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São José dos Campos é innegavel, constitue hoje uma conhecidíssima estação de
saúde. É um centro especialíssimo de cura. Quase que, em procura de saúde, aqui
aportam enfermos tuberculosos.
É justamente por isso, também que a nossa situação se reveste de tão alta
excepcional gravidade, infundindo-nos justos receios pelos infinitos perigos que
nos rodeiam. É devido a isso, que clínicos de fora, e de reconhecido valor,
lembram as pessoas sãs que aqui vêm morar, a conveniência de não residirem
nesta cidade, pois o contágio da tuberculose aqui tende a crescer, a subir de
uma forma tal que os poderes públicos hão de, um dia, providenciar com
medidas enérgicas de segurança geral, muito embora resctritivas da
descabida e até excessiva "liberdade" dos enfermos. Essa liberdade hoje se
converte em verdadeiro attentado à vida dos cidadãos. E nem pode ser por
menos essa licença que os doentes gozam de lançar suas cusparadas nas vias
públicas, sem a menor cerimônia, sem o menor crepusculo, cynicamente, com a
maior malvadez possível, fechando seus corações a todo o sentimento do altruísmo
e da nobreza muito longe do amor ao próximo, da commiseração e da piedade...
Essa licença não pode continuar. Appelamos para a nossa Camara Municipal, onde
tem assento cidadãos diplomados e esclarecidos. Ella pode muito bem legislar a
ventar medidas de higiene municipal. Os habitantes desta terra confiam na
sabedoria dos legisladores. A sciencia já caminhou muito. Nós precizamos
também caminhar. Precizamos fazer alguma cousa. Nisto é que não podemos ficar.
Ou agiremos ou renunciaremos o progresso da civilização, as conquistas da
sciencia e os magnificos resultados da profilaxia e da hygiene.
Não estranhamos pois, com o nosso descaso, hajam pessoas em S.Paulo e Rio que
se admirem das famílias sãs aqui residirem, expostas, sem amparo, às vicissitudes
da sorte, sujeitas aos perigos amplíssimos de uma infecção diária e constante, que
nos cercam por toda a parte, como um circo de ferro e de fogo que nos comprime
com seu castigo terrível e seu flagello de morte. Por hoje, pedimos aos doentes que
pensem nisso. Pensem e reflictam. Um escarro no chão pode ser a desgraça de
muitos lares, o infortúnio de muita gente. A consciencia tem uma soberana
grandeza: -enche o coração de tranquilidades. Consciência e nobreza é o que
pedimos por hoje.... (Correio Joseense, 18/04/1920).
O trecho "o contágio da tuberculose aqui tende a crescer a subir de uma
forma tal", denota uma certa preocupação da população em manter o pacto de
associação do plano sanatorial, e, ao mesmo tempo, demonstra inquietação com a
propagação do bacilo, uma vez que aos poderes públicos não interessava
providenciar, com medidas enérgicas, a erradicação da moléstia. Esta atitude
compactua com a "descabida e até excessiva 'liberdade' dos enfermos". Liberdade
essa, que, na visão da população local, "se converte em verdadeiro attentado à vida