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C.P.E.Bach, J.J.Quantz, L.Mozart, D.G.Türk entre outros) e sistematizou
analiticamente suas principais características musicais. O resultado de seu
trabalho foi uma extensa coleta de figuras musicais características, ou seja,
elementos musicais que remetiam a um sentimento, afeto ou aspecto pictórico
característico, como uma caçada, uma cerimônia, danças populares, o
militarismo, o humor, etc.
Este tipo de enfoque sobre os elementos do discurso musical não é
exclusivo dos músicos do século XVIII. Compositores do século XVI, como
Adrian Willaert, Luca Marenzio, Carlo Gesualdo, musicaram os versos do poeta
Petrarca
25
de maneira a associar o discurso musical ao conteúdo/caráter do
texto, através de recursos como o cromatismo, cadências e frases musicais
sincronizadas com as palavras. O próprio Petrarca usou a sonoridade das
palavras como guia nos seus poemas: o ritmo, a estrutura da rima, o número
de sílabas por verso, a acentuação, a duração das sílabas, as propriedades
sonoras de determinadas vogais ou consoantes eram determinantes na
elaboração de um sentimento aprazível (piacevolezza) ou grave (gravità) nos
seus versos.
26
Na doutrina do Etos na Grécia clássica, mais especificamente
explicada pela doutrina da imitação de Aristóteles, a música representa as
paixões ou estados da alma, como a brandura, ira, coragem, temperança, bem
como os seus opostos e outras qualidades.
27
Com base nisso, é natural que os
músicos de hoje, incluindo os intérpretes de música brasileira, também possam
aproveitar o reconhecimento destas figuras expressivas como forma de
enriquecer sua performance.
25
Francesco Petrarca (1304-1374).
26
Donald J. Grout e Claude V. Palisca, História da Música Ocidental (Lisboa: Gradiva,
2007), 237.
27
Ibid., 20.