Foi uma história muito longa. Começou pelo meu esposo, ele veio e
tavam escrevendo os nomes das pessoas pra se acamparem, era lá
no Jaderlandia. Aí ele veio de casa, eu morava no Santa Helena, ele
se escreveu que era pra pegar esse pedaço de terra. Primeiramente,
veio só ele, veio e se escreveu passo, passo, acho que uns dois
meses. Aí quando foi no mês de junho pra julho, foi um chamado pra
ele, esposo da rosa e o meu filho. Aí eles vieram se acamparam lá.
Aí saíram do Jaderlandia pra Belém, nessa caminhada pra Belém a
rosa foi. Foi do Jaderlandia pra Belém a pé, caminhando, dormindo
pelas praças. Depois disso veio pro Abacatal, depois do Abacatal
que veio pra cá. A gente chegou aqui dia 15 de novembro, a nossa
entrada. Por isso que, hoje acontecem as festividades, quando intera
ano dia 15 de novembro. Na festa tem a missa, tem brincadeira pra
comemorar o dia 15 a entrada na terra. Aí eles entraram e foram pra
beira do rio, de lá a gente veio pra cá (EDUCANDA3-JB).
Nessa fala, fica evidente como são feitas as chamadas das pessoas,
como elas entram no Movimento, motivadas pelo sonho e pela necessidade da terra,
e pela vontade de garantir seus direitos sociais. A educanda deixa transparecer que
o tempo de organização do grupo de pessoas para ocuparem as terras leva alguns
meses, pois a “entrada na terra”, como refere, aconteceu em novembro de 1998,
mas desde janeiro desse mesmo ano, começaram a serem feitos os convites e a
concentração das famílias.
Nós chegamos aqui e acampamos, porque eles dizeram que iriam
dar terra pra nós. Mas quando eu fui fazer a inscrição era pra casa,
mas quando cheguei no Che Guevara não tinha mais pra casa. Aí a
moça disse a senhora não quer pra terreno agrícola. Aí eu disse
quero, quando foi de tarde o rapaz chegou fez a nossa inscrição e aí
a gente começou a participar das reuniões. Depois a gente acampou
lá no Aurá. Eu olhei aquela área do Che Guevara, aquela capoeira
bonita, a gente andou por lá, pensando que a terra era lá mesmo.
Mas num certo dia colocou nós num ônibus e trouxe pra cá e levou lá
pra prainha, passamos lá dois dias. Depois rebocou nós pra cá pra
baixo perto do igarapé e lá nós ficamos. Quando foi de noite eu forrei
assim, o capim com colchão pra as duas meninas que estavam com
a minha filha, tava frio, ainda me lembro como se fosse hoje, ai
fomos fazer um barraco, sempre gostei de um cantinho. E ficamos lá,
ficamos, ficamos quase um ano no acampamento. De lá que a gente
veio pra agrovila arrumar um local pra fazer nossas casas. Ai quando
fez um ano a gente não desceu mais. Ficamos aqui e não descemos
mais e estamos hoje aqui (EDUCANDA5-JB).