Capítulo 1 Psicologia e direito: uma relação histórica 16
No ocidente, pelo menos, mesmo o auto-exame mais privado está ligado a
poderosos sistemas de controle extremo: ciências e pseudociências, doutrinas
religiosas e morais. A vontade de saber a verdade sobre nós mesmos, própria à
nossa cultura, instiga-nos a falar a verdade; as confissões que se sucedem
confissões que fazemos aos outros e a nós mesmos, e esta colocação em discurso
instauram um conjunto de relações de poder entre aqueles que afirmaram ser
capazes de extrair a verdade destas confissões através da posse de chaves de
interpretação (DREYFUS e RABINOW, 1995, p.192).
O discurso científico da Psicologia evoluiu no decorrer da história revelando que
não se pode descuidar de isolar e analisar os componentes constitutivos do homem e as
interações entre esses componentes. Para que a Psicologia se institua como ciência e como
profissão, deve estar inserida na sociedade, saindo dos consultórios e empresas para
participar da construção de políticas públicas, edificando ações preventivas em diferentes
campos.
A Psicologia como ciência confessional lida com o que está oculto e o que não
pode ser mencionado, elaborando classificações e descrições. Há que se superar tal
posicionamento, já que, além da Psicologia, surgiu uma grande quantidade de ciências
interpretativas que também utilizam a tecnologia confessional, contribuindo assim, para
uma intervenção corretiva na vida dos indivíduos, constituindo um saber de evidências e
baseado em valores morais.
É importante que ao se falar de Psicologia como ciência se busque diminuir o
distanciamento entre a prática profissional e a produção de conhecimento científico.
Definir a prática profissional não como trabalho, mas como experiência no sentido dado
por Larrosa (2001): “A experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca.
Não o que se passa, não o que acontece, ou o que toca”. O profissional com excesso de
trabalho ou com falta de compromisso pode não perceber a diferença entre estes dois
conceitos e concluir que, aliando teoria e prática, organiza e produz um conhecimento
científico. Para Larrosa a experiência não pode ser confundida com o trabalho, com a
prática profissional e descreve o sujeito moderno como sempre agitado e em movimento,
que, com seu trabalho, pretende conformar o mundo segundo sua vontade, seu saber e seu
poder. Seu conceito de experiência é completo e oferece uma importante reflexão:
A experiência, a possibilidade de que algo nos aconteça ou nos toque, requer um
gesto de interrupção, um gesto que é quase impossível nos tempos que correm:
requer, parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar,
olhar mais devagar, e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais devagar,
demorar-se nos detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a
vontade, suspender o automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir
os olhos e os ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar