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Mas deveríamos admitir também que tudo quanto recai no âmbito do conceito mais
amplo de sexualidade, acima explicado, já estaria presente, em forma reduzida
como, por exemplo, todas aquelas manifestações afetivas da psicossexualidade
como a necessidade de carinho, o ciúme e muitas outras manifestações afetivas e,
não em menor grau, as neuroses infantis. (JUNG, 1989, § 259, p.124 grifo nosso).
Quando questiona o complexo de Édipo, Jung caracteriza o ciúme como uma defesa
em relação ao objeto visado:
A denominação complexo de Édipo não quer dizer que se considere este conflito em
sua forma adulta, mas em sua dimensão enfraquecida e reduzida, própria da infância.
Antes de tudo quer significar apenas que as solicitações de amor da criança se
dirigem ao pai e à mãe, e à medida que essas solicitações tiverem atingido certa
intensidade, a ponto de defenderem com ciúme o objeto visado, podemos falar de
um complexo de Édipo. (JUNG, 1989, § 343, p. 155, grifo nosso).
Em Psicologia do inconsciente, Jung analisa o caso de uma paciente que sonhou
que sua mãe havia morrido. Ele entende que a filha estaria apaixonada pelo pai e teria
o desejo inconsciente de afastar a mãe, mencionando seu “impulso infantil de ciúme”
(JUNG, 1995, § 22, p. 15).
O ciúme entre irmãos é relatado em O desenvolvimento da personalidade. No início
do livro, Jung usa o termo “ciúme infantil”, para referir-se ao caso de uma menina de quatro
anos que acabava de saber que ganhara um irmãozinho (JUNG, 2006b, § 11, p. 16). No final
da obra, ele comenta que um menino de sete anos sentia ciúme de seu irmão mais novo. O
paciente tinha dificuldade para falar, andar e era vesgo, enquanto o irmão menor não
apresentava estes problemas, sendo admirado por realizar tarefas com facilidade. Ele se
irritava com seus próprios insucessos e tinha acessos de raiva (JUNG, 2006b, § 213, p. 126).
Neste contexto, podemos estabelecer uma relação entre ciúme e complexo de inferioridade, já
que podemos imaginar que o menino de sete anos se sentia inferior ao irmão mais jovem,
competindo com ele pela atenção e aprovação dos pais. Esta observação é importante porque
o ciúme patológico está intimamente relacionado com o complexo de inferioridade, uma vez
que o ciumento acredita - consciente ou inconscientemente - que seu rival (real ou imaginário)
é superior a ele em um ou mais aspectos.