
Management Science. vol. 42, nº. 1. Jan., 1996, p. 51-64.
HODGSON, J. Thinking on your feet in negotiations. Londres: Pitman Publishing, 1996.
HSU, H. M.; CHEN, C. T. Aggregation of fuzzy opinions under group decision making.
Fuzzy Sets and Systems, 1996. p. 279 – 285.
IBGE. Censo Demográfico 2000. Rio de Janeiro. cd-rom.
JUNG, C. G. Psychological Types. New York: Harcourt Brace,1923.
__________ Tipos psicológicos. São Paulo: Zahar, 1967.
__________ Psychological Types. Bollingen Series XX. The Collected Works of C. G. Jung
(Vol. 6). Princeton, NJ: Princeton University Press, 1971
KACPRZYK, J.; FEDRIZZI, M.; NURMI, H. Group decision making and consensus under
fuzzy preferences and fuzzy majority. Fuzzy Sets and Systems, 1992. p. 21 – 31.
KERSTEN, G. E. The Science and engineering of e-negotiation: an introduction. Published
in the Proceedings of the Hawaii International Conference on System Sciences,
January 6 – 9, 2003, Big Island, Hawaii. InterNeg Research Papers, INR 02/03, 2003.
KINSTON, W.; ALGIE, J. Seven distinctive path to decision and action, in: Systems
Research. 6, n. 2.Nova York e Londres: Plenum, 1989. p. 117-132.
KLAGES, L. The science of character. London: George Allen & Unwin Ltd, 1929.
KLEIN, M.; METHLIE, L. Expert Systems: A decision support approach. Addison –
Wesley Publishing, 1990.
KOLB, D.; WILLIAMS, J. Breakthrough bargaining. Harvard Business Review, On Point
Enhanced Edition. Boston: Harvard Business School Publishing, 2001.
KWOK, R. C. W. Improving group decision making: a fuzzy GSS approach. IEEE
Transactions on Systems, Man and Cybernetics – Part C: Applications and reviews 32, 2002.
p. 54 – 63.
LACHTERMACHER, G. Pesquisa operacional na tomada de decisões: para cursos de
Administração, Economia e Ciências Contábeis. Rio de Janeiro: Campus, 2002.
153
LE GALL, A. Caractérologie des enfants et des adolescents à l’usage des parents et
des éducateurs. 6me éd. Paris: Presses Universitaires de France, 1964.
LE SENNE, R. Traité de caractérologie. Paris: Presses Universitaires de France, 1963.
LEE, H. S. Optimal consensus of fuzzy opinions under group decision making
environment. Fuzzy Sets and Systems, 2002. p. 303-315.
LEIS, H.R. Ecologia e política mundial. Petrópolis: Vozes, 1991.
LEWICKI, R. J. Fundamentos da negociação. Porto Alegre: Bookman, 2002.
____________ et al. Think before you speak: a complete guide to strategic negotiation.
Canada: John Wiley & Sons, 1996.
LIEBMAN, J. C. Some simple-minded observation son the role of optimization in public
systems decision-making, Interfaces, Vol 6, n. 4, August, pp 102-108, 1976.
LIU, D.; STEWART, T. J. Object-oriented decision support system modeling for
multicriterial decision making in natural resource management. Computers &
Operations, 2004. p 985 – 999.
LOUCKS, D. P. Analytical Aids to Conflict Management. in W. Viessman and E.T. Smerdon
(eds.) Managing Water-Related Conflicts: The Engineers Role. ASCE, New York,1990 p.
23-37.
____________. Water resource system models: their role in planning. Journal Water
Resources Planning Management, 1992. p. 214 – 223.
LUND, J.R.; PALMER, R.N, Water Resource System Modeling for Conflict Resolution.,
Water Resources Update 1997, p 1. 70.
MARTINELLI, D. P. Negociação empresarial: enfoque sistêmico e visão estratégica.
Barueri: Manole, 2002.
MATZENAUER, H. B. Metodologias multicritério de avaliação de estratégias para o
planejamento integrado do recursos hídricos em bacias hidrogáficas. Porto Alegre:
Instituto de Pesquisa Hidráulica da UFRGS, 1989.
154
____________; JARDIM, S. B. Estudo comparativo das metodologia MCDM E MCDA na
gestão dos recursos hídricos. Porto Alegre: Instituto de Pesquisa Hidráulica da UFRGS,
1989.
MATOS, F. G. Negociação gerencial – aprendendo a negociar. 2 ed. Rio de Janeiro: José
Olympio, 1989.
MILLS, H. A. Negociação: a arte de vender.o Paulo: Makron Books, 1993.
MINTZBERG, H.; AHLSTRAND, B.; LAMPEL, J. Safári de estratégia: um roteiro pela
selva do planejamento estratégico. Porto Alegre: Bookman, 2000.
MITROFF, I.I.; LINSTONE, H.A. (1993). The unbounded mind: breaking the chains of
traditional business thinking. New York: Oxford Univ. Press, 2002.
MOREIRA, M. S. Estratégia e implantação de sistema de gestão ambiental modelo ISO
14000. Belo Horizonte: Desenvolvimento Gerencial, 2001.
MYERS, I. B.; MYERS, P. B. O ser humano é diferente: valorizando as pessoas por
seus dons especiais. São Paulo: Gente, 1997.
MYERS, I. B. Introdução à Teoria dos Tipos Psicológicos: Um guia para entender os
resultados do Myers-Briggs Type Indicator. Right Saad Fellipelli & CP Consulting
Psychologists Press. Califórnia: Palo Alto, 1995.
NAKAYAMA, M. An assessment of EDI use and other channel communications on
trading behavior and trading partner knowledge. v. 40, Information & Management, 2003.
p. 563 – 580.
NIERENBERG, G.I. The art of negotiating. Simon Schuter, 1981.
PARAÍBA. Lei nº 7.033, de 29 de novembro de 2001, que Cria a Agência de Águas,
Irrigação e Saneamento do Estado da Paraíba - AAGISA e dá outras providências.
Disponível em: www.al.pb.gov.br. Acesso em 20.03.2003.
____________. Lei nº 6.544, de 20 de outubro de 1997, que Cria a Secretaria
Extraordinária do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e Minerais - SEMARH; dá
nova redação e revoga dispositivos da Lei 6.308/96, que institui a Política Estadual de
Recursos Hídricos e dá outras providências. Disponível em: www.al.pb.gov.br. Acesso
em 20.03.2003.
155
____________. SEMARH - Secretaria Extraordinária do Meio Ambiente, dos Recursos
Hídricos e Minerais. Plano Diretor dos Recursos Hídricos do Estado da Paraíba. Bacia
dos Rios Piranhas-Açu. Sub-Bacia do Rio Espinharas (PDRH–PB), 2000.
____________. Cadastro de Usuários dos Recursos Hídricos do Sistema Curema-Açu
– Relatório Final. João Pessoa: Secretaria Extraordinária do Meio Ambiente, dos Recursos
Hídricos e Minerais do Estado da Paraíba; Agência de Águas, Irrigação e Saneamento do
Estado da Paraíba, 2004.
PARIKH, J. Intuição: a Nova Fronteira da Administração. São Paulo: Cultrix, 1998.
PASQUALI, L. Os tipos humanos: a teoria da personalidade. Petrópolis: Vozes, 2003.
PEREIRA, D. S. P. Governabilidade dos recursos hídricos no Brasil: a implementação
dos instrumentos de gestão na bacia do rio Paraíba do Sul. Brasília: Agência Nacional
de Águas, 2003.
PHILIPI, L. S. A construção do desenvolvimento sustentável. In, Educação ambiental:
curso básico a distância. Questões ambientais: conceitos, história, problemas e
alternativas. Coordenação geral: Ana Lúcia Torres de Aquino Leite e Nana Mininni-Medina.
Brasília: MMA, 2001. 5v. 2 Edição ampliada.
PETRELLA, R. O manifesto da água: argumentos para um contrato mundial. Petrópolis:
Vozes, 2002.
PORTO, R. L. P. & AZEVEDO, L. G. T. Sistemas de suporte a decisão aplicados a
problemas de recursos hídricos. In: Técnicas Quantitativas para o Gerenciamento de
Recursos Hídricos. Organizado por Rubem La Laina Porto. Porto Alegre. Ed.
Universidade/UFRGS/Associação Brasileira de Recursos Hídricos. p. 43-95. 1997.
PROÁGUA Semi-árido: realizações e resultados. Avaliação Institucional do Subprograma
de Desenvolvimento Sustentável de recursos Hídricos para o Semi-árido Brasileiro /
Agencia Nacional das Águas. Brasília: TDA Desenho & Arte LTDA / TCBR Tecnologia e
Consultoria Brasileira S.A., 2005
.
PRODANOVIC, P. Fuzzy Set Ranking Methods and Multiple Expert Decision Making.
Research Report. FIDS, Canada: The University of Western Ontario, 2001. Disponível em:
http://www.eng.uwo.ca/research/iclr/fids/products.html. Acesso em 10.03.2005.
RAJASEKARAM, V.; SIMONOVIC, S. P.; NANDALAL, K. D. W. Computer support for
implementation of a systemic approach to water conflict resolution. International Water
Resources Association. vol 28, nº 4. December 2003. p 454–466.
156
RANGANATHAN. C; SETHI, V. Rationality in Strategic Information Technology
Decisions: The Impact of Shared Domain Knowledge and IT Unit Structure. v. 33, Decision
Sciences, 2002. p. 59 – 86.
RIBEIRO, R. P. B. O Papel do Mediador. Revista de Mediação e Arbitragem Empresarial –
Ano II nº 12 – mar/2005. Porto Alegre, 2005. Disponível em
www.craweb.org.br/artigos/med_arbitragem/artigos/ruy_pedro_baratz_ribeiro/o_papel_do_m
ediador.asp - 19k -
RIO GRANDE DO NORTE. Secretaria de Estado dos Recursos Hídricos. Plano Estadual
de Recursos Hídricos. Relatório Síntese. Hidroservice Engenharia Ltda. 1998. 267 p.
Disponível em: http://www.serhid.rn.gov.br. Acesso em 02.02.2005.
ROBINSON, C. Negotiation Behavior. New York: Academic Press, 1996.
SAVAGE, G. T.; BLAIR, J. D.; SORENSON, R. J. Consider Both Relationship and
Substance When Negotiating Strategically. Academy of Management Executive 3, p. 37-
48, 1989.
SCHEIN, E. H. Organizational culture and leadership. San Francisco: Jossey-Bass, 1992
SHIM, J. P.; WARKENTIN, M.; COURTNEY, J. F.; POWER, D. J.; SHARDA R.; CARLSSON,
C. Past, present and future of decision support technology. Decision Support Systems,
2002, p. 111 – 126.
SIMON, H. A. Comportamento administrativo: estudo dos processos decisórios nas
organizações administrativas. Rio de Janeiro: FGV, 1979.
SIMONOVIC, S.P. Decision support systems for sustainable management of water
resources: 1. General principles. Water International 21, nº.4: 223-232, 1996.
SIMONOVIC, S.P.; BENDER, M.J... Collaborative planning-support system: an
approach for determining evaluation criteria. Journal of Hydrology 177: 237-251,1996.
SILVA RUFINO, A.C. Análise de conflitos na alocação de água em bacias
interestaduais. Dissertação de Mestrado apresentada ao curso de Engenharia Civil e
Ambiental. UFCG, Campina Grande, 2005.
SOUZA FILHO, F.A. Sistemas de Suporte às Decisões. In: Gestão de águas: princípios
e práticas. / organizado por Nilson Campos e Ticiana Studart. Porto Alegre: ABRH, 2001.
SPRAGUE, R. H.; WATSON, H. J. Sistemas de apoio à decisão. São Paulo: Campus,
1991.
157
SPRAGUE, R. H.; CARLSON, E. D. Building effective decision support systems.
Prentice Hall. 1982.
STEELE, P., MURPHY, J., RUSSILL, R. It’s a deal: a practical negotiation handbook.
Inglaterra, McGraw-Hill, 1995.
STEFANO, S. R. Cognição: uma reflexão crítica sobre a evolução de diversos estilos
cognitivos. Londrina, 2001. Disponível em: http://teses.eps.ufsc.br/defesa/pdf/13590.pdf.
Acesso em 05.2004.
TENBRUNSEL, A. E.; GALVIN, T. L.; NEALE, M. A.; BAZERMAN, M. H. Handbook of
organization studies. Cognitions in organizations, 1998. p. 313 – 337.
THE EARTH CHARTER INICIATIVE. A Carta da Terra. Disponível em:
http://www.mma.gov.br/estruturas/agenda21/_arquivos/carta_terra.doc. Acesso em 02.2004.
THE WORLD WIDE FUND FOR NATURE. What is sustainability? Disponível em:
http://www.panda.org/resources/publications/sustainability/choice/page2.html. Acesso em
02.2005.
THIESSEN, E.M.; LOUCKS, D. P.; STEDINGER, J. R. Computer-Assisted Negotiations of
Water Resources Conflicts. Group Decision and Negotiation, 1998. p. 109 – 129.
THOMPSON, L.; DEHARPORT, T. Social Judgment, feedback and interpersonal
learning in negotiation. Organizational Behavior and Human Decision Process, v. 58, p.
327 – 345 , 1994.
TURBAN, E. Decision Support and Expert Systems. 3
rd
Edition. McMillan Publishing
Company, 1993.
VARGAS, S. N. Tornar-se si mesmo: tipos psicológicos e individuação são conceitos
básicos da teoria Junguiana, orientando a atividade clinica do analista. in: Viver
mente&cérebro – memória da psicanálise / Jung. São Paulo, Duetto Editorial Ltda, sob
licença de Scientific American, Inc. 2005.
VERNIER, J. O meio ambiente. Campinas: Papirus, 1994.
WAGNER, John. GIACOLONE, Richard. HOFFMAN, Eileen. Manual do Mediador.
Disponível em
http://caesp.locaweb.com.br/modules.php?name=Conteudo&pa=showpage&pid=3.
Publicado em 2005-01-07, última modificação em 2005-02-01.
WATIKINS, M. Negociação: seu mentor e guia para gerenciamento. Harvard business
Essentials. Rio de Janeiro: Record, 2005.
158
WARKENTIN, M.E.; SAYEED, L.; HIGHTOWER, R. Virtual teams versus face-to-face
teams: an exploratory study of a web-based conference system. Decision Sciences,
1997. p. 975 – 996.
WEEKS, D. The eight essential steps to conflict resolution – preserving relationships at
work, at home, and in the community. Nova York: G. P., 1992.
WU, I. Understanding senior management's behavior in promoting the strategic role of
IT in process reengineering: use of the theory of reasoned action. Information &
Managemen. v. 41, 2003. p. 1 – 11.
YI, M. Y.; DAVIS, F. D. Improving Computer Training Effectiveness for Decision
Technologies: Behavior Modeling and Retention Enhancement. Decision Sciences. v.32,
2001. p. 521 – 544.
ZHUGE, H. Workflow – and agent-based cognitive flow management for distributed
team Cooperation. Information & Management. v. 40, 2003. p 419 – 429.
159
ANEXOS
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo