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obtidas por grandes grupos e o tratamento homogêneo atribuído ao espaço amazônico
desrespeitou às “diferenças sociais e ecológicas, e tiveram efeitos extremamente
perversos, destruindo inclusive, gêneros de vida e saberes locais historicamente
construídos”. (ibidem).
Estes são alguns dos fatores ocasionados pela desvalorização da riqueza cultural e
dos saberes da população amazônica, pois o olhar do colonizador que prevaleceu nesses
projetos e o destino dos habitantes da região é decidido a sua revelia. Assim, os discursos
integrar para não entregar e segurança nacional
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são substituídos pela “defesa de
internacionalização da Amazônia”
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, vista como alternativa de garantia e manutenção da
vida na terra, mas os legítimos protagonistas desta região, sequer foram consultados, para
dar sua opinião sobre o assunto.
Dessa forma a construção da Amazônia como reserva ecológica, futuro do mundo,
natureza exuberante, etc. vai sendo constituída, historicamente, a partir de um olhar
colonialista, para conformar o imaginário social. Admas et al diz que
[...] esta visão da Amazônia como domínio essencialmente natural
baseia-se em dois pressupostos básicos sobre as sociedades amazônicas.
O primeiro, de que durante o processo de dissolução das sociedades
indígenas e o surgimento das cablocas, a natureza foi o único fator que
se manteve constante. O segundo refere-se à ligação entre as estruturas
sociais indígenas pré e pós-coloniais com fatores ambientais
supostamente limitantes. Em outras palavras, apesar de haver fortes
evidências da existência de sociedades complexas no período colonial,
o estado atual destes grupos é visto sempre como limitado por fatores
naturais, e não por fatores históricos. (2006, p.15).
Em nível global a visão da Amazônia como uma fronteira a ser preservada, como
alternativa para a sobrevivência do planeta revela a coexistência dos interesses de grupos
ambientalistas legítimos, em defesa da preservação do território amazônico e também de
interesses econômicos e geopolíticos, que expressam um processo de mercantilização da
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Os slogans de “integrar para não entregar” e “segurança nacional”, foram construídos pela ditadura militar
no Brasil, que incrementou o processo de ocupação da Amazônia Brasileira, tendo como base o discurso
nacionalista. Porém, na prática o que ocorreu foi a concessão e incentivo para empresas subsidiárias
estrangeiras como a Nippon, Honda, Orient, Kawasaki, Tec Toy, Estrela, entre outras que se instalaram em
Manaus para usufruírem de mão de obra barata. (GUERRA, 2007).
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Nestas ultimas décadas os Estados Unidos e outros países têm discutido e cogitado a possibilidade de
internacionalização da Amazônia, sobre a justificativa da ausência do Estado Brasileiro nos grandes “vazios
amazônicos” e em particular nas extensas faixas de fronteira da região. Porém, por trás deste discurso estão
os interesses na disputa por um imenso espaço, possuidor de vastas áreas de minérios, da maior bacia de água
doce do mundo e de uma rica biodiversidade. Com a destruição crescente do meio ambiente e com a
diminuição do volume de água doce no mundo as ameaças de internacionalização da Amazônia a cada dia
tornam-se mais freqüentes e visíveis.(GUERRA, 2007).