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O tema escolhido vem sendo refletido e questionado desde antes e durante
o meu contato profissional com pessoas que apresentam história de deficiência,
principalmente por acreditar que o ser humano em situações de aprendizagem
precisa ser sujeito. Reflexão exige ação, mas apenas refletir não basta, é preciso
agir. Nesse sentido, a palavra falada, para efeito deste trabalho, foi tomada
enquanto possibilidade que os homens têm de se fazer presentes e atuantes.
Logo, analisar as falas dos seis sujeitos com história de deficiência visual
adquirida e/ou acentuada no início da escolarização, que contribuíram para a
pesquisa empírica deste trabalho, significou para mim muito mais que um
processo metodológico, pois caracterizou o ato explícito de devolver a vez e a voz
a esses sujeitos, cuja história de deficiência, segundo a expectativa do outro, os
aprisionam e os oprimem.
No anseio de buscar a compreensão sobre a forma como esses jovens e
adultos percebem as situações e contextos de aprendizagem escolar, a pesquisa
pensadores mais notáveis na história da pedagogia mundial, tendo influenciado o movimento
chamado pedagogia crítica.
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MARIA LÚCIA TOLEDO MORAES AMIRALIAN - Docente nos cursos de graduação e
pós-graduação do Instituto de Psicologia da USP, doutora em psicologia clínica e coordenadora do
Laboratório Inter-unidades para Estudos das Deficiências (LIDE). Seus estudos visam explicitar
uma compreensão do funcionamento mental da pessoa cega através do desenho-estória,
buscando estabelecer a relação dos significados que essas pessoas atribuem nessa forma de
representação que refletem na personalidade.
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PAULO ROSS – Suas contribuições visam à reflexão por parte de escolas e educadores
propondo, a partir de vasta contribuição teórica, resgatar a individualidade e identidade dos
sujeitos com necessidades especiais enquanto seres situados nas relações sociais mais amplas
nas quais os mesmos são igualmente determinados pelas conseqüências da divisão social do
trabalho e das formas desiguais de distribuição social do conhecimento. Instiga aos educadores a
compreenderem a condição de opressão e inferiorização também vivenciadas per essas pessoas
e contribui para que se forme uma concepção crítica em relação às necessidades especiais o que
passa pela assunção explícita, discursivamente no projeto pedagógico e no plano prático, na
organização e direção da aula, com vistas a abrir às pessoas com história de deficiência
oportunidades reais de participar ativamente nos programas curriculares, manifestar seus saberes
e idéias, transitar livremente no objeto de estudo que lhes é proposto e, enfim, apropriar-se de sua
individualidade.
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PADRE THOMAS J. CARROL – o autor procura analisar as perdas decorrentes da
perda visual, enfatizando a necessidade da conscientização dos limites da nova condição.
Resgata a idéia de que mesmo sob as novas condições essas pessoas “são normalmente
capazes”.
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JACQUES RANCIÈRE - Debulha a experiência da concepção e da produção do Método
de Ensino Universal, configurado na Emancipação versus embrutecimento. É o tenso binômio que
serve de horizonte para a análise da hipótese que qualquer um, com base no que sabe, pode
descobrir pontos de articulação com o que não sabe. “O que embrutece o povo não é a falta de
instrução, mas a crença na inferioridade de sua inteligência”, afirma. Jacotot desloca essa questão
quando afirma que a virtude da nossa inteligência está mais em fazer do que em saber. E, como
esse fazer é, fundamentalmente, um ato de comunicação, é pela fala que o saber prolifera: “os
pensamentos voam de um espírito a outro nas asas da palavra”, diz o mestre; “todo saber fazer é
um querer dizer”, verifica Rancière.