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Com a necessidade de se fazer um recorte visando à área da pedagogia e de como se
pensava a educação e o conhecimento, nesta pesquisa, não seria possível resgatar todos os
autores em que Habermas se baseia para desenvolver sua Teoria da Ação Comunicativa. A
pesquisa deteve-se em Descartes, Hume, Kant e Piaget, pois Habermas pretende incorporar os
princípios da modernidade em um conceito mais amplo de racionalidade. Não
desconsiderando seus colegas da Escola de Frankfurt
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e tantos outros que incentivaram e
embasaram os estudos habermasianos, apenas considerando que Habermas detectou um
processo de atomização que decorria a partir dessa concepção filosófica metafísica.
Concepção essa, que desde Descartes punha o indivíduo como um ente solitário a descobrir o
mundo, em um paradigma tradicional da subjetividade, não podendo resolver o problema das
relações intersubjetivas que caracterizam o convívio social.
Com a revisão dessas teorias
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Habermas colheu material para os seus conceitos de
racionalidade e de ação comunicativa, embasado numa nova concepção de sociedade,
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- A Escola de Frankfurt surgiu da iniciativa de um grupo de pensadores alemães que formaram o Instituto de
Pesquisa Social de Frankfurt, em 1923. O objetivo desse instituto era proceder a um exame crítico da sociedade,
em geral, e em seus aspectos econômicos, culturais e de produção de conhecimento, a partir de uma perspectiva
marxista renovada, isto é sem estar presa, ao historicismo ou ao materialismo. Essa escola foi fundada em uma
época de grandes transformações da política germânica, que vinha de uma derrota arrasadora na I Grande Guerra
(1914-1918). Durante o período da efêmera experiência liberal da chamada República de Weimar (1919-1933), o
Instituto de Pesquisa Social pôde permanecer vinculado à Universidade de Frankfurt, mas depois de Adolf Hitler
(1889-1945) ter assumido o posto de chanceler, em 1933, o departamento sofreu várias mudanças, fixando-se
primeiro em Genebra (Suíça), depois Paris (França) e finalmente Nova York (EUA), onde permaneceu até o
final da II Guerra Mundial (1939-1945). Os principais membros da Escola de Frankfurt foram Walter Benjamin
(1892-1940); Max Horkheimer (1895-1973); Herbert Marcuse (1898-1979) e Theodor W. Adorno (1903-1969).
Depois da reconstrução da Universidade de Frankfurt e do retorno do Instituto de Pesquisa Social à cidade,
formou-se uma segunda geração de teóricos, dos quais se destacam Karl-Otto Apel e Jürgen Habermas (SILVA,
2008).
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Em 1962, Habermas, que fora assistente de Adorno entre 1956 a 1959, obteve seu doutorado com a
publicação da tese Mudança Estrutural da Esfera Pública. Até que Apel viesse a ingressar em Frankfurt, como
catedrático em filosofia, em 1972, o interesse de Habermas esteve voltado para discussão da relação entre
conhecimento científico e interesse, técnica e ideologia. Destacam-se desse período o artigo "Técnica e Ciência
como Ideologia" (1968) e o livro Conhecimento e Interesse (1968), obras que, como as anteriores, procuravam
resolver o problema do conhecimento em uma teoria crítica da sociedade, através de uma clarificação dos
métodos, nos moldes conceituais de uma filosofia da consciência tradicional. Com a segunda geração de
Frankfurt há uma guinada pragmática da argumentação, Habermas tratou de delinear um novo conceito de
racionalidade que tinha agora a comunicação como sua forma de sustentação. O discurso teórico, não mais
dependeria apenas de pressupostos sintáticos e semânticos - se uma proposição bem formulada tinha um valor de
verdade -, mas, sobretudo de uma compreensão intersubjetiva que precisa atender às condições pragmáticas do
discurso prático, onde, para ser bem sucedido, a mensagem tem de ser compreendida pelo seu receptor. Uma
nova concepção de verdade surgiu daí com o conceito de consenso argumentado que esteve no centro de uma
promissora Ética do Discurso (SILVA, 2008).