bati numa quina, e eu olhei no retrovisor aquele vidro estilhaçado e pensei: “Nossa,
acabou mesmo”. Foi uma coisa assim...gente, o que que é isso? E acabou de vez. Daí
ele alucinou, ele me deu tanto problema depois que acabou. Ele foi num lugar dizendo
que eu roubei o projeto que eu tinha feito, e tive que botar advogado porque eu não
queria mais falar com ele e nem vê-lo.
A Danuza Leão escreveu na coluna dela sobre o que faz um amor não dar certo:
a “mulherzisse”. A pessoa liga pra outra umas dez vezes por dia, e depois não tem
assunto, mistura trabalho, tira satisfação. E isso ele fez muito.
Eu não sentia liberdade em convidar os amigos pra ir em casa. A gente fez uma
festa de aniversário juntos, porque era próximo o meu do dele. Foi tão interessante
porque todos os meus amigos sabiam que era aniversário dos dois, mas os amigos
dele só sabiam do dele, ou seja, ele só falou dele. Foi de um egoísmo...e, as pessoas
ficavam constrangidas ao saber que era festa dos dois.
Depois eu perguntei o quê que foi, o que aconteceu? E ele disse que achava que
não precisava dizer. Aí eu pensei que ele não dava conta de dividir, de compartilhar, e
claro que era uma pessoa com problemas seríssimos. Mas, depois que dava pra ver.
Em exposições ele brigava por causa de pregos, por causa de martelo em uma
exposição coletiva, que tudo é coletivo, então ele não ia dar conta de morar junto.
Mas, eu não enxergava. Eu só conseguia pensar assim: é algo muito mais forte, que
tinha dor que vai te dilacerando, vai te consumindo se você não tem força pra dar
aquele salto e falar: “Não é isso”. E eu não tinha forças, é incrível pensar nisso agora.
Eu vivia com um homem extremamente intelectual, que a biblioteca dele pegava todo
este espaço, mas que não sabia viver a dois.
Aconteciam uns barracos de vez em quando que a gente pensa que é só em
favela, mas que acontecia na praça Panamericana onde a gente morava. Era uma coisa
tão louca que me dava vergonha de dizer que ele berra, grita, xinga...Isto existe sim e
era apavorante que eu nas brigas levantava do jeito que eu tava pegava o carro e ia
embora, do jeito que ele saía do eixo. Ele tinha uma neurose, que como ele é muito
intelectual, então a mente dele era muito poderosa e ia o raciocínio dele, e ia, ia e ele
não conseguia parar e pensar que ele estava fora do eixo. E eu pensava que naquele
ponto não era amor. Mas, eu não dava conta de tomar uma atitude até que chegou a
última vez e foi a última vez.
Eu vi um filme muito rápido na minha cabeça em que eu tinha cem anos de
idade, estava desdentada e dizia: “Ai, agora a gente tá junto” e depois, “Ai agora a