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Leonardo Batista Quintino
COMUNICAÇÃO E REPRESENTAÇÃO SOCIAL – os efeitos da TV Assembléia
na performance e oratória dos deputados estaduais de Minas Gerais
Belo Horizonte
2008
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1
Leonardo Batista Quintino
COMUNICAÇÃO E REPRESENTAÇÃO SOCIAL – os efeitos da TV Assembléia
na performance e oratória dos deputados estaduais de Minas Gerais
Monografia apresentada à
Faculdade Estácio de Sá, como
requisito parcial para obtenção
do grau de bacharelado em
jornalismo.
Orientadora: Hila Rodrigues
Belo Horizonte
2008
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Leonardo Batista Quintino
COMUNICAÇÃO E REPRESENTAÇÃO SOCIAL – os efeitos da TV Assembléia
na performance e oratória dos deputados estaduais de Minas Gerais
Monografia apresentada à
Faculdade Estácio de Sá, como
requisito parcial para obtenção
do grau de bacharelado em
jornalismo.
Orientadora: Hila Rodrigues
Aprovada em:
Banca examinadora:
______________________________________________
Professora Hila Rodrigues – Orientadora
______________________________________________
Professor Gilvan Araújo
3
4
À minha família,
meu tudo, minha vida.
5
Agradecimentos
Agradeço à Faculdade Estácio de Sá pelos dois últimos anos de minha
formação acadêmica. Na instituição, aprendi boa parte do que sei, adquiri
experiência acadêmica e, sobretudo, de vida. Agradeço ao corpo docente do Curso
de Comunicação/Jornalismo pela convivência, pelas oportunidades de debate,
discussão, crescimento – e até pelas dores de cabeça. Agradeço também aos
funcionários que nos “suportaram” e ajudaram durante o percurso.
Agradeço à Rodrigo Barreto de Lucena, diretor da TVA; cio Pérez, diretor
de Comunicação Institucional da ALMG; e ao jornalista João Carlos Amaral,
consultor de imagem e âncora plenário da ALMG; fundamentais para esse trabalho.
Agradeço aos deputados que responderam aos questionários dessa pesquisa e aos
demais que, indiretamente, colaboraram com ela, permitindo que eu os analisasse.
Agradeço aos funcionários da ALMG que me acolheram e auxiliam no que foi
preciso.
Agradeço aos professores ssio Martinho, Marcos Barreto, Piedra Magnani
e Ricardo Figueiredo, que me ajudaram a dar os primeiros passos desse projeto.
Meu agradecimento especial à grande “pessoa pequena” Hila Rodrigues,
orientadora, jornalista apaixonada e grande mestre, sem a qual seria impossível a
realização desse trabalho. Ela acompanhou as agruras dessa pesquisa, da minha
vida atribulada e me incentivou em todos os momentos. Deu-me força quando foi
preciso, foi dura quando necessário e sempre acreditou em minha capacidade. Fez
só aumentar minha paixão pelo jornalismo.
Agradeço aos grandes mestres, dos quais tive a honra de ser aluno:
professores Alexandre Freire, Cássio Martinho, Célia Nonata, Helcira Lima, Júlio
Buere, Luciana Oliveira, Maurilio Santigo e Ricardo Figueiredo.
6
Aos meus novos amigos de turma agradeço nas pessoas de: Jonatas
Andrade, Margareth Almeida, Renan Damasceno e Maurício Ângelo, pelo nosso
futuro.
Aos meus velhos amigos, Aline Tavares, Caio Pacheco, Emmerson Maurilio,
e Fernanda Silva, “pelos nossos sonhos”.
Agradeço à minha família, sem a qual não poderia realizar tamanho feito. A
meu pai, Quintino, que me deu carinho, amor e dedicou todos os seus esforços para
que eu me formasse; à minha mãe, Marinalva, que me deu carinho, amor e suporte
para poder estudar; à minha irmã, Danny, que foi companheira, amiga e conselheira
em todos os momentos; à minha avó, Conceição, linda, meu xodó. À minha
namorada, Daphne, amor da minha vida, imprescindível.
7
“Na vida a gente tem que aprender,
desaprender e reaprender”.
João Carlos Amaral, jornalista apaixonado
pela profissão.
8
Resumo
Este trabalho tem por objetivo principal a análise do comportamento dos
deputados estaduais de Minas Gerais frente às câmeras da TV Assembléia. Trata-se
de mostrar como a TV, com seu potencial de comunicação, afeta a performance e o
discurso dos parlamentares no exercício de sua função. Examinou-se, assim, o tipo
de relação estabelecida entre o deputado e seu eleitorado através da TVA. Tentou-
se, ainda, evidenciar os processos pelos quais os deputados voltam suas ações
para as câmeras quando estão em plenário e não para os outros deputados e
cidadãos presentes à Casa –, e os motivos que os levam a se comportar dessa
maneira. A partir do exame desse comportamento, pretende-se verificar se a TV, na
condição de meio de comunicação que agrega som e imagem, afeta a qualidade do
mandato político, refletida, entre outros itens, na performance e no discurso dos
parlamentares – os dois principais componentes em foco nessa pesquisa.
Palavras-chave: comportamento, televisão, representação, performance, discurso
9
SUMÁRIO
1 - INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 10
2 – TELEVISÃO: imagem, revolução e interação .................................................. 13
2.1 - A representação ................................................................................................ 17
3 - A TV LEGISLATIVA E O EXERCÍCIO DO MANDATO ....................................... 22
3.1 – História: o caso da Lei do Cabo ....................................................................... 22
3.2 – A TV Câmara .................................................................................................... 25
3.3 – A TV Senado .................................................................................................... 26
3.4 – A TV Assembléia .............................................................................................. 27
4 - INSTRUMENTOS METODOLÓGICOS ............................................................... 31
4.1 – TVA: a dinâmica interacional ............................................................................ 35
4.2 Câmera, ação e desempenho do mandato parlamentar: elementos anaticos ........ 40
4.3 – Representar para a câmera .............................................................................. 42
4.4 – O efeito da performance ................................................................................... 43
5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 46
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 49
ANEXO A – TVA E DESEMPENHO DO MANDATO ............................................... 51
ANEXO B – RESPOSTAS DOS DEPUTADOS ........................................................ 52
ANEXO C – ANÁLISE EM CAMPO .......................................................................... 53
ANEXO D – ENTREVISTA LUCENA, DIRETOR DA TVA ....................................... 55
ANEXO E – ENTREVISTA JOÃO CARLOS AMARAL ............................................ 61
ANEXO F – ENTREVISTA LÚCIO PÉREZ ............................................................... 65
ANEXO G – FOTOS ................................................................................................. 69
10
Introdução
Esse trabalho pretende mostrar como a TV, com seu potencial de
comunicação, afeta a performance e o discurso dos parlamentares no exercício de
sua função. Para isso, pretende evidenciar como deputados se comportam quando
diante das câmeras da TV Assembléia e os efeitos desse comportamento no
desempenho do mandato. Parece pertinente, sob esse aspecto, examinar o tipo de
relação estabelecida entre o deputado e seu eleitorado através da TVA. Para isso,
tentou-se responder a três questões básicas: até que ponto o fato de ser “flagrado”
pelas câmeras prometendo ações específicas, defendendo ou repudiando
determinado tema compromete (ou favorece) o deputado do ponto de vista do
eleitor? A TV, embora instrumento proporcionador da divulgação do trabalho do
parlamentar, também funciona como instrumento de fiscalização do trabalho desse
parlamentar? Como se dá esse processo?
Tentou-se revelar, aqui, portanto, como os deputados voltam suas ações para
as câmeras quando estão em plenário e não para os outros deputados e cidadãos
presentes à Casa –, e os motivos que os levam a se comportar dessa maneira. A
partir do exame desse comportamento, pretende-se verificar se a TV, na condição
de instrumento de comunicação que agrega som e imagem, afeta a qualidade do
mandato político, refletida, entre outros itens, na performance e no discurso dos
parlamentares – os dois principais componentes em foco nessa pesquisa.
A análise foi feita a partir de ampla pesquisa bibliográfica sobre o processo de
comunicação e sobre a televisão como veículo de informação. As obras consultadas
trabalham o conceito de imagem e suas implicações no mundo real – algumas
destacando episódios específicos que envolvem, por exemplo, TV e política. É o
caso de Mario Sergio Conti (1999), que analisa a eleição do ex-presidente Fernando
Collor sob grande influência da Rede Globo de Televisão, e de Ney Lima Figueiredo
(1986), que aborda a derrota de Richard Nixon para John Kennedy na disputa pela
presidência dos Estados Unidos, também sob enorme influência do veículo.
Recorreu-se, ainda, a outros trabalhos e estudos acerca das TVs legislativas e dos
fatores e contextos que marcaram o processo de criação desse tipo de canal.
A pesquisa acabou evidenciando, durante o seu curso, que os parlamentares
possuem a arte de representar diante das meras. Esse aspecto demandou
consulta a outras obras, desta vez no campo da sociologia. Um autor fundamental
11
nesse processo foi o canadense Erving Goffman (2001), com sua abordagem das
interações sociais na obra A Representação do Eu na Vida Cotidiana.
Três entrevistas específicas foram fundamentais para esse trabalho. A
primeira, com Rodrigo Barreto de Lucena, 44 anos, diretor de rádio e TV da ALMG,
jornalista e 11 anos na emissora; a segunda, com o diretor de comunicação
institucional da ALMG e jornalista, Lúcio Perez, 46 anos e 14 anos na instituição;
e a terceira, embora não menos importante, com o jornalista João Carlos Amaral,
consultor de imagem, âncora do plenário da ALMG e 13 anos na instituição. As
informações, observações, comentários e análises coletadas a partir da conversa
com esses três profissionais foram essenciais ao exame das relações estabelecidas
entre os parlamentares e a TVA.
Paralelamente, trabalhou-se também com a aplicação de um questionário
específico destinado aos 77 deputados da Assembléia Legislativa de Minas Gerais,
e com observação de campo esta última para detectar e registrar as ações, gestos
e tipos variados de oratória adotados pelos parlamentares diante das meras da
TVA.
O trabalho evidenciou a existência de grande influência da TV Assembléia na
performance e no discurso dos parlamentares, que, de fato, voltam suas ações para
as câmeras em busca de uma representação social eficaz, capaz de convencer os
eleitores da eficiência de suas idéias e ações. Assim, a pesquisa demonstra
claramente que existem intenções específicas por trás de cada termo, cada
movimento, cada entonação de voz dos deputados um fator que o chega a
surpreender quando se considera a capacidade da TV de edificar e propagar as
imagens, posturas e atitudes aceitas e aprovadas por uma determinada sociedade.
Trata-se de um fenômeno que confirma a análise empreendida por Goffman
(2001). Segundo ele, quando um indivíduo representa um papel para outros, tende a
incorporar em sua performance valores reconhecidos socialmente, de maneira que
sua atuação seja eficiente.
A pesquisa está estruturada em seis capítulos, incluindo esta introdução o
primeiro deles. O segundo traça um panorama histórico da televisão, suas
implicações no campo do jornalismo e da política, além de abordar a idéia
sociológica de representação social. O terceiro capítulo está focado no surgimento
das TVs legislativas, entre elas, a TV Senado, TV Câmara e TV Assembléia de
Minas, bem como na lei que possibilitou o surgimento desses canais legislativos.
12
Trata, ainda, de discorrer sobre aspectos levantados a partir das entrevistas com
especialistas e parlamentares, revelando, com alguma ênfase, o ponto de vista dos
deputados sobre a televisão. No quarto capítulo, é apresentado o objeto de pesquisa
e a metodologia de análise, com um detalhamento dos métodos escolhidos para a
coleta e análise dos dados. Ao quinto capítulo coube a análise dos resultados da
pesquisa, fundamentada num cuidadoso exame da performance dos deputados
diante das câmeras, bem como das representações empreendidas e do efeito dessa
performance sobre o desempenho do deputado no exercício do seu mandato. Por
fim, no sexto capítulo, apresentamos as considerações finais e a conclusão.
13
2 – Televisão: imagem, revolução e interação
O ser humano luta desde os primórdios para criar meios de receber e passar
adiante a informação e o conhecimento. Depois da descoberta da prensa no século
XV, do telégrafo, do rádio, do telefone e do cinema no século XIX, a TV revolucionou
o mundo das comunicações na virada desse século.
As novidades tecnológicas se incorporavam a comunicação e os meios de
informação se afirmavam. O homem na sua ânsia de vencer barreiras, no
tempo e no espaço, os queria mais velozes e eficazes. É nesse processo
que surge a televisão, com informação na sua forma mais dinâmica e
universal: a imagem. (PATERNOSTRO, 2006, p. 20)
Muito popular, que abrange toda sociedade, a televisão é um meio de
comunicação que transforma a vida das pessoas: “muda conceitos, forma opiniões,
cria hábitos, inspira comportamentos, reduz distâncias, aproxima. É veículo de
informação e entretenimento” (PATERNOSTRO, 2006, p.20).
No Brasil, a TV ainda é um veículo muito recente, implantado pelo empresário
Assis Chateaubriand. Desde o início de seu funcionamento no país, em 1950, a
televisão brasileira, que herdou muitos valores do rádio, preocupou-se em veicular
notícias. Contudo, a utilização da televisão como instrumento de informação, de
maneira sistemática e organizada, é mais recente ainda. O primeiro telejornal
transmitido em rede para todo país, o Jornal Nacional, da Rede Globo, é de 1969.
Desde que passou a funcionar no Brasil, a TV é vista com um campo
privilegiado para a difusão de idéias uma concepção que ganhou força durante a
ditadura militar, período em que o veículo experimentou grande desenvolvimento
tecnológico.
A partir de 1964, durante o regime militar, que a ingerência do Estado na
indústria de televisão aumenta e muda de qualidade. As telecomunicações
foram consideradas estratégicas na política de desenvolvimento e
integração nacional do regime. Os militares investiram na infra-estrutura
necessária à ampliação da abrangência da televisão e aumentaram seu
poder de ingerência na programação (...). (HAMBURGER, 1998, p. 454)
Na década de 1980, a televisão deu um salto graças à comunicação via
satélite, fruto dos investimentos dos governos militares, e começou a ser transmitida
por todo território nacional. A televisão “capta expressa e alimenta as angústias e
14
ambivalências” que caracterizam as mudanças sociais da época “se constituindo em
veículo privilegiado da imaginação nacional” (HAMBURGER, 1988, p. 455).
Na cada de 1990, a relação das emissoras de televisão com o Estado
mudou. A partir daí, a TV passou a ser um fator constituinte “de uma esfera pública
cuja legitimidade está calcada [...] em mecanismos de mercado” (HAMBURGER,
1988, p.459). Trata-se de um contexto no qual, segundo a autora, os “indivíduos
telespectadores se formam em consumidores antes mesmo de cidadãos e
constituem a unidade de referência desse mercado televisivo” (idem, p. 459).
São aspectos que evidenciam a capacidade da TV de captar, expressar e
atualizar “representações de uma comunidade nacional imaginária” (HAMBURGER,
idem, p.441), embora as informações veiculadas não sejam consensuais. O veículo
usa um repertório comum por meio do qual telespectadores completamente
diferentes posicionam-se e situam-se uns em relação aos outros. Segundo
Hamburger, ao tornar esse repertório comum acessível a cidadãos diversos, a TV
oferece a possibilidade de uma integração plena – integração essa que passa
necessariamente por uma outra capacidade da TV, que é a de mobilizar, ao mesmo
tempo, dois dos sentidos humanos mais importantes: a audição e a visão. Por meio
da visão, o homem estabelece a maior parte das relações com o mundo e, como
destaca Maciel (1995), “é através do olhar que as pessoas seduzem e são
seduzidas. É através da relação olho-no-olho que se estabelece a verdade e a
credibilidade entre as pessoas” (MACIEL, idem, p. 15). Na televisão, onde a imagem
é, muitas vezes, a própria notícia, o telespectador é seduzido através do olho e
passa a acreditar naquilo que na tela. Na avaliação de Maciel (1995), a relação
estabelecida pelo olhar entre o fato que é mostrado na tela e o telespectador que
recebe a informação é quase mágica.
Trata-se de um fato diretamente relacionado à questão da credibilidade da TV
e da notícia que ela veicula. Para alguns autores, a “entrega” das imagens
capturadas pelas equipes de reportagem ao telespectador, em casa, é, muitas
vezes, o suficiente para atestar o caráter de verdade de uma notícia.
O ver da televisão é muito mais poderoso do que o contar dos outros veículos
de comunicação. O telespectador pode duvidar do que num jornal ou do
que ouve no rádio, mas dificilmente vai deixar de acreditar no que ele próprio
viu. A imagem que fascina e prende a atenção das pessoas, aliada ao som
envolvente e emocionante, muitas vezes mostrando ao vivo os
acontecimentos mais importantes, transforma a televisão no veículo mais
15
poderoso que foi inventado. (...) Embora texto e imagem devam sempre
andar juntos, um complementando o outro, a imagem é mais forte que a
palavra. É a imagem que permanece gravada no rebro do telespectador
depois que a notícia já foi esquecida (MACIEL, 1995, p.16-18).
Na concepção de estudiosos como Bistane e Bacellar (2005), ao transmitir
uma imagem, que é a representação do real, a televisão transforma o telespectador
numa espécie de testemunha até porque, como ressaltam as autoras, um fato
se transforma em realidade quando as pessoas tomam conhecimento dele. Se
ninguém toma conhecimento, esse fato fica restrito ao universo no qual ocorreu. É
desta forma, aliás, que os meios de comunicação interferem na forma por meio da
qual cada indivíduo percebe a realidade.
Para se ter uma idéia dessa interferência, é pertinente relembrar a discussão
sobre a influência da televisão desencadeada pelo último debate entre o então
candidato à Presidência da República pelo PRN e governador de Alagoas, Fernando
Collor de Mello e o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva na eleição presidencial
de 1989. A edição feita para o Jornal Nacional foi criticada por jornalistas, artistas e
telespectadores porque teria, segundo Conti (1999), beneficiado Collor, que
mostrava o então governador derrotando o adversário no discurso por sucessivas
vezes. No entanto, o material editado não correspondia ao que, de fato, havia
ocorrido no debate, quando o candidato petista respondeu a todas as questões
colocadas, contra-argumentando. A fala de Lula, contudo, foi “cortada”. Conti lembra
que jornalistas envolvidos na edição do primeiro compacto do debate que foi ao ar
no jornal Hoje elogiado, inclusive, pelo diretor da Central Globo de Jornalismo,
Armando Nogueira e da versão do Jornal Nacional, além dos próprios dirigentes
do PT e telespectadores consultados pelo instituto de pesquisas Vox Populi,
acreditavam que Collor se saiu melhor. Contudo, na condensação do Jornal
Nacional, Lula falou sete vezes e Collor, oito. No total Lula falou 2:22 minutos. Collor
3:34 minutos, ou seja, 1:12 minutos a mais que Lula. No resumo feito pelo Jornal
Nacional, Collor foi o tempo todo sintético e enfático, enquanto Lula apareceu
inseguro e trocando palavras. Porém, de acordo com Conti, é possível argumentar
que a escolha das falas dos dois candidatos tentou refletir o conteúdo total do
debate. “Mas é impossível argumentar que a escolha das falas dos dois candidatos
tentou refletir o conteúdo total do debate de modo neutro e fiel: dar 1min12 a mais
para Collor foi uma maneira clara de privilegiá-lo” (CONTI, 1999, p. 269).
16
O caso Collor é bom exemplo do poder do marketing político e, sobretudo, do
poder da televisão nesse processo, com todo o seu poder de representação
simbólica, tantas vezes evidenciada de maneira especial durante as campanhas
eleitorais. Nesses casos, fica claro que a eficácia da TV está na sua capacidade de
unir a representação simbólica com as expectativas do eleitorado (FIGUEIREDO,
2004).
O potencial simbólico não é, entretanto, o único elemento apreciado pelos
estudiosos do marketing político quando o assunto é a televisão. Os recursos
técnicos de alta qualidade tão próprios desse veículo reforçam esse potencial e
fazem com que os políticos se tornem mais agradáveis na telinha. Não por acaso, os
programas políticos na televisão têm se adaptado às características do meio, na
tentativa de adequar a mensagem ao gosto dos telespectadores. Na prática, “este
espaço permite ao cidadão comum participar indiretamente da campanha, pois os
programas são feitos com o objetivo de despertar seu interesse e conquistar o seu
voto” (FIGUEIREDO, 2004, p. 50).
Bom exemplo desse fenômeno está na eleição de John Kennedy, em 1960,
que concorria à presidência dos Estados Unidos contra Richard Nixon. Não são
poucos os estudiosos que atribuem a vitória à TV. Tanto que, como ressalta
Figueiredo (1986), uma comissão do Congresso norte-americano decidiu examinar o
caso, “a fim de verificar até que ponto se aplicava a doutrina da liberdade de
imprensa ao formidável veículo de propaganda que é a TV” (FIGUEIREDO, idem,
p.83). Pesquisas divulgadas duas vezes por semana pelo Instituto Gallup, durante a
campanha eleitoral, mostravam que a situação mudava minuto a minuto. “Uma coisa
ficou patente: a decisiva influência da televisão” (FIGUEIREDO, idem, p. 83). Isso
era evidente nas pesquisas, tanto que, quando um candidato fazia boa aparição na
TV, inclinava-se para este a média da opinião pública. No debate decisivo, em 1960,
o índice de telespectadores chegou a 70 milhões de pessoas. Mas Nixon levou a
pior, porque não se apresentava bem no vídeo e não seguia as orientações de seus
assessores de comunicação. Chegou a ponto, como lembra Figueiredo, de um
colega de chapa advertir Nixon no sentido de melhorar a aparência, “de forma a
desmanchar a imagem de assassino que vendia na televisão” (FIGUEIREDO, idem,
p. 84). A eleição terminou com a apertada vitória de Kennedy com 34.221.463 votos,
ou 49,7% do total, contra 34.108.582 votos, ou 49,6% dados a Nixon. A diferença
mínima foi, portanto, de 0,1% (um décimo por cento) para Kennedy. Concluiu-se que
17
a oratória de cada candidato, tantas vezes veiculados pela TV, fizeram a diferença
no momento da decisão. Ficou claro, portanto, a importância de se adequar a fala a
cada momento, local e ocasião.
O fenômeno televisivo que marcou a batalha eleitoral Kennedy versus Nixon
coincide com a assimilação do potencial da TV pelos profissionais da Publicidade.
Quando surgiu, a televisão era vista com certa timidez pelos anunciantes. Com o
tempo que trouxe o crescimento da produção do aparelho, a conseqüente redução
dos preços e o aumento do número de pessoas com acesso ao equipamento, bem
como a instalação de emissoras em vários estados houve uma ampliação da área
de penetração da TV. A partir daí, ela começa a atrair as agências de propaganda e
os anunciantes. “Os anos 60 consolidam a TV no Brasil. Na disputa pelas verbas
publicitárias, ela assume, definitivamente, o seu caráter comercial: começa a briga
pela audiência” (PATERNOSTRO, 2006, p. 31).
Vários estudos apontam, no entanto, para o caráter “elitizador” que marcou a
história da TV durante muito tempo. A literatura registra que, ao início da cada
de 1990, a televisão era feita para a classe média. As classes D e E não eram
consideradas consumidoras. Esse cenário mudou a partir do Plano Real, na década
de 1990, após a eleição do então presidente da República, Fernando Henrique
Cardoso (PSDB). O plano econômico aumentou o poder aquisitivo da população,
que investiu de maneira especial na compra de eletrodomésticos. “Entre 1993 e
1996 foram vendidos mais de dez milhões de televisores e o número de casas com
aparelhos aumentou em 5,5 milhões, segundo pesquisa do IBGE/PNAD” (BISTANE
E BACELLAR, 2005, p.85).
2.1 - A representação
Tanto o campo do Marketing Político quanto o da Publicidade evidenciam a
capacidade da TV de construir e disseminar representações sociais, ou seja, de
construir e disseminar as imagens e comportamentos aceitos e valorizados por uma
determinada sociedade. A idéia de representação, aqui, está necessariamente
ligada aos comportamentos performáticos e ao esforço das pessoas para construir
imagens de si mesmas. Sob esse aspecto, pode ser útil recorrer à obra do sociólogo
norte-americano Erving Goffman (2001), em um de seus trabalhos pioneiros, A
Representação do Eu na Vida Cotidiana.
18
De acordo com Goffman, a autoconstrução se a partir do modo como
alguém representa a si mesmo na presença do outro. O autor parte do pressuposto
de que os indivíduos podem ser divididos em duas partes: o ator e o personagem.
A expressividade do individuo (e, portanto, sua capacidade de dar
impressão) parece envolver duas espécies radicalmente diferentes de
atividade significativa: a expressão que ele transmite e a expressão que ele
emite. [...] O indivíduo evidentemente transmite informação falsa
intencionalmente por meio de ambos estes tipos de comunicação, o
primeiro implicando em fraude, o segundo em dissimulação" (GOFFMAN,
2001, p. 12).
É certo, contudo, que, para Goffman, as auto-encenações apresentadas pelos
indivíduos nos lugares mais públicos dizem tanto a respeito deles mesmos quanto
aquelas encarnadas no espaço da intimidade. Assim, qualquer dado sobre um
determinado sujeito (identificado via encenação ou representação) contribui para a
descoberta de qual é a situação desse sujeito num contexto específico.
A informação a respeito do individuo serve para definir a situação, tornando
os outros capazes de conhecer antecipadamente o que ele esperará deles e
o que dele podem esperar. Assim informados, saberão qual a melhor
maneira de agir para dele obter uma resposta desejada (GOFFMAN, 2001,
p. 11)
A noção de personagem trabalhada por Goffman parece bastante útil a essa
pesquisa, na medida em que ela propõe um exame da forma pela qual os deputados
estaduais de Minas Gerais se comportam diante das câmeras da TV Assembléia e,
ao mesmo tempo, da maneira pela qual a presença imaginária do telespectador e a
presença física de deputados, jornalistas e cidadãos, influencia as decisões e ações
desses parlamentares.
O sociólogo canadense afirma, por exemplo, que as pessoas estão sempre
procurando representar personagens ideais, de forma que possam ser aceitas pela
sociedade. Essas representações são, portanto, guiadas a partir da relação com o
outro. Ao representar a si mesmo, um indivíduo mostra ao outro o comportamento
que espera dele. Nesse sentido, a forma como X trata Y está baseada nas
impressões que X tem de Y, construídas a partir das ações e reações de Y e X
durante a interação.
As performances também variam conforme o lugar e o contexto. Para marcar
o lugar das interações, Goffman trabalhou com a noção de região. O sociólogo
19
afirma que as ações do ser humano situam-se em dois tipos de regiões: as de frente
e as de fundo. As primeiras, também designadas como oficiais, abertas ou blicas,
são aquelas que abrigam as representações mais aparentes. São nessas regiões
que as personagens construídas intencionalmente atuam e onde se mostram mais
preocupadas em controlar suas ações que estão sob a supervisão de um olhar
alheio, atento a qualquer descuido.
Meniconi (2005) indica que as regiões de fundo demarcam a intimidade e
os lugares de maior privacidade. São espaços nos quais uma pessoa convive com
um grupo seleto de indivíduos, diante dos quais não precisa se preocupar. É onde
ela pode relaxar e agir naturalmente. Como destaca Meniconi (2005), é nas regiões
de fundo que o indivíduo prepara sua atuação para as regiões de frente.
Outro ponto ressaltado por Goffman, e enfatizado por Meniconi, é o fato de
que, durante as representações, cada sujeito acaba apresentando determinadas
características físicas e sociais que a priori sinalizam aos seus interlocutores o
papel que ele deverá encenar. Ou seja, a presença de determinados objetos e o fato
de estar num dado ambiente influenciam a atuação desse personagem. A todo esse
conjunto de dispositivos que ajuda a criar as representações, Goffman convencionou
chamar de “fachada”:
Será conveniente denominar de fachada a parte do desempenho do
indivíduo que funciona regularmente de forma geral e fixa com o fim de
definir a situação para os que observam a representação. Fachada,
portanto, é o equipamento expressivo de tipo padronizado intencional ou
inconscientemente empregado pelo indivíduo durante sua representação
(GOFFMAN, apud MENICONI, 2005, p. 57).
Na concepção de Goffman, portanto, as fachadas estruturas fixas e pouco
mutáveis nada mais são que a encenação de papéis. Assim, dificilmente cria-se
uma nova fachada, um novo papel; ao desenvolver uma performance, o indivíduo
seleciona, na verdade, a representação que mais lhe convém. E faz isso baseado
em princípios, crenças e valores próprios.
(...) as interações cotidianas (...) são decorrentes de inúmeros fatores
relacionados às dinâmicas culturais, sociais e econômicas que perpassam a
sociedade. (...) As representações, antes de tudo, encarnam valores, que
estão longe de serem práticas fixas; valores são constantemente
apreendidos e modificados pelos sujeitos que os tomam (MENICONI, 2005,
p. 57).
20
Contudo, também é certo que, quando um indivíduo representa um papel para
outros, tende a incorporar em sua performance valores reconhecidos socialmente,
de maneira que sua atuação seja bem sucedida. E, como acentua Goffman, “ao
encarnar esses valores em sua representação, ele faz com que estes se perpetuem
na sociedade” (MENICONI, 2005, p.58). Portanto, os sujeitos agem, inicialmente,
para defender seus próprios interesses, mas acabam executando seus papéis na
sociedade, de modo a cooperar com os demais. Na maior parte das situações, as
pessoas acabam por se mostrar como realmente são ainda que, em algumas
ocasiões, exagerem em suas performances.
Nesse sentido, as performances dos indivíduos não são apenas a extensão
da decisão individual dos atores; elas são criadas a partir do cruzamento de
exigências do próprio papel e de sua projeção social, construída conjuntamente com
os outros indivíduos. Por isso mesmo, apesar de agirem sempre tendo em vista o
maior controle possível sobre suas respectivas performances, as pessoas estão
sujeitas a imprevistos que escapam de seu controle. Segundo Goffman, isso ocorre
porque “as representações põem em destaque uma decisiva discrepância entre
nosso eu demasiado humano e nosso eu socializado” (GOFFMAN apud MENICONI,
2005, p. 61)
Ainda sob esse aspecto, um outro ponto enfatizado por Goffman diz respeito
à consciência que as pessoas têm da dificuldade enfrentada por cada indivíduo para
sustentar o personagem que forja para o outro e para si mesmo. Por isso mesmo, as
pessoas costumam buscar sinais reveladores da intimidade do outro expressões
das regiões de fundo, onde o indivíduo “baixa a guarda”. Desta forma, os pequenos
detalhes que compõem as representações de um indivíduo como os gestos, por
exemplo podem conferir maior credibilidade à performance desse indivíduo, mas
também podem liquidá-la. “Além disso, mesmo que um ator consiga sustentar seu
papel da forma que julga ser a mais conveniente, tal representação estasempre à
mercê das mais diversas interpretações do público” (MENICONI, 2005, p.61).
Aqui, , ainda, um outro aspecto acentuado por Meniconi: ela lembra que
todo público tem, não raras vezes, a sensação de que pode estar diante de uma
representação falsa e tomá-la como verdadeira. Na posição de membros de uma
“platéia”, as pessoas m, portanto, a consciência de que podem ser enganadas.
Assim, estarão freqüentemente colocando em vida a veracidade das
representações. Exatamente por isso, também estarão sempre em busca de algum
21
sinal um gesto mal executado, por exemplo –, capaz de indicar a verdadeira
natureza de uma performance.
Considerando todos esses aspectos, o trabalho de pesquisa aqui proposto
pretende examinar a influência da TV Assembléia e do seu poder de disseminar
diferentes representações sobre a atuação dos parlamentares no exercício de sua
função.
22
3 – A TV Legislativa e o exercício do mandato
3.1 – História: o caso da Lei do Cabo
As TVs legislativas surgiram em 1995, a partir da criação da Lei de TV a cabo,
8.977/95. Negociada entre governo, empresários e sociedade, foi a primeira lei do
setor de telecomunicações desde o Código Brasileiro de Telecomunicações de
1962. Segundo Rosseto (2006) a história da regulamentação da Lei de TV a cabo foi
construída com a participação da sociedade civil o que fez com que ela ganhasse
grande repercussão. O processo pode ser dividido em três atos. Num primeiro
momento, entre 1970 e 1987, tentou-se implantar algo semelhante à lei do cabo em
vigor hoje, mas sem qualquer amparo legal. Porém, como lembra Rosseto (2006),
existia vontade popular e de movimentos pela democratização da comunicação de
dar início ao processo de forma diferente. Nesse sentido, havia um projeto da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, enviado ao Ministério das
Comunicações, de montar uma estrutura de televisão segmentada na cidade
Venâncio Aires, Rio Grande do Sul, com o objetivo de estudar a nova tecnologia de
transmissão. Porém, o projeto foi barrado pelo Ministério das Comunicações e,
nesse momento, ficou clara a intenção do governo de instalar o serviço sem
qualquer discussão, de forma a não abrir espaço para concorrência. Em 1975
entidades culturais denunciaram o projeto secreto do Ministério das Comunicações,
para implantação de um sistema de distribuição de sinais por cabos. O Ministério
das Comunicações tentou, ainda, por dois anos, regularizar o serviço diretamente
com a Presidência da República por decreto, sem submetê-lo ao congresso.
Entretanto, o governo não aceitou o pedido e se comprometeu a fazê-lo somente
com o apoio do Congresso. Paralelamente, segundo Rosseto, o mercado continuou
se expandindo sem amparo legal até 1988.
Num segundo momento, começavam a ser editados os primeiros textos legais
para o serviço. Pode-se dizer que o primeiro amparo jurídico foi o decreto 95.744, de
23 de fevereiro de 1988, “que regulamentou, sem discussão pública, o chamado
Serviço Especial de Televisão por Assinatura, lançando as bases da política para as
tecnologias do UHF codificado e do satélite”. (ROSSETO, 2006, p. 4). No tocante à
tecnologia a cabo, a portaria 143, de 21 de junho do mesmo ano, foi a primeira
provisão legal firmada diretamente através do Ministério das Comunicações com o
23
nome de Serviço de Recepção de Sinais de TV via Satélite e sua Distribuição por
Meios Físicos a Usuários. Um ano mais tarde, com o intuito de garantir mais
segurança aos investidores do setor do cabo, o então ministro das Comunicações,
Antonio Carlos Magalhães, editou a portaria 250, em substituição a 143, que instalou
o serviço de Distribuição de Sinais de TV por Meios Físicos - DISTV –, que
disciplinava a distribuição de sinais por meios físicos, sem a necessidade de
utilização do espectro radioelétrico para chegar aos usuários
1
.
Todavia, Rosseto lembra que o DISTV ainda não era a televisão a cabo como
conhecemos hoje, e o durou muito para que fosse suspensa a distribuição de
licenças para esse serviço, além de ser estabelecida, em junho de 1991 pela
Secretaria Nacional de Comunicação
2
, outra portaria, a 051/91, transformando a
DISTV em Serviço Especial de TV a Cabo. Contudo, essa portaria foi contestada
durante uma audiência pública pelo Fórum Nacional pela Democratização das
Comunicações (FNDC), liderado pelas federações dos jornalistas, trabalhadores de
rádio e televisão, artistas e técnicos em diversão e teatro. De acordo com Rosseto, o
Fórum acreditava que a TV a cabo, como havia sido regulamentada, não dava
possibilidade de disputa por licitação e excluía os órgãos públicos do direito de
exploração.
O Fórum defendia que esse serviço de distribuição por cabos fosse
regulamentado da mesma forma que a radiodifusão, passando pelo
Congresso e se transformando em lei e baseado nos conceitos de
desestatização, reprivatização e controle público (ROSSETO, 2006, p. 5).
A entidade encontrou o apoio do então deputado Tilden Santiago – hoje filiado
ao PSB, mas que, à época, pertencia ao PT de Minas Gerais –, que apresentou o
projeto de lei nº 2.120, em outubro de 1991. O projeto para implantação da
transmissão a cabo também incluía os canais legislativos, educativos e de acesso
público, além da criação de um Conselho de Cabodifusão.
Nos idos de 1993 e 1994, o mercado se organizou em oligopólios. Esses anos
foram marcados por novidades no que tange à questão da propriedade e da
1
ABTA – Associação Brasileira de TV por assinatura. Disponível em <
http://www.abta.com.br/site/content/panorama/historico.php> Acesso em 25/11/2008.
2
Durante o governo de Fernando Collor de Mello o Ministério das Comunicações foi transformado na Secretaria
Nacional de Comunicação – SNC, subordinada ao Ministério da Infra-Estrutura.
24
programação, porém sem grande evolução do ponto de vista da legislação. O ano
de 1993, especificamente, foi marcado pela criação de uma representação
empresarial forte no mercado. “Em decorrência da entrada definitiva no negócio de
TV paga das grandes empresas das Organizações Globo, a recém-criada Multicanal
e o Grupo Abril, no final do ano nasceu a Associação Brasileira de Televisão por
Assinatura” (ROSSETO, 2006, p. 5).
num terceiro momento desse processo, que começou em 1995, o mercado
brasileiro de televisão paga registrou, segundo Rosseto, o maior crescimento de
número de assinantes da sua história: passou de 250 mil para 1 milhão, em dois
anos. Entretanto, o grande marco dessa fase do desenvolvimento do mercado foi a
aprovação da Lei 8.977/95, em 6 de janeiro, a chamada Lei do Cabo. É a única lei
que rege o sistema de TV por assinatura e regulamenta a tecnologia do cabo. O fato
não foi apenas um marco para o mercado. Foi, sobretudo, um grande exemplo de
trabalho legislativo para a história da política brasileira, pois, na concepção de
Rosseto, traduziu em lei um processo que contou com a participação ativa não só do
empresariado, mas também da sociedade civil.
Rosseto acredita, ainda, que, após as reordenações do mercado ocorridas em
1993 e 1994, iniciou-se um período mais ou menos definido e com um quadro
regulatório mais seguro para o cidadão.
A lei 8.977/95 diz que a televisão a cabo é um serviço de telecomunicações,
orientado pelas noções de rede única, rede blica e participação da sociedade. Na
avaliação de estudiosos como Rosseto, não por acaso a disponibilização de 30%
dos canais permanentes para terceiros, sem ligação com a operadora, é
considerada um grande avanço.
Ainda conforme a lei, o serviço de TV a cabo pode ser explorado mediante
concessão. O texto define que uma operadora pode distribuir sinais televisivos
próprios ou de terceiros, através de redes; que uma programadora está encarregada
da produção e/ou fornecimento de programas; que a rede de transporte é de
responsabilidade das concessionárias de telecomunicações e que as redes locais
pertencem às operadoras. O texto permite, ainda, o overbuilding a existência de
mais de uma rede de cabos em uma mesma localidade.
Contudo, o maior avanço na lei talvez tenha sido o estabelecimento dos
canais de acesso público. São três legislativos: um para o Senado Federal, outro
para a Câmara dos Deputados e um terceiro, que deve ser partilhado entre as
25
Assembléias Legislativas e as Câmaras de Vereadores. Os demais canais foram
subdividos numa estrutura educativo-cultural, para ser usado pelos órgãos que lidam
com educação e cultura nos municípios e nos governos estaduais e federal.
também um canal universitário, que fica sob a responsabilidade das universidades
localizadas na área de prestação do serviço, além de um canal comunitário, de uso
livre e gratuito por qualquer entidade sem fins lucrativos. Outros dois canais foram
reservados para uso em caráter eventual, como transmissão de assembléias
sindicais.
Em 1997 foi sancionada a Lei Geral de Telecomunicações, 9.472/97, que,
entre outros serviços, regula o DTH (abreviatura do termo inglês Direct to home,
transmissão por satélite) e o MMDS (Serviço de Distribuição Multiponto Multicanal,
tecnologia de telecomunicações sem fio), ratificando que ambos devem ser
outorgados simplificadamente, sem prazo determinado e mediante autorização. De
acordo com Rosseto, o texto foi aprovado praticamente sem discussão, num período
de três meses, apoiado na idéia de que a gica de mercado acarreta
desenvolvimento. Esse texto jurídico em grande parte substitui o Código Brasileiro
de Telecomunicações. “Diferentemente da Lei do Cabo, segundo a qual 51% do
capital das operadoras deve estar sob controle de brasileiros natos, a Lei Geral não
estabelece limites ao capital estrangeiro” (ROSSETO, 2006, p. 6). A única mudança
na TV a cabo, desde então, foi a inclusão de um canal destinado ao Supremo
Tribunal Federal em 2002. Depois disso, como lembra Rosseto, nada mais se
produziu, relatou ou discutiu sobre a regulamentação do setor.
3.2 – A TV Câmara
A TV Câmara, canal aberto de televisão da Câmara dos Deputados, foi criada
em 20 de janeiro de 1998, com o intuito de transmitir as discussões e votações do
Plenário e das comissões, “dando maior transparência à rede de elaboração das leis
que regem o dia-a-dia da sociedade”
3
.
As sessões do Plenário são exibidas ao vivo e a TV conta com equipes de
jornalismo que acompanham os trabalhos das comissões permanentes, Comissões
Parlamentares de Inquérito (CPI), seminários e qualquer manifestação de interesse
público. “A linguagem recebe especial atenção, para traduzir ao telespectador o
3
TV CÂMARA. Disponível em <http://www2.camara.gov.br/tv> Acesso em 28/10/2008.
26
processo legislativo e tornar a notícia e a informação claras e acessíveis”
4
. O canal
tem telejornais diários que mostram os bastidores e detalham assuntos importantes
do dia caso da inserções intituladas Câmara Hoje e Primeira gina, além dos
flashes ao vivo do Câmara Agora e a revista eletrônica semanal Panorama.
ainda programas temáticos e de debates, que tentam ampliar a visão do
telespectador, facilitando sua tomada de posição. São eles: Expressão Nacional,
Personalidade, Mulheres no Parlamento, Brasil em Debate, Participação Popular,
Palavra Aberta, Comitê de Imprensa e Ver TV.
A TV Câmara cobre 100% do território nacional, com sinal disponível em
redes abertas e por assinatura. Via parabólica, operadoras de TV a cabo ou, no
Distrito Federal, em UHF, a programação está no ar 24 horas por dia.
3.3 – A TV Senado
A TV Senado é anterior à TV Câmara: foi criada no dia 5 de fevereiro de
1996. Inicialmente, era transmitida apenas para assinantes de TV a cabo. Hoje,
contudo, o canal pode ser sintonizado em todo território brasileiro. “As transmissões
simultâneas alcançam, pelo menos, as 8 milhões de antenas parabólicas instaladas
no país e os mais de quatro milhões de televisores com TV por assinatura”
5
.
O canal faz a cobertura de todas as sessões plenárias do Senado Federal e
da Câmara, além de reuniões das comissões permanentes, comissões
parlamentares de inquérito, comissões especiais e comissões mistas, formadas por
senadores e deputados, com imagens disponibilizadas também para as emissoras
comerciais, em tempo real, via satélite. Quando não são exibidas ao vivo, as
reuniões das comissões são gravadas e programadas para serem veiculadas nos
intervalos que se seguem na programação do mesmo dia ou dos dias seguintes.
De acordo com informações do site do Senado, a cobertura institucional
resulta em diversos tipos de programas: transmissões ao vivo, íntegras de reuniões
pré-gravadas, entrevistas e produção de especiais e programas jornalísticos.
espaço, inclusive, para o campo cultural, com destaque para a música. Atualmente,
pelo menos três espaços fixos na programação reservados para os programas
musicais: no Espaço Cultural, o veiculadas apresentações de música popular e
4
TV CÂMARA. Disponível em <http://www2.camara.gov.br/tv> Acesso em 28/10/2008.
5
TV SENADO. Disponível em <http://www.senado.gov.br/tv> Acesso em 28/10/2008.
27
erudita. O programa Quem tem medo da música clássica? é, segundo o site do
Senado, “um dos maiores sucessos de público da TV Senado, é recordista em
telefonemas e mensagens recebidas”
6
. no programa Conversa de Músico, são
apresentadas entrevistas e curiosidades sobre instrumentos, grandes compositores
e sobre o que pensam os profissionais dessa área.
Ainda como parte da programação cultural, o canal apresenta o programa
Leituras, dedicado à análise e à divulgação da literatura brasileira, com entrevistas e
apresentação de obras lançadas no Brasil. Nos Especiais da TV Senado, são
retratados ainda temas históricos e turísticos, além de programas educativos, que
versam sobre a saúde, por exemplo. São documentários, debates e entrevistas
sobre diversos assuntos.
Entretanto, o forte da programação é mesmo a atividade legislativa. Os
noticiários Jornal do Senado e Senado Agora, agregados aos boletins Aconteceu no
Senado, explicam a atuação dos senadores e esclarecem os trabalhos desta Casa
legislativa, detalhando o processo de tramitação de propostas que mudam o dia-a-
dia dos cidadãos. “Ao longo do dia, vídeos institucionais explicam a estrutura interna
do Senado. É possível conhecer, por exemplo, o trabalho da Secretaria Geral da
Mesa, da Biblioteca ou da própria Secretaria de Comunicação Social”
7
.
3.4 – A TV Assembléia
Poucos eleitores mineiros sabem que a Assembléia Legislativa de Minas
Gerais foi, na verdade, a pioneira na criação de um canal do Poder Legislativo. A TV
Assembléia de Minas (TVA) foi a primeira emissora legislativa criada após a
publicação da Lei do Cabo. Aos 30 dias do mês de novembro de 1995 portanto,
antes da TV Câmara e da TV Senado entrou em operação no canal 40, em Belo
Horizonte, hoje canal 11. A idéia era facilitar o acompanhamento dos trabalhos da
instituição e dos parlamentares pelos cidadãos. No primeiro ano, eram transmitidas
duas horas e meia de programação, contendo basicamente reprises de reuniões do
Plenário da Assembléia.
No ano seguinte, a TVA cresce e passa a exibir 12 horas de programação,
apresentando os primeiros programas gravados e editados. em 2007 essa
6
TV SENADO. Disponível em <http://www.senado.gov.br/tv> Acesso em 28/10/2008.
7
TV SENADO. Disponível em <http://www.senado.gov.br/tv> Acesso em 28/10/2008
28
tendência de crescimento se firmou e a emissora passou a ter uma grade básica de
programas muitos produzidos em estúdio, como os debates e entrevistas
especiais.
Em pouco mais de um ano, em 1998, a TVA chega a todas as regiões do
Estado, através do satélite Brasilsat B3. A partir daí são transmitidas 17 horas de
programação diária. A grade contava com documentários e programas nas áreas do
direito, da política e da cultura. Ainda naquele ano, a TVA faz sua primeira grande
cobertura das eleições, “iniciando um projeto que a transforma em referência no
jornalismo político”
8
. em 1999, o canal aumenta sua grade de programas e passa
a ter 18 horas diárias. A essa altura, estava consolidado o processo de expansão
para o interior do Estado. A partir de 2000, a TVA se consolida como canal
legislativo. Nesse ano a emissora fez uma grande cobertura das eleições, o que se
repete em 2002 e permanece até os dias de hoje.
O sinal da TVA chega atualmente em 237 cidades
9
mineiras via satélite (o sinal
pode ser captado por antenas parabólicas) e por cabo. Pela internet, pode ser
acessada em qualquer lugar do mundo pelo endereço eletrônico:
http://www.almg.gov.br. A programação é constituída basicamente de transmissão
ao vivo, no Plenário, ou seja, das veiculações das reuniões ordinárias realizadas às
terças, quartas e quintas-feiras (com início sempre às 14 horas), e, eventualmente,
das reuniões extraordinárias, em dias e horários alternados às reuniões ordinárias.
Também fazem parte da grade as reuniões destinadas a debates, realizadas sempre
às segundas-feiras, às 20 horas, e às sextas-feiras, às 9 horas, além das reuniões
especiais para homenagens e comemorações de datas festivas. Nessa grade, o
Plenário da casa tem prioridade de exibição ao vivo na TVA. Todas essas reuniões
são públicas e podem ser acompanhadas das galerias (lugares reservados ao
público para assistir às sessões) por qualquer cidadão.
Segundo Lucena
10
nunca foi realizada pesquisa especifica para medir a
audiência da TVA. Ele explica que é muito difícil aferir isso, pois, na capital, a TV
pode ser sintonizada por assinante de TV a cabo. O sinal é aberto em algumas
8
TV ASSEMBLÉIA. Disponível em <http://www.almg.gov.br/index.asp?diretorio=tvalmg&arquivo=tv_historia>
Acesso em 08/11/2008.
9
TV ASSEMBLÉIA. Disponível em < http://www.almg.gov.br/index.asp?diretorio=tvalmg&arquivo=tv_sintonia>
Acesso em 25/11/2008.
10
LUCENA, Rodrigo Barreto de. Diretor de rádio e TV da ALMG. Entrevista concedida em outubro de 2008. Ver
anexo D.
29
cidades do interior e aguarda autorização do Congresso para ser aberto em Belo
Horizonte. Lucena lembra que essa audiência é muito qualificada, que, se
perguntados, esses telespectadores sabem identificar os programas, a programação
e o que eles gostam ou aprovam. “Aí os resultados são muito significativos,
favoráveis para a TV”, diz ele.
A emissora avalia o perfil dos telespectadores da TVA por meio de pesquisas.
Esse perfil, entretanto, varia muito de região para região e conforme a maneira pela
qual o sinal é captado. Segundo Lucena, o público que tem acesso à programação
pela TV a cabo é diferente daquele que a assiste pela TV aberta. Há ainda o fator da
localização desse público: o público de uma cidade grande costuma divergir sob
vários aspectos do público de uma cidade pequena. Dito de outra forma, o público é
essencialmente heterogêneo, principalmente quando o sinal da TV é aberto.
Seja qual for o público, contudo, as possibilidades de interação da TVA com
as pessoas que garantem a sua audiência estão centradas no correio eletrônico. O
processo se geralmente por e-mail. Segundo Lucena, o telespectador pode até
ligar, mas a emissora não divulga esse canal, uma vez que ainda não possui
estrutura adequada para atender a todos por esse meio.
30
4 – Instrumentos metodológicos
No regime democrático, o Poder Legislativo é o responsável pela
representação popular e é nele que se encontra espaço para as negociações
políticas e manifestações sociais do país. Além disso, o Parlamento se propõe a dar
voz ao povo. Nesse sentido, é importante conhecer a estrutura, abrangência e
eficácia da TVA principal veículo de comunicação da ALMG. O canal foi criado
para democratizar e ampliar o acesso ao cotidiano do Poder Legislativo, dando mais
transparência às atividades dos deputados e facilitando o acompanhamento dos
trabalhos legislativos pela sociedade.
É fato, contudo, que os parlamentares, como qualquer pessoa que se
diante das câmeras de uma TV, estabelecem uma relação com o veículo que, não
raras vezes, resulta na representação não no sentido pejorativo, ligado, por
exemplo, à dissimulação, mas no sentido social proposto por Erving Goffman (2001),
para quem a representação faz parte das interações sociais, podendo facilitar o
processo de comunicação e contribuir para a redução da área de conflito.
Este trabalho mostra como os deputados voltam suas ações para as câmeras
quando estão em plenário e não apenas para os outros deputados e cidadãos
presentes –, e os motivos que os levam a se comportar dessa maneira. A partir do
exame desse comportamento, pretende verificar se a TV, com seu potencial de
comunicação, afeta a qualidade do mandato político, tantas vezes refletida na
performance e no discurso dos parlamentares no exercício de sua função os dois
principais elementos aqui analisados.
Parece pertinente, sob esse aspecto, examinar o tipo de relação estabelecida
entre o deputado e seu eleitorado através da TVA. Para isso, tentou-se responder a
três questões básicas, que parecem relevantes: o fato de prometer, defender ou
repudiar determinado tema ou ação em frente às câmeras compromete o
parlamentar do ponto de vista do eleitor? A TV, embora instrumento proporcionador
da divulgação do trabalho do parlamentar, também funciona como instrumento de
fiscalização do trabalho desse parlamentar? Como se dá esse processo?
Para tentar entender essa dinâmica entre os parlamentares e a TVA, foi
empreendida ampla pesquisa bibliográfica sobre a história da comunicação, assim
como a história da televisão no Brasil, do ponto de vista técnico, mas também
político. Recorreu-se, ainda, aos manuais de redação e estilo em TV, bem como a
31
obras que trabalham o conceito de imagem e suas implicações na televisão.
Episódios específicos, que envolvem TV e política, foram reexaminados: caso da
eleição do ex-presidente Fernando Collor sob grande influência da Rede Globo de
Televisão, como apontam vários estudiosos, com destaque para Mario Sergio Conti
(1999), e do ex-presidente norte-americano Richard Nixon, que perdeu as eleições
para John Kennedy, também sob a influência do veículo, como registra o estudo
clássico de Ney Lima Figueiredo (1986). A pesquisa também inclui dados coletados
em obras e em entrevistas sobre a história das TVs legislativas, com destaque para
o processo que possibilitou a existência desse tipo de canal.
Para entender o fator representação, foi de fundamental importância o estudo
das interações sociais, o que se deu a partir da leitura da obra do sociólogo
canadense, Erving Goffman (2001), A Representação do Eu na Vida Cotidiana.
Num segundo momento, recorreu-se a entrevistas específicas com três
personagens considerados essenciais à análise aqui pretendida. Trata-se de
Rodrigo Barreto de Lucena, 44 anos, diretor de rádio e TV da ALMG, jornalista e há
11 anos na emissora; o diretor de comunicação institucional da ALMG e jornalista,
Lúcio Perez, 46 anos e 14 anos na instituição; e João Carlos Amaral, jornalista,
consultor de imagem, âncora do plenário da ALMG e 13 anos na instituição.
Optou-se pela entrevista semi-estruturada um dos modelos apresentados por Tim
May (2004), na obra Pesquisa Social: Questões, métodos e processos –, na qual “as
perguntas são normalmente especificadas, mas o entrevistador está mais livre para
ir além das respostas” (MAY, 2004, p. 148). Esse tipo de método permite ao
entrevistador buscar mais esclarecimentos ou maior elaboração das respostas por
parte do entrevistado, além de possibilitar o registro de informação qualitativa sobre
o assunto abordado. Como ressalta May, esse tipo de entrevista permite, ainda, que
as pessoas respondam em seus próprios termos, fornecendo ao pesquisador uma
boa estrutura de comparabilidade.
O terceiro passo concentrado na tentativa de avaliar se a TVA pode ser útil
ao desempenho de um mandato constituiu-se na construção de um quadro com
algumas categorias de análise centradas no cruzamento de dois fatores-chave: de
um lado, os elementos que, a rigor, seriam capazes de assegurar a um parlamentar
um mandato positivo. De outro, a capacidade ou não do canal legislativo de
proporcionar esses elementos (ver ANEXO A). Para a indagação “O que garante um
32
bom mandato?” foram pontuados, aleatoriamente
11
, os seguintes itens: Recursos
Financeiros (orçamento); pessoas qualificadas na equipe (gabinete); bom trânsito na
imprensa; divulgação do trabalho na mídia; contato com o eleitorado; prestação de
contas ao eleitorado; bom diálogo com outros parlamentares e representantes dos
governos (municipal, estadual e federal); boa equipe de comunicação; boa imagem
pessoal.
Paralelamente, foi elaborado um questionário específico para os 77
deputados da Assembléia Legislativa de Minas Gerais. O material, encaminhado a
todos os parlamentares, é constituído de perguntas também fundamentadas na
concepção de May (2004) sobre esse método de pesquisa. Optou-se, desta vez,
pela entrevista estruturada. Nessa modalidade, a mesma pergunta é feita a cada
pessoa da mesma maneira, “de modo que quaisquer diferenças entre as respostas
são consideradas reais e não resultado da situação da entrevista” (MAY, idem, p.
146). Assim, segundo o pesquisador, o papel do entrevistador é neutro, que as
regras para conduzir essas entrevistas são a padronização. May considera que esse
método também permite a comparabilidade entre as respostas, uma vez que baseia-
se em uma estrutura uniforme.
Tabulamos as respostas dos deputados num quadro analítico (ver ANEXO B),
que considera todos os pontos abordados pelo questionário: o potencial da TVA; a
importância da TVA; o zelo pela imagem pessoal; a percepção da reação do eleitor;
a percepção do retorno dos cidadãos; a avaliação do retorno (positivo ou negativo);
a existência ou não de eventuais riscos à imagem; a percepção de estar sendo
fiscalizado ou não por meio da TVA; divergência de comportamento antes e depois
do advento da TVA; e os efeitos da TVA na maneira de ser e de agir como
parlamentar.
Embora o questionário aplicado aos deputados possua questões abertas,
dicotômicas, de múltipla escolha e de estimação
12
, optou-se, aqui, pela restrição das
respostas ao sim e ao não, de maneira a simplificar a tabulação para a análise.
Assim, se um deputado, ao dar sua resposta, demonstrou uma avaliação pelo
menos “mediana” do tema abordado (portanto, uma resposta que pode ser
11
Os parâmetros foram escolhidos aleatoriamente, considerando a experiência política acumulada pelo autor,
que convive no meio político 09 anos, tendo sido, inclusive, candidato a vereador pelo PL nas eleições
municipais de 2004 e pelo PHS nas eleições de 2008.
12
Segundo Lakatos e Marconi, as perguntas de estimação ou avaliação são aquelas que permitem “emitir um
julgamento através de uma escala de vários graus de intensidade para um mesmo item” (1999, p. 105)
33
considerada mais ou menos positiva, mas nunca negativa), optou-se pela inserção
da opção “sim” no quadro analítico. Em contrapartida, as respostas entendidas como
avaliação negativa resultaram na inserção do “não. Em ambos os casos, contudo, a
opção pelo sim ou pelo não foi influenciada pelas respostas dadas pelo parlamentar
nas questões abertas.
Outro instrumento de pesquisa foi a observação dos parlamentares (das
ações, gestos e oratória) diante das câmeras da TVA, realizada nos dias 19 e 20 de
novembro de 2008
13
. Tal instrumento se fez necessário diante da percepção de que
um deputado trabalha, concomitantemente, com pelo menos três “enquadramentos
interacionais” (MENICONI, 2005, p. 4) enquanto discursa no plenário: as interações
com outros deputados; com as pessoas nas galerias, visitantes que têm livre acesso
para assistir às sessões plenárias; e com o blico telespectador. Assim, procurou-
se examinar, aqui, a performance dos deputados em frente às câmeras da TVA em
três momentos: a) o discurso na tribuna; b) interação com outros parlamentares; c)
interação com público e galerias. Para empreender essa análise, parâmetros
específicos de observação foram adotados: (1) gestos (naturais ou teatrais?); (2)
vocabulário (simples ou rebuscado?); (3) tom de voz (normal ou teatral?); (4)
conteúdo (comenta o que é de interesse de quem? A partir daí, defende ou ataca?);
(5) interação com outros deputados (normal ou teatral?); (6) assunto da reunião; (7)
Situação do plenário (cheio, vazio ou quase vazio); (8) fase do discurso
14
(nas
reuniões discursos podem ser feitos em três momentos: na fase de oradores, num
aparte
15
ou no fim da reunião, usando o artigo 70
16
); (9) observações.
13
Os dados e o quadro analítico estão no ANEXO C.
14
Na ordem do dia reuniões ordinárias e, eventualmente, reuniões extraordinárias. As reuniões o dividas
em duas partes e cada uma delas subdivida em duas fases. A primeira fase da primeira parte é chamada de
Expediente e dura 15 minutos. Aqui, ocorrem a leitura e a aprovação da ata da reunião anterior, além da leitura
da correspondência. A segunda parte, chamada de Grande Expediente, tem duração de uma hora, quando são
feitas apresentações de proposições e discursos dos oradores inscritos. na segunda parte, a primeira fase
pode durar até uma hora e serve para comunicações da presidência e apreciação de pareceres e requerimentos.
A segunda fase pode durar até duas horas e 15 minutos, quando são discutidos e votados os projetos de lei.
15
Ocasião em que um deputado pede a palavra durante o discurso de outro deputado na tribuna.
16
Artigo 70 - Segundo o artigo 70 do Regimento Interno, será facultado ao líder, em caráter excepcional, usar da
palavra pelo tempo que o Presidente da Assembléia prefixar, a fim de tratar de assunto relevante e urgente ou
responder a crítica dirigida à Bancada ou ao Bloco Parlamentar a que pertença. O parágrafo estipula que,
quando o líder não puder ocupar a tribuna, podetransferir a palavra a um dos seus vice-líderes ou a qualquer
de seus liderados. O parágrafo determina que a palavra somente será concedida, em ambas as fases da
Ordem do Dia, depois de discutidas ou votadas as matérias nelas constantes. Em suma, é um artifício que os
deputados usam para falar depois da chamada da fase dos oradores, ao final da votação.
34
4.1 – TVA: a dinâmica interacional
Mesmo antes de 1995, ano de inauguração da TVA, a Assembléia Legislativa
de Minas Gerais guardava alguma afinidade com os processos de gravação para
TV. Na época, era produzido o Assembléia Informa, um boletim de dois minutos
veiculado na mídia. Assim, havia alguma experiência por parte dos deputados,
pois eles sabiam que determinadas reuniões estavam sendo filmadas. A partir daí, o
comportamento adotado pelos parlamentares começava a se modificar. Rodrigo
Barreto de Lucena, jornalista, diretor de Rádio e TV da ALMG e há 15 anos na Casa,
conta que as reuniões transcorriam de forma diferente antes do advento das
câmeras. “Eu me recordo de muitas reuniões: de como era a postura, de ver
deputado, por exemplo, mais relaxado na mesa, grupinhos conversando situações
que hoje são evitadas na presença da TV. Com a TV, eles se cuidam um pouco
mais, inclusive na forma de se expressar”
17
, diz. João Carlos Amaral, jornalista,
consultor de imagem e âncora da TVA 13 anos, concorda: “É claro que a TV
altera o comportamento de todos nós. Você sabe que está captando som e imagem
para milhares de pessoas ou para um segmento específico”
18
.
Antes do início das transmissões da TVA, o deputado discursava na tribuna e
sua fala apenas entrava nos anais da ALMG, além de ser publicada no Diário do
Oficial. Esporadicamente, os discursos ganhavam alguma divulgação na mídia.
Hoje, além de entrar nos anais da Casa, a cobertura dos trabalhos dos
parlamentares pela TVA é constante. É possível ver os deputados constantemente
no plenário e nas comissões cujas reuniões são transmitidas ao vivo e repetidas em
horários alternativos.
Hoje os parlamentares chegam ao interior antes de chegarem fisicamente.
Eles chegam pela TV. Isso é um novo universo que exige de cada ator, de
cada participante, nós como âncoras, repórteres, analistas, comentaristas e
também dos parlamentes, novos procedimentos, posturas, gestos, roupas,
entender que a câmera é o olho do telespectador. Falar para a lente da
câmera para olhar no olho de quem está em casa assistindo (AMARAL,
2008, anexo E)
17
LUCENA, Rodrigo Barreto de. Diretor de rádio e TV da ALMG. Entrevista concedida em outubro de 2008, ver
anexo D
18
AMARAL, João Carlos. Jornalista, consultor de imagem e âncora do plenário da ALMG. Entrevista concedida
em outubro de 2008, ver anexo E
35
Essa revolução na comunicação entre o parlamento e a população alterou,
segundo Amaral, o comportamento não dos deputados, mas também dos
profissionais que cobrem a Casa Legislativa. O comportamento no plenário hoje é
adequado às necessidades impostas pelo veículo. Para Amaral, a TVA é uma
ferramenta importante no exercício da democracia, uma vez que todo o movimento
nos plenários e nas comissões é transmitido ao vivo e sem edição.
Lúcio Pérez, jornalista, diretor de comunicação institucional da ALMG e 14
anos na instituição, também acredita que a TVA provocou grandes mudanças no
parlamento. Para ele, num primeiro cenário, o trabalho das comissões permanentes
ganhou mais importância, mais presença dos parlamentares e mais participação de
convidados com a emissora, uma vez que tudo é filmado. Num segundo cenário,
segundo Pérez, a participação dos deputados na tribuna para fazer
pronunciamentos ou revelar posicionamentos durante o processo de votação
também foi valorizada. Para o diretor de comunicação, esse é um aspecto
extremamente importante, uma vez que, “por causa da visibilidade que a TV
começou a dar às atividades do Legislativo, os deputados, internamente, passaram
a dar mais importância à qualidade dos trabalhos das comissões e do plenário”
19
.
Para Pérez, a introdução da TVA no cotidiano dos deputados modificou um
conjunto de hábitos. Eles passaram a dar mais importância à aparência, às roupas e
ao modo de se expressarem. Essa percepção e as mudanças decorrentes dessa
percepção se deram gradualmente. “Os deputados que perceberam isso mais
rapidamente começaram a se preparar melhor para falar para uma câmera de TV, a
procurar ocupar mais a tribuna para aparecer mais, a usar um terno que não
atrapalhe a imagem na TV” (PÉREZ, 2008, anexo F). A preocupação com a TV hoje
é tamanha que, quando um uma reunião no interior, por exemplo, ela começa
com a presença da equipe da emissora. Outro exemplo, segundo Perez, é que, há
14 anos, poucos eram os deputados que tinham um assessor de imprensa
contratado. Hoje isso mudou radicalmente e uma ampla maioria tem. “Essa é a
questão da imagem do deputado: cada vez mais, ele tem consciência que a imagem
pesa muito na vida política junto ao eleitorado e nas cidades”, afirma Perez, em
entrevista.
19
PEREZ, Lúcio. Jornalista e diretor de comunicação institucional da ALMG. Entrevista concedida em outubro de
2008, ver anexo F.
36
De acordo com Lucena, atualmente muitos deputados sabem aproveitar bem
o potencial da TVA. Por isso mesmo, eles se preparam, fazem cursos e buscam
alternativas para melhorar seus respectivos desempenhos no veículo. Embora
alguns deputados invistam menos na própria imagem que outros, eles são unânimes
ao afirmar que a TVA tem grande potencial e importância. Sávio Souza Cruz
deputado estadual eleito pela primeira vez em 1999 pelo PSB e hoje no PMDB,
acredita que o potencial da TVA deveria ser ampliado e acha positivo que as
pessoas, através da emissora, tenham oportunidade de conferir se o trabalho dos
deputados nos quais votaram corresponde à expectativa delas. Padre João,
deputado estadual eleito pelo PT em 2003 e 2007, afirma que a TVA aprimora o
exercício da cidadania e dá transparência aos trabalhos. o deputado João Leite,
eleito pelo PSDB pela primeira vez em 1995, ano de fundação da TVA, gostaria que
a TVA fosse mais assistida, de forma que os cidadãos fiscalizassem ainda mais o
trabalho dos deputados. Nesse sentido, ele ressalta a importância desse canal para
o eleitor que deseja checar se os parlamentares realmente cumprem o papel que
lhes cabe num regime democrático. Jayro Lessa eleito pelo PFL (atual DEM) em
2003 e reeleito em 2007, acredita que a TVA é um importante canal de
comunicação, tanto para o parlamentar quanto para o cidadão, ainda que o canal
não tenha grande audiência e ainda que a cultura de participar da política ainda não
tenha se disseminado de forma eficaz. Eleito pela primeira vez em 1987 pelo PP e
atualmente no PDT, o deputado Sebastião Helvécio afirma que a TVA ajuda “na
formação do ideário coletivo do Legislativo, na medida em que informa e forma
consciência do papel representativo na democracia”
20
. o deputado Getúlio Neiva,
eleito pelo PMDB em 2007, acredita que o veículo oferece chance de expor as idéias
e de defender os interesses do povo de forma transparente. Segundo ele, “a imagem
não mente”. Também atenta aos interesses da população, Elisa Costa (PT) afirma
que a TVA é um canal quase exclusivo de comunicação entre os deputados e a
população. “Muitas vezes o deputado, como no caso de Minas Gerais, quando é de
oposição ao governo do Estado, nem aparece nos jornais locais”, afirma ela.
Lucena acredita que cada deputado carrega um determinado senso midiático
em sua cultura – maior ou menor, dependendo da história pessoal e do jeito de fazer
política de cada um. Deputados que trabalham nos bastidores, com partidos, com
comunidades, com as cidades do interior, outros agentes políticos, que se dedicam
20
Todas as falas de deputados foram retiradas do questionário respondidos pelos parlamentares.
37
ao trabalho essencialmente comunitário, não são, segundo Lucena, deputados de
muita expressão de mídia. Por outro lado, aqueles de talento especial para
usufruir da mídia. O diretor da TVA conta que, certa vez, um deputado, observando
a desenvoltura com a qual alguns parlamentares de legendas progressistas lidavam
com a mídia, perguntou a ele: “Olha eu estava querendo arrumar um jeito, soluções
para a gente participar mais da TV, porque o que a gente percebe é que o pessoal
do PT, que foi um pessoal basicamente criado em cima de palanque, de carro de
som, têm mais facilidade para essa coisa de televisão e nós não temos”
21
.
A julgar pelo relato acima, tudo indica que os próprios deputados percebiam
as diferenças entre si no que se refere à cultura midiática. É fato, contudo, que isso
independe de partidos ou plataformas políticas. Segundo Lucena, muitos deputados
hoje conhecem profundamente as técnicas de edição de TV. “Tem deputado que
fala até com a pausa para facilitar a edição”, conta ele, em entrevista.
Mesmo com o domínio das técnicas, os deputados ainda têm que lidar com a
particularidade das transmissões ao vivo. Eventualmente, os parlamentares têm que
se posicionar a favor de um projeto que pode não ser tão popular, mas que talvez
seja de interesse do governo, por exemplo. “Temos um volume de transmissões ao
vivo muito grande e, ali, aparecem as verdades e as mentiras. Diante disso, elas
servem tanto para o bem quanto para o mal”, afirma Lucena.
Outro importante elemento característico da TVA é possibilidade de
fiscalização que ela proporciona. Lucena acredita que essa fiscalização existe por
parte do eleitor, embora não considere o processo simples. Para fiscalizar de forma
eficaz por meio da emissora, o cidadão teria que acompanhar todas as comissões,
observar o envolvimento do deputado, as posições manifestadas por ele sobre
determinado projeto, como ele defende uma idéia e não uma outra, como se
posiciona em relação à política nacional, se ele pertence à oposição ou à situação
em relação ao governo, o que está fazendo, o que está apoiando. “São inúmeras
informações que o eleitor precisaria estar acompanhando para conseguir fazer essa
avaliação”, avalia o diretor da TVA. Por outro lado, Lucena acredita que o eleitor que
acompanha as transmissões ao vivo é capaz de perceber elementos muito
importantes para essa fiscalização. Pode observar, entre outros itens, o
posicionamento do parlamentar: se ele está defendo ou não uma posição que
21
LUCENA, Rodrigo Barreto de. Diretor de rádio e TV da ALMG. Entrevista concedida em outubro de 2008, ver
anexoD
38
outrora tenha criticado, por exemplo. “As transmissões são absolutamente
transparentes, não tem nenhum efeito de corte, de censura, de absolutamente
nada”, argumenta.
Alguns deputados, no entanto, não se sentem fiscalizados. Ao responder à
pergunta V.Exa. se sente (ou se sentiu) fiscalizado pela TVA?, oito dos dez
deputados estaduais que se dispuseram a responder os questionários aplicados,
responderam não. os deputados Jayro Lessa e Sávio Souza Cruz afirmaram que
se sentem fiscalizados. Lessa diz que a TVA expõe o trabalho dos parlamentares e
que isso “também é um tipo de cobrança, uma maneira de fiscalizar e de prestar
contas das ações do legislativo”. Cruz, por sua vez, afirma que é “expectativa de
todo deputado que isso aconteça. Acompanhar, fiscalizar o mandato de quem se
elegeu é direito e dever do cidadão”.
Questionados sobre a adoção, por parte dos parlamentares, de
comportamentos distintos antes e depois do advento da TVA, os deputados
divergem bastante. Dos dez parlamentares que se manifestaram, quatro
responderam que sim, que novos comportamentos foram adotados em função da
TVA, contra cinco que responderam que não. Um deles preferiu o responder.
Quando a pergunta é se o contato com a TVA provoca mudanças em seu “jeito de
ser”, também não consenso, embora exista uma ligeira vantagem para o conjunto
daqueles que disseram não: são seis respostas negativas e quatro positivas. Apenas
Elisa Costa e Sebastião Helvécio foram coerentes ao dar resposta positiva aos dois
últimos questionamentos. Elisa Costa, por exemplo, lembra que não havia
exposição, ao vivo, do que ocorria nas reuniões do Plenário e das comissões e que
a TV exigiu do deputado um preparo para que o telespectador compreenda o que se
quer dizer ali. “É inegável que a exposição ao vivo de um deputado, mostrando a
declaração dele e seu posicionamento perante assuntos de interesse dos cidadãos,
exige uma postura diferente de antigamente”, diz ela, em entrevista. Sebastião
Helvécio, por sua vez, argumenta que “a exposição pública demanda maior cuidado
no preparo de pareceres, de forma que eles possam ser compreendidos pela mídia”.
Nesse sentido, o deputado acredita que é importante tentar, sempre que possível,
“pedagogizar o sentido técnico de um parecer, com o objetivo de aproximar o
telespectador da construção do processo legislativo”.
Os deputados Délio Malheiros (PV), Jayro Lessa (DEM), João Leite (PSDB) e
Sávio Souza Cruz (PMDB) responderam não aos dois questionamentos. lio
39
Malheiros afirma que as atividades parlamentares sempre foram de conhecimento
público. “Sou a mesma pessoa por onde quer que eu ande”, assegura, em resposta.
João Leite também acredita que os deputados não mudaram o comportamento
depois que surgiu a TVA. Ressalta, contudo, que “alguns deles possuem mais
atenção e rigor no falar, outros procuram falar mais do que o habitual, para ficarem
mais expostos aos telespectadores”. A exemplo de Malheiros, João Leite sustenta
que na frente das câmeras ou por trás delas, tem “o mesmo comportamento”. Sávio
Souza Cruz, por sua vez, apresenta a mesma postura de Malheiros e João Leite:
não acredita que atuava de maneira diferente antes do advento da TVA. “Não é o
fato de estar sendo visto que dita o meu modo de agir, de trabalhar”. Trata-se do
mesmo argumento utilizado por Jayro Lessa. “O que existe são tipos de posturas,
falas e explanações para determinados veículos de comunicação. A linguagem é
diferente, mas a mensagem é a mesma”.
quem discorde, contudo. É o caso do presidente da AMLG, deputado
Alberto Pinto Coelho (PP), para quem, embora a atuação parlamentar independa de
um canal de televisão no Legislativo, é certo que comportamentos específicos são
adotados em função da TVA. É um ponto de vista semelhante àquele apresentado
pelo deputado petista Padre João. Na opinião dele, o comportamento dos
deputados, em geral, costumava ser diferente quando não havia a TVA. Garante,
entretanto, que, pessoalmente, não age de maneira diferente. “A transparência e a
coerência parlamentar devem estar em todo lugar. O compromisso com o povo não
pode nos tornar simplesmente um ator”, assegura, em sua resposta. Também é o
que defende Getúlio Neiva: assegura que o contato com a TVA não provoca
mudanças no próprio comportamento, mas acredita que isso ocorreu ao longo da
história, ou seja, que o comportamento dos deputados costumava ser diferente
quando não havia a TVA porque, desde então, eles sabem que estão sendo
filmados.
4.2 Câmera, ação e desempenho do mandato parlamentar: elementos anaticos
Percebe-se que, longe das câmeras, os parlamentares agem de maneira
descontraída e relaxada, sem a preocupação de ter sua imagem gravada. No
entanto, quando discursam na tribuna do plenário, ou mesmo de em meio a um
40
aparte
22
, por exemplo todos eles passam a controlar (ou pelo menos tentam) a
expressão corporal, o vocabulário, o tom de voz e o visual. Isso não se ao acaso.
Discursando em plenário, o deputado fala, na verdade, para dezenas de milhares de
pessoas em 237 cidades mineiras, e pode ser visto no mundo todo através da
internet
23
.
A observação do comportamento dos deputados diante das meras da TVA
foi instrumento metodológico fundamental à análise que se propõe aqui. Esse
trabalho de observação se deu de uma pequena bancada localizada dentro do
plenário um lugar reservado à imprensa. Desse ponto específico, foi examinado o
comportamento de nove deputados: seis durante a sessão ordinária e três no
programa da TVA Visão Parlamentar, que sucede a reunião ordinária, momento em
que o parlamentar participa de entrevista sobre assunto aleatório, geralmente em
voga na mídia.
Os deputados estaduais cujos gestos, atitudes e postura foram analisados
enquanto discursavam em plenário foram: Ivair Nogueira (PMDB); Irani Barbosa
(PSDB); Getúlio Neiva (PMDB); Durval Ângelo (PT); Antônio Júlio (PMDB) e Almir
Paraca (PT)
24
. Eles discursaram em situação semelhante, isto é, num plenário quase
vazio. Todos usaram vocabulário claro e interagiram entre si de forma amistosa. Os
deputados Ivair Nogueira e Almir Paraca fizeram poucos gestos ao discursar e
apresentaram um tom de voz calmo. Almir Paraca chamou a atenção quando
cumprimentou os deputados, a imprensa, o público da TVA e o público presente
(embora não houvesse “público presente”). Ivair Nogueira foi o único parlamentar
que se preocupou em ajeitar seu terno quando chegou à tribuna.
Irani Barbosa, Durval Ângelo e Antônio Júlio gesticulam muito ao discursar.
Durval Ângelo tinha o tom de voz enfático e forte. Antônio Júlio falava de maneira
enfática e irônica, agia de forma muito teatral. Irani Barbosa falava de forma
arrastada, valorizando cada palavra. Por fim, Getúlio Neiva foi o deputado que mais
chamou a atenção, mostrando grande domínio da oratória e da imagem que
pretendia passar ao eleitor: alternava constantemente o olhar para as duas câmeras
22
Ocasião em que um deputado pede a palavra durante o discurso de um outro deputado que fala da tribuna
23
A TVA pode ser vista ao vivo pela internet no endereço eletrônico: <http://www.almg.gov.br>
24
Esses foram os deputados que discursaram no dia 19/11/2008, data escolhida para a realização do trabalho de
observação em função da expectativa de grande movimentação no plenário decorrente dos debates em torno
do projeto Projeto de Lei 637/2007, do Deputado Dinis Pinheiro (PSDB), que dispõe sobre a distribuição da
parcela da receita do produto da arrecadação do ICMS pertencente aos municípios projeto apelidado pelos
parlamentares de “ICMS Solidário”.
41
da TVA, e citava sempre o deputado Doutor Viana (PV), primeiro vice-presidente,
que presidia a mesa na ocasião. Neiva adotou variadas formas de expressão
corporal, ora com gestos calmos, ora com gestos nervosos, além de alternar
constantemente o tom de voz entre alto, baixo, sereno e exaltado conforme a
ênfase que queria dar em determinado ponto do discurso.
Num segundo momento, analisamos Vanderlei Jangrossi (PP), Gustavo
Valadares (DEM) e Fábio Avelar (PSC) durante entrevista, no dia 20 de novembro
de 2008, para o programa Visão Parlamentar, que sucede a reunião ordinária
momento em que parte dos parlamentares participa de entrevistas ao vivo. O
programa é realizado na bancada que fica no próprio plenário, onde os deputados
concedem a entrevista ao jornalista João Carlos Amaral. Durante esse quadro, o
plenário está vazio e quase todas as luzes estão apagadas. Durante o programa,
todos esses deputados gesticularam pouco, usaram vocabulário claro e tom de voz
tranqüilo. Vanderlei Jangrossi estava muito descontraído, olhou grande parte do
tempo para a câmera, riu, brincou e interagiu com o apresentador. Gustavo
Valadares alternava constantemente o olhar entre a câmera e o apresentador.
Pensava muito antes de falar e parecia buscar as palavras em lugar distante. Fábio
Avelar, por sua vez, quase não desviou o olhar da câmera e parecia pouco
confortável, já que movimentava apenas as mãos, mantendo os braços rígidos.
4.3 – Representar para a câmera
A presença dos deputados em plenário não significa, de forma alguma, que
eles estejam atentos muito menos concentrados na fala do colega que discursa
na tribuna. No entanto, quem faz uso da palavra parece não se importar com esse
fato até porque, mesmo que o plenário e as galerias estejam vazios, a TVA tem
potencial para atingir 237 cidades. Além disso, o fato de ser visto e analisado por um
público desse porte faz com que, ao discursar no plenário ou nas comissões, ao
vivo, o deputado se atenha a outros fatores que julga mais relevantes: sua imagem,
sua expressão corporal, o tom de voz e o vocabulário. De mais a mais, a TVA pode
contribuir para o sucesso de um mandato parlamentar, na medida em que
proporciona Bom trânsito na imprensa; Divulgação do trabalho na mídia; Contato
com o eleitorado; Prestação de contas ao eleitorado; Bom diálogo com outros
42
parlamentares e representantes dos governos (municipal, estadual e federal)
25
; Boa
imagem pessoal - como demonstra o quadro do ANEXO A.
O sociólogo norte-americano Erving Goffman (2001) afirma que as pessoas
estão sempre procurando representar personagens ideais (ideais para os
parâmetros sociais vigentes), de forma que possam ser aceitas pelo outro. Nesse
processo, a presença ou não de determinados objetos, estar ou não num dado
ambiente e numa dada situação influenciam a atuação desse personagem. É por
isso que, em geral, uma pessoa atua de forma diferente em casa e de outra forma
no trabalho e, ainda, de forma diversa num encontro com os amigos. Não é diferente
com os deputados: eles podem agir de uma forma no gabinete e de outra forma
durante reunião com membros do seu partido, por exemplo. E é nesse sentido que,
sem dúvida, ele representa para a TVA, isto é, para os milhares de eleitores que
pretende atingir ao olhar e falar direto para as câmeras. intenções específicas
por trás de cada palavra, cada gesto, cada tom de voz adotado.
Essa pesquisa evidencia que tal processo não se dá sem motivos. A TV tem a
capacidade de construir e disseminar representações sociais, ou seja, de construir e
disseminar as imagens e comportamentos aceitos e valorizados por uma
determinada sociedade. Não significa dizer, contudo, que esse processo esteja
concentrado na dissimulação de caráter ou de pretensões, como muitos podem
imaginar. Afinal, as pessoas não representam sem que tenham razões para tanto
sem que tenham objetivos específicos. Goffman, em seu estudo sobre as
representações sociais, chega a assegurar que as auto-encenações apresentadas
pelos indivíduos nos lugares mais públicos dizem tanto a respeito deles mesmos
quanto aquelas encarnadas no espaço da intimidade.
4.4 – O efeito da performance
É fato que a existência de um telespectador sempre ligado influencia
diretamente a atuação do parlamentar, pois, como lembra Goffman, quando um
indivíduo representa um papel para outros (no caso, para os telespectadores), tende
a incorporar em sua performance valores reconhecidos socialmente, de maneira que
sua atuação seja bem sucedida. Portanto, é possível dizer que, na maioria das
25
O público que compõe a audiência da TVA também inclui outros parlamentares e representantes dos governos
municipais, estaduais e federal. Muitas vezes, a TVA chega a ser utilizada, inclusive, para o envio de pequenos
“recados políticos”, conforme se apurou nesse trabalho.
43
vezes, o deputado age de determinada maneira para ser aceito e porque está sob o
olhar do telespectador.
A deputada Elisa Costa (PT), por exemplo, afirma que, antes da TVA, não
havia exposição, ao vivo, do que ocorria nas reuniões do Plenário e das comissões
e que o veículo exigiu do deputado um preparo para que o telespectador
compreenda o que se quer dizer ali. Na concepção dela, “é inegável que a
exposição ao vivo de um deputado, mostrando a declaração dele e seu
posicionamento perante assuntos de interesse dos cidadãos, exige uma postura
diferente de antigamente”
26
. Sebastião Helvécio, deputado eleito pela primeira vez
pelo PP em 1987 e hoje no PDT argumenta, por sua vez, que “a exposição
pública demanda maior cuidado no preparo de pareceres, de forma que eles possam
ser compreendidos pela mídia”. Isso não quer dizer, entretanto, que a performance
do parlamentar evidenciada pela TVA a atuação do deputado, devidamente
exibida pelas câmeras – seja mero teatro. Como ressalta Goffman, os sujeitos agem,
inicialmente, para defender seus próprios interesses, mas acabam executando seus
papéis na sociedade, de modo a cooperar com os demais. Na maior parte das
situações, portanto, as pessoas acabam por se mostrar como realmente são ainda
que, em algumas ocasiões, exagerem em suas performances.
Outro efeito da TV sobre o desempenho do mandato parlamentar está no
caráter fiscalizador do veículo, que também é instrumento de divulgação do trabalho
desse parlamentar (não para o telespectador, mas para membros de governo,
partidos, sindicatos, entidades civis etc.). A possibilidade de fiscalização é um
elemento característico e importante da TVA. O diretor de rádio e TV da ALMG,
Rodrigo Lucena
27
acredita que essa fiscalização existe especialmente por parte do
eleitor, embora não considere o processo simples. Segundo ele, para fiscalizar de
forma eficaz por meio da emissora, o cidadão teria que acompanhar todas as
comissões, observar o grau de envolvimento do deputado em determinadas
questões, as posições manifestadas por ele diante de um determinado projeto, a
maneira pela qual ele defende uma idéia e não uma outra –, como se posiciona
em relação à política nacional, se ele pertence à oposição ou à situação em relação
ao governo, o que está fazendo, o que está apoiando. Na avaliação de Lucena, “são
inúmeras informações que o eleitor precisaria estar acompanhando para conseguir
26
Todas as citações dos parlamentares foram retiradas das respostas que eles deram no questionário.
27
LUCENA, Rodrigo Barreto de. Entrevista concedida na TVA em 30/10/2008. Ver ANEXO 4.
44
fazer essa avaliação” (ANEXO D). Por outro lado, o diretor da TVA acredita que o
eleitor que acompanha as transmissões ao vivo é capaz de perceber elementos
bastante relevantes para avaliar a atuação de um parlamentar. Um desses
elementos que a câmera pode evidenciar, ainda que isso não seja intenção do
deputado – é a postura política: se ele está defendo ou não uma posição que outrora
tenha criticado, por exemplo. Na avaliação de Lucena, “as transmissões são
absolutamente transparentes, não tem nenhum efeito de corte, de censura, de
absolutamente nada” (ANEXO D).
45
5 – Considerações finais
O embrião dessa pesquisa surgiu em dezembro de 2007, em decorrência de
uma oportunidade: a de acompanhar de perto, no plenário da Assembléia Legislativa
de Minas Gerais, os trabalhos da imprensa e, conseqüentemente, dos deputados
28
.
Na ocasião, causou estranhamento uma espécie de choque, até ver alguns
parlamentares discursando e esbravejando praticamente sozinhos no plenário.
Causava certo incômodo vê-los, por exemplo, referindo-se a colegas que não
prestavam atenção ao seu discurso na tribuna. A partir daí, nascia o desejo de
pesquisar a influência da televisão sobre o comportamento dos parlamentares e os
efeitos (positivos ou negativos) dessa influência na performance e no discurso dos
deputados durante o exercício do mandato.
Com ampla pesquisa bibliográfica, entrevistas e observação de campo, esse
trabalho evidenciou o estabelecimento, por parte dos deputados, de uma relação
bastante particular com a TV Assembléia, na medida em que, através da emissora,
eles falam para 237 cidades em Minas e, desde o dia 27 de novembro de 2008,
falam também em sinal aberto na capital. Na prática, essa relação estabelecida com
a TV resulta na representação de um personagem ideal, ou seja, de um personagem
cujas ações estão de acordo com os parâmetros de comportamento aceitos pela
sociedade. Segundo Goffman (2001), as pessoas estão sempre procurando
representar personagens ideais, de forma que possam ser aceitas pelos outro.
Como a situação e o contexto no qual um indivíduo se encontra influenciam a sua
atuação, é natural que uma pessoa adote, em casa, por exemplo, um
comportamento diferente daquele que adota quando está no ambiente de trabalho.
Essa pesquisa demonstra que não é diferente com os deputados, que podem agir de
uma determinada maneira no gabinete e de outra durante um encontro partidário,
por exemplo. Sob esse aspecto, ele representa para a TVA, isto é, para os milhares
de eleitores que pretende atingir ao olhar e falar para as câmeras. Assim, existem,
sem dúvida, intenções específicas por trás de cada frase, gesto, olhar e tom de voz
adotado por um parlamentar.
Pretendeu-se examinar, aqui, também, as razões pelas quais o processo
acima se dá. A análise demonstrou que a representação está diretamente
28
Por indicação da Faculdade Estácio de Sá o autor participou de visita técnica, ao longo do mês dezembro de
2007, no jornal Estado de Minas. Na ocasião acompanhou o trabalho de jornalistas profissionais do veículo na
ALMG.
46
relacionada à capacidade da TV de construir e disseminar representações sociais,
ou seja, de construir e disseminar as imagens e comportamentos aceitos e
valorizados por uma determinada sociedade. Essa constatação não significa,
entretanto, que o ato de representar possa ser interpretado como mera dissimulação
de caráter ou de intenções. Como ressalta Goffman (2001), ninguém representa sem
que tenha motivos para fazê-lo, sem tenha determinados objetivos. Em seu estudo
sobre as representações sociais, o sociólogo canadense garante que as auto-
encenações apresentadas pelos indivíduos nos lugares mais públicos dizem tanto a
respeito deles mesmos quanto aquelas encarnadas no espaço da intimidade.
No caso dos deputados, esse estudo deixa claro que cada comportamento
adotado visa à aceitação daquele que está do lado de da mera: o telespectador
(o eleitor). É ele quem influencia de forma mais direta a atuação de um parlamentar.
Como observa Goffman, quando um indivíduo representa um papel para outros (no
caso, para esse telespectador), tende a incorporar em sua performance valores
reconhecidos socialmente, de maneira que sua atuação seja bem sucedida.
Outro efeito da TV sobre o desempenho do mandato está no caráter
fiscalizador do veículo na condição de instrumento de divulgação do trabalho de
cada parlamentar (não só para o telespectador, mas para o corpo do governo,
partidos, sindicatos, entidades civis, etc.). Como o parlamentar sabe que está sendo
observado pelo telespectador, ele necessariamente adota atitudes específicas. Para
se ter uma idéia disso, mencionamos em nossa análise o comportamento do
deputado Getúlio Neiva (PMDB). Ele foi o deputado que mais nos chamou a
atenção, pois mostrou grande domínio da oratória e da imagem que pretendia
passar ao eleitor. A desenvoltura que tinha ao discursar na tribuna foi bem diferente
de todos os outros avaliados naquele dia. Durante o discurso, Neiva alternava
constantemente o olhar para as duas câmeras da TVA, e citava sempre o deputado
Doutor Viana (PV), primeiro vice-presidente, que presidia a mesa na ocasião. Além
disso, o deputado adotou variadas formas de expressão corporal, ora com gestos
calmos, ora com gestos nervosos, além de alternar constantemente o tom de voz
entre alto, baixo, sereno e exaltado conforme a ênfase que queria dar em
determinado ponto do discurso.
Ainda para confirmar que os deputados adotam atitudes específicas, quando
estão diante das câmeras, recorremos às afirmações da deputada Elisa Costa (PT).
Segundo ela antes da TVA, não havia exposição, ao vivo, do que ocorria nas
47
reuniões do Plenário e das comissões e que o veículo exigiu do deputado um
preparo para que o telespectador compreenda o que se quer dizer ali. Na concepção
de Elisa, “é inegável que a exposição ao vivo de um deputado, mostrando a
declaração dele e seu posicionamento perante assuntos de interesse dos cidadãos,
exige uma postura diferente de antigamente
29
Nesse sentido, a opinião dos especialistas entrevistados para essa pesquisa
também confirma a mudança de comportamento. É o caso, por exemplo, Lúcio
Pérez, jornalista, diretor de comunicação institucional da ALMG e 14 anos na
instituição. Ele também acredita que a TVA provocou grandes mudanças no
parlamento. Para Pérez, a introdução da TVA no cotidiano dos deputados modificou
um conjunto de hábitos. Eles passaram a dar mais importância à aparência, às
roupas e ao modo de se expressarem. Essa percepção e as mudanças decorrentes
dessa percepção se deram gradualmente. “Os deputados que perceberam isso mais
rapidamente começaram a se preparar melhor para falar para uma câmera de TV, a
procurar ocupar mais a tribuna para aparecer mais, a usar um terno que não
atrapalhe a imagem na TV” (PÉREZ, 2008, anexo F).
Tendo demonstrado como se a dinâmica de interação entre os deputados,
o veículo e o telespectador – além dos aspectos que envolvem o exercício da função
parlamentar este trabalho aplacou grande parte da inquietação inicial que o
inspirou. Portanto, podemos dizer que o advento da TVA ampliou, para o cidadão
comum, o leque alternativas para fiscalizar a atuação de cada parlamentar. Ao fazer
isso, a TVA acabou contribuindo, também, para a ampliação e consolidação de um
dos mais importantes exercícios de cidadania: monitorar a ação daqueles que foram
vitoriosos nas urnas.
29
Trecho retirado do questionário respondido pela deputada.
48
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de Sá, 2007.
50
ANEXO A – TVA e desempenho do mandato
Pergunta central: A TV Assembléia pode ser útil ao desempenho do mandato?
O que garante um bom mandato? O que a TVA proporciona?
Recursos Financeiros (orçamento) Não
Pessoas qualificadas na equipe
(gabinete)
Não
Bom trânsito na imprensa
30
Sim
Divulgação do trabalho na mídia Sim
Contato com o eleitorado Sim
Prestação de contas ao eleitorado Sim
Bom diálogo com outros
parlamentares e representantes dos
governos (municipal, estadual e
federal)
31
Sim
Boa equipe de comunicação
32
Não
Boa imagem pessoal Sim
30
Nesse item levamos em consideração que a TVA faz parte da imprensa.
31
O blico que compõe a audiência da TVA também inclui outros parlamentares e representantes
dos governos municipais, estaduais e federal. Muitas vezes, a TVA chega a ser utilizada, inclusive,
para o envio de pequenos “recados políticos”, conforme se apurou nesse trabalho.
32
Aqui, a “equipe de comunicação” esrepresentada pelas pessoas contratadas pelo gabinete para
o trabalho de assessoria de comunicação/imprensa.
51
ANEXO B – Respostas dos deputados
33
TVA tem
potencial?
TVA é
importante?
Cuida da
Imagem
pessoal?
Acha que
o eleitor
percebe o
trabalho?
Tem
retorno
dos
cidadãos?
Retorno é
positivo?
Alberto Pinto Coelho (PP)
Sim Sim Sim Sim Sim Sim
Chico Uejo Sim Sim Sim Sim Sim -
Elisa Costa (PT) Sim Sim Sim Sim Sim Sim
João Leite (PSDB) Sim Sim Sim Sim Sim Sim
Sebastião Helvecio (PDT)
Sim Sim Sim Sim Sim Sim
Délio Malheiros (PV) Sim Sim Sim Sim Sim -
Getúlio Neiva (PMDB) Sim Sim Não Sim Sim Sim
Padre João (PT) Sim Sim Sim Sim Sim Sim
Sávio Souza Cruz
(PMDB)
Sim Sim Não Sim Sim Sim
Jayro Lessa (DEM) Sim Sim Sim Sim Sim Sim
Expor o trabalho
na TVA oferece
risco à imagem?
Sente-se
fiscalizado?
O comportamento
era diferente
antes da TVA?
O contato com a
TVA provoca
mudanças em
seu jeito de ser?
Alberto Pinto Coelho (PP) Sim Não Não Sim
Chico Uejo Sim Não - Sim
Elisa Costa (PT) Não Não Sim Sim
João Leite (PSDB) Não Não Não Não
Sebastião Helvecio (PDT) Não Não Sim Sim
Délio Malheiros (PV) Não Não Não Não
Getúlio Neiva (PMDB) Não Não Sim Não
Padre João (PT) Não Não Sim Não
Sávio Souza Cruz (PMDB)
Não Sim Não Não
Jayro Lessa (DEM) Sim Sim Não Não
33
O questionário elaborado foi enviado aos 77 deputados da Assembléia Legislativa de Minas Gerais
entre os meses de setembro e outubro deste ano. O envio foi feito por e-mail, acompanhado de
telefonemas a cada gabinete para a certificação do recebimento e estabelecimento de um prazo para
a entrega das respostas. Os telefonemas foram feitos por mais de uma vez, em busca das respostas
solicitadas. Ainda assim, somente 10 dos 77 parlamentares devolveram o questionário devidamente
preenchido.
52
ANEXO C – Análise em campo
34
Assunto
Gestual
Vocabulário
Tom de
voz
Conteúdo
Ivair Nogueira (PMDB) Situação dos
cartórios no
estado
Poucos gestos Claro Calmo Comentário
sobre o
assunto
Irani Barbosa (PSDB) Situação dos
cartórios no
estado
Muitos gestos Claro Arrastado Comentário
sobre o
assunto
Getúlio Neiva (PMDB) ICMS
solidário
Gestual calmo
e controlado,
porém
alternado com
gestos fortes
Claro Alternado
entre
baixo, alto,
calmo e
inflamado
Comentário
sobre o
assunto
Durval Ângelo (PT) Situação dos
cartórios no
estado
Muitos gestos Claro Enfático Comentário
sobre o
assunto
Antônio Júlio (PMDB) Situação dos
cartórios no
estado
Muitos gestos Claro Enfático e
irônico
Comentário
sobre o
assunto
Almir Paraca (PT) Valorização
da cultura
regional
Poucos gestos
Claro Calmo Comentário
sobre o
assunto
Vanderlei Jangrossi
(PP)
Produção de
etanol em
Minas Gerais
Poucos gestos
Claro Tranqüilo Explanação
sobre o tema
Gustavo Valadares
(DEM)
Liberação da
reserva
Cercadinho
Poucos gestos
Claro Tranqüilo Explanação
sobre o tema
Fábio Avelar (PSC) - Mexe apenas a
mão
Claro Tranqüilo Explanação
34
A observação em campo foi feita nos dias 19 e 20 de novembro de 2008, durante a reunião plenária
que tratava principalmente dos debates em torno do projeto Projeto de Lei 637/2007, do Deputado
Dinis Pinheiro (PSDB), que dispõe sobre a distribuição da parcela da receita do produto da
arrecadação do ICMS pertencente aos municípios projeto apelidado pelos parlamentares de “ICMS
Solidário”. Estavam presentes os deputados citados no quadro acima. A observação foi feita em dois
momentos: o primeiro, no Plenário da Casa, durante a sessão ordinária. O segundo, durante as
entrevistas concedidas, ao vivo, ao jornalista João Carlos Amaral, para o programa da TVA intitulado
Visão Parlamentar.
53
Interação
com outros
deputados
Situação do
plenário
Fase do
discurso
Observações
Ivair Nogueira (PMDB) Amistoso Quase vazio Oradores Preocupou-se em arranjar
o terno quando chegou à
tribuna. Reclamou de
muitos deputados terem
pedido um Aparte em seu
discurso.
Irani Barbosa (PSDB) Amistoso Quase vazio Oradores –
Fez um Aparte
-
Getúlio Neiva (PMDB) Amistoso Quase vazio Artigo 70 Pede paciência aos
companheiros e ao
telespectador. É um
excelente orador, vira-se
o tempo todo para as
duas câmeras e para o
presidente. Porém, o
presidente pouco olha
para ele.
Durval Ângelo (PT) Amistoso Quase vazio Oradores –
Fez um Aparte
-
Antônio Júlio (PMDB) Amistoso Quase vazio Oradores –
Fez um Aparte
Muito teatral, com fala
arrastada e excesso de
gestos
Almir Paraca (PT) Amistoso Quase vazio Oradores Cumprimentou os
deputados, a imprensa,
publico da TVA e publico
presente, entretanto não
havia público presente.
Fala como se estivesse
olhando para possíveis
deputados presentes,
mas havia poucos.
Vanderlei Jangrossi (PP) Não houve Vazio Após a reunião
– Entrevista no
programa
Visão
Parlamentar –
ao vivo.
Olha fixo para a câmera,
ri, brinca e interage com o
apresentador
Gustavo Valadares
(DEM)
Não houve Vazio Após a reunião
– Entrevista no
programa
Visão
Parlamentar –
ao vivo.
Olha muito para câmera e
apresentador
Fábio Avelar (PSC) Não houve Vazio Após a reunião
– Entrevista no
programa
Visão
Parlamentar –
ao vivo.
Olha apenas para a
câmera
54
ANEXO D – Entrevista Lucena, diretor da TVA
Rodrigo Barreto de Lucena, 44 anos, jornalista, diretor de rádio e TV da
Assembléia.
Há quanto tempo o Sr. trabalha na ALMG? E na TVA?
Tem 15 anos que eu trabalho aqui na Assembléia e 11 anos que estou na TV,
sendo que na direção da TV faz nove anos.
O comportamento dos deputados, em geral, costumava ser diferente
quando não havia a TVA?
Tenho uma lembrança rápida disso, entrei na Assembléia em 1994 e em
novembro de 1995 que a TV começou. tinha experiência aqui com gravação e
algum tipo de produto de televisão que era o Assembléia Informa que rodava na
mídia, um produtinho de dois minutos. Então tinha alguma experiência do
deputado perceber que estava sendo registrada aquela reunião. Mas eu me recordo
de muita reunião, de como era a postura e de ver deputado, por exemplo, mais
relaxado na mesa, grupinhos conversando, situações que geralmente com a
presença da TV eles se cuidam um pouco mais, inclusive na forma de se expressar.
Na sua opinião, os deputados sabem, de fato, aproveitar o potencial da
TVA? Por que?
Alguns sabem outros o, alguns fazem questão, outros também não fazem
tanta questão. É engraçado isso, porque o deputado carrega um pouco na cultura,
na história dele o jeito próprio de fazer política. Tem deputados que são tipicamente
de bastidor, o deputado que trabalha com partido, com comunidade, com as cidades
do interior , com os outros agentes políticos vereadores, prefeitos –, que fazem
esse trabalho mais comunitário o são deputados muito de expressão de mídia.
tem outros que são mais midiáticos. Uma vez um deputado me falou: “olha eu
estava querendo arrumar um jeito, soluções para a gente participar mais da TV,
porque o que a gente percebe é que o pessoal do PT, que foi um pessoal
basicamente criado em cima de palanque, de carro de som, eles têm mais facilidade
para essa coisa de televisão e nós não temos”. Então você que os próprios
deputados percebiam essa diferença entre eles próprios. Isso não quer dizer que é
55
do partido não, essa foi até uma figura que eles usaram porque realmente o pessoal
que veio do Partido dos Trabalhadores vinha muitas vezes dos sindicatos, a
formação deles era uma formação de comícios, de rua. Enquanto os outros não
tinham essa experiência tanto assim de palanque ainda que todo político tenha que
ter essa experiência. Aqui a gente costuma brincar muito, tem deputado que fala até
com a pausa para edição, facilita a edição e diminui a acentuação. Você tem umas
técnicas dessas de edição, que você termina a frase quando a pessoa está para
baixo e não para cima. Quando ele está para cima você não consegue cortar e tem
deputado que conhece tanto isso hoje que ele sempre joga o final da frase para
cima, o que é dificílimo de você cortar, então as sonoras dele, as falas dele, são
sempre muito longas. É uma estratégia, eles aprendem a lidar com o veículo, mas
você ainda tem muitos casos de deputados que não gostam de aparecer na
televisão, não se sentem bem, não se sentem confortáveis. A gente tinha uma
deputada aqui, que prefiro não dizer o nome dela, ela não gostava de aparecer na
televisão porque ela se achava feia na televisão, a imagem dela a incomodava. É
igual quando você faz uma gravação e escuta sua voz fica meio estranho. Ela sentia
isso com a imagem dela, ela não gostava de televisão, era uma dificuldade trazê-la
nos programas de debate. Já tem outros que forçam isso o tempo inteiro, então você
tem aí uma variação grande.
Como você acha que a TVA influencia o exercício do mandato do
deputado, seja negativamente ou positivamente?
Costumo dizer que quando a ação é boa é muito positivo, mas nem sempre a
ação é boa. Eventualmente, o deputado tem que se posicionar a favor de um projeto
que não é tão popular, mas que é de interesse do governo, por exemplo. Às vezes
não tem alcance popular e ele tem que colocar a cara na televisão. Então a televisão
legislativa que tem essa coisa da transmissão ao vivo não é maquiagem, como a
TV comercial em que na maioria das vezes você vai edita e pega a frase que
você quer e dá o seu tom, se você quer detonar a pessoa você detona, se você quer
jogar para cima, você joga. No nosso caso não, como temos um volume de
transmissões ao vivo muito grande, ali aparecem as verdades e as mentiras. Diante
disso elas servem tanto para o bem quanto para o mal. Agora, as pessoas vão
aprendendo a fazer o uso dessa nova situação e elas aprendem a explorar o
conteúdo do discurso, da fala, para quem dirigir e você percebe que muitas vezes o
56
deputado está no plenário vazio, com quórum baixo, muitas vezes, e ele fala para a
televisão. Nesse sentido ele tem algum ganho, ele esta falando com a comunidade
aquilo que ele quer, da maneira que ele quer, ele faz defesas que ele acha que vai
ter uma repercussão. Mas você tem tanto para um lado quanto para o outro.
Obviamente que o uso positivo, uma vez que ele usa o tempo dele para fazer o
discurso que ele quer, não é na votação de projetos que são impopulares ou que
eventualmente possa prejudicar alguma categoria, como ele tem muito mais o uso
para o discurso, o pronunciamento livre, obviamente que ele procura utilizar isso
para o bem.
Os deputados fazem algum curso sobre como se comportar diante das
câmeras? A TVA tem algum curso que prepara? Ou a ALMG?
A Assembléia tentou fazer isso uma vez, mas não teve sucesso e nem acho
que seja o papel da Assembléia Legislativa fazer isso. Nós temos uma atuação
muito institucional. Se você abre um curso para mostrar detalhes o que seria
interessante de como é a operação de uma televisão para eles entenderem e até
saberem aproveitar mais essa ferramenta seria natural que a gente fizesse, mas a
presença deles é muito difícil. O deputado não senta ali para ficar ouvindo esse tipo
de coisa, a tendência dele é mandar um assessor. Então essa coisa não funciona
muito bem, geralmente essa vontade parte do deputado e ele procura uma ajuda
externa.
Como os deputados acham que os eleitores vêem o trabalho dele pela
TVA?
Acho que o eleitor sempre vê de forma muito crítica o trabalho. A cobrança do
eleitor é implacável isso eu não dúvida. Você uma ala da turma de parente e fãs que
torcem, mas você tem uma ala que quer cobrar promessas. Então assim, tem
sempre uma relação de atenção nisso. Por isso, o deputado busca dar resposta no
discurso que ele faz destinado e orientado para a comunidade dele. O eleitor ele é
muito implacável na observação, ele não é condescendente. Agora, se ele consegue
perceber a atuação do deputado a partir da televisão, essa é uma outra história.
Para ele perceber deveria acompanhar todas as comissões; o envolvimento do
deputado; as posições que ele manifesta sobre o projeto; a defesa que ele faz dos
projetos; a posição que ele tem com relação a política maior, nacional; se ele faz
57
oposição ou se ele é situação com relação ao governo; o que o governo está
fazendo e que ele está apoiando; você tem inúmeras informações que o eleitor
precisaria estar acompanhando para conseguir fazer essa avaliação “certa ou
errada” uma avaliação mais refinada. O que a gente percebe é que as pessoas
são atentas ao movimento deles, agora o que eles tiram daí, a conclusão que eles
tiram dessa observação eu não seria capaz de dizer e acho que ninguém é capaz de
dizer.
A TV, embora instrumento proporcionador da divulgação do trabalho do
parlamentar, também funciona como instrumento de fiscalização do trabalho
do parlamentar perante o eleitor? Como?
Acho que sim, é o que eu estava dizendo. Se ela acompanhar as
transmissões ao vivo, ela vai saber exatamente qual é o posicionamento dele, se
está defendo ou não uma posição que ele disse quando fez um comício antes de
ser eleito: “eu sou a favor da escola pública e vou levar para a Assembléia a defesa
da escola pública” e depois ele chegar aqui e “meter o pau” na escola pública, ele
está entrando em contradição com a promessa que ele fez. Então, a forma de
acompanhar é essa. As transmissões elas são absolutamente transparentes, não
tem nenhum efeito de corte, de censura, de absolutamente nada. O cara chega e
o que ele está falando é o que ele está defendendo e as pessoas podem associar
aquilo com o que eles pensam. Por exemplo, se eu sou do sindicato de um
segmento especifico e o deputado esta defendendo um projeto que me ofende, na
verdade surgiu um conflito aí. Se ele disse que me defenderia e chegou e não
está defendo o projeto, no mínimo eu posso ir e saber o que aconteceu. ele vai
e procura, liga, passa e-mail, ele vai, assim, fiscalizar o deputado, cobrar do
deputado uma posição, saber por que ele está tomando aquela posição. o
deputado vai ter que se defender, se justificar ou restabelecer o diálogo e justificar o
porquê daquele projeto e é essa que é a função. De repente a TV ajuda a aproximar.
Qual o índice de audiência da TVA?
Nós fizemos uma pesquisa também sobre isso e é muito difícil aferir isso,
porque primeiro ela em Belo Horizonte está só no cabo. Nós abrimos o sinal dela em
algumas cidades do interior, vamos abrir aqui em Belo Horizonte em breve, mas aqui
eu lembro que a pesquisa apontava 0,4% de audiência, que estava acima de alguns
58
canais da Net (operadora de TV a cabo), mas estava muito abaixo de vários outros.
Mas, o que essa pesquisa mostrava de interessante é o seguinte: que ela tinha
um público, que as pessoas que conheciam. você fala assim: “Quantas pessoas
que conhecem? 0,4% no universo”, o que é baixo, mas se você pega nesses 0,4%
começa a perguntar para ela o que elas conheciam, de fato, para saber se elas
conseguiam identificar os programas, identificar a programação e o que elas
gostavam, o que aprovavam. os resultados são muito significativos, favoráveis
para a TV. (acho que podia perguntar no final: como? – devo ligar e perguntar?)
Qual é o perfil do cidadão que assiste a TVA?
O que a gente sempre considerou, como meio de constatação, o que
pesquisas revelam. Elas trazem informações por faixa etária e nível de escolaridade.
A gente sempre percebeu muito essa coisa do formador de opinião, são
profissionais liberais, aposentados e pessoas de nível mais alto de escolaridade.
Mas esses dados de vez em quando se confundem, pois, o pessoal de baixa renda,
ou, por exemplo, no interior você tem a TV aberta, tem poucas opções de canais,
então tem muita gente que acompanha a TV. tem uma quebra. Então esse perfil
varia muito de região para região e por onde a pessoa está acompanhando. Na TV a
cabo é um tipo de público, se é TV aberta é outro tipo, se a cidade é grande capta
um tipo, se a cidade é muito pequena é outro tipo. É um público absolutamente
heterogêneo, diversificado, ou seja, pega todas as camadas sociais, principalmente
quando você pega a TV aberta. Aqui na capital pode não ter tanto interesse até
porque não está aberto, mas no interior assiste, acompanha, critica e cobra. É uma
coisa muito impressionante. Talvez pela falta de opção, mas o fato que as pessoas
assistem, reconhecem, elogiam alguns programas e criticam outros.
Como o cidadão pode interagir com a TVA?
Eles geralmente mandam muitos e-mails. Outros até ligam, mas não temos
nenhum programa ainda para fazer essa ponte, porque nós não temos estrutura
para isso. Se você abre e de repente não consegue atender é pior, não é uma boa
estratégia. O que a gente faz é dar respostas para os emails que chagam. A gente
coloca sempre o e-mail do programa na tela. Se tem alguma demanda a gente
repassa para a produção do programa que responde,atenção e fala no programa
sobre o assunto. A participação direta por telefone nos programas não temos ainda.
59
O que mudou nesses 13 anos de TVA?
Mudou muita coisa. A TV partiu de uma proposta que era muito de repetição
de audiências públicas, comissões, reuniões de plenário e adotou um formato de
horários estratégicos um pouco mais digeríveis para a pessoa, com a linguagem de
televisão, fazendo programas mais picotados que pudessem dar um panorama tanto
do que acontece na Assembléia, como os temas principais que são discutidos de
interesse do estado e da população de maneira geral. Ela melhorou muito na
qualidade de conteúdo geral, de informação em termos da capacitação dos
profissionais, em termos de capacitação de equipamentos, de exploração de
programação, de variedade de programação. A TV evoluiu muito nesses 13 anos e
conquistou fundamentalmente a confiança das pessoas. Hoje você pega muita gente
que faz parte dessas organizações que têm uma avaliação mais crítica com relação
a tudo e a própria política, quando você fala em TV Assembléia elas respeitam, elas
vêm aqui. Uma das coisas que a gente mede para entender essa respeitabilidade
que a TV tem é que no passado a gente tinha muita dificuldade de trazer as pessoas
aqui. Vo convidava cientista político e autoridades públicas, por exemplo, havia
certa dificuldade. De alguns anos para cá não temos dificuldades nenhuma, as
pessoas querem participar. Em outro ponto, você tem, por exemplo, um grupo
dedicado à estudos legislativos na Universidade Federal de Minas Gerais e quando
você busca opiniões sobre o veículo e sobre os programas da Assembléia
Legislativa de maneira geral, eles são altamente elogiados.
60
ANEXO E – Entrevista João Carlos Amaral
Qual o seu nome completo e formação?
João Carlos Amaral, jornalista, consultor de imagem e âncora da TVA.
Idade?
Isso geralmente eu não falo. Põe aí, depois que eu “trintei” nunca mais contei.
Pode até brincar se você quiser.
Há quanto tempo o Sr. trabalha na ALMG? E na TVA?
Estou aqui há quase 13 anos, tenho uma empresa de consultoria e presto
serviço para a ALMG. Sou âncora do plenário desde o começo da TVA, aliás logo
depois do começo em agosto de 1996, à convite do então presidente da Casa,
deputado Agostinho Patrus e Sebastião Navarro Vieira que era da mesa diretora.
Eles estavam com um projeto de uma TV e precisavam de alguém que pudesse
começar esse projeto que ia crescer. Eu acreditei, vim junto no momento, observei
como era o quadro e através de leituras percebi que havia um estilhaçamento da
comunicação de massa e que aqui era um nicho muito grande que ia crescer com
velocidade. Era uma questão de tempo.
Veja bem, em 1998 veio a internet com mais força e hoje o projeto da TVA é
um projeto respeitado, em quase 300 municípios e também pela internet. Nós
podemos acessar em todo o mundo através do www.almg.gov.br.
O comportamento dos deputados, em geral, costumava ser diferente
quando não havia a TVA?
É claro que a TV altera o comportamento de todos nós. Você sabe que está
captando som e imagem para milhares de pessoas ou para um segmento específico.
Obviamente que antes o deputado quando ia à tribuna o discurso dele entrava nos
anais da Casa, era publicado no Diário do Oficial e uma ou outra emissora de rádio
ou nós da televisão quando tinha algum relevante. Não era uma constância como é
agora. Porque agora você tem os plenários o tempo inteiro, as comissões que
também são transmitidas ao vivo ou são gravadas. Enfim, faz parte de uma grade de
18 horas de programação da TV. Então hoje os parlamentares chegam ao interior
antes de chegarem fisicamente. Eles chegam pela TV. Isso é um novo universo que
61
exige de cada ator, de cada participante, nós como âncoras, repórteres, analistas
comentaristas e também dos parlamentes novos procedimentos, posturas, gestos,
roupas, entender que a câmera é o olho do telespectador. Falar para a lente da
câmera para olhar no olho de quem está em casa assistindo, no escritório e
espalhado pelo interior todo. Isso é uma verdadeira revolução na comunicação que
muita gente ainda não percebeu, ainda está com os olhos voltados para o retrovisor
do passado enquanto tudo acontece com muita velocidade. Isso alterou o
comportamento não dos deputados e deputadas, mas também de quem cobre.
um movimento muito importante em termos de opinião publica hoje. Pode-se
chegar com muita velocidade ao interior através da internet. O comportamento no
plenário hoje é adequado pela necessidade do veículo. Entrou no plenário está
no ar, falando ou não falando, participando o tempo inteiro. Isso é uma ferramenta
importante da democracia, é o tempo real, tudo ao vivo, não tem nenhum tipo de
edição, ele falou chegou, quando ele chega no interior, ele já foi muitas vezes
virtualmente. O parlamento fala direto, sem intermediários com o telespectador
Na sua opinião, os deputados sabem, de fato, aproveitar o potencial da
TVA? Por que?
Sabem sim. Cada vez cresce mais esse interesse porque ele tem o feedback,
o retorno, das bases. Tem também junto no processo da ALMG trazer aqui para
dentro os alunos, por exemplo, o parlamento jovem você está formando público. Isso
tudo tem um espelhamento, é mostrado pela TV. Faz-se aqui um debate, eles
assumem aqui o comando da votação, a presidência dos trabalhos e depois eles
ficam atentos para assistirem, para se verem na TV. No caso dos parlamentares
perceberam isso com velocidade, eles tem a assessoria deles e da Casa. Eu, por
exemplo, oriento sobre a postura, a roupa, como se portar diante da mera, tudo
isso para que ele possa passar uma informação limpa, objetiva, direta. O nosso
questionamento é feito jornalisticamente mesmo. A prova disso é ligar a TVA. É
uma nova realidade em Minas Gerais, é a comunicação direta com o público.
Como você acha que o parlamentar percebia a TVA em 1995 e em 2008?
Ele começou a sentir na medida em que TV era implantada e ele tinha
feedback quando ia na base, os e-mails que ele recebe, tudo isso ele percebe com
velocidade. É claro que foi um processo, é uma questão que está crescendo. Hoje
62
com 300 municípios e com a internet não como deixar de perceber esse
fenômeno de comunicação.
Como você acha que a TVA influencia o exercício do mandato do
deputado, seja negativamente ou positivamente?
Acho que é extremamente positivo. No final vence quem tem mais
informação, a população tem como decidir a partir do que ela vê, ela assiste a
atuação do parlamentar e do parlamento como um todo. Essa integração do poder
legislativo com a população de Minas Gerais é exemplo para o país. Realmente
essa interação e é extremamente positiva para o parlamentar, porque ele tem um
canal independente para comunicar com o eleitor dele e quem não é eleitor também,
ou seja, com a população como um todo.
Os deputados fazem algum curso sobre como se comportar diante das
câmeras?
Muitos fizeram. Eu tenho um media-training “Socorro, estou na TV”, sempre
ofereço a eles, muitos me procuram e fazem especificamente um media-training, um
treinamento de imersão, postura, gestos, roupas e texto. Os que o fizeram eu
sempre oriento também e nossos colegas jornalistas orientam. Eu explico para não
colocar o braço em cima da mesa e sim os pulsos, digo para olhar para mim na
pergunta e olhe para a câmera, converse com o telespectador na resposta. Ajudo
nessa prática do dia-a-dia, minha função também é fazer esse trabalho de
consultoria.
Como os deputados acham que os eleitores vêem o trabalho dele pela
TVA?
Aleatoriamente quando a gente conversa com os deputados, eles dizem estar
impressionados com a audiência da TV e quantidade de pessoas que os procuram.
Percebemos que hoje, muitas vezes, os deputados falam mais TV que
para quem está no plenário. Como é isso?
Essa é a mudança fundamental. Veja bem, são 300 municípios e se tiver um
só em cada município naquele momento, tem mais que 77 aqui no plenário. Ou seja,
o foco é completamente diferente com a mudança fundamental na comunicação.
63
Não importa se não tem ninguém no plenário, não tem necessariamente que ter,
porque o parlamentar está ali falando para a televisão. É a comunicação do um,
falando para milhares.
A TV, embora instrumento proporcionador da divulgação do trabalho do
parlamentar, também funciona como instrumento de fiscalização do trabalho
do parlamentar perante o eleitor? Como?
É mais do que claro isso. A TV é um espelho do que está acontecendo aqui
dentro. O telespectador vê que o parlamentar pode estar no plenário, nas comissões
ou em uma audiência pública no interior que também é televisionada. É uma
fiscalização completa. O eleitor acompanha, manda e-mail, acompanha das galerias,
as ONGs acompanham, os gestos públicos, os prefeitos e todo mundo que quer
acompanhar. No interior você pode acompanhar pela TV ou pela internet
confortavelmente em sua casa. Ou seja, funciona como a mais importante
transparência da democracia. A TVA veio como uma ferramenta que agora se
desdobra na internet e daqui a pouco na TV aberta.
64
ANEXO F – Entrevista Lúcio Pérez
Lúcio Perez, 46 anos, jornalista, desde 1994 na ALMG, diretor de
comunicação institucional da ALMG.
O comportamento dos deputados, em geral, costumava ser diferente
quando não havia a TVA?
A TVA foi o primeiro canal legislativo que entrou no ar no Brasil, logo depois
da lei que regulamentou a utilização de canais em TV a cabo por poderes
legislativos. A Assembléia tinha um sistema de TV interna, então tinha
equipamento e pessoal que produzia um programa que passava numa rede interna
de TV. Então, a TVA entrou no ar bem rápido. Aos poucos a TV foi crescendo em
tempo de programação e ao mesmo tempo os deputados foram percebendo que
existia uma TV que tinha uma importância para divulgar os trabalhos. A TVA
provocou duas grandes mudanças. A primeira foi que o trabalho das comissões
permanentes na Assembléia começaram a ganhar mais importância, mais presença
dos deputados, importância na participação de convidados, em audiências públicas,
porque elas eram filmadas para passar depois na TVA. O plenário também, a
participação dos deputados na tribuna para fazer pronunciamentos e participação
em votações também ficou mais valorizada. Essa sem dúvida é uma marca
extremamente importante, pois deu mais importância internamente entre os
deputados aos trabalhos das comissões e do plenário, por causa da visibilidade que
a TV começou a dar ao trabalho. Ao mesmo tempo modificou uma cultura de hábitos
dos deputados. Eles começaram dar mais importância a aparência, a que terno
vestir e como falar. Não foram todos de uma vez, mas os deputados que
perceberam isso mais rapidamente começaram a se preparar melhor para falar para
uma câmera de TV, a procurar ocupar mais a tribuna para aparecer mais, a usar um
terno que não atrapalhe a imagem na TV. De para isso tudo que falei foi
aumentando e trazendo modificações ao ponto que hoje qualquer reunião do
plenário ou qualquer reunião de comissões, por exemplo, no interior o abrem sem
uma equipe da TVA.
65
Na sua opinião, os deputados sabem, de fato, aproveitar o potencial da
TVA? Por que?
Com toda certeza. As TVs legislativas cumprem hoje um grande papel que é
poder mostrar para o cidadão, para o eleitor que a cada quatro anos vota em
deputados estaduais, federais, senadores e vereadores o que esta acontecendo
dentro dos legislativos.
Como você acha que o parlamentar percebia a TVA em 1995 e em 2008?
Em 1995 a TV estava começando e você não tinha cultura de ter uma
assembléia que tivesse reuniões transmitidas ao vivo. Inicialmente você não
transmitia nada e você começa a fazer a transmissão e gravação de reuniões. A
TVA começou pequena transmitindo em TV a cabo em Belo Horizonte e umas 10
ou 12 cidades no interior onde existia o sistema TV a cabo. Depois a TV começa a
expandir a rede dela e começa a transmitir sinal aberto e hoje a TVA chega
entorno de 250 cidades, sendo que a maior parte delas em sinal aberto. Os
deputados foram percebendo aos poucos que essas transmissões das reuniões
conseguiam chegar no interior e a muitas pessoas na capital. A partir daí que eles
foram cada vez mais dando importância a TV e a emissora recebendo mais
importância por parte dos deputados, foi sendo equipada melhor.
Como você acha que a TVA influencia o exercício do mandato do
deputado, seja negativamente ou positivamente?
É uma conta de resultado sempre positivo. Não influencia de forma negativa.
Ela tende a produzir efeitos positivos. A TV expõe bastante a Assembléia,
imagine que o plenário fosse um programa, é ao vivo e sem corte. Tem situação e
oposição. Às vezes temos nas galerias da Assembléia cidadãos representando
segmento da sociedade, de um lado pode ter um vaiando e de outro um aplaudindo.
Então a TV mostra, ela é um veículo que permite as pessoas acompanharem o
trabalho e perceberem que existem pontos de vista diferentes. Você tem um
deputado que se veste melhor, que sabe tratar com o veiculo televisão de forma
melhor, outros não têm a mesma facilidade, uns vestem de um jeito e outros
vestem de outro jeito, uns falam de um jeito, outros falam de outro jeito. A TV expõe
isso. A riqueza num canal de TV legislativo é você mostrar nua e cruamente como
as coisas acontecem dentro do plenário. Nos temos todos os bastidores da política
66
que esse a TV não mostra, as conversas de pé de ouvido, entre deputados, entre
bancadas, essa política de bastidor que existe e sempre vai existir, mas a política
quando chega no palco principal da Assembléia que é o plenário ou, nos palcos tão
importantes quanto o plenário, nas comissões, isso é mostrado de forma integral.
Então acho que só tende a trazer benefícios.
Os deputados fazem algum curso sobre como se comportar diante das
câmeras? A TVA tem algum curso que prepara? Ou a ALMG?
A Assembléia nunca fez isso, fica a cargo de cada deputado saber se é
necessário fazer algum tipo de curso. Cada um avalia isso e muitos deles fizeram
curso com especialistas nessa área de imagem, TV, voz, roupa, estilo, isso com
certeza vários fizeram. Hoje com certeza a maioria absoluta se preocupa com a
imagem.
Como os deputados acham que os eleitores vêem o trabalho dele pela
TVA?
Pelo que a gente acompanha do que eles falam existe um retorno muito
grande. Nas cidades onde eles são votados, tem base e tem TVA eles recebem um
retorno muito bom de pessoas que assistem, que elogiam a participação deles ou
elogiam a existência da TV. É esse retorno que faz com eles dêem importância a
TV.
A TV, embora instrumento proporcionador da divulgação do trabalho do
parlamentar, também funciona como instrumento de fiscalização do trabalho
do parlamentar perante o eleitor? Como?
Com toda certeza. A partir do momento que você tem a possibilidade do
eleitor assistir uma reunião ao vivo ou de comissões e ver o deputado participando
efetivamente das reuniões ou de outro tipo de evento da Assembléia ele tem
condições de fazer um acompanhamento. Quem quer ter informação sobre algum
deputado que está no efetivo exercício do mandato isso tem.
67
Parece que alguns deputados não se preocupam com relacionamento
com a imprensa, tanto que nem têm assessor. A comunicação da ALMG ajuda
de alguma maneira?
Na verdade a ampla maioria dos deputados hoje tem alguém que
desempenha a função de assessor de imprensa. É uma realidade que mudou
radicalmente em questão de 14 anos, quando entre aqui na Assembléia. Em 1994 a
minoria tinha assessor de imprensa, hoje a ampla maioria tem. Essa questão da
imagem do deputado, cada vez mais ele tem consciência que a imagem dele pesa
muito na vida política junto ao eleitorado e nas cidades.
68
ANEXO G - Fotos
Foto 01: Carlo Menezes (jornalista da TVA), Guilherme Minassa (Superintendente de
Comunicação Institucional da Câmara Municipal de Belo Horizonte), Bruno
Wanderley Reis (cientista político da UFMG). Cobertura das eleições 2008,
programa boletim das eleições. Estúdio da TVA.
Crédito: Guilherme Bergamini, 05 /10 /2008.
69
Foto 02: Carlo Menezes (jornalista da TVA), Marcos Coimbra (Cientista Político - Vox
Populi), Rodrigo Lucena (diretor de Rádio e Televisão da ALMG), Mauro Santayana
(Jornalista). Cobertura das eleições 2008, programa boletim das eleições. Estúdio da
TVA. Crédito: Guilherme Bergamini, 05 /10 /2008.
70
Foto 03: Equipe de produção no estúdio da TVA. Cobertura das eleições 2008.
Crédito: Guilherme Bergamini, 05 /10 /2008.
71
Foto 04: Estúdio da TVA, ilha de edição. Cobertura das eleições 2008.
Crédito: Guilherme Bergamini, 05 /10 /2008.
72
Foto 05: Deputados no plenário durante reunião ordinária.
Crédito: Alair Vieira, 06 /08 /2008
73
Foto 06: Deputados no plenário durante reunião ordinária e servidores públicos nas
galerias. Crédito: Alair Vieira, 16 /07 /2008.
74
Foto 07: Visão geral do plenário. Reunião Especial em Comemoração aos 50 anos
da PUC Minas. Crédito: Alair Vieira, 17 /11 /2008.
75
Foto 08: Deputado Domingos Sávio (PSDB) discursa na tribuna.
Crédito: Willian Dias, 12 /11 /2008.
76
Foto 09: Deputado André Quintão (PT) discursa na tribuna.
Crédito: Willian Dias, 12 /11 /2008.
77
Foto 10: Deputado Neider Moreira (PPS) discursa na tribuna.
Crédito: Willian Dias, 11 /11 /2008.
78
Foto 11: Deputada Rosângela Reis (PV) discursa na tribuna.
Crédito: Willian Dias, 11 /11 /2008.
79
Foto 12: Deputado Getúlio Neiva (PMDB) discursa na tribuna.
Crédito: Willian Dias, 11 /11 /2008.
80
Foto 13: Deputado Alberto Pinto Coelho (PP), presidente da ALMG, em entrevista à
TV Assembléia e TV Record. Crédito: Alair Vieira, 28 /11 /2008.
81
Foto 14: Deputada Elisa Costa (PT) discursa na tribuna.
Crédito: Alair Vieira, 19 /11 /2008.
Esse trabalho é licenciado:
COMUNICAÇÃO E REPRESENTAÇÃO SOCIAL – os efeitos da TV Assembléia na performance e oratória dos
deputados estaduais de Minas Gerais by
Leonardo Batista Quintino is licensed under a Creative Commons Atribuição-
Uso Não-Comercial 2.5 Brasil License.
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