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ANA LÚCIA GOMES CASTELLO
“A DESCONSTRUÇÃO E RECONSTRUÇÃO DOS
MODELOS PARENTAIS INTERGERACIONAIS ATRAVÉS
DO SOCIODRAMA CONSTRUTIVISTA.”
MESTRADO EM PSICOLOGIA CLÍNICA
PUC/SP
São Paulo
2006
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ANA LÚCIA GOMES CASTELLO
“A DESCONSTRUÇÃO E RECONSTRUÇÃO DOS
MODELOS PARENTAIS INTERGERACIONAIS ATRAVÉS
DO SOCIODRAMA CONSTRUTIVISTA. ”
Dissertação apresentada à Comissão Examinadora da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como
exigência parcial para obtenção do título de Mestre em
Psicologia Clínica (Área de Família e Comunidade) , sob
a orientação da Profª Drª Rosa Maria Stefanini de
Macedo.
PUC/SP
São Paulo
2006
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Banca Examinadora
Orientador:______________________________
Membro:________________________________
Membro:________________________________
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Dedicatória
A Deus, que ilumina a minha vida e me dá forças para
alçar vôos em busca de meus objetivos.
Ao meu pai, Joaquim, que mesmo ausente ainda me inspira.
Obrigada por sempre ter me conscientizado da existência dos
limites para que eu me tornasse uma pessoa melhor, e por ter
incutido em mim alguns ensinamentos que me guiaram nesta
longa caminhada da vida.
À minha mãe, Letícia, com certeza a melhor mulher e mãe que
conheço, cuja sabedoria e generosidade ajudam-me a co-construir
uma vida digna.
Ao meu marido Roberto Castello, um companheiro muito especial,
com quem tenho a alegria de compartilhar minha vida,
e que junto comigo reconstrói a cada dia a educação de nossas filhas.
Às minhas filhas, Renata e Roberta, amigas, desafiadoras,
estimuladoras, minha fonte insaciável de vivências de todos os limites
e desafios de ser mãe.
5
Agradecimentos
Um agradecimento muito especial a Deus, que com certeza direciona
meus passos para o caminho da verdade e da vida.
Com muita alegria, lembro meu pai. Gostaria que ele estivesse aqui
para ver esta realização e vibrar junto comigo. Meu primeiro mestre e grande
incentivador.
À minha mãe, Letícia, grande companheira de tantas jornadas. Com
certeza passarei todos os dias da minha vida lembrando a força que sempre me
deu.. Também fiz tudo isto por você, mãe. Obrigada!
Às minhas irmãs: as “irmãs cajazeiras”: Vera Lúcia, Carmem Lúcia,
Nadir e Letícia Maria, que me ensinaram muito, principalmente o exercício de
viver em família, de comemorar, brigar, divergir nas opiniões, de me aliar, contar
os segredos. Enfim, vocês foram muito importantes para que eu aprendesse a
difícil arte de ser uma parte atuante de uma grande família.
Ao meu marido, Roberto Castello, que sempre acreditou em mim, que
em tantas situações desempenhou um papel duplo para que eu estudasse, e que
nunca mediu esforços para que meus sonhos se realizassem. Você, Roberto, é
realmente o companheiro que idealizei para minha vida.
Às minhas filhas, que desde cedo me fizeram exercitar a arte de ser
mãe, e que me ensinaram a descobrir, muitas vezes sozinha, o mistério de educar
e amar simultaneamente. Renata e Roberta saibam que continuarei aprendendo
com vocês.
Meu agradecimento especial à querida orientadora Profª Drª Rosa
Maria Stefanini de Macedo, por seu carinho, dedicação, e compartilhamento de
conhecimento em todos os momentos de dúvidas e questionamentos.
Meu carinho especial à Profª Drª Ana Maria Fonseca Zampieri, uma
amiga, uma incentivadora. Obrigada por sua disponibilidade, carinho, dedicação e
contribuição para todos os momentos.
Meu agradecimento à Profª Drª Ceneide Maria de Oliveira Cerveny
pelos ensinamentos, pelo carinho e confiança depositada no decorrer do curso.
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Para a realização desta pesquisa, os ensinamentos de alguns mestres
como, Drª Cristiana Mercadante Esper Berthould, Drª Rosane Mantilla de Souza,
Drª Maria Helena Pereira Franco, e Drª Ida Kublikoviski foram fundamentais para
que pudesse ser concretizada.
Às minhas colegas de tantas jornadas, Luciani Zamboni, Ângela Fortes,
Carolina Sales, Blenda Oliveira, João Laurentino, Suzana Amarante Levy,
Claudia Marra, Marianne Feijó que compartilharam comigo todas as alegrias e
aflições durante todo o curso.
Agradeço especialmente aos grupos de pais com quem convivi durante
todo este tempo, os quais, de certa forma, confiaram em mim para ajudá-los a
melhorar suas vidas e aprimorar a forma de educar seus filhos.
Um agradecimento especial aos doutores Roberto Bittar, Durval Daniel
e José Luiz Setúbal, diretores da Clínica Pediátrica (São Paulo), que
possibilitaram, por meio de confiança e colaboração, que este trabalho fosse
realizado.
Um agradecimento tão especial quanto o citado acima à Drª Lígia
Pimenta, da ONG-SP, uma amiga, uma parceira de todos os momentos nos
trabalhos. Com certeza, a maior colaboradora para que esta parte da pesquisa
tivesse sucesso.
Não poderia esquecer da grande ajuda dos funcionários da Clínica que
deram um apoio de base para que as sessões de Sociodrama acontecessem. Da
mesma forma os funcionários da ONG, que demonstraram muita competência
para que o trabalho fosse realizado com sucesso.
Um agradecimento sincero e especial aos meus grandes colegas:
Jussara Perazza, Lucimar Melo, Claudete Milaré , meus egos auxiliares na Clínica
Pediátrica, e também, Ana Paula Zampieri, Ana Carolina Brandão , Anselmo
Peres, Jussara Perazza e Ligia Pimenta, meus egos auxiliares na ONG ,em São
Paulo. Vocês foram realmente meus parceiros profissionais.
Agradeço a todos que acreditaram neste trabalho, permitindo assim,
concluir com grande esforço um bom trabalho de equipe. Obrigada , com toda a
força do meu coração!
7
Pensamento:
O pássaro, para nascer, precisa quebrar o ovo.
Para deixar o ninho e viver a sua vida,
não precisa quebrar o ninho,
deve apenas deixá-lo para trás....”
Roberto Castello, 2002
8
PREFÁCIO
Ao lado da alegria de ser pai ou mãe, a criação dos filhos gera muitas
dúvidas, frustrações, medos, conflitos pessoais e conjugais, cansaço, além de
várias noites mal dormidas.
Ao contrário do que acontece durante nossa formação para o exercício
profissional, onde durante cerca de dezesseis anos nos preparamos para
enfrentar o mercado de trabalho, os pais, em sua maioria, embora muitas vezes
planejem o momento da chegada do seu filho, raramente se preparam para sua
chegada e pelo que vem pela frente.
Muitas vezes educamos nossos filhos com a bagagem que recebemos
dos nossos pais, replicando erros e acertos a que fomos submetidos. Todos nos
defrontamos com situações que despertam fantasmas ou experiências profundas
da nossa infância. Padrões de criação aprendidos dos nossos próprios pais caem
sobre nós, pressionando-nos a responder irracionalmente.
Trazendo esses fantasmas para um plano consciente, somos capazes
de dominá-los, destituindo-os de seus poderes. Nós como pais, podemos então
fazer escolhas mais racionais sobre como lidar com o comportamento dos nossos
filhos.
Os pais, em geral, não erram porque não se preocupam, mas sim por
se preocuparem profundamente.
O trabalho realizado através de Sociodramas Construtivistas pela
psicóloga Ana Lúcia Gomes Castello oferece aos pais a oportunidade de vivenciar
situações e sentimentos que emergem durante a criação dos filhos, levando-nos a
uma maior compreensão destes. Faz-nos refletir e perceber novos caminhos na
condução de sua educação.
Dr. Roberto Bittar
Diretor Clínico da Clínica Pediátrica
Clínica Infantil Adolescentes Imunizações
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RESUMO
A autora, nesta pesquisa, visa mostrar uma nova forma de orientação de pais,
denominada Sociodrama Construtivista. Baseada na visão geral corrente de que educar
filhos transformou-se numa corrida de obstáculos – além de ter que assumir outros
papéis dentro da família, para os quais não foram treinados -, o homem e a mulher vêem
crescer as dificuldades para transmitir aos filhos conceitos básicos de educação e até
mesmo direcionar esta para uma construção positiva da identidade emocional, social e
familiar. O objetivo geral do trabalho é dar condições aos pais, por meio do trabalho em
grupo, de compreender a transmissão intergeracional nas estratégias educativas e de
reconstruir aquelas julgadas inadequadas. Inicialmente faz uma abordagem teórica sobre
a parentalidade na pós-modernidade, um estudo dos aspectos históricos relacionados à
educação dos filhos no Brasil, e uma síntese dos modelos de educação em diferentes
contextos. Educar filhos nos diferentes níveis sociais e a teoria do desenvolvimento das
famílias nas três fases do ciclo vital: formação de casal conjugal, famílias com filhos
pequenos e com filhos adolescentes são capítulos que elucidarão o corpo teórico desta
pesquisa. A autora, em seguida, faz reflexões sobre a repetição dos modelos
intergeracionais e sobre os temas da família contemporânea, abordados por meio de
questionários previamente aplicados aos pais individualmente, e com base nas respostas
fornecidas. Para atender aos objetivos propostos foi feito um estudo qualitativo através de
Sociodramas Construtivistas com grupos de pais, descritos nas suas peculiaridades
como instrumento acessível para articulação, elaboração e revisão das construções
utilizadas pelo ser humano para reorganizar suas experiências e ações. Foi utilizado
ainda, um questionário para coletar informações sobre as dificuldades encontradas entre
os pais na educação dos filhos. Quinze Sociodramas foram realizados em locais distintos:
numa Clínica Pediátrica e numa ONG, ambos em São Paulo, filmados e fotografados
mediante a autorização dos participantes. A análise dos dados aponta para uma imagem
dos pais buscando um crescimento comportamental e emocional na educação dos filhos
através das narrativas produzidas nos Sociodramas Construtivistas, e também para a
percepção das situações repetidas intergeracionalmente, que foram revisadas e
possibilitaram a elaboração de novos modelos para o desempenho do papel parental.
Palavras Chaves: Família, papéis, parentalidade, educação, padrões,
intergeracionalidade, Sociodrama, Construtivismo, Crianças, Adolescentes.
10
ABSTRACT
In this study, the author seeks to present a new form of parental guidance, called
Constructivist Socio-drama, for bringing up children. Based on the general current view
that the process of bringing up children has become an obstacle race – in addition to one
having to assume other roles within the family boundaries, for which parents have not
been trained -, husbands and wives are faced with increasing difficulties to transmit to
their children basic breeding concepts, or even direct the breeding process towards a
positive construction of the emotional, social and family identity. The main purpose of this
work is to enable parents, by means of group sessions, to understand the inter-
generational transmission in the breeding strategies, and to reconstruct those strategies
deemed inadequate. Firstly, the author takes a theoretical approach to parenthood in
post-modern ages, conducts a study of the historical aspects related to the process of
bringing up children in Brazil, and finally a synthesis of parental role-models in different
contexts. Bringing up children in different social levels and the development theory of
families during the three phases of the vital cycle, namely, the formation of the couple,
families with small children and families with adolescents, are chapters that elicit the
theoretical body of this research. The author then reflects on the repetition of inter-
generational role-models and on modern family themes, which were approached by
means of questionnaires previously applied to each parent, and based on the answers
they provided. In order to achieve the proposed goals, a qualitative study was conducted
through Constructivist Socio-dramas with groups of parents. Such Constructivist Socio-
dramas are described in their peculiarities as an instrument to be used for articulation,
elaboration and review of the constructions used by human beings to reorganize their
experiences and actions. In this study, the author also deployed a questionnaire to gather
data on the difficulties parents face in bringing up their children. Fifteen Socio-dramas
were conducted in different places: at a Pediatrics Clinic and at an NGO, both in São
Paulo, and they were filmed and photographed upon authorization of the participants.
Based on the narratives produced at the Constructivist Socio-dramas, the data analysis
points towards an image of parents seeking behavioral and emotional growth in bringing
up their children. It also points towards the perception of inter-generational repetitious
situations, which were revised and made it possible to elaborate new models for the
performance of the parental role.
Key Words: Family, role-models, parenthood, breeding, standards, inter-generational,
Socio-drama, Constructivism, Children, Adolescents.
11
SUMÁRIO
Introdução...........................................................................................................13
Capítulo I – A parentalidade na Pós-Modernidade..............................................18
1.1 Aspectos Históricos ..............................................................................24
1.2 A educação dos filhos no Brasil............................................................32
1.3 Escola de Pais, uma iniciativa para o trabalho com grupos de pais.....42
1.4 Nova Escola..........................................................................................44
Summerhill – Liberdade sem medo.......................................................47
1.5 Educar filhos nos diferentes níveis sócio-culturais ...............................52
Capítulo II – Teoria do desenvolvimento das famílias –Ciclo Vital......................57
2.1 Formação do casal conjugal................................................................57
2.2 Famílias com filhos pequenos.............................................................61
2.3 Famílias com filhos adolescentes .......................................................64
Capítulo III – A repetição dos modelos intergeracionais .....................................72
Capítulo IV – Temas da família contemporânea.................................................85
4.1 Limites................................................................................................86
4.2 Insegurança na Infância e na Adolescência.......................................92
4.3 Sexualidade na Infância e na Adolescência.......................................97
4.4 Perdas na Infância e na Adolescência .............................................109
4.5 Como educar os filhos sem perder a identidade do casal?..............116
4.6 Mães que trabalham fora..................................................................121
4.7O real e o virtual no cotidiano infantil/adolescente (TV, computador,
vídeo game, internet)...............................................................................124
4.8 Drogas...............................................................................................128
Capítulo V – O Sociodrama Construtivista........................................................132
12
Capítulo VI – Método ........................................................................................149
6.1 Participantes da Pesquisa.................................................................150
6.2 Instrumentos de investigação............................................................150
6.3Estratégias..........................................................................................150
6.4Procedimentos ..................................................................................151
6.5Análise dos dados..............................................................................151
6.6Considerações Éticas........................................................................152
Capítulo VII – Análise geral dos resultados ......................................................153
7.1 Análise geral dos resultados ..............................................................153
7.2 Resultados dos questionários aplicados na Clínica Pediátrica - S.P..153
7.3 Resultados dos Questionários aplicados na ONG- S P......................156
7.4 Análise dos Sociodramas Construtivistas na Clínica Pediátrica- S P.160
7.5 Análise dos Sociodramas Construtivistas na ONG- S P.....................174
..Capítulo VIII – Considerações Finais...............................................................187
Bibliografia.........................................................................................................192
Anexos .............................................................................................................200
13
Introdução
Desconstruir um olhar direcionado para a educação de filhos baseado
na percepção que sempre tive do papel parental, por ter sido criada e educada
numa cultura similar a dos “Senhores de Engenho”, é uma tarefa bastante difícil.
Naquela época, em meados do século XX, no interior de Pernambuco, ainda
imperava uma educação autoritária, sem diálogo, sem possibilidades de um
desenvolvimento emocional e comportamental dos filhos, em busca de
autonomia. Esta lembrança e o contato diário com pais aflitos e desesperados me
motivaram a estudar o comportamento dos mesmos na tentativa de ajudá-los a
encontrar novos padrões de atuação na relação pais e filhos nos dias atuais. Esta
é uma constante busca para motivá-los a reconstruir uma nova forma de
educação, onde possam atualizar os modelos intergeracionais, dando
oportunidade para que o sentimento do filho seja valorizado e o diálogo comece a
permear as interações dos vínculos familiares.
A família é um complexo dentro do universo em que vivemos. Partindo
deste princípio, é importante olhar de frente para o modo como educamos os
filhos, para verificarmos, principalmente, se interagimos junto a eles sem culpa,
sem raiva, sem medidas, e sim, com paciência, amor e limites.
Macedo diz que “...a família é um pequeno grupo social composto por
indivíduos relacionados uns aos outros em razão de fortes lealdades e afetos
recíprocos, ocupando um lar ou conjunto de lares que persiste por anos e
décadas. Entra-se na família através do nascimento, adoção ou casamento e
deixa-se de fazer parte dela apenas pela morte.” (Macedo, 2003. p.185)
A partir da ação perceptiva estabelecida na dinâmica entre a família
como organismo vivo, o homem tem condições de adquirir uma noção de si
mesmo, interagindo com seus familiares e, educando seus filhos com coerência,
firmeza e segurança. Acontece uma tendência natural do ser humano de se
agrupar e estabelecer vínculos mais fortes para coexistir. Dessa forma, o sistema
mais importante para o indivíduo é a família, onde pode formar um contexto
natural de crescimento e desenvolvimento.
14
Segundo Salvador Minuchin, psiquiatra argentino radicado nos Estados
Unidos e fundador da Escola Estrutural de Terapia Familiar: “A família é um grupo
natural que através dos tempos tem desenvolvido padrões de interação. Estes
padrões constituem a estrutura familiar, que por sua vez governa o funcionamento
dos membros da família, delineando sua gama de comportamento e facilitando a
sua interação. (Minuchin, 1990.p.21)
O indivíduo pode ser visto como um subsistema ou até mesmo como
uma parte do sistema. Um aspecto importante a ser considerado é que todas as
mudanças que ocorrem na estrutura da família podem contribuir diretamente para
mudanças no comportamento e nos processos psíquicos internos dos membros
desse sistema.
A influência da família sobre seus membros foi também demonstrada
de forma experimental em uma pesquisa para investigação de doenças
psicossomáticas na infância, desenvolvida e descrita pelo mesmo autor
(Minuchin,1982.p.16). As averiguações desta pesquisa proporcionaram
fundamentação experimental para o princípio básico da terapia da família, isto é,
os membros da família respondem ao estresse familiar, tanto crianças quanto
adultos.
Andolfi relata que “...a família é um sistema ativo em constante
transformação, ou seja, um organismo complexo que se altera com o passar do
tempo para assegurar a continuidade e o crescimento psicossocial de seus
membros componentes.” (Andolfi, 1984. p.18). A garantia que o indivíduo tem em
fazer parte de um grupo familiar suficientemente coeso, possibilita a diferenciação
progressiva e individual do mesmo.
A educação dos filhos na Pós-modernidade é um tema enfatizado para
servir como parâmetro para mostrar como esses pais permanecem estagnados
ou crescem na forma de educar seus filhos com a passagem de gerações para
gerações.
Savater diz que “...ser humano consiste na vocação de compartilhar
com todos o que já sabemos, ensinando os recém-chegados ao grupo o que
devem conhecer para se tornarem socialmente válidos”. (Savater, 1998. p.36).
15
Essa é uma tarefa que exige desafio para os pais, porque além de
querer validar o filho no contexto social, procuram fazê-lo buscando sempre uma
diferenciação do mesmo em relação aos outros. “O processo educacional pode
ser informal através dos pais ou de qualquer adulto disposto a dar lições”,
continua o autor, e “... o primeiro título requerido para poder ensinar, formal ou
informalmente e em qualquer tipo de sociedade, é ter vivido.”(Savater,1998. p.36).
Para designar este trabalho foi importante conhecer o projeto
Socionômico de Jacob Levy Moreno (1997), elaborador da Teoria Psicodramática,
que articula os aspectos teóricos do Psicodrama para o desenvolvimento do
trabalho com grupos dentro de um contexto mais amplo.
A metodologia empregada, Sociodrama Construtivista, é considerada
um método de ação eficaz para este fim, por ter sido testada e operacionalizada
com grupos em diferentes temas. Moreno tentou mostrar que a sabedoria está em
designar às forças do grupo um papel fundamental na estruturação social. O
Sociodrama foi elaborado conforme embasamento existencialista da teoria
psicodramátrica. Seu objetivo central é enfatizar o conhecimento do aqui e agora,
procurando novas respostas espontâneas e criativas, no fechamento da conserva
cultural. É um método que busca a externalização do problema, procurando
“desconstruir” o sentido do tema-protagonista na sua definição mais ampla, na
sua estrutura e nas formas onde aparece com freqüência, socialmente.
Diante dessa “desconstrução” da realidade imaginária, o trabalho busca
respostas novas, espontâneas e criativas, para que o grupo possa fazer uma co-
construção de uma nova realidade, tornando-se, assim, o principal agente de
transformação e educação para os elementos que nele estão inseridos. É um
método que possibilita um aprofundamento teórico da formação da família, do
casal conjugal, por meio dos conteúdos teórico-práticos, propiciando o
entendimento de alguns aspectos mais significativos dessas relações, tais como:
estabelecer uma diferenciação, no que se refere à postura dos pais, nas
intervenções junto aos filhos, e respeito à individualidade dentro do esquema de
papéis.
16
O Sociodrama Construtivista foi desenvolvido através da articulação da
teoria e prática do Sociodrama, juntamente com os conceitos teóricos do
Construtivismo, em pesquisas de Mestrado e Doutourado em Psicologia Clínica,
na PUC/SP, pelas professoras: Profª DrªAna Maria Fonseca Zampieri (1996),
orientada pela Profª Drª Rosa Maria Stefanini de Macedo.
Segundo Zampieri, “...no Sociodrama é incidental saber quem são os
indivíduos na sua privacidade, por quem o grupo está composto ou quantas
pessoas ele contém. É o grupo na sua totalidade que importa e a perspectiva
coletiva com que os temas e os papéis nele envolvidos são propostos, discutidos
e vividos. O foco do Sociodrama é a identidade comum, o drama coletivo.”
(Zampieri, 1996. p.91)
Outro aspecto abordado neste trabalho refere-se à classe social em que
estão inseridos esses indivíduos, onde serão feitas algumas observações sobre a
forma de educar dessas famílias. Serão trabalhados pais de famílias com poder
aquisitivo baixo e alto que estão preocupados em se informar, prevenir e se
atualizar dentro do contexto moderno da educação; e podem preocupar-se em
melhorar o desempenho do papel parental.
As considerações feitas em relação aos problemas vivenciados pelas
famílias durante o processo de educação dos filhos se referem aos temas atuais
vivenciados pelos pais. Dentre estes podem ser evidenciados os seguintes:
limites, mães que trabalham fora, insegurança das crianças, perdas na infância,
sexualidade infantil, perda da identidade do casal, drogas na vida da criança e do
adolescente, e outros, serão mostrados de forma pormenorizada, por meio do
Sociodrama Construtivista, um trabalho que objetiva oferecer um espaço em que
as realidades desses desajustes familiares possam ser construídas, com a
aquisição de novas e mais adequadas respostas em grupos, pela inter-relação
entre seus membros.
Durante a operacionalização desta pesquisa, o Sociodrama
Construtivista será enfocado como método de educação preventiva, tendo como
meta ampliar as possibilidades de conscientização correta e adequadamente à
realidade dos comportamentos mostrados objetiva e subjetivamente,
considerando-se o contexto do grupo, no que se refere aos aspectos das relações
cotidianas de pais e filhos nas diversas etapas do ciclo vital das famílias.
17
A proposta inicial desse estudo está relacionada a uma nova ótica de
observar e repensar as relações humanas, onde acontece uma superação da
análise individual e subjetiva por uma análise grupal e psico-sociológica.
O objetivo geral destina-se a dar condições aos pais, por meio de
trabalho em grupo, de compreender as transmissões intergeracionais de
estratégias educativas e propiciar a reconstrução daquelas que forem julgadas
inadequadas.
Os objetivos específicos fundamentam-se pesquisar quais os
comportamentos mais repetitivos aparecem na condução da educação; propiciar
a desconstrução destes conceitos, e repensar uma forma atualizada de
comportamento que sirva de referência para lidar com as dificuldades na
educação dos filhos.
Para complementar os objetivos deste trabalho a autora busca efetivar
a fundamentação de que uma orientação eficaz, em determinados momentos da
vida dos pais, onde possam atualizar os seus conhecimentos do processo de
educação fazendo uma reflexão daquela que foi internalizada em suas vidas
pessoais, poderá ser importante para que consigam desenvolver uma educação
forte, segura e confiável para os seus filhos. Por esse motivo, os temas
abordados nas sessões de Sociodramas Construtivistas foram diversificados, com
o objetivo de fazer esta orientação com foco nas dificuldades encontradas nas
primeiras fases do desenvolvimento do indivíduo.
18
Capítulo 1- A Parentalidade na Pós-modernidade
Temos discursos entre profissionais que trabalham na área da
educação que usam expressões como “novos paradigmas”, “modernidade” e
“pós-modernidade”. Essas, quando voltadas para a educação, nos remetem a
alguns questionamentos das mudanças, adaptações e reconstruções que o ser
humano pode fazer diante delas. No que se refere à educação de filhos se
direciona a novos olhares diante das significantes mudanças nos modos de
pensar, agir e se comunicar no desenvolvimento do papel parental.
Segundo Edgar Morin,“...um paradigma pode ser definido por:
promoção /seleção dos conceitos mestres de inteligibilidade. Assim, a Ordem, nas
concepções deterministas, a Matéria, nas concepções materialistas, o Espírito,
nas concepções espiritualistas, a Estrutura, nas concepções Estruturalistas, são
os conceitos mestres selecionados/selecionadores, que excluem ou subordinam
os conceitos que lhes são antinômicos (a desordem, o espírito, a matéria, o
acontecimento). Desse modo, o nível paradigmático é o do princípio de seleção
das idéias que estão integradas no discurso ou na teoria, ou postas de lado e
rejeitadas”. (Morin, 2004.p.24)
A seleção e a determinação da conceitualização e das operações
lógicas são efetuados pelos paradigmas. Designa as categorias fundamentais da
inteligibilidade e opera o controle de seu emprego. Assim, os indivíduos
conhecem, pensam e agem segundo paradigmas neles inscritos culturalmente, de
acordo com Morin (2004).
Podem ser observados dois paradigmas em relação ao homem e à
natureza. No primeiro paradigma o homem está inserido no contexto do que se
chama natureza e todo o discurso voltado para este paradigma inclui o homem na
categoria de ser natural e coloca-o dentro da natureza humana. No segundo
paradigma, a disjunção entre esses dois termos determina o que há de específico
no homem por exclusão da idéia da natureza.
O paradigma pode externalizar um pensamento consciente que o
controla, apresentando mudanças conforme a evolução dos tempos, e estas
podem começar a adentrar todas as esferas das relações humanas dia após dia.
19
De acordo com Zampieri, “...é só recentemente, no final do século XX e
no início do século XXI, que de fato podemos falar da emergência de uma nova
consciência. A aceleração histórica e tecnológica torna-se incontrolável e
imprevisível. Mais de 90% de todas as invenções da humanidade caminhou de
uma lenta escalada para uma aceleração explosiva, principalmente depois da
invenção das tecnologias eletrônicas, das quais a mais importante é a do
computador, que dá início à segunda revolução industrial”. (Zampieri, 2004. p. 64)
Ainda refere que essa mudança de paradigma deve estar sendo vista
como uma nova consciência que precisa ser cuidada, dentro de um contexto de
solidariedade, de compartilhamento de vida e das coisas da natureza, onde
deverá ser embasada pela criação de novas estruturas socioeconômicas, política
e psicológicas.
Segundo Giddens, fazendo referências a estas mudanças que estão
acontecendo: “...modernidade refere-se a estilo, costume de vida ou organização
social que emergiram na Europa a partir do século XVII e que ulteriormente se
tornaram mais ou menos mundiais em sua influência.” (Giddens, 1991. p.11)
“O conceito de modernização” foi introduzido pelas ciências sociais no
período pós-guerra para caracterizar os processos de transição que os países e
nações atrasados, ou subdesenvolvidos deveriam, esperava-se, passar para
alcançar os níveis de renda, educação e produtividade tecnológica característicos
dos países industrializados”. (Schwartzman,S.1988.Revista de Estudos
Avançados, USP, Nº 13. São Paulo).
Giddens diz que em vez de estarmos entrando num período de pós-
modernidade, estamos alcançando um período em que as conseqüências da
modernidade estão se tornando cada vez mais radicalizadas e universalizadas do
que antes.
Grandesso (2000), em sua pesquisa sobre a reconstrução do
significado, cita Anderson que diz: “...o modernismo pode ser considerado como
uma tradição filosófica ocidental que, colocando o ser humano como centro e
dominador do Universo, estende os conceitos cartesianos de objetividade,
certeza, verdade, dualismo e hierarquia até o nosso século”.
20
O objetivo básico desta tradição “....é buscar o conhecimento
fundamental, certo e seguro, de um mundo objetivo que existe independente de
um sujeito cognoscente” (Grandesso, 2000. p.49).
Muitas mudanças aconteceram durante a Modernidade, e o discurso
deste período inclui um conhecimento que se observa e que tem um valor de
verdade e apresenta-se estável. O discurso filosófico da Modernidade mostra um
sujeito que descobre verdades universais, que podem ser descritas em leis
gerais, atemporais e descontextualizadas.
O mundo tem sido surpreendido por crises que têm desencadeado
algumas descrenças na razão, na ciência, na ética e na política e de uma forma
muito brusca nas relações humanas. Sentimentos como amor, solidariedade,
amizade, respeito, e comportamentos como obediência estão se perdendo pelos
caminhos da vida cotidiana. Se tudo parece incerteza, como os pais poderão
formar o filho que será o homem de amanhã? Como veicular conhecimento em
um tempo em que diferentes saberes se chocam e muitas vezes utilizam a
violência para fazer prevalecer suas convicções?
Partindo do princípio de que estamos vivendo um momento de
constantes questionamentos dos paradigmas tradicionais do conhecimento,
podemos entender que a afirmação do advento de uma nova era, a pós-
modernidade, apresenta-se com muitas controvérsias. Muito embora a discussão
acerca da chegada desta nova era não seja recente, existem várias
caracterizações do momento “pós”, de maneira que as fronteiras traçadas entre
aquilo que foi superado e o que se instalou em seu lugar não se constituem em
marcos inequívocos.
O paradigma epistemológico da modernidade começou a ser
questionado a partir de filósofos como Schopenhauer, Nietzsche e Heidegger.
Esta crise coloca em questão a separação de um mundo real e um mundo
ilusório, e a segurança das representações claras e distintas como fundamento de
um conhecimento válido.
21
Alguns pontos são importantes para serem observados em direção ao
abandono do pensamento moderno. Um deles está voltado para a idéia de que a
compreensão humana é uma construção negociada entre as redes conceituais
das pessoas e suas transações no mundo, abandonando assim, a questão
indivíduo-mundo.
Quando o mundo científico se depara substituindo o pensamento
moderno para adentrar um paradigma pós-moderno, percebe-se que o abandono
do mesmo pode evidenciar situações como: “...deixar de lado o conforto e a
segurança dos parâmetros para uma interpretação acurada da realidade, no que
tange aos critérios de produção de conhecimento que ajudam a corrigir os vieses
pessoais, culturais e os erros de julgamento”. (Grandesso, 2000. p.51).
Com o olhar voltado para esses paradigmas é preciso extrair conceitos
que possam ampliar a nossa visão acerca deles. O conceito de pós-modernidade
está associado a mudanças que ocorreram na sociedade industrial e pós-
industrial. E o de pós-modernismo associado às mudanças que ocorreram no
âmbito cultural, estendendo-se às artes, arquitetura; e também o pós-modernismo
epistemológico.
A linguagem assume uma posição importante no discurso pós-
moderno, como um processo de interação, onde as pessoas começam a construir
suas idéias compartilhando com outras num relacionamento de igual para igual.
A pós-modernidade começou a atacar a tríplice relação entre a
natureza, mente e palavras, descartando o dualismo que existe entre a mente e a
natureza e toda a busca pelos fundamentos do conhecimento.
O pensamento pós-moderno vem sendo criticado pelas incertezas e
desconhecimento de uma verdade absoluta. Na visão de Grandesso, o discurso
filosófico da Pós-modernidade não advoga que nada existe, nem que vale tudo,
uma vez que o próprio discurso se submete a desafio. Quando é negada a
possibilidade de um conhecimento objetivo e de certeza sobre uma realidade
ontológica, o pensamento pós-moderno pode validar outras bases
epistemológicas, revolucionando as ciências em geral, e as práticas delas
decorrentes.
22
A autora relata que o profissional que trabalha na área da Psicologia e
adota uma visão Pós-moderna, “... valoriza o singular, o idiossincrático e o
contextualmente situado, em vez das leis gerais. Antes de procurar pelos fatos, o
psicólogo Pós-moderno busca pelos significados, e estes nem são fatos objetivos,
nem subjetividades inerentes à pessoa do psicólogo. Em uma concepção pós-
moderna, o conhecimento psicológico pertence ao domínio do intersubjetivo no
qual os significados são construídos nos espaços comuns de pessoas em
relação.” (Grandesso, 2000. p.53).
Pode-se dizer que “educação de filhos” é um processo onde os pais
tentam transmitir aos filhos os conhecimentos e atitudes importantes para que
eles tenham condições de integrar-se e viver dignamente dentro do contexto
social. Partindo deste princípio, é necessário que um trabalho direcionado à
educação esteja em sintonia com os paradigmas da Pós-modernidade, possibilite
a reflexão por parte dos pais sobre o desempenho do papel parental, mostre a
possibilidade dos mesmos de construir uma linha educativa peculiar à sua própria
família no próprio processo de educar, procurando não seguir regras pré-
estabelecidas para o desenvolvimento do mesmo.
Para falar em educação numa era pós-moderna é importante destacar
conceitos, tais como da competência para educar. “A noção de competência
refere-se à capacidade de compreender uma determinada situação e reagir
adequadamente frente a ela, ou seja, estabelecendo uma avaliação desta
situação de forma proporcionalmente justa para com a necessidade que ela
sugerir a fim de atuar da melhor maneira possível”. (Perrenoud, Thuler, Macedo,
Machado, Allessandrini, 2002. p.163).
A competência para educar é algo que pode ser olhada por uma visão
sistêmica, dependendo do foco por onde se olha. Devemos compreender que o
sistema permanece em constante movimento e que, por esta razão, reconhece
determinado aspecto, ora como habilidade, ora como competência.
Para que os pais tentem conseguir desenvolver competências junto aos
filhos, é importante desenvolver e redescobrir as suas próprias competências.
Desenvolver a capacidade de enxergar o outro, de senti-lo, de vê-lo e de avaliá-lo,
de observá-lo, para que, a partir desse processo, possam promover uma linha de
ação que favoreça o crescimento.
23
Para uma melhor compreensão e percepção dos comportamentos
negativos que foram transmitidos através da educação que receberam de seus
pais, os mesmos precisam fazer uma reavaliação deste processo. Desta forma,
poderão acreditar que terão condições de desenvolver comportamentos diferentes
durante o desempenho do papel parental, construído através de experiência
vivenciada no seu dia-a-dia com a família. É necessário que consigam identificar
essas situações e aprendam a lidar com elas, em favor das crianças, dos
adolescentes e da família como um todo.
24
1.1 Aspectos Históricos
Educar filhos tem sido uma preocupação social que vem sendo motivo de
desconforto ao longo dos anos, e que causa certo incômodo aos pais, em função
da percepção de que, para desenvolver os papéis parentais, estes não têm uma
experiência no exercício desta função e sim, muitas vezes repetem os modelos
vividos dentro do núcleo familiar onde estiveram inseridos. Esta situação vem se
apresentando desde a família medieval e adentra os tempos modernos
apresentando nuances diferentes, acompanhando todas as mudanças sociais e
culturais às quais a sociedade humana está exposta.
Philippe Áries (1981), em seu livro História Social da Criança e da Família
enfoca algumas mudanças que ocorreram dentro do contexto familiar desde o
século XIV, na Europa, mostrando o desenvolvimento do conceito de família,
caracterizando as nuances da tradicional família francesa e valorizando a forma
como o papel parental foi se desenvolvendo de uma geração para outra.
No relato do autor, o contexto do sentimento de família até o século XIV
esteve descaracterizado. “A criança tinha condições de viver sem a solicitude
constante da sua mãe ou de sua ama, ingressava na sociedade dos adultos e não
se distinguia mais destes” (Áries, 1981. p 99). Em seguida começou um processo
de educação para formação da família nuclear, onde os filhos começaram a
ocupar um lugar de destaque na vida dos pais a partir dos séculos XV e XVI, e o
surgimento família moderna por volta do século XVIII.
Segundo Silva, “....a tradição de entregar os filhos a amas-de-leite para
que estas os amamentassem remonta o mundo ocidental à Antiguidade, sendo
posta em prática de maneira diferente nos vários países Europeus e nas suas
colônias da América. Em Portugal, as Ordenações Filipinas estipulavam: se
alguma mãe fosse “de tal qualidade e condição” que não devesse “com razão
criar seus filhos ao peito”, as crianças seriam dadas a uma ama-de-leite.” (Silva,
1998. p. 207)
No final do século o panorama da relação pai-filho na Europa mostrava
uma falta de afeição dos ingleses manifesta-se particularmente em sua atitude
com relação às suas crianças, após conservá-las em casa até a idade de sete
anos ou nove anos,segundo Áries.
25
Em seguida relata que estas crianças depois dos sete anos eram
colocadas nas casas de outras pessoas, para fazerem os serviços pesados até
completarem os dezoito anos. Relata o quanto era comum as crianças exercerem
os serviços domésticos, que eram confundidos com a aprendizagem, com uma
forma muito comum de educação. A criança aprendia pela prática, e essa prática
não parava nos limites de uma profissão, ainda mais porque na época não havia
limites entre a profissão e a vida particular, a participação na vida profissional.
Através do serviço doméstico que o mestre transmitia a uma criança, geralmente
ao filho de outro homem, toda sua bagagem de conhecimentos, a experiência
prática e o valor humano que pudesse possuir. Desta maneira, as crianças eram
educadas através do que aprendiam, observando os modelos de pessoas com as
quais conviviam no dia-a-dia. Independente do nível social, este era um hábito
que costumava ser empregado em todas as casas. A função da família nesta
época era apenas a de assegurar a transmissão da vida, do nome e dos bens
materiais.
Segundo Áries, “....a partir dos séculos XV e XVI, começou-se a distinguir
melhor dentro do serviço doméstico os serviços subalternos dos ofícios mais
nobres, o serviço da mesa continuou a ser tarefa dos filhos de família e não dos
empregados pagos. Para parecer bem educado, não bastava como hoje saber
comportar-se à mesa: era preciso também saber servir à mesa.”(Áries, 1981. p.
157).
Nesse período, na Europa, realmente não havia espaço para
aprendizagem através da Escola, onde habitualmente a transmissão do
conhecimento de uma geração a outra era garantida pela participação familiar das
crianças na vida dos adultos. Desta forma pode-se explicar essa mistura de
crianças e adultos.
Ao longo dos séculos XV e XVI, coincidindo com o Renascimento, o
sentido de viver em família começa a ser modificado. Segundo a obra de Áries, o
que se observou nesta mudança significativa foi que os filhos começaram a
ocupar um lugar mais especial na família, e os pais começaram a ficar mais
preocupados com a educação formal. Essa volta das crianças ao lar foi o marco
da família nas relações familiares. As crianças ocuparam um lugar indispensável
na família, e os pais começaram a se dedicar mais à sua educação, futuro e
26
carreira. Os cuidados executados pelas amas-de-leite foram gradativamente
substituídos pela entrada da criança na Escola. Percebe-se neste relato do autor
uma inversão nos papéis desempenhados pelas crianças: que saíram dos
cuidados de uma situação de serviçais para adentrar no mundo da educação
através do convívio com o mundo das letras e dos números.
O surgimento da família moderna começa a se caracterizar a partir do
séc. XVII e, esta mudança começa a ser formalizada em meados do séc. XVIII
com os filhos ocupando um lugar de destaque, sendo dada prioridade à educação
formal através da escolarização. Neste século, além de elementos como disciplina
e racionalidade de costumes, foram associados elementos como a preocupação
com a higiene e com a saúde física. Aos pais de família cabiam três tarefas
principais nessa época: controlar sua mulher, educar bem os filhos e governar
bem os criados.
Áries diz que a partir desse século “...havia também uma grande
preocupação com sua saúde e até mesmo sua higiene. Tudo o que se referia às
crianças e à família tornara-se um assunto sério e digno de atenção. Não apenas
o futuro da criança, mas também sua simples presença e existência eram dignas
de preocupação – a criança havia assumido lugar central dentro da família.”
(Áries, 1981, p.104).
Uma revolução gradativa e profunda começou a se instalar nas relações
familiares, modificando o olhar da família como um todo. As famílias apropriaram-
se da Escola como forma eficaz na educação dos filhos, e isto se espalhou por
diferentes classes sociais. Um movimento de intimidade entre pais e filhos
começou a se instalar e estes não mais precisavam freqüentar escolas distantes
de suas ou casas, nem mesmo serem criados por pessoas estranhas. Nesse
momento houve uma apropriação da prole pelos pais, que começaram uma nova
era onde os cuidados pelos filhos, a responsabilidade pelo desenvolvimento dos
mesmos e o bem estar da família passaram a ser bastante valorizados.
A partir do Século XVIII, a família começou a se mostrar mais agregada e
aconteceu uma separação da sociedade público-privada que foi colocada à
distância. A casa passou a ser organizada de maneira diferente, era a casa
moderna, onde havia independência dos cômodos. Nesse início de século os
costumes começaram a mudar: já não era natural ir à casa de um amigo a
27
qualquer momento, sem avisar. Áries relata que: “...outrora se vivia em público e
em representação, e tudo era feito oralmente através da conversação. Agora,
separava-se melhor a vida mundana, a vida profissional e a vida privada: a cada
uma era determinada um lugar apropriado como um quarto, o gabinete ou o
salão.” (Áries,1981, p.185).
A família moderna é uma família diferenciada daquela dos tempos
antigos, onde nem sempre os filhos ocuparam o centro das atenções dos seus
pais. A preocupação com as crianças foi ocupando, gradativamente, um espaço e
tornando-se centro das atenções da família.
A valorização dos filhos começa a passar por mudanças, e a partir dessa
época a preocupação em relação à igualdade entre os filhos foi um marco
bastante forte na Europa.
Rousseau teve um papel fundamental na mudança das idéias a respeito
da família. Segundo Berthoud: “....a partir das idéias de Rosseau, muitos médicos,
higienistas e moralistas publicaram tratados sobre a importância da
amamentação, que foi um dos movimentos mais importantes para a construção
de um novo significado para o papel de mãe, no decorrer do século seguinte: a
mãe que ama natural e instintivamente seu filho.” (Berthoud, 2003. p.28)
Neste início de século a literatura começou a transformar-se, e
começaram a surgir os tratados sobre a arte de fazer sucesso na vida. Um desses
tratados, o “tratado de civilidade”, estava direcionado à família. Áries diz que este
não era um livro escolar, mas que satisfazia uma necessidade de educação mais
rigorosa. Com esses manuais de civilidade aprendia-se a ler e escrever num
processo de escolarização onde eram transmitidas regras de condutas. Estes
livros não se destinavam apenas às crianças, como também àqueles estivessem
interessados em educar-se com polidez e adentrar na sociedade com polidez e
segurança.
O estreitamento dos laços afetivos entre pais e filhos começou a tornar-
se mais forte, e os papéis dentro da família foram se modificando gradativamente,
provocando uma aproximação maior do núcleo familiar e, conseqüentemente,
mais intimidade entre pais e filhos dando início ao que hoje denominamos “família
moderna”.
28
Berthoud relata que: “...o novo grupo – a família moderna emergente,
nuclear – afasta-se do convívio compartilhado com a comunidade e refugia-se na
casa, organizada física e funcionalmente de forma totalmente diferente daquela
dos séculos anteriores. As pessoas voltam-se para dentro; agora com um menor
número de pessoas torna-se mais profundas.” (Berthoud, 2003. p.29)
A mudança dos costumes dentro do contexto familiar abriu uma
passagem maior para a intimidade, o que reduziu a família aos pais e às crianças,
e passaram por um momento de exclusão os criados e os amigos. A partir do
Século XIX, o sentimento de família começou a ser modificado, passando de uma
família silenciosa para uma família que falava muito e que invadia a intimidade
uns dos outros. Os pais modernos tinham a chance de começar a mudar suas
relações com seus filhos, responsabilizando-se e comprometendo-se com a
criação e educação dos mesmos. A autoridade masculina torna-se um padrão
constituído dentro das famílias, iniciando assim, um período onde reina o
patriarcado.
Nesta época, “... ninguém ousaria então se consolar da perda de uma
criança com a esperança de ter outra, como ainda se confessava um século
antes. Este pequeno era um ser insubstituível, e sua perda, irreparável. E a mãe
encontrava sua alegria no meio de seus filhos, que não mais pertenciam a um
meio intermediário entre o não ser e o ser.” (Áries,1981. p.187). Esta afirmação
evidencia progressos em relação aos sentimentos de infância, e uma
preocupação maior com a criança, a saúde e outras formas de laços afetivos que
uniam naquela época a família.
No que refere à família moderna, este autor diz que “...separa-se do
mundo e opõe à sociedade o grupo solitário dos pais e filhos. Toda a energia do
grupo é consumida na promoção das crianças, cada uma em particular, e sem
nenhuma ambição coletiva: as crianças, mais do que a família.” (Áries, 1981.
p.189).
Nesse momento observou-se uma mudança nos costumes na Europa e a
vida familiar foi agregada a toda a sociedade, onde as pessoas até esqueciam
que eram de uma classe aristocrática e burguesa. As boas maneiras continuavam
a ser evidenciadas tanto quanto antes, mas foram perdendo o conteúdo moral e
começaram a deixar de ser uma virtude.
29
Segundo Berthoud, nessa época: “...os papéis e as funções de cada
membro do sistema familiar são claramente definidos: cabe ao marido a direção
da casa, dos negócios e da família, sendo ele o responsável pelos padrões de
comportamento da mulher e dos filhos, ele é educador e provedor; à mulher cabe
obedecer as ordens do marido e satisfazer seus desejos, a organização e os
cuidados com a casa, marido e filhos, sendo também a responsável pela saúde e
educação, ela é essencialmente cuidadora; aos filhos cabe ajudar a família e
prestar toda obediência ao pai.” (Berthoud, 2003. p.29)
Tendo conquistado os pais, a criança da família moderna tornou-se
importante, e os mesmos começaram a preocupar-se com a educação, a carreira
e o futuro de seus filhos. Segundo Áries,“....a família moderna retirou da vida
comum não apenas as crianças, mas uma grande parte do tempo e da
preocupação dos adultos. Ela correspondeu a uma necessidade de intimidade, e
também de identidade: os membros da família unem-se pelo sentimento, o
costume e o gênero da vida.” (Áries,1981.p.195).
A função principal do casamento está relacionada à procriação, onde os
pais depositam a realização de iniciarem o desenvolvimento dos papéis parentais
como também atendem suas expectativas pessoais e sociais. Diferente de outras
épocas, dentro da família moderna ter filhos significa concretização de sonhos
pessoais, continuação da prole e realização para o homem e a mulher.
Berthoud diz que na família moderna “...o sentimento de infância,
construído anteriormente, fortalece-se imensamente no século XX, sendo a
criança pequena o centro das atenções das jovens famílias. Além disso, há o
reconhecimento da adolescência, na medida em que os filhos passam mais anos
nas instituições educacionais, demorando assim muito mais tempo para tornarem-
se independentes e constituírem novas famílias. Os pais tornam-se cuidadores
por excelência, a eles cabendo cuidados, proteção, saúde e educação dos filhos
por períodos cada vez mais longos”. (Berthoud, 2003. p.30)
O advento da informática, as inovações tecnológicas que aconteceram no
século XX e estão adentrando o século XXI propiciaram uma mudança brusca no
olhar e no desenvolvimento dos papéis parentais e a família passa por
transformações importantes. Segundo Berthoud “...a profunda mudança de
paradigma que caracteriza hoje nossa sociedade reflete-se de forma indelével no
30
núcleo familiar. Em um espaço de apenas quatro a cinco décadas, valores e
padrões de comportamentos foram criticados, desconstruídos e revisados pelo
indivíduo e pela família, e assim, chegamos às proximidades de um novo século
em uma fase de transição de grande importância para a vida familiar e social,
marcada principalmente pela instabilidade, incerteza”.(Berthoud, 2003. p.30).
Neste século as famílias começam a conviver com uma diversidade de
configurações familiares, o que muitas vezes podem dificultar o exercício do papel
parental, mas, é importante salientar que todas estas situações nos mostram a
vontade e necessidade dos pais de exercerem este papel que a cada dia torna-se
mais importante dentro do núcleo familiar.
31
Características da Educação de filhos na Europa, segundo Áries (1981).
Período
Tipologia
Familiar
Condição de vida das
famílias
Características dos
pais
Condições dos filhos
Séc. XIV
- Família medieval - Sentimento de família
ausente.
- A família era uma
realidade moral e
social, mais do que
sentimental.
- Preocupavam com a
prosperidade do
patrimônio e a honra do
nome.
- A criança muito cedo
escapava da sua família.
- Não tinham um
sentimento existencial
profundo em relação aos
pais.
Séc. XV
- Família medieval - Necessidade de
proteção e
sobrevivência.
- Pais viviam imbuídos
de interesses pelas
posses e continuidade
da manutenção da
família.
- Filhos criados longe das
mães por amas de leite.
Séc. XVI
- Família medieval - Casamentos
realizados por
interesse
- Pais muito voltados
para o contexto social.
- Filho entregue para
serem criados por outras
famílias.
Séc. XVII
- Família medieval
- Família Moderna
- Valores relacionados
a sentimento,
intimidade.
- Família organizada
em função da
educação das crianças.
- Pais voltam-se para
dentro da família.
- Modificação das
relações internas com
as crianças.
- Filho primogênito
privilegiado.
- Filhos mais próximos dos
pais.
- Família organizada em
função da educação das
crianças.
Séc. XVIII
- Família moderna - Manutenção da
privacidade da família.
- Desejo dos pais pela
escolarização.
- Tratado de civilidade,
que transmitia regras de
conduta não escolares.
- As crianças misturavam-
se com os adultos
- Boas maneiras eram
parte principal da
educação.
Família burguesa
-Reina o patriarca
- Nova intensidade
emocional
- Valor de privacidade
até então inéditos
- Pais custeavam os
estudos.
- Esposa fica mais
tempo com a criança.
- Maior intimidade entre
pais e filhos.
- Formação de laço afetivo
com a mãe.
- Influenciados diretamente
na construção da moral
dentro das regras da
sociedade.
- Sentimento de igualdade
entre as crianças pôde
desenvolver-se num novo
clima afetivo e moral.
Séc. XIX
Família da classe
trabalhadora
Revolução
Industrial
- Condições de
angústia social e
econômica.
- Assemelhou-se ao
modelo da burguesa.
- Primeiro momento os
pais trabalhavam nas
fábricas.
- Segundo momento foi
resgatado sentido de
família.
- Filhos ficavam nas ruas.
- Não tinham atenção dos
pais.
- Filhos mais cuidados
pelos pais.
Séc. XX
Oriunda da família
burguesa
Família
contemporânea
- Autoridade masculina.
- Papéis e funções dos
membros da família
definidos.
- Casamento visa
procriação.
- Ter filhos torna-se
um valor para o casal.
- Satisfação de
expectativas pessoais.
- Responsabilizam-se
pela criação e educação
de sua prole.
- O pai enquanto estava
afastado se mantinha a
par da vida dos filhos.
- Crianças recebem mais
carinho.
- Tratadas por diminutivos
familiares.
- Maior intimidade com os
pais dava sensação de
mais segurança às
crianças.
32
1.2 Educação dos filhos no Brasil
A colonização do Brasil iniciou-se com os imigrantes que chegaram a
terras brasileiras junto com suas mulheres e filhos. As famílias dos donatários de
Capitanias nunca os acompanhavam. Em meados do Séc. XVI as frotas que
chegavam ao País normalmente traziam homens e soldados que tinham
capacitação para trabalhos necessários às capitanias, e também alguns casais.
De acordo com pesquisas feitas por Silva acerca da “Família nos dois
primeiros séculos da Colonização”, “...aqueles que nos primeiros tempos
deixaram o Reino para esta capitania já casados, e até com filhos pertenciam
sobretudo à fidalguia portuguesa e pouco tempo permaneceram no Brasil.” (Silva,
1998. p.11)
Cerveny relata que: “....os estudos sobre a família brasileira mostram que
a rede familiar no período colonial era uma instituição vertical, baseada no
parentesco, em lealdades pessoais e em territorialidade.” (Cerveny, 2001. p. 20)
Segundo Berthoud, “...o colonizador demonstrava sua virilidade – atributo
extremamente valorizado socialmente – na intimidade com suas escravas e
moleques (que muitas vezes eram seus próprios filhos, gerados com escravas).
Já a mulher tinha a função social de tornar-se esposa apenas para ser
reprodutora da legítima descendência do marido.” (Berthoud, 2003. p. 31)
Como foi descrito no capítulo anterior, existia uma tradição na Europa da
Antiguidade que os filhos fossem entregues às amas-de-leite com o objetivo de
amamentá-los, e isto foi colocado em prática em diferentes países europeus e
suas colônias na América, inclusive no Brasil.
No Brasil colonial, o papel da ama negra foi bastante importante na
criação dos filhos, embora esta prática tenha sido pouco documentada em
pesquisas científicas. Pode-se explicar este fato por causa da exploração dos
patrões que as faziam exercer o papel de escrava juntamente com os serviços de
empregada doméstica fazendo todo serviço da casa grande.
33
Era comum naquela época, que a escrava fosse cedida para exercer a
função de ama-de-leite para alguém que dela precisasse, retornando então para
suas funções de serviçal da casa.
A amamentação dos recém-nascidos por escravas tornou-se um fato
corriqueiro do cotidiano que não merecia referência; em contrapartida, a criação
daquelas crianças que tinham sido abandonadas pelas mães constituía um
problema social que as autoridades procuravam resolver.
No período colonial acontecia um número grande de abandono de recém-
nascidos no Brasil, isto mais diretamente ligado à honra das mães solteiras do
que com as dificuldades que um casal pobre tinha de enfrentar para a criação dos
próprios filhos, como habitualmente acontecia no próprio reino. Alguns estudos
mostram que a maioria dos expostos era da raça branca, e a explicação para isto
era que as mães negras não passavam por pressões sociais em relação à honra,
tais como as brancas.
A educação literária nesta época ficou restrita a um número muito
pequeno de crianças e jovens e, até meados do século XIX, estes eram
exclusivamente do sexo masculino. Silva diz que “...desde o séc. XVI os colégios
jesuítas tinham dois objetivos fundamentais: por um lado, ensinar a ler e escrever
aos meninos”. (Silva, 1998. p. 219)
Os relatos sobre a família nos tempos coloniais trazem sempre a
necessidade de educar o filho homem, muitas vezes ensinando o exercício da
atividade religiosa. Esta atividade nem sempre era bem aceita pelos filhos. Os
pais certamente viam a vantagem do ensino religioso para os filhos que iriam
seguir a carreira eclesiástica e que, portanto, estariam mais cedo ou mais tarde
na dependência do bispo. Por outro lado, os pais queriam evitar o recrutamento
dos filhos para o serviço militar e nos seminários e conventos eles estavam
protegidos. Muitas famílias mandavam os filhos para as aulas nos seminários, e
outras, pagavam professores com o rendimento dos impostos que na época era
conhecido como subsídio literário, e posteriormente enviavam os mesmo para os
colégios.
34
A organização da Família Brasileira começa a mudar a partir do século
XIX, onde começam a aparecer características peculiares da família burguesa,
tais como intimidade familiar, núcleo familiar conservado.
O autor conta que “...paralelamente às aulas régias, gratuitas e
freqüentadas apenas por alunos externos, irrompeu nas principais cidades do
Brasil na segunda década do séc. XIX um ensino particular variado, ministrado
principalmente a “porcionistas” ou alunos internos, embora os de fora também
fossem aceitos com mensalidades mais baixas. Esta possibilidade de internar os
filhos nos colégios permitia aos pais que moravam fora da cidade não despender
com o aluguel de casas nem com a alimentação das crianças fora do colégio.”
(Silva, 1998. p.225)
Nesta época enviar o filho para a Faculdade de Coimbra era uma
situação bastante importante na educação dos mesmos, porque era uma
oportunidade deles se adaptarem a viver num contexto e clima diferentes, sob os
cuidados dos pais à distancia para que nada lhes faltasse e não caíssem nas
tentações da sociedade coimbrã.
Os estudos feitos por Silva revelam ainda que: “...a ida de um jovem
sozinho para a metrópole acarretava para o pai alguns cuidados e preocupações,
não só com o bem-estar e a saúde do estudante, mas também com o controle das
despesas. O estudante não podia receber uma mesada demasiado escassa nem
demasiado pródiga. Havia que saber resistir às tentações e às más companhias,
havia que preparar o terreno para a carreira futura, fosse eclesiástica, fosse na
magistratura.” (Silva, 1998. p.228)
Numa das visitas á Fundação Joaquim Nabuco, em Recife-Pernambuco,
(2005) pesquisadores contam que às filhas mulheres das colônias cabia serem
encaminhadas para os conventos em Portugal, enquanto não foram criados
conventos no Brasil com um número suficiente para acomodá-las, pelo seu
estatuto social elevado. Referem que havia uma disputa pelos lugares nos
conventos, e que muitas vezes, as jovens que quase sempre usavam véus
brancos podiam esperar longos períodos para se professarem.
Muito já foi escrito em relação a estes recolhimentos que foram fundados
nas principais vilas e cidades do Brasil, bem como nas regiões mais afastadas
35
onde foram criadas casas de reclusão feminina. Algumas vezes os pais
entregavam estas filhas para estes recolhimentos com o objetivo de elas “se
exercitarem”.
As mulheres começavam a assumir funções na sociedade, enquanto as
moças que passavam tempos nos recolhimentos ficavam limitadas a aprender a
ler e escrever, contar, bordar e costurar, porque isto era o suficiente para tomar
conta de suas casas.
A educação feminina antes da Independência circunscrevia-se, quer nos
colégios, quer com professores particulares, às primeiras letras acompanhadas
geralmente de costura e bordados, e mais raramente de uma língua estrangeira,
música e desenho. As famílias brasileiras começaram a se preocupar um pouco
com a instrução das moças, o que não tinha sido feito durante quase três séculos
de vida conventual. Este fato explica-se através das comparações que eram feitas
em relação à permanência de inglesas e francesas que se fixaram no Brasil.
Nesta época já se falava em conflitos entre pais e filhos, e uma das áreas
de atrito acontecia de forma similar ao momento da escolha dos cônjuges,
principalmente quando esses filhos eram menores de idade e necessitavam da
autorização paterna, ou até da mãe viúva para poderem casar-se.
“Ser família” na sociedade contemporânea demanda expectativas que
estão inseridas no imaginário coletivo relacionadas à família nuclear. Dentre
essas expectativas podemos imaginar idealizações voltadas para proteção,
cuidados, aprendizado dos afetos, construção de vínculos duradouros que
permitam a promoção de qualidade de vida e inserção de seus membros dentro
da sociedade em que vivem.
Carvalho (2005) cita Afonso & Figueiras que diz que é preciso estar
atento à forma que se movimenta esta família: “....esse movimento de
organização-reorganização torna visível a conversão de arranjos familiares entre
si, bem como reforça a necessidade de se acabar com qualquer estigma sobre as
formas familiares diferenciadas. Evitando a naturalização da família, precisamos
compreendê-la como grupo social cujos movimentos de organização-
desorganização-reorganização mantêm estreita relação com o contexto sócio-
cultural. (. . .) É preciso enxergar na diversidade não apenas os pontos de
36
fragilidade, mas também a riqueza das respostas possíveis encontradas pelos
grupos familiares, dentro de sua cultura, para suas necessidades e projetos.”
(Carvalho, 2005. p.15)
Essa idéia de movimento nos remete a fazer uma relação dentro do
nosso trabalho aos comportamentos dos pais, porque acreditamos que os pais
acomodados permitem que os filhos sobreponham o papel parental, e aqueles
que estão em constante movimento na busca de mudança, conhecimento e
aprendizagem podem conseguir fazer importantes construções no relacionamento
pais-filhos.
A socialização do ser humano ocorre simultaneamente no contexto onde
o individuo está inserido, seja na família, Escola, Igreja ou entre os grupos sociais.
As constantes mudanças que ocorreram nas sociedades ocidentais podem
comprometer a ação dos adultos, na visão da nova geração, para passar
conceitos, modelos de comportamentos e ações que sejam eficazes para orientar,
direcionar e construir uma formação de valores sociais e familiares mais
aceitáveis.
Berthoud refere que “...a parentalidade, tal como a conhecemos hoje, é
uma construção social bastante recente na história da humanidade. Os valores,
padrões de comportamento e, em especial, o significado da família e da
parentalidade, refletem os valores e padrões sociais de uma época. Assim, o
exercício da função parental tem acompanhado as mudanças culturais ao longo
da evolução da sociedade humana.” (Berthoud, 2003. p.26)
As pesquisas feitas por Cerveny e Berthoud na família paulista
(1997;2002), delineiam uma perspectiva ampla na família brasileira. Segundo
Cerveny, “…podemos dizer que não existe a “ família brasileira”, mas sim, as
“famílias brasileiras”, configuradas por padrões econômicos, sociais e culturais
diversos, nos quais perpassam ainda características da vida contemporânea, seja
rural ou urbana, que demandam do núcleo familiar adaptações e transformações,
no movimento constante de adequação funcional às vicissitudes da vida”.
(Cerveny, Berthoud, 2000. p.13).
37
Neste estudo as autoras propõem uma caracterização da família ao longo
do ciclo vital, definindo 4 etapas específicas: família na fase de aquisição; família
na fase de adolescência; família na fase madura e família na última fase.
A fase de aquisição tem como característica a união formal ou informal do
casal, o nascimento dos filhos e o processo inicial da vida familiar. Nesta fase, as
autoras caracterizam, inclusive, a aquisição de bens materiais, de novos
relacionamentos dos cônjuges, adoção de novos valores e papéis para cada um
dos integrantes da família. Neste momento podem ser negociados os valores e as
regras familiares no tocante à construção do modelo particular daquela família
que está sendo formada.
Na fase seguinte, a que evidencia os filhos na adolescência, a família
passa por um momento de transformações, onde ocorre um questionamento dos
valores, regras e valores familiares.
A família na fase madura tem como característica os filhos na idade
adulta, e um processo de maturidade começam a ser instalado, onde acontece
uma equiparação entre os pais e filhos em relação à independência e a
capacidade de gerenciar suas vidas. Neste momento acontece um movimento
onde os filhos desafiam os pais a fazer uma revisão dos seus objetivos de vida.
Os pais passam a preocupar-se com assuntos referentes a questões pessoais
como aposentadoria e mudanças dos padrões de vida.
Na última fase do ciclo vital, Cerveny e Berthoud definem as
transformações que acontecem na estrutura familiar caracterizadas pelo
envelhecimento dos pais. Ressaltam que no Brasil ainda existe uma dificuldade
em gerenciar as famílias com idosos dentro do núcleo familiar, ao contrário do
que acontece com outras culturas, especificando a cultura oriental como exemplo.
Muitas pesquisas feitas no Brasil acerca da família nos mostram uma
grande diversidade na sua organização, tanto em relação à composição familiar
quanto às formas de sociabilidade que percorrem o seu interior.
Carvalho (2005) em seu livro “A família contemporânea em debate”, onde
trata questões relacionadas à autoridade e poder na família, cita Romanelli que
diz que “....as formas de sociabilidade existentes entre os integrantes da família
organizam-se por relações estruturalmente complementares, porém de natureza
38
distinta. A divisão sexual e etária do trabalho é um princípio fundamental que
delimita posições e papéis diferenciados de acordo como gênero e a idade dos
componentes da unidade doméstica.” (Carvalho, 2005. p.74)
Diante das definições hierárquicas, onde regulam direitos e deveres
específicos, porém, com algumas desigualdades, a família é constituída com
elementos que definem a cena doméstica, onde marido e esposa estão na escala
hierárquica de autonomia e poder.
Carvalho (2005) cita Bilac que pontua a diversidade na composição da
instituição doméstica e suas relações internas.
Tipo de família Filhos Data Percentual
Família Nuclear
(pai, mãe e filhos)
Biológicos ou Adotivos 1987 71%
Famílias Matrifocais
(mulher e seus filhos)
Filhos da união de um companheiro, permanente
ou ocasional
1987 14, 4%
Famílias ampliadas
(casal, filhos e outros
parentes)
Biológicos ou adotivos 1987 12, 25
(Carvalho, 2005. P. 74).
Observa-se que uma das características da família no mundo
contemporâneo está relacionada a um afastamento dos conceitos de tradição. No
Brasil estamos vivendo numa sociedade que está ao longo do tempo perdendo o
acompanhamento das tradições. Estamos vivemos uma época em que as
mudanças ocorrem além do nosso olhar, como em nenhuma época anterior.
Neste momento, a individualidade vem assumindo um papel de destaque
na vida das pessoas e das famílias. As situações que anteriormente eram vividas
como papéis pré-estabelecidos, como o amor, casamento, família, sexo,
começam a apresentar-se de outra forma, como parte de um projeto de
individualidade e adquirindo cada vez mais importância social.
39
Este momento de individualização está muito ligado à atuação da mulher
neste século, e isto se deve a fatores como: a mulher controlando a reprodução,
optando por ser parte atuante na composição financeira da casa e delegando o
cuidado dos filhos a terceiros (creche, escola, babás, avós). Este fator causa um
impacto grande no núcleo familiar onde as pessoas lutam pela individualidade.
Carvalho(2005) cita Sarti que diz que: “...a família é uma esfera social
marcada pela diferença complementar, tanto na relação entre marido e mulher,
quanto entre pais e filhos. O caráter relacional da família corresponde à lógica de
sua própria constituição. Embora comporte relações do tipo igualitário, a família
implica autoridade, pela sua função de socialização dos menores como instituinte
da regra. O que se questiona, na família, com a introdução da individualidade, não
é a autoridade em si, mas o princípio da hierarquia na qual se baseia a autoridade
tradicional. Há, portanto, duas áreas em que as mudanças incidiram de forma
significativa, alterando a ordem familiar tradicional: a autoridade patriarcal e a
divisão dos papéis familiares, modificando substancialmente as relações entre o
homem e a mulher e aquelas entre os pais e filhos no interior da família”.
(Carvalho, 2005. p.44)
Percebe-se na atualidade que a relação pais/filhos mudou bastante, e
saiu dos padrões preestabelecidos, para critérios muito abrangentes de
negociações. As situações ligadas a direitos e deveres das pessoas dentro do
núcleo familiar estão cada vez mais sendo substituídas por situações de
negociações, onde os dois lados precisam ser coerentes. Os filhos buscam cada
vez mais a independência e autonomia, situações estas que são vistas pelos pais
com desconforto e insegurança.
A sociedade vem fazendo movimentos na direção inversa a dos padrões
preestabelecidos. Os papéis desempenhados pelos pais e filhos estão cada vez
mais deixando o tradicional, e o contexto sexual assumindo proporções que
deixam os pais aflitos. É uma época de mais liberdade, as mulheres assumindo
uma posição mais definida sexualmente, os casais homossexuais lutando por
direitos de preferência sexual. Hoje observamos um questionamento do papel
masculino na escala hierárquica familiar, porque a mulher está muito atuante,
tanto financeiro quanto intelectualmente.
40
Essas transformações foram estudadas e citadas pelo sociólogo inglês
Anthony Giddens ao dizer: “...quando grandes áreas da vida de uma pessoa não
são mais compostas por padrões e hábitos preexistentes, o indivíduo é
continuamente obrigado a negociar opções de estilo de vida. Além disso – é isto
crucial -, tais escolhas não são apenas aspectos ”externos” ou marginais da
atitude do indivíduo, mas definem quem o indivíduo é.”(Giddens,1993. p.87).
A família nuclear brasileira, que hoje assume uma organização diferente
de outrora,está imbuída de uma formação que cabe à mulher o desempenho de
novos papéis emocionais, sexuais e a vida familiar está centrada na convivência
afetiva , de cuidados e responsabilidade pelos filhos. Hoje, a família brasileira
está mais afetuosa, apresentando características semelhantes à da família
burguesa. Isto nos remete a idéia de que a vontade e necessidade dos pais
procurarem orientações e possibilidade de uma revisão de valores fazem parte
deste macro movimento pelo qual a sociedade está passando. A família nuclear
passa a ser enquadrada num contexto social e pessoal.
41
Características da Educação de filhos no Brasil
Período Tipologia familiar
Condição de vida
das famílias
Características dos
pais
Condições dos filhos
Séc. XVI
Séc. XVII
Família aristocrática
- Hierarquia
aristocrática
- Baseada na vida
cotidiana das aldeias
- Família era a
própria aldeia
- Comunidades
- Papéis impostos por
rígidas tradições
- Privacidade dos
membros da família
não era respeitada a
não ser do pai
- Relação superficial
com os filhos
- Sem nenhuma
intimidade
- Mãe cuidava dos
filhos, auxiliada por
moças de fora do
grupo familiar.
- Filhos levados a outros
castelos para serem criados por
amas de criação
- Primeiro contato da criança
não era com os pais
- Eram criados por alguém
estranho ao lar
Séc. XVIII
Família Patriarcal
- Baseada na moral
cristã
- Sexo e trabalho
manual degradavam
o homem
- marido tinha relação
de conveniência com a
esposa
- mulher tinha função
de reprodutora
- cuidado das crianças pelas
escravas
Séc. XIX
Família burguesa
- Nova intensidade
emocional
- Valor de
privacidade até então
inéditos
-Mãe responsável pela
educação dos filhos
- Pais custeavam os
estudos
- Esposa fica mais
tempo com a criança
- Formação de laço afetivo com
a mãe
- Influenciados diretamente na
construção da moral dentro das
regras da sociedade
Séc. XX
Família
contemporânea
- Família Nuclear
(pai, mãe e filhos)
- Famílias Matriarcais
(mulher e seus filhos)
- Famílias ampliadas
(casal, filhos e outros
parentes).
- Mãe no mercado de
trabalho
- Pais entregam os
cuidados dos filhos a
babás, avós.
- Biológicos ou Adotivos
- Filhos da união de um
companheiro, permanente ou
ocasional.
- Formação de laço afetivo com
as mães, mas tem ela muito
ausente pelo trabalho.
Séc. XXI
Família
Contemporânea
- Família Nuclear
(pai, mãe e filhos)
- Famílias Matrifocais
(mulher e seus filhos)
- Famílias ampliadas
- Pais atuantes no
mercado de trabalho
- Preocupados com a
educação dos filhos
-Biológicos ou Adotivos
- Filhos da união de um
companheiro, permanente ou
ocasional.
-Necessidade de auto-afirmação
dentro do núcleo familiar e no
contexto social
42
1.3 Escola de Pais, uma iniciativa para o trabalho com grupos de
pais.
“Ser pai ou ser mãe de família é ser enviado à prática do amor, que se
desdobra na vivência com os filhos. Viver o amor é assim aos ilhós como se deve
amar”. (EPB, 1997)
Em meados dos anos 60 um grupo de pais encontrava-se angustiado e
desiludido em relação à educação de seus filhos. Nesta época, um grupo de
religiosos e alguns casais reuniram-se com a finalidade de ajudar estas famílias e
formaram a Escola de Pais de Brasil, fundada em 16 de outubro de 1963, é uma
Organização da Sociedade Civil, sem fins lucrativos, apolítica e não religiosa que
tem como missão determinada: ajudar pais, futuros pais, e agentes educadores a
formar verdadeiros cidadãos. É um movimento particular, voluntário, gratuito que
não faz distinção alguma quanto à raça, condição social, credo político ou
religioso.
A Escola de pais do Brasil tem por finalidade aprimorar a formação de
pais, ajudando-os a melhor exercerem suas funções educativas na família e na
sociedade. “...o objetivo máximo é o desenvolvimento do ser humano, em sua
caminhada para o outro e a busca do transcendente.” (www.escoladepais.
org/histórico/index2.asp)
Esta entidade tem uma filosofia de trabalho em muitos países e é
reconhecida como Utilidade Pública Federal, Estadual e Municipal com registro no
MEC e CNAS. A sede nacional no Brasil encontra-se em São Paulo.
Atualmente a Escola de Pais do Brasil conta com mais de 200 núcleos e
se expande a cada dia por todo o país. O trabalho feito pela entidade acontece
em igrejas, escolas, clubes, empresas, condomínios e em comunidades em geral.
Os encontros são operacionalizados em forma de círculo de debates, que são
dirigidos por casais previamente treinados. Nos encontros são utilizados técnicas
de dinâmica de grupo com o objetivo da facilitação de debates e reflexões sobre
alguns assuntos e a internalização de novos padrões de comportamentos
direcionados à educação dos filhos.
43
“Seu trabalho representa um aprendizado em ação, isto é, pretende
atingir os pais como educadores, para conscientizá-los de sua responsabilidade
na formação de seus filhos, para que encontrem soluções alternativas para os
problemas que o afligem” (www.escoladepais. org/histórico/index2.asp)
Dentro da metodologia utilizada, o temário atual das palestras gira em
torno da “Educação no mundo atual; amor e segurança – alicerces de um
desenvolvimento sadio; mãe-esposa e mulher- sua atualidade; o pai e o exercício
da paternidade; a maturidade dos pais na vivência familiar; ação educativa na
infância e na meninice; e dificuldades para se educar”. (EPB, 2005. p.7)
De acordo com alguns casais participantes, o trabalho é direcionado aos
objetivos da entidade, que estão centrados no reforço a família, conscientização
dos papéis parentais diante da responsabilidade de educar os filhos, tentativa de
preparar para um mundo que passa por momentos de mudanças consecutivas,
ensinamentos básicos sobre noções de psicopedagogia e de algumas técnicas
educativas que possibilitem a reavaliação dos conceitos que permeiam a relação
pais e filhos. Para poder atingir estes objetivos os casais que trabalham passam
por uma constante atualização que leva a uma necessidade de educação
permanente, essencial aos dias atuais; desenvolve-se o sentido de colaboração,
solidariedade e responsabilidade com a comunidade, onde se estabelece uma
convivência fraternal entre os membros participantes.
A Escola de pais tornou-se uma grande comunidade, segundo relato de
um de seus membros permitindo uma convivência fraternal das pessoas que dela
participam. Procuram atualizar-se a cada dia através de encontros em grupos e
em Congressos anuais, com o objetivo de ter uma educação continuada dentro do
assunto e desenvolver o sentido de colaboração, de solidariedade e
responsabilidade com a comunidade.
Esta entidade possui uma vasta bibliografia que pode ser indicada para
os pais, quando invariavelmente solicitam. A indicação de leituras para
complementar ou aprofundar suas referências de como melhor educar seus filhos
ou orientar seus alunos faz parte do trabalho feito pelo grupo.
Alguns Anais de Congressos Pais anteriores trazem aspectos
interessantes que podem dar à Escola de Pais um caráter sério no tocante ao
44
trabalho de grupos com pais: “...A Escola de Pais tem uma filosofia nítida,
transparente, concreta e indisfarçável. É cristã, apóia a família estruturada, mostra
os efeitos danosos da separação dos pais, da indisciplina, do descontrole sexual,
da falta de carinho e amor. Defende as práticas religiosas, a estabilidade conjugal,
a autoridade dos pais, propõe forma de educar os filhos, e assim por diante. É
firme nos seus propósitos e na sua ação. É conservadora, mas não é fechada,
como outras que não admitem discussões doutrinárias. É aberta às inovações, às
mudanças.” (EPB, 1997)
1. 4 NOVA ESCOLA
A Nova Escola representa a “Escola Democrática” que vem sendo
expandida por todo o mundo a partir da tradição pedagógica inspirada em Jean-
Jacques Rosseau e desenvolvida pelas obras de educadores como Johan
Pestalozzi, Leon Tolstoi, Janusk KoczaK, Homer Lane, Wilhelm Reich, Alexander
Sutherland Neil e Paulo Freire. Hoje em dia, esta linha, que recebe o nome de
educação democrática, pedagogia centrada no estudante, pedagogia libertária,
pedagogia crítica, entre outros, orienta centenas de escolas públicas espalhadas
pelos cinco continentes.
As primeiras experiências com Escolas Democráticas datam do século
XIX. A partir desta data vem se expandindo pelo mundo em modelos diferentes
como as escolas particulares na Europa, no Japão e na Austrália, cooperativa de
pais e educadores nos EUA e de crianças trabalhadoras na Índia, escolas
públicas em Israel e de utilidade pública na África. Todas demonstram que os
jovens tornam-se amantes do conhecimento, dedicando-se com entusiasmo a
novas descobertas. Nos EUA, onde a seleção para as melhores universidades é
feita pela análise do histórico escolar e entrevista, os egressos de escolas
democráticas se saem muito bem, por demonstrar o interesse e a capacidade de
se auto disciplinarem para os estudos.
Foram cadastradas 229 Escolas democráticas pelo mundo ao longo do
século XX. A filosofia central destas Escolas é oferecer aos jovens de todas as
classes sociais condições para que se tornem cidadãos responsáveis por suas
ações e capazes de determinar o curso e a dimensão de suas atividades.
45
No Brasil, a Escola Internacional Lumiar representa a Nova Escola, e os
preceitos básicos da proposta pedagógica desta Escola são a democracia e a
liberdade. A Escola oferece ensino formal para crianças e adolescentes de 02 a
12 anos, onde os educandos, educadores e pais compartilham da
responsabilidade escolar.
“A formação de indivíduos autônomos é o objetivo de toda proposta
educacional. No entanto, os jovens raramente são exercitados para esta
autonomia. Na escola democrática, os educandos organizam seu cotidiano e
planejam seu aprendizado desde os quatro anos de idade. Apenas deste modo é
possível adquirir um real sentido de responsabilidade pelas escolhas e decisões
individuais e valorizar de fato o comportamento ético.” (http://lumiar. locaweb.
com. br/escola/escola. asp)
De acordo com dirigentes da Escola Lumiar, esta tradição pedagógica já
foi incorporada dentro do contexto de educação informal brasileiro há algum
tempo, mas começa a adentrar a educação formal, a partir da Lei de Diretrizes e
Bases (LDB) de 1996, onde foi introduzido o sistema de ciclos e de progressão
continuada. “Em 1998, foram lançados Parâmetros Curriculares nacionais nos
quais a escola é concebida como espaço flexível, aberto, dinâmico, conectado
com o mundo exterior pela integração com os pais, tecnologia, meio ambiente,
economia, a televisão, os museus, os centros de saúde, etc.” (http://lumiar.
locaweb. com. br/escola/escola. asp)
Na Escola Lumiar, a administração da escola é compartilhada por
educadores e educandos. Toda semana é realizada uma assembléia em que são
apresentadas propostas e também discutidos os problemas do dia-a-dia, onde
realmente vale o princípio democrático: cada cabeça é um voto. O objetivo é que
a comunidade escolar seja autônoma na resolução das questões gerenciais e
pedagógicas, assumindo a responsabilidade pelas decisões tomadas e por sua
execução.
A oportunidade de fazer uma visita à Escola Lumiar proporcionou a este
trabalho uma visão real de como as coisas acontecem neste modelo de Escola,
onde permeiam as relações de confiança e credibilidade em relação ao
desenvolvimento sadio das crianças e jovens, cabendo a eles uma grande parte
de colaboração e responsabilidade para ajudar neste processo.
46
Nessa Escola encontramos um grande grupo de educadores, educandos
e mestres. Todos estes educadores têm nível superior, alguns deles inclusive com
nível de pós-graduação. Os mestres são pessoas que têm aptidões específicas e
que querem desenvolver grupos para trabalhar com os educandos que tiverem
interesse no assunto em questão.
As comissões são formadas por educadores, mestres, educandos e pais
formando-se a partir das necessidades das pessoas. Quando questionados a
respeito de como são feitas as propostas de orientação de pais em cima das
dificuldades que eles têm, o educador relata que todas elas são feitas
individualmente, de acordo com a dificuldades que os pais têm naquele momento
específico.
Um dos assuntos mais procurados em relação nesta Escola relacionados
à educação dos filhos é a sexualidade, tanto é que lançaram na Escola Lumiar o
“Projeto Eu e o Meu Corpo”, em meados de 2005, para que complemente o
trabalho realizado pelos educadores no dia-a-dia. Este projeto tem o objetivo de
informar, prevenir e ampliar os conceitos referentes ao corpo e da sexualidade
dos jovens.
Como em todo processo de educação, a educação democrática tem seus
pontos positivos e negativos. Como pontos positivos podemos ter um olhar
voltado para a própria criança que tenta se desenvolver desde muito pequena de
forma mais independente, buscando autonomia, o que pode ser uma
característica positiva durante o processo de formação da identidade emocional.
As regras combinadas diante de um Conselho fazem com que a criança sinta-se
responsável pelas situações que acontecem e procure arcar com as
conseqüências. Sob o ponto de vista negativo, percebemos que a escola
democrática pelo fato de não colocar regras claras para as crianças possibilita a
construção de comportamentos que podem ser considerados negativos, quando
se vêem decidindo questões impulsionadas pelo desejo, e não por suas
necessidades.
A possibilidade de visitar a Escola Internacional Lumiar foi muito
importante para a minha compreensão do processo educativo da “Nova Escola”, e
uma oportunidade para entrar em contato com um modelo de educação diferente
do tradicional, o que pode ser enriquecedor para este trabalho de pesquisa.
47
1.5 SUMERHILL- “Liberdade sem medo”
“Durante o século XVIII as idéias de liberdade, democracia e
autodeterminação foram proclamadas por pensadores progressistas e, a altura da
primeira metade do século XX, tais idéias surgiram com proveito no campo da
educação. O princípio básico de tal autodeterminação era a substituição da
autoridade pela liberdade, ensinando-se a criança sem uso de força, e sim
através do apelo à sua curiosidade e às suas necessidades espontâneas,
ganhando assim o interesse dela para o mundo que a rodeia. Essa atitude
marcou o início da educação progressiva e foi passo importante no
desenvolvimento humano.” (Fromm, 1976)
Alguém já sonhou com uma Escola cujo pátio tem muita área verde,
cheia de gramados, árvores para as crianças subirem e brincarem o dia todo. E
ainda que estas crianças só fossem para sala de aula se tivessem interesse, e
não a obrigação. Nesta Escola não haveria provas, testes nem recuperação. Esta
seria a Escola de todos, educandos, educadores e pais, onde poderiam se
expressar livremente, criar as suas próprias leis de convivência diária a partir da
de pequenas comissões. As crianças teriam oportunidade de aprender a pensar
por elas mesmas, a fazer suas próprias escolhas e assumi-las, a sentirem-se
responsáveis por elas mesmas e também pelo grupo, a começarem a se tornar
confiantes, aprenderiam o gesto da solidariedade, tolerância e liberdade, e
poderiam usufruir desta liberdade sem medo.
Esta escola existe. Já funciona a mais de oitenta anos (desde 1921) foi
criada e idealizada pelo professor e escritor Alexander Sutherland Neil. Tornou-se
famosa mundialmente nos anos sessenta com a publicação do livro “Summerhill,
(Liberdade sem Medo)”, transformação na teoria e na prática, que foi um livro
revolucionário que falava de uma escola–comunidade formada por crianças,
jovens e adultos (diretor, funcionários e professores), que ganhou o apelido
irônico na Inglaterra, de “escola de faça como quiser”.
Segundo Erick Fromm, no prefácio da 16 ª edição do Livro “Summerhill,
Liberdade sem medo”, os princípios fundamentais do sistema de Neil são:
48
1-Fé inquebrantável na criança.
2-Alvo da educação é trabalhar jubilosamente a encontrar a felicidade. Ter felicidade, segundo Neil, significa
estar interessado na vida.
3-Na educação, o desenvolvimento intelectual não é o bastante. A educação deve ser ao mesmo tempo
intelectual e emocional.
4-A educação deve ser entrosada com as necessidades psíquicas da criança. A criança não é altruísta. O
altruísmo se desenvolve depois da infância.
5-Disciplina e castigo, dogmaticamente expostos, geram medo e medo gera hostilidade. A disciplina extensiva
imposta às crianças é prejudicial e impede o desenvolvimento psíquico sadio.
6-Liberdade não significa licença. Neil diz que o respeito pela pessoa deve ser mútuo. O professor não deve
usar de força com a criança, e a criança não tem o direito de usar de força contra o professor.
7-Necessidade do uso de verdadeira sinceridade por parte do professor.
8-O desenvolvimento humano torna necessário que a criança corte, eventualmente, os laços essenciais que a
ligam a seu pai e à sua mãe, ou a substitutos posteriores, na sociedade, a fim de tornar-se de fato
independente.
9- Sentimentos de culpa têm, antes de tudo, a função de prender a criança à autoridade. São empecilhos para
a independência. Iniciam um ciclo que oscila constantemente entre a rebelião, o arrependimento, a submissão
e a nova rebelião.
10-Nesta Escola não é oferecida a educação religiosa.
(Neil, A. S. 1976. Liberdade sem medo. Summerhill: radical transformação na teoria e na
prática da educação. Prefácio Erick Fromm, P. XX)
Para se ter uma idéia de como funciona Summerhill, é uma escola que
absorve crianças e adolescentes dos cinco aos quinze anos. “...as crianças são
divididas em três grupos etários. O mais novo vai dos cinco aos sete anos, o
intermediário dos oito aos dez , e o mais velho dos onze aos quinze.” (Neil, 1976.
p. 3) As crianças permanecem lá até os dezesseis anos.
Summerhill é uma escola onde as crianças têm aulas, habitualmente, de
acordo com a sua idade, mas, às vezes, de acordo com os seus interesses. Não
têm um método determinado de ensino porque não acham que o ensino, em si
mesmo, tenha grande importância.
49
No calendário anual existe uma Assembléia Geral da Escola, onde todas
as regras escolares são votadas pela escola inteira, cada aluno e cada membro
do corpo docente têm um voto. Uma das regras que é citada em várias partes do
livro é que as crianças não podem ir à praia sozinha sem que haja um salva-vidas
por perto. E, se alguém desobedecer às regras é passível de pagar uma multa.
“Hoje os alunos de Summerhill são, em sua maioria, crianças cujos pais
as querem educar sem disciplina restritiva. Isso é um dos fatos mais felizes, pois
nos velhos dias eu teria um filho dos de arraigada tradição apenas se o pai o
enviasse por desespero de causa. Tais pais não têm interesse algum na liberdade
das crianças, e, secretamente, devem nos considerar um bando de excêntricos
lunáticos. Foi muito difícil explicar coisas a esses obstinados.” (Neil, 1976. p. 15)
O princípio da autonomia e da democracia é que governa Summerhill.
Tudo o que está relacionado à sociedade, ao grupo, e à vida, inclusive as
punições pelas transgressões sociais, é resolvido por votação nas Assembléias
Gerais da escola. A função da autonomia de Summerhill não é apenas fazer leis,
mas discutir os fatos sociais da comunidade, também. Ao início de cada novo
período escolar são feitas as regras.
Para Neil, “....dar liberdade a uma criança não é coisa fácil. Significa
recusarmos ensinar-lhe religião, política, ou consciência de classe. Uma criança
não pode ter liberdade real quando ouve o pai bradar contra alguns grupos
políticos, ou ouve a mãe zangar-se com a classe das domésticas. É quase
impossível evitar que as crianças adotem nossa atitude diante da vida.” (Neil,
1976. p. 105)
É importante dentro do contexto da escola a aprovação que é dada à
criança no dia-a-dia e que pode influenciar diretamente no seu bem-estar das
mesmas. É saudável estar do lado da criança, dando-lhe um amor não
possessivo, não amor sentimental, mas demonstrar através do comportamento de
tal maneira que ela se sinta amada e aprovada pelos responsáveis pela escola.
Trabalhar sentimentos que se apoderam da criança muitas vezes por
situações vivenciadas entre a família ou os amigos é uma tarefa habitual em
Summerhill. Existem relatos do autor que diz que passou muito tempo na tentativa
de ajudar crianças que tinham sido feridas por pessoas que lhes davam medo.
50
O medo pode ser uma coisa terrível na vida de uma criança. No trabalho desta
escola o medo deve ser inteiramente eliminado, medo dos adultos, medo do
castigo, medo da desaprovação, medo de Deus.
A mentira é tratada de maneira delicada no contexto de Summerhill. Os
professores e dirigentes orientam os pais de que se o filho mente, ou tem medo
deles, podem está copiando-os. Tentam demonstrar claramente que pais
mentirosos terão filhos mentirosos. Dizem aos pais que se querem a verdade do
filho, que não mintam para eles. Quando existe uma dificuldade de contar a
verdade às crianças, provavelmente não contamos as verdades para nós
mesmos. Podemos mentir para nós mesmos e mentimos para o vizinho. Todas as
autobiografias que já se escreveram são mentiras. Mentimos porque fomos
ensinados a viver à altura de um padrão de moralidade inatingível.
É verdade que Summerhill é quase uma lenda, e como todas as lendas
alimentam questões que se tornaram mitos. No contato feito com a direção da
Escola Lumiar, ficamos sabendo que nunca houve um caso de gravidez em
Summerhill, e também não tiveram problemas em relação aos jogos com uso de
drogas e álcool (aliás é importante citar que o uso de bebidas e drogas é proibido
na Escola para evitar que os internos desenvolvam dependências químicas).
Podem-se evidenciar aspectos positivos e negativos neste tipo de
educação que está bem próxima à educação da Escola democrática. Dentre os
aspectos positivos podem ser citados alguns preceitos básicos que regem o
trabalho em Summerhill, como valores morais, éticos e de relacionamentos.
Aspectos importantes relacionados às crianças, como: lidar com o amor, com o
medo, como a mentira são sentimentos muito evidenciados na dinâmica da
Escola. Sob o ponto de vista negativo observa-se que o relacionamento entre pais
e Escola é bastante distante e pode-se dizer que as orientações feitas para os
mesmos acontecem geralmente quando estão diante de algum problema. Não foi
encontrado em nenhuma literatura que existe um trabalho preventivo junto aos
pais dentro da Escola.
51
Diferentes Formas de Orientação de Pais
Formas de
orientação dos pais
Sentimentos dos
pais
Condição das
crianças
Aspectos positivos
Aspectos
negativos
Escola de Pais do
Brasil
- Reuniões em grupos
em escolas,
comunidades, igrejas.
- Felizes por
estarem
participando de uma
interação com
outros pais que têm
os mesmos
problemas
- Crianças muito
limitadas
- Sentem-se um pouco
sufocadas com os
limites
- O amor e os
sentimentos
coletivos levam os
pais a se mobilizar
para enfrentar a
educação de seus
filhos
- Educação pouco
ultrapassada por
valores antigos.
- Reciclagem é feita
entre os próprios
membros
- Muitas vezes
predomina a
educação autoritária
Nova Escola
- Orientação individual
mediante o
aparecimento de
problemas
- Tranqüilos e
confiantes na
possibilidade dos
filhos resolverem
seus problemas
junto com os grupos
- Livres
- Felizes
- Desencanadas
- Podem ter algumas
dificuldades em
aceitar limites no
futuro
- Criança
aparentemente mais
feliz pela falta de
regras
- Os pais ficam à
parte das
dificuldades da
criança
- Pode gerar
crianças com
poucos limites
Summerhill
- Não existe uma
forma direta
- Pais orientados
quando os problemas
aparecem
- Muitas vezes são
considerados
- “Culpados”de muitos
comportamentos
negativos da criança.
- Preocupação com
o fato de a criança
tentar acompanhar a
evolução do mundo
- Liberdade
- Sem uma
preocupação inicial
pelo futuro
- O desejo da criança
e do adolescente está
sempre sendo
satisfeito
- Podem ter algumas
dificuldades em
aceitar limites no
futuro
- Crianças e
adolescentes
aparentemente mais
felizes pela falta de
regras
- Crianças e
adolescentes
cobram dos colegas
de grupo
comportamentos
adequados
- Falta de regras
pode gerar um ser
humano inseguro
quando se depara
com o mundo lá
fora
- Crianças e
adolescentes com
poucos limites
Escolas
Tradicionais
- Orientações
individuais
- Palestras em grupos
- Educação mais
autoritária
- Inseguros
- Buscando a toda
hora informações
- Muitas crianças mal
educadas
- Sentem-se mal com
o autoritarismo
- Os pais estão
buscando sempre
ajuda
- Pais inseguros
sempre achando
que estão indo por
um caminho errado
- Tendem a repetir a
educação em cima
do autoritarismo
Programas
Governamentais
- Ações isoladas em
espaços públicos
- Programas
- Felizes pela
oportunidade de
serem orientados.
- Esperançosos de
efetuar mudanças
na dinâmica da
educação dos filhos.
- Muitas vezes sentem
a diferença no
tratamento dos pais.
- Estranham os
limites.
- Desafiam os limites
para testar os pais.
- Quando estes
trabalhos são
operacionalizados, o
grupo que está
sendo trabalhado
pode ser um agente
multiplicador para
outras famílias.
- A continuidade
destes trabalhos
depende de quem
está no poder.
Livros de auto-
ajuda
-Educação dada sob
ponto de vista do que
é certo e o que é
errado, não sob a
perspectiva de formar
valores.
- Mais confusos
porque em cada
livro têm a
oportunidade de ler
coisas diferentes
- Crianças testando os
limites dos pais
- Crianças rebeldes
- Alguns deles
possibilitam uma
reflexão por parte
dos pais sobre a
forma como estão
educando
- Os pais imitam
uma forma de
educação baseada
em formulas ideais,
mas não se sentem
seguros.
52
1.6 Educar filhos nos diferentes níveis sociais –
Famílias com poder aquisitivo baixo, médio e alto.
Quando, de alguma forma, se procura entender o atual processo de
educação em que as classes sociais, no Brasil, estão inseridas, pode-se observar
que muitos aspectos mostram-se repetitivos em níveis de dificuldades. É possível
identificar uma importante interdependência das questões de educação em
diversos níveis, isto complementado com o que é mostrado e vivido no dia-a-dia,
no contexto sócio-político e cultural dominante. Observa-se uma instabilidade no
processo em questão, em que está caracterizada a socialização e a educação
nas classes sociais com poder aquisitivo baixo, e percebem-se algumas
aberrações cometidas nas classes sociais de alto poder aquisitivo.
A intenção de apontar algumas situações que acontecem no contexto
social na relação pais-filhos junto a pais de poder aquisitivo diferentes, está
centrada na proposta de mostrar que, independente do nível social dos pais, as
dificuldades acontecem nas famílias pela falta de formação e informação para o
desempenho deste papel.
Sarti diz que: “...como a sociedade moderna é uma sociedade baseada
no princípio da igualdade, mas profundamente desigual em sua base
econômica....”, e continua dizendo que “....pode-se fazer uma leitura da sua
subordinação social no mundo de hoje, sobretudo dos pobres que vivem nas
cidades (o mundo rural tem outras implicações), a partir do fato de que eles não
vivem esta dimensão individualizada da identidade social, própria do nosso tempo
e que constitui precisamente uma possibilidade de emancipação aberta às novas
gerações.” (In Carvalho, 2005. p. 44)
Portanto, fica evidenciada a necessidade de uma redefinição do processo
educativo para um povo que tem uma visão afunilada de crescimento, e,
conseqüentemente, fixado no rebaixamento do alto índice de analfabetos, em vez
de ampliar a visão para uma necessidade primária de uma educação preventiva,
na qual o indivíduo possa inscrever-se numa contextualização sadia de
crescimento, nos diversos períodos do desenvolvimento. Partindo deste princípio,
é importante que haja uma intervenção específica para a conscientização dessas
pessoas, com o objetivo de auxiliá-las no processo de mudanças, de visão de
53
educação e percepção entre o que aprenderam com suas famílias de origem e o
que poderão transmitir para seus filhos, no contexto atual.
Sob o ponto de vista da questão social, o que se pode perceber é que,
em termos históricos/conceituais, pode ser considerada uma manifestação política
da desigualdade social que é inerente à formação da sociedade – é natural que
todos sonhem com um país em que as pessoas de poder aquisitivo baixo não
existam e as de poder aquisitivo médio alto aumentem.
A questão da educação neste contexto é muito interessante, porque a
prática clínica nos mostra que na educação dos filhos independe de qual a fatia
da sociedade que os pais ocupam, o que sempre aparece são pais desesperados,
ansiosos por informações, querendo ajuda para fazer mudanças no
comportamento. Em relação aos filhos pode-se perceber algumas diferenças,
principalmente no que se refere à questão à postura dos pais em casa.
Segundo Sarti, (2005), “....entre as relações familiares, é sem dúvida a
relação entre pais e filhos que estabelece o vínculo mais forte, onde as
obrigações morais atuam de forma mais significativa.” (Sarti,.p.72)
Ainda nos mostra que existe uma hierarquia forte entre pais e filhos, onde
a educação é vista como um exercício unilateral da autoridade, explicando assim
que as raízes da privação dificultam o exercício da cidadania e estão não só no
plano material, como também no plano afetivo.
Nas classes de poder aquisitivo baixo as crianças vão perdendo suas
regalias, à medida que adquirem condições de repartir as obrigações familiares,
assemelhando-se ao estatuto dos outros familiares, como define Sarti, (2005)
A questão das famílias que vivem no meio da pobreza é muito séria. A
dimensão política que este contexto alcança é totalmente afetada por
representações sociais, caracterizadas por símbolos, idéias e imagens que são
compartilhadas pela coletividade. Os programas e ações desenvolvidos pelo
poder público podem ser aprovados ou desaprovados em função destas
representações que afetam diretamente as pessoas que vivem em estado de
pobreza.
54
A preocupação destes pais com a educação dos filhos é grande, e em
relação aos estudos muito maior. Procuram trabalhar muito para suprir a falta de
muitas coisas materiais, mas sempre com a intenção de promover a chance de
promover a oportunidade de estudar aos filhos, para que os mesmos tenham a
possibilidade de alcançar um objetivo além do que ele próprio conseguiu.
Lançando um olhar para como vivem as crianças de rua, observamos o
nível de miséria de suas famílias e de suas comunidades. O que tem acontecido é
que estas crianças, muitas vezes, são tratadas como se fossem “crianças da rua”,
e que não têm famílias. Muitos passam como crianças abandonadas por pais
insensíveis, desprovidos de qualquer tipo de afetividade.
Segundo Vicente, no livro “A família Brasileira, a base de tudo.”: “...além
de escapar da incômoda evidência de tanta miséria, preenche-se este vácuo por
uma retórica na qual os pais são desqualificados enquanto pais. Passam a ser
vistos como pais que não amam, incapazes de estabelecer vínculos com suas
crianças.” (In Kaloustian, 2004)
As crianças que vivem na rua certamente são em número maior do que
as famílias que são afetadas diretamente pelas ruas, porque normalmente as
crianças migram da miséria doméstica para as ruas junto com irmãos.
Os programas que desenvolvem projetos com as famílias podem atingir
as crianças e resgatar uma qualidade de vínculo que lhes permita abandonar o
êxodo circular urbano. A criança pode ser inserida em ”continentes” institucionais
destinadas à sua proteção e desenvolvimento. A família não pode ser excluída
porque constitui um espaço privilegiado de convivência, dado que nele a
dimensão afetiva é inerente.
É importante que seja dada as devida atenção às crianças, mas para isto
são primordiais o atendimento e acompanhamento aos pais. O que se percebe é
que os programas voltados para a orientação de pais estão começando a
aparecer no contexto institucional, e governamental, e espera-se com isto, que
este panorama comece a mudar após a implementação e operacionalização
destes.
55
As ONGS começaram a aparecer com o objetivo de minimizar questões
ligadas às diferenças culturais e sociais destas classes não privilegiadas. Muitas
delas realmente lançam alguns projetos que atingem pais e filhos com o objetivo
de minimizar as dificuldades dos mesmos de relacionamento.
As inúmeras explosões das classes com poder aquisitivo médio, no
período que é chamado de milagre econômico, foram acompanhadas, no final do
século, por uma explosão demográfica urbana, e também pela explosão do
consumo e do crédito. Tal classe média, ao mesmo tempo em que se diversifica
profissionalmente, começa a aumentar o seu poder aquisitivo e a melhorar
qualitativamente sua forma de viver. A situação tende a se modificar um pouco,
quando a classe média busca uma nova interpretação da sua situação.
Recentemente, o que se pode perceber é que existe uma classe média que
conhece dificuldades, as quais lhe apontam uma situação existencial diferente
daquela de alguns anos atrás. Tais dificuldades referem-se a: educação dos
filhos, cuidado com a saúde, aquisição ou aluguel de moradia, possibilidade de
pagar pelo lazer, falta de garantia do emprego, deterioração dos salários,
poupança negativa, e endividamento. Essas situações causam desconforto
quanto ao presente e insegurança quanto ao futuro, tanto o futuro remoto quanto
o imediato.
A dinâmica familiar desta classe de poder aquisitivo médio está sendo
conturbada pelas necessidades e pelos desejos, não só dos filhos, mas também
dos pais. Estes se encontram em conflitos, porque estão muito preocupados em
dar aos filhos uma educação que envolva informação e formação, associando isto
à necessidade de atender às exigências do status material.
Muitas vezes, na tentativa de poupar a criança de um sofrimento por não
“ter”, os pais inserem o dar “material” como forma de suprir essas carências, que
na maior parte das vezes são afetivas, elaborando assim um contexto que gera
dificuldades para que a criança possa crescer emocionalmente. O que geralmente
acontece com esses filhos é que, aos poucos vão perdendo a referência do que é
certo, do que é ter limites, do que é desejar ter ou precisar ter.
A classe social de poder aquisitivo alto passa por um momento delicado
se for considerado que, antes, o poder era uma característica importante para o
indivíduo ser respeitado e reconhecido. No Brasil, a classe com poder aquisitivo
56
alto ocupa uma partícula pequena da sociedade, e pode-se dizer que é uma
classe contaminada por muitos “emergentes” que, muitas vezes, tiveram pouca
condição de ter uma educação elitizada e diferenciada, o que faz com que se
diferenciem menos, no aspecto educacional. Se, num dado momento, pode-se
iniciar um estudo de uma fatia desta classe social no que se refere à formação
dos filhos, o que se percebe é que esta população tem problemas em relação à
educação de seus filhos, oscilando entre o liberalismo total e o autoritarismo, e
apresenta dificuldades também em lidar com temas referentes à educação, tais
como: a questão de limites, a questão do poder pelo dinheiro, a idéia de que é
melhor quem tem mais, a não valorização dos que têm menos posse.
A dinâmica desta classe social está imbuída da crença de que cabe à
escola uma parcela grande da educação dos filhos, e com isso, muitas vezes
podem ter dificuldades relacionadas a isto. A formação implica saber como usar a
informação. Alguns pais, hoje, estão bastante comprometidos em relação ao seu
tempo, e não conseguem contribuir para essa formação, que normalmente é
ajudar a criança a desenvolver o espírito crítico, a consciência moral e a forma de
respeitar a si próprio, ao outro, enfim, a sociedade em que vive.
Na atual conjuntura da realidade social brasileira, o processo de
educação de pais e filhos, com o qual é preciso lidar, sobretudo para modificá-lo,
passa por momentos delicados, onde exige mudanças que podem ser
importantes para o crescimento e mudanças dos valores tradicionais. A
elaboração de programas sociais que atinjam a família na tentativa de mudar as
relações familiares pode constituir-se numa saída para esta paralisação da
educação. Não importa de qual classe social estamos falando, porque educar
filhos é um comportamento que precisa ser aprendido, onde os pais terão a
oportunidade de rever seus valores e modelos e possibilidade de efetuar
mudanças apropriadas para a educação, buscando uma atualização dos
comportamentos e valores aprendidos com seus pais em de suas famílias de
origem.
57
Capítulo 2 – Teoria do desenvolvimento das famílias - Ciclo Vital
Durante toda a existência do homem, fala-se na história da sociedade e
dos seus indivíduos como instrumento da análise social, antropológica e histórica
enquanto referência social, levando-se em conta as evidências que aparecem em
relação às crenças e costumes de um povo. Fala-se da família como uma
sustentação para o ser humano.
Recentemente, a família é apontada como uma área de estudo para a
Psicologia, e ela própria é o objeto. Considere-se, ainda, que tem uma
importância psicológica grande, na constituição do sujeito, no que se refere à
identidade, aos sentimentos e diferenças.
Dentro do contexto do desenvolvimento da família é muito importante
caracterizar as mudanças que ocorrem no ciclo vital das mesmas, que estão
relacionadas com o movimento intergeracional. Possivelmente, uma das maiores
dificuldades pela qual a família passa está centrada na passagem de um estágio
do ciclo vital para outro, ou seja, a elaboração desta passagem requer muitas
adaptações do casal e dos filhos. Estas fases começam a partir da formação do
casal conjugal, depois com a chegada de filhos pequenos, em seguida a fase dos
filhos adolescentes, posteriormente com a chegada da fase de lançamento dos
filhos, e finalmente as famílias no estágio tardio da vida.
Este capítulo tem como finalidade abordar a teoria do desenvolvimento
das famílias, centralizando a atenção especificamente para os estágios de
formação de um casal, famílias com filhos pequenos e famílias com filhos
adolescentes.
2.1 Formação do casal conjugal
A formação do casal conjugal geralmente acontece com base no mito do
amor (“que seja infinito enquanto dure” – Soneto de fidelidade; Vinícius de
Moraes, 1957), e também no mito de que “sejam felizes para sempre”, como
trazem os contos de fadas. Atualmente, os casais ainda aderem ao discurso
moderno e pós-moderno do romantismo, que prega o amor independente, a
manutenção da individualidade, a cumplicidade, entre tantas outras teorias. Vive
58
também em meio a uma porção de conceitos, preconceitos, mitos, crenças,
emoções e sentimentos muitas vezes contraditórios, o que é explicável, diante de
tantos conflitos, dúvidas e inseguranças que permeiam as relações entre um
homem e uma mulher. Acredita-se que um casal moderno cumpra socialmente os
preceitos da modernidade, a qual enfatiza a relação liberada de qualquer
preconceito, aberta e flexível, e coloca como ápice desse casamento uma relação
em que existe respeito à individualidade e crescimento pessoal de cada um.
Pode-se observar que muitos padrões se repetem, em relação a décadas
anteriores, e, a cada dia, o que é mostrado no contexto desses casais é que o
casamento ocorre sempre com a eterna ilusão de que a profecia se instale em
suas vidas e que “sejam felizes para sempre”, mesmo que seja uma combinação
que siga junto a eles por anos a fio.
Certamente esta frase caracteriza uma utopia, porque as diferenças
começam a aparecer a cada dia que eles vivem juntos, o que torna muito difícil
“ser feliz para sempre”, eternamente. O aspecto mais importante a ser
considerado na relação conjugal é o que cada um traz em sua bagagem
individual. Deve-se considerar toda a história de vida de cada um, sua família,
seus sonhos, seus desejos, suas metas, para que a relação possa solidificar-se.
Cerveny e Berthoud (1997), em estudo centralizado na Família Paulista
dizem que esta fase caracteriza-se por aquisições do casal, há um predomínio da
tarefa de adquirir, tanto no âmbito material, como no emocional e psicológico.
De acordo com Minuchin&Fishman (2003), “...no primeiro estágio, os
padrões transicionais que formam a estrutura do holon conjugal são
desenvolvidos. As fronteiras que governam a relação da nova unidade às famílias
de origem, aos amigos, ao mundo do trabalho, à vizinhança e a outros contextos
significativos devem ser negociados. O casal deve definir padrões de se
relacionar com outros.” (Minuchin&Fishman, 2003. p.32)
As expectativas do casal devem ser conciliadas, e é importante que
desenvolvam formas peculiares de processar as informações e maneiras
diferentes de lidar com o afeto. O desenvolvimento de regras sobre proximidade e
hierarquias e o entendimento dos valores de cada um é importante ser negociado
neste momento.
59
Segundo Mônica McGoldrick, pesquisadora norte-americana que
evidenciou o ciclo vital das famílias, numa importante obra científica: “...o
significado do casamento na nossa época é profundamente diferente do seu
significado em toda a história anterior, quando ele estava firmemente inserido na
estrutura econômica e social da sociedade. A mudança no papel da mulher e a
crescente mobilidade da nossa cultura, juntamente com os dramáticos efeitos dos
contraceptivos amplamente disponíveis, estão nos forçando a redefinir o
casamento.” (McGoldrick, 1995. p.184).
Para se formar um vínculo tão estreito com alguém, na vida adulta, é
necessária, principalmente, grande disponibilidade para se entregar e acolher o
outro, levando-se em consideração toda uma história de vida, dos vínculos feitos,
desfeitos e refeitos na infância de cada um.
De acordo com Cerveny e Berthoud (1997), “...nascemos com uma
profunda predisposição para nos apegar de maneira definitiva a um outro ser
humano que nos acolha e se disponha a se relacionar conosco. E é desta tão
íntima e particular história vivida nos primeiros dias e meses das nossas vidas
que será impressa em nós uma marca profunda e indelével que influenciará para
sempre todas as outras histórias de amor que vamos viver vida afora.” (Cerveny;
Berthoud, 1997. p.54).
Acredita-se que, na sociedade atual, o casamento é considerado a
finalização de uma fase de encontro, conhecimento e reconhecimento dos
parceiros, muito além do que na realidade uma fase longa e difícil de transição.
Formar um casal e constituir uma família vem a ser uma possibilidade
para o ser humano de reconstruir vínculos duradouros, nascendo assim o
contexto emocional do núcleo familiar. Trata-se de um processo difícil, que vai
objetivar a construção de vínculos afetivos que possam propiciar apego e
cumplicidade e, de certa maneira, independência e autonomia emocional. Num
casal apegado de maneira saudável, um serve como base para o outro, como
uma fonte inesgotável que, a cada dia, tem condições de abastecer o outro em
diversos aspectos.
“O grande desafio para o casal é conseguir conciliar valores e padrões
familiares e individuais, re-construindo e re-elaborando suas idealizações de
60
vivência conjugal, de forma a estabelecerem novos padrões, adotando aqueles
que considerem coerentes com a referência de casal que estão construindo”.
(Cerveny, Berthoud, 2002. p.47)
Entre especialistas em famílias é natural a discussão em torno do fato de
que essa fase é uma das mais difíceis para o casal enfrentar, principalmente se
for levado em consideração alguns aspectos relacionados à vida de cada um, às
crenças, aos desejos, aos mitos, aos valores, às expectativas, e outros.
Um dos aspectos importantes, quando se decide tomar a decisão de
formar um casal conjugal, é a escolha do parceiro, que, felizmente, hoje é uma
escolha individual que o ser humano pode fazer. Certamente não escolhemos os
nossos pais, os filhos, irmãos, parentes, mas o parceiro sempre será fruto da
nossa escolha.
“O equilíbrio na relação do novo casal só acontece quando eles
conseguem uma diferenciação emocional. Diferenciação emocional de suas
próprias famílias de origem e diferenciação emocional enquanto indivíduos e
enquanto casal” (Cerveny; Berthoud, 1997.p. 57).
Pode-se observar que vários aspectos são importantes para que se
avalie a construção da identidade do casal. Aspectos como: a história de vida de
cada um, os valores das famílias, a cultura em que cada estava inserido, as
afinidades, as diferenças.
McGoldrick diz que: “...tornar-se um casal é uma das tarefas mais
complexas e difíceis do ciclo de vida familiar. Entretanto, juntamente com a
transição para a condição de pais, que há muito tempo isto simboliza, é
considerada a mais fácil e mais feliz....” (McGoldrick, 1995. p.184).
Segundo Minuchin (2003), “...o subsistema conjugal é vital para o
crescimento dos filhos. Constitui seu modelo para relações íntimas, como se
expressam nas relações cotidianas. No subsistema conjugal a criança vê meios
de expressar afeto, de se relacionar com um parceiro em dificuldades de lidar
com o conflito com iguais. O que ela vê se tornará parte de seus valores e
expectativas, entrar em contato com o mundo superior.” (Minuchin&Fishman,
2003.p. 27)
61
Os casais podem se unir porque se gostam, por amor, para construir uma
família, para ser feliz; ou podem se unir para chocar a sociedade, desafiar as
famílias. Tudo isso pode ser importante para mostrar que tipo de relação o casal
poderá construir ao longo da vida conjugal.
2.2 Famílias com filhos pequenos
Dando continuidade às mudanças no ciclo de vida familiar, a fase
seguinte é a da família com filhos pequenos. Uma fase onde o casal passa por
uma série de mudanças significativas na dinâmica conjugal.
“A decisão de ter um bebê é o início de um afastamento em relação ao
eixo horizontal de um casamento, para um realinhamento com o impulso vertical
das gerações do futuro e do passado.” (McGoldrick, 1995. p.213).
Tornar-se um progenitor também é uma situação difícil e apresenta
mudanças na associação e no funcionamento das famílias. Certamente, a
chegada de um filho neste estágio da vida do ser humano é a situação que mais
mudanças proporcionam ao indivíduo. De fato, ser um progenitor pode ser um
resultado psicológico e social, criando um vínculo entre duas gerações, e
modificando o equilíbrio entre trabalho, amigos, irmãos e pais.
Minuchin&Fishman (2003), situam esta fase como um período de
reorganização do casal para lidar com novas tarefas e um momento onde devem
negociar novas regras dentro da família. Nesta reorganização a criança recém-
nascida tem uma atenção e cuidados especiais pela sua dependência.
Haley (1991), diz que “...a chegada de uma criança cria mães, pais, avós,
tios, tias e produz repercussões em todo o sistema familiar. A criança pode ser
uma adição bem-vinda ou uma dificuldade, e pode cimentar ou dissolver um
casamento.” (Haley, 1991.p.175)
No livro “Visitando a família ao longo do ciclo vital”, Cerveny e Berthoud,
situam nesta fase alguns fenômenos que acontecem com o casal: “....descobrindo
novos sentimentos é o conceito que explica as diferentes vivências pessoais e
conjugais que ocorrem uma vez que a decisão por ter um filho foi assumida.
Desde a gravidez até o nascimento do bebê, o casal geralmente vive emoções
62
controversas, ora sentindo-se próximos um do outro, ora sentindo que a
experiência que estão vivendo os distancia. Em geral, a mulher sente-se
fragilizada, sensível, tanto na gravidez como no período pós-parto. Já o homem,
sente a vinda do filho, como um grande desafio a ser enfrentado.” (Cerveny.
Berthoud. 2004.p.52)
Muitas mudanças ocorrem na vida do casal, principalmente no que se
refere ao âmbito profissional. O que realmente percebemos na prática clínica, em
terapia com casais novos é que a mulher sente-se bastante angustiada pelo
exercício do novo papel e teme não conseguir dar conta de criar filhos e trabalhar
ao mesmo tempo. Temos encontrado mulheres muito tensas e que não sabem
separar estas questões começando a deixar que esta angústia se apodere
também do casal conjugal.
McGoldrick (1995) diz que nos Estados Unidos é muito comum os casais
novos conciliarem os empregos lucrativos, que normalmente ficam longe de casa,
com o exercício de cuidar dos filhos. Este mundo profissional caberia às
mulheres, e o mundo doméstico às crianças e aos velhos.
No Brasil este movimento começou a ser evidenciado a partir do Séc. XX,
onde as mulheres, na luta pela igualdade, começaram a buscar os caminhos
direcionados à realização profissional. Observa-se que em todas as classes
sociais as mulheres têm saído em busca do trabalho, para sentir-se valorizada
dentro do casal conjugal e para terem seu dinheiro próprio e não se sentirem
dependentes dos maridos.
“Quando um casal passa a ser um grupo de três, fica clara a colisão entre
os sexos, assim como entre as instituições familiares e societal. Quando a
questão é cuidar de uma criança, encontramos ao mesmo tempo o maior desafio
à igualdade sexual e talvez a questão fundamental para a resolução da
desigualdade.” (McGoldrick1995.p.208)
Alguns aspectos devem ser considerados, quando se fala de formação de
uma família, caracterizando-se a entrada de uma nova criança na vida de um
casal. Pode-se dizer que se tornar um progenitor é um contexto esperado social e
psicologicamente e que constitui mais do que uma ligação entre duas gerações.
63
Muito mais que isso, esse novo estágio da vida do casal evidencia um significado
muito importante, principalmente na vida da mulher.
A visão da teoria sistêmica, aquela que enfoca a família como um
sistema, composta de subsistemas, tem uma perspectiva bastante diferente
diante do desenvolvimento humano, pois caracteriza o desenvolvimento da
criança na riqueza do seu contexto global de relacionamentos multigeracionais,
assim como no seu contexto social e cultural.
A transição para a paternidade é uma transição chave no ciclo vital da
família. É acompanhada da diminuição geral da satisfação conjugal, de uma
reversão de papéis sexuais mais tradicionais e diminuição da auto-estima nas
mulheres.
Na atualidade, fala-se muito sobre maridos e mulheres assistirem a aulas,
ou fazerem cursos pré-natais e preparatórios para o parto. Todavia, o que
realmente percebemos é que os homens começam a se preparar para dividirem
com a esposa a tarefa de criar e educar os filhos.
Viver com filhos pequenos é uma tarefa desafiadora para os pais. Neste
desafio, Cerveny e Berthoud dizem que deve acontecer uma reorganização do
núcleo familiar a cada nova fase de desenvolvimento dos filhos, com o objetivo de
atender as demandas que surgem. Neste momento do ciclo vital acontece uma
reformulação das funções e papéis, que são reformulados e re-negociados ao
longo dos anos.
Nesta fase, segundo as autoras, é muito comum o aparecimento
exarcebado dos mitos familiares, muitas vezes divergentes nas famílias de origem
do casal, o que poderá tornar-se um canal de conflitos e negociações. Esse é o
momento ideal para que haja uma mudança de postura por parte dos pais, e isso
vai requerer um espaço de tempo com as crianças, quando as esposas estiverem
presentes, a fim de que aos poucos aprendam a assumir responsabilidades
primárias em relação aos filhos e lhes proporcionem um desenvolvimento afetivo
mais eficaz.
A responsabilidade pela criação dos filhos ainda fica muito ligada à mãe,
mesmo quando elas trabalham fora. São as mães que suportam a maior parte da
responsabilidade com os filhos, incluindo levar as crianças ao médico, problemas
64
escolares, dinheiro para o lanche e atividades pós-escolares. Supõe-se que, dada
à extensão da influência do novo sistema patriarcal, observa-se à tendência a
encorajar a atividade física para os meninos e a dependência para as meninas.
Nessa fase do ciclo vital, é importante ficarem evidenciados alguns
aspectos a respeito das responsabilidades em casa: o manejo das finanças,
condições de educação e cuidado com os filhos. Os homens que não
desenvolvem relacionamentos íntimos com seus filhos, enquanto eles crescem,
acharão difícil modificar o padrão, mais tarde. É importante o casal ser
conscientizado de que o papel que a mulher desempenha na família é tão
importante quanto o papel do homem, e que ambos precisam ter interesse para
aprender quais as melhores formas de desempenhá-los.
Nas famílias com filhos pequenos, é interessante que haja uma interação
similar na participação, responsabilidade dos pais durante a educação dos filhos.
E também é função dos pais abrir novas perspectivas de mudanças junto aos
filhos, em relação ao significado de suas vidas. No núcleo dessas famílias, é
possível que aconteça uma construção que os pais valorizem em torno de uma
educação unificada, para que eles possam trabalhar os valores adquiridos em
suas famílias de origem de forma harmoniosa com os valores do seu parceiro. É
interessante que tenham uma postura delineada e segura, respeitando os limites
que o casal possui na inter-relação.
2.3 Famílias com filhos adolescentes
As famílias com filhos adolescentes sofrem mudanças no momento da
entrada da criança nessa fase vital. Essas mudanças acontecem em um contexto
social mais amplo, e que se torna, a cada dia, mais complexo.
A fase adolescente, segundo Cerveny e Berthoud (2002) “....caracteriza-
se pela profunda transformação de todos os membros da família, visto que neste
momento do ciclo vital, crises evolutivas geram uma forte necessidade de
mudanças e readaptações familiares, em um movimento complexo e
homeostático.” (Cerveny;Berthould, 2002. p.61)
65
Minuchin&Fishman (2003) decrevem esta fase como um período onde a
família tem que se relacionar com um sistema novo, que passa por uma
reorganização, onde é necessário que se desenvolvam novos padrões e regras.
Nas sociedades altamente tecnológicas, a maior função da família foi
transformada, de função de unidade econômica, em função de sistema de apoio
emocional. Pode-se enfocar, portanto, a transformação global que a família
experimenta ao tentar dominar as tarefas da adolescência.
McGoldrick diz que: “...a adolescência exige mudanças estruturais e
renegociação de papéis nas famílias, envolvendo pelo menos três gerações de
parentes.” Complementa dizendo que: “...por serem tão intensas, as demandas
adolescentes freqüentemente são como catalisadores para reativar questões
emocionais, e acionam os triângulos que são formados no contexto familiar.”
(McGoldrick, 1995. p.223)
Esta fase do ciclo vital das famílias encontra-se bastante estigmatizada
pelo fato de que as pessoas já rotulam o adolescente com “figura-problema”
dentro do contexto familiar. É interessante repensar sobre as possíveis mudanças
de conotação que os pais podem dar ao filho adolescente, porque se houver uma
mudança de postura dos pais e uma tentativa de trazer o filho para junto de si,
pode-se conseguir uma adolescência mais fácil e com alguns limites necessários.
Cerveny (1995) estabeleceu um novo conceito em relação à
adolescência, onde evidencia um movimento que acontece na dinâmica dos pais
e dos filhos neste momento do ciclo vital. Mostra que a família em fase
adolescente é uma família que “adolesce”, onde acontece um movimento onde os
pais e filhos experimentam mudanças significativas no processo evolutivo da
família. Simultaneamente, acontece o fenômeno da entrada dos filhos na
adolescência, coincidentemente com os pais, passando por uma transição do
momento de adulto jovem para adulto maduro.
Macedo diz que: “....a regulação da autonomia dos filhos/alunos é um
exemplo típico do movimento homeostático nos sistemas em foco. Cada membro
do sistema, incluindo os filhos menores na família, executa determinadas ações
que mantêm o filho maior dentro de certos limites.” (In Oliveira, 1998. p. 160).
66
McGoldrick diz que: “...quando o adolescente entra em conflito com um
dos pais, os esforços para diminuir a tensão freqüentemente repetem antigos
padrões de relacionamento da família de origem dos pais. Os pais que fizeram um
esforço consciente para educar seus filhos de modo diferente, evitando os
mesmos “erros” que seus pais cometeram, muitas vezes têm um brusco
despertar”. (McGoldrick, 1995. p.224).
Os pais são acometidos de alguns impactos interessantes, quando
observam o crescimento emocional do seu filho naturalmente e percebem a
contribuição que foi dada por eles nesse processo. É natural que o estresse e a
tensão normais provocados na família por um adolescente causem aos pais uma
insatisfação que os leva a fazer mudanças em si mesmos.
Segundo McGoldrick (1995): “....a flexibilidade é a chave do sucesso para
as famílias neste estágio. Por exemplo, aumentar a flexibilidade das fronteiras
familiares e modular a autoridade paterna permitem maior independência e
desenvolvimento para os adolescentes.” (McGoldrick, 1995. p.225)
Algumas tarefas importantes da adolescência devem ser levadas com
seriedade pelos pais. A capacidade que o adolescente tem de diferenciar-se dos
outros depende de quão bem eles manejam os comportamentos sociais
esperados, para expressar as intensas emoções precipitadas pela puberdade.
Para sentir que podem estabelecer certa autonomia, os adolescentes
precisam tornar-se cada vez mais responsáveis por suas próprias decisões e, ao
mesmo tempo, seguir com segurança a orientação dos pais. O sucesso das
famílias, nesse estágio, depende da flexibilidade que se estabelece para o
adolescente, permitindo-lhe maior independência e desenvolvimento.
Muitos pais, na tentativa de buscar novas soluções para essa fase,
colocam-se em atitudes extremas: ora puxam as rédeas, ora retiram-se
emocionalmente, evitando os conflitos. Outros aceitam o adolescente, ou o
rejeitam. Essa permeabilidade de comportamento faz com que não exista
confiança e segurança na relação entre pais e filhos, e sim, dúvidas. Neste caso,
é importante que os pais consigam adotar uma postura única em relação à
educação, com o objetivo de não confundir os filhos adolescentes em cima do que
é certo e errado, do que pode e não pode.
67
O adolescente reage num esforço tremendo para abrir seu caminho,
recorre a ataques de raiva, retrai-se emocionalmente, por trás das portas
fechadas, busca apoio nos avós, ou apresenta intermináveis exemplos de amigos
com mais liberdade. A puberdade não só compreende a mudança física como
também é um marco para o início da transição psicológica da infância para a
idade adulta.
Os modelos internalizados pelos pais podem ajudá-los ou não a ter uma
postura adequada na condução da educação de seus filhos adolescentes. Em
geral, os pais que tiveram experiências positivas em casa e com os companheiros
durante a transformação sexual estarão mais inclinados a proporcionar
experiências semelhantes a seus filhos, do que aqueles que foram
negligenciados, rejeitados ou sexualmente molestados. Isso não significa que
todos os pais que passaram por essas experiências negativas repetirão o padrão,
mas não é incomum observar estes comportamentos nas famílias, a repetição do
abuso, negligência ou rejeição, assim como a recorrência da gravidez
adolescente e de filhos nascidos fora do casamento.
Uma outra suposição muito discutida, entretanto, é a de que eles
competem em função de suas percepções conflitantes dos papéis de gênero
apropriados. Portanto, a luta global durante a adolescência pode ser mais intensa
com o progenitor do mesmo sexo, que normalmente serve como principal modelo
durante a infância.
A identidade refere-se à opinião pessoal de alguém sobre quais traços e
características o descrevem melhor. A luta do adolescente para obter uma auto-
imagem separada, clara e positiva também pode trazer confusão e mobilização
para o indivíduo e suas famílias. Novas experiências no mundo podem submetê-
los a ansiedade, desapontamento, rejeição e fracasso.
Muitas vezes, em sua tentativa de oferecer modelos de papéis positivos,
os pais transmitem idéias acerca de papéis sexuais, em vez de comunicar a seus
filhos o valor da sua própria experiência. Em outras palavras, aquilo que os pais
dizem freqüentemente não é aquilo que fazem. As inconsistências nesse
processo não são inevitáveis, quanto aos conflitos que emergem quando os
adolescentes enfrentam e desafiam as diferenças.
68
A autonomia é uma característica que o adolescente busca
desenfreadamente, no seu processo de maturação, porque dessa forma poderá
seguir seu caminho buscando sempre a manutenção da sua individualidade.
Quando se caracteriza um processo de adquirir autonomia, isso não significa que
o indivíduo precise desconectar-se emocionalmente, nem fazer transformações
nas tomadas de decisões. Entende-se por autonomia a capacidade que o ser
humano adquire para se governar por si mesmo, buscando a emancipação,
tornando-se independente. Muitas vezes essa autonomia é bloqueada pelos pais,
pelo medo de perderem o filho, de sentirem-se colocados de lado. O adolescente,
para sentir-se autoconfiante e independente, precisa, muitas vezes, aventurar-se
fora da casa dos pais, mas isso não significa que ele não seja mais dependente
psicologicamente dos mesmos e que possua maior controle nas tomadas de
decisões, em sua vida. As mesmas condições para desenvolver um senso de
independência também constroem um vínculo de proximidade de afeto entre pais
e filhos.
Segundo Minuchin&Fishman (2003), “...neste estágio, outra fonte de
pressão e demanda poderá começar a pressionar a família: os pais dos pais. No
preciso momento em que os pais de meia-idade começam a lidar com questões
de autonomia e apoio com seus filhos, deverão negociar a reentrada na vida de
seus próprios pais a fim de compensar a declinação d suas forças ou da morte de
um dos dois.” (Minuchin;Fishman, 2003. p.35.)
Para os pais, tentar manter um controle e procurar, ao mesmo tempo,
imbuir-se de objetividade, ser apoiador e democrático, não é uma tarefa fácil,
especialmente quando se sentem julgados e criticados por seus próprios filhos.
A tolerância paterna tenderá a ser baixa, se eles não conseguiram obter
autonomia emocional em relação a seus próprios pais. Da mesma forma, se os
pais têm conflitos não resolvidos um com o outro, sua capacidade de aceitar o
desejo de autonomia do adolescente fica prejudicada. O adolescente não pode
ficar triangulado em lutas de poder entre os cônjuges ou entre os pais e os avós,
o que complicará o processo, aumentando a tensão, a insatisfação, o
desentendimento e o conflito, para todos.
As expectativas de desempenhar um determinado papel, e de gênero, no
que difere entre os meninos e meninas, certamente influenciam os adolescentes,
69
na medida em que eles passam a tomar decisões em relação a seus objetivos de
vida. As famílias tradicionais encorajam mais os filhos do sexo masculino a
progredirem em termos educacionais e ocupacionais, a viverem
independentemente e a se sustentarem financeiramente.
A tarefa da adolescência desencadeia sentimentos de perda e medos de
abandono, na maioria das famílias. A transição da infância para a adolescência
assinala uma perda para a família – a perda da criança. Os pais muitas vezes
sentem um vazio, quando o adolescente passa a ter maior independência, pois
não são mais necessários da mesma maneira, e a natureza de seus cuidados
precisa mudar.
Tentar controlar arbitrariamente os adolescentes pode levar a um
comportamento seriamente sintomático. Como resultado disso, eles podem ficar
paralisados, quando sentirem a urgência de crescer, e ficarão em casa, para
satisfazer as necessidades dos pais. Estes podem passar pela experiência de
sentir-se diante de um dilema semelhante, quando os medos de perda interferem
nas suas tentativas de ajudar os filhos a crescerem. O dilema muitas vezes é
resolvido pela adoção de um comportamento sintomático.
Os pais que ficam esmagados pelas tarefas de adolescência podem
desistir de toda a responsabilidade e deixar que as autoridades externas
assumam o controle. A intervenção clínica durante a adolescência é um passo
muito eficaz para as famílias que estão se sentindo caóticas. Se existe um
momento no ciclo de vida das famílias em que os encaminhamentos para terapia
familiar atingem um pico, é provavelmente o período da adolescência dos filhos.
As famílias costumam chegar aos consultórios terapêuticos sentindo-se
confusas, zangadas e descontrolados, e apresentam aos terapeutas as situações
que refletem a incapacidade familiar de lidar com as tarefas da adolescência.
Incapazes de promover mudanças necessárias que facilitem o crescimento, elas
se paralisam, repetindo padrões disfuncionais que eventualmente levam ao
comportamento sintomático nos adolescentes. Ajudar essas famílias a encontrar
soluções que possam romper esses ciclos, desencadeando uma mudança de
segunda ordem, é um objetivo primário do processo terapêutico. Paralisados e
assustados, eles vivenciam o presente como interminável e o futuro como
perigoso. Nessas famílias, os adolescentes normalmente param de crescer
70
emocionalmente, e às vezes até fisicamente, e os pais, muitas vezes, parecem
incapazes de ajudar seus filhos a crescer. O objetivo de reestruturar as
concepções de tempo de família é o de liberar o sistema da situação em que o
tempo parou.
Sob a ótica do ciclo vital da família, é muito importante visualizarmos que
as famílias de hoje estão em constantes mudanças. O ser humano vive em busca
de tornar-se melhor a cada dia, e isso tem sido passado de pai para filho,
repetindo-se um pouco os valores dos avós e pais. Na verdade, a família continua
sendo o principal agente formador do indivíduo; por ela fluem os canais da
educação, dos valores morais, sociais e religiosos.
A família com filhos adolescentes, na verdade, é estigmatizada demais no
contexto social, e muitas vezes esse processo se acentua, quando os próprios
pais tratam os filhos por “aborrecentes”. Desmistificar este conceito, ou melhor,
este rótulo que tanto pesa para os jovens, é papel fundamental dos pais, uma vez
que, redefinindo o conceito do que é ser pai para um adolescente, mudar a forma
de comunicação e modificar a postura dentro da relação pode, certamente,
alcançar objetivos favoráveis na relação do dia-a-dia.
Segundo Cerveny e Berthoud(1997), “...os adolescentes trazem para a
família uma gama de valores, atitudes e idéias novas. Famílias muito rígidas
tendem a ter problemas e disfunções maiores, experimentando dificuldades ao
identificar as novas necessidades e ao se readaptarem a essas
situações”.(Cerveny;Berthoud,1997.p.88).
Em contrapartida, fronteiras mais flexível poderão promover uma maior
aproximação do adolescente ao núcleo familiar, buscando ajuda para situações
que não sente segurança de resolvê-la, e, independência quando se encontrar
diante de alguma situação que esteja preparado para lidar de maneira positiva.
Transpor as fases do ciclo vital com bastante conhecimento, fortalecer a
estrutura conjugal e ampliar a visão dos valores da época atual vai ajudar estes
pais a percorrerem um caminho, bem mais tranqüilo e consciente do seu papel
diante dos filhos. Minimizar as dificuldades e mostrar as novas formas de
atuações que possam interferir nas mudanças dessas fases é o objetivo central
deste trabalho em relação aos pais que estão nesta fase do ciclo vital.
71
Fases do Ciclo Vital
FASE DO CICLO VITAL
PAIS FILHOS Dificuldades
Casal Conjugal
--------------------
--------------------
Padrões das famílias de
origem podem contribuir para
a incapacidade de cada um
negociar a transição para a
condição de casal.
Famílias com filhos
pequenos
Adaptação do
casal conjugal à
chegada da
criança.
Aparecimento
de novos
sentimentos.
Desenvolvimen
to e adaptação dos
novos papéis.
Pouca autonomia.
Dependendo da
tipologia dos pais
tem um
desenvolvimento
mais sadio.
Mudança no
funcionamento dos membros
do casal conjugal.
Medo de educar pela
necessidade de saber o que é
certo ou errado.
Percepção de que estão
num movimento de repetição
das famílias de origem podem
causar turbulência na relação,
podendo haver uma repetição
exarcebada dos
comportamentos ou uma
polarização dos mesmos.
Filhos podem desenvolver
ciúmes dentro do núcleo
conjugal
Famílias com filhos
adolescentes
Amadureciment
o do casal conjugal
Pode haver
pontos de
discórdia na
educação dos
filhos.
Necessidade
de colocar limites.
Desenvolvem
medos em relação
ao futuro dos
filhos.
Busca
desenfreada por
autonomia que pode
gerar conflitos.
Certo
distanciamento dos
pais.
Busca de
liberdade.
Conflitos causados pela
necessidade de auto-
afirmação do adolescente.
Insegurança dos pais no
desempenho do papel
parental
72
Capítulo 3 – A repetição dos modelos intergeracionais
Muitas vezes, desafios transformam-se em dificuldades, transições
difíceis de serem vencidas e reproduzindo padrões é um processo que ocorre
especialmente quando os pais sentem-se incapazes de adotar novos padrões de
relação”. (Cerveny, Berthould, . 2002.)
A construção do comportamento de educar filhos, normalmente pode ser
influenciada pelo modelo internalizado que os pais vivenciaram em suas famílias
de origem. Esta suposição nos leva a acreditar que é preciso compreender todo
este mecanismo, a forma como ele vem à tona, e de que maneira pode haver
uma mudança ou desconstrução destes padrões, em prol de uma educação que
seja compatível ao núcleo familiar.
Em recente Sociodrama com um grupo de pais numa Escola sobre o
tema “Limites”, um deles me questionou: “E a obediência onde está? Quando eu
era menor, meu pai olhava para mim, e eu já obedecia. Eu sabia o que era para
fazer. Eu mando meu filho tomar banho vinte vezes, e ele só vai quando o
ameaço. Não era melhor a educação antiga, a dos nossos pais? Meu pai olhava,
e a gente obedecia!”
Questões como estas retratam a insegurança e o medo dos pais de
desenvolverem o papel parental compatível à sua família, ou até mesmo que
estão construindo dentro da mesma. Muitas vezes temem ter atitudes muito
radicais e afastarem cada vez mais os filhos de si, e, por outro lado, mostram-se
inseguros de reforçar o diálogo no exercício de educar, temendo perder o controle
da situação.
Berthoud, na pesquisa onde mostra desafios de ser pais na atualidade,
evidencia que: “...os pais e mães contemporâneos não querem ser pais do modo
como seus próprios pais o foram, mas, não sabem exatamente que tipos de pais
querem ser, ou seja, não têm modelos claros a adotar.” (Berthoud, 2003. p. 19)
Quando os pais param para pensar e avaliar o tipo de educação que
tiveram, que tipologia seus pais apresentavam, muitas vezes, mostram-se
angustiados e inseguros. A minha experiência prática mostra que alguns deles
73
percebem que estão repetindo os modelos e outros, nem se conformam com o
modelo de pais que tiveram. Estes conflitos levam os mesmos a adotarem uma
postura mais aberta e liberal do que aquela que tiveram, e, na maioria das vezes
têm dificuldades com os filhos. Em diversos trabalhos com grupos de pais, me
deparei com pais confusos, tristes e desesperados no exercício do papel parental.
Confusos pelo excesso de informações contraditórias que muitas vezes
receberam, tristes por não conseguirem educar seus filhos com amor e harmonia
e desesperados por estarem sendo modelos negativos de pais para estes filhos.
Segundo Cerveny, “...as diferenças de modelos familiares de cada
cônjuge, somadas à ineficiência de tais modelos para a resolução dos conflitos
atuais, oferecem ao casal um contexto extremamente inseguro para desempenhar
os papéis de cuidadores e orientadores do desenvolvimento de seus filhos.”
(Cerveny, 1997. p.69).
Pensando nos modelos familiares, podemos citar a definição de modelos,
segundo Dicionário Michaelis (1998), “... tudo que serve para ser imitado; aquele
a quem se procura imitar nas ações e maneiras; pessoa exemplar. . .”
Tomando como parâmetro esta definição, ser modelo para os filhos é
realmente um desafio para os pais. Como construir um modelo idealizado?
Aquele em que o filho possa imitar as suas ações e maneiras, ou até mesmo
aquela pessoa exemplar em que o filho possa se espelhar. É realmente muito
difícil, principalmente quando se tem um repertório bastante amplo, de situações
negativas conflitantes, mas que não podem ou não devem ser repetidas.
Numa aula no Curso de Pós-graduação em Psicologia da Educação da
USP/SP, o Prof. Dr. Lino de Macedo (especialista em Educação) tratou estas
questões com bastante cuidado, mas foi enfático: “...as repetições
intergeracionais são importantes, mas não podemos repetir tudo o que
aprendemos, é importante que haja uma atualização do que foi aprendido para
que possamos ter a confiança de que estamos acompanhando a evolução do
mundo em direção a uma educação construída juntos com os filhos. (Pós-
graduação Psicologia da Educação, USP. 2003)”.
A proposta desta pesquisa está em ajudar estes pais a repensar o
comportamento atual e tentar construir um modelo acessível de comportamento
74
na educação que os possibilitem de exercer este papel adequadamente de forma
harmônica e sem culpas. É importante ressaltar que cada modelo parental pode
ser construído em cima da estrutura de cada família. E que, a bagagem que estes
pais trazem das suas famílias de origem precisa ser realmente atualizada para
que haja uma possibilidade de ser funcional na família nuclear formada. Por isto
podemos dizer que não existem regras pré-estabelecidas que atendam a todas as
famílias, e sim, a tentativa de perceber como esta repetição está acontecendo
para que possa existir uma possibilidade de mudança.
Repensando a questão intergeracional na família, pode-se tomar como
diretriz a afirmação sistêmica utilizada por Cerveny, “....uma das coisas
importantes que essa lente oferece é a possibilidade de não estarmos
preocupados com os porquês, mas tentarmos repensar o como. Indagar porque o
indivíduo repete não faz parte do pensar sistêmico, mas pesquisar como isto
acontece vai nos permitir formular e observar as condições em que pode haver a
repetição.” (Cerveny, 2001.p.32).
Regras Familiares
Não consigo colocar regras na minha casa porque vivi num quartel general junto
à minha família. Meu pai era militar e minha mãe uma fervorosa fã da Igreja
Protestante. Será que é preciso tanta regra para ensinar o filho a viver?”
(Depoimento de uma mãe num Sociodrama, na ONG-SP, 2005)
Regras, segundo Bueno, “.... norma; aquilo que a lei ou o uso determina;
estatutos de algumas ordens religiosas.” (Bueno, 1996. p. 563)
Olhando para dentro da família, podemos observar que a dinâmica da
mesma consegue ser funcional quando têm regras pré-estabelecidas, algumas
diretrizes onde os membros da mesma possam se apoiar para que haja um
desenvolvimento interno seguro.
Segundo Cerveny, falando das regras familiares: “....é o conjunto de
acordos explícitos e implícitos que é compartilhado e conhecido por um grupo
familiar, que faz parte da história da família e se mantém por meio do uso.”
(Cerveny, 2001. p.54).
75
Normalmente as regras familiares aparecem no momento da união do
casal conjugal. Aparecem contaminadas pela forma como os cônjuges viveram
em suas famílias de origem e conseqüentemente são elas que vão determinar
como será o desenvolvimento dos comportamentos afetivos dos mesmos junto a
amigos e à família de origem. Normalmente as regras precisam ser negociadas e
pode passar por mudanças conforme as situações em que os membros da família
se movimentam.
Berthould evidencia um ponto importante relacionado a esta questão:
“....ao longo do ciclo vital da família, regras normativas e não-normativas são
fundamentais para dar estabilidade e manter a homeostase do sistema. Porém,
regras rígidas, que tendem a se perpetuar na dinâmica do funcionamento do
grupo familiar, dificultam as relações e geram padrões disfuncionais difíceis de
serem modificados.” (Berthoud, 2003. p. 45)
Segundo Minuchin(1982) “...os padrões transacionais regulam o
comportamento dos membros da família. São mantidos por dois sistema de
repressão. O primeiro é genérico, envolvendo as regras universais que governam
a organização familiar.Por exemplo, deve existir a hierarquia de poder, em que os
pais e os filhos têm diferentes níveis de autoridade. Também deve haver uma
complementaridade de funções , com o marido e a mulher aceitando a
interdependência e operando como uma equipe. O segundo sistema de repressão
e o idiossincrásico, envolvendo as expectativas mútuas de membros específicos
da família.” (Minuchin,1982.p.57).
Dentro deste enfoque este mesmo autor evidencia as fronteiras de um
subsistema que podem ser definidas como regras que apontam quem participa e
como participa. Minuchin diz que a função das fronteiras é a de proteger a
diferenciação do sistema.
Para que haja um funcionamento normal do sistema é necessário que as
fronteiras sejam nítidas, e, qualquer disfunção destas fronteiras pode fazer com
que as funções protetoras das famílias sejam prejudicadas.
Cerveny (2001)diz que não tem dúvidas de que as regras protegem as
famílias como um sistema, mesmo que estejam a serviço de um “mal
funcionamento”, e explica isto citando exemplos de famílias que ao adotarem
76
regras novas deixando de lado as regras antigas e mantendo um padrão
conhecido, sentem-se ameaçadas e reagem às mudanças.
Mitos Familiares
Na minha família todas as mulheres casaram virgem. Imagine como para mim é
difícil aceitar que é normal ter relações sexuais antes do casamento, quando vivi
sob um mito de que a mulher virgem era a mais pura e a que casava desvirginada
era vagabunda....” (Depoimento de uma mãe num Sociodrama sobre sexualidade
na infância e na adolescência na Clínica Pediátrica, 2005).
Mitos, segundo Bueno,“...fato, passagem dos tempos fabulosos, tradição
que, sob forma de alegoria, deixa entrever um fato natura, histórico ou filosófico,
(fig.) coisa inacreditável, sem realidade.” (Bueno, 1996.p. 435)
Na vida do ser humano os mitos aparecem em diversas situações. Torna-
se importante conhecer os mitos para entender o que está na história, na cultura,
nos valores e nas tradições das famílias. Estes mitos podem atravessar gerações
e influenciar o núcleo familiar da mesma maneira que aconteceu em gerações
anteriores.
Os mitos aparecem dentro do contexto da família como uma forma de
manter uma tradição que pode ter sido desvalorizada com o passar do tempo com
os adventos das mudanças culturais. Na bibliografia alguns autores trazem a
definição de mitos atrelada às tradições familiares ligadas à família nuclear
formada.
Cerveny (2001) diz que: “....os mitos familiares são, na maioria das vezes,
sustentados pelos segredos familiares”. E continua numa linha de pensamento
que diz:. “...os segredos familiares podem se referir a ações e acontecimentos
não vergonhosos que inclusive servem para criar união em um nível intra-familiar,
servindo até para diferenciar aquele grupo familiar de outros, dando-lhe uma
identidade familiar específica.” (Cerveny, 2001. p. 57)
Andolfi (1989) refere o mito como sendo algo em transformação, sendo
externalizados por componentes reais e fantasiosos, e que adentra a família de
acordo com a sua realidade, cabendo a cada membro desta um papel
77
significativo. Segundo o autor, os mitos podem ser herdados da família de origem
ou mesmo elaborados pela família nuclear, de acordo com o momento e
necessidades que estão vivenciando.
Maciel (2000) relata que: “...os mitos brotam da projeção imaginativa que
o homem faz da vida e sintetiza tudo aquilo que ele conseguiu conquistar, em
face de uma vida que não solicitou, uma morte que o amedronta, um amor que o
domina e uma natureza que o assombra. Ele, o mito sempre diz o que a ciência e
a razão não conseguiram dizer”. (Maciel, 2000. p. 30)
Krom (2000), em sua pesquisa sobre “Família e Mitos”, mostra que para a
manutenção dos mitos, a família utiliza alguns recursos que são compartilhados
por todos os membros da mesma, elaborando rituais que podem perpetuar estes
mitos.
Segundo a autora, “...os rituais podem se apresentar como uma série de
atos e comportamentos estritamente codificados na família, que se repetem no
tempo e dos quais participam todos ou uma parte de seus membros, tendo
sobretudo na família a tarefa de transmitir a cada participante valores, atitudes e
modalidades comportamentos relativos a situações específicas ou vivencias
emocionais a eles ligados.” (Krom, 2000. P. 30)
Quando os rituais são vivenciados, muitas vezes, a memória familiar é
acionada onde muitas histórias e experiências são compartilhadas em conjunto.
Os ritos se adaptam às regras que são estabelecidas dentro da família. Vários
rituais são observados dentro da família no dia-a-dia, tais como: a rotina de fazer
as atividades de vida diárias, as expressões afetivas entre s componentes da
mesma, as festas para comemoração de datas importantes, entre outros.
Na visão de Krom (2000), os rituais dão margem ao aparecimento de
expectativas, que por meio do uso da repetição, da familiaridade e transformação,
podem gerar condutas e ações diferenciadas. Evidencia também que, os rituais
podem ter múltiplos significados e que possibilitam a expressão da descrição de
situações que não pode ser expressa por palavras, utilizando recursos simbólicos.
Alguns mitos são encontrados com freqüência nas famílias, dentre eles,
podemos citar: Mito da Prosperidade, Mito da união, Mito da Propriedade, Mito da
Autoridade, Mito da Honestidade, entre outros.
78
De acordo com Cerveny (2001), os mitos familiares são sustentados
pelos segredos familiares, que são ações e situações ocorridas com outras
gerações, e que são guardados no livro da história da família, que se torna algo
específico daquele grupo familiar.
O mito que aparece dentro da vida da família pode vir a tornar-se um
padrão que se repete de geração em geração e se fortalece através delas.
Valores Familiares
Vivi numa família onde a honestidade era muito cultuada. Desde os tempos de
meu avô meu pai aprendeu de que o maior valor que o homem tem é de poder
encostar a cabeça no travesseiro e dormir em paz. Como poderia viver bem com
um homem que só fazia trambiques? Que modelos de valores poderiam dar a
nossos filhos?....” (Depoimento de uma mãe num Sociodrama sobre Limites na
infância e na adolescência na Clínica Pediátrica, 2005).
“Um das definições mais antigas de “valores” é: “ uma crença na qual o
homem escolhe o modo de agir”. Outras definições começaram a ser pensadas
na direção dos valores dentro da vida do ser humano e da família.
Segundo Grünspun (1984), os valores regem a vida, determinando os
modos de agir e atuar de cada indivíduo, frente ao mundo. Segundo o autor, os
valores existem porque os homens têm necessidades e vontades, e a partir delas
cria seus próprios valores, que posteriormente vão estabelecer seus modos de
vida.
Que valores são estes? O que está acontecendo com os nossos valores?
E com os valores da família?
Possivelmente estamos adentrando uma época muito difícil que se choca
com a questão dos valores. Esta realmente é uma questão fundamental , que
pode ter início desde as relações familiares e caminha para as perturbações de
uma sexualidade atordoada , o universo das drogas, a insegurança com a
violência desenfreada. Podemos questionar que valores podem levar a todos
estes desacertos?
79
Questões como estas começam a preocupar pessoas que lidam
diretamente com os jovens, sejam eles, os pais, os educadores, professores,
psicólogos, entre outros.
Segundo estudos de Grünspun(1984), os valores normativos se
desenvolvem no ser humano com uma seqüência hierárquica desde seu
nascimento nas relações familiares e no ambiente em que cresce.
(Grünspun,1984.p.22) Este estudo caracteriza três valores básicos da condição
humana:
Poder humano- habilidade para satisfazer as necessidades. O poder é
específico à espécie humana. Na medida em que o homem satisfaz suas
necessidades está adquirindo poder, seja ele qual for..Ter poder significa
usar toda oportunidade de impor vontade própria nas relações sociais,
mesmo contra as resistências.
Aceitação- estado de prontidão para satisfazer as necessidades. A
aceitação e o fator máximo de segurança. Poder e aceitação estão sempre
interligados.
Necessidade atuante- leva o indivíduo à ação. Esta ação tem como
finalidade à sobrevivência.
Podemos caracterizar dois tipos de valores: os valores inatos e os valores
adquiridos. Os valores inatos que estão relacionados aos valores instintivos, não
treinados, típicos da espécie, e é adaptado porque serve à sobrevivência do
individuo. Como exemplo destes valores tem o instinto de interação, instinto de
apego, instinto de afeto e amor, instinto de vida, instinto de aprendizado-
educação. Todos estes valores podem possibilitar o equilíbrio do ser humano no
contexto individual, social e psicológico.
Segundo o autor, “...o desenvolvimento dos valores adquiridos é a
conseqüência da existência prévia de desenvolvimento dos valores inatos.Os
valores inatos crescem e amadurecem com a idade, mas seu início é precoce.”
(Grünspun,1984.p31) Para o autor, os valores adquiridos vêm das fontes sociais
da humanidade. Realizar, cumprir, corresponder e desenvolver valores adquiridos
causa prazer e satisfações. Podem ser consideradas respostas afetivas para
determinadas características a que os valores obrigam as ações humanas.
80
É importante não confundir os valores adquiridos com opiniões, crenças,
atitudes, porque aqueles são imutáveis, inerentes ao ser humano, enquanto esses
são variáveis conforme o povo, época, pessoas, lugar e momentos. Alguns
exemplos de valores adquiridos são importantes para o ser humano,tais como:
Sentido de Dever cumprido
Honestidade
Trabalho
Cultura e Tradição
Moral e o Bem
Segundo Recoba (1984), “...valor é aquilo capaz de romper a indiferença
do homem, aquilo que o impulsiona a viver com profundidade. Valor é aquilo que
enobrece e dinamiza a existência do homem e na mulher por se valioso, digno e
nobre.”( Recoba,1984.In Charbonneau;Grünspun;Esquivel;Valle.p.79)
A família como educadora necessita de estabelecer alguns valores
fundamentais que poderão ser facilitadores e tornar-se meios práticos de
alcançar uma educação eficaz e justa. Criar um ambiente familiar que potencialize
o desenvolvimento destes valores é uma tarefa difícil,mas muito almejada pelos
pais. A família é um fator essencial para criar os filhos e estabelecer um número
de valores que os permitam na vida adulta ter segurança para formar um dia a
sua própria família.
Baseados em suas experiências de vida, nos padrões seguidos no decorrer
da vida, os pais têm expectativas em relação a seus filhos baseadas nos valores.
Quando estes valores não são claros, e o que veicula são situações que muitas
vezes são contraditórias, os pais ficam inseguros e com muitas dificuldades.
A família como educadora necessita de estabelecer alguns valores
fundamentais que poderão ser facilitadores e tornar-se meios práticos de
alcançar uma educação eficaz e justa. Criar um ambiente familiar que potencialize
o desenvolvimento destes valores é uma tarefa difícil,mas muito almejada pelos
pais. A família é um fator essencial para criar os filhos e estabelecer um número
81
de valores que os permitam na vida adulta ter segurança para formar um dia a
sua própria família.
A sociedade pressiona os pais no sentido de rever seus valores, conceitos;
e os filhos muitas vezes apontam os mesmos como tendo valores ignorantes e
antigos. Esta é uma questão viva. A família deveria ter disponibilidade para
discutir todas estas coisas diariamente, mas a vida moderna dificulta os contatos
diários e não possibilita mais convivência. De certa forma é desproporcional a
responsabilidade que a sociedade põe nos pais e o suporte de apoio que eles têm
para poder encarar e realizar esta. Hoje percebemos um discurso que coloca a
culpa de tudo o que acontece na família. No entanto, os problemas mais sérios
que acontecem com os filhos, não acontecem dentro da família. O problema
sobre a mesma é grande e o mecanismo de suporte para um desenvolvimento do
papel paternal competente é muito pequeno. Nem a parceria família-escola vem
sendo adequada e os recursos que os pais tem utilizado para desenvolver este
papel tem sido ineficazes para o desenvolvimento do papel parental.
Os pais estão em busca de se fortalecerem para assumir a
responsabilidade com autoridade, sem receios de serem taxados de antigos. As
expectativas dos pais é que alguns valores sejam incorporados às suas famílias ,
tais como: respeito, honestidade, ajudar os outros, uso útil do tempo, participação
de ações na comunidade, entre outros.
Dentro desta realidade , os pais precisam ter a coragem para assumir seus
valores e começar a negociar, utilizando argumentos , assumindo a autoridade
que é útil para a formação da personalidade do jovem.
Triangulações Familiares
Triangulação, segundo Bueno “....é o ato de triangular”. (Bueno, 1996. P. 655)
“Não sei bem como isto que aconteceu, mas, por causa da bebedeira do meu
marido, meus dois filhos se voltaram contra o pai, e agora, tudo deles é comigo e
o pai não fica sabendo de nada. Às vezes, preciso esconder algumas coisas dele
porque senão ele bate nos garotos.” (Depoimento de uma mãe num Sociodrama
sobre Insegurança na infância e na adolescência na Clínica Pediátrica, 2005).
82
Diversos autores mostraram a importância da triangulação no contexto
das relações familiares, dentre eles, Haley (1977), Minuchin (1982), Andolfi
(1987), entre outros.
Na minha prática clínica, trabalhando com casais e famílias, a
triangulação é um padrão que aparece constantemente. Alguns triângulos são
mais freqüentes, como pai, mãe e filho, mas outros também aparecem durante o
processo.
De acordo com Cerveny (2001), “...quando, durante a terapia, se
aprofunda o conhecimento das interações familiares no passado, não raro
encontramos o padrão triangulação já tendo causado problemas nas gerações
anteriores.” (Cerveny, 2001. p.64).
Minuchin (1982) traz a questão da triangulação como uma situação
relacionada às fronteiras, que têm a função de proteger a diferenciação do
sistema. E que para um funcionamento sadio da família as fronteiras devem ser
nítidas. Quando existe uma triangulação na família funcional, o autor diz que as
fronteiras encontram-se nítidas e flexíveis, permitindo negociações entre os
subsistemas. Em contrapartida, nas famílias disfuncionais as fronteiras
encontram-se difusas e a negociação entre os subsistemas ficam comprometidas.
De acordo com Cerveny a triangulação pode ser vista como um padrão
de interação, que possivelmente poderá repetir-se nas gerações subseqüentes.
Segredos Familiares
“Como vou contar ao meu marido que a minha filha já transou, se ele é totalmente
contra isto. Se ele souber, mata minha filha. Vocês não o conhecem. Isto
aconteceu na família dele, com a irmã e quase a casa caiu.” (Depoimento de uma
mãe num Sociodrama na Clínica Pediátrica,2004)
Segredo, segundo Bueno “....aquilo que é secreto ou não pode ser
divulgado;o que se oculta ou não se deve dizer. . .” (Bueno, 1996. p.597)
Se pensarmos esta definição dentro do contexto da família, podemos
dizer que: os segredos são as articulações feitas entre alguns membros da família
tendo sempre a necessidade que um ou outro não compartilhe daquela
83
determinada situação. Os segredos dentro da família podem correr de uma
geração a outra como forma de manter a família articulada.
Imber-Black e colaboradores (1994) dizem que: “...os segredos trazem
múltiplos níveis de sistemas à vida, na sala de terapia, incluindo o contexto
sociopolítico, econômico, cultural, religioso, moral, político, de meios de
comunicação, contexto mais amplo da saúde, saúde mental e educacional, família
imediata e de múltiplas gerações, relacionamento entre duas pessoas e individual.
Os segredos, as decisões sobre sigilo e franqueza, além do manejo de
informações, estão interligados na trama da nossa sociedade.” (Imber-Black, .
1994. p 3)
A questão do segredo em nossa pesquisa poderá ser vista pelo enfoque
dado por Imber-Black que posiciona os membros das famílias estão ateados por
circunstâncias como:
1. Precisa apreender e extrair sentido do que nos surge pelo caminho, e esses
dados são verdadeiramente o significado ou a ordem de eventos de outra
pessoa, em vez daquilo para que estamos preparados.
2. Lidar com uma capacidade limitada para extrair sentido do que nos cerca.
3. Somos dependentes do sistema de necessidades dos responsáveis pelos
cuidados em nossas famílias; dependemos do que eles, por seus esforços e
suas próprias energias, dispõem-se a ajudar-nos a compreender e do que
eles, por seus valores, ansiedades, segredos e vergonha, decidem que as
crianças não devem saber.
(Imber-Black, 1994. p. 46)
No trabalho com pais tenho percebido a fidelidade com que alguns deles
se posicionam em relação às famílias de origem. Este processo certamente é
inconsciente, e por isso facilitador para que estes pais repitam alguns
comportamentos ligados às ações herdadas.
No estudo com famílias é importante ressaltar as lealdades herdadas no
contexto familiar e como elas atuam na dinâmica da família nuclear formada.
Segundo Imber-Black, existem dois tipos de lealdades herdadas: “....a primeira, é
84
o carinho natural que sentimos pelos membros de nossa. Compreendemos e
apreciamos o grupo familiar no qual nascemos. Somos leais a ele por criar,
manter e apoiar nossas vidas família – não importando quem faz parte da família
ou como ela era. O segundo tipo é a lealdade invisível, que não é transparente,
não é conhecida e, portanto, não é compreendida (Boszormenyi,1973). Esta
lealdade é um poderoso cabo de fios invisíveis que nos mantêm emocionalmente
cativos de nossas famílias”. (Imber-Black, 1994. p. 46)
Na maioria dos Sociodramas Construtivistas que tenho feito com grupos
de pais percebo que é muito difícil adentrar o universo da família de origem,
porque eles tendem, inconscientemente, de desenvolver mecanismos de defesa
em relação aos pais, que muitas vezes comprometem a percepção do
comportamento negativo. Podendo também, acontecer o inverso, onde num
primeiro momento eles associam os comportamentos que estão tendo como
repetição do que viveram em suas famílias de origem. A questão dos segredos
realmente é a mais difícil de ser trabalhada, porque, como foi falado
anteriormente, é possível, em determinados momentos sentirmos as dores
internas que foram vivenciadas por nossos pais e muitas vezes entramos num
mecanismo de defendê-los e protegê-los.
85
Capítulo IV – Temas da família contemporânea
A família contemporânea passa por um momento de mudanças bastante
significativo, onde o amor e o diálogo fazem parte da proposta mais importante,
nessa estrutura. É uma situação natural os casais serem cobrados quanto às
exigências de um diálogo com os filhos, um diálogo da pós-modernidade, e os
pais ficam desorientados, quando não conseguem se enquadrar nesse
referencial.
É muito comum o ser humano se deparar, a todo o momento, com
orientações e informações sobre educação: na televisão, em revistas, em jornais,
em livros de auto-ajuda, em entrevistas com os orientadores da escola. Os pais
começam a dar prioridade ao diálogo como saída para algumas dificuldades que
desafiem a sua comunicação com os filhos.
Começa a chegar o momento em que os pais precisam fazer uma
reflexão para chegar a uma maneira acessível para que esses diálogos possam
se tornar efetivos. Este é o momento onde poderão perguntar até que ponto um
diálogo, num determinado momento, é mais permissivo do que construtivo.
Alguns temas relacionados à educação de filhos são muito preocupantes,
na realidade atual. Alguns deles tratam da forma como os pais interagem na
relação com os filhos, e outros destacam as preocupações dos mesmos no
contexto familiar. Alguns temas serão trabalhados nos Sociodramas
Construtivistas, tais como: limites, insegurança infantil, sexualidade infantil,
perdas na infância, como educar os filhos sem perder a identidade do casal, mães
que trabalham fora, o real e o virtual no cotidiano infantil, drogas.
O marco inicial, que inspirou este trabalho com grupo de pais foi
relacionado aos limites na educação, pela necessidade que os pais apresentavam
de terem informações durante as consultas médicas e psicológicas que eram
feitas na Clínica Pediátrica. Por outro lado, num momento posterior, os pais de
crianças e adolescentes de uma ONG estavam apreensivos de ter alguma
informação sobre este mesmo tema. Os temas seguintes surgiram a partir dos
Sociodramas Construtivistas realizados a pedido dos próprios pais no
questionário que foi aplicado.
86
4.1 – Limites
Um dos temas polêmicos na atualidade está relacionado à forma com
que os pais colocam os limites em relação aos seus filhos. Uma família ajuda uma
criança a desenvolver papéis saudáveis na medida em que mantém boas
interações, e os limites são estabelecidos de maneira clara e objetiva.
Os conhecimentos dos limites pelos filhos são necessários em qualquer
fase do desenvolvimento, precisam ser razoáveis e adequados e ter uma
finalidade pré-estabelecida. Estes só podem ser transmitidos a uma criança se os
próprios pais o possuírem. Quando isto acontece, a criança é ajudada a desistir
das polaridades relativas à impotência/onipotência, e aprende a negociar.
Minuchin (2003) diz que: “...a família é um grupo natural que através dos
tempos tem desenvolvido padrões de interação. Estes padrões constituem a
estrutura familiar, que por sua vez governa o funcionamento dos membros da
família, delineando sua gama de comportamento e facilitando sua interação.”
(Minuchin&Fishmann, 2003,p. 21)
Os componentes da família interagem dentro da estrutura familiar como
uma unidade que interage com as outras. Desta forma podem interferir no
comportamento do outro e ter a consciência que os outros interferem no seu.
Nesta interação o indivíduo percebe que os territórios são demarcados, e que
transgredi-los pode gerar conseqüências que são capazes de desenvolvem os
mais diversos sentimentos, tais como: ansiedade, culpa, raiva. Os próprios
membros da família conhecem, de alguma forma, a demarcação do seu território.
Segundo Minuchin “....cada membro da família sabe o que é permitido, as forças
que se opõem aos desvios, natureza e eficiência do sistema de controle”. (Idem,
p. 22)
O sistema parental tem como função principal educar os filhos e
socializá-los, embora existam outras características do mesmo no que se refere
ao desenvolvimento da criança que são afetados diretamente pelas interações
promovidas pelo subsistema. Dentro da família a criança desenvolve a
capacidade de discernir a questão da autoridade avaliando o quanto é racional ou
arbitrária. Começa a entender em quais momentos é apoiada, de acordo com as
87
repostas de comportamentos de seus pais, e começa a entender as formas com
que sua família lida com o conflito e a negociação.
Com o desenvolvimento e amadurecimento da criança, suas
necessidades mudam e o subsistema parental sente o reflexo disto e também
provoca mudanças. Nas famílias com filhos adolescentes é muito normal que haja
negociações bem maiores do que nas famílias com filhos pequenos. Segundo
Minuchin, os pais que têm filhos maiores terão que lhes conceder mais autoridade
ao mesmo tempo em que lhes pedem mais responsabilidade.
Podemos refletir acerca de outras questões interessantes quando se
coloca o tema “limites” dentro do processo de educação, e no desenvolvimento da
criança. É importante pensar nos limites enquanto fronteiras para atender os
desejos ou necessidades dos filhos, e também, nos limites enquanto obstáculos a
serem transpostos pelos filhos em direção à maturidade.
De acordo com La Taille (2000), psicólogo atuante na área da Psicologia
da Educação na USP/SP, e pesquisador deste tema desde a década de 80, o
processo de educação atual nos mostra quadro que vai desde a observação de
problemas que envolvem a moralidade humana e circunda pelo universo da
violência chegando até a ausência de limites, onde tudo isto envolve questões
como autoridade e disciplina.
O quadro social hoje apresenta queixas relacionadas aos jovens que
estão direcionadas à violência, desrespeito aos espaços públicos,
comportamentos anti-sociais, vandalismo, egoísmo, entre outros. Mas, isto
acarreta um questionamento em torno dos valores que estão sendo passados
para esta juventude, primeiro no âmbito familiar, e posteriormente, na Escola. Se
iniciarmos uma análise deste quadro, poderíamos questionar se isto é uma
ausência de valores ou falta de regras pré-estabelecidas.
La Taille diz que é importante: “....trabalhar a moral com as novas
gerações, ajudar as crianças a construir valores, a pautar seus comportamentos
por regras, a situar-se além e aquém de certos limites.” (La Taille, 2000. p. 9)
O mesmo autor privilegia a questão dos limites sinalizando três
dimensões educacionais a serem avaliadas: a primeira dimensão está ligada a
transpor limites, onde os mesmos podem remeter a idéia do que pode ou não ser
88
transposto; a segunda relacionada a respeitar os limites, evidenciando aquilo que
é permitido e o que é proibido; e a terceira que está direcionada a impor limites
direcionados à preservação pessoal de intimidade e segredo.
Dentro do embasamento teórico descrito por La Taille pode-se observar
que a primeira dimensão estudada pelo mesmo associa que limites: “...nos remete
a idéia de fronteira, de linha que separa dois territórios. Se existe um limite, há
pelo menos dois continentes, concretos ou abstratos, separados por essa
fronteira” (La Taille, 2000. p. 12)
La Taille exemplifica esta idéia quando mostra que muitas vezes a
criança extrapola os limites em busca do crescimento: “....educar uma criança,
longe de ser apenas impor-lhes limites, é, antes de mais nada, ajudá-la cognitiva
e emocionalmente a transpô-los, ir além deles.” (La Taille, 2000. p. 15)
Na segunda dimensão evidenciada por La Taille, respeitar os limites: o
permitido e o proibido. Nos remete a idéia de que a fronteira não deve ser
transposta e a demarcação de um domínio não deve ser invadido.
Pode-se observar que se colocarmos a questão dos limites como
fronteiras a serem transpostas, quer no sentido da maturidade, quer no sentido da
excelência, de modo geral, as crianças e adolescentes de hoje poderão sentir-se
sufocados por tantos limites. Muitas vezes são desencorajados, pelo medo dos
pais, a sair em busca de autonomia.
A idéia dos limites também está associada à liberdade, que circunda os
limites físicos e normativos. Em relação aos limites físicos aparentemente são
mais aceitáveis pelo homem. Um exemplo disto é que poder voar está fora do
alcance do homem, portanto, ele aceita isto sem muitas objeções. Em
contrapartida, os limites normativos acompanham o homem desde o momento
que nasce. Segundo La Taille, os limites físicos colocam a dimensão do
impossível, enquanto que os limites normativos colocam a dimensão do proibido,
onde a liberdade é restrita em nome dos valores.
A terceira dimensão desta pesquisa está ligada à imposição de limites,
voltada para a intimidade e segredo. Nesta, o autor questiona o quanto somos
invadidos em nossa vida, e até que ponto diante desta extensão e profundidade
que somos observados os limites são extrapolados, justamente aqueles limites
89
fundamentais para preservar a privacidade e intimidade. Destaca vários aspectos
que favorecem esta invasão da privacidade, a começar pelas portas abertas pela
própria pessoa até se defrontar com a tecnologia que reforça esta exposição. Este
interesse pela intimidade das pessoas é um fenômeno que acontece na
sociedade, e pode representar um fortalecimento do ideal de liberdade, onde cada
pessoa tem direito de estar com quem quiser e falar o que quer. Para manter isto
e se proteger da invasão dos limites, o ser humano precisa colocar limites e
desenvolver uma fronteira da intimidade, que ele próprio terá sob controle.
Uma outra visão abordada no momento em relação aos limites pode ser
observada no trabalho desenvolvido por Gottman (1997), que faz uma conexão
entre as tipologias parentais e o comportamento dos pais junto aos filhos.
Segundo Gottman, pesquisador norte-americano, que desenvolveu uma
pesquisa ampla sobre o tema: “Desavenças conjugais, educação de filhos e
desenvolvimento emocional da criança.” diz que: “...para se educar bem um filho,
o intelecto só não basta. Para se educar bem um filho, é preciso mexer com uma
dimensão da personalidade que vem sendo ignorada na maioria dos conselhos
dados aos pais nos últimos trinta anos. É preciso mexer com a emoção.”
(Gottman, 1997. p. 20).
Gottman chama os pais que se envolvem com o sentimento dos filhos de
preparadores emocionais. E especifica alguns comportamentos específicos que
estes precisam desenvolver para serem bons preparadores, assim como um
técnico prepara os atletas para uma competição. Segundo ele, os pais
preparadores emocionais “...ensinam aos filhos estratégias para lidar com os altos
e baixos da vida. Não se opõem às manifestações de raiva, tristeza ou medo dos
filhos. Nem as ignoram. Ao contrário, aceitam as emoções negativas como coisas
que parte da vida e aproveitam os momentos de exaltação emocional para
ensinar aos filhos importantes lições de vida e construir um relacionamento mais
íntimo com eles.” (Gottman, 1997. p.21).
O autor enfatiza que nos dias de hoje não basta os pais educarem bem
os filhos, possibilitando uma boa formação escolar e princípios éticos,mas
precisam preocupar-se também com situações relacionadas à sobrevivência e as
situações ligadas ao movimento social que os mesmos estão inseridos,tais como:
violência, drogas,entre outros.
90
Na pesquisa de Gottman, a parte do processo de preparação emocional
nas interações dos pais junto aos filhos acontece em cinco etapas:
1. Percebem as emoções da criança.
2. Reconhecem na emoção uma oportunidade de intimidade ou aprendizado.
3. Ouvem com empatia.
4.
A
judam a criança a encontrar as palavras para identificar a emoção que ela
está sentindo.
5. Impõem limites ao mesmo tempo em que exploram estratégias para a
solução do problema em questão.
(Gottman, 1997. p. 24).
Muitos pais acham que colocar limites é uma questão de opção, mas não
sabem que, em relação a isso, acontece uma progressão de problemas que
derivam da falta de limites. Quando os mesmos trabalham adequadamente nesse
sentido e, a cada oportunidade que surge, estabelecem limites, isto é, concordam
e incentivam as atitudes positivas e criticam as atitudes negativas, com o passar
do tempo ajudam a criança a aprender as regras básicas da convivência e a
iniciar, de forma sólida, o processo de sociabilização, ou seja, prontidão para
viver. Quando os pais se sentem inseguros, cheios de culpa, com medo de ser
antiquados ou autoritários, deixam de exercer essa atividade importante, e a
tendência é que a criança comece a apresentar dificuldades em aceitar qualquer
tipo de limite a seus desejos.
Os aspectos mais importantes no desenvolvimento são a informação e a
formação moral do indivíduo. A informação habitualmente pode ser dada pela
Escola, pelos meios de comunicação, pela Internet, por meio de livros interativos,
pelas bibliotecas, pelos programas educativos na TV. Mas, com certeza, a
formação é um capítulo à parte, porque está provavelmente ligada à forma como
a informação poderá ser utilizada positivamente. A formação pode ser dada por
meio de exemplos, da sabedoria, do ouvir e permitir-se falar, orientar sem
julgamento e comparações.
91
Os limites estabelecidos pelos pais podem ajudar as crianças a aprender
como viver melhor, ao mesmo tempo em que demonstram o seu amor e
preocupação. À medida que vão crescendo e se desenvolvendo, as crianças
exploram diferentes formas de comportamento. Em geral, elas fazem isso para
desenvolver a personalidade e aprender o que é aceitável; porém, nem tudo o
que uma criança experimenta é certo ou aceitável.
Phillips, psicóloga inglesa na área infantil, diz que “...um outro importante
aspecto dos limites é que eles ajudam a pessoa a desenvolver seus próprios
recursos”. (Phillips, 2000. p. 91)
As regras e limites que os pais estabelecem precisam ser consideradas
importantes, tanto pelos pais, quanto pelas crianças. Ao aplicá-las, os pais
ensinam às crianças lições importantes, como: fazer as tarefas necessárias e
distinguir o certo e o errado. Se estabelecerem e controlarem as regras com
justiça e consideração, elas poderão tornar-se diretrizes e ajudarão as crianças a
alcançar autodisciplina.
É muito importante o casal aprender a fazer negociações com os filhos;
porém, é mais importante ainda que fiquem atentos ao fato destas negociações
poderem afetar os valores do casal e o que está relacionado ao que eles querem
passar aos filhos.
A razão mais simples para a dupla de pais ser incoerente é o fato de
terem pontos de vista diferentes. Neste sentido, é muito importante que o casal
chegue a um consenso sobre como será feita a orientação dos filhos, utilizando
uma postura única, para que eles não sintam ou percebam a fragilidade da
relação, no que se refere à educação. É recomendável que o casal procure
orientação, quando sentir que existe um choque muito grande entre as opiniões
ou formas de educação que querem dar aos seus filhos, independentemente dos
motivos pelos quais isso esteja acontecendo.
Os pais podem começar a ensinar as crianças que os direitos são iguais
para todos e que existem outras pessoas no mundo. Assim, elas começam a
respeitar os direitos do outro. Podem também lhes ensinar a tolerar pequenas
frustrações no presente, para que, no futuro, sejam capazes de superar qualquer
tipo de decepção.
92
Macedo diz que: “....quanto mais claras, explícitas forem as regras, tanto
mais fácil a educação das crianças e as relações intra e extra-sistema. Ocorre
porém que tais regras se baseiam em crenças, valores, adquiridos em grande
parte na família de origem dos pais, e permeiam as relações cotidianas quer
através de ordens expressas, ou sendo adquiridas através de negociações
diárias.” (Oliveira, 2003. p. 189)
A questão dos limites na educação dos filhos está além do foco de
atender ou não o desejo da criança ou do adolescente, abrange uma área muito
mais ampla que vai desde a relação com o desejo e a necessidade dos mesmos,
adentrando uma outra dimensão que se estende até os limites do respeito e da
invasão de privacidade.
É muito importante ressaltar que, quando os pais se sentem confortáveis
para educar, ou seja, têm seus próprios limites pré-estabelecidos, poderão
conseguir de forma mais eficaz colocar limites junto a seus filhos.
4.2 – Insegurança infantil
Outro tema abordado por muitos pais, na atualidade, está direcionado à
condição da criança no contexto sócio-familiar: é a questão da insegurança da
criança. Este tema tem causado uma preocupação entre os pais, porque muitos
deles se culpam pelo fato dos filhos se sentirem inseguros em determinados
momentos de suas vidas.
Helen Bee (1997), diz que “...a percepção que uma criança tem de sua
própria competência ou aceitação é também modelada por sua própria
experiência com o sucesso ou o fracasso em várias áreas, a saber: a escolar, a
da criação de relações com os colegas, a esportiva.” (Bee, 1997. p. 302)
Normalmente, os adolescentes que apresentam o traço de insegurança
em sua personalidade podem ter um histórico de condutas inseguras que remonta
a idades muito mais precoces, como no período pré-escolar, por exemplo, quando
os avós, pais e amigos achavam que era apenas um “excesso de zelo dos pais”,
ou até mesmo capricho da criança, para chamar a atenção.
93
O tema relacionado à criança insegura proporciona aos pais uma forma
de reavaliação da maneira como estão desenvolvendo a criação de seus filhos, e
até que ponto essa criação pode ser um sucesso aos olhos do mundo. Acredita-
se que uma indicação de que o filho foi bem criado aparece no momento em que
ele enfrenta razoavelmente as infindáveis vicissitudes e as sérias dificuldades que
muito provavelmente encontrará pela frente, e faz isso sobretudo porque se sente
seguro. Embora nem sempre livre de dúvidas sobre si mesma, essa pessoa bem
criada, independentemente do que aconteça em sua vida externa, possui uma
vida interior rica e gratificante, com a qual está, em conseqüência, satisfeita.
Por outro lado, crescer numa família em que sempre são mantidas
relações boas e estreitas entre os pais, e entre estes e os filhos, torna o indivíduo
capaz de estabelecer relações duradouras, satisfatórias e estreitas com os outros,
o que confere sentido à sua vida e à dos outros.
Ao nascer, todos os bebês, possuem traços nítidos da sua futura
personalidade, ainda que, em geral, só na mais incipiente das formas. É preciso
que se passem anos de vida e experiência, antes que os indícios de uma
inclinação futura comecem a surgir como contornos de uma personalidade, e
muitos anos passarão ainda, antes que um caráter esteja completo e firmemente
formado – um caráter que enfrentará os rigores da vida e servirá bem àqueles que
passarão por todas as provas e atribulações necessárias para se tornar “senhores
e donos de suas vidas”.
Bolwby, (2002), pesquisador inglês, autor da trilogia “Apego. Perda.
Separação.”, refere que “...a maioria dos bebês de três meses de idade já
responde à mãe de modo diferente, em comparação com outras pessoas.”
(Bolwby, J. 2002. p. 247)
Na busca de conquistar a própria identidade, o ser humano muitas vezes
se depara com sérias armadilhas, e pode enfrentar começos errados, bem como
desvios. Normalmente é um processo que exige uma reestruturação dos passos
que serão dados, e também um caminho semeado de incertezas quanto à direção
a seguir.
No processo de conquista de uma identidade segura, somos projetados
em dúvidas profundas, e tentamos, particularmente quando jovens e inseguros de
94
nós mesmos, encobri-las e negá-las, fingindo grandes certezas. Entretanto, por
mais difícil que seja nos tornarmos nós mesmos, é ainda mais difícil descobrir em
que consiste esse “nós”, identificar quais os componentes essenciais e quais os
secundários de nossa personalidade. Somente se soubermos discriminar esses
traços com segurança, teremos conquistado nossa identidade.
Justamente porque todos temos características das quais não gostamos
ou que não aprovamos inteiramente, ou sobre as quais podemos ter nossas
dúvidas, conhecer a nós mesmos é uma tarefa difícil. Os desvios na busca da
identidade podem ser dolorosos e perigosos.
Sejam quais forem as peculiaridades da situação, seja qual for a idade do
menino ou menina, a empatia dos pais com relação à difícil luta do filho pela
individualidade e sua solidariedade pelas tentativas deste para descobrir, afirmar
e, finalmente, definir e testar a si próprio são de suprema importância para a
criança. Ela precisa da solidariedade dos pais como uma emocional base para ser
capaz de conquistar uma identidade viável e consistente, que lhe permita
enfrentar uma vida de modo autêntico.
No que diz respeito ao crescimento do filho em direção à individualidade,
é importante manter uma atitude interior de boa acolhida, mesmo que seus atos,
no momento, sejam perturbadores; a expressão externa dessa atitude, porém,
deve mudar de acordo com as diferentes formas que tal busca de identidade
toma, à medida que a criança amadurece.
Quanto mais nova a criança, mais essa atitude básica precisa ser
traduzida num comportamento dos pais que mostre inequivocamente seu desejo
de ajudar o filho a formar sua própria identidade, com demonstração franca de
aprovação e prazer quando a criança dá passos definidos no sentido de se
afirmar.
A participação ativa dos pais é necessária, porque a identidade primitiva
da criança desenvolve-se inteiramente em torno deles; sua identidade só será de
natureza positiva se estiver em harmonia com as atitudes dos pais. Será uma
identidade fragmentada, se as atitudes dos pais forem parcialmente negativas.
Quando sentem que o que são e o que fazem dá prazer aos pais, as
crianças ficam contentes e sentem-se importantes, uma vez que são elas que os
95
pais reconhecem como a fonte de seu prazer. A importante substituição do
sentimento das crianças de que são elas, em si mesmas, que dão prazer ocorre
durante os primeiros anos de vida.
Todos estes aspectos demonstram que o processo de insegurança pelo
qual a criança pode ser integrada tem ligação direta com a construção da própria
identidade e com a que os pais estão integrados. Nesse sentido, a aprovação dos
pais torna-se um incentivo para a formação de um eu, que está ligado à formação
da identidade do indivíduo, quando permitem às crianças sentirem-se
reconhecidamente elas mesmas, diferentes de todas as outras.
Existem aspectos que devem ser considerados na construção da
identidade, os quais podem colaborar para a criança tornar-se mais segura. O
desenvolvimento da singularidade começa quando a criança repete algo que fez e
que proporcionou prazer aos pais. Os aspectos de desprazer dos pais irão, como
autodefesa da criança, fazer com que ela muitas vezes se sinta inibida ou
insegura de repetir o comportamento.
Muitas vezes a criança utiliza um comportamento que causa desprazer
aos pais, e isso se torna uma faceta habitual e repetitiva de seu comportamento,
uma força motivadora na personalidade em desenvolvimento: proporciona às
pessoas o desprazer, que também cria em si mesma um descontentamento.
Outros contornos poderão ser conseguidos e desenhados a partir dos irmãos
mais velhos ou de outras pessoas importantes. Essa incorporação começa pela
imitação – de modo próprio à idade.
O precursor do que será mais tarde a estrutura emocional de uma
pessoa,o que irá formar sua identidade, é a base sobre a qual todos os aspectos
mais complexos e específicos da personalidade são formados e que irá
determinar seu futuro conteúdo e estrutura, assim quão segura ou frágil essa
estrutura virá a ser. Muitas experiências marcantes combinam-se para determinar
a atitude do bebê em relação ao próprio corpo, e assim formar a base de seu eu.
Um exemplo característico é a amamentação; essa experiência será agradável e
prazerosa se for vivida de modo tranqüilo. Quando a mãe tem pressa em acabar
de amamentar, assim como a forma com que segura a criança, se confortável ou
desconfortavelmente, pode trazer à criança sentimentos de rejeição e
insegurança diversos. As percepções básicas são reforçadas por muitas outras
96
experiências infantis – ser banhado, limpo, vestido, despido, colocado para
dormir, entre tantas outras.
Os pais têm papel fundamental na redução dos sintomas que surgem nas
diversas situações. O primeiro deles está associado ao fato de que é importante
entender que a criança tem que percorrer um longo caminho para formar sua
identidade, e eles precisam ser agentes facilitadores, nesse processo.
Reconhecer que nem sempre é fácil aplicar esses conceitos aos filhos e,
diante disso, tentar minimizar os conflitos e os atos inseguros, é uma tarefa difícil
para os pais. Os filhos procuram sempre afirmar sua independência em todas as
situações, e os pais precisam observar que a transição para cada estágio superior
do desenvolvimento deve ser completa e bem-sucedida, pois há uma re-
elaboração dos problemas anteriores a cada etapa.
Em relação à formação das bases de uma identidade emocional é natural
o pai ajudar o filho, desde bebê, a adquirir uma atitude saudável e positiva em
relação ao próprio corpo, fazer com que ele se sinta bem em relação ao que ele
pode fazer. Quando os pais conseguem incutir tais atitudes no filho pequeno,
podem oferecer excelente proteção contra os riscos perigosos que o adolescente
assume em relação ao seu bem-estar físico, pessoal e social.
Se, por algum motivo, os pais, em vez de encorajarem o desenvolvimento
de seu filho, criam-lhes estorvos, a criança pode renunciar a formação desta
identidade emocional, a fim de obter uma pseudo-segurança por meio de uma
fusão com a mãe, ou com quem tenha tomado o seu lugar, seja na realidade, seja
em sua imaginação. Esta situação pode levar a criança a tornar-se insegura o
suficiente para não tomar decisões.
A ansiedade dos pais em preservar a segurança e a felicidade dos filhos
pode torná-los dependente e inseguro. Os pais precisam primeiro reconhecer que
os excessos estão acontecendo e fazer uma intervenção, colocando alguns
limites em relação a sua postura com os filhos. Precisam livrar-se de alguns
fantasmas do seu passado, para não repetirem a história que viveu com seus
pais.
No centro da tese do Dr. Bruno Bettelhein, psicólogo suíço, professor e
doutor na área infantil, está a orientação de que os pais não devem ceder ao
97
impulso de criar o filho que gostariam de ter, mas devem, em vez disso, ajudar o
filho a transformar-se plenamente, de acordo com o seu próprio ritmo, na pessoa
que deseja ser e que poderá frutuosamente se tornar. Segundo o autor, “...poucos
de nós podemos descobrir o que somos sem ter que averiguar o que e o quanto
podemos fazer, não porque os outros mandam, mas porque escolhemos
sozinhos...” (Bettelhein, 1988: p. 48.)
Neste processo de desconstrução, é importante que haja uma percepção
dos pais em relação ao contexto da criaa e que comecem a tentar desfazer os
traumas do seu passado para não repetirem as histórias que viveram com os
seus próprios pais. Para a criança sentir-se segura, é importante que ela consiga
desenvolver autonomia, para que ela própria possa superar alguns obstáculos e
tornar-se auto-suficiente. Neste processo um dos aspectos a ser considerados
está ligado à auto-estima da mesma.
4.3 – Sexualidade infantil
Quando se aborda o tema da sexualidade infantil, um aspecto
interessante começa a surgir, proveniente dos tabus que rodeiam os pais no
momento de educar os filhos. Inicialmente os mesmos têm a sensação de estar
falando de crianças que têm o desejo sexual latente em suas cabeças e em seus
corações. É importante para os pais saber que, desde que nascem, as crianças
são seres sexuados. Sua sexualidade desenvolve-se da mesma maneira que o
andar, o falar ou o pensamento. A realidade nos mostra que as crianças,
atualmente, estão mais espertas, querem sabe mais, querem conversar, enfim,
querem viver a sua sexualidade de forma intensa. Estes são sinais da evolução.
Foulcault (1988) diz que foi apenas no século XIX que profissionais da
área médica inicialmente nos países europeus começaram a estudar
cientificamente o sexo. Segundo ele o recurso fundamental usado para produzir a
verdade sobre o sexo seguia o modelo usado pela Igreja que era fazer, através da
confissão.
De acordo com Costa (1983) foi a partir da terceira década do século XIX
que a família começou a ser definida como incapaz de proteger a vida de crianças
dados os autos índices de mortalidade infantil. Nessa ocasião então, a higiene
98
conseguiu impor à família uma educação física, moral, intelectual e sexual
inspirada nos preceitos sanitários da época. Com relação a criança, que até então
era considerada um ser à parte, inferior e sem função social, começou a receber
atenção justamente porque passou a ter significado político e econômico. A
sexualidade infantil passou a ser controlada e a prática da masturbação deixou de
ser uma transgressão da lei de Deus e foi reinterpretada como uma fonte de
degeneração física e mental, segundo Parker (1991).
O sexólogo Havelock Ellis (1859-1939) citado por Gregersen (1983):
“...aos 16 anos resolveu que a principal tarefa de sua vida seria poupar a
juventude e as futuras gerações do problema
e perplexidade que a ignorância
sobre os verdadeiros fatos do sexo lhe causaram...” (Gregersen, 1983.p.35).
Desta forma Ellis tornou-se um advogado da reforma sexual.
No Brasil a educação sexual no currículo escolar data de 1930, no
Colégio Batista do Rio de Janeiro, mas a Igreja Católica conseguiu impedir que
ela continuasse se não tivesse vínculo religioso. Após o Concílio Vaticano II,
realizado entre 1962 e 1965 alguns colégios católicos passaram a desenvolver
programas de educação sexual. Isto também aconteceu em algumas escolas da
rede pública de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.
Após uma época de muitas crises políticas que suspendiam muitos
desses programas de educação sexual no Brasil, em 1968 foi realizado em São
Paulo o Iº Congresso sobre Educação Sexual nas Escolas onde retomou-se a
implantação da educação sexual escolar. Um trabalho desenvolvido por
orientadores educacionais e professoras de ciências nas quinta séries do primeiro
grau, especialmente.
Em 1989 foi oficializado o Projeto de Orientação Sexual na Rede
Municipal de São Paulo com respaldo do então Secretário de Educação Paulo
Freire. A coordenação deste projeto para o primeiro grau na rede municipal ficou
sob a coordenação de Marta Suplicy. Todavia em 1993 esse projeto foi cancelado
pelo então prefeito Paulo Maluf que suspendeu a verba para o pagamento dos
educadores sexuais. Isto demonstra a oscilação política existente na educação
sexual das nossas crianças e adolescentes brasileiros.
99
Sabemos que a escola exerce um papel importante na educação sexual
na
medida em que, através especialmente da escola publica, é possível atingir
um grande contingente de crianças e adolescente. Os programas de educação
sexual escolar precisam tomar cuidado para não dessexualizar os indivíduos,
orientando-os para a sublimação e que o educador sexual tenha uma abordagem
pedagógica que valoriza os aspectos informativos e formativos através de
discussões sobre: valores, atitudes, preconceitos, dúvidas, sentimentos e
emoções dos alunos e que seja atenta ao processo de libertação no nível
individual. Desta forma a educação tem a ver com um compromisso com a
transformação também social.
Propomos que uma educação sexual esteja comprometida com os vários
temas de referência culturalmente constituídos, que influenciam a maneira como
os brasileiros compreendem, interpretam e constroem suas próprias experiências
sexuais. Esses sistemas de referências basicamente são: perspectivas de gênero,
valores religiosos, perspectivas de sexualidade saudável e doente permitida e
pecaminosa e perspectivas do erótico, onde o sexo não se volta apenas para a
procriação mas também para a busca do prazer.
Ribeiro (1990) afirma que uma educação sexual política é aquela que
orienta para o resgate do gênero e do erótico na vida das pessoas.
Comfort e Comfort (1980), que escreveram “O ABC do Amor e do Sexo”,
afirmam que faz parte dos direitos da criança o direito de pensar também sobre a
sua própria sexualidade.
Seixas (1998) diz que: “....a sexualidade humana é uma construção da
espécie, vinculada às formas de relações inter individuais. Ela se transforma,
assim, ao curso do tempo e conforme o espaço, não possuindo caráter ou
modelos definitivos.” (Seixas, 1998. p. 23)
A sexualidade é uma força vital que emerge da condição biológica do ser
humano e se projeta como uma forma e um processo de comunicação de
sentimentos, sensações e valores intercambiados entre pessoas.
Entendo que a sexualidade deve ser apresentada de forma integrada em
todas as quatro dimensões da pessoa humana, quais sejam: a biológica, a
psicológica, social e espiritual. Sabemos da importância da co-educação entre
100
pais, professores e seus respectivos filhos e alunos, onde a sexualidade possa
estimular o desenvolvimento da auto-estima das crianças e adolescentes; uma
educação que lhes ofereça conhecimento sobre seus corpos, de forma a terem a
melhor imagem corporal, que se aceitem como pessoas sexuadas e desenvolvam
seus processos de identidade sexual da forma mais harmônica, espirituosa e
amorosa possível.
É importante na busca da maturidade individual através do projeto de
vida de cada um. Este projeto deve privilegiar, também, aspectos de normas de
higiene sexual, reflexões sobre a influência de meios de comunicação social nos
comportamentos e atitudes de crianças e adolescentes e, finalmente, processos
de valores éticos humanos e do que seja a violência sexual e emocional.
Obviamente que tudo isto deve ser personificado, contextualizado e respeitado a
cada indivíduo, seu grupo familiar, escolar, religioso, ideológico e cultural.
Ainda que nossa sexualidade humana tenha aspectos instintivos, ela
necessita de aprendizagem e orientações que objetivem a idealização e
satisfação de nossa essência humana. Daí a necessidade de ser uma tarefa
pessoal, verdadeira e cuidadosa, a educação sexual que pais e professores
devem oferecer a crianças e adolescentes.
A sexualidade pode ser entendida como um evento básico da
personalidade, um modo próprio de ser, de comunicar-se uns com os outros, de
sentir, expressar e viver o
amor humano. Para tanto, exprime-se a
capacidade humana de responsabilidade do feminino, do masculino e de todas as
categorias para gênero, de construir relações positivas e responsáveis.
Sugiro a metodologia construtivista (Zampieri, 1996) na construção do
conhecimento da sexualidade, onde as pessoas: crianças, adolescentes, adultos
ou idosos, devem atuar sobre seu próprio corpo, conhecendo-o e compreendendo
os fenômenos e mudanças que nele se produzem durante todo ciclo de sua vida.
Acredito que o conhecimento humano não é recebido passivamente, mas
processado e construído ativa e complexamente pelo sujeito que o conhece e
suas inter-relações; permitindo-o organizar seu mundo, suas experiências e
vivências. A aprendizagem humana é uma construção de cada um que permite
alcançar diversidade, complexidade e integração em seu desenvolvimento.
101
A tecnologia educativa para crianças e adolescentes, deve enfatizar o
principio da atividade, onde o ser humano se autoconstrói partindo de interesse e
necessidades, agindo e experimentando, durante o processo educativo. Esta
afirmação vem ao encontro dos princípios de Piaget (1977) que enfatizava no
desenvolvimento bio-psico-social-sexual da criança, quatro fatores: a maturação
de processos anatômicos e fisiológicos, a experiência da própria ação dos objetos
naturais e culturais, a transformação de estímulos da transição social por
processamento e assimilação e o equilíbrio pela auto-regulação interior.
Considero, como esses autores, que a aprendizagem humana é uma
construção interior que parte de idéias e preconceitos que crianças e
adolescentes têm sobre o tema sexualidade; que prevê a mudança conceitual que
se espera da construção ativa de novos conceitos e sua repercussão na estrutura
mental; que confronta as idéias e preconceitos afins ao tema da sexualidade, com
os novos conceitos que se processam, e, finalmente, com a aplicação dos novos
conceitos a outros e, destes, para a vida.
Para uma educação que privilegie esses conceitos, sugiro como já dito
anteriormente, o Sociodrama Construtivista (Zampieri, 1996) que busca os
conhecimentos prévios das crianças e adolescentes sobre seus sexos e suas
identidades sexuais, na chamada fase de aquecimento específico. Depois que
eles nomeiem cada parte dos corpos de meninos e meninas, para que não
separem o corporal do sexual, mas que os integrem.
Como identidade sexual é um processo que se descobre
aproximadamente entre dois e sete anos, é fundamental que as crianças a
recebam educação sexual de seus pais e professores. Isto evitaria conflitos
internos e a não aceitação de sua imagem corporal e sexual.
As crianças logo cedo descobrem que tocar nos genitais traz sensações
agradáveis. Isto faz parte do descobrimento do seu próprio corpo. Deve-se falar
gradativamente sobre a masturbação, sem necessariamente recomendá-la ou
não, pois isso tem que estar em acordo com as crenças religiosas e/ou
ideológicas dos pais. Todavia, é preciso falar-lhes do fenômeno como natural e
esperado no desenvolvimento deles; que pode ter caráter privativo ou em jogos
onde não haja riscos emocionais e físicos. Nestas fases é importante ressaltar
conceitos de amor, responsabilidade e respeito ao próprio corpo. Isto deverá estar
102
ligado ao trabalho para auto-aceitação corporal e auto-estima adequada à idade e
maturidade.
Durante este processo de descobertas é natural que eventualmente os
pais compartilhem com as crianças algumas experiências que teve, sobre a suas
descobertas quando crianças e adolescentes, desde, é claro, que não façam
revelações e/ou confidências adultas a crianças ou adolescentes de formas
inadequadas.
A evolução psicossexual da criança se realiza por etapas. Cada uma
delas tem características biológicas, psicológicas e sociais próprias. Moreno
(1974) fala da primeira fase de indiferenciação total quando a mãe e seu marido e
o bebê são partes do próprio corpo dele. E é nesse corpo universalizado onde ele
tem prazer. A tendência instintiva do gozo manifesta-se através dos instintos
digestivos e orais; pois para o bebê o chupar, seja o seio materno, seja alguma
parte de seu corpo, como o dedo polegar por exemplo, são as fontes de prazer.
Zampieri (2003) diz que é na infância especialmente que se forma o mapa mental
erótico das pessoas, de acordo com pesquisas que ela faz sobre o descobrimento
do erotismo humano. E, ainda, que nessa fase é que começam a se formar as
futuras zonas erógenas. Nos adultos, essas zonas são sentidas, por exemplo,
através de beijos, sexo oral e outros
Quando surgem os dentes, as crianças iniciam a função do morder e
coincidentemente, para alguns, o desmame ocorre. A criança precisa aprender a
mastigar e fazer outros tipos de esforços para se alimentar. É a chamada fase
anal, onde percebe que há repressões quanto às suas fezes expostas sem
controle. Há uma opressão social pela primeira vez, que destrona a zona buco-
labial e há ênfase na sensibilidade anal, quando a retenção e evacuação são
fontes também de sensações agradáveis e acontece o princípio de uma nova
zona erógena.
Quando aprende a caminhar e falar, a criança desenvolve novas
curiosidades sobre seus órgãos genitais e o prazer de tocá-los, em torno de mais
ou menos 3 anos, segundo Torres Castro e Torres Castro (1998). Aqui começa a
chamada pré-sexualidade, onde o prazer está cada vez mais dirigido à zona
erógena genital. Nesta fase pode ocorrer o início de atitudes masturbatórias mais
organizadas e voluntárias por parte da criança. Esta pode ser a fase onde pais e
103
professores mais reprimem que educam e guiam. Por isto a recomendação de
uma co-educação sexual, onde pais e professores possam desenvolver uma
linguagem comum.
De acordo com Zampieri (2003) a sexualidade é um processo dinâmico e
mutável que atravessa crises previsíveis no curso de uma vida, em que cada
estágio sexual enfrentado precária ou adequadamente é, em certo sentido, um
rito de passagem. Essas passagens sexuais representam padrões típicos
experimentados pela maioria de homens e mulheres de nossa sociedade, em que
forças sociais e psicológicas conspiram para alterar o padrão, muitas vezes
levando os estágios a ocorrer fora da seqüência, como grandes traumas, divórcio,
morte do cônjuge ou de filhos, crise financeira e outros. A autora fala em oito
estágios, mas aqui citarei apenas os dois primeiros: da infância e adolescência.
O primeiro estágio é o da infância que vai do nascimento à puberdade.
Ainda no útero, bebês do sexo masculino têm freqüentes ereções e
aproximadamente metade dos meninos vêm ao mundo com uma ereção plena
antes mesmo que o cordão umbilical seja cortado. As meninas têm lubrificação
com um ritmo regular ainda no útero materno e há bebês do sexo feminino que
têm minimenstruações ainda no berçário resultado de uma súbita suspensão na
produção de estrogênio ao serem separadas das mães, no parto. O bebê nasce
com todo o seu equipamento sexual intacto o qual permanece em estado latente
aguardando instruções da programação hormonal que estréia na puberdade. Esta
é uma fase de latência, do ponto de vista hormonal.
As crianças, desde o começo, são bombardeadas, por dentro e por fora,
pela sexualidade. A curiosidade que sentem provoca-as, enquanto os hormônios
sexuais vão trabalhando e manipulando essas carências e desejos. A
testosterona e o estrogênio estão em jogo mantendo acesa uma chama piloto da
atividade sexual.
Os traços característicos da sexualidade infantil, então, envolvem a
curiosidade, excitabilidade, masturbação, as brincadeiras e os jogos sexuais.
Crianças menores de 4 anos (Torres Castro e Torres Castro, 1998)
habitualmente fazem perguntas sobre gravidez, parto e órgãos sexuais como
sobre olhos, ouvidos e dentes. São perguntas objetivas e abertas, sem
104
necessidades de censuras e frustrações. As histórias de cegonhas e afins devem
ser evitadas, e que se use o caminho da verdade obedecendo às demandas e
maturidades de cada criança. Por exemplo, Torres Castro e Torres Castro (1998)
sugerem a história/ resposta: “As crianças pequenas são colocadas em um lugar
especial criado para elas dentro da mamãe. A princípio são tão pequenas que
nem podem comer e respirar sozinhas, por isso ficam até nove meses ali. Então,
os bebês, ficam em um lugar quentinho e calmo, onde ninguém pode lhes fazer
nada de mal e onde as mães os alimentam.” (Construyendo nuestra sexualidad.
1998: 28).
Quando as crianças perguntam, e isto ocorre por volta dos 5 anos
aproximadamente, por onde saem os bebês é importante contar-lhes que entre as
pernas, os meninos têm pênis e as meninas têm vagina. Que quando crescem as
meninas podem ser mãe e os meninos, pais. E que essa parte, a vagina, é
flexível, pode se alargar e o bebê sair por ali. E que depois que o bebê nasce, a
vagina volta ao tamanho normal. Que a mamãe pode sentir alguma dor, mas que
logo passa pois as mães ficam contentes, em ver seus bebês chegando para a
vida e a família.
Por volta dos 6 anos eles querem saber como entram os bebês nas mães
e onde eles estavam antes. Os pais precisam saber como falar isto para os filhos.
Especialistas recomendam que se diga que os bebês não entram formados, mas
que crescem dentro da barriga da mãe, de uma forma parecida como um ovo
cresce numa galinha, por exemplo. E que isso ocorre quando o pai e a mãe
querem ter um filho porque se amam.
Pode-se, dependendo da curiosidade da criança, complementar essa
resposta dizendo que o bebê, no início, é do tamanho de uma cabeça de alfinete,
e depois fica do tamanho do dedo polegar, da mão e assim por diante até que,
com 9 meses ou um pouco menos, está suficiente grande para respirar e se
alimentar mamando e então ele nasce.
Entre 6 e 7 anos a criança quer saber como entra o pai nessa história. É
recomendável que se explique a ela que o pai coloca na vagina da mãe uma parte
dele, bem pequenina, chamada espermatozóide e que este, quando encontra o
óvulo da mãe entra nele e daí começa tudo a se desenvolver, e ainda que essa
parte sai do pênis do pai.
105
A grande diferença entre a sexualidade humana e a dos animais é a
capacidade erótica, diz-nos Zampieri (2003). Afirma ela que um dos problemas da
repressão sexual de nossa cultura, especialmente a ocidental, é a ignorância
sobre os próprios corpos a que crianças, adolescentes, adultos e idosos são
submetidos.
Outra forma de repressão, passada transgeracionalmente de avô para
netos, é a confusão entre sexo reprodutivo e sexo erótico, desde principalmente a
era vitoriana. A autora relata que muitos problemas na sexualidade conjugal estão
relacionados à confusão entre as técnicas de sexo reprodutivo e sexo do prazer.
Ensinar, portanto, que existe o sexo erótico é uma forma de profilaxia inclusive, na
educação sexual de crianças e adolescente. Ela reforça a personalização e
contextualização de cada momento dessa educação, seja na família, na escola e
na sociedade em geral.
Para os educadores e pais é importante falar sobre as questões de
gênero e alertar para as desigualdades que algumas culturas constroem nas
diferenças. Orientar que nem homens, nem mulheres são superiores ou inferiores,
mas que todos são pessoas com os mesmos direitos, pessoas únicas e
respeitáveis. Nesta fase é também indicado falar sobre outras diferenças de corpo
e de sexo entre outras. Que se evitem apelidos agressivos que desrespeitam as
diferenças de gênero, sexo, raças, cor, classe social e assim por diante. A
educação sexual não deve ser desassociada do conjunto de valores éticos e
estéticos que pais e professores oferecem às crianças e adolescentes.
É importante, agregar conhecimentos sobre a violência sexual a que
estas crianças e adolescentes poderão ser submetidos. Um dos maiores
problemas que se tem para tratar abusos sexuais, por exemplo, é a manutenção
do silêncio que mantém em segredo que não apenas pessoas estranhas e
maldosas podem abusar sexualmente de crianças. Mas que até pessoas queridas
e próximas como pais, mães, avós, tios, irmãos e outros, poderão fazê-lo. A
melhor maneira de fazer esta prevenção é ensinar quão valioso e precioso é o
corpo de cada um; um corpo que necessita de cuidados e que ninguém pode
tocá-lo com carícias ou carinhos estranhos, sem consentimento.
A criança atravessa diferentes etapas no curto espaço da sua vida
infantil. Ciclos que referi como do nascimento à puberdade, da puberdade à
106
maturidade, da maturidade ao declínio, do declínio à alma. O ciclo da dor de
entrada na vida, o ciclo do esforço de se entender, na maturidade; o ciclo do
cansaço da idade adulta; o ciclo da impotência do não fazer na velhice, o ciclo do
medo do desconhecido que a idéia da morte nos traz.
Se houver a co-educação da sexualidade, pais e professores poderão co-
criar uma educação onde a sexualidade é mais um laço que nos une e nos
humaniza, teremos crianças e adolescentes mais conscientes e responsáveis por
seus prazeres, saúde e segurança sexuais.
As crianças coordenam as informações do conjunto de saberes
entregues pelas instituições destinadas a formar, do conjunto de suspeitas dos
gritos que ouve por casa, em regra à noite, do conjunto de mandamentos do seu
corpo quando fica perto de outro corpo, do conjunto de informação dos seus
pares e amigos, e do conjunto, enfim, das conversas ouvidas aos homens
adultos, ou às mulheres que riem quando transferem histórias de cama sem
reparar que há uma criança ouvir.
Há criança que sabe, sem os pais saberem. Criança que sabe, à
distância de adultos, entender que ele é um ser humano que, sem palavras, canta
a mesma canção que os seus adultos. A criança fica também sem saber dos
adultos o comportamento do desejo. Fica na fantasia. Fica ouvindo sem ver.
Canções sem palavras, mas com gestos e segredos que incrementam a sua
curiosidade. E o saber da criança é espartilhado entre o saber formal e o saber
cultural cotidiano.
O segundo estágio da sexualidade segundo Zampieri (2003) é o da
adolescência. Esse é o conhecido momento de loucura hormonal, quando a
natureza prepara ambos os sexos para a reprodução. As meninas florescem e
sangram quando começam a menstruar e desenvolver os seios e os quadris
curvilíneos. A voz dos meninos começa a se modificar e o pênis incha nos
momentos mais inconvenientes. No auge do ataque da testosterona, os meninos
podem se comportar agressivamente como fanfarrões, tornarem-se obcecados
por garotas e se masturbarem incansavelmente.
As influências hormonais ajudadas e favorecidas pelos costumes sociais
determinam direções divergentes entre meninos e meninas adolescentes. Com a
107
chegada da puberdade, as diferenças já manifestas entre os sexos tornam-se
mais dramáticas. A adolescência é o estágio sexual emocional em que ambos os
sexos estão mais sujeitos a perturbações. Os catalisadores do desastre são os
tumultuados hormônios que fustigam suas emoções, às vezes indo além de sua
capacidade de tolerância.
Sob a influência desse hormônio, os meninos tornam-se mais
competitivos ao se aproximarem da puberdade. Começam a experimentar
descargas noturnas, os chamados “sonhos molhados” e quando acordados tecem
fantasias com cenas de sexo explícito. Durante esse período, eles podem ter
dificuldades de abordar as meninas e muitos fazem experiências uns com os
outros, freqüentemente sem orientação sexual relevante. A masturbação mútua
ou em rodinhas, ou concursos de xixi a distância são apenas alguns exemplos de
comportamento inspirado por sua libido indiscriminada.
Nas meninas a testosterona também opera, mas em níveis mais baixos.
A garota adolescente que apresenta níveis normais de testosterona, de acordo
com a idade, experimenta durante a puberdade níveis suficientes desse hormônio
para estimular as suas necessidades sexuais, que podem estar voltadas para a
masturbação e não para os garotos. De fato, nessa idade, as meninas
masturbam-se mais por causa da testosterona. Também têm lubrificação intensa,
nesta fase, graças ao estrogênio.
A testosterona aumenta um pouco durante a adolescência de uma
menina, mas é o estrogênio que aumenta muito, esculpindo o seu corpo e
transformando-a em uma mulher cheia de curvas; redistribuindo e aumentando a
gordura corporal, fazendo crescer os seios, menstruar, ter os seios sensíveis,
cólicas menstruais, mudanças de humor e corrimento. Embora sejam variações
que não aparecem externamente, como os pêlos faciais dos meninos, são
elementos que provocam o caos dentro do corpo e da mente de uma menina
adolescente. Ela se sente diferente, nem sempre bem. Porque também ocorreram
mudanças bruscas no comportamento dela e dos outros, tanto em homens como
em mulheres. O pai pára de tocá-la e, às vezes, os rapazes começam a fazê-lo.
Algumas mulheres adultas retraem-se passando a considerá-la uma ameaça. Tios
e amigos da vizinhança que nunca a notaram começam a olhá-la com interesse.
As garotas adolescentes, sejam elas retraídas, bem ajustadas ou pouco
108
centradas, transformam-se em ímãs sexuais, experiência que tanto pode
emocioná-las quanto assustá-las.
Zampieri (2003) afirma que os contrastes entre os sexos são maiores em
alguns estágios do que em outros e a adolescência é a época de maior
disparidade ainda que as necessidades emocionais sejam semelhantes, como
questões de auto-estima e busca de aprovação. Os objetivos sexuais básicos
diferem mais drasticamente entre os gêneros durante a adolescência. Os rapazes
se preocupam com orgasmos e conquistas enquanto as moças querem contato
físico, carícias, preliminares, afeição e amor. Os adolescentes, embora pareçam
emocional e sexualmente descombinados, têm um importante ponto de
interseção, que é a necessidade de contato físico. A maioria dos rapazes e das
moças experimenta mais momentos de toques e carícias do que em outras
épocas de suas vidas. As meninas gostam de ser tocadas e eles as tocam na
esperanças de que lhe permitam um coito ou uma aproximação sexual.
O coito torna-se socialmente mais aceitável para o adolescente com o
passar do tempo e com a liberdade pessoal também aumenta a oportunidade de
praticá-lo. Zampieri (2003) relata que, infelizmente, na maioria dos casos, ocorre
uma súbita e perturbadora interrupção de contato físico. Os homens começam a
perder a paciência ou a persistência para a quantidade de carícias físicas que as
mulheres desejam muito e passam a querer diretamente a penetração.
O modelo central da cultura ocidental fala de monogamia heterossexual
especificada em ritual, num contrato ou numa cerimônia. Ato final de um caminho
andado a dois, para se juntarem e recriarem a sua história. Com mitos e formas
de fazer, com contos, com idéias, com comportamentos já organizados na
cronologia dos tempos.
Quando a idade leva o jovem a escolher seu parceiro dentro de um
mundo diferente daquele do qual tinha retirado o seu sentir e entender, se
falarmos à cartesiana, do medo de amar que no seu sentimento fica, no
seguimento da geração revoltada nos anos sessenta do século XX, que procurou
a liberdade de amar. Liberdade que fica tão ampla, que abre as portas fechadas
da liberdade de escolher. Escolher não a exploração para o lucro que Adam Smith
(1776) moralizou, Marx (1857) analisou e Milton Friedman (1979) fez prevalecer.
Essa liberdade para escolher parceiro sexual, parceiro para procriar ou,
109
simplesmente, para a companhia. Esses anos sessenta estavam repletos de
seres que desejavam liberdade na sua afetividade.
Kuznetzoff (1993) alerta-nos para a criação de conflitos, especialmente
para as mulheres, de uma educação machista, na nossa sociedade que ainda
mantém valores adquiridos do patriarcalismo. Homens também podem ser vítimas
do machismo, com a meta da superpotência e do falo ereto como fonte de auto-
estima e epicentro de suas amizades.
Zampieri (2003) salienta a importância de uma educação sexual familiar
que privilegie os alcances em etapas de amadurecimento biológico, psicológico e
social do adolescente e acredita que isto pode ser profilático para gravidez
precoce e inclusive, problemas sexuais como anorgasmia e disfunções eréteis;
frutos de educações sexuais errôneas e inadequadas que podem expor as
pessoas a riscos para doenças sexualmente transmissíveis.
Uma educação sexual saudável e integrada a uma produção responsável
e livre, não permite que pais e educadores em geral se fechem ao conhecimento
dos próprios corpos, seus prazeres e mistérios; já nos dizia Paulo Freire (1977).
Ensinar às crianças que os pais não são assexuados, que devem
respeitar a privacidade deles, sem entrar em detalhes sobre suas vidas sexuais
conjugais é importante para a criação de um clima familiar que não nega, não
dissimula, não subvaloriza e nem supervaloriza a sexualidade, mas que permite
que sexo e erotismo possam fazer parte da vida e ser qualificada e enriquecida ao
longo de seu ciclo.
A sexualidade humana pode tornar-se um aspecto muito importante para
o indivíduo, quando ele é orientado, aberto e natural, o que depende da forma
como ele recebeu informações, na infância e na adolescência.
4.4 – Perdas na infância e na adolescência
“A dor é suportável quando conseguimos acreditar que ela terá um fim e
não quando fingimos que ela não existe” Allá Bozarth-Campbell
Um outro tema desenvolvido e que faz parte deste trabalho está
relacionado às perdas que a criança e o adolescente tem durante este período do
110
desenvolvimento. É um tema que causa um certo desconforto aos pais,
pois muitos deles não sabem ou não aprenderam a lidar com as próprias perdas
que tiveram durante toda a sua vida, e o movimento natural dos mesmos está
direcionado a evitar que os filhos sofram; portanto, tendem a proteger a criança,
preservando-a do sofrimento.
Normalmente, quando se fala em perdas no contexto infantil ou na
adolescência, pode-se falar de uma forma abrangente, desde a perda da própria
infância, de amiguinhos da pré-escola, do ensino fundamental, de um animal de
estimação, de uma babá muito afeiçoada, até a perda de um ente querido.
No livro intitulado “Perdas Necessárias”, a psicanalista americana Judith
Viorst enfatiza que, “....quando pensamos em perdas, pensamos na morte das
pessoas que amamos. Mas a perda é muito mais abrangente em nossa vida. Pois
perdemos, não só pela morte, mas também por abandonar e ser abandonado, por
mudar e deixar coisas para trás e seguir o nosso caminho. E nossas perdas
incluem não apenas separações e partidas dos que amamos, mas também a
perda consciente ou inconsciente de sonhos românticos, expectativas
impossíveis, ilusões de liberdade e poder, ilusões de segurança – e a perda do
nosso próprio Eu jovem, o Eu que se julgava para sempre imune às rugas,
invulnerável e imortal....” (Viorst, 1988. p.14)
Fascínio, temor e aversão são algumas das emoções contraditórias que
as perdas provocam no ser humano, único animal do planeta Terra dotado de
inteligência, portanto consciente da existência finita das coisas. As perdas pelas
quais o ser humano passa na sua infância também podem ser importantes para o
seu desenvolvimento e crescimento emocional. Quanto mais o ser humano estiver
resistente às frustrações, maior o seu crescimento e sua diferenciação emocional.
Para que isso aconteça, é necessário que ele tenha uma orientação firme e
segura no momento em que essas perdas acontecerem.
Quando se fala de perdas, é importante abordar a questão do apego, ou
seja, a forma como o indivíduo desenvolve um vínculo com as coisas ou com as
pessoas. No livro “O sentido da vida e da morte”, o médico Evaldo Alves D’
Assumpção, estudioso na área de Tanotologia. e fundador do Centro de
Orientação sobre o sofrimento e a morte, ressalta que as perdas aparecem de
forma mais acentuada para o ser humano quando existe um apego por alguém ou
111
por alguma coisa. O autor faz uma analogia com as produções que o nosso
pensamento podem fazer, tal como a que descreve a seguir:“....existe uma
pracinha maravilhosa, pequenina, porém encantadora, com um banco branquinho
em seu centro e, ao lado dele, uma roseira que fica sempre florida. Do outro lado,
camélias perfumadas, sempre abertas, dão ao lugar à fragrância suave que
nenhuma poluição será capaz de superar. Nesta pracinha, está sempre a tocar
um grupo de cordas, cuja melodia embala os sonhos mais lindos. É sem dúvida
uma pracinha maravilhosa, sem igual em qualquer parte do mundo. Ela fica
exatamente no final de uma ruazinha estreita que passa bem atrás do Palácio
Imperial do Reino da Lomélia, na África Central. Você, leitor, ao relembrar esta
pracinha, não ficou com uma enorme saudade dela? Não lhe deu uma irresistível
vontade de voltar àquele local, agora mesmo? Não? Mas, por que não? Por que
você nunca esteve nesta pracinha e não a conhece? Por isto não sente saudades
dela, nem se sente irresistivelmente motivado a voltar lá ? Pois bem, não se
preocupe. Afinal, esta pracinha, assim como o reino da Lomélia, não existe
mesmo. Foram inventados agora....E foram inventados para mostrar que somente
temos saudades de algo que já experimentamos antes, de algo que já vimos ou
sentimos. E que é impossível ter saudades de algo que não conhecemos....”
(D’Assumpção, 1998. p. 12)
O indivíduo sente todos os reflexos das perdas quando está apegado ao
objeto de amor, e quando, por qualquer que seja o motivo, o objeto de amor lhe é
tirado, vários sintomas podem aparecer, como reflexo dessa perda.
A teoria do apego, bem descrita por John Bowlby, em seu livro “Perda,
Tristeza e Depressão”, faz referências a alguns aspectos importantes, para
generalizar o comportamento de apego pelo ser humano: “....o comportamento de
apego é interpretado como qualquer forma de comportamento que resulta da
consecução e conservação, por uma pessoa, da proximidade de alguma outra
diferenciada e preferida. .” (Bowlby, 1998. p. 38)
O comportamento de apego segue o mesmo desenvolvimento e,
conseqüentemente, a mesma dinâmica de outros sentimentos, e, quanto à
significação, com certeza, tem uma dinâmica semelhante. Inicialmente a criança
desenvolve um sentimento de apego pelos pais, e, no decorrer da vida, vai
aprendendo a desenvolver vínculos mais complexos de apegos. Todo tipo de
112
apego que o ser humano tem por alguém ou alguma coisa pode ser caracterizado
positiva ou negativamente durante todo o ciclo vital.
Segundo Bowlby, “....o comportamento de apego, como outras formas de
comportamento instintivo, é mediado pelos sistemas comportamentais que, no
início do desenvolvimento, são corrigidos para a meta. A meta deste
comportamento é manter certos graus de proximidade, de comunicação, com a
(s) figura (s) de apego discriminada (s)....” (idem: 39)
Em muitos casos observa-se que o comportamento de apego pode ser
comprometido a partir do momento que são acionadas quaisquer condições que
mudem o referencial da pessoa, seja uma mudança de postura, seja uma falta de
disponibilidade. Assim, a pessoa que vive essa situação pode desenvolver
comportamentos extremos, tais como: contato intenso, necessidade de ficar
“grudado” com o outro.
Em seus estudos mais recentes, Bowlby evidencia que muitas das
emoções mais intensas surgem durante a formação, manutenção, ruptura e
renovação das relações de apego. A formação de um laço é descrita por Bowlby
como se apaixonar por alguém; a manutenção do laço, como amar alguém; e a
perda de uma pessoa querida, como sofrer por alguém. Diante da evidência de
estar apegado a alguém, o ser humano tem a iniciativa natural de cuidar do objeto
de apego, de oferecer-lhe proteção.
O que normalmente fica evidenciado diante de um comportamento em
que foi desenvolvido um apego à outra pessoa é realmente a forma como ele se
mostra organizado, quanto às vinculações e experiências vividas nas fases mais
delicadas do desenvolvimento: a primeira e segunda infância e, posteriormente, a
adolescência.
Quando é feita uma avaliação de um indivíduo específico, pode-se
observar que tipo de vínculos afetivos ele desenvolveu durante toda a sua vida e
como isso se organizou na sua estrutura de personalidade, e, ainda, de que forma
evidenciou esse tipo de apego. À vista dessas observações, é extremamente fácil
enfatizar os efeitos da perda e toda a gama de sentimentos que ela pode
evidenciar na vida do indivíduo. É possível também caracterizar que tipo de
113
educação e postura os pais tiveram durante o desenvolvimento da criança e se
esta desenvolveu uma maturidade emocional mais consistente.
De certa forma, os laços afetivos tendem a ser reforçados a cada
situação que eventualmente possa fragilizar o vínculo de apego já estabelecido.
Se aumentarem as possibilidades das perdas, certamente muitas variáveis serão
acionadas para que isso não aconteça. Quando o ser humano passa por essa
fase tão delicada, pode acionar recursos como o protesto, a birra, o choro e até o
desconsolo. Ele está sujeito a uma enorme descarga emocional e fisiológica,
embora, à medida que toda a situação se reverta, o comportamento de apego
possa ser reconstruído. Caso o laço não seja reconstruído, por não haver uma
possibilidade de retorno da situação, o mais importante é que se faça uma re-
elaboração da situação vivenciada.
O tema em questão abrange os diversos aspectos de perdas no contexto
infantil e na adolescência. Um dos aspectos mais importantes relacionados às
perdas está diretamente ligado às perdas por morte. Nas culturas antigas,
acontecia um medo considerável do homem, de se deparar com a morte. Esse
medo se perpetuou de forma tal que a morte é muitas vezes considerada uma
situação que não vai acontecer dentro do nosso contexto familiar. E, muitas
vezes, quando acontece, todo o repertório emocional de que dispomos não é
suficiente para elaborar a dor causada por esse tipo de perda.
Elisabeth Kubler-Ross, psiquiatra americana que dedicou sua vida ao
trabalho com doentes terminais e suas famílias, em seu livro relata que:....a
criança que, de raiva, deseja que a mãe morra porque esta não satisfez seus
desejos, ficará muito traumatizada caso isto venha a acontecer, mesmo que não
haja ligação alguma no tempo com seus desejos de destruição. Sempre assumirá
parte ou toda culpa pela morte da sua mãe. É bom lembrar que a criança poderá
reagir do mesmo modo se vier a perder um dos pais por causa de divórcio, por
separação ou abandono....” (Kubler-Ross, 1987: P. . 15)
Nesse importante trabalho, Kubler-Ross enfatiza que, infelizmente, não
podemos propiciar à criança uma vida sem atribulações. E salienta a necessidade
de não se negar a existência dos fenômenos da vida para a criança, ou seja, não
se deve negar que a vida existe e que a morte faz parte dela. Do mesmo modo
que não se pode negar a existência da violência, da guerra.
114
E conclui, dizendo: “...todo homem, que por seus próprios meios, tente
adiar o encontro com estes problemas e estas perguntas enquanto não for
forçado a enfrentá-los, só será capaz de mudar as coisas quando começar a
refletir sobre a própria morte, o que não pode ser feito a nível de massa, o que
não pode ser feito por computadores, o que deve ser feito por todo homem
individualmente...” (idem: 29)
Considera-se importante que o homem comece a refletir sobre a morte
desde criança, para entender que esse fenômeno faz parte da vida; portanto, é
fundamental introduzir esse conceito para as crianças de forma que elas
entendam que a morte faz parte do processo de evolução do homem, ou seja,
que a morte é a finalização desse processo.
Kubler-Ross enfatiza o fenômeno de lidar com a morte dividindo as
reações humanas em cinco diferentes estágios. O primeiro seria o estágio da
negação e do isolamento. Nesse estágio, o indivíduo não aceita o fenômeno da
morte e não quer dividir esta reação com ninguém. De certa forma, precisa de um
tempo para digerir tudo o que eventualmente está acontecendo. No segundo
estágio, a raiva aparece como o sentimento mais forte, no contexto do indivíduo,
Ele revolta-se contra tudo e contra todos. No terceiro estágio, ele entra no
fenômeno da “barganha”, que, na realidade, é uma tentativa de adiamento; o
indivíduo dispõe-se a fazer coisas a que antes se negava, com o objetivo de
recuperar o tempo que está perdendo. No quarto estágio, o paciente já não pode
negar a sua doença, e apodera-se dele um grande sentimento de perda, que o
leva sempre à depressão. No quinto e último estágio, o paciente entra no
fenômeno da aceitação, e, se tiver sido bem preparado, não sentirá mais
depressão nem raiva quanto ao seu destino, e ficará em paz.
Bromberg (2000) refere que o luto infantil e na adolescência pode ser
considerado um fator de vulnerabilidade a muitos distúrbios na vida adulta, que
podem ser evidenciados na saúde do indivíduo, que vai está sempre debilitada,
como também num aumento de riscos de desenvolvimento de quadro psiquiátrico.
Bromberg (2002), diz que: “...a pessoa enlutada, com freqüência,
encontra outras, na mesma situação, que adotaram sistema de crenças rígido o
que deve ser experimentado nessa jornada ao longo do luto. Essas crenças
podem afetar profundamente o processo individual natural. Podemos encontrar
115
respostas de desorganização, medo, culpa, mas também podemos não encontra-
las. Ou a regressão pode ou não acontecer ou se sobrepor a qualquer outra das
respostas. As emoções podem seguir-se umas às outras com intervalos curtos ou
até mesmo duas ou mais emoções podem estar presentes ao mesmo tempo.”
(Bromberg, 2002. p. 25)
Bowlby (1998) evidencia que existem algumas variáveis que aparecem
na elaboração do luto da criança e do adolescente são similares àquelas que
acontecem na vida adulta, que estão inseridas em três classes:
1- As causas e circunstâncias da perda, com especial referência àquilo que se diz
à criança, e onde, e que oportunidades lhes são dadas, posteriormente, para
indagar sobre o que aconteceu;
2- As relações de famílias após a perda, com especial referência à permanência
da criança com o genitor sobrevivente e, caso isso ocorra, como se modificaram
os padrões de relação em conseqüência da perda;
3- Os padrões de relação dentro da família antes da perda, com especial
referência aos padrões predominantes entre os pais e entre cada um deles e a
criança enlutada. (Bowlby, 1998. p. 328)
Walsh e McGoldrick (1998) após muitas pesquisas na área de família nos
Estados Unidos ressaltam que: “... quando os membros da família se comunicam
abertamente sobre uma morte (independente de suas circunstâncias) e participam
juntos de rituais culturalmente significativos (por exemplo, rituais funerários e
visitas ao túmulo), a morte se torna mais fácil de integrar. As tentativas de
proteger as crianças ou os membros “vulneráveis” desta experiência tendem a
tornar o luto mais difícil.” (Walsh, McGoldrick, 1998. p.77)
Na experiência prática durante esta pesquisa as autoras constataram que
nas famílias com filhos pequenos, as crianças reagem à morte de acordo com o
estágio do seu desenvolvimento cognitivo, pela maneira como são tratadas pelos
adultos no que se refere à morte e também dependendo do grau de cuidado que
elas perderam. Em contrapartida, nas famílias com filhos adolescentes, a morte
nesta fase do ciclo vital geralmente é encarada de maneira traumática, porque o
processo evolutivo primário de separação do adolescente entra em contato com a
experiência da perda, que necessita da família para dar apoio a seus membros.
116
A superação da negação do fenômeno da morte é uma busca importante
para que as famílias se fortaleçam, e expandam o contexto no qual percebem a si
mesmos e a sua perda, podendo assim, perceber a sua experiência
continuamente, se deslocando do passado em relação ao futuro e sentindo a
ligação entre todos os membros entre si. Isto se pode aplicar não somente aos
contextos de morte, mas também, direcionar a todas as áreas da vida, numa
perspectiva mais ampla, que os ajude a se fortalecer em direção ao futuro.
Preparar as crianças para entender toda essa gama de sentimentos que
invadem um indivíduo quando ele está diante de um fenômeno de perda, é um
processo importante. Esta preparação pode ser direcionada desde pequenos para
que, quando estiverem diante desta situação sejam capazes de ter reações de
enfrentamento. É uma tarefa que pode ser desenvolvida de maneira gradativa
pelos pais e educadores quando se propõem a ajudar no desenvolvimento
emocional da criança e do adolescente.
4.5 – Como educar os filhos sem perder a identidade do casal?
“ Quando nasce uma criança, devem surgir novas funções. O funcionamento da
unidade conjugal deve ser modificado para satisfazer os requisitos da
paternidade.” Minuchin(1982)
Dentre os assuntos discutidos na educação dos filhos, um dos mais
preocupantes é, sem dúvida, o que trata de como educar os filhos sem perder a
identidade do casal. Esse aspecto é interessante, porque há uma inter-relação
dos papéis que os pais desempenham em suas vidas dentro do casamento: pai-
esposo e mãe-esposa.
Minuchin (1982) diz que: “...o sistema deve efetuar as mudanças
complexas requeridas para passar de um sistema de dois para um sistema de
três . “ ( Minuchin,1982.p.40)
Quando existe uma complementaridade no contexto do casal, pode
acontecer a divisão das funções entre os membros do casal, que muitas vezes se
apóiam e se enriquecem mutuamente. Normalmente, o que se percebe é que a
indulgência de um pode ser equilibrada pela firmeza do outro. Quando existe o
amor e duas pessoas decidem compartilhar seus dias e noites, seu futuro, de
117
certa forma precisam passar por um longo período de ajustamento, antes de
completarem a transição da condição de casal conjugal para a de casal com
filhos. Observa-se, no dia-a-dia, que o casamento não é apenas um estado em
que o indivíduo entra e complementa – é uma condição que muitas vezes pode
ser criada. E, se essa premissa for considerada de forma mais profunda, o
casamento, muitas vezes, pode ser recriado.
Na primeira fase da vida adulta, cada um de nós assume seu lugar na
sociedade. Para quase todos nós isso tem o significado de aquisição,
aprendizado e desempenho de três papéis fundamentais: profissional, conjugal e
parental.
Os detalhes do momento certo e do conteúdo desses papéis diferem, de
cultura para cultura e de grupo social para grupo social. Em nossa cultura ocorre
muita variação entre os grupos, em relação à idade de casar e ter filhos. No
entanto, independentemente dessas mudanças nas normas culturais, ainda é
verdade o fato de que, no início da vida adulta, precisamos deixar de lado nossa
definição de nós mesmos e assumir uma série de papéis que envolvem
intrincadas relações com outras pessoas.
O elemento precursor nesse processo de aquisição de papéis é o
abandono do lar. Deixar a casa dos pais é mais que simplesmente iniciar uma
vida independente. Envolve também um processo de emancipação psicológica
importante, em que o jovem se distancia dos pais.
Assim como um bebezinho que tem um apego seguro sente-se mais
confortável fisicamente, ao se distanciar dos seus, para explorar um novo
território, o jovem adulto com um apego seguro encontra mais facilidade para
distanciar-se psicologicamente de seus pais.
A tarefa principal da vida adulta é desenvolver a “intimidade”, que é a
capacidade do indivíduo de fundir sua identidade com a de outra pessoa, sem,
entretanto, recear perder algo de si mesmo.
O indivíduo tem necessidade de encontrar um parceiro, com quem possa
criar um apego de intimidade e segurança. Essa relação central compõe, assim, a
base segura de onde todo o adulto pode partir para o mundo profissional dos
118
adultos, onde será criada a família nuclear em que será educada a próxima
geração de crianças.
Alguns aspectos básicos na escolha do parceiro estão evidenciados nos
três aspectos que o indivíduo deverá aplicar nesse momento. O primeiro aspecto
está associado às características externas, ligadas diretamente à aparência física.
O segundo, ligado às atitudes e crenças inseridas na combinação das idéias em
áreas básicas (sexo, religião, política). O terceiro está embasado na adequação
de papéis, e o indivíduo pode questionar se as idéias da outra pessoa sobre
relacionamento combinam com as suas.
A sociologia diz que a similaridade é o elemento mais forte na atração
entre as pessoas. Seria basicamente um processo de acasalamento por ajuste, e
há mais evidências de sucesso quando há semelhanças do que diferenças, como
na estratificada idéia de que “os opostos se atraem”. Por isso, as parcerias
baseadas na similaridade apresentam muito mais probabilidade de durar do que
aquelas em que os parceiros possuem diferenças marcantes.
O argumento básico é o de que cada um de nós tende a recriar em
nossas relações de parceria o padrão que trazemos em nosso modelo interno de
apego. As novas pesquisas falam que os adultos com modelos de apego seguro
são inclinados a confiar nos outros, a encarar seu parceiro como amigo e como
amante, a mostrar pouco ciúme e reduzida ansiedade quanto ao seu afeto ser
recíproco ou não. Aqueles que possuem modelos internos de "evitamento” são
menos felizes em suas relações, menos confiantes, evitam a proximidade, pouco
revelam sobre si e aceitam menos a outra pessoa.
Esses aspectos são de extrema importância para avaliar o assunto em
questão: Como educar os filhos sem perder a identidade do casal?
Esta identidade do casal deve ser delineada e estruturada no período que
antecede a chegada dos filhos; assim, os casais que evidenciam uma relação
permeada por um apego seguro, com certeza poderão limitar a relação com os
filhos de forma adequada, dando-lhes também um referencial de apego seguro, e
preservar, ao mesmo tempo, a estrutura dessa identidade.
Um outro papel principal adquirido na fase adulta é o da paternidade.
Para muitos, traz grande satisfação, maior senso de propósito e autovaliação, e,
119
também, uma boa sensação antecede a chegada dos filhos. No entanto, também
é verdade que o nascimento dos filhos sinaliza uma série de mudanças na vida
dos adultos e nas relações conjugais, e nem todas essas mudanças são fáceis.
Pesquisas apontam que a chegada de um filho acrescenta mais conflitos e
tensões de papéis. De forma geral, o conflito de papéis só acontece quando uma
pessoa tenta desempenhar um ou mais papéis que são, física e
psicologicamente, incompatíveis entre si. Os casais novos que se tornam pais
geralmente descobrem que os papéis de pai e esposo são, pelo menos em parte,
incompatíveis. Não há horas suficientes durante o dia, e aquelas exigidas pelo
filho costumam ser subtraídas das horas passadas com o parceiro. Hoje, cada
vez mais, os pais são orientados a realizar juntos algumas tarefas de rotina.
Minuchin diz que num determinado momento após a chegada do primeiro
filho , “...a esposa pode encontrar-se prisioneira de demandas contraditórias na
divisão de seu tempo e de sua lealdade. O marido poderá distanciar-se.”
(Minuchin,1990. p.33)
McGoldrick e Carter (1984) dizem que: “...levados pela necessidade
psicológica, embora talvez reconhecendo a interdependência da necessidade de
um equilíbrio de investimento entre a vida de trabalho e a vida no lar, os jovens
progenitores lutam contra as pressões, que aparentam mutuamente exclusivas,
das responsabilidades e satisfações profissionais e familiares, e relacionam-se
com esta pressão como se as melhores respostas fossem diferentes para homens
e mulheres.” (McGoldrick;Carter,1984.p.207)
Outro aspecto a ser considerado é o padrão profissional que é válido para
homens e para mulheres. Infelizmente, nossa cultura enfatiza o trabalho
masculino como meio de subsistência da família, e associa o trabalho feminino
como algo que acrescenta prazer para a mulher. Um aspecto que preocupa, no
dia-a-dia, é de que forma as pessoas e os casais conseguem combinar os papéis
de profissional e pai, ou de profissional e cônjuge. Existe uma demonstração dos
padrões culturais que aceita de forma simples o homem combinar o papel
profissional, o de pai e de marido, embora pensemos causar problemas para a
mulher ser estas três coisas juntas. A mulher tem um conflito maior em relação a
isto, por razões óbvias: se forem somadas as horas despendidas no trabalho
familiar (cuidar dos filhos, limpeza, refeições, compras, etc.) àquelas horas gastas
120
no emprego remunerado, com certeza a mulher terá uma gama de atividades
maior que a de seu parceiro.
As mulheres vivenciam mais conflitos entre o papel familiar e profissional,
devido à maneira pela qual são definidos os papéis sexuais na maioria das
culturas. O papel da mulher está voltado para as relações, o atendimento e o
cuidado. Na medida em que uma mulher internaliza essa expectativa de papel – e
a maioria das mulheres o faz – ela irá se definir e julgar-se mais pelo quão bem
desempenha tais papéis de atendimentos e cuidados do que pela maneira como
se sai na profissão.
As fronteiras entre os papéis profissional e familiar devem ser
assimetricamente permeáveis para ambos os sexos. A mulher não tem apenas
que dar à luz, mas também que ficar em casa em situação de doença dos filhos.
Utiliza um tempo do seu trabalho para ir ao colégio das crianças e pensa nas
tarefas familiares durante o seu trabalho diário. Tais exigências opostas e
simultâneas constituem a verdadeira definição do conflito de papéis.
No caso dos homens, é quase como se papéis profissional e familiar
fossem mais seqüenciais do que simultâneos. Os homens são profissionais
durante o dia, maridos e pais ao chegar em casa. As mulheres são mães e
esposas durante todo o dia, mesmo quando estão trabalhando. Este conflito é
muito maior durante o início da vida adulta e quando os filhos são pequenos e
necessitam de um atendimento mais constante.
Algumas situações com as quais a mulher depara quando tem filhos são:
a sobrecarga ocasionada pelos cuidados com os filhos gera cansaço físico; o
papel conjugal é arrebatado por um afastamento inconsciente temporário; a
mulher começa a culpar o marido por não ajudá-la como gostaria; e muitas vezes
não tem tempo para se cuidar.
Acontece um afastamento do casal, o que afeta diretamente a
sexualidade, por diversas razões. Muitos pais permitem que os filhos fiquem
grande parte da noite, durante a semana, na cama do casal.
Algumas situações com as quais o homem depara quando têm filhos:
aceitar a triangulação que é formada diante do nascimento do filho: mãe-pai-filho;
muitas vezes sente-se preterido, porque todas as atenções estão voltadas para o
121
filho; justifica o fato de não prestar uma ajuda mais efetiva à mulher pelo cansaço
gerado pelo trabalho.
O relacionamento sexual muitas vezes muda o suficiente para que ele
não se sinta satisfeito, e a grande maioria dos pais cobra isso. McGoldrick e
Carter (1984) dizem que : “... a presença de uma criança na casa, especialmente
uma criança mais velha, impede que os pais tenham privacidade,mesmo em seu
próprio quarto.” (McGoldrick;Carter,1984.p212) As autoras complementam
dizendo que as mulheres costumam colocar o sexo em segundo plano ,dando o
mínimo de si nas relações, e os homens interpretam esta situação como sendo
falta de interesse da esposa,uma rejeição.
Nesse contexto, é muito importante que o casal reflita sobre o que fazer
para que essas situações sejam revertidas e para que possa continuar mantendo
um padrão satisfatório de cumplicidade e consiga educar os filhos sem perder a
própria identidade.
Diante da necessidade de um ajustamento do casal para que a educação
dos seus filhos seja um sucesso a olhos vistos, a dupla conjugal precisa
efetivamente fazer uma reflexão periódica dos erros e acertos de posturas, dos
comportamentos e das opiniões que estão desempenhando em relação ao outro ,
e uma avaliação deste contexto na direção da relação com os filhos.
4.6 – Mães que trabalham fora
Um tema abordado constantemente pelos pais está relacionado às mães
que trabalham fora. Muitas vezes, torna-se bastante polêmico, quando se avalia
uma frase como esta: “Se as mães trabalham, quem criará os filhos?” A resposta
geralmente é: “Ninguém, portanto as mães devem voltar para casa”. (Peters,
1999. p. 32)
Desempenhar o papel de mãe e trabalhar não deveria ser uma
dificuldade. Nenhuma mulher deveria ter que fazer escolhas, ou nem se sentir
culpada,por ter que escolher entre uma vida independente profissionalmente ou
escolher ter filhos. Este momento, é o momento certo para que a mulher se torne
mãe, desde que seja flexível, prática e tenha oportunidades para cultivar sua
independência e defina a maternidade dentro de si. Esta é uma questão
122
importante, redefinir a maternidade, de maneira que consiga amar seus filhos sem
perder a sua identidade, sem privar-se de qualquer privilégio.
Em virtude das mudanças que ocorreram na vida das mulheres que
conquistaram o direito de ingressar no mercado de trabalho, foi iniciado um
processo de culpa em relação a seus filhos, por terem que deixá-los em casa.
Algumas mulheres, certamente, transformaram a maternidade num trabalho de
período integral: as mães trabalhadoras passaram a trabalhar vinte e quatro horas
por dia. Atualmente, mudar o conceito de maternidade é uma tarefa bastante
difícil, principalmente em relação à forma como as mulheres devem exercê-la,
porque, tanto as mulheres, quanto o próprio contexto social, incutiram na cabeça
das mães que elas precisam exercer o papel materno “idealizado”.
Para que uma mulher se considere uma “boa mãe”, não precisa
necessariamente concentrar-se de uma forma intensa nos filhos, chegando a
ponto de, muitas vezes, abrir mão da sua própria identidade. Quando as mulheres
recebem uma educação para ter uma participação ativa, tanto econômica, quanto
política e socialmente, e param de fazer isso, começam arriscar seu senso de
individualidade, sua satisfação e sua eficiência.
Portanto, é muito importante que o casal faça uma reflexão sobre a
necessidade de iniciar um processo básico para reestruturação da família e, com
isso, o papel da mulher possa ser mais facilmente desempenhado.
Com a entrada da mulher na competição fora do lar, ela obriga o homem
a modificar o seu papel, havendo assim uma complementação em relação aos
cuidados com os filhos. A mulher precisa conscientizar-se de que tem de delegar
funções a outros, já que optou por trabalhar.
A mulher atual aspira a um papel de esposa mais ampliado do que no
passado. O papel sexual está mais desenvolvido, e ela está consciente da
necessidade desta atuação. O papel profissional está cada vez mais ampliado, o
que, por um lado, causa um certo desconforto, por causa dos filhos, e, por outro
lado, traz prazer, devido ao fato de ela sentir-se provedora econômica de uma
parte dos gastos da família. Isso lhe traz uma sensação de poder. O papel do
homem precisou ser reformulado a partir do momento em que ele não tem uma
mulher tradicional a seu lado, e sim uma mulher que trabalha. Esse papel paterno
123
está embasado de mais autoridade, porque, uma vez que a mãe está ausente, o
pai deve assumir alguns momentos junto à criança.
Existe um mito que acompanha as mulheres em relação à família: o mito
da mãe idealizada, daquela que se sacrifica, que vive em função de marido e dos
filhos. No contexto atual, é importante que a mulher não tente viver
correspondendo a esse mito de mãe idealizada. Ela precisa ser mãe e continuar
sendo ela mesma. Se ficar todo o seu tempo em casa, corre um grande risco de
cometer excessos, sufocar os filhos. É importante que ela entenda que a criança
não precisa ser privada de outros relacionamentos, de gostar de outras pessoas,
e que, fazendo isso, ela respeita a si mesma e a seus filhos.
“Ter direitos” é o que diferencia o novo tipo de maternidade. É isto que
salva uma mãe da perda de sua individualidade. A mulher precisa abandonar a
suposição de que a raiva, a frustração, o tédio e o desgosto são estranhos às
boas mães e que elas não podem ter sentimentos negativos.
Do outro lado estão as mães que não trabalham, segundo Peters (1999)
“...a vulnerabilidade emocional das mães que não trabalham fora também afeta
sua família. Essas mesmas mulheres que exercem o papel materno com devoção
ficam ressentidas com os maridos, que colhem os benefícios da vida familiar sem
desistir dos seus sonhos.” (Peters,1999.p.28) A autora complementa dizendo que
os filhos sentem diretamente os reflexos desta situação na qual a mãe passa.
A prática clínica nos tem mostrado que uma mãe que vive numa situação
de viver reprimindo os seus desejos de independência , de realização profissional,
suas ambições, suas frustrações, não consegue ter uma empatia com as alegrias
e fracassos de seus filhos.
Existe algo muito importante para ser ressaltado, quando se fala neste
assunto: a postura idealizada para o casal, nos dias de hoje. Os casais que estão
começando a vida conjugal precisam entrar em acordo quanto às divisões de
papéis. A educação dos filhos deve ser discutida e combinada, para que ambos
possam educar de forma igual. Os homens necessitam sentir-se prontos para
isso. Não adianta querer que um homem que teve uma educação machista
aprenda de imediato a ter cuidados mais específicos com a casa, sem que seja o
de nutrir a família com o seu trabalho fora de casa, e é importante conversar
124
sobre isso com o parceiro. Os pais precisam conhecer bem a sua criança, porque
assim poderão dar um ao outro a segurança de que ambos estão exercendo bem
o seu papel e que poderão se acostumar a ter respeito um ao outro, a exercer a
autoridade de pai ou de mãe. A alegria e o esgotamento podem sustentar o casal,
produzindo rápidas combinações emocionais alternadas, acontecendo dessa
forma um crescimento espontâneo dos pais. O grande mérito de iniciar a
paternidade e maternidade juntos é facilitar a manutenção de um casamento de
igualdade.
Portanto, quando consideramos alguns aspectos importantes que giram
em torno do tema “Mães que trabalham fora”, a mulher pode parar e pensar que:
Por mais angustiante que possa ser para as mães que trabalham deixar
os filhos pequenos em casa ou na escola, no fim talvez seja emocionalmente
mais difícil deixar de trabalhar para ficar em casa com eles. O importante no
relacionamento pai-mãe-filho é a qualidade da relação e não a quantidade de
tempo que estão juntos. (Peters, 1999. P. 111).
4.7 – O real e o virtual no cotidiano infantil (TV, videogame, computador,
internet)
“....Aprender a pensar é uma importante habilidade que, por ser ela tão
básica torna-se fácil de esquecer que não acontece por si só. Ensinar a crianças
como pensar, como usar suas vozes interiores exige tempo e concentração por
parte dos aprendizes. Não será nem um pouco mais fácil se o som dessa voz
estiver mergulhado em ondas e ondas de ruído eletrônico. De modo irônico, a
própria tecnologia que tantos defendem como sendo um meio de ampliar o
raciocínio dos estudantes pode ser a responsável por um resultado exatamente
oposto....” (Armstrong, Casement;2001, p. 25)
Os novos pais de hoje pertencem a uma geração onde os pais
transmitiam aos filhos uma educação bastante rígida e dentro dos padrões que
aprenderam em suas famílias de origem. Com o passar dos anos, esses
conceitos começaram a ser revistos pela sociedade, e os pais de hoje estão muito
mais maleáveis do que os de outrora, e cada vez mais incentivando os filhos a se
realizarem e conquistarem uma autonomia e independência que são pontos
importantes para esta geração.
125
Na educação dos filhos atualmente, percebe-se uma dificuldade muito
grande dos pais em limitar os horários da criança em relação ao uso do
computador, TV, jogo do videogame, Internet. Isso pode ser explicado por
inúmeros fatores: o tempo disponível dos pais para ficar com a criança é restrito,
e deixar que ela assista à televisão é uma forma de compensação; a criança de
hoje mostra-se muito mais ativa, portanto liberar o tempo de TV pode, de certa
forma, constituir uma boa tática para os pais controlarem a criança; a vida nas
grandes cidades constitui para a criança um aprisionamento em apartamentos
cada vez menores, e arranjar atividades para a criança durante um tempo grande
é uma tarefa difícil para os pais que têm uma vida extremamente atribulada.
Em pesquisas feitas nos EUA, noventa por cento dos lares americanos
possuem um aparelho de televisão, e as crianças na faixa etária de 02 a 11 anos
assistem à TV, em média, 28 horas por semana; os adolescentes, em torno de 23
horas por semana (American Psychological Association, 1990). Se esse tempo for
literalmente computado, certamente, quando essas crianças tiverem 18 anos de
idade, terão assistido mais televisão do que executado qualquer outra atividade,
em suas vidas.
No Brasil, o que se pode observar é que os pais, de uma maneira geral,
têm necessidade de levar uma vida de dupla jornada, profissional e com a família,
e, muitas vezes, precisam deixar os filhos com babá ou empregada, no período
em que eles não estão na Escola. Esse movimento faz com que as pessoas que
cuidam da criança, constantemente, deixem-na assistir à TV durante mais tempo
do que deveriam, pois esta é a forma de, muitas vezes, fazer com que a criança
fique parada, quieta, sem dar um trabalho maior, no que se refere a cuidados.
A programação diária de televisão também é uma questão preocupante,
porque alguns programas infantis que atendem à demanda da infância estão cada
vez menos procurados pelas crianças na faixa etária de segunda infância, que
preferem as novelas e programas de ficção mais violentos, que as leva para um
universo virtual muito mais perigoso. A falta de controle e limites em relação a
estes aspectos pelos pais faz com que cada vez mais as crianças estejam em
contato com esta realidade.
Um outro aspecto preocupante que está relacionado ao universo da
criança são os programas de auditório que exploram a sexualidade e a exposição
126
do corpo como forma de atrativo, fazendo com que as crianças repitam esses
padrões como se eles fossem certos. Isso, muitas vezes, é reforçado pelos pais,
principalmente pelas mães, que começam a comprar roupas que são usadas
pelos grupos que estão em evidência, para que os filhos se pareçam com eles.
De uma forma geral, esses pais atendem aos pedidos da criança como forma de
minimizar o seu desconforto no contexto escolar, por exemplo, quando não tem o
“adereço” da moda que pode fazê-lo “popular” diante dos amigos.
Os especialistas alertam os pais para uma escolha segura dos programas
a serem liberados de acordo com a idade da criança e para a constante discussão
em torno do que se assiste e do que acontece e que é passado pela TV. Quando
os pais acompanham a programação da TV, assistindo pelo menos uma vez a
cada programa preferido de seus filhos, para avaliar o grau de violência, de
aspectos negativos que possa passar para a criança, podem conseguir limitar
audiências inadequadas dependendo da idade do filho. Muitos pais preferem
optar, sempre que possível, de assistir aos programas juntamente com a criança
e, quando percebem que um determinado programa contém muitas cenas de
violência, discutem sobre as cenas, inquirindo, comentando sobre o porquê da
violência e por que é desagradável. Os comentários em relação à violência da
perspectiva da vítima, e não da perspectiva do agressor é uma estratégia que
pode minimizar. Os pais conseguem aproveitar a oportunidade para enfatizar que
o uso da violência não é a melhor forma de resolver os conflitos, e que métodos
pacíficos tomam mais tempo, mas costumam ter resultados mais efetivos.
Uma grande parte das pesquisas realizadas em relação à TV está
centrada na agressividade da criança. É muito comum observar que programas
ditos como “sem censura”, muitas vezes, apresentam cenas de impacto. É muito
comum, se observarmos os detalhes, o mocinho cometer atos de violência do
mesmo modo que os bandidos. Muitos programas ou filmes recompensam a
violência; não é difícil encontrar situações em que as pessoas que são violentas
conseguem tudo o que querem, e, por fim, a violência muitas vezes é retratada
como uma maneira de se resolver os problemas.
É importante que os pais que têm filhos pequenos ajudem-nos a distinguir
a fantasia da realidade. Dinossauros e monstros tornam-se muito menos
assustadores, quando reduzidos às dimensões da ficção. O ato de ver televisão
127
não deve acabar quando se desliga o aparelho. Os pais devem usar o que
ocorreu no programa da TV para falar com as crianças sobre valores e
desenvolver seu espírito crítico.
Os pais começam a ter uma visão de que é necessário a estimular as
crianças a assistirem programas cujos personagens se preocupem com os outros,
são solidárias e se ajudam. Em paralelo a isto, começam a procurar incentivá-los
a exercer outras atividades.
Segundo Armstrong, Casement (2001), “....as crianças, como é
reconhecido nos dias de hoje ser especialmente vulneráveis aos efeitos da
televisão, pois ainda não possuem experiência suficiente com a vida real por meio
da qual possa julgar o que vêem na tela. Além disso, uma vez que estes efeitos
estão solidificados, eles tendem a exercer uma influencia permanente.”
(Armstrong, Casement, 2001. P. 20)
A entrada da tecnologia na vida da criança e do adolescente os tem
colocado involuntariamente no que pode ser chamado de uma ampla experiência
social, que exige uma reestruturação do sistema educacional, e em contrapartida,
uma mudança na forma dos mesmos conhecerem e experimentarem o mundo.
Esta afirmação é avaliada por Armstrong e Casement (2001) sob duas
óticas diferentes: a primeira coloca a informática como fonte de tornar a educação
mais produtiva e que pode despertar mais interesse ao estudante de qualquer
faixa etária. Estes terão mais motivação para aprender mais rapidamente, porque
gostam de lidar com computadores e seus conhecimentos intelectuais poderão
ser expandidos, uma vez que não estarão mais limitados aos ensinamentos da
Escola e aos recursos de conhecimentos de seus professores. A segunda está
ligada à possibilidade do estudante entender e ser capacitado para lidar com o
potencial da tecnologia se esta interessado em integrar-se totalmente na
sociedade, onde terá uma carreira mais bem sucedida, por ser a informática um
pré-requisito para isto.
Segundo os pesquisadores americanos esta realidade não é a que está
acontecendo. Relatam que: “....como resultado destas crenças, existe uma
convicção de que uma parte essencial da educação de nossas crianças é a
aquisição do domínio do computador e de que, para serem instruídas em
128
computação, as crianças devem ter acesso aos computadores na escola. Mas o
senso de certeza e o otimismo ilusório com os quais os computadores são
adquiridos para o uso educacional não corresponde ao que está acontecendo. O
uso de computadores na sala de aula, de fato, tem sido uma questão de está
atualizado com as questões tecnológicas, ficando os objetivos educacionais em
segundo lugar.” (Armstrong, Casement, 2001. P. 14)
No contexto familiar quando se fala do uso do computador, é freqüente o
interesse dos pais em acompanhar a programação pela qual os filhos se
interessam. Quando os filhos são pequenos, muitas vezes podem estimular
programas educativos, programas de atividades infantis diversos; quando estão
na fase de pré-adolescência e adolescência, podem tentar monitorar o tempo no
computador e acompanhar os programas a que eles assistem e em que sites
costumam navegar. Toda esta preocupação pode ajudar os pais a terem um
maior controle por tudo que está ligado ao virtual na vida da criança e do
adolescente, mas é bem melhor quando isto é feito de forma bem natural, para
que não se caracterize um controle excessivo.
Um outro aspecto a ser considerado é que impedir e proibir são
comportamentos tão delicados quanto expor demais, pois podem levar à uma
falta de integração da criança e do adolescente. Podem sentir que têm um
comportamento diferente, sentirão dificuldades em se integrar à turma, porque
não conseguem falar a mesma linguagem de seus amiguinhos, podendo
desenvolver sentimentos de exclusão.
4. 8 – Drogas
“A crise da adolescência não se dá no vácuo.... Ela acontece num determinado
espaço, contida entre a família e a sociedade onde se manifesta...” (Kalina, 1974)
O uso de drogas é tão antigo quanto à história da humanidade, e aparece
em inúmeras sociedades, fazendo parte integrante da cultura dos povos.
A compreensão deste fato pode ser vista por um contexto mais amplo,
que considere, entre outros fatores, aspectos históricos, sociais e econômicos.
Desta forma, conseguiremos ampliar a nossa visão para ultrapassar os
preconceitos e valores morais relacionados a este tema.
129
Segundo Bucher (1988), a compreensão pertinente do uso
contemporâneo do uso de drogas tem que passar pelo reconhecimento de seu
alcance antropológico e do seu impacto sócio-cultural. Refere que, a perspectiva
antropológica é fundamental para se entender as drogas como problemática
especificamente humana, presente desde os primórdios da humanização,
alcançando os valores existenciais do ser humano.
Pode-se encontrar relatos da manifestação do uso, desejo ou curiosidade
por alguma droga pelo homem desde o início da sua história. Alguns mitos e
lendas trazem a busca da transcendência, da imortalidade, do prazer e do saber
através do uso de drogas. Nos tempos bíblicos, em relatos da história de Noé, o
vinho já estava presente, e, até hoje, adentra os rituais de cerimônias religiosas.
Ainda não se sabe de que forma o homem entrou em contato com
espécies do reino vegetal que possuem características psicoativas. Supõe-se que
tenha sido ao acaso, com a intenção de buscar o alimento, explorar seu habitat,
ou até mesmo por tentativa e erro. Mas, sabe-se que este contato com alguns
tipos de plantas pode modificar as funções motoras e psíquicas, quando
experimentadas pelo organismo humano.
Muitos registros evidenciam a presença da drogas na história da
humanidade, dentre eles o de que a maconha existe a dois mil anos antes de
Cristo. De que a mesma foi utilizada na China, Egito e na Índia, com objetivo
terapêutico. As primeiras referências sobre a papoula, de onde se extrai o ópio,
encontram-se em terras Sumerianas, na Mesopotâmia, acerca de quatro mil anos
antes de Cristo.
Na civilização inca, o uso de folhas de coca era controlado pelo
imperador, e nos Andes, até os dias de hoje, o costume de mascar folhas de coca
ainda existe, que pode ajudar o andino a superar os efeitos causados pela
altitude. Na Europa do século XV e XVI, com a descoberta do novo mundo,
muitos produtos naturais que continham substâncias químicas psicoativas
migraram para todo o continente. As folhas de coca começaram a ser trazidas da
América pelos espanhóis da América, e, por volta de 1860, Albert Hiemann,
sintetizou a cocaína, que permaneceu tendo o consumo livre até o início do
século XX. Por volta de 1903, a cocaína foi retirada da fórmula da coca-cola.
130
No início do século XIX, algumas drogas, com a morfina foram
introduzidas na medicina como anestésico. Na 2ª Guerra Mundial, era comum o
soldado utilizar anfetaminas, receitadas pelos médicos, com o objetivo de
combate à fadiga, aumentar a resistência muscular e para manutenção do espírito
de luta. Os tranqüilizantes tiveram uso abusivo na década de 50; seguidos pelos
alucinógenos e anfetaminas na década de 60, com advento do movimento hippie.
De acordo com Totugui (1988), o uso de substâncias químicas pelo
homem não é recente, é uma prática antiga, onde desde o início da sua história
manifesta o uso, desejo ou curiosidade por alguma droga.
Atualmente, o ser humano tem um contato muito próximo com as drogas,
associando-as com rituais, prazer e até mesmo como forma de relaxar as
tensões. A legalidade de algumas drogas, como: álcool, medicamentos, tabaco,
facilita o acesso da sociedade ao consumo. A legalização das drogas em cada
civilização vai depender das leis onde estão inseridas.
Um aspecto preocupante no momento, é o acesso da população,
principalmente jovem, aos medicamentos. As indústrias farmacêuticas estão em
pleno crescimento, e o mercado econômico se movimenta intensamente em torno
desta.
Alguns autores procuram entender o que ocorre na busca, incessante, do
ser humano pela droga. Caracterizam o álcool e o tabaco como responsáveis
pelas regras tóxicas de convivências dos tempos atuais, e que causam graves
problemas sociais e de saúde.
Segundo Miguel (1997), existem algumas regras que aproximam o se
humano das drogas: primeiramente porque esta é um sintoma do mal estar social,
e é fruto necessário e válvula de escape dos que não triunfam. Segundo, é um
sintoma de uma mudança rápida do contexto sócio-cultural, a passagem de uma
sociedade centrada na busca do prazer. Terceiro, uma compensação através do
consumo, de todas as frustrações e dificuldades vividas na atualidade; e por
último, o hábito das pessoas recorrerem a substancias medicamentosas para
resolverem seus problemas.
O contexto histórico atual pode ser facilitador ao fenômeno do uso
abusivo de drogas e direcionado ao aumento da violência. Esta compreensão não
131
possibilita o acesso ao usuário de drogas que ao utilizar a droga não tem
consciência e que isto pode está ligado ao contexto social onde vive. Utiliza a
droga pela vontade e pelo prazer que ela traz. Entretanto, por mais que se tente
adentrar o caminho da compreensão, o usuário fica mais distante e junto a ele os
significados reais da mesma.
A utilização do uso de drogas está associada a vários fatores
relacionados à esfera econômica, biológica, social, mística, artística e psicológica,
e pode se manifestar na esfera individual ou e grupos.
Em qualquer quadro de drogadição, a família ocupa um lugar
fundamental no processo de tratamento e resgate do indivíduo. Normalmente,
este dependente está na fase da adolescência, que é um momento crucial na vida
do ser humano, onde as modificações corporais e psicológicas atingem
diretamente os membros da família. Segundo Freitas (2002), os adolescentes, na
verdade, constituem um grupo de alto risco para a utilização de drogas.
132
Capítulo 5 – O Sociodrama Construtivista
“....um encontro de dois, face a face. E quando você estiver perto eu arrancarei
seus olhos e os colocarei no lugar dos meus, e você arrancará o meus olhos e os
colocará no lugar dos seus, então eu verei você com os seus olhos e você me
verá com os meus.” (Jacob Levy Moreno)
A humanidade vem sofrendo mudanças de porte inigualável. Para a
população, de maneira geral, esta crise vem acontecendo desde o Cristianismo,
em função da universalidade de seus métodos e também diante da forma como
foram utilizados os seus instrumentos, tais como: amor, confissão, caridade,
esperança, entre outros.
Quando as mudanças começam a acontecer, o ser humano sai em busca
da universalidade e da praticidade de um método com o qual se identifique. Pode-
se enfatizar que um dos métodos mais promissores que foram desenvolvidos nos
últimos anos e que, de certa forma, preenche essas exigências, é o
psicodramático.
O Psicodrama é um método terapêutico, criado por Jacob Levy Moreno
(1889/1974), médico psiquiatra, que foi também o grande iniciador da Terapia
Familiar (1934). Considerado o pai do Psicodrama no Ocidente, Moreno idealizou
o Psicodrama, cujas origens encontravam-se no Teatro, na Psicologia e na
Sociologia. Do ponto de vista técnico, constitui, inicialmente, um processo de ação
e interação. Ao contrário das psicoterapias verbais, no Psicodrama o paciente
manifesta expressão corporal e interações variadas com outros corpos. “...drama
é uma tradução do grego, que significa ação, ou uma coisa feita. Desta forma, o
psicodrama pode ser definido como a ciência que explora a verdade por métodos
dramáticos...” (Moreno, 1997. p. 17).
No contexto das psicoterapias, o Psicodrama é uma das formas que pode
ser largamente aplicada. O indivíduo vive situações, em geral num palco, onde
pode externalizar os seus problemas com a ajuda de alguns atores terapêuticos.
133
Na realidade, o Psicodrama, além de ser um método de diagnóstico, é também
um método de tratamento.
Historicamente, o Psicodrama pode ser visto como um marco inicial que
transfere o tratamento do indivíduo isolado para o tratamento do indivíduo em
grupo, e é um ponto importante na passagem do tratamento do indivíduo, com
base em métodos verbais, para o enfoque de métodos de ação.
Moreno recebeu influências marcantes da sua época, no período pós-
Primeira Guerra, principalmente de filósofos de Viena, que exaltavam as coisas
boas da vida e acreditavam que as pessoas eram portadoras de um dom divino e
que, por isso, teriam condições de aproximar-se de Deus, tornando-se, dessa
forma, criativas. A essência básica do Psicodrama e do pensamento moreniano
estabelece que o homem é, por natureza, espontâneo e criador.
Segundo Fox “....o psicodrama pode ser definido como a ciência que
busca a “verdade”, por meio de métodos dramáticos, trabalhando com relações
interpessoais e mundos privados”. (Fox. 2002. p. 45)
O mais avançado desenvolvimento da psiquiatria psicológica, no início do
século XX, foi a Psicanálise, e o seu criador, Sigmund Freud (1906/1908), tinha
como idéia geral o tratamento de um organismo individual que eventualmente
estivesse atingido por um certo padecimento psíquico. A realidade do tratamento
de grupo foi visto por ele como um fenômeno intimamente ligado à psique
relacionada ao indivíduo isolado.
Esta premissa do tratamento do indivíduo não isoladamente foi acatada
por muito tempo de forma velada, mais precisamente entre os sociólogos e
antropólogos, embora não tivessem condições de mudar coisa alguma, a não ser
registrar observações importantes relacionadas à cultura, classes sociais e até
mesmo a uma hierarquia social.
Moreno revolucionou certas tendências, quando iniciou um processo de
mudança no lócus da terapia: todos os membros de uma família poderiam ser
tratados, enfrentando-se o problema diretamente, e não isoladamente. Essa
mudança do lócus da terapia interferiu diretamente no agente da terapia, que
anteriormente estava associado a uma única pessoa, uma pessoa que estaria
direcionada para exercer o poder de cura no paciente. A sociometria executou
134
uma revolução nesses padrões e redefiniu o tratamento, ajustando a premissa de
que, num contexto grupal, um paciente pode ser usado como instrumento
diagnóstico e também como agente terapêutico, para tratar outros sujeitos.
Naquele momento, era possível observar que o papel de agente da terapia foi
transformado, de dono e ator, para aquele indivíduo que vai administrá-la e
prescrevê-la.
A espontaneidade no Psicodrama aparece no aqui e agora, levando o
indivíduo a uma resposta adequada às novas situações, ou a uma resposta nova
para uma situação já conhecida. Está relacionada a dois sentidos opostos, ao
automatismo e ao sentido de reflexo. “....A espontaneidade só funciona no
momento de seu surgimento, assim como, falando metaforicamente, se acende
uma luz numa e todas as suas partes se tornam claras. Quando se apaga a luz, a
estrutura básica da sala continua sendo a mesma e, no entanto, desapareceu
uma qualidade fundamental....” (Moreno; 1997:p. 136)
O indivíduo tem um reservatório de espontaneidade, no sentido de
volume ou quantidade. Ela está ou não disponível em vários graus de prontidão,
de zero a um máximo, operando como catalisador. Pode-se caracterizar a
espontaneidade como o aqui e agora. É o homem em ação, o homem lançado na
ação, o momento como parte da história, mas também a história como parte do
momento.
A conserva cultural é o armazenamento de todos os valores e crenças da
sociedade, e funciona como matriz de identidade. Cumpre duas finalidades
importantes, no contexto de vida do ser humano: ajuda o indivíduo em situações
ameaçadoras e assegura a continuidade da herança cultural, passando os valores
e conceitos de vida das famílias de geração para geração.
Existem algumas razões concretas que explicam o aparecimento das
conservas culturais; são elas de caráter psicológico, e, dentre elas, aparece a
insegurança sentida, em épocas pré-históricas, diante das leis da natureza. Ao
prevenir o imprevisto, foram conservando respostas que lhe garantiam resultados
baseados em experiências passadas, criando robôs que permitiram dominá-las. É
provável que todas as conservas culturais sejam projeção final das imensas
abstrações que a mente conceitual do homem desenvolveu na luta para a
experiência superior.
135
Segundo a teoria moreniana, a não manifestação dos elementos da
criatividade e espontaneidade poderia causar doenças nas pessoas e nos
agrupamentos sociais naturais. A espontaneidade pode desenvolver no ser
humano um estado de sentir-se adequado e originalmente integrado, o que é um
aspecto vital à vida. Dessa forma, explicar-se-ia a genialidade do homem como
ser criativo. O homem estaria preparado para enfrentar a vida como se todo
momento fosse único, lutaria contra a conserva cultural, buscando a defesa da
sua liberdade de pensamento, sentimento e ação, sem permitir uma
desvinculação com a sua cultura.
Moreno enfatiza a importância da categoria do momento no Psicodrama.
O conceito moreniano de momento não é histórico; não se pode definir este
conceito como referência ao passado e futuro, pois ambos têm entidade própria.
O tempo histórico, para Moreno, é irreal: “é uma conserva da criatividade, e não a
própria criatividade”. Segundo ele, o momento é a capacidade de ser, viver e
criar. É difícil de ser definido. A maioria dos filósofos o define como a fugaz
transição entre o passado e o futuro, sem a substância real. O momento é
inatingível e instável e, conseqüentemente, de base insatisfatória para um sistema
de filosofia teórica e prática.
No processo psicodramático, a tele é definida como a capacidade de
desenvolver-se dinamicamente, à distância. Não é necessário que seja no
consciente nem no inconsciente. Não é possível ver nem explicar uma relação
télica. Ela é a mais simples unidade de sentimento transmitida de um indivíduo
para outro. Um relacionamento télico é feito na dupla mão, sem que os indivíduos
percam os seus papéis. A individualidade é mantida. É o fluxo de sentimentos que
ocorre entre duas pessoas. Não é uma repetição do passado, mas um processo
espontâneo que é apropriado ao aqui e agora. Relacionamento télico não é
relacionamento de aceitação; é de reciprocidade, é de cuidado. Onde estão as
relações transferenciais e complementares não existem relações télicas. Na
leitura psicodramática, quanto mais o indivíduo estiver telicamente voltado ao
mundo, mais aberto estará a ele. O eterno conflito entre o indivíduo e o grupo
ganhou uma nova versão, em nosso tempo. O Psicodrama é, portanto, um
sistema que habilita o indivíduo a agir e a sentir, em determinados momentos, a
descobrir coisas e a vê-las por si mesmo.
136
A escolha para execução deste trabalho utilizando a metodologia do
Sociodrama Construtivista deve-se ao fato de que podemos unir todos os
ensinamentos deixados por Moreno, através do projeto Socionômico por ele
elaborado que estimulava o indivíduo viver no palco situações vivenciais não
trabalhadas emocionalmente com a ajuda de uma equipe de trabalho. É um
trabalho que objetiva o tratamento com grupos dentro do contexto social em que
está inserido. Isto faz com que os elementos destes se fortaleçam em suas
crenças, valores e co-construam situações novas que possam dar elementos a
uma nova forma de comportamento.
O Psicodrama, de certa forma, abriu um espaço dentre as novas formas
de tratamento, e evidenciou algumas características marcantes do ser humano. A
criatividade e a espontaneidade passaram a ser vistas como aspectos muito
importantes na retomada do indivíduo, diante da possibilidade de construir novas
formas de comportamento para sentir-se melhor na arte de viver. Com o
Psicodrama, também se abriu a possibilidade de enfatizar o agir e o sentir de
forma harmoniosa, evidenciando o relacionamento télico como um processo
espontâneo de interação humana.
“Todos os que assistem a um teatro do Psicodrama pela primeira vez
perguntam-se que espécie de ligação pode haver entre um palco teatral e a
psiquiatria, a educação, a sociologia, a antropologia, ou qualquer ramo da ciência
social. Os métodos da ciência social estão extremamente longe do teatro e do
palco. Mas nada parece estar mais longe delas do que o processo de curar
padecimentos individuais e sociais, o diagnóstico e a terapêutica médica”.
(Moreno, 1997.p. 409)
O contexto estritamente privado dos consultórios e a ética, enfatizada
pelos profissionais, sempre deixaram o indivíduo muito confortável para resolver
seus problemas. Moreno, de certa forma, causou uma revolução no contexto de
prevenção e tratamento de indivíduos e de grupos.
Sociodrama significa: ação em benefício do outro. É uma palavra que
vem da junção de duas raízes: socius, que significa o sócio, e drama, que
significa ação. O Sociodrama está inserido no Projeto Socionômico de Moreno.
137
O projeto socionômico de Moreno está diretamente ligado ao enfoque
que foi dado ao advento da terapia de grupo, num momento em que as terapias
ou tratamentos eram direcionados para o indivíduo isolado, e nunca se
relacionava o sintoma elaborado pelo paciente individualmente como um contexto
de sintoma da família. É um projeto que parte da Socionomia, ciência das leis
sociais, sendo evidenciado pela determinação do número e da forma como se
estendem as correntes psicossociais e como podem aparecer no contexto da
população. O que no passado aparecia como dicotomia entre o quantitativo e o
qualitativo, dentro do enfoque do projeto Socionômico do Psicodrama, aparece
englobado um no outro, vindo à tona como uma unidade. Este projeto apresenta
três ramificações básicas que o caracterizam: a Sociodinâmica, a Sociometria e a
Sociatria. A primeira caracteriza-se por ser a ciência que estuda a estrutura dos
grupos unidos ou isolados, e faz a interpretação dos papéis dos indivíduos dentro
do grupo em que está inserido. A segunda se evidencia por ser a ciência que
mede o relacionamento humano e utiliza-se do método Sociométrico que é
direcionado pelo teste sociométrico. A terceira destina-se ao tratamento dos
grupos dentro contexto social e caracteriza-se pelas formas de tratamento que
são: a psicoterapia de grupo, o Psicodrama e o Sociodrama.
Nesse processo, a cura ocorria nos grupos, nos espaços abertos dos
anfiteatros, normalmente sendo provocados por ações dramáticas e fictícias
apresentadas no palco, aparentemente estranhas à vida das pessoas que
assistiam aos espetáculos. Esse trabalho, tão questionado naquele momento, foi
chamado de Sociodrama.
O Sociodrama é um método de tratamento de grupo que utiliza os
recursos do próprio grupo para que se encontrem soluções viáveis para os seus
problemas. Existe a possibilidade de se observar um grupo que tenha uma
organização contextual e que possa desempenhar alguns papéis sociais, aqueles
que emergem no dia-a-dia da vida e que são criados diante dos nossos olhos e
postulados diante de uma ação (o pai autoritário, a criança mimada), postulados
por uma situação tecnológica (o herói do desenho, o apresentador de um
programa infantil), postulados por uma situação fisiológica (a criança compulsiva
para comer). Naquele momento, esses papéis são vivenciados por indivíduos de
138
uma mesma cultura, que, conseqüentemente, compartilham diferentes níveis de
emoções.
No contexto sociodramático, que é o contexto onde está o personagem e
o drama a ser protagonizado, o que importa é o grupo na sua totalidade, a forma
como os temas são desenvolvidos, os papéis vividos e os problemas discutidos.
O ápice do Sociodrama é o drama coletivo que vem à tona durante o trabalho, a
identidade do grupo. Neste trabalho acontece uma tentativa de anular o espaço
entre a fantasia e a realidade, de reconstruir a unidade funcional que está sendo
trabalhada.
Moreno propôs a busca de uma infinidade de opções para mudanças, e
no Sociodrama o ser humano pode vivenciar esse movimento, inserindo-se num
processo de criação e construindo uma realidade a partir da sua percepção.
No Sociodrama, o grupo é uma unidade que se completa com seus
próprios elementos, normalmente é caracterizado por uma estrutura social que lhe
é peculiar e, de certa forma, é o lugar onde acontecem alguns processos
mostrados pelos indivíduos de forma autônoma. Moreno dizia que, habitualmente
o homem nasce num contexto grupal e vive no emaranhado do crescimento
desses grupos; portanto, quando algo acontece e o deixa doente, é importante
que o seu resgate seja feito no seu próprio contexto,
Quando um grupo se reúne, qualquer que seja o objetivo, aparece uma
ação inter-relacional que se manifesta de forma tão intensa que é comum
acontecer uma intervenção terapêutica e pedagógica, e os indivíduos sentem-se
tratados e educados, diante do assunto que está sendo discutido.
O Sociodrama, como método, tem a finalidade de promover uma
interação das relações sociais, deixando evidenciados os aspectos co-
conscientes (aqueles que estão dentro do contexto internalizado pelo indivíduo
em relação ao outro) e co-inconscientes (aqueles que ainda não chegaram à
esfera de percepção do indivíduo em relação ao outro).
Num grupo sociodramático, a espontaneidade e a criatividade vêm à tona
em diversas situações, e, graças a isso, por meio das técnicas sociodramáticas os
indivíduos podem ampliar as experiências da sua realidade, aumentando as
139
diversas possibilidades de vivenciar o dia-a-dia de maneiras diferentes, sem o
peso das opressões do cotidiano.
As vivências do grupo, nessa realidade ampliada, facilitam às pessoas
passar pela experiência de sentir e viver aquilo que sentem, de sonhar e viver
aquilo que sonham e, por fim, deixam que as situações no contexto grupal, em
que acontece uma mescla de fantasia e realidade, possam passar de conflitantes
para aquelas de conhecimento real.
A dramatização conduz ao grupo uma realidade suplementar e insere os
membros desse grupo num estado relacional, em que a interação se apresenta
contextualizada de forma diferente. No momento em que a espontaneidade surge,
as pessoas que integram nesse grupo têm condições de viver as suas
necessidades com maior clareza e amplitude, buscando formas diferentes de
perceber um tema ou um drama social, e já não precisam do estado cognitivo,
comportamental e afetivo de sua vivencia anterior. Assim, o universo simbólico do
grupo fica bastante flexível, por ter assumido, vivenciado e também transformado
papéis sociais.
O método sociodramático é composto por três etapas, chamadas de
aquecimento, dramatização e comentários. Essas etapas do sociodrama
acontecem sempre no contexto grupal e, de certa forma, os bastidores não
existem. Os espectadores assistem ao desenvolvimento do Sociodrama e dele
participam desde o seu status nascendi.
O profissional que dirige o Sociodrama é chamado de sociodramatista.
Está preparado para executar seu trabalho, munido de um contexto teórico-
prático, embora sem conhecer o script dos atores nem as cenas que serão
desenvolvidas durante o trabalho. O diretor e sua equipe, os chamados egos-
auxiliares, ou co-sociodramatistas, que têm a função especifica de observadores
sociais e de atores, deverão sempre estar informados dos fatos que
eventualmente possam ser a referência do trabalho a ser operacionalizado. Na
fase de aquecimento, o diretor tem como objetivo apresentar ao grupo a
metodologia do trabalho, utilizando algumas técnicas de integração de grupo.
Essa situação inicial chama-se aquecimento inespecífico.
140
Em seguida, é realizado o aquecimento preparatório para a ação
dramática – a preparação do grupo para o momento em que surgem os papéis
sociais necessários, que estão agregados aos conflitos existentes no tema
desenrolado no trabalho. Esse momento é chamado aquecimento específico.
O momento seguinte, quando emergem os papéis sociodramáticos, é
chamado dramatização. É nesse momento que se processam os conflitos
interculturais e que se mobiliza o grupo para viver uma experiência dramática
coletiva. Pode acontecer a catarse coletiva, que é explicada como sendo uma
produção grupal vivida pelo grupo, quando acontece uma purificação
transformadora e os indivíduos retornam aos seus papéis reais, e não mais se
encontram representando dentro do cenário dramático.
Na fase de comentários do Sociodrama, acontece um momento em que
os indivíduos podem compartilhar de todas as vivências que ocorreram, e ainda
existe a possibilidade de articularem as suas vivências e a realidade objetiva
daquele grupo, conforme suas relações interpessoais que foram definidas no
contexto, ou até mesmo como participantes de um drama coletivo. O diretor do
Sociodrama, o sociodramatista, pode utilizar-se de si mesmo como um
instrumento, como diretor e processador do trabalho, auxiliado por seus colegas,
que exercem o papel de egos auxiliares. A sua tarefa consiste em levar os
sujeitos a atuarem em um nível de espontaneidade que possa beneficiar um
equilíbrio total do indivíduo.
Segundo Zampieri, ”....o diretor, sua equipe o grupo co-criam a realidade
no Sociodrama. As crenças, os mitos e os valores de esquemas “verdades” são
re-elaborados a partir da realidade suplementar que o Sociodrama trouxer, além
das decisões subjetivas tomadas a partir dessa vivência.” (Zampieri, 1996. p. 97)
Em diversas situações, na dramatização, pode utilizar os egos auxiliares
para desempenhar papéis junto ao protagonista, com o objetivo de fazer uma
interação deste com a situação vivenciada anteriormente. Outro instrumento do
qual o sociodramatista dispõe é o grupo que exerce o papel de protagonista,
quando interage dentro do drama apresentado; e também num outro papel,
quando fica como platéia, observando ativamente a forma com que o trabalho se
desenrola. Um outro instrumento que o diretor tem a seu dispor é o palco ou
141
cenário, o local onde se desenrola o contexto dramático, que possibilita a
existência de “como se”, ou lócus do trabalho de grupo.
Moreno enfatizava esse trabalho como sendo uma ação passada,
presente e futura, em que apareciam formas de explorar os valores éticos e
sociais, buscando-se as conservas culturais, que dessa forma possibilitavam que
os indivíduos fizessem uma substituição de alguns valores desgastados pelo
tempo por valores atuais, adequados ao momento que as pessoas estavam
vivendo.
Muito habitualmente, o diretor, sua equipe e o grupo co-criam a realidade
do Sociodrama em questão. Durante o trabalho, revela-se uma re-elaboração no
que se refere às crenças, valores, mitos e esquemas de verdades que partem da
realidade suplementar que o Sociodrama traz, inseridas ao contexto de realidade
objetiva, e são observadas a partir do momento da vivência.
“O Psicodrama foi definido como um método de ação profunda, lidando
com as relações interpessoais e as ideologias particulares, e o Sociodrama como
um método de ação profunda que trata das relações inter-grupais e das ideologias
coletivas.” (Moreno, 1974.p. 411)
Na direção do Sociodrama Construtivista é importante conhecer alguns
aspectos ligados ao Construtivismo. Dentro do enfoque Pós-moderno podemos
encontrar alguns princípios que associados à um olhar sistêmico foram
denominados Construtivismo e Construcionismo social.
Podem-se encontrar referências ao Construtivismo desde o século XIX, e
a premissa que evidencia o mesmo é a preocupação do observador humano em
definir aquilo que observa e a forma com que percebe a realidade.
Segundo Grandesso, “...o construtivismo, como uma posição
epistemológica distinta emergiu como uma alternativa para os problemas e as
dificuldades derivados das explicações empiristas e racionalistas do
conhecimento. A principal característica do Construtivismo, independentemente
de qual Construtivismo de que estamos falando, é a interdependência entre
observador e o universo observado.” (Grandesso, 2000. p. 56)
142
Muitas disciplinas colaboraram diretamente para a compreensão do
Construtivismo, como a Filosofia, a Psicologia, a Física Quântica, a Sociologia, a
Neurofisiologia, a Cibernética, e tantas outras.
O que se sabe, conforme a literatura, é que diversas histórias construíram
muitos domínios e várias conexões, isto dependendo de quem observava e de
como as pessoas interagiam, de acordo com a ótica utilizada para a observação.
Histórias poéticas e críticas sociais foram construídas ao longo do tempo. O
Construtivismo sempre objetivou o paradigma narrativo, visando entender os
fenômenos sociais à luz das informações registradas nas narrações.
Von Glasersfeld refere-se ao Construtivismo Radical dizendo que “....é
uma abordagem não convencional dos problemas do conhecimento e do ato de
conhecer. Ela parte do princípio de que o conhecimento, independente da forma
como for definido, está na cabeça das pessoas e o sujeito pensante não tem
alternativa senão construir aquilo que conhece com base na sua própria
experiência.” (Von Glasersfeld, . 1995. p. 19)
Algumas posturas epistemológicas são encontradas como referências de
perguntas feitas no contexto do Construtivismo. Estas perguntas estão ligadas
diretamente às formas, aos limites que o conhecimento humano alcançam. O que
conhecer? De que forma conhecer? Existem limites para este conhecimento? E
quais são? Quais são as possibilidades de conhecimento que o ser humano tem
do mundo e de si mesmo?
Zampieri diz que: “...há num mesmo tema grupal, múltiplas
possibilidades. Os grupos sociais coincidem na ação de algo de um tema, mas
não necessariamente o mesmo; diferentes visões devem ser validadas. Os temas
e as narrativas sociais são representados pela linguagem que, por sua vez,
possui alto nível simbólico.” (Zampieri, 1996. p. 99)
O Construtivismo enfatiza uma construção biológica e social. Sob uma
ótica diferenciada, aparece como uma perspectiva correta do conhecimento
científico em diversos ramos, confirmando a afirmação de que o indivíduo tem a
capacidade interior de criar suas próprias realidades, e, ele próprio, de construir
suas saídas.
143
O pensamento construtivista contemporâneo está embasado
cientificamente em tradições filosóficas e psicológicas que podem ser
caracterizadas pela capacidade atuante da mente humana de ordenar e elaborar
significados, podendo assim criar uma realidade, em vez de descobri-la. As
teorias construtivistas surgiram para revolucionar o pensamento de outras
correntes psicológicas, tais como a psicologia cognitiva, a psicologia do
desenvolvimento, a educacional.
Alguns autores, como Paul Watzlawick (1967), pesquisador norte-
americano na área de comunicação, tem centrado sua inquietação epistemológica
na seguinte interrogação: A realidade é real?
Outros autores sustentaram por muito tempo a teoria de que somos
construtores, e não “descobridores”. No enfoque Construtivista moderado, o
pressuposto básico é a existência de um mundo real que está além do sujeito,
mas esse mundo real nunca pode ser conhecido diretamente.
O conhecimento pode ser visto sob diferentes aspectos. Na verdade, é
difícil chegar a um conhecimento que seja um quadro ou até uma representação
que expresse integralmente as facetas do mundo real.
Muitos autores consideram o Construtivismo como o conhecimento ou a
construção de modelos de informação submetidos à crítica, e consideram,
também, que a avaliação crítica do conhecimento pode ser testada na ação. De
forma geral, um conhecimento superará o outro na medida em que a ação se
mostre mais construtiva à predição e/ou à mudança.
Avaliando-se os contornos teóricos do Construtivismo, observa-se que os
seres humanos podem conhecer-se por meio de unidades cognitivas
biológico/ambientais. Com este enfoque moderno, podemos enfatizar alguns
fundamentos construtivistas que dão embasamento teórico mais consolidado à
teoria.
Um dos primeiros fundamentos teóricos do Construtivismo é a realidade.
Especialistas na área acreditam que a realidade é o indivíduo que a constrói, com
base naquilo está vendo. Nesse processo evolutivo, observa-se que o
conhecimento para se chegar à realidade sempre pode ser concebido da melhor
maneira, como sendo a ampliação da visão do mundo, desde que seja adequada.
144
Tudo que se observa deve ser observado conceitual ou culturalmente, e as
realidades divergentes são aquelas que possuem impactos e controvérsias.
Assim, pode-se validar qualquer forma com a qual cada um aprende o mundo.
Outro aspecto a ser considerado, sob o enfoque construtivista, é a
reconstrução da narrativa, pois o ser humano, na sua essência, é teórico
incipiente, e busca narrar todas as suas experiências. Nesse enfoque, o indivíduo
pode buscar novo significado, e não corrigir as disfunções do pensamento,
comportamento ou sentimentos que estão internalizados.
Por meio do Construtivismo, procura-se reformular metáforas centrais das
auto-narrativas, reformular sistemas partilhados de significados pessoais
impermeáveis às novas experiências. Têm-se como objetivos básicos uma nova
narrativa e a criação de uma atmosfera pessoal e impessoal, reformulando e
resolvendo os problemas por meio da linguagem, e propiciando a incorporação de
uma validação social e identidades novas sem maiores problemas. Para
reconstruir uma narrativa é importante ampliar a visão de si mesmo, encontrando
novas formas e saídas para as situações que aparecem, com base em todo um
referencial internalizado.
O terceiro aspecto que está inserido na teoria construtivista é a
intersubjetividade, que aparece de maneira real no desenvolvimento evolutivo dos
humanos e no seu ambiente. Essa forma de compreensão é muito recente, dentro
do pensamento global. Pode-se caracterizar essa idéia assumindo que nós,
humanos, somos seres inegavelmente sociais. O ser humano precisa do outro,
assim como o outro precisa de alguém, e participam de comunidades e de
identidade e alteridade que são fundamentais para o bem-estar e para o
desenvolvimento.
Para que o ser humano tenha o desenvolvimento e o bem estar latentes é
preciso que haja uma inter-relação com o outro, havendo, assim, uma
necessidade da relação entre o eu e o nós, a fim de que haja uma participação
em comunidades de identidades.
A linguagem constitui uma realidade interpessoal complexa, consistente e
estruturada. O ser humano vive em uma realidade interpessoal complexa,
estruturada e tornada consistente basicamente por meio da linguagem. Isso
145
implica diretamente dizer que qualquer conhecimento de nós mesmos e do
mundo é sempre dependente e relativo ao conhecimento dos outros.
A linguagem, em diversos momentos, pode estabelecer a habilidade de
estabelecer distinções e referências num fluxo da experiência imediata,
possibilitando a distinção, pelo menos simbólica, do si mesmo que possivelmente
está vivenciando o si mesmo que avaliará aquelas experiências.
A dimensão humana da intersubjetividade é um dos aspectos mais
importantes para que o indivíduo promova a individualização e o auto-
reconhecimento, fazendo, dessa forma, uma diferenciação de si mesmo em
relação ao sujeito e objeto.
A experiência de “ser um si mesmo” transcende a vida pessoal do
indivíduo, e dela emerge. Portanto, a certeza e o sentido que temos de nós
mesmos, em geral acontece. Para termos conhecimento de outros é necessário
que tenhamos o conhecimento de nós mesmos e do mundo.
No enfoque construtivista, segundo Niemayer e Mahoney:“...as
experiências potentes da vida são magnéticas e elásticas, magnéticas, porque
atraem novos significados através do tempo, e elásticas, porque se expandem
para auxiliar a estrutura e informar as novas experiências ...”(Neimeyer ;Mahoney,
1997. p. 95)
O Construtivismo tornou-se um pilar para este trabalho pelo fato de
reiterar conceitos importantes que possibilitaram a reconstrução de novos valores
e novas formas de articular a educação dos filhos de forma adequada atualizando
os padrões aprendidos com suas famílias de origem.
Possibilitar que o homem dentro de um papel específico possa ter novas
formas de atuação, e consiga ampliar a sua visão e perceber diversas maneiras
de encontrar soluções é uma fórmula que o Construtivismo conseguiu
implementar desde o seu aparecimento.
O método Sociodramático Construtivista foi articulado pela Profª Dra. Ana
Maria Fonseca Zampieri (Doutora em Psicologia, psicodramatista, terapeuta de
casais e famílias), como: “....método de educação preventiva que tem como meta
ampliar as possibilidades de conscientização correta e adequadamente
proporcional à realidade dos sintomas objetivos e subjetivos, dos meios de
146
transmissão e prevenção, considerando o contexto onde o grupo aprendiz está
inserido....” (Zampieri, 1996. p. 107)
O Sociodrama Construtivista pode ser utilizado em trabalhos com
diferentes grupos, e diferentes temas podem ser abordados, tais como: qualidade
de vida, morte, alcoolismo, sexualidade, educação, drogas, entre outros.
Com este enfoque, será possível questionar, neste trabalho, de que
maneira é possível sensibilizar muitas pessoas e grupos, com o objetivo de
quebrar barreiras, desconstruir mitos, crenças e valores no que se refere ao que é
certo e ao que é errado, possibilitando a um casal educar os filhos sem repetir
uma história aprendida com suas famílias de origem. Enfim, qual a possibilidade
de se alcançar uma educação preventiva eficaz, com a qual se possa articular de
maneira harmoniosa aspectos cognitivos e vivências pessoais mais fortes?
O Sociodrama Construtivista possibilita tudo isso. É um trabalho
cooperativo, em que o diretor é um co-investigador que ajuda o grupo a construir
uma compreensão mais coerente sobre o problema em discussão e que identifica
a revisão dos temas centrais das narrativas pessoais dos componentes do grupo.
É um método que, por meio da ação (no aqui e agora), propicia ao grupo
elaborar algumas saídas, ou desenvolver algum repertório para situações novas,
viáveis para solução das dificuldades que enfrentam no momento. Neste trabalho,
como na maior parte dos métodos em ação, o diretor é facilitador, é aquele que
dirige a cena e que ocupa um espaço de horizontalidade com o grupo.
É possível, utilizando-se o método Sociodramático Construtivista, fazer
com que as pessoas do grupo façam uma revisão de suas vidas, explorando as
narrativas pessoais para evidenciar algumas saídas novas para o tema em
questão.
É um método de característica sistêmica, ou seja, capaz de construir
respostas novas dos indivíduos do grupo, conforme o enfoque dos sistemas em
que vivem. A busca de novos significados e a ampliação da visão de si mesmo
são os pontos fundamentais em que se baseia este método.
No contexto Sociodramático, o grupo pode ser conduzido a uma
realidade direcionada por meio da subjetividade, e os componentes passam pela
147
experiência de viver o possível e o impossível, o real e o imaginário, o permitido e
o proibido, dessa forma tendo uma noção mais concreta desse contexto ampliado.
Quando foi feita uma articulação da teoria e da técnica destes dois
campos do conhecimento, o Sociodrama e o Construtivismo Social, nasceu a
proposta do método de educação preventiva, que foi o Sociodrama Construtivista
da AIDS (dirigido pela psicóloga Ana Maria F. Zampieri), o qual, por meio de
vários experimentos, tornou-se um grande instrumento para prevenção,
orientação e conscientização da Aids como um problema a ser trabalhado em um
contexto grupal, e também um agente de transformação no processo educativo.
O Sociodrama Construtivista para orientação de pais espelhou-se
diretamente na experiência prática dos trabalhos citados anteriormente na
educação e prevenção a AIDS, e tem como objetivo ser um agente de
transformação na forma de educar os filhos. A operacionalização também foi
enfocada a partir da filosofia existencialista do Sociodrama, com a qual se busca
o conhecimento da realidade com base no aqui e agora, em respostas
espontâneas e criativas.
Este trabalho é operacionalizado com a utilização do método de
concretizar a dramatização, dramatizando o tema-protagonista de um drama
social, e articula-se, dessa forma, com uma busca constante da co-elaboração da
realidade apresentada no Construtivismo Social, como método para o indivíduo
externalizar o problema. Isto porque o tema-protagonista pode ser desconstruído
na sua maior significação, na sua estrutura e nas práticas sociais, dando lugar a
uma re-elaboração de novos conceitos e formas de perceber seu contexto e emitir
respostas novas.
É muito importante fazer a desconstrução do que está internalizado como
forma inadequada de educar os filhos, em seus aspectos globais e específicos,
tais como mitos, crenças e valores em relação à forma de viver em família, com
seus significados contextualizados, pela externalização do tema protagonista, o
que é feito pela caracterização do cenário social desse tema. Buscam-se, por
meio da dramatização, os vários papéis sociais e as novas respostas
espontâneas e criativas que sejam adequadas à realidade do processo educativo.
148
O Sociodrama Construtivista para orientação de pais foi estruturado e
desenvolvido de acordo com o esquema teórico-prático descrito anteriormente,
buscando-se certezas referentes ao que acontece no contexto coletivo
relacionado às crenças, sentimentos, pensamentos, conceitos, preconceitos, que,
quando revistos na situação, podem possibilitar o surgimento de respostas novas
dos pais, relacionadas à educação de seus filhos.
Durante o desenvolvimento deste trabalho com grupos de pais, variados
em relação à idade, nível cultural, nível socioeconômico e instrucional, foi utilizada
a teoria construtivista, para enfatizar alguns aspectos importantes na educação de
filhos, e agregar outros aspectos técnico-teóricos, para aperfeiçoar o método
sociodramático.
Para a execução deste trabalho foi escolhida a metodologia do
Sociodrama Construtivista, porque a mesma possibilita uma desconstrução de
uma realidade que estava internalizada na essência dos elementos do grupo,
evidenciando-se novas respostas que podem ser trabalhadas e vivenciadas pelo
mesmo. O Sociodrama Construtivista permite que estes pais angustiados,
inseguros e sedentos de informações possam rever seus valores, crenças e
posturas adquiridas diante de suas famílias de origem e tenham a possibilidade
de estar diante de uma melhor forma para educar seus filhos, sem medos, receios
e onipotência.
Pode-se observar que as pessoas têm seus pontos de referências, os
quais vão canalizar seus atos presentes e futuros, e que esses marcos estão
enquadrados nos comportamentos a partir do momento que estão interagindo nas
práticas sociais. Os indivíduos constroem, em seu referencial, algumas certezas
falsas, e se apegam a elas como se realmente fossem verdadeiras. Isso lhes
dificulta enfrentar as diversas situações difíceis que aparecem em suas vidas.
Neste trabalho, é possível buscar as raízes do Construtivismo Social,
enfatizando a atividade diária da vida cotidiana, deixando de lado alguns enfoques
ultrapassados, propiciando a reconstrução de novas formas de viver, abrindo
espaço para uma percepção de que, diante de um problema, sempre se tem mais
de uma resposta, ou seja, se o indivíduo buscar dentro de si, terá uma melhor
compreensão das dificuldades que os afligem.
149
Capítulo VI – Método
Como desenvolver uma educação preventiva que não fira a gama de
experiências internalizadas pelos pais?
Questões importantes estão relacionadas com a forma de sensibilizá-los,
dentro dos grupos, a fazer desconstruções de mitos, valores e crenças sobre
maneiras inadequadas de educar os filhos. Isso acontece, entre outras razões,
pelo fato destes pais terem vivido impasses, pois reforçaram negativamente
mudanças de postura, internalizadas pelos valores de suas famílias de origem.
É importante desmistificar o terror das educações repressoras e tentar
abrir o caminho para uma educação mais democrática, em que os sentimentos e
questões das crianças sejam valorizados e os pais consigam promover novas
maneiras de comunicação, ampliando a sua visão do que é certo e errado no
processo da educação dos filhos.
O Sociodrama Construtivista é um método de educação grupal com corpo
teórico, técnico e filosófico que compreende etapas, procedimentos, contextos e
instrumentos próprios.
O Sociodrama Construtivista como método para orientação de pais tem
como proposta realizar uma pesquisa qualitativa, que poderá ser enfocada num
espaço onde as realidades do contexto de vida que os pais elaboraram dentro de
si poderão ser reconstruídas. Essa reconstrução surgirá após a tentativa do
aparecimento de novas e mais adequadas respostas, que espontaneamente vão
emergir dos grupos, durante o relacionamento de seus componentes, e isto
sempre será delineado de forma precisa pela pesquisadora e sua equipe, durante
os trabalhos.
Os estudos de pesquisa qualitativa diferem entre si quanto ao método, à
forma e aos objetivos. Godoy (1995) ressalta a diversidade existente entre os
trabalhos qualitativos e enumera um conjunto de características essenciais
capazes de identificar uma pesquisa deste tipo, a saber:
1- ambiente natural como fonte direta de dados e o pesquisador como
instrumento fundamental;
150
2-O caráter descritivo;
3-O significado que as pessoas dão às coisas e à sua vida como
preocupação do investigador;
1- Enfoque dedutivo.
6.1 Participantes da pesquisa
Os grupos estudados neste trabalho pertencem à classe com poder
aquisitivo alto e baixo, e são compostos de pais que trabalham, nível superior
completo, incompleto, 1º e 2º graus completos e incompletos e analfabetos, nas
faixas etários dos 19 aos 58 anos.
Serão trabalhados quinze grupos de pais em dois diferentes locais.
Inicialmente serão feitos oito Sociodramas Construtivistas numa clínica pediátrica,
onde os pais têm filhos de 0 a 16 anos, alto poder aquisitivo; e os sete grupos que
finalizarão este trabalho serão feitos numa ONG, onde os pais têm filhos de 0 a
18 anos, baixo poder executivo.
6.2 Instrumentos de Investigação
Como instrumentos de investigação será utilizado um questionário
individual com os participantes, que tem como objetivo conhecer os temas que
despertam o interesse dos pais relacionados à educação dos filhos.
6.3 Estratégias
A estratégia utilizada na pesquisa foi o Sociodrama Construtivista. , que
é descrito por Zampieri: “....o Sociodrama é um método de ação que remete uma
narrativa verbal ao espaço e ao tempo, produzindo diálogos e captando
mensagens do co-inconsciente grupal quando este faz movimentos corporais e os
maximiza. No Sociodrama, portanto, a realidade psicológica da interação social é
ampliada. Utilizamos a concretização – ação dramática transformada em atos,
mensagens e metáforas do grupo, na busca de compactar informações, expandir
percepções e evocar emoções. Um tema social trazido para fora do grupo, por
meio da concretização ou ação dramática, pode mostrar como os vários aspectos
151
do drama social originam-se e se interconectam, possibilitando uma visão
multifacetada sobre o assunto em pauta, em que vários “eus” e vários “outros”,
trazidos pela representação dos papéis sociodramáticos, ampliam o diálogo
dramático.” (Zampieri,,1996.p.96). A mesma autora afirma que o método
sociodramático construtivista possibilita “...a desconstrução de uma dada
realidade para obtenção de mudanças de respostas, aliada à sensibilização pela
vivência de múltiplos papéis sociais. . .” (Zampieri,,1996.p. 98)
O Sociodrama Construtivista dispõe de 5 instrumentos que são: diretor,
ego-auxiliar, platéia, palco e protagonista.
6.4 Procedimentos
Nesta pesquisa será desenvolvido um questionário aplicado junto aos
pais usuários de uma Clínica Pediátrica e de uma ONG, para detectar
potencialmente quais as dificuldades que os mesmos encontram no dia-a-dia na
educação de seus filhos.
Será utilizado como estratégia o Sociodrama Construtivista em suas três
formas – como fonte de informação, como estratégia educativa e como auxiliar na
manutenção do processo de interação entre pais e filhos.
A pesquisa totalizará 08 Sociodramas Construtivistas com grupos de 30 a
50 pais na Clínica pediátrica e 07 grupos numa ONG ,ambas em São Paulo. Os
Sociodramas Construtivistas serão filmados e fotografados para posterior
transcrição, com autorização prévia dos pais. Todos os participantes assinarão
um termo de consentimento livre e esclarecido.
6.5 Análise dos dados
Os dados serão analisados qualitativamente e os conteúdos dos
Sociodramas Construtivistas categorizados de acordo com os temas de cada
sessão, buscando aspectos importantes, tais como:
1-Os tipos de ansiedades e medos que apresentavam os elementos dos
grupos, quando procuraram orientações;
2-As crenças, valores, mitos relativos a cada tema.
152
3-Personagens sociodramáticos que emergiram em cada tema, que permitam
avaliar a relação família-atual com a família-origem.
4-Sentimentos que eventualmente possam emergir nas sessões que são
importantes para caracterizar a ligação intergeracional.
5-As repetições intergeracionais identificadas mais frequentes nos
Sociodramas.
As desconstruções que foram feitas pelos grupos, por intermédio de
personagens que surgiram nos Sociodramas serão avaliadas ,e, mostradas de
que forma estes pais fizeram as reconstruções do papel parental objetivando
mudanças de comportamentos na educação.
6.4 Considerações Éticas
Esta pesquisa esteve sob a avaliação do Comitê de Ética da PUC-SP, e
foi aprovada para operacionalização no que se refere aos aspectos éticos.
Uma postura ética na presente pesquisa pressupôs uma relação de
respeito e confiança, não coercitiva e não manipuladora e implicou a solicitação
da assinatura do consentimento informado, a garantia do direito à privacidade e
ao sigilo, e a proteção contra possíveis danos aos participantes. Os resultados
também lhes foram disponibilizados.
153
Capítulo VII
7.1- Análise geral dos resultados
Como instrumentos de investigação foram utilizados questionários
individuais com os participantes (anexo 1- volume2), que tinha como objetivo
conhecer os temas que despertam o interesse dos pais relacionados à educação
dos filhos, e, posteriormente foram realizados os Sociodramas Construtivistas.
A análise dos resultados é feita com base nos objetivos que me propus a
investigar nesta pesquisa.. Temos uma análise qualitativa pós-moderna onde é
feita a categorização através das narrativas evidenciadas nos Sociodramas
Construtivistas.
RESULTADOS
7.2- Resultados dos questionários aplicados na Clínica Pediátrica – S.P.
Participantes - 68 pais de poder aquisitivo médio-alto, com filhos na idade de 0 a
15 anos. Sendo que 91% dos pais que responderam o questionário têm filhos de
0 a 7 anos.
1) Você sente dificuldades na condução da educação de seus filhos?
SIM 348 100%
NÃO 0 -
2) Que tipos de dificuldades?
Colocar limites.
Diálogo.
Conversar sobre sexo.
154
Lidar com as frustrações da criança.
A culpa que sinto por ficar tanto tempo fora trabalhando.
Falar sobre morte e perdas .
Controlar TV e vídeo game e computador das crianças.
Ser pai/mãe e cuidar de filhos.
Lidar com os medos da criança.
Não gosto de ver meu filho sofrer, por isso dou quase tudo o que ele quer.
Deixar filho na creche o dia inteiro.
Relacionamento com o filho adotivo em relação aos sentimentos dele.
As brigas entre os irmãos.
A intromissão dos avós na vida da criança.
3) Quais as fontes que você procura para orientar-se em relação à educação
de seus filhos?
Leitura de livros de auto-ajuda 69%
Palestras com especialistas 42%
Consulta com especialistas (coordenadora da Escola,
psicólogos
26%
Programas de televisão 13%
Orientação com pessoas da família 62%
Orientação com amigos 34%
155
4) Qual a maior preocupação que você tem hoje em relação a seus filhos?
Educação 89%
Violência Urbana 37%
Insegurança 43%
Perdas na vida do filho 41%
Sexualidade 55%
Drogas 71%
Agressividade 32%
Amizades 43%
Saúde 85%
Futuro profissional 72%
Relacionamento Familiar 32%
Mães que trabalham fora 45%
5) Que outros temas você gostaria que fossem abordados nos Sociodramas
Construtivistas?
Relacionamento entre irmãos 36%
Relacionamento com avós 24%
Medos da criança 31%
Televisão, computador e vídeo game. Como fazer para que
eles não fiquem tanto tempo?
66%
156
Diante do que foi colocado pelos pais nos questionários, foi elaborado um
calendário dos Sociodramas Construtivista para iniciar o trabalho educativo na
Clínica pediátrica. Os temas selecionados foram: Limites na Educação,
Sexualidade na Infância e na Adolescência, Perdas na infância, Insegurança na
Infância , Mães que trabalham fora, Perdas na Infância, Televisão,computador e
vídeo game na vida da criança. Dois temas apareceram também com um
percentual alto: o tema “Drogas” e o tema voltado para o “Futuro profissional”. A
Clínica optou por desenvolver os outros temas antes, em função da idade das
crianças. Como vamos dar continuidade a este trabalho posteriormente a esta
primeira etapa, possivelmente abordaremos os outros temas solicitados pelos
pais.
7.3- Resultados dos Questionários aplicados na ONG- S P
Participantes- 189 pais de poder aquisitivo médio-alto, com filhos na idade de 0 a
15 anos. Sendo que 72% dos pais que responderam o questionário têm filhos de
com mais de 11 anos.
1) Você sente dificuldades na condução da educação de seus filhos?
SIM
189 100%
NÃO
0 0-
2) Que tipos de dificuldades?
Diálogo.
Drogas. Como prevenir.
Conversar sobre sexo.
Colocar limites
157
Lidar com as frustrações da criança.
Controlar TV e vídeo game e computador das crianças.
Ser pai/mãe e cuidar de filhos.
Lidar com os medos da criança.
Não gosto de ver meu filho sofrer, por isso dou quase tudo o que ele quer.
Deixar filho na creche o dia inteiro.
Relacionamento com o filho adotivo em relação aos sentimentos dele.
As brigas entre os irmãos.
3) Quais as fontes que você procura para orientar-se em relação à educação
de seus filhos?
Leitura de livros de auto-ajuda 29%
Palestras com especialistas 49%
Consulta com especialistas (coordenadora da Escola,
psicólogos
32%
Programas de televisão 18%
Orientação com pessoas da família 26%
Orientação com amigos 38%
Quase nunca procuro 26%
158
4) Qual a maior preocupação que você tem hoje em relação a seus filhos?
Educação 65%
Violência Urbana 55%
Insegurança 48%
Perdas na vida do filho 25%
Sexualidade 73%
Drogas 69%
Agressividade 45%
Amizades 55%
Saúde 34%
Futuro profissional 38%
Relacionamento Familiar 31%
Mães que trabalham fora 26%
5) Que outros temas você gostaria que fossem abordados nos Sociodramas
Construtivistas?
Relacionamento entre irmãos 52%
Medos da criança 41%
Televisão. Como fazer para que eles não fiquem tanto tempo? 25%
Diante do que foi colocado pelos pais nos questionários, foi elaborado um
calendário dos Sociodramas Construtivista , para iniciar o trabalho educativo na
ONG-SP. Os temas selecionados foram: Limites na Educação, Treinamento dos
159
papéis parentais, Sexualidade na Infância e na Adolescência, Drogas na infância
e na adolescência, Insegurança na Infância e na adolescência. O tema
Relacionamento entre irmãos e Amizades apareceu numa porcentagem alta, mas
optamos por não faze-lo ,porque poderia ser um trabalho para ser feito com
grupos juntos: pais , filhos e irmãos. Optamos por desenvolver os outros temas
antes, em função da idade dos adolescentes. Possivelmente não será dada uma
continuidade deste trabalho posteriormente, em função de ser um dos trabalhos
que estão inseridos no Programa de projetos desta ONG.
160
Categorização dos Sociodramas Construtivistas.
7.4Análise dos .Sociodramas Construtivistas feitos na Clínica Pediátrica—
São Paulo.
- Participantes:
Sociodramas Construtivistas Nº de participantes
1-Sexualidade Infantil.O despertar da curiosidade.Qual é a
melhor orientação?
23
2-Insegurança Infantil.Qual o papel dos pais para não
acentuar os sintomas?
28
3-Mães que trabalham fora. 32
4-Com os nossos filhos.Qual o limite dos limites? 26
5-Colocar limites.Até que ponto isto é possível? 27
6-Como educar os filhos sem perder a identidade conjugal? 25
7-Perdas na Infância. 34
8-TV,videogame,computador.Até que ponto o virtual pode
causar problemas para a criança?
23
- Personagens sociodramáticos que surgiram nos Sociodramas da Clínica
pediátrica.
Em virtude dos Sociodramas Construtivistas terem uma gama de temas
diferenciados, vários personagens sociodramáticos emergiram durante os
trabalhos. Durante as dramatizações os pais tiveram a oportunidade de vivenciar
os mais diversos papéis, atuando de forma dramática para resolverem as suas
angústias e dificuldades e puderam reconstruir novos modelos para que tenham
uma melhor atuação no papel de pai e mãe que a vida ofereceu para eles.
161
Em relação aos Sociodrama em que foram trabalhados os temas limites,
os personagens mais evidenciados foram: o Pai Autoritário, o Pai Permissivo, o
Pai Democrático, o Filho Birrento, o Filho Inseguro, o Filho Seguro.
No Sociodrama em que foi trabalhada sexualidade infantil, os
personagens que emergiram foram: os sexólogos e os pais desinformados.
No Sociodrama em que foi trabalhada a questão das mães que trabalham
fora, os personagens evidenciados foram: Mães, Pais, Filhos, Creche/Escola,
Babás.
No Sociodrama em que foi trabalhada insegurança infantil, os
personagens que emergiram foram: Criança Insegura, Mãe Insegura, Pai.
No Sociodrama em que foi trabalhada a questão dos limites, os
personagens que emergiram foram: pai, mãe, bela adormecida, fada madrinha,
bruxa, príncipe.
No Sociodrama em que foi trabalhada a questão das perdas na infância,
os personagens que emergiram foram: a Pai, a Criança, a Mãe, Terapeuta.
No Sociodrama em que foi trabalhado o tema como educar os filhos sem
perder a identidade conjugal, os personagens que surgiram no decorrer do
Sociodrama foram: Pai, Mãe, Filho.
No Sociodrama em que foi trabalhado o tema o real e o virtual no
universo da criança, os personagens emergentes foram: Pai, Mãe, Filho, Mundo
real Infantil, Mundo Real juvenil, Mundo Virtual Infantil, Mundo Virtual Juvenil.
162
Temas
Personagens
Sociodramáticos
Caracterização
LIMITES
Pai autoritário,
Pai permissivo,
Pai democrático
Filhos birrentos,
Filhos inseguros,
Filhos seguros
Tem poder
Sem autoridade
Negociador
Inseguros, intransigente
Dependentes,
Independentes
SEXUALIDADE INFANTIL
Sexólogos
Pais desinformados
Crianças ingênuas
Informados
Ignorantes
Sem informação
MÃES QUE TRABALHAM
FORA
Mães,
Pais,
Filhos
Creche/escola,
Babás
Culpadas
Comprometidos e disponíveis
Revoltados e tristes
Acomodada
Cuidadora
INSEGURANÇA INFANTIL
Criança insegura
Mãe insegura
Pai inseguro
Sofrida
Culpada
culpado
LIMITES
Pai, (Rei)
Mãe, (Rainha)
Bela adormecida
,Bruxa,
Príncipe
Fadas madrinhas.
Onipotente
Desinformada
Desinformada
Dominadora
Segurança
Proteção
163
COMO EDUCAR OS FILHOS
SEM PERDER A
IDENTIDADE CONJUGAL
Pai,
Mãe
Filho
Culpado
Culpada
Esperto
O REAL E O VIRTUAL NO
UNIVERSO DA CRIANÇA
Pai
Mãe
Filho
Mundo real infantil
Mundo real juvenil
Mundo virtual infantil,
Mundo virtual juvenil
Desesperado,desinformado
Permissiva
Crescendo
Fantasioso
Sonhador
Fantasioso
Infinito
-CATEGORIAS -
-Principais sentimentos relacionados à educação dos filhos:
Durante todo o processo de realização dos Sociodramas, pudemos
observar que os sentimentos que emergiram neste trabalho foram os seguintes:
-Culpa: Pais extremamente culpados pela sua atuação no papel de pai e mãe.
Mães que não conseguem aliviar a culpa de ficar tanto tempo longe dos filhos.
Conteúdo das narrativas.
“...minha vida inteira os meus pais fizeram tudo por mim...”
“...eu não consigo aceitar este jeito do meu filho.”
“...a gente sempre quis que ele fosse diferente.”
“...sinto culpa só porque fico o dia todo trabalhando.”
“...eu fiquei lembrando muito das minhas saídas de casa.”
“...às vezes compro um montão de coisas, brinquedos, guloseimas para o meu
filho , para me sentir menos culpada”.
164
“...me culpo pela minha relação com meus filhos.”
“...incomodada pela falta de tempo e intimidade que eu tenho com a minha filha”.
-Insegurança: Pais que, pelo motivo de serem pessoas inseguras, por
apresentarem seus fantasmas internalizados, não se sentem à vontade para
desempenhar o seu papel de pai com segurança. Normalmente transmitem isto
aos filhos.
Conteúdo das narrativas.
“... não tenho forças para levar a coisa adiante.”
“...minha filha me vence pelo cansaço.”
-Impotência: Pais que sentiam que nunca poderiam mudar a trajetória da
educação dos seus filhos, por estarem ligados fortemente as suas raízes, no que
se refere educação.
Conteúdo das narrativas.
“...eu também me sinto insegura em várias situações...”
“...já me acostumei com esta tortura psicológica”.
“...não sei mais o que fazer.”
“...me sinto impotente, não consigo controlar tudo relacionado aos meus filhos.”
-Revolta : Pais que se sentiram revoltados com a educação que receberam de
suas famílias de origem.
Conteúdo das narrativas.
“...pensei até que meus pais não transavam de tanta vergonha que eles tinham de
falar se sexo. Nossa, não quero isto para os meus filhos.”
“...eu não lembro, na minha infância,um dia em que minha mãe teve uma
disponibilidade para ficar um dia inteiro com a gente.”
“...tem horas que tenho vontade de largar tudo.”
165
“...desconto em quem aparece na minha frente.”
“...é uma tortura emocional diária.”
-Repressão- Pais que se sentem reprimidos pelo fato de não conseguirem mudar
o comportamento, e sair do padrão aprendido com seus pais.
Conteúdo das narrativas.
“...tenho raiva dos meus pais, fui muito reprimida.”
“...eu sempre fui tão contida.”
-Tristeza: Pais que sentiram uma grande tristeza por já terem passado alguns
anos repetindo o modelo de educação que tiveram, e que não tem sido eficaz na
educação de seus filhos hoje.
Conteúdo das narrativas.
“... fico triste de também não conseguir falar de sexo. Eu nunca consegui me
soltar”.
“...estou muito triste, fiquei menstruada e não sei o que fazer.”
“...triste com as lembranças da frase: Você vai trabalhar mesmo?”
“...ele vai mais gostar da babá do que de mim.”
“...minha filha me vence pelo cansaço.”
-Esperança: Pais que se sentiram recompensados em vivenciar este trabalho e
saíram direcionados para um contexto mais firme para educar seus filhos.
Conteúdo das narrativas.
“... tenho vontade de mudar.”
“...eu sei que meu filho vai mudar a história dele, e eu vou ajudá-lo.”
“...eu preciso pedir ajuda para o meu marido.”
“...preciso rever algumas coisas.”
“..vou mudar, não quero ser igual a minha mãe.”
166
- Raiva: pais que demonstraram raiva de terem tido uma educação tão rígida
autoritária e que repetem este modelo com seus filhos.
“...tenho raiva dos meus pais, fui muito reprimida.”
“...meu pai era um general...”
“...eu nunca pensei ter filhos para passar por esta situação.”
“...a gente vivia sobre pressão.”
-Vergonha: pais que demonstraram vergonha de alguns aspectos na educação.
Conteúdo das narrativas.
“...também tenho vergonha de falar sobre sexo,mas não tenho coragem.”
“...os pais não respeitaram as vontades do filho.”
“...para mim é difícil abrir mão do jogo de futebol para ficar com meus filhos.”
-Amor: pais que amam de verdade os seus filhos e sentiram que é possível
agregar este amor a uma educação segura e eficaz. .
Conteúdo das narrativas.
“...eu amo meus filhos, não quero que eles sofram.”
-Reconhecimento: pais que reconhecem que a bagagem herdada de suas
famílias de origem pode ser um marco para a educação de seus filhos, mas que
precisam ser atualizadas.
“...eles não têm culpa de nada, não sabemos que bagagem eles
receberam.Reconheço que eles fizeram o melhor que podiam.”
-Paz: pais que acreditaram que poderiam viver em paz com seus filhos à medida
que fossem operacionalizando comportamentos adequados, no processo de
educação.
“...aqui eu modifiquei minha visão em relação a educar.”
167
- Alívio: mães que chegaram à conclusão de que podem exercer o seu papel de
mãe e mulher sem tanta cobrança.
Conteúdo das narrativas.
“....que bom que eu estou aqui.”
-Medo: Pais angustiados demonstrando medo de desempenharem o papel
parental.
Conteúdo das narrativas.
“...eu nunca consegui me soltar, tenho medo de passar isto para minha filha.”
“...na minha casa tudo é proibido”.
“..de fazer as coisas porque meus pais tinham um nível de exigência muito
grande.”
Dentre os sentimentos que emergiram, a culpa foi o que teve maior
destaque, em função de que os pais se sentem mais responsáveis do que
deveriam pela felicidade de seus filhos. A culpa é um sentimento que os deixa
mobilizados e sem movimento para mudanças. Esta foi uma questão muito
trabalhada nos Sociodramas: os pais precisam viver junto com seus filhos,
trabalhar, aprender a elaborar os sentimentos negativos, e procurar estabelecer
sentimentos positivos no decorrer das suas vidas em família.
TEMAS Sentimentos que emergiram nos
Sociodramas Construtivistas
-Limites
-Sexualidade Infantil
-Mães que trabalham fora
-Insegurança Infantil
-Como educar os filhos sem perder a
identidade conjugal
-O real e o virtual no universo da
criança
- Culpa
- Insegurança
- Impotência
- Reprimida
- Revolta
- Tristeza
Esperança
- Amor
- Desespero
- Raiva
- Alívio
- Reconhecimento
- Paz
- Medo
168
-Mitos, crenças e valores relacionados à educação dos filhos
Durante todos os Sociodramas foi marcante o aparecimento de mitos,
crenças e valores acerca do processo de educar filhos. Os pais desarmaram-se
das suas defesas para externalizar essas situações de maneira que pudesse ser
feita uma desconstrução do que fora aprendido em suas famílias de origem.
Os mitos que mais apareceram no trabalho estavam relacionados aos
papéis de pai e mãe: o mito do “pai cuidador”, como o rei da história da Bela
Adormecida, que achava que, por mais rei que fosse, conseguiria afastar todos os
males de junto da sua filha, mandando banir todas as rocas do reino; o mito da
“mãe perfeita”, que deve abrir mão da sua felicidade em prol da felicidade do filho.
Outros mitos apareceram durante o trabalho, tais como: o mito de que a
masturbação pode causar problema para as crianças, de que a criança, para se
tornar a melhor, tem que pular degraus da sua infância para poder crescer e
acompanhar a tecnologia. , que o0s problemas dos filhos são os pais.
As crenças que surgiram nos Sociodramas foram inúmeras, desde as que
estão relacionadas aos papéis como as elaboradas pelo alcance da inteligência
do homem: os pais têm que ser autoritários com os filhos, para manterem o
controle da situação; os filhos não podem errar; a criança não precisa saber nada
sobre sexo, porque isto é conversa de adulto; a educação sexual precoce pode
levar a uma atuação precoce da sexualidade da criança; os “meninos podem” e
as “meninas não podem”; a criança precisa ser criada principalmente pela mãe,
para ser feliz; a criança não deve lidar com a morte, porque pode ficar
traumatizada; quando o casal tem filhos, não pode mais ser um casal conjugal em
sintonia.
Dentre os valores apareceram os seguintes: o filho tem que uma boa
pessoa, o sexo é proibido; mulher tem que ser reprimida, respeito com as
meninas; mãe tem que ser perfeita, criança tem que ser super protegida, morte
faz parte da vida; filhos precisam saber lidar com as perdas;casal precisa cuidar-
se, oferecer diversas formas de tecnologia para ajudar o filho em várias direções.
169
TEMAS Mitos Crenças Valores
LIMITES
-pai cuidador
-mãe Perfeita
-problemas dos filhos
são os pais
-ser autoritário o filho
obedece mais
-pai e mãe sempre tem
razão
-filho tem que ser
uma boa pessoa
SEXUALIDADE
INFANTIL
-masturbação faz mal
à saúde
-mulher tem que casar
virgem
-sexo é coisa para gente
grande
-criança não tem que falar
em sexo
-sexo proibido
-mulher tem que
ser reprimida
-respeito com as
meninas
MÃES QUE
TRABALHAM FORA
-Mãe perfeita
-Supermãe
-ninguém pode cuidar do
meu filho
-mãe que trabalha tem
que se sentir culpada
-mãe tem que
fazer tudo perfeito
INSEGURANÇA
INFANTIL
- Pai cuidador
-mãe dominadora
-filho só faz as coisas
certas quando os pais
ajudam
-mãe sempre nervosa
-pais não respeitam as
vontades dos filhos
-mãe faz tudo melhor
-perfeccionismo
-criança tem que
ser superprotegida
PERDAS NA
INFÂNCIA
- Criança tem que ficar
afastada da morte
-criança não pode
sofra com as perdas
- criança não deve saber
da morte
-morte faz parte do
ciclo de vida
-filhos precisam
saber lidar com as
perdas
COMO EDUCAR OS
FILHOS SEM PERDER
A IDENTIDADE
CONJUGAL
- na família em
primeiro lugar estão os
filhos
-ter filhos é esquecer o
casal conjugal
-casal precisa
cuidar-se para que
os filhos não sejam
um peso para eles
.
O REAL E O VIRTUAL
NO UNIVERSO DA
CRIANÇA
-criança que vê
televisão só vive
fantasiando as coisas
-criança na frente da TV
dá menos trabalho
-oferecer as
diversas formas de
tecnologia para
ajudar os filhos em
varias direções
170
-Mitos que apareceram com mais freqüência nos Sociodramas
Construtivista foram:
Conteúdos das narrativas.
-Mito da perfeição
“...minha mãe não deixava que eu fizesse nada,porque ela sabia fazer melhor.”
“...queriam que eu fosse perfeito também.”
-Mito da supermãe
“...sempre me cobrei de ser supermãe”
-Mito de que “problema dos filhos são os pais”.
“...eu acho que o problema dos meus filhos somos nós.”
Mito do pai cuidador
“..eu preciso evitar que a minha filha sofra.
“...sou poderoso o suficiente para evitar o sofrimento dos meus filhos.”
-Crenças mais observadas nos Sociodramas foram as seguintes:
“ ...minha mãe achava que só conseguia as coisas com a gente se batesse.”
“...pai e mãe sempre têm razão.”
“...criança não precisa saber nada sobre sexo.”
-. Repetições intergeracionais mais freqüentes
Alguns comportamentos repetitivos semelhantes aos que viveram em suas
famílias de origem foram evidenciados pelos pais, e, muitas vezes ficaram
assustados por perceberam as repetições.
Conteúdo das narrativas
“...vê se não fica grudado na minha saia o tempo todo...”
“...eu não quero que ele seja igual a mim.Quando eu era garoto fazia a mesma
coisa e sofria muito.”
171
“..minha mãe queria que eu fosse perfeita, e me pego fazendo as mesmas coisas
que ela fazia comigo.”
“...acho que fico ouvindo um montão de coisas internas que minha mãe falava.”
“...vamos tentar não ser supermães como nossas mães.”
“...me questiono se a falta de limites mais rígidos não gera um comportamento
inadequado de birra, de sensação de poder, para os filhos.”
“...questiono-me se não eram os meus pais que estavam certos.”
“..meu pai batia muito na gente, eu também bato nos meus filhos.”
“...meu pai era muito autoritário, eu também sou.”
TEMAS Repetições intergeracionais mais freqüentes
LIMITES
-postura autoritária
-bater na criança e no adolescente.
-gritar muito para ter a atenção do filho.
-mania de perfeição
-pai e mãe sempre tem razão
SEXUALIDADE INFANTIL
- não falar sobre sexo com os filhos
- dar mensagens negativas sobre sexo
MÃES QUE TRABALHAM FORA
- não deixar outras pessoas cuidarem do filho
- desempenhar o papel de mãe com culpa
INSEGURANÇA INFANTIL
- pais fazendo tudo pela criança
- superproteção
- pais não conseguem aceitar o jeito do filho- perfeccionismo
PERDAS NA INFÂNCIA
-superproteção para o filho não sofrer.
COMO EDUCAR OS FILHOS SEM
PERDER A IDENTIDADE
CONJUGAL
- diminuir o estresse em casa
-filhos dominando o casal e não deve ser um peso para o
casal conjugal
O REAL E O VIRTUAL
- ficar na TV ou computador dá menos trabalho
172
-Principais sentimentos que emergiram no final dos Sociodramas
Construtivistas
No final da realização dos Sociodramas, pudemos observar que os
sentimentos que finalizaram o trabalho foram os seguintes:
-Alívio: mães que chegaram à conclusão de que podem exercer o seu papel de
mãe e mulher sem tanta cobrança para que estes papéis sejam desempenhados
de forma ideal.
-Espontaneidade: pais estimulados a fazer mudanças na educação dos filhos,
acreditando que isto depende da espontaneidade dos seus comportamentos.
-Desinibição: pais que começaram a ter coragem para falar de seus medos
dúvidas , e que, certamente, poderão mudar os comportamentos negativos no
desempenho do papel parental.
-Relaxamento: pais que sentiram relaxados por conseguirem entender que não
precisam ser tão perfeitos no exercício do papel parental.
-Acolhimento: pais que se sentiram acolhidos pela identificação das dificuldades
e felizes por encontrarem saídas para as dificuldades na relação pais-filhos.
-Percepção=mudança: pais que conseguiram perceber alguns fenômenos que
aconteceram na educação que tiveram em suas famílias de origem, e agora
consideram-se capazes de mudar alguns comportamentos que hoje consideram
inadequados.
-Esperança: pais que saíram do trabalho bastante esperançosos de conseguirem
mudar a forma que estão educando os filhos.
-Segurança: pais que se sentiram mais firme em desenvolver o papel parental,
porque agora começam a reconhecer as repetições que estão fazendo dos
comportamentos aprendidos em suas famílias de origem e conseguem fazer
mudanças.
-Amor: pais que demonstraram que sentem um amor verdadeiro por seus filhos
e sentiram que é possível agregar este amor a uma educação segura e eficaz.
173
-Paz: pais que acreditaram que poderiam viver em paz com seus filhos à medida
que fossem operacionalizando comportamentos adequados, no processo de
educação.
-Coragem: pais estimulados e com coragem para mudar aquilo que podem
modificar na educação de seus filhos.
Dentre os sentimentos que emergiram no final do Sociodramas
Construtivista , a segurança para fazer mudanças foi o que ficou mais
evidenciado, em função de que os pais puderam perceber as dificuldades que
estão tendo e se sentem mais responsáveis para exercer uma educação mais
apropriada junto a seus filhos. A segurança na educação é um aspecto que deve
ser valorizado, porque possibilita aos pais uma firmeza na condução dos
comportamentos direcionados às permissões e limites neste processo. Esta foi
uma questão muito trabalhada nos Sociodramas: os pais precisam sentir-se
seguros, para passar esta segurança aos filhos que, conseqüentemente, se
tornarão pessoas mais firmes e tranqüilas dentro de qualquer contexto. Uma outra
questão que motivou o grupo para ter um olhar diferenciado na educação foi a
questão do diálogo. Perceberam que precisam ter uma forma diferente de
dialogar com os filhos, mantendo a autoridade e observando, sentindo e
trabalhando os sentimentos dos mesmos.
TEMAS
Sentimentos que emergiram
no final do Sociodramas Construtivistas
-Limites
-Sexualidade Infantil
-Mães que trabalham fora
-Insegurança Infantil
-Como educar os filhos sem
perder a identidade conjugal
-O real e o virtual no universo da
criança
- Alívio -Necessidade de mudança
- Espontaneidade - Acolhimento
- Desinibição - Percepção = mudança
- Relaxamento - Coragem
Esperança - Estimulo para mudar
- Segurança - Amor
- Certeza de mudança - Paz
- Otimismo - Necessidade de diálogo
- Aprender a ter mais
paciência
174
7.5- Análise dos Sociodramas Construtivistas na ONG- S P
- Participantes:
SOCIODRAMAS Nº de participantes
1-Com os nossos filhos.Qual o limite dos limites? 64
2-Limites. Treinamento do papel parental. 83
3- Insegurança Infantil.Qual o papel dos pais para não
acentuar os sintomas?
62
4-Com os nossos filhos.Qual o limite dos limites? 48
5-Colocar limites.Até que ponto isto é possível? 54
6-Como educar os filhos sem perder a identidade conjugal? 64
7-Perdas na Infância. 78
-Personagens sociodramáticos que surgiram nos Sociodramas
Contrutivistas realizados na ONG-SP.
Nos Sociodramas realizados na ONG em São Paulo apareceram muitos
personagens sociodramáticos durante os trabalhos. As vivências dos mais
diversos papéis pelos pais, propiciaram expectativas de resolverem as suas
angústias e dificuldades na direção de reconstruir novos modelos para
conduzirem que tenham uma melhor atuação no papel de pai e mãe que a vida
ofereceu para eles.
Em relação aos Sociodramas em que foram trabalhados os temas
limites, os personagens mais evidenciados foram: o Pai Autoritário, o Pai
Permissivo, o Pai Democrático, o Filho Birrento, o Filho Inseguro, o Filho Seguro.
No Sociodrama em que foi realizado o treinamento de papéis com o
tema Limites, os personagens mais evidenciados foram: Pai, mãe, filho, filha.
175
No Sociodrama em que foi trabalhada sexualidade infantil, os
personagens que emergiram foram: pais desinformados e filhos carentes de
informações.
No Sociodrama em que foi trabalhada insegurança infantil, os
personagens que emergiram foram: Criança Insegura, Mãe Insegura, Pai.
Nos Sociodramas em que foi trabalhada a questão das drogas na
infância e na adolescência, os personagens que emergiram foram: a Pai, a
Criança, a Mãe, a Maconha, a Cocaína, os Solventes.
TEMAS PERSONAGENS
SOCIODRAMÁTICOS
Caracterização
Limites
Pai autoritário
Pai permissivo
Pai democrático
Filhos birrentos
Filhos inseguros
Filhos seguros
Poderoso
Sem autoridade
Negociador
Inseguros,chatos
Dependentes
Independentes
Limites- Treinamento do
papel parental
Pai
Mãe
Filho
Filha
Inseguro, desinformado
Sem autoridade
Folgado,Sem limites
Sossegada
Sexualidade na infância
e na adolescência
Pais desinformados
Filhos
Desinformados
Curiosos
176
Insegurança na infância
e na adolescência
Mães
Pai
Filhos
Culpadas
Inseguros
Medrosos
Insegurança na infância
e na adolescência
Criança insegura
Mãe insegura
Pai
Culpadas
Inseguros
Medrosos
Drogas na infância e na
adolescência
Pai
Mãe
Filho
Maconha
Cocaína,
Solventes
Desinformados
Desinformadas
Curiosos
Forte
Poderosa
Excitante
Drogas na infância e na
adolescência
Pai
Mãe
Filho
Maconha
Cocaína
Solventes
Desinformados
Desinformadas
Curiosos
Forte
Poderosa
Excitante
-CATEGORIAS -
-Sentimentos relacionados à educação dos filhos
Durante todo o processo de realização dos Sociodramas
Construtivistas, pudemos observar que os sentimentos que emergiram neste
trabalho foram os seguintes:
- Culpa: pais extremamente culpados pela sua atuação no papel de pai e mãe.
Conteúdo das narrativas.
“...eu não posso fazer um esforço sobre humano para comprar esta bicicleta.”
177
“...não fala assim, a gente faz tudo que pode e o que não pode para você se sentir
feliz.”
“...receio de magoá-lo.”
“...muita culpa.”
“...quando o filho quer e não pode ter e fica tudo remoendo aqui dentro.
- Vergonha:pais que sentiram vergonha de lembrar situações que aconteceram
em suas famílias de origem e têm medo de repeti-las com seus filhos.
Conteúdo das narrativas.
“...tinha vergonha de ir ao Shopping pois achava que era coisa de rico.”
- Insegurança: pais que, pelo motivo de serem pessoas inseguras, por
apresentarem seus fantasmas internalizados, não se sentem à vontade para
desempenhar o seu papel de pai com segurança.
- Medo: pais que demonstraram medo errar e de atuar na educação dos filhos .
“...medo de errar.”
“...medo de ser autoritário.”
- Impotência: pais que sentiam que nunca poderiam mudar a trajetória da
educação dos seus filhos, por estarem ligados fortemente as suas raízes, no que
se refere educação.
- Revolta: pais que se sentiram revoltados com a educação que receberam de
suas famílias de origem.
Conteúdo das narrativas
“...nós somos crianças formadas por pais violentos.”
“...pais que não tinham nenhuma informação.”
“...eu não me lembro de nunca, em minha casa, ter tido direito de argumentar
alguma coisa.Tudo era do jeito que meus pais queriam.”
“...droga é coisa de maloqueiro.”
178
- Tristeza: pais que sentiram uma grande tristeza por já terem passado alguns
anos batendo numa tecla na educação dos filhos, o que não os levou para frente,
neste contexto.
Conteúdo das narrativas.
“...fico triste quando não posso atender aquilo que meu filho me pede.”
- Esperança: pais que se sentiram recompensados em vivenciar este trabalho e
saíram direcionados para um contexto mais firme de educação de seus filhos.
Conteúdo das narrativas.
...sou seu amigo e estarei por perto aconteça o que acontecer.”
“...filhos com segurança e , determinação e respeito conseguem vencer todos os
obstáculos pela frente.”
- Amor: pais que amam de verdade os seus filhos e sentiram que é possível
agregar este amor a uma educação segura e eficaz.
Conteúdo das narrativas.
“... você nunca estará sozinha.”
-Falta de Confiança: pais que perderam a confiança por encontrarem o filho com
drogas.
Conteúdo das narrativas
“...não dá para confiar inteiramente,”
- Reconhecimento: pais que reconhecem que a bagagem herdada de suas
famílias de origem pode ser um marco para a educação de seus filhos, mas que
precisam ser atualizadas.
Conteúdo das narrativas.
“...aquela história do que a gente recebeu dos pais que vocês tanto falam.”
- Raiva: pais que sentem raiva porque não conseguem ter um controle das
atitudes e comportamentos dos filhos.
Conteúdo das narrativas.
“...eles deixam tudo para depois.”
179
“...nem sempre eles entendem.”
“...vocês não fazem nada que a gente pede.”
“...meus pais tinham vergonha de falar com a gente.”
- Paz: pais que acreditaram que poderiam viver em paz com seus filhos à medida
que fossem operacionalizando comportamentos adequados, no processo de
educação.
- Alívio: mães que chegaram à conclusão de que podem exercer o seu papel de
mãe e mulher sem tanta cobrança para que estes papéis sejam desempenhados
de forma ideal.
- Confiança- pais que sentiram necessidade de mudar algumas situações. na
educação dos filhos
- Incompreensão- Pais que não conseguiam compreender a forma de viver de
seus filhos.
Conteúdo das narrativas.
“...com sua idade eu já trabalhava.”
“...eduquei a minha filha para o mundo, ela vai saber se defender quando estiver
em dificuldades.”
- Pânico- pais em pânico por não ter certeza de que estão desempenhando o
papel parental de forma adequada.
Conteúdo das narrativas
“...esse pânico da gente não ter certeza de que não está fazendo certo.
Dentre os sentimentos que emergiram, a culpa foi o que teve maior
destaque, em função de que os pais se sentem mais responsáveis do que
deveriam pela felicidade de seus filhos. Este foi um dos temas trabalhados nos
Sociodramas: os pais precisam deixar seus filhos viverem, aprenderem a elaborar
os sentimentos negativos, a ampliar a visão para estabelecer muitos sentimentos
positivos latentes no decorrer das suas vidas.
180
Sentimentos que emergiram nos Sociodramas Construtivistas na ONG- São
Paulo.
TEMAS
Sentimentos que emergiram nos
Sociodramas Construtivistas na ONG
-Limites
-Sexualidade na Infância e na
adolescência
-Insegurança na infância e na
adolescência
-Drogas na Infância e na
adolescência
Culpa
Insegurança
Impotência
Reprimida
Revolta
Tristeza
Esperança
Amo
Reconhecimento
Paz
Esperança
Autoritarismo
Vergonha
Desespero
Raiva
Alívio
Timidez
Medo
Falta de entendimento
Medo de magoar
Dupla mensagem
Falta de diálogo
Incompetência
-Mitos, crenças e valores relacionados à educação dos filhos
Durante a realização dos Sociodramas Construtivistas na ONG também
apareceram mitos, crenças e valores no processo de educar filhos. Os pais
muitas vezes externalizaram algumas situações, demonstrando surpresa diante
das situações identificadas, mas seguiram os objetivos do trabalho tentando uma
desconstrução do que fora aprendido.
Os mitos que apareceram no trabalho estavam relacionados aos papéis
de pai e mãe: o mito do “pai autoritário”, o mito da “mãe perfeita”, que deve abrir
mão da sua felicidade em prol da felicidade do filho. Outros mitos apareceram
durante o trabalho, tais como: o mito de que a masturbação pode causar
problema para as crianças; o mito de que a criança, para se tornar a melhor, tem
que pular degraus da sua infância para poder crescer e acompanhar a tecnologia.
181
As crenças que surgiram nos Sociodramas foram inúmeras, desde as
que estão relacionadas aos papéis como as elaboradas pelo alcance da
inteligência do homem: os pais têm que ser autoritários com os filhos, para
manterem o controle da situação; sexo é coisa proibida; a criança não precisa
saber nada sobre sexo, porque isto é conversa de adulto; masturbação é uma
coisa errada; a educação sexual precoce pode levar a uma atuação precoce da
sexualidade da criança; os “meninos podem” e as “meninas não podem”; a
criança precisa ser criada principalmente pela mãe, para ser feliz; a criança não
deve lidar com a morte, porque pode ficar traumatizada; quando o casal tem
filhos, não pode mais ser um casal conjugal funcional.
TEMAS Mitos Crenças Valores
LIMITES
-Pai autoritário
-Mãe Perfeita
-Ser autoritário o filho
obedece mais
-filhos têm que ser
perfeitos
-filhos vencem pelo
cansaço
-diálogo na família
-rígidos em relação
ao namoro
Limites- Treinamento
dos papéis de pai e mãe
-adolescência afasta
filhos dos pais
-pai autoritário
-filhos acham que pais
não confiam neles
--filhos eternas crianças
-filhos tem que
colaborar com
família
-obediência
-ter educação
SEXUALIDADE NA
INFÂNCIA E NA
ADOLESCENCIA
-masturbação faz
mal à saúde
-mulher tem que
casar virgem
-meninos podem, meninas
não podem
-
-Sexo proibido
-mulher tem que
ser reprimida
INSEGURANÇA
INFANTIL
-mãe perfeita -Filho só faz as coisas
certas quando os pais
ajudam
perfeccionismo
DROGAS NA INFÂNCIA
E NA ADOLESCENCIA
--só acontece com
os outros
- informação afasta o
jovem da droga
-vida saudável
182
- Mitos que apareceram nos Sociodramas Construtivistas
-“ ...na sua idade eu já trabalhava.”
“...falar de sexo só com o filho homem.”
- Crenças que apareceram nos Sociodramas Construtivistas
“...para mim está muito difícil porque tudo lembra os meus pais quando eu era
adolescente. Ele falava você tem que ir, e pronto.Não tinha conversa!”
“...tem mães que prometem e não podem cumprir.”
“...nós obrigamos os filhos a fazerem as coisas do jeito que a gente quer.”
-. Repetições intergeracionais mais freqüentes
Alguns comportamentos repetitivos aos que viveram em suas famílias de origem
foram evidenciados pelos pais, e, muitas vezes ficaram assustados por
perceberam as repetições.
“...na minha casa quando o meu pai falava a gente obedecia.”
“...às vezes quero me comportar como o meu pai se comportava. Não obedeceu,
cacete.”
“...não admito que os filhos não obedeçam aos pais, com certeza eu seria
autoritário.”
“...filha diz: porque é uma vergonha não ter como me igualar ao grupo, vou
sempre está em segundo plano, porque os outros vão ser sempre melhores.”
“...pai fica paralisado e diz: meu Deus, esta situação parece aquela que vivi com
meu pai.”
“...estou vivendo com meu filho uma coisa semelhante”.
“...quando eu ia para a Escola e os amigos viviam me chamando de gorda.Eu só
chorava.E muitas vezes a minha mãe batia por isto, porque eu não conseguia
reagir.”
“...acho que isto faltou também com a minha mãe. Ela própria tinha medo de
tudo, não enfrentava nada. Como ela poderia ajudar a nós?”.
183
TEMAS Repetições intergeracionais mais freqüentes
LIMITES
-postura autoritária.
-falta de diálogo
-bater na criança e no adolescente.
-gritar muito para ter conseguir as coisas com o filho.
-mania de perfeição.
Limites- Treinamento dos
papéis de pai e mãe
-falta de diálogo
-pai compra coisas sem poder para agradar os filhos
SEXUALIDADE INFANTIL
-meus pais nunca falaram de sexo comigo, eu também não
falo com meus filhos.
“...-medo de entrar na intimidade da filha igual o pai fazia.”
INSEGURANÇA INFANTIL
- sentia insegurança, meus pais faziam tudo para mim, e
eu faço isto com minha filha.
DROGAS NA INFÂNCIA E NA
ADOLESCÊNCIA
-medo de entrar na intimidade da filha igual o pai fazia.
184
-Principais sentimentos que emergiram no final dos Sociodramas
Construtivistas
No final da realização dos Sociodramas, pudemos observar que os
sentimentos que finalizaram o trabalho foram os seguintes:
-Alívio: mães que chegaram à conclusão de que podem exercer o seu papel de
mãe e mulher sem tanta cobrança para que estes papéis sejam desempenhados
de forma ideal.
-Gratidão: pais gratificados pela oportunidade de ter sido convidado para
participar dos trabalhos.
-Espontaneidade: pais estimulados a fazer mudanças na educação dos filhos,
acreditando que isto depende da espontaneidade dos seus comportamentos.
-Confiantes: pais que demonstraram confiança em fazer mudanças no papel
parental para melhorar a sua relação com seus filhos.
-Desinibição: pais que começaram a ter coragem para falar de seus medos
dúvidas , e que, certamente, poderão mudar os comportamentos negativos no
desempenho do papel parental.
-Relaxamento: pais que sentiram relaxados por conseguirem entender que não
precisam ser tão perfeitos no exercício do papel parental.
-Acolhimento: pais que se sentiram acolhidos pela identificação das dificuldades
e felizes por encontrarem saídas para as dificuldades na relação pais-filhos.
-Percepção: pais que conseguiram perceber alguns fenômenos que aconteceram
na educação que tiveram em suas famílias de origem, e agora consideram-se
capazes de mudar alguns comportamentos que hoje consideram inadequados.
-Esperança: pais que saíram do trabalho bastante esperançosos de conseguirem
mudar a forma que estão educando os filhos.
-Segurança: pais que se sentiram mais firme em desenvolver o papel parental,
porque agora começam a reconhecer as repetições que estão fazendo dos
comportamentos aprendidos em suas famílias de origem e conseguem fazer
mudanças.
185
-Amor: pais que demonstraram que sentem um amor verdadeiro por seus filhos
e sentiram que é possível agregar este amor a uma educação segura e eficaz.
-Paz: pais que acreditaram que poderiam viver em paz com seus filhos à medida
que fossem operacionalizando comportamentos adequados, no processo de
educação.
-Coragem: pais estimulados e com coragem para mudar aquilo que podem
modificar na educação de seus filhos.
Dentre os sentimentos que emergiram no final do Sociodramas
Construtivista , a segurança para fazer mudanças também foi o sentimento que
ficou mais evidenciado, em função de que os pais puderam perceber as
dificuldades que estão tendo e se sentem mais responsáveis para exercer uma
educação mais apropriada junto a seus filhos. A segurança na educação é uma
condição básica para que se possam desenvolver relacionamentos funcionais.
Esta foi uma questão muito trabalhada nos Sociodramas:
TEMAS
Sentimentos que emergiram
no final do Sociodramas
Construtivistas
-Limites
-Sexualidade Infantil
-Insegurança na infância e na
adolescência
- Drogas na infância e na
adolescência
- Alívio- amar os filhos
- Espontaneidade saber ouvir
- Desinibição
- Agir com a razão
- Relaxei
- Alívio
- Segurança
- Certeza de que vou mudar muita
coisa que aprendi
186
Conteúdo das narrativas.
“...eu venço pelo cansaço, Amor.”
“...pai autoritário agride e afasta os filhos”
“...Sou seu amigo e estarei sempre perto de você. Aconteça o que acontecer.”
“...filhos com segurança, determinação e respeito conseguem vencer todos os
obstáculos.”
“...amar muito os filhos.”
“...saber ouvir os filhos.”
“...ter diálogo.”
“...companheirismo.”
“... agir coma razão e não com o coração.”
“...compreensão de ambas as partes.”
“...união, respeito e paciência acima de tudo.”
“...eu acho que vou conseguir mudar algumas coisas na educação de meus
filhos.”
“...cada dia que amanhece é uma novidade entre mãe e filho,Então, todo dia você
tem que aprender , é uma escola.”se a criança chora é importante dizer que sabe
que ela gostaria muito daquilo, mas que naquele momento a gente não pode dar.
Eu aprendi isto com vocês aqui, e agora digo “Não”, sem sentir tanta culpa.”
“...não repitam os erros dos seus pais.”
“...sexo sem pecado, informação essencial.”
“...entreguei a Deus.”
187
Capítulo VIII Considerações Finais
Fazer a conclusão desta pesquisa tem o sabor de vitória, pelo fato deste
projeto ter começado de uma maneira diferente. Não foi uma decisão elaborada e
estudada, mas impulsionada pela necessidade de ajudar aqueles pais
desesperados, com muitas queixas, tristes e chorosos na Clínica Pediátrica,
principalmente, pela dificuldade de orientar e educar os filhos nos dias atuais,
onde permeiam tantas divergências e a falta de conhecimento de direcionar uma
educação que proporcione segurança e tranqüilidade.
O tema é muito extenso e abre uma série de possibilidades de pesquisa.
Inicialmente fiz um levantamento das necessidades dos pais através dos
questionários e resolvi começar a operacionalizar um sonho de poder reduzir as
angústias e o sofrimento destes pais diante de um papel que, deveria ser o mais
fácil a ser desempenhado pelo homem. No entanto, tornou-se ao longo do tempo,
um papel que precisa sempre ser construído e atualizado. Neste percurso, fiz um
levantamento bibliográfico e realmente me dei conta de quão ampla é a questão
de educar filhos. Abrange desde questões do individuo que traz consigo uma
bagagem de valores, crenças adquiridas em suas famílias de origem até o
funcionamento de um sistema que foi construído sem um treinamento, sem uma
preparação, mas sempre com muito amor e disponibilidade para que ele torne-se
funcional.
Pesquisar sobre a relação pais e filhos foi uma situação especial, porque
tenho raízes familiares tradicionais e fiz algumas constatações que me levaram a
repensar a forma como o meu papel de mãe vem sendo desenvolvido ao longo
dos meus 15 anos vivenciando o mesmo, entre tentativas de erros e acertos. Esta
parada para uma reflexão me tornou uma pessoa mais sensível, mais forte e com
mais disposição para ajudar os pais a fazer esta reflexão juntos.Foi um trabalho
realmente de equipe.
Durante o meu trajeto profissional me deparei com situações que
possibilitaram a revisão dos meus limites, mas me motivaram a seguir em frente
neste processo. Foi um trabalho incansável, mas gratificante. A família é muitas
vezes um emaranhado difícil de desvendar, mas, é necessária a disponibilidade
188
para desconstruir todas as situações negativas que permeiam o funcionamento da
mesma. Não seria verdade dizer que em nenhum momento o cansaço chegou
muito próximo de mim, mas a cada trabalho desenvolvido foi injetada uma
dosagem de ânimo e coragem para não desistir dos meus objetivos. Foi muito
grantificante ouvir alguns destes pais dizerem: “estou saindo daqui diferente, com
mais coragem para fazer mudanças.”
Neste momento vamos compartilhar algumas situações importantes que
aconteceram durante este trabalho, que inicialmente seria feito somente na
Clínica Pediátrica, que comporta o atendimento de pais de poder aquisitivo médio-
alto. Mas que, posteriormente estendeu para uma ONG, que estava com
necessidades de fazer um trabalho com pais desta ordem e que, por coincidência,
tivemos oportunidade de aceitar este desafio.. Os pais que participaram desta
fase da pesquisa tinham poder aquisitivo médio-baixo.
Como sensibilizar os pais a desconstruir os mitos, valores e crenças que
permeiam a educação de filhos autoritária de outrora? Como ajudar pessoas a
desempenhar um papel que nunca foram treinados para isto? Como atualizar as
repetições intergeracioanais neste processo?
Nesta primeira fase do trabalho estive diante de pais totalmente
estimulados, que procuravam se informarem das datas e horários das reuniões e
que, dentro do possível tiveram uma freqüência máxima nos Sociodramas
Construtivistas realizados.
Foi muito comum encontrar pais atentos e curiosos, resignificando o
observador participante do Moreno e o curioso sobre a realidade do
Construtivismo, conforme Zampieri (1996) define em sua pesquisa.
Dentro do embasamento teórico das estratégias utilizadas, a hipótese
inicial pode ser constatada, onde a educação dos filhos passa a ser vista sob uma
ótica mais ampla, deixando de ser vista apenas como uma transmissão de valores
de educação dentro da família, passando a abranger uma significação de uma
rede transgeracional que precisa ser revisada, reavaliada e atualizada para os
padrões atuais.
Ficou registrado que os pais gostam de participar destes encontros, têm
necessidades de falar sobre suas experiências e compartilha-las com outros, isto
189
foi observado mais claramente a partir do terceiro encontro, onde já tinham
intimidade suficiente para adentrar em questões particulares de cada um.
Avaliando sob o ponto de vista sociodramático, os papéis sociais familiares
de pais, mãe e filhos foram os mais protagonizados nas dramatizações em todos
os temas que foram desenvolvidos. Partindo deste princípio, o papel de pai
aparece em diversos momentos como “cuidador” ; o da mãe aparece em algumas
situações como “mãe perfeita” e o de filhos como “inseguro,rebelde ou desafiador.
O pai visto como “PAI CUIDADOR”, além de está numa posição
hierarquicamente privilegiada na família, cabe a ele reconhecer que tipos de
movimentos estão acontecendo no núcleo parental. Reafirma o seu poder na
família e muitas vezes aparece evidenciando uma tipologia autoritária. Durante os
Sociodramas Construtivistas este papel foi muito trabalhado, o que ocasionou
uma desconstrução dos aspectos ligados ao autoritarismo reconstruindo uma
tipologia que aproxima-se do ideal para o desempenho funcional do mesmo.
A mãe vista como “MÃE PERFEITA” adquiriu um lugar de destaque dentro
da família e é modelo idealizado para as filhas, apesar de trazerem em suas
bagagens uma dosagem grande de perfeccionismo de suas famílias de origem e
colocar em prática na família nuclear este comportamento na íntegra. Foram
trabalhadas as desconstruções de um mito de “ mãe perfeita”, que deixa a mulher
muito sobrecarregada com este peso da perfeição. A atualização deste privilegia
uma mãe que tenha limites, possa errar e tenha direitos a dividir suas tarefas de
casa com os membros da família.
O filho visto como “INSEGURO, REBELDE, DESAFIADOR” ocupa uma
posição menos privilegiada dentro da família, porque para se sentir entendido
precisa ter os mais diversos tipos de comportamentos que possibilitam serem
rotulados de inadequados e. O trabalho para desconstruir este padrão objetivou
um questionamento por parte destes filhos, em cima da interação familiar, e a
reconstrução motivou os mesmos a buscarem um ponto de equilíbrio junto à
família.
Os Sociodramas Construvistas possibilitaram adentrar o universo das
repetições intergeracionais de maneira eficaz e segura.
190
Porém, na medida em que estes pais se davam conta destas repetições
assumiam posturas muitas vezes de raiva, revolta, como também de pena e
compreensão. Em algumas situações os pais motivaram-se para desvendar
alguns mistérios que permeavam suas vidas durante toda uma existência e era
encoberta por repetições que nem mesmo eles eram capazes de visualizar.
O filho assume um lugar de destaque dentro da família, sendo alvo de
preocupação da dupla parental, num momento em que muitas mudanças estão
acontecendo com o homem e com a mulher. Aparece também, em alguns
momentos com a esperança de fazer uma ruptura ou até mesmo um afastamento
de comportamento que vem sendo repetitivos da família de origem e , muitas
vezes causam problemas para o relacionamento familiar.
Entre os sentimentos que apareceram com destaque nos Sociodramas
Construtivistas, a “CULPA” aparece em lugar de destaque, e com um número
grande de relatos direcionados a ela, porém, tivemos oportunidade de resignificar
este sentimento buscando novas formas de elaborá-la e reconstruir um
movimento que capacite os pais de exercerem seus papéis sem tanta cobrança
internalizada.
Dentre os mitos, crenças e valores observam-se que no contexto da
educação de filhos permeiam alguns deles que precisam ser revistos para que
possa haver uma mudança da situação no relacionamento.
Os mitos mais encontrados foram os de “ pai cuidador”, mãe perfeita” e
“filho inseguro, dependente e desafiador”; as crenças mais visíveis foram as que
asseguravam que “ pai e mãe tem sempre razão”; “os filhos obedecem mais
quando o pai é autoritário” e “sexo é coisa para gente grande”. Os valores mais
encontrados nos Sociodramas Construtivista foram:”diálogo na família “ e
“obediência”. Os pais foram participantes das desconstruções deste mitos e
crenças, e reavaliaram porque valores básicos como a obediência está tão
distante do nosso contexto atual na educação dos filhos.
Entre as repetições dos modelos intergeracionais a que aparece com
destaque maior número de vezes está relacionada ao autoritarismo. Narrativas
como estas podem exemplificar isto: “...questiono-me se não eram os meus pais
que estavam certos.”;“..meu pai batia muito na gente, eu também bato nos meus
191
filhos.”;“...meu pai era muito autoritário, eu também sou.” A desconstrução da
questão do autoritarismo foi evidenciada pela necessidade da reconstrução de um
canal mais aberto na comunicação pais e filhos , objetivando a autonomia,
intimidade e desenvolvimento das relações familiares.
Este trabalho em grupo proporcionou aos pais a possibilidade de uma
identificação com alguns comportamentos inadequados a partir da vivencia e da
intensidade da situação e os sentimentos que emergiram no decorrer do mesmo.
Se estas situações fossem questionadas individualmente em entrevistas,
dificilmente apareceria com a intensidade e espontaneidade como que
apareceram nos Sociodramas Construtivistas. Neste tipo de intervenção as
pessoas introjetam estes sentimentos mais intensamente, e isto acontece através
de atuações não-diretivas, e não vinculadas às regras. A espontaneidade que
Moreno tanto almejava em seus trabalhos dá cabo às situações que eles próprios
podem criar e se permitem viver.
Pode-se concluir a adequação desta pesquisa olhando sob o ponto de vista
dos pais entrarem em contato com conteúdos que foram internalizados em suas
famílias de origem, tiveram a possibilidade de desconstruir aqueles padrões
julgados necessários e reconstruir outros que forem considerados necessários
para o desenvolvimento do papel parental no contexto familiar.
192
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Valins, L. 1994. Quando o corpo da mulher diz não ao sexo- Compreendendo
e superando o vaginismo. Tradução Nadia Lamas. Imago. Rio de Janeir.
Vargas, M. C. 1998. Manual do tesão e do orgasmo. Editora Civilização
Brasileira. Rio de Janeiro.
Vicente,C.M. Artigo:O direito à convivência familiar e comunitária: uma
política de manutenção do vínculo. In Kaloustian,S.M(org.). (2004). Família
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Viorst, J. 1988. Perdas Necessárias. Trad. Aulyde Soares Rodrigues. Cia
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Von Glasersfeld, E. 1995. Construtivismo Radical. Instituto Piaget. Lisboa.
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Walsh, F;McGoldrick, M. 1998. Morte na família. Sobrevivendo às perdas. Artes
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Zampieri, A.M.F,1996. Sociodrama Construtivista da Aids. Editorial Psy.
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Zampieri, A.M.F., 2004. Erotismo, Sexualidade, Casamento e Infidelidade.
Sexualidade conjugal e prevenção do HIV e da AIDS. Ed. Agora. São Paulo.
200
ANEXO
Termo Livre de Consentimento Esclarecido
Eu, __________________________________________________________,
Portador da Cédula de Identidade RG____________________________________,
residente a _________________________________________________________
bairro______________________,CEP:__________,Cidade:__________________,
autorizo a utilização dos dados obtidos nos Sociodramas Construtivistas, realizados
por Ana Lúcia Gomes Castello, psicóloga, CRP 06/18321-3, portadora da cédula de
identidade RG 23609346-0 regularmente matriculada no Mestrado da Pontifícia
Universidade Católica, para fins de pesquisa sobre: “A desconstrução e
reconstrução dos papéis parentais intergeracionais através do Sociodrama
Construtivista”, cujos objetivos são:
-Compreender qual a visão dos pais no processo de educação na pós-
modernidade.
--Desconstruir alguns conceitos aprendidos em suas famílias de origem.
-Reconstruir alguns padrões essenciais de comportamentos para educar na
atualidade.
Declaro estar ciente de que:
1-Qualquer publicação desse material excluirá toda informação que permita a
identificação dos participantes por parte de terceiros.
2-Os participantes estão autorizados a encerrar sua participação no trabalho a
qualquer momento que julgue necessário:
3-Os Sociodramas serão filmados e fotografados.
4-Os conteúdos das entrevistas serão transcritos.
5-A identidade dos participantes será preservada e o anonimato respeitado e
assegurado.
São Paulo, ____ de ______________ de 200__.
Assinatura do Participante: ____________________________
ANEXOS I
Material de Estudo utilizado em cada Sociodrama na Clínica pediátrica-São
Paulo.
Sociodrama I
Tema: Sexualidade infantil e do adolescente.
O despertar da curiosidade. Qual é a melhor orientação?
Objetivos – Trabalhar os pais no sentido de rever alguns conceitos sobre
sexualidade que foram aprendidos em suas famílias de origem e fazer uma
atualização destes conceitos para que se torne mais fácil a orientação com os
seus filhos.
1-Apresentação do trabalho
Fazer uma apresentação do Diretor, da equipe de trabalho.Em seguida fazer a
apresentação do Sociodrama como trabalho junto a grupos.
2-Introdução
-Fazer um levantamento do grupo
-Idade
-Estado civil
-Se têm filhos (crianças ou adolescentes)
-Ênfase nos tabus que o tema sexualidade desperta nas pessoas.
-Influências dos meios de comunicação, principalmente a TV, e dos amigos da
escola.
-As referências que os pais têm de suas famílias de origem.
3--Aquecimento inespecífico
3.1-Desenhar uma figura qualquer que atenda aos dados que forem dados a
seguir:
- duas cabeças
- três olhos
- um nariz
- uma boca três orelhas
- três braços
- corpo magro
- duas pernas
- três pés
- pêlos no corpo
3.2-Trocar os desenhos e observar os aspectos que chamam mais atenção para
cada um deles.
-Verificar e mostrar para os participantes que os desenhos são diferentes.
- Observação espontânea, quando cada um expressou o que ouviu, com todo o
conteúdo que tem dentro de si. Mostrar que isso é criatividade.
- Fazer associação da criatividade e sexualidade.
- Verificar e mostrar para os participantes que os desenhos são diferentes.
- Observação espontânea, quando cada um expressou o que ouviu, com todo o
conteúdo que tem dentro de si. Mostrar que isso é criatividade.
3.3- Fazer uma associação da Criatividade X Sexualidade.
Criatividade –poder de criar algo inerente ao ser humano. Único.Diferente de uma
pessoa para outra.
Sexualidade –Cada ser humano a expressa de maneira diferente. Única
para cada um. Difere de pessoa para pessoa.
3.4- Dar ênfase à Teoria da Personalidade (Freud) – embasada no fato de que no
ser humano há uma mola propulsora básica, a energia sexual (libido).
libido-energia afetiva voltada para a obtenção do prazer. Está presente no ser
humano do nascimento até a morte.
Importante diferenciar:
identidade sexual – unidade e continuidade da individualidade da pessoa como
homem, mulher ou ambivalente.
Experiência particular do papel sexual.
papel sexual – expressão pública da identidade sexual
4. Aquecimento específico – “Viagem na máquina do tempo”
Relaxamento com música. Viagem no tempo –5 anos a menos
10 anos a menos
20 anos a menos
-Viaje até a infância ou até a adolescência. Pense: quando se deu conta da
sexualidade na vida? Pare nesse momento.
- Pense agora no que é o sexo para cada um de vocês.
- Quais são as suas dúvidas?
- Quais as suas curiosidades?
- Quais os seus medos?
- Onde vocês têm prazer?
- Vocês se masturbam? Como é isto?
- Vocês se bolinam? Culpam-se por isto?
- Sofreram algum tipo de abuso?
- O que os adultos das suas vidas falam que é permitido?
- Como seus pais falam com vocês sobre sexo?
- O que é proibido?
- Vocês fazem coisas escondidas? O quê?
- Têm sentimentos de culpa? Quais são?
Diretor deve concluir o trabalho onde os pais devem retornam à realidade,
continuando dentro dos papéis.
5. Dramatização – Gincana.
5. 1- Dividir o grande grupo em dois grupos de crianças e grupos de adolescentes.
De preferência, três pessoas por grupo.
5. 2- Fazer com que o grupo elabore 3 perguntas que causem impactos, para que
o outro grupo responda. Dúvidas que os grupos tenham.
5. 3- Estimular os elementos do grupo a trocarem as perguntas.
5. 4- O grupo deverá se reunir e tentar responder as perguntas.
Obs:Neste momento, é importante fazer um duplo (método psicodramático que é
utilizado para se penetrar nos problemas mais íntimos das pessoas, com o auxílio
de um ego-auxiliar, que é um assistente no Sociodrama.Este atuará junto ao
paciente como se fosse um segundo “Eu”.) respondendo corretamente, caso o
grupo tenha errado.
5. 5- Diretor do Soiciodrama dá um envelope com 4 perguntas básicas para cada
grupo.
Obs:Ego auxiliar (assistente no Sociodrama que pode desempenhar 3 funções:
ator, desempenhando papéis , como terapeuta assistente que pode guiar o
indivíduo durante a dramatização e como observador social.).Neste caso o ego
auxiliar desempenha o papel de Anjinho – Dando cola aos participantes.
5. 6- O Grupo que fizer mais pontos ganha a gincana.
6. Comentários – Chuvas de palavras (cada integrante do grupo deverá dizer
com uma única palavra o que sentiu participando do trabalho).
Sociodrama II
Tema – Insegurança infantil – Qual o papel dos pais, para não acentuar os
sintomas?
Objetivos Trabalhar os pais no sentido de ajudá-los a construir uma identidade
emocional para seus filhos e mostrar-lhes diversas formas de como isto é
possível, sem deixar que situações vivenciadas em suas infâncias interfiram
diretamente nesse processo.
1-Apresentação do trabalho
Fazer uma apresentação do Diretor, da equipe de trabalho. Em seguida fazer a
apresentação do Sociodrama como trabalho junto a grupos.
2-Introdução
-Fazer um levantamento do grupo
-Idade
-Estado civil
-Filhos crianças ou adolescentes
- Evidenciar os aspectos que levam uma criança a ser tão insegura.
-Dar ênfase aos papéis dos pais na vida da criança.
3-Aquecimento inespecífico
Psicodrama interno (os elementos do grupo deverão tentar externalizar alguns
conteúdos internalizados em suas vidas através de um relaxamento conduzido
pelo Diretor do Sociodrama).
Pedir aos componentes do grupo que fechem os olhos e que pensem numa foto
de uma determinada fase da infância que lembram ter visto. Deverão imaginar
uma situação que tenham passado, nessa época, que denotava insegurança para
cada um deles.
Em seguida, os elementos do grupo devem fazer um desenho desta situação,
numa folha de papel. Abaixo do desenho procuram descrever qual foi esta
situação, dando um nome para o desenho.
4-Aquecimento específico
O Diretor deve sugerir que aos participantes formem grupos de 4 elementos, e
troquem os desenhos, mostrando cada um o conteúdo do desenho.
O grupo terá que eleger um desenho que tenha chamado mais atenção e que
denote que a insegurança foi a situação mais forte naquele desenho.
Sociometria da escolha:Cada grupo deverá ter um desenho escolhido que mostre
uma situação forte de insegurança, e esta escolha deverá ser feita com a
participação de todos os elementos do grupo.
5-Dramatização
5.1- Dramatização da situação.
- Os integrantes dos grupos vão dramatizar as situações escolhidas.
-É importante o Diretor Fazer o grupo colocar o afetivo para fora.
-Dramatização da postura ideal dos pais diante da cena.
5.2- Entregar ao grupo fichas com as seguintes frases para cada um avaliar:
- Independência nas atividades diárias
-Pedir tudo, o tempo todo.
-Mãe tem que fazer tudo para o filho, quando chega do trabalho, para diminuir a
culpa de estar trabalhando o dia todo
-Filho tem preguiça de fazer as coisas em casa
-Insistir para que a criança faça determinada coisa quando ela se sente insegura
para fazer.
-Estimular a disposição da criança
-Ensinar a pescar
-Dar o peixe pronto
-A criança torna-se segura a partir do momento em que estamos sempre ao lado
dela.
-Segurança = superproteção
5.3- Colocar na lousa cada situação, por escrito – o que cada um expressou.
5.4 -Formar dois grupos com as duas frases que causaram impactos.
5.5- Os dois grupos deverão formar uma imagem da frase escolhida com pedaços
de tecidos, oferecidos a eles pela diretora.
5.6 -Fazer um coro com a frase.
5.7 -Fazer um coro com as duas frases juntas.
6. Comentários- Chuvas de palavras (cada integrante do grupo deverá dizer com
uma única palavra o que sentiu participando do trabalho).
Sociodrama III
Tema: “Mães que trabalham fora e suas relações com os filhos”
Objetivos:Trabalhar junto ao grupo o problema das mães que trabalham fora,
suas frustrações, suas inseguranças, seus medos, suas culpas. É preciso
trabalhar o papel de mãe. O que é ser mãe?
Construir um perfil positivo para estas mães nos diversos momentos da educação
dos filhos, mesmo trabalhando fora.
1-Introdução:
Fazer um levantamento do grupo
- idade
- estado civil
- têm filhos (crianças ou adolescentes)
- grau de informação do grupo sobre o assunto
- quantas mães, neste grupo, trabalham fora
- levantar algumas expectativas do grupo em relação ao trabalho.
2-Aquecimento inespecífico:
Cada pessoa do grande grupo vai ler um depoimento de mães que trabalham fora
e tentar identificar-se com algum deles. No momento seguinte, vai se apresentar,
falando o nome e dizendo um sentimento que a invade depois de ter lido os
depoimentos e diante da expectativa desta palestra, com base naquele
depoimento que leu.
Exemplo: Meu nome é Ana Lúcia. Sentimento – Angústia.
3-Aquecimento específico
Todos os elementos do grupo receberão um perfil de pessoas que estão dentro do
esquema daquelas mães que trabalham fora e formar grupos.
Deverão ser formados 5 grupos distintos, de 3 pessoas cada, para discutir e
montar uma dramatização.
-Grupo de pais
-Grupo de mães
-Grupo de filhos
-Grupo de empregadas/babás/avós
-Grupo de creche/escola
4-Dramatização
Cada grupo irá dramatizar o conteúdo do que foi discutido previamente, montando
uma dramatização da comunicação do seu grupo com outro grupo.
Ex: Grupo de pais conversar com grupo de filhos.
5-Fechamento da dramatização-
O que cada grupo poderá dizer para os outros grupos, e formar uma frase que
expresse este modelo. Ex: O grupo de pais deverá montar uma frase afirmativa
para dizer ao grupo de mães. E falar alto, em coro, no meio da sala.
6-Elaboração do conteúdo-Trabalho feito com o próprio grupo diante do que eles
vivenciaram.
7- Comentários- Chuva de palavras: (cada integrante do grupo deverá dizer com
uma única palavra o que sentiu participando do trabalho).
Sociodrama IV
Tema: Com os nossos filhos. Qual o limite dos limites?
Objetivos: Trabalhar os limites dos próprios pais e fazer uma reflexão dos
modelos que eles tiveram e estão de certa forma repetindo, sem fazer uma
atualização desses modelos.
1-Introdução
- Fazer um levantamento do grupo
- Idade
- Estado civil
- Filhos crianças ou adolescentes
- Evidenciar os aspectos que levam uma criança não ter limites.
- Dar ênfase aos limites dos pais interferindo na educação dos filhos.
2-Aquecimento inespecífico
2.1- O Diretor faz uma breve apresentação da música que os elementos do grupo
irão ouvir em seguida e o quanto esta música é importante para que o grupo
comece a discussão ou o trabalho relacionado aos limites das crianças.
2.2- O grupo deverá ouvir a música “Errar é humano”.(Toquinho)
Declaração Universal dos Direitos da Criança
A criança tem direito de ser compreendida, deve ter oportunidade de se
desenvolver em condições de igualdade de oportunidades, com liberdade e
dignidade”.
Música : Errar é humano (Toquinho)
Não, não é vergonha não,
você não ser o melhor da Escola
campeão de skate, o bom de bola,
ou de natação.
Não, não é vergonha não,
aprender andar de bicicleta
se escorando em outra mão.
Não, não é vergonha não.
Você não saber a tabuada,
negar uma onda,
contar piada, rodar peão.
Não, não é vergonha não,
precisar de alguém que ajude
a fazer sua lição.
A vida irá, você vai ver aos poucos
te ensinando, decerto você vai
saber, errando, errando, errando.
Não, não é vergonha não,
Ser da turma toda o mais gordinho,
Ter pernas tortas,
ser bem baixinho ou grandalhão.
Não, não é vergonha não,
todo ser tem algum defeito,
Não existe a perfeição.
A vida irá, você vai ver aos poucos,
te ensinando, decerto você vai saber,
errando, errando, errando.
Não, não é vergonha não,
Aprender andar de bicicleta
se escorando em outra mão.
Não, não é vergonha não,
Precisar de alguém que ajude
a fazer sua lição,
Não, não é vergonha não.
Todo ser tem algum defeito.
Não existe a perfeição. (Bis)
2.3- Fazer comentários sobre a música. Que impactos esta música causou?
O que está música lembra a eles?
2.4 -Máquina do tempo – É uma técnica onde o Diretor do Sociodrama trabalha o
grupo estimulando com que os elementos do grupo façam uma viagem interior.O
grupo deverá fazer uma viagem no tempo e procurar sentir-se com mais ou menos
3, 4 anos. Imaginar como estariam vivendo, naquele momento, seus pais, seus
irmãos. Tentar sentir as coisas pelas quais passaram naquela ocasião.
- O que os seus pais ensinavam?
- O que seus pais faziam, quando você não obedecia?
- O que seus pais diziam, quando você fazia uma coisa errada?
- Qual era a posição de seu pai e da sua mãe, quando você errava?
- O que eles faziam para te agradar? Compravam brinquedos caros para você?
- Levavam você para passear sempre?
- Que limites vocês acham que seus pais colocavam para você ?
- Você lembra de eles terem conversado bastante, para que você mudasse um
comportamento?
- Você lembra de ter apanhado alguma vez?
- Que sentimentos você sentia a cada vez que apanhava?
- Que limites você aprendeu com eles?
- Devem avançar no tempo, e tentem ir caminhando com o seu desenvolvimento.
- Pensar que limites vocês desenvolveram durante a sua vida.
- Imaginar agora o momento em que decidiram ter filhos.
- Imaginar que característica vocês queriam que este filho (a) tivesse.
- Pensar em quais características de personalidade você colocaria neste filho (a),
a qual atendesse às suas expectativas enquanto pais.
Que características eles pensam em desenvolver, enquanto pais, para educar
seus filhos.
2.5- Colocar as características no flip chart para ajudar o grupo a repensar os tipos
de educação que tiveram.
2.6- Reflexão do grupo:
Os participantes deverão ler as características e pensar em quais delas os filhos
têm, com base no que foi colocado por escrito no flip chart.Deverão ler o que foi
escrito e pensar em que características eles desenvolveram enquanto pais.
3- Aquecimento específico
3.1- Formação de três grupos.
Grupo A – pais repressores Filhos A – filhos reprimidos (in inseguros)
Grupo B – pais permissivos Filhos B – filhos birrentos
Grupo C – pais democráticos Filhos C – filhos participativos e seguros
3.2- Primeiramente, dar a folha com os tipos de pais.
3.3- Fazer o grupo avaliar que tipo de filho cada tipo de pai gera.
3.4- Procurar identificar características desses três tipos de pais.
4. Dramatização
Os grupos terão que dramatizar o conteúdo que elaboraram.
5. Comentários: Chuvas de palavras: (cada integrante do grupo deverá dizer
com uma única palavra o que sentiu participando do trabalho).
Sociodrama V
Tema: Colocar limites. Até que ponto isto é possível?
Objetivo:Trabalhar os pais no sentido de avaliarem os seus limites diante da vida,
para que tenham facilidade em colocar limites junto a seus filhos.
1-Introdução
-Fazer um levantamento do grupo
-Idade
-Estado civil
-Filhos crianças ou adolescentes
- Evidenciar os aspectos que levam uma criança não ter limites.
- Dar ênfase aos limites dos pais interferindo na educação dos filhos.
-Falar sobre a questão limites, falar dos limites dos pais, dos filhos, dos limites que
a vida impõe para nós.
-Falar do Sociodrama como técnica de orientação de pais.
2-Aquecimento inespecífico
O Diretor pergunta ao grupo que profissional poderia ajudar uma criança a
entender algumas coisas em relação aos pais.
O Diretor deverá exemplificar a dinâmica do Sociodrama fazendo o papel de uma
criança de 07 anos interagindo com a platéia que deverá representar o papel do
profissional que o grupo escolher.
Em seguida passar o filme “A Bela Adormecida editado junto ao texto Sobre rocas
e fusos, do livro “Doces Venenos” da Drª Lídia Aratangi ( 2001).
3-Aquecimento específico
Formar subgrupos para fazerem um comentário de como se sentiram nos papéis
que foram desempenhados no filme.
- Grupo de pais
-Grupo de filhos (Bela Adormecida)
-Grupo de bruxas
-Grupo de fadas madrinha
4-Dramatização
Os grupos são instruídos a montar um novo desfecho para a história e fazer uma
dramatização deste novo final.
5-Fechamento teórico
Avaliação do Sociodrama junto com o grupo.
Sociodrama VI
Tema – Como educar os filhos sem perder a identidade do casal?
Objetivo: Trabalhar a manutenção da identidade conjugal, ampliando a visão dos
pais, no sentido de mostrar-lhes que é possível educar os filhos sem perder essa
identidade.Neste Sociodrama deverão ser trabalhadas as frustrações, as
inseguranças, os medos, as culpas e de que forma seria ideal o casal ser
preservado, após a chegada dos filhos.
1-Introdução
-Fazer um levantamento do grupo:
- Idade
-Estado civil
-Se têm filhos (crianças ou adolescentes)
-Grau de informação do grupo sobre o assunto
-Quantas mães, neste grupo, trabalham fora?
-Levantar algumas expectativas do grupo em relação ao tema.
2-Aquecimento inespecífico
Cada pessoa do grande grupo deverá ler alguns depoimentos e tentar identificar-
se com alguns deles. No momento seguinte, vai se apresentar, falando o nome e
dizendo um sentimento que a invadiu, depois de ter lido os depoimentos e diante
da expectativa desta palestra.
3-Aquecimento específico
Túnel do tempo : Este trabalho tem como objetivo fazer com que os elementos do
grupo façam uma linha de projeção de situações que vivenciaram em suas vidas
tentando traçar uma linha do tempo.
-Vocês vão voltar no tempo. Agora, fechem os olhos e façam de conta que vocês
voltaram a... 1 ano atrás... 2 anos atrás... 3 anos atrás...
- Continuem voltando para trás e parem exatamente no momento em que vocês
se conheceram.
-Identifiquem a cena. Imaginem como aconteceu.
-Formem uma frase que vocês disseram um ao outro na hora em que se
conheceram.
- Continuem de olhos fechados e, agora, vão para a frente, com o tempo.
-Parem no momento em que vocês se decidiram casar.
-Identifiquem a cena. Imagine como aconteceu.
-Formem uma frase que simbolize este momento.
- Agora imagine qual foi a reação de seus pais em relação ao casamento.
-Identifiquem a cena.
-Formem uma frase que simbolize esta reação.
- Continuem imaginando que vocês estão casados, sem filhos.
-Parem. Tentem idealizar como está sendo esta fase de suas vidas.
-Formem uma frase que simbolize quais os elementos na vida do casal conjugal.
-Responsabilidades: lazer – cumplicidade – sexo – projetos de vida em comum,
etc.
- Imaginem agora o momento em que vocês ficaram grávidas.
-Identifiquem a cena.
-Formem uma frase que expresse o sentimento de cada uma de vocês.
- Imaginem agora o que é ser pai.
-O que é ser mãe.
-Parem. Formem uma frase que expresse esse sentimento.
4-Dramatização
4.1 -Dividir o grande grupo em 4 grupos.Dar uma tira de cartolina para que eles
escrevam 2 descrições básicas do que é ser um casal.
4.2 -Dividir o grupo em 2 grupos.
4.3- O que é ser um casal conjugal?
4.4 - O que é ser um casal de pais?
5-Fechamento da dramatização
5.1 -Cada grupo vai fazer uma imagem plástica ( Esta imagem deve parecer uma
estátua, não pode ter movimento e mostrar o que o grupo pensa acerca de
cada uma das propostas acima ).
5.2 - Apresentar a imagem.
5.3- Num segundo momento, juntar as duas imagens, para formar o casal conjugal
e o casal de pais juntos.
6-Comentários- Chuva de palavras (cada integrante do grupo deverá dizer com
uma única palavra o que sentiu participando do trabalho).
Sociodrama VII
Tema: Perdas na infância. O papel dos pais junto à criança.
Objetivo: Trabalhar os pais no sentido de desenvolver a percepção de que seus
filhos precisam passar por diversas situações na vida e aprender a elaborá-las de
forma
1-Introdução
-Fazer um levantamento do grupo:
- Idade
- Estado civil
- Se têm filhos (crianças ou adolescentes)
-Grau de informação do grupo sobre o assunto
-Levantar algumas expectativas do grupo em relação ao tema.
2-Aquecimento inespecífico
2.1- O grupo deverá definir – minhas perdas.
O que é a perda, para mim?
2.2- Palavras para definir perdas, para mim.
-Chuvas de palavras.
2.3 - Palavras para definir perdas, na nossa cultura.
-Chuvas de palavras.
2.4- Fotos de símbolos da cultura
morte (máscara da morte)
caixão
capa preta
cruz
velório
desemprego
perdas (objetos, animais de estimação, amigos)
3-Aquecimento específico
O Diretor explica que o grupo participará de uma exposição de quadros, onde eles
terão que se identificar, escrever nos quadros aquilko o que estão sentindo.
3.1 - 1º Passeio – Vou apresentar para vocês alguns símbolos.
O grupo vai fazer um passeio nos desenhos. Tentar identificar em cada um do
grupo um sentimento que estas figuras despertam.
Obs: As pessoas devem rodar e observar todas as figuras.
2º Passeio- Passar pela segunda vez e escrever uma palavra em cada símbolo.
3º Passeio- Pensar no que aquilo despertou em cada um.
4º Passeio- Aproximar-se do símbolo que mais tocou a pessoa que passou por
ele.
3.2- Sociometria da escolha: Cada grupo deverá ter um desenho escolhido que
mostre uma situação forte de insegurança, e esta escolha deverá ser feita com a
participação de todos os elementos do grupo.
3.3- Formação de 3 subgrupos, (símbolos e palavras).Cada grupo deverá se
colocar em cima do que foi escolhido.
4-Dramatização
Agora os elementos do grupo vocês vão ser autores, atores, diretores de teatro
infanto-juvenil.
Deverão construir, dirigir, representar uma história infantil, e trabalharão a situação
escolhida e uma saída para orientar as crianças que estão dentro delas.
Obs: Os 3 grupos montarão uma história infantil.
O 1º grupo dramatiza e os outros grupos viram crianças e adolescentes, e assim
pordiante.
Fechamento da dramatização: EU / EGO jornalistas
Verificar o que ficou, para eles, do festival de cinema.
O que aprenderam?
5- Comentários.
Sociodrama VIII
Tema: Televisão, Videogame, computador
Até que ponto o virtual pode causar problemas para a criança?
Objetivo: Trabalhar os pais no sentido de identificar que limites precisam colocar
para o filho, em relação ao virtual.
1-Introdução
-Fazer um levantamento do grupo:
-Idade
-Estado civil
-Se têm filhos (crianças ou adolescentes)
-Grau de informação do grupo sobre o assunto
-Levantar algumas expectativas do grupo em relação ao tema.
2-Aquecimento inespecífico – levantar definições com os grupos.
O que é real?
O que é virtual?
Para crianças de 0 a 3 anos.
O que é real?
O que é virtual?
Para crianças de 4 a 7 anos.
O que é real
O que é virtual?
Para crianças de 8 a 11 anos.
O que é real
O que é virtual?
Para crianças/adolescentes de 12 a 15 anos.
O que é real?
O que é virtual?
Chuvas de palavras: (cada integrante do grupo deverá dizer com uma única
palavra o que sentiu participando do trabalho).
3-Aquecimento específico
Dividir o grande grupo em dois grupos: grupo infantil e grupo juvenil.
3.1-Grupo infantil - mundo real infantil
mundo virtual infantil
3.2-Grupo juvenil - mundo real juvenil
mundo virtual juvenil
Tarefa para os grupos:Os pais deverão entrar nos papéis das
crianças/adolescentes.
Fazer levantamento das cinco maiores crenças de cada grupo.
Escolher 10 itens infantis e 10 itens juvenis.
4-Dramatização
4.1- Pedir para o mundo virtual infantil apresentar-se.
-Fazer uma imagem plástica
-Chuva de palavras com a platéia.
4.2 -Pedir para o mundo real infantil apresentar-se.
-Fazer uma imagem plástica
-Chuva de palavras com a platéia.
4.3 -Pedir para o mundo virtual juvenil apresentar-se.
-Fazer uma imagem plástica.
-Chuva de palavras com a platéia.
4.4 -Pedir para o mundo real juvenil apresentar-se.
-Fazer uma imagem plástica.
-Chuva de palavras com a platéia.
4.5- Formar um subgrupo real infantil e juvenil.
-Fazer uma imagem plástica do mundo real infantil e juvenil.
-Formular frase que expresse a identidade deste grupo.
-4.6- Formar um subgrupo virtual infantil e juvenil.
-Fazer uma imagem plástica do mundo virtual infantil e juvenil.
-Formular frase que expresse a identidade deste grupo.
4.7- Juntar as duas imagens.
-Processamento teórico da dramatização.
-Embasar o processo de Matriz de identidade, de Moreno.
-Caracterizar os riscos de uma criança tomar contato com algo virtual: se ela
fantasia muito, se imagina muito.
-Enfatizar que a banalização do mundo virtual pode influenciar o mundo real.
-Mostrar para os grupos o aspecto positivo do imaginário na construção da
identidade.
5- Comentários
Apresentar um questionamento para os pais.
-Quanto de nós não estamos atentos a influências negativas do virtual no real?
-Em alguns momentos as perguntas são mais importantes que as respostas.
-As verdades que conduzem as atitudes do ser humano são as verdades
subjetivas.
Chuvas de palavras. (cada integrante do grupo deverá dizer com uma única
palavra o que sentiu participando do trabalho).
ANEXOS II
Relatos dos Sociodramas Construtivistas para Orientação de Pais na Clínica
Pediátrica
Sociodrama I
Local: Clínica Pediátrica - São Paulo- SP
Tema: Sexualidade infantil. O despertar da curiosidade. Qual é a melhor
orientação?
Data: 28.03.2004
População: 23 pessoas: 20 pais de classe média/alta, nível superior, filhos de
0 à 15 anos, uma psicóloga e duas assistentes sociais.
1)Introdução
Ana Lúcia – Boa noite. Para os que não me conhecem, eu sou Ana Lúcia
Castello, psicóloga, psicodramatista,( Foto-Anexo 1) e desenvolvo um trabalho
educativo, aqui na Cínica, que tem o objetivo de alertar e orientar os pais dentro
de alguns aspectos peculiares da educação, para que eles não se sintam
desprotegidos diante dos eventuais problemas que possam surgir no dia-a-dia do
desenvolvimento da criança. O tema do nosso trabalho de hoje está relacionado à
sexualidade. Sexualidade, desde sempre, foi um assunto coberto por tabus, e
pasmem, até hoje isto continua. Quem de nós, na infância ou na adolescência,
não se encontrou numa situação delicada, com vergonha para falar alguma coisa?
A geração anterior à nossa foi muito massacrada pela repressão sexual, pela
culpa, enfim, vamos conversar sobre este assunto para limparmos um pouco esta
idéia dos tabus que rodeiam a sexualidade. E quando falamos de nossos pais, o
que eles nos transmitiram, ficamos muito apreensivos, porque diante dos tabus e
da formação sexual que eles tiveram, é natural que eles também tenham tido
dificuldades em passar o assunto sexualidade de maneira natural para nós.
Ana Lúcia- Mas antes de nós começarmos, gostaria de pedir a autorização de
vocês para filmar e fotografar este trabalho. É um trabalho que estou
desenvolvendo para a minha tese de Mestrado e a filmagem e fotografia serão
utilizadas para fins científicos. Tudo bem para vocês?
Platéia- Todos aceitaram a filmagem e fotografia.
Ana Lúcia- No final do trabalho vamos entregar um papel onde vocês deverão
assinar esta autorização, ok?
Platéia- Tudo bem.
Ana Lúcia- Vocês lembram de alguma dificuldade que seus pais tenham tido para
conversar sobre sexo com vocês?
Platéia – Sim, acho que sim. Ou melhor, meus pais nunca falaram de sexo
comigo, eu não falo com meus filhos também. Às vezes pensava que eles não
sabiam como conversar.
Platéia – Eu também. Lembro que uma vez quando tinha 14 anos pensei que
meus pais até não transavam de tanta vergonha e pudor que eles tinham para
falar de sexo. Nossa, eu não quero isto na educação de meus filhos.
Platéia – Eu acho que era tudo muito proibido. Minha mãe contava que minha
avó dizia que era proibido falar de sexo na frente dos meninos porque senão eles
achavam que a garota era vagabunda.
Ana Lúcia- Vocês estão vendo quantos exemplos a gente pode está colocando
para falar do que nós aprendemos em nossas famílias de origem. Para falarmos
de sexualidade infantil e na adolescência, não podemos deixar de pensar nos
meios de comunicações, principalmente a TV, nos amigos da Escola, enfim, todo
o tipo de estímulo visual que as crianças têm hoje. Eu sou psicóloga,
psicodramatista, terapeuta de casais e de famílias. Tenho quarenta e três anos,
sou casada, tenho 02 filhas, e sou a profissional responsável por este trabalho.
Este trabalho é feito com egos auxiliares, que são pessoas que, no momento
adequado, poderão entrar para ajudar no trabalho. A proposta do psicodrama,
basicamente do Sociodrama, é trabalhar os grupos com os recursos do próprio
grupo. No Sociodrama Construtivista nós podemos representar papéis, ou seja, eu
sou Ana Lúcia, psicóloga... numa dramatização durante o trabalho eu poderei me
transformar num menino de 6 anos que está muito curioso e que pergunta aos
pais coisas relativas ao sexo. Vocês entenderam?
Platéia – Sim, acho que sim.
Platéia – Mais ou menos.
Platéia – Sim, é como se você fosse uma atriz.
Ana Lúcia – Mais ou menos isto, mas vamos iniciar o trabalho. Vocês podem
começar a conhecer a dinâmica dele à medida que as coisas forem acontecendo.
Bom, gostaria de saber agora: o que mobilizou realmente vocês a virem aqui hoje?
Platéia – Sabe, Ana Lúcia, eu fico com muita vergonha se meu filho me pergunta
alguma coisa sobre sexualidade. Eu não sei o que é normal responder ou não,
não sei até que ponto as crianças devem saber das coisas. Estou muito confusa.
Meu marido ajuda pouco, tem mais dificuldade do que eu de falar sobre sexo.
Acho que meu filho pergunta muito.
Ana Lúcia – Que idade tem seu filho?
Platéia – Seis anos.
Ana Lúcia- Vocês estão vendo como os tempos mudaram, com seis anos muitos
de vocês gostavam de jogar bola, brincar de bonecas, sem se preocupar com as
questões de sexo. Hoje, as crianças estão mais curiosas
Ana Lúcia – Gostaria de conhecer um pouco a realidade de vocês. Quem daqui
tem filhos de 0 a 7 anos?
Platéia-12 pais levantaram as mãos.
Ana Lúcia – De 08 a 15 anos?
Platéia- 8 pais levantaram as mãos.
Ana Lúcia – Então agora eu tenho um sinal de que esta platéia é bem
heterogênea e que tenho pais de crianças pequenas e de adolescentes.
Ana Lúcia – Antes de começarmos o trabalho propriamente dito, gostaria de pedir
a autorização de vocês para filmar este evento. A filmagem tem fins puramente
didáticos e vai nos auxiliar no trabalho de pesquisa direcionado a orientação de
pais para estudos posteriores que faremos. Alguém tem alguma coisa contra?
Podemos filmar e fotografar o evento?
Ninguém se manifestou, e todos aceitaram a filmagem do evento.
2)Aquecimento inespecífico:
Ana Lúcia – Para iniciarmos este trabalho, gostaria que vocês repensassem
alguns conceitos que se aplicam diretamente ao que falaremos posteriormente.
Para que vocês se aqueçam um pouco, vou distribuir uma folha de papel com
lápis para cada um e vou pedir que vocês façam o seguinte desenho:
- uma figura que tenha duas cabeças;
- três olhos;
- um nariz;
- uma boca;
- três orelhas;
- três braços;
- corpo magro;
- duas pernas;
- três pés;
- pêlos no corpo.
Platéia – Mas isto é um monstro!
Ana Lúcia – Vocês deverão fazer o desenho e esperar até o segundo comando.
Ana Lúcia – Não se preocupem em descobrir qual a figura ou não, o que é
importante mesmo é vocês fazerem o desenho.
Ana Lúcia – Já terminaram?
Platéia – Sim, já terminamos.
Ana Lúcia – Agora vocês deverão trocar as figuras de forma que todos da sala
possam ver todos os desenhos. Procurem observar os aspectos que chamam
mais atenção de vocês. Observem que todos os desenhos são diferentes.
Platéia – Gente, que coisa engraçada, todos nós tivemos as mesmas informações
e os desenhos foram completamente diferentes! Cada desenho feio.
Ana Lúcia – O que é que vocês acharam dos desenhos?
Platéia – É isso que ela falou, os desenhos são todos diferentes.
Platéia – O que eu percebi é que todos saíram uns monstrinhos, mas realmente
diferentes.
Platéia – Que engraçado, mas é tudo diferente.
Platéia – Cada um fez o seu desenho?
Ana Lúcia – É mais ou menos isto, todos tiveram as mesmas informações acerca
do desenho, mas cada um elaborou o seu desenho de forma diferente. Cada um
criou o seu desenho diferente, e a observação de cada um foi espontânea. É que
cada um expressou o que ouviu, com todo o conteúdo que tem dentro de si. Isto é
criatividade. Ou seja, a criatividade de cada um é que foi levada em consideração.
Em relação à sexualidade, funciona mais ou menos assim. O ser humano
desenvolve sua sexualidade de forma individual, da mesma forma que a sua
criatividade. Gostaríamos de começar este trabalho enfatizando isto. A
criatividade, que é o poder de criar algo, é uma capacidade inerente do ser
humano, e que difere de pessoa para pessoa. A sexualidade que cada ser
humano pode expressar de forma diferente é única para cada um e também difere
de pessoa para pessoa.
Ana Lúcia– Existe uma teoria de personalidade que foi elaborada por Sigmund
Freud, fundador da Psicanálise, que com certeza todos já ouviram falar, onde ele
embasou esta teoria no fato de que no ser humano há uma mola propulsora
básica, que é a energia sexual, a libido. Para Freud, a libido é uma energia afetiva
voltada para a obtenção do prazer, e que está presente no ser humano do
nascimento até a morte. É importante destacar alguns pontos inerentes à
sexualidade para que vocês se situem antes de nós começarmos. Na teoria
psicanalítica, da qual o Freud foi o precursor, a fase psicossexual atua na
personalidade de modo específico.Caracteriza-se pela predominância de uma
sensibilidade por uma zona erógena. As zonas erógenas caracterizam-se pelas
fases do desenvolvimento: oral, anal, fálico, latência e genital. As primeiras fases
referem-se ao desenvolvimento infantil, e a última, ao desenvolvimento do
adolescente e do adulto. Depois de fazer esta pequena explanação, vocês podem
começar a entender a dinâmica da sexualidade.
3)Aquecimento específico
Ana Lúcia – Vocês agora vão fazer um trabalho onde deverão parar para pensar
um pouco na vida sexual de vocês. Vocês vão fazer uma viagem à “máquina do
tempo”, e fazer um relaxamento gostoso, para trazer toda uma lembrança de vida
de volta.
Platéia – Tipo “viagem ao túnel do tempo?” (Foto-Anexo 2)
Ana Lúcia – É mais ou menos isto.
Ana Lúcia – Vocês vão fazer este relaxamento com música. Fechem os olhos,
relaxem todo o corpo, tentando relaxar de baixo para cima, ou seja, dos pés para
a cabeça. Tentem relaxar bem devagar, bem devagarinho. Procurem perceber que
parte do corpo está mais tensa e comecem a tentar relaxar esta parte do corpo.
Nesta primeira parte vocês vão ter que responder, mesmo de olhos fechados, os
sentimentos ou as dificuldades que vocês tiveram naquele momento. Faz de conta
que vocês estão num túnel do tempo. Procurem sentir que vocês têm cinco anos a
menos, cinco anos a menos. Tentem sentir as coisas que aconteceram com
vocês, em torno de sexualidade. Falem, ainda de olhos fechados, com uma única
palavra. Que tipo de dificuldades vocês tiveram nesta época?
Platéia – Pra mim é muito difícil falar de sexualidade, eu acho que fui muito
reprimida.
Platéia – Eu pensei que não ia conseguir participar desta palestra, porque tenho
uma dificuldade muito grande de falar sobre sexo.
Platéia – Vergonha.
Platéia – Vontade de mudar.
Platéia – Desespero.
Platéia – Raiva dos meus pais.
Ana Lúcia – Continuem de olhos fechados. Imaginem agora que vocês têm 10
anos a menos. O que aconteceu com a sua sexualidade? Que dificuldades vocês
tiveram?
Platéia – Tentativa de ter uma sexualidade melhor.
Platéia – Terapia sexual.
Platéia – Sexo era muito bom.
Platéia – Vergonha, ainda.
Platéia – Eu nunca consegui me soltar.
Platéia – Não gosto de falar sobre sexo, me incomoda.
Ana Lúcia – Bom, imaginem agora que vocês têm 20 anos a menos.Viajem até a
sua infância ou até a sua adolescência. Devagar.... Pense... Pense... Pense:
quando você se deu conta da sua sexualidade? O que aconteceu quando você se
deu conta de que o sexo existia para você? Pare agora, nesse momento.
Ana Lúcia – (Continua o relaxamento, fazendo com que o grupo volte para o
ponto mais importante na infância ou adolescência.)
- Pense agora no que é o sexo para você.
- Você, que ainda se acha pequeno, indefeso.
- Faz de conta que você agora é uma criança.
- Quais são as suas dúvidas sobre sexo?
- Quais as suas curiosidades?
- Quais os seus medos?
- Onde vocês têm prazer?
- Vocês se masturbam? Como é isto?
- Vocês se bolinam? Culpam-se por isto?
- Sofreram algum tipo de abuso?
- O que os adultos das suas vidas falam que é permitido?
- Como seus pais falam com vocês sobre sexo?
- O que é proibido?
- Vocês fazem coisas escondidas? O quê?
- Têm sentimentos de culpa? Quais são?
4)Dramatização
Ana Lúcia – Agora vocês vão guardar um pouco as emoções que viveram neste
momento, e em seguida iremos compartilhar de tudo isto. Agora vocês vão
voltando a esta sala devagar, no seu ritmo, retornam à realidade, mas continuem
nos seus papéis de criança.
Ana Lúcia – Falem com uma palavra o que estão sentindo. Que emoções vocês
estão vivendo neste momento?
Platéia – Eu estou muito triste, porque fiquei menstruada e não sei o que fazer. Na
minha vida fui sempre assim, eu não consigo falar sobre isto com a minha mãe e
muito menos com o meu pai.
Platéia – Eu nunca ouvi meus pais falarem sobre isto.Sexo era coisa para gente
grande.
Platéia – Uma vez fui perguntar a minha mãe como é que eu nasci e ela me disse
que eu não perguntasse mais isto, porque era feio.
Platéia – Na minha casa tudo é proibido, a gente não pode falar de nada disto,
porque meu pai briga. Eu tenho medo de falar de algumas coisas com eles.
Platéia- Sabe, eu aprendi que criança não tem que falar em sexo.
Platéia – Tenho muitas dúvidas.
Platéia – Eu estou muito triste, porque para mim tudo é muito proibido. É horrível.
Platéia – Eu me masturbo, mas tenho muito medo de que isto seja uma coisa
errada.
PlatéiaEu vi meu pai se esfregando no bumbum da minha empregada e ele
disse que ela estava com dor nas costas e ele estava ajudando ela.
Platéia – Eu ouvi minha mãe gritando no quarto dela e, quando eu bati no quarto,
meu pai brigou comigo e disse que ela não estava gritando, que ela estava rindo
porque ele estava fazendo cócegas nela. Eu não acreditei no que ele disse.
Platéia – Meus primos adoram brincar de médico, e eu adoro também, mas se
meu pai e minha mãe souberem eles me matam.
Platéia – Muitas vezes o meu pinto fica duro e eu não sei por que, só sei que é
bom quando isto acontece.
Platéia – Na minha casa não se fala sobre isto. Um dia eu quis perguntar e meu
pai mandou eu calar a boca.
Ana Lúcia – Eu acho que todos vocês já tiveram algumas dificuldades em casa,
por não conseguir perguntar as coisas que vocês gostariam de saber aos seus
pais. Então, faz de conta que vocês ainda são criança e devem formar grupos de 3
para fazerem 3 perguntas que causem um certo impacto e que cada grupo tem
curiosidade de saber, Ok?
Platéia – Mas a gente vai fazer estas perguntas para os amigos do grupo?
Ana Lúcia – Não, primeiro vocês vão elaborar as perguntas.
Ana Lúcia – Os grupos já prepararam as perguntas?
Platéia – Já estamos terminando.
Platéia – Ok, nós já terminamos.
O ego-auxiliar veio ajudar o diretor, neste momento, fazendo um duplo junto aos
pequenos grupos, dizendo as respostas certas para cada pergunta.
Os grupos elaboraram as seguintes perguntas:
Grupo 1-
1-Porque o pinto fica duro, parece que tem um osso dentro?
2-Meu amigo da Escola quer transar comigo. O que é transar?
3-Como eu nasci?
Grupo 2
1-Porque a mamãe faz xixi sentada e eu em pé?
2-Porque o meu pipi é pequeno e o do papai é grande?
3-O que é isto embaixo do meu pinto?
Grupo 3
1-As meninas também têm um pinto que fica duro?
2-Posso mexer na sua xoxota, mãe?
3-Mamãe, você se machucou? Estava saindo sangue da sua xoxota, eu vi.
Grupo 4
1-Eu queria ver o papai e a mamãe tendo relações sexuais. Eu posso?
2-Meu amigo disse que se eu ficar muito perto dele, quando ele for fazer xixi, eu
posso ter um bebê, é verdade?
3-De onde vêm os bebês? É verdade que a cegonha traz?
Ana Lúcia – Agora, vamos imaginar que aqui nesta sala tem dois especialistas
em sexualidade infantil. Quem gostaria de fazer o papel destes especialistas?
Ninguém do grupo se manifestou.
Ana Lúcia – Eu preciso de dois especialistas em sexualidade infantil, mas acho
que eles não chegaram ainda. Alguém sabe onde eles possam estar?
Platéia – Olha aqui, um deles chegou (uma mulher).
Platéia – O outro acabou de entrar na sala (um homem).
Ana Lúcia – Que bom, agora poderemos responder suas perguntas sem o menor
problema.
Neste momento, os egos-auxiliares se preparam para auxiliar no trabalho.
Os grupos perguntam aos sexólogos:
Platéia – Porque meu pinto fica duro, até parece que tem um osso dentro?
Sexólogos – Olha, eu acho que não tem osso nenhum aí dentro. Eu acho que é a
circulação do seu sangue.
Ego.Auxiliar – Lógico, quando você brinca com o seu pênis, entra muito mais
sangue dentro dele, o que faz ele ficar duro, e isto dá uma sensação bem gostosa.
E quando a dureza passa, o seu pênis fica normal.
Ana Lúcia – É muito importante usar termos científicos, para que a criança se
acostume.
P – Por que a mamãe faz xixi sentada e eu faço xixi em pé?
S – Você pode até experimentar, mas acho que você vai sujar a privada toda.
E. A – É lógico que vai sujar a privada e você sabe por que, não? Se os meninos
fossem fazer xixi sentados, eles teriam que segurar o pênis para baixo, para não
molhar o chão. Então é mais fácil para o menino fazer xixi de pé e a menina fazer
xixi sentada.
P – As meninas também tem um pinto que fica duro?
S – Olha, falar a verdade, não. Só quem tem pênis é o homem.
E. A – É, só o homem tem pênis, mas a menina tem um clitóris, que é uma
pontinha, parecida com um grãozinho de arroz perto da vagina e do lugar que faz
xixi. Quando este lugar também é esfregado, também fica durinho e dá uma
sensação gostosa. A mamãe também tem.
P – Eu queria ver o papai e a mamãe tendo relações sexuais, eu posso?
S – Olha, eu acho que você não deve, porque isto é uma coisa do papai e da
mamãe.
E. A – Sabe, isto é uma verdade, esta é uma atividade só do papai e da mamãe.
Quando você crescer, você também terá uma pessoa com quem você vai gostar
muito de fazer amor, e é lógico que o papai e a mamãe não vão ficar xeretando.
Ana Lúcia – É muito importante passar esta noção de momento privativo para os
filhos, e fazê-los entender a identidade do casal conjugal.
P – Meu amigo da Escola disse que quer transar comigo. O que é transar?
S – A relação sexual é a mesma coisa de fazer amor. Eu queria muito que a minha
amiga (disse, apontando para o ego-auxiliar) me ajudasse a responder esta
pergunta.
E. A – Realmente, a relação sexual é fazer amor. O papai e a mamãe fizeram
você tendo uma relação sexual, fazendo amor. O papai e a mamãe ficam sem
roupa e fazem muito carinho um no outro. Isto é uma coisa muito gostosa. Isto é
uma coisa boa. Depois, quando os dois sentirem vontade, o papai coloca o pênis
na vagina da mamãe, e isto também é uma coisa muito gostosa. Agora,
respondendo a sua pergunta, você não deve transar com o seu amigo agora,
primeiro porque você é muito pequena, e depois, porque as pessoas devem
transar quando se gostam muito.
Ana Lúcia – É importante dar esta noção de amadurecimento para a criança, e
também que é gostoso se fazer sexo quando se tem amor.
P – Por que o meu pipi é pequeno e o do papai é grande demais?
S – Porque você é pequenino e o papai já é um adulto.
E. A – O pênis, como tudo em seu corpo, vai desenvolver. Quando você perceber,
você já não é mais um menino pequeno, vai virar um mocinho grande, e o pênis
também vai crescendo conforme o seu desenvolvimento. Quando o papai era
pequeno também tinha um pênis pequeno, da mesma forma que o seu hoje.
P – Posso mexer na sua xoxota, mamãe?
S – Não, filho, porque ... (Ah ! Jesus, não sei por quê...)
E.A – É lógico que sabemos por que. Se você quiser ver a vagina da mamãe, ela
mostra, mas você não deve ficar mexendo, porque isto é uma coisa de cada um.
No seu pênis só você deve mexer, para limpá-lo quando toma banho. Quando
tiver algum problema, mostre para o papai e para a mamãe. Se precisar, a mamãe
e o papai podem tocá-lo para ver se é alguma coisa grave. E aí sim, nós vamos
levá-lo no medico. Olha, o medico também pode mexer no seu pênis, para
examinar se tem alguma coisinha doente nele. É importante você não deixar os
amiguinhos mexerem no seu pênis. Se algum deles quiser brincar de ficar nu e um
tocar no outro, é pode falar para o papai e a mamãe. Nós não vamos brigar com
você, mas vamos ajudá-lo, pode confiar.
Ana Lúcia – É muito importante que os pais fiquem atentos para a questão de
abuso sexual. Orientar é a melhor saída. Mostrar ao filho que é importante o
cuidado com o corpo, de evitar se expor em momentos desnecessários.
P – Meu amigo disse que, se eu ficar muito perto dele, quando ele for fazer xixi, eu
posso ter um bebê, é verdade?
S – Não, não é verdade. A gente só tem bebê quando a gente transa.
E. A – Eu acho que seu amigo está confundindo tudo. As crianças ainda não
podem fazer bebês, porque o seu corpo ainda não está maduro para isto. E uma
outra coisa é que o bebê não é feito com xixi. O bebê é feito através do
espermatozóide do papai e o óvulo da mamãe. O menino só tem espermatozóides
mais ou menos lá pelos 13 ou 14 anos, e a menina, só depois que vier a
menstruação. Mesmo assim, é importante você saber que a gente só deve ter
filhos quando a gente trabalha, ganha dinheiro, e a gente pode cuidar desta
criança.
Ana Lúcia – Neste momento é uma boa hora de explicar o que é o
espermatozóide e o óvulo. Você pode dizer que o espermatozóide é a semetinha
que o homem pode contribuir para a formação do bebê. Que dentro do saquinho
do homem têm um líquido que chama sêmen, que carrega milhões de
espermatozóides e que, quando o homem transa, este líquido sai e pode
engravidar uma mulher, quando ela está fértil. Que a mulher está fértil quando os
óvulos que são pequenos pedacinhos que ficam dentro da mulher, nos dois
ovários, ficam maduros. Isto acontece todo mês. Se a mulher engravida
normalmente, não vai ter mais menstruação até o bebê nascer, mas se ela não
engravidar, ela continua tendo menstruação normalmente. Se vocês tiverem
algum manual, ou até mesmo livro sobre o assunto, é importante mostrar.
P – Como eu nasci?
S – Mais ou menos como explicamos antes.
E. A – O que nós falamos antes tem a ver como você se formou, mas na realidade
você nasceu pela vagina da mamãe, que é um buraquinho que ela tem no meio de
suas pernas. Ou você pode ter saído pela barriga da mamãe, o médico fez um
pequeno corte e retirou você da barriga da mamãe.
P – O que é isto, embaixo do meu pinto?
S – Isto é o seu saco.
Platéia- (Risos)
E. A – Podemos te dizer que este saquinho que está abaixo do seu pênis se
chama escroto, e dentro dele, se você pegar, vai sentir que tem duas bolinhas que
se chamam testículos. Quando o garoto fica maior, estes testículos vão fabricar os
espermatozóides.
P – Mamãe, você se machucou? Estava saindo sangue da sua xoxota, eu vi.
S – Não filho, todo mês a mamãe fica menstruada durante três ou quatro dias.
Este sangue começa a aparecer mais ou menos entre os treze e quatorze anos.
Ana Lúcia – Dependendo da idade da criança, você deve explicar todo o
processo da menstruação ou não. Este tipo de explicação, bem condensada, nós
falamos para crianças de quatro a seis anos.Você explica de acordo com as
perguntas e o interesse da criança.
P – Por onde vêm os bebês? É verdade que a cegonha traz?
S – O bebê é feito pelos pais. Quando os pais têm uma relação sexual e o pênis
entra na vagina da mãe, eles fazem amor. Do pênis sai o sêmen, que contém o
espermatozóide do papai, e ele encontra o óvulo que está dentro da mamãe. O
bebê começa assim, ele passa 9 meses para ficar totalmente maduro e nasce.
E. A – Quando alguns dizem que os filhos são trazidos pelas cegonhas isto faz
permanecer a fantasia que era usada há muitos anos e continua até hoje.
Ana Lúcia – Muito bom. Vocês têm mais alguma dúvida em relação às questões
que foram colocadas aqui?
Platéia – Acho que foram bastante claras as respostas. Eu mesmo, assimilei tudo.
Platéia – Acredito que não, porque esta coisa de um completar a resposta do
outro foi bem legal.
Platéia – Eu fiquei muito atenta com as perguntas, porque um dia minha filha me
perguntou como ela tinha nascido e eu gaguejei, gaguejei e não respondi. Disse a
ela que responderia depois.
Platéia – (Risos).
Ana Lúcia – Vocês estão rindo porque já aconteceram coisas similares com
vocês, não?
Platéia – (Risos novamente.) Como é que você sabe?
Ana Lúcia – Porque comigo já aconteceram coisas semelhantes, mas eu sempre
procuro não deixar minhas filhas sem respostas, nem que depois eu tenha que
voltar ao assunto e explicar um pouco melhor aquilo que elas perguntaram. Isto é
um item muito importante: não deixar as crianças sem respostas.
Ana Lúcia – Agora vocês vão voltar aos seus papéis de pais e nós vamos fazer
uma gincana entre vocês. Dividam-se em dois grupos. Eu vou entregar oito fichas
para cada grupo e vamos ver quem é que ganha.
Grupo 1
1 - O que é caralho?
2 - O que é um homossexual?
3 - Posso dormir na cama do papai e da mamãe?
4 - O que é masturbação?
5 - O que é ser um filho adotivo?
6 - Como a mulher sabe que ficou grávida?
7 - O que é ejacular?
8 - Meu pai não gosta que olhe revista de sexo. Eu posso olhar?
Grupo 2
1 - Uma mulher pode ter um bebê sem se casar?
2 - Masturbação faz mal? E se eu me masturbar muitas vezes no dia?
3 - O que é sexo anal?
4 - Eu quero dar um beijo de amor igual ao que você dá no papai. Posso?
5 - O que é gozar?
6 - O que é uma bicha?
7 - O que sexo oral?
8 - O que é “tomar no cu?”
Ana Lúcia – O jogo é o seguinte: Alguém de um dos grupos vai fazer a pergunta e
um dos componentes do outro grupo deverá responder em 30 segundos. Vocês
terão que responder como se estivessem respondendo para os seus filhos. Se a
resposta for satisfatória, a equipe ganha um ponto. Se não for satisfatória, a outra
equipe ganha ponto.
Ana Lúcia – Os egos-auxiliares farão o julgamento, Ok?
Ana Lúcia – Podem começar pela equipe 1.
E 1 – O que é caralho?
E2 responde – Meu Deus, caralho é pau, é pinto, é cacete.
Platéia – (Risos intensos.)
Ana Lúcia – A resposta está certa, mas, quando vocês forem explicar para os
filhos, expliquem que muitas vezes as pessoas usam este termo como palavrão, o
que incomoda muito as outras pessoas.
Ana Lúcia – 1 X 0 para a equipe 1.
E2 – Uma mulher pode ter um bebê sem se casar?
E1 – responde: Eu acho que sim, porque o bebê é feito quando uma mulher e um
homem fazem amor, não importa se eles são casados ou não.
Ana Lúcia – A resposta está certa, mas é importante concluir dizendo que
pessoas que não são casadas podem fazer amor e ter filhos e também fazer amor
e não ter filhos.
Ana Lúcia – O jogo está animado: 1X 1 .
E1 – O que é um homossexual?
E2 responde: Cada um fez o seu desenho?
Platéia – (Risos).
E2 responde – Homossexuais são pessoas que dão para pessoas do mesmo
sexo.
Platéia – (Risos intensos.)
Ana Lúcia – Comissão julgadora, o que é que vocês acham?
C J – Eu acho que não devemos validar esta resposta, porque não se deve
explicar ao filho desta forma. É importante falar da opção sexual das pessoas,
mas nunca falando num linguajar vulgar. É importante explicar aos filhos que
devem respeitar os outros e que eles não tem nada a ver com a sexualidade dos
outros.
Ana Lúcia – Pronto, então está anulado este ponto. Vamos continuar.O jogo está
2 X 1 para a equipe 1.
E2 – Masturbação faz mal? E se eu me masturbar várias vezes ao dia?
E1 responde – Masturbação não faz mal e você pode se masturbar quantas
vezes você quiser, mas é importante não deixar que a sua vida se torne uma
masturbação o dia inteiro. Faça suas coisas, mas quando quiser e tiver vontade de
se masturbar, pode fazer que não tem problema.
Ana Lúcia – Acho que a resposta foi muito boa, o que é que vocês acham,
comissão?
C J – Achamos que esta é uma boa forma de abordar este assunto, sem colocar
uma conotação do “proibido”.
Ana Lúcia – Olha, a equipe 1 despontando: o jogo está 3 X 1 para a equipe 1.
E1 – Posso dormir na cama do papai e da mamãe?
Platéia – (Risos).
Ana Lúcia – Será gente que vocês estão rindo porque os filhos de vocês dormem
em suas camas, é isto?
Platéia – Mais ou menos, de vez em quando sim.
Platéia – Este é o nosso grande problema, não conseguimos tirar o nosso filho do
meio da gente.
E2 responde – Eu acho que os filhos não devem dormir com os pais, e vou chutar
as razões para isto: acho que tem a ver com a privacidade do casal, com o
desenvolvimento da criança, mas... gostaria de ganhar o ponto, mas vou pedir que
vocês expliquem um pouco melhor isto.
Ana Lúcia – O ponto vale ou não, comissão?
CJ – Acho que vale, porque as razões centrais são estas duas.
Ana Lúcia – Então, 3X 2 para a equipe 1.
Ana Lúcia – São várias as razões pelas quais nós, profissionais, orientamos que
os filhos não durmam com os pais. A primeira delas é que o sono é um dos rituais
de vida que a criança precisa aprender a desenvolver sozinho e, mesmo quando
os pais deitam na cama do filho, muitas vezes dormindo antes que eles, estarão
invadindo este ritual da criança. A criança agrega os pais a seu sono, e isto não é
bom. Eu tenho um caso, no consultório, de uma garota de 16 anos que está me
dando um trabalho enorme para tirá-la do meio dos pais ao dormir, depois dela ter
dormido com eles uma vida toda. O segundo aspecto está centrado realmente na
privacidade do casal. Se o filho dorme junto, o casal não tem liberdade para uma
vida sexual tranqüila. Muitas vezes, no consultório, encontramos casais que
coloca os filhos entre eles para não se relacionarem sexualmente. Olhando do
ponto de vista sexual, o fato da criança dormir com os pais pode erotizá-la em
algum momento e de forma inadequada, e, a partir dos seis anos, com a
elaboração do Édipo, a criança pode não conter as suas fantasias. Por outro lado,
num contexto de sono um pai pode não conter uma ereção involuntária e agarrar a
filha durante a noite, sem perceber o que está acontecendo. Isto é muito sério. Eu
tive um caso como este no consultório, que a paciente era a garota de sete anos e
o pai à noite teve uma ereção involuntária e catou a garota pela cintura e, quando
ele se deu conta... ficou apavorado, e acordou a esposa muito assustado. Ele
chorava bastante, e não conseguia falar. Por fim a garota acordou, sem saber o
que estava acontecendo. E este pai só sossegou depois que eu atendi a criança
no dia seguinte e constatei que ela nem percebeu o ocorrido porque estava
dormindo. Este pai, em orientação familiar, havia sido orientado da necessidade
de levar sempre a criança para a cama dela à noite. Ele sempre me dizia que era
tão bom aquele contato com a filha à noite, juntinho deles, que seria uma tortura
se isto acabasse. Eu sempre argumentava de que o mais importante é que a
criança preserve o seu ritual de sono. Por fim, é também importante que os pais
durmam com a porta do quarto trancado, para não dar bandeira quando vão
transar, e, se o filho precisar, porque eventualmente está tendo terror noturno,
tentar ir ao quarto da criança para acalmá-la.
E2 – O que é sexo anal?
E1 responde – Jesus, como é que se coloca uma coisa dessas para uma
criança? Acho que eu responderia assim: sexo anal é quando um homem transa
com uma mulher e, ao invés de fazer a penetração pela vagina, faz a penetração
pelos ânus, que é o buraquinho de onde sai o cocô.
Ana Lúcia – Acho que a resposta pode ser aceita. Muitas vezes a criança não faz
a pergunta desta forma, quando é muito pequena, mas se fizer, procure ser
objetivo e tentar falar os nomes científicos do local que você quer explicar.
Ana Lúcia – Então, o placar está 4 X 2 para a equipe 1.
E1 – O que é masturbação?
E2 responde – Caralho, esta pergunta é de matar. Masturbação é uma
brincadeirinha que a gente faz com o próprio órgão genital, esfregando,
acariciando até dar uma sensação bem gostosa, que a gente chama de orgasmo.
Ana Lúcia – Perfeita a resposta, com exceção da introdução dela, que foi vulgar,
e não diga desta forma para a criança. O que eu acrescentaria é que a
masturbação também é uma forma que as pessoas têm de conhecer seu próprio
corpo, e poder ter sensações gostosas.
Ana Lúcia – O placar está 4 X 3 para a equipe 1.
E2 – Eu quero dar um beijo de amor igual ao que você dá no papai. Posso?
E1 responde – Não filho, beijo de amor é para dar na sua namorada. O papai dá
um beijo de amor na mamãe porque ela é namorada dele. Nas outras pessoas a
gente pode dar um beijo carinhoso no rosto.
Ana Lúcia – Excelente a resposta. Ponto para a equipe l. O placar está 5 X 3.
Ana Lúcia – Muitos pais me perguntam se podem dar beijo de selinho nos filhos
pequenos, e eu sempre respondo que isto é uma coisa meio cultural. Tem famílias
que fazem disto um hábito e acham isto super normal. A resposta mais coerente é
que não deveriam, em função deste próprio contexto de sensualidade que vem
embutido no beijo, e que, muitas vezes, a criança não consegue separá-lo à
medida que vai crescendo.
El – O que é ser um filho adotivo?
E2 responde – Um filho adotivo é aquele filho que não nasceu da barriga da mãe
que o cria. Ele foi escolhido por ela para criá-lo. Quem cria o bebê passa
realmente a serem os seus pais adotivos.O que muita gente fala hoje: pais do
coração.
Ana Lúcia – Perfeita a resposta. Acho que agora o placar diminui para 5 X 4.
E2 – O que é gozar?
E1 responde – É agora que a vaca vai pro brejo. Gozar é o momento máximo da
relação sexual, onde o homem e a mulher sentem mais prazer. É sentir tesão em
dobro.(e faz uma cara de prazer com gestos sensuais).
Platéia-(Risos).
Ana Lúcia – Válido o ponto, comissão?
C J – Achamos que sim.
Ana Lúcia – Então, o placar agora é de 6 X 4.
E1 – Quando a mulher sabe que ficou grávida?
E2 responde – Quando uma mulher percebe que não ficou menstruada naquele
mês, ela começa a achar que está grávida. Daí ela vai ao médico e ele pede
exames, para ter certeza. Se os exames derem positivos é porque ela está
grávida.
Ana Lúcia – Boa resposta. Ponto para a equipe 2. Placar: 6 X 5.
E2- O que é uma bicha?
E1 responde – A bicha é um nome vulgar que se dá ao homossexual. Enfim, a
bicha também é um homossexual que tem a preferência de transar com pessoas
do mesmo sexo que ele ou ela.
Ana Lúcia – Perfeito. É importante enfatizar para as crianças a respeito da
discriminação que muitas pessoas fazem aos homossexuais. Mais um ponto para
a equipe 1. Então, agora nós temos o placar: 7 X 5 para a equipe 1.
E1 – O que é ejacular?
E2 responde: Quando um homem tem orgasmo, ou seja, aquele ponto máximo
de prazer, sai um líquido do pênis dele que se chama esperma. Ejacular é o
momento em que este líquido sai.
Ana Lúcia – Gente, este pessoal está ficando bamba no assunto. Estou gostando
muito disto.
E2- O que é sexo oral?
E1 responde – Sexo oral, ah!, meu Deus, esta pergunta é terrível de explicar.
Sexo oral é quando o homem e a mulher decidem fazer sexo usando a boca.
Ana Lúcia – Esta resposta está certa, comissão?
C J – Acho que sim, poderia ser complementada com coisas do tipo que o sexo
oral ocorre quando o homem faz carinho na vagina da mulher com a língua ou até
quando a mulher chupa o pênis do homem.
Platéia – Meus Deus, Ana Lúcia, dizer isto para uma criança?
Ana Lúcia – Nós precisamos pensar: Onde está o preconceito, na criança ou em
nós? É lógico que uma criança de quatro anos dificilmente faz uma pergunta como
esta, mas as maiores com certeza farão, e quanto mais natural você for durante a
explicação mais natural vai ser a reação da criança. Eu já ouvi crianças falarem:
Que nojo! Isto deve ser muito ruim! Sei lá, acho que nunca vou ter coragem de
fazer isto! E outras explicações mais.
Platéia – Acho que o preconceito está em mim, é lógico, que ainda hoje, depois
de 13 anos de casada, tenho vergonha de fazer sexo oral. Pra mim sempre foi um
sufoco, eu só queria fazer de luz apagada, não é, benzinho? (dirigindo-se ao
marido).
Platéia – Eu que o diga, completa o marido. Mas é interessante como a gente
deixa que esta coisa seja mais forte do que nós.
Platéia – (Risos.)
Ana Lúcia – Qual é o placar? Acho que 8 X 6 para a equipe 1.
E1 – Meu pai não gosta que olhe revista de sexo. Eu posso olhar?
E2 responde – Lógico que pode, contanto que as guarde num lugar seguro para
que suas irmãs mais novas não fiquem pegando nelas e lendo também.
Ana Lúcia – Acho que a resposta foi convincente, e o que orientamos é que tudo
o que os pais deixarem, procurem sempre explicar, argumentar.
Ana Lúcia - Ponto para a equipe 2. Então, o placar é de 8 X 7 para a equipe 1.
E2 – O que é “tomar no cu”?
E 1 responde – É uma frase que algumas pessoas usam para xingar as outras,
mas significa a penetração do pênis no ânus.
Ana Lúcia – Perfeito, é importante pontuarmos para as crianças quando uma
palavra relativa à sexualidade é usada como palavrão e o que ela significa,
porque, assim, muitas vezes a criança tem vergonha de falar, e não fica falando
como palavrão a toda hora.
Ana Lúcia – Bom, foi ponto para a equipe 1, e o placar final foi de 9 X 7 para a
equipe 1, que foi vencedora.
Ana Lúcia – Para finalizarmos este trabalho, gostaria que todo o grupo formasse
uma imagem de como vocês devem se colocar para falar sobre sexo com seus
filhos. E, com uma só palavra, fechem esta imagem.
A imagem feita pelos participantes do grupo foi a seguinte:
Seis deles, de costas, com as duas mãos na frente do rosto, como se estivessem
de olhos com viseiras, e três crianças ajoelhadas em frente a eles, olhando
desesperados. Em seguida, oito deles com os dois braços bem abertos, olhando
para frente e com semblante confiante, e três crianças em pé, sorrindo.
Ana Lúcia – Uma imagem linda!!
Ana Lúcia – Que palavra vocês poderiam falar, para simbolizar este momento?
Platéia – Mudança.
Ana Lúcia – Então falem mais alto!
Platéia – Mudança.
Ana Lúcia – Então repitam duas vezes, bem mais alto!!
Platéia – Mudança, Mudança.
Ana Lúcia – Podem bater palmas para esta mega produção de vocês .
O grupo bateu fortes palmas, para fechar o trabalho.
5)Comentários
Ana Lúcia – Bom, pessoal, eu sei que estamos com o tempo estouradíssimo, mas
preciso de um retorno de como foi este trabalho para vocês.
Platéia – Sabe, Ana Lúcia, no início eu fiquei meio desesperado, sem saber onde
você queria chegar, mas é engraçado que, à medida que o tempo foi passando,
eu fui relaxando e as coisas começaram a clarear. Eu gostei demais porque acho
que nunca falei de sexualidade com tanta espontaneidade.
Platéia – Eu estou saindo daqui muito mais segura. O que eu achei legal é que
você respondeu, ou melhor, nós respondemos a um montão de perguntas que eu
sempre me fiz sobre como falar para meus filhos sobre determinadas coisas.
Platéia – Realmente esta palestra desta forma é muito legal. Só me dei conta da
hora porque você disse que nosso tempo havia estourado. Para mim foi muito
produtiva a noite, hoje, com vocês aqui, apesar de ter perdido a gincana.
Platéia – Eu, que sempre fui tão contida, e hoje falei pra caramba. Isto foi um
milagre. Adorei!
Ana Lúcia- Acho que o trabalho foi muito bom e atendeu aos nossos objetivos de
uma forma muito boa. Tivemos possibilidade de repensar os conceitos e
comportamentos relacionados à educação sexual que aprendemos junto a nossas
famílias de origem, e , de que forma é mais fácil desconstruir estas questões
fortes que nos impedem de ser naturais e tranqüilos para falar sobre o assunto
com os nossos filhos. Vamos começar esta reconstrução a partir de agora,
repensando estas questões , nos informando, perguntando e principalmente
começando a conversar mais com os nossos filhos .
Ana Lúcia – Gostaria que vocês, rapidinho, respondessem a este pequeno
questionário, e também gostaria de agradecer a todos pela participação, em nome
da diretoria da Clínica, e espero contar com vocês em outras oportunidades.
Ana Lúcia – Boa Noite!!
Sociodrama II
Local: Clínica pediátrica. São Paulo- SP.
Tema: Insegurança Infantil. Qual o papel dos pais, para não acentuar os
sintomas?
Data: 24.04.2004.
População: 26 pais de classe média /alta, nível superior, filhos de 0 a 15 anos
e 02 Assistentes Sociais
1) Introdução
Ana Lúcia – Boa Noite! Estamos aqui para dar continuidade ao trabalho educativo
desenvolvido pela Clinica e, em nome dos diretores desta Clínica, agradeço desde
já a participação de todos. Eu sei o quanto é difícil para que vocês se desloquem
de suas casas à noite, depois de um dia de trabalho, mas para nós é uma honra
tê-los aqui. É com muita alegria que os recebo aqui, porque isto me faz crer que
este assunto tem uma enorme importância em suas vidas junto a seus filhos. O
meu nome é Ana Lúcia Castello Para os que não me conhecem, eu sou psicóloga,
psicodramatista e estou fazendo Mestrado na área de Família e Comunidade,na
PUC em São Paulo. Estou trabalhando com uma técnica diferente de palestras, o
Sociodrama Construtivista. Nós vamos participar junto com vocês de um trabalho
muito dinâmico e que acho que vocês gostarão. Mas antes de começarmos quero
explicar a presença do Fernando, que é um colega e veio filmar este evento, e eu
gostaria de explicar a vocês o porquê da filmagem: é porque para nós este
material serve para desenvolvermos alguns estudos, enfim, para fins estritamente
didáticos. Se alguém se opuser à filmagem, pode falar.
Platéia – Acho que tudo bem.
Ana Lúcia – Quero agradecer a compreensão de vocês, e vamos continuar o
trabalho. O Sociodrama Construtivista para Orientação de Pais é um método que
foi criado no início do século por um médico vienense chamado Jacob Levi
Moreno. Este método vem sendo utilizado para trabalhos em diversas áreas e tem
dado retornos bastante positivos, no que se refere ao interesse, participação e
dinâmica dos grupos que por este método são trabalhados. No Sociodrama
Construtivista nós utilizamos recursos da Psicologia, da Sociologia e até recursos
do Teatro. Portanto, aqui neste trabalho vocês poderão representar personagens
que não são vocês mesmos. Por exemplo, eu sou Ana Lúcia, tenho 42 anos, sou
casada e tenho duas filhas; num determinado momento do Sociodrama
Construtivista eu poderei representar o papel de uma menina de oito anos que não
consegue dormir sozinha e que sofre muito por isto. Nós não vamos falar da
gente, vamos sempre falar a respeito de um personagem. Entenderam?
Platéia – Mais ou menos.
Platéia – Acho que entendi. É como se a gente fosse fazer um teatrinho das
coisas que a gente quer conversar.
Ana Lúcia – É mais ou menos isto. Vocês vão tentar imaginar com o exemplo que
eu vou dar. Qual a idade em que a criança se sente muito insegura? Talvez cinco
anos, talvez dez anos, talvez bebezinho. O que é que vocês acham?
Platéia – Acho que aos cinco anos é mais fácil disto acontecer.
Platéia – Acho que bebezinho, porque a criança não sabe se defender.
Ana Lúcia – Vocês têm que se decidir: aos cinco anos ou bebezinho?
Platéia – Aos cinco anos, porque ela já não é bebê, mas ao mesmo tempo não
consegue fazer nada sozinha.
2) Aquecimento inespecífico
Ana Lúcia – Bom, então vocês fiquem imaginando que eu sou um menino de
cinco anos e que toda noite, quando vou dormir, fico pensando em muitas coisas
ruins, e o meu sono é sempre muito complicado. Imaginem que eu sou o Marcos,
tirem a Ana Lúcia da cabeça e imaginem que eu sou esse menininho que está
com esta dificuldade, e que me pego pensando coisas do tipo “Porque estas
coisas só acontecem comigo? Por que será que eu tenho medo de tudo?” Começo
a falar como se fosse ele e não preciso, eu, Ana Lúcia, falar das minhas
inseguranças, dos meus medos e muito menos da minha privacidade. Aqui, com
certeza nós vamos representar algumas cenas, vamos trabalhar junto ao grupo e,
num momento final, iremos comentar tudo o que aconteceu hoje aqui, com este
grupo. Este trabalho deverá durar mais ou menos 2 horas, e dividiremos em três
fases, ok?
Platéia – Será que a gente consegue fazer isto direitinho?
Ana Lúcia – Fiquem tranqüilos que as coisas vão acontecendo aos poucos e,
quando vocês perceberem, já estarão envolvidos com o trabalho.
Ana Lúcia – Eu gostaria de conhecer um pouco este grupo. Quem daqui é
casado?
Platéia – 20 pessoas.
Ana Lúcia – Quem é solteiro ou separado, mas tem filhos?
Platéia – Os seis restantes.
Ana Lúcia – Eu e meus dois colegas, que são chamados egos auxiliares neste
trabalho, somos pessoas que lutamos contra nossas dificuldades e vivemos em
busca de sermos pessoas seguras, serenas, apesar de nem sempre
conseguirmos. Alguns de vocês que estão presentes neste trabalho, hoje, alguma
vez sentiu muita insegurança diante de uma situação?
Platéia – Meu Deus, eu sempre me sinto muito insegura em várias situações. Foi
assim desde que eu era pequena, e acho que meus pais reforçavam isto. Eu acho
que faço isto com minhas filhas. Imaginem vocês que até para decidir que roupa
eu vou vestir, às vezes passo uma hora? E a minha filha também.
Platéia – Sim, eu já tive pânico, e para mim foi muito difícil esta época.
Platéia – Diversas vezes eu passei por situações de estresse, porque não
consegui decidir as coisas.
Platéia – Quando eu era criança, era uma pessoa muito tímida e tinha vergonha
de tudo.
Platéia – Eu sou filha única, então vocês imaginem: a minha vida inteira os meus
pais fizeram tudo por mim, e quem agüentou as conseqüências foi o meu marido.
Platéia – Eu também sou filha única, e acho que aconteceu igual comigo: minha
mãe fazia tudo por mim, e agora faço a mesma coisa com a minha filha.
Ana Lúcia – Então, vamos dar continuidade fazendo com que o Marcos faça
pergunta a vocês que, a partir de agora, serão psicólogos especialistas em ajudar
crianças com problemas de insegurança, e vocês vão ajudá-lo diante das coisas
que ele mostrar que o deixa inseguro.
Ana Lúcia fazendo o papel de Marcos, garoto de 05 anos:
Marcos –Imaginem que eu passei a noite toda de mãos dadas com a minha mãe!
Ontem me falaram que vocês estariam aqui hoje e, como eu nunca durmo direito,
passei a noite em claro, esperando que vocês chegassem.
Platéia – Isto quer dizer que a sua mãe também não dormiu a noite toda?
Marcos – É, ela sempre fica comigo, quando eu tenho isto.
Platéia – (Risos.)
Marcos – Mas o que eu quero saber é como eu faço para não ter nenhum medo,
algum de vocês sabe?
Platéia – Eu acho que você pode dormir com a luz do banheiro acesa, ou pedir
aos seus pais para colocar um abajur no seu quarto, ou até mesmo pedir para seu
irmão dormir no quarto junto com você.
Marcos – Mas eu não consigo dormir junto com meus irmãos, só com meu pai e
minha mãe.
Platéia – Você sempre dormiu com seus pais?
Marcos – Sim, toda vez que eu chorava, quando era menos... acho que eu tinha
três anos, minha mãe me levava para a cama dela. Minha mãe é muito
dorminhoca, e ela não gostava de acordar de noite.
Platéia – Existe alguma outra coisa que você tenha medo?
Marcos – Eu tenho medo de bruxo, de vampiros e de ladrão. Uma vez um ladrão
roubou minha mãe no carro e ela disse que nunca mais me levava quando fosse
sair, porque podia acontecer alguma coisa comigo.
Platéia – Nós achamos que você e seus pais precisam de ajuda.
Marcos – Muito obrigado, eu vou dizer isto a eles.
Ana Lúcia – Vocês perceberam como podemos fazer de conta que somos outra
pessoa, que podemos representar os papéis e ser pessoas diferentes do que
somos habitualmente? Isto é a dramatização.
Ana Lúcia – Antes de nós começarmos, gostaria de saber como ficou para vocês
este breve diálogo. O que é que vocês perceberam, na dinâmica do Marcos?
Platéia – Que ele tem pais que precisam de ajuda, porque, de uma certa forma,
eles estão prejudicando o garoto.
Platéia – Que ele é muito mimado pelos pais.
Platéia – Que ele não consegue resolver as coisas, precisa sempre da opinião
dos pais.
Platéia – Que ele é um garoto muito inseguro.
Platéia – Mas que seus pais reforçam isto.
3) Fase de aquecimento específico:
Ana Lúcia – Para que vocês possam se aquecer um pouco mais, vou pedir que
cada um de vocês feche os olhos e pense numa foto que vocês têm de uma
determinada fase de sua infância que vocês lembram ter visto recentemente.
Imagine-se nesta situação, uma situação difícil que vocês passaram nesta época e
que denota, para vocês, um traço de insegurança.
Platéia – Pode ser qualquer situação?
Ana Lúcia – Pode sim, qualquer situação.
Ana Lúcia entrega uma folha de papel e lápis para cada participante e diz o
seguinte:
Ana Lúcia – Agora que vocês pensaram na situação, façam um desenho desta
imagem nesta folha de papel. Embaixo do desenho, dê um nome a esta situação e
relate com poucas palavras.
Platéia – Pode ser uma situação muito difícil que eu vivi?
Ana Lúcia – Pode sim.
Ana Lúcia – Agora vocês vão formar grupos de quatro elementos cada e vão
trocar os desenhos, mostrando cada um o nome do seu desenho e o conteúdo de
como aquilo aconteceu.
Em seguida o grupo deverá escolher um desenho que tenha mais chamado
atenção e que denote que a insegurança foi a situação mais forte naquele
desenho.Os grupos reuniram-se e a produção que fizeram foi a seguinte:Os
desenhos que mais chamaram atenção do grupo foram:
1 – Título: Coitadinho -Um garoto de 6 anos que os pais levavam ele para as
festas dos filhos dos amigos dele e, quando chegava lá, ele sentia-se totalmente
deslocado e ficava num cantinho da sala todo encolhido.
2 – Título: Patinho feio-Um garoto de sete anos que era muito feinho e que um
dia foi chamado pelos colegas da escola (1ª série), e que, no dia seguinte, sem ele
saber, a mãe foi na Escola para tirar satisfação com os amigos. Ele ficou mais
envergonhado ainda e começou a se isolar.
3 – Título: Rejeição- No dia do velório da sua avó, uma menina de oito anos
estava meio desnorteada, não sabia o que fazia, não sabia por que sofria, não
entendia nada da gama de sentimentos que tomava conta dela. Num determinado
momento, ela chegou perto de sua mãe, que estava sentada, e aproximou-se
devagar, fazendo carinho em seus cabelos. Na realidade a intenção dela, ao
aproximar-se, era de ter um pouco de acolhimento da mãe, porque ela estava
sentindo-se muito fragilizada. Ao contrário do que ela precisava, a reação imediata
da mãe foi aos gritos mandá-la ir para outro lugar, porque ali não era lugar para
ela ficar sentada. Desde aquele dia ela não conseguiu mais fazer carinhos na mãe
e, conseqüentemente, tem uma dificuldade enorme de fazer carinho nos filhos.
Fica sempre com aquela sensação de que vai ser rejeitada, e prefere não fazer.
4 – Título: Eu, mamãe e o meu cocô- Quando tinha quatro anos, ele tinha em
sua casa uma empregada que era uma pessoa muito má. Durante o dia ela ficava
fazendo e dizendo coisas para assustar as crianças. Geralmente, quando ele ia ao
banheiro, ela dizia que tinha um monstro dentro da descarga e, quando ele fizesse
cocô, aquele monstro ia sair, pegá-lo e levá-lo por dentro da descarga. Desde este
dia ele não conseguiu mais fazer cocô na privada, e tinha que fazer cocô na fralda.
Isto aconteceu até os nove anos, quando a mãe procurou uma ajuda. Mas para
ele é interessante que o ato de defecar até hoje não é uma coisa confortável.
Ana Lúcia – Bom, vocês viram o quanto esta fase foi interessante e quantas
coisas apareceram nos relatos de vocês. Agora eu gostaria que, das quatro
situações apresentadas, vocês escolhessem duas para que pudessem dramatizá-
las.
O grupo decidiu.
Platéia – Achamos que a número 1 e a número 3.
4) Dramatização
Ana Lúcia- Agora vocês vão conversar um pouco e tentar dramatizar estas
situações.
Escolham os personagens, quem vai representar cada um e como vai ser feita a
dramatização. Vocês vão dramatizar a primeira situação: Coitadinho.
1ª cena:
P – Filho, amanhã nós iremos ao aniversário do Pedrinho, filho do Joaquim e da
Laura. Ah, você não conhece eles, mas não tem problema: chegando lá, você
consegue se enturmar.
F – Mas, mãe, eu não quero ir, prefiro ficar em casa.Não conheço nenhuma
criança lá. Eu não gosto de ir para casa do Joaquim e da Laura, vocês sabem
disto.Toda vez vocês querem que eu faça uma coisa que eu não gosto.
P – Olha, quando a gente chegar lá eu fico com você até que você se sinta
melhor. Eu até chamo algum amiguinho para ficar com você. Eu te garanto que
você não vai ficar sozinho.Toda vez acontece isto porque você fica com medo de
não encontrar algum amigo lá, mas olha, filho, lógico que você vai encontrar algum
amigo, eu te prometo.
F – Eu prefiro ficar em casa.
P – Tenho certeza de que quando chegarmos lá você vai gostar muito.
Narrador – Chegando na casa dos colegas, nem os pais do garoto conheciam
muita gente. Foram entrando devagar, mas perceberam que a festa era uma festa
diferente, onde todos os amigos do casal desde a infância estavam presentes, e
eles, realmente, não conheciam muita gente. Ficaram preocupados com o
garoto...
P – Vamos, filho, vou te mostrar algum amiguinho para que você possa ficar
brincando. Mas, primeiro, iremos cumprimentar o Joaquim e a Laurinha.
Casal de amigos – Olá, gente, quanto tempo! Que bom que vocês vieram.
Estamos felizes com a presença de tantos amigos. Vocês perceberam, mas nesta
festa tem amigos de infância do Joaquim. Estamos muito felizes. Nossa, mas
como este garoto está grande! (disse ela, olhando para o menino) O tempo passa,
não?
Narrador – Enquanto isto, o garoto estava agarrado na saia da sua mãe, e ela,
muito nervosa, dizia o seguinte, em tom meio bravo:
M – Vê se você não fica grudado na minha saia a festa toda. Eu já disse que vou
te apresentar a alguns amigos.Esse menino parece um bicho do mato, não quer
brincar com ninguém (reclamou ela).
P – Vamos lá onde estão todas as crianças que eu vou chamar o Pedrinho, para
que ele se enturme com todos.
F – Não, pai, eu não quero. Deixa que eu fique com vocês. Eu não quero ir pra lá
(disse o menino, quase chorando).
P– Não, filhinho, você vai ver como é bobagem essa coisa de que você não
conhece ninguém. Prometo que hoje você vai fazer um monte de amigos. Você
precisa aprender que tem que fazer amigos. Você não vê o papai e a mamãe? A
gente tem um montão de amigos.
F – Eu não quero ir (disse o filho, quase chorando).
Narrador – Chegando no grupinho dos meninos, o garoto ficou mais angustiado
ainda, porque tinha muita gente. E novamente, quase chorando, implorou aos pais
para ir embora.
P – Não, filhinho, agüenta um pouco aí que você vai ver como vai ser legal, daqui
a pouco.
Narrador – Chegando perto do Pedrinho, o pai do garoto disse:
P – Olá, Pedrinho, você se lembra do meu filho? Ele está quase da sua idade e
gostaria muito de brincar com vocês.
Pedrinho – Oi, tio! Olhou de cima a baixo o garoto e saiu correndo com mais dois
amigos.
P – Você está vendo, querido, a brincadeira está tão boa que ele nem consegue
falar.
F – Pai, quero ir embora. Quero ir embora agora.
P – Não, filhinho, acho que é muito importante você tentar se enturmar. Eu e a
mamãe vamos dar uma volta e você fica aí com os amigos que daqui a pouco a
gente volta.
Narrador – Os pais foram cumprimentar alguns amigos na festa e o garoto ficou
sozinho, isolado no pátio onde se encontravam muitas crianças...
Narrador – Passaram-se quase duas horas e os pais até esqueceram da
criança... Quando foram procurá-la, encontraram o garoto deitado num cantinho
do jardim com as mãos cobrindo a cabeça e quase dormindo...
P – Querido, mas o que é que você está fazendo aí sozinho?
Narrador – E a criança não respondia, atônita.
Começou a chorar compulsivamente...
P – Levanta daí já. Parece um bicho do mato. Levanta, seu troglodita. Não
consegue brincar com ninguém. Levanta, imbecil, você é um atraso para nossa
vida. Não consegue fazer nada, nem fazer amigos...
Narrador – O filho chorava compulsivamente...
Diretor – pede ao ego auxiliar para fazer um duplo com a dupla de pais.
Ego auxiliar – É engraçado... por que eu não consigo aceitar este jeito do meu
filho? Porque ao invés de brigar com ele eu não consigo conversar com ele, para
saber por que isto está acontecendo?
P – Porque nós não o criamos assim. Porque a gente sempre quis que ele fosse
diferente.
E A – Eu continuo achando que posso fazer o meu filho do jeito que eu gostaria
que ele fosse. Por que não posso ajudá-lo a romper estas barreiras?
P – (Começa a chorar, dizendo...) Eu não quero que ele seja igual a mim. Quando
eu era garoto, fazia a mesma coisa, e eu sofria muito. Eu não quero que ele seja
chamado de marica, como me chamavam os meus amigos. Enfim, eu não quero
que ele sofra o tanto que eu sofri quando era criança...Coitadinho! Coitadinho!
Ana Lúcia – Que beleza a dramatização! Acho que merece palmas...
Aplausos da platéia
Ana Lúcia – Bom, a primeira dramatização foi muito boa. Agora vamos iniciar a
segunda dramatização. Os comentários nós faremos depois...
2ª cena:
Narrador – A cena se passa no velório da avó de Flávia, uma menina de oito
anos. No momento em que Flávia soube que sua avó havia morrido, ela ficou
muito desesperada. Ela não sabia se sofria pela mãe, pela avó, pelos tios ou se
sofria por ela mesma. (Foto-Anexo 3)
F – Mãe, não fica triste, a vovó não vai sofrer mais, eu acho que ela foi para junto
de Jesus porque ela era muito boa. Não fica muito triste não, mãe...
M – Tá bom, filha, mas vai lá para fora. Eu não quero que vocês fiquem aqui
dentro do velório o tempo inteiro.
F – Mas mãe, eu queria ficar um pouco com você.
Narrador A mãe ficou um pouco nervosa, e falou meio grosseira com a
menina...
F – (Sai, pensando...) Minha mãe está sofrendo muito e eu não posso fazer nada
por ela. Como eu gostaria de poder fazer alguma coisa por ela!
Narrador Passaram-se quase três horas e a garota estava inconformada com a
perda da avó, desesperada porque a mãe estava sofrendo muito, e ela estava
muito chateada.Num dado momento, ela aproximou-se da mãe e, sentando-se no
colo dela, disse:
F – Mãe, eu queria muito te ajudar, eu queria muito poder fazer alguma coisa por
você, eu queria muito que você não ficasse tão triste...
M – (Empurrando a garota de forma grosseira) Eu não já disse que você não deve
ficar aqui dentro? Nem você e nem seus irmãos. Quer ir lá pra fora já! Eu não
agüento esse ti-ti-ti de vocês.
Narrador - A filha, chorando, soluçando, saiu correndo da sala...
Narrador – Quando terminou o velório, já em sua casa, a menina ficou trancada
em seu quarto e, num dado momento, a mãe aproximou-se e veio fazer um
carinho nela. De forma bastante arisca, ela afastou a mãe, dizendo:
F – Por favor, mãe, eu gostaria de ficar sozinha, me deixe em paz... Eu quero ficar
no meu quarto e não quero ver ninguém...
M – Mas filhinha, eu quero ficar aqui com você. Vamos ficar juntinhas e a gente
consegue ficar melhor.
F – Não, mãe (disse ela de forma bastante grosseira).
Narrador – E, desde este dia, a garota tem uma dificuldade enorme de contato
físico com a própria mãe e com outras pessoas também....
Ana Lúcia – Muito bom, muito bom mesmo. Palmas para este grupo também.
Aplausos da platéia.
Ana Lúcia – Bom, gente, agora eu gostaria de saber o que vocês acharam das
duas dramatizações?
Platéia – Eu acho que, na primeira, os pais não respeitaram a vontade do filho e
obrigaram-no a ir num lugar que ele não gostaria de jeito nenhum. Eu acho que
não faria isto nunca.
Platéia – Concordo com ela, mas acho também que a forma com que os pais
fizeram isto é o que foi pior, porque primeiro eles acolheram e depois eles
largaram a criança lá para que ela se virasse. Acho que eles pecaram um pouco .
Platéia – Na segunda cena o que chamou a minha atenção foi que a mãe em
nenhum momento parou para observar o sofrimento da filha. Não se preocupou
como ela estava ou não. Afinal, ela era uma criança pequena, apenas oito anos, e
nunca havia lidado com o sentimento de se deparar com a morte. Aliás, isto é uma
coisa que me perturba muito, como lidar com a morte diante das crianças.
Ana Lúcia – Sabe, um dos temas de nossos encontros aqui na Clinica são as
perdas na infância, mas não teremos condições de conversar sobre isto agora,
porque é um tema muito vasto, amplo. Com certeza, falaremos delas em outra
ocasião, ok? Vamos falar mais da insegurança da criança naquele momento.
Platéia – Eu acredito que, se aqueles pais da primeira situação tivessem ouvido
um pouco a criança, talvez a situação tivesse terminado diferente.
Ana Lúcia – Quando você diz ouvir um pouco a criança, você quer dizer respeitar
um pouco o sentimento da criança, é isso?
Platéia – Com certeza, se eles tivessem observado que aquela criança estava em
pânico de ter entrado naquela situação, talvez eles tivessem poupado um pouco
ela.
Ana Lúcia – Isto é um dos primeiros aspectos que temos que considerar diante de
um quadro de insegurança infantil, observar e valorizar o sentimento da criança.
Nós sabemos que a identidade emocional da criança começa a se formar na
primeira infância, e é muito importante que isto seja feito de forma adequada, para
que, quando a criança começar a atingir a maturidade emocional, isto seja a
concretização de uma identidade emocional sadia, positiva. Se nós, pais, não
auxiliarmos neste processo, é muito comum para nós, terapeutas, encontrarmos
crianças com vínculos comprometidos com os pais, crianças inseguras o bastante
que não conseguem separar-se dos pais por medo de não conseguirem se
defender sozinhas. Crianças extremamente dependentes em suas atividades de
vida diária. É muito comum nos depararmos, no consultório, com crianças que não
conseguem nem sequer falar por sua própria opinião, que são dependentes da
autorização que os pais dão para que elas falem. Então, uma das coisas mais
importantes neste processo é que os pais consigam deixar que os filhos cresçam.
Que os pais permitam que os filhos passem por situações difíceis, para que a
criança estruture sua identidade emocional e consiga sair das situações difíceis
quando estiverem diante delas. É importante que os pais não achem que as
crianças têm condições de iniciar um processo individual de defesa própria e que,
para isto, precisam passar por estas situações.
Platéia – Você está querendo dizer que, quando nós protegemos muito a criança,
ela fica indefesa?
Ana Lúcia – Na realidade, isto não é uma regra. A criança precisa da proteção
dos pais até um certo ponto, mas existem pais que infelizmente acham que os
filhos precisam deles para tudo e a toda hora. Estes pais dificultam o crescimento
emocional da criança. O vínculo simbiótico que muitas vezes encontramos nas
relações mãe–filho é decorrente da dificuldade da mãe de separar-se da criança, e
que continua alimentando emocionalmente a criança, como se ela ainda estivesse
dentro do útero. Alguns pais acham que o filho precisa dele para tudo. \quando
pensamos assim, dificultamos a oportunidade que o filho tem de crescer.
Ana Lúcia – O que mais vocês perceberam, durante as duas dramatizações?
Platéia – Acho que a forma como estes pais trataram as crianças. Na primeira
eles realmente superprotegeram tanto que disseram à criança que ajudariam ele a
fazer novas amizades. E na segunda, a mãe não valorizou o sentimento da
criança, como falaram anteriormente, deixando que ela se sentisse uma intrusa
dentro da relação delas. Acho que as duas posturas mostram para nós um erro na
forma de educar os filhos.
Ana Lúcia – Acho que você abordou um aspecto importante, o vínculo que os
pais desenvolvem com a criança. Eu sempre digo que os excessos são
prejudiciais. E o que quero dizer com isto? Um vínculo simbiótico, de
superproteção é extremamente prejudicial à formação da identidade emocional da
criança; mas, um vínculo onde os pais não se preocupam com o sentimento da
criança, este também faz com que a criança muitas vezes se sinta insegura, e o
comportamento pode ser de bloqueio de um sentimento ou de um comportamento
como no caso da garota em questão, na dramatização.
Ana Lúcia – Agora, gente, gostaria que vocês novamente retornassem aos
grupos das duas situações que foram dramatizadas e montassem uma forma ideal
destes pais saírem das situações apresentadas anteriormente, ou seja, eu
gostaria que vocês montassem uma nova dramatização com a postura ideal dos
pais, nas duas situações. Gostaria que, paralelamente, vocês escrevessem num
pedaço de papel que vou distribuir alguns aspectos que são importantes para que
os pais ajudem os filhos a desenvolverem uma identidade emocional sadia e,
conseqüentemente, possam atingir uma maturidade emocional adequada.
Ana Lúcia- Alguns de vocês sentiram algo parecido com o que viveu com suas
famílias de origem?
Platéia- Sim, minha mãe não deixava que eu fizesse nada, porque ela sabia fazer
melhor.Ela me explicava que gostava de fazer as coisas para mim e enquanto ela
fosse viva faria tudo para eu não sofrer. Eu hoje não sei o que é mais certo,
porque acho que eu sofri muito quando comecei a ter dificuldades na Escola, com
os amigos. Hoje quero meus filhos mais independentes para que consigam não
sofrer tanto quando as dificuldades aparecerem.
Platéia- Meus pais diziam que criança tem que brincar e não fazer nada de adulto,
mas nunca explicava o que. Eu acho que me privavam de entrar em contato com
coisas erradas, ou coisas que não eram muito boas e depois, coitado de mim.....
Platéia- Já os meus pais eram diferentes, queriam que eu fosse perfeito, eu acho
isto.Para mim foi muito difícil sair desse modelo de perfeição. Hoje, às vezes, me
pego fazendo as mesmas coisas que eles faziam comigo. É por isso que estou
aqui, para sair destas coisas de perfeição, porque acho, afinal, que ninguém
precisa ser perfeito para ser feliz.
Platéia- Que legal esta tua percepção hoje, vocês não acham.
Ana Lúcia- Agora vocês vão tentar reconstruir este papel, o que seria melhor
para vocês nestas mesmas situações?
Platéia- Acho que é importante dar mais autonomia para a criança, deixar que ela
faça muitas coisas sozinha. É lógico que isto dependendo da idade.
Platéia- Os pais não devem ficar achando que sabe de tudo. Devem deixar a
criança encontrar saídas para as dificuldades.
Platéia- Os pais devem deixar de ser auto-suficientes e confiar nas coisas que os
filhos começam a produzir, a fazer.É importante deixar o filho crescer.
Ana Lúcia- Muito bom, muito bom mesmo. Agora, vamos fazer uma outra
dramatização caracterizando quais as mudanças que poderíamos fazer para
chegar perto do modelo de pais ideais.O que vocês acham importante de ser feito,
no caso de estarmos diante de um quadro de insegurança infantil par ajudarmos a
criança a vencer os seus primeiros medos.
Grupo 1 P – Filho, amanhã nós iremos ao aniversário do Pedrinho, filho do
Joaquim e da Laura. Ah, nós sabemos que você não conhece ele, mas não tem
problema: chegando lá, você tenta chegar nos garotos que estiverem lá, mas, se
acaso você não se sentir bem, nós voltaremos logo, combinado?
F – Mas mãe, eu não quero ir, prefiro ficar em casa. Não conheço nenhuma
criança lá. Eu não gosto de ir para casa do Joaquim e da Laura, vocês sabem
disto. Toda vez vocês querem que eu faça uma coisa que eu não gosto.
P – Olha, filho, não é nossa intenção fazer as coisas que você não gosta, mas
para nós é importante ir a esta festinha, e gostaríamos muito que você viesse
conosco. Mas te prometo que, quando a gente chegar lá, eu fico com você até que
você se sinta melhor e, se por acaso isto não acontecer, a gente volta logo,
acredite. É importante que você comece a tentar, aos poucos, a fazer novos
amigos, e isto só vai acontecer se você permitir que isto aconteça. Vamos tentar,
nós te ajudaremos. Ficaremos de longe e, se a turminha não for legal para você, a
gente volta para casa. Sempre que acontece isto e você fica com medo de não
encontrar algum amigo e não tenta de maneira nenhuma se enturmar, você nunca
vai saber se é capaz de fazer isto. Mas olha, filho, lógico que você vai, talvez
encontre algum amigo que te agrade. Pelo menos tente, é importante isto.
F – Eu preferia ficar em casa, mas acho que vou tentar.
P – A gente espera que, quando chegarmos lá, você goste muito.
Narrador – Chegando na casa dos colegas, nem os pais do garoto conheciam
muita gente. Foram entrando devagar, mas perceberam que a festa era uma festa
diferente, onde todos os amigos do casal desde a infância estavam presentes, e
eles realmente não conheciam muita gente. Ficaram ligados no garoto, mas não
demonstraram isto para ele...
P – Vamos, filho, até o local onde estão as crianças .Acho que você vai achar
algum amigo legal lá. Mas, primeiro, nós iremos cumprimentar o Joaquim e a
Laurinha.
Casal de amigos – Olá, gente, quanto tempo! Que bom que vocês vieram.
Estamos felizes com a presença de tantos amigos. Vocês perceberam, mas nesta
festa tem amigos de infância do Joaquim. Estamos muito felizes. Nossa, mas
como este garoto está grande! (disse isso olhando para o menino) O tempo passa,
não?
Narrador Enquanto isto, o garoto estava ao lado da sua mãe, e ela dizia de vez
em quando a ele, bem tranqüilamente:
M – Procure olhar as brincadeiras que os amigos estão brincando e veja aquela
que você mais gosta. Perceba que, em cada local tem um monitor, e, quando você
for para lá, que é lógico que você vai sozinho, para não “pagar mico” diante dos
novos amigos, chegue junto do monitor, diga a ele que você é novo na festa e que
não conhece ninguém e que gostaria de brincar com eles.
P – Pode ir lá onde estão todas as crianças que nós ficaremos aqui te esperando,
e, se não der certo, você volta que nós veremos o que vamos fazer. Fica
confiante, nos só sairemos daqui para conversar com os amigos quando você
estiver enturmado.
F – Está bem, pai, eu vou tentar (disse o menino, confiante de que poderia
conseguir).
P – Vai, filho, você vai ver como é bobagem essa coisa de que você não conhece
ninguém. Você vai chegar lá devagar, olhar o ambiente e ver se tem alguma
pessoa que você pode se aproximar.Você vai começar a aprender a fazer novos
amigos.
Narrador – Os pais ficaram de longe, observando a atitude dele. Passaram-se
quase duas horas e os pais continuaram ali, até que perceberam que ele estava
brincando, e só neste momento se reuniram com os amigos que estavam na festa.
Quando foram procurá-lo, encontraram o garoto sentado numa mureta,
conversando com outras duas crianças, sorrindo e até contando uma história.
P – Filho, mas quem são esses novos amigos?
Narrador – E a criança respondeu, sorridente:
F – Sabe que eles estudam na minha escola, mas eu nunca tinha falado com eles.
Eu os convidei para irem em casa um dia, tudo bem, pai?
P – Claro, filho, o dia que vocês combinarem está bom. Nós estamos muito
orgulhosos de você, porque você sozinho conseguiu chegar nos garotos, brincar.
Não foi legal ter conseguido isto?
F – Mas demorou bastante. Eu fiquei um tempão só olhando a brincadeira deles.
P – Não tem problema. Você ficou diante da sua dificuldade, mas não recuou
diante dela, você enfrentou, demorou, mas enfrentou. Estamos orgulhosos de
você. Parabéns!
Ana Lúcia – Gostaria que os egos auxiliares tentassem fazer o mesmo duplo que
fizeram na primeira cena com os pais (e cochicha no ouvido dos egos auxiliares).
Diretor – pede ao ego auxiliar para fazer um duplo com a dupla de pais.
E A – É engraçado, eu estou conseguindo aceitar este jeito do meu filho. Imagine
que, ao invés de brigar com ele, eu estou tentando mostrar novas saídas para que
ele supere esta dificuldade que ele tem. Preciso conversar com ele sempre, para
saber porque estas coisas estão acontecendo.
P – Estou realmente me sentindo melhor por estar podendo ajudá-lo. Realmente
vou tentar educá-lo diferente, para que ele não tenha tantas dificuldades e consiga
sair sozinho delas. Tenho aceitar ele como ele é, e não querer mudá-lo para ser
uma coisa que eu gostaria de ter sido no passado, extrovertido, popular.
Ego auxiliar – Eu continuo achando que tenho que deixar o meu filho do jeito que
ele gostaria de ser e ajudá-lo quando ele tiver dificuldades. Vou sempre tentar
ajudá-lo a romper estas barreiras.
P – (sorrindo) Não vou me importar se ele quiser ser igual a mim, mas tudo o que
eu puder fazer para ele superar as dificuldades, vou tentar ajudá-lo a abrir novos
caminhos. Se Deus quiser. Quando eu era garoto fazia a mesma coisa, e eu sofria
muito. Eu sei que meu filho vai mudar a história dele, e eu vou ajudá-lo (falou
quase chorando).
Ana Lúcia – Gostaria que vocês ajudassem este pai a ter forças para encorajar
este filho. Levantem-se e acolham estes pais e repitam em voz alta o que foi dito
por eles.Todo o grupo fez uma roda ao redor dos pais e do filho, acolhendo-os.
Platéia – “Eu sei que meu filho vai mudar a estória dele e eu vou ajudá-lo.”
Ana Lúcia – Podem falar mais alto.
Platéia – “Eu sei que meu filho vai mudar a estória dele e eu vou ajudá-lo.”
Ana Lúcia – Mais alto um pouco, para que todo o nosso bairro possa ouvi-los.
Platéia – “Eu sei que meu filho vai mudar a estória dele e eu vou ajudá-lo.”
Ana Lúcia – Muito bom mesmo. Palmas para o grupo.
A platéia aplaudiu o grupo que dramatizou.
Ana Lúcia – Bom, gente, esta dramatização foi maravilhosa, e eu estou muito feliz
com o que vocês produziram, até eu fiquei muito emocionada mesmo... Bom,
vamos fazer o trabalho com o segundo grupo, para depois fazermos um
fechamento.
Grupo 2 Narrador – A cena se passa no velório da avó de Flávia, uma menina de
oito anos. No momento em que Flávia soube que sua avó havia morrido, ela ficou
muito desesperada... Ela não sabia se sofria pela mãe, pelo avó, pelos tios ou se
sofria por ela mesma...
F – Mãe, não fica triste, a vovó não vai sofrer mais, eu acho que ela foi para junto
de Jesus, porque ela era muito boa. Não fica muito triste não, mãe...
M – Obrigada, filha, mas a mamãe está muito triste porque a vovó morreu. Eu sei
que você também está muito triste, mas a gente hoje não vai conseguir ficar
diferente. Se você quiser chorar, chore. Se quiser ficar aqui juntinho da mamãe,
fique, que com certeza você vai se sentir melhor. Se quiser, de vez em quando
ficar pertinho da vovó, não tem problema, agora só o corpo dela está aí. Pode ficar
pertinho, se isto te conforta. Mas também, você preferir não ficar pertinho, não tem
problema, porque ela não vai sentir a tua distância.
F – Mas mãe, eu queria ficar um pouco com você.
Narrador – A mãe ficou tranqüila, e falou meio pausadamente com a menina...
M – Fica quanto tempo você quiser, aqui pertinho da mamãe.
F – (sai, pensando) Minha mãe está sofrendo muito, e eu não posso fazer nada
por ela. Como eu gostaria de poder fazer alguma coisa por ela!
Narrador – Passaram-se quase três horas, e a garota estava inconformada com a
perda da avó, desesperada porque a mãe estava sofrendo muito, e ela estava
muito chateada.Num dado momento, ela aproximou-se da mãe , e sentando-se no
colo dela, disse:
F – Mãe, eu queria muito te ajudar, eu queria muito poder fazer alguma coisa por
você, eu queria muito que você não ficasse tão triste...
M – Olha, filha, a mamãe sabe que, se você pudesse, tirava esta tristeza de dentro
da mamãe, mas isto não é assim. A mamãe está com muitas saudades da vovó,
mas não se preocupe que, com o tempo, isto vai melhorando e eu vou ficando
menos triste, está bem? (Acolheu a garota de forma carinhosa) Eu adoro que você
fique perto de mim, porque me dá muita força. É lógico que nossa família vai ficar
toda junta e superar isto de qualquer maneira. A mãe a colocou no colo e ela
sentiu-se extremamente protegida.
Narrador – Tranqüila, a garota levantou-se e saiu da sala, um pouco mais
confiante de que sua mãe iria melhorar...
Narrador – Quando terminou o velório, já em sua casa, a menina ficou com a sua
mãe o tempo todo. Trouxe um suco para que ela tomasse e disse: Filha – Eu
tenho muita sorte de ter uma mãe como você. Eu sei o quanto você está sofrendo,
porque eu nem imagino o dia em que isto acontecer com você, porque com
certeza eu vou sofrer muito também...
Narrador – A mãe aproximou-se e fez carinho nela. De forma bastante carinhosa,
falou para a filha:
M – Este dia vai demorar muito a chegar, e eu quero que até lá a gente possa
curtir muito a nossa vida.
F – Por favor, mãe, eu gostaria de ficar com você agora, fique aqui comigo... Eu
não quero ficar sozinha...
M – Está legal, filha, eu quero ficar aqui com você. Vamos ficar juntinhas e a gente
consegue ficar melhor.
Narrador – E, desde este dia, a garota tem uma grande amizade pela mãe,
porque a perda da avó acendeu a chama da confiança e do amor entre elas duas.
Ana Lúcia – Muito bom, muito bom mesmo. Palmas para este grupo também.
Aplausos da platéia.
5) Fase de comentários
Ana Lúcia – Bom, gente, agora eu gostaria de saber o que vocês acharam das
duas dramatizações ideais. E também que tipo de orientação vocês dariam aos
pais para que seus filhos se tornem mais seguros.
Platéia – Gente, isto é fantástico, a mesma história de formas tão diferentes.
Achei fantástica, maravilhosas. Uma coisa que conversamos no grupo é que o
mais importante para o desenvolvimento é que a criança tenha um
desenvolvimento emocional sadio.
Platéia – Foi muito bom, a gente poder comparar as duas posturas dos pais, e
uma coisa que me marcou muito foi a situação em que a criança estiver se
sentindo insegura, que nós, pais, possamos insistir para que ela faça determinada
coisa quando estiver se sentindo assim.
Ana Lúcia – É, realmente foi muito interessante, mas uma coisa que eu gostaria
de salientar: o primeiro movimento do desenvolvimento emocional da criança está
em nós, nem que para isto soframos um pouco. Vamos deixar que as nossas
crianças tenham uma independência nas atividades de vida diária. Quando o seu
filho pedir tudo o tempo todo, vá delegando a ele a oportunidade de fazer suas
coisas. Peça para que ele faça.
Ana Lúcia – Bom, vamos para outros comentários.
Platéia – Eu fiquei emocionada com esta representação da forma ideal, porque a
gente não pensa quando fala as coisas para as nossas crianças. É importante que
nós, mães, comecemos a enxergar que não deve fazer de tudo pelo filho, quando
chegar em casa, só porque ficou o dia inteiro trabalhando, e ela precisa diminuir a
culpa por estar trabalhando o dia todo.
Platéia – Uma outra coisa que falamos dentro dos grupos foi que não devemos
deixar que as crianças peçam tudo o tempo todo. Que a gente procure ajudar o
filho a fazer suas coisas, que não tenham preguiça de fazer e de cuidar de suas
coisas. Enfim, estimular a disposição da criança.
Platéia – Outro aspecto que discutimos no grande grupo foi de que a criança se
sente segura a partir do momento em que estamos do lado delas e que não
devemos confundir a segurança com a proteção. Muitos pais sufocam seus filhos
com a finalidade de “proteger x dar segurança”. O ideal é que possamos ensinar
nossas crianças a desenvolver um segurança emocional com certeza de que
estaremos sempre perto, caso precisem de nós.
Ana Lúcia – O ditado popular ensina que os pais devem: “Nunca dar o peixe já
pronto para os filhos, e sim, que os pais os ensinem e dêem as ferramentas para
que os filhos possam pescar”.
Ana Lúcia – Gente, eu estou muito satisfeita com a elaboração de vocês, mas
precisamos concluir o trabalho. Gostaria que vocês preenchessem esta avaliação
do nosso trabalho de hoje de forma bem condensada e que rapidamente me falem
numa só palavra de como estão se sentindo após a finalização do trabalho.
Platéia – Aliviada e feliz por saber que temos outras saídas.
Platéia – Muito feliz, porque acho que encontrei uma luz no final do túnel, e que
não é um trem que vem na contramão.
Risos da platéia.
Platéia – Confiante. Acho que aprendi muitas coisas hoje, e a principal delas é
que não posso desistir, quando estou educando meus filhos.
Platéia – Com muita esperança.
Platéia – Confiante, porque sei que, se eu não conseguir, devo pedir ajuda.
Platéia – Menos angustiada.
Ana Lúcia – Bom, gente, infelizmente precisamos encerrar. Gostaria de agradecer
a presença de todos, em nome dos médicos da Clinica, e dizer para vocês que, se
tiverem algumas dúvidas, precisarem conversar, podem nos procurar aqui na
Clínica, e estaremos à disposição para ajudá-los.
Platéia – Obrigada.
Palmas da platéia.
Sociodrama III
Clínica pediátrica - São Paulo - SP
Tema: Mães que trabalham fora
Data: 28/05/2004.
População: 28 pais de classe média/alta, nível superior, filhos de 0 à 15 anos,
01 jovem solteira sem filhos e 01 Psicóloga e 02 Assistentes Sociais
1) Introdução
Ana Lúcia – Boa Noite! Para nós é um prazer tê-los aqui para darmos
continuidade ao nosso trabalho educativo em cima de orientação de pais. Este é
um trabalho que tem sido muito gratificante aqui na Clínica. Alguns daqui eu já
conheço, mas, para aqueles que não me conhecem, eu sou Ana Lúcia Castello,
sou psicóloga, hoje tenho direcionado meu trabalho ao tratamento de casais e
famílias e também na orientação de pais. Hoje nós vamos falar sobre um assunto
que é por demais delicado: “As mães que trabalham fora”. Esse assunto é causa
de incomodo, principalmente para as mães, que muitas vezes se sentem
extremamente incomodadas pelo acúmulo de funções, pelo excesso de trabalho
quando juntam as tarefas de casa e as tarefas do trabalho fora de casa. As
queixas que nós, profissionais da área, temos são as mais diversas possíveis.
Conseguir unir os papéis de mãe, esposa, dona de casa é uma tarefa por demais
importante para a mulher, mas, com certeza bastante difícil. Hoje vamos fazer um
trabalho diferente, não é uma palestra. Vamos trabalhar este grupo com uma
técnica que chamamos de Sociodrama. Vocês sabem o que é um Sociodrama?
Só não vale responder os antigos participantes de grupos aqui, porque é lógico
que vocês já sabem.
Platéia – Acho que não sei não.
Platéia – Tem a ver alguma coisa com teatro, dramatização.
Ana Lúcia – O Sociodrama é um método que tem como suporte básico os
fundamentos do Psicodrama, que é um legado de um médico suíço chamado
Jacob Levi Moreno, desde o início do século passado. O Moreno era uma pessoa
muito excêntrica e começou a fazer trabalhos fora do consultório. Começou a
trabalhar em praças públicas, teatros, prisões e, deste seu trabalho, surgiu o
Psicodrama, que é um método que tem como base recursos do Teatro, da
Sociologia e trabalha o indivíduo em cima dos papéis em que ele atua na vida,
através de personagens. No Sociodrama o que ocorre é que podemos trabalhar o
grupo com os recursos do próprio grupo. É um trabalho direcionado dentro da
realidade social que o indivíduo está inserido, levando ao contexto dramático,
como se aquilo que ele estivesse vivendo no momento fosse verdade. Neste
trabalho com grupos, o objetivo principal é ampliar a visão destas pessoas para
que elas cheguem à resolução dos seus problemas ou à redução das suas
dificuldades através da mudança de comportamento. Vou dar um exemplo fácil,
para que vocês tenham uma noção real do que eu estou falando. Eu me chamo
Ana Lúcia, tenho 44 anos, sou casada, tenho duas filhas e etc. etc. Dentro do
contexto do Sociodrama, eu posso ser Felipe, um menino de 07 anos que é muito
inseguro, porque seus pais o protegeram bastante. Eu vou fazer de contas que
represento o papel do Felipe.Vocês entenderam?
Platéia – Sim, eu acho que é mais ou menos uma dramatização.
Ana Lúcia – Isso mesmo.
Ana Lúcia – Antes de iniciarmos o trabalho propriamente dito, gostaria de pedir
autorização para que este Sociodrama fosse filmado.Vocês estão vendo ali o
Genésio, que é uma pessoa que me ajuda sempre, nestes trabalhos, fazendo a
filmagem. Daqui a pouco ele será um expert em orientação de pais. É verdade, ele
já me dá toques, como : “no outro Sociodrama o grupo esteve mais participativo”,
ou “hoje você estava mais ativa, no Sociodrama...” E eu dou risada, porque ele
está filmando e observando cada detalhe do trabalho. Gostaria de saber se tudo
bem para vocês, que ele filme este trabalho. É lógico que o uso desta fita será
estritamente científico, para fins de estudos e de dados para nós. O que é que
vocês acham?
Platéia – Você tem certeza que não vai passar na Globo?
Risos da platéia.
Ana Lúcia – Você bem que gostaria, não? É lógico que não.
Platéia – Por mim, tudo bem. Se este trabalho puder ajudar outros pais que
tenham dificuldades, como nós estamos tendo, está ótimo.
Platéia – Acho que não haverá problemas para todo o grupo, não?
Platéia – Acho que todo o grupo concorda.
Ana Lúcia – Então vamos lá, vamos dar continuidade ao trabalho.
Ana Lúcia – Eu gostaria... um pouco... de conhecer o grupo. Todos os integrantes
do grupo, principalmente as mães... têm filhos?
Platéia – (Todas levantaram as mãos, com exceção de uma moça.)
Ana Lúcia (dirigindo-se à moça) – O que é que te mobilizou em participar desta
reunião?
Platéia – Sabe, Ana Lúcia, eu estou muito preocupada com a minha vida. Ainda
estou noiva, mas faço parte de uma família onde as mulheres trabalham muito.
Para vocês terem uma idéia, eu não lembro, na minha infância, um dia em que
minha mãe teve uma disponibilidade para ficar o dia inteiro com a gente.Nós
temos uma Escola, um negócio de família, e, nos fins-de-semana, ela sempre
estava envolvida com eventos da Escola. Foi sempre assim. Quando o pessoal da
agência estava falando de vir a esta palestra, eu fiquei interessada em assistir
também.
Ana Lúcia – Que legal esta tua decisão. Acho que aqui você vai poder parar para
fazer uma reflexão do que aconteceu na tua vida e redefinir algumas posturas tuas
para quando tiver filhos. Bom, gente, agora vamos realmente dar uma
continuidade ao trabalho.
2)Aquecimento inespecífico:
Ana Lúcia – Agora vocês vão ler alguns depoimentos que foram dados por mães
que são minhas pacientes. É importante que vocês tentem se identificar com
alguns deles. Os pais também podem ler, e tentem se identificar com algumas
frases que vocês ouviram seus filhos falarem para as mães. Os depoimentos são
os seguintes:
Depoimentos: “Mães que trabalham fora” em relação ao trabalho x filhos:
“Meu horário oficial é das 8 às 17h mas ninguém em minha posição pode
trabalhar apenas estas horas e sobreviver em um mundo competitivo.”
“Deixei meu último emprego por causa do excesso de trabalho. Eu tinha que
trabalhar quase todas as noites. Quando chegava em casa, as crianças
estavam dormindo e eu nunca tinha tempo para o meu marido, exceto tarde
da noite, quando estava exausta. Acho que o relacionamento teria acabado,
se eu tivesse continuado.”
“Muito bem, estou lá e não saio porque minha filha está doente. Minha
contribuição sob estresse, pelo fato de ter estado lá fisicamente e trabalhar o
tempo todo preocupada com ela.”
“Quando tenho um dia particularmente ruim no trabalho, sei que é horrível
conviver comigo. Grito com as crianças e descarrego com meu marido. Fico
tensa, de mau humor, e isto afeta a todos. No trabalho eu percebo que tento
me controlar mais.”
“Estou comprometida com a minha profissão e quero ser levada a sério, mas
não quero trabalhar o tempo todo. Quero algum tempo livre para me dedicar
aos meus filhos. Gostaria que fosse possível trabalhar em tempo parcial sem
ter a minha carreira prejudicada.”
“Funciona, porque meu marido é capaz de me apoiar e brincar com as
crianças, e ele torna isto compreensível para elas. Não me sinto culpada por
nada.”
“Sinto-me culpada quando um dos meus filhos me diz: ‘Mãe, fica comigo,
não vai trabalhar hoje. Ou então: ’Você vai trabalhar de novo?’
“Ainda acho que sou eu quem deve ficar em casa com as crianças, ou que
devo ir aos eventos escolares. Não creio que as mães consigam achar fácil
escapar destes sentimentos de culpa.”
“Me pego pensando que ando trabalhando muito e que não vou acompanhar
de uma forma favorável o crescimento dos meus filhos.”
Ana Lúcia – Ao ler estes depoimentos, vocês deverão tentar imaginar que
situações parecidas com estas vocês já viveram e que sentimentos vocês
sentiram quando isto aconteceu.
Vamos tentar fazer este exercício em mais ou menos 5 minutos.
Ana Lúcia – Agora, eu gostaria que vocês expressassem estes sentimentos para
todo o grupo.
Platéia – Eu fiquei chocada quando li estas frases, parece que você esteve atrás
da porta minha casa e viu algumas coisas que vivo repetindo no meu dia-a-dia.
Platéia – Eu fiquei lembrando muito das minhas saídas de casa, que sempre o
meu filho diz: Mãe, não vai trabalhar hoje não, por favor.
Platéia – Para mim ficou aquele impasse que sinto quando um dos meus filhos
está doente e eu tenho que trabalhar. Tem horas que tenho vontade de deixar
tudo, largar emprego e ficar em casa, mas sei que isto não é o certo, porque
preciso trabalhar.
Platéia – Eu sou autônoma, mas não consigo ter métodos com o meu dia-a-dia.
Sempre fico até muito tarde no meu consultório. Meus filhos sentem muito isto. Eu
me sinto culpada sempre.
Ana Lúcia – É muito importante a gente sentir sentimentos como este, mas
também é importante a gente dar valor às nossas necessidades, aos nossos
objetivos. Eu digo por mim, acho que não conseguiria viver sem trabalhar, sem
ajudar os outros, como sempre faço. Acho que ficaria um vazio muito grande em
minha vida. O que é muito importante é colocarmos limites em relação ao trabalho,
aí sim, você pode sentir-se melhor.
Platéia – O que mais eu sinto é que fico muito mal humorada quando as coisas na
Empresa que trabalho não estão indo bem. E é lógico que, de uma certa forma,
desconto em quem aparece na frente, na minha casa. Às vezes não consigo me
controlar.
Ana Lúcia – Agora vocês vão se apresentar, tentando associar o sentimento que
vocês sentiram lendo os depoimentos à primeira letra de seu nome. Assim, por
exemplo:
Meu nome é Ana Lúcia, e o sentimento que senti foi Angústia.
Platéia – Meu nome é Maria Helena, e o sentimento, Mau humor de ter que
pensar nisto agora.
Platéia – (Risos.)
Platéia – Meu nome é Carina, e o sentimento, Curiosidade.
Platéia – Meu nome é Márcia, e o sentimento, Medo.
Platéia – Meu nome é Gilberto, e o sentimento, Gratidão por poder estar aqui
hoje.
Platéia – Meu nome é Nair, e o sentimento, Nervosismo.
Platéia – Meu nome é Sandra, e o sentimento é de Satisfação.
Platéia – Meu nome é Iara, e o sentimento é Impotência.
Platéia – Meu nome é Patrícia, e o sentimento é Paciência.
Platéia – Meu nome é Ricardo, e o sentimento é Raiva por muitas vezes não
poder ajudar minha mulher a não sentir estes sentimentos tão horríveis.
Platéia – Meu nome é Jussara, e o sentimento é de Justiça para nós, mães, que
merecemos trabalhar sem culpas.
Platéia – Meu nome é Lucimar, e o sentimento é Lucidez.
Platéia – Meu nome é Denise, e o sentimento é Derrota.
Platéia – Meu nome é Tereza, e o sentimento é Tristeza.
Platéia – Meu nome é Fernanda, e o sentimento é Fraqueza.
Platéia – Meu nome é Renata, e o sentimento é Revolta.
Platéia – Meu nome é Ana Elisa, e o sentimento é Amor pelos meus filhos, e por
isso estou aqui.
Platéia – Meu nome é Darci, e o sentimento é Dúvidas.
Platéia – Meu nome é Estela, e o sentimento é Esperança.
Ana Lúcia – Bom, está faltando alguém?
Platéia – Falta eu, mas não consegui achar um sentimento para o meu nome.
Meu nome é Luciana e o sentimento...
Platéia – Acho que Liberdade de poder ir e vir na sua vida. Poder trabalhar.
Ana Lúcia – Este tema de “Mães que trabalham fora” muitas vezes pode
desencadear uma série de sentimentos e também uma série de indagações sobre
o papel de mãe, o que nós, mães, estamos fazendo em relação aos nossos filhos,
enfim... mas o que é muito importante é que aqui, hoje, poderemos falar um pouco
deste papel que muitas vezes é tão bem desempenhado, porém muitas vezes é
tão carregado de culpa, de inseguranças, que a mãe não consegue viver relaxada
e feliz junto dos filhos.
3) Aquecimento específico:
Ana Lúcia – Para dar continuidade ao trabalho, nós vamos fazer um trabalho e
todo o grupo vai participar. Vou colocar cinco cartolinas ao redor da sala e vocês
vão tentar ficar junto àquele cartaz que vocês mais se identificam. Nestes cartazes
nós temos algumas cenas referentes aos cinco grupos: mães, filhos, pais, creche
/escola e avós/babás.
Dividam-se em cinco grupos, e vocês vão receber uma folha que discrimina tudo o
que este grupo faz:
Roteiro de aquecimento do grupo de pais:
1. Os pais dividem com as mães as atividades da casa?
2. Procura informar-se com a esposa do que está acontecendo com os filhos?
3. Prestigia os filhos nas atividades na escola, esportivas e sociais?
4. Comunica-se com professores, técnicos de esportes, pais de amigos, para
informar-se sobre os filhos?
5. Proporciona recursos indispensáveis à realização das atividades dos filhos?
6. Têm paciência de avaliar e discutir com acerto às dificuldades dos filhos
apontadas por eles e pelas mães?
7. Tem bom acesso aos filhos e geralmente está disponível para eles?
8. Exerce algum tipo de cobrança em cima da esposa, pelo fato de ela ter o
horário apertado por causa do trabalho e deixar os filhos sozinhos?
9. Abre mão do seu trabalho, para cuidar das crianças?
10. Abre mão do seu futebol (tênis ou musculação) para ficar com os filhos?
Roteiro de aquecimento do grupo de mães:
1. Sentem-se culpadas, quando procuram um emprego?
2. Não conseguem organizar-se para ter uma vida pessoal saudável, em
sintonia com filhos e marido?
3. Trabalho, filhos, casa, onde fica a sua relação com o marido?
4. Não são valorizadas pelo acúmulo de funções, e sentem-se exploradas?
5. Diante das críticas dos filhos ao seu trabalho, procuram justificar-se,
dizendo que trabalham mais para dar mais conforto a eles?
6. Não conseguem dar qualidade aos momentos que estão com os filhos,
7. Por causa do cansaço intenso?
8. Sentem-se culpadas por deixarem os filhos, e, por isso, tentam compensá-
los, fazendo tudo o que eles querem?
9. Têm medo de perder o amor dos filhos para quem cuida deles?
10. Compram brinquedos, roupas, guloseimas em excesso, para aliviar esta
culpa?
11. Regridem no seu papel de mãe, muitas vezes criando atrito com os filhos,
pela total falta de autoridade?
12. Sempre acham e sentem que os filhos estão sendo mal cuidados?
Roteiro de aquecimento do grupo de filhos:
1) Sentem-se abandonados pelas mãos de avós, tias, babás,
professores?
2) Sempre ficam muito bem com os outros, mas na presença das mães
tornam-se chorosos , dengosos e birrentos?
3) Respeitam as mães, colaboram no cumprimento dos seus deveres
em casa?
4) Tornam-se amigos e se apegam facilmente aos avós, babás e
empregadas, muitas vezes tornando-se confidentes delas?
5) Tornam-se mais independentes e muitas vezes dispensam os
cuidados da mãe, ou preferem que outros cuidem de vocês?
6) Muitas vezes dizem que não gostam da mãe, para que ela sinta-se
mais culpada?
7) Insistem várias vezes, pedindo para a mãe não ir trabalhar?
8) Perguntam várias vezes: Você precisa trabalhar hoje?
9) Muitas vezes sentem-se sozinhos, precisando da mãe?
10) Os meios de comunicação exercem influência no comportamento
dos filhos?
Roteiro de aquecimento do grupo de empregadas:
1) Tenta estreitar cada dia mais seu vínculo com a criança,
despertando ciúmes na mãe?
2) Cuida da criança, muitas vezes, como se fosse seu filho?
3) É respeitada pela criança?
4) É respeitada pelos patrões?
5) Sabe comunicar-se com os patrões, dizendo das dificuldades da
criança?
6) Tem orgulho de trabalhar como babá, como doméstica?
7) Respeita (ou teme) os patrões?
8) Respeita as crianças?
9) Tem paciência para lidar com as manhas e com as birras da
criança?
10) Entende as carências da criança?
11) A atuação destas pessoas deste grupo é a mesma em casa de
família, como seria em outro tipo de trabalho?
12) Os meios de comunicações exercem influência sobre este grupo?
Roteiro de aquecimento do grupo de creche/escola:
1) A escola/creche realiza um trabalho junto aos pais?
2) Procura informar-se do que está acontecendo, antes de fazer alguma
intervenção?
3) Prestigia os pais, em suas atividades extra-curriculares?
4) Proporciona recursos indispensáveis à realização das atividades
educativas para os pais?
5) Sabem despachar rapidamente e de forma acertada as solicitações
que lhe são feitas?
6) Tem boa comunicação com os alunos e com os pais?
7) Existe entre os pais de alunos e Escola/creche um ambiente
harmonioso, no qual a escola é a força aglutinadora e
coordenadora?
8) Faz algum trabalho específico em benefício das mães que trabalham
fora, para que estas minimizem suas culpas em relação aos filhos?
9) Preparam os alunos na área educativa, para que eles se
sensibilizem com os problemas ligados à sua casa e à
comunidade?
10) Os meios de comunicação exercem influência no comportamento e
andamento da escola/creche?
Ana Lúcia – Vocês vão ler estes roteiros, discutir sobre cada um deles e tentar
montar uma dramatização que será feita em solilóquios pelos integrantes dos
grupos, para externalizar os sentimentos que aparecem em vocês dentro de cada
papel, em cima de cada grupo que vocês elaboraram.Vocês terão que pensar
também de como foi a vida de vocês em relação às suas mães. Elas trabalhavam
fora? O que acontecia com os filhos? Num momento seguinte, vocês vão
confrontar estes sentimentos com os sentimentos dos outros grupos.
Entenderam?
Platéia – Acho que sim, vamos primeiro nos fixar no nosso próprio grupo?
Ana Lúcia – Isto, primeiro no grupo de vocês, depois é que faremos o confronto
dos grupos.
Ana Lúcia – Vão fazer isto de forma que vocês possam entrar no papel das mães,
dos pais, das empregadas, da creche/escola e da criança. Vocês vão tentar fazer
exatamente como expliquei no inicio do trabalho. Isto é a dinâmica do Sociodrama,
a ação, a vivência. Agora vocês vão fazer de conta que é cada um destes que falei
antes e tentar se imaginar no papel de cada um no dia-a-dia. Como é que cada
um se comporta, como cada um se manifesta nas diversas situações, como cada
um vive junto ao outro, o que faz, o que deixa de fazer, o que exige, o que se
acomoda, o que invade, o que permite, enfim, tudo o que vocês puderem elaborar
para este papel.
Platéia – Então nós vamos elaborar uma situação em que nós, dentro deste grupo
que nos colocamos, vamos atuar dentro da dinâmica dos nossos filhos, é isto?
Ana Lúcia – Sim, vocês vão tentar elaborar esta situação e tentar dramatizá-la
fazendo um solilóquio, ou seja, alguns integrantes do grupo vão entrar no papel de
filhos, por exemplo, e tentar passar, pensando alto o que sentem neste papel, ou
melhor, vai vivenciar o papel aqui junto aos colegas. Num momento seguinte, nós
vamos confrontar os grupos. Comecem que depois eu explico direito a
continuidade do trabalho.
4) Dramatização
Ana Lúcia – Qual grupo gostaria de começar a dramatização? Lembrem-se de
que neste primeiro momento vocês terão que fazer um solilóquio ou vários
solilóquios, para externalizar como vocês se sentem em cada papel.
1) Grupo de filhos – Os integrantes do grupo começam a andar no meio da sala,
fazendo os seguintes solilóquios:
F – Eu me sinto tão triste quando a minha mãe sai para trabalhar. Eu não gosto de
ficar com a minha empregada, preferia ficar com a minha mãe.
F – Eu sei que, quando fico com a minha avó, eu fico bonzinho, e, quando minha
mãe chega, eu fico chato, birrento, mas eu acho que faço isto para ela não
trabalhar mais.
F – Eu não sei por que, mas todo dia, antes de minha mãe trabalhar, eu fico
pedindo.
F – É isso mesmo, eu pergunto para a minha mãe, todo dia: Você vai trabalhar
mesmo? Você vai trabalhar mesmo?
F – Eu até já me acostumei com a minha mãe trabalhando, e fico legal com
qualquer pessoa.
F – Minha mãe tem que trabalhar tanto. Acho que ela quer ficar rica.
Platéia – (Risos.)
F – Às vezes eu digo a minha mãe que não gosto dela, para ver se ela pára de
trabalhar.
F – Eu fico muito triste mesmo, eu fico muito sozinho quando a minha mãe sai
para o trabalho.
F – Eu só gosto de quando minha mãe trabalha porque posso assistir televisão o
dia todo.
F – Eu choro muito, quando a minha mãe vai trabalhar.
Ana Lúcia – Muito bem. Acho que conseguiram passar a mensagem. Bom, agora
qual será o outro grupo a se apresentar?
Platéia – O grupo de pais.
2) Grupo de pais – Os integrantes do grupo começam a andar pela sala, fazendo
os solilóquios:
P – Para mim é muito difícil abrir mão do meu futebol, para ficar cuidando dos
meus filhos.
P – Eu não tenho tempo de ajudar meus filhos nas lições de casa, nos deveres da
Escola.
P – Não tenho paciência de ficar discutindo blá, blá, blá com a minha esposa. Ela
aumenta tudo.
Platéia – (Risos.)
P – Sinceramente, eu vivo muito atribulado com o meu trabalho, e é difícil ter
tempo para cuidar das crianças. Sou consciente de que não vivo disponível para
os meus filhos.
P – Às vezes minha esposa me fala do que está acontecendo com as crianças.
P – Eu... é totalmente entrosado com tudo que acontece com os meus filhos.
P – Sempre vou a reuniões da Escola dos meus filhos. Sei exatamente o que
acontece com eles no dia-a-dia.
P – Às vezes falo para minha esposa que ela está trabalhando demais. Acho que
é obrigação dela cuidar das crianças.
P – Não tenho muito tempo para procurar professores, o técnico de esportes; mas
não tem problemas... quando der, minha esposa vai lá.
Platéia (Risos.)
Ana Lúcia – Muito bom. Agora vamos para o próximo grupo.
Platéia – Somos nós, o grupo de mães.
Ana Lúcia – Excelente, o grupo da hora. Então vamos, podem começar o grupo
de mães.
3) Grupo de mães- Os integrantes do grupo iniciam a caminhada pela sala.
M – Não consigo achar que as pessoas cuidam bem dos meus filhos.
M – Às vezes compro um montão de coisas, brinquedos, guloseimas... para o meu
filho, para me sentir menos culpada.
M – Muitas vezes eu penso que meu filho gosta mais da babá do que de mim.
M – Tem dias que eu até sonho que meu filho está indo morar com outra pessoa,
que vai cuidar dele melhor do que eu.
M – Já me acostumei com esta tortura psicológica, não consigo colocar limites
com meu filho, porque passo tanto tempo longe dele que, quando estou perto,
deixo fazer tudo. Então, meu marido fica dizendo que não tenho autoridade.
M – Me culpo pela relação com os meus filhos, me culpo porque não tenho uma
sintonia com meu marido. Onde vou parar?
M – Quando chego em casa, fico brincando com meu filho durante um bom tempo,
mas realmente não me dou conta do quanto estou cansada.
M – Quando meus filhos me cobram o fato de que trabalho muito, normalmente
digo a eles que preciso trabalhar para dar o melhor para eles, para ajudar o pai
nas despesas da casa.
M – Eu sempre acho que sou muito explorada, faço tudo o que posso, trabalho,
cuido de casa, cuido dos meus filhos, e ainda muitas vezes me cobram de fazer
melhor.
Ana Lúcia – Muito bom, acho que vocês fizeram o trabalho muito bem. Que
carinhas de coitadinhas vocês fizeram!
Ana Lúcia – Qual o próximo grupo?
Platéia – Agora é o nosso, o grupo das escolas/creches.
4) Grupo de escolas/creches – Os integrantes do grupo caminham pela sala,
fazendo os solilóquios.
E/C – Eu acho que muitas vezes a Escola não prestigia os pais nas atividades
extracurriculares dos filhos.
Ana Lúcia – Você está querendo dizer que você não prestigia os pais nas
atividades extracurriculares dos filhos, é isso?
E/C – É isso mesmo, esqueci. Eu muitas vezes não prestigio os pais, nas
atividades extracurriculares dos filhos, é isso?
E/C – Eu tenho muita facilidade de me comunicar com os alunos e com os pais.
Muitas vezes não consigo ter este canal fluente, por causa do trabalho dos pais,
principalmente das mães.
E/C – Nós tentamos ter um canal aberto junto aos pais, e sempre realizamos um
trabalho com eles. Sempre que eles precisam, estamos disponíveis.
E/C – É certo que nunca fizemos um trabalho específico com as mães, para que
elas sintam menos culpada por trabalharem e deixaram os filhos aos nossos
cuidados.
Ana Lúcia – Bom, agora falta o último grupo, o grupo das babás.
5) Grupo das babás – O grupo de babás caminha pela sala, fazendo o
solilóquio.
B – Eu tenho a impressão de que a minha patroa às vezes tem ciúmes de mim,
ela me olha com cada cara! Principalmente quando eu fico beijando aquele gordo
gostoso. Vocês nem imaginam, aquela doçura tem um aninho, e é a maior fofura.
Platéia(Risos.)
B – Eu não gosto muito de trabalhar como babá, mas é o serviço que arrumei,
desde que vim da Bahia.
Ana Lúcia – Acho que ficaram muito claros os papéis dos elementos do grupo em
relação ao tema.
B – Eu adoro assistir televisão e adoro ver as babás da novela. É um luxo! Tudo
dá certo na vida delas.
Platéia (Risos.)
BA minha patroa é boazinha, mas o meu patrão, ele é tão carrancudo, mal
cumprimenta, de manhã.
B – Vou contar uma coisa que ninguém sabe, mas aquela criança mais velha é
uma pentelhinha. Eu não gosto muito de cuidar dela. Prefiro muito mais ficar com
o pequenininho.
B – Sinceramente, eu cuido das crianças como se fossem os meus próprios filhos,
porque a gente cria amor por estes baixinhos.
B – Eu não sei por quê, mas este bebê chora muito. Acho que é porque a mãe
dele nunca está em casa. Eu procuro dar carinho a ele, mas nem sempre
funciona.
B – Acho que às vezes eu me acomodo um pouco, trabalhando como babá,
porque ainda me sobra tempo para descansar durante o dia, principalmente
quando minha patroa está trabalhando.
Ana Lúcia – Muito bom mesmo. Olha, vocês estão me surpreendendo, com as
dramatizações. Acho que ficaram muito claros os papéis dos elementos do grupo
em relação ao tema. Agora vocês vão fazer uma dramatização, improvisada, dos
grupos interagindo. Quando digo improvisada, estou querendo dizer que vocês
não vão combinar o que vão fazer ou falar. Vocês terão que dramatizar em cima
do que for aparecendo. Entenderam?
Platéia – Acho que você está querendo demais, não?
Ana Lúcia – Sinceramente que não, porque acho que vocês irão produzir um bom
trabalho.Vamos começar. Quais os grupos que querem dramatizar primeiro?
Platéia – Acho que o nosso grupo, o grupo de pais.
Platéia – Acho que pode ser o nosso também, o grupo de mães.
Ana Lúcia – Que bom, estão dispostos mesmo. Então venham ao centro da sala,
e podem começar.
Dramatização 2
Grupo de Pais & Mães
P – Acho que você anda muito estressada. Tenho a impressão que você está
trabalhando muito e, quando chega em casa, não tem paciência com as crianças,
e só grita. Acho que isto é muito ruim para eles.
M – Você já reparou que só reclama de mim? Não tem um dia que você não fica
falando do meu trabalho, me incomoda muito isto. Se eu trabalho é para que a
gente tenha uma vida melhor, para te ajudar nas despesas da casa. Você acha
que, se eu não trabalhasse, a gente teria o nível de vida que a gente leva?
P – Acho que não, mas, sinceramente, eu preferia que você não trabalhasse, se é
para você chegar todo dia mal-humorada. Você não esta feliz.
Platéia – (Risos – por parte das mulheres.)
M – Não, não estou feliz porque tudo sobra para mim. Eu tenho que cuidar de
criança, cuidar da casa, fazer supermercado e, ainda agora, que a babá foi
embora, tenho que me desdobrar, levando as crianças para minha mãe e indo
buscá-las depois. Nos fins de semana você não agüenta ficar sem seu futebol. É
isto mesmo, sem assistir na TV e sem jogar o seu futebol. Para mim, isto é uma
tortura. Acho que é por isso, e outras coisas mais, que eu estou estressada.
Platéia (Risos.)
P – Acho que você tem cuidar das coisas uma por vez...
Sem deixar que ele falasse direito, ela retrucou:
M – Não, não, não. Decididamente eu não vou agüentar seus sermões. Isto é
certo, isto é errado. Chega! Não sei o que posso fazer, mas sei que posso ficar
sem ouvir você me “enchendo” o saco!
Ana Lúcia – Congela esta imagem desta mãe furiosa, porque está se sentindo
sacaneada, e este pai totalmente perplexo. Gostaria que vocês fixassem na
memória esta imagem.
Ana Lúcia – Muito bem. Que grupos gostariam de se confrontarem agora?
Platéia – Acho que o nosso, o grupo dos filhos.
Platéia – Acha que podemos ir novamente, Ana Lúcia? O grupo de pais?
Ana Lúcia – Lógico. Então... fazer um diálogo destes pais com os filhos.
Dramatização do grupo de pais & filhos.
P – Olá, filha! Foi tudo bem aqui em casa, hoje?
F – Foi sim, pai. A gente fez as lições com a B. e depois a gente ficou brincando. A
mamãe chega tarde hoje?
PNa hora de sempre. Lá pelas 10 horas da noite. Mas olha, filha, eu queria que
vocês ficassem quietinhos agora, porque vai começar o jogo do Corinthians, e não
quero barulho em casa. Tudo bem?
F – Tudo bem, pai, mas quando não é o computador é o jogo do Corinthians. Eu
até já estou ficando com raiva deste Corinthians. Eu precisava que você me
ajudasse na lição de Inglês e, como a mãe não está em casa, eu queria que você
fizesse comigo.
P – Só depois do jogo, filha. Vocês estão cansados de saber que não abro mão do
meu jogo. Só depois do jogo, você entendeu?
F – Sim pai, entendi.
F – Mas não dá para, no intervalo, você jogar aquele jogo que eu gosto, comigo?
P – Lógico que não, filhinha, porque na hora do intervalo tem os melhores
momentos do jogo. Eu te garanto que é uma das melhores partes. Você não quer
ficar aqui, assistindo comigo?
Platéia – (Risos.)
F – Mas pai, você já percebeu que você sempre tem uma coisa para faze. quando
eu chamo para me ensinar? Hoje é o jogo, ontem você precisava fazer um
trabalho no computador, no outro dia você estava cansado...
P – Eu acho que a sua mãe anda reclamando muito para você. Tenho certeza de
que é ela que anda falando estas coisas para você.
F – Não, pai. Minha mãe não me disse nada, eu estou falando para você o que eu
sinto. É verdade que você tem sempre uma coisa para fazer e nunca está disposto
a fazer qualquer coisa comigo.
Ana Lúcia – Congela esta imagem desta filha decepcionada, triste, e deste pai
empolgado com o jogo. Tentem fixar na memória estas imagens.
Ana Lúcia – Vamos dar continuidade com o diálogo de mais dois grupos. Quais
são?
Platéia – Acho que poderia ser o nosso grupo, o grupo das babás.
Platéia – Poderia ser o nosso também? O grupo de filhos?
Ana Lúcia – Lógico que pode.
B Vamos, está na hora de dormir. Se sua mãe chegar e vocês estiverem
acordados, vocês vão levar uma bronca.
F – Eu não quero dormir agora.Vou esperar a minha mãe chegar porque eu
preciso falar com ela.
B – Você não sabe que a sua mãe só chega tarde, e que toda vez ela fica brava
porque vocês estão acordados?
F – É mesmo, mas eu vou esperar a minha mãe chegar.
B – Vamos lá, eu conto uma estória para vocês e fico no quarto até que vocês
durmam, está bem?
A criança corre para o colo da babá e se abraça a ela. Enquanto isto, a mãe
chega.
Ana Lúcia – Congela esta imagem, e eu gostaria que vocês fixassem na memória
esta afetividade demonstrada pela criança à babá e a cara perplexa de ciúmes da
mãe, quando entra no quarto.
Ana Lúcia – Agora, qual será o próximo grupo?
Platéia – Pode ser o nosso, o grupo de mães junto com o grupo de babás?
(As mães que estavam no grupo de mães mostraram-se muito incomodadas com
a cena anterior, e por isso fizeram este pedido.)
Ana Lúcia – Lógico, grupo de mães. Por favor, o grupo de babás levante-se
novamente, e vamos começar a dramatização.
(O grupo de mães pediu para dar continuidade à cena anterior e a diretora
aceitou.)
M – Sabe, eu não gosto muito de que você fique neste lenga-lenga com esta
menina. É por isso que quando você não está aqui esta menina é um porre. Chora
por tudo, faz birra por tudo, tudo o que eu vou fazer ela reclama. Não estou
gostando muito disso.
B – Mas patroa, eu estava tentando fazer ela dormir e ela insistia em esperar a
senhora. Só que eu sei o quanto a senhora fica brava quando chega e os dois
estão acordados.
M – Olha aqui, não tem explicação, você está estragando estes meninos. Eu não
gostei muito do que vi.
(Neste momento, a diretora do Sociodrama faz uma intervenção, pedindo a um
dos ego-auxiliares para fazer um duplo junto à mãe.)
E.A – Por que será que estou me sentindo tão incomodada por ter visto o carinho
que minha filha fazia na babá, quando eu cheguei?
M – Acho que por causa da falta de tempo e de intimidade que eu tenho com a
minha filha.
E.A – Eu preciso fazer uma reflexão do que estou fazendo com a minha vida e a
vida dos meus filhos.
M – É, eu preciso mesmo, todo dia me culpo por ter que sair para trabalhar, deixar
meus filhos na Escola, com a babá. É uma tortura emocional diária
(A diretora deu alguma senha no ouvido do ego-auxiliar, para que ele desse
continuidade ao trabalho.)
E.A – Será que eu não consigo me programar para ter algumas horas diárias com
os meus filhos, nem que seja meia-hora, e, ao invés de dar muito tempo para eles,
eu tentar ter uma qualidade durante este pequeno tempo que eu tenho para eles?
M – Não sei, ou melhor, eu acho que esta pode ser a saída, porque quando estou
com eles em casa, sempre estou fazendo alguma coisa, ou arrumando a casa, ou
no computador, ou cozinhando, ou conversando com meu marido. Então eles
reclamam.
E.A – Até que ponto eu misturo meus papéis, tanto o trabalho, como a casa e a
família?
M – Eu acho que tenho realmente misturado meus papéis, eu já nem sei o que é
ser mãe, dona de casa ou trabalhadora.
(Neste momento, percebeu-se que a protagonista misturou os papéis na
dramatização e começou a chorar. A diretora deu outra senha para o ego-auxiliar.)
E.A – Eu sei que estou muito triste, porque estou constatando que muitas vezes
eu quero ser uma mãe perfeita, mas olha, eu também tenho que enxergar que
perfeição não existe, muito menos na vida de uma mãe que trabalha fora, que tem
tantas atividades para desempenhar, que tem tantas responsabilidades. Eu
preciso enxergar isto, eu preciso aceitar em pedir ajuda para o meu marido,
preciso aceitar que minha filha possa ter uma relação de carinho com as outras
pessoas sem achar que ela vai deixar de gostar de mim, ou vai gostar mais do
outro. Seria muito bom que eu conseguisse olhar o outro lado, que eu trabalho
porque tenho objetivos na minha vida, que eu trabalho porque preciso concretizar
estes objetivos. Acho que assim poderia me sentir menos culpada, poderia curtir
mais os meus filhos, enfim, preciso rever algumas coisas...Acho que fico ouvindo
um montão de coisas internas que minha mãe falava, sentia, porque ela também
trabalhava. Tudo isto é horrível...
(Neste momento, quando se olhava para a platéia, a maioria das mães estava de
olhos vidrados na dramatização, e boquiabertas.)
M – Acho que realmente preciso rever algumas coisas...
Ana Lúcia – Realmente, você acha que precisa rever algumas coisas? Mas, aqui
no nosso trabalho você conseguiu perceber uma série de coisas e você poderá
levar muitas delas para repensar a tua vida.
M – Acho que sim. Passei a minha vida inteira, desde que tive filhos, sem parar
para pensar.
Ana Lúcia – Você acha que isto está sendo um começo?
M – Acho que sim.
Ana Lúcia – Você, mãe, está bem agora?
M – Acho que sim.
Ana Lúcia – O que dizer “acho que sim”, agora?
M – Acho que realmente preciso rever algumas coisas. Eu sempre tive a
impressão, ou sempre me cobrei de ser uma supermãe.E estou começando a
perceber que talvez não precise de tudo isto.
Ana Lúcia – Gostaria de falar para vocês que o mito da “supermãe” muitas vezes
pode nos tornar muito infelizes, porque ele na realidade é um mito mesmo. Não é
real. A supermãe não existe, porque somos humanas, temos nossos deveres,
nossas ansiedades, nossos pontos fracos. Muitas vezes precisamos aceitar que
somos impotentes perante a situação, e que não adianta ficar lutando contra ela.
Precisamos construir um movimento de aceitação das nossas limitações e aceitar
que, em alguns momentos, podemos errar, teremos o direito de não poder fazer,
teremos que aceitar o contato com um filho decepcionado conosco. E tudo bem, a
compensação é dada mais tarde, diante de pequenas coisas. Vamos aceitar os
nossos limites. No Sociodrama a respeito dos limites eu sempre falo que mães
que têm limites conseguem fazer os filhos aceitarem os limites.
Ana Lúcia – Realmente muito bom, gostaria que vocês ficassem ligados no
contexto desta cena, desta mãe paralisada, para depois, na finalização,
discutirmos um pouco sobre ela.
Ana LúciaNós precisamos dar continuidade, mas precisamos ser um pouco
breves, por causa do nosso tempo. Quais grupos gostariam de dramatizar agora?
Platéia – Acho que podemos dramatizar os dois grupos juntos, o de pais e de
mães, com o grupo das creches/escolas, pode ser?
Ana Lúcia – Não era isto o programado, mas pode ser. Isto é o Sociodrama.
Dramatização dos grupos de mães e pais conversando com a diretora da
creche
M/P – Acho que está havendo alguma coisa com o meu filho aqui na Escola, já é
o terceiro dia que ele chega em casa mordido. No primeiro dia mandei um bilhete
para a professora, na agendinha, no segundo dia vim pessoalmente falar com ela,
e neste mesmo dia o garoto chegou com uma mordida grande, talvez a maior
delas.
C/E – Ela me passou o que aconteceu e nós tomamos as devidas providências,
mas este garotinho que morde é terrível, já inclusive conversamos com os pais
dele, mas eu garanto que ficaremos mais atentos para isto.
M – Eu acho que, se é um caso que vem acontecendo também com outros alunos,
vocês deveriam tomar uma providência mais eficaz. Sei lá, separar esta criança
das outras, não deixá-lo freqüentar a escola. Não sei, mas não acho que uma
criança que vive mordendo os outros pode ficar sem uma vigilância maior. Eu não
tenho filho para servir de mordedor para nenhuma criança.
C/E – Acho que a Escola cumpre o seu papel quando informa aos pais o que está
acontecendo. Informamos aos pais desta criança, e as vezes que vocês nos
procuraram estivemos todo o tempo disponível. Não creio que houve negligência
da nossa parte.
M – Acho que houve sim, porque o meu filho chegou em casa com mordidas no
corpo várias vezes. Eu acho que a Escola não deve expor tanto a criança assim,
à medida que aconteceu uma vez, você deveria ter ficado muito mais atenta.
P – Você não acha que está exagerando um pouco, querida? São crianças, deixe
que eles se defendam. Estas coisas acontecem!!!
M – Não é possível que você ainda acha que a Escola está certa. Eu não sei
mesmo o que você pensa da educação dos nossos filhos. Se eu não fico em cima,
é capaz de acontecer alguma coisa muito grave com as crianças.
P – Alguma vez já aconteceu alguma coisa muito grave com as crianças?
M – Não, ou melhor, olha aí, agora está acontecendo uma coisa muito grave com
nosso filho. Faz alguns dias que ele chega em casa mordido por algum canino que
tem na classe dele.
P – Querida, olha como você fala. Você desta forma agride alguém.
C/E – Acho que a senhora está preocupada. imaginando que isto pode acontecer
novamente, mas eu lhe asseguro que não deixaremos que isto se repita.
P – Eu acho que na realidade procuramos a senhora para conversar sobre o
trabalho educativo para pais que vocês disseram, no ano passado, que iriam
fazer. Como vocês não mandaram nenhum folheto dizendo que isto poderá
acontecer este ano, então resolvemos vir cobrar. Daí, como nosso filho veio de
novo com o braço mordido, então falamos sobre isto também.
C/E – Acho que o trabalho educativo acontecerá no segundo semestre, em função
de que teremos que contratar um profissional para isto. As coisas aqui acontecem
um pouco devagar.
M – Eu acho isto mesmo, porque estou indo trabalhar todo dia preocupada.
Imagine você o que é a gente não desligar do filho quando está trabalhando, e
imagine também o grau de culpa que sinto quando meu filho chega em casa com
uma mordida no braço. Parece que não tem mãe para cuidar dele.
Diretora pede ao ego auxiliar para fazer um duplo junto à mãe.
E.A – Como eu gostaria de controlar tudo referente ao meu filho! Como eu
gostaria que nada de mal acontecesse a ele! É impressionante como às vezes eu
acho que sou uma super mãe. Mas eu tenho que aceitar que outras pessoas
podem cuidar do meu filho. Em relação à mordida mesmo, eu preciso aceitar que
em qualquer lugar que ele estiver, mesmo se eu não estiver trabalhando, alguma
criança poderá mordê-lo. Será que eu não preciso deixar que ele comece a
aprender a se defender?
M – (Ficou olhando o Ego Auxiliar, atônita.)
A mãe não conseguiu manter-se no papel e começou a defender-se como mãe.
M – Como você acha que eu posso deixar que uma criança tão pequena se
defenda sozinho? Ele tem só 5 anos, ainda é um bebê.
Diretora dá algumas senhas para o ego-auxiliar, baixinho.
E.A – Não sei, acho que ele não é tão bebê não. Quando ele quer uma coisa, ele
fica fazendo um montão de birra para chamar atenção e ficarmos sempre junto
dele, mas agora é importante que estejamos atentos para que ele comece a se
defender... Será que sempre estaremos junto dele, para defendê-lo?
M – É lógico que não, mas é importante a segurança dele. Acho que ele faz a birra
algumas vezes para chamar a nossa atenção mesmo.
E.A – Eu acho que nós estamos menosprezando a capacidade do nosso filho em
conseguir resolver suas dificuldades.
M – É, pode ser.
C/E – Eu garanto que ficaremos atentos e o ajudaremos a defender-se, caso
aconteçam novos episódios.
M – Eu espero, estou confiando mais uma vez em vocês.
Ana Lúcia – Gostaria que vocês também lembrassem desta finalização, para
fazermos alguns comentários no final. Esta cena da mãe duvidando da
capacidade dos dirigentes da creche em direcionar o dia-a-dia da creche de
maneira eficaz.
Ana Lúcia – Que grupos gostariam de dramatizar agora?
M – Acho que agora poderíamos conversar com o grupo de filhos. O que é que
você acha?
Ana Lúcia – Vocês estão dispostas?
M – Sim. É lógico que estamos dispostas. É para isto que estamos aqui.
Ana Lúcia – Então podemos dar continuidade ao trabalho.
Dramatização do grupo de mães &filhos.
M – Filhinho, estou indo para o trabalho. Vem cá para a mamãe, dá um beijinho.
F – Mas mãe, será que você não pode ficar sem trabalhar hoje. Eu queria tanto
que você ficasse em casa. Todo dia você vai trabalhar, é muito chato.
M – Mas filho, a mamãe precisa trabalhar para ajudar o papai a pagar as contas
da casa. A mamãe precisa trabalhar para comprar brinquedos para vocês.
F – Mas eu não quero que você vá trabalhar hoje. Eu não quero. Você não vai
trabalhar hoje. (Faz birra e chora).
M – Pára de chorar, filho. Eu não agüento mais, toda vez que eu tenho de sair
você fica chorando. Eu não agüento mais isto.
F – Buá! Buá! Buá! (chora desesperadamente).
M – Meu Deus, por que é que este menino grita tanto? Será que eu não posso
mais sair para trabalhar? Será que agora vou ter que sair todo dia escondido?
F – Buá! Buá! Buá! (chora desesperadamente).
M – (Sai do papel e fala: Não sei mais o que fazer...)
Ana Lúcia – Podem fixar a imagem deste filho chorando e desta mãe agoniada.
Ana Lúcia – Vamos interromper esta cena entre mãe e filho e vamos fazer de
contas que esta mãe sai de casa e entra no carro. Vamos imaginar a trajetória
desta mãe até o trabalho.
Dramatização da mãe no carro, indo para o trabalho.
M – Meu Deus, que coisa ruim. Todo dia este menino chora tanto. Acho que sou a
mãe mais desnaturada do mundo. Ás vezes eu acho que não ligo para o meu filho.
Também, aquela babá, nem para me ajudar. Viu só a cara dela? Toda vez ela fica
paralisada, sem saber o que fazer.
M – Também, aquele danado do meu marido bem que podia me dar uma
mãozinha e sair um pouquinho mais tarde. Mas, para ele só existe o trabalho dele.
Até parece que é só ele que ganha dinheiro nesta casa. Eu só queria ver se fosse
só ele que trabalhasse, se daria para pagar as contas na boa e dar para a gente
fazer tudo o que a gente faz.
Platéia – (Risos.)
M – Eu acho que fico sentindo estas coisas porque tenho chegado muito tarde em
casa. Acho que realmente tenho trabalhado muito. Não é para menos, só tenho
visto meu filho quando ele acorda e quase na hora dele dormir. Acho que daqui a
pouco ele vai gostar mais da babá do que de mim. O que é que eu faço? Se eu
parar de trabalhar, nem de longe vamos poder dar uma vida boa para ele. Será
que dará para pagar todas as contas?
M – Eu nunca imaginei ter filhos para passar por esta situação. Também, acho
que sobra tudo para mim. Não viu ontem? Depois que sai do trabalho ainda tive
que ir ao supermercado, sacolão. (Mãe faz uma cara de coitadinha!!!)
Platéia – (Risos.)
M – (Começa a chorar.)
Ana Lúcia – (Pede para duas mães fazerem o papel de egos auxiliares, dando
mensagens positivas de como aquela mãe poderia mudar a maneira de pensar
diante daquela situação, e colocou um dos egos-auxiliares para fazer o papel de
diabinho, atrás da mãe.)
Ana Lúcia – O que vocês poderiam dizer a esta mãe, para que ela não se sinta
tão culpada por trabalhar todo dia?
E.A (mães) – Acho que você poderia começar a pensar no quanto é bom para
você trabalhar, no quanto te gratifica ser reconhecida profissionalmente.
E.A (mães) – Você poderia começar a sentir-se menos pressionada diante do seu
filho, ele tem que aprender que precisa te dividir com as outras coisas da vida.
E.A (mães) – Está na hora de você pedir ajuda ao seu marido. Eu acho que, se
você pedir, com certeza ele vai te ajudar. Eu acho que você pensa que pode fazer
tudo sozinha. Conversa com ele, e quem sabe tudo isto muda.
Ana Lúcia – (Dá uma senha para o diabinho.)
Diabinho – Imagina, mãe, elas não sabem o que estão falando. É lógico que toda
a responsabilidade de casa é sua. Afinal, você é que é a mão, você é que tem que
fazer tudo pelo seu filho. Há!Há! Há! Pedir ajuda a teu marido... Imagina se aquele
lá vai deixar de fazer as coisas dele para te ajudar. Imagina se ele vai sair do
trabalho mais cedo para fazer coisas em casa!
M – Eu acho que você está enganado, eu acho que meu marido vai me ajudar
sim. É que eu realmente nunca achei que devia pedir ajuda.
E.A (mães) – É isso, nós mães estamos sempre procurando um jeito de fazer tudo
sozinho, e quando as pessoas reconhecem a gente fica feliz, mas, se ninguém
nota isto, a gente fica muito brava. Principalmente se for o marido. Como a gente
precisa de que o marido diga sempre que nós somos as melhores mães e
esposas do mundo! E como nunca eles dizem, é uma frustração total.
Diabinho – Mas tem que ser assim mesmo, vocês têm que se sacrificar muito,
porque toda a mãe se sacrifica muito.
M – Não! Não! (Ficou muito brava, com a afirmação). Eu não quero que seja assim
para o resto da minha vida. Eu quero viver uma vida feliz, sem ter que ficar me
culpando todo dia, sem ter que ficar achando que sou sempre a pior. Eu quero
enxergar de uma maneira diferente, sem este olhar doente que eu tenho, e que
todo mundo quer que eu tenha.
E.A (mães) – Acho que o olhar que só nós temos. As pessoas não têm nada a ver
com isto. Quem sabe das nossas vidas somos nós mesmos.
As três mães cochicharam juntas e olharam para o diabinho, dizendo:
M – Pode sair daqui, seu diabinho. Pode sair. Já. Já. Já. Porque agora a gente vai
tentar fazer alguma coisa diferente.
E juntas fizeram um coro:
M – Nós vamos mudar. Nós vamos mudar.
Ana Lúcia – Muito bom, muito bom mesmo. Eu acho que estas mães podem fazer
muito, dentro dos seus papéis de mães.
Ana Lúcia – Agora vamos fazer o fechamento da dramatização da seguinte
forma:Vou relembrar para vocês algumas situações que observamos aqui nas
dramatizações. Vocês lembram daquela mãe furiosa e daquele pai perplexo, no
início da dramatização? Lembram também daquela filha decepcionada, triste, que
mendigava a atenção do pai? E daquele pai exaltadíssimo com o jogo do
Corinthians?E aquela cena em que a criança demonstrou uma afetividade muito
grande direcionada à babá, vocês lembram? E a cara de angústia da mãe? Agora
tentem lembrar da cena daquela mãe exaltada com os dirigentes da Escola do
filho. E, por último, façam um retrospecto da conversa daquela mãe com aquele
filho, agoniada, e daquele filho chorão, querendo chamar a atenção.Vocês
deverão, ainda em grupos, formar uma frase que possam está dizendo para cada
um dos grupos. E no momento certo irão ao centro da sala, para falar estas frases
bem.alto. Por exemplo: o grupo de pais vai elaborar uma frase para falar para o
grupo de mães, outra para o grupo de filhos, outra para o grupo de babás e outra
para o grupo de creche/escola. E assim por diante, os outros grupos farão o
mesmo. Entenderam?
Platéia – Sim, acho que ficou claro.
Ana Lúcia – Então podem começar elaborando estas frases. Os egos auxiliares
podem ajudar também.
Demonstração das frases dos grupos.
À medida que os grupos foram colocando as frases, a diretora escrevia numa
folha no flip-chart.Os grupos falaram as frases uma vez e a diretora pedia para
que repetissem mais alto.
1- Grupo de pais para grupo de mães:
-Tentem ser boas mães e não supermães. Pensem em vocês.
2-Grupo de pais para grupo de filhos:
-Respeitem suas mães. Tentem crescer sem dependência.
3-Grupo de pais para grupo de empregadas/babás:
Cuidem bem das crianças. Sejam fiéis aos patrões.
4-Grupo de pais para grupo de Escolas/creches:
Façam o seu papel e não descuidem da criança.
5- Grupo de filhos para grupo de mães:
Eu preciso ter oportunidade de crescer. Você pode me ajudar!
6-Grupo de filhos para grupo de pais:
Vocês podem ajudar as nossas mães.
7-Grupo de filhos para grupo de empregadas/babás:
Gostamos de vocês, procurem ajudar mais as nossas mães.
8-Grupo de filhos para grupo de Creche/Escola:
O tempo que passamos na Escola sempre é muito bom. Nos dê segurança.
9-Grupo de mães para grupo de pais:
Contamos com vocês!
10-Grupo de mães para grupo de filhos:
Vamos tentar não ser tão superprotetoras como foram nossas mães. Vamos
deixar nossos filhos crescerem.
11-Grupo de mães para grupo de empregadas/babás:
Não vamos competir com vocês, em relação aos nossos filhos.
12-Grupo de mães para grupo de Creche/Escola:
Temos que confiar em que outros podem cuidar bem dos nossos filhos.
13-Grupo de babás para grupo de pais:
Precisamos do emprego. Vamos cuidar bem do seu filho.
14-Grupo de babás para grupo de filhos:
Podemos gostar muito de vocês e cuidar bem ao mesmo tempo.
15-Grupo de babás para grupo de mães:
Vão trabalhar tranqüilas. Não queremos ser melhores do que vocês.
16-Grupo de babás para o grupo de creche/escola:
Vamos ajudar a criar estas crianças. Vamos ajudar estes pais e mães.
17--Grupo de creche/escola para grupo de mães:
Confiem em nosso trabalho. Nós vamos te ajudar.
18-Grupo de creche/escola para grupo de pais:
Vamos somar esforços para educar seus filhos.
19-Grupo de creche/escola para o grupo de filhos:
Façam da escola o melhor caminho para o seu crescimento.
20-Grupo de creche/escola para o grupo de empregadas/babás:
Podem contar conosco.
Ana Lúcia – Agora vocês vão repetir as frases direcionadas às mães.
Todos os grupos juntos:
-Tentem ser boas mães, e não supermães.
-Eu preciso ter oportunidade de crescer. Você pode me ajudar
-Vão trabalhar tranqüilas. Não queremos ser melhores do que vocês.
-Confiem em nosso trabalho. Nós vamos ajudar vocês.
Ana Lúcia – Vamos repetir um pouco mais alto.
Platéia – Tentem ser boas mães e não supermães.
-Eu preciso ter oportunidade de crescer. Você pode me ajudar.
-Vão trabalhar tranqüilas. Não queremos ser melhores do que vocês.
-Confiem em nosso trabalho. Nós vamos ajudar vocês.
Ana Lúcia – Repitam mais alto ainda. O grupo todo pode repetir. Mais alto.
Platéia – Tentem ser boas mães, e não supermães.
-Eu preciso ter oportunidade de crescer.Você pode me ajudar.
Vão trabalhar tranqüilas. Não queremos ser melhores do que vocês.
-Confiem em nosso trabalho. Nós vamos ajudar vocês.
Ana Lúcia – Muito bom mesmo, gente. Acho que este grupo trabalhou muito bem.
5) Comentários
Ana Lúcia – Podem sentar, e agora podemos fazer uma avaliação do que vocês
produziram aqui hoje. Em primeiro lugar, gostaria de saber do grupo de mães
como se sentiram fazendo o papel de mãe.
Platéia – Aprendi . Olha, Ana Lúcia, eu te garanto que foi muito difícil de entrar no
papel e separar o real da fantasia. Eu, particularmente, não consegui deixar de
pensar nas minhas coisas, nas minhas dificuldades. Então, eu acho que misturei
tudo, mas te asseguro que para mim este trabalho foi maravilhoso, eu aprendi
muita coisa que preciso pedir ajuda, preciso deixar que as pessoas me ajudem,
preciso dar um crédito de confiança às pessoas que querem me ajudar a educar
meus filhos. Eu acho que sempre fui muito louca, nunca deixei que ninguém
cuidasse literalmente dos meus filhos. Para mim foi bárbaro. Estou saindo deste
trabalho muito bem.
Platéia – Acho que este trabalho me fez parar para pensar numa série de coisas.
Eu, quando resolvi ter filhos, disse para mim mesmo que iria fazer de tudo para
ser uma boa mãe, e até agora eu acho que não consegui conciliar os meus
papéis. Não consigo trabalhar bem e ao mesmo tempo cuidar das coisas da minha
casa e dos meus filhos, ao mesmo tempo. Com tudo que eu ouvi aqui, acho que
deu para despertar em cima de algumas coisas.
Ana Lúcia – Acho que isto que você falou é uma das coisas mais importantes que
devemos enfatizar neste trabalho. Nenhuma mulher deveria ter que fazer uma
escolha entre ter uma vida independente e, por outro lado, ter filhos. O que
deveria acontecer é que as duas coisas tenham condições de fluir conjuntamente,
onde a mulher pode buscar seu movimento de tornar-se independente e buscar o
seu papel de mãe sem de maneira nenhuma cometer alguns sacrifícios em
relação à sua identidade. Ou seja, a mulher não pode e não deve de maneira
nenhuma ameaçar a sua identidade de mulher, mesmo que ela se torne mãe e
profissional. É lógico que para isto ela precisa formar alianças com o marido, para
ajuda-la na responsabilidade de criar e educar os filhos, e contar também com os
suportes de ajudar que tem à sua frente, como a babá, a escola e a família.
Platéia – Essa coisa de ter direito de desempenhar vários papéis sem culpa é
bem interessante. Só vai ser difícil fazer uma aliança com o meu marido. Não sei
como vai ser, mas acredito que esta pode ser a saída.
Ana Lúcia – Gente, nós precisamos terminar o trabalho, pois nosso tempo está
esgotado. Para finalizar, gostaria de pedir a vocês que preenchessem este
questionário de avaliação e, com apenas uma palavra, descrevam o sentimento de
vocês agora, no final do nosso trabalho.
Platéia – Mais tranqüila.
Platéia – Esperançosa de que as coisas podem mudar.
Platéia – Vou pedir ajuda.
Platéia – Não sou supermãe.
Platéia – Perfeição não existe.
Platéia – Posso ser uma boa mãe e uma profissional realizada.
Platéia – Estou mais tranqüila no meu papel de mãe.
Platéia – Estou preocupada em colocar tudo isto na prática.
Ana Lúcia – Bom, gente, gostaria muito de agradecer a todos pela participação e
lembrar que este trabalho é um dos trabalhos educativos que estamos fazendo
aqui na Cliap e que, no próximo mês, teremos outro. Ainda não sei qual será o
tema, mas com certeza vocês hoje vão me ajudar a definir. Pensem bem no seu
papel de mãe, e nunca esquecendo os outros papéis que você desempenha.
Pensem em cima do que vimos hoje, que os modelos de mãe que tivemos
influenciam nos nossos comportamentos atuais. Que é importante rever aquilo que
achamos que foram comportamentos inadequados e atualizarmos e pedir ajuda
quando alguma coisa estiver incomodando no papel que estamos
desempenhando.Boa noite para todos, e muito obrigado.
Sociodrama IV
Clínica Pediátrica- São Paulo-SP.
Tema: “Com os nossos filhos. Qual o limite dos limites?”
Data: 24 .06. 2004.
População: 26 pais. de nível superior, nível socioeconômico médio/alto, filhos
com idades de 0 a 15 anos.
1) Introdução
A diretora apresenta o trabalho educativo para pais da Clínica e fala de um novo
trabalho sobre limites, que é um assunto muito discutido no momento e que é de
total interesse de todos os presentes. Solicita a autorização dos participantes para
que o evento seja filmado. Em seguida, a diretora do Sociodrama se apresenta,
como psicóloga, psicodramatista, terapeuta de casais e de famílias. Diz que tem
quarenta e três anos, é casada, tem duas filhas, e que é a profissional responsável
por este trabalho educativo, na Clínica. No momento seguinte apresenta os egos
auxiliares e fala da proposta psicodramática.
Enfatiza o tema como importante, utilizando o elo de que pais sem limites podem
gerar filhos sem limites. Pede um momento de reflexão sobre os limites de cada
um em relação a seus filhos e o grupo traz, nesse momento, alguns sentimentos
que são externalizados em apenas uma palavra, como pede a diretora do
Sociodrama. As palavras pronunciadas são: angústia, tristeza, culpa, pena,
desespero, impotência, sofrimento, cansaço físico.
Ana Lúcia – Gostaria de agradecer a participação de todos os pais que estão
conosco hoje, pois sei o quanto é difícil para se deslocarem para um evento como
este, o que para mim é muito importante, porque tenho certeza de que vamos
poder introduzir para vocês um momento de reflexão para que se fortaleçam e se
instruam em relação a como desempenhar os papéis de pais de forma segura e
tranqüila.O tema que teremos hoje é um tema bastante interessante, e que hoje
mobiliza muito os pais, porque cada vez mais estes procuram modelos mais
eficazes para a educação dos filhos. O trabalho que faremos hoje é um trabalho
um pouco diferente, chama-se Sociodrama. Alguém daqui já ouviu falar no
Sociodrama?
Platéia – Não. (Todos da platéia levantaram a mão, dizendo que não.)
Ana Lúcia– Sociodrama é uma técnica que tem como base o Psicodrama, que foi
criado por Jacob Levi Moreno, médico suíço que usou recursos do Teatro, da
Sociologia, da Psicologia e da Antropologia para fazer trabalhos com grupos. O
Sociodrama trabalha o grupo com os recursos do próprio grupo. Neste trabalho,
podemos representar papéis, ou seja, eu posso ser uma outra pessoa durante o
trabalho, representar a vida daquela pessoa. Por exemplo, eu posso ser Marina,
uma filha de 10 anos que adora testar os limites dos meus pais.
Ana Lúcia– Antes de começarmos o trabalho, gostaria de conhecer este grupo.
Gostaria de conhecer a idade deste grupo. Quantos de vocês têm até 21 anos?
Platéia-Somente 02 pessoas levantaram as mãos.
Ana Lúcia- De 22 a 35 anos, 15 pessoas levantaram.
Platéia-Mais de 35 anos, 09 pessoas levantaram.
Ana Lúcia – Seria importante saber quantos daqui são casados.
Platéia- 20 levantaram as mãos.
Ana Lúcia- Separados ou divorciados?
Platéia- 04 levantaram.
Ana Lúcia- Solteiros?
Platéia-Apenas 02 levantaram as mãos.
Ana Lúcia– Quantos tem filhos na idade de 0 a 7 anos?
Platéia-24 levantaram as mãos.
Ana Lúcia- De 08 a 15 anos?
Platéia- 2 pais levantaram as mãos.
Ana Lúcia – Quem de vocês algum dia já teve problemas de colocar limites com
os filhos?
Platéia- Somente 06 pais levantaram as mãos.
Ana Lúcia– (Faz comentário de que, com certeza, esta amostragem pode estar
sendo prejudicada pela forma como eles estão avaliando as dificuldades.) Vou
reformular a pergunta. Em alguma situação na vida de vocês e de seus filhos,
alguns de vocês tiveram dificuldades de contornar algumas situações difíceis
pelas quais os filhos passaram, quando tiveram seus desejos de ter ou querer
alguma coisa e vocês negaram? E, como reão a esta negação, os filhos tiveram
algum tipo de comportamento inadequado que vocês não puderam contornar de
maneira tranqüila?
Platéia – Todos levantaram a mão.
2) Fase de aquecimento inespecífico:
Ana Lúcia – Para iniciarmos o nosso trabalho, gostaria de colocar uma música
para que vocês possam ouvir. Por favor, ouçam com atenção a letra e procurem
se sensibilizar com o que estão ouvindo. A música faz parte da seleção de
músicas que foram cantadas para falar sobre os direitos universais da criança. A
música chama-se Errar é humano.
Declaração Universal dos Direitos da Criança:
“A criança tem direito de ser compreendida, deve ter
oportunidade de se desenvolver em condições de
igualdade de oportunidades, com liberdade
dignidade ”.
Música : Errar é humano (Toquinho)
Não, não é vergonha não,
você não ser o melhor da Escola
campeão de skate , o bom de bola,
ou de natação
Não, não é vergonha não,
aprender andar de bicicleta
se escorando em outra mão.
Não, não é vergonha não.
Você não saber a tabuada,
negar uma onda,
contar piada, rodar peão.
Não, não é vergonha não,
precisar de alguém que ajude
a fazer sua lição.
A vida irá, você vai ver aos poucos
te ensinando, decerto você vai
saber , errando, errando , errando.
Não, não é vergonha não,
Ser da turma toda o mais gordinho,
Ter pernas tortas,
ser bem baixinho ou grandalhão.
Não, não é vergonha não,
todo ser tem algum defeito,
NÃO EXISTE A PERFEIÇÃO.
A vida irá você vai ver aos poucos
te ensinando, decerto você vai saber,
errando, errando, errando.
Não, não é vergonha não,
Aprender andar de bicicleta
se escorando em outra mão.
Não, não é vergonha não,
Precisar de alguém que ajude
a fazer sua lição,
Não, não é vergonha não.
Todo ser tem algum defeito,
não existe a perfeição. > BIS
Ana Lúcia – Esta música teve algum significado para vocês ?
Platéia – Me lembrou o quanto eu fui cobrada quando era pequeno, meu pai era
muito general, e, por mais que a gente fizesse, para ele nunca estava bom.
Platéia – Fiquei muito emocionada. É uma música que mexe com o lado frágil do
ser humano, mexe com as dificuldades da criança, de adaptação ao meio social,
de atender às exigências dos pais, enfim, me comovi...
Platéia – Para mim foi bem interessante a experiência, porque eu vivi um pouco o
que passei na minha infância. Meu pai era muito general, general mesmo. E olha
que coisa engraçada! Ouvindo esta música pude, de uma certa forma, lembrar que
ele exigia que a gente fosse o melhor, fizesse tudo melhor que os outros. Para nós
foi muito ruim, porque a gente vivia sob pressão.
Platéia – Eu me lembrei que tinha muito medo de fazer as coisas porque os meus
pais tinham um nível de exigência muito grande e eu não queria decepcioná-los;
então, não conseguia fazer tudo bem feito, porque era exigente comigo mesmo.
Ana Lúcia– Foi muito interessante a percepção de vocês. É verdade que o que
acontece na nossa infância nos marca muito, e o que acontece agora faz com que
nós, inconscientemente, repitamos alguns padrões que aprendemos com os
nossos pais. Portanto, é importante, antes de falarmos dos limites com os nossos
filhos, que nós possamos falar sobre os limites que nós, pais, temos diante das
situações e, principalmente, diante da educação dos nossos filhos.
Ana Lúcia– Para que possamos vivenciar um pouco este contexto, iremos fazer
uma vivência que se chama imaginação ativa. Vocês vão fechar os olhos e sentar
de maneira confortável nas cadeiras e tentar relaxar o corpo. Não vamos fazer um
relaxamento completo, mas tentar relaxar o corpo bem lentamente.
3) Aquecimento Específico
Ana Lúcia- Então, podemos começar:
Tentem ficar numa posição confortável na cadeira.
Vocês vão agora tentar voltar no tempo. Tente fazer uma viagem no tempo e
procurem sentir-se com mais ou menos três, quatro anos. Imaginem como
estariam vivendo naquele momento, seus pais, seus irmãos. Tentem sentir as
coisas pelas quais passaram naquela ocasião.
– O que os seus pais ensinavam?
– O que seus pais faziam, quando não obedeciam?
– O que seus pais diziam, quando você fazia uma coisa errada?
– Qual era a posição de seu pai e da sua mãe, quando você errava?
– O que eles faziam para te agradar? Comprava brinquedos caros para você?
– Levava você para passear sempre?
– Que limites vocês acham que seus pais colocavam para você?
– Você lembra deles terem conversado bastante para que você mudasse um
comportamento?
– Você lembra de ter apanhado alguma vez?
– Que sentimentos você sentia, a cada vez que apanhava?
– Que limites você aprendeu com eles?
– Agora podem avançar no tempo e tentem ir caminhando com o seu
desenvolvimento.
– Pensem que limites vocês desenvolveram durante a sua vida.
– Imaginem agora o momento em que decidiram ter filhos.
– Pensem em que características vocês esperavam que este filho tivesse.
– Que características de personalidade vocês achavam que este filho teria,ou, até
mesmo, que vocês gostariam que ele tivesse?
– Ter limites é colocar algumas barreiras, é fazer parar, é algumas vezes parar.
Ter limites é respeitar o outro, é não ser auto-suficiente, é não usar a força do
poder, e não usar a força física para alcançar alguns objetivos.
– O que está acontecendo com vocês, hoje?
– Agora vocês vão pensando no momento agora, o que estão fazendo com vocês
hoje, o que estão fazendo com seus filhos hoje...
– Parem devagar, relaxem o corpo e aos poucos vão voltando para esta sala, aos
poucos vão sintonizando neste trabalho, aos poucos vão tentando abrir os olhos.
Tentem chegar de novo para falarmos sobre os nossos limites, sobre os limites
com os nossos filhos.
Ana Lúcia – Agora eu gostaria que vocês fossem me falando sob a experiência
que tiveram fazendo esta vivência.
Ana Lúcia- Eu vou anotar as situações importantes que aparecerem.
Platéia – Eu lembrei muita coisa. Na minha casa a gente apanhou muito. O meu
pai não batia, mas a minha mãe só conseguia as coisas com a gente se batesse.
Ela era muito severa, muito autoritária. Acho que isto não foi bom para mim,
porque acho que deixo o meu filho fazer tudo, para que ele não sofra o que eu
sofri.
Ana Lúcia – Você acha que o autoritarismo foi uma coisa que imperou na sua
casa?
Platéia – Sim, porque tudo o que ela conseguia era imposto, eu lembro que não se
conversava, não se explicava nada.
Ana Lúcia – Primeiro vai anotar, então, Autoritarismo.
Platéia – A experiência, para mim, foi uma viagem à minha infância,
principalmente onde a gente viveu uma época de medo. Na minha casa meu pai
só bastava olhar que nós já mudávamos a postura, não fazíamos novamente o
que estávamos fazendo. Nós éramos 8 irmãos, e não era fácil colocar limites na
conversa.
Platéia – Estou com uma sensação muito ruim hoje, porque antes eu achava que
a educação que os meus pais havia nos dado tinha sido ruim, repressora, mas
hoje me questiono se a falta de limites mais rígidos não gera um comportamento
inadequado de birra, de sensação de poder, para os filhos. Questiono-me se não
eram os meus pais que estavam certos.
Ana Lúcia – De uma certa forma, esta questão se apodera de muitos de nós,
porque nem sempre as nossas investidas em acertar, quando educamos, dão
certo.
Muitas vezes, nós ficamos paralisados diante de algumas atitudes dos nossos
filhos, quando colocamos limites, mas para isto estamos aqui hoje, com certeza,
para redefinir os papéis dos pais na educação dos seus filhos.
Ana Lúcia – Diante de todas estas questões levantadas, agora nós vamos nos
dividir em 06 grupos, e cada grupo vai discutir sobre alguns tipos de pais e que
tipos de filhos cada um deles pode gerar.
Os tipos de pais que evidenciaremos são os seguintes:
Pai Autoritário, Pai Permissivo e o Pai Democrático.
Os tipos de filhos: Filhos Reprimidos , Inseguros ; Filhos Birrentos, sem limites ;
Filhos Participativos e seguros .
A senha dada para os grupos foi de que deveriam montar um perfil desses tipos
de pais e de filhos, e, em seguida, montar uma dramatização de cada pai atuando
com o filho que o grupo caracterizou como reflexo daquele tipo de pai.
Nesse momento, os grupos se reuniram e discutiram sobre os tipos de pais e
filhos, com a ajuda da Diretora e dos egos auxiliares.
A elaboração feita pelo grupo foi a seguinte:
GRUPO DE PAIS
Grupo 1: Pais autoritários:
-regras rígidas.
-não se comunicam com os filhos.
-não negociam.
-não dá à criança o direito de errar.
-muitas vezes julgam e criticam os sentimentos da criança.
-não se preocupam com os sentimentos /emoções da criança.
-se preocupam com que a criança obedeça à autoridade.
-só valorizam o comportamento bom.
Grupo 2: Pais Permissivos:
-O SIM é a tônica destes pais.
-Falta de clareza nas regras.
-Desgaste, cansaço - ampliam a permissividade.
-Compensam a culpa da ausência dando ou fazendo TUDO.
-Não valorizam os sentimentos da criança.
-Atendem aos desejos da criança. e não às necessidades.
-Fazem tudo para que as reações emocionais negativas da criança desapareçam
logo.
-Fica preocupado em não se descontrolar emocionalmente.
Grupo 3: Pais democráticos, participativos:
-Conseguem perceber e valorizar os sentimentos da criança.
-Não precisam resolver todos os sentimentos da criança.
-Aceitam as expressões emocionais negativas da criança.
-Educam, diante de uma expressão negativa da criança.
-Conseguem impor limites e não se sentem culpados por isto.
GRUPO DE FILHOS
Grupo 1- Filhos reprimidos, inseguros:
-Aprendem desde cedo que os sentimentos são errados.
-Quanto maior a repressão, maior a insegurança.
- Baixa auto-estima.
-Incapacidade de assumir-se diante dos outros.
-Procura sempre muletas/ajudas.
-Dificuldade de sociabilizar-se.
-Agressividade: “ferve em pouca água”.
-Expressividade e espontaneidade limitadas.
-Falta de liderança.
-Necessidades de aprovação dos outros para tomar decisões.
-Expressões emocionais desproporcionais e desequilibradas.
-Criança tem dificuldades de fazer amizades.
Grupo 2- Filhos birrentos e sem limites:
-Chora muito para conseguir o que quer.
-Aprende desde cedo que sentir é errado.
-A criança acha que tem alguma coisa errada com ela.
-Exigente.
-Não obedece, manipulador.
-Mimado demais pelos pais.
-Testa os limites de todos.
-Falta de valores.
-Sempre insatisfeito.
-Quer ser sempre o centro das atenções.
Grupo 3- Filhos participativos, seguros:
-Sempre confiam nos sentimentos.
-Procura resolver os problemas.
-Tem auto-estima elevada, porque confiam no que pensam e no que fazem.
-Aprendem facilmente porque acreditam no seu potencial.
-Criança se relaciona bem, em geral lideram grupos.
-São agitados, e muitas vezes autoritários.
Ana Lúcia – Podemos agora enfatizar estes tipos de pais e filhos, observando a
característica de cada um deles. Procurem se identificar dentro destes três grupos
e insiram os seus filhos dentro de um deles também. Pensem quietos, não falem,
não comentem sobre seu pensamento, guarde ele só para você. Procurem
imaginar como seria sua relação com o seu filho se você assumisse outro papel
diferente de pai/mãe. Imaginem vocês atuando junto a eles. Guardem esta
lembrança para vocês.
Ana Lúcia – Agora vocês irão representar estes tipos de pais e de filhos. Portanto,
o primeiro grupo de pais e de filhos... podem vir para frente, e façam a
dramatização.
4) Fase de Dramatização
Dramatização 1-
Pais autoritários / filhos reprimidos e inseguros (Foto-Anexo 4)
No primeiro momento da dramatização, o grupo fez um diálogo entre uma mãe e
um filho de 15 anos:
F – Mãe, posso sair com meus amigos hoje á tarde, para o Shopping?
M – Lógico que não! Eu não já te falei que você só pode sair conosco. Você
imagina se acontece alguma coisa com você! O seu pai me mata!
F – Mas mãe, todos os meus colegas vão ao cinema, por que eu não posso ir?
M – Olha, filho, na época da mamãe não tinha cinema, não tinha Hopi Hari, não
tinha nada. O que seu avô falava era lei. Nós já deixamos vocês fazerem um
monte de coisas; portanto, não adianta insistir.
F – Tá bom, mãe, eu acho mesmo que não seria bom ir sozinho com os amigos,
eu me sentiria melhor se vocês fossem.
No segundo momento da dramatização – Diálogo do filho com os amigos na
Escola.
Amigo – E aí, cara, vamos descolar um cineminha amanha à tarde?
F – Sabe o que é, cara? Meus pais não estão a fim de que eu saia sozinho, sem
eles.
Amigo – Pô, meu, que caretas que são seus pais! Tenta dar um rolê neles e dá
uma fugida, e a gente se encontra no Shopping.Você sempre fica fazendo tudo
que teus pais querem. Deixa de ser marica, tem tua própria opinião.
F – Não vai dar, cara, é jogo sujo fazer isto com eles. Meus pais sempre fazem
tudo o que eu quero, não é justo fazer isto com eles.
Turma da Escola – (Fica gozando com ele, chamando-o de mariquinha!!!!!!)
F – Fica triste e começa a chorar.
Dramatização 2- Pais permissivos / Filhos sem limites, birrento.
Diálogo entre pais e uma filha de 7 anos.
Pai lendo jornal e mãe fazendo um bordado numa toalha?
F – Posso descer lá embaixo com aquela roupa nova que você comprou ontem
para mim?
M – Não, filha, aquela roupa é para você ir para a festinha do teu primo, no
sábado.
F – Ah! Mãe, eu quero descer com ela hoje. Nem adianta você dizer que não que
eu vou descer com ela hoje.
M (Sem olhar para filha, diz) –Não, filhinha, deixe para usá-la amanhã, no
aniversário.
F – Mas eu quero usar hoje.
P – Vai, mulher, deixa a menina usar hoje. Amanhã ela usa outra. Você se liga em
umas coisas, que vou te contar....
F – Vai, mãe, deixa eu descer com ela hoje?
M – Tá bom, pára de me encher o saco e pode usar. (Fala sem desviar os olhos
do bordado.)
Dramatização 3- Pais democráticos/ Filhos participativos e seguros
Diálogo entre um pai e um filho de 10 anos.
O pai, vendo o filho um pouco triste, perguntou:
P Que houve, filho?
F – Sabe o Henry, ele de novo me provocou no recreio e me bateu.
P E você, o que fez, filho?
F – Eu não tenho coragem de bater nele, pai. Eu não gosto de bater nos meus
amigos.
P – Você está triste porque o Henry não te respeitou, não é?
F (chorando) – Além de não me respeitar, ele fica dizendo para todo mundo que
eu sou um bobão.
P – Mas você é um bobão?
F – Não. Mas eu não gosto que ele fale isto.
P – O que você poderia fazer para não se sentir tão triste numa situação como
esta?
F Acho que passar uma época mais distante dele. Não dar oportunidade dele
discutir e nem bater em mim.
P – Quem sabe, filho, se você se afastar do Henry pode ser que ele sinta falta da
tua amizade e te procure tendo uma postura diferente em relação a você.
F – Obrigado, pai, pela ajuda. É muito bom conversar contigo sempre.
Nas três dramatizações, o restante do grupo aplaudiu a produção dos colegas.
Ana Lúcia – O que vocês acharam dos trabalhos que os colegas produziram?
Platéia – Nossa, foi muito legal, porque deu pra gente perceber direitinho as
diferenças entre os tipos de pais.
Platéia – Para mim foi muito interessante porque percebi que sou totalmente
permissiva, a minha filha me vence pelo cansaço e eu não tenho forças para levar
a coisa adiante.
Platéia – É interessante, o pai democrático ele investe no sentimento e na boa fé
da criança.Achei isto interessante, porque muitas vezes, a minha preocupação
quando cedo a alguma exigência do meu filho é para que ele não sofra.
Platéia – Acho que aquela frase que diz: Não adianta ser pai, é importante
participar. Então, está correta?
Ana Lúcia – O que é que vocês acham desta frase?
Platéia – Esta frase é bem elaborada, porque, depois do que ouvi e vi hoje, acho
que ser pai é antes de tudo participar.
Ana Lúcia – Agora vamos forma um círculo, de mãos dadas, e eu gostaria que
todos vocês trouxessem à tona aquela lembrança de relação idealizada com os
filhos e cada um pudesse expressar em poucas palavras o que vocês sentiram ou
pensaram.
Chuvas de palavras com muita emoção:
-Alegria por entender que podemos mudar alguma coisa
-Serenidade.
-Vamos ter confiança no que podemos fazer.
-Não podemos ter medo de errar.
-O comando da família cabe aos pais.
-O diálogo é a saída.
-O sentimento da criança é o mais importante.
-Busca da paz dentro de casa.
-Seja amigo do seu filho.
-Ouça seu filho.
-Não sufoque seu filho. Deixe-o viver.
Ana Lúcia – Agora vocês vão continuar falando baixinho suas frases e uns vão
tentando falar as frases que acham ser mais importantes. Falem esta frase
baixinho, mas que seja possível as pessoas te ouvirem.
E um coro surgiu do círculo: O diálogo é a saída e O sentimento da criança é
importante.
Ana Lúcia – Podem falar um pouco mais alto.
E o grupo falou mais alto.
Ana Lúcia – Falando alto. Podem gritar para toda a rua ouvir.
E o grupo gritou.
Ana Lúcia – Falando alto. Podem gritar mais uma vez, para que todo o quarteirão
possa ouvir e vocês possam ajudar todos os pais.
E o grupo gritou.
(As palavras mais evidenciadas neste Sociodrama Construtivista foram diálogo e
sentimento da criança. A platéia inteira gritava com grande emoção: Diálogo é a
saída, e Sentimento da criança é importante. Repetiram várias vezes, em coro. Foi
um momento de muita emoção, e todos ficaram muito sensibilizados).
5) Comentários
A diretora fez observações positivas sobre a participação do grupo, e perguntou se
alguns dos participantes gostariam de fazer comentários.
Ana Lúcia- Vocês perceberam que os nossos comportamentos diante dos nossos
filhos estão diretamente ligados à educação que tivemos, à forma como fomos
criados, de que maneira os limites foram introduzidos na nossa vida. É muito
importante que a partir do momento que vocês decidirem rever a educação dentro
de casa, vocês pensem nestas questões, na forma como vão atualizar tudo o que
aprenderam. É importante começar a pensar em outras maneiras de colocar
limites, sem ser autoritários, mas tendo autoridade.Esta sementinha foi plantada e
cabe a vocês ampliarem a visão no sentido de obterem mais saídas para cada
situação.
Os comentários feitos pelo grupo foram os seguintes:
Platéia – Eu acho que nunca tive uma experiência tão legal. Hoje, eu, além de me
situar como mãe, eu tive a esperança de que a minha relação com os meus filhos
possa mudar, disse uma mãe.A minha relação com a minha família de origem foi
muito ruim e quero fazer o impossível para que isto não aconteça aos meus filhos.
Muito obrigada pela oportunidade de participar junto a este grupo.
Platéia – Para mim foi muito legal a forma como o assunto foi colocado, sem ser
aquela coisa de blá, blá, blá. Aquela coisa de palestra. Acho que a gente,
pensando, sentindo e vivendo as situações, a gente aprende muito mai.
Platéia – É interessante que a gente como pai e mãe sempre ache que tem
sempre razão. Hoje, aqui, eu pude constatar que preciso ouvir também as razões
dos meus filhos.
Platéia – Olha, quando você começou a falar, fiquei pensando “onde ela vai parar”
dizendo estas coisas, ouvindo aquela música. Agora, fiquei impressionado: as
coisas foram se encaixando aos pouquinhos e, tenho certeza, estamos saindo
daqui com um conteúdo legal para trabalhar junto a nossos filhos, falou um pai
que a maior parte do tempo ficou como observador.
Platéia – Esta questão de limites faz a gente pensar mesmo nos nossos limites.
Platéia – Acho que modifiquei a minha visão em relação a educar.
Platéia – Gente, eu fiquei bastante emocionada com o que vi aqui.
Ana Lúcia – Bom, pessoal. Muito obrigada pela participação, acho que sem a
colaboração total de vocês nada deste trabalho teria sido igual. Vocês foram um
grupo maravilhoso.
O Sociodrama permitiu que vocês fizessem uma redefinição dos papéis parentais,
portanto,poderemos empregá-los diante dos nossos valores de vida. Vocês
enfatizaram a necessidade dos pais ouvirem mais os filhos e colocarem o diálogo
acima de tudo. Marcaram neste trabalho o sentimento da criança e do
adolescente, que nem sempre é aceito. Partindo deste ponto zero, vamos tentar
recomeçar, recomeçar a cometer acertos, mesmo que para isto possamos errar
um pouco. Mas acredito no potencial deste grupo para fazer mudanças em suas
casas, em suas vidas e principalmente em suas relações com os seus filhos.
E procurem nunca esquecer: Pais sem limites geram filhos sem limites.
Ana Lúcia- Bom descanso para todos vocês, e até o próximo. Boa Noite.
Sociodrama V
Clínica Pediátrica- São Paulo- SP
Tema: “Colocar limites.Até que ponto isto é possível?
Data: 20 de junho de 2003.
População: 27 pessoas :24 pais de classe médio/alta, nível superior, filhos de 0 à
15 anos, uma Ass. Social, dois psicólogos.
1) Introdução
Ana Lúcia – Boa Noite. Alguns de vocês já me conhecem daqui da Clínica, mas
para os que não me conhecem eu sou Ana Lúcia Castello. Sou Psicóloga,
psicodramatista. Este trabalho que estamos desenvolvendo aqui na Clinica trata-
se de um trabalho preventivo e educativo que tem como objetivo principal alertar
aos pais sobre as possíveis dificuldades que eventualmente possam encontrar
diante da educação de seus filhos.
Ana Lúcia- Mas antes de nós começarmos, gostaria de pedir a autorização de
vocês para filmar e fotografar este trabalho. É um trabalho que estou
desenvolvendo para a minha tese de Mestrado e a filmagem e fotografia serão
utilizadas para fins científicos. Tudo bem para vocês?
Platéia- Todos aceitaram a filmagem e fotografia.
Ana Lúcia- No final do trabalho vamos entregar um papel onde vocês deverão
assinar esta autorização, ok?
Platéia- Tudo bem.
Ana Lúcia- A intenção de promovermos este ciclo de trabalhos está ligada
diretamente à tentativa de reduzir comportamentos inadequados dos pais quando
estiverem diante de situações difíceis no processo de educação dos filhos.
Durante toda a trajetória de vida do ser humano é muito comum ouvirmos falar das
dificuldades dos pais diante da educação dos filhos. No passado foi muito comum
a educação castradora, repressora, violenta. É isto mesmo. Quem daqui não foi
punido por alguma falta levando umas chineladas, ou coisas do tipo? Levanta a
mão.
Platéia – (Ninguém levantou a mão, inicialmente.)
Platéia – Eu apanhei até demais, e é por isso que eu quero mudar alguma coisa
na educação dos meus filhos.
Ana Lúcia – Há mais ou menos três anos estamos tentando mudar este
referencial, porque acreditamos que a educação dos pais é a melhor saída. Num
momento anterior, com certeza, estaríamos esperando os pais no consultório,
para apagar os incêndios, ajudar a diminuir a culpa e coisas do tipo. Hoje estamos
tentando abraçar este trabalho em grupos, porque, afinal, somos
Psicodramatistas. No Psicodrama, a ênfase maior é dada ao trabalho com grupos,
e a proposta inicial desta linha terapêutica é proporcionar o desenvolvimento do
bem-estar das pessoas. O trabalho que realizaremos hoje chama-se Sociodrama
Construtivista, que é um trabalho em que tentaremos trabalhar o grupo com os
recursos do próprio grupo. Acredito que isto aqui é um começo e que as pessoas
irão multiplicar este aprendizado em casa, junto a colegas, e é isto que acredito
ser mais importante. Antes de darmos início ao trabalho eu gostaria de ter a
autorização de vocês para que este evento seja filmado. A necessidade da
filmagem é puramente para fins acadêmicos, de pesquisa.
Platéia – Acho que não há nenhum problema, contanto que não mandem para a
Globo, tudo bem.
Ana Lúcia – Para todo mundo, tudo bem?
Platéia – Todos levantaram as mãos.
Ana Lúcia – Quero dar uma ênfase a este tema que vamos trabalhar hoje, porque
a experiência nos conta que o elo de que pais sem limites podem gerar filhos sem
limites está a cada dia mais claro em nossa cultura.
Ana Lúcia – Para que eu conheça melhor o grupo, gostaria de saber se todas as
pessoas deste grupo têm filhos.
Platéia – (Uma moça levantou a mão e disse que era casada, mas ainda não tinha
filhos, e que viera para assistir ao trabalho porque já gostaria de começar
acertando.)
Platéia (Risos).
Ana Lúcia – Quem daqui tem filhos até 07 anos.
Platéia – (Dezesseis pessoas levantaram o braço.)
Ana Lúcia – Quem tem filhos de 08 a 12 anos?
Platéia – (Cinco pessoas levantaram o braço.)
Ana Lúcia – Quem tem filhos adolescentes de 13 a 18 anos ?
Platéia – (Quatro pessoas levantaram o braço.)
Ana Lúcia – Gostaria de que vocês fizessem uma reflexão sobre os limites de
cada um em relação a seus filhos.
Platéia – É muito difícil fazer esta avaliação.
2) Aquecimento Inespecífico:
Ana Lúcia – Procurem dizer, em apenas uma palavra, qual o sentimento de vocês
em relação aos limites que vocês colocam ou não conseguem colocar aos seus
filhos.
Platéia Angústia.
Platéia – Tristeza.
Platéia – Culpa.
Platéia – Pena.
Platéia – Desespero.
Platéia – Impotência.
Platéia – Sofrimento.
Platéia – Cansaço físico.
Ana Lúcia – Gostaria de agradecer a participação de todos os pais que estão
conosco hoje, e enfatizar o quanto é importante que vocês tenham este momento
de reflexão em torno de como estão conduzindo a educação de seus filhos, se
existem fatores que estão ajudando ou atrapalhando a intervenção de vocês no
dia-a-dia. Tenho certeza de que poderemos iniciar um momento de reflexão para
que se fortaleçam e se instruam em relação a como desempenhar os papéis de
pais de forma segura e tranqüila.
Platéia – Nós é que precisamos agradecer pela oportunidade de estarmos aqui.
Hoje, nós, pais, estamos muito angustiados em torno de tudo o que fazemos na
educação de nossos filhos. É tudo tão diferente da nossa época. São tantas
mudanças...
Ana Lúcia – O que a gente aprende na prática também tem que ser levado em
consideração. Hoje, para nós, educadores, o importante mesmo é que os pais
estejam atentos a fazerem mudanças. Acreditem, se vocês tentarem, podem fazer
mudanças.
Platéia – Você está querendo dizer que os problemas dos filhos são os pais?
Ana Lúcia – (Risos) Não. Estou rindo porque também sou mãe e muitas vezes eu
me sinto responsável pelos problemas das minhas filhas .Somos nós, os pais que
podemos ajudá-las. Vocês imaginem, mais de 15 anos trabalhando com isto, e
ainda me sinto insegura em algumas situações com elas. Por isso, estamos aqui
para aprender também. Fico penando, que talvez elas fossem mais felizes, se nós
não pegássemos tanto no pé delas. Talvez, mas eu acredito que criança sem
limites não se torna uma pessoa diferenciada, com capacidade de discernir entre o
que pode e o que não pode fazer, entre o que podem ter ou não. Tem casos, aqui
na Clínica, que muitas vezes eu faço opção em atender os pais e a coisa funciona.
Entendam que o ideal é que estes pais saibam onde acertam e onde erram. Nós,
pais, temos uma tendência natural de nos culparmos, de achar que nossos filhos
têm problemas por nossa causa. Quando eu faço orientações, tenho um cuidado
muito grande de tirar a culpa destes pais, para que não se avolumem os episódios
de cobranças e que não se repitam as cenas de chantagem que freqüentemente
surgem nos diálogos entre pais que estão totalmente desarticulados com os filhos.
Platéia – Mas não é natural que os pais protejam os filhos e não queiram que eles
sofram?
Ana Lúcia – Olha, isto é muito delicado. Os pais têm uma tendência natural de se
culpar por tudo que não está dando certo na vida dos filhos. Muitas vezes os pais
falam: “Meu filho está sofrendo, será que escolhi a escola certa?” “Meu filho não
está bem com os amigos, porque será que aquele amiguinho não gosta dele?”
Platéia Então a gente tem que deixar os nossos filhos sofrerem?
Ana Lúcia – Quando a gente faz o movimento de proteger tanto os filhos, ao invés
de ajudá-los, muitas vezes podemos prejudicar as crianças, porque não deixamos
nossos filhos crescer, ou melhor, não permitimos que nossos filhos desenvolvam
a capacidade de lidar com as frustrações, lidar com as dificuldades, e também
com as rejeições pelas quais eles terão que passar durante toda a vida.
Platéia – Isto também é impor limites?
Ana Lúcia – Lógico, este é o tema central do nosso encontro. Hoje nós vamos
conversar acerca de que, para colocarmos limites, primeiro temos que rever os
nossos limites. Quando nós não temos limites, não tem jeito de conseguirmos
colocar limites com nossos filhos.
Ana Lúcia – Quais as expectativas de vocês em cima deste trabalho?
Platéia – Necessidade de tentar mudar alguns padrões de comportamento, rever
alguns valores, diminuir os estresses em casa, aprender a ter mais paciência.
Platéia – Eu tenho um problema muito sério, porque a minha filha me desafia o
tempo todo. Faz muita coisa que eu não gosto e tem horas que eu perco a
paciência e bato nela.
Platéia – Nós temos dois filhos homens, e só quando nasceu o segundo filho é
que nós percebemos que o primeiro não tinha limites.
Platéia – A gente tem que ver se os limites que a gente está colocando está certo.
Ana Lúcia – Para reavaliar?
Platéia – É bem isto mesmo.
Platéia – Eu vim porque preciso saber o que é colocar limites, e o que é limites.
Ana Lúcia – Isto é muito importante, às vezes a gente atende pais no consultório
que estão perdidos em como colocar e em que momento colocar os limites. Que
dizem colocar limites para tudo, que dizem permitir tudo, enfim, que não se situam
dentro dos limites de educar.
Platéia – Nós estamos perdidos, temos um filho de 1 ano e meio e ele faz birra
para tudo quando é contrariado, e a gente fica desesperada, só olhando ele
chorar, sem saber o que fazer.
Platéia É muito desgastante falar “não” o tempo todo.
Platéia – Nosso filho tem 10 meses e nós já estamos aqui para pedir ajuda.
Ana Lúcia – Dez meses mesmo?
Platéia – Sim e quando ele é contrariado ele me belisca, me morde, me bate. Não
sei o que fazer mesmo.
À medida que os comentários surgiram, todos os nomes dos sentimentos foram
escritos no flip-chart.
Ana Lúcia – Como falei anteriormente, neste trabalho vamos utilizar um método
que se chama Sociodrama. Este método existe há muitos anos, talvez desde o
início do século, e foi criado por Jacob Levi Moreno, um médico de Viena, que nos
deu esta contribuição maravilhosa para o trabalho com grupos.Este método
consiste em trabalhar o grupo dentro de um contexto dramático, dentro do “como
se fosse”.Com certeza ampliaremos a nossa visão dentro deste trabalho e
possibilitaremos uma ampliação também em torno da discussão sobre as
dificuldades que aparecem no processo de educação dos filhos. Neste trabalho
podemos utilizar alguns personagens, por exemplo: Eu sou Ana Lúcia, psicóloga,
psicodramatista; porém, num determinado momento do trabalho, eu poderei me
transformar em “Ricardo, um garoto de 7 anos, e dramatizar alguma situação
vivida por ele”. Poderei também vivenciar “um pai desesperado que, diante de um
filho de 13 anos, não consegue colocar os limites de maneira favorável”. De uma
maneira geral, nós podemos trazer os personagens que quisermos, porque o
Sociodrama nos permite vivenciar isto. É importante enfatizar que não importa em
que tempo estaremos nos colocando, passado, presente ou futuro.Tudo pode
acontecer neste espaço aqui e agora.. Até mesmo as coisas que para nós são
impossíveis de acontecer.
Ana Lúcia – Vamos tentar elaborar um exemplo aqui, tá legal? Qualquer um de
vocês pode participar. Quem é uma pessoa que pode realmente avaliar se o
comportamento de um pai está correto, ou melhor, se é positivo ou negativo?
Platéia – Eu acho que um juiz.
Platéia – Eu acho que um velho que já foi pai e mãe um dia.
Platéia – Eu acho que uma psicóloga.
Platéia – Eu acho que sim, talvez os psicólogos.
Ana Lúcia– Está bem assim, vamos supor que todos vocês são psicólogos e
encontra–se diante de vocês uma garota de 07 anos.
3)Fase de aquecimento específico
Ana representa o papel da menina e a platéia representa o papel de psicólogos.
Menina – Eu hoje estou muito triste porque eu queria sair de casa e só porque eu
não quis colocar a roupa que a minha mãe queria ela me bateu. Isto está certo?
Platéia – As pessoas se olharam por alguns minutos, outros riram.
Platéia – Depende do que você fez. Fez muita birra? Xingou sua mãe?
Menina Lógico que não, minha mãe é que é muito nervosa. Tudo que eu faço
que ela não gostaria que eu a fizesse fica logo brava.
Platéia – (Risos).
Menina – Por que vocês estão achando isto engraçado?
Platéia – Porque a sua mãe se parece muito comigo.
Platéia – (Risos).
Menina – Eu não achei isto engraçado. É muito chato que isto aconteça.Eu não
gosto porque às vezes ela até bate em mim, quando eu não quero colocar um
vestido para ir numa festa.
Menina – Vocês são psicólogos e ficam aí rindo de mim.
Platéia – Eu acho que sua mãe tem que vir assistir algumas palestras aqui na
Cliap, para entender melhor que não se deve bater.
Menina – Ah! Então ela está errada?
Platéia – Não, eu não acho que ela está errada. Eu acho que ela poderia tentar te
convencer primeiro e depois te dar algum castigo, caso você não obedecesse, e
depois, só em último caso ela poderia bater.
Platéia – Olha menina, eu não concordo com a minha colega psicóloga. Eu acho
que ela não deveria bater por hipótese alguma, e sim, tentar conversar, te mostrar
que a festa que vocês vão não cabe a roupa que você quer usar.
Menina – Aí melhorou um pouco. Agora você acha certo que a minha mãe não me
deixe dormir na casa de uma amiguinha somente porque ela me disse que a
minha avó nunca deixou que ela dormisse em casa de amiga nenhuma?
Platéia – Sim eu acho que a sua mãe está certa. Se ela aprendeu que não
poderia ser diferente, é assim que ela tem que se comportar.
Platéia – Não, eu não concordo com a colega. Acho que ela não pode fazer a
mesma coisa que a mãe dela fazia há tantos anos atrás. Afinal, os tempos
mudaram.
Menina – Eu estou ficando bastante confusa, porque alguns de vocês dizem uma
coisa e outros dizem outra.
Ana Lúcia – Vocês entenderam? Eu agora vou assumir o papel de Ana Lúcia
novamente, porque senão vocês podem deixar esta garotinha louca.
Ana Lúcia – Foi muito interessante o que aconteceu. Vocês puderam observar
várias coisas neste pequeno diálogo. Entenderam como funciona o trabalho?
Bom, vocês agora vão assistir um compacto do filme “A Bela Adormecida”, e
depois nós daremos continuidade ao trabalho.
Este filme foi editado juntamente com o texto “Sobre rocas e fusos”, do livro
“Doces Venenos”, da Dra. Lídia Aratangi. (p.11, 2001).
Sobre rocas e fusos
Estou escrevendo este livro por causa da Bela Adormecida.
Para nós, essa é uma história em que toda tragédia acontece porque os pais da
nossa princesinha teimavam em acreditar que deveriam afastar todo o mal para
longe da menina. Mais ainda: estavam convencidos de ter poderes suficientes
para isso.
O pior de tudo é que eles viviam repetindo a mesma bobagem, como se não
fossem capazes de aprender com a própria experiência.
Pois veja: para o batizado da menina, deixaram de convidar a velha bruxa, porque
ela era feia e malvada, e eles achavam que a feiúra e a maldade não podiam fazer
parte da festa. Mas, como essas coisas fazem parte da vida, a bruxa invadiu o
palácio mesmo sem convite. E, para vingar a afronta recebida, lançou uma
maldição sobre a criança.
Não seria melhor ter convidado logo a malvada e dado a ela uma porção de coisas
boas para comer e beber, para aplacar seu mau gênio? Não seria mil vezes
preferível tê-la como hóspede a tê-la como inimiga?
Mas a bem-intencionada bobeira dos pais foi ainda mais longe. Ao ouvir da bruxa
que a princesinha, aos 15 anos, iria ferir-se gravemente com uma roca de fiar, o
que fez o pai?
Mandou banir do reino todas as rocas de fiar.
Como se algum pai, por mais rei que fosse, tivesse o poder de afastar dos filhos
as coisas que são capazes de feri-los, de lhes fazer mal.
O que aconteceu, então? Tinha sobrado uma roca com seu fuso, no alto de uma
velha torre onde vivia uma fiandeira, solitária e isolada.
A princesa, chegando casualmente à torre, ao se deparar pela primeira vez com
aquele estranho objeto, ficou muito curiosa, pegou nele de mau jeito e furou o
dedo. Conforme, aliás, todo mundo já sabia, há muito tempo, que iria acontecer.
Não teria sido mais sábio o rei, se tivesse alertado a menina para o perigo que
aqueles objetos representavam para ela, e, ensinado sua filha a se defender, em
vez de tentar negar a própria existência de rocas e fusos?
Talvez, se pudesse saber o risco que corria, a princesa teria sido mais cuidadosa
e até evitaria o acidente.
Então.....
Percebe-se que muitos pais e mães de hoje continuam a se comportar como os
pais da bela adormecida, como se não tivessem entendido a história.”
4)Dramatização:
Ana Lúcia – Depois de assistir ao filme, a gente pode se questionar sobre o tema
“Limites”, limites estes que a gente às vezes não consegue colocar. Porque não
sabemos como, muitas vezes porque não aprendemos esses limites com nossas
famílias de origem e outras vezes porque queremos dar uma educação ao filho
diferente da educação repressora que tivemos. Enfim, neste trabalho vamos tentar
construir formas diferentes de olhar os filhos e como colocar limites. E agora eu
gostaria de começar a realmente fazer o nosso trabalho.
Ana Lúcia – Gostaria que vocês me dissessem quais os personagens do filme
que mais chamaram a atenção de vocês.
Platéia – Pai, bruxa, mãe, Bela adormecida, fadas madrinhas, príncipe.
Ana Lúcia – Agora vocês vão formar grupos. Primeiro o grupo que falou “Pai”. Se
coloquem em um canto da sala. Depois o grupo das “bruxas”. Em seguida o grupo
das “Belas adormecidas”, em seguida o grupo das “fadas madrinhas”, e, por
último, o grupo dos “príncipes”. Agora que vocês estão nos papéis que
escolheram, façam de contas que vocês são estas pessoas que escolheram e
agora comecem a discussão, dentro do grupo, em cima da postura de vocês
dentro da estória, e o sentimento de vocês diante das situações que aconteceram
(Foto-Anexo 5).
Todos os grupos se mobilizaram para fazer o trabalho, e conseguiram fazer um
breve comentário, em seguida:
Grupo dos pais:
“Eu preciso evitar que a minha filha sofra.”
“Sou eu quem tem que proteger minha filha.”
“Não posso deixar que a minha filha tenha problemas.”
“Sou poderoso o suficiente para evitar sofrimentos para meus filhos.”
“Me sinto incomodado de saber que tive filhos e que eles vão sofrer.”
“Me sinto impotente porque não consigo controlar tudo relacionado aos meus
filhos.”
Grupo das bruxas:
“Eu estou enlouquecida porque não fui convidada para esta festa”.
“Preciso atrapalhar esta festa”.
“Preciso me vingar pelo pouco caso que fizeram comigo”.
“Quem eles pensam que são?”.
“Não gosto de ver os outros felizes”.
“ Não deixarei que esta criança seja feliz.”
Grupo das Belas adormecidas:
“Preciso de proteção.”
“ Meu pai pensa que ainda sou criança.”
“Não gosto desta marcação cerrada.”
“Mas ao mesmo tempo não consigo me defender sozinha.”
“O que é certo, e o que é errado?”
Grupo das fadas madrinhas:
“Preciso proteger esta garota.”
“Ela é tão indefesa, não deixaremos que nada aconteça a ela”.
“Estamos aqui para evitar que qualquer pessoa do mal se aproxime dela”.
Ana Lúcia – Agora, o grupo vai tentar montar um novo desfecho para a estória e
dramatizar. Então, pensem que outras alternativas teriam para que a estória da
Bela adormecida tivesse outro desfecho, e dentro do nosso tema, o que
poderíamos fazer para que estes pais, reis, tivessem posturas mais adequadas na
educação da sua filha.
Em seguida os grupos mobilizaram-se na discussão e montaram a seguinte
dramatização, e montaram a seguinte estória:
Narrador – Era uma vez num grande palácio, um rei e uma rainha que tivera a
sua primeira filha e queriam apresentá-la a todo o reino. Um certo dia conversava
no terraço do palácio:
P – Sabe, esposa, estou pensando em fazer uma grande festa para anunciar a
chegada da princesa. Mas, quem vamos convidar?
M – É certo que não convidaremos aquela bruxa terrível? Eu não gostaria que os
meus convidados se misturassem com aquela bruxa feia e maldosa.
P – Mas você não acha que, se não a convidarmos, ela ficará com muita raiva e
poderá jogar alguma maldição sobre nossa família?
M– Eu acho sim, mas prefiro correr este risco do que tê-la por perto?
P – Não, esposa, eu acho que é melhor nos prevenirmos de qualquer coisa em
relação àquela mulher. Vamos convidá-la e eu me encarrego de pedir aos
seguranças para ficarem de olho nela.
Narrador – Os pais da princesa convidaram todos os amigos e inclusive a
velha e rabugenta bruxa. No dia da festa, o rei e a rainha estavam muito
felizes, e não deixaram de mostrar isto a todo o reino, embora tenham
tratado a bruxa com um certo desprezo...
Bruxa – Puxa vida, este rei tem muita sorte, tudo dá certo para ele. Olha só como
eles estão felizes. Preciso fazer alguma coisa para que esta felicidade se acabe.
Narrador – E foi então que a bruxa decidiu anunciar para o reinado o seguinte:
Bruxa – Tudo isto está muito bom, mas os meus poderes de bruxa me dizem que
esta criança será feliz até os 15 anos, quando encontrará uma grande roca e
furará o dedo, e dormirá um sono profundo.
Convidados – Oh! Isto não é uma praga que se jogue nesta linda princesa!
Fadas madrinhas – Não se preocupem meu querido rei e minha querida rainha,
porque saberemos o que fazer para que esta criança não seja alvo desta praga.
Ensinaremos a ela o caminho do bem, mas nunca tirando da frente dela os
obstáculos que ela possa encontrar, para que ela se fortaleça e não deixe que
situações difíceis invadam a sua vida.
Narrador E o tempo passou, passou... Quando a princesa tinha treze anos os
pais da princesa a chamaram e disseram:
P – Filha, na vida a gente às vezes passa por algumas dificuldades, mas é
importante que estejamos preparados para enfrentá-las. Existem algumas coisas
perigosas que você não deve pegar enquanto é pequena. Muito cuidado com
algumas máquinas que podem machucar, e olhe só esta roca, disse o rei,
mostrando uma foto de uma roca para a garota. Se você estiver diante de uma
dessas, procure não colocar o dedo neste fuso, porque ele fura muito forte,
podendo causar alguma lesão no seu dedo. Tenha bastante cuidado, está
ouvindo?
Princesa – Fica tranqüilo pai, eu não vou colocar o dedo neste fuso.
P – Vai filha, eu confio em você.
Narrador Passaram-se os anos e a princesa se viu diante de uma grande roca,
lá no alto da colina, e na hora identificou-a como aquela que o pai havia mostrado,
e pensou:
Princesa – Preciso tomar cuidado para não mexer nesta roca, porque ela fura o
dedo e posso machucá-lo muito forte, e saiu para fazer uma visita às suas
madrinhas fadas.
NarradorChegando à casa das fadas, a princesa contou o que havia ocorrido e
as fadas ficaram felizes por ela ter-se livrado da maldição.
Passaram-se alguns anos e a princesa encontrou um belo príncipe e resolveu
casar-se, e daí os pais dela chamaram-no para uma conversa.
P – Vocês tem a minha autorização para se casar, mas com certeza antes vão ter
que conversar em cima de que maneira vocês vão educar seus filhos...
Narrador E o casamento aconteceu, e eles viveram felizes para sempre...
Ana Lúcia – Quanta criatividade. Ficou muito interessante a estória, mas gostaria
que vocês agora tentassem fazer uma ligação entre esta estória e o tema do
nosso sociodrama. Agora vocês podem voltar para os seus lugares, para darmos
continuidade ao trabalho.
Platéia – Eu acho que o grande problema em relação a limites com os pais é que
eles primeiramente querem controlar os filhos, mesmo numa idade onde não
precisa de tanto controle.
Platéia – Primeiro eu quero dizer que fiquei o tempo todo pensando na educação
que tive e a que estou dando aos meus filhos. Eu acho que fico o tempo inteiro
tentando fazer com que eles não sofram, e onde eu me pego errando é que deixo
eles fazerem tudo, porque meus pais não me deixavam fazer nada.
Ana Lúcia – É muito importante estarmos conscientes deste tipo de coisa.
Quando uma pessoa tem uma educação muito repressora, a tendência é fazer
exatamente isto o que você faz. De uma certa maneira, o que se tem que fazer é
atualizar os padrões desta educação. É você deixar teus filhos fazerem o que
realmente eles podem fazer e colocar limites em relação ao que não
podem.Percebam que os limites devem ser colocados em duas situações
específicas: a primeira, para garantir a segurança da criança. Por exemplo: se
uma criança pequena vai subir num local que poderá cair, é lógico que os pais têm
que evitar isto, colocando limites de que isto não pode. Outro exemplo é: se uma
pré-adolescente de 12 anos quer ir a uma balada com as amigas e querem voltar
às 5 horas da manhã, é importante se colocar um limite. Em primeiro lugar, porque
é um grupo muito novo, e depois, porque os limites são colocados também para
garantir a segurança da criança e do adolescente.
Platéia – Mas às vezes eles não gostam.
Ana Lúcia – Não é uma questão de gostar, é uma questão de ser preciso colocar
estes limites. Porque uma grande parte dos filhos falam da mãe de uma forma
muitas vezes até pesada: minha mãe é um saco, não descola. Minha mãe é um
carrapato, fica na cola o tempo todo. Minha mãe não pára de falar, etc. etc.
Platéia – O que fazer quando isto acontece?
Ana Lúcia – É importante que nós, mães e pais, tenhamos a consciência que
muitas precisamos delinear os nossos papéis para os filhos. Conversem, invertam
os papéis com eles. Digam: se você fosse o papai, o que você faria agora?
Esta situação é muito interessante, porque a criança ou o adolescente poderá ter
uma noção do teu sentimento também.
Eu faço muito isto com minhas filhas, para que elas consigam alcançar o porquê
que eu preciso colocar os limites.
Ana Lúcia – O segundo aspecto importante para se colocar limites está
relacionado aos valores do casal. Como isto funciona? Um exemplo característico
é aquela criança que chega na casa dos outros e não para de mexer em tudo. O
casal coloca o limite em casa, privando-a das coisas que ela não pode
mexer.Quando a criança é muito pequena, é muito difícil trabalhar com ela neste
processo. Nossa orientação é que os pais ou babás precisam aprender a distrair a
criança, mudar o centro das atenções da criança.
Platéia –
Ana Lúcia – Exato. Os pais precisam deixar a criança crescer com segurança, e
isto significa aprender a fazer tudo sozinha, aprender a se virar, aprender a se
defender. Quantas vezes eu já ouvi de alguns pais que foram tirar satisfação na
escola porque seu filho foi xingado por um colega. É importante ensinarmos
nossos filhos a se defender, a desenvolver uma maturidade emocional, enfim,
deixar que eles sejam eles mesmos e se cuidem.Educar é ensinar, ensinar e
ensinar, sem ter pressa, sem ter impaciência e sem ter preguiça.
Platéia – Acho que o rei nunca bateria em sua filha, ela iria se tornar uma garota
intragável, metida, sem limites. O que é que você acha desta questão de bater?
Ana Lúcia – Eu acredito e oriento meus pacientes para uma educação embasada
no diálogo, na negociação. Quando uma criança faz birra ou desobedece é porque
o objeto de querer ou de poder dela foi tirado ou privado. Ou seja, a criança faz
birra quando o que ela quer ela não pode ter, ou o que ela quer fazer, não pode
fazer. Quando você bate, você reforça o sentimento negativo da criança. E por
trás disto você ensina às crianças que o bater é a saída para resolver os
problemas. É um modelo pesado para teu filho copiar. Quando você discute muito
com a criança você regride ao papel de criança, daí fica aquele bate-boca sem
fim...
Platéia Risos...
Ana Lúcia – Se vocês estão rindo é porque talvez isto ainda não tenha acontecido
com vocês, mas eu tenho relato de muitos pais que se cansam de querer colocar
limites e largam tudo, deixam o filho fazer o que quer, não ensina o que é certo e o
que é errado, e daí o filho se marginaliza e ele não sabe onde errou. Temos casos
de pais que falam, falam, falam, mas não agem, não colocam os limites, então
perdem as rédeas dos filhos. Convido vocês a continuarem com esta reflexão.
Platéia – Pelo contrário, acho que muitos de nós rimos porque fazemos
exatamente isto. Muitas vezes eu me pego discutindo com a minha filha de igual
para igual e até esqueço que sou mãe dela. Se não é meu marido que me lembra,
eu nem sei onde a gente iria parar...
Ana Lúcia – A primeira fase da mudança está na observação, na tomada de
consciência de que estamos fazendo algo errado, e em seguida começamos um
processo de tentar mudar o comportamento. Neste caso, tudo é válido.
5) Comentários:
Ana Lúcia – Agora nós vamos entrar na fase dos comentários, mas antes eu
gostaria de apresentar as colegas que me ajudaram hoje. A Jussara é Assistente
Social, trabalha na área de Terapia de Casal e Famílias, e ela não é aquela bruxa
malvada que se mostrou na dramatização. A Lucimar é outra colega Assistente
Social, e elas vieram aqui para que este Sociodrama se tornasse mais
interessante. Elas funcionaram como egos auxiliares dentro do processo; por isso,
por diversas vezes tiveram que atuar, ajudando-os na elaboração da dramatização
.Neste trabalho de hoje acho que pudemos observar algumas coisas
interessantes, como a falta de limites dos pais em direcionar a vida dos filhos.
Percebemos que os pais às vezes têm medo de desapontar os filhos, que se
submetem a tudo para que este filho não sofra. Quem gostaria de fazer algum
comentário sobre o trabalho? Quem gostaria de falar um pouco sobre a forma do
trabalho que a gente desenvolveu?
Platéia – Eu achei muito interessante porque aprendi muitas coisas que eu não
havia parado para pensar. Vou sair daqui um pouco mais esperta, para não
regredir quando estou colocando limites com a minha filha. Enfim, acho que serviu
para que eu enxergasse que não sei tudo sobre o papel de mãe , que preciso
aprender muita coisa. Achei demais, porque não foi cansativo, por mim ficaria
mais umas duas horas conversando sobre isto.
Platéia – No começo eu achei que vocês tinham escutado as coisas atrás da
minha porta na minha casa. Tudo lá acontece mais ou menos assim. Eu protejo,
meus filhos se aproveitam. Eu coloco limites, eles se rebelam. Eu fico nervosa,
eles instigam mais. Eu bato, eles dizem que eu sou uma mãe ruim. Preciso
elaborar um pouco tudo isto.Estou um pouco confusa.
Ana Lúcia – Isto é muito bom, é sinal que “caiu a ficha” para algumas coisas, mas
o ideal é que você não se desespere, porque nenhum pai ou mãe erra com
intenção. Acredite nisto. A grande sacada é não permanecer neste erro e tentar
mudar. Ainda é tempo, aliás, no processo de educação, sempre é tempo.
Platéia – Eu sinceramente fiquei um pouco confusa no começo, porque não sabia
aonde você queria chegar. Também te confesso que vim um pouco receosa de
participar deste trabalho. Afinal, como boa mãe, tenho muitos medos que me
apontem os erros que estou cometendo, educando meus filhos. Mas aqui você
apontou os meus erros de uma forma diferente, aliás, parecia que os meus erros
eram os erros dos outros também. Aos poucos fui relaxando e adorei,
sinceramente. Com certeza, quando tiverem outros, eu estarei aqui.
Platéia – É muito interessante um trabalho como este, pois concordo com o que
ela falou, a gente sai com menos culpa e com mais segurança que poderemos dar
a volta por cima. Sabe uma coisa que achei interessante, eu percebi que não só
sou eu que estou perdida, acho que muitos pais sentem-se assim.Talvez uns
procurem ajuda e outros sejam auto-suficientes demais para achar que precisam
de algum tipo de orientação.
Ana Lúcia – Jussara, gostaria de comentar alguma coisa?
Jussara – Gostaria sim. De dizer que é muito interessante trabalhar com um
grupo como este, que está querendo mudar muitas coisas. Não é fácil de
desempenhar o papel de mãe e pai, e eu acho que para isto precisamos aprender
muitas coisas, trocar com outras pessoas, enfim, ampliar a nossa visão dentro do
que estamos fazendo com nossos filhos.Eu particularmente tenho um filho e por
diversas vezes me encontrei numa situação de não saber o que fazer. O que achei
muito interessante foi como o trabalho evoluiu e a participação do grupo que
realmente foi muito boa.
Ana Lúcia- E você, Lucimar, quer fazer algum comentário?
Lucimar – Eu queria dizer que, apesar de não ter filhos, acho que é super
importante os pais pararem sempre para ver se estão fazendo um processo de
crescimento dentro da educação dos filhos. Para isto eu acho muito importante
esta troca que houve aqui hoje. Percebemos que foi realmente uma troca, e as
pessoas não tiveram vergonha de reconhecer que às vezes estão falhando, mas
elas hoje se deram conta de que é a partir daí que elas vão começar a crescer,
desempenhando o papel de pai e mãe.
Ana Lúcia – Adorei o trabalho e gostaria que todos vocês comparecessem aos
outros, para darmos continuidade as nossas conversas. O importante agora é que
vocês conversem com seus maridos e suas esposas, que não vieram hoje, para
proporcionar um início de mudanças no contexto da educação de seus filhos. O
casal precisa ter uma postura única em relação à educação, porque senão
poderão causar sérios problemas no desenvolvimento desta criança. Pensem de
que maneira vocês vão conseguir atualizar os ensinamentos que vocês tiveram
junto a suas famílias de origem e como poderão passa-los a seus filhos de
maneira inadequada, repetindo aquilo que julgam correto e redefinir positivamente
aquilo que julgam que não foi positivo. Em nome dos diretores da Clinica,
agradeço a participação de todos. Um grande abraço para todos vocês, e tenham
uma boa noite.
(Palmas da platéia).
Sociodrama VI
Clínica Pediátrica - São Paulo- SP
Tema: “Como educar os filhos sem perder a identidade conjugal?”
Data: 20 de agosto de 2004.
População: Vinte e cinco pessoas de nível socioeconômico médio.Vinte e três
pais com filhos de 0 a 12 anos. Duas Assistentes sociais e uma psicóloga.
1)Introdução
Ana Lúcia – Eu gostaria de dar início a este trabalho, que é um trabalho educativo
que vem sendo desenvolvido aqui na Clinica há mais de um ano, primeiro me
apresentando. Eu sou Ana Lúcia Castello. Para os que não me conhecem, sou
psicóloga, psicodramatista e estou me especializando em terapia de casais e
famílias. O nosso objetivo, quando iniciamos este trabalho aqui na Clinica, era o
de tentar passar aos pais toda a gama de conhecimentos, para que eles tenham o
mínimo de dificuldades na educação dos filhos. Junto comigo têm trabalhado
alguns colegas que, dentro do Sociodrama, nós chamamos de egos-auxiliares,
para complementar o trabalho. Vou apresentar estas pessoas no final do
Sociodrama. A educação de filhos desde sempre foi uma preocupação para as
pessoas nos seus papéis de pais e mães, e hoje, mais do que nunca, estes pais,
como vocês, estão se preocupando em ter mais informações para que esta fase
do desenvolvimento da criança seja de crescimento, e não de problemas. Nos
consultórios, hoje em dia, cada vez mais os profissionais estão se especializando
no tratamento de casais e famílias, para poderem ajudar estes pais muitas vezes
tão perdidos neste novo papel. Aqui nós decidimos sair do consultório para
trabalhar com grupos em situações específicas.
Ana Lúcia- Mas antes de nós começarmos, gostaria de pedir a autorização de
vocês para filmar e fotografar este trabalho. É um trabalho que estou
desenvolvendo para a minha tese de Mestrado e a filmagem e fotografia serão
utilizadas para fins científicos. Tudo bem para vocês?
Platéia- Todos aceitaram a filmagem e fotografia.
Ana Lúcia- No final do trabalho vamos entregar um papel onde vocês deverão
assinar esta autorização, ok?
Platéia- Tudo bem.
Ana Lúcia -Eu sou uma profissional que acredita muito no trabalho com grupos,
porque acho que a identificação de uma pessoa com outra e a discussão de como
sair das situações podem favorecer maneiras diferentes de construir novas formas
de comportamento. Numa clínica como esta, onde a demanda de atendimentos é
grande, é muito importante se repensar como educar saindo do modelo
tradicional, não só o médico, os professores, os educadores, os pais. Foi aí que
resolvemos fazer um trabalho com Sociodrama. Foi daí que surgiu o projeto deste
trabalho com grupos, que hoje é tema do trabalho que estou fazendo no curso de
terapia de casais e famílias, que é o Sociodrama Construtivista como instrumento
para orientação de pais. Gostaria que vocês ficassem em pé e dessem as mãos
uns aos outros e verificassem se alguma coisa no raio de visão de vocês muda.
(A platéia fica em pé e de mãos dadas).
Ana Lúcia – Vocês acham que ficou tudo igual em relação ao que estava
acontecendo antes?
Platéia – Não, acho que conseguimos nos olhar melhor.
Platéia – Acho que podemos trocar um pouco mais.
Platéia – Acho que estamos mais juntos uns dos outros.
Ana Lúcia – E isto faz diferença para vocês?
Platéia – Sim, acho que nos sentimos mais seguros, apoiados, que não estamos
sozinhos.
Platéia – Acho que um grande grupo assim muda a força do grupo. Eu mesmo me
sinto mais forte.
Ana Lúcia – Bem interessante, um grupo mais forte consegue olhar as coisas de
diversas formas e ter forças para mudar. A nossa intenção hoje é esta: buscar a
retomada de consciência dos pais para tentar modificar coisas em relação à
educação de seus filhos, mas sem perder a identidade conjugal. O método que
vamos empregar hoje, para fazer este trabalho, como falei anteriormente, é o
Sociodrama, que é uma técnica que vem do Psicodrama, um método terapêutico
que foi desenvolvido pelo médico suíço Jacob Levi Moreno, no início do século
passado. No Brasil, este método já está bem desenvolvido e tem sido aplicado em
várias áreas. Este método tem a finalidade de trabalhar a realidade do grupo
social no como se fosse. O Moreno trabalhava nos mais diversos contextos,
praças públicas, presídios, e tentava trazer para o contexto real alguns problemas
do cotidiano e dificuldades que as pessoas traziam para serem trabalhadas. Aqui,
hoje, nós vamos trabalhar este contexto com o material que o grupo trouxer.
Vamos, muitas vezes, representar personagens.
Platéia – Mas eu não estou entendendo como isto vai funcionar dentro do tema
proposto.
Ana Lúcia – Vou colocar direitinho. Eu, aqui posso, te dizer que sou Ana Lúcia,
psicóloga, 44 anos, que trabalha nesta clínica. No contexto do Sociodrama, eu
posso representar uma mulher que tem 18 anos e que se casou grávida, e que
agora não consegue desempenhar um outro papel que não seja criar o filho de
maneira sufocante. Eu poderia ser também uma criança de 7 anos que só
consegue dormir no meio dos pais e, quando eles falam que ela precisa sair,
sempre muda de assunto. Ou eu poderia até mesmo ser uma terapeuta de casais
que um determinado casal procurou para ter orientações porque o casamento está
acabando desde que tiveram filhos. No Sociodrama é permitido que vocês entrem
e saiam de papéis sem falar da sua própria vida. Nós podemos utilizar os recursos
do teatro; por exemplo, eu posso sentir que sou um filho que consigo separar
meus pais no dia-a-dia porque tenho ciúmes de meu pai com a minha mãe. Temos
que entender que neste trabalho o tempo é possível se conduzir a qualquer
momento; o passado, o presente e o futuro são possíveis de serem vividos no
contexto dramático. Vocês estão percebendo que a fantasia e a realidade aqui são
possíveis e também qualquer proposta a ser dramatizada. Deu pra vocês
entenderem?
Platéia – Sim acho que hoje vamos virar atores e atrizes, só que com o objetivo
único, o de repensar sobre a nossa condição de casal conjugal e casal com filhos.
Ana Lúcia – Isto mesmo. Agora, antes de iniciarmos o trabalho, gostaria de
solicitar deste grupo a autorização para que este trabalho seja filmado.Vocês
estão vendo lá o Genésio, que é um profissional que sempre vem me ajudar a
fazer as filmagens destes eventos. É importante lembrar que esta filmagem tem
objetivos de ser usadas a nível didático, para estudos, e prometo que não
mandarei para Rede Globo; portanto, quem tiver o objetivo de se lançar aqui, pode
desistir.
Platéia – (Risos.).
Platéia – Acho que não tem nenhum problema.
Ana Lúcia – Alguma pessoa tem alguma objeção em relação à filmagem.
Platéia – (Todos concordaram que o Sociodrama fosse filmado).
Ana Lúcia – Quantos deste grupo tem menos de 20 anos?
Platéia(Risos.)
Ana Lúcia – Acho que ninguém, não. Então, quem tem até 35 anos?
Platéia – (18 pessoas levantaram o braço.)
Ana Lúcia – Quem tem de 35 a 45 anos?
Platéia – (4 pessoas levantaram o braço)
Ana Lúcia – Quem tem acima de 45 anos?
Platéia – (Apenas 1 pessoa levantou o braço.)
Ana Lúcia – Todos deste grupo são casados?
Platéia – (Todos levantaram o braço.)
Ana Lúcia – Quem tem filhos entre 0 e 7 anos?
Platéia – (Todos levantaram o braço.)
Ana Lúcia – E quem tem, além deste filho menor, filhos entre 08 e 15 anos?
Platéia – (6 pessoas levantaram o braço.)
Ana Lúcia – Quantos de vocês já pararam para pensar se estão ou não cuidando
o suficiente do casal conjugal?
Platéia – (Ninguém levantou o braço.)
Platéia – Mas isto não quer dizer que não estejamos preocupados com o destino
de nossos casamentos.
Ana Lúcia – Fiquem tranqüilos, não vou julgar vocês, mesmo porque, se isto
fosse verdade, vocês não estariam aqui, não?
Platéia – Acho que é isto mesmo, este tema nos apavora um pouco, que a gente
decide não falar sobre isto.
Ana Lúcia – Quantas mães deste grupo trabalham fora?
Platéia – (8 mães levantaram o braço.)
Ana Lúcia – Em cima do que estamos falando agora, eu vou distribuir alguns
depoimentos que foram escritos por homens e mulheres que de alguma forma
estão sentindo-se ameaçados diante do seu casamento, depois que tiveram filhos.
O importante do nosso trabalho é que o grupo participe sempre. E agora eu
gostaria que vocês pudessem tentar um pouco para fora suas diferentes formas
de emoções, pensando um pouco, depois de terem lido os depoimentos, de como
foi preparar-se para vir a este trabalho. Tentem expressar com uma única palavra
que emoções tomaram conta de vocês, quando pensaram em falar sobre vocês,
sobre o casal conjugal. Vamos fazer uma chuva de palavras, cada um dizendo
uma palavra por vez, mas, se a mesma pessoa tiver mais de uma palavra, pode
falar em tom cadenciado. À medida que as pessoas foram falando, a diretora vai
repetir a palavra, como se fosse um eco.
2) Aquecimento Inespecífico
Depoimentos de mães e pais depois que tiveram filhos:
“Estou muito comprometido com minha profissão e quero ser levado a sério,
mas não quero trabalhar o tempo todo. Quero algum tempo para os meus
filhos. Gostaria que fosse possível trabalhar em tempo parcial, sem ter
minha carreira prejudicada.”
“Me sinto culpada quando nossos filhos dizem: Mãe, vocês vão sair
sozinhos e vão nos deixar aqui sozinhos?”
“Eu acho que procurei outra mulher fora do casamento porque cansei de
chegar em casa e beijar a empregada da casa. Minha mulher nunca se
preocupou em tomar um banho para me esperar.”
“De uma mãe para filha: Acho que você só se preocupa com seus filhos e
esquece a sua vida pessoal. Você está sempre nervosa, impaciente e tensa.”
“Não agüento o que minha mulher faz. Ela vive a minha vida. Ela não poderia
se interessar por outras coisas, para sair da minha cola?”
“Na outra encarnação quero nascer homem.”
“Acho que os deveres e direitos são iguais.””
“Ela não entende que estou exausto e o que quero agora é assistir um pouco
de TV, para descontrair.”
“Desde que tivemos filhos, minha mulher nunca mais fez aquela empadinha
que ela fazia para mim, quando estávamos noivos. É um desprezo total.”
Ana Lúcia – Agora vamos fazer aquele exercício que eu falei antes. Vocês
deverão falar com uma única palavra o sentimento que estão sentindo agora.
Platéia – Medo, tristeza, acomodação, medo de entrar em choque com a
realidade, decepção, impotência, ser rejeitada pelo filho, ser abandonada pelo
marido, ser traída, falta de diálogo, esconder a verdade, angústia, medo,
ansiedade. (Ana Lúcia faz o eco, repetindo as palavras bem alto).
3) Aquecimento específico
Ana Lúcia – Agora vocês vão tentar fazer uma viagem ao túnel do tempo.Vocês
vão tentar voltar no tempo. Para isto, fechem os olhos, relaxem o corpo. Procurem
ficar acomodados na cadeira de forma mais confortável. Agora fechem os olhos e
tentem voltar 1 anos atrás, 2 anos atrás, 3 anos atrás. Continuem voltando no
tempo.
1- Continuem de olhos fechados e continuem voltando no tempo, até chegar
exatamente no momento em que vocês se conheceram. Identifiquem a cena.
Imaginem como ela aconteceu.
Formem uma frase lembrando o que vocês disseram um ao outro, naquele
momento em que se conheceram.
2- Continuem de olhos fechados, e agora procurem avançar no tempo.
Parem no momento em que decidiram se casar.
Identifiquem a cena. Imaginem como ela aconteceu.
Formem uma frase que simbolize este momento.
3- Agora imagine qual foi a reação dos seus pais em relação ao casamento.
Identifiquem a cena.
Formem uma frase que simbolize esta reação.
4- Agora imagine que vocês estão casados, sem filhos
Parem. Tentem imaginar como está sendo esta fase de suas vidas.
Formem uma frase que simbolize quais os elementos na vida conjugal:
responsabilidades, lazer, cumplicidade, sexo, projetos de vida em comum. O que
está acontecendo com vocês, neste momento conjugal.
5- Imaginem agora que vocês ficaram grávidos. Identifiquem a cena.
Como foi esta tão esperada notícia?
Formem uma frase que expresse o sentimento de cada um de vocês, naquele
momento.
6-Imaginem agora o que é ser pai.
Imaginem agora o que é ser mãe.
Imaginem agora o que é ser um casal conjugal.
Parem e formem uma frase que expresse seu sentimento.
Ana Lúcia – Agora vocês vão abrindo os olhos devagar, tomando consciência de
que estão nesta sala, e tentem ficar o mais relaxado possível. Agora vamos colher
um pouco da vivência que vocês participaram.
Ana Lúcia – Vocês todos conseguiram fazer um breve relaxamento e participar da
vivência?
Platéia – Acho que sim. Todo mundo ficou tão quietinho.
Ana Lúcia – Então me falem o que aconteceu na primeira cena. Que cenas vocês
identificaram, no momento em que se conheceram?
Platéia – Eu lembro que foi um dia chuvoso. Ele era desconhecido, metido, chato,
e todas as meninas estavam pagando pau para ele. Eu achei ele intragável, mas
era um encontro de negócios da minha Empresa. Ele me olhou de cima a baixo e
falou “Muito prazer”. Eu fiquei muda. Convidou-me para um jantar no dia seguinte
e se apaixonou.
Platéia – Eu acho que não foi bem assim (fala o marido dela). Ela também ficou
pagando pau para mim, mas, como sempre, ficou na dela, e foi por isto que me
aproximei dela para um jantar, no dia seguinte.
Platéia – No meu caso, no encontro só ela falou. E como falava!!!
Platéia – A gente se conheceu de forma trágica. Ele quase me mata. A minha
frase foi: Você está louco, quase me derrubou da bicicleta!
Platéia – Essa aula de Inglês está maneira, tem muitas gatinhas!
Platéia – Foi no Banana Café. Ele diz que falou comigo a noite inteira, mas só
consigo me lembrar de que ele conversou com a minha amiga a noite toda.
Platéia – Nosso primeiro encontro foi na praia, andando de bicicleta.
Platéia – Está chovendo, estou cansado. Conhece algum restaurante aqui por
perto?
Platéia – Muito prazer, você é uma linda Engenheira. (Fiquei pensando se ele
dizia isto para toda Engenheira que ele conhecia em reuniões).
Platéia – Vamos ganhar um jogo, parceirinha? (Depois de eu ter coberto o buraco
de uma amiga dele que faltou à partida de tênis).
Ana Lúcia – Em relação à segunda parte da vivência, gostaria que vocês fossem
falando um atrás do outro.
Ana Lúcia – Como vocês decidiram se casar?
Platéia – Depois de um jogo de tênis. Quer casar comigo?
-Quer que eu te mostre que você está na palma da minha mão? Se eu te pedir em
casamento, você casa comigo?
-Realmente fomos feitos um para o outro.Quer casar comigo?
-Vamos começar a ver alguns apartamentos. Vimos mais ou menos uns duzentos.
Platéia – (Risos.)
-Não posso prometer casar com você amanhã, mas vou fazer o possível.
-Vamos começar a procurar apartamento?
-Encontrei a mulher da minha vida.
-A gente foi viajar três meses depois e foi a prova de fogo. Perguntou: Quer casar
comigo?
-Realmente encontrei a mulher certa para me casar.
-Fiquei dando uma de difícil. Disse assim: Não sei, acho que não gostaria de casar
tão nova. Detalhe: eu já tinha 26 anos.
Ana Lúcia – Qual foi a reação dos seus pais, à notícia do casamento?
Platéia – Acho que agora ele acertou.
-Sei não, mas acho que esta moça é muito nova para meu filho.
-Que bom!
-Não acreditaram que eu ia casar, pois já estava com 34 anos.
-Meus pais receberam a notícia com muita emoção, choro.
-Adoraram.
-Que bom, meu filho. Você acha que ela é a mulher para você?
-Este é um milagre. Quem foi a louca que decidiu encarar você? Deve estar muito
apaixonado. Como sempre.
-Ficaram felizes.
-Acho que eles queriam muito o nosso casamento.
-Nossos pais ficaram temerosos. Ambos tinham saído de um primeiro casamento
há menos de um ano atrás.
-Meu pai ficou um pouco preocupado, porque ele tinha fama de garanhão.
Platéia – (Risos).
Ana Lúcia – Quando vocês se viram casados, sem filhos. O que realmente pintou
na cabeça de cada um?
Platéia – Ficamos confiantes.
-Estávamos felizes, mas preocupados com todas as responsabilidades do
casamento.
-Com muito receio, mas felizes.
-Não pensávamos em nada, estávamos muito felizes.
-Só lembro que por muito tempo fomos muito felizes.
-Vivíamos um para o outro.
-Com dúvidas de ter dado o passo certo.
-Vivemos anos de sonhos.Viagens, restaurantes, festas, badalações.
-Realização pessoal. Fui criada para me casar.
-Muitas surpresas no dia-a-dia. A gente não tinha rotina.
-Muita alegria.
Estes foram os anos melhores de nossa vida.
Ana Lúcia – E quando pensaram no momento em que ficaram grávidos, o que se
passou na cabeça de vocês?
Platéia – Medo de não conseguir cuidar daquela coisinha pequena.
-Responsabilidade.
-Aquele era o fruto do nosso amor.
-Muita alegria
-Todos os sonhos realizados.
-Temor pela responsabilidade.
-Angústia pelo incerto.
-Fruto do nosso amor.
-Agora formarei a família que nunca tive.
-Meu filho vai ter o meu nome, e você, que é a mãe dele, também tem que ter.
Ana Lúcia – Agora me falem da última parte da vivência. O que é ser pai? O que
é ser mãe? O que é ser um casal conjugal?
Platéia – Responsabilidades. Ser um casal conjugal ainda não consegui pensar.
-Somos uma família, mas é difícil separar o papel de pai, mãe e o conjugal. Fiquei
atrapalhada.
-Sabe que esta parte ficou um pouco confusa para mim, pois quando olho o nosso
filho não consigo pensar em deixá-lo de lado, por nós dois.
-Acho que consegui ser feliz no papel de mãe e no conjugal. Não sei direito, ainda.
-Muita responsabilidade, juntar estes papéis juntos. É difícil.
-Agora embolou o meio de campo, na hora da vivência ficou difícil separar os três
papéis.
-Acho que é piração dizer que os filhos roubam a identidade do casal.
-Esta foi a parte mais difícil. Não consegui fazer.
Nesta parte alguns casais não terminaram e não falaram também.
Ana Lúcia – Vocês perceberam que existem algumas coisas na vida conjugal que
é melhor não parar para pensar; então, depois, quando o casal chega a um ponto
muito caótico da vida conjugal, fica muito mais difícil de conversar.
Ana Lúcia – Gostaria de perguntar a vocês até que ponto vocês conseguem falar
de coisas que incomodam no dia-dia dia sem brigar, só conversando.
Platéia – Nunca, a gente tem pouco tempo para discutir as coisas que estão
incomodando.
Platéia – Ás vezes a gente conversa, mas é tudo muito corrido.
Platéia – Eu acho que a gente não tem tempo de olhar mais de perto a nossa
relação, desde que tivemos filhos.
Platéia – É um fato que a chegada dos filhos faz com que o casal se distancie um
pouco. Principalmente a mulher... fica muito grudada no filho e esquece um pouco
o marido.
3)Dramatização:
Ana Lúcia – Agora vocês vão se dividir em dois grupos e, nesta cartolina, vocês
vão colocar:
-O que vocês acham que precisa ter um casal conjugal?
-O outro grupo deverá colocar tudo o que precisa ter um casal de pais.
-Vocês deverão também fazer uma imagem plástica deste casal de pais e deste
casal conjugal. Vocês sabem o que seria uma imagem plástica?
-Vocês também deverão fazer uma frase que, de certa forma, simbolize o que é
um casal de pais e o que é um casal conjugal.
Vocês entenderam?
Platéia – Não. Acho que não.
Ana Lúcia – Bom, depois da descrição do que é casal de pais e casal conjugal,
vocês deverão montar uma imagem plástica. Seria mais ou menos uma estátua,
uma imagem que não tivesse movimento, mas que simbolizasse alguma coisa.
Então vocês irão fazer uma imagem de como vocês vêem um casal conjugal e um
casal de pais, em cima do que vocês conversaram e montaram no perfil que o
grupo vai fazer. Entenderam?
Platéia – Agora nos situamos melhor.
Ana Lúcia – Mas não se preocupem que, durante o trabalho, nós iremos ajudá-
los. OK?
A diretora do Sociodrama e os egos auxiliares ajudaram os grupos na
elaboração do restante do trabalho.
Grupo 1 – Perfil do casal conjugal:
- Amor, identidade conjugal
- Sexo
- Compartilhar as mesmas coisas
- Paixão
- Idealismo
- Planos
- Muito tempo junto
- Viagens
- Namoro sempre
- Atenção um com o outro
- Cumplicidade
- Construção
- Ousadia
- Diálogo
- Muito carinho
- Cuidar um do outro
Imagem Plástica: O grupo colocou o casal abraçadinho e olhando-se um para o
outro.
Frase: Deveremos sempre cuidar de nós dois, regar a sementinha.
Grupo 2 – Perfil do casal de pais: (Foto-Anexo 6)
- Harmonia
- Cumplicidade
- Respeito
- Disponibilidade
- Amor
- Dedicação
- Ser criança
- Autoridade sem ser autoritário
- Individualidade
- Alegria
- Bom humor
- Colocar limites diante dos filhos
- Compartilhar com os filhos as coisas boas e ruins da vida
- Não deixar que os filhos dominem as situações da vida da família.
Imagem Plástica: O grupo colocou o casal com os filhos no meio deles, de mãos
dadas, sorrindo.
Frase: Devemos colocar alguns limites na relação com os nossos filhos, para que
eles não invadam o casal conjugal.
Ana Lúcia – Muito bom, mas eu gostaria que o grupo do casal conjugal ficasse
aqui de novo, na imagem, e me dissessem o que cada um sente dentro desta
imagem. Quem é o homem e quem é a mulher?
Platéia – Eu sou o homem, não está vendo? Mais forte, protegendo. E ela é a
mulher, o sexo frágil, que precisa ser protegida.
Platéia – Sabe, eu achei este seu discurso muito machista. Eu acho que quando a
gente tenta estabelecer uma imagem de um casal conjugal a gente deve
estabelecer esta coisa de direitos e deveres iguais. É assim que a gente vive hoje.
Você trabalha, tua mulher trabalha, você gosta dela e ela de você, você tem tesão
por ela e ela também tem tesão por você. E assim por diante.
Platéia – As mulheres bateram palmas e fizeram alguns sons, até assobiaram,
aprovando o que a colega falou.
Platéia – Eu não tinha intenção de menosprezar as mulheres, até porque eu gosto
muito delas.
Platéia – (Risos).
4) Dramatização
Ana Lúcia – Bom, não vamos começar esta polêmica de discurso machista, que o
nosso objetivo é outro. Vamos continuar. Você, mulher, como se sente no papel
de casal conjugal?
Mulher – Eu me sinto bem, mas é um fato que me sinto protegida. Aqui neste
lugar eu não estou precisando pensar em outras coisas. Aqui nesta imagem estou
somente eu e ele, não tem o fantasma de que não estou conseguindo ser uma
boa mãe ou não. Será mesmo que dá para separar as coisas?
Diretora pediu que o ego auxiliar fizesse um “duplo” junto à mulher.
E.A – Por que será que eu não consigo acreditar que o meu casamento pode
deixar de ser uma coisa muito tumultuada, com nossos filhos sempre invadindo
nossa vida? Por que eu não posso acreditar que eu deixarei de ser tão exigente
em relação à nossa vida e aos nossos filhos e que nós, enquanto casal, nós
poderemos ser sempre um casal de namorados, de que poderemos sempre sair à
noite, nos divertir?
Mulher – Eu não sei, mas acho que nunca vou me desprender disto, vou sempre
estar achando que nossos filhos precisam muito mais de mim do que o meu
marido.
Diretora deu uma senha no ouvido do ego-auxiliar.
E A – O ego auxiliar pegou na outra mão do marido, na imagem, e ficou bem
encostadinha na cabeça dele, e disse: Eu poderia muito bem tentar colocar alguns
limites para mim mesmo.Por exemplo, agora que estou aqui juntinho, que está
muito gostoso, eu poderia ficar curtindo este momento sem pensar tanto nos
filhos. Sem pensar que não vou conseguir mudar as situações. Eu preciso me
permitir em ser feliz, curtir meu marido, namorar sempre. Se eu conseguir isto
aqui, agora, com certeza, em outras situações eu conseguirei também.
A mulher foi se encostando e ficou bem apertadinha na imagem, e o marido fez
uma cara de prazer.
Platéia – (Risos).
Mulher – Eu também quero ficar assim.
Ana Lúcia – Então fica, tenta ficar numa posição que seja boa para você. Em
primeiro lugar, você precisa se permitir sentir, curtir e viver, principalmente. Vem
aqui pertinho e deixa que a emoção tome conta de você.
A diretora juntou-se ao casal e fez com que eles se abraçassem, e abraçou-os
junto.
A platéia ficou meio petrificada, alguns boquiabertos com o que viam.
Ana Lúcia – E você, homem? Como está se sentindo nesta imagem de casal
conjugal, agora?
Homem – Eu estou me sentindo nas nuvens. Por fim estou sendo cuidado, estou
trocando olhares, estou interagindo. Acho que a gente esquece destas coisas
durante a trajetória do casamento. Eu acho que realmente a gente precisa parar
para pensar no que estamos fazendo com o nosso casamento. Sinceramente,
estou me sentindo muito bem. Pelo menos aqui e agora.
Platéia –(Risos).
Homem – Sinceramente que esta posição está muito legal. Fez uma cara de
prazer.
Platéia – (Risos).
Ana Lúcia – Agora vocês vão formar para que possamos ver a imagem de casal
de pais.
E o grupo formou os dois pais, um em cada lado da imagem, e os dois filhos no
meio deles, olhando para frente.
Ana Lúcia – Me digam agora como é que esta família está se sentindo. Como
estes pais estão se sentindo, e estes filhos, também?
P – Eu estou me sentindo bem, mas uma coisa um pouco fria, cada um olhando
para frente, cada um por si, apesar de estarmos todos juntos.
M – Eu estou me sentindo bem, porque aqui estou podendo reunir meus filhos e
meu marido. Acho a imagem da família perfeita.
F 1 – Estou me sentindo sufocado aqui no meio do meu pai e da minha mãe. Eles
já querem controlar tudo. Imaginem se eu continuar aqui.
F 2 – Estou me sentindo mais ou menos, não gosto desta coisa de família perfeita.
Não gosto desta coisa de ficar no meio e meus pais controlando.
Ana Lúcia – Quer dizer que esta imagem está boa para a mãe, mas muito ruim
para o pai e para os filhos. Como vocês poderiam colocar, ou redefinir esta
imagem, para que ela fique boa para todos.
A imagem foi refeita pelos próprios componentes dela. Os pais ficaram juntinhos e
os filhos do lado, brincando.
Ana Lúcia – E agora, esta imagem ficou boa para todos?
M – Sinceramente? Acho que, para mim, não. Porque acho que meus filhos estão
muito longe, deste jeito vou perder o controle sobre eles. E eu não gosto disso.
A diretora pede para o ego-auxiliar ficar junto da mãe e fazer um duplo dela
mesmo.
E A – Eu preciso entender que meus filhos precisam ficar um pouco mais
afastados, para que eles possam crescer, possam se defender, ou melhor,
aprender a se defender sozinhos. Eu tenho que aceitar que eles podem se virar
sozinhos, que eu não preciso sufocá-los.
M – Eh! Eu acho que tive filhos e quero eles só para mim, mas sei que isto não é
possível. Eu tenho que aceitar esta coisa de deixá-los crescer.
E A – Se eu conseguir aceitar que sou importante e que posso deixar meus filhos
um pouco mais soltos, vou ter mais tempo para me cuidar, para ficar mais com
meu marido.
M – Eu acho que sim. Passo muito tempo do meu tempo livre cuidando das
crianças, controlando as crianças. Acho que preciso pensar nisto.
Ana Lúcia – E vocês, crianças, como estão se sentindo nesta imagem, agora?
F 1 – Bem melhor, esta imagem está manera, meu pai e minha mãe um pouco
distante e a gente podendo fazer algumas coisas sem que ela fique em cima o
tempo todo.
F 2 – Acho que está ótimo, pai e mãe sufocam muito a gente.
Ana Lúcia – E você, pai, como está se sentindo agora?
P – Estou me sentindo ótimo, aliás, acho que vou vir aqui sempre, porque nunca
fui tão bem tratado e tão olhado como hoje, como agora.
Platéia – (Risos).
Ana Lúcia – Bom, gente, agora eu queria que vocês tentassem fazer uma
imagem grande do casal conjugal. Uma imagem de todo o grupo, e gostaria que
vocês repetissem a frase que foi elaborada pelo grupo, bem alto.
A platéia fez várias imagens do casal bem agarradinho, e as outras pessoas do
lado também formam casais agarradinhos.
Ana Lúcia – Agora vocês podem falar a frase bem alta.
E o grupo todo gritou:
Deveremos sempre cuidar de nós dois, regar a sementinha.
Ana Lúcia – Podem falar mais alto, para o quarteirão inteiro ouvir. Podem gritar
três vezes.
E o grupo gritou mais alto, em coro:
Deveremos sempre cuidar de nós dois, regar a sementinha.
Deveremos sempre cuidar de nós dois, regar a sementinha
Deveremos sempre cuidar de nós dois, regar a sementinha.
Ana Lúcia – Palmas para o grupo. Bom trabalho.
E o grupo bateu palmas e fez algumas bagunças em coro, assobiando e gritando.
5) Comentários
Ana Lúcia – Agora vocês podem acomodar-se em suas cadeiras, e vamos
conversar um pouco sobre a nossa produção no grupo.
Platéia – Demais, tudo o que aconteceu aqui! É impressionante como a gente não
pára para observar o que estamos fazendo.
Ana Lúcia – Bom, vamos fazer alguns comentários do que vocês acharam ou
sentiram durante todo o trabalho.
Platéia – Primeiro eu gostaria de falar uma coisa que acho muito interessante. Eu
acho que participei de todos os Sociodramas que aconteceram aqui, e fico
impressionada com a agilidade com que você vai mudando as coisas que estão
acontecendo. Para mim é muito bom, porque eu sou um pouco lenta para
perceber as coisas e, vendo elas acontecerem, eu me identifico muito.Eu também
senti que muitas coisas que trazemos para o casal conjugal e para a educação
dos filhos tem relação com o que vivemos com as nossas famílias, ou seja, com a
relação que vivemos com pai mãe e irmãos. Gostaria de agradecer a tua
disponibilidade e a tua coragem e disposição, sempre, para fazer este trabalho. A
tua energia contagia a gente.Do trabalho, o que eu posso dizer é que novamente
vou sair daqui com um montão de interrogações na cabeça. Será que estou
cuidando deste casal conjugal? Será que estou sufocando meus filhos? Eu acho
que não, porque aprendi muito com o Sociodrama sobre limites, e aprendi um
pouco de que pais sem limites geram filhos sem limites.
Platéia – Eu me senti muito bem. Este trabalho é mágico, a gente fica ligada do
começo até o fim. Eu acho que foi muito importante para que a gente lembre que o
casamento precisa ser cuidado, regado. Que nós precisamos pensar que
precisamos ter tempo par o outro, para namorar, para cuidar, para fazer coisas
pelo outro, para ter paciências com as manias do outro. Como isto é difícil. Eu
mesma vou tentar mudar algumas coisas. Não adianta lamentar que um
casamento acabou, quando não se fez nada para que isto não acontecesse.
Platéia- Sabe, eu não estava querendo vir, porque estava muito cansado, mas
minha mulher insistiu tanto que me convenceu. Sinceramente, se eu não tivesse
vindo, teria me arrependido, porque foi muito bom ter participado e,
principalmente, parado para pensar em algumas coisas. Eu acho que trabalho
muito, não tenho tempo para mim, para meus filhos, e muito menos para minha
mulher. Acho que foi um aviso, uma luz!
(Este marido foi um dos que mais participou das dramatizações.)
Platéia – Eu nunca tinha vindo ao Sociodrama, mas adorei. Foi uma experiência
diferente, dinâmica. Eu gosto muito de coisas assim. Acho que foi um “start” em
relação às mudanças na nossa vida conjugal.
Ana Lúcia – Vamos tentar falar com uma única palavra, já que nosso tempo está
curto. Como vocês estão se sentindo no final deste trabalho?
Platéia Aliviada.Reflexivo.Em paz.Curioso para ver as mudanças.Em
dúvidas.Mais forte.Pensativa de como vou mudar o vínculo com meus filhos.
Aliada.Certa de que preciso fazer algumas mudanças.Mais tranqüilo, porque tenho
certeza de que dá para mudar.Confiante.Revendo os meus papéis. Precisando
rever alguns conceitos.
Ana Lúcia – Gente, eu fiquei muito encantada com vocês, durante o trabalho. O
grupo produziu bastante, se expôs o bastante, e o que é melhor, parou para
pensar em um monte de coisas importantes. Eu gostaria de dizer a vocês que este
tema não apareceu por acaso neste Sociodrama. Um dos grandes problemas que
a gente tem em relação aos casais que atendemos, tanto aqui na Clínica, como no
consultório, é que eles muitas vezes não conseguem diferenciar os papéis, muitas
vezes não conseguem separar os papéis, e neste momento é que acontecem os
problemas dentro das relações, tanto na esfera do casal conjugal quanto na esfera
do casal parental. É importante rever, é importante redefinir, é importante buscar
mudanças.Algumas coisas importantes apareceram na elaboração do perfil do
casal conjugal e do casal parental. Em relação ao casal conjugal, os itens que
apareceram foram bastante claros: Amor, Identidade conjugal, Sexo, Compartilhar
as mesmas coisas, Paixão, Idealismo, Planos, Muito tempo junto, Viagens,
Namoro sempre, Atenção um com o outro, Cumplicidade, Construção, Ousadia,
Diálogo, Muito carinho, Cuidar um do outro.Em relação ao perfil do casal de pais,
o que apareceu foi o seguinte: Harmonia, Cumplicidade, Respeito, Disponibilidade,
Amor, Dedicação, Ser criança, Autoridade sem ser autoritário, Individualidade,
Alegria, Bom humor, Colocar limites diante dos filhos, Compartilhar com os filhos
as coisas boas e ruins da vida, Não deixar que os filhos dominem as situações da
vida da família.
Ana Lúcia – Vocês lembram de todos estes itens que foram falados durante o
Sociodrama.?
Platéia – Sim lembramos, é claro.
Ana Lúcia – Pois bem, o que eu gostaria é que vocês pudessem fazer uma
reflexão em cima de tudo isto. Como educar os filhos sem perder a identidade
conjugal?
Platéia – Acho que tentando separar um pouco os papéis. Olhando as outras
coisas boas da vida.Parando para pensar mais no casal conjugal.Tentando se
curtir mais.Procurando tempo para ficar mais juntos.
Ana Lúcia – Acho que podemos fechar este trabalho passando um pouco do
material que será distribuído entre vocês. Para vocês continuarem com esta
reflexão em suas casas, no seu dia-a-dia. Pensem nestas situações que poderão
ser evidenciadas, para que haja uma mudança no comportamento do casal:É
extremamente importante o casal fazer uma redefinição ou reestruturação dos
papéis familiares, e procurar redefinir os conflitos daquilo que deveriam ser. Tentar
modificar as idéias em relação aos próprios papéis, e gerenciar melhor o tempo do
casal, não desprezando o tempo dos filhos. Em relação à mulher, deve procurar
não querer fazer tudo sozinha, e entender que, se ela insiste em tentar
desempenhar os três papéis a nível elevado, pode entrar em estresse. Acho que o
casal precisa aprender a chegar num ponto de equilíbrio, e tentar fazer o que está
dentro das possibilidades físicas e psicológicas. Um dos pontos mais importantes
deste processo de mudança é o casal procurar fazer um maior número de
atividades junto. E tentar preservar a intimidade e proteger a privacidade, sem
deixar que os filhos os invadam na íntegra. Mas olha, é na íntegra mesmo.
Trancar a porta do quarto na hora de dormir é um exemplo disso. O casal precisa
iniciar um movimento para conseguir uns minutos a mais juntos, e ter em mente
que um cônjuge tranqüilo é um cônjuge que ajuda. Num momento de instabilidade,
procurar desculpar os rompantes de um ou de outro, e, indiscutivelmente,
aprender a perdoar.O casal precisa começar a aprender a resolver os conflitos ou
as brigas do cotidiano de maneira sadia e rápida. E quando um dos cônjuges
pensar em fazer as pazes diante das pequenas brigas, pode começar a criar um
padrão de escolher não participar ou superdimensionar a tensão e o caos. Esta
mensagem vai ser dada principalmente para os homens, sem querer ser machista,
é claro. Sabe que meu marido diz que eu sou machista? Eu questiono isto, mas
vamos lá. Tentem cumprir as promessas, para que não haja cobranças futuras,
porque, quando um dos cônjuges entra no descrédito, é difícil recuperar a
confiança. É importante o casal se permitir ter brechas na agenda, para um
cinema, um teatro, uma viagem a sós, e se conscientizar que as saídas com as
crianças nunca precisam ser planejadas, elas sempre acontecem. Parem para
pensar que o casal precisa instalar os próprios botões de reinstalação, precisam
ter boas companhias. Muitos casais afastam-se de seus amigos por inúmeros
motivos, e o principal é os filhos. Fiquem atentos e procurem não se deixar abater
pela falta de dinheiro, procurem reconstruir a vida conjugal na luta. Existe uma
necessidade real de se colocar limites nas horas diárias de trabalho, sempre pode
acontecer uma cobrança mais tarde, referente a isso. Num momento de vida
cotidiana, é importante não subestimar o parceiro, e tê-lo sempre como um
cúmplice. É preciso ter cuidado, e tomar partido diante dos filhos afasta bastante o
casal. O casal precisa impor limites aos seus desejos de ter e querer. Num
aspecto mais íntimo, procurem não supervalorizar as pequenas manias do outro, e
evidenciem posturas únicas sobre a educação dos filhos, para que isso não se
torne mais um motivo de discórdia. Sem sombras de dúvidas, um dos aspectos
mais importantes para o casal, nesse momento, é colocar-se limites diante dos
filhos. Um casal sem limites gera filhos sem limites. E procurem não esquecer que,
dependendo do que o casal passa para os filhos, e quanto mais conseguem
mostrar-se mais à vontade e em paz diante das situações, rapidamente os filhos o
acompanharão nas atitudes. Por fim, tentem parar de cometer os mesmos erros,
fiquem atentos para isto, e tentem começar e terminar os dias com amor. Os seus
filhos repetirão esse comportamento. Procurem avaliar até que ponto as suas
vivências com suas famílias de origem podem está causando qualquer transtorno,
e principalmente o que veio dela no passado, o quanto contamina o presente.
Conversem bastante sobre isto. Gente, vocês podem acreditar que, sempre que
estiverem diante da necessidade de um ajustamento do casal, para que a
educação dos seus filhos seja um sucesso a olhos vistos, o casal conjugal precisa
efetivamente fazer uma reflexão periódica dos erros e acertos de posturas, das
opiniões que estão emitindo para os filhos e dos comportamentos do dia-a-dia.
Ana Lúcia – Gostaria de falar para vocês que tudo o que eu acabei de falar está
registrado num material teórico em forma de apostila que preparei para entregar
para vocês, depois do Sociodrama. Gostaria agora de saber a opinião dos egos-
auxiliares em relação ao trabalho.
Ego-auxiliar – Para mim é sempre um prazer fazer este trabalho com a Ana
Lúcia, e hoje, especificamente, achei que foi muito bom, porque foi um tema muito
interessante. Acho que é muito normal o casal, depois de algum tempo de
casados, se acomodar e esquecer um pouco da relação conjugal. Mas sabemos
que isto é extremamente perigoso. Para mim, falar sobre isto, trabalhar um pouco
isto, faz com que os casais repensem esta postura. Acho que a forma com que
isto foi feito foi muito boa.
Ego-auxiliar – Acho que, como alguns outros Sociodramas que foram feitos aqui,
este foi muito bom, mas o que mais me chamou atenção é que hoje, pela primeira
vez, os pais começaram a pensar neles, na individualidade de cada um, na
conjugalidade. E isto foi muito bom. Uma coisa que me chamou muita atenção é
de como, principalmente as mulheres, se perdem no papel de mãe e misturam
tudo, muitas vezes esquecendo a relação conjugal e sufocando os filhos. Eu digo
as mulheres porque também sou uma, e também fiz isto num determinado
momento da vida. Foi muito importante repensar e reconstruir hoje outros padrões
de comportamento.
Ana Lúcia – Bom, gente, gostaria de agradecer em nome dos diretores da Cliap a
participação de todos vocês, e esperamos contar com todos num próximo
trabalho. Estou muito contente com as nossas produções, elaborações e
reconstruções que conseguimos fazer nesta noite. Uma boa noite para todos, e
muito obrigado.
Platéia – Muito obrigado, também. (Palmas da platéia.)
Sociodrama VII
Clínica pediátrica – São Paulo- SP
Tema: “Perdas na Infância”
Data: 28 de setembro de 2004..
População: 34 pessoas. Pais e mães, nível socioeconômico médio/alto., com
filhos de 0 a 15 anos.
1) Introdução
Ana Lúcia – Boa noite. Meu nome é Ana Lúcia Castello , eu sou psicóloga e hoje
estou dando continuidade ao trabalho educativo que vem sendo feito aqui na
Clinica desde o ano 2000. Hoje o tema é um tema forte , que deixa as pessoas um
pouco temerosas, desconfortáveis. Falar de perdas em relação à vida da criança
não parece ser uma coisa fácil, e é por demais pesado. E hoje, o objetivo de
nosso trabalho é enfocar a perda na vida da criança, seja ela qual for. A criança
tem “N” perdas durante a primeira, segunda infância, e também na adolescência.
As perdas ocorrem por situações naturais e também por fatores que a gente não
tem o controle, como veremos a seguir.
Ana Lúcia- Mas antes de nós começarmos, gostaria de pedir a autorização de
vocês para filmar e fotografar este trabalho. É um trabalho que estou
desenvolvendo para a minha tese de Mestrado e a filmagem e fotografia serão
utilizadas para fins científicos. Tudo bem para vocês?
Platéia- Todos aceitaram a filmagem e fotografia.
Ana Lúcia- No final do trabalho vamos entregar um papel onde vocês deverão
assinar esta autorização, ok?
Platéia- Tudo bem.
Ana Lúcia – Que tipos de perdas vocês conseguem identificar de terem tido em
suas vidas? E que perdas foram estas? Primeiro gostaria que vocês digam com
apenas uma palavra como podem definir “perdas” para vocês.
Platéia – Saudade, quebra de vínculo.
Ana Lúcia – O que mais?
Platéia – Perda da inocência. Associei isto a perdas, não sei por quê. Foi o que eu
imaginei, não sei se acho isto fácil... lidar com estas coisas.
Ana Lúcia – Sim, este também é um tipo de perda.Alguém consegue identificar
outros tipos de perda?
Platéia – Perda de um montão de coisas, não dá nem para pontuar tudo.
Ana Lúcia – Então procura falar sobre algumas delas.
Platéia – A gente tem que fazer um monte de escolhas, até a perda da inocência,
como a colega falou. Perder a inocência que você tinha em relação a uma
determinada pessoa ou alguma coisa que você adquiriu de repente, e você acaba
perdendo em circunstancias da vida. Então, a gente perde e ganha todos os dias.
Às vezes mais perde do que ganha. E a morte também, a perda da pessoa em si,
e de um monte de coisas que vão junto com ela.
Ana Lúcia – Procurem falar com uma palavra só.
Platéia – Perder uma pessoa muita querida.
Platéia – Perder um animal de estimação.
Platéia – Perda de amigos queridos, por viagem, troca de país, troca de escola,
mudança de residência.
Platéia – Perda das fases da vida: infância, adolescência, adulta.
Platéia – É tanta coisa que a gente perde na vida...
Ana Lúcia – Com certeza, perdemos muitas coisas na vida, então vamos pensar
um pouco nas perdas nas outras culturas.
Ana Lúcia – Se nós olharmos em relação à cultura em que vivemos, o que vocês
entendem por perdas vistas por culturas diferentes?
Platéia – Relacionadas à criança, ou de forma geral?
Ana Lúcia – De uma forma geral.
Platéia – Acho que cada cultura vê a perda de uma forma diferente. As perdas
são vistas de forma diferente também quando estão relacionadas à religião.
Platéia – Acho que perda está relacionada à tristeza.
Ana Lúcia – Enfocando de uma maneira geral, o que vocês entendem por perdas
dentro de um contexto cultural?
Platéia – Tristeza, quebra de vínculo. Eu estou querendo achar uma coisa
diferente, mas tudo leva ao que já foi falado. Uma coisa negativa, uma coisa para
baixo. Na nossa cultura, também é derrota. A gente associa demais a perda à
derrota. Se você perdeu, está derrotado. É também um sentimento de
inferioridade. A criança sente muito isto. Se perder um jogo, sente-se inferior,
derrotado, porque vive sendo esmagado nesta premissa de que tem que ser o
melhor, tem que fazer o melhor, e, quando não consegue, a criança sente-se
derrotada.
Platéia – Cada cultura tem formas diferentes de encarar as perdas, pelo menos eu
acho.
Ana Lúcia – Esta questão é muito interessante. Agora, façam uma passagem
para a vida de vocês. Como foram as perdas na vida de vocês? Tiveram muitas
perdas?
Platéia – A gente teve uma perda bem próxima, foi a morte do meu pai. Foi a
perda máxima até hoje, eu sinto como uma perda assim, o resto para mim não é
obstáculo. Eu acho que a morte fica como um marco na vida da gente: antes da
morte aconteceu isto e depois da morte aconteceu aquilo. É uma coisa forte, ela
fica como um marco e sinaliza um antes e um depois.
2) Aquecimento Inespecífico
Ana Lúcia- Vamos falar das perdas que tivemos, vamos entrar em contato com
elas. Pensem ...
Ana Lúcia – Você teve perdas mais fortes?
Platéia – Eu tive uma convivência com minha irmã mais velha. Ela tinha uma
doença cardiológica, era uma pessoa que eu adorava, tinha uma diferença de
quase dez anos em relação a mim, sabe, desde pequenina aquela ambulância na
porta, então ela passava mal e tinha que ir ao hospital, então, sempre aquela
coisa... será que vou ter minha irmã hoje? Eu era pequena , não entendia direito...
meus pais saiam voando para São Paulo, nós éramos do interior. Ela tratava com
o Dr. Zerbini. Eles largavam tudo e todos lá e a gente ficava com tio, com avó,
com quem pudesse olhar. Então, tinha este sentimento: será que eu vou continuar
tendo esta pessoa, ela vai viver mais um dia?
Ana Lúcia – Era um sentimento de perda constante, antes mesmo de perdê-la,
não?
Platéia – Morte, saudade.
Ana Lúcia – Quebra de vínculo.
Ana Lúcia – Como vocês vêem a perda na vida da criança?
Platéia – Eu acho que é o momento que o meu filho está passando, porque eu me
casei e ele acha que está me perdendo.
Ana Lúcia – O que aconteceu para ele sentir isto?
Platéia – Me separei do pai dele e casei novamente, só que, dos 6 meses até os 4
anos, éramos só eu e ele dentro de casa... então, agora ele está com 5 anos e eu
me casei de novo, tenho certeza que ele acha que me perdeu ou que está me
perdendo.
Platéia – Está me perdendo? Não sei como consigo lidar com isto. Para não me
sentir culpada, começo a fazer um montão de coisas erradas. Comprar mais
brinquedos, atenuar as coisas erradas que ele faz. Daí, isto se torna uma bola de
neve...
Platéia – Eu procuro fazer coisas que diminuam este sentimento dele, tenho a
consciência disto. Eu queria deixar as coisas mais brandas, atenuar. Mas a gente
acaba errando, é inevitável.
Ana Lúcia – Que outros exemplos de perdas vocês podem estar colocando mais?
Platéia – Aquelas coisas, de cachorro que morreu, também pode ser um
exemplo?
Ana Lúcia – Lógico. Você sofreu muito?
Platéia – Muito mesmo, na morte dos dois cachorros. Engraçado, eu nunca tive,
em família, casos de perda. Já presenciei acidentes muito feios, onde eu lembro a
casa da rua, lembro a meia luz, eu associo muita coisa a cor. Até hoje eu detesto
a meia luz, eu associo ao dia que me ligaram e aconteceu tudo aquilo. Acho que
naquele dia também perdi a inocência de começar a entender um montão de
coisas.
Platéia – Eu já perdi bastante coisa, perdi uma inocência, mas ao mesmo tempo
ganhei outras coisas. Tive a perda da minha mãe, perda do meu pai e da minha
irmã. As perdas por morte foram muito significativas em minha vida. Torna-se um
buraco, um vazio. E assim, de coisas que eu conquistei e perdi. Conquistei o
direito de comprar um piano e depois tive que vender.
Ana Lúcia – Perda mesmo, percebem. Conquistou o direito de ter, e depois
precisou vender.
Ana Lúcia – Alguém quer falar sobre outras perdas que tiveram?
Platéia – Eu tive uma convivência com uma irmã mais velha. Ela tinha uma
doença cardiológica. Ela era uma pessoa que eu adorava, tinha uma diferença de
quase 10 anos de mim. Desde pequenina eu lembro de uma ambulância na porta
da minha casa. Ela passava mal, tinha que ir para o Hospital. Então sempre
aquela coisa, será que eu vou ter a minha irmã de volta, hoje? Eu era pequena,
não entendia direito, meus pais saiam voando para São Paulo, nós éramos do
interior, ela tratava com o Dr. Zerbini. Eles largavam tudo lá com o tio, com avó,
com quem pudesse olhar. Então vinha este sentimento sempre presente, se eu ia
ter minha irmã de volta ou não. Era muito ruim
Ana Lúcia – Você sentia um sentimento de perda constante, é isto?
Platéia – Sim pensava, será que ela vai viver mais um dia? Para a criança, hoje
eu sinto, é uma coisa muito difícil lidar com as coisas que elas não sabem ou nem
desconfiam o que e possível acontecer. É realmente um sentimento de perda
constante, e complicado. Às vezes fico sentindo isto em relação ao meu filho, ele é
super saudável e lindo, se algum dia acontecer de eu perder meu filho, eu vou
pensar que eu criei isto, eu tenho pavor de pensar nisto. Eu tenho pavor de perder
meus avós, porque eles são presenças muito importantes na minha vida, eu ainda
tenho aquela idéia, e às vezes penso: eles vão morrer, é uma coisa meio óbvia, a
única certeza que se tem na vida é a morte. Do resto você não tem certeza de
nada, mas isto me assusta. Como dizia meu pai, ninguém fica para semente.
Ana Lúcia – Acho que infelizmente não.
Platéia – Ou felizmente. Na nossa cultura não vemos a morte como uma
transformação, como os orientais. Tem culturas que vêem a morte diferente. A
gente vê a morte como um fim. Acho que nem o católico acredita na ressurreição.
Ana Lúcia – Bom pessoal, eu vou colocar alguns cartazes pendurados nas
paredes e vocês terão que passear pela sala e olhar cartaz por cartaz. No primeiro
momento vocês terão que identificar que sentimentos vocês sentem quando olham
para estes cartazes. Podem começar, devagarzinho, vocês vão olhando,
devagarzinho. Podem escrever uma palavra, um sentimento, que este ou aquele
cartaz despertou em vocês. Podem escrever no cartaz.
Platéia – Como assim, separação de amigo? Quando a gente deixa de ver um
amigo, pode ter acontecido esta sensação de perda.?
Ana Lúcia – Agora vocês vão chegar mais próximo ao cartaz que mais “pegou”
vocês. Aquele que tiveram mais identificação.
Platéia – Perdas de alguém da família. Morte.
3) Aquecimento específico:
Foram colocados cartazes com fotos de símbolos de perdas dentro do contexto do
ser humano e os integrantes do grande grupo passearam pela sala escrevendo
em cada cartaz o sentimento que cada um deles despertava para eles. O resumo
deste trabalho foi o seguinte:
Morte (símbolo da máscara da morte):
-dor
-um buraco em nossa vida
-tristeza
-desespero
-a pior coisa da vida
-um pedaço de nós que se vai
Caixão:
-um horror
-quero passar longe
-tristeza por saber que pessoas que gostamos vai para debaixo da terra.
-depressão.
Capa preta:
-sinal de luto
-coisa horripilante.
-morte
-drácula
-personagens ruins da vida
Cruz:
-relacionada à morte
-tristeza.
- fé em Deus
Desemprego:
-desespero da família
-fome
-tristeza
-angústia
-falta de esperança
Perdas de objetos, animais de estimação, amigos.
-tristeza
-desespero
-vontade de desistir
Ana Lúcia – Agora vocês vão se colocar junto à perda que mais toca o coração e
a vida de vocês. E vão formar grupos, certo?
Ana Lúcia – Bom, vocês formaram três grupos da seguinte forma: Perdas por
morte, vocês oito? Perdas por separação dos pais, seis, ok? Perdas por
instabilidade da família, perda do emprego, tudo ok?
Ana Lúcia – Agora vocês vão começar a trabalhar em cima de alguns papéis, vão
tentar representá-los. Neste momento vamos fazer o seguinte. Nós temos três
situações sérias. Primeiro, a perda de alguém muito querido; segundo, a perda da
família estruturada por separação dos pais; e terceiro, a perda da estabilidade da
família por desemprego dos pais.
Platéia – Este terceiro motivo é muito sério. Ponho-me na condição de filha, eu
vivi isto.
Ana Lúcia – Realmente, você tem razão. Quando uma mãe ou um pai fica
desempregado, os filhos sentem a perda de uma forma muito intensa, e os pais
sempre terão que trabalhar isto com a criança, para que elas não sofram tanto
com este problema.
Ana Lúcia – Nosso trabalho vai continuar da seguinte forma: iremos formar três
grupos, e cada grupo terá que elaborar uma situação onde aparecerá cada
situação que foi escolhida anteriormente. Então, um grupo vai trabalhar o tema
perdas de uma pessoa querida; o outro vai trabalhar o tema da perda por
separação dos pais; e o terceiro, a perda de emprego dos pais. Elaborem uma
história breve, onde vão aparecer os pais e a criança dentro do contexto, e em
seguida à situação, vocês terão que orientar a criança como sair do sofrimento por
causa da perda.
Platéia – Vamos ter que dramatizar a situação?
Ana Lúcia – Sim. Vocês vão elaborar uma situação, definir os papéis de cada um
do grupo e depois dramatizá-la.
4) Dramatização
Dinâmica dos grupos
Grupo 1- O grupo escolheu uma cena em que uma garota que foi criada pela tia
durante toda a vida, e depois de casar saiu do interior e veio morar em São Paulo
com os pais mais ou menos aos 10 anos. Num dado momento de sua vida ela
recebeu uma notícia de que a sua tia estava muito doente e ela foi imediatamente
para o interior. As pessoas esconderam dela o tempo todo que a tia tinha morrido
e ela ficou muito triste, revoltada porque não pôde se despedir da sua tia querida.
Dramatização N°1:
Narrador – Os pais recebem um telefonema de uma tia da garota, dizendo que
sua tia querida morreu.
Conversa dos pais. (Foto-Anexo 7)
P – Meu Deus, o que faremos? Quando F. souber vai ficar muito mal, ela adorava
aquela tia.
M – Acho melhor deixar passar um pouco o tempo e depois contaremos aos
poucos para ela.
P – Acho a idéia boa, mas como diremos a ela que sua tia está doente? Ou
diremos a ela que sua tia teve um enfarto fulminante e está na UTI? Não sei
mesmo o que fazer.
M – Não tenha pressa, acho realmente que devemos prepará-la aos poucos.
Quem sabe mais ou menos daqui a uma semana contaremos aos poucos...
Narrador Conversa entre a mãe e a menina.
M – Filha, eu queria te dizer que recebi uma notícia hoje de que sua tia L. não está
muito bem. Ela teve um mal estar esta noite, mas tenho certeza que não foi nada.
F – Gostaria de ir até lá, para visitá-la. Será que vai dar para viajarmos neste final
de semana?
M – Acho que não, filhinha, porque o papai vai ter que trabalhar. Quem sabe no
outro fim de semana.
F – E se minha prima for, você deixa que eu vá com ela?
M – De jeito nenhum, filha, porque você vai dar trabalho para sua prima.
F – Que é isto, mãe, eu não dou trabalho para ninguém. Eu sei me virar sozinha. E
eu quero ver minha tia.
NarradorDurante a semana a garota passou todos os dias perguntando pela tia
chegando a telefonar para os primos no interior que inventaram uma mentira e não
falaram que a tia tinha morrido.
Narrador Diálogo da filha com o pai, dias depois.
F – Pai, eu vou para o interior com meu primo, amanhã, tudo bem?
P – Não, filha, eu não gostaria que você fosse com o seu primo, porque ele corre
muito e a viagem vai ser perigosa, e eu não vou ficar tranqüilo.
F – Pai, mas eu preciso ver a tia. Acho que ela precisa de mim. Você sabe que ela
me considera como uma filha.
P – Eu sei, filha, mas te prometo que te levo o quanto antes para vê-la.
Narrador – Dias depois, sem ter como prorrogar mais a data da viagem, os pais
resolveram levá-la. Chegando no interior, ela encontrou a família da tia.
F – Olha, queridos, e a tia L., onde está?
Narrador Todos se entreolharam.
P – Filha, eu não te falei, mas a tua tia foi internada e está muito mal.
F – Mas onde ela está? Vamos lá agora. Eu quero vê-la.
Narrador Um neto (5 anos) daquela tia prontamente falou bem alto:
Neto da tia – Mas F., a tia L. morreu. Você não sabia? Ela foi para junto do papai
do céu.
F – Meu Deus! (olhando para os pais) Vocês não podiam ter feito isto comigo, eu
gostaria muito de ter podido conversar com a tia, antes dela morrer. Vocês não
tinham este direito. Vocês são os bichos, e só pensam em vocês. Eu odeio
vocês!!!
P – Onde foi que erramos?
Ana Lúcia – Maravilhoso. Palmas para este grupo.
Ana Lúcia – Nós só faremos os comentários após as três dramatizações, OK?
Grupo 2 – O grupo escolheu uma criança de quatro anos de idade. Os pais estão
se separando e a criança está em pânico. Inicialmente, a postura da mãe é de
revoltar-se contra o pai, e fica falando um monte de coisas para a criança, com o
objetivo de sensibilizar o pai através da criança. Desta forma, acontece um conflito
interno desta criança e ela fica sem saber como pode ajudar a ambos. Tem pena
do pai, que está morando sozinho, e fica triste porque a mãe chora muito, porque
o casamento acabou. Depois de vários meses de problemas com a criança, muito
choro, muito sofrimento, o casal procura ajuda de um terapeuta de família, para ter
uma orientação. E, em seguida, a entrada de um novo cônjuge na vida da mãe.
Dramatização Nº 2:
Cena 1
Pai e mãe conversam.
M – Mas você tem certeza que não dá mais para nós continuarmos?
(A criança está escondida, ouvindo a conversa.)
P –- Nós já tentamos diversas vezes e não conseguimos. Agora sou eu que não
quero mais.O teu ciúme, a tua falta de confiança já passaram dos limites, não
agüento mais.
M – Por favor, pela menina. Já pensou... a nossa filha, tão pequena e já com os
pais separados?
(Ela dramatiza. Choro, lamentações.)
A criança chora e sai correndo para o quarto e os pais vão atrás.
Cena 2
Conversa dos pais com a criança.
M – Filhinha, não fique assim, a vida é assim mesmo. O papai não quer mais ficar
com a gente. Coitadinha de nós, agora teremos que ficar sozinhas.
A criança chora, chora, chora até chegar a ter vômitos...
Cena 3-
Conversa entre o casal.
P – Você é culpada disso que está acontecendo com ela. Você fica falando um
montão de besteiras para ela, daí acontece tudo isto.
M – (Se coloca como vítima) Você ainda vem me dar bronca, dizer que estou
errada. Se coloque no meu lugar. Coitada de mim (chorando)... ter que criar uma
filha sozinha.Você é um monstro.
P – Não faça isto, você não vai criar nossa filha sozinha.
Depois de muitas brigas, o casal resolve procurar ajuda.
Cena 4
Conversa dos pais com o terapeuta.
C – Estamos aqui, Dr., porque vamos nos separar e estamos tendo problemas
com a nossa filha. Ela está triste, não aceita a separação e não sabemos o que
fazer.
T – Acho que vocês precisam dizer a verdade para ela.
C – Mas não podemos dizer a verdade, porque senão ela vai sofrer muito.
T – Pensem bem, se vocês não falarem a verdade, esta criança nunca vai confiar
em vocês, vai ficar com aquela eterna sensação de que alguma coisa aconteceu
que os pais resolveram se separar. Imaginem a criança se culpando pela
separação dos pais...
T – O que vocês acham que poderiam dizer, para que esta criança perceba o que
realmente aconteceu?
C – Acho que poderíamos dizer que, durante uma época nós namoramos e nos
gostávamos muito, mas que, depois, a gente não queria namorar mais.
T – O mais importante para o filho é que ele perceba que esta separação não vai
causar danos sérios em sua vida junto ao pai e à mãe.
T– É uma falsa ilusão que você passa para a criança que você sabe tudo, porque
você não sabe tudo. Aí, quando ela fica grande, ela diz que você não sabe de
nada, está fazendo besteira.
C– O meu filho tem a fotografia do avô... Assim, vira e mexe, quem te ensinou
isto? É o meu avô. Ele tem mais avôs de ambos os lados, ele está falando da
fotografia do vô mesmo, ele fez do avô um amigo imaginário.
T– Pode ser.
C– Não tem problema?
T– A idade dele ainda é uma idade de fantasia... Você permite isto.
C – Começou a falar no amigo imaginário recentemente... é o primo e o avô .
C– Pode ser que ele criou um (...) forçando a fragilidade dele, ficando sozinho,
papai não gosta da gente, foi embora... eu já não sabia falar assim. Eu já não sirvo
para ser mulher, eu já trouxe isto tão... eu falo... eu não fui muito criança, não sei
passar isto.
T – Então fala para mim, como você falaria...
C – Como eu falo, eu digo... as pessoas se unem por um sentimento, um gostar...
Eu perguntei: você não gosta da mamãe? A mamãe gostou do papai, o papai da
mamãe... as coisas não deram certo, por isto nos separamos, isto acontece... ele
entende isto.
T – Como você gostaria de se colocar?
C – Eu entrei naquela que você falou de reforçar que nós estamos sozinhas, é
aquele caso que eu contei, este caso específico.
T – Eu quero que vocês entrem na parte de orientação, certamente. E neste caso
que as mães angustiadas... quero que alguém chegue nelas e...
C – Eu fiz um pacto com o pai dele, faço o impossível para não passar esta
angústia para ele. Eu trouxe isto até hoje, tanto é que a gente se dá super bem,
pega o menino sempre que ele quer... eu não sei viver muito isto... ah! Está
morrendo, vai sair...
T – O que a gente quer é exatamente isto. Você falou, no começo, que você vive
hoje com o seu filho, é uma situação de perda, ele sente que está te perdendo. Eu
acho que é uma situação interessante, e como trabalho isto para que a criança
não sinta que no possível casamento da mãe ele não vai perder a mãe é um outro
dado.
M – Vamos fazer a separação.
M – A primeira ela já passou, mesmo em um casamento normal, que não é o caso
dela, o filho vem de outro casamento, mesmo no nosso existe esta coisa de você
estar um pouco com o pai, o filho disputar a atenção. Eu tenho este problema em
casa: o meu mais velho acha que me perde para o meu bebê, o Cláudio vive a
mesma coisa, só que ele não verbaliza como o filho, abraça ela: eu preciso de
você, mamãe, tem que ficar perto de mim. O Cláudio acaba chorando, ele
demonstra de outras formas, ele pergunta se eu sou amiga. O meu verbaliza, ele
fala ou pergunta o que você quer, sente. Ele está com quantos anos? Cinco anos.
Ele só me pergunta se eu sou amiga, o meu vivia perguntando o tempo todo.
M – A gente podia fazer uma cena (...) na hora, os pais juntos, mãe, padrasto,
tentei colocar na cama como eu faço sempre. Vamos para a cama, pode ser uma
cadeira, eu não estou com sono (só um pouquinho), a mamãe fica com você, só
um pouquinho, a mamãe conta uma historinha, não vou ver televisão, põe
Aristogatas, ponho você na cama, conta uma historinha, só um pouquinho, está
bom, então vamos deitar com a gente, agora os três, agora eu pego no colo; não,
mãe, vai ficar mais um pouco; não, você vai... Eu vou e deito do lado dele, canto
uma música, mãe, mãe...
Ana Lúcia – Agora você, mãe, vai procurar a terapeuta, é isto?
M – É sim, eu preciso de uma ajuda, porque meu filho não desgruda de mim, quer
dormir comigo todas as noites, desde que eu me separei do pai dele.
M – Isto a noite inteira. Vou perder o meu novo marido, vou perder minha vida,
minha saúde, eu estou no consultório. Boa tarde! Boa tarde, o que houve? Estou
com um problema com o meu filho, está um sufoco lá em casa, desde o início
dormi com ele, e agora eu não consigo, eu estou sentindo que ele está me
perdendo, isto o que ele sente, não aceita que a gente fique juntos... mas isto é
claro. Trabalho à noite, logo de manhã tenho que acordar, eu gosto do menino, ela
sabe disto, eu gosto muito do menino, mas dormir é uma necessidade, está difícil,
a gente tem que ver desde lá do começo, logo que você se separou do marido já
pôs ele lá na cama, você nunca imaginou que viesse a casar de novo e ter alguém
para dividir de novo a cama, de repente é uma falha que veio lá de trás e que
agora a gente tem que ter muita paciência, porque não vai ser da noite para o dia.
Você não esperava que eu fosse aparecer na sua vida, meu amor, agora não
pode mais vivenciar este romance, todo dia o pobre no chão, eu tenho problema
de coluna, eu faço qualquer coisa por ela, mas é difícil dormir no chão, é um
sofrimento... Como a gente pode agir? A gente está com pena do Renanzinho, a
gente quer que ele fique bem. Estou parecendo uma louca!!
T – Eu acho o seguinte, vamos trancar o quarto. Não, não vamos trancar o quarto,
a gente faz o seguinte: vocês colocam o Renan junto no quarto dele, na cama
dele, vocês dois juntos, vai contar uma historia, ele interagindo na história, vocês
dois contam, não só a mãe, não só o pai, não só o Carlos.
T– Se o problema da perda do Renan é este marido que vai junto, porque ele vai
junto para o quarto do Renan (reforça). A única forma que tem de você desvincular
um pouco esta criança de você é você ir para o quarto com ele na hora dele
dormir, e contando uma história, não deita com ele, você senta junto na caminha
dele, conta uma história, você tenta fazer ele adormecer nas primeiras duas
semanas, e depois você vai espaçando um pouco mais as tuas idas ao quarto... é
um fato, primeiro tem que conversar com ele sobre esta separação, e que ele só
vai dormir no quartinho dele porque agora você tem um marido, porque senão esta
criança vai enrolar os papéis dele porque ele está ali competindo com o Carlos,
quando ele percebe que a mãe vai colocá-lo de volta ele chora, então você tem
que enfatizar o Renan que ele é teu filho, lugar de filho é dormir no quarto dele,
você vão ter que reeducar esta criança, ele vai ficar magoado e você vai ter que
entender esta tristeza. Se ele perguntar como alguém falou, mas antes eu
dormia... por que você não me deixa dormir agora? Olha, filho a mamãe errou, a
mamãe não devia ter deixado você dormir com a mamãe, o teu lugar era ter
dormido no seu quartinho.
M – O problema é tão sério que ele não aceita coberta enquanto eu não encontro
ele para dormir, então o que o pediatra falou: ele precisa do meu calor como ele
precisava quando ainda estava lá dentro com cinco anos.
T – Este é um processo simbiótico, que você precisa fazer uma reformulação dele,
vai ser difícil, mas não é impossível, se você tiver coragem. Você vai ter que tirar
esta criança da tua cama, vai ter que pôr no quartinho. É um jogo de paciência, dia
após dia, quando ele chorar você acolhe, você ameniza a dor dele, mas não leve
de volta para a cama, para se livrar do problema, porque senão aumenta. O que
vocês acham que deveria dar de orientação para esta mãe que está aflita?
M – No meu caso, a Ana Lúcia me orientou. Como eu tirei o berço cedo, ele não
tinha o controle da situação, ele reclama e fica... está chorando. Você explica que
agora ele precisa dormir na caminha dele, que seu marido precisa dormir naquele
espaço. Eu acho que tem que conversar com ele com seriedade: tem uma outra
pessoa dormindo aqui. Se prepare para ficar uns quarenta minutos no começo, ele
vai tentar negociar absolutamente tudo com você.
T – Mas você conseguiu?
M – Consegui, eu sofri muito, ele não ia para minha cama, eles são espertos, eu
vejo uma coisa tão impressionante que agora ele está vendo tudo isto, ele mesmo
quer dormir mais tarde do que de costume, eu chego muito cansada e já parece
que dá este tempo, até parece...a coisa acontece muito rápido, ele quer aproveitar
e ir para minha cama, não sei se é o que a Ana te indicaria... É muito mais difícil
para gente do que para ele, porque quando ela falou para a pessoa que morava
comigo para ficar com ele no quarto, eu fiquei atrás da porta, assim... ela falou:
você consegue? Eu ficava atrás da porta, ah! Não fala isto que eu estava
pensando, fala tal coisa, e olha, a hora que ele percebeu que não me afetava
mais, quer dizer, afetava, mas eu estava, ele não percebia, e ia dormir, ele não
sofre? Eu tenho medo, eu tenho medo, acontece isto comigo todo dia, adora ficar
com a gente... Ele fala: mãe, pode fechar o olho e depois fica um pouquinho, o
que eu faço, ele adormece na minha cama, eu deixo passar uma hora, porque eu
estou vendo televisão, não sei se estou certa, e aí eu o pego com o travesseiro
dele, ele já está de pijama, e o levo ele para a cama.
T – Ele acorda na cama dele?
M – O meu filho não acorda na cama dele. É como se eu estivesse roubando o
espaço que era dele, primeiro tenho que conversar com ele a respeito do que está
acontecendo: olha, filhinho, a mamãe anda preocupada. Nós casamos no sábado,
no sábado estava tudo certo. Mas deu tudo errado...
T – Para você dormir sozinho com o marido?
M – Para ele ir ao casamento, quando foi no sábado à noite nós decidimos ficar
sozinhos, nós saímos no domingo, este menino estava insuportável. Na hora que
saí, ele disse... aonde eu ia... resolver um problema que só eu podia resolver. Ele
não perguntou qual era o problema e saiu correndo, no outro dia ele estava
insuportável, como se ele estivesse cobrando alguma coisa que ficou faltando ali
para ele.
T – O que vocês sentem em relação a ela, dentro do contexto?
M – Eu acho que ela está se sentindo superculpada. É uma coisa que... durante
tanto tempo ela nunca teve espaço para ser criança, agora não está tendo tempo
de ser mulher.
Ana Lúcia – Interessante esta colocação.
M – Uma coisa está se repetindo, eu acho que, quando você resolver isto, esta dor
de tirar ele, para ele vai ser um crescimento enorme, ele vai gostar de olhar para
trás e dizer “que bom, superei, agora eu durmo no meu quarto”, e esta coisa de
falar, esta coisa que a Ana falou, só esta coisa de você falar para ele que você
errou ao colocar ele junto é muito importante.
Ana Lúcia – Importantíssimo.
M – Eu fiz um tour com ele na casa de todos os amigos da escola, das famílias,
mostrando igual o meu caso, eu conversei com os pais na frente dele, para
mostrar que os pais dormem, pelo menos que ele sentisse que os pais dormem
juntos... mas você não dorme com meu pai? É que para ele a coisa nunca existiu,
e tem uma coisa que é diferente, quem tem filho homem pode dizer... a ligação
que a gente tem com filho homem é muito forte, e na verdade ele sempre foi o
homem da sua vida, se você se separou do pai dele quando ele tinha seis meses,
você também colocou expectativas suas em relação a um homem, eu não sei o
que eu imagino...
Ana Lúcia – É por aí.
M – A companhia é masculina.
T – Primeiro passo em relação a ele é você conversar com ele sobre isto, e depois
você vai fazer o jogo de paciência, que é levá-lo para o quarto antes de você
deitar e dizer para ele: olha, filho, você vai ter que dormir aqui. Aí você me
perguntou: mas ele não vai sofrer? Então já vamos engatar um pouco naquele
tema que eu falei para vocês. Nós, pais, como preparadores emocionais, quando
a gente é um preparador emocional simplista, a gente não dá atenção à emoção
da criança, um preparador emocional dá atenção à emoção da criança, ele está
triste, ele vai sofrer, mas isto vai fazer com que ele cresça.
M – Eu falo isto porque eu já dormi com os meus pais, e hoje eu disse isto, em
trabalho que eu fiz há um tempo atrás, e como eu era pentelho, ir lá no quarto dos
meus pais, eles não colocaram limites, eu demorei até quatorze anos... era um
inferno. Eu gostaria de ter a intervenção dos meus pais logo que eu comecei a ir
para o quarto, meu medo e minha culpa talvez seja em relação a isto, a gente ter
ficado muito tempos juntos, um tempo sozinhos. Eu sem ninguém mesmo, até os
quatro anos, agora apareço com esta pessoa e eu, você está dentro do teu
contexto, da tua família, eu já tenho, estou tentando fazer isto com ele agora, eu
não sei até onde uma pessoa estranha... como apresentar isto.
T – Mas é esta pessoa estranha que você escolheu para ser seu marido já não é
uma estranha para você, não é um ser estranho. Para ele, você tem que mostrar
isto, e ele começará a ver o padrasto, poderá olhá-lo como rival por um tempo,
depois ele vai elaborando isto, dependendo da relação que eles tiverem, existe
uma elaboração, ele está sentindo que está lhe perdendo mais, é importante ele
sentir isto, o vinculo dele com você tem que ser de mãe e filho.
M – Não de homem e mulher, não é?
T – Isto é uma coisa interessante: primeiro você tem que elaborar você como
mulher, por quê? Para você se dar o direito de ser feliz, elaborar sua vida, você vai
ter uma segurança de dar uma felicidade, de dar para ele uma vida boa,
harmoniosa, se permita isto, você não se permitiu durante tanto tempo quando era
criança, agora está na hora de você não perder, de você ganhar, pegar ou largar.
Platéia – Não sei se é o caso dela, mas no meu caso pensei colocar uma outra
pessoa.
T – Ela não tem uma outra pessoa em casa.
M – Tem uma pessoa que fica com ele durante a manhã, à tarde ele vai para a
escola. O que eu senti em relação ao Cláudio é mais difícil para gente do que para
a criança.
T – Eu não tenho dúvida. Que horas você dorme?
M – Eu errei muito. Ele, com dois anos de idade, eu ia deitar às dez horas, deixava
ele na sala, ele ia dormir, desligava a televisão, apagava a luz e ia deitar... com
dois anos, ele faz isto até hoje, ele vai deitar onze e meia, meia-noite, eu vou
dormir.
T – Você tem que reverter isto. A partir de hoje você vai dormir às dez horas, bota
na cama, vai relaxar, ele vai mudar tudo, e vai ligar para mim, dar um retorno.
Ana Lúcia – Excelente a representação. Vocês se situaram na dificuldade de uma
mãe em conflito, por estar num processo de separação, como falar isto para a
criança, a entrada de um novo cônjuge e o conflito interno desta mãe, para não
fazer o filho sofrer.
Platéia – É impressionante.Nós, pais, realmente fazemos este movimento de não
querer fazer o filho sofrer.
Ana Lúcia – Isto é o que realmente não permite que a criança avance alguns
passos na maturação emocional. Nós, pais, temos a certeza que, protegendo
bastante, o filho será menos infeliz. Isto não é verdade, a criança se fortalece à
medida que ela sabe enfrentar as situações difíceis com um certo jogo de cintura.
Ana Lúcia – Dentro do contexto das orientações que foram dadas pelo terapeuta,
uma das mais importantes é que a situação tem que ficar clara para a criança, e
que os pais evitem culpar um ao outro pela separação, tentem ter um
relacionamento um pouco mais cordial, procurem mostrar à criança que
conseguem se entender e que podem tentar ter um bom relacionamento em prol
do bem estar da mesma, e desta forma poderá elaborar melhor esta perda.
Ana Lúcia – Vamos fazer o seguinte, senão não vai dar tempo de vocês
dramatizarem o terceiro. Quando existe uma situação de perda de emprego dos
pais, normalmente as crianças sentem fortemente o abalo dos pais, a insegurança
que eles passam, e isto é muito sério. Primeiro começa a se reduzir tudo em casa,
a perda não é só do emprego do pai, é a perda de algumas sobremesas legais do
supermercado, porque a gente costuma reduzir tudo, ao nível de compras. Você
diz: agora a mamãe não pode comprar isto porque o papai está desempregado. É
importante conversar com a criança sobre a perda do emprego, o que é a perda
do emprego, o que é a possibilidade de se encontrar um novo emprego, porque,
na expectativa da criança, o pai vai ficar pobre, perdeu o emprego, o pai vai ficar
pobre, o pai já é pobre, vai ficar mais pobre ainda, a criança tem a fantasia que vai
perder a casa, tem muita fantasia... É importante dizer: o papai perdeu o emprego,
mas já está procurando outro. Não é fácil, mas ele vai achar... Porque senão a
criança fica elaborando coisas totalmente negativas, e aí, se você não dá uma
orientação dentro do contexto que ele está vivendo, a criança vive nesta
insegurança, identifica com um modelo de fracasso. Eu tenho um caso de uma
criança que o pai já perdeu o emprego várias vezes... ele tem oito anos... ele falou
assim: eu tenho a impressão que ele não é um bom profissional. Por que não é
um bom profissional? Oito anos... “... eu tenho a impressão... ele é sempre
mandado embora...” “Aí eu disse assim: às vezes é que ele não se adapta ao
trabalho. Mas você vê a fantasia que ele fazem de que o pai não trabalha bem, de
que o pai não sabe das coisas, é muito complicado”.
Dramatização Nº3:
Conversa dos pais com dois filhos adolescentes a respeito da perda do emprego e
das dificuldades que eles poderão passar, caso o pai não consiga emprego logo.
P – Filhos, a partir de hoje teremos que economizar bastante, porque o papai foi
mandado embora do emprego, e isto faz com que a gente não fique tranqüilo. Vou
tentar arrumar um outro emprego logo, mas não sei se vai ser tão fácil. Vocês
sabem que o pai já tem mais de cinqüenta anos, e isto vai dificultando cada vez
mais.
F – Mas o que aconteceu que você foi mandado embora?
P – Acho que corte de pessoal em toda empresa, e como eu era um funcionário
muito antigo , tinha um salário maior, é lógico que eles logo minam os mais velhos.
F – Mas pai, e o meu cursinho, como vai ficar?
P – Não sei filho, se eu não arranjar outro emprego logo, você vai ter que deixar o
cursinho e estudar em casa, para o vestibular.
Filho começa a chorar, desesperado.
Ego auxiliar faz uma intervenção junto ao garoto.
E.A – O que é que está me deixando tão triste?
F – Tenho medo de que aconteça alguma coisa ao meu pai. Tenho medo que a
gente tenha que vender a nossa casa. Tenho medo de um montão de coisas.
E.A – Porque eu fico tão desesperado, diante desta situação?
F – Na realidade, fico desesperado, porque não confio muito no meu pai, ele diz
que é um dos mais antigos na empresa, mas ele sabe que é mentira, porque faz
apenas dois anos que ele trabalha lá. Meu pai troca muito de emprego e, toda vez
que isto acontece, a gente fica muito mal.
E.A – O que é que eu posso fazer para ajudar meu pai, nesta situação?
F – Acho que posso arranjar um emprego, nem que tenha que gastar todo o
salário para pagar o meu cursinho.
M – Eu acho que realmente está na hora de vocês dois começarem a se mexer
para trabalhar. Eu e seu pai passamos uma vida inteira protegendo vocês, não
deixamos vocês trabalharem, dando tudo o que podíamos e o que não podíamos
para que vocês se sentissem felizes. Hoje eu acho que fizemos muito mal, talvez
se a gente tivesse deixado vocês passarem por algumas situações difíceis, vocês
hoje estariam fortes para enfrentar esta situação.
Os filhos olham a mãe de forma perplexa, e ficam pensativos...
Ana Lúcia – Muito bom gente. Acho que vale palmas para esta dramatização.
Palmas...
Ana Lúcia – Então , vamos recapitular algumas coisas que foram faladas hoje
aqui. Vocês não podem dizer que não aprenderam. O ponto número um, falar a
verdade; o ponto número dois, depois da verdade, ajudar diante do que pode
acontecer com a criança.
Ana Lúcia – O que mais?
Platéia – Respeitar a emoção.
Ana Lúcia – Gente! Terceiro ponto.
Platéia – Entender o próprio sentimento.
Ana Lúcia – Este é um ponto, o que realmente completa o nosso trabalho. A
gente tem que entender os sentimentos da gente, para a gente poder não misturar
com os da criança, é aquela mãe que está usando a criança para trazer o pai de
volta, vamos ficar sozinhas, coitadinho de nós, aí a criança fica angustiada e ela
se angustia quando disse isto para ela. Ela disse: Ana Lucia, você está ficando
doida, você acha que eu quero o mal da minha filha, de jeito nenhum. Pára e
pense: quando você diz a uma criança de dois anos e meio que vocês estão
sozinhas no mundo, o que você está fazendo com esta criança? Você está
torturando ela.
Platéia – Ela compreende, aos dois anos e meio?
Ana Lúcia – A criança chora sem parar, e ela me disse, no consultório: papai foi
embora e não voltou mais... Entende! A criança entende tudo, às vezes não
elabora, mas entende tudo, então, tem sempre que dizer a verdade.
Platéia – Hoje é adulto, a gente não percebe, mas eu tenho uma vizinha, a filhinha
dela tem um ano e oito meses. Papai chegou! Papai! Vai na porta, ela fica alegre,
eu escuto do meu apartamento, sendo que tem um ano e oito meses, sabe,
quando o pai chega, escuta o barulho da chave.
Ana Lúcia – Eu acho que deu para trabalhar legal, e legal que é um grupo ativo ,
que participa.
Platéia – Sair de uma escola para outra pode ser uma perda dos amigos?
Ana Lúcia – Lógico, grande. É o crescimento. Se ele está triste por causa do
amiguinho, convida o amiguinho para vir em casa, a gente pode minimizar. Às
vezes a criança não quer sair da escola porque tem um amiguinho do peito. O que
faz? Convida o amigo para ir em casa, convida o amiguinho para o aniversário,
você entendeu, faz um ritual que a criança de uma certa forma pode acompanhar.
Platéia – Quando o amiguinho do peito é o vilão da história, você tem que afastar
ele justamente porque tem que afastar ele, porque ele é o mocinho, também é
uma perda?
Ana Lúcia – É uma perda, mas se tem que afastar, tem que afastar.
Platéia – Mas é uma perda momentânea, na outra escola ela vai achar outro
amigo, eles rapidamente se apegam aos outros.
Ana Lúcia – No domingo eu estava vendo um programa de TV, que eu achei
interessante. Estavam lá dois atores, Maria Fernanda Cândido e o Gianichini. O
apresentador convidou amigos de várias escolas, desde o pré-primário dos dois,
aí o Gianichini falou assim: sabe, cara, eu chorei tanto quando saí daquela escola,
eu adorava aquela escola. Ele dizendo que a mãe o tirou de uma escola para
outra, e o amigo continuou.Ele reconheceu o amigo na hora, ele tinha que achar
um amigo na platéia, esta perda de ter saído, ele não perdeu esta imagem do
amigo na cabeça dele, foi tão lindo... o reencontro com os amigos foi muito legal.
Platéia – Eu reconheci uma amiga, estes dias. Quando nos separamos, nós
tínhamos nove anos, e eu conheci a voz dela no corredor do hospital, e fazia mais
de vinte anos que a gente não se via, eu ouvi a voz, eu estava tomando soro, eu
dei um pulo e falei: Sandra! Quem está me chamando? Vinte e um anos que a
gente não se falava, mas foi uma amiga. Na hora que eu vi o cartaz, eu vi muito
assim: angústia, sofrimento.
Ana Lúcia – Eu não identifiquei com coisa de amiga, mas este tipo de coisa... às
vezes a gente perde uma amiga, não é porque quer, não é por briga, por
falsidade, é pela situação normal da vida... como ela...
Platéia – Eu conheci a voz, pensei: como pode, na cabeça da gente?
Ana Lúcia – Agora nós faremos alguns comentários das três dramatizações. O
que é que nós vimos nas representações?
Platéia – Que os pais tratam os filhos como débeis mentais?
Platéia (Risos).
Ana Lúcia – Eu não seria tão rude na palavra, mas que alguns pais tratam os
filhos como se eles fossem eternamente bebês, sim. Na primeira dramatização, eu
pergunto a vocês: qual o direito que aqueles pais tinham de privar a criança de
despedir-se da tia?
Platéia – Acho que nenhum, mas nós tentamos minimizar o sofrimento dos
nossos filhos, sem sombras de dúvidas. Eu acho que, se fosse eu, teria feito a
mesma coisa. É lógico que antes de ter participado deste trabalho.
Platéia – Nós, pais, podemos dizer que a pessoa que morre vai para junto do
papai do céu, que Ele vai cuidar do ente querido que morreu?
Ana Lúcia – Esta é uma boa pergunta, e as pessoas se questionam muito sobre
isto. Habitualmente, eu oriento os pais para que não digam desta forma, porque,
se Deus leva as criaturas boas para o paraíso, isto pode provocar nas crianças a
revolta contra Deus e até o mau comportamento, porque a criança não quer ser
tirada do seio da família, por ser boazinha.É necessário que os pais compreendam
que ensinar a suportar a dor da perda é uma importante lição de vida para a
criança e que, fazendo isto, eles estão permitindo que seu filho comece uma
investida na sua identidade emocional de forma sólida, segura. Além do que,
quando surge a verdade, a criança sofrerá pela perda da pessoa querida e a
perda da confiança nos pais. As crianças precisam ser estimuladas a compartilhar
todos os seus sentimentos. Nunca deve ser dito às crianças que "elas são muito
grandes para chorar”, e seus sentimentos não devem ser deixados de lado.Os
pais devem estar preparados para responder as mesmas perguntas diversas
vezes, pois isto mostra que a criança está tentando entender a perda. Os adultos
devem compartilhar seus sentimentos com as crianças.Ocultar o seu sofrimento
não protege as crianças, pelo contrário, confunde e assusta, pois elas percebem
que o adulto está imerso em fortes emoções, ao mesmo tempo em que as nega. O
adulto deve mostrar às crianças que não há nada de errado em expressar e
suportar sentimentos dolorosos até que eles se extingam. Ajudando, assim, a
criança a superar a dor da perda. Então, respondendo a sua pergunta, deve dizer
à criança que morrer faz parte do ciclo da vida, que um dia a gente nasce, cresce,
fica velhinho e morre. Com todos nós vai acontecer isto.Quando a pessoa que
morre é mais nova é importante ressaltar para a criança que alguma coisa
aconteceu que chegou a hora dela morrer tão jovem.
Ana Lúcia – Vocês entenderam esta dinâmica?
Platéia – Sim, e ficou muito clara a necessidade de sermos verdadeiros.
Platéia – E quando a perda é de um animal de estimação?
Ana Lúcia – A dinâmica em relação à perda é a mesma, sendo que a maioria dos
pais tende a substituir rapidamente o animal de estimação por outro, com a
intenção de suavizar a dor natural da criança. Uma substituição demasiadamente
rápida pode inibir um sentimento sadio e fazer com que a criança recuse a nova
mascote, para evitar o que para ela seria uma traição ao anterior. Também pode
criar a falsa idéia de que tudo pode ser facilmente substituído, incluindo ela
mesma. Não há regras para saber o momento ideal para dar um novo animal de
estimação para a criança, porém os pais devem observar o seguinte: A criança
consegue falar sobre a mascote perdido sem experimentar grande dor? A criança
pode falar em ter uma nova mascote sem se sentir desleal com o anterior? A
criança quer ter a mesma espécie de mascote? Quer que seja da mesma raça do
anterior? Gostaria de dar outro nome? O veterinário pode sugerir uma variedade
de atividades familiares que poderão ajudar a amenizar a dor da criança, e até
prepará-la para receber um novo animal de estimação. As famílias podem ver,
juntas, fotografias da mascote perdida. Devem conversar sobre o que gostavam e
não gostavam no animal. As crianças com menor comunicação verbal podem
escrever estórias e fazer desenhos. Os pais podem criar um local em memória à
mascote, incorporando sugestões das crianças. Quando recebem afeto e apoio
emocional adequado, as crianças são capazes de suportar a morte de um animal
de estimação com pouco ou nenhum trauma. Se, no entanto, os sentimentos das
crianças forem negligenciados pela família, elas poderão sofrer reações extremas
ante a perda da mascote, que poderão se manifestar da seguinte forma: Não
querer ficar longe dos pais. Aumento do nervosismo e perda da autoconfiança.
Pesadelos constantes. Acidentes em crianças com bons hábitos de higiene. Em
adolescentes, aparecem mal estares freqüentes como dores de cabeça e
estômago. Problemas de comportamento e baixo rendimento escolar.
Incapacidade de concentração e aprendizado. Nestes casos, é muitas vezes
necessária a orientação de um psicólogo.Portanto, aos pais cabe o papel de
servirem como modelo para seus filhos; por isso, todas as suas atitudes e
decisões são muito importantes, e afetam diretamente as crianças. Vale lembrar
que a forma como um adulto trata um animal, fala com um animal, como manuseia
um animal, é tida como modelo para as crianças. Por este motivo, a decisão de
possuir ou não um animal de estimação em casa é uma decisão tão importante,
que jamais deve ser tomada por um impulso. É um assunto que deve ser discutido
em família, avaliando-se todos os prós e contras. É preciso ter em mente que,
quando levamos um animal de estimação para casa, estamos nos tornando
responsáveis por sua vida, e que um animal de estimação é um ser vivo que não
pode ser simplesmente descartado, quando não nos serve mais. A ligação
emocional entre uma criança e sua mascote é muito maior do que nos parece, e
isto transforma a responsabilidade de um adulto pela aquisição de um animal
muito mais séria do que ele é capaz de imaginar.
Ana Lúcia – Ficou claro, tudo isto, para vocês?
Platéia – É claro, a explicação foi super ampla, e isto nos deixa mais seguros.
Ana Lúcia – Em relação à segunda dramatização, o que ficou claro para vocês?
Platéia – Que no processo de separação dos pais as crianças não sintam uma
sensação de que são elas que estão se separando.
Platéia – Que a criança de qualquer maneira sofrerá e que cabe aos pais aliviar
esta dor, mantendo uma atitude de respeito com a situação, sem muitas brigas,
sem muitos xingamentos, e permitindo que a mesma elabore esta perda.
Ana Lúcia – Cabe aos pais, principalmente, entender que a separação implica na
ruptura familiar e perda. É inevitável que a criança sofra, mas terá que aprender a
lidar com a situação. Quando a criança começa a idealizar uma situação
inexistente, por negar o fim da relação dos pais, é importante que eles redefinam o
fim da relação e o início de uma relação onde a criança terá dois lares diferentes,
mas um amor muito grande dos pais.
Ana Lúcia – E na terceira dramatização? O que ficou marcado, para vocês?
Platéia – Acho que, diante da perda de emprego dos pais, eles devem analisar
realmente qual a situação, para não passar uma realidade fictícia para a criança.
Para mim, o que mais marcou é que, nestes casos, a verdade sempre tem que ser
dita, e nunca camuflada.
Platéia – Eu estava pensando aqui, enquanto vocês falavam, e percebi que
realmente a gente tenta não contar, para proteger os filhos do sofrimento. Que
ignorância, não?
Ana Lúcia – Eu, sinceramente, não acho ignorância, primeiro porque a gente não
aprende que o melhor caminho é expor a criança, e depois porque o movimento
natural dos pais é aliviar o sofrimento dos filhos, de qualquer maneira.
Ana Lúcia – Alguma dúvida? Deu para ajudar um pouquinho?
Platéia – Eu estou saindo maravilhada, realizada.
Platéia – A perda dói muito.
Ana Lúcia – Porque quando você trabalha perdas, vem sempre sofrimento e dor.
Platéia – A gente mesmo não sabe lidar com isto, a gente mesmo não sabe... e
como você vai instruir...
Ana Lúcia – Isto é interessante... é aquilo que já foi falado, quando você estiver
diante de uma situação de perda, pára e pensa, o que você está sentindo,
primeiro elabora os sentimentos, e aí orienta a criança. Se você faz este exercício,
fica mais fácil, porque aí você tem convicção do que está fazendo, do que você
está dizendo.
5) Comentários
Ana Lúcia – Se vocês tivessem agora que dizer sobre um sentimento que tomou
conta de vocês agora, no momento deste trabalho, que palavra vocês utilizariam
para expressá-lo? Uma única palavra.
Platéia – Alívio.
Platéia – Compreensão de um assunto tão delicado.
Platéia – Mais forte.
Platéia – Difíceis são as coisas que a gente não tem controle.
Platéia – Não podemos ter pena dos nossos filhos.
Platéia – As perdas podem ajudar no crescimento emocional dos nossos filhos.
Platéia – Não podemos ter medo.
Platéia – Perdas não pode ser sinônimo de coisas ruins.
Ana Lúcia – Vamos nos juntar aqui no meio da sala e nos dar os braços, e pensar
sobre este assunto tão delicado e falar em voz alta, juntos, todos juntos, sobre os
aspectos mais importantes que devemos nos preocupar diante dos momentos de
perdas das crianças.
Platéia e Ana Lúcia – (bem juntos, abraçados, no centro da sala). Devemos
respeitar os sentimentos das crianças.
Ana Lúcia – Repitam mais alto.
Platéia Devemos respeitar os sentimentos da criança.
Ana Lúcia –-Mais alto.
Platéia Devemos respeitar os sentimentos da criança (quase gritando).
Ana Lúcia – O que mais?
Platéia – Falar sempre a verdade para a criança.
Ana Lúcia – Mais alto.
Platéia – Falar sempre a verdade para a criança.
Ana Lúcia – Um pouco mais alto.
PlatéiaFalar sempre a verdade para a criança.
Ana Lúcia – O que mais? Vocês já sabem que são três pontos importantes.
Platéia Ajudar a criança a elaborar a perda.
Ana Lúcia – Mais alto.
Platéia – Ajudar a criança a elaborar a perda.
Ana Lúcia –-Vai moçada, mais alto.
Platéia – Ajudar a criança a elaborar a perda.
Ana Lúcia – Bom gente, agora nós vamos dizer os três pontos juntos e
pausadamente, bem alto, para que a gente nunca esqueça disto.
Platéia Devemos respeitar os sentimentos da criança, falar sempre a verdade
para a criança e ajudar a criança a elaborar a perda.
Ana Lúcia- – Mais uma vez.
Platéia Devemos respeitar os sentimentos da criança, falar sempre a verdade
para a criança e ajudar a criança a elaborar a perda.
Ana Lúcia – Bem mais alto.
Platéia Devemos respeitar os sentimentos da criança, falar sempre a verdade
para a criança e ajudar a criança a elaborar a perda.
Ana Lúcia – Mais uma vez, bem alto.
Platéia Devemos respeitar os sentimentos da criança, falar sempre a verdade
para a criança e ajudar a criança a elaborar a perda.
Ana Lúcia – Muito bom mesmo, este coro foi emocionante.
Ana Lúcia – Bom, gente, gostaria de saber como é que ficou este trabalho, para
vocês? Precisamos avaliar este trabalho.
Platéia – Eu acho que foi demais, porque você vivenciar algumas situações
permite uma outra visão da situação em questão.
Platéia – É um tipo de trabalho diferente de palestra, porque a gente participou o
tempo todo, foi muito legal.
Platéia – Eu nunca tinha vindo em nenhum desses trabalhos, mas achei muito
rico, porque a gente pode passar toda a nossa experiência. Foi muito bom para
mim, que nunca havia parado para pensar nisto.
Platéia – Eu sou suspeita para falar, porque desde o primeiro trabalho aqui na
Clinica , este foi o que mais mexeu comigo. Talvez porque eu participei mais
ativamente e com os meus conteúdos. Olha, para mim foi excelente.
Platéia – Eu sou Jussara, eu sou aluna de Terapia Familiar e Casais, e vim hoje
participar deste Sociodrama sobre perdas na infância com minha colega Ana
Lúcia, e foi um momento muito oportuno, de onde eu estou saindo... assim... do
Sociodrama... levando uma coisa assim de crescimento, de ter escutado outras
mães que também passaram por perdas e estão buscando respostas para
situações atuais com os filhos, e acredito que a Ana Lúcia conseguiu passar uma
idéia bastante clara sobre o procedimento de que se deve ter com a criança... que
é muito rico, este saber... e as mães, como a nós... não recebemos instruções
quando passamos a ser mães... recebemos isto hoje, foi muito gratificante estar
aqui, e com certeza vai ajudar muito as mães que acabaram de ter esta
oportunidade.
Ana Lúcia – Bom, gente, agora eu queria que vocês preenchessem esta folha
com a avaliação, para a gente poder fazer um controle de tudo isto que vocês
falaram.
Grupo preenche a avaliação.
Ana Lúcia – Eu gostaria de agradecer a participação de todos, em nome do corpo
clínico da Cliap, e dizer a todos que foi muito importante a participação de vocês
neste trabalho. Obrigada!!!
Filmador – Então, com certeza, você participaria de um outro curso semelhante a
este?
Platéia – Todos que a Ana for dar eu vou estar aqui, porque eu admiro o trabalho
dela. É uma psicóloga que estuda muito, sabe o que está falando, encoraja as
pessoas a mudarem, a buscarem novas respostas, se sentirem melhor diante de
situações difíceis... que é este o trabalho maravilhoso que ela faz.
Filmador – Muito obrigado pela participação.
Filmador- E para você, Ana Lúcia, como foi este trabalho de hoje?
Ana Lúcia – Neste Sociodrama de hoje, que fizemos aqui na Clinica, que faz
parte do trabalho educativo que estamos executando desde o ano passado
(2003), nós falamos sobre perdas na infância, enfatizando o papel dos pais junto à
criança. Foi um trabalho muito interessante, o grupo participou bastante, e eu acho
que eles conseguiram levar a mensagem mais importante, de que os pais têm que
ser sinceros, trabalhar com criança sem desqualificar as emoções da criança e,
principalmente, mostrar um apoio à criança, que ela precisa ter para superar a
perda.
Filmador – Muito obrigado.
Sociodrama VIII
Clínica Pediátrica- São Paulo- SP
Tema: “Televisão, vídeo game, computador.
Até que ponto o virtual pode causar problemas para a criança.”
Data: 27 de outubro de 2004.
População: Vinte e três pessoas de nível socioeconômico médio.
Vinte pais e mães com filhos de 0 a 12 anos. Duas Assistentes sociais e uma
psicóloga.
1) Introdução:
Ana Lúcia – Boa noite, gente, e obrigada de antemão pela participação de todos.
Em nome dos médicos da Clinica, agradeço a participação e o prestígio que vocês
nos dão, participando deste programa educativo para pais, que é tão importante
para a Clínica. Para os que me conhecem, que aliás são muitos daqui, dispenso
as apresentações, mas, para os que não me conhecem, eu sou Ana Lúcia
Castello, psicóloga, psicoterapeuta de casais e famílias, e aqui na Clínica faço,
dentre outras funções, a coordenação deste trabalho educativo.
Platéia – Nós somos pais da Escola Americana e soubemos da palestra através
de umas amigas, e resolvemos participar.
Ana Lúcia – É um prazer tê-los aqui, e espero que vocês gostem deste tipo de
trabalho. Na realidade, o que vocês vão vivenciar hoje não é uma palestra, e sim
um Sociodrama. Vocês sabem o que é Sociodrama?
Platéia – Não. Acho que é alguma coisa ligada a drama, teatro. Não, não sei.
Platéia – Eu já ouvi falar, mas nunca participei de um.
Ana Lúcia – Bom, gente, antes de começar a falar sobre o Sociodrama, preciso
pedir autorização deste grupo para que este trabalho seja filmado. Para mim é
muito importante registrar este evento, para fins científicos, de estudos futuros.
Alguém tem alguma objeção desta filmagem?
Platéia – Acho que não.
Ana Lúcia – Este rapaz simpático que filmará o evento chama-se Genésio, e ele
já está ficando um especialista em educação de filhos, de tanto que ele já tem
filmado Sociodramas para nós. Como o espaço daqui é pequeno, sempre peço a
ele para ficar por fora do grupo.
Ana Lúcia – Resolvido o problema da filmagem, vamos ao que interessa. Estava
falando sobre o Sociodrama. Este trabalho com certeza é um trabalho diferente
dos que vocês participaram, aqueles que não tiveram a oportunidade de
presenciar um deste antes. O Sociodrama é um trabalho que foi desenvolvido
através do Psicodrama, que é uma técnica que teve como seu criador o médico
suíço Jacob Levi Moreno. Moreno era um profissional muito versátil para a época
em que ele viveu. Imaginem vocês que ele saiu do confinamento do consultório e
começou a trabalhar em locais públicos com os mais diversos grupos. Trabalho
em prisões, em praças públicas, em teatros. Este trabalho foi chamado de
Psicodrama, porque ele utilizava-se dos recursos da Psicologia, da Sociologia e
do teatro, para trabalhar as dificuldades trazidas pelas pessoas. O Moreno foi um
discípulo do Freud, e embasou a sua teoria psicodramática dentro dos princípios
da Psicanálise. O Sociodrama surgiu daí, o Moreno começou a trabalhar o grupo
com os recursos do próprio grupo. Esta, na realidade, é a diferença entre o
Sociodrama e o Psicodrama Público, que a maioria das pessoas que conhecem
tem dificuldade de diferenciar. No Psicodrama Público, o Diretor do Psicodrama
trabalha algum drama de algum protagonista que emerge, e, no Sociodrama, o
Diretor trabalha o grupo com os recursos do próprio grupo. No Sociodrama a
gente pode representar papéis, por exemplo: Eu sou Ana Lúcia, psicóloga, tenho
44 anos, e, dentro deste trabalho, eu posso ser uma criança de 10 anos que adoro
jogar vídeo game, ou melhor, troco tudo pelo jogo de videogame. Acho que deu
para vocês entenderem, não?
Platéia- Sim, eu acho que é um pouco uma coisa de representar o papel, não?
Ana Lúcia- Exato, em algumas situações do Sociodrama nós iremos representar
os papéis.
Ana Lúcia- Hoje, neste Sociodrama, eu vou contar com a ajuda de alguns
colegas, que serão meus egos-auxiliares, para o meu trabalho. Depois apresento
o resto da minha equipe para vocês. Na realidade, a minha equipe aqui é bem
grande, cada Sociodrama vem gente diferente me ajudar, mas a Lucimar e a
Jussara realmente são as colegas que mais têm colaborado com o nosso trabalho.
Ana Lúcia- Eu gostaria de conhecer um pouco este grupo. Daqui, quantos são
corinthianos que estão perdendo o jogo do Corinthians hoje?
Platéia- (Risos)
Ana Lúcia- Por que vocês estão rindo? Não tem jogo do Corinthians hoje?
Platéia- Tem jogo do Corinthians sim.É porque este jogo já foi alvo de briga de
muitos casais que estão aqui, porque os maridos corinthianos não queriam vir.
Ana Lúcia- Mas que judiação, vocês fizeram os rapazes virem forçados? Bom, se
bem que eu acho que foi por uma causa nobre. (Falou a diretora, piscando o olho
para as mulheres.)
Platéia – (Risos).
Platéia-Ainda bem que você consertou, Ana Lúcia, porque senão, seríamos
obrigadas a deixá-los na outra palestra que houvesse. Você não sabe o que é
privar um corinthiano de assistir ao jogo. Meu marido queria ficar assistindo na
televisão da sala de espera lá de baixo.
Platéia-(Risos intensos).
Ana Lúcia- Nós já podemos começar o nosso aquecimento para o Sociodrama.
Olha só o que a TV, a mídia faz com a cabeça das pessoas. Olha só, a gente fica
tão angustiada e tão desesperada só porque perdeu um jogo. Como é que a gente
consegue se ligar tanto no jogo, na novela, no desenho. Imaginem as crianças!!!
Como é que isto funciona.
Ana Lúcia- Quem daqui já perdeu um bom programa para ficar assistindo algum
programa na televisão ou para ficar ligado na Internet, num chat, ou jogando
algum jogo?
Platéia-(Todos levantaram as mãos.)
Ana Lúcia- Gostaria de saber a idade de seus filhos. Quem daqui tem filho de 0 a
7 anos?
Platéia- (10 pais levantaram as mãos.)
Ana Lúcia- Quem tem filhos de 08 a 12 anos?
Platéia- (8 pais levantaram as mãos.)
Ana Lúcia- Quem tem filhos com mais de 12 anos?
Platéia- (8 pais levantaram as mãos.)
Ana Lúcia- Já pudemos perceber que a platéia hoje está bem variada e, com
certeza, teremos um monte de perguntas bem diversificadas. Eu gostaria de saber
um pouquinho sobre o que vocês pensam sobre este assunto tão delicado que
iremos abordar hoje, neste trabalho, que é a influência da TV, do computador, do
videogame na vida da criança e do adolescente.
Platéia - Eu, particularmente, acho que tudo isto que estamos vivendo hoje está
muito complicado. Na minha época não tínhamos estas coisas, e a gente podia
brincar de pipa, de rodar pião. Hoje, se a gente deixar, a criançada fica o dia
inteiro na frente da TV, do computador e do videogame. O mais difícil para nós,
em nossa casa, é definir até que ponto é certo ou errado, quanto tempo é
importante a gente permitir, e outras coisas mais.
Platéia – Na minha casa a coisa é diferente, eles só saem da frente da TV quando
a gente põe um castigo. Muitas vezes, no domingo, chega visita em casa e eles
não querem nem levantar para cumprimentar o pessoal. A situação é muito
delicada, porque realmente acho que perdemos o controle desta situação, e viver
castigando é uma coisa muito ruim.
Platéia – Acho que tenho um problema parecido, em casa, sendo que meus filhos
são pequenos, 4 e 3 anos, e já gostam de ficar na frente da TV. Eu não acho isto
certo, mas, sinceramente, eu acho que a babá deixa, porque é mais fácil de
cuidar, desta forma. Quando a gente reclama com ela, sempre inventa uma
desculpa. O fato é que a gente trabalha o dia inteiro e as crianças ficam em casa
com babá. O mais velho vai à escolinha à tarde, mas o menor fica o dia inteiro em
casa.
Ana Lúcia – Vocês ouviram estes depoimentos, e são aspectos interessantes,
que precisamos conversar no trabalho de hoje.
2)Aquecimento inespecífico
Ana Lúcia – Eu quero que vocês agora elaborem alguns conceitos. Vocês terão
que dizer para nós, em apenas uma palavra, o conceito de “real” e de “virtual” nas
diversas idades da infância e da adolescência. Mas eu quero que cada um diga
uma só palavra. Sempre vamos começar com o que é real. Bom, para uma
criança de 0 a 3 anos o que é real?
Platéia – O seio da mãe.
- A comida na hora da fome.
- As cores muito coloridas dos brinquedos.
- Tudo que despertar a sua atenção, principalmente se for bonito.
- Coisas que brilham.
- As coisas que o irmão faz e que ela quer fazer igual.
- Um monstro que ela vê na TV.
- Uma foto de um fantasma num livro.
- Acho que, nesta idade, quase tudo é real para a criança.
- O tio de barba grande, que parece um monstro, e a criança chora.
- Um palhaço, num aniversário, que parece um monstro.
- Um super-herói fantasiado, que a criança tem medo.
Ana Lúcia – Tem mais alguma coisa que é real para a criança?
Platéia – Acho que não.
Ana Lúcia – E o que é virtual, nesta idade de 0 a 3 anos?
Platéia – Sabe, eu estava pensando nisto, e acho que nesta idade tudo é muito
real para a criança. É uma idade que a criança mistura os monstros da fantasia
com as pessoas da realidade. O virtual talvez seja o que ela não tem acesso, o
que não pode pegar, tocar. É também tudo que é fruto da imaginação.
- Eu acho que tudo a criança não tem acesso.
- Virtual é aquele desenho que ela vê e não consegue tocar.
- É tudo o que ela não pode tocar. Acho que é um pouco isto.
- Papai Noel existe
Ana Lúcia – Vamos falar um pouco de crianças de 4 a 7 anos. O que vocês
acham que é real, para a criança de 4 a 7 anos?
Platéia – Acho que nesta idade a criança ainda fantasia muito. Mas o que é real é
que ela começa a aprender que pode desenvolver muitas coisas por ela própria.
- Começa a conseguir fazer coisas que quando era menor não conseguia.
- Real talvez seja a violência, que deixa a criança amedrontada com as coisas
que acontecem.
- Começa a aprender a reconhecer os números, as cores, as letras.
- Real também pode ser a falta que sente da mãe e do pai, quando eles vão
trabalhar.
- Real também é a raiva que sentem quando são contrariados e seus desejos
não são atendidos.
- Real é a amiguinha que bate, que não dá o biscoito na hora do lanche.
Ana Lúcia – E o que é virtual, nesta idade?
Platéia – Acho que virtual é o Mickey, a Minie, o Homem Aranha, o Batman,
enfim, personagens de quadrinhos e super heróis que eles desejariam ser.
- Virtual é uma cena da TV que ela não acredita que existe.
- Os monstros e os vampiros são virtuais, mas confundem-se com a realidade.
- São os personagens de histórias que eles vêem em festinhas de aniversários.
Pode ficar atento de que eles olham com a cara de quem não estão
acreditando no que estão vendo.
- São os bichos que aparecem nos programas de TV, que eles não sabem se
existem de verdade, e só fantasiam.
Ana Lúcia – Agora vamos para outra fase. O que é real para garotos de 8 a
11anos?
Platéia – É a partida do futebol que quer jogar com os amigos.
- É a coreografia da dança da moda que elas querem aprender.
- Real é competição que começa a se travar entre os meninos e meninas.
- Reais são as lições de casa, o aprender a ler, escrever.
- É a roupa bonita que a amiga está usando.
- É o ciúme que uma /um amiga(o) sente do outro.
- São as fofocas que eles começam a desenvolver entre amigos.
Ana Lúcia – E o que é virtual, nesta idade de 8 a 11 anos?
Platéia – Eu acho que virtual, nesta idade, são esses jogos de videogame, destes
monstros, destes bichos mais feios.
- São alguns programas de TV, alguns jogos de computador que as crianças
entram de cabeça.
- Acho que também estes jogos de game boy.
- Acho que este monte de jogos virtuais que a criança fica ligada, desde os
programas de televisão aos jogos de videogame, game boy, computador. Acho
tudo isto um horror, mas a cada dia a coisa fica mais feia, porque a cada dia
inventam mais jogos de melhores definições, e a criançada fica ligada.
Ana Lúcia – E para os pré-adolescentes e adolescentes da idade dos 12 aos 15
anos, o que vocês acham que é real?
Platéia – Acho que reais são as mudanças de corpo. O menino, quando começa a
crescer os pelos, a voz ficar mais grossa, o pipi crescer; e a menina, quando
começa a crescer os seios, os pelinhos, de modo geral.
- Real é a transformação que começa a surgir em suas vidas.
- Real é também a atração que começa a sentir pelo sexo oposto.
- Real é aquela vontade de dar um beijo na namorada do amigo.
- Real é querer ficar com todas ou com todos, para sentir-se o melhor ou a
melhor da turma.
- Acho que é também começar a mostrar seus dotes de esportista, atleta,
pintora, bailarina, tenista, atriz, ator.
- Também pode ser tudo aquilo que a criança ou adolescente sente. A primeira
menstruação, as espinhas no rosto, um fora do namoradinho, a traição da
amiga, e outras coisas do gênero.
Ana Lúcia – Eu gostaria que agora vocês fechassem os olhos e pensassem em
todas estas coisas que acabaram de ouvir e, com uma única palavra, falem o
sentimento que invade vocês, ao perceber todas estas transformações.
O grupo fechou os olhos e a diretora repetiu todas as frases que foram faladas
pelas pessoas que estavam ali.
- O seio da mãe.
- A comida, na hora da fome.
- As cores vivas e muito coloridas dos brinquedos.
- Tudo que despertar a sua atençã, o principalmente se for bonito.
- Coisas que brilham.
- As coisas que o irmão faz e que ela quer fazer igual.
- Um monstro que ela vê na TV.
- Uma foto de um fantasma, num livro.
- Acho que nesta idade quase tudo é real para a criança
- O tio de barba grande, que parece um monstro, e a criança chora.
- Um palhaço, num aniversário, que parece um monstro.
- Um super-herói fantasiado, que a criança tem medo.
- Sabe, eu estava pensando nisto, e acho que nesta idade tudo é muito
real para a criança. É uma idade que a criança mistura os monstros da
fantasia com as pessoas da realidade. O virtual talvez seja o que ela
não tem acesso, o que não pode pegar, tocar. É também tudo que é
fruto da imaginação.
- Eu acho que tudo que a criança não tem acesso.
- Virtual é aquele desenho que ela vê e não consegue tocar.
- É tudo o que ela não pode tocar. Acho que é um pouco isto.
- Papai Noel existe.
- Acho que nesta idade a criança ainda fantasia muito. Mas o que é real é
que ela começa a aprender que pode desenvolver muitas coisas por ela
própria.
- Começa a conseguir fazer coisas que, quando era meno, r não
conseguia.
- Real talvez seja a violência, que deixa a criança amedrontada com as
coisas que acontecem.
- Começa a aprender a reconhecer os números, as cores, as letras.
- Real também pode ser a falta que sente da mãe e do pai, quando eles
vão trabalhar.
- Real também é a raiva que sentem quando são contrariados e seus
desejos não são atendidos.
- Real é a amiguinha que bate, que não dá o biscoito na hora do lanche.
- Acho que virtual é o Mickey, a Minie, o Homem Aranha, o Batman,
enfim, personagens de quadrinhos e super-heróis que eles desejariam
ser.
- Virtual é uma cena da TV que ela não acredita que existe.
- Os monstros e os vampiros são virtuais, mas confundem-se com a
realidade.
- São os personagens de histórias que eles vêem em festinhas de
aniversários. Pode ficar atento de que eles olham com a cara de quem
não estão acreditando no que estão vendo.
- São os bichos que aparecem nos programas de TV, que eles não
sabem se existem de verdade, e só fantasiam.
- Eu acho que virtual, nesta idade, são esses jogos de videogame, destes
monstros, destes bichos mais feios.
- São alguns programas de TV, alguns jogos de computador, que as
crianças entram de cabeça.
- Acho que também estes jogos de game boy.
- Acho que este monte de jogos virtuais que a criança fica ligada, desde
os programas de televisão aos jogos de videogame, game boy,
computador. Acho tudo isto um horror, mas a cada dia a coisa fica mais
feia, porque a cada dia inventam mais jogos de melhores definições, e a
criançada fica ligada.
3)Aquecimento específico:
Ana Lúcia – Bom, gente, muito bom mesmo, a produção de vocês. Agora vamos
começar a trabalhar. Vocês, a partir de agora, vão se transformar em crianças e
adolescentes. Eu gostaria que este grande grupo se dividisse em 2 grupos: um
grupo de crianças e um grupo de adolescentes. Cada grupo vai elaborar o seu
mundo real e seu mundo virtual.
Ana Lúcia – O trabalho vai ser o seguinte:
No grupo de crianças, vocês vão fazer o levantamento das cinco maiores crenças
deste grupo. As cinco maiores crenças do mundo real e as cinco maiores crenças
do mundo virtual deste grupo.
No grupo de adolescentes vocês vão fazer o levantamento das 5 maiores crenças
deste grupo.Vocês também deverão fazer as cinco maiores crenças do mundo
real deste grupo e as cinco maiores crenças do mundo virtual deste grupo.
Ana Lúcia – Eu e os egos auxiliares iremos ajudá-los a elaborar estas crenças.
Vocês entenderam?
Platéia – Sim.É como se nós fossemos crianças e adolescentes e tivéssemos que
montar um perfil daquilo que a gente acredita que é real e virtual.
Ana Lúcia – Podem começar, então, e, se tiverem algumas dúvidas, podem
perguntar durante o trabalho. Mas não esqueçam: vocês, deste grupo da direita,
são todas crianças, e os do grupo da direita são todos adolescentes, OK?
Os grupos trabalharam por 20 minutos na montagem das crenças que estes
grupos têm em cima do real e do virtual.
Grupo das crianças
Cinco maiores crenças do mundo real da criança: (Foto-Anexo 8)
1. A segurança é a coisa que mais importa.
2. Pai e mãe podem dar a segurança.
3. A violência que vê na TV assusta.
4. O medo das coisas que ouve na TV.
5. Precisamos de carinho e atenção.
Cinco maiores crenças do mundo virtual da criança:
1. Medo do bicho papão
2. A Branca de Neve existe (a sensação de que os personagens
de ficção e histórias fazem parte da vida)
3. Não consigo dormir à noite, com medo do vampiro da novela
4. Conde Drácula existe. Papai Noel existe.
5. O ladrão da televisão pode pular a janela da minha casa?
6. Tem uns bichinhos do outro planeta que todo dia vem aqui no
meu quarto e não me deixa dormir.
Grupo dos adolescentes
Cinco maiores crenças do mundo real do adolescente:
1. Quero ser bonito. Quero ser o melhor.
2. Tenho o melhor carro. Tenho os melhores amigos.
3. Estou ficando muito gorda. Preciso fazer regime.
4. Meu rosto parece uma cratera. Quanta espinha!
5. Minha amiga não gosta mais de mim.
Cinco maiores crenças do mundo virtual do adolescente:
1. A ficção é da hora. Queria ser um ser do outro planeta.
2. Como eu queria ser igual àquela garota da Malhação.
3. Quero conhecer muitos amigos através do ICQ.
4. Quando eu me corresponder com alguém num contexto
virtual, vou querer conhecê-la.
5. Esses filmes de ficção fazem a gente viajar.
4)Dramatização:
Ana Lúcia – Agora, este mundo da criança pode vir aqui no meio da sala, e vocês
vão tentar montar uma imagem plástica do que é o mundo real da criança. Ou
seja, vocês vão montar uma imagem, uma estátua que simbolize este mundo real.
O grupo montou a imagem com uma criança apertadinha entre os pais,
demonstrando um símbolo de segurança. A mãe aconchegando a filha e o pai
dizendo não à violência, olhando do outro lado personagens que perturbam o
bem-estar da criança: assaltante, drogado.
Ana Lúcia – Que nome vocês dariam para esta imagem?
Grupo crianças – Segurança. Não tenha medo.
Ana Lúcia – E a platéia, como vê esta imagem e que sentimento desperta em
vocês de olhar para esta criança tão amedrontada? Falem com uma única palavra
que sentimento invade vocês, ao olhar esta imagem.
Platéia – Desespero, angústia com o mundo que estamos vivendo, pesar pelos
nossos filhos, tristeza porque meus filhos não podem andar descalça na rua,
esperança de mudança. Tristeza. Decepção. Sonho por água a baixo.
Ana Lúcia – Muito bom. Agora eu gostaria que o grupo de crianças fizesse a
imagem do mundo virtual.
O grupo montou uma imagem de duas crianças na frente da televisão, sem
piscar os olhos.
Ana Lúcia – Que nome vocês dariam para esta imagem?
Grupo de crianças – Alienação.
Ana Lúcia – Vocês, da platéia, que sentimentos aparecem em vocês, quando
olham esta cena?
Platéia – Medo, dúvidas, incertezas, o que deixar fazer, preocupação, alienação
mesmo, preocupação, até que ponto a fantasia é normal ou não, insegurança.
Temos que limitar o horário?
Ana Lúcia – Vamos comentar um pouco este contexto destas crianças. É muito
importante que vocês, pais, tenham uma consciência, também, do que é fantasia e
do que é realidade. Existem alguns aspectos positivos no imaginário, na
construção da identidade emocional da criança. A criança precisa adentrar um
mundo de fantasia, para sentir-se feliz, fazendo de conta. Esta entrada no mundo
imaginário permite a ela a fantasia de coisas que não estão dentro do seu
contexto, e amplia a visão da criança no sentido de novas elaborações. Mas é
muito importante que os pais estejam muito atentos, para que, se esta criança faz
produções muito fantasiosas, ou seja, vive somente no mundo da fantasia, é
perigoso que ela entre no mundo virtual. Muitas vezes a criança quer viver este
mundo virtual. A criança, até os seis anos de idade, está dentro de um contexto
fantasioso, muitas vezes não diferencia a fantasia da realidade. Quando entra na
fase escolar, alfabetização, ela começa a se ligar mais na realidade, o que permite
entradas e saídas do contexto fantasioso.
Platéia – Uma criança de oito anos que assiste muita televisão e vive fazendo o
papel de Branca de Neve, Cinderela, Barbie. Isto é normal?
Ana Lúcia – Olha, a definição de normalidade tem que ser avaliada caso a caso.
Eu falei anteriormente que, quando a criança vive muito dentro do contexto de
fantasia, é importante trazê-la para a realidade, ou verificar porque ela quer tanto
viver na fantasia. Muitas vezes a criança vive na fantasia porque se nega a
crescer, a ficar mocinha, daí regride no dia-a-dia, e, se os pais reforçam isto, pode
ser perigoso, porque a criança não quer sair deste contexto.
Ana Lúcia – Bom, vamos agora dar continuidade com o grupo dos adolescentes.
Primeiro vocês vão ficar aqui no meio da sala, e tentar montar uma imagem do
real para o adolescente. Tem que ser uma estátua, sem movimento.
Grupo de adolescentes – O grupo montou uma imagem de quatro adolescentes.
Um na frente do espelho, tirando as espinhas. Outra na frente do espelho, olhando
se está gorda. Outro isolado, usando maconha. E o outro, interagindo com os
amigos, na balada.
Ana Lúcia – Que nome vocês dariam para esta imagem?
Grupo de adolescentes – Fase de transformações, mudanças, preocupação com
a imagem.
Ana Lúcia – Que tipo de sentimentos esta imagem desperta na platéia?
Platéia – Medo, insegurança, dificuldades, onde será que estou errando,
adolescente perdido, transtornos da adolescência, visão errada de mundo,
fraqueza, copiar estilos, não tem independência.
Ana Lúcia – Na adolescência, a evidência de transformações é muito clara, e é
papel dos pais minimizar os conflitos do adolescente. Se você tem uma abertura
para diálogo, você vai trabalhar com teu filho esta questão da imagem de ser
bonita, ser feia, de ter corpo magro ou ter corpo cheinho, de ser “Maria vai com as
outras” ou ter suas próprias opiniões. Se os pais conseguem ter uma abertura
para diálogo, com certeza conseguirão também esclarecer muitas dúvidas dos
adolescentes. Os limites devem ser muito claros, nesta fase, e a negociação deve
ser o canal entre pais e adolescentes. Eu tenho um exemplo claro em minha casa,
com minhas duas filhas. Tenho trabalhado tanto a questão de negociação que,
hoje, quando elas querem alguma coisa que parece impossível, elas já falam:
“Vamos negociar, mãe?” Se a situação cabe uma negociação, então abrimos este
canal, mas se a questão é fechada, tentamos explicar.
Platéia – O que você quer dizer com situação fechada?
Ana Lúcia – Essa foi uma pergunta muito boa. No Sociodrama sobre Limites, eu
faço uma observação durante todo o tempo. Para que os pais coloquem limites,
eles precisam se fixar em duas situações básicas, porque limites não se colocam
o tempo todo, e limites não se colocam para tudo. Estas duas situações básicas
são as seguintes: a primeira está relacionada à segurança da criança e do
adolescente, e a segunda está relacionada aos valores do casal.
Platéia – Explica um pouco melhor isto, por favor.
Ana Lúcia – -Em relação à segurança da criança ou do jovem, é aquela coisa de
você perceber algum contexto que ele esteja inseguro. Por exemplo: com a
criança, se você ver a criança bem pequena começando a brincar na beira de uma
piscina, é prudente você tentar mudar o local da brincadeira, mesmo que a criança
não queira. Em relação aos valores do casal no contexto infantil, gosto sempre de
citar o exemplo do meu mundo familiar. Nós não admitimos nossas filhas chegar
na casa dos outros e ficar mexendo em tudo, pegando bala na bombonière sem
pedir, mexendo na geladeira. Um exemplo em relação aos adolescentes é a hora
de chegar em casa, de uma balada. Alguns casais deixam os filhos chegarem de
balada às 5h da manhã. Para outros, o horário de chegada é 1 hora da manhã.
Estes são os valores do casal que muitas vezes não podem ser negociados.
Ana Lúcia – Agora, para finalizar o trabalho, vocês vão formar dois subgrupos: um
subgrupo real infantil e adolescente juntos, e outro subgrupo virtual infantil e
adolescente juntos.
E vocês vão tentar fazer uma imagem de cada subgrupo deste.
Para o subgrupo infantil e de adolescentes os elementos destes subgrupos
deverão formular uma frase que expresse a identidade destes grupos.
Platéia – Agora você já está complicando, Ana Lúcia. Juntar os dois... será que
vai ser possível?
Ana Lúcia – Façam a tentativa, e só assim vocês se certificarão de que é
possível.
O subgrupo real e virtual infantil montou uma imagem de quatro crianças
brincando de roda e, num lugar mais isolado, um computador, uma TV e um
videogame.
Frase: “Não podemos deixar de ser criança, brincar e se divertir. O virtual existe,
podemos utilizá-lo quando precisar.”
O subgrupo real e virtual adolescente montou uma imagem interessante.Quatro
adolescentes sentados num quarto, só conversando e felizes.
Frase: “Temos que aprender a ser felizes também.”
Ana Lúcia – Por favor, grupo de crianças, repitam a frase bem alto.
Grupo de crianças – “Não podemos deixar de ser criança, brincar e se divertir. O
virtual existe, podemos utilizá-lo quando precisar.”
Ana Lúcia – Mais uma vez.
Grupo de crianças – “Não podemos deixar de ser criança, brincar e se divertir. O
virtual existe, podemos utilizá-lo quando precisar.”
Ana Lúcia – Agora vocês, grupo de adolescentes, repitam a frase bem alta.
Grupo de adolescentes – “Temos que aprender a ser felizes também.”
Ana Lúcia – Repita mais uma vez bem alta.
Grupo de adolescentes – “Temos que aprender a ser felizes também.”
Ana Lúcia – Agora vocês vão tentar juntar as duas imagens e repetir as frases
juntas.
O grupo juntou as imagens, ficando da seguinte forma: uma imagem de quatro
crianças brincando de roda e, num lugar mais isolado, um computador, uma TV e
um videogame.
E do lado, os quatro adolescentes sentados, num quarto, só conversando e
felizes.
Frase: “Não podemos deixar de ser criança, brincar e se divertir. O virtual existe,
podemos utilizá-lo quando precisar.” “Temos que aprender a ser felizes também.”
Ana Lúcia – Podem repetir a frase uma vez primeiro o grupo de crianças e
seguidamente o grupo dos adultos como se uma frase complementasse a outra.
Grupos de crianças e adolescentes – “Não podemos deixar de ser criança,
brincar e se divertir. O virtual existe, podemos utilizá-lo quando precisar.” “Temos
que aprender a ser felizes também.”
Ana Lúcia – Mais uma vez bem alto. Alto mesmo.
Grupos de crianças e adolescentes –Não podemos deixar de ser criança,
brincar e se divertir. O virtual existe, podemos utilizá-lo quando precisar.” “Temos
que aprender a ser felizes também.”
Ana Lúcia – Bem alto, para que todo o mundo ouça. Para que todas as crianças e
adolescentes ouçam.
Grupos de crianças e adolescentes –Não podemos deixar de ser criança,
brincar e se divertir. O virtual existe, podemos utilizá-lo quando precisar.” “Temos
que aprender a ser felizes também.”
Ana Lúcia – Mais uma vez. Gritem, podem gritar, e digam para estas crianças e
adolescentes o que elas têm que fazer.
Grupos de crianças e adolescentes –Não podemos deixar de ser criança,
brincar e se divertir. O virtual existe, podemos utilizá-lo quando precisar.” “Temos
que aprender a ser felizes também.”
Ana Lúcia – Muito bom, gente. Muito bom mesmo. Agora podem tomar seus
lugares na sala, e vamos conversar um pouquinho.
5) Comentários
Ana Lúcia – Eu gostaria de comentar um pouco estas imagens que vocês
fizeram.Eu gostaria de falar sobre a necessidade da criança se sentir criança, de
viver a infância, isto é uma coisa muito boa. Tudo o que a gente vive com os filhos
pode ter conteúdos do que a gente viveu com nossos pais e com as nossas
famílias de origem. É importante conversar sobre isto, sobre os modelos que
tivemos. O que podia, sobre o que achamos que não pode hoje. Eu gostaria de
falar também da decisão do jovem de ser feliz, e não de atropelar o tempo,
atropelar as pessoas. É, a máquina, o computador, a TV podem estar querendo
fazer de nossos filhos pequenos ou grandes robôs, que sabem tudo, que precisam
ser sempre melhores que os outros, que conhecem tudo. Nós precisamos trazer
nossos filhos de vez em quando para a realidade, a realidade de que é bom fazer
um piquenique, chamar um amigo para bater papo em casa, andar no parque, ou
seja, curtir as pequenas coisas. É importante avançar com o tempo, conhecer a
máquina, a TV, o computador, o videogame, mas também é muito bom saber
colocar os limites em relação ao uso destas máquinas, para não se tornar
dependentes delas.
Platéia – Isto é uma coisa muito importante, acho que precisamos colocar limites
em relação ao uso do computador, da TV e do videogame. Mas como fazer isto?
Ana Lúcia – O limite é dos pais. Acho que precisa haver uma coerência. Se a
criança está de férias, o que seria normal é ligar TV só à noite, depois das lições,
e nos fins-de-semana um pouco mais. Em relação ao computador, vocês, pais,
podem limitar o uso da Internet em sites como ICQ, bate-papo, e permitir o uso do
computador para consultas, sem controle. Em relação ao videogame, é um
brinquedo que deve ser utilizado pela criança no período em que está livre;
portanto, na maioria das vezes, nos finais de semana, com controle. É lógico que,
se a criança está de férias, vocês podem liberar um pouco mais de tempo, sem
estresse.
Platéia – É importante ajudar a criança a aprender a curtir outras coisas, não?
Ana Lúcia – Com certeza, isto é o mais importante. Ampliar também a visão da
criança de que existem outras formas de se divertirem.
Ana Lúcia – Bom, gente, alguém tem mais alguma dúvida, algum
questionamento?
Platéia – Eu acho que não, tudo isto foi muito importante.
Ana Lúcia – Agora que a gente está no fim do trabalho, eu gostaria de deixar
alguns questionamentos para que vocês parem para pensar neles.
- Até que ponto eu estou atento para o modo e o tempo que meu filho
está ligado no virtual?
- Quantos de nós não estamos atentos às influências negativas do virtual
no mundo real de nossos filhos?
- De que forma, nós, pais, poderíamos limitar este uso desenfreado do
virtual?
Ana Lúcia- Acho que estas perguntas podem ser a chave de como lidar com esta
situação, neste momento ou a partir deste momento. Muitas vezes as perguntas
podem ser mais importantes do que as próprias respostas, porque a partir delas
podem reconstruir o nosso comportamento perante nossos filhos, por exemplo.
Ana Lúcia – Bom, agora, para concluirmos o nosso trabalho, gostaria que, com
uma única palavra, vocês falassem de como estão se sentindo agora, ou de como
foi este trabalho para vocês.
Platéia – Aliviada, feliz, informada, com convicções, certezas, com outro olhar,
enxergando as coisas diferentes, pensativa nos meus valores, com menos
dúvidas, certa de que farei mudanças, bem mais seguro, sem dúvidas,
entusiasmado, muita clareza nas minhas idéias.
Platéia – Gostaria muito de agradecer esta oportunidade de estar aqui. Sabe, Ana
Lúcia, você nos dá uma segurança muito grande, e este seu jeito sempre pra cima
faz com que a gente acredite sempre que a mudança é capaz. Faz tempo que
gostaria de ter-lhe dito isto, mas só tive oportunidade agora. Obrigada.
Ana Lúcia – Muito obrigada, mas aqui não é permitido me emocionar, senão eu
choro e não fica bem.
Platéia (Risos).
Ana Lúcia – Eu gostaria de agradecer a todos vocês pela participação. Acho que
o grupo esteve todo ótimo. Queria agradecer em nomes dos médicos da Cliap, e
espero contar com a presença de todos, na próxima.
Ana Lúcia – Boa noite.
ANEXOS III
Material de Estudo utilizado em cada Sociodrama Construtivista na ONG
Sociodrama I
Local: ONG que desenvolve trabalho com crianças e adolescentes.
Sociodrama Construtivista com os pais.
Tema: Com os nossos filhos. Qual o limite dos limites?
Objetivos:Trabalhar os limites dos próprios pais e fazer uma reflexão dos
modelos que eles tiveram e estão de certa forma repetindo, sem fazer uma
atualização desses modelos.
1-Introdução
- Fazer um levantamento do grupo
- Idade
- Estado civil
- Filhos crianças ou adolescentes
- Evidenciar os aspectos que levam uma criança não ter limites.
- Dar ênfase aos limites dos pais interferindo na educação dos filhos.
2-Aquecimento inespecífico:
2.1- O Diretor faz uma breve apresentação da música que os elementos do grupo
irão ouvir em seguida e o quanto esta música é importante para que o grupo
comece a discussão ou o trabalho relacionado aos limites das crianças.
2.2 -O grupo deverá ouvir a música “Errar é humano”.(Toquinho)
Declaração Universal dos Direitos da Criança
A criança tem direito de ser compreendida, deve ter oportunidade de se
desenvolver em condições de igualdade de oportunidades, com liberdade e
dignidade”.
Música : Errar é humano (Toquinho)
Não, não é vergonha não,
você não ser o melhor da Escola
campeão de skate, o bom de bola,
ou de natação.
Não, não é vergonha não,
aprender andar de bicicleta
se escorando em outra mão.
Não, não é vergonha não.
Você não saber a tabuada,
negar uma onda,
contar piada, rodar peão.
Não, não é vergonha não,
precisar de alguém que ajude
a fazer sua lição.
A vida irá, você vai ver aos poucos
te ensinando, decerto você vai
saber, errando, errando, errando.
Não, não é vergonha não,
Ser da turma toda o mais gordinho,
Ter pernas tortas,
ser bem baixinho ou grandalhão.
Não, não é vergonha não,
todo ser tem algum defeito,
Não existe a perfeição.
A vida irá, você vai ver aos poucos,
te ensinando, decerto você vai saber,
errando, errando, errando.
Não, não é vergonha não,
Aprender andar de bicicleta
se escorando em outra mão.
Não, não é vergonha não,
Precisar de alguém que ajude
a fazer sua lição,
Não, não é vergonha não.
Todo ser tem algum defeito.
Não existe a perfeição. (Bis)
2.3- Fazer comentários sobre a música. Que impactos esta música causou?
O que está música lembra a eles?
2.4- Máquina do tempo – É uma técnica onde o Diretor do Sociodrama trabalha o
grupo estimulando com que os elementos do grupo façam uma viagem interior.O
grupo deverá fazer uma viagem no tempo e procurar sentir-se com mais ou menos
3, 4 anos. Imaginar como estariam vivendo, naquele momento, seus pais, seus
irmãos. Tentar sentir as coisas pelas quais passaram naquela ocasião.
- Vocês vão imaginar que vocês são crianças, estão mais ou menos com 7 ou 8
anos.
- Procurem imaginar que tipo de educação que vocês estão recebendo.
- O que seus pais te ensinam?
- O que seus pais fazem quando vocês não obedecem?
- O que seus pais dizem quando vocês fazem alguma coisa errada?
- Qual é a punição dos seus pais, quando você erra?
- Lembrem se eles fazem alguma coisa para agradar vocês? Compram brinquedos
para agradar? Levam vocês pra passear sempre? Que limites vocês acham que
seus pais colocam para você?
- Você lembra se eles conversam bastante? Se eles te ensinam como fazer para
mudar um comportamento?
-Você se lembra de ter apanhado alguma vez? O que você sente quando apanha?
Que limites você aprendeu com eles?
- Agora procurem avançar um pouquinho no tempo...
- Vocês casaram, tiveram filhos...
- Que limites vocês colocam nos seus filhos?
- O que vocês falam aos seus filhos quando eles não obedecem? O que você faz
quando seus filhos fazem alguma coisa errada? Você bateu no seu filho alguma
vez?
- O que você acha que eles sentem ou sentiram quando apanhou?
- Que limite você coloca no relacionamento seu e do seu filho?
-Que tipo de pai você é?
- Você é mais autoritário, impondo sempre a sua opinião?
-Você é mais democrático, conversa, explica, deixa seu filho crescer?
-Você é um pai mais permissivo, evita que seu filho sofra? Deixa que ele faça tudo
sem limites?
-Que tipo de pai você é?
-Pense bem em que tipo de pai vocês é? Como você se comporta? Como você
educa? Que tipo de pais você é?
-Que bagagem vocês trazem dos seus pais?
-O que você gostaria de mudar na educação que teve? Pensem bem sobre isto.
-Aos pouquinhos, dentro do ritmo de vocês, vão voltando para essa sala no papel
de adulto, de pais, que estão aqui com um objetivo: rever a educação dos filhos.
Vão abrindo os olhos devagar. Agora eu queria que vocês com uma só palavra
vocês dissessem pra gente o sentimento que estão sentindo agora, pensando
neste trabalho que vocês vão fazer hoje e pensando em suas lembranças, uma só
palavra
3- Aquecimento específico:
3.1- Formação de três grupos.
Grupo A – pais repressores Filhos A – filhos reprimidos (in inseguros)
Grupo B – pais permissivos Filhos B – filhos birrentos
Grupo C – pais democráticos Filhos C – filhos participativos e seguros
3.2- Primeiramente, dar a folha com os tipos de pais.
3.3 Fazer o grupo avaliar que tipo de filho cada tipo de pai gera.
3.4 Procurar identificar características desses três tipos de pais.
4. Dramatização:
Os grupos terão que dramatizar o conteúdo que elaboraram. Interação na
dramatização de todos os grupos.
5. Comentários: Chuvas de palavras: (cada integrante do grupo deverá dizer
com uma única palavra o que sentiu participando do trabalho).
Sociodrama II
Local: ONG que faz trabalho com crianças e adolescentes.
Sociodrama Construtivista com os pais.
Tema: Limites. Treinamento do papel de pais.
Objetivos- Fazer um treinamento dos pais no desempenho dos papéis, procurar
evidenciar os modelos internalizados junto a suas famílias de origem e atualizar os
comportamentos atuais junto aos filhos.
1-Introdução
- Fazer um levantamento do grupo
- Idade
- Estado civil
- Filhos crianças ou adolescentes
- Evidenciar os aspectos que levam uma criança não ter limites.
- Dar ênfase aos limites dos pais interferindo na educação dos filhos.
2-Aquecimento inespecífico
Diretora mostrar no data show os melhores momentos e intervenções do
Sociodrama anterior.
3-Aquecimento específico
Fazer um relaxamento com um grupo e propiciar um momento de reflexão.
Vocês vão caminhar pela sala e vocês vão atender aos comandos.
-Tudo o que eu falar, vocês irão tentar pensar e vão parar para fazer uma reflexão.
- Hoje faremos diferente, nós não vamos falar só dos papéis de pais e filhos.
- Hoje vamos falar da atuação do pai e da mãe em relação ao comportamento
dos filhos.
-Vocês vão tentar pensar em quais situações vocês se sentem muito incomodados
em relação a pôr limites. Não precisa caminhar em círculo, você pode fazer o
caminho que quiser nesta limitação de espaço que a gente tem.
-Procurem olhar para o colega por onde vocês passam, procurem dar um sorriso,
podem se espreguiçar, bem gostoso.
- Vamos preparar nossa atenção um pouco para nós como pais, que pai sou eu?
- Como estou relacionando com meus filhos?
- O que eu tenho feito em relação aos meus filhos quando eles não me
obedecem?
- O que eu tenho dito quando eles fazem coisas erradas? Não fiquem
preocupados, podem dar um sorriso.
- Que limites eu tenho colocado para os meus filhos?
- Você se lembra de ter conversado bastante com o seu filho?
- Quais as situações que vocês deparar mais difíceis para colocar limites?
- Pensem em que situações vocês iriam colocar limites e o que vocês mudariam. -
elaborem uma foto desta situação em sua cabeça.
Comentários do grupo sobre o trabalho.
Reunir os elementos do grande grupo em pequenos grupos, e orientá-los a montar
uma cena que esteja sendo difícil de conduzir no dia-a-dia em relação a limites
com os filhos.
4- Dramatização
Fazer a dramatização de todos os grupos, seguindo o roteiro estabelecido
anteriormente com os egos-auxiliares de mudar a dupla de pais, conforme o
diretor ache necessário.
Música “Errar é humano”
5- Comentários (chuva de palavras)
Sociodrama III
Local: ONG que faz trabalho com crianças e adolescentes.
Sociodrama Construtivista com os pais.
Tema: Insegurança Infantil.
Objetivos: Trabalhar os próprios pais no sentido de fazer uma reflexão dos
modelos que eles tiveram e estão de certa forma repetindo, baseados nas
experiências de segurança pessoal que tiveram durante toda a sua vida e ajuda-
los a reconstruir um modelo mais eficaz para ajudar os filhos para sentirem-se
mais seguros ,autônomos e independentes.
1-Introdução
- Fazer um levantamento do grupo
- Idade
- Estado civil
- Filhos crianças ou adolescentes
- Evidenciar os aspectos que levam uma criança não ter limites.
- Dar ênfase aos limites dos pais interferindo na educação dos filhos.
3-Aquecimento inespecífico
Psicodrama interno (os elementos do grupo deverão tentar externalizar alguns
conteúdos internalizados em suas vidas através de um relaxamento conduzido
pelo Diretor do Sociodrama).
Pedir aos componentes do grupo que fechem os olhos e que pensem numa foto
de uma determinada fase da infância que lembram ter visto. Deverão imaginar
uma situação que tenham passado, nessa época, que denotava insegurança para
cada um deles.
Mensagem do diretor
- Vocês vão fechar os olhos e vão se transportar para a infância ou para
adolescência como se fossem crianças ou adolescentes,certo?
- Então eu vou direcionando a primeira parte de nosso trabalho.
- Sente-se na cadeira bem confortavelmente.
- Feche os olhos. Procure relaxar um pouco e volte no tempo como se fosse
criança ou adolescente.
-O que vai fazer você decidir isso, é que você vai imaginar uma situação onde se
sentiu inseguro e isso foi uma situação pesada naquele momento que você viveu.
- Pense nessa situação, como se fosse uma foto na sua lembrança.
- Faz de conta que você está vendo a foto da situação que você viveu.
- Imagine o que aconteceu naquele momento.
- Tente sentir o que aconteceu. Identifique o sentimento que tomou conta de você
naquele momento.
- Procure pensar no que levava você a se sentir inseguro.
- Pense se você pediu a ajuda de seus pais, se pediu a ajuda de alguém naquela
situação. Se pediu, o que seus pais fizeram?
- Pense no que seus pais disseram de vocês.
- Olhe essa foto e pensem que tipo de apego vocês tinham com seus pais.
- Que tipo de confiança e segurança estava no relacionamento de vocês?
- O apego é aquele vínculo que a gente faz de confiança... Você se sentia
inseguro perto deles? Você tinha sido protegido?
- Quais os sentimentos que mais te incomodaram nesta situação.
- Parem de novo, olhe a foto e grave a situação que você viveu, onde você sentiu
insegurança. Procure respirar, bem pausadamente, inspirando pelo nariz e
soltando pela boca. Aqui vocês estão num ambiente seguro... Inspira pelo nariz
bem lentamente e solta pela boca. E aos poucos você pode ir voltando pra essa
sala. Cada um no seu ritmo. Se conseguir fazer um processo respiratório mais
profundo, você consegue voltar mais gostoso e mais tranqüilos
Em seguida, os elementos do grupo devem fazer um desenho desta situação,
numa folha de papel. Abaixo do desenho procuram descrever qual foi esta
situação, dando um nome para o desenho.
4-Aquecimento específico
O Diretor deve sugerir que aos participantes formem grupos de 4 elementos, e
troquem os desenhos, mostrando cada um o conteúdo do desenho.
O grupo terá que eleger um desenho que tenha chamado mais atenção e que
denote que a insegurança foi a situação mais forte naquele desenho.
Cada grupo deverá ter um desenho escolhido que mostre uma situação forte de
insegurança, e esta escolha deverá ser feita com a participação de todos os
elementos do grupo.
5-Dramatização
5.1 Dramatização da situação.
- Os integrantes dos grupos vão dramatizar as situações escolhidas.
-É importante o Diretor Fazer o grupo colocar o afetivo para fora.
-Dramatização da postura ideal dos pais diante da cena.
5.2 Colocar na lousa cada situação, por escrito – o que cada um expressou.
5.3 Os dois grupos deverão formar uma imagem da frase escolhida, com pedaços
de tecidos, oferecido pela diretora.
5.4 Fazer um coro com a frase.
5.5 Fazer um coro com as duas frases juntas.
O grupo deverá ficar de mãos dadas e ouvir juntos uma música.
Música “Pra não dizer que não falei de flores “ Geraldo Vandré
Caminhando e cantando e seguindo a canção.
Somos todos iguais braços dados ou não.
Nas escolas, nas ruas, campos, construções.
Caminhando e cantando e seguindo a canção.
Pelos campos a fome em grandes plantações.
Pelas ruas marchando indecisos cordões.
Ainda fazem da flor seu mais forte refrão.
E acreditam nas flores vencendo canhões.
Vem, vamos embora que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora não espera acontecer.
Vem vamos embora que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora não espera acontecer.
Há soldados armados, amados ou não.
Quase todos perdidos de armas na mão.
Nos quartéis lhe ensinam antigas lições.
De morrer pela pátria e viver sem razão.
Nas escolas, nas ruas, campos, construções.
Somos todos soldados, armados ou não,
Caminhando e cantando e seguindo a canção.
Somos todos iguais braços dados ou não.
Vem vamos embora que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora não espera acontecer.
Vem vamos embora que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora não espera acontecer.
Os amores na mente, as flores no chão.
A certeza na frente, a história na mão.
Aprendendo e ensinando uma nova lição.
Caminhando e cantando e seguindo a canção,
Vem vamos embora que esperar não e saber,
Quem sabe faz a hora não espera acontecer.
Vem vamos embora que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora não espera acontecer.
6. Comentários- Chuvas de palavras (cada integrante do grupo deverá dizer com
uma única palavra o que sentiu participando do trabalho).
Sociodrama IV
Local: ONG que faz trabalho com crianças e adolescentes.
Sociodrama Construtivista com os pais.
Tema: Sexualidade na Infância e na adolescência.
Objetivos: Trabalhar os pais no sentido de rever alguns conceitos sobre
sexualidade que foram aprendidos em suas famílias de origem e fazer uma
atualização destes conceitos para que se torne mais fácil a orientação com os
seus filhos.
1-Introdução
- Fazer um levantamento do grupo
- Idade
- Estado civil
- Filhos crianças ou adolescentes
- Evidenciar os aspectos que levam uma criança não ter limites.
-Ênfase nos tabus que o tema sexualidade desperta nas pessoas.
-As referências que os pais têm de suas famílias de origem.
2--Aquecimento inespecífico
3.1-Desenhar uma figura qualquer que atenda aos dados que forem dados a
seguir:
- duas cabeças
- três olhos
- um nariz
- uma boca três orelhas
- três braços
- corpo magro
- duas pernas
- três pés
- pêlos no corpo
3.2-Trocar os desenhos e observar os aspectos que chamam mais atenção para
cada um deles.
-Verificar e mostrar para os participantes que os desenhos são diferentes.
- Observação espontânea, quando cada um expressou o que ouviu, com todo o
conteúdo que tem dentro de si. Mostrar que isso é criatividade.
- Fazer associação da criatividade e sexualidade.
- Verificar e mostrar para os participantes que os desenhos são diferentes.
- Observação espontânea, quando cada um expressou o que ouviu, com todo o
conteúdo que tem dentro de si. Mostrar que isso é criatividade.
3.3- Fazer uma associação da Criatividade X Sexualidade.
Criatividade –poder de criar algo inerente ao ser humano. Único.Diferente de uma
pessoa para outra.
Sexualidade –Cada ser humano a expressa de maneira diferente. Única para cada
um. Difere de pessoa para pessoa.
3- Aquecimento específico
Procurar trabalhar com o grupo os mitos e realidades que estiveram e estão
presentes na vida de cada um desde que entraram em contato com o assunto.
Um grupo faz a relação dos mitos que giram em torno da sexualidade, e o outro
faz uma relação do que há de realidade sobre a sexualidade.
4- Dramatização- vivência do trabalho que foi produzido pelo grupo, com a
interferência da diretora e dos egos-auxiliares.
5-Comentários- chuva de palavras.
Sociodrama V
Local: ONG que desenvolve trabalho com crianças e adolescentes.
Sociodrama Construtivista com os pais.
Tema: Insegurança na infância e na adolescência.
Objetivos: Trabalhar os pais no sentido de ajudá-los a construir uma identidade
emocional para seus filhos e mostrar-lhes diversas formas de como isto é
possível, sem deixar que situações vivenciadas em suas infâncias interfiram
diretamente nesse processo.
1-Introdução
- Fazer um levantamento do grupo
- Idade
- Estado civil
- Filhos crianças ou adolescentes
- Evidenciar os aspectos que levam uma criança sentir-se e comportar-se de
forma insegura.
-As referências e vivencias que os pais têm de suas famílias de origem
2- Aquecimento Inespecífico
O grupo vai ouvir uma música, procurando fazer associações de trechos da
mesma com situações que viveram em suas vidas junto a suas famílias de origem.
Música: “Errar é humano” Toquinho
Música: “Errar é humano”. Toquinho
A criança tem direito de ser compreendida, deve se desenvolver em condições de
igualdade e de oportunidades com a liberdade e dignidade.”
Não, não é vergonha não você não ser o melhor da escola, o bom de skate o bom
de bola ou de natação.
Não, não é vergonha não aprender a andar de bicicleta, se estourando em outra
mão
Não, não é vergonha não, você não saber a tabuada, pegar uma onda, contar
piada, rodar pião. Não, não é vergonha não, precisar de alguém que ajude a fazer
sua lição.
A vida irá, você vai ver, aos poucos e o certo é você aprender errando, errando...
Não, não é vergonha não, ser da rua o mais gordinho, ter pernas tortas, ser o mais
baixinho ou grandalhão.
Não, não é vergonha não, você sempre tem algum defeito não existe a perfeição.
A vida irá, você vai ver aos poucos diz não, que o certo é você aprender errando,
errando, errando... (repete as estrofes anteriores: Não, não é vergonha não...) “
-Comentários do grupo em relação à música.
- Diretor investiga os sentimentos dos participantes durante o trabalho.
3)Aquecimento Específico
-Cada elemento do grupo vai receber uma folha de papel e nela desenhar uma
situação que tenha sido muito marcante na infância ou adolescência, que tenha
deixado algum trauma que lembram sempre.
- O grande grupo deverá ser dividido em três pequenos grupos que deverão
trabalhar da seguinte forma: deverão escolher apenas uma situação para que seja
trabalhada na dramatização. Os egos auxiliares ficarão nos grupos para ajudá-los.
Depois que escolherem a situação, deverão montar a dramatização, e , no final,
fazer uma frase de encorajamento para ajudar uma pessoa que está dentro de
uma situação parecida com a que foi escolhida.
4) Dramatização
Cada grupo deverá dramatizar a cena escolhida. O diretor deverá conduzir a
dramatização junto com os egos auxiliares.
Diretor deverá montar uma cena com pais que deverão tentar chegar num
comportamento mais próximo do ideal, utilizando pais da platéia conforme seja
necessário.
5)Comentários- chuva de palavras.
Sociodrama VI
Local: ONG que desenvolve trabalho com crianças e adolescentes.
Sociodrama Construtivista com os pais.
Tema: Drogas na infância e na adolescência.
Objetivos: Trabalhar os pais no sentido de ajudá-los a reconhecer os tipos de
drogas e orientar seus filhos quanto ao uso das mesmas. Identificar alguns
comportamentos dos pais que podem favorecer a busca da criança ou do
adolescente pela droga, e avaliar se estes são repetitivos em relação ao que
receberam de suas famílias de origem.
1) Introdução
- Fazer um levantamento do grupo
- Idade
- Estado civil
- Filhos crianças ou adolescentes
- Evidenciar os aspectos que levam uma criança ou adolescente a procurar a
droga.
-As referências e vivencias que os pais têm de suas famílias de origem
2- Aquecimento Inespecífico
-Investigar sentimentos dos pais relacionados ao tema. Situações que os mesmos
tenham passado em relação ao uso de drogas na família de origem ou na família
nuclear.
-Dramatização de um texto escrito por uma usuária de drogas feita por um ego-
auxiliar:
“Comemoração em grande estilo. Festa com os amigos. E foi nesta maldita festa
que eu me embebedei e usei maconha pela primeira vez. Nossa, que viagem, tudo
era engraçado, muito engraçado. Passamos todos os dias a ter necessidade de
beber e fumar um beck. Na rua para te oferecer você tem muitos amigos, em
especial quando você tem dinheiro. E esse era o meu caso, meu pai tinha muito
dinheiro. Eu recebia a mesada e por ser única em casa, tenho mais dois irmãos,
era a preferida do papai . Meus pais não notaram a minha mudança, porque eles
eram um pouco distantes. Fumando maconha e bebendo quase todos os dias
depois da aula, conheci um garoto e com ele a felicidade: cocaína. Ele disse que
seria legal, que não viciava desde que eu me controlasse. Fui lá, cheirei. Nunca
tinha me sentido daquele jeito antes. Era um pó mágico e eu, já com 16 anos, era
uma alcoólatra e cocainômana. Três anos se passaram e eu me encontro no
mesmo estado deplorável, viciada em cocaína e álcool. Já tentei sair fora várias
vezes, com a ajuda da minha família, mas de nada adianta. Me considero um caso
perdido. Minha mãe sempre me pergunta onde a linda jovem loira, que sonhava
ser modelo, está? Havia me perdido e estava cavando a minha própria sepultura.
Foi a pior coisa do mundo ver os pais chorando por uma burrice feita pelos filhos.
Eu sofri muito durante um tempo em que tentava parar. Vomitava sem parar,
sentia dores insuportáveis pelo corpo, mas a dor que os pais sentem em ver um
filho assim é muito maior. Ainda viciada, resolvi dar meu depoimento para que
sirva de alerta a todos os jovens de boas idéias. Nunca usem drogas, nenhuma!
Todos se recuperam ou se recuperam notam é que perdemos nosso tempo
valioso, a nossa juventude, a vida. Façam um favor a si mesmos. Podem ficar
longe e nunca acreditem que vai ser legal ou que você pára quando quiser. Eu
quis parar, mas o vício foi maior do que a minha força e agora vou muito a missas,
converso com o padre a esse respeito, vou ficar limpa um dia, se Deus quiser e se
eu tiver força o suficiente. Galera, curtam os prazeres da vida: freqüentem praias,
baladas, mas sem drogas. O prazer de viver é muito maior do que a droga
oferece. Um abraço a todos.”
- Platéia assistirá um filme de pequenas propagandas direcionadas ao uso de
drogas.
Filme: Todas as cenas são exageradas para chocar a platéia.
- A cocaína dificilmente vicia e além de tudo eu só cheiro socialmente. Essa droga
não me controla, eu sei que eu sou muito mais forte do que a cocaína. Eu tenho
controle do que eu tô fazendo e além de tudo, eu paro quando eu quiser, não tem
erro. A cocaína não mata. A cocaína é uma mentira.
-Façam um seguro de vida para seus filhos. Fique atento ao que acontece dentro
da sua própria casa. A vida de seu filho pode estar em perigo. “Isso não vai dar
nem pra uma grama, vou dar uma geral lá em cima também” – garoto levando
coisas da própria casa para vender e conseguir droga. Diálogo, o melhor seguro
contra as drogas. Drogas, nem morto.
-É isso aí, eu uso drogas, mesmo e daí? Pra mim isso não é problema, é só de
vez em quando. Mesmo agora, por exemplo eu tô aqui, mas na hora que eu quiser
eu paro. Eu sei o que eu faço. Drogas, nem morto!
Diretor deverá fazer um trabalho com o grupo de avaliar até que ponto eles
tiveram contato com situações relacionadas a drogas em suas famílias de origem.
- O grupo deverá encontrar uma posição na cadeira de uma maneira mais
confortável e tentar fechar os olhos. Procurar lembrar, um pouco do depoimento
da garota, que hoje está com 16 anos, e que o grupo acabou de ouvir, e deverá
procurar lembrar um pouco das propagandas que assistiram que tem uma relação
à prevenção das drogas. Enquanto estiverem de os olhos fechados, o diretor
deverá dar algumas senhas para o grupo. E a cada senha o grupo deverá falar
sobre o sentimento que estão sentindo, sem nenhuma censura. O grupo deverá
pensar um pouco no que receberam de orientação sobre drogas dos pais.
Imaginar todas as cenas que acabaram de ver e do depoimento que acabaram de
ouvir. Procurar relacionar que ressonância tudo isto tem na vida de cada um.
Pensar nas orientações que receberam E falar, com uma única palavra, de olhos
fechados o que passou na cabeça de cada um.
-Diretor deve ouvir junto com o grupo todos os sentimentos que forem exposto pó
eles.
3-Aquecimento específico
Diretor orienta os egos-auxiliares a desempenhar os papéis de cada droga
específica passando para o grupo todas as peculiaridades das mesmas, tais
como: conceito, sintomas dos usuários, prejuízos de cada uma delas no
organismo. As drogas mais comuns deverão ser dramatizadas pelos egos –
auxiliares: maconha, cocaína, crack, inalantes.
-Diretor deverá passar os slides com fotos de cada droga específica, que traz
desde a plantação de cada tipo até a forma como elas são encontradas no
mercado para serem vendidas.
-O grupo deverá dividir-se em três pequenos grupos e montar uma cena onde um
pai entra em contato com uma situação que mostra o filho relacionado ao uso de
drogas.
4- Dramatização
Os grupos deverão dramatizar as cenas separadamente, e, se necessário, a
diretora pode deverá fazer intervenções durante as dramatizações.
5- Comentários
O grande grupo deverá ficar em pé, de mãos dadas para fazer o fechamento do
trabalho. Vão ouvir uma musica.
Epitáfio (Titãs)
Deviater amado mais,
Ter chorado mais,
Ter visto o sol nascer.
Devia ter arriscado mais,
E até errado mais,
Ter feito o que eu queria fazer.
Queria ter aceitado as pessoas como elas são,
Cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração.
O acaso vai me proteger,
Enquanto eu andar distraído.
O acaso vai me proteger,
Enquanto eu andar...
Devia ter complicado menos,
Trabalhado menos,
ter visto o sol se pôr.
Devia ter me importado menos,
Com problemas pequenos,
Ter morrido de amor...
Queria ter aceitado a vida como ela é,
A cada um cabe alegrias e a tristeza que vier.
O acaso vai me proteger,
Enquanto eu andar distraído.
O acaso vai me proteger,
Enquanto eu andar...
Devia ter complicado menos,
Trabalhado menos,
Ter visto o sol se pôr...
-Chuva de palavras.
Sociodrama VII
Local: ONG que desenvolve trabalho com crianças e adolescentes.
Sociodrama Construtivista com os pais.
Tema: Drogas na infância e na adolescência.
Objetivos: Trabalhar os pais no sentido de ajudá-los a reconhecer os tipos de
drogas e orientar seus filhos quanto ao uso das mesmas. Identificar alguns
comportamentos dos pais que podem favorecer a busca da criança ou do
adolescente pela droga, e avaliar se estes são repetitivos em relação ao que
receberam de suas famílias de origem.
P.S. Conteúdo deste Sociodrama Construtivista é igual ao do Sociodrama VI.
ANEXO IV
Relatos dos Sociodramas Construtivistas para Orientação de Pais na ONG –
SP.
Sociodrama I
Local: ONG- São Paulo-SP.
Data: 20.03.2005
Tema: Com os nossos filhos.Qual o limite dos limites?
População: 64 pais de classe média/baixa, nível instrução ,1º grau incompleto ,
completo e 2º grau completo e incompleto, filhos de 0 a 15 anos, quatro
psicólogos e uma assistente social.
1)Introdução:
Ana Lúcia - Boa tarde a todos!
Platéia- Boa tarde.
Ana Lúcia: Vamos iniciar este trabalho hoje e começar a plantar uma sementinha
na vida de vocês e de seus filhos em direção a um modelo diferenciado de
educação. É certo que vocês já têm inúmeros programas, mas esse ano,
realmente, a instituição está dando uma ênfase à família. Então assim, vai ser
muito bom partilhar com vocês durante o ano inteiro de um trabalho educativo. Eu
não trabalho sozinha. Minha equipe é formada pelo Anselmo, Ana Paula
Zampieri, Ana Carolina e Jussara . Eles fazem o trabalho como auxiliares e eles
vão me ajudar a coordenar o grupo no momento em que a gente estiver
trabalhando. Este trabalho se chama Sociodrama Construtivista. E o tema de hoje
é: Com os nossos filhos qual o limite dos limites?
Ana Lúcia- Mas antes de nós começarmos, gostaria de pedir a autorização de
vocês para filmar e fotografar este trabalho. É um trabalho que estou
desenvolvendo para a minha tese de Mestrado e a filmagem e fotografia serão
utilizadas para fins científicos. Tudo bem para vocês?
Platéia- Todos aceitaram a filmagem e fotografia.
Ana Lúcia- No final do trabalho vamos entregar um papel onde vocês deverão
assinar esta autorização, ok?
Platéia- Tudo bem. Este é um tema muito polêmico, que está na mídia, que todo
mundo ouve falar, todo mundo tem dificuldade de colocar limites. Mesmo nós,
psicólogos, às vezes temos dificuldades. Perceba, eu por exemplo, trabalho com
isso há mais de 15 anos. Hoje nós vamos tentar conversar com vocês vendo um
pouco o que pensam, como se comportam dentro do papel de pais, e avaliando
um pouco que limites vocês têm na vida de vocês como pais, avaliando a carga
que vocês receberam de suas famílias de origem. Vamos enfatizar o tema
“limites” em cima do ponto de vista dos pais, que é uma coisa que se fala pouco.
Normalmente se fala muito que os filhos não têm limites. Mas hoje a gente vai
falar sobre o limite dos pais, porque parem para pensar no fato de que o filho que
não tem limites normalmente decorre de um pai que não tem limites. Eu falei do
Sociodrama Construtivista vem das raízes do Psicodrama que foi fundado por
Jacob Levy Moreno que era um médico vienense e ele trabalhava com grupos em
teatro, prisões, praças públicas. Ele gostava de trabalhar fora do consultório
porque ele dizia que trabalhar com grupos é uma forma interessante de
tratamento porque se um indivíduo nasce dentro de um grupo, que é o grupo
familiar, deverá ser mais bem tratado em grupo. Então Moreno acreditava que
quando a gente reúne um grupo e tenta trabalhar as dificuldades com os
elementos do mesmo,os sintomas aparecem mais rápido. Isso quer dizer que eu
não vou trabalhar sozinha, vocês vão me ajudar. Está certo? O que é importante
no Sociodrama? Alguém conhece o Sociodrama aqui?
Platéia- Não, eu não conheço,mas acho que alguns daqui conhecem.
Ana Lúcia- O Sociodrama também usa elementos do teatro e numa fase deste
trabalho nós poderemos fazer dramatizações. O que eu quero que vocês
entendam é que quando vocês vão desempenhar um papel vocês deixam de ser
quem vocês são na realidade. Por exemplo: um pai que é super tranqüilo, que
conversa, que é um pai ideal aqui pode passar a desempenhar um papel de
autoritário. Neste trabalho vocês podem se transformar num filho inseguro,
dependente.. Certo? Deu pra vocês entenderem mais ou menos ou não?
Platéia- Acho que sim.Mais ou menos.
Ana Lúcia- Durante o trabalho nós vamos explicando direitinho e vocês vão se
situar melhor, certo?
Ana Lúcia- Queria conhecer um pouco este grupo: quem tem idade abaixo de 20
anos?
Platéia- Nenhum pai levantou as mãos.
Ana Lúcia- E entre 20 e 30 anos?
Platéia- 06 pais levantaram as mãos.
Ana Lúcia- E entre 30 e 40 anos?
Platéia- 42 pais levantaram as mãos.
Ana Lúcia- E entre 40 e 50 anos?
Platéia- 24 pais levantaram as mãos.
Ana Lúcia - Então este grupo está composto de um número maior de pais
entre 30 e 40 anos. Quem tem filhos na primeira infância de 0 a 7anos?
Platéia- 28 pais levantaram as mãos.
Ana Lúcia - Quem tem filhos entre 7 à 18 anos?
Platéia- 40 pais levantaram as mãos.
Ana Lúcia- Nossa, então neste grupo temos mais pais que tem filhos na idade da
adolescência.
Ana Lúcia - Quem tem filhos acima de 18 anos?
Platéia- 06 pais levantaram as mãos.
Ana Lúcia- Quem daqui nunca teve problema em colocar limites com os filhos?
Platéia- Ninguém levantou as mãos .
Ana Lúcia- Ninguém? Nossa, então vocês estão no lugar certo! Antes de começar
vocês vão ouvir uma música, e eu queria que, enquanto vocês ouvissem essa
música, tentassem identificar coisas que aconteceram em suas vidas junto a suas
famílias de origem, com os seus pais. Tentem imaginar e se transformar em
crianças! Vocês vão identificar alguma coisa, de quando vocês eram criança que
pode ter acontecido dentro do contexto da música que a gente vai estar passando.
2-Aquecimento Inespecífico:
Música: “Errar é humano”. Toquinho
A criança tem direito de ser compreendida, deve se desenvolver em condições de
igualdade e de oportunidades com a liberdade e dignidade.”
Não, não é vergonha não você não ser o melhor da escola, o bom de skate o bom
de bola ou de natação.
Não, não é vergonha não aprender a andar de bicicleta, se estourando em outra
mão
Não, não é vergonha não, você não saber a tabuada, pegar uma onda, contar
piada, rodar pião.
Não, não é vergonha não, precisar de alguém que ajude a fazer sua lição.
A vida irá, você vai ver, aos poucos e o certo é você aprender errando, errando...
Não, não é vergonha não, ser da rua o mais gordinho, ter pernas tortas, ser o mais
baixinho ou grandalhão.
Não, não é vergonha não, você sempre tem algum defeito não existe a perfeição.
A vida irá, você vai ver aos poucos diz não, que o certo é você aprender errando,
errando, errando... (repete as estrofes anteriores: Não, não é vergonha não...)
Ana Lúcia- Ouviram bem pais? Essa música lembrou alguma coisa a vocês?
Platéia- Pra mim lembrou, a música inteira fala das lembranças, das coisas que
você não conseguia fazer ou tinha vergonha de fazer não é? Porque hoje em dia,
a gente tem mais vergonha de fazer do que se propõe a fazer. Às vezes, quando
você está na frente de muita gente dá muito mais vergonha, e , só quando você
está sozinha que você se liberta. Na frente de muita gente eu sempre ficava com
medo. Às vezes , eu tinha até vontade de fazer mais, mas aquele medo tão
grande de fazer as coisas se apodera que a gente acaba deixando passar aquele
momento.E sabe, minha mãe ficava me enchendo o saco dizendo que eu tinha
que fazer.Ela queria a perfeição sempre. Isto me preocupa porque às vezes faço
isto com meus filhos.
Ana Lúcia- Certo. Mais alguém lembrou alguma coisa?
Platéia- A gente tem muita lembrança.. Eu, por exemplo, tinha muita dificuldade
quando criança porque eu não tinha coragem de agir. Eu queria ter participado de
uma escola, de um festival, de algum teatro, mas eu achava que não era capaz de
fazer e por outro lado eu não tive também incentivo dos meus pais pela pouca
cultura que eles tinham. E mesmo depois de adulto, de já ter constituído família,
eu vou dizer que não é vergonha não você fazer alguma coisa segurando na mão
do outro, não é ? E mesmo depois de ter vindo para São Paulo e ter família, vim
pra cá em 1975, que eu não conseguia entrar dentro de um shopping. Por que?
Porque eu achava que shopping era só para quem tinha dinheiro , para quem era
rico. Então eu tinha vergonha e imaginava que ia ficar todo mundo olhando para
minha cara perguntando: O que é que este idiota está fazendo aqui? Não ia de
jeito nenhum. E hoje , eu sinto assim uma dificuldade em passar determinadas
situações para os meus filhos. Eu tenho três filhos adultos e uma que está
freqüentando aqui e eu sinto que eles que se fizeram por si próprios e parece que
eles conseguiram passar esta barreira e eu muitas vezes ainda tenho barreiras.
Ana Lúcia- Mas eu acho que você ajudou, ou ainda está ajudando da maneira
que você consegue,não é? Você está aqui neste trabalho hoje, querendo
mudanças. Eu não sei se foram eles que fizeram isso sozinhos. Eu acho que o
fato de você estar aqui hoje mostra pra gente isso.
Platéia- Acho que outra coisa que pode ter-me ajudado a vencer esta barreira,
não sei se é a hora de falar, mas foi quando eu ingressei na Igreja. Depois que
me tornei ministro da Igreja Católica então eu consegui superar muita coisa,
trabalhando, vendo situações adversas, e hoje, graças a este trabalho e a uma
série de coisas eu estou conseguindo superar.
Ana Lúcia- Está ótimo, mais alguém? Teve alguém que levantou a mão ali, esta
senhora por favor...
Platéia- Então, as pessoas estão tem falando muito sobre a vergonha, e uma
vergonha que me marcou muito quando eu estava na primeira série, foi a festa de
7 de Setembro quando a professora perguntou quem gostaria de participar do
desfile e eu aceitei. Então, a gente ensaiou tudo direitinho e eu muito feliz não via
a hora de chegar 7 de Setembro para o desfile. Uma semana antes, a professora
chegou em todos aqueles que iam participar do desfile e disse: Olha ,a festinha vai
ser dia 7 e todos têm que estar de sapatos pretos e meia branca. Eu não tinha.
Naquela época, eu usava um tamanquinho que vendia nos empórios, na
mercearia. Daí, cheguei para minha mãe falei, e ela respondeu: filha, nós não
temos dinheiro para comprar o sapato e nem meia. Aquilo me quebrou , mas eu
queria participar da festa assim mesmo. Então, quando chegou um momento da
festa eu fui para a pracinha, de tamanquinho e quando chegou a hora da minha
sala desfilar, eu era muito magrinha, miudinha e tinha aquelas árvores grandes na
frente. Naquele momento, eu fui acompanhando o desfile inteirinho escondida
atrás das árvores para ninguém precisar me procurar porque eu fazia parte não é?
Aquele dia me marcou muito.Tudo aconteceu. Eu tinha muita vontade de comer
sorvete de massa, tava começando o sorvete de massa e eu não tinha dinheiro
quando terminou a festa, todo mundo comprando sorvete, os pais comprando.
Daí, eu vi que uma pessoa que comeu só a massinha e jogou a casca nas
gramas. Aí eu disfarcei, olhei para os lados, peguei e comi a casquinha. Foi uma
vergonha, porque todo mundo viu quando eu peguei a casquinha do chão e
comendo. Isso foi uma vergonha muito grande pra mim. Não são lembranças
boas.
Platéia- Eu lembro de quando era adolescente que meu pai não deixava a gente ir
ao cinema, sozinha com o namorado. Era um saco, ele achava que a gente não
sabia se cuidar, se defender. Para onde a gentia ia, ele ou minha mãe tinha que ir
atrás. Era um saco,mas no interior também era assim, minha mãe conta que o pai
dela só deixava namorar no sofá de casa. Jogo duro,não?
Platéia- Risos.
Ana Lúcia- Muito bem. Este depoimento foi importante. Alguém quer colocar
outras situações? Queria que vocês fossem um pouco mais rápido porque a gente
tem pouco tempo, a gente vai terminar 5:30 então eu pediria para vocês falarem
alguma coisa um pouco mais condensada ? Quem mais gostaria de falar?
Ninguém? Bom agora vocês vão fazer uma outra etapa do trabalho pra gente se
aquecer, pra gente montar o grupo, ta legal?
3-Aquecimento Específico:
Vocês vão fechar os olhos e vocês vão fazer um relaxamento. Eu vou ajudar
vocês e terão ainda que fazer um retorno ao tempo de infância. O nosso objetivo é
verificar as relações que vocês tinham com seus pais em suas famílias e origem.
Pra gente ver o que vocês aprenderam e o que hoje vocês podem estar colocando
dentro do processo de educação de seus filhos. Então, fechem os olhos, relaxem
o corpo, fechem os olhos, não quero ninguém olhando pra mim.
- Vocês vão imaginar que vocês são crianças, estão mais ou menos com 7 ou 8
anos.
- Procurem imaginar que tipo de educação que vocês estão recebendo.
- O que seus pais te ensinam?
- O que seus pais fazem quando vocês não obedecem?
- O que seus pais dizem quando vocês fazem alguma coisa errada?
- Qual é a punição dos seus pais, quando você erra?
- Lembrem se eles fazem alguma coisa para agradar vocês? Compram brinquedos
para agradar? Levam vocês pra passear sempre? Que limites vocês acham que
seus pais colocam para você?
- Você lembra se eles conversam bastante? Se eles te ensinam como fazer para
mudar um comportamento?
-Você se lembra de ter apanhado alguma vez? O que você sente quando apanha?
Que limites você aprendeu com eles?
- Agora procurem avançar um pouquinho no tempo...
- Vocês casaram, tiveram filhos...
- Que limites vocês colocam nos seus filhos?
- O que vocês falam aos seus filhos quando eles não obedecem? O que você faz
quando seus filhos fazem alguma coisa errada? Você bateu no seu filho alguma
vez?
- O que você acha que eles sentem ou sentiram quando apanhou?
- Que limite você coloca no relacionamento seu e do seu filho?
-Que tipo de pai você é?
- Você é mais autoritário, impondo sempre a sua opinião?
-Você é mais democrático, conversa, explica, deixa seu filho crescer?
-Você é um pai mais permissivo, evita que seu filho sofra? Deixa que ele faça tudo
sem limites?
-Que tipo de pai você é?
-Pense bem em que tipo de pai vocês é? Como você se comporta? Como você
educa? Que tipo de pais você é?
-Que bagagem vocês trazem dos seus pais?
-O que você gostaria de mudar na educação que teve? Pensem bem sobre isto.
-Aos pouquinhos, dentro do ritmo de vocês, vão voltando para essa sala no papel
de adulto, de pais, que estão aqui com um objetivo: rever a educação dos filhos.
Vão abrindo os olhos devagar. Agora eu queria que vocês com uma só palavra
vocês dissessem pra gente o sentimento que estão sentindo agora, pensando
neste trabalho que vocês vão fazer hoje e pensando em suas lembranças, uma só
palavra.
Platéia- Progresso, amor, tristeza, amizade, diálogo, oportunidade,
conhecimento,medo, angústia,insegurança,esperança.
Ana Lúcia- Dos sentimentos que vocês sentiram, lembrando coisas que
aconteceram com vocês, façam uma ponte com a educação que vocês estão
dando para os seus filhos.Que sentimento vem à tona quando pensam nisto?
Platéia- Tristeza, confiança, amor, carinho, esperança, afeto, respeito, saudade,
medo, incompetência, compreensão, verdade, confiança, companheirismo,
desespero, atenção, ouvir.
Ana Lúcia- Procurem falar com uma palavra agora, quando vocês pensam em
colocar limites com que tipo de sentimento vocês se deparam?
Platéia- Impotência, respeito, divisão, compreensão, entendimento, falta de
entendimento, insegurança, medo.
Ana Lúcia- Então vocês vão fazer o seguinte: agora vamos nos dividir em 6
grupos: o primeiro grupo aqui dessas oito pessoas vai representar o pai
autoritário, e o ego escolhido para trabalhar com vocês é a Ana Paula. Tudo bem?
Do lado vai ter o segundo grupo que será dos filhos dependentes e inseguros que
vai ficar com o Anselmo, certo? No terceiro grupo aqui da frente vamos ter o grupo
dos pais democráticos, certo? O auxiliar que vai ajudar vocês é a Jussara. Do lado
vem o quarto grupo que será o grupo dos filhos seguros e dependentes. A auxiliar
será a Ana Carol.O quinto grupo será o grupo dos pais permissivos,e o auxiliar
será a Lígia, e do lado teremos o sexto grupo dos filhos birrentos e sem limites, e
eu serei o auxiliar. Entenderam? Bom, o que vocês deverão fazer. Vocês vão
montar o perfil de cada grupo: o que o pai democrático faz? O que o pai
permissivo faz? O que o pai autoritário faz? Que comportamentos eles têm? A
mesma coisa em relação aos filhos o perfil, certo? O perfil significa quais são as
características mais importantes, da personalidade desses pais e desses filhos,
certo? No final, vocês vão montar uma frase que mostre para o grande grupo o
que é esse pai democrático, o que é esse filho inseguro, o que é este filho seguro
e o dependente? A gente vai dando as senhas para vocês enquanto vocês vão
fazendo o trabalho. Os egos auxiliares vão ajudar vocês durante todo o trabalho.
Ana Lúcia- Vamos agora começar o trabalho trazendo o grupo que fez o pai
autoritário. (Grupo 1).
G1: Pais Autoritários -Colocamos que o pai autoritário é autoritário por si
próprio, não consegue expressar seus sentimentos, onipotente (só ele manda),
ele precisa do poder, não tem diálogo, é frio e afasta os filhos.
Ana Lúcia- Muito bem.(aplausos). Agora o grupo que fez a criança insegura.
G2: Criança Insegura e dependente- A criança é insegura pois sempre quando
quer alguma coisa chora muito. É mentirosa (já mente para o pai ficar bravo e eles
têm medo do “não”), é levada para provar que existe, é muito nervosa mesmo
porque é insegura ao mesmo tempo, autoritária, porque quando é autoritária torna-
se egoísta, tem medo de pedir e a outra criança não tem, ela tem inveja das outras
crianças e sem iniciativa nenhuma, não tem opinião própria. E é uma criança
muito triste. E a nossa frase é: Sem iniciativa. (aplausos)
Ana Lúcia -Deixa eu só colocar uma coisa, quando eles colocaram que a criança
insegura é invejosa normalmente uma das características deste tipo de filho é ter
inveja e tem dificuldade de expressar verbalmente mas ele sente como algo muito
forte.
4) Dramatização:
Dramatização: G1 e G2.(filhos pedem dinheiro para o pai para irem ao shopping e
pais não dão). (aplausos)
Pais conversando na sala.Dois filhos de 15 e 13 anos....
F- Pai, me dá dinheiro para nós irmos ao Shopping?
P- Não, já dei muito dinheiro para vocês neste mês. Fica em casa assistindo TV,
vendo filme que vocês ganham mais.
F- Mas pai, toda galera vai e a gente queria tanto ir.
P- Já falei que não, não adianta insistir.Quando eu era da idade de vocês não
tinha esta mamata. Se brincar, eu já trabalhava. É meninos, na minha casa não
tinha esta de viver em Shopping com os amigos não.
F-Pai, hoje a gente não ta vivendo no seu tempo. Os tempos mudaram!!!
P- Fica quieto que estou conversando com sua mãe. É não, não e não.....
Diretor chama o ego auxiliar para fazer parte da dramatização:
E A-(Junto ao pai).Imagine que eu vou dar dinheiro a estes vagabundos. Não
fazem nada o dia inteiro e eu me mato de trabalhar. Na nossa época era assim
mesmo, a gente não tinha esta mamata não.
P- É isto aí, nada de mamata....
E A- Mas será que assim a gente vai ajudar nossos filhos...
P- Tem isto não, ele têm que se virar... Na idade deles eu já trabalhava.
E A- Como será que eles se sentiram com um NÃO sem explicação como este
que foi dado?????
P- Sei lá ....
Ana Lúcia- Muito bom. O fechamento de todas estas questões a gente vai fazer
no final, certo?
Ana Lúcia- Palmas para o grupo, muito bom mesmo!!! Agora o terceiro e o quarto
grupo.
G3: Pais democráticos: O pai democrático é responsável, compreensivo, coloca
limites, quer saber o que os filhos estão pensando, ouve o problema dos filhos,
respeita a opinião dos filhos, preocupa com os filhos, amigo, é participativo, alerta
o filho do perigo, é conselheiro.
Ana Lúcia- Espera só um minuto, tem uma coisa que é importante nestas
características. Vocês disseram que o pai democrático é aquele que ouve e sente
o sentimento da criança e do adolescente, certo? A gente no exercício no papel de
pai e mãe precisa ouvir e sentir sobre o sentimento da criança e do adolescente.
Vamos continuar....
G3 (continua): Companheiro das horas difíceis, dá apoio, está sempre perto dos
filhos e a frase é: Sou seu amigo e estarei sempre perto de você, aconteça o
que acontecer. (aplausos)
G4 : Filhos Seguros-
Os filhos seguros e independentes respeitam os pais, tem amor por eles, e muito
diálogo.
A frase é: Filhos com segurança e determinação e respeito conseguem
vencer todos os obstáculos que tiverem pela frente. (aplausos)
Dramatizações: G3 e G4
(A filha quer ir estudar nos Inglaterra fazer um trabalho através da ONG por dois
anos e os pais permitiram e deram apoio). (aplausos)
Dramatização:
Pais conversando com a filha de 16 anos.
F- Estou com muito medo de ir para Londres fazer este trabalho .
P- Mas filha, nós estamos aqui te dando um apoio. Você sabe que isto é uma
coisa que pode te dar muitas oportunidades na tua vida. Se você ficar lá este
tempo, vai poder aprender inglês, vai ter mais experiência trabalhando, e quando
você voltar as portas vão estar mais abertas para você.
F- Mas eu não sei se vou conseguir ficar tanto tempo fora.
P- Filha, você tem que acreditar em você, que tudo vai dar certo!!!!
F- Mas, se eu desistir no meio deste tempo, o que será que vai acontecer??
P- Te prometo que,se por acaso você tiver algum problema, a gente vai entrar em
contato com as pessoas que possam te ajudar. Porque a gente não pode fazer
muita coisa, pela falta de dinheiro,mas , fique tranqüila que você não estará
sozinha nunca. Tente enfrentar tudo isto, porque vai ser muito importante para
você, para tua vida e para teu futuro...
Diretor- Mas será que eu não vou ficar inseguro com esta menina tão longe? Se
ela tiver algum problema, o que eu vou fazer?
P- Acho que não vou ficar inseguro não. Eduquei minha filha para o mundo, ela vai
saber se defender quando estiver em dificuldades, e , se ela tiver algum problema,
certamente, nós iremos ajudá-la.
Ana Lúcia- Palmas para o grupo. Muito bom!!
G5: Pais Permissivos- Os pais permissivos são aqueles que deixam fazer tudo,
não se importam com o filho, não se preocupam com as dificuldades do filho. Às
vezes se cansam do filho.
G6: Filhos Birrentos: Bom, filhos birrentos são aqueles que batem o pé quando
querem alguma coisa, vence pelo cansaço, porque insiste não é? Ele são
persistentes e até tem alguns que não desistem nunca, são autoritários, porque
gritam mais que a mãe, geralmente sem educação (em lugar nenhum têm
educação), são agressivos, qualquer coisa batem, têm poder de persuasão,
conseguem persuadir, e a frase é: “vence pelo cansaço”.
Ana Lúcia- Palmas gente! (aplausos)
Dramatizações: G5 e G6. (filho pede uma bicicleta ao pai e não se importa com a
situação financeira precária em que vive. Filha pede um celular para a mãe e não
se preocupa com o modo com que vai conseguir aquilo que quer) (aplausos)
Dramatização: Pais jantando na mesa e os filhos chegam e interrompem a
conversa querendo a atenção deles.
F- Oi pai, oi mãe, vocês sabiam que saiu uma bicicleta nova , de dez marchas?
Tem dois amigos meus que ganharam no aniversário.A gente combinou de
participar da marotona de ciclismo. Eu quero mesmo esta bicicleta!!
P- Olha filho, eu estava mesmo falando com sua mãe que a gente tem que fazer
economia estes próximos meses porque estou com o saldo negativo no banco e
preciso arrumar isto até o final do ano.
F- Mas pai, eu quero que você compre para mim a bicicleta e paga no cartão ou
no cheque pré-datado.
M- Você não entendeu o que o seu pai falou, menino? Ele disse que não podemos
comprar nada para poder acertar as contas no banco.
F- Mas vocês acham mesmo que todo mundo na Escola vai ter e eu não? Coitado
de mim, meus amigos vão rir desta bicicleta horrorosa!!
P- Não adianta filho, a gente não pode te dar esta bicicleta!! Eu não vou fazer um
esforço sobre-humano para comprar esta bicicleta.
F- Mas eu posso ficar me sentindo um estranho no ninho diante dos meus amigos,
não é? Eu não disse que vocês não ligam para mim. Vocês só querem saber de
vocês!!
M- Filho, não fala assim, a gente faz tudo o que pode e o que não pode para você
se sentir feliz.
F- Pois eu sou a pessoa mais triste do mundo. Tudo o que eu quero vocês não
podem me dar. Droga!!!
P- Filho, isto não é verdade!! Dois meses atrás você queria um tênis novo, estes
de marca, e , mesmo sem dinheiro eu comprei um para você.
F- Olha só você passando na cara as coisas que você faz!!
P- Mas filho... Ta bom vai, vou pedir um adiantamento na Empresa e compro esta
bicicleta para você!!!!
Diretor- O que você sente quando ele pede, você não pode dar e ele insiste.
P: Só me resta chorar.Ficar triste.
Diretor- Esta situação lembra alguma que você tenha passado na tua vida?
P- Sim, quando eu era pequeno, não tinha nenhum carrinho para brincar, e meu
pai não podia realmente me dar um. Eu ficava muito triste,mas compreendia. E um
dia eu disse que meus filhos nunca iriam passar por aquilo, ver todo mundo
brincando, se divertindo e não poder fazer o mesmo.
Diretor- E você resolve a situação dando tudo o que seu filho quer?
P- É mais fácil!!
Diretor- Você disse que fica triste? É isto?
P- É. Fico triste quando não posso atender aquilo que meu filho me pede.
Ana Lúcia- Ah, você fica triste. Esse sentimento é muito latente no pai permissivo,
ele deixa a tristeza ser maior do que a realidade. Então ele entra num jogo
psicológico que a criança e o adolescente faz para atender o desejo, não é a
necessidade do filho. É importante que nós, como pais, possamos enxergar tudo o
que passamos na nossas famílias de origem e que não tenhamos a pretensão de
mudar tudo de ruim que aconteceu conosco. Isto visando o bem dos nossos
filhos.Certo? Isto é uma coisa que a gente tem que estar muito atentos! Excelente!
Ana Lúcia- Agora a gente vai fazer a parte final do trabalho que é o seguinte
vocês vão se levantar, não saiam do lugar. A pessoa que está com o cartaz fica na
frente do grupo mostrando a frase. Mas antes a gente queria que vocês falassem
a frase alto e em coro porque a gente vai trazer um pessoal lá de cima que vão
ouvir a parte final do nosso trabalho, certo? E vocês têm que fazer uma coisa
bonita. Então é assim, amor fica no meio, entre os grupos. Então, por exemplo:
“Eu venço pelo cansaço” AMOR “Filho faça o que você quiser” AMOR. Todo
mundo junto em coro. Vou dar outra chance.
Platéia- “Eu venço pelo cansaço” AMOR “Filho faça o que você quiser” AMOR
“filho com segurança, determinação e respeito conseguem vencer todos os
obstáculos” AMOR “Sou seu amigo e estarei sempre perto de você, aconteça o
que acontecer” AMOR “Sem iniciativa” AMOR “Pai autoritário agride e afasta os
filhos” AMOR! AMOR! AMOR! AMOR!
Ana Lúcia- Bem alto. AMOR.
Platéia dança falando: Isso é pra gente sentir a união do grupo (todos os grupos
reunidos de mãos dadas, cantando,dançando).(aplausos)
5) Comentários
Ana Lúcia- Eu queria que com uma única palavra vocês dessem uma mensagem
para todos os pais que possam ouvir a gente. Que tipo de relacionamento a gente
pode ter com os filhos? Como fazer para não repetir o que vivemos junto a nossas
famílias de origem integralmente? Como fazer para tentar um processo de
educação mais eficaz para os nossos filhos?
Platéia- Ser amigo, amar muito os filhos, saber ouvir os filhos, ter diálogo,
companheirismo, acompanhar os filhos, agir com a razão e não com o coração,
compreensão de ambas as partes, união, respeito, paciência, e acima de tudo o
amor. O lema do grupo de vocês foi o amor e acho quando a gente põe a
sementinha do amor num trabalho como este vai ecoar na nossa cabeça por muito
tempo. A religião é muito importante, ter fé num ser superior.
Platéia- A gente tem que pensar que tudo o que a gente viveu quando criança tem
que ficar muito claro em nossas cabeças, que podemos mudar de diversas
formas, sem tentar ser totalmente diferente dos nossos pais. É como se a gente
pudesse tentar fazer o nosso verdadeiro caminho junto com os nossos filhos. Eu
sofri muito com o autoritarismo dos meus pais,não posso ficar agindo da mesma
forma com meus filhos. Meus pais batiam muito quando a gente não obedecia, e
minha mãe gritava muito para que a gente obedecesse. Acho que a gente tinha
medo dela.
Ana Lúcia- É um pouco isto, a gente tentar construir a nossa forma de educar,
com tudo o que estamos aprendendo, com a aprendizagem com nossos filhos, e
com a aprendizagem do casal. É importante perceber que todos os conteúdos
vivenciados em nossas famílias de origem , os modelos que tivemos são
importantes para nos dar um referencial de educação, de valores,mas, torna-se
necessário a atualização destes modelos para que possamos ficar tranqüilos que
estamos acompanhando as evoluções que estão acontecendo na educação, na
vida das crianças e adolescentes.
Ana Lúcia- A gente plantou uma sementinha no coração e na vida de vocês. Na
próxima reunião teremos a continuação deste tema e gostaria que todos vocês
viessem. Porque,certamente, se vierem, terão oportunidade de vivenciar a
continuação deste trabalho educativo. Assim você poderá refletir melhor sobre a
forma como está desenvolvendo a educação de seus filhos.
Ana Lúcia- Boa tarde a todos.
Sociodrama II
Local: ONG- São Paulo - SP
Data: 17/04/2005
Tema: Limites. Treinamento do papel de pais.
População: 83 pais de classe média/baixa, nível instrução ,1º grau incompleto ,
completo e 2º grau completo e incompleto, filhos de 0 a 15 anos, quatro
psicólogos e uma assistente social.
1)Introdução
Ana Lúcia - Boa tarde a todos!
Platéia- Boa tarde.
Ana Lúcia- Estou vendo que muitos que vieram na outra reunião estão aqui. Só
vai sair perdendo quem faltou,porque hoje nós vamos concluir aquela primeira
parte que foi trabalhada com vocês. Quem está aqui vai aproveitar porque o
número de pessoas está muito bom, mas se vocês encontrarem o pessoal faltou
dá um toque da próxima vez para não faltar. É muito importante dar uma
continuidade, porque este trabalho é um trabalho de educação de pais mesmo, se
vocês assistirem a todos os Sociodramas, vocês vão sair mais seguros para
desenvolver o papel de pais. Tem alguém aqui que não veio na outra reunião?
Platéia- 32 pessoas levantaram as mãos.
Ana Lúcia- Mas antes de nós começarmos, gostaria de pedir a autorização de
vocês para filmar e fotografar este trabalho. É um trabalho que estou
desenvolvendo para a minha tese de Mestrado e a filmagem e fotografia serão
utilizadas para fins científicos. Tudo bem para vocês?
Platéia- Todos aceitaram a filmagem e fotografia.
Ana Lúcia- No final do trabalho vamos entregar um papel onde vocês deverão
assinar esta autorização, ok?
Platéia- Tudo bem.
Ana Lúcia- Então nós vamos trabalhar, treinar um pouco o papel de pai e mãe.
Para isso nós vamos fazer uma rápida apresentação do que a gente fez na
reunião passada. Nós tentamos entender o papel que os pais assumem e o que
os filhos assumem também. Trabalhamos a tipologia dos pais e filhos. A gente
levantou três tipos de pais e três tipos de filhos e depois fizemos uma rápida
dramatização para fechar o Sociodrama passado. Hoje nós vamos fazer um
pouquinho diferente, a gente vai tentar fazer um treinamento do papel de pai e
mãe em cima das dificuldades que vocês têm no dia a dia com seus filhos. Para
aquecer o pessoal novo para o trabalho preciso dizer que este não é uma palestra
, é um Sociodrama. O Sociodrama é um trabalho em grupo onde a eu, como
diretora, vou utilizar os recursos do próprio grupo.Posso usar alguns recursos do
teatro, como dramatização, para poder estar trabalhando as dificuldades, certo?
Então eu vou passar o data show bem rápido para vocês estarem a par do que foi
trabalhado. Este trabalho está sendo coordenado pela Psicóloga Lígia Pimenta,
que é a coordenadora de programas e projetos daqui , tem consultoria da
professora Rosa Macedo é está sendo realizado por mim na direção,.Eu sou Ana
Lúcia Gomes Castello,psicóloga , e tenho uma equipe de trabalho, que são os
egos auxiliares: Anselmo, Jussara Perazza, Ana Paula Zampieri e a Ana
Carolina Brandão.A Ana Carolina hoje está doente e vamos trabalhar com
Luciana, substituindo-a. O primeiro tema dos grupos 1 e 2 foi limites na
educação.
2) Aquecimento Inespecífico
Neste momento, foi mostrado no data show os melhores momentos e intervenções
do Sociodrama anterior pela diretora.
Ana Lúcia- Vocês vão ver algumas fotos dos grupos, o início do Sociograma , os
grupos formados para o trabalho e a conclusão do mesmo. A primeira etapa do
Sociodrama é o aquecimento inespecífico que no Sociodrama passado para o
grupo 2 uma música. Depois tivemos um relaxamento dirigido. No aquecimento
inespecífico, levantamos alguns sentimentos que os pais têm em relação ao tema
limites, quando se trata de limites em relação à educação dos filhos. Quais foram
estes sentimentos: sofrimento, medo de amar, autoritarismo, más companhias,
incompreensão, falta de confiança, incompetência, respeito, oportunidade,
saudade, atenção e verdade, coragem, amor, carinho, remorso, culpa,
necessidade, desespero, impotência e esperança. No aquecimento específico,
reunimos grupos que elaboraram os perfis de pais e de filhos. O que apareceu no
perfil de pai autoritário: ditador, autoritário, onipotente, precisa do poder, não
consegue expressar o sentimento, não se preocupa com os sentimentos dos
filhos, não ouve os filhos, não permite que o filho expresse os sentimentos, toma
as decisões sozinho, não é capaz de demonstrar pele e carinho, tem dificuldade
de se aproximar dos filhos e faz o uso do poder com medo de fracassar. No
aquecimento específico ainda, na elaboração do perfil de pai permissivo, os
grupos montaram o seguinte: não sabe dizer não, tem medo de dizer não, faz tudo
o que a criança quer, não corre o risco de errar, foge dos problemas, não quer ter
o trabalho de pensar na solução é comodista, dá tudo que o filho pede, não quer
que o filho sofra e é emotivo. E do pai democrático, o perfil elaborado foi o
seguinte: demonstra confiança nos filhos, procura colocar limites, não coloca
limites para tudo, procura compreender os filhos, inspira confiança e orienta os
caminhos certos, dá responsabilidades aos filhos, passa os valores da vida,
acredita nos filhos e o diálogo é o mais importante, né? Agora o perfil do filho
birrento e sem limites: é uma pessoa manhosa, persistente, é aquele que vence
pelo cansaço, desobediente, desmotivado, egoísta, mal-educado, autoritário, sem-
educação, agressivo e fazem birras constantemente. O filho inseguro e
dependente é aquele que está sempre perguntando, que não faz nada sozinho,
que não tem opinião própria, está sempre em dúvidas, tem um certo medo dos
pais, é chorão, é medroso, é nervoso, é invejoso e é mentiroso. E o perfil dos
filhos seguros e independentes é aquele que acredita no amor entre pais e filhos,
existe diálogo com os pais, têm opinião própria, seguem exemplos bons, são mais
francos, procuram ser honestos, buscam independência, são confiantes,
determinados, têm compromissos nas coisas que faz e respeitam. No momento
seguinte a essa elaboração teve a fase de dramatização, os atores que estão nas
fotos também estão aqui agora e poderão ver o trabalho que produzimos .Foi
muito bom. Na fase final fizeram comentários, onde colocaram os sentimentos que
estavam presentes depois do Sociodrama Construtivista: que estavam satisfeitos,
contentes, amparados, realizados, seguros, esperançosos, confortáveis, para
cima, confiantes, mais experientes, mais criativos, vão procurar ser mais amigos,
amar muito os filhos, mais informados, ter diálogo, companheirismo, respeito,
paciência, fé em Deus e agir com a razão. Na fase final, nós fizemos uma
elaboração do trabalho com a música, um compartilhar.
Ana Lúcia- Para quem estava presente, deu para lembrar de tudo o que
aconteceu?
Platéia- Sim, lógico que sim. Foi muito bom você ter passado estes slides, para
que a gente pudesse lembrar do que aconteceu no outro trabalho.
Ana Lúcia- Então a gente vai começar hoje da seguinte forma: vocês vão
caminhar pela sala e atender aos meus comandos.
-Tudo o que eu falar, vocês irão tentar pensar e vão parar para fazer uma reflexão.
-Hoje faremos diferente, nós não vamos falar só dos papéis de pais e filhos.
-Hoje vamos falar da atuação do pai e da mãe em relação ao comportamento dos
filhos.
-Vocês vão tentar pensar em quais situações vocês se sentem muito incomodados
em relação a pôr limites. Não precisa caminhar em círculo, você pode fazer o
caminho que quiser nesta limitação de espaço que a gente tem.
-Procurem olhar para o colega por onde vocês passam, procurem dar um sorriso,
podem se espreguiçar, bem gostoso.
- Vamos preparar nossa atenção um pouco para nós como pais, que pai sou eu?
- Como estou relacionando com meus filhos?
- O que eu tenho feito em relação aos meus filhos quando eles não me
obedecem?
- O que eu tenho dito quando eles fazem coisas erradas? Não fiquem
preocupados, podem dar um sorriso.
- Que limites eu tenho colocado para os meus filhos?
- Você se lembra de ter conversado bastante com o seu filho?
- Quais as situações que vocês acham mais difíceis para colocar limites?
- Pensem em que situações vocês iriam colocar limites e o que vocês mudariam.
- elaborem uma foto desta situação em sua cabeça.
Ana Lúcia- Vamos tentar formar um círculo em pé, vamos dar as mãos e
compartilhar um pouquinho. Eu queria que vocês dissessem quais o sentimento
que tomaram conta de vocês quando vocês estavam na postura de colocar
limites? Postura, comportamento. Qual o sentimento que estava presente. Podem
falar. Vamos colocar, vamos soltar um pouco, nós temos o mesmo objetivo da
outra reunião, melhorar a nossa relação com os filhos...
Platéia- Imposição, às vezes receio...
Ana Lúcia- Receio do que?
Platéia- De ir contra aquilo que nós temos como princípio, de colaborar.
Ana Lúcia- Receio de magoar?
Platéia- Culpa, cuidado, medo de magoá-lo
Ana Lúcia- Dá muita angústia, não é?
Platéia- Medo de errar, medo de ser muito autoritário falta de limites dos pais.
Ana Lúcia- Que mais?
Platéia- Até que ponto é o limite? Se para o pai está certo e para o filho não?
Ana Lúcia- Esta é uma questão que vamos discutir durante o trabalho. Agora eu
queria que vocês me dissessem qual situação que vocês pensaram que têm mais
dificuldades de colocar limites?
Platéia- Rua.
Ana Lúcia- Deixa eu só entender, a sua dificuldade é... Em obedecer aos horários
de voltar para a casa. Obedecer aos horários de sair e de voltar. Quem mais?
Dupla mensagem: o pai fala uma coisa e a mãe fala outra.
Platéia- Falta de combinação. Deveres de escola que não quer fazer.
Ana Lúcia- Que mais? Posso perguntar uma coisa para vocês? Todo mundo aqui
tem filho de até quatorze anos?
Platéia- Uma grande parte da platéia levantou a mão.
Ana Lúcia- Quem tem filhos com menos de 14, levanta a mão um pouquinho. E
acima de 14 anos?
Platéia- Para cada idade tem um tipo diferente de limite, não é?
Ana Lúcia- Não, na realidade não é um tipo diferente de limite. Na realidade, eu
sempre digo que os filhos aprendem os limites que os pais constroem em suas
casas e ensinam. E os pais têm que começar a ensinar desde que a criança
nasce.Muitas vezes isso não acontece. O que você quis dizer é que em cada
idade pode existir uma dificuldade diferente?
Platéia- Exato.
Ana Lúcia- Isto eu concordo. O senhor que falou, qual a dificuldade que o senhor
tem?
Platéia- Horário também. Só de saída.
Ana Lúcia- De chegada não? Qual a idade dos seus filhos?
Platéia- Tem um de 14 e um de 12.
Ana Lúcia- Pelo visto é um pai muito preocupado... Vamos deixar este tema em
primeiro lugar, para as escolhas que serão feitas mais para frente no trabalho..
Que mais gente, vamos lá, a gente tem que levantar várias situações.
Platéia- O fato de ter que obeceder. Na minha casa, quando o meu pai falava a
gente obedecia. Isto foi uma vida toda, até ele morrer. Hoje, eles deixam tudo para
depois.
Ana Lúcia- A obediência. A questão da obediência está muito complicada
realmente. Muitos pais se queixam disto. E os padrões que tivemos em nossas
famílias de origem podem nos deixar mais confusos ainda. Mas a gente não pode
esquecer que muito da educação que tivemos tinha uma conotação de
autoritarismo muito grande, não é? Nos dias de hoje está diferente mesmo.Nós
vamos conversar sobre isto. Será que é o filho quem tem que definir isso? Até
onde os pais devem negociar? Que mais gente? Preciso de mais situações, de
dificuldades.
Platéia- Uma coisa que eu faço é compartilhar os momentos com o filho. Estar
mais próxima dele, nas atividades que ele faz.
Ana Lúcia- Relacionamentos você fala?
Platéia- Não seria relacionamento, seria estar junto mesmo no que ele faz.
Ana Lúcia- Proximidade.
Platéia- É isto mesmo. Acho que proximidade.
Platéia- Até que ponto faz bem pra eles ou não. Por exemplo, meu filho queria
que eu fosse em todas as reuniões da escola. Então, às vezes eu explico que não
dá para ir a todas e eles não entendem. Para eles não sou um pai atencioso,
carinhoso.
Ana Lúcia- Ótimo, então vamos ver esta situação. Percebam porque isso é um
desconforto para o filho quando vocês não comparecem em alguma reunião. Isso
não está ligado a limites. É um desconforto que eles têm quando vocês faltam, por
exemplo, eles gostam de ter o pai e a mãe lá. Certamente,não é? Eu queria saber
situações em que vocês tentaram colocar limites e não conseguiram. Já
apareceram algumas: não obedecer aos horários, a dupla mensagem dos pais, os
deveres da escola e a produtividade, o que mais? Uma por vez.
Platéia- Hoje, antes de vir para cá, eu cheguei atrasada por causa do meu filho.
Ele queria ir para o shopping sozinho e ele nunca sai sozinho (tem 11 anos). E ele
está vindo aqui agora sozinho pela primeira vez. Quarta-feira eu coloquei ele no
ônibus , o meu coração ficou apertado... Eu falei: filho, quando você chegar lá me
liga dizendo que chegou e na hora de sair me liga dizendo que está saindo. Aí ele
disse: Ué, mas você deixou eu ir lá para a ONG sozinho, você não tem confiança
em mim? Então eu falei: não vai com o seu primo, é tão chato ficar andando
sozinho... Aí ele falou: não você não confia em mim e saiu batendo o pé, foi para a
Igreja e ficou bravo comigo.
Ana Lúcia- Essa foi a primeira vez que você teve dificuldades? Acho que outras
virão e os pais devem estar preocupados em como minimiza-las. Até que ponto
deve dar a liberdade? Qual é a melhor idade?
Platéia- Mas, às vezes, a própria situação obriga você a dar essa liberdade.
Ana Lúcia- Quem tem outras dificuldades em colocar limite com os filhos?
Platéia- Quando eles querem algo que não está ao seu alcance, não é? Eles
aceitarem entender que realmente não dá. Eu estou passando por essa fase e é
difícil, e nem sempre eles entendem. Eu sinceramente não sei se os filhos
precisam ter tudo o que querem.
Ana Lúcia- Dificuldades em mostrar as dificuldades financeiras e os filhos
aceitarem. Que mais? Só mais uma pra gente engatar. Sabe o que eu queria
pedir, que vocês não contassem histórias, por causa do tempo, só digam a
dificuldade.
Platéia- Quando o filho quer e não pode ter e fica remoendo tudo aqui dentro.
Ana Lúcia- Certo, outra pessoa já falou disso, desejo e necessidade. Mais alguma
coisa?
Platéia- Quando o menino é teimoso.Só quer fazer aquilo o que ele quer. Às
vezes quero me comportar como meu pai se comportava. Não obedeceu, cacete!!
Ana Lúcia- Nossa, acho que não precisa disto, vamos conversar sobre isto no
decorrer do trabalho. Vamos dar continuidade.
3) Aquecimento Específico
Ana Lúcia- É a falta da obediência que dificulta. Bom, nós vamos fazer o
seguinte, de tudo isso que vocês colocaram aqui obediência, dupla-mensagem,
proximidade, a liberdade, o diálogo, quando o filho quer alguma coisa que os pais
não podem dar. Vocês vão se reunir em grupos, cada um com os temas que foram
levantados aqui.Quem gostaria de estar neste grupo (o último).
Os integrantes do grande grupo deveriam fazer escolhas das situações levantadas
, e se juntar aos integrantes que quisessem fazer parte delas.
Ana Lúcia- Agora vocês vão construir situações em cima disso que foi colocado e
depois vocês vão pensar em algumas formas de lidar com essas situações.Podem
pensar nas experiências que vocês tiveram com suas famílias de origem, nos seus
modelos. Por exemplo, aqui o que é obediência dos horários? Meu filho não gosta
de chegar na hora em que eu marco. Qual a postura dos pais para mudar esta
postura do filho? Entenderam? É isso o que vocês tem que fazer. Vocês vão dar
algumas dicas para o grande grupo e depois vamos começar a trabalhar
dramatizando e todo mundo vai participar, certo bom?
4) Dramatização
Ana Lúcia- Essa fase do Sociodrama é a fase da dramatização, lembram? Agora
é que nós vamos começar a trabalhar.Vocês até agora só fizeram reflexões, e, a
partir deste momento,nós vamos iniciar os objetivos deste trabalho. O primeiro
grupo que vamos trabalhar é o grupo do diálogo. Eles vão fazer uma
dramatização e num determinado momento eu vou congelar a cena, como se
fosse uma estátua, e vou chamar uma dupla de pais que vão fazer papel de pai e
mãe para tentarem atuar de uma forma positiva. Isto terá um objetivo de que
vocês saíam daqui com melhores recursos para atuarem.
Dramatização 1 (filhas brigando com os pais por causa de um passeio marcado
por eles.) Filhas conversando.Pais interrompem a conversa e falam.
P- Olá filhas, estamos chegando do cinema, o filme foi muito bom.A propósito,
amanhã a gente vai ter que ir à casa do Carlinhos, porque a filhinha deles faz 1
aninho e precisamos ir, certo?
F- Ih mãe, a gente quer conversar. Amanhã a gente combina,ta legal?
P- É importante que vocês ouçam, a gente tem que ir na casa do Carlinhos .
F- Você ainda não percebeu que a gente está conversando? Que a gente não
quer falar sobre isto agora?
P- Mas não é assim, temos que definir isto agora!!
F- Tudo mãe, mas menos festa de criancinha, que saco!!!
P- Vocês não fazem nada do que a gente pede. Passam o tempo todo
conversando besteira e nem dão atenção para nós.Que vida mais sem propósito.
Só falam besteira, só conversam besteira.
P-Não interessa (gritando) . Vocês só querem que a gente faça o que vocês
querem fazer.
F- Vá com o papai, a gente marcou um compromisso para amanhã à tarde. Não
queremos ir para esta mala desta festa.
P- É isto aí, a gente luta para sustentar vocês, para dar celular novo, para comprar
estas porcarias de roupa de marca, e vocês, nem aí. Mas, isto vai mudar!!
F- Então ameaça, é isso aí, ameaça!!!!É o que você sempre faz, aliás, é o que
você só sabe fazer, ameaçar, ameaçar, ameaçar!!!
A situação virou um bate boca entre os pais e as filhas...
Ana Lúcia- Congela. Congela. O que aconteceu aqui entre os pais e as filhas?
Tem uma característica dos pais que é muito importante que vocês percebam.
Platéia- Para mim parecia uma guerra, as duas contra os dois. É terrível, mas isto
sempre acontece quando os pais querem a todo custo que os filhos obedeçam, a
situação vira uma guerra.
Ana Lúcia- Então,uma das coisas que apareceu muito forte é que esses pais só
falavam sobre as coisas negativas que as filhas faziam. Quem quer fazer o papel
de pai e de mãe? Vamos lá! Vocês vão entrar no meio da conversa delas e nós
vamos ver o que acontece.
A diretora convida dois pais para entrarem no papel e continuar a
dramatização.
P- Oi filhinhas, tudo bem? A gente quer que vocês amanhã vão conosco para a
festinha da Amanda.
F- Ih mãe, sai dessa, a gente não quer ir a festa de bebezinhos, não!
P- Oh filhinha, vem aqui pertinho da mamãe. Vocês poderiam ir à festa, não?
F- Sai dessa mãe, a gente tem mais o que fazer. Vocês são uma mala que vive
enchendo nossa paciência para fazer estes programas sacais!!
Pais ficaram paralisados olhando para a platéia.
Ana Lúcia- Congela. Congela. O que está acontecendo? Essa menina tem 17
anos e você está tratando a adolescente como uma criancinha, o que eles odeiam,
odeiam. Então vocês poderiam falar: então filha, nós precisamos conversar com
você e não ô filhinha... .
Platéia- Para mim está muito difícil porque tudo isto me lembra os meus pais
quando eu era adolescente. Ele já falava, você tem que ir, e pronto!! Não tinha
conversa.
Ana Lúcia- O que vocês acharam dessa parte agora da conversa. O que faltou
ainda? Tem uma característica que é muito importante: quando você fala pouco.
Porque quando isso acontece a sua mensagem tem a possibilidade de ser mais
bem entendida. As mães sempre falam demais. A gente fala muito e termina
buzinando. Aquilo soa como uma buzina. Só faltou uma coisa, nesta fase final é os
pais chegarem e falarem: olha filha,quero que você me ouça, mas depois eu deixo
vocês conversarem. Estava invadindo mas pediu um tempo da conversa. Porque
da outra vez, os pais entraram na conversa, como se elas fossem obrigadas a
pararem de conversar e ouvirem. Então se vocês chegam e falam: Você me dá
licença, eu sei que vocês estão conversando, mas eu queria conversar rapidinho
sobre o passeio que a gente marcou pra amanhã. Certo? Como vocês se sentiram
com a atuação deles? Quanto mais clareza na comunicação melhor entendimento.
Platéia- E quando você fala: eu quero que você faça, acabou e pronto.
Ana Lúcia- O que você acha disso?
Platéia- Eu acho que às vezes funciona.
Ana Lúcia- Vamos colocar outro grupo para fazer a dramatização, e que eles
assimilem um pouco o que já foi conversado para atuar. Vamos ver a conclusão
deste momento...
Um novo par de pais entra na dramatização.
P- Olá filhas, tudo bem com vocês?
F- Sim pai. (e continuam conversando)
P- Oh filhas, será que dava para vocês nos dar um pouquinho de atenção para
que a gente possa definir o nosso dia de amanhã.
F- Lógico pai, o que é que ta rolando?
P- A gente sabe que vocês não gostam de ir a festas de criança, mas amanhã tem
a festinha de 1 ano da Amanda, e a gente gostaria muito que vocês fossem. Sabe
como é filhas, o Rodolfo é meu sócio, e fica mal a gente não levar vocês. Nós
sabemos que vai ser um mico, mas será que dá para vocês encararem mais este
para nós?
As filhas ficaram pensativas. Neste momento a diretora interferiu na dramatização
junto às filhas.
Ana Lúcia- Pense alto, em que você está sentindo com esta proposta de seu pai.
Fale alto o que você está pensando.
F- Eu estou sem poder dizer não ao papai, porque ele foi ao gentil, tão amável,
percebendo que para nós é um saco a gente ir a festinhas. Eu estou sem poder
dizer não. Não gostaria de desapontá-lo junto ao sócio dele.
F- Desta forma, ele nos paralisou. Fica difícil contra argumentar.
Ana Lúcia- Muito bem, é interessante que a forma de falar deste pai, causou uma
ressonância diferente nas filhas.
Ana Lúcia- Então eu vou dizer uma coisa para vocês: a comunicação é uma das
coisas mais importantes no relacionamento humano. Na relação com os filhos, na
educação também.Uma coisa é você dizer: cala a boca e vamos embora! Quando
você poderia dizer: Olha filho, eu sei que para você é muito chato na festa de
aniversário da filha do meu sócio, mas é importante porque a gente ... Faz esse
esforço? Aí depois você vai sai com a sua moçada. A criança e o adolescente
ouvem de outra forma. Se vocês começarem a treinar esse papel dessa forma...
Vocês imaginam, duas adolescentes de 17 e 16 anos sendo convidadas para um
aniversário de 1 aninho. Maior mico! No mínimo! Não é? Então se você se mostra
compreensivo, eles se mostram confortáveis, porque você entende o sentimento
deles.
Na segunda dramatização os pais tentam trabalhar os filhos em relação ao horário
de sair de casa para a Escola.
P- Recebi ontem a quarta cartinha da Escola dizendo que as crianças estão
chegando atrasadas na entrada da Escola.Eles pedem pra que a gente fique
atentos aos horários.
P- Então vamos colocá-los de castigo na próxima vez que chegarem atrasados.
P- Não é assim marido, a gente vai ter que conversar primeiro.
P- Filha, vamos tentar sair na hora hoje porque vocês estão chegando atrasadas
muitas vezes na Escola.
F- Tá bom pai , a gente vai tentar.
E as garotas demoram se aprontando para ir à Escola.O pai grita.
P- Vamos embora que está na hora de sair para ir à Escola.
F-Que estressado você, hein pai!
P- Eu não vou falar outra vez, se vocês não vierem logo, eu vou embora.
F-Meu Deus, que estresse.
E as filhas continuam demorando!!
P- Já são 7 horas, e a aula de vocês começa às 7:15hs. Vamos!!!
A filha mente para os pais.
F- Pai, a gente nunca chegou atrasados na Escola. Quando a gente chega sempre
dá tempo de entrar, sabia disto?
P- Não quero saber, vamos......
Ana Lúcia- Alguém gostaria de entrar no lugar destes pais para tentar mudar a
situação?
P- Filhos, nós precisamos sair de casa cedo para que vocês não cheguem
atrasados.
F- Ih pai, você com esta história de novo!!
E as filhas continuam se maquilando e penteando os cabelos...Pai fala calmo e
com segurança.
P- Nós recebemos três cartas da escola repreendendo vocês pelos atrasos.Não
podemos permitir que isto continue acontecendo. Vocês têm que fazer alguma
coisa para terminar mais rápido de se arrumarem e a gente possa sair mais cedo.
F- Tá bom pai.
E continuam se arrumando lentamente....Os pais ficam paralisados. O diretor faz
uma intervenção.
Ana Lúcia- Vocês acham que esta última dramatização tem diferença da outra?
Ana Lúcia-Teve diferença?
Platéia- Acho que não. Não muita.
Ana Lúcia- Não muita! Primeiro porque eu tava achando engraçado os pais não
conseguirem controlar os filhos. Não pode. Lembra que eu falei que no primeiro
Sociodrama: existem duas coisas nas quais a gente coloca limites: primeira em
relação à segurança da criança e do adolescente; e segunda, em relação aos
valores da educação. Escola é uma coisa que tem que obedecer a horário, aí você
não pode abrir mão disso, né? Então o que vocês sugeririam de ser feito nessa
situação?
Platéia- Tenho certeza de que se eu entrasse nesta dramatização eu seria
bastante autoritário. Não admito que os filhos não obedeçam, com certeza eu
seria autoritário.
Ana Lúcia- Está bem, então vamos fazer o seguinte, eu vou dar uma senha pra
vocês.Tentem utilizar algumas privações para fazer as negociações.
Continuação da dramatização 1. (neste momento os pais conseguem colocar
limites e ter uma conciliação com as idéias das filhas).
F- Estou indo pai, a gente já está chegando no carro.
P- Tá bom filha, mas. Pense bem, se vocês chegarem atrasadas de novo vamos
receber uma nova reclamação. Isto não é bom, porque vocês vão ficar sendo
perseguidos pela coordenação. Isto não pode acontecer, vocês são filhos que têm
tudo, que a gente não deixa faltar nada. Porque vocês não tentam fazer as coisas
certinhas??
F- Mãe, para com sermão, é um saco quando você começa com este lenga lenga.
Ana Lúcia- Congela! Falou muito. Então como seria esta cena? A forma de
colocar o link é este, mas quando ela começa a falar muito as duas ficam assim...
(dispersas) Com certeza! Uma de um lado outra do outro. Então como seria?
Vocês precisam entender que é necessário colocar limites fazendo com que os
filhos se aliem a nós e respondam de maneira eficaz aos comandos que são
dados.
P- Olha aqui meninas, vocês estão precisando colaborar comigo hein? Eu tenho
que entrar cedo, 8 horas no trabalho. Se eu chego atrasada minha chefe me
chama atenção, é muito ruim isso. Vamos combinar uma coisa, a partir de
amanhã, ou melhor, a partir hoje. vocês deixem tudo arrumado quando for dormir.
Deixe duas calças separadas, viu Ana Paula, porque as suas calças vivem
rasgando. acho que você engordou? Então vamos fazer o seguinte, a partir de
hoje vocês vão tentar deixar o material pronto, certo, para que não aconteça este
tumulto amanhã de manhã, porque senão ele me tira do emprego. Pois é, vocês
vão me ajudar nisso ou não vão? Tudo bem?
F- Tudo bem ,mãe.
Ana Lúcia- Como vocês se sentiram?
Platéia- Não sei, muita justificativa.
Ana Lúcia- A parceria dos pais ao pedirem ajuda dos filhos também é uma saída.
Que intervenção a mãe tentou, que elas ajudassem a não chegar atrasada. Então
essa é uma forma da gente adquirir uma parceria com os filhos, porque é só dizer
vocês estão pisando na bola, eu estou chegando atrasada, vamos lá, vamos
tentar, me ajuda, talvez precise falar um pouco menos, senti isso, então a parceria
também é uma saída.
Ego Auxiliar- Mas eu me senti mais mobilizada nesta última dramatização e na da
Vera porque eu não queria que a minha mãe perdesse o emprego. Senti-me
responsável pela perda do emprego da minha mãe. A outra coisa é que ela tava
ameaçando tirar uma coisa que eu gosto, que é sair, então, se eu chego atrasada
na escola, eu chego atrasada na balada também e eu vou perder uma coisa que
eu gosto.
Ana Lúcia- Então vocês percebem que em situações como essa os pais precisam
articular um diálogo: que é importante não falar muito, não ser autoritário e
enfatizar uma comunicação boa, parar de reclamar. Quando eles entraram,
quando ele tava no papel, os pais entraram sempre reclamando, isto é muito
improdutivo. Certo? Vamos rapidinhos, para a outra dramatização são os desejos
e as necessidades da criança e do adolescente que quando querem, querem.
Como nós vamos trabalhar isso?
Dramatização: As filhas querem ter acesso a objetos caros, como o celular e os
pais tentam pôr limites. Os pais estão conversando na sala e os filhos chegam.
P- Olá filhos, tudo bem?
F1- Oi papai querido! Sabe, todo mundo na minha escola tem um celular. Você
pode comprar um para mim?
P- Olha filho, eu não tenho a menor condição de comprar um celular para vocês,
porque mudei de emprego a pouco tempo e ta difícil a situação.
F1- Mas pai, todo mundo tem, é terrível a gente ser o único do gripo que não tem
uma coisa.Eu preciso, porque você não faz um empréstimo e compra um para
mim.
P- Há, há, só era o que me faltava. Eu me endividar bem mais do que já estou
endividado para atender um capricho seu.
F1- Meu, você não tá nem aí com tua filha. Você não imagina o que eu sinto
enquanto todo mundo tem e eu não tenho. É demais de ruim!! Eu vou ficar
encalhada, não vou casar porque quando um namorado quiser falar comigo,não
tenho celular.Que saco!
P- Você imagina o quanto é difícil ganhar dinheiro, trabalhar e ainda ter que
atender todos os caprichos de vocês?
O pai grita e o filho grita também Todos dois querendo ter a razão na situação.
Ana Lúcia- Congela! Essa situação está quase um barraco!Vamos lá. Vamos
reorganizar estes pais e aí eu quero dois pais pra fazer o papel de pai e de mãe.
Dramatização com os novos pais da platéia. A dramatização começa de onde
terminou a outra.
F1- Mas pai, para mim é tão importante ter um celular. Eu queria muito que você
comprasse...
P-Filho, eu não posso comprar o celular, eu já disse, não tenho dinheiro.
F2- Se ele ganhar o celular, eu também vou querer que você me compre o DVD
que prometeu.
P- Já falei pra vocês que agora não é hora de comprar nada.
F- Você tem coragem de deixar eu passar uma vergonha desta. Porque é uma
vergonha não ter como me igualar ao grupo, vou sempre está em segundo plano,
porque os outros vão ser sempre melhores.
O pai fica paralisado e pensa alto espontaneamente.
P- Meu Deus, esta situação parece aquele que eu vivi com meu pai.
E fica muda sem ter o que falar.
D- Que situação você lembrou que era parecida com esta? Pode falar.
P- Eu vivia sempre diferente de meus amigos que tinham tudo e eu não podia ter
nada porque meus pais não podiam, mas mesmo assim, ele fazia um esforço às
vezes não conseguia me dar. Cresci com este trauma de nunca ter o que queria,
ou melhor, de lutar muito para conseguir e os meus pais sempre tentando me dar
e nem sempre conseguiam. Estou vivendo com meu filho uma coisa semelhante
Ana Lúcia- Congela! O que aconteceu aqui com essa dupla de pais? Você acha
que eles tão dando mole? Mas analisem o comportamento do pai e da mãe, o que
vocês acham que está acontecendo aqui? A questão aqui gente não é só “o
celular”. Ela disse que quer o celular e a irmã disse que se ela quer o celular , o
pai também tem que dar o DVD. A questão aqui é que o pai traz situações fortes
vividas junto à família de origem. Não consegue negar nada. A questão aqui é
também não existir nesta família um limite em relação ao que eles combinam. Se
você passar de ano, tirar nota boa, arrumar seu quarto, você vai ter. Será que isso
é uma realidade nossa?
Platéia- Acho que isto é nossa realidade. E como é.
Ana Lúcia- Vocês concordam? Para você comprar um celular para o seu filho e
um DVD você tem que se programar, ter o dinheiro, guardar. Não pode ser
assim... Vamos voltar tudo de novo. Vamos ver se vocês conseguem intervir de
uma forma onde vocês vão colocar um limite sem ficar pesado... Porque sabe a
sensação que eu tive de fora? Que os dois, o pai e a mãe, estavam preocupados
em satisfazer os desejos dos dois filhos. E sentiam-se culpados por não faze-lo. A
sensação que eu tive foi essa. E isso é uma coisa que a gente precisa tomar
cuidado, porque nem sempre a gente pode satisfazer os desejos dos nossos
filhos. As necessidades a gente deve satisfazer quando a gente pode, agora os
desejos nem sempre é possível. Lembram dos limites . Certo?
Platéia- É isto mesmo, porque sempre eles vão cobrar.
Ana Lúcia- Não é só a cobrança, o grande problema é que você não coloca limite.
Se hoje quer um celular, amanhã quer um tênis, depois de amanhã quer uma
calça e toda hora tem pedidos.
Platéia- Tem mães que prometem mesmo para o filho, não tem? E muitas vezes
não podem cumprir.
Ana Lúcia- Tem, mas isso é uma coisa que a gente orienta.Não devemos orientar
estas questões com coisas que são obrigações das crianças e adolescentes. Por
que? Porque você faz com que tanto a criança quanto o adolescente só se
empenhe para passar de ano , por exemplo, se tiver um presente prometido. Isso
não é uma coisa boa, entendeu? É uma obrigação dos filhos estudar, e , se você
puder dar algum presente no final de tudo, tudo bem.Mas, se você não puder, a
situação vai ser vista de forma natural.Vamos concluir esta dramatização.
Continuação da dramatização.
P- Eu sei que para você é muito importante ter um celular, mas agora eu não
posso, na hora em que a gente puder a gente se programa para fazer.Nós
precisamos fazer uma lista de prioridades aqui em casa.
F- Mas pai, todo mundo tem...
P- Eu sei filho, e sei também que você gostaria muito de ter um,mas ,infelizmente
eu não posso te dar. Tenta fazer como eu fazia quando era adolescente, eu
pensava em estudar e trabalhar muito para que tudo isto não acontecesse com
meus filhos. Você percebe, eu ainda não consegui isto,mas tenho fé de que você
vai conseguir mais cedo do que eu.
F- Tá bom pai, eu vou tentar.
D- O que você está sentindo como filho de ter sido negado alguma coisa que para
você era tão importante?
F- É engraçado, quando meu pai falou tudo isto, eu fiquei sensibilizado e não quis
contrariá-lo mais. Achei que deveria seguir as orientações dele, porque,
certamente, não quero que um dia meus filhos passem por isto.Eu acho que
consegui não pensar só em mim.
Ana Lúcia- Muito bem. Vamos concluir o trabalho.
5) Comentários
Ana Lúcia- Muito bem, acho que nosso objetivo foi concluído. Foi muito boa a
finalização desta dramatização. Porque se você não limita a criança e o
adolescente, se você sai hoje com ele, ele quer uma coisa, amanhã ele quer outra,
depois de amanhã ele quer outra e assim vai. Eles têm que saber que existe um
limite, são as regras que a gente põe em casa. Aquele pai e aquela mãe que toda
vez vai à padaria com a criança pequena e traz um brinquedinho de plástico pode
está desenvolvendo um comportamento errado. Por que? Porque a criança
associa o sair, a fazer a coisa certa, com ganhar o brinquedo. Certo? Vamos
tentar mais uma vez.
Ana Lúcia- Como você se sentiu no papel de filho quando o pai enfatizou o
sentimento?
Platéia- Nossa foi mudando a situação de uma dramatização para outra. No
começo, eu sentia que dominava a situação e no final meu pai deu margem para
que eu não julgasse o comportamento dele e aceitasse a negativa da compra do
celular.
Ana Lúcia- As justificativas que ela deu para querer um celular foram as piores:
vou ficar encalhada, não vou arrumar marido, ninguém olha para mim. Assim uma
coisa chantageosa, né? Se a gente entra nisso... Gente, vocês podem entender
que existem mães que entram nessa porque ficam com pena, achando que
realmente a filha não vai arrumar namorado porque não tem um celular. Então a
gente tem que estar muito atento com essa comunicação para ver se a filha não
vive usando um processo de manipulação. Certo?
Ana Lúcia- Bom, gente, vocês foram nota 10. A situação de escola não vai dar
tempo da gente trabalhar, certo? Mas assim, a atuação nossa como pais, traz
situações de falta de responsabilidade de crianças e adolescentes em relação à
escola, é uma coisa assim muito parecida com que a gente já falou. Você tem que
estabelecer algumas regras e ajudá-la a ser um pouco mais organizada, certo?
Fazer, ter o lugar de estudar, cobrar dela copiar a lição da lousa, porque se você
não está atenta quando a criança não tem essa dinâmica, a criança se perde de
uma maneira tal ou o adolescente que depois fica muito difícil de você limitar.
Então quando você sente que seu filho é muito desorganizado, ajude-o a se
organizar. Depois, ele vai se acostumando em todas as situações se organizar.
Porque sozinho tem vezes que eles não conseguem organizar-se. E a postura é a
mesma: falar pouco, ser mais objetivo no que fala, para dar as mensagens, certo?
Muito bom viu, vocês participaram bem legal, gostei bastante. Então agora vamos
fazer o seguinte agora, pra gente fazer um fechamento vou colocar uma música,
só ouvir, vamos relaxar e fechar os olhos.
Música “Errar é humano” (mesma música do início deste Sociodrama).
Ana Lúcia- Linda essa música, não é? Essa música ensina o que a gente tem que
ensinar para as crianças. A questão dos direitos, dos desejos e dos limites está
dentro deste contexto. Quando a gente ensina para a criança que ela pode ir até
um certo ponto e depois ela tem que parar, ela tem que respeitar o outro, tem que
respeitar os pais, respeitar as regras, então, certamente, nós vamos ter dentro de
nossa casa um ambiente familiar mais harmônico, mais de harmonia. Gostaram da
música?
Platéia- Gostamos muito.Esta música é demais, retrata um pouco coisas que a
gente viveu na infância.
Ana Lúcia- Queria saber como é que vocês estão se sentindo agora, acho que o
trabalho no grupo de vocês foi super legal, como é que vocês estão se sentindo?
No começo do trabalho estava todo mundo um pouco angustiado . Falem com
uma única palavra um sentimento que está se apoderando de vocês agora na
finalização deste trabalho. Uma palavrinha só.
Platéia- Em paz, mais sossegada, mais aliviada, mais confiante, acho que vou
conseguir mudar algumas coisas na educação de meus filhos, segura,
Ana Lúcia- O pessoal do outro lado. Ajudou um pouco o trabalho?
Platéia- Acho que sim.
Ana Lúcia- Vamos ver, se você precisar da ajuda da gente, tem nosso e-mail,
telefone, aqui na ONG... Todos vocês, se precisarem de algum contato a gente
manda uma ajuda pra vocês.
Ana Lúcia- Se você pudesse falar em uma palavra o seu sentimento agora:
Platéia- Já tenho uma visão melhor agora.Feliz, mais calma, tranqüila, confiante.
Ana Lúcia- Que mais gente?
Platéia- Eu aprendi muita coisa aqui com vocês. Fico feliz. Toda vez que saio
daqui saio mais calma.
Ana Lúcia- Que ótimo. E os sentimentos?
Platéia- União.
Ana Lúcia- Vai construindo uma coisa gostosa, não é?
Platéia- Mais consciente.
Ana Lúcia- Está aliviada. Quem mais gente?
Platéia- É sempre uma descoberta, né? Eu penso assim cada dia que amanhece
pra mim é uma novidade entre mãe e filho. Então todo dia você tem que aprender,
é uma escola.
Ana Lúcia- Muito bom. Muito bonito mesmo. Fiquei até emocionada. Bom gente,
essa foi mais uma sementinha que a gente plantou no coraçãozinho e na vida de
vocês.
Platéia- Eu acho que também é uma recordação pra quando a gente tiver lá fora
lembrar daquele momento em que a gente esteve aqui.
Ana Lúcia- Até eu vou me lembrar. Faço 10 sociodramas por mês e lembro de
todos, é muito gostoso.
Platéia-E uma maneira de ajudar o próximo, vamos supor, se um dia eu ver uma
mãe com problemas com o filho eu vou saber como ajudar.
Ana Lúcia- Com certeza. Isso o que vocês falaram é muito importante. Em cada
Sociodrama eu levo uma coisa diferente e eu tava notando no intervalo o quanto a
gente se emociona durante o trabalho, parece que não, mas a gente se emociona
bastante, com o que os outros falam, com as dores de vocês, isso é muito legal,
isso é troca.Eu gostaria de agradecer mais uma vez a presença e queria pedir que
vocês não faltassem na próxima reunião.(aplausos)
Sociodrama III
Local: ONG - São Paulo- SP
Data: 21/05/2005
Tema: Insegurança Infantil.
População: 62 pais de classe média/baixa, nível instrução ,1º grau incompleto ,
completo e 2º grau completo e incompleto, filhos de 0 a 15 anos, quatro
psicólogos e uma assistente social.
1)Introdução:
Ana Lúcia- Boa tarde a todos! Daqui a pouco eu vou lembrar do nome de
vocês,certo? A gente está só se aquecendo para... Tem um pessoal aqui que está
vindo todas as vezes e isto é muito bom. Estou gostando de ver! Hoje como a
gente falou, vamos trabalhar um assunto que é na minha visão extremamente
importante na educação dos filhos. A insegurança na infância e na adolescência.
Por mais que crianças e adolescentes sejam seguros, eles passam por momentos
de insegurança e os pais podem ajudar para minimizar este processo. Então
quando a gente está tendo orientações, começa a ter uma visão diferente do que
pode ou deve fazer. É uma orientação global para quando você se pegar dentro
de uma situação saber como atuar. Uma das coisas que eu acho importante é
que quando a gente pensa em segurança tem que refletir um pouco sobre o papel
nosso na vida do nosso filho, como desenvolvemos o apego com ele.
Ana Lúcia- Mas antes de nós começarmos, gostaria de pedir a autorização de
vocês para filmar e fotografar este trabalho. É um trabalho que estou
desenvolvendo para a minha tese de Mestrado e a filmagem e fotografia serão
utilizadas para fins científicos. Tudo bem para vocês?
Platéia- Todos aceitaram a filmagem e fotografia.
Ana Lúcia- No final do trabalho vamos entregar um papel onde vocês deverão
assinar esta autorização, ok?
Platéia- Tudo bem.
Platéia- Como assim, o que o apego a ver com a insegurança da criança ou do
adolescente. E o que é o apego?
Ana Lúcia- É a forma como a gente se vincula. Será que desde pequeno esse
filho tem um apego seguro? Isso é uma coisa importante para começar a pensar.
E se vocês identificarem que não é um apego seguro, existem formas de mudar
isso. Para que? Para que a gente abra um canal onde as crianças e os
adolescentes se sintam mais seguros,certo? Então o objetivo do nosso trabalho de
hoje é esse, a gente parar um pouco para essa reflexão. Quem de vocês tem
algum filho que alguma vez apresentou alguma insegurança e vocês ou tiveram
dificuldades ou não conseguiram orientá-los nesta situação específica?
Platéia- Acho que todo mundo tem. Em diversas situações a gente sente que
nosso filho tem insegurança.
Ana Lúcia- Todo mundo tem ? Então vamos fazer o seguinte.
Platéia- Um filho inseguro.
Ana Lúcia- Ah! Um filho inseguro. Sempre situações em que vocês precisam
atuar para mudar.
Platéia- Na escola, ele não consegue ir para a escola. Tem medo. Às vezes tenho
vontade de não manda-lo para Escola. Para que mandar, para que continuar com
este sofrimento, mas eu mando toda vez...
Ana Lúcia- Entendi. Olha que situação desgastante não? Viver nessa eterna
dúvida será que ele vai precisar de mim. Então a gente vai tentar te ajudar para
que você observe o que está acontecendo, para que você tente atuar de uma
maneira diferente... Aliás eu acho que você já atuou. A partir do momento em que
você conseguiu trazer para cá essa sua atuação,que aliás acho que tem sido boa.
A partir do momento que você não cede e manda ele ir de qualquer maneira.
Porque é um lugar onde ele vai encontrar muitas crianças e a criança que é
insegura, que é tímida, tem medo de entrar uma situação nova, você já conseguiu
trazer e eu já acho que a sua atuação está sendo boa. Mas eu queria teorientar
em relação a isso: a criança, às vezes, começa a entrar dentro de um contexto de
insegurança muito pequeno, dependendo dos limites que nós colocamos para ela.
Muitas vezes a gente protege muito nosso filho.
Platéia- E até onde isto é errado?
Ana Lúcia- Errado não, mas preocupante. Muitas vezes um filho cria uma
dependência grande dos pais. A gente tem que estar muito atento para a
reavaliação deste papel, porque se um filho tem medo, tem insegurança e sempre
você vai atenuando, protegendo, pode acontecer dele nunca querer enfrentar as
situações adversas que encontra pela frente. Isso pode ser um comportamento
repetitivo e a criança vai atuar sempre com receio de enfrentar, entendeu? Na
adolescência e na fase adulta estar precisando de um apoio, de um auxílio. É
muito importante a gente parar para pensar até que ponto nós estamos excedendo
no nosso papel, certo? Quando falamos de proteger,de superproteger. Quem mais
gostaria de dar um depoimento?
Platéia- O meu filho já não tem essa segurança. Eu procuro e faço o possível para
que tudo seja bem aberto. Tudo explicado. O único problema que ele às vezes
tem medo. Medo não, timidez de perguntar as coisas.
Ana Lúcia- Você quis dizer que em algumas situações ele consegue se
desenvolver, em outras ele é mais tímido. Alguém mais?
Platéia- Minha filha, por exemplo, tem dificuldade de fazer amizade. Ela fica 24
horas dentro do quarto, sai para escola, volta pra casa, não quer mais nada. Eu
falo: “Vai no shopping”, ela diz “não quero ir mãe” fica assim tipicamente isolada. E
isso está me preocupando muito.
Ana Lúcia- A timidez como isolamento da criança e do adolescente. Vamos
conversar sobre isso quando a gente começar o trabalho, certo? Quem mais?
Platéia- Boa tarde. Eu tenho 4 crianças aqui. Crianças assim, adolescentes, de 17
anos, um de 12, um de 11 e um de 7. O primeiro em casa é totalmente fechado,
ele não conversa, se tranca no quarto, mexe, remexe o guarda-roupa inteiro e
aqui ele se solta, se solta mais. O meu medo é assim, no bairro ele é totalmente
fechado, é uma coisa que preocupa, porque muitas vezes, não dá para saber o
que ele pensa. E ele se torna agressivo até com os próprios irmãos. É muito
fechado.
2) Aquecimento Inespecífico:
Ana Lúcia- Certo. Ouvimos os depoimentos e vamos dar continuidade ao nosso
trabalho. No Sociodrama tem uma coisa mágica que a gente pode fazer. Se
transformar em outras pessoas, a gente pode viver papéis, como se fosse num
teatro. Então, eu sou Ana Lúcia, tenho 47 anos e posso me transformar em
Mariana, uma menina de 4 anos no contexto sociodramático. Então eu vou pedir
agora quando vamos iniciar o trabalho que vocês comecem a pensar um pouco
como crianças ou adolescentes.
Ana Lúcia- Então vocês vão fechar os olhos e vão se transportar para a infância
ou para adolescência como se fossem crianças ou adolescentes,certo?
-Então eu vou direcionando a primeira parte de nosso trabalho.
-Sente na cadeira bem confortavelmente, só não vale dormir ta legal?
-Feche os olhos. Procure relaxar um pouco e volte no tempo como se fosse
criança ou adolescente.
-O que vai fazer você decidir isso, é que você vai imaginar uma situação onde se
sentiu inseguro e isso foi uma situação pesada naquele momento que você viveu.
- Pense nessa situação, como se fosse uma foto na sua lembrança.
-Faz de conta que você está vendo a foto da situação que você viveu.
-Imagine o que aconteceu naquele momento.
-Tente sentir o que aconteceu. Identifique o sentimento que tomou conta de você
naquele momento.
- Procure pensar no que levava você a se sentir inseguro.
-Pense se você pediu a ajuda de seus pais, se pediu a ajuda de alguém naquela
situação. Se você pediu, o que seus pais fizeram?
-Pense no que seus pais disseram de vocês.
-Olhe essa foto e pensem que tipo de apego você tinha com seus pais.
-Que tipo de confiança e segurança estava no relacionamento de vocês?
-O apego é aquele vínculo que a gente faz de confiança... Você se sentia inseguro
perto deles? Você tinha sido protegido?
-Quais os sentimentos que mais te incomodaram nesta situação.
-Pare de novo, olhe a foto e grave a situação que vocês viveram, onde vocês
sentiram insegurança. Procure respirar, bem pausadamente, inspirando pelo nariz
e soltando pela boca. Aqui você está num ambiente seguro... Inspira pelo nariz
bem lentamente e solta pela boca. E aos poucos você pode ir voltando pra essa
sala. Cada um no seu ritmo. Se conseguir fazer um processo respiratório mais
profundo, você consegue voltar mais gostoso e mais tranqüilo.
Diretora se aproxima de uma integrante do grupo que está muito incomodada na
cadeira e fala:
Ana Lúcia-Se não estiver conseguindo sair do papel respira bem profundamente,
bem forte. Solta o ar. Pode respirar bem tranqüilo, agora pode voltar bem devagar
para esta sala. Tudo bem com você?
Platéia- Tudo bem.
Ana Lúcia- Vocês não vão falar nada agora. Vão pegar essa foto e desenhar no
papel. Não precisa ser um lindo desenho, certo? Mas vocês vão tentar desenhar
essa foto para depois a gente dar continuidade ao trabalho.Nós vamos reunir em
grupos e vamos tentar conversar um pouco sobre o que vocês vivenciaram?
Neste momento todos desenham a imagem da foto que eles visualizaram na
vivencia que fizeram.
Ana Lúcia- Nossa! Quer vir sentar aqui? Você conseguiu fazer? Conseguiu?
Platéia- Estou tentando, não é?
Ana Lúcia- Certo!
Ana Lúcia- Agora, podem mostrar os desenhos para os colegas em pequenos
grupos e vão contar a história, só que eu vou pedir para vocês que contem
rapidamente o que aconteceu naquela situação para não ficar uma coisa muito
cansativa com uma grande história, mesmo porque nós não temos muito tempo.
Então vocês vão relatar o que aconteceu a gente vai ajudar vocês...Cada grupo
vai escolher uma história que será dramatizada.
Ana Lúcia- Tentem conversar no grupo e escolher de todas as histórias contadas,
aquela que mais chamou a sua atenção, dentro do assunto que estamos
trabalhando...
Platéia- Tudo bem.
Ana Lúcia- Nesse grupo aqui perguntaram assim: a insegurança da criança
começa por uma incompreensão dos pais, é isso o que você perguntou?
Platéia- Foi sim, tenho dúvidas disto.
Ana Lúcia- Existem dois aspectos que temos que levar em consideração: primeiro
são as características pessoais da criança, as características da personalidade
que está se formando e da identidade emocional da criança. Tem crianças que os
pais desenvolvem um apego seguro, fazem todo o movimento de orientação, de
ajuda, está sempre presente de forma coerente e as crianças se desenvolvem
normalmente. E tem crianças que não, que desenvolvem a insegurança porque
não fizeram o apego seguro. Então, essa afirmação que você fez não é correta. A
segurança da criança é diretamente proporcional ao fato dos pais s
compreenderem e orientarem? Não, existem as características pessoais somadas
ao relacionamento familiar. O que a criança vive dentro da família pode acentuar
também, certo? Não é verdade a gente falar que uma criança é insegura porque o
pai não a compreende ou que a mãe não a compreende, entendeu? Agora,
logicamente, quando a gente no consultório pega algum caso de criança insegura
tem todo um contexto, inclusive, do relacionamento com pai e mãe. Cada caso é
um caso, certo? Mas uma das coisas que é muito importante a gente estar
passando pra vocês é que a identidade emocional da criança se forma de uma
maneira adequada a partir do momento em que os pais auxiliam esta formação.
Platéia- Como seria isto mais ou menos?
Ana Lúcia- Permitindo que a criança se desenvolva, dando um ambiente seguro
para que isto aconteça. Deixando ela fazer as coisas dela, permitindo que a
criança passe por frustrações. Quantas vezes vocês viram pais que não querem
que seus filhos sofram? Lógico, nenhum de nós quer que o filho sofra, mas, às
vezes, o filho precisa passar por algumas situações que o ajudarão a se fortalecer
para novas situações adversas. Às vezes, a criança não vai bem em alguma coisa
e você tem que chegar junto e apóia-la na frustração, ficar junto dela. Muitas
vezes a criança tem o sonho de jogar futebol, mas fica no banco de reserva e
chega em casa chorando. O que vocês acham que os pais têm que fazer? Ir brigar
com o técnico?
Platéia- Eu acho que até iria tirar uma satisfação com o técnico.
Ana Lúcia- Não. Podemos dizer: Olha filho, treina mais, se supera. Quando a
gente protege e superprotege ,dificulta o desenvolvimento emocional da criança. O
que os pais precisam fazer? Dar à criança um ambiente seguro para que ela se
desenvolva, certo? Outro dia eu assisti ao jogo de tênis de uma paciente minha e
o pai gritava lá de fora: “Burra, você errou essa bola!” Eu fui escondida para saber
o que acontecia, porque a menina é uma brilhante atleta e não conseguia ganhar
campeonatos. Principalmente quando o pai ia assistir ao jogo, ela não conseguia
jogar. Então eu fiquei impressionada com o que eu vi. Tentei conversar com ele,
sutilmente, mostrei como a garota tinha necessidade de não desaponta-lo e falei
sobre a pressão da presença dele nas quadras. Falei o quanto era difícil para ela
ser chamado de burra pelo pai. Na minha observação, a auto-estima dela sempre
estava rebaixada enquanto o pai estava por perto. A performance dela caía.
Entenderam? Então é muito importante a gente ter um cuidado em relação a isso.
Nós estamos aqui tentando ajuda-los a desenvolver melhor o papel de pais de
vocês.
Platéia- Nós somos crianças formadas por pais violentos, pais que não tinham
nenhuma informação...
Ana Lúcia- A gente falou isso no primeiro grupo. Eu até me referi a minha pessoa,
com 47 anos, que eu não lembro da minha mãe ter ido numa reunião como essa
nunca. Então hoje existe uma diferença grande: vocês estão aqui, querendo
aprender, trocando experiências.Isto faz a diferença. Vocês poderiam estar
descansando em casa. Essa observação que você fez é muito importante: nosso
objetivo aqui é ajudar os pais no processo de educação. Esse é um momento de
reflexão.
Platéia- Muitas vezes nós ajudamos os filhos de uma forma que não era bem o
que a gente queria.
Ana Lúcia- Isto é possível.. Mas é importante saber que o primeiro passo para a
mudança é perceber o que está acontecendo. Então, a nossa intenção aqui é
fazer com que vocês identifiquem o que está acontecendo com os seus filhos, e
possa ajuda-los. É natural que se for uma coisa mais séria, você tem que pedir
uma ajuda maior. Inclusive eu me coloco à disposição, a Ligia tem o nosso
contato. Se alguém precisar de uma orientação mais específica pode nos
procurar. Mas, eu vou dizer uma coisa pra vocês, esse momento aqui é um
momento de reflexão.
3) Aquecimento Específico
Vamos fazer esta reflexão em gruo. Procurem conversar sobre os temas que
emergiram sobre insegurança em cada grupo, e vocês terão que escolher apenas
1 dos fatos relatados para fazer a dramatização.
Os grupos se dividiram e fizeram a escolha de uma situação apenas para
dramatizar.
4) Dramatização
Ana Lúcia- Agora vocês vão montar os grupos para fazer a dramatização, ou
seja, vocês vão se preparar para esta fase.
Dramatização 1 (uma menina de 8 anos não quer assistir à aula e a mãe a leva
para escola mesmo assim)
F- Mãe, eu não quero ir para aula hoje. Eu não gosto da escola. Eu não quero ir
para a escola. (chorando)
M- Filha, não adianta você ficar chorando aí, porque isto só me irrita. Você para a
escola de qualquer jeito.
F- Eu não vou não, eu não quero ir. Aquela escola é muito ruim.
M-Não adianta, você vai de qualquer jeito.
A mãe leva a criança chorando e deixa-a na escola chorando sem parar.
Ana Lúcia- O que vocês acharam do papel dessa mãe?
Platéia- Uma pessoa bem fria, é isso?
Platéia- Ela não estava nem preocupada com o que a criança estava sentindo.
Ana Lúcia- Mais ou menos isto.Quem gostaria de fazer o papel de outra mãe
nesta situação. Vejam , esta criança apresenta um sinal de insegurança, ela está
insegura de sair da casa dela, onde tem um ambiente seguro pra ir pra escola.
Ela não sabe se vai ter um ambiente seguro lá, certo? Quem gostaria de fazer o
papel dessa mãe, para tentar mudar o comportamento dela? Vamos lá.
Dramatização 1 com outra mãe (A mãe tenta explicar para a filha e para a
professora o que está acontecendo).
F- Mãe, eu não quero ir para a Escola, lá é muito ruim. Eu não gosto da Escola.
M- Mas o que acontece filha? Por que você não quer ir para a Escola?
F- Não sei mãe...
M- Aconteceu alguma coisa na escola que te deixou chateada ou preocupada?
F- Não mãe ...(chorando)
M- O que foi filha? O que aconteceu na Escola que te deixou chateada? Não
precisa chorar, pare de chorar que eu fico muito angustiada com isto.
F- Os meninos ficam me chamando de baleia porque eu sou gorda e eu não gosto
disto.
M- Mas, faz muito tempo que isto está acontecendo?
F- Faz, mas eu tinha medo de te contar.Não quero que você vá à escola falar com
a professora. É o maior mico.
Eu não sei o que fazer. A única coisa que me vem na cabeça foi o que aconteceu
comigo.E esta mãe começou a chorar.
D- Esta situação te lembrou alguma coisa ?
M- Sim, quando eu ia para a escola e os amigos viviam me chamando de gorda. E
eu só chorava. E muitas vezes a minha mãe me batia por isto, porque eu não
conseguia reagir.
D- E hoje, o que você poderia fazer para sua filha não se sentir tão mal na escola?
Para amenizar este incomodo que ela sente?
M- Acho que o melhor seria falar com a professora para que ela parasse este
comportamento dos meninos.
D- Muito bem, esta seria uma saída.O que mais você poderia fazer para ajuda-la.
M- Sei lá, acho que dizer a ela que não tenha medo e que qualquer problema eu
sempre estarei do seu lado.
M- Eu acho que isto faltou com a minha mãe. Ela própria tinha medo de tudo, não
enfrentava nada. Como ela poderia ajudar a nós?
D- Realmente, quando a gente tem os nossos conflitos internos, as nossas
inseguranças, fica difícil passar coisas diferentes para os filhos.
D- Como você está? Está bem?
M- Sim, estou muito bem.
Ana Lúcia- O que vocês acharam da postura desta mãe? Ela melhorou um
pouco,não? Alguém faria diferente dela? Por que a criança chora? A criança ou o
adolescente,sabe lá. Alguém poderia fazer diferente dela? Tem uma coisa que ela
fez que eu, particularmente, não orientaria fazer. Tentar convencer a criança de
que ela precisa parar de chorar e a criança chorando. Quando a criança ou o
adolescente começa a chorar e fica mal o que poderia ajudar neste caso
específico? Conversar antes com a criança, mostrar, ir um dia com a criança
passear na escola mostrar que lá tudo é seguro. Essas táticas às vezes
funcionam. Mas você querer convencer a criança que a escola é um ambiente
seguro só falando, não é uma boa idéia. Porque a criança precisa sentir a
segurança.
Platéia- Na minha opinião é assim, sem violência, mas explicando. Por exemplo:
pai dá para comprar isso? Não filha, não dá. Se a criança chora é importante dizer
que sabe que ela gostaria muito daquilo, mas que naquele momento a gente não
pode dar. Eu aprendi isto aqui com vocês, e agora digo não, sem sentir tanta
culpa.
Ana Lúcia- Muito bem , olhem os frutos do nosso trabalho começando a aparecer.
O que ela quer dizer com isso? É aquilo que a gente tem tentando falar desde o
outro Sociodrama: que quando você acompanha, você ouve e sente o que a
criança está sentindo, você identifica que a criança tem alguma dificuldade e pode
atuar. No caso do adolescente é muito importante que os pais sintam como podem
atuar. Porque quando a gente diz sim ou não, nós pais temos que prever as
dificuldades que podemos ter lá na frente.
Platéia- Por que?
Ana Lúcia- Porque hoje, cada vez mais ,a educação está caminhando para o
diálogo para a conversa.
Platéia- Quando eu chego e falo “não”, eu já conversei antes, já expliquei, e ele
vai começando a entender. Certo?
Ana Lúcia- Palmas para elas gente! Aplausos. Vamos simular outra situação?
Podem começar.
Dramatização 2. Uma menina foi criada pela tia, desde os 4 anos de idade. O
tempo passou, e ela cresceu. Tinha discriminação dentro de casa e tudo caía em
cima dela. Caso de abuso sexual.
T- Oh menina, você sempre pelos cantos e não faz nada em casa.
F-Não foi nada tia, eu não tenho nada.Estou cansada...
T- Não adianta mentir menina. Eu sei que alguma coisa está rolando. O que é que
aconteceu.
A menina começou a chorar.
T- Para de chorar garota, e vem me ajudar a terminar este serviço aqui em casa.
A protagonista começou a chorar copiosamente.E falou:
F- Esta menina foi abusada a vida inteira pelo tio. E continuou chorando...
A diretora foi junto da protagonista e aceitou o pedido dela para sair da
dramatização.
Platéia- Você não vai continuar este trabalho?Ana Lúcia- Não, gente. Ela não quer
continuar a dramatização e nós vamos respeitar este momento dela...Não vamos
dar continuidade porque esse é um tema muito polêmico. Eu acho que a gente
tem que conversar sobre como prevenir isto também: se você previne, se você
orienta os adolescentes, abre o canal para que eles não tenham medo de falar. A
gente falou muito dessa situação de ter um canal aberto, de comunicação, de
conversa, de trazer o filho para junto de você, de mostrar os caminhos, porque
quando você mostra a criança e o adolescente tem o direito de saber que caminho
vai seguir e ter certeza de que você está junto dele. No outro grupo apareceram
outros temas como abuso sexual, violência familiar. Hoje nós orientamos de
maneira bem superficial porque este não é o tema de nosso trabalho. Mas
podemos falar sobre o que pode acontecer, que tipo de riscos os filhos estão
expostos, falar dos perigos para eles. Fale com seu filho, fale sobre abuso, diga
para ele não ter medo, denunciar se acontecer, ele se sentirá mais seguro.
Ana Lúcia- Você está bem ,mãe?
Platéia- Sim, eu estou. Acho que me emocionei com as lembranças.Tudo isto é
terrível.
Platéia- Mas hoje em dia tem tanta divulgação...Mas mesmo assim as coisas
acontecem,não?
Ana Lúcia- Eu concordo com a afirmação fala anteriormente que se você está
junto, conversa, mostra as dificuldades de ter um filho jovem, você consegue fazer
o adolescente parar para pensar neste assunto. Nós,psicólogos, ouvimos muito
isto. Agora eu tenho três casos de adolescentes grávidas, e elas dizem: Ah, se
não gostar azar, é só em casa. Então, nós sabemos que o apego dessas
adolescentes pelos pais é quase nenhum. Acredito muito na educação, quando
nós, pais, nos preocupamos no tipo de apego que estamos desenvolvendo com
nossos filhos. Esse vínculo que a gente tem, não é um vínculo somente de
respeito, mas de confiança também , entenderam?
Platéia- Entendemos, mas é muito difícil isto acontecer. Aquela história do que a
gente recebeu dos pais que você tanto fala. Eu, por exemplo, sou uma pessoa que
entrei na vida sem a menor orientação de nada. Meus pais tinham vergonha de
falar com a gente. E eu não estou falando de um passado tão distante não. Eu
tenho 36 anos. Eu não sei se era uma coisa da minha casa, mas tudo era visto
com muito tabu. Sexo, nem se fala. Não podia se falar disto lá. Eu hoje tenho
muita dificuldade de falar com meus filhos.
Ana Lúcia- Quando a gente fizer a palestra sobre sexualidade, vamos falar muito
sobre isso. Porque vocês estão percebendo que tudo o que nós, pais, temos
internalizado na educação sobre sexualidade tem a ver com o modo como fomos
criados. É assim que passamos as orientações para os nossos filhos.Eu já ouvi
algumas mães dizendo assim: Imagina que eu vou deixar transar na minha casa!
Fazer da minha casa um bordel!!
Platéia- Você concorda com isto?
Ana Lúcia- Apesar do tema do nosso trabalho não ser este vou responder tua
pergunta. Eu, que também tive uma educação repressora, me questiono sobre
isto. Eu não acho certa esta abertura para que os adolescentes transem em casa.
Tem alguns pais que dizem: Prefiro meu filho transando na minha casa do que
em outro local. Porque desta forma, eu sei que ele não está correndo riscos. Então
eu acho que isso é uma coisa que a gente vai discutir no outro Sociodrama e eu
acho importante mesmo.
Lígia (ONG)- Nós fizemos no ano passado uma pesquisa com 400 jovens aqui no
Meninos do Morumbi sobre sexualidade. Nós perguntávamos aos jovens com
quem eles conversavam sobre sexualidade? E eles disseram que muitas vezes
querem conversar com os pais e os mesmos não estão abertos para conversa. Os
pais não conseguem falar sobre sexualidade com os filhos. Então o que apareceu
também foi a diferença entre falar com o filho homem e com a filha mulher. Uma
outra experiência que nós vivenciamos aqui , e que nos preocupa muito, são as
jovens adolescentes grávidas. Elas chegam aqui deprimidas, desesperadas,
esconde das mães, muitas vezes das amigas. Geralmente no primeiro
atendimento quando elas chegam aqui, vêm acompanhadas das mães e são duas
pessoas inseguras e com muito medo de comunicar ao pai esta gravidez. Então,
as mães querem ajudar as filhas, mas muitas vezes elas não têm poder de fazer
isto.A mãe é uma insegura, com muito medo de contar isso para o marido. É um
quadro que tem se repetido e tem se tornado muito comum aqui. Nós estamos
muito preocupados com isto. Estamos tentando evitar esta gravidez precoce com
um trabalho de prevenção e conscientização com estes jovens e pais. Tentando
dar condições para que elas tenham abertura para contar para os pais, porque
geralmente é o medo de uma atitude violenta, de uma repressão.
Ana Lúcia- Vocês ouviram o que a Lígia falou? Super interessante. Nesta
pesquisa que foi feita aqui, os jovens dizem não têm acesso aos pais, por que?
Porque o canal está fechado. Às vezes por causa dos próprios pais, porque teve
uma educação muito rígida, uma educação que não permitia uma abertura maior
através do diálogo. Este nosso trabalho visa mais ou menos isto. Entender o que
vivemos em nossas famílias de origem e tentar modificar o que não está
facilitando a educação.
Ana Lúcia: Vamos continuar as dramatizações para dar um fechamento no
trabalho.
Dramatização 3- (1º momento) Os pais queriam levar o garoto (8 anos) numa
festa de aniversário de amigos de família. A criança não conhecia ninguém.
P- Filho, nós vamos num aniversário na casa daquele amigo meu da fábrica, td
bem? Você vem conosco??
F- Não pai, eu prefiro não ir porque não conheço ninguém.
P- Mas filho, eu preciso que você vá, porque todo mundo sabe que eu tenho um
filho. É aniversário de criança. É certo que é de criança de 3 anos,mas não custa
nada você ir.Eu quero que você vá.
F-Mas pai....
P- Não adianta reclamar filho, você vai!!
Quando chegou na casa do amigo do pai, o filho ficou grudado na mãe de maneira
muito desagradável. E a mãe foi bastante grosseira com ele.
P- Será que não dá para você largar a minha saia e ir brincar com as outras
crianças? Você parece que se comporta com eu quando era criança. Mas olha
filho, meu pai sempre me obrigava a ficar nos lugares que eu não queria ficar.
E o garoto começou a chorar.
P- Para de chorar menino, não me faça passar vergonha. Aliás, isto é uma coisa
que você é mestre em fazer. Para de chorar!!!
E a criança chorava cada vez mais.O pai pegou pelo braço dele com violência e
levou-o para junto das outras crianças, que eram menores , e ficaram olhando
para ele com curiosidade.
F- Pai, eu não quero ficar aqui! Eu não quero ficar aqui. Quero ir embora para
casa.
Ana Lúcia- A situação que aconteceu foi esta,mas vocês podem mudar a história
desta criança.O que fazer para que esta criança se sinta mais à vontade na festa?
Platéia- Primeiro que estes pais deveriam ter conversado mais sobre este mico
que a criança iria se defrontar quando chegasse na festa.
Platéia- Nossa, que horror não. Ele estava fazendo a mesma coisa que o pai dele
fazia. Acho que mudar isto. Será que pé importante mesmo esta criança ir para
esta festa?
Ana Lúcia- Você não quer vir dramatizar no lugar deste pai?
Platéia- Posso ir ,sim.
Dramatização 3- ( 2º momento)
P- Filho, eu sei que vou te pedir uma coisa muito chata, mas que é bastante
importante para mim. Hoje é o aniversário do filho de meu sócio e eu preciso que
você vá com a gente. Tudo bem?
F- Ah, pai! Eu não quero ir não.Eu não conheço ninguém.
P- Não tem importância não, filho. A gente sabe que vai ser um sacrifício para
você,mas é importante você ir, tudo bem?
F- Ta bom pai, mas você promete que a gente não vai demorar muito?
P- Prometo filho, na hora que você quiser vir embora, você me dá um alô e a
gente vem.
F- Tudo bem.
Então os três foram para festa. Na festa os pais insistiram para a criança ir brincar
com os meninos.
F- Pai, eu já te falei com não vou brincar com as crianças de 3 anos de idade.
P- Tudo bem filho, então fica aqui junto da gente, e depois do jantar a gente vai
embora, tudo bem?
F- Tudo bem, pai.
E eles ficaram na festa até depois do jantar, e quando o filho chamou para ir
embora, eles se despediram dos donos da casa e cumpriram o que haviam
prometido.
Ana Lúcia- O que vocês acharam desta dramatização?
Platéia- Acho que foi muito boa. Só tenho dúvidas se eles deveriam ceder tanto às
vontades do menino.
Ana Lúcia- O que vocês acham desta dúvida dela?
Platéia- Eu acho que eles cederam porque combinaram assim. Eu não percebi
manipulação por parte da criança não.
Platéia- Eu acho que estes pais fizeram mais ou menos o que a gente tem
aprendido aqui. Perceberam o sentimento da criança. Porque eu fiquei me
colocando no lugar da criança e percebi que mico é participar de uma festa de
criancinha na idade dela.Achei que a dramatização foi muito boa.
Ana Lúcia- Alguém mais queria fazer alguma colocação sobre o que viram?
Platéia- É interessante Ana Lúcia, o quanto nós obrigamos os filhos a fazerem as
coisas do jeito que a gente quer que eles façam. Eu fiquei pensando se isto
também não tem a ver com a forma que a gente foi criada. Eu não lembro de
nunca, em minha casa, eu ter tido direito de argumentar alguma coisa. Tudo era
do jeito que meus pais queriam.
Platéia- Isto também aconteceu comigo, e não adiantava eu me mostrar inseguro,
porque tinha que fazer exatamente como eles queriam.
Ana Lúcia- O que vocês acham disto?
Platéia- Acho que nós, pais,precisamos escutar mais o que as crianças falam,
respeitar mais os sentimentos delas, negociar mais dependendo da idade.
Ana Lúcia- Muito bem. Acho muito importante levantarem estas questões. É o
que falamos no início deste trabalho, a segurança da criança pode ter uma relação
direta com a forma como ela foi criada, com os vínculos que ela desenvolveu,
com o tipo de apego que existe entre ela e os pais. Você pode ajudar a criança
quando entende o que está acontecendo com ela, quando tenta mostrar para ela
algumas saídas para a dificuldade que está passando. É aquela história de abrir o
canal para que a criança se sinta à vontade para falar. Desta forma como a
segunda dupla de pais fez. Muito bem, muito bem mesmo. Foi muito boa esta
última dramatização!!
Ana Lúcia- Bom gente, vamos finalizar. Vocês vão levantar: um grupo fica desse
lado e outro grupo fica do outro. Nós temos 15 minutos, vem pra cá. Nós vamos
dar pra vocês alguns tecidos para vocês. Tentem simbolizar o que a gente
trabalhou hoje com uma única imagem.Entenderam? Agora vocês vão formar
duas imagens: a imagem da criança insegura e a outra da criança segura. Tudo
bem?
Platéia- Mas o que é uma imagem?
Ana Lúcia- Calma,calma, vou explicar.Uma imagem é uma estátua sem
movimento, tem que estar parada,imóvel. Vocês vão simbolizar uma relação entre
pai, mãe e uma criança segura, certo? O que é que precisa ter nessas relações?
Um pouco do que a gente conversou. Só que eu queria que vocês usassem a
criatividade, certo? Usando os tecidos,de várias cores, porque com os tecidos
vocês podem fazer várias figuras com eles para simbolizar esta relação.A imagem
não tem movimento, não tem fala e é parada.
Platéia - Mas seria esse tecido vestido na gente?
Ana Lúcia- Sim ou não. Escolham. Vocês vão usar os tecidos para fazer a
imagem, do jeito que vocês quiserem. A cor vocês podem escolher. Podem pegar
qualquer um para usar na imagem e quando terminar, vocês vão formar uma frase
que simboliza esta criança insegura e uma frase que simboliza esta criança
segura. Tudo bem? A gente vai ajudar vocês a fazerem isso. Escolham os tecidos.
Vários ,podem ser vários, ou até pode ser um.
Todos utilizam os tecidos para fazer as imagens.
Ana Lúcia- Vamos começar a mostrar as imagens.
Na primeira imagem o grupo montou uma estátua simbolizando a criança
insegura.onde utilizaram os tecidos de cores rosa pink, verde limão, vermelho,
azul turquesa.Colocaram a criança vestida com ao tecido rosa, os pais ao lado
dela apoiando-a e toda a família em volta com tecidos coloridos em cima.
Ana Lúcia- Bom, vamos lá! Podem começar, essa aqui é a frase, a imagem da
criança insegura. Qual é a frase?
Platéia- Criança, segurança e proteção.
Ana Lúcia- Pode falar mais alto.
Platéia- Criança, segurança e proteção..
Ana Lúcia- Muito bem. Vamos pra cá. A criança segura está muito boa, Muita cor
, esta carinha feliz.
O segundo grupo montou uma imagem da criança insegura, vestida com uma
capa amarela, cabeça baixa envolvida num tecido preto. Ao lado estava um
homem apontando o dedo para ela e outro do lado como se estivesse cobrando
alguma coisa.
Ana Lúcia- E qual é a frase da criança insegura?
Platéia- Mamãe me ajuda!!
Ana Lúcia- Repete bem alto.
Platéia- Mamãe me ajuda!!
Ana Lúcia- Um pouquinho mais alto que eu não ouvi.
Platéia- Mamãe me ajuda!!
Ana Lúcia- De um lado, a criança segura: “Confiança, segurança e proteção.” E o
pai está realmente protegendo. Do outro lado,a criança insegura: “Mamãe me
ajuda!!”. E a criança com um semblante de medo.
Ana Lúcia- Agora nós vamos dar as mãos e escutar, de olhos fechados a uma
música.
Música “Pra não dizer que não falei de flores “ Geraldo Vandré
e todos de mãos dadas cantando:
“Caminhando e cantando e seguindo a canção.
Somos todos iguais braços dados ou não.
Nas escolas, nas ruas, campos, construções.
Caminhando e cantando e seguindo a canção.
Pelos campos a fome em grandes plantações.
Pelas ruas marchando indecisos cordões.
Ainda fazem da flor seu mais forte refrão.
E acreditam nas flores vencendo canhões.
Vem, vamos embora que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora não espera acontecer.
Vem vamos embora que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora não espera acontecer.
Há soldados armados, amados ou não.
Quase todos perdidos de armas na mão.
Nos quartéis lhe ensinam antigas lições.
De morrer pela pátria e viver sem razão.
Nas escolas, nas ruas, campos, construções.
Somos todos soldados, armados ou não,
Caminhando e cantando e seguindo a canção.
Somos todos iguais braços dados ou não.
Vem vamos embora que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora não espera acontecer.
Vem vamos embora que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora não espera acontecer.
Os amores na mente, as flores no chão.
A certeza na frente, a história na mão.
Aprendendo e ensinando uma nova lição.
Caminhando e cantando e seguindo a canção,
Vem vamos embora que esperar não e saber,
Quem sabe faz a hora não espera acontecer.
Vem vamos embora que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora não espera acontecer.”
5)Comentários
Ana Lúcia- Eu queria que vocês agora com pais, com apenas uma palavra
dessem uma mensagem, algum conforto, alguma esperança para a criança
insegura.
Platéia- Carinho, vencer as angústias, confiança, amor, diálogo, compreensão,
acreditar, coragem, segurança, não se omitir, ser paciente, pedir ajuda aos pais.
Ana Lúcia- E para a criança segura?
Platéia- Vá em frente, cuidado, acredite, confie, coragem, lutar, perseverança,
você é capaz, você é um vencedor.
Ana Lúcia- Gente, palmas para o grupo. (aplausos)
Ana Lúcia- E para os pais, que mensagens vocês mandariam?
Platéia- Que tenham confiança; não repitam os erros de seus pais; tentem educar
seus filhos com cautela, sabedora; façam da vida familiar uma coisa harmônica;
Ana Lúcia- Bom pais, a mensagem que a gente queria passar é a seguinte: acho
que se os pais estiverem atentos, com cuidado, com confiança, no desempenho
do nosso papel a gente pode ajudar muito nossos filhos, certo? Precisamos estar
atentos para os movimentos dele. Precisamos estar atentos para não cometer
alguns erros por displicência, para não repetir o que vem da família de origem que
não agregue à sua família nuclear. Agora, eu queria que o Anselmo, a Ana
Carolina e a Jussara fizessem algum comentário do trabalho de hoje, e depois,
queria que vocês dissessem o que estão sentindo.
Ana Carolina: Eu queria parabenizar todos vocês por estar presentes aqui nessa
reflexão, por estarem abertos para mudar e criar condições para que os filhos de
vocês sejam mais felizes, conquistem mais coisas e estejam sempre avançando
na vida. Estou me sentindo muito bem e gratificada. Obrigada a todos. (aplausos)
Anselmo: Eu queria agradecer a oportunidade de estar aqui trabalhando com
vocês, com a Ana , com todos e que vocês continuem presentes, mostrando aqui
que tem interesse para mudar e que estejam sempre presentes também na vida
do filho de vocês, isso é fundamental. Obrigado. (aplausos)
Jussara: Eu acho que a gente está num país que precisa amadurecer muito, para
crescer. E o nosso papel é de fazer homens fortes e mulheres fortes para vencer
uma batalha de repressão, de mais justiça na sociedade e acho que esse aqui foi
um exercício para isso. Eu estou bastante emocionada com a produção do
primeiro grupo e deste também. Estou super feliz de ter contribuído para que a
gente pudesse fazer esse trabalho, muito obrigado e convidamos vocês para o 3º
domingo, 3º Sábado de junho. Certo? Muito obrigado. (aplausos)
Ana Lúcia- A Lígia gostaria de falar alguma coisa?
Lígia (ONG)- Sim, que estou muito impressionada com a produção deste
grupo.Que é muito importante para o nosso trabalho a visão de vocês da vida de
seus filhos, dos sentimentos deles, e, de que forma vocês podem ajudá-los
quando estiverem diante de alguns problemas com eles. Estou muito satisfeita
com a produção dos dois grupos neste trabalho.Espero todos vocês na próxima
reunião. Obrigada!! (aplausos)
Ana Lúcia- Antes de fechar o trabalho, eu gostaria de saber como é que vocês
estão se sentindo agora?Falem com uma só palavra o nome deste sentimento!
Platéia- Feliz, satisfeita, mais segura, confiante, podendo direcionar minha própria
educação sem está ligada tanto ao que meus pais ensinaram, tranqüila,
esperançosa.
Ana Lúcia- Que bom. Você que veio a primeira vez, como é que foi a
experiência?
Platéia- A minha esposa esteve aqui e adorou. Então resolvi vir também.. Quando
se fala de família, quando se reúne família a gente fica muito contente. Ajudando
nossos filhos nós ficamos muito felizes.
Ana Lúcia- Legal, e o resto do pessoal?
Platéia- Acho que todas estas explicações, de certa forma, irão me ajudar na
educação de meus filhos a cada dia.
Ana Lúcia- É, vai melhorando um pouquinho, a cada dia uma sementinha.
Platéia- Eu acho que já está sempre me ajudando bastante.
Ana Lúcia- Que ótimo.
Platéia- Eu tenho tentado colocar em prática tudo o que venho aprendendo aqui.
Ana Lúcia- Nossa, que legal! Vocês ouviram,gente? Gostei de ouvir isto, porque é
um sinal que o nosso trabalho está ajudando estes pais a melhorar suas relações
com os filhos.
Platéia- Eu era muito estúpido, muita cobrança, eu estou tentando ser mais
maleável. Quer dizer, sempre tem uma pequena diferençazinha, mas eu continuo
pisando na bola, mas estou tentando mudar. É como ele citou no início, que os
pais têm que se orientar. Eu estava lendo uma matéria que saiu na Veja sobre
filhos tiranos, que fala sobre isso daí, quer dizer são décadas diferentes. Falar em
sexo: hoje o pai permite o filho usar o quarto da casa dele para namorar. Quando
o pai não permite é a mãe, outra pessoa então tem que mudar isso daí. Hoje o pai
conversa, para não agredir o filho, acaba dando as coisas, até demais e tem
dificuldade de colocar limites.É o que eu faço com os meus filhos: bater e brigar
não. A gente está aprendendo.
Ana Lúcia- Devagar e sempre, a gente chega lá. Não esqueçam que nós somos
frutos de uma educação mais castradora, onde o autoritarismo imperava.
Desconstruir tudo isto não é uma tarefa fácil, mas estamos percebendo que
estamos ajudando-os a tentar uma reconstrução deste papel de uma maneira
bastante tranqüila.Todos nós juntos!
Ana Lúcia- Eu acho que infelizmente todos os papéis, ou quase todos, que a
gente desempenha na vida, a gente aprende a desempenhá-los. Os papéis de pai
e mãe, nós não temos este aprendizado. A gente tem que se tornar pai e mãe
fazendo assim, aprendendo com os acertos e erros, e, se informando como
estamos fazendo agora. Num momento como este podemos nos tornar cada vez
melhor. Eu queria, rapidinho, que vocês dissessem o que estão sentindo, uma
palavrinha só.
Platéia- Mais encorajada, mais calma, mais segura, desconforto, eu estou me
sentindo muito bem. Cada reunião que eu venho, é mais um passo que eu
conquisto, é uma coisa nova que a gente aprende a cada dia e é uma realização
diferente. Estou me sentindo bem. Os filhos da gente estão crescendo e nós
estamos engatinhando junto com eles.
Ana Lúcia- Adorei o que ela falou! Palmas da platéia.
Sociodrama IV
Local: ONG - São Paulo- SP
Data: 19/06/2005
Tema: Sexualidade na Infância e na adolescência.
População: 48 pais de classe média/baixa, nível instrução ,1º grau incompleto ,
completo e 2º grau completo e incompleto, filhos de 0 a 15 anos, quatro
psicólogos e uma assistente social.
1)Introdução:
Ana Lúcia- Boa tarde, gente! É sempre um prazer está aqui com vocês. Vamos
dar continuidade ao nosso trabalho educativo, falando de um tema que é tabu.
Sexualidade. Antes de começar o trabalho, gostaria de fazer um comentário com
vocês. Porque é muito curioso o que nós falamos com o grupo anterior: quando
acaba um trabalho todo mundo diz: foi ótimo, foi legal, aproveitei, estou saindo
mais tranqüila, mais orientada, mais feliz, é o discurso de todos vocês, não é?
Platéia- É lógico que sim.
Ana Lúcia- Mas me preocupa, porque se é tão legal, por que não voltam? Muitos
que vieram na reunião passada não estão aqui. Hoje tem um pessoal novo.Tem
uma turminha que não falta. E a gente fica super feliz com isso, porque
percebemos que estamos conseguindo ajuda-los. Nesse trabalho, a nossa
intenção é realmente de fazer um trabalho preventivo e educativo na educação
dos filhos. As pessoas que conseguiram assistir todos os Sociodramas,
certamente,vão aproveitar muito mais. Hoje o nosso tema é sexualidade na
infância e na adolescência, mas nós não vamos fazer um trabalho parecido com o
que foi feito há duas semanas atrás com um grupo de crianças, de jovens e de
pais, é um outro trabalho, certo? O nosso trabalho aqui vai ser em cima de como
educar, de como conversar com o filho sobre sexo, combinado? Para treinar um
pouco o papel de vocês de pais e mães.Só pra gente se situar, os pais que estão
aqui hoje que idade os filhos de vocês têm?
Platéia- De 04 a 17 anos.
Ana Lúcia- Então é um grupo que vai de 4 a 17, é isso? É um grupo
interessante.Bom, então vamos começar o trabalho pensando um pouco como
vocês se sentem como pais quando vocês começam a falar sobre sexo? Não
precisa esconder o rosto, porque eu vou perguntar mesmo, viu? Vamos lá! Como
vocês se sentem quando vocês pensam, em educar seus filhos em relação a
sexo?
Ana Lúcia- Mas antes de nós começarmos, gostaria de pedir a autorização de
vocês para filmar e fotografar este trabalho. É um trabalho que estou
desenvolvendo para a minha tese de Mestrado e a filmagem e fotografia serão
utilizadas para fins científicos. Tudo bem para vocês?
Platéia- Todos aceitaram a filmagem e fotografia.
Ana Lúcia- No final do trabalho vamos entregar um papel onde vocês deverão
assinar esta autorização, ok?
Platéia- Tudo bem.
Ana Lúcia- Então, com a minha filha eu faço assim: ela vai assim toda sem jeito,
então fico perguntando porque ela fica saindo fora de casa. Eu falo numa boa e
ela escuta. Eu ponho um filme pra ela assistir...
Ana Lúcia- Agora, só por curiosidade, é filme de sacanagem?
Platéia- Não. Risos da platéia.
Ana Lúcia- Você não explicou que tipo de filme era. Ah tá, um filme qualquer em
que aparece alguma cena de sexo. E ela fica com vergonha?
Platéia- Fica, mas a gente conversa bastante. Eu fico mostrando para ela como é
que tem que ser senão depois...
Ana Lúcia-Vamos lá gente! Vamos continuar falando para a gente continuar se
aquecendo.
2) Aquecimento Inespecífico
Platéia- Eu encaro com naturalidade, por exemplo, quando aparece cenas de
sexo em novelas, não é? Inclusive, na verdade eu não sou mãe, eu sou tia deles.
E tem um de 5 anos e um de 10 que moram comigo. O garoto de 10 anos é o que
está aqui, e quando aparece cena de sexo, tanto para o de 10anos quanto para o
de 5anos, eu deixo rolar... Não fico chamando atenção para eles não olharem, ou
desligar a televisão... E, se eles perguntarem alguma coisa, eu respondo também,
naturalmente, mas não
Platéia- Bom, eu não tenho tanta dificuldade, porque tenho dois homens em casa.
E, por incrível que pareça, meu caçula fez 11 anos agora, e uma ocasião
aconteceu um fato inusitado, eu tentei enganar ele, pelo contrário, ele sabia mais
do que eu. Então, hoje em dia ou você fala claramente, porque a criança já
entende, sabe o que é, pra quê... Meu caçula, a princípio, achava que camisinha
era para usar, para não fazer xixi na cama. Hoje eu já explico tudo pra ele, antes
tinha vergonha. Tem que falar numa boa, explicar como as coisas acontecem, as
conseqüências do que pode acontecer e tudo mais. Falei até das doenças que
podem pegar caso não se cuidem. Eu tenho intimidades e pretendo estar
conversando sim com eles, mas a gente em casa está numa boa.
Ana Lúcia- Muito bem. Quem mais? Eu gostaria que o pessoal novo falasse um
pouquinho.
Platéia- Eu sou tio das crianças que estão aqui, e moro junto com minha irmã.
Praticamente nós vivemos com eles, porque ela está separada. Temos uma boa
relação com o ex-marido dela, mas os filhos são praticamente criados por a gente.
Eu também falo sobre o assunto de sexo porque acho mais fácil, porque eles são
homens e a gente tenta passar da melhor forma possível. Tento passar tudo o que
diz respeito a sexo, sobre as doenças que podem ocorrer, até de
homossexualismo a gente conversa bastante. Eles perguntam, e a gente explica
para deixar bem claro que não tem nenhum tipo de tabu conversar sobre isto.
Porque acho que tem que deixar claro para a criança não é? Não tem que deixá-la
alheia a esses assuntos porque isso faz parte da vida, então, a gente tem que
deixar claro. Em casa não temos muitos problemas quanto a isso, porque a gente
tenta sempre passar as coisas da melhor forma possível.
Ana Lúcia- Muito bom, como é bom ouvir um depoimento assim.Percebem, ele
está fazendo o papel de tio , mas, mesmo assim vem aqui conferir, aprender,está
ótimo! Quem mais gostaria de falar?
Platéia- Minha filha tem 9 anos, e pra mim é uma criancinha. Eu fico ouvindo
cada um aqui para mim e muita coisa é até novidade, não é? Ao mesmo tempo,
acho um pouco estranho, porque assim minha filha ainda tem 9 anos e nunca
despertou nada sobre sexo. A curiosidade sobre sexo. Acho que, talvez, porque
nós somos católicos, então eu passei assim muito o lado católico pra ela. Mas eu
percebo também a diferença dela com as outras crianças. As outras crianças
procuram saber, têm curiosidade. Assim, nós somos muito amigas, passamos até
um tempo separadas, mas ela assim nunca despertou esta curiosidade.
Ana Lúcia- Certo. Alguém mais queria falar?
Platéia- Bom , como eu só tenho uma filha, converso muito com ela, explico,
então, eu não tenho muita dificuldade em explicar o que acontece. Sexo, então,é
uma coisa assim que não tem que ficar escondendo. Aliás, hoje em dia não dá pra
esconder nada, tem muita amostra, só que o que a gente vê na frente nem sempre
é o certo. Eu mostro isto para ela. Não andar por aí com más companhias, não
seguir a cabeça dos outros, que tem muito disso hoje em dia na juventude. Mas
mesmo assim, gostaria de aprender mais!!
Ana Lúcia- Ótimo, seja bem vinda. Alguém quer falar?
Platéia- Eu tenho três filhos, imaginem. Então é assim, a minha menina, apesar
de ter seis anos, ela é curiosa demais. Ela pergunta e eu tento explicar
tudo,naturalmente, para que ela, desde pequena aprenda através de nós ,em
casa.... Ela é hiper curiosa, fica atenta a tudo o que passa na frente dela. Eu acho
que a curiosidade não depende da idade, depende da criança e adolescente. A
curiosidade e as perguntas vão aparecendo independe se tem 11, 9, 5, 4,
depende do que eles estão curiosos a aprender. Então eu acho que a gente tem
que conversar, na linguagem deles..
Ana Lúcia- Muito bom. Pegando o gancho do depoimento desta mãe, gostaria de
explicar algumas coisas para vocês através de um desenho. Agora vocês vão
pegar estes papéis e lápis que os egos estão distribuindo e desenhar uma figura.
Ana Lúcia- Desenhem uma figura que tenha as seguintes características: - uma
figura que tenha duas cabeças; três olhos; um nariz; uma boca; três orelhas; três
braços; corpo magro; duas pernas; três pés; pêlos no corpo. Uma figura muito
esquisita, e cada um de vocês vão desenhar de seu jeito.
Platéia- Mas isto é um monstro!!
Platéia- Parece mais um ET!
Ana Lúcia- Bom, podem desenhar que depois falo sobre os objetivos deste
trabalho.
Todos terminaram os desenhos.E ficaram incomodados com a figura que
apareceu.
Ana Lúcia- Terminaram? Agora vocês vão passar os desenhos um a um para que
todos da sala vejam todos os desenhos.
Platéia- Pronto, acho que já terminamos.
Ana Lúcia- O que vocês perceberam olhando para todos os desenhos?
Ana Lúcia- O que mais, alguém percebeu alguma coisa diferente?
Platéia- São horríveis! Risos . Não sei, mas percebi que todos são diferentes,
apesar de você ter dito a mesma coisa para todos nós.
Ana Lúcia- Muito bem, é mais ou menos isto que eu queria que vocês
percebessem, que apesar de eu ter dado a mesma senha para todos vocês, os
desenhos saíram todos muito diferentes. E vocês sabem porque isto aconteceu?
Ana Lúcia- Os desenhos são todos diferentes realmente. Vocês perceberam que
diante da mesma mensagem vocês fizeram desenhos totalmente diferentes.
Então o que é que podemos observar com tudo isso?
Platéia- Ah! Não sei Acho que as pessoas são diferentes.
Platéia- Que cada um tem a sua forma de criar, aquilo vê, aquilo que ouve e a
criatividade é uma coisa que a gente relaciona muito com a
sexualidade. A
criatividade é uma coisa inerente a cada ser humano, cada pessoa é criativa à sua
maneira, uns mais outros menos.
Ana Lúcia- Cada pessoa desenvolve a sua sexualidade à sua maneira, uns têm a
sexualidade mais exacerbada. Aqui nós temos dois depoimentos: a minha filha
com 6 anos é muito curiosa, a minha filha com 9 anos ainda não despertou para a
sexualidade. Essa de 6 anos tem problema? Não. Essa de 9 tem problema? Não.
Elas têm momentos diferentes do desabrochar dessa coisa que a gente chama de
sexualidade. Certo? Então uma coisa que é muito importante quando a gente
orienta e educa em relação à sexualidade é a gente pensar nisso, nas diferenças.
Um filho pode ser um foguetinho e o outro pode ser tranqüilo. E o filho tranqüilo
não tem nenhum problema, a não ser que o pai queira que o filho seja aquele Dom
Juan. Tem muitos pais que querem certo? A gente sabe disso. A cultura é uma
coisa muito complicada. Eu sou nordestina e lá no Nordeste é natural o homem ter
duas mulheres, porque ter duas significa que é mais macho. Então é assim uma
coisa muito interessante e eu vivi isso muito tempo e hoje quando eu vou pra lá eu
fico muito impressionada porque é muito mais do que aqui. Aqui às vezes o
homem pode ter duas mulheres, lá é assim se você não tem você é um bobão.
Então, acho que é uma coisa pesada, tem uma questão cultural que é uma coisa
muito séria. Eu vi no seu discurso e no discurso dele duas coisas importantes: a
primeira é que educar homem é mais fácil, eu tenho duas filhas eu acho que
educar mulher é muito mais fácil. Quer dizer isso varia de quem olha: do seu olhar,
do meu olhar. Eu acho que educar ambos é difícil, acho que a educação é uma
coisa extremamente difícil e quando eu vi você e você que são dois filhos que
criam os sobrinhos e que estão aqui interessados em aprender um pouco mais,
me impressionou. Então eu fiquei assim... Nossa! Foi uma coisa muito legal. Por
quê? Porque educar é difícil e quanto mais a gente tem oportunidade de estar num
contexto como esse, melhor. Eu queria agora que vocês me ajudassem. Eu vou
dizer umas frases, vou fazer um trabalho parecido com o que vocês fizeram na
outra reunião só que vocês não vão fechar os olhos. Eu vou dizer uma frase e
vocês vão dizer com uma só palavra o que aquilo representa pra vocês. Eu queria
que todo mundo participasse, certo?
Platéia- Sexo na infância.
Ana Lúcia- Sexo na infância. Fala alto. O que é que vocês lembram de sexo na
infância?
Platéia- Problema. Violência.
Ana Lúcia- Que mais?
Platéia- Descuido. Tabu. Proibido. Vagabunda.Mulher de rua. Menina não pode
transar,menino pode transar.
Ana Lúcia- Que lembranças traz sexo na sua infância?
Platéia- Descoberta. Curiosidade. Brincadeira. Aventura. Ser cuidado por uma
outra criança. Nunca falou. Nunca falou. Minha mãe ficava morta se tocasse neste
assunto. A surra que levei por falar nisto. Minha mãe nunca falou. Minha mãe me
orientava: filha toma cuidado que você já está mocinha. Meu pai fazia alguma
coisa com a minha mãe que doía, porque ela às vezes gritava.Ele ficava com
raiva, e falava grosso se eu perguntasse.
Ana Lúcia- Outro tema que vocês tiveram dificuldade de conversar, ou até mesmo
saber na sua infância?
Platéia- Masturbação.
Platéia- Pecado falar na minha época. Ai que vergonha. Ninguém falava disso.
Criança e adolescência. Ninguém falava disso. Meus pais não falavam nem do
nascimento do bebê.
Ana Lúcia- Vocês se masturbavam?
Platéia- Demais. (Risos).
Ana Lúcia- Vamos lá, tem que falar uma palavra. Sim ou não? Não vale mentir
porque tem um detector de mentira aqui.
Platéia- Sim. Iniciação não tem jeito. Não. Não.
Ana Lúcia- Por que você acha que não se masturbava?
Platéia- Nem sabia o que era isso. Vergonhoso. É o começo. Meu pai disse que
ficava impotente.
Ana Lúcia- E transar a primeira vez?
Platéia- Dramático. Só com casamento. Pecado, a bíblia diz isto, minha mãe
dizia.Deus me livre, mulher tem que casar virgem.
Ana Lúcia- Que mais? Alguém tem mais algum depoimento das dificuldades?
Platéia- Olha Ana, até hoje se a gente falar que masturba não leva um choque? A
descoberta é chocante. Por mais que eu esteja orientada eu fiquei assim
preocupada. Eu queria saber o por quê...
Ana Lúcia- Alguém poderia falar para ela porque coisas deste tipo acontecem?
Sei lá, alguém que já participou dos Sociodramas da F&Z com as crianças e
adolescentes, provavelmente sabem responder esta pergunta dela. Vamos lá?
Platéia- Acho que é por causa da nossa educação. Nossos pais foram criados de
uma maneira castradora. Nada podia, não podiam nem falar, nem perguntar. Isto
fez com que eles passassem coisas negativas para nós. Mas, eu acho que nós
não vamos fazer isto com os nossos filhos, primeiro porque estamos aqui,
segundo porque agora estamos conscientes dos conceitos e práticas negativas
que nossos pais passaram.
Ana Lúcia- muito bem. Esta resposta satisfez a sua pergunta?
Ana Lúcia- Que outro assunto tabu vocês encontraram pela frente no que se
refere a sexo?
Platéia- Menstruação.
Platéia- Ninguém falava. Só depois que a menina ficava mesntruada, e isto era
horrível.
Platéia- Usar absorvente.
Platéia- Na minha época não tinha, a gente usava aquelas toalhinhas.
Platéia- Eu lembro de mim como uma menina amedrontada. Com 15 anos
amava um menino, com 16, 17 anos amava outro. Hoje com 14 anos a menina
muitas vezes já é mãe. É uma loucura. Eu tenho uma loucura desta na família.
Minha sobrinha foi mãe com 13 anos. Acho que tudo mudou completamente. A
média da vida do homem aumentou, eu acho que os valores mudaram neste
sentido. Naquela época a criança que nascia demorava uma semana para abrir o
olho, hoje ela já nasce assim (arregala os olhos), já nasce falando: E aí?
Entendeu?
Ana Lúcia- Onde você acha que os valores mudaram demais?
Platéia- Acho que a questão do respeito. Tenho a impressão que os jovens de
hoje não respeitam nem a si mesmo, quanto mais aos outros. Os pais estão cada
vez mais perdidos. Valores de educação, de obediência. Acho que tudo isto é
muito sério.
Ana Lúcia- E os outros concordam com isto?
Platéia- Meu Deus, as moças de hoje em dia se submetem a esta coisa de “ficar”.
Você sabe o que é ficar?
Ana Lúcia- Lógico que sei, é a forma mais fácil que os jovens têm de se
relacionar hoje.Se você me perguntar que eu acho disto, eu te falo. Na realidade
está acontecendo um fenômeno que faz com que os relacionamentos se tornem
frágeis, e as mulheres, principalmente sabem disto. Esta coisa de ficar hoje com
uma e amanhã com outra. Epa!! Não é bem isto. Esta coisa de ficar agora com
uma, e daqui a pouco com outra e depois com outra é interessante ara
ambos,mas faz com que ,principalmente os jovens fiquem descrentes dos
relacionamentos. Realmente fica difícil saber aonde tudo isto ai parar.
Platéia- É interessante fazer uma comparação. Meus pais não me deixavam sair
de casa com um namorado sem minha irmã. E, se namorasse, jamais sairia com o
namorado sozinha. Para beijar, levava uns dois meses. Hoje, as moças no
primeiro dia já estão beijando e se agarrando.
Ana Lúcia- É, realmente as coisas nesta área estão mudando muito, mas vamos
dar continuidade ao nosso trabalho, porque o tempo está curto.
Ana Lúcia- Quais eram as suas curiosidades quando vocês eram crianças ou
adolescentes em relação a sexo?
Platéia- Ver meu pai nu.
Platéia- Eu queria saber como o nenê nascia. Eu também (outra pessoa falando).
Nascimento de uma criança. Queria saber porque é que às vezes a porta ficava
trancada do quarto dos pais.
Ana Lúcia- Alguma coisa acontecia ali dentro... É super importante isso que você
está falando. Se eu me esquecer você lembra pra eu falar alguma coisa sobre isso
mais pra frente.
Platéia- Naquela época se falava que era a cegonha que trazia o bebê.
Engravidar, mas como se naquela época eu não fazia nada...
Ana Lúcia- Quem não fazia nada, você não fazia nada. Você não fazia nada,
como é isto? Você, qual medo você tinha na adolescência?
Platéia- Engravidar.
Platéia- Eu, particularmente, tinha minhas curiosidades sobre engravidar, mas
minha mãe morreu quando eu tinha 11 anos, então, minhas curiosidades eram
reprimidas e eu não perguntava nada a ninguém.
Ana Lúcia- Quem ensinou a você sobre sexo?
Platéia- A escola, a televisão, a revista, a vida, os colegas, os amigos, os livros...
Ana Lúcia- Vocês acham que esta dificuldade de comunicação entre vocês e
seus pais podem prejudicar a relação de vocês com seus filhos na aprendizagem
da vida sexual? Como vocês gostariam que seus filhos aprendessem alguma
coisa sobre sexo?
Platéia- Acho que me prejudica muito. Nossa. Mas eu estou freqüentando tudo
que posso para não deixar que isto atrapalhe a minha vida com meus filhos. Agora
a gente está conversando, discutindo algumas coisas ligadas a sexo.
Ana Lúcia- Quais são os perigos vocês acham que os filhos correm aprendendo
fora de casa? Na rua com os amigos?
Platéia- Eles podem aprender as coisas erradas. A minha maior preocupação é
que eles aprendam coisas erradas e também por causa de doenças. Eles são
indefesos , e acho que aí se encontra o maior perigo.
Ana Lúcia- O que você acha que seu filho pode aprender fora de casa, com os
outros, lá fora?
Platéia- Quando eu converso com a minha filha sobre alguma coisa eu sempre
falo: você está tendo a oportunidade da sua mãe te ensinar isso. A vovó não
explicava e sua mãe não tinha para quem perguntar. Como era ruim tudo isto. E,
se eu perguntasse pra alguém e minha mãe ficasse sabendo, eu iria apanhar. Fica
esperta, que quando chegar sua vez, você já vai estar sabendo muita coisa.
Ana Lúcia- O que mais dificulta vocês a falar com seus filhos sobre sexo?
Platéia- A maneira como fui criada, muitas vezes as perguntas tontas ficavam
sem resposta. Era horrível, e eu me prometi que nunca deixaria meus filhos param
apertos por não saberem das coisas.
Ana Lúcia- Acho que hoje vocês vão sair daqui sabendo um monte de coisas para
agregar todo o conhecimento que vocês já têm. Algumas respostas, não todas.
Mas você disse que também tem dificuldades, você tem vergonha?
Platéia- Eu converso quando ela me pergunta, mas é raro. Mas, eu vejo, assim,
que eu tenho dificuldade, eu queria que ela se preparasse. No meu tempo, não
era assim, as mães falavam que a gente só ia saber depois que se casar e eu
acho que assim hoje ainda os pais pensam isso.
Ana Lúcia- Então o que dificulta vocês a conversarem com seus filhos é: a forma
como foi criado, um pouco de vergonha, às vezes um pouco de inibição, é difícil,
às vezes você não sabe todas as respostas...
Platéia- A minha filha mais nova já tem 22 anos, e hoje eu acho que eu tenho
muito mais facilidade de falar com os netos. Sabe, o que eu errei com os filhos eu
não quero errar com os netos? Eu tenho um de 11 anos e um de 5. O de 5 ainda
nem pergunta.
3) Aquecimento Específico
Ana Lúcia- Uma coisa que é importante é realmente a forma como a gente viveu
essa questão de sexualidade. Vocês sabem porque eu estou aqui hoje falando de
sexualidade? Porque tive que revê meus conceitos quando comecei a trabalhar
em Psicologia. Porque eu fui criada em engenho, sabe engenho que planta cana,
tudo tinha muito tabu . Eu sempre gosto de falar sobre isso, porque no nordeste a
gente ainda encontra uma cultura totalmente diferente daqui. Ainda encontramos
muitas coisas proibidas. Nos tempos de hoje,acho que esta questão é tratada
com mais naturalidade aqui. Então, se você é criado de uma forma e quer uma
abertura para falar com seus filhos, muitas vezes não consegue por causa de seus
valores, suas convicções. Neste trabalho estamos dando uma abertura para uma
abertura de mais um canal de comunicação: vocês conversando um pouco juntos,
poderão conseguir passar algumas coisas pra ele seus filhos. Mas uma das coisas
que a gente percebe que pode atrapalhar a educação sexual dos filhos são os
mitos que estão criados em cima do sexo, então nós vamos conversar um pouco
sobre isso. O que são mitos pra vocês?
Platéia- Acho que mito é alguma coisa fantasiosa que a gente acredita que é
verdade, que pode ser verdade.
Ana Lúcia- Me dê um exemplo?
Platéia- Casar virgem, beijar na boca pode engravidar. É isto?
Ana Lúcia- Sim, você está certa. É por aí!!
Platéia- Quando a gente sabia de alguém que casou grávida, meu pai proibia que
a gente falasse com a garota.
Ana Lúcia- Exatamente, isto era uma coisa muita pesada, não? Então vamos
trabalhar, fazer o trabalho propriamente dito.Nós vamos montar três grupos, dois
vão mostrar os mitos que aparecem na sexualidade e um vai mostrar o que é real
que acontece em relação ao sexo, o que a gente pode acreditar de verdade. Então
vamos trabalhar os mitos e a realidade em cima da orientação que está sendo
dada na educação sexual de uma maneira geral. O nosso objetivo é identificar
estes mitos, verificar o que foi internalizado na época que vocês estavam com
suas famílias de origem, trabalhar com o grupo e tentar reconstruir formas mais
eficazes de lidar com o sexo na educação dos filhos. Acho que vamos tentar
educar pais e filhos, não?
Platéia- Acho que sim. Possivelmente.
Ana Lúcia- Os nossos egos-auxiliares vão ajudar vocês. Vocês vão montar uma
relação dos mitos, ou seja, o que realmente nos atrapalha a educar de uma forma
eficaz. Porque enquanto tudo isto está internalizado dentro da gente a gente, não
conseguimos educar de forma diferente. Nós vamos tentar colocar abaixo esses
mitos e vamos transformá-los em coisas positivas no trabalho de hoje. Pelo menos
tentar desconstruir alguns que nos atrapalham, ok!
Os grupos se reúnem. Grupo 1 - Mitos:
- Não pode lavar o cabelo enquanto menstruada ou na dieta, após o parto;
- Não realizar os desejos na gravidez faz a criança nascer com a cara de um
deles.
- Transar antes do casamento significa que a mulher é mulher da vida.
- Mulher tem que ser decente.
- O homem que se masturba muito fica com mais pelo na mão.
- Mulher não se masturba, isto é coisa para homem.
4) Dramatização
Ana Lúcia- Esses mitos são assim excelentes, não?Eu queria que o grupo fizesse
a escolha de que situação a gente vai dramatizar aqui. Não vai dar pra gente
dramatizar todas, vamos trabalhar algumas situações . Eu queria que um casal
viesse aqui para dramatizar esse mito e tentar derrubar o mito de que
masturbação é uma coisa que dá pêlo na mão, espinhas e aumenta o pênis.
Podem vir pra cá vocês dois.
Dramatização 1: Filho tem vergonha de falar com a mãe sobre masturbação. Ao
falar com o pai e perguntar se o pênis fica realmente maior, o pai nega, diz que é
invenção.
F- O que foi, pai? Porque você me chamou aqui tão escondido?
P- Porque eu não quero que sua mãe e sua irmã ouçam as nossas conversas.Eu
estou achando que você está ficando muito tempo dentro do banheiro, e eu sei o
que você está fazendo lá. Não esqueça de que seu pai é homem também.
F- Mas pai, eu posso tomar banho, não posso?
P- Tomar banho você pode, mas bater punheta, você tem que maneirar. Você dá
muito na cara. Olha tua irmã, filho.
F- Mas que caretice pai. Sabe o que eu queria saber ? É verdade que se a gente
bater punheta demais,o pinto fica muito grande? E a gente pode ter problemas por
causa disto?
P- Não filho, isto tudo é mito. As pessoas falam muitas coisas em relação a sexo.
Quando você tiver alguma dúvida , pergunte para o pai ou para a mãe.Não fique
tirando suas dúvidas com os colegas. Muitas vezes eles não sabem e falam as
coisas erradas.
F- Pai, mas você sabe de tudo sobre sexo? Que porreta você é, hein pai?
Platéia- Risos.
P- Não filho, sei algumas coisas, mas quando eu não souber vou me informar e te
falo, ok?
F- Tá bom pai!
Ana Lúcia- Quem gostaria de entrar no lugar deste pai? Vocês acham que ele
desconstruiu o mito?
Platéia- Não. Acho que ele deveria ter conduzido a conversa diferente.
Ana Lúcia- Quem gostaria de entrar no lugar dele pra fazer diferente?
Platéia- Pode ser uma mãe caracterizada de pai.
Ana Lúcia- Exatamente pode ser uma mulher no papel de pai. Vamos lá gente!
Ela vai tentar, vamos lá! Vem aqui o filho!
Platéia- Eu continuo no papel da mãe que vai se intrometer na educação do pai.
Ana Lúcia- Não, você vai fazer o papel de pai, porque ele (o filho) tem problema
de falar com a mãe, ele vai falar com o pai sobre isso. Você (apontando para o
filho) vai fazer a mesma pergunta, volta à fita. Entra no papel de filho, assim meio
angustiado, vamos lá!
Dramatização 1 com novo pai:
Pai explica que masturbação é algo normal, de acordo com a idade do filho, não
há nada de errado em praticar e que faz parte da descoberta da sexualidade. Filho
sai mais tranqüilo.
P- Filho, o que acontece? Não fique chateado de perguntar estas coisas.Acho que
dou bastante abertura para você falar comigo. Sabe filho, o meu pai nunca me
deixou perguntar nada de sexo a ele. Quando fui perguntar pela primeira vez,fiquei
muito nervoso. E como ele foi bastante duro comigo, nunca mais tive coragem de
perguntar nada. Falava que estas coisas não deveriam ser perguntadas dentro de
casa, principalmente na frente da mãe e das irmãs.
F-Certo pai, mas é errado me masturbar demais?
P- Não filho, pode fazer isto quando você quiser,mas faça no banheiro.Nunca na
frente de outras pessoas para se exibir. Evite ficar falando destas coisas na frente
da sua irmã de 6 anos. Ainda não é hora dela saber destas coisas.
Ana Lúcia- Então? Vocês acham que ele conseguiu desconstruir o mito ou não?
Platéia- Quase.
Ana Lúcia- Por quê? Qual foi a diferença, o que faltou? A informação é uma coisa
muito importante na educação da sexualidade, escutar as experiências, escutar as
dificuldades. Por exemplo, quando eu fui perguntar a primeira vez eu também
fiquei nervoso.O pai deste pai não foi facilitador. Mas vocês acham que ele foi
facilitador par desencadear um diálogo?
Platéia- Eu acho que sim. Ficou contando as coisas que aconteceram com ele.
Ana Lúcia- Quando nós atendemos o jovem no consultório percebemos isto: eles
têm muito medo de se mostrar, muito medo de atuar sexualmente porque eles não
sabem se a parceira vai gostar ou não. Eu tive o caso de um paciente,que tinha 16
anos, transou com uma menina que era muito diferente dele. Meio estranha, dizia
ele. Certo dia ela espalhou para a escola inteira que ele era “brocha”. Coitado,
privou-se da vida sexual por três anos com medo de desapontar outras parceiras.
Então para encurtar a história: ele saiu da escola e ficou realmente 3 anos sem ter
uma relação sexual. Então assim, essa coisa da primeira experiência sexual é
uma coisa muito importante e vocês podem conversar com os seus filhos para
ajuda-los a construir uma experiência tranqüila,prazerosa. O jovem ficar nervoso
nesta situação, acho que todo mundo fica. Vocês conversando com eles, ajudarão
a sentir-se mais seguros. Quando o filho tem uma abertura pra conversar, ele até
consegue conversar um pouco com a parceira, certo? Muito bom, mas tem que
desconstruir o mito aqui. Então vamos lá ,rapidinho, outro grupo. Vamos lá!
Ana Lúcia- (lendo os cartazes dos mitos):
- Cegonha.
- Que beijar engravida - E olha isso é uma coisa que a gente ouve garotos e
garotas perguntarem, certo? Porque eles até sabem que não engravida, mas o
mito existe.
- Menina só brinca com menina
- Masturbação causa espinhas
- Mulher tem horário para voltar para casa e homem não.
- Mulher namoradeira é mal-falada
- Menino que brinca de boneca é homossexual
- Menino que brinca com menina é gay
- Homossexualidade é uma doença
Ana Lúcia- Vamos lá! O tema vai ser homossexualidade agora.
Dramatização 2: Debate com os pais sobre homossexualidade: é ou não normal,
merece respeito, é direito de cada um escolher e ter essa como opção.
P- Filho, que história é esta que você conversou com a sua mãe sobre seu amigo
homossexual?
F- Sabe Pai, eu fiquei sabendo estes dias que meu amigo é homossexual, e ,
apesar de sempre dizer que não achava nada demais. Eu até me distanciei um
pouco dele, com medo dele me dá uma cantada.
Platéia- Risos.
P- Sabe filho, é muito importante respeitar os outros, o sentimento das pessoas,
as opções sexuais de cada um. Se você me perguntar se isto é normal, vou te
dizer que não, mas, é importante que a gente não seja preconceituoso.
F- Mas pai, eu não aceito homem transar com homem.
P- Filho, não pense tudo isto só relacionando o lado sexual. Procure pensar nas
escolhas de cada um. O que é bom para mim,pode não ser bom para o outro.
Acho que ainda não se sabe se homossexualismo é uma doença,mas acho que o
homossexual é uma essa que deve ter alguns problemas para optar pelo
relacionamento com alguém do mesmo sexo.
F- Imagine que eu vivo saindo com ele para as baladas, e agora, como vai ficar?
P- Acho que você pode até diminuir as saídas com ele, mas afastar-se
completamente, pode parecer preconceito em relação ao teu amigo.
Platéia- Palmas.
Ana Lúcia- Vocês acham que desconstruiu o mito?
Platéia- Com certeza.
Ana Lúcia- Também achei a dramatização muito boa. Parabéns vocês dois (pais),
muito legal!
Ana Lúcia- O que acontece em relação à homossexualidade? Quando ele falou
não é uma doença, realmente não tem nada comprovado de que é uma doença.
Então, no consultório, a gente trabalha as conseqüências da homossexualidade
na vida das pessoas que fazem esta escolha. É uma opção sexual, as pessoas
escolhem porque têm algumas afinidades. Agora no outro grupo, a moça falou pra
gente. Ela trata o filho para que ele não se torne homossexual. Isso é uma coisa
que a gente tem que estar muito atento, olhar os comportamentos dos filhos, se
você percebe que tem alguma coisa que não está indo muito bem é importante
conversar. Não com a finalidade de evitar a homossexualidade, mas de orientá-lo
sexualmente. Por quê? Porque às vezes acontece. Na infância é muito comum
acontecer os jogos infantis que assustam muito os pais. As pessoas dizem: É
normal. É normal, mas não deixa o seu filho estar mostrando o bumbum pra todos
os meninos da rua. Os jogos infantis sexuais acontecem,mas é importante
orientar, estarmos atentos.
Platéia- Eu acho que a homossexualidade não é uma preferência. Eu acho que a
criança já tem a pré-disposição, quando ela nasce.
Ana Lúcia- Esta é uma questão bastante polêmica ainda. Muitas pesquisas,
muitos estudos ainda estão sendo feitas. Então é assim a gente trata o
homossexual adolescente e adulto,eles tiveram uma escolha sexual. Quando se
refere a uma criança é importante não ficar obcecado pela idéia de que a criança
vai ser gay. Na hora certa comecem a orientar e falar de sexualidade. Por
exemplo, esta criança pode ter tido alguns sintomas homossexuais na infância,
mas não desenvolveu uma homossexualidade: ele gostava de brincar de boneca,
ele gostava de brincar com menina . Os pais ficam apavorados. A partir do
momento que ele pode escolher, ter uma opção sexual a orientação é muito
importante. Por isso a gente orienta: é importante você estarem atentos ao que
está acontecendo com seus filhos, é importante você pode ir direcionando,
conversando, entenderam?
Platéia- Porque eu conheci um garoto e esse menino desde pequeno
demonstrava aquela pré-disposição a ser menina, sei lá, brincava com menina e
não queria saber de brincar com menino. Foi para a escola, e a própria escola o
mandou várias vezes para o psicólogo e ele voltava... Depois quando ele tinha
uns 12, 13 anos, descobriu que era homossexual. Então é desde criança.
Platéia- Esse ano foi um ano em que esse lado homossexual foi bastante
assumido pelas meninas e pelos meninos, não é? Inicialmente aqui a dança era
um espaço onde só as meninas podiam dançar. De dois anos para cá , os
meninos começaram a participar da dança, por quê? Havia um valor de que os
meninos que dançam são gays, não é? Então os meninos começaram a participar,
não só na dança, mas também na própria apresentação. Este ano houve vários
fatores, mas eles se sentiram mais à vontade para estar assumindo este lado. Há
um enorme preconceito: os próprios jovens na aceitação, e também, junto a
equipe de profissionais que muitas vezes lidam de forma preconceituosa e
inadequada em relação a este tipo de coisa. Agora nós vimos aqui também
jovens que estão testando a própria sexualidade. Eu tenho ouvido falar de jovens
que namoraram meninas e agora estão super próximos com outros meninos e
meninas também estão assumindo isso. Agora não há, por parte do projeto,
chamar esses pais e conversar sobre isso, por quê? Porque se no nosso
entendimento são escolhas sobre o que eles estão fazendo, é preciso que os pais
saibam para orientar. Agora o que nós estamos fazendo o tempo todo aqui é
levantar a bandeira da desconstrução desses mitos frente ao respeito pela
diversidade. Tem que ficar claro que se você chama uma família é para que? Que
existe um problema... Ela está perguntando o que a escola faz quando chama a
mãe, a família e diz: olha, seu filho está apresentando este e aquele
comportamento, se isto é certo ou é errado.
Lígia (ONG)- O trabalho que nós fazemos com os pais está relacionado à família
também. Quando percebemos que a criança ou adolescente começa a apresentar
algum problema, nós convocamos os pais.E fazemos acompanhamento de cada
caso, separadamente.
Ana Lúcia- Vamos continuar.
Ana Lúcia- Agora vamos ler a produção que o grupo fez para mostrar a realidade
(cartaz):
- Não precisa se casar virgem.
- Masturbação faz parte da vida da criança.
- É preciso orientar os filhos sobre as DSTs e AIDS.
- A homossexualidade existe.
- Sexo é prazer.
- É necessário orientar os filhos sobre métodos anticoncepcionais.
- Ensinar colocar preservativos.
Lígia (ONG)- O que os pais pensam ou sentem em relação ao sexo é importante
passar para os jovens. É ter uma atitude de ouvir, de escutar, de sai. Será que
isso, de alguma forma, não acaba entrando pela linha do preconceito? Nós temos
um cuidado muito especial de criar um contexto onde isso seja respeitável. Então,
nós não admitimos aqui um desrespeito nas relações entre eles. Somos a favor do
respeito pela diferença, isso é uma exigência.
Ana Lúcia- Muito importante esta intervenção da Lígia.Isso é o que eu acho mais
importante: é a gente se colocar e ter um posicionamento. Eu, particularmente,
não tenho preconceito e sou a favor de que temos que respeitar. Como aquele pai
na dramatização: tem que respeitar as diferenças, certo?
Ana Lúcia- Vamos fazer a última dramatização.
Dramatização 3:
Ana Lúcia- você vai ensinar ao seu filho a colocar um preservativo. E para isto
nós temos aqui... (um pênis de borracha). Pai ensina filho a pôr e retirar a
camisinha.
P- Filho, eu gostaria de te ensinar a colocar uma camisinha!
F- Mas pai, eu já sei colocar.Em que mundo você acha que eu estou?
Platéia- Risos.
P- Eu sei filho, mas não custa nada você me ouvir.
F- Tá bom, tudo bem , eu quero que você me ensine.
P- Então olhe este pênis... Que pintão!!!
Platéia- Risos.
P- Agora filho, vou colocar esta camisinha neste pênis.
P- Primeiro você tem que pegar a pontinha da camisinha e torcer assim para que
o ar não entre e depois você possa tirar com facilidade.
P- Você coloca ela no pênis com cuidado para que fique bem colocada e não
tenha chance de escorrer esperma por estar mal colocada.
F- Mas, é verdade que a camisinha pode furar?
P- Pode, mas dependendo da marca que você use, torna-se mais difícil furar.
P- Você tem alguma dúvida?
F- E depois, o que fazer?
P- Depois de ejacular, sem o pênis está mole, você precisa tirar com cuidado,
pode jogar o esperma na privada e é bastante higiênico colocar a camisinha
enrolada num papel para jogar fora no cesto de lixo.Palmas da platéia.
Platéia- Muito bom, eu acho que foi muito bom. Tem alguma coisa errada?
Ana Lúcia- Na verdade, você disse que o pênis está mole quando você tira a
camisinha. Normalmente quando o homem ejacula o pênis não perde a ereção
logo. Ele ainda fica ereto por um tempo. Não vão dormir com o bichinho lá dentro,
certo! Por favor, ensinem para os filhos, senão eles vão dar uma relaxada e
esquecem. Isto é importante.Podem perguntar, como é que a gente vai fazer isso
com um pênis de borracha? Precisa pegar um pênis artificial para ensinar o filho?
Não. Você pode usar os dedos, e mostrar, você pode usar algum objeto
pontiagudo, certo? E coloca sem muita conversa, sejam bem diretos, vai
explicando as dúvidas. Nós trazemos o pênis para que a coisa fique mais real.
Isso é uma coisa normal. Alguém aqui já não viu um pênis? Então, todo mundo já
viu, nem que seja do filho, não é? Quem não é casado já viu em filme, essas
coisas, então, isso a gente tem que levar com uma naturalidade, certo? Vamos lá
gente, vamos concluir. Na verdade, o nosso trabalho agora vai ser assim: o
importante nesse trabalho de hoje é a desconstrução desses mitos. É você olhar
para trás, lembrar do que viveram na sua sexualidade, pensar que podem ter
valores e comportamentos diferentes hoje. É importante você educar falando de
sexo como uma coisa natural.
Ana Lúcia- É desconstruir tudo isto que a gente recebeu da família de origem que
podem não ser orientações ruins, mas ficaram para trás. Já falamos anteriormente
que a gente precisa se atualizar. Então esse grupo do meio fica neste lugar. A
frase-piloto é a frase da realidade: Abertura da relação com os filhos e a
desconstrução vai ser em cima de “sexo sem pecado, com consciência,
responsabilidade e amor” e a outra: “sexo é natural e informação é essencial”.
Vamos lá todo mundo!
Platéia- Sexo sem pecado, com consciência, responsabilidade e amor” e “sexo é
natural e informação é essencial”.
5) Comentários
Platéia e Ana Lúcia (em coro): Abertura da relação com os filhos. Sexo sem
pecado, com consciência, responsabilidade e amor. Sexo é natural e informação é
essencial. Abertura na relação com os filhos.
Ana Lúcia- Vamos falar mais alto para que todo mundo possa ouvir.
Platéia e Ana Lúcia (em coro): Abertura da relação com os filhos. Sexo sem
pecado, com consciência, responsabilidade e amor. Sexo é natural e informação é
essencial. Abertura na relação com os filhos.
Ana Lúcia- Mais uma vez, podem gritar mais alto.
Platéia e Ana Lúcia (em coro): Abertura da relação com os filhos. Sexo sem
pecado, com consciência, responsabilidade e amor. Sexo é natural e informação é
essencial. Abertura na relação com os filhos.
Platéia- (aplausos)
Ana Lúcia- Essa frase ficou muito boa, é o que a gente deseja que vocês façam
hoje: é a abertura do canal de comunicação com os filhos, com os netos, com os
sobrinhos conversar mais, procurar mais os filhos. Vamos fechar o trabalho
agora.. Queria que vocês dissessem com uma única palavra, como vocês estão se
sentindo agora.
Platéia- Mais informados, mais segurança para falar, com mais liberdade para
falar, com mais consciência para falar, mais tranqüila, com menos medo de falar,
mais conhecimento, com mais experiência, sem vergonha (no bom sentido), perdi
a vergonha de falar, com menos pudor, deixando de ouvir o que minha mãe falava
sempre e construindo um outro tipo de diálogo com meus filhos.
Ana Lúcia- Gente, olha o grupo de vocês é sempre muito bom, certo? O pessoal
que veio hoje pela primeira vez, pode voltar neste horário porque esse grupo
também é muito bom. Eles conseguem construir coisas boas, muito legais. Eu
queria agradecer vocês pela presença, ao Rogério, à Ana Paula, à Carol, à
Jussara e ao Anselmo e a gente espera contar com vocês na próxima reunião em
agosto, ainda não tenho a data definida, possivelmente no 3º sábado do mês.
Platéia- Pode acreditar que nós estamos aproveitando muito este trabalho, e
esperamos que ele continue sempre.
Ana Lúcia- Obrigada pelo desempenho no trabalho de hoje.
Platéia - Obrigada.
Sociodrama V
Local: ONG - São Paulo- SP
Data: 20/08/2005.
Tema: Insegurança na infância e na adolescência.
População: 54 pais de classe média/baixa, nível instrução ,1º grau incompleto ,
completo e 2º grau completo e incompleto, filhos de 0 a 18 anos, quatro
psicólogos e uma assistente social.
1)Introdução:
Ana Lúcia - Boa tarde a todos!
Ana Lúcia- Hoje vamos dar continuidade ao trabalho educativo com os pais desta
Associação, com um tema bastante interessante , e que sempre desperta um
grande interesse por parte dos pais: insegurança na infância e na adolescência.
Na realidade já fizemos um Sociodrama Construtivista com este tema aqui, mas
como o número de pais é grande resolvemos fazer novamente.Este trabalho é
uma seqüência do trabalho que fizemos sobre limites. Vamos trabalhar no
Sociodrama Construtivista de hoje, tanto o limite da criança quanto dos
pais.Vamos conversar sobre o comportamento dos pais desenvolvendo o papel
parental, e de que forma possibilitam o desenvolvimento da autonomia dos filhos
no processo de educação. Este grupo está muito semelhante ao do mês passado.
Quem está aqui hoje e não veio na reunião passada?
Platéia- 6 pais levantaram as mãos.
Ana Lúcia- Mas antes de nós começarmos, gostaria de pedir a autorização de
vocês para filmar e fotografar este trabalho. É um trabalho que estou
desenvolvendo para a minha tese de Mestrado e a filmagem e fotografia serão
utilizadas para fins científicos. Tudo bem para vocês?
Platéia- Todos aceitaram a filmagem e fotografia.
Ana Lúcia- No final do trabalho vamos entregar um papel onde vocês deverão
assinar esta autorização, ok?
Platéia- Tudo bem.
Ana Lúcia- Vocês conhecem o trabalho do Sociodrama?
Platéia- Sim, a gente já participou do primeiro. Eu já participei com o outro grupo
sobre sexualidade.
Ana Lúcia- Então todos já conhecem a maneira como o trabalho é conduzido?
Platéia- Sim, nós já conhecemos.
2) Aquecimento Inespecífico
Ana Lúcia- Hoje nós vamos usar uma música que utilizamos no Sociodrama de
Limites, para que a gente possa fazer uma reflexão em cima dela. É uma música
da Declaração dos direitos da Criança e do Adolescente e que foi escrita pelo
Toquinho.
Para vocês se aquecerem, é importante que ouçam a música pensando em sua
família de origem, procure lembrar como seus pais iniciaram o processo de
educação com vocês. O que eles ensinaram, como eles se comportavam, e como
você respondia a tudo isto. Este é um momento de reflexão.
Egos Auxiliares entregam a música escrita para todos os participantes.
Música: “Errar é humano”. Toquinho
A criança tem direito de ser compreendida, deve se desenvolver em condições de
igualdade e de oportunidades com a liberdade e dignidade.”
Não, não é vergonha não você não ser o melhor da escola, o bom de skate o bom
de bola ou de natação.
Não, não é vergonha não aprender a andar de bicicleta, se estourando em outra
mão
Não, não é vergonha não, você não saber a tabuada, pegar uma onda, contar
piada, rodar pião.
Não, não é vergonha não, precisar de alguém que ajude a fazer sua lição.
A vida irá, você vai ver, aos poucos e o certo é você aprender errando, errando...
Não, não é vergonha não, ser da rua o mais gordinho, ter pernas tortas, ser o mais
baixinho ou grandalhão.
Não, não é vergonha não, você sempre tem algum defeito não existe a perfeição.
A vida irá, você vai ver aos poucos diz não, que o certo é você aprender errando,
errando, errando... (repete as estrofes anteriores: Não, não é vergonha não...)
Ana Lucia- O que vocês sentiram quando ouviram esta música?
Platéia- Eu fiquei arrepiada. Parece que fizeram esta música para mim quando
era criança. Eu me preocupava com tudo, achava que não sabia nada.
Platéia- Eu vivi também muita coisa assim. Eu acho que minha mãe era muito
insegura. Ela não deixava a gente fazer nada, tinha medo de tudo. Eu cresci com
muitos medos também. E você sabe que eu também passo estes medos para
minhas filhas. Não deixo elas fazerem nada. Da mesma forma que a minha mãe.
Ana Lúcia- Que depoimento intenso,hein! Para você deve ter sido muito pesado
chegar nestas conclusões. Quem mais gostaria de falar alguma coisa?
Platéia- Eu me preocupo muito porque minha filha é muito insegura, e nos dias de
hoje, quem é assim tem muita dificuldade. Ou melhor, acho que sempre foi assim.
Ana Lúcia- Tentem falar com uma única palavra, qual o sentimento que a música
desperta em vocês?
Platéia- Medo de ser igual a minha mãe; pena de minha filha; insegurança; medo
de errar; desafio; preciso aprender mais; tristeza; desespero.
Platéia- A gente realmente repete tudo o que aprendeu com nossos pais,não? O
que é que você acha disto?
Ana Lúcia- O nosso trabalho está centrado no estudo destas repetições. Acredito
que repetimos bastante o que aprendemos com nossos pais; mas acredito
também que algumas coisas nós podemos repetir, e outras precisamos atualizar.
Por exemplo: eu fui criada numa família onde não se falava em sexo com os filhos.
Como você acha que faço Sociodramas sobre sexualidade, atendo pacientes com
dificuldades sexuais e converso bastante sobre isto? Procurando me atualizar,
estudando, participando de encontros como este aqui. Tudo é um aprendizado
com o objetivo de uma reconstrução dos nossos valores.
Platéia- Isto é importante, não? Mas a gente não se preocupa com isto, não é?
Muitas vezes fazemos estas repetições achando que estão certas , e as coisas
não funcionam.
Ana Lúcia- Tem razão, muitas vezes podem não funcionar.E sabem por que?
Porque os tempos mudaram, os jovens estão mais ligados , mãos independentes.
Já não aceitam tudo.
Platéia- Tem razão, os tempos mudaram, e muitos de nós ainda não mudou.
3)Aquecimento Específico
Ana Lúcia- Vocês vão receber uma folha de papel e nela desenhar uma situação
que tenha sido muito marcante na sua infância ou adolescência, que tenha
deixado algum trauma que você lembra até hoje.
Ana Lúcia- Vocês vão se dividir em três grupos e deverão escolher apenas uma
situação para que seja trabalhada na dramatização. Os egos auxiliares ficarão nos
grupos para ajudá-los. Depois que vocês escolherem a situação, montem a
dramatização, e , no final, façam uma frase de encorajamento para ajudar uma
pessoa que está dentro de uma situação parecida com esta que foi escolhida.
Os grupos trabalharam durante 20 minutos com os egos auxiliares e montaram o
que foi solicitado.
4) Dramatização
Ana Lúcia- Bom gente, agora que vocês terminaram, vamos iniciar a fase da
dramatização.
Ana Lúcia- O primeiro grupo, qual a situação escolhida?
1º grupo: Uma criança ( 8 anos) insegura apesar de ser superprotegida pelos
pais.
P- Filha , estou indo à farmácia, você gostaria de ir comigo?
F- Eu sou pai, me espera um pouco.
Narrador- Quando chegaram na farmácia tinha uma mendiga na frente , e a
criança ficou atenta para os movimentos daquela mulher.Foi até ela e começou a
conversar. O pai que tinha entrado na farmácia, viu que a menina ficou lá fora.
Voltou correndo, e disse:
Narrador- Chegando em casa, o pai contou tudo o que aconteceu para a mãe.
Ela, de uma maneira histérica, falou para a garota.
M- Filha, quantas vezes eu preciso dizer que você tem que andar grudada na
gente. Olha, olha, se alguém te roubar um dia, vai ser muito difícil a gente
encontrar. Minha mãe sempre falava que filho tem que andar grudado na mãe.
Antigamente era assim, imagine hoje com toda esta violência.
F- Ta bom, mãe. O pai já falou isto mais de dez vezes para mim.
Narrador- E a partir daí a criança vivia grudada nos pais. Aos 16 anos, os pais
precisaram procurar ajuda de um profissional porque a menina não conseguia
nem ir ao banheiro sozinha.
Ana Lúcia- Nossa, que loucura, hein! Palmas para o grupo. Aplausos da platéia.
Ana Lúcia- O segundo grupo agora. Quem vai começar a dramatização?
2º grupo: Relação de um garoto de doze anos com os pais que também foram
superprotegidos pelos pais e tentam fazem o mesmo movimento com o filho.
Desde bebe este garoto dormiu entre os pais. Não conseguia em na casa de
amigos para dormir, não freqüentava os acampamentos da escola.
P- Filho, acho que você já está muito grandinho para dormir entre a gente. Você
não acha?
F- Mas pai, eu não consigo dormir sozinho. Você sempre deixou eu dormir na
cama de vocês. Por que agora você quer que eu durma sozinho?
P- Mas filho, você precisa começar a aprender a dormir sozinho, portanto, a partir
de hoje você vai dormir na sua cama.
Narrador- E o pai cumpriu o prometido. À noite não deixou que ele dormisse com
o casal. A criança passou a noite inteira chorando em seu quarto e os pais não
perceberam, E no dia seguinte disseram:
M- Nossa filho, que legal, você percebeu que conseguiu dormir a noite inteira. Que
legal!!
Narrador- E a criança ficou calada, não quis dizer tudo o que havia acontecido à
noite.E um certo dia, os pais forma chamados na Escola para conversar.
Coordenador- Gostaríamos de saber o que está acontecendo com seu filho que
ele tem dormido na maior parte das aulas?
P- Nossa, mas não sabemos. Ele em casa está muito bem. Não estamos
percebendo nada diferente.
M- Acho que pode ser que ele esteja cansado. Sei lá! Não tem motivo para está
cansado, está fazendo menos esporte do que no ano passado. Não sei, mas
vamos perguntar a ele.
Narrador- Chegando em casa...
P- Filho, nós fomos chamados na Escola porque você tem dormido em quase
todas as aulas, isto é verdade?
F- (gaguejando) Não pai, isto não é verdade, e correu se trancando no quarto.
Narrador- A partir daí, o filho trancou-se no seu mundo. Foi muito difícil para os
pais tentar ajudá-lo em todas as dificuldades que tinha. Até hoje é uma pessoa
insegura, que não consegue tomar decisões sozinho...
Ana Lúcia- Bom exemplo, palmas para o grupo. Aplausos da platéia.
Ana Lúcia- Vamos agora fazer a dramatização do terceiro grupo. Vamos lá?
3º grupo: Adolescente insegura pelo fato da mãe tomar decisões para ela
sempre.
F- Olá mãe, hoje é o aniversário da Fê, eu vou com a Claudinha, tá legal?
M- Não filha, liga para ela e diga que a mamãe te leva, ok!
F- Mas mãe, eu queria ir com ela ,porque vai a maior galera. O caro dela é grande
e vamos umas sete pessoas. Vai ser bem legal.
M- Filha, já te falei, eu te levo!!
Narrador- A filha era tão insegura que sempre perguntava as coisas para a mãe.
F- Mãe, esta roupa preta está bonita?
M- Imagina filha, você esta parecendo uma pedinte.Não que eu tenha nada a ver
com pedinte, mas está horrível. Deixa-me ver uma roupa legal para você ir à festa
.
F- Mas mãe....
M- Não tem nada de mas....Esta roupa está apropriada para esta festa. Já te falei
que você não sabe se vestir direito. Eu vou sempre te ajudar.
Narrador- E situações como esta aconteceram sempre, fazendo com que a garota
tivesse receio de começar a tomar decisões sozinha.
F- Mãe, que roupa você acha que eu posso ir para a balada?
F- Mãe, como você acha que é melhor eu fazer a maquilagem?
F- Mãe, Você acha que o Serginho é legal para eu namorar?
Narrador- E a mãe tomava todas as decisões por ela, sempre!!!
Ana Lúcia- Outra situação muito boa!! Palmas para eles. Aplausos da platéia.
Ana Lúcia- O que mais chamou a atenção de vocês nas três dramatizações?
Platéia- Eu acho que foram situações diferentes. O primeiro exemplo mostrou que
o medo da mãe, talvez por ela ter sido criada assim, fez com que a criança
desenvolvesse insegurança.
Platéia- É interessante, a gente só percebe o que está fazendo errado vendo
coisas semelhantes ao nosso comportamento. Acho que só assim cai a ficha.
Platéia- Vejam , a coisa é sempre com a mãe. Os três exemplo foram voltados
para os comportamentos e as neuras das mães. É sempre assim?
Ana Lúcia- Não, sinceramente não. Acho que isto foi uma coincidência!! Existem
situações onde o pai é que evidencia esta insegurança, muitas vezes por
superproteção.
Ana Lúcia- Eu orientei o grupo anterior sobre algumas questões interessantes. O
apego que nós, pais, desenvolvemos com nossos filhos é importantíssimo para o
desenvolvimento deles. É importante que os pais entendam que a autonomia é
uma característica que pode ser conquistada durante o desenvolvimento da
criança ou do adolescente. Para que isto aconteça, é necessário que os pais
permitam. Quando nós ficamos preocupados demais para que o filho não sofra,
muitas vezes a gente impede que ele desenvolva o sentimento de resistir às
frustrações. É isto aí, resistir às frustrações é um exercício bastante difícil no
decorrer do desenvolvimento. A gente conhece até adultos, de todas as idades,
que ainda não conseguem resistir bem às frustrações.No consultório,
principalmente, a gente tem muito contato com pessoas assim, que nos procura
para tentar minimizar estes traços.
Platéia- Quer dizer que a gente tem que deixar os filhos sofrerem?
Ana Lúcia- Não é bem assim, eu quis dizer que a gente não pode tirar todas as
dificuldades da frente deles. Muitas vezes é necessário deixá-los vivenciar estas
dificuldades.
Ana Lúcia- Bom, agora nós vamos tentar reconstruir o comportamento de um pai
que está diante de um filho inseguro, OK! Quem gostaria de ser o pai, a mãe e o
filho? Vamos, !!! Querem que eu escolha é?
Em seguida, três elementos do grupo apareceram como voluntários.
Ana Lúcia- Agora, vocês vão tentar fazer uma das três dramatizações, tentando
fazer o papel dos pais de maneira que a gente perceba que é a melhor forma para
tratar o filho e ajuda-lo. Qual das ter dramatizações o grupo prefere?
E o grupo escolheu a terceira dramatização. Aquela que a filha ficou totalmente
dependente da mãe porque ela não a deixava fazer nada, nem mesmo fazer as
suas escolhas.
M- Filha, vamos ao Shopping porque preciso comprar umas coisinhas?
F- Vamos mãe, eu também preciso comprar algumas coisas para mim.
Narrador- Chegando ao shopping, as duas iniciam a maratona de compras.
F- Mãe, o que você acha deste vestido, você gosta?
M- É você quem tem que gostar, filha! Você gosta? Experimenta!!
F- Mas, você acha bonito?
M- Acho muito bonito,mas quem tem que decidir se quer comprar é você. Sabe
filha, eu adoro te ver escolher as coisas. Eu sinto que você fica preocupada em
fazer as coisas legais para você, com convicção. Isto é maravilhoso!!
Ana Lúcia- O que vocês acharam desta dramatização?
Platéia- Foi muito legal!! Mas às vezes fica muito difícil fazer isto. Dependendo
dos nossos medos, das nossas vivencias anteriores. Como é difícil mudar o
comportamento.
Platéia- Às vezes a gente é meio neurótica mesmo. E é preciso a gente parar, se
temos a intenção de mudar. Eu tenho percebido, desde que comecei a vir nestas
reuniões, que para mudar é preciso parar, pensar nos comportamentos e agir de
maneira diferente. Sempre fui muito impulsiva e era difícil mudar.
Platéia- É interessante como a gente produz na cabeça uma idéia errada sobre
educar os filhos. Na minha casa sempre tentaram me superproteger,então, hoje
faço isto também com meus filhos. E eu achava que estava certa!!
Ana Lúcia- Não é que você está errada, mas pense bem, autonomia está ligada
diretamente a superproteção? Se soubermos que é importante a criança começar
a desenvolver independência e autonomia, como é que nós vamos continuar a
super protegê-la?
Platéia- Isto realmente é muito interessante.
Ana Lúcia- Bom gente, para terminar gostaria que todo o grupo montasse uma
única imagem (aquela que parece uma estátua, sem movimento), que simboliza a
relação de pais diante de uma criança insegura.
E o grupo montou a imagem de uma criança vestida com um tecido vermelho, de
frente para os pais, acenando com a mão direita e chamando-os para ver alguma
coisa. Os pais estavam de mãos dados, vestidos com tecido de cor clara,
semblantes tranqüilos, fazendo o gesto de que ela poderia ir sozinha.
Ana Lúcia- Que linda a imagem!! Muito legal mesmo!! O que vocês acharam?
Platéia- Nossa, eu achei que ficou bem legal, aquela coisa que a gente
falou o
tempo todo aqui hoje: vamos deixar os nossos filhos sentirem-se mais seguros. Se
eles perceberem que a gente está estimulando isto, eles tentarão fazer alguma
coisa por eles mesmos.
Platéia- Acho que realmente vocês plantaram uma sementinha no coração da
gente. Estou saindo daqui hoje, com a percepção de que preciso fazer algumas
mudanças. Eu sou muito superprotetora.
Platéia- Temos realmente que perceber que não podemos criar nossos filhos da
mesma forma que fomos criados. Os tempos são outros e as necessidades
também.
5) Comentários
Ana Lúcia- Precisamos realmente concluir porque estamos com o tempo
estourado.Acho que o trabalho foi muito bom, mas gostaria que vocês agora, com
uma única palavra, dissessem o que estão sentindo com a finalização dele.
Platéia- Gratificada; cheia de esperanças; sem medo de mudar; reconhecendo a
necessidade de mudança; ainda um pouco temerosa,mas confiante; segura para
mudar alguma coisa; esperançoso; confiante e seguro; em paz.
Ana Lúcia- Bom gente, gostaria que vocês retornassem no próximo trabalho e
que a gente possa dar continuidade à este ciclo de Sociodrama para ajudá-los a
repensar o papel de vocês de pais e tentar reconstruir aquilo que vocês julgarem
necessário.
Ana Lúcia- Boa Noite a todos.
Platéia- Boa noite!!
Sociodrama VI
Local: ONG - São Paulo- SP
Data: 16/10/2005.
Tema:.Drogas na infância e na adolescência.
População: 64 pais de classe média/baixa, nível instrução ,1º grau incompleto ,
completo e 2º grau completo e incompleto, filhos de 0 a 15 anos, quatro
psicólogos e uma assistente social.
1)Introdução:
Ana Lúcia - Boa tarde a todos!
Platéia- Boa tarde!!
Ana Lúcia- Meu nome é Ana Lúcia Castello, eu sou psicóloga clínica,
especializada em terapia de casal e eu desenvolvo um trabalho com pais. Vou
precisar me apresentar novamente, toda a equipe, e o tipo de trabalho que vamos
desenvolver, porque hoje nós temos mais de cinqüenta pais novos que acabaram
de chegar. É gente, entraram mais de mil e quinhentos jovens nesta nova seleção.
Sou mestranda pela PUC-SP e meu trabalho de pesquisa está centrado na
orientação de pais. Exatamente este trabalho que nós vamos fazer hoje, que é o
Sociodrama. Eu não trabalho sozinha, trabalho com uma equipe que hoje está
desfalcada: Ana Paula que é uma das integrantes da equipe está doente e não
pôde vir, a Jussara, que é assistente social, o Anselmo que é psicólogo e a Ana
Carol que não está aqui no momento, ela vai trabalhar conosco, que também é
psicóloga. Eles são meus egos auxiliar, irão nos ajudar durante todo trabalho. Nós
vamos desenvolver um trabalho diferente, não é uma palestra. Eu queria explicar
pra vocês primeiro a essência desse trabalho para que vocês saibam mais ou
menos o que vai acontecer. Alguém já ouviu falar em Sociodrama?
Platéia- Eu já participei de um na empresa que trabalho sobre Aids.
Ana Lúcia- Que bom, então você vai nos ajudar também hoje, ok! Então quem
não conhece o Sociodrama terá oportunidade de conhecer hoje? O Sociodrama
é uma técnica que a gente utiliza que tem raízes no Psicodrama, que é uma
técnica terapêutica que foi utilizada por Jacob L. Moreno. O Moreno era um
médico, psiquiatra, uma pessoa muito excêntrica, ele achava que pelo fato do
indivíduo ter nascido em grupo, que é o grupo familiar, ele seria mais bem tratado
terapeuticamente em grupo também. Então ele começou a trabalhar em grupo nas
praças públicas, em presídios, em vários locais. O Moreno na época recebeu
muitas críticas por este trabalho, mas hoje, principalmente aqui no Brasil, o
Psicodrama e Sociodrama está sendo bastante utilizado. Como eu falei pra vocês
eu desenvolvo Sociodrama com grupos de pais, só grupos de pais, com temas
específicos. Aqui nós já fizemos Sociodramas de vários temas. Como vocês estão
entrando agora a gente vai iniciar o tema “drogas”, que é um tema hoje
extremamente polêmico, que se fala muito, está na mídia, e que a gente pode vê
do lado da gente. Vamos dar uma parada para falar sobre isso. Mas voltando
para o Sociodrama. Neste trabalho trabalhamos o grupo com os recursos do
próprio grupo, podemos utilizar situações do teatro através das dramatizações.
Então seria assim, no Sociodrama você pode desempenhar um papel, fazer de
contas que é uma outra pessoa,ou seja, eu sou Ana Lúcia, tenho 47 anos, duas
filhas e sou casada. Aqui eu posso ser uma adolescente de 15 anos que uso
drogas, por exemplo. Então no Sociodrama temos a permissão para desempenhar
papéis. Logicamente que no começo vocês vão ter um pouco de dificuldade, mas
nós vamos ajudar vocês neste processo. Entenderam mais ou menos?
Platéia- Acho que sim, mas é melhor a gente tentar trabalhar e a medida que as
dúvidas forem aparecendo você nos ajuda.
2)Aquecimento Inespecífico
Ana Lúcia- Ok! Antes de começarmos o trabalho preciso pedir a autorização de
todos para que este trabalho seja filmado e fotografado, eu preciso da autorização
de vocês por escrito. Com o objetivo de que eu possa colocar tudo no meu
trabalho de pesquisa . Então eu gostaria de saber se alguém daqui tem alguma
objeção, porque se uma pessoa tiver a gente pára de filmar. Eu prometi, eu e a
Lígia, que a gente não vai mandar pra Globo! Tudo bem? Alguém tem alguma
objeção da filmagem? Vocês vão ter oportunidade mais para frente se a gente
fizer o nosso trabalho que às vezes eu pego fotos dos trabalhos e coloco e a Lígia
também.Então é assim, é mais pra gente estar registrando esse momento.
Platéia- Tudo bem, sem problemas, eu não me importo.
Ana Lúcia- Quando vocês receberam um convite para estar participando desta
palestra sobre drogas o que veio na cabeça de vocês? Queria que vocês
passassem um pouco que emoção você sentiu, que sentimento, que
preocupação?
Platéia- Nós também trabalhamos para ajudar os funcionários dentro da firma, eu
participei e me interessei muito. Pensei que se fosse fora do horário de trabalho eu
ia participar da palestra em grupo. Então eu aprendo muito, desde coisas que eu
aprendi com psicólogas , com as próprias pessoas fazendo cena. Da palestra
sobre droga que eu tive me trouxe bom resultado graças a Deus. Eu já não
gostava disto, mas não ficou só pra mim, ficou para eu divulgar para as pessoas
da minha comunidade, para os meus filhos em casa. Eu tenho conhecimento
sobre como faz a droga, só que eu não utilizo, sabe por que? Para não prejudicar
ninguém. Mais ou menos um ano atrás eu vi um negócio interessante, sempre um
alerta para os pais onde eu via jovens mandando colocar cocaína dentro da coca
de 2 litros, para viciar as pessoas. Jogava o conteúdo na pia e colocava a droga,
fazendo com que a criança se viciasse em droga, infelizmente a pessoa que fazia
isso aí morreu com 21 anos na porta da casa dele. Mas é para os pais ficarem
muito alertas se verem as crianças tomando alguma coisa, ficar atento se não tem
alguém misturando alguma coisa. Eu fiquei muito feliz, mas preocupado,porque se
estão fazendo palestras e mais palestras é porque a questão das drogas está
piorando.
Ana Lúcia- Tá ótimo. Quem mais pode falar no sentimento ao receber este
convite.
Platéia- Medo, preocupação, sensação de mal estar de falar sobre uma coisa tão
perigosa.
Ana Lúcia- Gente, nesse momento eu queria que vocês dissessem para a gente
um sentimento, não queria que vocês falassem muito. Falem com uma só palavra
o sentimento. São muitos pais, então vamos tentar ser um pouco mais objetivos,
tá bom? Vamos lá! Então quem mais gostaria de falar do primeiro impacto quando
recebeu o convite pra esse tipo de palestra?
Platéia- Eu gostei bastante porque é uma coisa que me preocupa muito. Minha
filha tem 14 anos.E ela é uma menina muito esperta. Graças a Deus até agora ela
falou que não tem interesse porque ela convive com uma turminha que eu acho
que tem deles que usa. Ela falou que vai conviver, mas não vai querer.
Ana Lúcia- Certo. Quem mais? Vamos se soltando, vamos aproveitar esse
momento para a gente se soltar um pouco. Hoje a platéia está cheia de homens,
na última reunião tinha mais mulheres do que homens. Estou gostando de ver,
hein!
Platéia- Eu acho muito importante, inclusive eu cheguei a participar num colégio
para poder, junto com a diretora, eliminar uma funcionária que passava droga
dentro da escola para os alunos. Então isso é muito importante, a gente conseguiu
tirá-la, afastá-la da escola, porque ela estava passando a droga para os alunos
dentro da escola. Acho muito importante pra gente conhecer qualquer tema, para
a gente adquirir mais conhecimento para estar ajudando os filhos fora e dentro dos
Meninos do Morumbi.
Ana Lúcia- Tá ótimo. Bom, agora vocês vão ouvir em dois momentos, coisas
relacionadas a drogas. Primeiro o depoimento de uma jovem em recuperação do
problema de drogas. Os egos auxiliares vão desempenhar os papéis.
Aquecimento específico:
Dramatização 1 com ego auxiliar lendo um depoimento de uma usuária de cocaína
tentando uma recuperação.
“Comemoração em grande estilo. Festa com os amigos. E foi nesta maldita festa
que eu me embebedei e usei maconha pela primeira vez. Nossa, que viagem, tudo
era engraçado, muito engraçado. Passamos todos os dias a ter necessidade de
beber e fumar um beck. Na rua para te oferecer você tem muitos amigos, em
especial quando você tem dinheiro. E esse era o meu caso, meu pai tinha muito
dinheiro. Eu recebia a mesada e por ser única em casa, tenho mais dois irmãos,
era a preferida do papai . Meus pais não notaram a minha mudança, porque eles
eram um pouco distantes. Fumando maconha e bebendo quase todos os dias
depois da aula, conheci um garoto e com ele a felicidade: cocaína. Ele disse que
seria legal, que não viciava desde que eu me controlasse. Fui lá, cheirei. Nunca
tinha me sentido daquele jeito antes. Era um pó mágico e eu, já com 16 anos, era
uma alcoólatra e cocainômana. Três anos se passaram e eu me encontro no
mesmo estado deplorável, viciada em cocaína e álcool. Já tentei sair fora várias
vezes, com a ajuda da minha família, mas de nada adianta. Me considero um caso
perdido. Minha mãe sempre me pergunta onde a linda jovem loira, que sonhava
ser modelo, está? Havia me perdido e estava cavando a minha própria sepultura.
Foi a pior coisa do mundo ver os pais chorando por uma burrice feita pelos filhos.
Eu sofri muito durante um tempo em que tentava parar. Vomitava sem parar,
sentia dores insuportáveis pelo corpo, mas a dor que os pais sentem em ver um
filho assim é muito maior. Ainda viciada, resolvi dar meu depoimento para que
sirva de alerta a todos os jovens de boas idéias. Nunca usem drogas, nenhuma!
Todos se recuperam ou se recuperam notam é que perdemos nosso tempo
valioso, a nossa juventude, a vida. Façam um favor a si mesmos. Pode ficar longe
e nunca acredite que vai ser legal ou que você pára quando quiser. Eu quis parar,
mas o vício foi maior do que a minha força e agora vou muito a missas, converso
com o padre a esse respeito, vou ficar limpa um dia, se Deus quiser e se eu tiver
força o suficiente. Galera, curtam os prazeres da vida: freqüentem praias, baladas,
mas sem drogas. O prazer de viver é muito maior do que a droga oferece. Um
abraço a todos.”
Ana Lúcia- Vocês não vão falar nada ainda e vamos ver se este vídeo causa
algum impacto em vocês. Vocês vão ver a mensagem e tentem, quando vocês
estiverem assistindo, procurem sentir o que essas mensagens estão representam
pra vocês, certo?
Filme: Todas as cenas são exageradas para chocar a platéia.
- A cocaína dificilmente vicia e além de tudo eu só cheiro socialmente. Essa droga
não me controla, eu sei que eu sou muito mais forte do que a cocaína. Eu tenho
controle do que eu tô fazendo e além de tudo, eu paro quando eu quiser, não tem
erro. A cocaína não mata. A cocaína é uma mentira.
-Façam um seguro de vida para seus filhos. Fique atento ao que acontece dentro
da sua própria casa. A vida de seu filho pode estar em perigo. “Isso não vai dar
nem pra uma grama, vou dar uma geral lá em cima também” – garoto levando
coisas da própria casa para vender e conseguir droga. Diálogo, o melhor seguro
contra as drogas. Drogas, nem morto.
-É isso aí, eu uso drogas, mesmo e daí? Pra mim isso não é problema, é só de
vez em quando. Mesmo agora, por exemplo eu tô aqui, mas na hora que eu quiser
eu paro. Eu sei o que eu faço. Drogas, nem morto.
-Quem usa droga acaba não dando valor a mais nada e perde as coisas mais
caras da vida: respeito, amigos, família e não ganha nada em troca. Não use
drogas. O preço é alto demais. Drogas, nem morto.
-Rodrigo, 19 anos, ex-jogador de basquete, André, 20 anos, ex-sushi man, Bob 23
anos, ex-cantor de reggae, Patrícia, 16 anos, abandonou os estudos. Sérgio, 30
anos, ex-publicitário. Quem usa crack não estuda, não trabalha, não come, não
vive, só vegeta. Drogas, nem morto.
-Grande liquidação de neurônios, aproveite! Comprando agora nossos produtos,
você se transformará num imbecil fumado, um idiota cheirado ou mesmo um débil
mental ficado. Mande todo o seu dinheiro agora, depois o do seu pai, da sua mãe
e de quem mais você conseguir. Não tem dinheiro para drogas? Que vergonha!
Nós aceitamos toca-fitas, relógios, tênis, use drogas! Você só não será um
jumento perfeito porque ninguém é perfeito! Seja burro, use drogas!
- E aí? Vamos acender um?
- Opa tá na mão. Você quer Maria?
- Não, tô na boa.
- Ah! Maria só um pega vai?
- Não.
- Ah Maria deixa de ser careta!
- Ah Teca se sabe, minha viagem é outra.
- Ih!
- Posso ser Maria sim, mas nem sempre vou com as outras.
-Drogas, nem morto.
-Bebê brincando com faca.Com as drogas também é assim. Quem usa não sabe o risco que
está correndo. Converse com seu filho. Drogas, nem morto.
-Crack teste, quem faz isso pode quebrar a cara.
-(Garoto olhando álbum de fotografia) Aqui eu tinha um ano, eu estava
aprendendo a andar. Dez anos, com o time de futebol. Essa aqui é a Dani. Aqui eu
tinha uns 15, cara eu pegava altas ondas. E aqui (após algumas páginas em
branco) com 26, quando eu me livrei das drogas.
-As drogas roubam um tempo precioso da sua vida. Seja vivo, drogas, nem morto.
-Lei da ação e reação: você consome drogas => drogas consomem você. Drogas.
Nem morto.
-Você está vendo um dos momentos mais brilhantes de quem usa drogas. Drogas,
nem morto.
-O maior problema que você pode ter em casa é alguém que usa drogas (menina
segurando uma batata quente). Encare esse problema de frente. Drogas. Nem
morto.
-Ele sempre foi o mais adiantadinho da turma, foi o primeiro a experimentar bebida
alcoólica, aos 11, já tinha cheirado benzina, com 12 fumava maconha todos os
dias e hoje, aos 13 anos, repete pela 4ª vez a 4ª série. Está mais do que provado:
quem fuma maconha, fica pra trás. Drogas. Nem morto.
-Você acha que é fácil descobrir se o seu filho está usando drogas? Ele vai chegar
com os olhos vermelhos e um comportamento estranho, vai andar com amigos
suspeitos e chegar de madrugada, mas tem uma coisa que você não pode
imaginar: 1 em cada 10 usuários experimentou drogas pela primeira vez entre 8 e
12 anos de idade. Drogas. Nem morto.
-Se você usa drogas, sabe o que você tem na cabeça? (barulho de descarga).
Use a cabeça, não use drogas. Drogas. Nem morto.
-Escorpião passeando pelo corpo de uma moça. Frase: Se você usa drogas, o
perigo é o mesmo. A diferença é que é você que põe o veneno dentro do corpo. O
mesmo só que é um homem com uma aranha em cima do corpo.
Ana Lúcia- Vamos encontrar uma posição na cadeira de uma maneira mais
confortável e vocês vão tentar fechar os olhos. Vocês vão lembrar, um pouco do
depoimento da garota, que hoje está com 16 anos, vocês acabaram de ouvir, e
vamos lembrar um pouco dessas propagandas que vocês viram agora, que todas
elas são assim, o enfoque tem relação à prevenção da droga. Enquanto vocês
estiverem com os olhos fechados, eu vou estar dando algumas senhas pra vocês
falando. Quando eu falar pra vocês: falem com uma só palavra o que vocês estão
sentindo, sem nenhuma censura vocês vão colocando pra fora, mas uma palavra
só. Então, eu vou pedir isto várias vezes, mas eu quero que vocês façam com os
olhos fechados.
Ana Lúcia- Procurem pensar um pouco no que vocês receberam de orientação
sobre drogas dos seus pais. Imaginem todas estas cenas que vocês acabarem de
ver e deste depoimento que acabaram de ouvir. Que ressonância tudo isto tem na
sua vida. Pense bastante sobre isto.
Ana Lúcia- Pense nas orientações que vocês receberam.. Falem com uma única
palavra, ainda de olhos fechados o que passou na cabeça de vocês.
Platéia- Meu pai nunca falou sobre droga comigo; droga é coisa que acontece só
nas famílias dos outros; maconheiro na minha família, jamais; menino você vai
tomar uma surra de cair os dentes se eu te vê bebendo ou usando droga.
Ana Lúcia- Continuem, tente voltar um pouco no tempo e pensar em sua família.
Tente fechar os olhos porque é melhor para vocês fazerem o exercício. Pense em
seu pai, em sua mãe. Que tipo de mensagens eles passaram pra vocês em
relação a drogas? Pense no momento em que vocês eram adolescentes e pense
em que tipo de orientação vocês tiveram. E agora, com uma palavra, tente falar
deste sentimento, da orientação que vocês receberam dos seus pais.
Platéia- Obediência. Saudade, muito cuidado. Olha com quem anda. Honestidade.
Atenção. Juízo. Responsabilidade. Respeito. Objetivos de vida. Não cai nessa.
Orientação. Cuidado. Olha a escolha do bem e do mal. Preste muita atenção. Olha
com quem andas. Obediência. Compreensão. Cuidado.
Ana Lúcia- Procure pensar agora no seu papel de pai e mãe. Como vocês estão
desempenhando estes papéis? Procure se voltar um pouco para dentro de si e
pensar em como vocês construíram suas idéias para educar seus filhos. Então
feche os olhos, pense no que eles fazem, quando vocês os contrariam, quando
vocês querem dar algum tipo de informação, qual o comportamento deles? Sinta
agora!! Que sentimento se apodera de você quando pensa no tema “drogas”?
Resuma em uma palavra, qual o sentimento que vai lá dentro do coração de vocês
quando você pensa na palavra “drogas”. Pode falar alto por favor.
Platéia- Muito sofrimento; tristeza; medo; destruição; angústia; desamor; morte;
furto; tráfico; vida.
Ana Lúcia- Agora vocês vão parar para pensar nos seus filhos, nesse mundo
violento que a gente vive hoje, com a mídia mostrando coisas negativas o tempo
inteiro, o que é que você vai fazer com o seu filho? Como é que você está
ensinando ao seu filho, que tipo de carinho, que tipo de relação, que limites você
está colocando para seu filho, para que ele não caia nas drogas. E eu você vai
penetrar lá dentro do seu coração e ver o que é que você está fazendo na
orientação do seu filho? Será que você está se informando? Será que você está o
suficiente aberto para falar sobre drogas com seus filhos? Procure pensar no que
vocês estão ensinando aos seus filhos e com uma palavra pode falar ouvindo a
voz do coração.
Platéia- Confiança. Tratar com carinho, amor. Dando atenção. Falando a verdade.
Dando carinho. Entreguei pra Deus. Dando atenção. Conversando. Amor.
Conviver com harmonia.Muito medo.Receio de está fazendo tudo
errado.Dsconfiança.
Ana Lúcia- Agora procure parar e pensar no que vocês estão sentindo em relação
a tocar esse barco pra frente, procurando orientar, estar junto. Qual o sentimento
que está presente dentro de vocês? Pode falar bem alto, sentimentos! Pode falar
com uma única palavra.
Platéia- Preocupação. Angústia. Dificuldade. Medo. Nervoso. Paciência. Resgate.
Vencer a timidez. Mostrar o bem para que ele possa caminhar sozinho.
Ana Lúcia- Agora respire bem profundo, inspire pelo nariz, solte pela boca e
vamos tentar ficar bem tranqüilos, aos poucos, pode voltar para essa sala.
Procure respirar bem devagar.
Platéia- Que viagem!!
Ana Lúcia- Vocês perceberam alguma coisa importante?
Platéia- São sentimentos muito contraditórios, né?
Ana Lúcia- Aquele que a gente vive hoje, aquele que a gente recebeu das
famílias de origem, então isso é o que gera pânico nos pais. Vocês concordam?
Platéia- Sim, é tudo muito confuso. Esse pânico da gente não ter a certeza de que
está fazendo certo, é uma coisa muito delicada.
Ana Lúcia- Agora eu pergunto a vocês: na época em que vocês viveram... Quem
aqui tem mais de 30 anos? Mais de 40? Quer dizer é um grupo que viveu numa
época em que a droga não era tão falada quanto é hoje. Alguém de vocês podem
me falar se tiveram pais que nunca falaram sobre drogas?
Platéia- Eu, isto era um assunto proibido na minha casa. Meu Deus, isto era
inconcebível na minha. Droga era coisa de maloqueiro.
Ana Lúcia- Vocês percebem? Percebem os valores, a educação? Quer dizer os
valores que a gente têm que ficam internalizados. Eu também não lembro de ter
falado nunca sobre drogas com meus pais, era como se isto não pudesse
acontecer em minha casa.. Hoje em dia a gente vive falando sobre drogas, o
comportamento é diferente, é outra condição. Porque a droga hoje, se não é a
primeira preocupação dos pais, é uma das grandes preocupações dos mesmos.
Do lado de nosso filho tem alguém que usa e tem alguém que vai oferecer para
ele. E não importa a classe social, a escola em que está estudando.Então, não
importa o que isto quer dizer, o que importa é que junto da gente pode ter alguém
que usa drogas e a gente tem que preparar essas crianças e esses adolescentes
para lidar com isto. Para aprender a dizer “não”. Isso é o mais difícil, certo? Vocês
conhecem todos os tipos de drogas? Vocês já conheceram as drogas?
Platéia- Não.
Ana Lúcia- Quem já viu drogas levanta a mão! Maconha? Cocaína? Crack?
Lança perfume? Cola de sapateiro?
A maior parte do grupo não levantou a mão.
Ana Lúcia- Então vocês podem perceber que nem todo mundo aqui conhece
drogas. Nós fizemos questão de trazer as drogas para vocês. Eu fui até a
delegacia, mas não me autorizaram a trazer as drogas para vocês conhecerem.
Mas, se eu fosse numa boca... Certamente eu conseguiria. Era só dar dinheiro,
conseguiria. Mas eu disse que era uma palestra para os pais, ninguém deixou eu
pegar a droga. Então como eu não consegui pegar a droga ,eu trouxe para vocês
em dvd, pelo menos para vocês conhecerem como é a folha da maconha, com ela
é passada para os jovens, como é a cocaína e o crack.
3) Aquecimento específico
Ana Lúcia- Para isso, nós vamos fazer a outra etapa do Sociodrama para que a
gente possa se aquecer, certo? Eu vou falar um pouco pra vocês o que é droga.
Quem sabe o que é uma droga?
Platéia- É uma droga?
Risos da platéia.
Ana Lúcia- Verdade. É uma droga mesmo.Mas quem sabe o que é droga
mesmo? Por que a gente chama de droga? É uma coisa que não presta, é isso?
Ele falou uma coisa interessante. Essa semana eu tive uma doce surpresa quando
a mãe de uma paciente minha chegou no consultório atordoada que ela encontrou
um papelote e um pózinho branco dentro da mochila da filha. Um papelote de
pózinho branco, o que você pensa? Cocaína. Então eu pedi para que ela
trouxesse o pacote para que eu pudesse dar uma olhada. Curiosamente achei o
pó diferente. Eu olhei, e percebi que o pó tinha uns grânulos assim diferentes da
cocaína. Cocaína não tem grânulo, este é mais grosso. Então eu disse para ela:
eu acho que isso não é cocaína. Propus a ela levar numa delegacia perto do meu
consultório para eles darem uma olhada. No intervalo eu perguntei para um
policial lá, um delegado: isso aqui é cocaína? Então eu expliquei para ele. O
policial falou:: isso não é cocaína não. É benflogin, eu acho Se a senhora quiser,
deixe aqui e a gente manda analisar. Deixamos e o resulta da amostra foi
realmente a que o policial falou: benflogin. Ele explicou para nós: é um remédio
que os jovens estão usando para se drogar. Eles amassam o pó e põe dentro da
bebida. Aquilo potencializa e dá um barato estranhíssimo. Ele disse que tem visto
muito entre os jovens. Então, ele contou a história da coca-cola, cada dia eles
aparecem com uma droga diferente. E isso é o que faz a gente ficar mais
preocupado, porque é importante a gente ensinar para os filhos hoje que: não
tome água que o colega oferecer! Olha que loucura. Por que? Existe uma droga
que é letal, que não tem cheiro e não tem cor. Se alguém colocar essa droga
dentro da água a pessoa pode morrer. No Brasil já aconteceram dois casos.
Platéia-Mas é o que eu falo para os meus filhos: se vocês forem tomar um
refrigerante entre amigos, pegue a latinha na mão ou o copo. Se você virar de
costas, joga fora, nem prove porque você não sabe se alguém pode ter colocado
ou não alguma coisa.
Ana Lúcia- Muito bem. Agora o Anselmo vai fazer esta segunda parte.
Ego auxiliar (no papel da maconha): Agora eu estou aqui representando a
maconha. Sou natural, a única coisa que eu faço é quando eu fumo, a pessoa fica
tranqüila, abaixa a ansiedade, abre o apetite, alguém aqui me conhece? Alguém
concorda comigo aqui?
Ana Lúcia- Você pode mostrar como você aparece para os jovens?
Ego auxiliar - Aqui ó, ela já foi colhida, já foi preparada e vai para o consumo. Ela
vem assim prensada, algumas vezes pode ser solto, mas a maioria delas vem
prensada. Eles fecham para não ir esfarelando, aqui embaixo tem as sementinhas
bem misturadas, separa a semente e depois enrola aqueles cigarrinhos, então,
fica pronto pra fumar. Aqui ela não é prensada, tá vendo? Aqui é a maconha
colhida no pé, a folha, eles colocam para secar e depois enrola. Aqui já é um
baseado pronto. Então agora sim, eu tentei passar a impressão de que eu não
faço mal nenhum, que eu sou verdinha e que é muitas vezes o que eles falam.
Platéia- Você vê muito estampado na camiseta, vem todo mundo querendo
conhecer, tem brinquinho, qualquer menina de 4 anos sabe a maconha, o
desenhinho, camiseta. Começa assim: a maconha não faz mal, é tranqüilo, o que
pesa é a cocaína, não é? Na rua mesmo é uma loucura, o cheiro você passa mal
e está liberado, ninguém passa, ninguém fala nada.
Ego auxiliar- Realmente, hoje se tem provado que a maconha é altamente
destrutiva para qualquer organismo, principalmente de jovens que estão em
formação. Então essa visão de que é verdinho é natural que se propaga muito por
aí, são falhas. Nós temos que tomar cuidado,porque eles já mexeram
geneticamente na planta. Então, o princípio ativo da maconha que é o PHC
aumentou em 20 vezes. Hoje é muito comum que apareçam outros transtornos
mentais causados pelo uso da maconha, principalmente jovens, como eu
mencionei. Eles estão em formação, acontece de desenvolver um outro transtorno
por causa do uso da maconha: transtornos de ansiedade, transtorno obsessivo-
compulsivo, transtorno do pânico e até esquizofrenia. Vocês sabem por que?
Platéia- Não tenho idéia.
Ego auxiliar- Porque a planta hoje está muito mais forte do que era naturalmente,
porque aumentou a porcentagem de PHC. É muito danosa, além de ter esses
problemas, de transtornos mentais, também pode trazer, a maconha provoca crise
amotivacional. Por exemplo, os jovens começam a usar maconha, perde o
interesse por tudo, para de estudar, só que saber de ficar curtindo, ouvindo
música e comendo, não tem mais motivação para nada: procurar um trabalho,
praticar um esporte. Essas são uma das coisas que a maconha faz na cabeça do
jovem. Hoje a Organização Mundial de Saúde orienta que a dependência química
é uma doença, e por ser uma doença, ela tem uma progressividade, e tem as
fases: a pessoa começa, num primeiro momento tem um uso recreativo, um
prazer, e depois se instala a dependência e o organismo passa a sentir
necessidade da droga. Quando a dependência se instala chega a loucura, como o
suicídio por exemplo. Porque a doença vai progressivamente se instalando. Uma
coisa que começou com um lazer, se torna uma doença e quando não se trata, o
indivíduo pode levar à morte ou à loucura. Possíveis efeitos da maconha:
sensação de bem-estar, relaxamento, sonolência, aumento dos batimentos
cardíacos, diminuição da pressão sangüínea, os olhos tornam-se avermelhados,
euforia, fome intensa (larica), fala demasiada, palidez, dilatação da pupila, boca
seca.
Ana Lúcia- É importante vocês ficarem ligados nesses sintomas, porque quando
você tem um filho e percebe alguns destes sintomas ,fiquem atentos, pode ser
maconha na área.O garoto começa a dormir muito, ter muita fome, não consegue
reter nada na memória. Pode ser um indício de que está usando drogas. Se você
estiver muito atento é mais fácil de diagnosticar precocemente. Eu estou
montando um manualzinho de orientação para os pais. Vou entregar para a Lígia,
no final do nosso ciclo de Sociodramas, principalmente o manual referente a
drogas para vocês ficarem atentos.
Platéia- Esses sintomas são uma regra? Todo usuário de maconha tem?
Ana Lúcia- Uma grande parte dos usuários tem. É a mesma coisa que o usuário
de álcool. Tem alguns usuários que quando não usam não têm compulsão por
exemplo. Mas, a maior parte deles quando usa muito, no momento em que não
usa, a compulsão aparece. Compulsão é aquele sintoma da falta do álcool, que na
droga também acontece, certo? Sintomas característicos. A gente que trabalha
com isso, se você olha um jovem no consultório, ele está apresentando algum
sintoma, o profissional já fica ligado. Se usam colírio. Exatamente. Então vamos
rápido. O que a maconha pode causar: são os efeitos mais graves. Na puberdade
maconha não faz mal. Saiu uma reportagem na revista Exame que muitos jovens
não interpretaram de uma maneira correta. Não é verdade que a maconha faz
menos mal do que o cigarro. A maconha faz tanto mal quanto o cigarro e pode
causar com o uso prolongado todos esses problemas.
Ego auxiliar- Noção de tempo e espaço ficam prejudicados, causa irritação na
garganta e pulmões, câncer, bronquite, enfisema pulmonar, a deficiência
imunológica do organismo, prejuízo da capacidade de concentração (a pessoa
emburrece), ansiedade, dor de cabeça, depressão, sono prejudicado, irritabilidade,
diminuição dos reflexos, paranóia, e desânimo generalizado. Isso tudo é o que a
maconha provoca.
Ana Lúcia- Alguém tem alguma pergunta pra fazer sobre a maconha?
Platéia- Eu fiquei assustada quando ele disse: “comer muito”. Porque o meu filho
come muito.
Ana Lúcia- Percebam, estes sintomas nunca aparecem sozinhos. Eles sempre
aparecem aglomerados. Normalmente 4 ou 5 sintomas podem ser indícios de que
o adolescente ou a criança estava usando droga. Um dos sintomas importantes
que pode sinalizar o uso de maconha é o problema da memória, da
aprendizagem. Normalmente o usuário de maconha tem dificuldades muito
grandes. Esse sintoma isolado ou associado aos outros pode ser um indício de
uso de drogas. No consultório não podemos delatar o adolescente, por causa da
questão da ética. O único caso que a gente pode estar denunciando é no caso de
haver abuso sexual. Mas é importante dizer que para os pais que estar junto dos
filhos pode ser a saída para que eles não procurem a droga. Lembra da menina do
papelote? Eu falei para a mãe: eu não estou gostando do comportamento desta
menina, ela tem ido muito ao shopping sozinha, vocês largam ela com amigas que
vocês não conhecem e ela volta não sei lá que horas. Mãe, seria interessante que
vocês levassem ela ao shopping, conhecessem as amigas que ela anda e outras
coisas mais. Não. Eu só faltei dizer para ela: sua filha está usando drogas, porque
em terapia ele me disse que estava usando. Mas é uma coisa muito séria, porque
nós nunca achamos que vai acontecer com a gente.Muitas vezes, os pais estão
desatentos, de olhos fechados para isto.
Platéia- Sabe Ana Lúcia, hoje os pais soltam o filho, deixam com celular, achando
que o celular é uma segurança de você saber onde ele está, mas isto é uma
enganação. Não dá para confiar inteiramente.
Ana Lúcia- Acho que você está certo. Vamos lá agora a cocaína.
Ego auxiliar – Cocaína- Origem: Extraída das folhas do arbusto. Os indígenas a
usam nos rituais há milhares de anos.
Classificação: Droga ilícita e estimulante. Num primeiro momento, a droga seduz,
dá a sensação de poder, a pessoa então cheira cocaína e fica estimulada. Um dos
apelidos da cocaína é o brilho. Os olhos brilham, a pessoa fica falante, ativa,
ligada, então, num primeiro momento tem essa sensação de bem-estar, mas
depois você paga o preço. É o canto da sereia. A cocaína, não é porque ela é
branquinha e brilhante que ela faz bem. Ela produz muitos danos no organismo.
Como se apresenta: Na forma de pó. Tem seus derivados que se apresentam de
outras maneiras. Pode ser cheirada, injetada, fumada, mascada (folha da coca).
Possíveis efeitos: Atua no Sistema Nervoso Central como qualquer droga
psicoativa. Provoca uma alteração do estado de humor igual a todas as drogas.
Aumenta a sensação de confiança, aumenta a pressão sangüínea, aumenta a
freqüência respiratória, aumenta os batimentos cardíacos, tensão dos músculos e
produz tremores no corpo.
Ana Lúcia- Aqui em baixo (aponta o cartaz) tem uma plantação de cocaína.
Ego auxiliar -Pode causar: Paranóia: é o “noiado” que eles falam. Sensação de
que está sendo perseguido, está sendo vigiado.
- Lapsos de memória, alucinações,
- Confusão mental,
- Insônia, agitação, depressão psicológica,
- Letargia,
- Incapacidade de sentir prazer,
- Falta de energia,
- Falta de motivação,
- Hipertensão, taquicardia,
- Derrame cerebral
Ana Lúcia- Depois eu mostro a foto para vocês de como a cocaína é
apresentada.
Ego auxiliar - Além da cocaína, no tráfico eles costumam misturar, então a droga
vem pura, eles misturam com pó de mármore, uma série de coisas que são
extremamente prejudiciais a saúde.
Ego auxiliar - Eu vou falar sobre o crack, porque é um derivado da cocaína. Essa
droga é uma droga perigosíssima, ela despersonaliza o indivíduo. É assim, uma
das drogas mais perigosas, porque o tempo de uso faz com que o indivíduo se
torne um dependente muito rápido. Uma pessoa com 3, 4 meses de uso de crack
pode apresentar problemas muito sérios. O crack realmente é uma mistura de
cocaína, água, bicarbonato de sódio que vira uma pedra, que é colocada num
cachimbo e fumada como se fosse um cachimbo. Certo? Também é uma droga
ilícita, estimulante e normalmente se apresenta em pequenos tabletes ou
pedrinhas. Ela tem efeitos parecidíssimos com os da cocaína, porém mais
intensos. Certo? Estado de euforia constante, aumento da atividade do Sistema
Nervoso Central. Quase todas as drogas, quase todas, afetam diretamente o
cérebro e o coração. E o tempo que leva para afetar o cérebro e o coração é muito
pequeno. Então esta é uma das coisas que vocês têm que passar para os seus
filhos. Aumento da sensação de confiança, aumento da pressão sangüínea, da
freqüência respiratória, tremores pelo corpo, os mesmos efeitos da cocaína em
pó, só que a intensidade é muito maior. Ele é bem barato: esse é o grande
problema do crack, ele é muito mais barato do que a cocaína, em pó. Ele pode
causar depressão profunda, portanto, se você vir o seu filho quietão, paradão,
vamos dar uma avaliada no que está acontecendo. Ataques cardíacos, derrame
cerebral, congestão nasal, tosse, danos aos pulmões, queima dos lábios, língua e
garganta, perda de peso corporal, desnutrição profunda e hiperventilação. Outras
considerações: para um feto, se a droga é consumida durante a gravidez,
aumenta a possibilidade de aborto, derrame cerebral e morte súbita. Certo?
Ana Lúcia- Bom, vamos agora para os inalantes. Eu achei importante passar
essa parte teórica, justamente porque muitos de vocês não sabem. Então, no meio
do Sociodrama eu coloquei esta parte teórica.
Ego auxiliar - Os inalantes são substâncias voláteis, são facilmente inflamáveis.
Se você coloca fogo, pega fogo em tudo. E o problema dos inalantes é que eles
são drogas lícitas, são vendidas facilmente no mercado. Vocês conhecem cola de
madeira, éter, acetona, tiner, cola de sapateiro, gasolina. Eles podem ser
depressores, estimulantes e alucinógenos (a pessoa começa a imaginar coisas
que não existem, delírios). Como se apresenta: gasolina, fluido para isqueiro,
acetona, cola de sapateiro, massa plástica, clorofórmio, lança perfume, éter, spray
para cabelos, desodorantes. O lança perfume é a droga do carnaval, não é?
Alguém conhece?
Ana Lúcia- Aquela que os jovens hoje usam em quase todas as baladas.
Baladinhas assim que a moçada vai. Parecido com o lança perfume, tem aquele
que é feito em casa, chama-se “cheirinho da lóló”. Eu não sei se vocês já ouviram
falar, é a mistura do éter com outros componentes, que é muito mais prejudicial do
que aquela que vem da Argentina.No Nordeste eles fazem muito, principalmente
no carnaval.Tem muita droga!!
Ego auxiliar - O lança perfume você derruba num pedaço de pano, cheira e dá
uma sensação, você ouve um sininho, uma sensação de que você está voando. É
prejudicial à saúde também, e pode causar danos para o organismo. Os inalantes
têm os seguintes efeitos: descompasso da respiração, proporcionando uma
sensação de estrangulamento, palpitação do coração, impulsividade, irritabilidade
(pode ficar extremamente agressiva), fala amassada, e também pode causar
danos psicológicos, estados psicóticos como o outro ego-auxiliar estava falando:
esquizofrenia, estados mentais alterados. Pode causar: asfixia (morrer sufocada),
ilusões, delírios e alucinações, parada cardíaca, acidentes (incêndios), colapso de
órgãos, distúrbios neuropsicológicos, perda de coordenação motora.
Ana Lúcia- O lança perfume, inclusive, é uma droga letal, porque, porque afeta
diretamente o coração. Os cardiologistas falam muito isto, mas as pessoas usam
lança perfume em grande quantidade. Porque é isso, numa única ingestão a
pessoa pode morrer.
Ego auxiliar -Bom gente eu sou o álcool, me convidaram aqui pra falar o que eu
sou, o que eu faço. Eu sou demais, porque sou liberado, eu tô lá na esquina, nas
três na padarias. O pessoal me adora. Vocês podem me usar, álcool a polícia não
pega, não vai te prender, você pode me tomar à vontade, sou demais!! Eu sou
demais, sou livre, gosto de ser divertido, gosto que as pessoas fiquem divertidas
quando me usam, então eu arraso mesmo. Eu provoco desinibição, sabe aquele
cara boboca, tímido, ele fica demais, fica desinibido, fica com desequilíbrio no
raciocínio, no julgamento quando me usa. Farol vermelho? Imagina, o cara passa
numa boa, para que respeitar? Se ele está com álcool, acontece um
condicionamento do estado de emoção e ânimo, depressão física, queda de
pressão sangüínea, (o cara fica numa boa) lentidão dos reflexos motores, digestão
prejudicada, diminuição da excitação sexual.
Ana Lúcia- Além da inibição da excitação sexual, o álcool pode causar
impotência, vocês sabiam disso, ou não? Exatamente, porque o álcool,
dependendo do tempo de uso, afeta a corrente sangüínea? Ele aglomera os
glóbulos vermelhos e como a ereção é um refluxo sangüíneo através de um
reflexo mandado do cérebro para o pênis, o sangue não flui normalmente. É como
se houvesse uma ruptura dos vasos sangüíneos, onde o sangue não chega lá e o
homem não consegue ficar com o membro ereto, ele brocha. No trabalho com
alcoólatras, este relato é seríssimo. Eles sentem porque com o uso contínuo isso
vai acontecendo aos poucos, não é senhor álcool, metido?
Ego auxiliar - Ela está exagerando, só pra me deixar numa pior aqui, mas junto
de mim você tem aquela sensação de anestesia. Se você chega em casa, nervoso
do trabalho, toma umas, você fica numa boa, só porque depois vai ficar sem
fígado, qual o problema, não é? Náuseas, vômitos, suor abundante, dor de
cabeça, agressividade, tremores, tonturas.
Ana Lúcia- Vejam só, o álcool é uma droga lícita, aqui ela é liberada. Nos Estados
Unidos, jovens com menos de 18 anos não encontra álcool em nenhum lugar para
comprar. Outro dia a gente fez um teste lá na praia e mandamos uma criança de 6
anos comprar uma garrafa de pinga no supermercado, ele comprou. 6 anos! Ele
passou no caixa, pagou e saiu do supermercado. Então essa facilidade é uma
coisa muito complicada.
Ego auxiliar- Mostrando os slides. Olha gente, aqui é uma plantação de cocaína,
ela tem esses grânulozinhos certo? A cocaína é comercializada assim, em pó e
parece talco. Normalmente ela vem assim em tijolos, que eles cortam e usam. Ela
é usada de várias maneiras: cheirada (pegam um canudinho ou a parte de fora da
caneta e cheiram, inalada), ou eles pegam a pasta e colocam na gengiva, então o
usuário de cocaína normalmente tem essa parte gengival comprometida, certo?
Olha o crack, ele aparece assim sob forma de pedras, tá? Olha as pedras, são
pedras grandes,do tamanho que eles querem cortar. É usado sob forma de
cachimbo, também é fumado. O álcool eu não vou nem mostrar para vocês que
todo mundo conhece. Agora ver os inalantes! Essa é o lança-perfume muito
conhecido na Argentina que chamam de universitária, ela normalmente, como foi
falado vêm em grande quantidade na época do carnaval e os jovens usam para se
liberar mesmo. Existem outros inalantes, o próprio desodorante. Tenho um
paciente no consultório que usa fluido de isqueiro. É assim que funciona, quando
eles começam a usar, o que aparece na frente, eles experimentam.
Ana Lúcia- Vamos fazer o seguinte, vocês vão se dividir em grupos. Eu gostaria
que esse pessoal deste lado formasse um grupo, e aquele do outro lado, formasse
o outro grupo. Nós temos dez minutos para conversar e montar uma cena onde
vocês, pais, vão orientar o filho que está com problema de drogas, certo?
4) Dramatização
Dramatização 1: Pais reclamam com filha que chega tarde em casa.
P- Filha, o que aconteceu que você chegou tão tarde em casa? Eu não te falei que
era para chegar meia-noite.
F- Mas pai, que caretice esta coisa de você me mandar chegar tão cedo. Meia
noite é a hora que começa o baile, como é que eu vou chegar meia-noite.
P- Você não pode ficar até tão tarde fora de casa. O que é que os vizinhos vão
pensar? Você já pensou que algum assaltante pode te pegar e te estuprar? Você
nunca olha para o perigo.
F- Ih pai, deixa de caretice, se estas coisas tiverem que acontecer, é lógico que
acontecerão aqui dentro de casa. Caretice!!
P- Eu tenho sempre que falar um monte de coisas. Você não se cuida, não olha o
perigo, você está sempre desafiando tudo. Menina, um dia você vai se dá mal!!
Ana Lúcia- Tempo, tempo para mim. O que vocês acharam deste pai?
Platéia- Tentando orientar.
Ana Lúcia- O que mais?
Platéia- Acho que falando muito. Aqui vocês têm dito para que a gente não fale
muito quando quiser que o filho ouça a mensagem.
Ana Lúcia- Muito bem. Então eles não ouvem. Quando um pai vai orientar a gente
tem que ser bem objetivo e claro, entendeu? Quando a gente entra no jogo deles
e fica falando, falando, normalmente o adolescente desliga!! Enão eles fazem isso
mesmo. Vamos voltar pai?
Continua a dramatização 1
P- Escuta filha, você não vai chegar neste horário, entendeu!
F- Sai desta, pai, eu chego na hora que eu quiser, você nem vai ver. Se liga, você
ta muito quadrado.
P- Eu já falei que isto não vai mais acontecer.Daqui a pouco você vai ta envolvida
com traficante, maconheiro!!
F- Eu nem estou ouvindo o que você está falando. Sabe quantos anos eu tenho?
16 anos, e já sou dona do meu nariz.Eu me envolvo com quem eu quiser.
P- Mas filha......
Neste momento a diretora pede a um ego auxiliar para trabalhar junto ao pai.
EA- Por que será que eu tenho tanta dificuldade de colocar limites com a minha
filha?
P- Eu tenho muito medo de entrar em contato com a intimidade da minha filha,
igual aconteceu na minha casa, que quando meu pai percebeu minha irmã estava
morando com um traficante.
EA- O que será que eu posso fazer para que isto não aconteça diferente com a
minha filha?
P- Acho que ser mais duro com ela. Acho que sou muito boboca, como eram os
meus pais.Tenho que me comportar diferente, senão ela não vai me respeitar
nunca.
Diretor para a filha.
D- Como você está se sentindo neste diálogo com teu pai?
F- Muito bem, passo a perna nele toda vez.
D- E por que você faz isto?
F- Porque não quero que ele se meta na minha vida.
Ana Lúcia- Vocês percebem que a filha está dominando o pai por vários motivos
como ele mesmo falou. Quem gostaria de entrar no ligar deste pai para agir de um
modo diferente?
Platéia- Eu posso tentar.
Ana Lúcia- Vou dar uma dica a você.:Tem uma coisa muito séria acontecendo e é
importante você perceba. Ela (a filha) está dominando a fala dele (pai). Ele não
tem argumentos, e se atrapalha quando tenta convencer ela de alguma coisa:
“Não pai, que é isso, o senhor está equivocado. Não pai...” O tempo todo. E ele
continua tentando convencer de que está falando está certo. Vamos lá, vamos
continuar esta mesma dramatização!
Continuação da dramatização com novo pai.
P- Filha, eu não estou gostando da hora que você chegou! Na próxima vez que
você sair vai ter que chegar mais cedo. E vai sair com os amigos que a gente
conhecer. Não quero que você fique saindo por aí com qualquer um.
F- Nossa, lá vem você com este papo de novo. Deixa de ser careta pai!
P- Olhe para mim! Você está me ouvindo?Da próxima vez que sair vai voltar no
horário combinado. Esta hora rola droga, muita bebida e você não tem idade ainda
de está metida com este pessoal. Entendeu?
F- Lógico que não vou te obedecer.
P- Tente não fazer o que estou falando para você ver o que acontece. A primeira
coisa que tiro é a tua mesada, e outras coisas a seguir.Eu não estou negociando
com você, estou te dando uma ordem. Você entendeu?
Ana Lúcia- Pode parar.. O que vocês acharam desta intervenção?
Platéia- Mais objetiva.
Ana Lúcia- Mais objetiva como? O que ele fez de muito importante? Ele
primeiramente colocou o limite: você vai sair, mas vai sair só com os amigos que a
gente conhecer. Por que isso é importante?
Platéia- Porque os pais ficam mais tranqüilos quando conhecem a turma com que
os filhos andam.
Ana Lúcia- Isto mesmo. Conhecer a galera que o jovem está saindo, saber um
pouco dos hábitos da turma é uma coisa boa. Levar e ir buscar esta galera na
balada também é uma coisa interessante, porque vocês podem ver como saem e
como voltam da balada.
Ana Lúcia- Prestem atenção: no primeiro grupo apareceu um pai que falava
muito, que deixava a filha dominar a fala dele. Pra gente fazer intervenção onde?
Porque esse pai está agindo assim? Muitas vezes porque foi a forma como ele
aprendeu. O pai era aquele que falava e falava... Mas hoje talvez com esses
jovens esse modelo não seja tão eficaz. Então a gente tem que repensar este
modelo. Certo? Então vamos para o segundo!
Dramatização 2 Pais conversam com a filha sobre as companhias que ela tem
saído ultimamente. A forma como as garotas se vestem, como usam a
maquilagem...
P- Filha, eu fiquei sabendo que aquela turminha que você está andando é da
pesada. Falaram que quase todos usam drogas. É verdade!!
F- Mas pai, que caretice! Este povo fala demais. Imagina que meus amigos usam
drogas.Que idéia!!
P- Mas filha, o povo não fala uma coisa que não é. Todo mundo aqui da vila
conhece todo mundo, então, pense bem, onde tem fumaça,tem fogo!!
F- Pai, todo mundo hoje em dia já experimentou maconha, mas não quer dizer que
é maconheiro. O povo não tem o que falar.
P- Filha, estas meninas que andam com você se vestem de uma maneira tão
esquisita. Estas roupas pretas, estas pulseiras com estes pinos. Uma coisa
horrorosa!!
F- Puxa pai, como você é preconceituoso! Nunca pensei que ia ouvir uma coisa
desta de você. É muita caretice!!
P- Eu não quero que você ande com esta turma, não é uma coisa boa para você.
Ana Lúcia- Tempo para mim. Que aconteceu agora na comunicação deste pai
com a filha? Existe esta formalidade entre pais e filhos?
Platéia- Não. Acho que não. Ele explica muito.
Ana Lúcia- Alguém gostaria de entrar no lugar deste pai? Tenta fazer diferente
agora.
Continuação da dramatização 2. Pais dizem à filha que ela anda com más
companhias. Filha argumenta.
P- Filha, eu e sua mãe não estamos gostando das companhias que você vem
andando ultimamente.
F- Para pai, que caretice!!
P- Olha, gostaria de mais respeito. Estou te falando que a gente não quer que
você saia com esta turma. E, se você continuar insistindo, a gente não vai mais
deixar você ir para a balada no sábado.
M- É isto mesmo, se você não obedecer, você não sairá mais aos sábados.
F- (Pensando alto). Isto é o que vocês pensam.
Ana Lúcia- Pode parar. O que vocês acham que aconteceu agora? Isso acontece
muito. O que aconteceu aqui? Acho que formou-se 2 núcleos: a filha contra os
pais. Então assim a gente tem que tomar muito cuidado para não regredir. Isso na
palestra de limites a gente fala muito: não regredir do papel do adulto para o papel
de criança, ou de adolescente e ficar batendo boca. Muitas vezes a gente está
discutindo com os filhos e faz isso mesmo. Mãe principalmente! Eu posso falar
porque eu também sou mãe e eu já perdi o controle algumas vezes. E a gente tem
que estar sempre atentas: batendo no rosto para não fazer isso. Porque quando a
gente regride a gente não educa. Muitas vezes deixamos o jovem dominar a
situação. Então, parte para a autoridade. Eu já presenciei o pai de um paciente
bater na cara dele na minha frente. Quando a gente parte pra autoridade e usa a
força física, perdemos a razão. Vocês ainda não estão fazendo as coisas certas,
vamos ver se ele consegue. Vamos trocar o pai para ver se outro tem um
comportamento mais adequado. Ou então , vamos tentar construir este
comportamento mais adequado.
Ego Auxiliar entra no papel de pai e põe a mão no ombro da filha.
EA (P): O que é isso aqui? Esta foto é sua com este pessoal aqui da vila que vive
usando drogas, não filha? O que tá acontecendo? Gostaria que você me contasse
porque estou preocupado.
F- Ah,pai! Deixa de caretice, meus amigos são muito legais.
EA (P)-Você tá nessa e eu tô com você. Mas preciso te prevenir de algumas
coisas que podem acontecer. Eu sei que esta turma é importante para você, mas,
cuidado filha, porque se pegarem eles com drogas no carro, e, você estiver com
eles, também vai presa.
F- Que história é esta pai?
EA(P)- É filha, o filho de um amigo foi preso porque foi pego com euma turma que
estava levando maconha no carro. Mas, eu já te mostrei o caminho certo e o
errado. Você já tem idade de decidir o que quer fazer da sua vida. Só te falo uma
coisa, se você for presa, eu não vou correr atrás para te soltar. Você também vai
ser capaz de resolver isto.
F- Mas pai, você acha que tem chance de meus amigos estarem carregando
drogas no carro?
EA(P)- Certamente, eu não pagaria para ver.
F- É pai, vou pensar nisto, obrigada!!
Ana Lúcia- O que vocês acharam?
Platéia- Muito bom, muito bom mesmo.
Ana Lúcia- Eu achei muito boa a dramatização. O pai falou baixo, não quis impor
a autoridade, mas colocou os limites. Foi muito bom o exemplo que ele citou do
filho do amigo dele. Ele fez um bom vínculo com a filha. Isto é uma das coisas
mais importantes: se você tem esse vínculo, em todo momento da vida do jovem
ele estará mais perto de você e abre um canal para negociar.
Dramatização do grupo 3: Pais acham droga na mochila da filha e tentam
conversar.
P- Eu quero falar com você sobre uma coisa que aconteceu ontem
F- Fala pai, mas vai logo porque tenho que sair com minha amigas.
P- Espera lá, você não vai sair agora coisa nenhuma. Eu achei maconha na sua
mochila ontem. O que você tem a me dizer?
F- Ah, pai, é de uma amiga que pediu para eu guardar.Isto é uma invasão de
privacidade vocês ficarem mexendo na minha mochila.
P- Não minta, não suporto quando você mente para se defender. Fale a verdade
porque você abre um espaço para a gente conversar.
F- Mas pai, eu estou falando a verdade.
P- Filha, ninguém guarda uma coisa destas para os outros na mochila. Seu ai é
macaco velho. Não adianta, gostaria que você me contasse a verdade.
Ana Lúcia- Pode parar um pouco.Prestem atenção: eu parei para comentar esta
atuação deste pai para que vocês fiquem atentos. O pai disse: eu achei droga na
sua mochila. Ele tinha provas de que a filha tinha maconha e podia está usando,
ou até mesmo que estava andando com alguém que usa. A filha nega e diz que
isso é invasão de privacidade. Vocês não podem entrar neste jogo. Eu vi a droga,
você deve estar usando, ou de quem é essa droga? Certo? Se isso acontecer é
necessário ficar claro que ela não pode virar o jogo. Porque vocês viram que ela
teve um comportamento errado, ou de comprar a droga ou até mesmo de guardar
a droga para a amiga. Vamos continuar a cena.
Continuação da dramatização 3.
P- Acho que você tem um problema e eu quero te ajudar.
F- Problema coisa nenhuma. Não preciso de ajuda.
P- Faz quanto tempo que você está em contato com a maconha?
A garota insiste que isto não existe, que não está usando drogas, mas o pai a
encurralou até que ela se entregasse.
P- Bom filha, a única coisa que quero saber agora é se você quer ajuda? Se você
quiser, vou procurar lá na firma uma ajuda para poder começar.
Ana Lúcia- Muito bem. Palmas da platéia .
Ana Lúcia- Eu tinha me preparado para entrar no lugar dele. Então este pai fez a
belíssima intervenção. O que vocês acharam do que ele falou? Você tem um
problema, você quer ajuda? Ela banalizou. Ela não sabia o que falava. Esse
instrumento a gente tem que ter noção de quando fazer. Se ela falou: eu estou
usando a bastante tempo e a quantidade que eles encontraram era grande, então,
certamente, ela pode ser uma dependente mais avançada, uma usuária mais
freqüente. Então, precisa de uma intervenção. De ajuda, de algum médico, de
procurar uma clínica, seja o que for. Certo? Palmas para esse grupo! Adorei!
Vamos lá fazer o fechamento. Nós temos 5 minutinhos só!
5) Comentários
Ana Lúcia- Gente, a gente está com o tempo estouradíssimo e eu queria que
vocês ficassem em pé. Podem vir pra frente porque vocês estão muito longe. Eu
vou colocar uma música que fala muito das escolhas que a gente não fez. Vamos
ouvir a música e quem souber pode cantar. Vamos fazer uma reflexão. Antes de
não fazer alguma coisa em relação aos nossos filhos, vamos ficar sempre
pensando no que podemos fazer, certo? Vamos lá. Fechem os olhos. Quem
souber cantar pode cantar. Eu vou cantar, quero ouvir a minha voz.
Epitáfio (Titãs)
Devia ter amado mais,
Ter chorado mais,
Ter visto o sol nascer.
Devia ter arriscado mais,
E até errado mais,
Ter feito o que eu queria fazer.
Queria ter aceitado as pessoas como elas são,
Cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração.
O acaso vai me proteger,
Enquanto eu andar distraído.
O acaso vai me proteger,
Enquanto eu andar...
Devia ter complicado menos,
Trabalhado menos,
ter visto o sol se pôr.
Devia ter me importado menos,
Com problemas pequenos,
Ter morrido de amor.
Queria ter aceitado a vida como ela é,
A cada um cabe alegrias e a tristeza que vier.
O acaso vai me proteger,
Enquanto eu andar distraído.
O acaso vai me proteger.
Enquanto eu andar...
Devia ter complicado menos,
Trabalhado menos,
Ter visto o sol se pôr...
Ana Lúcia- Eu queria que vocês me dissessem com uma única palavra, o
sentimento que vocês estão sentindo agora neste momento.
Platéia- Paz, alegria, alívio, esperança, amor, uma agressão, experiências,
descontração, mais confiança, aprendizagem, reflexão, modo de agir, amizade,
aceitação do outro, segurança, aprendendo as falas de cada um, é como se
passasse um filme da gente, problemas semelhantes, a gente tem que ir agindo;
não podemos repetir integralmente o que aprendemos com nossos pais, eles
também não sabiam de muitas coisas.
Ana Lúcia- Bom gente, esse é o nosso primeiro encontro, desculpem a minha
falha de ter chegado atrasada, a gente perdeu um pouco de tempo por causa do
trânsito. Eu queria agradecer a todos vocês, essa é uma sementinha que a gente
está plantando no coração de vocês e vão ter outras mais. Seria muito importante
que esse grupo viesse a todas as reuniões. Vamos fazer tarefas
interessantíssimas e se vocês vierem a todos os encontros,aproveitarão
bastante.Vocês vão se sentir mais preparados, certo?
Ana Lúcia- Muito obrigada!!
Sociodrama VII
Local: ONG - São Paulo- SP
Data: 17/11/2005.
Tema:.Drogas na infância e na adolescência.
População: 78 pais de classe média/baixa, nível instrução ,1º grau incompleto ,
completo e 2º grau completo e incompleto, filhos de 0 a 15 anos, cinco psicólogos
e uma assistente social.
1)Introdução:
Ana Lúcia - Boa tarde a todos!
Platéia- Boa tarde!!
Ana Lúcia- Boa tarde gente! O segundo grupo sempre é favorecido porque a
gente já está tranqüila. O primeiro é sempre mais impactante, o assunto é novo.
Primeiro eu gostaria de me apresentar porque muita gente não me conhece,
afinal esta turma quase toda é nova aqui,não. Eu sou Ana Lúcia Gomes Castello,
sou psicóloga clínica, terapeuta de casais e família e eu hoje sou mestranda pela
PUC-SP e faço um trabalho de educação de pais. O meu trabalho consiste em
orientar os pais com um trabalho diferente, prático, que se chama Sociodrama
Construtivista, certo? Eu não trabalho sozinha,trabalho com um grupo de 4
pessoas: o Anselmo, que é psicólogo, a Ana Carol, que é psicóloga também, e a
Jussara, que é assistente social. Então sempre vocês vão ver não é o quarteto, é
o quinteto, mas está faltando a Ana Paula que não pôde vir hoje porque está
doente. Como falei antes a gente vai fazer um trabalho diferente, não é uma
palestra, certo? Esse trabalho se chama Sociodrama Construtivista. O pessoal
antigo já conhece. Da turma nova,alguém já participou de algum Sociodrama
Construtivista?
Platéia- É um drama social. É um trabalho parecido com teatro. Tem
dramatização.
Ana Lúcia- Sociodrama Construtivista é um trabalho onde a gente pode estar
usando a dramatização para trabalhar o contexto que a gente quiser.No caso de
hoje, o tema utilizado para ser trabalhado é o uso de drogas por adolescentes e
crianças.Então o Sociodrama vem das raízes do Psicodrama que é uma linha
terapêutica que foi idealizada por Jacob L. Moreno que era um médico, uma
pessoa muito excêntrica e que achava que a gente devia trabalhar o indivíduo em
grupo.Segundo ele, o indivíduo nasce em grupo, o familiar. E a partir do momento
em que o indivíduo nasce no grupo familiar, será mais facilmente tratado em
grupos. E ele fez alguns tipos de experiências que são interessantes: em
presídios, praças públicas, hospitais, sempre locais públicos... Este trabalho já
está aqui no Brasil há algum tempo, nós somos também de uma instituição, F&Z,
que tem desenvolvido um trabalho bastante expressivo com Sociodramas
Construtivistas em diversos temas. Eu, por exemplo, gosto muito de trabalhar com
Sociodramas Construtivistas, porque a gente consegue ver resultados muito
interessantes quando um grupo é trabalhado.Vocês terão oportunidade hoje de
entrar em contato com este trabalho. O tema que a gente vai falar hoje é um tem
muito difícil, delicado, não? Quem daqui ainda não parou para pensar nestas
situações de violência que estamos vivendo hoje? Na criançada e nos
adolescentes tão perto das drogas, do tráfico, terrível, não? Quem já não parou
para pensar nos riscos que os nossos filhos correm quando saem pra balada, por
exemplo? Acho que todo mundo,não?
Platéia- Acho que todo mundo, esta situação nos deixa muito preocupados. Aqui
nesta região a gente ouve falar muita coisa sobre drogas. Não tenho sossego com
meus filhos, tenho 4 filhos homens.
Ana Lúcia- Mas antes de nós começarmos, gostaria de pedir a autorização de
vocês para filmar e fotografar este trabalho. É um trabalho que estou
desenvolvendo para a minha tese de Mestrado e a filmagem e fotografia serão
utilizadas para fins científicos. Tudo bem para vocês?
Platéia- Todos aceitaram a filmagem e fotografia.
Ana Lúcia- No final do trabalho vamos entregar um papel onde vocês deverão
assinar esta autorização, ok?
Platéia- Tudo bem.
Ana Lúcia- Queria conhecer esse grupo. Quem daqui tem filhos de 0 a 7 anos?
Platéia- Mais ou menos uns 14 pais levantaram as mãos.
Ana Lúcia- De 7 a 18?
Platéia- A maior parte do grupo levantou as mãos.
Ana Lúcia- Acima de 18?
Platéia- Ninguém levantou as mãos.
Ana Lúcia- Ninguém. Então a gente está num grupo onde predomina filhos na
segunda infância e adolescência, estou certa? No Sociodrama vocês vão trazendo
os elementos, as dificuldades e podemos começar a trabalhar. Vocês vão ouvir
agora, a gente vai fazer agora duas situações específicas: na primeira vocês
ouvirão um depoimento que foi escrito por uma cocainômana. Este que eu
entreguei para vocês. No segundo momento vocês vão ouvir trechos e
propagandas de um trabalho de prevenção ao uso de drogas.Eu gostaria que
vocês,durante o trabalho, ao ouvirem o depoimento e verem o filme das
propagandas, vocês tentassem pensar um pouco o que tudo isso representa pra
vocês. Quando você ouve um depoimento, que sentimento começa a ficar
presente, as coisas que lembram? Que medos você tem? Para que a gente possa
começar a se aquecer para o trabalho.Então vamos lá!
2) Aquecimento inespecífico:
Dramatização 1 com ego auxiliar lendo um depoimento de uma usuária de cocaína
tentando uma recuperação.
“Comemoração em grande estilo. Festa com os amigos. E foi nesta maldita festa
que eu me embebedei e usei maconha pela primeira vez. Nossa, que viagem, tudo
era engraçado, muito engraçado. Passamos todos os dias a ter necessidade de
beber e fumar um beck. Na rua para te oferecer você tem muitos amigos, em
especial quando você tem dinheiro. E esse era o meu caso, meu pai tinha muito
dinheiro. Eu recebia a mesada e por ser única em casa, tenho mais dois irmãos,
era a preferida do papai . Meus pais não notaram a minha mudança, porque eles
eram um pouco distantes. Fumando maconha e bebendo quase todos os dias
depois da aula, conheci um garoto e com ele a felicidade: cocaína. Ele disse que
seria legal, que não viciava desde que eu me controlasse. Fui lá, cheirei. Nunca
tinha me sentido daquele jeito antes. Era um pó mágico e eu, já com 16 anos, era
uma alcoólatra e cocainômana. Três anos se passaram e eu me encontro no
mesmo estado deplorável, viciada em cocaína e álcool. Já tentei sair fora várias
vezes, com a ajuda da minha família, mas de nada adianta. Me considero um caso
perdido. Minha mãe sempre me pergunta onde a linda jovem loira, que sonhava
ser modelo, está? Havia me perdido e estava cavando a minha própria sepultura.
Foi a pior coisa do mundo ver os pais chorando por uma burrice feita pelos filhos.
Eu sofri muito durante um tempo em que tentava parar. Vomitava sem parar,
sentia dores insuportáveis pelo corpo, mas a dor que os pais sentem em ver um
filho assim é muito maior. Ainda viciada, resolvi dar meu depoimento para que
sirva de alerta a todos os jovens de boas idéias. Nunca usem drogas, nenhuma!
Todos se recuperam ou se recuperam notam é que perdemos nosso tempo
valioso, a nossa juventude, a vida. Façam um favor a si mesmos. Podem ficar
longe e nunca acreditem que vai ser legal ou que você pára quando quiser. Eu
quis parar, mas o vício foi maior do que a minha força e agora vou muito a missas,
converso com o padre a esse respeito, vou ficar limpa um dia, se Deus quiser e se
eu tiver força o suficiente. Galera, curtam os prazeres da vida: freqüentem praias,
baladas, mas sem drogas. O prazer de viver é muito maior do que a droga
oferece. Um abraço a todos.
Ana Lúcia- Vocês não vão falar nada ainda e vamos ver se este vídeo causa
algum impacto em vocês. Vocês vão ver a mensagem e tentem, quando vocês
estiverem assistindo, procurem sentir o que essas mensagens estão representam
pra vocês, certo?
Filme: Todas as cenas são exageradas para chocar a platéia.
A cocaína dificilmente vicia e além de tudo eu só cheiro socialmente. Essa
droga não me controla, eu sei que eu sou muito mais forte do que a cocaína. Eu
tenho controle do que eu tô fazendo e além de tudo, eu paro quando eu quiser,
não tem erro. A cocaína não mata. A cocaína é uma mentira.
Façam um seguro de vida para seus filhos. Fique atento ao que acontece
dentro da sua própria casa. A vida de seu filho pode estar em perigo. “Isso não vai
dar nem pra uma grama, vou dar uma geral lá em cima também” – garoto levando
coisas da própria casa para vender e conseguir droga. Diálogo, o melhor seguro
contra as drogas. Drogas, nem morto.
É isso aí, eu uso drogas, mesmo e daí? Pra mim isso não é problema, é só
de vez em quando. Mesmo agora, por exemplo eu tô aqui, mas na hora que eu
quiser eu paro. Eu sei o que eu faço. Drogas, nem morto.
Quem usa droga acaba não dando valor a mais nada e perde as coisas
mais caras da vida: respeito, amigos, família e não ganha nada em troca. Não use
drogas. O preço é alto demais. Drogas, nem morto.
Rodrigo, 19 anos, ex-jogador de basquete, André, 20 anos, ex-sushi man,
Bob 23 anos, ex-cantor de reggae, Patrícia, 16 anos, abandonou os estudos.
Sérgio, 30 anos, ex-publicitário. Quem usa crack não estuda, não trabalha, não
come, não vive, só vegeta. Drogas, nem morto.
Grande liquidação de neurônios, aproveite! Comprando agora nossos
produtos, você se transformará num imbecil fumado, um idiota cheirado ou mesmo
um débil mental ficado. Mande todo o seu dinheiro agora, depois o do seu pai, da
sua mãe e de quem mais você conseguir. Não tem dinheiro para drogas? Que
vergonha! Nós aceitamos toca-fitas, relógios, tênis, use drogas! Você só não será
um jumento perfeito porque ninguém é perfeito! Seja burro, use drogas!
- E aí? Vamos acender um?
- Opa tá na mão. Você quer Maria?
- Não, tô na boa.
- Ah! Maria só um pega vai?
- Não.
- Ah Maria deixa de ser careta!
- Ah Teca se sabe, minha viagem é outra.
- Ih!
- Posso ser Maria sim, mas nem sempre vou com as outras.
- Drogas, nem morto.
-Bebê brincando com faca.Com as drogas também é assim. Quem usa não sabe o
risco que está correndo. Converse com seu filho. Drogas, nem morto.
-Crack teste, quem faz isso pode quebrar a cara.
-(Garoto olhando álbum de fotografia) Aqui eu tinha um ano, eu estava
aprendendo a andar. Dez anos, com o time de futebol. Essa aqui é a Dani. Aqui eu
tinha uns 15, cara eu pegava altas ondas. E aqui (após algumas páginas em
branco) com 26, quando eu me livrei das drogas.
-As drogas roubam um tempo precioso da sua vida. Seja vivo, drogas, nem morto.
-Lei da ação e reação: você consome drogas => drogas consomem você. Drogas.
Nem morto.
-Você está vendo um dos momentos mais brilhantes de quem usa drogas. Drogas,
nem morto.
-O maior problema que você pode ter em casa é alguém que usa drogas (menina
segurando uma batata quente). Encare esse problema de frente. Drogas. Nem
morto.
-Ele sempre foi o mais adiantadinho da turma, foi o primeiro a experimentar bebida
alcoólica, aos 11, já tinha cheirado benzina, com 12 fumava maconha todos os
dias e hoje, aos 13 anos, repete pela 4ª vez a 4ª série. Está mais do que provado:
quem fuma maconha, fica pra trás. Drogas. Nem morto.
-Você acha que é fácil descobrir se o seu filho está usando drogas? Ele vai chegar
com os olhos vermelhos e um comportamento estranho, vai andar com amigos
suspeitos e chegar de madrugada, mas tem uma coisa que você não pode
imaginar: 1 em cada 10 usuários experimentou drogas pela primeira vez entre 8 e
12 anos de idade. Drogas. Nem morto.
-Se você usa drogas, sabe o que você tem na cabeça? (barulho de descarga).
Use a cabeça, não use drogas. Drogas. Nem morto.
-Escorpião passeando pelo corpo de uma moça. Frase: Se você usa drogas, o
perigo é o mesmo. A diferença é que é você que põe o veneno dentro do corpo. O
mesmo só que é um homem com uma aranha em cima do corpo.
3)Aquecimento específico
Ana Lúcia- Vamos encontrar uma posição na cadeira de uma maneira mais
confortável e vocês vão tentar fechar os olhos. Vocês vão lembrar, um pouco do
depoimento da garota, que hoje está com 16 anos, vocês acabaram de ouvir, e
vamos lembrar um pouco dessas propagandas que vocês viram agora, que todas
elas são assim, o enfoque tem relação à prevenção da droga. Enquanto vocês
estiverem com os olhos fechados, eu vou estar dando algumas senhas pra vocês
falando. Quando eu falar pra vocês: falem com uma só palavra o que vocês estão
sentindo, sem nenhuma censura vocês vão colocando pra fora, mas uma palavra
só. Então, eu vou pedir isto para vocês várias vezes, mas eu quero que vocês
façam com os olhos fechados.
Ana Lúcia- Eu queria saber o que vocês sentiram quando ouviram o depoimento
e agora que vocês viram todas essas passagens de prevenção? Que sentimento
vem à tona quando a gente se depara frente a um assunto tabu, e que também
preocupa.
Platéia- O que me preocupa hoje é que tem muita informação por aí. Nós, pais,
ainda não estamos tão informados quanto os filhos. Eles falam o tempo todo
nisso! A gente não sabe se isso é bom ou ruim?
Ana Lúcia- Vocês acham que isso é por que tem muita informação ou por que os
jovens estão mais próximos da droga e acabam sabendo de tudo?
Platéia- Tem um programa na televisão, chama MTV, eu fico nervosa porque meu
filho fica o tempo todo ligado nisso. Neste programa o apresentador fala quando
um cantor está usando droga por muito tempo, o tempo de vida de cada um deles,
é um horror... Então eu falei para ele: porque fica ouvindo isto o tempo todo que
você fica ouvindo isso? Você acha bom ouvir? Ah! fulano já era pra ter morrido há
muito tempo e está vivo até hoje. Eu não sei, mas fico o tempo todo distante dele,
fico longe. Isso está nos atrapalhando, o nosso relacionamento está muito ruim.
Ana Lúcia- Essa é uma das questões que a gente vai discutir hoje. Quem mais
gostaria de falar?
Platéia- Eu acho que todo mundo percebe que a realidade das drogas hoje é
muito cruel. E eu acho que quanto mais informação melhor.
Ana Lúcia- Então, vamos lá.
Platéia- Eu queria saber como a gente precisa lidar com os filhos, porque isso
que a gente está vendo no filme, tem em todos os lados. Eu tenho um menino de
13 anos e quando eu falo alguma coisa das companhias dele ele não gosta, acha
que estou pegando muito no pé. Eu queria mais era saber como chegar até ele e
explicar para ele o que ele tem que fazer.
Ana Lúcia- Eu espero que hoje vocês saiam daqui pelo menos com uma noção
do que você vai fazer. E para isso a gente tem que olhar um pouquinho pra gente,
no que aprendemos com nossos pais, o que a gente tem passado para os nossos
filhos. Então vamos fazer o seguinte: vocês vão sentar na cadeira de uma forma
bem confortável e vão fechar os olhos. À medida que eu for falando, vocês vão
ouvir algumas senhas que eu vou dando e vocês vão tentar dizer com uma só
palavra o sentimento de vocês. Procurem respirar bem profundo pelo nariz e soltar
levemente pela boca. Procurem ficar bem tranqüilos e tentar deixar entrar um
pouco disso no seu coração. Procure pensar agora nesse assunto tão polêmico
que nós estamos conversando hoje, sobre drogas, procurem pensar na violência
que a gente está vendo na televisão, pessoas que estão próximas da gente
vivendo com esses problemas e fale com uma só palavra, qual é o sentimento que
vem pra vocês quando vocês pensam na palavra “drogas”. Podem falar com 1
palavra.
Platéia- Raiva, restrição, tristeza, medo, angústia, violência, calamidade,
desgosto, sofrimento, morte, ódio, tristeza, violência, destruição.
Ana Lúcia-: Procure fechar os olhos, você consegue entrar melhor na situação,
no trabalho. Se coloque agora, pense um pouco na época adolescente de vocês, o
que seus pais lhe ensinaram? O que eles falavam pra você sobre drogas? Pense
em tudo o que seus pais passaram para vocês sobre o tema “drogas” e fale com
uma só palavra o que você sente quando pensa nisso. Tente fechar os olhos, fica
mais fácil trabalhar. Que palavra vem na cabeça quando você pensa na época que
era adolescentes e os seus pais orientavam sobre o problema da drogas.
Platéia- Nada; meus pais não falavam nada; imagina, este assunto acontecia só
com os filhos dos outros; medo; falta de proteção; falta de esclarecimento;
incompreensão.
Ana Lúcia- Pense, imagine vivendo aquela época. Seus pais falavam com vocês
sobre drogas? Fale com uma palavra, o sentimento que se apodera de vocês se
vocês tem ou não informação.
Platéia- Dúvida; não consigo pensar, ausência de informação,; falta de bom-
senso; ta difícil aceitar tanta falta de esclarecimento; ignorantes; eu tinha
curiosidade.
Ana Lúcia- Pense agora no que você está ensinando a seus filhos a respeito das
drogas. Pense como você conversa com eles, que tipo de vínculos têm com seus
filhos, que tipo de conversa você tem com seus filhos? Que tipo de sentimentos
você sente quando você pensa no que você está fazendo com os seus filhos?
Platéia- Vida; Amizade; Proteção; Amor; Respeito; Prazer; Felicidade; Dificuldade;
Dignidade; Orientação; Honestidade; falta de esclarecimento; ignorância; pouco
preparo.
Ana Lúcia- Quem não falou, tenta falar.
Platéia- Informação.
Ana Lúcia- Tente se aquecer. Pense o que vocês estão ensinando para o filho de
vocês.
Platéia- Saúde; Inteligência; Diálogo; Caráter; Respeito; Religião; Ser humano;
Boas amizades; Atenção; Educação; Bons sentimentos.
Ana Lúcia- Respire bem profundamente, abra os olhos lentamente e vamos
procurar voltar para esta sala,de uma forma bem tranqüila. Quem sabe o que é
droga?
Platéia- É uma química. É tudo o que não presta. Mas você sabia que algumas
drogas tratam quem tem câncer, quem tem doença séria. A droga é boa. Isso é
ótimo! É um mato! Droga é uma coisa que cria dependência.
Ana Lúcia- Eu gostaria de saber se vocês conhecem as drogas. Mas vocês
sabem o que é, sabem como é a droga?
Platéia- Eu já experimentei droga. Álcool. Maconha.
Ana Lúcia- O álcool é uma droga. Cigarro é uma droga. Quem conhece as drogas
aqui levanta a mão! Os tipos de drogas? Quer dizer a minoria. A senhora já viu
também vovó?
Platéia- Conheço muito bem as drogas. Leio muito sobre elas. É uma droga para
os adolescentes!
Ana Lúcia- Não precisa dizer mais nada. Com certeza. Quantas pessoas
conhecem? Somente dez. Aqui deve ter 70 pessoas mais ou menos.. É um grupo
pequeno que conhece as drogas.
Ana Lúcia- Por isso nós vamos fazer uma coisa hoje que normalmente a gente
não faz que é mostrar a parte teórica. No sociodrama a gente lida muito com
papéis. Que são os papéis? Vamos dramatizar. Temos a pessoa que vai fazer o
papel da maconha, nós vamos trabalhar apenas com as drogas mais conhecidas,
porque se a gente fosse trabalhar com todas a gente ficaria até o resto da noite
aqui, explicando pra vocês. Maconha, crack, cocaína, o álcool e os solventes
inalantes. Mas antes eu vou dizer pra vocês o que é droga. Droga é qualquer
substância química ou a mistura delas (à exceção daquelas necessárias para a
manutenção da saúde, como, água e oxigênio) que altera a condição biológica do
corpo. E a Organização Mundial da Saúde (OMS) diz que o usuário de droga, que
faz uso de dependentes químicos é um doente. O usuário de álcool é um
alcoólatra, é um doente. Qualquer droga faz com que a pessoa vá aos poucos
cavando o seu buraco. É fatal, certo? Qualquer substância natural ou sintética que
tenha capacidade de alterar as funções fisiológicas do comportamento da pessoa,
é considerada como droga.
Ana Lúcia- Então existem as drogas naturais (feitas de plantas), a maconha é
uma delas, os cogumelos, são as drogas psicoativas. Elas são usadas
diretamente como drogas ou extraídas e purificadas. Maconha, cocaína,
cogumelos, de uma maneira geral , aqueles que fazemos chá com eles. As semi-
sintéticas são as que provem do resultado da reação química realizadas em
laboratórios das drogas naturais. Por exemplo, certas plantas , como por exemplo:
a folha de cocaína, não é considerada droga. Eu mesma fui jogar voleibol na
Bolívia. E La Paz, a capital da Bolívia está situada num local de altitude muito
grande. Lá é muito alto e no meio do jogo a gente sente que vai desmaiar,
portanto, neste momento eles davam folha de coca para que a gente mascasse.
Aquela sensação ruim vai embora. Eu coloquei aquilo na boca e comecei a
mascar. Quando acabou o jogo eu perguntei a ele o que é isso? Folha de coca. E
eu disse,esse negócio funciona. Mas não é considerada droga. A folha, o mato,
certo? Quando ela passa por qualquer manipulação em laboratório ou até de
forma clandestina e são acrescentados alguns componentes extras, ela torna-se
nociva ao organismo. Outras drogas sintéticas que são manipuladas em
laboratório, são: o LSD, o ecstasy. Os calmantes de uma maneira geral que,
tomamos normalmente, se ingeridos com álcool potencializam o efeito da droga.
Ana Lúcia- Vocês acham que todas as drogas são proibidas?
Platéia- Não, existem algumas que não são proibidas.
Ana Lúcia- Existem 2 tipos de drogas: as chamadas lícitas e as ilícitas. As lícitas
são aquelas que não é crime produzir.: álcool, tabaco, cafeína e outras de uma
maneira geral. E as ilícitas são aquelas cuja produção e comercialização é
considerada crime. Aqui no Brasil, as drogas mais procuradas são a maconha e
cocaína. Quanto ao mecanismo de ação elas podem ser depressoras, que são
drogas que deprimem o sistema nervoso central. E as estimulantes, que são as
drogas que aumentam a velocidade das funções cerebrais, certo? Vocês vão ver,
conforme a gente vai falando que as drogas afetam diretamente o coração e o
cérebro. O perigo maior do uso delas é este, tá? E elas podem ser também
alucinógenas, que são aquelas drogas que alteram totalmente a percepção e a
sensação do tempo e espaço. A maconha em alguns casos, dependendo da
quantidade do uso e o LSD.
Ana Lúcia- Bom, então agora nós vamos fazer o seguinte: agora eu vou chamar
uma pessoa para interpretar , fazer o papel de uma droga que está sempre ao
nosso redor, o álcool. O Sr. Álcool vai dizer a vocês o que ele faz no organismo de
vocês. E depois, se tiverem alguma pergunta a respeito do álcool, a gente vai tirar
as dúvidas para que vocês saiam daqui sabendo um pouco os sintomas e os
efeitos.Eu já me comprometi com a Lígia de trazer para vocês uma cartilha que eu
estou montando com algumas orientações para os pais em relação à
drogas.Então vamos lá, senhor álcool, pode entrar em ação.
Ego Auxiliar na dramatização
E A- Como vocês já sabem, eu sou o álcool. Eu sou tudo na vida de muita gente.
Estou em qualquer lugar, sou muito antigo, evito o stress, a polícia não se
preocupa comigo. Sou baratinho! Olha, uma pessoa tímida fica numa boa comigo.
Adoro pegar um fígado.
Platéia- Mas se eu beber você socialmente não tem problema?
E A- É verdade quem bebe socialmente não tem problema? Acreditem nisto!!
Hahaha!!!Eu vou entrando na vida das pessoas aos pouquinhos e quando elas
percebem, já estou instaladão.
Ana Lúcia- O álcool é a droga mais traiçoeira que existe, sabe por que? Porque
no início do uso, ela dá prazer e ela precisa de muitos anos de uso para causar
dependência. Para vocês terem uma idéia, de 10 a 15 anos de uso. O indivíduo
começa a mudar o mecanismo do fígado. O alcoolismo é uma doença que se
instala no fígado. Isto demora de 0 a 15 anos. Então é uma doença traiçoeira
porque quando você bebe tem prazer e então você acha que está tudo bem. O
jovem bebe muito. Sabe aquele cara que quer tirar a garotinha para dançar e não
faz porque é tímido, ele vai lá e toma uma. Então isto é uma coisa que a gente tem
que estar trabalhando com a garotada. Existem outras formas de lidar com as
dificuldades. Mas me diga uma coisa, sr. Álcool,quais são os efeitos que você faz
no organismo?
E A- Eu promovo a desinibição, todo mundo fica super bem quando me bebe. Mas
eu também provoco desequilíbrio do raciocínio e julgamento. Vê tudo colorido,
diminui a pressão sangüínea.
Platéia- Só isso? Meu Deus!!.
E A- Que nada, ainda tem mais. Eu provoco lentidão dos reflexos motores,
diminuição da excitação sexual, hahaha!!! Chego até a deixar neguinho broxa!!
Platéia- Que horror, isto é verdade?
Ana Lúcia- Alguém sabia que o alcoolismo pode causar impotência? Os homens
sabiam disto?
Platéia- Eu já ouvi falar,mas não sei como. O que tem a ver a bebida com aquilo
lá.
Risos da platéia.
Ana Lúcia- Por que? O álcool afeta diretamente a parte circulatória do organismo.
E como a ereção é um refluxo sangüíneo mandado do cérebro para os órgãos
genitais, desta forma, na presença de um acúmulo de álcool, as células vermelhas
não circulam pelas artérias ,vasos e veias de um modo ajustado. Eles se
aglomeram e rompem os vasos. Por isso os alcoólatras têm vermelhidão, rubor de
face maior do que as pessoas que não bebem. Vocês já viram algum alcoólatra
vermelhão? Todo mundo viu, com certeza, não é? Então, é este mesmo processo
que acontece com a potência masculina. O fato da circulação sangüínea não ser
normal, o estímulo enviado pelo cérebro na hora da excitação, não promove a
circulação sanguínea de forma adequada,o que não é eficiente para manter a
ereção. Muitas vezes os homens até têm ereção, mas é comum o relato de uma
seqüência de impotência nas relações sexuais muito grande. A gente ouve muito
relato de alcoólatras que têm dificuldade na sexualidade, de não conseguir transar
e ter impotência. A mulher infelizmente, ou felizmente não sei, não tem ereção,
mas é sabido que a presença do álcool no organismo diminui a libido. Outro fato
interessante é que a mulher que está grávida e bebe, pode gerar uma criança já
com processo de alcoolismo instalado, e, muitas vezes até em síndrome de
abstinência. Tipo assim, a criança tem 6, 7 anos e quiser experimentar um gole de
cerveja ela pode desenvolver a doença, é muito sério, tá?
Ana Lúcia-Bom, agora vamos chamar o personagem maconha.
Ana Lúcia- O ego auxiliar vai começar a dramatização.
Ego auxiliar na Dramatização.
E A- Eu sou a maconha, não faço mal a ninguém, pelo contrário, causo o maior
barato. Sou natural, deixo as pessoas relaxadas, os sentidos aguçados.
Platéia- Eu não acredito nisto. Quais são os efeitos que você faz no organismo
senhora maconha.
E A- Eu causo muita sonolência, aumento dos batimentos cardíacos, sou
excitante, diminuo a pressão sangüínea, faço com que os olhos fiquem
avermelhados, causo uma sensação de euforia, muitas risadas, dou larica
(principalmente de doce). Sabe, as pessoas que usam falam muito. Eu provoco
uma palidez diferente na pessoa e também tremedeira, dilatação da pupila e
muita sede.
Platéia- Nossa, tudo isto?
E A- Anda não terminei. Eu costumo fazer com que a noção de tempo e espaço
fique prejudicada nas pessoas que me usam. Provoco uma irritação da garganta,
pulmões e provoco câncer. Esta é a melhor parte. Provoco também a bronquite e
enfisema pulmonar que são as doenças mais constantes muito parecidas com
aquelas que são desenvolvidas pelos efeitos do cigarro. Também promovo a
deficiência imunológica do organismo, prejuízo do aprendizado e da concentração,
principalmente em jovens. Causo ansiedade, dor de cabeça e depressão, sono
prejudicado, irritabilidade, diminuição dos reflexos, paranóia e desânimo
generalizado. Você sabe que eu for usada de uma forma muito exagerada, posso
causar um estrago grande no organismo?
Platéia- Meu Deus, não posso crer. Eu acredito nisto, sim.
E A- Sabe, ainda te mais. Eu consigo diminuir a condição dos espermas, posso
deixar uma pessoa incapaz de gerar um filho.
Ana Lúcia- Bom, é demais ouvir tudo isto, não? Então vamos continuar. Agora a
gente vai falar com um usuário da cocaína.
Ego Auxiliar dramatiza
Sou uma coisa muito sedutora, eu brilho. Causo sensação de bem-estar,
grandiosimo,sou poderosa, corajosa. O que posso causar: acho que paranóia,
atuo diretamente no sistema nervoso central, lapsos de memória, alucinações,
confusão mental, letargia, falta de energia, de motivação e morte.
Ana Lúcia- A gente sabe que o usuário de droga tem uma escadinha: ele começa
bebendo, depois vai usar maconha, depois cocaína, depois o crack, aí vai embora.
Estamos com o tempo esgotado ,mas falar rapidamente sobre o crack. O crack é
uma mistura da cocaína (bicarbonato de sódio) e água que depois de aquecida ela
vira pedra. É apresentada sob a forma de pedras e tabletes. Os efeitos do crack
são todos eles muito parecidos com a cocaína, mas em muito maior quantidade e
intensidade, certo? Então, é uma droga que provoca euforia, aumento das
atividades do sistema nervoso central, aumento da sensação de confiança e
segurança, aumento da pressão sangüínea, da freqüência respiratória, dos
batimentos cardíacos, quer dizer, tudo aumenta, são os mesmos efeitos da
cocaína, só que bem mais acentuados. Pode causar depressão profunda, essa é a
droga que... Sinceramente, mais me assusta, sem falar em LSD que é uma droga
muito severa.. Mas assim, o crack gera dependência num tempo muito curto de
uso, eu tenho um paciente com 2 meses de uso, ele despersonalizou, virou uma
outra pessoa. A própria mãe não o conhece. Ele mesmo não se conhece.Então é
assim, é uma droga muito severa. Certo? Causa ataques cardíacos, derrame
cerebral, congestão nasal, tosse, danos aos pulmões, queima dos lábios, língua e
garganta, perda de peso, desnutrição profunda e hiperventilação e uma
consideração para vocês saberem: para o feto, se esse crack é consumido
durante a gravidez pela mãe, aumenta a probabilidade de aborto, derrame
cerebral e morte súbita, pelo feto. Muito chocante, não?
Platéia- A gente não tem idéia que a coisa é tão grave assim.
Ana Lúcia- Vamos lá senhores inalantes e solventes?
Ego auxiliar na dramatização:
EA - Sou os solventes. Sou a alegria dos carnavais.
Platéia- No carnaval tem lança perfume?
EA- O melhor é que não é só no carnaval.Eu sou lança perfume, mas eu sou mais
do que isto: acetona, gasolina, tiner, cola, desodorante. Só que duro pouco. Os
meus efeitos são os seguintes: descompasso de respiração, fornecendo uma
sensação de estrangulamento, palpitação do coração, impulsividade, irritabilidade,
fala arrastada e graves transtornos mentais.
Ana Lúcia- Vocês sabem que os inalantes, de uma maneira geral,produzem um
efeito muito rápido. Então, por exemplo, lança perfume pode causar parada
cardíaca, dependendo da quantidade que a pessoa usa. Mas eu tenho um caso de
um paciente que o primo dele foi usar lança perfume dentro de casa. A lança
perfume é inalada, ou a pessoa põe no lenço e inala pela boca ou pelo nariz. E
ele não inalou pela boca, ele pegou um tubinho e aspirou o líquido dentro da boca.
Quando ele fez isso, foi muito vapor para dentro da boca e o que aconteceu? Ele
perdeu os sentidos e desmaiou para frente e a lança perfume estourou na boca do
rapaz, ele morreu na hora. Vocês imaginam um pai chegar em casa e ver uma
cena dessa, dentro da casa dele. O jovem não tem noção do que pode acontecer,
porque esta também é uma droga que afeta diretamente o sistema nervoso
central, certo? Então os inalantes são muito perigosos. Fluído de isqueiro, a
moçada está usando muito.
Ego auxiliar continua a dramatização.
E A- Posso causar ilusões, delírios, alucinações, parada cardíaca, acidentes como
incêndios, já que sou altamente inflamável, colapso de órgãos, distúrbios
neuropsicológicos e parte da coordenação motora.
Ana Lúcia mostra slides de todas as drogas fazendo os seguintes comentários:
Ana Lúcia- Bom moçada, como eu prometi vou mostrar cada drogas,
separadamente, para vocês em slides. A folha da maconha é mais ou menos
assim: normalmente é feita uma plantação. Ela se apresenta assim, parece fumo
de cigarro. É assim que o usuário consome, em forma de cigarro. Eles põem o
fumo dentro do papel e faz o papelote . É extraída logo e fumada. A cocaína, a
plantação dela é diferente, ela tem como se fossem uns frutozinhos, mas ela é
normalmente industrializada, passa por processo de refinação,e é vendida em
tabletes, desta forma.Vocês já viram na televisão a apreensão de tabletes assim
desse jeito?
Platéia- Sim, muitas vezes. Dependendo da apreensão a gente consegue ver
melhor,geralmente quando é feita em grande quantidade.
Ana Lúcia- A cocaína é inalada e usada também esfregada na gengiva.
Normalmente o usuário de cocaína que usa na gengiva ,tem toda essa parte
superior e inferior da gengiva corroída com o tempo de uso. Ela pode ser também
injetada. O crack é apresentado sob a forma de pedras, as pedras são grandes
quando eles fazem, são cortadas para poder caber no cachimbinho. Este é um
cachimbo de crack, ele é fumado.
EA- O crack também pode ser usado dentro da latinha de refrigerante, quando
eles perfuram, copinho de Yakult.
Ana Lúcia- A criatividade da moçada é uma coisa terrível Eles inventam tudo. Os
inalantes de solvente: lança perfume. Na Argentina não é proibido o uso, você
encontra em farmácias.
Ana Lúcia- Bom, então vamos dar continuidade e agora a gente vai fazer o
seguinte: vocês agora vão se reunir em grupos, vocês vão montar a cena e vão
fazer o seguinte. Vocês vão ter que escolher dentro do grupo quem será o pai, a
mãe e um filho para fazerem uma intervenção. Este grupo vai fazer de conta que
você, o pai da Mariana, encontrou um papelote de cocaína. Vocês vão vir aqui na
frente para dramatizar a cena. Conversem um pouco e vejam se conseguem
montar a cena.
Ana Lúcia- Olha, hoje nós vamos fazer aquele treinamento do papel de pai e
vamos mudando de pai até a gente chegar num modelo bom. Isso é muito legal
porque vocês vão gravando. Porque, se algum dia, espero que não, mas se vocês
tiverem que enfrentar uma situação como esta, saberão como agir. Certo? Vamos
lá o grupo1.
4) Dramatização
Mãe diz à filha que achou um cigarro diferente quando pegou a sua roupa para
lavar.
M- Filha, mas não é possível! O que é isto que eu achei na sua roupa?
F- Sei lá mãe, as meninas colocaram no meu bolso ontem, nem vi!!
M- Você acha que eu sou imbecil, o que é isto? (mostrando o cigarro)
F- Não sei mãe, é de minha amiga. Ela me pediu para segurar ontem na
balada.De vez em quando a gente sustenta uma ou outra coisa das outras.
M- Não minta (gritando). Fale a verdade, você acha que eu sou trouxa!!
F- Olha, ontem a gente foi na balada com um grupo novo, e tinha uma menina
que...
Ana Lúcia- Dá um tempo para mim. Perguntou a mãe: Você sabia o que era? O
que pode ser um cigarro diferente?
Platéia- Maconha.
Ana Lúcia- Se você deixar, vai dar margem para a filha enrolar,enrolar, mentir.
Então, é super importante que você demonstre saber do que se trata. Eu achei um
cigarro de maconha dentro da sua bolsa, você quer me explicar o que está
acontecendo? Repete, vamos lá!
Continuação da dramatização: Pais querem saber sobre o uso da droga
(maconha).
F- Mas mãe, isto aí foi minha amiga que colocou na minha bolsa. Eu nem sei o
que é mesmo...
M- Você está mentindo novamente.Isto é um cigarro de maconha, eu conheço. Já
vi numa palestra.
Risos da platéia.
M- Não adianta você querer me enganar. Faz quanto tempo você está usando
esta porcaria?
F- Mas eu não estou usando...
M- Não minta (mostrando-se mais calma).Me fala a quanto tempo você está
usando maconha?
F- Mas eu não estou usando maconha! Você não confia em mim?
M- Não, eu não confio. A pessoa que começa a usar drogas geralmente começa a
mentir muito.E você esta mentindo, que eu te conheço.
M- Vou falar com o seu pai para a gente te internar.
Ana Lúcia- Vejam só, no início do uso do cigarro de maconha geralmente o
encaminhamento não é para internação. Mas, em primeiro lugar, não somos nós
que temos que avaliar isso. A primeira intervenção que a gente faz, qual é?
Platéia- Talvez procurar um médico, psicólogo ou psiquiatra, um especialista, de
preferência, que trabalhe na área. Mas não internação direta, porque isso assusta
muito. Normalmente o usuário minimiza o tempo que ele usa. Mas vamos supor
que ela use há 3 meses. Acho que talvez ainda não precisa de
internação.Precisamos ter cuidado com a precipitação, sem orientação. Então
vamos lá, continua.
Dramatização continua.
M- Vou falar com teu pai e nós vamos te levar no médico do posto para que ele te
avalie.
F- Eu não vou , não vou mesmo.
Ana Lúcia- O pai ficou sabendo, e está sem ação e agora? Quem quer entrar no
lugar desse pai para ver qual é a ação que coloca?
Dramatização com o pai.
M- Você sabia que esta menina está metida com maconha?
P- Não, quem te falou isto?
M- Eu achei este cigarro no bolso da calça dela.
P- Mas não é possível filha, o que é que te falta. Eu gostaria de te dizer que isto é
uma coisa muito ruim para você. Isto vicia.A pessoa que usa maconha pode ter
um monte de problemas, você sabia disto?
F- Eu sei pai, este cigarro não é meu.
P- Não adianta você mentir, nós já estamos sabendo de tudo e vamos pedir a
alguém para te explicar tudo isto e , se for necessário, você vai fazer um
tratamento.
Ana Lúcia-: O que vocês acharam dessa intervenção aqui?
Platéia- Achei que foi formal demais.Não sei mas acho que o pai foi objetivo.
Ana Lúcia- Sabe o que eu senti? Se eu estivesse no lugar da filha teria ficado
incomodada. Foi uma intervenção muito formal. Uma das coisas que a gente tem
que se preparar para fazer numa intervenção destas é tirar a formalidade. Se você
tem essa proximidade com o filho no dia a dia, você chega e diz: “Minha filha, por
que você tá nessa? Que loucura? Isso aí é um caminho sem volta, vamos fazer
uma força para você sair disso.” Com proximidade fica fácil você acessar o
adolescente. Neste exemplo vocês viram que não tem proximidade nenhuma, os
pais ficaram à distância. Uma coisa a gente tem que lembrar: quanto maior é a
intimidade, mais fácil é a abordagem, certo? Palmas para esse grupo.
Dramatização do outro grupo- Pai encontra o filho e um amigo cheirando cocaína
e pai briga.
P- Mas, o que é isso?
F- Nada pai, eu estava explicando um negócio aqui para o meu amigo.
P- Você acha que eu sou trouxa, isso é cocaína!
P- E você rapaz, o que está fazendo na minha casa de manhã?
A- Eu, eu,eu,... vim com seu filho pegar umas coisas aqui.
F- Olha pai, meu amigo não tem nada a ver com isto.
P- Como não, encontro você e ele aqui cheirando cocaína, e ele não tem nada a
ver com isto. Cala a boca (gritando). Não existe explicação para isto. Você está
ficando louco. Vou te internar (gritando muito) .
Ana Lúcia- Congela a cena. O que é isto? Este pai está enlouquecendo. Perfeito,
se for esta a idéia, está perfeito. Mas veja, enlouquecer jamais! Quando isso
acontece temos que manter o controle da situação. Olha, é importante manter o
controle, porque na grande maioria das vezes acontece um confronto. Gente, eu
citei um exemplo que a gente usa muito na tarefa sobre limites, não devemos
regredir do papel de adultos para o papel de criança. A gente tem que se manter
no estado adulto.
P- Era isto que meu pai fazia. Como posso reproduzir tão igual?
Ana Lúcia- Este teu depoimento é muito importante. Lógico que você repete
porque você tem isto internalizado. É importante desconstruir estes
comportamentos que não agregam posturas de resolução. Quando você grita,
enlouquece, teu filho percebe e se aproveita disto, tentando te deixar
desarticulado.Vamos fazer da maneira certa: não pode regredir, viu pai e mãe
hein? Vamos tentar fazer o movimento correto. Vamos fazer a intervenção
adequada quando se pega o usuário usando a droga.É um flagrante. Então
pronto, vamos lá!
Continuação da dramatização.
F- Eu estou falando que não uso drogas.
P- Como não? Não adianta, eu peguei você usando.
F- Você sabe como é, vocês nunca tem tempo para a gente conversar, etc,etc,
P- O que menino? E você ainda quer colocar a culpa em cima de mim e de sua
mãe? Acho que você está ficando louco.
F- Não pai, só queria dizer...
P- Cale a boca.
Ana Lúcia- Para um pouco. Perceberam o usuário querendo culpar os pais de sua
dependência? Não podemos cair nessas esparrelas. Filho: não tem nada a ver
com sua família o fato de você querer usar drogas. Você usa drogas porque quer.
Essa pontuação você tem que fazer, porque senão, você entra num emaranhado
que não sabe sair.E começa relamente a assumir uma culpa que não é sua.
Fiquem atentos. Saibam ouvir, as intervenções importantes, mas o mais
importante é se manter no papel de adulto e ir direto ao assunto. Ele quis culpar o
pai . Essa mãe está atordoada. O que vocês acham que essa mãe deveria fazer,
enquanto o pai está conversando com o filho? É importante a mãe também fazer
uma intervenção, senão deixa para o pai todo o peso da orientação. Os dois
juntos são mais fortes do que ele. Aqui a gente não vai medir força, mas é
importante o filho ver o pai e a mãe juntos somando forças... Ele já teve uma
intervenção boa quando disse: desde quando está usando isso? Por que você
está buscando isso? O que está acontecendo? Ele já entrou e dar pra ver tudo,
vamos concluir.
Continuação da dramatização.
P- Filho, eu gostaria de te ajudar, mas é preciso que você permita que isto
aconteça.
F- Mas eu não preciso de ajuda pai. Eu não uso isto sempre.
P- Olha, eu não sei se você não usa sempre, mas já não confio no que você está
falando. Por isso, eu vou procurar uma ajuda para tirar você desta dependência.
M- Eu vou falar com a assistente social da firma para que ela possa me orientar.
Eu e o seu pai não vamos deixar você continuar com esta dependência ,porque aí
vai ser mais difícil de tirar depois.
F- Mas eu prometo que nunca mais faço isto se vocês não forem procurar
ninguém.Prometo!!
M- Não filho, você pensa que não tenho vergonha de procurar a assistente social
da minha firma não? Pois eu tenho. Que vergonha!! Parece que eu não consegui
educar meus filhos bem. Mas eu vou com o rosto erguido. Nós estamos
precisando de ajuda e você muito mais.
Ana Lúcia- Palmas para eles. Muito boa a intervenção da mãe, hein! O que vocês
acham que aconteceu neste diálogo?
Platéia- Ela fechou a questão, resolveu que ia procurar ajuda e não deu margem
para o usuário nem falar.
Ana Lúcia- Olha, isto é importante: quando a gente usa o autoritarismo, o
adolescente se retrai, ele vai concordar com tudo e vai continuar fazendo. Nesta
hora usar a autoridade é muito mais eficaz. Foi que esta mãe fez. Não deu chance
a ele para enrolar, para manipular eles. Então deixa eu te explicar uma coisa: a
gente tem que ter autoridade sem ser autoritário. É importante você pensar nisto.
Platéia- Eu não sei se chegaria a esse ponto. Acho mais fácil dar uma chicotada.
Ana Lúcia- Com a chicotada você acentua o processo de afastamento do
adolescente.
Platéia- Eu sou radical, eu procuro dar aquele susto, porque se você não dar o
susto, acha que tudo pode, então primeiro você tem que dar o susto.
Ana Lúcia-: Então, assim, o que eu podia deixar para esse grupo, primeiro
palmas para eles. Eu vou contar um pouco o que na prática a gente orienta numa
situação como esta. Não adianta a gente bater de frente. O ideal realmente é
manter a autoridade sem o autoritarismo, porque se você faz isso você se alia ao
jovem e leva ele para um tratamento ou coisa parecida. Por favor, todo mundo
dêem as mãos e agora vamos cantar uma música juntos para poder refletir tudo
que falamos hoje. Se vocês fecharem os olhos vocês vão escutar melhor.
Música Epitáfio (Titãs)
Devia ter amado mais,
Ter chorado mais,
Ter visto o sol nascer.
Devia ter arriscado mais,
E até errado mais,
Ter feito o que eu queria fazer.
Queria ter aceitado as pessoas como elas são,
Cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração.
O acaso vai me proteger,
Enquanto eu andar distraído.
O acaso vai me proteger,
Enquanto eu andar...
Devia ter complicado menos,
Trabalhado menos,
ter visto o sol se pôr.
Devia ter me importado menos,
Com problemas pequenos,
Ter morrido de amor.
Queria ter aceitado a vida como ela é,
A cada um cabe alegrias e a tristeza que vier.
O acaso vai me proteger,
Enquanto eu andar distraído.
O acaso vai me proteger,
Enquanto eu andar...
Devia ter complicado menos,
Trabalhado menos,
Ter visto o sol se pôr...
Ana Lúcia- Quantas mensagens bonitas, hein? Eu queria saber como é que
vocês estão se sentindo agora. Com uma palavra, o sentimento depois que a
gente tentou colocar uma sementinha no coração de vocês. Essa é a nossa
primeira reunião. Nós vamos ter outras. Como vocês estão se sentindo?
Platéia- Em paz, mais confiante, bem melhor, mais feliz, eu aprendi muita coisa,
mais aliviada, mais orientada, aliviado, procurando ter mais paciência, querendo
mais, mais confiante, mais preparada, mais calmo, mais orientado e decidido, com
mais idéias, menos autoritarismo, novos horizontes vão se abrindo, mais amigos,
mais amor, novas idéias,deixar de lado as coisas negativas que aprendi com meus
pais,ter coragem para mudar.
Ana Lúcia- Gente eu estou me sentindo super gratificada. Vocês são um grupo
maravilhoso, uns pais nota 10. Aquilo que a gente falou queria que ficasse como
orientação: pensem, repensem o que vocês acham que foi importante, absorvam,
façam o que vocês acham que não foi, descartem. Isso faz parte, a gente faz uma
orientação em cima dos comportamentos que a gente tem são melhores. Queria
agradecer esse grupo, a gente ainda vai se encontrar, muito obrigada!
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