Assim a primeira direção era focada no sentido da palavra, no seu
valor semântico, para tanto os autores estruturavam suas obras a partir de
textos de autores consagrados ou não, esse é o caso de Theodoro de
Moraes, já analisado neste capítulo. De formato simples e uniforme, o livro
apresenta um texto, algumas observações sobre interpretação e em seguida
comentários sobre elementos da língua normatizados pela gramática. A
segunda direção sobre a qual Ribeiro discorre restringe-se à exposição de
uma gramática normativa, sem explicações pormenorizadas. Exemplo desse
rumo é o próprio Ribeiro, conforme atesta Suassuna: apesar de esse autor
apontar para vantagem de uma articulação (...), observa-se que ele também
privilegia a segunda (1999, p.26).
Sobre esse aspecto, Coutinho discorre:
Os que se formaram em torno dos anos de 60 sabem que os
estudiosos das Letras, os eternos amantes da poesia e da ficção,
vivíamos em uma tensão entre dois pólos intelectuais e morais.
De um lado, a compreensão da obra literária exigia uma leitura
imanente rigorosa que, àquela altura, nos era proporcionada pelo
estruturalismo e pelo retorno aos formalistas russos, que anos e
anos de censura haviam impedido de circular na cultura
ocidental. O outro pólo, de cunho ético e político, era constituído
pela urgência de entender a sociedade brasileira que
habitávamos e que nos habitava, e, se possível, intervir nas suas
estruturas iníquas; para tanto, a teoria mais vigorosa de que se
dispunha vinha do marxismo
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que só então passou a ter
presença efetiva na cultura universitária e, em particular, na
cultura da nossa Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. A
tensão entre essas duas exigências foi constitutiva de um certo
tipo de intelectual, que ainda sobrevive.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
40141995000300021
As diferentes óticas, comentadas por Coutinho, voltadas para a Língua
Portuguesa estavam emaranhadas em duas concepções: 1
ª
- a de que o
ensino da língua materna deve privilegiar a forma, a estrutura, portanto a
gramática deveria estar em primeiro plano; 2
ª
- a de que o ensino se dá
através da interlocução entre emissor e receptor.
Independente de qual direção tomassem, os professores precisavam ter
pleno domínio da língua, pois as explicações e as atividades necessárias ao
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marxismo: lingüística – os signos só emergem, decididamente, do processo de
interação entre uma consciência individual e uma outra. ( Volochinov, 1986, p. 35)