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Capovilla se refere a um tema que aparentemente não tem recebido a devida atenção
por parte de educadores e pesquisadores do campo educacional que é a influência da televisão
sobre a educação popular. Isso porque a televisão não pode ser considerada apenas como um
meio de comunicação social, mas, sobretudo como um feio formador – deformador? – de
consciências, uma vez que é inegável a sua contribuição para o processo de domesticação do
olhar e que vai conduzir a um processo mais profundo de domesticação da capacidade de
reagir aos padrões estabelecidos.
Se você analisar a televisão como um todo, ela é a multiplicidade de linguagem, ela
tem todas as linguagens ali dentro, só que, as pessoas separam, eles não sabem ver.
Por exemplo, passa um filme, passa a novela, que é a dramaturgia moderna,
utilizada dentro dos padrões da televisão, passa o documentário, passa o musical...
Quer dizer, a televisão é o maior exemplo da diversificação das linguagens, no
entanto, não se percebe, a gente não sente. (...) Agora, tem que haver uma relação
vamos dizer de organização nesse mundo, porque é todo estilhaçado, a televisão
estilhaça, e é preciso que a pessoa receba uma informação desse estilhaçamento, ela
precisa tomar consciência de que ela esta vendo, uma multiplicidade de
possibilidades de, informação através do audiovisual, mais ela não esta sabendo ler.
Esse ai o problema, ela não sabe ler aquele negocio, ela acha que tudo, é igual, ela
acha que tudo é a mesma coisa, mas não é. Tanto que não entende coisas, e entende
outras de maneira errada, entende? A televisão é o maior exemplo de que há uma
imensa possibilidade de você falar além do audiovisual. (...) Agora tem o cara que
fala, que nem ele entende o que ele fala, ele fala errado, to dizendo em termos
audiovisuais, tem o excesso do uso da palavra, ai a imagem perde o sentido, enfim,
tem todas as suas “cagadas”, desculpe, as besteiras todas estão ali dentro. E a própria
impotência dos caras, que fazem televisão, em escolher as linguagens mais apuradas.
Então ta se falando o audiovisual errado, é como se usar o português errado, errar na
construção da frase, Ta errando na dinâmica da comunicação audiovisual, isso é
verdade. (CAPOVILLA)
Segundo Capovilla, essa capacidade da televisão de “deseducar”, ou como disse
Sérgio Brito, de educar para outra realidade, para outro modelo, termina recebendo o reforço
da escola, que além de não trabalhar com a educação audiovisual, ou melhor, além de se
demonstrar incapaz de incorporar aos seus conteúdos uma alfabetização audiovisual, termina
se constituindo em um espaço onde o questionamento e a inquietude próprias da infância e da
juventude não são valorizados.
Eu acho que também, esta se desestimulando o processo de aprendizagem da escola
média, desde o grupo escolar... Quer dizer, se fala do método de alfabetização do
Paulo Frei, ele não foi aplicado, ele foi jogado no lixo, ele não se institucionalizou,
não foi aplicado de uma maneira correta, nem foi, e nunca foi da escola pública
aquilo foi uma grande experiência que se perdeu, não é isso? (...) Hoje o
aprendizado é pela retórica, a imposição sabe? É uma imposição de frases feitas, de
conceitos feitos, e prontos e acabados entende? Não é um processo dialético, onde
você coloca o confronto de idéias, e você chega no confronto das idéias, o
conhecimento, não. (...) É essa forma de pensamento, não se aplica na escola, de
forma que o garoto, quando ele sai de lá, ele esta passivo, ele não tem duvida, ele
não vê a realidade, só aquilo que lhe botaram na cabeça, sai burro, quer dizer, não é