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Resumo
A focagem noturna é uma atividade realizada no mundo inteiro como forma de procura ativa de diversas
espécies de animais. Além de auxiliar em pesquisas científicas, também é utilizada no meio turístico para
a observação de espécies ativas nesse período. Na Fazenda San Francisco (Pantanal de Miranda-MS),
além de outras atividades turísticas, a focagem noturna é realizada em média de cinco a seis vezes por
semana. Com isso, o objetivo desse trabalho foi acompanhar as focagens noturnas realizadas com os
turistas nessa fazenda para fazer o levantamento das espécies de mamíferos de médio e grande porte que
ocorrem na área. Três áreas da fazenda foram definidas, dependendo do uso da terra dado: a) área de
arrozal, b) pecuária e c) reserva. As localizações das espécies foram georreferenciadas e plotadas sobre
uma imagem de Satélite CBERS-2 (sensor CCD). Com os dados foram comparadas as taxas de encontro
de cada espécie observadas durante as estações de cheia e seca e os índices de Shannon-Winner para as
três diferentes áreas. Foram realizadas 21 coletas sendo 10 na cheia e 11 na seca. Ao todo, foram
percorridos 540 km (270 km em cada uma das estações), sendo 280 km na área de cultivo de arroz, 185
km na área de reserva e 75 km na área de pecuária. Foram observadas quinze espécies de mamíferos de
médio e grande porte das quais cinco ocorreram apenas na seca. Doze das quinze espécies foram
observadas na área de reserva, nove na região do arrozal e o mesmo número na área de pecuária. A maior
diversidade observada foi da área de reserva (1,670) depois na área de pecuária (1,493) e, por fim, na área
de arrozal (0,545). Além disso, na maioria das observações feitas na região de arrozal as espécies estavam
próximas a áreas de mata (menos de 360 m), com exceção de capivara Hydrochoerus hydrochaeris,
mostrando a importância das bordas de mata. As densidades, calculadas através do programa
DISTANCE, na cheia e na seca, respectivamente, para as diferentes espécies foram as seguintes: cervo-
do-pantanal (Blastocerus dichotomus) 0,273 ±0,080 indiv./km
2
, 0,301 ±0,088 indiv./km
2
; capivaras (H.
hydrochaeris) 12,965 ±2,081 indiv./km
2
, 28,959 ±5,449 indiv./km
2
; lobinho (C. thous) 0,919 ±0,306
indiv./km
2
, 2,034 ±0,621 indiv./km
2
e jaguatirica (Leopardus pardalis) 0,428 ±0,052 indiv./km
2
, 0,516
±0,149 indiv./km
2
. A taxa de encontro de tamanduá-bandeira Myrmecophaga tridactyla na cheia foi de
0,007 indiv./km e na seca foi de 0,140 indiv./km sendo que só foi possível calcular a densidade dessa
espécie nesse último período (1,054 indiv./km
2
). As densidades de grupos de H. hydrochaeris também
foram maiores na seca (dens. cheia = 4,295 ± 0,514 grupos/km
2
; dens. seca = 6,072 ±0,819 grupos/km
2
).
Com exceção do lobo-guará Chrysocyon brachyurus, que teve uma taxa de encontro maior na cheia, todas
as demais espécies tiveram um taxa de encontro na seca maior do que na cheia. Dessa forma, a melhor
época do ano para a observação a maioria das espécies é a seca e essa informação pode ser usada para
melhorar a atividade turística. A diversidade de mamíferos é dependente da floresta – foram observadas
mais espécies na área de reserva e próximo às bordas de mata do que em outro ecossistema. Essa
informação pode ser útil no planejamento do uso da paisagem, considerando a importância dos corredores
de florestas nas diferentes atividades das quais as terras no Pantanal são tradicionalmente usadas.
Palavras-chave: Focagem noturna, mamíferos, Pantanal, densidade, taxa de encontro
.