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RESUMO
A problemática da comunicação com o cego é observada durante a atuação
profissional do enfermeiro. Este, desde a graduação, não é preparado para as
especificidades desta deficiência. Apesar de existir estudos sobre a cegueira, a
relação dela com o processo comunicativo ainda tem lacunas, particularmente
porque o cego possui uma barreira sensorial capaz de comprometer as informações
recebidas durante a assistência de enfermagem ao paciente. Este estudo se justifica
pela necessidade do enfermeiro utilizar constantemente a comunicação verbal no
procedimento de assistência e, para tanto, precisar conhecer os princípios e
conceitos referentes ao processo comunicativo. Quando essa comunicação ocorre
entre o enfermeiro e o cego, é importante ressaltar sua peculiaridade, no intuito de
que o profissional desenvolva habilidades de comunicação para efetivar uma
assistência de qualidade. Diante destas exigências, teve-se como objetivo geral
analisar a comunicação verbal entre o enfermeiro e o cego diabético à luz da teoria
de Roman Jakobson e como objetivos específicos identificar o remetente da
interação na comunicação entre o enfermeiro, o cego diabético e o acompanhante, e
traçar o perfil do remetente segundo as funções conativa e emotiva, o referencial, o
contato e o código. É um estudo descritivo e exploratório, com abordagem
quantitativa, realizado em um centro especializado em diabetes e hipertensão da
cidade de Fortaleza, Ceará. Trata-se de instituição de referência estadual em
atenção à saúde, com atendimento especializado a diabéticos e hipertensos. Os
sujeitos do estudo foram cegos, de ambos os olhos, atendidos nesse centro
especializado, além dos seus acompanhantes e as enfermeiras da instituição. A
coleta de dados foi realizada durante a consulta de enfermagem a diabéticos,
presentes a pesquisadora, a enfermeira, o cego e um possível acompanhante. Para
registros dos dados usaram-se filmagens realizadas, nos meses de fevereiro e março
de 2005. Anteriormente as filmagens, a pesquisadora entrevistou o cego, e colheu
dados de identificação (nome, idade, sexo, naturalidade, tempo de tratamento para
controle de diabetes, tempo de acompanhamento na instituição) e o interrogou
acerca de como e quando adquiriu a cegueira. Isso ocorreu na sala de espera, antes
do paciente ser consultado. As filmagens foram feitas durante a consulta de
enfermagem, cuja duração, em média, foi de 19 minutos. Foram realizadas cinco
filmagens, analisadas por três juízes- enfermeiras. As cenas foram analisadas a
cada 15 segundos, quando ocorria uma pausa no vídeo e registro no instrumento de
análise de dados. No total analisaram-se 1.131 interações verbais entre o
enfermeiro, o cego e o acompanhante. Como resultado dessas interações, observou-
se que o enfermeiro assumiu o papel de remetente da comunicação em 57,8%,
enquanto o cego em 20%. No relacionado à variável vocativo, prevaleceu o
indicador modo de ação em 66,2% da comunicação. Em relação ao conteúdo das
informações, sobressaíram as orientações em 85,4%, onde o canal mais utilizado foi
a audição (53%), seguida da visão (40,6%). Durante as consultas, a linguagem mais
utilizada foi a comum (96,1 %). Para o cego, prevaleceu a comunicação de
assuntos pessoais (42%), enquanto para a enfermeira (59,8%), prevaleceu o
tratamento. As funções emotivas mais comuns nas interações foram as de
solidariedade, satisfação, tranqüilidade e empatia. Segundo se concluiu, o
enfermeiro, nesse cenário de atuação, ainda precisa desenvolver habilidades de
comunicação. Mesmo encontrando aspectos positivos durante a comunicação
verbal, foi constatado que o cego tem necessidade de verbalizar aspectos
desvalorizados pelo profissional e que a enfermeira deve conhecer e valorizar as
especificidades relativas ao atendimento a essas pessoas. Sugeriu-se, ao final, a
ampliação de pesquisas voltadas para a comunicação entre enfermeiros e pessoas
cegas com o objetivo de otimizar a assistência.
Palavras-chave: Enfermagem, cegueira, comunicação verbal.