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sempre estou correndo atrás. Eu não estou estudando, mas eu fico em casa
lendo. Hoje eu já consigo resolver as minhas coisas sozinhas, sem querer que
alguém vá comigo. Eu já vou no supermercado só, já vou no comércio, já
resolvo minhas coisas, eu já consigo me arrumar do jeito que eu gosto, sozinha”
(...) (Conceição)
Por diferentes razões, eles parecem nutrir perspectivas com relação à sua vida, ao
seu futuro, com esperança, em direção ao que está por vir.
(...) ”Mas eu vou cuidar do meu filho, porque eu sei que ele precisa muito de
mim. Porque eu sei o que sofri, no meio do mundo, sem pai e sem mãe. Eu sofri
muito. A filha do outro lado do rio, eu nunca assumi e isso dói em mim. E eu
acho que se hoje ela está doente, eu sou o culpado. Eu acho que se eu tivesse
dado atenção a ela, desde o tempo que ela nasceu, até hoje, ela não estava com
esse problema, eu acho assim. Isso me deixa triste. Eu tenho que fazer, daqui
pra frente, o possível e o impossível por ela, entendeu? Se eu receber dinheiro,
eu vou ajudar a ela a ajeitar a casinha...” (...) (Zacarias)
(...) ”Eu era doente, mas eu nunca me entreguei, mesmo sofrendo... A vida
inteira, quer dizer, eu nunca fiquei quieto. Meu cérebro e o meu coração é de
um jovem, não pretendo ficar velho, não. Eu tô velho, mas é só a casca. É o que
eu penso, é o meu pensamento, digamos assim, é que nem um sonho. E eu acho
que tudo que a pessoa pensa, consegue. Mas mesmo assim, eu não me encostei,
não. Eu não estou aqui? Apesar de ser difícil, com a idade que eu tô, mas eu
acho que a força que eu arranjo não vem só daqui. Vem do além, apesar de que
tem muita gente que não acredita, através de pensamento e sonho. A pessoa
devido a sofrer de doenças, a pessoa aprende, através da força e de uma fé em
si próprio, a pessoa aprende alguma coisa através do sonho.” (...) (José)
(...) ”Dá pra viver bem, dá pra se encaixar na sociedade, dá pra trabalhar,
entendeu? Eu penso dessa forma. Mesmo tomando os remédios. Eu acho que
vem da gente, mesmo. A gente tem que querer. Eu já tive bem mal, bem mal
mesmo. Mas quando eu comecei a melhorar, eu comecei a ver que eu podia
viver diferente. Que eu poderia cuidar da minha casa, poderia limpar a cama,
poderia fazer o almoço. E eu comecei a ir fazendo aos poucos, eu não fui
fazendo tudo de uma vez, claro.” (...) (Conceição)
Inclusive, uma característica comumente atribuída ao portador de transtorno
mental, no que diz respeito ao desleixo com a própria aparência e a higiene pessoal
(Borsa e Eidelwein, 2005) é aqui contestado por Maria, que cultiva a sua vaidade,