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Mesmo negando que procurava o médico para consultar, Abel referiu que todo o ano
fazia os exames “como manda o figurino”. Nesse caso, ele quis dizer que não ia ao
médico sempre, por qualquer problema. No entanto, está clara a hegemonia médica na
definição que transforma problemas de saúde em problemas médicos, assim
reconhecidos como e legitimados pelo diagnóstico médico. Já o comportamento de Ada
foi diferente:
Aí a minha irmã marca uma consulta pra mim, e aí eu vou no médico
quando eu tô muito necessitada, que eu tenho pressão alta, e aí quando
eu tô com falta de assim [de ar], ou tô chorando muito, que eu choro
muito, porque eu sou depressiva demais, daí a minha irmã marca uma
consulta pra mim. Eu tô sempre medicada, eu tenho remédio pro
coração, eu tenho remédio pra depressão, pra tudo eu tenho remédio,
que se eu não tenho mais eu compro né, que eu tenho um remédio que
é de faixa preta, né? Eu não posso ficar sem ele, e o remédio pro
coração também, quando eu tenho dor no peito eu boto ele embaixo da
língua pra dor no peito. E eu tomo sempre o remédio da pressão que eu
sinto dor de cabeça, eu sou medicada em casa mesmo. Aí quando eu
tomo esses remédios e não resolve, aí eu sou obrigada a ir no médico
(Ada, 63 anos).
Como podemos observar, existia uma dependência muito grande de
medicamentos e das consultas com o médico por parte de Ada. Ela referiu que estava
sempre medicada e que não podia ficar sem os remédios. Mesmo assim, ela
reconhecia que às vezes só os remédios não resolvem seus problemas aí ela se sente
“obrigada a ir ao médico”. Observa-se contradições em seu depoimento quando dizia
que não gostava de ir ao médico seguidamente, porém, anteriormente dizia que fazia
uma consulta uma vez por mês, às vezes uma vez por semana:
Vou ao médico uma vez por mês, às vezes, depende, uma vez por
semana. [...] eu tento não ir porque eu não gosto de ficar indo em
médico, só por necessidade, quando eu sinto tontura, choro muito aí eu
ligo pra minha irmã e ela diz pra mim ir no outro dia pra ir no médico, eu
vou. [...] o médico só conversa com a gente e a gente já sai aliviado,
além de médicos, são amigos da gente, é só conversar com o paciente
(Ada, 63 anos).