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O criador fez uma coisa maravilhosa, que é podermos olhar a lua nascer,
e aqui em Brasília temos este privilégio. Sabemos que o homem branco
decifrou este código e no calendário está escrito: dia tal lua nova, lua
crescente, lua cheia. Mas o criador não permitiu que descobríssemos
quando vamos morrer. E a morte faz parte da vida. Este criador deu aos
índios o entendimento para descobrir isso e preparar a qualidade de vida.
(apud MORIN, 2000, p.22).
O cacique Marcos Terena argumentou sobre a vida dos índios e sobre a
importância que eles dão à qualidade da vida. Ele reconheceu o conhecimento do
homem branco, mas acrescenta que há de se ter qualidade no viver diário. Não há
agressão, não há imposição de pensamento. Há o reforço da necessidade de se
viver junto e com a natureza, e que haja respeito e acolhimento da natureza e das
pessoas que nela vivem.
Em outro Momento, Terena dirigiu-se diretamente a Edgar Morin:
Quero também deixar uma mensagem para o professor e dizer que para
mim, e em nome da minha tribo e dos meus antepassados, espero que o
seu trabalho, a sabedoria que o Criador lhe deu seja científica, mas seja
também humana. Porque muitos homens brancos ouvem a sua voz. Nós
vamos pedir ao Criador que ele lhe dê a inspiração maior de conversar
com as pessoas, de traduzir para elas essa preocupação
.
Porque não ser moderno, não ser desenvolvido, não significa ser
culturalmente ou intelectualmente pobre. Porque nós, os índios, nascemos
com uma sabedoria, um conhecimento, também religioso e espiritual, e
quando chegou a civilização nada disso teve valor ou sentido. Porque o
homem branco não sabia compreender a linguagem indígena. Alguns
políticos transformaram esse conhecimento em belas palavras. Alguns
tecnocratas transformaram esses conhecimentos em números para
justificar os seus erros. Uma civilização que não deu certo. Nos 500 anos
do Brasil, no mínimo, vamos pedir para que o Brasil faça um minuto de
reflexão. Que o País desligue seus rádios, televisores e computadores.
Que pare um pouquinho, para que possamos construir uma nova
expectativa de vida entre os índios e brancos, porque a responsabilidade
pelo futuro não é daqueles que vão nascer, mas de nós, que estamos
vivos (MORIN, 2000, p.23).
Marcos Terena reconheceu a posição de Edgar Morin como alguém que é
ouvido por muitos e com o qual muitos concordam. Mas pediu a ele que não seja
apenas cientista, mas que fale incorporado da sua humanidade. Afirmou ainda
que os índios não foram respeitados, porque o homem branco não conseguia
compreendê-los e, por isso, muitos povos indígenas acabaram desaparecendo.