Venha fazer parte da nossa
equipe!” A loja de sapatos da
Teodoro Sampaio, agitada rua
comercial da cidade, pagava 5
por cento sobre o que eu ven-
desse, e mais nada. Nem o
transporte.
Começo numa sexta-feira
de sol. Chego à vitrine cheia
de variados sapatos, tênis,
chinelos, botas, e sou manda-
da para o fundo da loja, espe-
rar ao lado de duas meninas
tão ansiosas como eu, que o supervisor vai
falar com a gente, já está a caminho.
Dentro da loja é um corre-corre, dezenas
de vendedores com a camiseta verde,
uniforme da loja. Esperamos. Esperamos.
Esperamos.
Horas. Finalmente o tal supervisor dá
o ar da graça. Explica tudo de novo – 5 por
cento, das 8 às 18, marmita, temporário,
entusiasmo etc. – em cinco minutos, e nos
manda para o estoque. Que é um pesade-
lo. Na sobreloja, uma estreita sala, com
uma mesa de madeira, serve de refeitório,
enquanto o banheiro sujo com só um vaso
é a área privativa onde os vendedores se
trocam. Um grande filtro fornece água –
que é descontada dos salários, 2 reais de
cada vendedor por semana. Nas salas ao
lado, o estoque: um enorme labirinto escu-
ro de caixas, amassadas, abertas, coloridas,
velhas, novas, empilhadas pelo caminho,
onde couberem, o cheiro de
sapato novo ardendo o nariz. O
desafio, aqui, é saber onde está
cada sapato, e pegar rápido o
número certo antes que o clien-
te se aborreça. Por isso, ficamos
horas ali, decorando a posição
de cada marca. Antes de ir
embora, nossas bolsas são
revistadas.
Segunda-feira. Chego na
loja, marmita na mão, mas sou
barrada. O gerente me chama
de canto: lá no escritório não aprovaram
meus documentos. Como assim, se estão
todos em dia? Por quê? Nada. A única
resposta repetida e repetida era que eles,
no escritório, são assim mesmo.
É verdade que nem tudo estava negro
naqueles dias. Afinal, eu dispensara um
promissor posto de trabalho, numa clínica
de massoterapia onde a recepcionista,
educada, me explicou com a maior ciência:
– Trabalhamos com massagem tera-
pêutica, em que você vai estar massagean-
do o corpo do cliente. Ela é antiestresse,
relaxante, antinervosismo. E também faze-
mos a massagem tailandesa, conhece?
– Não.
– Também é massagem no corpo do
cliente, só que na tailandesa você vai estar
usando partes do seu corpo, coxas, náde-
gas, seios, para a massagem. Só de calci-
nha.
Mulheres, Trabalho e Vida •
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Chego na loja,
marmita na mão,
mas sou barrada.
O gerente me
chama de canto: lá
no escritório não
aprovaram meus
documentos. Por
quê? Nada. A única
resposta é que eles,
no escritório, são
assim mesmo.