para essa função abjeta” (p.25). Nessa busca de auto-imagem esquecemos de ver o outro
como forma de alteridade, como potencialidade de construção de novas formas de ser, de
sentir, de afetar, de amar, desejar, sofrer, fruir, etc. Através disso a nossa faculdade de sentir,
de ser sensibilizado, ou seja, de incrementar novos conhecimentos estaria diminuída e ligada
a um valor, a um valor de uso, sujeitos usando sujeitos. Leitores e autores estariam se
distanciando, a criatividade de gerar um mundo próprio, mas que faça sentido ao outro e ainda
suscite o novo, como dito acima por Persicano, pode ser que se estanque na primeira etapa
onde temos apenas criação do novo e que pode não ser compartilhado com o social. Formula-
se assim uma linguagem que não estaria sendo comungada e compartilhada com o coletivo, o
social não se apossa dela o que deveria ocorrer para poder ser posteriormente desconstruída e
então criar-se outra vez algo novo e dar continuidade no círculo das interpretações.
Como dito anteriormente, estamos tomando a leitura como forma de sensibilização e
subjetivação. Para entender e compreender é necessário sentir, ou seja, sensibilizar-se. No
Dicionário Eletrônico de Filosofia da Arte (2005), sensibilidade é definida como:
A comum definição de sensibilidade (do latim sensibilitas) enquanto “faculdade de
sentir” revela desde logo, a abrangência e riqueza semântica daquele termo.
Enquanto “faculdade de sentir”, a sensibilidade pode ser considerada como a
capacidade de receber e perceber impressões do próprio corpo e do mundo que lhe é
exterior. A sensibilidade está, assim, simultaneamente associada, quer à capacidade
de ter sensações, percepcionar e conhecer, quer à possibilidade de “se ser afectado”,
ou seja, à capacidade de “se ter vida afectiva” ( desejar, amar, sofrer, fruir, comover-
se, emocionar-se...) Deste modo, o termo “sensibilidade” tanto nos pode remeter
para os conceitos de “aparelho sensitivo e perceptivo”, “intuição sensível” ou de
“excitabilidade” – pelos quais nos são dados a conhecer os objectos sensíveis –
como para os conceitos de “sentimento”, “delicadeza de sentir”, “gosto”, ou mesmo,
“capacidade de fruição do Belo” e “fantasia criativa” – que nos permite aceder à
experiência estética e à criação artística (p. 1, grifos do autor).
No ato da leitura precisamos estar abertos, com as faculdades de sentir sem restrições,
tanto para perceber e conhecer como para ter afetos ou sentimentos. Se não usamos nossa
sensibilidade na leitura corremos o risco, como disse Larrosa (2003), de não experienciarmos
nada, de não nos sensibilizarmos e dessa forma nada nos passa, apenas a vida, mas sem ser
vivida. O mesmo pode acontecer com a leitura, se não a transformamos em autonarrativa ela
pode correr o risco de se transformar em um meio de busca de informação enciclopédica,
estaríamos usando a leitura de um modo narcísico, apenas como um banco de dados, como
um amontoado de conhecimentos sem significação e sem sentido pessoal.
Em Bachelard (2001), toda a nossa vida é leitura e deveríamos considerar a leitura das
palavras como uma realidade psíquica particular, em especial a leitura da poesia: “Sem a