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Quadro 7 – Tipos de ancoragem institucional nas CQs
ESTRATÉGIAS RETÓRICAS
PARA ALCANÇAR O ESTATUTO DE “CIENTIFICIDADE”
Princípio
geral
Linguagem verbal
Estr. retórica Comentário
Preferência
pelas
construções
sintáticas
passivas
(sintéticas e
analíticas);
atribuição de
ações a um
sujeito outro
que não o
cientista.
Tentativa de “relatar o conhecimento científico como uma
decorrência, senão natural, irreversível dos resultados obtidos
pela aplicação do método”. Segundo a autora, “a linguagem
científica atribui ao método uma autonomia irreal”, já que ele se
encaixa num quadro teórico mais amplo (Machado, 1987: 338),
escolhido/ construído pelo cientista e, portanto, parcial.
A voz passiva e o apagamento do cientista como agente das
ações relatadas são estratégias de distanciamento (cf. Chafe,
1985), de modo que o fazer científico pareça algo independente
do sujeito que realiza as ações aí envolvidas. Exemplo:
“observa-se que...”, “os dados indicam que...”, “foram
encontrados indícios de...”, etc.
Preferência
pelas
seqüências
tipológicas
expositivas ao
apresentar
conceitos.
A exposição, segundo Dolz e Shneuwly ([1996]2004), é própria
dos textos relacionados ao domínio social de transmissão e
construção de saberes, visando, de forma sistemática,
possibilitar a apreensão dos conhecimentos científicos e afins,
numa perspectiva menos assertiva e mais interpretativa. É o
caso de textos expositivos, conferências, seminários, resumos
de textos expositivos e explicativos, relatos de experiência
científica.
Linguagem não-verbal
Estr. retórica Comentário
Desenhos
realísticos e
esquemáticos,
em preto e
branco.
Desenhos realísticos tendem a servir melhor para a descrição
dos seres e fenômenos que a ciência tem interesse em estudar.
O uso de cores, quando não funcional para a descrição de
algum processo, ou para a demonstração de algum princípio
científico, é da ordem do entretenimento e das artes e, portanto,
não-científico
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.
Enquadra-
mentos mais
convencionais
Em geral, a perspectiva preferida, nos textos de caráter
científico, é a da vista frontal, superior ou lateral, de modo que
se possa visualizar, com clareza, a parte do ser ou objeto que
está sendo descrita ou analisada.
Os closes aparecem quando é preciso colocar uma “lupa” para
enxergar melhor os fenômenos e, portanto, compreendê-los,
como faz o cientista.
I
M
P
A
R
C
I
A
L
I
D
A
D
E/
O
B
J
E
T
I
V
I
D
A
D
E
Desenhos
esquemáticos
com poucos
detalhes.
Essa espécie de desenho permite ao leitor “ver”, com maior
nitidez, os detalhes que se deseja ressaltar (Kress, 2003). A
demonstração de postulados expostos verbalmente é realizada
com o auxílio de instrumentos, no dizer de Latour (2003), tais
como esquemas, gráficos, tabelas. O leitor não mais apenas
um texto científico gozasse de credibilidade junto aos leitores, buscaria atender aos princípios
da imparcialidade e da legitimidade.
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Kress (2003) relata como um professor proíbe o uso de hidrocor e solicita o uso de lápis
grafite (cinza) numa tarefa escolar de desenho de célula vista no microscópio. O autor aponta
que a preferência pelo preto e branco é um dos traços de cientificidade.