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RESUMO
A certificação de que o estudante graduado está apto a exercer a profissão com com-
petência, é uma exigência da sociedade e responsabilidade da instituição formadora.
Na educação médica, as competências envolvidas constituem, quase sempre, conhe-
cimentos e habilidades complexas, com inter-relações variadas entre os domínios, ao
lado do desenvolvimento de valores éticos, atitudes e comportamentos, todos essen-
ciais ao futuro exercício profissional. Portanto, a avaliação do estudante de medicina
deve incluir uma diversidade de instrumentos voltados para aspectos específicos que
permitam identificar as áreas de desempenho que necessitam ser fortalecidas para
garantir um atendimento de qualidade à população.
Apesar do currículo do curso médico da UFMG, desde 1975, contemplar plenamente
o desenvolvimento de competências para o exercício da profissão, paradoxalmente,
o processo de avaliação prioriza os conteúdos cognitivos. A avaliação das habilida-
des clínicas é feita de maneira informal e individual por meio de notas de conceito,
dada pelo professor ao final da disciplina, baseada, principalmente, no comporta-
mento do estudante, sem critérios bem definidos, o que pode propiciar avaliações
viciadas e influenciadas pelo “efeito halo”.
A avaliação de competências clínicas é uma etapa essencial na formação do estudante
de medicina e deve ser feita pela observação direta do desempenho em situação real
O presente projeto tem como objetivo determinar a confiabilidade e a consistência
interna de um instrumento para avaliação de competências, cujo formato é de uma
observação curta (15 a 20 minutos) feita por um preceptor/professor a um atendi-
mento conduzido pelo estudante. Logo após o término da consulta o professor faz
um breve retorno ao estudante (feedback), apontando as áreas em que esse foi bem
avaliado e aquelas em que há necessidade de maior investimento. A avaliação de
cada uma das competências – entrevista, exame físico, qualidades humanísticas, ra-
ciocínio clínico, habilidades de orientação, organização e competência clínica geral
– é medida em uma escala de 1 a 9 sendo as notas de 1 a 3 consideradas como
insuficientes, 4, 5 e 6 como suficientes e 7 a 9 como superiores. Não há em nosso
meio nenhum estudo sistematizado sobre o Mini-Ex.
Foram produzidos 12 vídeos mostrando o desempenho do estudante em atendimento
à pacientes internados na Enfermaria de Pediatria e Unidade Neonatal do Hospital
das Clínicas da UFMG. Vinte e quatro professores experientes do Departamento de
Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG, com média de 28 anos de docência,
assistiram individualmente aos filmes, pontuando os componentes da competência
no Mini-Ex.
O coeficiente de correlação intraclasse foi de 0,708 com intervalo de confiança de
95% e o Coeficiente Alfa de Cronbach variou entre 0,87 e 0,96 indicando boa confi-
abilidade do instrumento. O escore de satisfação com o instrumento dos participan-
tes foi de respectivamente 7,5 entre os professores e 8,3 para os estudantes. O Coefi-
ciente de Correlação de Pearson entre o escore do Grau de Satisfação do Professor e
o item Competência clínica geral mostrou-se elevado (R = 0,97) e altamente signfi-
cativo (valor –p < 0,001).
Os achados concordam com a literatura e recomendam o prosseguimento de estudos
para a avaliação dos critérios de validade e exeqüibilidade.