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as peças com pouco valor como obras de concerto.
Durante um bom período, garantiu o aluguel
como pianista da sala de espera do Cine Odeon,
na Avenida Rio Branco. Como de costume na época,
os espectadores se dirigiam ao cinema cerca
de uma hora antes do filme começar para ouvirem
os instrumentistas tocarem. No Odeon, também
se apresentava a pequena orquestra do maestro
Andreozzi, da qual Heitor Villa-Lobos
era violoncelista.
Esse trabalho inspirou Nazareth em uma de suas
peças mais conhecidas, intitulada Odeon. Outras obras
de referência são Tenebroso, Apanhei-te, Cavaquinho
e Fon-Fon. O compositor transitou pela valsa, marcha,
choro e tango. O nome tango foi usado no Brasil antes
da Argentina, porém as peças de Ernesto Nazareth
classificadas desta forma nada têm a ver com a música
portenha. Era apenas uma denominação mais
aceitável, sob a qual o autor escondia as afinidades
de sua obra com os gêneros populares – como
o maxixe, uma espécie de pai do samba –, aumentando
as chances de ela ser editada. Alguns tangos de
Nazareth tiveram relativo sucesso, o que não quer dizer
que tenham lhe rendido muito dinheiro. Segundo
a praxe da época, quando as editoras compravam
as peças, ficavam desobrigadas de repassar o lucro
das vendas para os compositores.
Em 1917, o diplomata Paul Claudel (irmão
da escultora Camille Claudel) transferiu-se para
a embaixada francesa no Brasil e trouxe como
acompanhante o compositor Darius Milhaud. Embora
SEMPRE NAZARETH (Kuarup),
de Maria Teresa Madeira (piano) e Pedro Amorim (bandolim)
ERNESTO NAZARETH − 2 VOLUMES (Sonhos e Sons − Série Mestres
Brasileiros), de Maria Teresa Madeira (piano), Marcus Viana
(violino) e Sebastião Vianna (flauta)
ARTHUR MOREIRA LIMA INTERPRETA ERNESTO NAZARETH − 2 VOLUMES
(Marcus Pereira), de Arthur Moreira Lima (piano)
RADAMÉS & AÍDA INTERPRETAM NAZARETH E GNATTALI (Kuarup),
de Radamés e Aída Gnattali (piano)
Inclui obras de Radamés Ganattali
DISCOGRAFIA
ALEXANDRE PAVAN
Jornalista, co-autor com Irineu Franco Perpétuo do livro “Populares e Eruditos” e colaborador da revista Carta Capital.
tenha sido apresentado aos ilustres
autores brasileiros da época,
Milhaud surpreendeu-se mais com
os sons da rua do que com aqueles
das salas de concerto. “Seria de
desejar que os músicos brasileiros
compreendessem a importância
dos compositores de tangos,
de maxixes, de sambas
e de cateretês, como (Marcelo)
da nossa música erudita de caráter
nacional”, escreveu o musicólogo
Brasílio Itiberê.
Essa característica da obra
de Ernesto Nazareth trouxe mais
problemas do que dividendos ao
autor: o povo não gostava muito
de suas composições, porque não
eram dançáveis, e os estudiosos
torciam o nariz por considerarem
Tupinambá ou o genial Nazareth”, anotou o francês.
Realmente, o pianista carioca deve tê-lo
impressionado, afinal, anos mais tarde, trechos
dos tangos brasileiros Brejeiro e Escovado seriam
aproveitados por Milhaud em sua suíte Le Bœuf Sur
Le Toit. Pena que o francês tenha se esquecido de
mencionar na partitura o nome de Nazareth, que mais
uma vez não lucrou nada com a história.
Em seus últimos anos, Ernesto Nazareth teve
o problema de audição agravado, mas, por motivos
econômicos, não pôde parar de tocar. Quando se
sentava ao piano, era obrigado a debruçar-se sobre
o teclado para tentar capturar o som das notas que lhe
fugiam. Em 1932, durante uma turnê no Uruguai,
começou a apresentar os primeiros sinais de distúrbios
mentais. De volta ao Rio, passou por vários períodos
de internação. Às vésperas do carnaval de 1934,
escapou do manicômio e ficou desaparecido por 3 dias.
Foi encontrado morto – por afogamento – próximo
a uma cachoeira.
Ernesto Nazareth. Cavaquinho porque choras?Editora.
Mangione (SP -1926) e Casa Carlos Gomes (SP-s/d).
FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL –
DIVISÃO DE MÚSICA E ARQUIVO SONORO
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