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Ent.- Pelas coisas que aconteceram?
D.S.- Aconteceu muita coisa minha filha ! O que aconteceu ali pra
mim, Deus que me perdoe! Aí, apareceu esse rapaz e o papai não
queria. Não se podia levar namorado em casa. Agora, se fosse sangue
dele podia ir, não fosse sangue dele, Deus o livre! Aí, eu não sei o que
deu em mim, não sei o que me deu na cabeça que eu teimei, levei o
rapaz! E ele chegou lá e pediu pro papai a minha mão em casamento.
O meu pai só disse assim ó... (risos): “-O senhor aguarda um
momentinho que eu já venho dar a resposta.” E eu cheguei a ele e
disse: “-Olha Bamba...” – o apelido dele era Bamba, mas o nome dele
era Acrísio, o nome do meu marido. “-Olha, Bamba, te cuida, que o
papai vai te passar o laço!” Ele:“-Não tem importância!”
Ent. - Ele queria casar com a senhora de qualquer jeito!
D.S. – “-Eu não quero ele”. E eu disse : “-Te cuida que tu vai
apanhar, o papai é muito mal criado”. Mas eu avisei... Tá, quando eu
vi que o papai vinha vindo com o laço na mão, né, eu vi que vinha pra
botar laço no pescoço, né? Eu fui pro quarto, me enfiei dentro do
quarto, e abri a janela. Daí diz ele [o pai] assim: “-O senhor faz o
favor de vir aqui na porta da frente.” O falecido [marido] foi, levantou
e foi. “-Tá vendo aquela figueira ali?”/ “-To, tô vendo, sim senhor”/ “-
Não tem aquele galho caído pra banda do arroz?” / “-Tem sim
senhor.” / “-Pois o casamento dela amanhã vai ser laço no pescoço,
dependurado naquele galho e fogo por baixo!” Eu nunca tinha
respondido, aí eu disse: “-Pai, pela vossa misericórdia divina, nunca
lhe respondi meu pai, é a primeira e a derradeira. Isso o senhor não
faz porque eu vou embora!” E já pulei ali e ...(gesto com as mãos) e fui
na casa do mano. Cheguei lá e disse pro mano: “-Maninho, fulano
assim, assim, assim maninho. Pediu o casamento e papai disse que vai
botar a corda no pescoço e ainda botar [fogo?] debaixo. Mano, que
conselho o senhor me dá, Mano? O que é que o senhor diz pra mim
Maninho?” Diz ele assim: “Ô negrinha...” – que toda vida ele me
tratou de negrinha – “...Ô negrinha a tua cabeça é teu mestre! Se a
minha mulher prestasse eu te botava pra dentro de casa, já estava
casada! Mas tu sabe a mulher do Mano.” Aí diz o Mano: “- Eu vou lá
ver quem é esse rapaz!” Aí veio, chegou cá e não era um amigo do
mano?!
Ent- Ah, mas que sorte! E onde é que a senhora conheceu o seu
marido?
D. S.- Uma festa no Aguapés, a primeira festa que nós fomos! Aí, com o
Mano lá, conversou, conversou levou ele lá, nós se conhecemos. Ele me
convidou, mas eu ia mesmo,de um jeito ou de outro!!! (risos) Mas o
pai me matava a pau! O pai quando batia na gente era de botar de
cama. E o pai não escolhia, minha filha! Porrete que achava, [era
com] aquele que batia. Aí de noite... E o pai não dormia! De noite me
levantei, tava todo mundo dormindo, fui lá na cama: “-Te levanta” e
ó... (gesto com as mãos). Me escapei. Eu deixei meu irmão com cinco
anos, fui embora. E não tive arrependimento nenhum!
Ent. - Foi feliz?!
D.S. - Mas feliz ?!? Mas deveria de ter saído há muito tempo! Eu não
agarrei marido, eu agarrei era um pai! Pra mim foi...”