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sentimo-nos presos às imagens. Nosso olhar não se desvia, nossa atenção é subtraída
pelo facho de raios catódicos, e absorvida totalmente. Isso se deve à forma como a
imagem no vídeo é construída. As linhas de varredura vão formando a imagem numa
frequência superior à captação do olho humano. A imagem é construída e desconstruída
simultaneamente, dando lugar às novas imagens que, assim, criam a impressão de uma
continuidade. Essas imagens criam um ritmo acelerado, fazendo com que “batam” na
tela. É esta frequência que prende nosso olhar, dando esta sensação de que estamos
hipnotizados. Nosso olho mal pisca, nossas mentes se abstraem, e se deixam levar pela
velocidade destas imagens. Mesmo se levarmos em consideração as condições em que,
geralmente, se assiste a um vídeo ou à televisão, onde o ambiente circundante é
fortemente dispersivo, nós imergimos na tela da tv, nos entregando à vibração, à energia
emanada por estas imagens.
Uma imagem eletrônica é a tradução de um campo visual para sinais de energia elétrica.
Isso é obtido pelo retalhamento da imagem em uma série de linhas de retículas que
podem ser varridas por um feixe de elétrons. O vídeo retalha a imagem em milhares de
retículas. Se a imagem contiver informações de cor, a câmera de vídeo a divide em três
componentes básicos (vermelho, azul e verde). No vídeo, o processo de constituição da
imagem é aparente, “impedindo o mascaramento das técnicas constitutivas, já exibindo
a enunciação das imagens pelos meios técnicos, em prejuízo inclusive do ilusionismo de
realidade, que no cinema é a base da verossimilhança” (Machado, 1988). Enquanto a
imagem cinematográfica é gravada em quadro fixo e na sua totalidade de uma só vez, a
imagem videográfica é escrita seqüencialmente por meio de linhas de varredura, durante
um intervalo de tempo.
Se não há o efeito de impressão de realidade, característico dos processos da imagem
cinematográfica, o que nos detém frente à tela da televisão? Não seria, exatamente, este
efeito hipnótico ao qual me refiro? A motivação de ver um filme na televisão, nos
convencendo de uma narrativa, nossa busca incessante por este efeito de impressão de
realidade seria então causado por este estado hipnótico ao qual nos atiramos para
podermos absorver a essência do filme e seus processos de identificação. “O cinema
parece ter sido inventado para expressar a vida subconsciente”. (Buñel, apud Xavier,
1983).