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outros animais da escala zoológica, o conjunto de modos conscientes do “fazer”, denomina-se
tecnologia.
As sociedades indígenas brasileiras desenvolveram habilidades para a produção de
uma infinidade de objetos, fazendo uso da abundante variedade de vegetais da flora nacional
— como madeiras, cipós, palhas, fibras, resinas e sementes, além de pedras, ossos, conchas,
dentes de animais, penas e argilas —, como matérias-primas para a construção de casas,
canoas, armas e artefatos de uso diário e ritual, demonstrando um apurado domínio de
técnicas de manipulação desses materiais.
Excluídas a habilidade manual e a força muscular, um importante elemento de ação
sobre a matéria é o fogo. As técnicas de transformação pelo fogo constituem a base da
metalurgia e da cerâmica. A metalurgia era desconhecida pelos índios brasileiros no passado,
e a cerâmica está presente em todos os grupos da Floresta Tropical e em muitos do Cerrado.
A prática da cerâmica possibilitou a cocção de cereais e outros alimentos, atendendo,
assim, a uma importante necessidade humana, além de guardar grãos e água para consumo.
Cada grupo imprimiu nessas atividades, então, sua identidade, sendo que “a um estilo técnico,
sobrepõe-se, portanto, um estilo étnico” (BALFET, 1975: 48).
A produção de cerâmica indígena brasileira está associada à esfera familiar e é
praticada na maioria das etnias pelas mulheres, exceto em poucos casos, como os Waharibo-
Yanomami
e os Yekuana ou Mayongong.
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Recentemente, a prática tornou-se comum entre os Waurá, em que os homens, além de
coletar e carregar o barro, têm contribuído na produção e, conseqüentemente, com a renda
familiar obtida pelo comércio dessas peças na região xinguana. Entre os Juruna, a produção é
responsabilidade de homens e mulheres, e os Tapirapé e Kaxinawá dividem assim a função:
homens fabricam cachimbos e outros objetos em barro, e as mulheres fazem louça utilitária.
No que se refere à técnica da confecção, a cerâmica mais refinada, na opinião de Berta
Ribeiro, é a dos grupos Pano, da bacia Juruá-Purus:
[...] é a que mais se assemelha à porcelana vitrificada [...] e do ponto de vista da
ornamentação, ganha notoriedade também a cerâmica Kadiwéu, que, no tocante à
técnica oleira, é muito mais pobre que a de seus vizinhos Terena, do tronco Aruak e
ceramistas por excelência (RIBEIRO, 1989: 46).
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Respeitando as normas definidas pela Associação Brasileira de Antropologia, em 1953, acerca da inexistência
do emprego de plural para nomes de grupos indígenas, agrupamentos sociais e lingüísticos, ao me referir a esses
grupos escreverei os Mbayá, os Kadiwéu, etc. (Cf. SCHADEN, 1976).