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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
Instituto de Geociências e Ciências Exatas
Campus de Rio Claro
CARACTERÍSTICAS DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE
MATEMÁTICA DOS ANOS INICIAIS DO
ENSINO FUNDAMENTAL COM FOCO NOS CURSOS DE
PEDAGOGIA E MATEMÁTICA
Ana Paula Purcina Baumann
Orientadora: Profª Dr Maria Aparecida Viggiani Bicudo
Dissertação de Mestrado elaborada junto
ao Programa de Pós-Graduação em
Educação Matemática Área de Ensino e
Aprendizagem da Matemática e seus
Fundamentos Filosóficos - Científicos
para obtenção do título de Mestre em
Educação Matemática.
Rio Claro (SP)
2009
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Comissão Examinadora
___________________________________________
Profª Drª Maria Aparecida Viggiani Bicudo
Universidade Estadual Paulista - UNESP - Rio Claro
__________________________________________
Profª Drª Leonor Maria Tanuri
Universidade Estadual Paulista - UNESP - Marília
__________________________________________
Prof. Dr. Antonio Carlos Carrera de Souza
Universidade Estadual Paulista - UNESP - Rio Claro
_________________________________________
Ana Paula Purcina Baumann
Aluna
Rio Claro, 13 de janeiro de 2009.
Resultado ___________________________________________________
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Para
Luis Rodrigo, meu grande Amor.
Neide, minha alegre Mãe
Ciro, meu forte Pai
Rafael, meu Irmãozinho querido
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeço a Deus, por sempre estar presente em minha vida,
oferecendo saúde, força e me auxiliando em todos os momentos, mesmo quando
não o chamo.
Agradeço à professora Maria Aparecida Viggiani Bicudo, por ter me dado a
oportunidade de ser sua orientanda, agradeço pela sua competente orientação que
tornou possível a finalização deste trabalho.
Aos Professores Antonio Carlos Carrera de Souza e Leonor Maria Tanuri,
pelas valiosas contribuições e pelas reflexões provocadas.
À Professora Zaíra da Cunha Mello Varizo, pelo apoio, amizade, confiança e
carinho.
À Professora e amiga Maria de Fátima Teixeira Barreto, pela força e ajuda no
processo de ingresso ao Programa de Pós Graduação.
À amiga Silmara E. de Castro Carvalho, pela acolhida no Laboratório de
Educação Matemática (LEMAT/IME/UFG), lugar onde aprendi muito. Agradeço pelo
seu entusiasmo contagiante e por seu comprometimento com a Educação
Matemática.
À Professora e amiga Gene Lyra, por acreditar e torcer por mim.
Aos meus grandes, eternos e verdadeiros amigos, Thiago Porto, Elcimara,
Michele Cristina, Lady Daiane e Ana Paula Stoppa, por me ensinarem o verdadeiro
significado da palavra amizade e por estarem tão presentes em minha vida, apesar
da distância.
Aos amigos de Catalão-GO Lázaro, Lourdes Maria (Lurdinha), Maria Marta,
Renato, Wanderson, Danilo, Thais, Luciana, Guilherme, por me acolherem sempre
que retorno à cidade natal.
Aos grandes amigos que conquistei na casa de estudantes (CEU III), Márcia,
Mônica, Sirlene, Juliana, Leonardo e Jones, pela amizade e pelos momentos de
alegria que passamos juntos.
À amiga Marlúcia, pelas conversas nos momentos em que necessitei
espairecer.
Aos amigos que conquistei em Goiânia: Marjuriher, Humberto, Reila, Rose, e
Leila,
Ao casal Maria Aparecida (Dona Cida) e Sebastião, pessoas abençoadas que
tive o privilégio de conhecer e conviver.
Aos meus professores da Licenciatura: Élida, Porfírio. Mádson, Martinha,
Cléves, André, Rogério, Maria José, Paulinho, Márcio e Carlos Alberto.
Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática.
Em especial àqueles que tive a oportunidade de fazer disciplinas, Rosa S. Barone,
Miriam G. Penteado, Sérgio Nobre e Antônio Vicente M. Garnica.
Aos funcionários do Departamento de Matemática da Unesp-Rio Claro, Elisa,
Ana, Diego e José Ricardo, pela disponibilidade em colaborar sempre que possível.
Em especial à Inajara, pelo carinho e pela alegria contagiante que sempre recebe os
alunos da Pós-Graduação em Educação Matemática.
Aos companheiros do grupo de pesquisa FEM, Luciane, Fabiane, Roger e
Marli, pelas contribuições em meu trabalho e em minha formação.
Aos amigos do Programa de Pós-Graduação, Magali, Luciano, Rachel, Mirian,
Thiago, Viola, Luzia, Keila, Juliana, Célia, Andri, Tati, Adriana, Marco Escher, Mário,
Marcela, Maria Helena, Paulo Henrique, Fernando, Jamur, Carlos Francisco, Carlos
Eduardo, Carolina, Vanessa, Lucieli, Carla, Laus, Adelino, Moara, Walderez, João
Luis, pelos momentos de estudos, debates e descontração (almoços de domingo,
etc)
Aos meus familiares, por vibrarem junto comigo por mais essa conquista.
Como são muitos, serão representados aqui pela Karina, Hellen, Lidiane, Luana e
Geisinha. De modo especial ao meu irmão Rafael, que esteve presente nesta
caminhada, sempre oferecendo sua amizade e apoio.
Agradeço aos meus pais, Ciro e Neide, por me ensinarem o valor da
educação e por não medirem esforços para que, meu irmão e eu, pudéssemos
sempre estudar. Agradeço o incentivo, a força e principalmente a confiança.
À nova família que ganhei, representada aqui pela Paulina (sogra), Lautílio
(sogro) e Allan Fábio (cunhado).
Ao meu amado esposo Luis Rodrigo, pelo carinho, confiança, serenidade,
tranqüilidade, paciência e principalmente pelo amor oferecidos durante esses dois
anos. Agradeço seu companheirismo, agradeço a segurança e a força transmitidas,
sem isso nada seria possível.
Ao CNPq, pelo apoio financeiro.
Enfim, obrigada a toooodos!!!!!!!
“ [...] Sei que não dá pra mudar o começo, mas, se a gente quiser,
vai dar pra mudar o final”.
Elisa Lucinda
“[...] E outra vez conquistemos a Distância -
Do mar, ou outra, mas que seja nossa!”
Fernando Pessoa
RESUMO
Esta pesquisa busca investigar como os cursos de Licenciatura em Matemática e em
Pedagogia apresentam seus projetos de formação de professores, a fim de atender
ao Ensino Fundamental em sua primeira fase, tendo a seguinte pergunta diretriz: De
que modo se apresenta o projeto de formação de professores de Matemática dos
anos iniciais do Ensino Fundamental nos cursos de Licenciatura em Matemática e
em Pedagogia? O contexto escolhido para o desenvolvimento desta pesquisa foi o
da Universidade Federal de Goiás (UFG). Foi analisado de modo constante a
legislação que regulamenta a formação de professores em nosso país e
especificamente a que trata sobre os cursos de Licenciatura em Pedagogia e em
Matemática. Foi feita, de modo sistemático, a análise do Projeto Político-Pedagógico
dos cursos focados no intuito de tecer considerações a respeito do trabalho
pretendido e anunciado nesses cursos de formação de professores daquela
Universidade. Buscou-se contribuir com um (re)pensar constante sobre os cursos de
Licenciatura em Matemática e Licenciatura em Pedagogia, para que estes possam
formar profissionais cientes de sua importância e influência para a Educação
Matemática. O trabalho foi desenvolvido assumindo os procedimentos qualitativos
sob uma perspectiva fenomenológica.
Palavras Chaves: Educação Matemática; Formação inicial de Professores;
Matemática e Pedagogia; Legislação Educacional; Projeto Pedagógico.
ABSTRACT
This essay wants to investigate like the courses of Mathematics and Pedagogy
present their projects of teacher education, in order to take care of the Basic
Teaching in first phase, having the following question: “How does the Formation
Project of Teacher Education in the Basic Teaching present in the courses of
Mathematics and Pedagogy? The context chose for the development of this
research was of the Goiás Federal University (UFG). The legislation was analyzed in
constant way that regulates the teacher education in our country and specifically the
one that develops on the courses of Pedagogy and Mathematics. It was made, in
systematic way, the analysis of the Politician-Pedagogical Project of the courses to
emphasize the intention to do considerations about the work intended and
announced in these courses of teacher education of that University. We intended to
contribute with one constant (re)think on the courses of Mathematics and Pedagogy,
so we can form responsible professionals of importance and influence for the
Mathematical Education. The work was developed assuming the qualitative
procedures observing a phenomenological perspective.
Words Keys: Mathematical Education; Initial Formation of Professors; Mathematics
and Pedagogy; Educational Legislation; Pedagogical Project.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ANDES
Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino
Superior
ANFOPE
Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da
Educação
ANPED Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação
CBE Conferência Brasileira de Educação
CEAE Comissão de Ensino da Área de Educação
CEB Câmara de Educação Básica
CEEC Comissão de Especialistas em Ensino de Ciências
CEEFP Comissão de Especialistas de Formação de Professores
CEEM Comissão de Especialistas em Ensino de Matemática
CEEP Comissão de Especialistas em Ensino de Pedagogia
CEEs Comissões de Especialistas do Ensino
CEPAE Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação
CES Câmara de Educação Superior
CFE Conselho Federal de Educação
CHTS Carga horária total semestral
CNE Conselho Nacional de Educação
CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
COM Compulsória
CONARCFE
Comissão Nacional de Reformulação dos Cursos de Formação do
Educador
CP Conselho Pleno
DCN Diretrizes Curriculares Nacionais
EI Educação Infantil
FE Faculdade de Educação
IES Instituições de Ensino Superior
IME Instituto de Matemática e Estatística
INEP
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais "Anísio
Teixeira"
IRHJP Instituto de Recursos Humanos João Pinheiro
LDB Lei de Diretrizes e Bases
MEC Ministério da Educação
NC Núcleo Comum
NE Núcleo Específico
NL Núcleo Livre
OBR Obrigatória
OPT Optativa
pra Prática
PROGRAD Pró-Reitoria de Graduação
PUC-SP Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
RGCG Regulamento Geral dos Cursos de Graduação
SBEM Sociedade Brasileira de Educação Matemática
SBF Sociedade Brasileira de Física
SBM Sociedade Brasileira de Matemática
SBPC Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência
SBQ Sociedade Brasileira de Química
SESu Secretaria de Educação Superior
SIEF Séries Iniciais do Ensino Fundamental
teo Teórica
UDF Universidade do Distrito Federal
UFG Universidade Federal de Goiás
UFMG Universidade Federal de Minas Gerais
UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro
UNICAMP Universidade Estadual de Campinas
USP Universidade de São Paulo
SUMÁRIO
Página
UM PASSEIO PELO TEMA------------------------------------------------------------------------- 16
1.1 - Trazendo o Tema para o Debate------------------------------------------------------- 16
1.2 - Em Busca da Compreensão do Tema----------------------------------------------- 20
1.3 - A Interrogação e seu Significado----------------------------------------------------- 25
1.4 - Procedimentos de Investigação ------------------------------------------------------ 26
1.4.1 - Fundamentação Metodológica - Fenomenologia: o Olhar Assumido ---- 28
1.5 - Importância do Trabalho para a Educação Matemática ---------------------- 29
1.6 - Estrutura do Texto da Dissertação--------------------------------------------------- 30
A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA DOS ANOS INICIAIS DO
ENSINO FUNDAMENTAL NO CURSO DE PEDAGOGIA --------------------------------- 32
2.1- Nascimento do Curso de Pedagogia------------------------------------------------- 33
2.1.1 - Currículo e Mercado de Trabalho-------------------------------------------------- 34
2.1.2 - Capacitação do Pedagogo e o Ensino de Matemática----------------------- 38
2.2- A Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1961 e o Parecer CFE nº
251/1962 ---------------------------------------------------------------------------------------------- 38
2.2.1 - Currículo e Mercado de Trabalho-------------------------------------------------- 39
2.2.2 - Capacitação do Pedagogo e o Ensino de Matemática----------------------- 42
2.3 - O Parecer CFE nº 252/1969 e o Tecnicismo da Época------------------------- 42
2.3.1 - O Currículo por meio do Parecer CFE nº 252/1969 -------------------------- 44
2.3.2 - A Caminho da Formação de Professores para os Anos Iniciais----------- 46
2.4- De 1969 a 1996: Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1971 e as
Indicações de Valnir Chagas------------------------------------------------------------------ 47
2.4.1 - A Caminho de uma Definição da Formação de Professores --------------- 50
2.4.2 - O Currículo Pretendido pela Indicação CFE nº 70/1976 para o Curso de
Pedagogia ----------------------------------------------------------------------------------------- 54
2.4.3 - Capacitando o Pedagogo para o Ensino de Matemática? ------------------ 56
2.5 - O Movimento Nacional em Defesa da Formação de Professores--------- 59
2.5.1 - Mobilizações que Focam os Cursos de Formação do Educador/Professor
------------------------------------------------------------------------------------------------------- 60
2.5.2 - Delineando o Projeto de Formação de Professores: o Curso de
Pedagogia e a Formação do Professor de Matemática dos Anos Iniciais ------- 66
2.6- Os Encontros Nacionais do Movimento e suas Propostas ------------------ 70
2.6.1- Presença Estudantil e a Crise Gerada no I Encontro Nacional do
Movimento----------------------------------------------------------------------------------------- 71
2.6.2- Organização dos Educadores: as Propostas Apresentadas ---------------- 72
2.6.3 - Proposta sobre Formação: Licenciatura e Pedagogia ----------------------- 72
2.6.4 - Delineando a Formação do Professor de Matemática dos Anos Iniciais
no Âmbito do Movimento de Educadores------------------------------------------------- 78
2.7- Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 e os Cursos de
Formação de Professores---------------------------------------------------------------------- 82
2.7.1 - Proposta de Diretrizes Elaborada pela ANFOPE------------------------------ 84
2.7.2 - Proposta de Diretrizes Curriculares da Comissão de Especialistas do
Ensino de Pedagogia – 1999----------------------------------------------------------------- 86
2.7.3- Os Institutos Superiores de Educação e a Formação de Professores --- 88
2.8- A Caminho das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de
Pedagogia ------------------------------------------------------------------------------------------- 94
2.8.1- Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia------------- 98
2.8.2- Repercussão das DCN para o Curso de Graduação em Pedagogia na
Comunidade de Educadores. -------------------------------------------------------------- 102
2.9 - A Caminho de uma Síntese Compreensiva sobre a Formação do
Professor de Matemática dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental no Curso
de Pedagogia ------------------------------------------------------------------------------------- 105
A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA: O CAMINHO PERCORRIDO
PELO CURSO DE LICENCIATURA------------------------------------------------------------ 109
3.1- Os Primeiros Cursos de Licenciatura em Matemática - Década de 1930
----------------------------------------------------------------------------------------------------------110
3.2- O Parecer CFE nº 295/1962 e o Parecer CFE nº 292/1962--------------------116
3.3 - O Parecer CFE nº 672/1969 ------------------------------------------------------------118
3.4 - Resolução CFE nº 30/1974: o Curso de Licenciatura em Ciências ------119
3.5 - O Movimento de Educadores da Década de 1980 e as Propostas para as
Licenciaturas ------------------------------------------------------------------------------------- 128
3.6 - A Caminho das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de
Matemática ---------------------------------------------------------------------------------------- 132
3.7 - O que Diz a Sociedade Brasileira de Educação Matemática - SBEM
sobre as Diretrizes------------------------------------------------------------------------------ 138
3.7.1 - A Proposta da SBEM---------------------------------------------------------------- 140
3.8 - A Caminho de uma Síntese Compreensiva sobre a Formação do
Professor de Matemática dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental no Curso
de Licenciatura em Matemática------------------------------------------------------------ 147
HERMENÊUTICA DOS PROJETOS PEDAGÓGICOS DE CURSO: LICENCIATURA
EM PEDAGOGIA E LICENCIATURA EM MATEMÁTICA-------------------------------- 151
4.1 - Introduzindo o Tema -------------------------------------------------------------------- 151
4.2 - Análise e Interpretação do Projeto Político-Pedagógico do Curso de
Pedagogia – UFG-------------------------------------------------------------------------------- 153
4.2.1- O que Ele (o Curso) Pretende----------------------------------------------------- 154
4.2.2- Justificativas que a IES apresenta para manter esse Projeto ------------ 156
4.2.3- Procedimentos Propostos para Atingir os Objetivos Presentes no Projeto
----------------------------------------------------------------------------------------------------- 157
4.2.4 - Organização Curricular------------------------------------------------------------- 160
4.2.4.1 - Núcleo Comum e Núcleo Específico-------------------------------------- 160
4.2.4.2 - Núcleo Livre e Prática como Componente Curricular ---------------- 161
4.2.4.3 - Atividades Complementares/ Atividades acadêmico-científico-
culturais--------------------------------------------------------------------------------------- 163
4.2.4.4 - Estágio Supervisionado e Prática de Ensino --------------------------- 163
4.2.5 - Tabela de Disciplina do Curso de Pedagogia:-------------------------------- 167
4.2.6 - Análise da Grade Curricular------------------------------------------------------- 171
4.2.7 - Apresentação da Ementa das Disciplinas ------------------------------------- 176
4.2.8 - Expondo Entendimentos sobre a Formação de Professores de
Matemática dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental no Curso de Licenciatura
em Pedagogia---------------------------------------------------------------------------------- 182
4.3 - Análise e Interpretação do Projeto Político-Pedagógico do Curso de
Licenciatura em Matemática – UFG------------------------------------------------------- 187
4.3.1 - O que Ele (o Curso) Pretende ---------------------------------------------------- 188
4.3.2 - Justificativa Apresentada para a Existência e Manutenção desse Projeto
para o Curso de Matemática --------------------------------------------------------------- 193
4.3.3 - Procedimentos Propostos para Atingir os Objetivos Presentes no Projeto
----------------------------------------------------------------------------------------------------- 194
4.3.3.1 - Estágio Supervisionado ------------------------------------------------------ 194
4.3.3.2 - Prática como Componente Curricular ------------------------------------ 197
4.3.3.3 - Avaliação da Aprendizagem------------------------------------------------- 198
4.3.3.4 - Atividades Complementares------------------------------------------------- 199
4.3.3.5 - Como Ensino, Pesquisa e Extensão são trazidos para o Projeto de
Curso? ---------------------------------------------------------------------------------------- 199
4.3.4 - Organização Curricular------------------------------------------------------------- 201
4.3.5 - Integralização Curricular ----------------------------------------------------------- 205
4.3.6 - Sugestão de Fluxo: Grade Curricular------------------------------------------- 206
4.3.7 - Apresentação das Ementas das Disciplinas ---------------------------------- 215
4.3.8 - Expondo Entendimento sobre a Formação de Professores de
Matemática dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental no Curso de Licenciatura
em Matemática--------------------------------------------------------------------------------- 224
A FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA DOS ANOS INICIAIS DO
ENSINO FUNDAMENTAL------------------------------------------------------------------------- 227
5.1 - A Caminho de uma Síntese Compreensiva ------------------------------------- 228
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ----------------------------------------------------------- 232
16
UM PASSEIO PELO TEMA
1.1 - Trazendo o Tema para o Debate
Iniciei, em 2000, o curso de Licenciatura em Matemática na Universidade
Federal de Goiás (UFG) Campus de Catalão depois de ter enfrentado uma dúvida
comum aos jovens a respeito de qual profissão escolher. Nos anos que antecederam
ao meu ingresso na universidade, vivi experiências significativas e que corroboraram
com a escolha efetuada.
No ano de 1997, com 13 anos iniciei o Ensino dio, ou como ainda
chamávamos, Colegial e, concomitantemente a esse curso, matriculei-me também
no Curso de Magistério de nível médio, antigo Curso Normal voltado à formação de
professores para a Educação Infantil e para os primeiros anos de escolarização de
à séries. Ser professora era algo que, desde cedo, me chamava a atenção e
fazia parte das minhas possíveis escolhas profissionais. Assim, o curso de
Magistério de nível médio mostrava-se importante por conduzir-me ao trabalho com
crianças pequenas, que sempre foi um de meus grandes interesses.
Estudando em dois períodos, matutino e vespertino, meu tempo era curto e as
responsabilidades para uma jovem tão nova foram crescendo. Assim, pressionaram-
me a escolher um dos cursos, pois naquele momento tornava-se inviável continuar
17
nos dois. As pressões pela aprovação no vestibular, vindas da sociedade e de mim
mesma, fizeram-me optar pelo Ensino Médio, pois se falava que no curso de
Magistério não era oferecida a base
1
necessária para se concorrer a uma vaga na
universidade.
Então, diante disso, e com a vontade de ser professora e o gosto pela
Matemática, decidi-me pelo curso de Licenciatura em Matemática. Ao ingressar na
universidade, o primeiro momento foi de estranheza, pois parecia que os professores
não percebiam que trabalhavam com futuros professores de Matemática e, até
mesmo nós, os alunos, ainda não percebíamos a dimensão da profissão que
enfrentaríamos ao concluir a graduação. Com o tempo fui aprendendo a lidar com a
dinâmica das aulas, porém não me acostumava e nem concordava com certas
abordagens e atitudes mantidas por alguns professores, principalmente depois que
cursei as disciplinas que discutiam com mais afinco a Educação. Com o avançar do
curso, o sentimento de estranheza foi passando, pois tive oportunidade de vivenciar
outras experiências além daquelas com as disciplinas, mas mesmo assim sentia
uma lacuna na minha formação profissional, principalmente no que dizia respeito aos
conceitos pedagógicos.
Em 2004, ao concluir a graduação, fui trabalhar como monitora no Centro de
Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação (CEPAE) da UFG, antigo Colégio de
Aplicação da UFG, na cidade de Goiânia. Tal trabalho me aproximou mais da área
que outrora buscava, pois eu estava em contato direto com a Educação e
participando ativamente das discussões sobre ela, coisa que pouco havia vivenciado
até o momento. O CEPAE é responsável pelo Ensino Básico e eu monitorava a
primeira fase do Ensino Fundamental. Nesse período percebi as dificuldades que
alunos e professores enfrentavam com relação ao trabalho com a Matemática,
principalmente os professores recém-formados.
No ano seguinte, continuei trabalhando no CEPAE, porém na posição de
professora substituta. Como professora de Matemática dos anos iniciais, olhando
para a minha experiência vivida, para a minha prática e a dos meus colegas, percebi
que nessa fase de ensino, alguns procedimentos e atitudes se diferenciam daqueles
assumidos em outras fases. Ao focar a prática docente, então efetuada, observei
que o olhar de cada professor, especificamente os de Matemática, sobre a primeira
1
Base entendida, naquele contexto, como o aprofundamento em conteúdos das disciplinas de
Matemática, Física, Química e Biologia.
18
fase do Ensino Fundamental, divergia em alguns aspectos e acredito que tal fato
ocorria porque as formações recebidas eram diversas.
No início, sentia medo ao entrar em sala de aula. Apesar de gostar muito de
criança, sentia uma responsabilidade enorme, pois seria eu a iniciar tais crianças em
um pensamento sistematizado da Matemática, e era com isso que eu não sabia lidar.
Percebia então que em minha formação como professora de Matemática, em nível
de graduação, o havia abordado certos aspectos importantes para uma melhor
atuação profissional. Os conteúdos a serem trabalhados, seus fundamentos,
propriedades e procedimentos matemáticos diferenciados constituíam algo melhor
dominado, porém não sabia como proceder pedagogicamente, ou seja, saber qual o
melhor procedimento pedagógico, qual atividade era mais adequada. Somente com
o tempo e com a troca de experiências é que fui me sentindo mais segura.
Percebia que os colegas, também com formação em Matemática, tinham
inquietações parecidas com as minhas. Apresentavam dificuldades ora ao
relacionar-se com as crianças, ora com a abordagem pedagógica dos conteúdos
matemáticos.
Como contraponto, alguns colegas com formação em Pedagogia também
sentiam dificuldades no trabalho com a Matemática na primeira fase do Ensino
Fundamental. Para eles, lidar com as crianças e com as situações de sala de aula
não era o mais complicado. Acredito que sua formação os favorecesse nisso. Porém
via que enfrentavam problemas para lidar com os fundamentos da Matemática e, em
certos casos, com os conteúdos e seus procedimentos pedagógicos, a fim de obter
uma melhor abordagem dos conteúdos. Percebia que a Matemática, para alguns,
ainda era vista como técnica e, de certa forma, era abordada como tal. Tive a
oportunidade de receber algumas estagiárias do curso de Pedagogia e em
conversas tomei conhecimento de suas dificuldades e receios com a Matemática,
compreendendo que apresentavam desta disciplina uma visão tecnicista. O diálogo,
analisando e refletindo sobre as experiências vividas, estabelecido entre nós,
permitia-nos avançar em nossa formação.
Essas questões, que naquele momento eram percebidas por mim, levaram-
me a buscar informações sobre o ensino de Matemática nas outras escolas de
Goiânia que ofereciam a primeira fase do Ensino Fundamental e, principalmente,
sobre quem eram os professores responsáveis por ela.
19
Nas escolas Municipais de Goiânia, os licenciados em Matemática vêm
ganhando espaço para o trabalho com os anos iniciais. Na proposta vigente nesse
município, eles também são responsáveis pelo ensino de Matemática nos anos
iniciais do Ensino Fundamental, especialmente no 2º ciclo
2
, tendo o pedagogo, a
quem anteriormente cabia tal função, o papel de dinamizador das atividades
desenvolvidas na escola, bem como a responsabilidade de dar o suporte
metodológico aos professores das diversas áreas específicas. nas escolas
particulares de Goiânia, o trabalho com a Matemática nos anos iniciais está, em
geral, sob a responsabilidade dos pedagogos.
À medida que esse meu desconforto foi adquirindo contornos mais definidos,
em termos dos cursos de onde esses professores são provenientes, passei a
perguntar a respeito da qualificação profissional desenvolvida nos cursos
responsáveis pela formação dos professores de Matemática dos anos iniciais:
Pedagogia e Matemática. Quais as diferenças nessa formação? superposições?
São discretas?
Tais cursos constam somente com duas disciplinas relacionadas à Didática
e/ou Metodologia da Matemática, e em geral: na Licenciatura em Pedagogia com
foco nos anos iniciais do Ensino Fundamental, do 1º ao 5º ano; e na Licenciatura em
Matemática com foco nos anos seguintes da Educação Básica, isto é, do ao
ano e no Ensino Médio. Pesquisas (CARZOLA e SANTANA, 2005) mostram que a
carga horária destinada a essas disciplinas, que compõem o currículo de formação
de professores de Matemática dos anos iniciais, é insuficientes para uma abordagem
significativa dos conteúdos matemáticos números, espaço e formas, medidas e
tratamento da informação de fundamentos e métodos de ensino.
Entendo que a formação inicial obtida na universidade exerce grande
influência na carreira profissional dos graduandos e, conhecendo a formação dos
futuros professores de Matemática no curso de Licenciatura em Pedagogia da UFG
e no curso de Licenciatura em Matemática da UFG, onde estudei, minhas
inquietações vão se expressando em diferentes perguntas.
Mesmo que nos anos iniciais do Ensino Fundamental busque-se uma
variedade de recursos didáticos com o intuito de construir os conceitos que estão
sendo tratados e mesmo que haja uma preocupação em compreender o processo de
2
O 2º ciclo corresponde ao 4º e 5º anos do Ensino Fundamental. Ou seja, 3ª e 4ª séries na
nomenclatura anterior.
20
ensino e de aprendizagem das crianças, acredito que seja necessário que o Projeto
Pedagógico dos cursos, que, neste caso, formam o professor de Matemática dos
anos iniciais do Ensino Fundamental, expresse preocupação daqueles profissionais
que o elaboraram em relação a essa formação e que haja por parte deles, em nível
institucional, portanto também junto aos professores e alunos do curso, uma
constante análise e reflexão sobre tal projeto. Além disso, considero importante que
a análise e a reflexão sobre essa questão ocorram durante o próprio processo de
formação de professores em uma dinâmica estabelecida entre professores e alunos
desses cursos de graduação, Matemática e Pedagogia.
Essa preocupação, ligada à formação de futuros professores dos anos iniciais
do Ensino Fundamental, acompanhou-me desde a graduação, acentuando-se ao
atuar na primeira fase do Ensino Fundamental no CEPAE/UFG. Assim, a
preocupação se transformou em busca de compreensão. Ou seja, lancei-me à
pesquisa do tema.
1.2 - Em Busca da Compreensão do Tema
Em meados de junho de 2006, apliquei um questionário aos alunos dos
cursos de Licenciatura em Matemática e em Pedagogia da UFG, com a meta de
obter informações sobre as expectativas que tinham em relação ao futuro
profissional, especificamente ao trabalhar com o ensino de Matemática na primeira
fase do Ensino Fundamental
3
.
Foi apenas um questionário aplicado aos alunos dos cursos de Licenciatura
em Matemática e de Licenciatura em Pedagogia que se propuseram a respondê-lo.
Não foi realizada uma pesquisa temática, comprometida com a metodologia,
literatura e teorizações decorrentes. Ainda, minha interrogação não está explícita no
sentido de “ter uma interrogação e andar em torno dela, em todos os sentidos,
sempre buscando suas múltiplas dimensões e andar outra vez e outra ainda,
3
Apliquei o questionário a 19 alunos da Licenciatura em Pedagogia e a 31 alunos da Licenciatura em
Matemática. Não foi possível aplicar o questionário em uma quantidade maior de alunos do curso de
Pedagogia em função de os mesmos estarem envolvidos em atividades de encerramento de
semestre. Duas perguntas foram endereçadas aos alunos que se propuseram a responder, a saber:
“Que dificuldades você pensa que encontraria dando aulas de Matemática de 1ª aséries do Ensino
Fundamental?” e “Você daria aulas de Matemática de 1ª a 4ª séries? Por quê?”.
21
buscando mais sentido, mais dimensões, e outra vez mais” (BICUDO, 2005, p.8).
Porém as perguntas, frutos de minhas dúvidas, que enderecei àqueles alunos,
tinham como alvo abrirem-me à compreensão desse tema.
Ao analisar esses questionários, tentei agrupar as respostas que se
assemelhavam com a intenção de apresentar o que me pareceu importante.
Constatei que, para o licenciando em Matemática, o conteúdo matemático
trabalhado na primeira fase do Ensino Fundamental é considerado trivial. Entretanto,
os graduandos sentem dificuldades em explicá-lo, induzindo as crianças à sua
própria construção de conceitos, ou seja, sem fugir às regras e fórmulas
Matemáticas, e assim, traduzir tais conteúdos em atividades apropriadas aos alunos.
Afirmam:
[...] Em primeiro momento, a dificuldade é a forma de passar o
conteúdo, uma vez que para mim se tornou algo tão elementar,
intuitivo e intrínseco a todo o meu raciocínio matemático [...];
[...] O conteúdo [de matemática] por ser muito elementar, ao ensinar
e transmitir, uma predisposição em pensar que para os alunos
tamm é elementar [...]
(Alunos do 4ºAno de Licenciatura em Matemática / UFG - 2006)
De uma forma significativa, nas respostas dos alunos da Licenciatura em
Pedagogia, aparecem também itens relacionados ao conteúdo matemático,
explicitando a falta de afinidade com eles, a falta de domínio, o desconhecimento de
suas relações com o cotidiano, e tais fatos os levam a não quererem trabalhar com
essa disciplina:
Não gostaria de dar aulas de Matemática, pois não tenho facilidade
com a matéria, aprendi de uma forma traumática, que não fez
sentido para a minha vida
(Aluna do 7º Período curso de Pedagogia / UFG - 2006)
Em várias respostas aos questionários, essas dificuldades com a Matemática
aparecem justificadas pela formação que receberam enquanto ainda estudantes do
Ensino Fundamental, como se observa na citação acima. Os graduandos em
Pedagogia argumentam que receberam um ensino tradicional de Matemática e,
dessa forma, sentiriam dificuldades em fazer os alunos terem outra visão dessa
disciplina.
Bem, fomos educados em Matemática tradicionalmente, fazendo
listas enormes de arme e efetue. É claro que isso nos deixou
marcas, pois temos dificuldades de enxergarmos a Matemática em
nosso cotidiano. Então a dificuldade é essa, como colocar a
Matemática de outra forma do que aprendi, situando no dia-a-dia
dos alunos [...]
22
(Aluna do 7ª Período do curso de Pedagogia / UFG - 2006).
Fazer com que os alunos focalizem sua atenção nas atividades, conduzir a
aula de modo produtivo, conseguir manter o domínio de sala e manter a disciplina da
turma são preocupações bem destacadas por parte dos licenciandos em
Matemática.
Os futuros pedagogos focam a dificuldade no fato de as crianças já trazerem
para a sala de aula crenças que possam afastar o interesse pela disciplina.
[...] dificuldades [...] de desenvolver nos alunos o interesse pelo
estudo da Matemática, quebrando algumas barreiras que, muitas
vezes, as crianças trazem do meio fora da escola de que
Matemática é ultradifícil, bicho - de - 7 cabeças etc.
(Aluno do 7º Período curso de Pedagogia / UFG - 2006)
Os graduandos em Matemática reconhecem que os alunos da primeira fase
do Ensino Fundamental apresentam características específicas referentes à idade,
exigindo cuidados especiais. Não se sentem preparados para
[...] lidar com a grande dependência que estes alunos têm do
professor;
[...] lidar com a falta de amadurecimento da turma e as possíveis
faltas de comportamento (travessuras, faltas de controle emocional, e
outros).
(Alunos do 4ºAno de Licenciatura em Matemática / UFG - 2006)
Reconhecem, ainda, que não receberam formação que os qualificasse para o
trabalho com tal faixa etária, daí suporem que não conseguiriam uma linguagem
acessível, uma didática adequada, uma metodologia interessante. Tal compreensão
leva esses alunos a um desinteresse em trabalhar com essa fase de ensino e a
encarar esse trabalho como um desafio em sua carreira profissional.
[...] Me considero inapto e com conhecimentos pedagógicos
insuficientes;
[...] não tenho preparo para dar aulas nessas séries. O nosso curso
de licenciatura não dá suporte para isso;
[...] O curso de Licenciatura nos deu muito conteúdo e pouca didática
[...] Não me sinto preparado para esse tipo de aluno;
[...] Para poder lecionar de a Séries, eu necessitaria de uma
melhor formação em termos de conhecimentos pedagógicos para
proporcionar melhor educação e formação dessas crianças;
Eu acho que a maior dificuldade seria encontrar a melhor
metodologia, ou seja, uma forma interessante e de fácil acesso aos
alunos.
(Alunos do 4ºAno de Licenciatura em Matemática / UFG - 2006)
Há, também, por parte dos graduandos em Pedagogia uma preocupação com
sua formação, tanto nas especificidades da Matemática, quanto na formação
23
pedagógica, compreendendo a didática e a metodologia. Para alguns, a formação
que receberam é insuficiente para o trabalho, acreditando que a dificuldade maior
seria a capacitação do profissional nessa área.
[...] a primeira dificuldade, acredito que seja o domínio do conteúdo,
digo, uma preparação melhor, para transmitir os conhecimentos
necessários que as séries exigem [...].
(Aluno do 7º Período curso de Pedagogia / UFG - 2006)
outros alunos da Pedagogia, mesmo diante da necessidade de uma
formação melhor e admitindo certo distanciamento da Matemática, demonstram o
interesse em trabalhar com essa disciplina. Em sua maioria se propõem ao desafio
de enfrentar os atuais mitos e crenças, que acreditam que os alunos apresentam, e
entendem que essa é sua responsabilidade, enquanto futuros educadores dos anos
iniciais.
[...] seria um desafio, que eu teria que me preparar para assumi-lo,
mas tentaria, daria aula [de Matemática] sim;
Daria [aulas de Matemática] com o intuito de mudar as concepções
de como ensinar Matemática. Procuraria contextualizá-la;
A Matemática é considerada um grande problema para o pedagogo,
pois a maioria não gosta desta matéria. Isso faz com que ensinemos
de qualquer forma para as crianças, fazendo com que eles tenham
bastante dificuldades de aprendizagem. Eu gostaria de ser diferente
e mostrar a Matemática de forma prazerosa;
[...] daria [aulas de Matemática] por fazer parte do papel que o
professor das séries iniciais deve executar.
(Alunos do 7º Período curso de Pedagogia / UFG - 2006)
Embora haja espo no trabalho como professores de Matemática dos anos
iniciais tanto para o licenciado em Matemática, quanto para o licenciado em
Pedagogia, somente 63% dos alunos da Pedagogia e 26% dos alunos da
Matemática, entre os respondentes, se predispõem a trabalhar com a Matemática
nessa fase de ensino,
Algumas justificativas que os sujeitos desse questionário apresentaram para
trabalharem ou não com a primeira fase do Ensino Fundamental podem ser
conhecidas nos quadros abaixo:
24
Licenciatura em Pedagogia:
SIM NÃO
Alunos interessados
Não se identifica com essa fase de
ensino
Dificuldade com a disciplina Foram formados para trabalharem
nessa fase de ensino
Falta de domínio de conteúdo
Para mudar a forma de ensino Formação insuficiente
As dificuldades não são empecilhos Não gosta da área de exatas
Por ser uma disciplina essencial
Dificuldade em explicar o conteúdo com
clareza
Não sente dificuldades com
a disciplina
Por perceber a dificuldade dos alunos
com conteúdos e cálculos matemáticos
Licenciatura em Matemática:
SIM NÃO
Fase de ensino importante Dificuldades no domínio da turma
Gosto por crianças Não gosta de crianças
Indisciplina Quer trabalhar com essa fase de ensino
visando à pesquisa
Pouca paciência
As crianças são criativas Alunos dependentes
As crianças revelam poucos conceitos
formados
Formação pedagógica insuficiente
Sente-se atraído pelo trabalho Baixa remuneração
Muito trabalho Relacionamento entre professor e aluno
é prazeroso
Preferência por outra fase do ensino
Vejo a formação inicial do professor como nuclear para o desempenho dessa
profissão, entendida como articuladora de interesses subjetivos, intersubjetivos e
histórico-sociais na consecução do processo de aprendizagem. Minha intenção é,
portanto, investigar a formação do professor de Matemática dos anos iniciais.
Percebo que os licenciados, tanto em Pedagogia quanto em Matemática,
estão formalmente capacitados para atuarem como professores de Matemática nos
anos iniciais do Ensino Fundamental. Entretanto percebo a dificuldade que
apresentam para efetuar esse trabalho. Por que a presença dessa dificuldade?
O questionário mencionado não esclareceu minhas dúvidas.
Continuei minha trajetória de levantadora de perguntas que explicitavam
minhas incertezas e já revelavam um avanço na compreensão desse tema.
25
Perguntava de modo mais consistente:
a. De que modo os licenciandos em Matemática e em Pedagogia se vêem
como professores de Matemática dos anos iniciais do Ensino
Fundamental?
b. Como os conceitos, metodologias e didática de Matemática são tratados
nos currículos dos cursos de formação de professores, a fim de
trabalharem os problemas colocados pelos licenciandos em Matemática e
em Pedagogia que os deixam inseguros para lidar com a Matemática nos
anos iniciais?
c. De que modos estariam as duas licenciaturas preparando seus alunos
para o trabalho com a primeira fase do Ensino Fundamental?
d. Como os cursos de formação de professores têm contribuído para deixar
claro o papel do professor de Matemática dos anos iniciais do Ensino
Fundamental e, também, para construir um perfil de professor de
Matemática adequado para este trabalho?
1.3 - A Interrogação e seu Significado
Essas questões habitaram minhas incertezas e estiveram presentes na minha
prática docente. Foram sendo mais bem compreendidas, de modo que passei a vê-
las como um todo na complexidade do trabalho do professor dos anos iniciais.
De maneira mais gritante, falando-me mais alto, aparecia o trabalho do
professor de Matemática nessa fase. Minha perplexidade me conduziu à
interrogação desse tema. A interrogação que, aos poucos, foi se materializando de
modo claro pode ser expressa em termos de “como se a formação do professor
de Matemática do Ensino Fundamental nos cursos de Licenciatura em Matemática e
em Pedagogia” Essa interrogação revela-se como complexa e abrangente, de
26
maneira que no momento desta pesquisa fizemos
4
a opção por focar a proposta
dessa formação, olhada na dimensão da legislação pertinente e dos projetos de
cursos específicos. Assim, a pergunta desta dissertação assumiu a seguinte forma:
De que modo se apresenta o projeto de formação de professores
de Matemática dos anos iniciais do Ensino Fundamental nos cursos de
Licenciatura em Matemática e em Pedagogia?
Intencionamos com tal interrogação investigar como se mostra o projeto de
formação de professores em seus aspectos matemáticos e pedagógicos, nos cursos
de Licenciatura em Matemática e em Pedagogia, a fim de atender aos anos iniciais
do Ensino Fundamental.
Como dito anteriormente o professor de Matemática dos anos iniciais do
Ensino Fundamental é formado em ambos os cursos focados. De maneira mais
marcante, após a década de 1990 são os licenciados em Pedagogia que lecionam
nos anos iniciais, inclusive a disciplina de Matemática. Atualmente há uma tendência
mais forte em alguns Estados do Sul do país e em Goiás, na cidade de Goiânia, por
exemplo, que professores de disciplinas específicas lecionem nos anos iniciais do
Ensino Fundamental.
A interrogação aqui posta pergunta pelo modo como essa formação ocorre em
ambos os cursos responsáveis por formar o professor de Matemática dos anos
iniciais.
1.4 - Procedimentos de Investigação
Como dito anteriormente, nosso foco inside na investigação das propostas de
formação inicial do professor de Matemática que trabalhará nos anos iniciais,
abrangendo do ano ao ano, do Ensino Fundamental, buscando compreender e
explicitar o projeto de formação desses professores.
4
Uso o plural por que a partir desse momento da pesquisa estou inserida em um grupo de pesquisa
com o qual estabeleço um diálogo e, portanto, não estou sozinha no desenvolvimento desta
investigação.
27
Retomando a pergunta desta pesquisa: De que modo se apresenta o projeto
de formação de professores de Matemática dos anos iniciais do Ensino Fundamental
nos cursos de Licenciatura em Matemática e em Pedagogia?, passamos a delinear
os procedimentos que se mostram apropriados à investigação pretendida.
Visando à perseguição da pergunta formulada, entendemos que o fenômeno
‘formação inicial de professores de Matemática dos anos iniciais do Ensino
Fundamental’ pode ser enfocado por várias perspectivas.
Uma delas pode ser olhar para os cursos de Licenciatura em Matemática e
em Pedagogia, oferecidos pela UFG, na cidade de Goiânia. Essa perspectiva é
assumida nesta investigação, porque essa Universidade oferece os dois cursos
referidos e se situa no município de Goiânia, onde, os licenciados, tanto em
Pedagogia quanto em Matemática, atuam como professores de Matemática nos
anos iniciais.
De forma constante adotamos um procedimento de leitura analítica e crítica
de textos significativos que visam a delinear a fisionomia desse curso e a dos
profissionais que devem formar. Explicitamos abaixo as modalidades de textos
estudados:
a. Legislação Educacional (antiga e recente): Pareceres do Conselho
Nacional de Educação (CNE); Lei de Diretrizes e Bases (LDB); Diretrizes
Curriculares Nacionais (DCN) para o Curso de Graduação em Pedagogia,
Licenciatura; Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de
Licenciatura, Matemática; Diretrizes que regulamentam a Educação no
Município de Goiânia;
b. Artigos de pesquisas acadêmicas, textos oficiais, ou seja, estudamos a
bibliografia que discute questões concernentes à Licenciatura em
Pedagogia e Licenciatura em Matemática;
c. Projeto Pedagógico atual do curso de Licenciatura em Pedagogia e do
curso de Licenciatura em Matemática, ambos da UFG; Currículos de
ambos os cursos em questão, bem como as ementas das disciplinas que
se fizerem necessárias.
28
1.4.1 - Fundamentação Metodológica
5
- Fenomenologia: o Olhar
Assumido
Analisaremos os Projetos Pedagógicos de Curso, assumindo uma postura
fenomenológica
6
, visando destacar o que de significativo emerge da leitura atenta
desses projetos.
Pela postura fenomenológica, nossa intencionalidade está direcionada
atentamente à interrogação formulada, buscando ouvir o que é dito na bibliografia
estudada, nos documentos legais examinados e nos Projetos Pedagógicos de Curso
analisados. Isso quer dizer que não propomos nos basear em teorias prévias que
expliquem o que se mostra nesses dados. Intencionamos compreender o fenômeno,
formação inicial de professores de Matemática, indo-a-coisa-mesma
7
.
Os Projetos Pedagógicos de ambos os cursos focados serão analisados e,
para isso, faremos a descrição
8
de tais documentos, buscando destacar o fenômeno.
Entendendo que a descrição toma a forma de um texto, ele estará, então, à espera
de interpretação. Assumindo a forma de um discurso
9
escrito, a descrição exige um
olhar fenomenológico que solicita uma interpretação hermenêutica. Essa exigência
faz sentido na abordagem investigativa aqui assumida.
A análise dos Projetos Pedagógicos de Curso focará os objetivos e
justificativas que se apresentam para a oferta da licenciatura. Após destacar os
objetivos e as justificativas, analisaremos as propostas explícitas que visam à
formação do professor e, mais especificamente, do professor de Matemática dos
anos iniciais do Ensino Fundamental.
Ao explicitarmos os procedimentos delineados pelo projeto pedagógico de
cada curso buscaremos tecer uma síntese compreensiva do apresentado e
5
Este projeto está inserido no Grupo FEM - Fenomenologia em Educação Matemática - e
desenvolverá as análises mediante procedimentos fenomenológicos. Vale-se das concepções de
mundo e conhecimento presentes nos trabalhos e discussões realizadas pelos membros desse
grupo.
6
Mediante postura fenomenológica, a intenção da pesquisadora é olhar atentivamente o que se
mostra nos projetos pedagógicos dos cursos focados.
7
É o movimento de ir à própria coisa e “não a conceitos ou idéias que tratam da coisa” (BICUDO,
2000, p.74). É o movimento de olhar atentamente para o fenômeno, entendendo-o não como o
objeto concreto fenomenal que está-aí-diante-dos-olhos, mas como a maneira de esse fenomenal se
dar à experiência do ver do inquiridor” (MARTINS, BICUDO, 2006, p.16).
8
“A descrição [...] é um protocolo que se limita a descrever o visto, o sentido, a experiência como
vivida pelo sujeito. Ela não admite julgamentos e avaliações. Apenas descreve. Para tanto, expõe-se
por meio da linguagem”. (BICUDO, 2000, p. 77).
9
Discurso entendido na concepção heideggeriana como a expressão inteligível do compreendido e
interpretado.
29
analisado, tentando iluminar a questão da formação do professor de Matemática.
Mais do que isso, buscaremos esclarecer o lugar (curso) em que a formação desse
profissional dos anos iniciais do Ensino Fundamental se dá, abrindo, desse modo, à
compreensão sobre a formação oferecida.
A interpretação dos projetos pedagógicos, bem como da bibliografia
escolhida, pode conduzir a uma metacompreensão da pesquisa e à compreensão do
fenômeno interrogado, que em nosso contexto, são os modos pelos quais se dá a
formação do professor de Matemática que podem trabalhar nos anos iniciais do
Ensino Fundamental. Sabendo que essa formação se nos cursos de Licenciatura
em Matemática e em Pedagogia, buscaremos, também, abrir caminhos para
compreender as concepções de pedagogo e de professor de Matemática,
profissionais que podem atuar nos anos iniciais do Ensino Fundamental, ensinando
Matemática.
1.5 - Importância do Trabalho para a Educação Matemática
A Educação Matemática tem como cerne a preocupação com a educação da
pessoa e do cidadão, que, na sua realidade mundana, se depara com a gica
presente na organização da sociedade e da cultura científica e tecnológica. Trata a
Matemática como uma das possibilidades de o ser humano organizar seu mundo e
expressar essa organização em uma linguagem compreensível e lógica. Assim, a
Matemática é importante, bem como seus conteúdos, conceitos, lógica, linguagem e
aplicação. Porém, ela não é tida como o fim em si dessa Educação, mas como um
dos seus muitos e importantes meios.
Isso significa que os profissionais envolvidos com Educação, especificamente
com a Educação Matemática devem buscar compreender as idéias que permeiam
essa área do conhecimento humano, sua gica de produção, conceitos, habilidades
e competências presentes nessa área, bem como as leis que regulamentam seu
ensino. Assim, mantendo-se atentos às possíveis implementações que venham
ocorrer, posicionando-se de maneira aberta e crítica ao olharem para elas, terão
condições de lutar por melhores condições de trabalho e por uma formação que
venha atender o almejado para o nível de ensino em que estejam envolvidos.
30
1.6 - Estrutura do Texto da Dissertação
Capítulo 01: Um Passeio sobre o Tema
Esta dissertação contou com esta introdução
10
que explicitou a trajetória do
surgimento da presente pesquisa, bem como sua relevância para o âmbito da
Educação, especificamente, para a Educação Matemática e delineou os
procedimentos metodológicos usados.
Capítulo 02: A Formação do Professor de Matemática dos Anos Iniciais do
Ensino Fundamental no Curso de Pedagogia
Destacamos da trajetória do curso de Licenciatura em Pedagogia, ao longo de
sua existência em nosso país, aspectos significativos para conceituá-lo, enfocando
as interfaces da Matemática e a formação oferecida para professores dessa ciência.
Buscamos com autores, como: Carmem Silvia Bissolli da Silva, Leonor Maria
Tanuri, Dermeval Saviani, Iria Brzezinski, Selma Pimenta, José Carlos Libâneo, Ildeu
Coelho, Valnir Chagas dentre outros, para tratar da trajetória do curso de Pedagogia
no Brasil e sua constante busca por identidade. Utilizaremos também textos da
legislação brasileira que tratam do assunto.
Capítulo 03: A Formação do Professor de Matemática: o Caminho Percorrido
pelo Curso de Licenciatura
Foi abordado neste capítulo, aspectos históricos do curso de Licenciatura em
Matemática. Trabalhamos com textos da Sociedade Brasileira de Educação
Matemática (SBEM), Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), de
autores como Vera Lúcia Ferrão Candau, Amélia Império Hambúrguer, José Cunha
da Silva, Arthur Eugênio Quintão Gomes e também com textos da legislação
brasileira que tratam sobre os cursos de Licenciatura e especialmente os que tratam
sobre a Licenciatura em Matemática.
10
A Introdução é o Capítulo 01 da Dissertação.
31
Capítulo 04: Hermenêutica dos Projetos Pedagógicos de Curso: Licenciatura
em Pedagogia e Licenciatura em Matemática
Neste capítulo fizemos a análise e a interpretação dos projetos de formação
de professores de Matemática dos anos iniciais, visando especificar o perfil dos
cursos de Licenciatura em Matemática e em Pedagogia da UFG. Ou seja, falamos
sobre que professores ambos os cursos se propõem a formar.
Capítulo 05: A Formação de Professores de Matemática dos anos iniciais do
Ensino Fundamental
Foi feita uma síntese de todo o trabalho, tecendo considerações sobre a
formação de professores de Matemática dos anos iniciais de escolarização,
principalmente onde e como ela ocorreu e ocorre.
32
A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA DOS ANOS INICIAIS
DO ENSINO FUNDAMENTAL NO CURSO DE PEDAGOGIA
11
Nem sempre o curso de Pedagogia esteve responsável pela formação de
professores para atuarem nos primeiros anos de escolarização, ou seja,
historicamente esse não foi o seu objetivo. Entretanto, a partir de um dado momento
histórico ele passa a ser o responsável pela formação do professor dos anos iniciais,
de modo que, entendemos que esse curso é o responsável em formar o professor de
Matemática para atuar nessa fase de ensino.
Tendo isso em vista, é importante focar a constituição do curso de Pedagogia
em nosso país e no decorrer dessa história como ele veio tratando os conteúdos
matemáticos e a formação do professor de Matemática para a atuação nos anos
iniciais. Devemos ainda deixar claro que ele não forma apenas o professor de
Matemática, ele forma também professores para as outras disciplinas – Língua
Portuguesa, Geografia, História, Ciências, Artes, Educação Física.
Para traçar a trajetória do curso de Pedagogia, tomaremos como norte a
legislação que o regulamentou desde sua implantação no Brasil, pois entendemos
que ela poderá mostrar os rumos tomados pelo curso evidenciado e como se dava e
11
No Brasil.
33
se a formação de professores, incluindo a formação do professor de Matemática
dos anos iniciais do Ensino Fundamental.
Decidimos nos estender neste assunto ainda que não seja o tema específico
desta dissertação porque efetuamos a investigação que sustentação a este texto
e, principalmente, para informar os educadores matemáticos sobre essa história e
com ela o modo pelo qual a formação do professor de Matemática dos primeiros
anos de escolarização veio se delineando ao longo do tempo.
2.1- Nascimento do Curso de Pedagogia
Falar do curso de Pedagogia e de sua trajetória é uma tarefa complexa. Sua
história é marcada por lutas na busca por sua identidade e isso implica em
mudanças significativas na formação do pedagogo.
Assim, a identidade do pedagogo e, por extensão, a do curso de Pedagogia,
está diretamente relacionada à clara definição de mercado de trabalho, bem como
ao reconhecimento profissional. A questão da identidade está intimamente
interconectada aos questionamentos: O curso de Pedagogia tem ou não um
“conteúdo próprio” a ser estudado? A Pedagogia é um curso ou uma área de
conhecimento?
Os curso para formar profissionais da educação em nível superior passaram a
figurar em nosso país somente em 1939, apesar de a Faculdade de Educação ter
sido oficialmente criada em 1931 pelo Estatuto das Universidades Brasileiras dentro
da Reforma Francisco Campos. (GADOTTI; RABELLO, 1980).
Desse modo, o primeiro curso oficial de Pedagogia foi oferecido pela
Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro, em 1939. Nesse ano estava sendo
reorganizada a Faculdade Nacional de Filosofia
12
, e o curso de Pedagogia, instituído
pelo Decreto-Lei 1.190, de 4 de abril de 1939, passou a funcionar oficialmente,
portanto, nessa Faculdade. (GADOTTI; RABELLO, 1980) (SILVA, 2006) (BRASIL,
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, NÓBREGA, s.d).
12
Pelo Decreto-Lei 1.190/1939, art. 1º, fica regulamentado que “a Faculdade Nacional de Filosofia,
Ciências e Letras, instituída pela Lei 452, de 5 de julho de 1937, passa a denominar-se Faculdade
Nacional de Filosofia” (BRASIL, PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, NÓBREGA, s.d, p. 562).
34
O nome “pedagogia”, para referir-se ao curso de formação de docentes para o
ensino normal, foi utilizado pela primeira vez nesse mesmo ano de 1939. (GADOTTI;
RABELO, 1980).
2.1.1 - Currículo e Mercado de Trabalho
A Faculdade Nacional de Filosofia, pelo Decreto supracitado, foi estruturada
em quatro seções fundamentais, sendo elas de Filosofia, de Ciências, de Letras e de
Pedagogia e uma seção especial, a de Didática. Tais seções eram responsáveis
pelo oferecimento de cursos ordinários e extraordinários. As seções de Filosofia,
Pedagogia e Didática eram compostas, cada uma, por um único curso ordinário, o
Curso de Filosofia, o Curso de Pedagogia e o Curso de Didática respectivamente; a
seção de Ciências era composta por seis cursos ordinários, a saber, Curso de
Matemática, Curso de Física, Curso de Química, Curso de História Natural, Curso de
Geografia e História e Curso de Ciências Sociais; e, a seção de Letras compreendia
três cursos, a saber, Curso de Letras Clássicas, Curso de Letras Neo-Latinas e
Curso de Letras Anglo-Germânicas (BRASIL, PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA,
NÓBREGA, s.d).
O curso de Pedagogia, Bacharelado, ficou com sua Matriz Curricular assim
organizada: primeira série: Complementos de Matemática, História da Filosofia,
Sociologia, Fundamentos Biológicos da Educação e Psicologia Educacional; na
segunda série, Estatística Educacional, História da Educação, Fundamentos
Sociológicos da Educação, Administração Escolar e Psicologia Educacional; e na
terceira série o curso era composto pelas disciplinas de Filosofia da Educação,
Educação Comparada, Administração Escolar, História da Educação e Psicologia
Educacional (BRASIL, PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, NÓBREGA, s.d).
O curso de Didática ficou constituído pelas seguintes disciplinas: Didática
Geral, Didática Especial, Psicologia Educacional, Administração Escolar,
Fundamentos Biológicos da Educação e Fundamentos Sociológicos da Educação
(BRASIL, PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, NÓBREGA, s.d).
Segundo Gadotti e Rabello (1980), o curso de Pedagogia, na época de sua
instituição, aparecia como uma extensão dos cursos de formação de professores
normalistas. Tais autores afirmam:
35
Com a reestruturação da Faculdade Nacional de Filosofia, naquele
ano [1939], o Curso de Pedagogia aparece como o resultado da
integração do curso de formação do professor secundário com
disciplinas que desenvolviam o conteúdo do Curso Normal,
prolongando-o apenas.
(GADOTTI E RABELO, 1980, p. 17)
Quando de sua criação, em 1939, o curso funcionava no modelo “3+1”, o
chamado “padrão Federal”. O aluno fazia três anos de curso e recebia o diploma de
Bacharel em Pedagogia. Os interessados na licenciatura estudavam por mais um
ano, ou seja, cursavam Didática e, dessa forma, faziam jus ao diploma de
licenciados no conjunto de disciplinas que compunham o bacharelado.
Essa separação entre bacharelado e licenciatura expõe o modelo de
formação que deixou marcas profundas na Faculdade de Filosofia e, segundo Silva
(2006, p.13), reflete a “nítida concepção dicotômica que orientava o tratamento de
dois componentes do processo pedagógico: o conteúdo e o método”. De acordo com
Coelho (1987, p.9), a dicotomia entre bacharelado e licenciatura era tão explícita
que, de acordo com o Decreto-Lei 3.454/1941, era proibida “a matrícula
simultânea num curso de bacharelado e no curso de didática”.
Essa maneira de introduzir os cursos superiores de formação de professores
marcou a história dos cursos de licenciatura em nosso país, pois ela direcionou-os a
se organizarem nesse molde por muito tempo. Esse modelo foi e é muito
questionado, de modo que percebemos que recentemente têm-se buscado outros
modos de fazer essa formação. Ao falar do decreto que instituiu esse modelo de
formação, Silva (2006, p.11) afirma que ficou estabelecido, “(...) por tal documento
legal, o chamado ‘padrão federal’ ao qual tiveram que se adaptar os currículos
básicos dos cursos oferecidos pelas demais instituições do país”.
A situação dos bacharéis em Pedagogia não era das melhores, pois eles
lutavam por um lugar no mercado de trabalho ainda não definido para eles. O
Decreto-Lei 1.190/1939, que cria o curso de Pedagogia, ao se referir
especialmente ao bacharel, determina em seu art. 51, alínea c, a exigência dessa
diplomação para preencher os cargos de técnicos de Educação do então Ministério
da Educação e Saúde
13
, a partir de 1943.
13
“O Ministério da EducaçãoMEC, pela Lei n.º 378, de 13 de janeiro de 1937, passou a denominar-
se Ministério da Educação e Saúde com atividades relativas à educação escolar, educação extra-
escolar, saúde pública e assistência médico-social”. (Disponível em MEC:
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=84&Itemid=233 Acesso em: 15
jun 2008). Porém, no texto desta Lei aparece apenas Ministério da Educação. Para mais informações
36
CAPÍTULO VIII
Das regalias conferidas pelos diplomas
Art. 51 A partir de 1 de janeiro de 1943 será exigido:
c) para preenchimento, dos cargos de técnicos de educação do
Ministério da Educação, do diploma de bacharel em pedagogia.
(BRASIL, PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA NÓBREGA, s.d, p.568)
No entanto, a identidade do Bacharel em Pedagogia não se encontrava
definida.
A situação do licenciado em Pedagogia não era diferente daquela do
bacharel. Além dos problemas relacionados com sua formação dicotômica, esses
profissionais também enfrentavam problemas concernentes ao campo de trabalho. O
Decreto-Lei 1.190/1939 também trata das regalias conferidas a todos os
licenciados e, desse modo, inclui os licenciados em Pedagogia. Determina em seu
art. 51, alínea a e b:
CAPITULO VIII
Das regalias conferidas pelos diplomas
Art. 51 A partir de 1 de janeiro de 1943 será exigido:
a) para preenchimento de qualquer cargo ou função do
magistério secundário ou normal, em estabelecimento administrados
pelos poderes públicos ou por entidades particulares, o diploma de
licenciado correspondente ao curso que ministre o ensino da
disciplina a ser lecionada;
b) para preenchimento dos cargos ou funções de assistentes
de qualquer cadeira em estabelecimentos destinados ao ensino
superior da filosofia, das ciências, das letras ou da pedagogia, o
diploma de licenciado correspondente ao curso que ministre o ensino
da disciplina a ser lecionada.
(BRASIL, PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA NÓBREGA, s.d, p. 568)
Um campo de trabalho aparentemente definido para o licenciado em
Pedagogia era o Curso Normal, cujos conteúdos das disciplinas do seu currículo
eram aqueles trabalhados no curso de Pedagogia, em sua maioria. Entretanto, o
Curso Normal não era exclusivo de atuação do licenciado em Pedagogia. A Lei
Orgânica do Ensino Normal, Decreto-Lei 8.530, de 2 de janeiro de 1946, em seu
artigo 49, determina que: deverão os professores do ensino normal receber
conveniente formação, em cursos apropriados, em regra de ensino superior”.
Entendemos que ao assim estabelecer, a Lei Orgânica do Ensino Normal não
vincula a formação exigida em nível superior somente ao curso de Pedagogia,
abrindo espaço para atuação de outros profissionais. Conferiu-se também ao
sobre o Ministério da Educação e sua trajetória histórica, visitar:
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=content&task=view&id=521&Itemid=759.
37
licenciado em Pedagogia o direito de lecionar Filosofia e História Geral e do Brasil
(no ou no ciclo - onde houvesse a oferta da disciplina) e, ainda de Matemática
(no 1º ciclo) no então chamado Ensino Secundário
14
. Segundo Silva (2006) isso
prova como o mercado de trabalho para o pedagogo se encontrava difuso.
Entendemos também que o direito de atuar em outras áreas do saber dado a
alguns profissionais da educação pois, situações como essa o ocorriam
somente com o pedagogo se justificava em função de o número de professores
para atuarem em algumas disciplinas ser ainda insuficiente para atender a demanda
existente. Esse problema, vivido naquela época, persistiu até recentemente em
algumas regiões de nosso país, evidenciando como o Poder Público por meio de
sua política “resolve” os problemas referentes à Educação.
14
Anteriormente à Lei 4.024/1961 que, entre outras coisas, traz regulamentações para as fases
de ensino existiam as leis orgânicas que se incumbiam da tarefa de regulamentar o ensino em
todas as suas etapas. Tais leis regulamentavam o Ensino Primário, o Ensino Secundário, o Ensino
Normal, o Ensino Comercial, o Ensino Agrícola e o Ensino Industrial.
O Ensino Primário, disciplinado pelo Decreto-Lei 8.529, de 2 de janeiro de 1946, abrangia duas
categorias de ensino, a saber: o ensino primário fundamental, destinado a crianças de sete a doze
anos, era ministrado em dois cursos sucessivos: o elementar com quatro anos de duração e o
complementar com um ano de duração; o ensino primário supletivo, destinado aos adolescentes e
adultos, era ministrado por meio de um único curso, o supletivo, com duração de dois anos;
O Ensino Secundário, disciplinado pelo Decreto-Lei nº 4.244, de 9 de abril de 1942, era ministrado
em dois ciclos. No primeiro ciclo era oferecido um único curso: o ginasial, que tinha duração de
quatro anos. No segundo ciclo eram oferecidos dois cursos paralelos: o clássico e científico. Ambos
os cursos tinham duração de três anos. “O curso clássico e o curso científico, [...] terão por objetivo
consolidar a educação ministrada no curso ginasial e bem assim desenvolvê-la e aprofundá-la. No
curso clássico, concorrerá para a formação intelectual, além de um maior conhecimento de filosofia,
acentuado estudo das letras antigas; [...] no curso científico, essa formação será marcada por um
estudo maior de ciências”. (BRASIL, PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, 1942, art. 4º, p. 1);
O Ensino Normal era disciplinado pela Lei Orgânica do Ensino Normal Lei nº 8.530/1946 e
ministrado em dois ciclos, a saber, o primeiro ciclo, realizado em um período de quatro anos, era
responsável pelo curso de regentes de ensino primário e o segundo ciclo, cursado em três anos,
oferecia o curso de formação de professores primários. O Curso Normal ainda era responsável em
oferecer “cursos de especialização para professores primários, e cursos de habilitação para
administradores escolares do grau primário” (BRASIL, PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, 1946, art 3º,
p. 1).
O Ensino Comercial foi disciplinado pela Lei Orgânica do Ensino Comercial - Decreto-Lei nº.
6.141, de 28 de Dezembro de 1943. Visitar: www.soleis.adv.br/leiorganicaensinocomercial.htm.
Acesso em: 05 nov 2008.
O Ensino Agrícola foi disciplinado pela Lei Orgânica do Ensino Agrícola - Decreto-Lei nº. 9.613, de
20 de Agosto de 1946. Ver: www.soleis.adv.br/leiorganicaensinoagricola.htm. Acesso em: 05 nov
2008.
O Ensino Industrial foi disciplinado pela Lei Orgânica do Ensino Industrial - Decreto-Lei nº. 4.073,
de 30 de Janeiro de 1942. Ver: www.soleis.adv.br/leiorganicaensinoindustrial.htm. Acesso em: 05
nov 2008.
38
2.1.2 - Capacitação do Pedagogo e o Ensino de Matemática
Depois do exposto fica claro que o curso de Pedagogia no período histórico
relatado não tinha o objetivo de formar o professor dos anos iniciais. Ao direcionar
para o nosso foco, a Educação Matemática, constatamos que o curso apresentava
em seu currículo duas disciplinas que discutiam tal área do saber. Como relatado,
os estudantes da Graduação em Pedagogia estudavam na primeira rie do curso a
disciplina Complementos de Matemática e na segunda série, Estatística
Educacional. Como o curso de Licenciatura em Pedagogia nessa fase estava mais
direcionado a formar o professor do Curso Normal, ou seja, como ressaltado, não
se voltava à formação de professores para os anos iniciais, fica evidente que apesar
de ser dado o direito ao licenciado em Pedagogia de trabalhar com a disciplina
Matemática, entre outras, em função da necessidade de profissionais da educação
que se mostrava naquele contexto, sua formação não se comprometia com o ensino
dessa ciência, independentemente da etapa de ensino em que o licenciado fosse
atuar.
2.2- A Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1961 e o Parecer
CFE
15
nº 251/1962
Em 1961, depois de quinze anos de gestação, foi aprovada a Lei de Diretrizes
e Bases da Educação 4.024, de 20 de dezembro. Essa lei traz, entre outros, as
regulamentações para a Educação pré-Primária
16
e para os Ensinos Primário
17
,
Médio
18
e Superior. Ela também cria o Conselho Federal de Educação (CFE) e os
15
CFE: Conselho Federal de Educação.
16
A Educação Pré-Primária era destinada aos menores até sete anos; ministrada em escolas
maternais ou jardins-de-infância.
17
O Ensino Primário, obrigatório a partir dos sete anos, era ministrado, no mínimo, em quatro ries
anuais;
18
O Ensino Médio funcionava em dois ciclos, a saber, o Ginasial e o Colegial, os quais compreendiam
os cursos: Secundário, Técnico e Formação de Professores para o Ensino Primário.
Secundário: O ciclo ginasial com duração de quatro séries anuais e o colegial, de três anos no
mínimo; o curso secundário visa ao ensino Superior;
Técnico: abrange os cursos: a) industrial; b) agrícola; c) comercial. Esses cursos eram ministrados em
dois ciclos: o ginasial, com a duração de quatro anos, e o colegial, com duração mínima de três anos;
Formação de Professores para o Ensino Primário: O ensino normal era voltado para a formação de
professores, orientadores, supervisores e administradores escolares destinados ao Ensino Primário, e
39
Conselhos Estaduais de Educação. Observamos que a Lei 4.024/1961 não trouxe
mudanças significativas para o curso de Pedagogia, porém, sua aprovação suscitou
a intervenção nos currículos dos cursos Superiores.
Assim, um ano após a aprovação da Lei 4.024/1961 e a criação do
Conselho Federal de Educação, pequenas alterações foram introduzidas no
currículo do curso de Pedagogia pelo Parecer CFE 251/1962 relatado pelo
professor Valnir Chagas. Mas, os problemas enfrentados pelo curso, apesar das
alterações, continuaram intocados. O relator deixou clara a fragilidade do curso ao
explicitar os principais argumentos contra e a favor da Pedagogia. Muitos, naquela
época, propunham a extinção do curso pelo fato de ele não ter um conteúdo próprio
de discussão, por verem-no indefinido, enfim, sem identidade.
Tal Parecer também não deixou claro que profissional o curso deveria formar,
dizendo de maneira geral que os egressos do bacharelado em Pedagogia seriam
técnicos em educação e os egressos da licenciatura, professores das disciplinas
pedagógicas do Curso Normal, o que de certa forma vinha acontecendo desde a
sua criação.
2.2.1 - Currículo e Mercado de Trabalho
O Parecer de 1962 estabelece o currículo mínimo e a duração para o curso
de Pedagogia e mantém o modelo de formação “3+1”. Para o bacharelado, o
Parecer estabelece sete disciplinas, sendo cinco obrigatórias e duas opcionais. As
disciplinas obrigatórias são: Psicologia da Educação, Sociologia (Geral; da
Educação), História da Educação, Filosofia da Educação e Administração Escolar
(BRASIL, CFE, DOCUMENTA, nº 11, pp. 65 - 66). As opcionais são: Biologia,
História da Filosofia, Estatística, Métodos e Técnicas de Pesquisa Pedagógica,
Cultura Brasileira, Educação Comparada, Higiene Escolar, Currículos e Programas,
Técnicas Audiovisuais de Educação, Teoria e Prática da Escola Primária, Teoria e
Prática da Escola Média e Introdução à Orientação Educacional (BRASIL, CFE,
para o desenvolvimento dos conhecimentos técnicos relativos à educação da infância. Quanto ao
diploma desse curso: em escola normal de grau ginasial no mínimo de quatro séries anuais: diploma
de regente de ensino; e, em escola normal de grau colegial, de três séries anuais: diploma de
professor primário.
40
DOCUMENTA, 11, p. 66). Observamos que, no rol de doze disciplinas opcionais
estabelecido pelo Parecer, a disciplina Estatística é a única que discute, de modo
evidente, conceitos matemáticos.
As licenciaturas foram disciplinadas pelo Parecer CFE 292/1962. Tal
Parecer regulamenta a formação pedagógica de todas as licenciaturas, centrando-a
em quatro disciplinas: Psicologia da Educação Adolescência, Aprendizagem
Didática, Elementos de Administração Escolar e Prática de Ensino sob a forma de
Estágio Supervisionado. Aos alunos da licenciatura em Pedagogia bastava cursar
Didática e Prática de Ensino sob a forma de estágio supervisionado, pois as outras
disciplinas fixadas se encontravam no grupo de disciplinas do bacharelado em
Pedagogia.
Mediante esses dados, concluímos que o curso, na década de 60, não se
dedicava à formação de professores para os anos iniciais. Isso é corroborado no
Parecer CFE 251 de 1962, que explicita que esse ainda não era o objetivo do
curso de Pedagogia, apesar de o conselheiro Valnir Chagas projetar a formação de
professores dos anos iniciais em nível superior, enquanto a formação do técnico em
Educação é projetada em nível de pós-graduação. Entendendo que essa seria uma
projeção a ser realizada em longo prazo, Chagas explicita no Parecer CFE nº
251/1962 que:
Não dúvida, assim, de que o sistema ora em vigor ainda
representa o máximo a que nos é lícito aspirar nas atuais
circunstâncias: formação do mestre primário em cursos de grau
médio e conseqüente formação superior, ao nível de graduação, dos
professores desses cursos e dos profissionais destinados às funções
não-docentes do setor educacional. Na porção maior do território
brasileiro, sem a ocorrência de fatores que no momento estão fora de
equação, vários lustros serão ainda necessários para a plena
implantação deste sistema. Nas regiões mais desenvolvidas,
entretanto, é de supor que ela seja atingida e comece a ser
ultrapassada talvez antes de 1970. À medida que tal ocorrer, a
preparação do mestre-escola alcançará níveis post-secundários,
desaparecendo progressivamente os cursos normais e, com eles, a
figura do respectivo professor. Ao mesmo tempo, deslocar-se-á para
a pós-graduação a formação de pedagogista, num esquema aberto
aos bacharéis e licenciados de quaisquer procedências que se
voltem para o campo de Educação. O curso de Pedagogia terá então
de ser redefinido; e tudo leva a crer que nele se apoiarão os
primeiros ensaios de formação superior do professor primário.
(BRASIL, CFE, DOCUMENTA nº 11, p. 61)
Críticas foram feitas a esse Parecer, principalmente pelo fato de o relator se
preocupar primeiramente em definir o currículo mínimo para a formação do
41
pedagogo antes mesmo de deixar claro para que ele viera e se o mercado de
trabalho estaria pronto para recebê-lo.
Silva (2006) deixa claro em seu trabalho por meio da análise de documentos
de congressos de estudantes do curso de Pedagogia que os alunos, em geral,
reclamavam da imprecisão do currículo do curso, pois as disciplinas opcionais não
favoreciam a formação do “técnico em Educação”, ou seja, o currículo não se
apresentava de modo satisfatório para a formação que desejavam. Reivindicavam,
também, espaço no mercado de trabalho para o licenciado por meio de abertura de
novos concursos públicos e ainda contestavam a presença de outros profissionais
em espaços que seriam deles.
Alunos de Pedagogia da região de Rio Claro e da de São Paulo elaboraram
na ocasião de seu Congresso Estadual de Estudantes de Pedagogia em 1967, um
trabalho contendo uma proposta de reformulação do curso, na qual deixavam
explícita a insatisfação quanto ao currículo e ao espaço do pedagogo no mercado de
trabalho. Recomendavam os campos em que poderiam/deveriam atuar,
pressionando as autoridades para a abertura de concursos blicos, para
provimento de cargos que necessitassem da formação em Pedagogia, ou seja,
lutavam pela regulamentação da profissão do licenciado em Pedagogia.
A situação do pedagogo nada havia melhorado depois do Parecer de 1962.
De acordo com Silva (2006), no Estado de São Paulo ainda não havia um mercado
de trabalho que o demandasse, de modo que não fica difícil imaginar a indefinição
nas outras regiões do país. Toda a dificuldade enfrentada por esse profissional ainda
era acompanhada por situações que a todos chocavam, pois, os
[...] licenciados até 1965, conforme Portaria MEC n. 478/1954, além
do direito ao registro nas chamadas cadeiras de educação, possuíam
tamm esse direito em relação a outras disciplinas do ensino médio:
em filosofia, história geral e do Brasil no ciclo em que fosse
ministrado o ensino da disciplina ou nos dois ciclos e ainda em
matemática, apenas no primeiro ciclo. Aos licenciados de 1966 a
1968, nos termos da Portaria MEC n. 341/1965 esse direito
estendeu-se à psicologia, sociologia (2º ciclo) ou estudos sociais (1º
e 2º ciclos), [...]. Aos licenciados a partir de 1969 não foi dado mais o
direito em relação à filosofia, história e matemática.
(SILVA, 2006, p.22-23)
42
2.2.2 - Capacitação do Pedagogo e o Ensino de Matemática
O Parecer não trouxe grandes modificações ao currículo do curso de
Pedagogia. Os licenciados permaneceram com o direito de lecionar Matemática,
História e Filosofia até o ano de 1969, como mostrado na citação anterior. Mas,
apesar do direito, vemos que a única disciplina que tratava de conceitos
matemáticos presente no currículo mínimo estabelecido pelo Parecer CFE
251/1962 era a de Estatística, que constava no rol de disciplinas opcionais do
bacharelado. Nessa fase o pedagogo não era formado para ser o professor do
Ensino Primário e nem mesmo dos cursos Secundário e Técnico do Ensino Médio.
Seu objetivo ainda era o de formar o professor das disciplinas pedagógicas do Curso
Normal um dos cursos que também compunham o Ensino Médio. Portanto, a
disciplina de Matemática presente nessa época no currículo mínimo estabelecido
para o curso de Pedagogia, não tinha como foco formar professores capacitados
para darem aulas de Matemática, independentemente da etapa de ensino que
fossem atuar. Assim, o licenciado em Pedagogia ainda não era o professor de
Matemática dos anos iniciais.
2.3 - O Parecer CFE nº 252/1969 e o Tecnicismo da Época
Ainda tracejando a história do curso de Pedagogia, vemos que até o ano de
1968 ele permaneceu vinculado às Faculdades de Filosofia. Somente depois de
aprovada a Lei Federal 5.540, de 28 de novembro de 1968, da Reforma do
Ensino Superior, é que foram recriadas as Faculdades de Educação, concebidas
como o espaço institucional próprio para as Ciências da Educação, onde então
passou a funcionar o curso de Pedagogia. E esta foi uma tendência da Reforma
Universitária, estruturar as unidades sob o modelo de Institutos (GADOTTI;
RABELLO, 1980).
Somente no ano seguinte, na tentativa de amenizar os impasses enfrentados
pelo curso de Pedagogia, foi emitido o Parecer CFE 252, de 11 de abril de 1969.
O tecnicismo presente naquela década aliado a indefinição mantida quanto ao curso
e a insatisfação dos alunos e demais profissionais ligados a esse campo de trabalho
43
motivou a idéia de reformular o curso de Pedagogia contemplando ainda nessa
reforma as idéias tecnicistas. Almejava-se uma reformulação que atingisse a
estrutura curricular e não apenas a grade de disciplinas como tinha sido efetuado até
então. O Parecer CFE nº 252/1969 também foi relatado pelo conselheiro Valnir
Chagas e em seguida incorporado à Resolução CFE nº 2/1969.
Esse Parecer sofreu as influências do momento político do país e também
aquelas provenientes da Reforma Universitária de 1968, a qual, por sua vez, estava
no encadeamento de idéias da política do contexto pós-golpe militar de 1964. A
Reforma do Ensino Superior, então, tinha o intuito de aumentar a eficiência e a
produtividade da universidade” (FÁVERO, 2006, p. 34), bem como triunfava nela o
princípio da racionalidade. Desse modo, nasceu o que muitos “críticos passaram a
chamar de universidade tecnocrática, ainda que mesclada com nuanças do
pensamento liberal” (SILVA, 2006, p.25).
Segundo Coelho (1987), o Parecer CFE nº 252/1969 deu continuidade à
tendência no crescimento das habilitações dentro do curso e, também, apresentou a
idéia da formação do professor primário em nível superior em processo de
acontecimento. Ele traz em seu bojo o perfil do profissional que o curso de
Pedagogia se destinaria a formar, estabelece o currículo nimo e a duração do
curso, visando, assim, à “formação de professores para o ensino normal e de
especialistas para as atividades de orientação, administração, supervisão e inspeção
no âmbito de escolas e sistemas escolares” (SILVA, 2006, p.26). Tal objetivo quanto
a área de atuação do pedagogo também se faz presente no art. 30 da Lei da
Reforma Universitária de 1968.
E era justamente esse perfil de profissional especializado que o contexto da
época exigia. Almejava-se um profissional que contribuísse para a Educação como
um fator de desenvolvimento do país.
Daí a subordinação dos cursos superiores às exigências da
sociedade, na visão da ditadura militar, tanto no que concerne à
formação de profissionais para os seus diferentes setores de
trabalho, quanto às necessidades relacionadas ao desenvolvimento
nacional, acentuando então a relação entre os cursos superiores e as
profissões.
(SILVA, 2006, p.25)
Como mencionado, essa Lei da Reforma Universitária de 1968 influenciou
no Parecer CFE 252/1969, bem como em outros decretos e pareceres daquela
época. Na legislação desse período, houve “uma tendência de encaminhar a
44
questão da educação, fundamentalmente, como uma questão técnica, a ser
resolvida por especialistas” (COELHO, 1987, p.10).
Isso explica o crescimento de habilitações presentes nas diversas
especializações oferecidas pelo curso de Pedagogia, pois se admitia que elas
formariam pessoas que assumissem uma prática pedagógica em consonância com
os princípios do Estado e, conseqüentemente, com os princípios presentes na Lei da
Reforma Universitária, dos quais um deles é a relação formação superior e
profissão.
O Parecer CFE 252/1969, ao estabelecer várias especializações para o
curso de Pedagogia trouxe uma contradição. Ao mesmo tempo em que ele criou
aquelas especializações Orientação, Administração, Supervisão, Inspeção ,
designando, portanto, um conjunto de atividades em que se encaixariam os
especialistas, oferecendo assim, elementos para a caracterização do pedagogo,
acabou, também fragmentando a formação desse profissional.
2.3.1 - O Currículo por meio do Parecer CFE nº 252/1969
O curso era organizado, então, em duas partes. Uma comum, por entender
que “a profissão que corresponde ao setor de Educação é uma e que por isso as
diferentes modalidades de capacitação devem partir de uma base comum de
estudos” (SILVA, 2006, p.26). Outra diversificada, voltada para as habilitações
específicas.
A parte diversificada do curso ficou organizada da seguinte maneira:
magistério dos cursos normais, atividades de orientação, administração, supervisão
e inspeção. A atividade de planejamento que também se incluiria nesse rol de
especialidades ficou fora do curso de graduação, sendo indicado que seu
desenvolvimento poderia ocorrer no mestrado, visto que essa especialidade requer
um número menor de profissionais. Assim, para as áreas que comporiam o curso de
Pedagogia, ficaram estabelecidas as seguintes habilitações: Ensino das Disciplinas
e Atividades Práticas dos Cursos Normais, Orientação Educacional, Administração
Escolar, Supervisão Escolar e Inspeção Escolar.
45
O curso de Pedagogia tinha a duração mínima fixada em: 2.200 horas de
atividades para a licenciatura plena (1º e Graus) e de 1.200 horas de atividades
para a licenciatura curta
19
(1º Grau).
O Parecer CFE 252/1969 fixa as disciplinas que deverão compor a parte
diversificada do curso de Pedagogia, bem como a parte comum a todas as
modalidades de habilitação. A parte comum abrange as seguintes disciplinas:
Sociologia Geral, Sociologia da Educação, Psicologia da Educação, História da
Educação, Filosofia da Educação e Didática.
Entre as habilitações que compõem a parte diversificada do curso, e que se
mostram relevantes para a nossa discussão a Educação Matemática,
apontaremos duas e destacaremos as disciplinas presentes em ambas. Para a
habilitação Ensino das Disciplinas e Atividades Práticas dos Cursos Normais, o
Parecer fixa as seguintes disciplinas: Estrutura e Funcionamento do Ensino de
Grau, Metodologia de Grau, Prática de Ensino na Escola de Grau com Estágio
Supervisionado. E para a habilitação plena em Administração Escolar, as seguintes
disciplinas são fixadas: Estrutura e Funcionamento do Ensino de Grau, Estrutura
e Funcionamento do Ensino de 2º Grau, Princípios e Métodos de Administração
Escolar e Estatística Aplicada à Educação. (BRASIL, CFE, AZEVEDO, 1969)
O diploma para os egressos do curso de Pedagogia, independentemente da
habilitação escolhida, passou a ser o de licenciado, decisão essa tomada pela
aprovação da emenda apresentada pelo então conselheiro D. Luciano Duarte
(SILVA, 2006). No Parecer é trazida uma posição contra essa decisão, indicando
que o diploma fosse o de bacharel e não o de licenciado, argumentando que “o
pedagogo não precisa obter uma licença, através de formação pedagógica, para
efeito de ensino, pois, na verdade, o pedagógico constitui o próprio conteúdo do
curso de pedagogia” (SILVA, 2006, p.31). Entretanto essa argumentação não obteve
êxito.
19
Os cursos de curta duração foram regulamentados em 1964, por indicação do Conselheiro Newton
Sucupira, com as licenciaturas “de três anos” em Ciências, Estudos Sociais e Letras. (CHAGAS,
1976, p.15)
46
2.3.2 - A Caminho da Formação de Professores para os Anos Iniciais
Como já comentado, havia a idéia, desenvolvida no início da década de 1960,
de elevar a formação do professor do Ensino Primário para o nível superior. Assim,
quanto ao impasse, vivido na época, se o pedagogo poderia atuar ou o no Ensino
Primário, o Parecer CFE 252/1969 entende que quem pode o mais, pode o
menos”, ou seja, quem forma os professores para atuarem no Ensino Primário
poderá atuar no Ensino Primário também, desde que tenha cursado certas
disciplinas. Tal posicionamento era devido à impossibilidade de criar, naquele
momento, uma habilitação especial para esse fim. As disciplinas fixadas para o
direito ao magistério do Ensino Primário são: Metodologia do Ensino de Grau e
Prática de Ensino na Escola de Grau, com Estágio Supervisionado. Logo, os
habilitados para atuarem nos Cursos Normais, automaticamente estavam
formalmente habilitados para o magistério de Grau, ou como ainda era chamado
Ensino Primário. Nas demais habilitações, bastava cursar as disciplinas
mencionadas.
No entanto, sendo exigido que o aluno interessado no magistério do Ensino
Primário cursasse as disciplinas de Metodologia e Prática de Ensino de Grau,
podemos entender que, apesar de o Parecer abrir essa possibilidade para atuação
do pedagogo, ele não oferece bases suficientes para que o aluno possa atuar
multidisciplinarmente.
Considerando que atualmente existem nos cursos de Pedagogia disciplinas
de metodologia específicas para cada área de conhecimento Ciências Humanas,
Ciências Biológicas, Língua Portuguesa e Matemática; considerando que
pesquisas (CARZOLA & SANTANA, 2005) que mostram que a carga horária
destinada à disciplina de Metodologia da Matemática é insuficiente para um trabalho
profícuo, podemos pensar como seria, em 1969, quando havia apenas um curso de
Metodologia para dar conta de toda a formação metodológica de 1º Grau.
Focando a Matemática e seu ensino, nesse período, constatamos que a única
habilitação que contém uma disciplina que trabalha com os conceitos matemáticos é
a de Administração Escolar, e o foco de tal disciplina Estatística Aplicada à
Educação não é o de formar professores e sim administradores.
47
2.4- De 1969 a 1996: Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1971
e as Indicações de Valnir Chagas
Durante o período de 1969 a 1996, algumas tentativas de reformulação
ocorreram, porém, não conseguiram modificar ou revogar o Parecer CFE
252/1969, que sustentou a organização do curso de Pedagogia até o ano de 1996,
quando ocorreu a aprovação da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, Lei Federal 9.394/1996 (SILVA, 2006) (FRAUCHES, 2006) e com ela
algumas alterações para os cursos de formação de professores. Tal Parecer resistiu
ao tempo, apesar de seu próprio relator tentar reformulá-lo.
As tentativas de reestruturação dos cursos superiores de formação de
professores foram desencadeadas na cada de 1970. Novamente temos o
Professor Valnir Chagas encabeçando algumas indicações de relevância para a
história desses cursos. Nas indicações desenvolvidas a partir de 1973, esse
professor tenta atender algumas questões que desde 1962 vislumbrava para a
formação de professores.
Um dos objetivos que levou o professor Valnir Chagas a propor novas
indicações aos Cursos Superiores de formação de professores, mesmo antes de o
curso de Pedagogia se adequar à legislação de 1969, foi o de adequar os cursos às
necessidades geradas pela Reforma do Ensino de Primeiro e Segundo Graus,
promovida pela Lei Federal 5.692/1971. O conselheiro também exerceu fortes
influências na redação dessa lei.
Portanto, antes de discutirmos o conjunto de indicações dadas por Valnir
Chagas, incidiremos nosso olhar para a Lei Federal 5.692/1971, na tentativa de
mostrar as modificações que ela trouxe e as influências que ela exerceu na redação
das indicações feitas na década de 1970.
A Lei de Diretrizes e Bases 5.692, de 11 de agosto de 1971, imprime em
sua redação as influências sofridas pela reforma do Ensino Superior, como
havíamos anteriormente aventado. Após uma reformulação no Ensino Superior do
país, se fazia necessária uma reorganização nas outras etapas do ensino.
A partir da Lei 5.692/1971, o Ensino Primário juntamente com o ciclo do
Ensino Médio, o Ginasial, passaram, então, a ser nomeados de Ensino de Primeiro
48
Grau. O Ensino Médio, em seu ciclo, o Colegial, recebeu a denominação de
Ensino de Segundo Grau.
CAPÍTULO II
Do Ensino de 1º Grau
Art. 17. O ensino de grau destina-se à formação da criança e do
pré-adolescente, variando em conteúdo e métodos segundo as
fases de desenvolvimento
20
dos alunos.
Art. 18. O ensino de grau terá a duração de oito anos letivos e
compreenderá, anualmente, pelo menos 720 horas de atividades. [...]
CAPÍTULO III
Do Ensino de 2º Grau
Art. 21. O ensino de 2º grau destina-se à formação integral do
adolescente.
Art. 22. O ensino de grau terá três ou quatro séries anuais,
conforme previsto para cada habilitação, compreendendo, pelo
menos, 2.200 ou 2.900 horas de trabalho escolar efetivo,
respectivamente. (grifos nossos).
(BRASIL, CONGRESSO NACIONAL, 1971)
Quanto à atuação de professores e especialistas em educação, a Lei nº
5.692/1971 se posiciona mostrando qual a formação mínima para atuarem no
mercado de trabalho e onde podem atuar. Diz no Capítulo V, em seu art. 29, que tal
formação se dará em níveis que se elevem progressivamente, respeitando a cultura
de cada região do País, bem como o desenvolvimento dos estudantes. Em seu art.
30, fornece a formação mínima exigida para o exercício do magistério.
Art. 30. Exigir-se-á como formação mínima para o exercício do
magistério:
a) no ensino de grau, da 1ª à 4ª séries, habilitação específica
de 2º grau;
b) no ensino de grau, da 1ª à 8ª séries, habilitação específica
de grau superior, ao nível de graduação, representada por
licenciatura de 1º grau obtida em curso de curta duração;
c) em todo o ensino de e graus, habilitação específica
obtida em curso superior de graduação correspondente a licenciatura
plena.
§1º Os professores a que se refere a “letra a” poderão lecionar
na e séries do ensino de grau se a sua habilitação houver
sido obtida em quatro séries ou, quando em três mediante estudos
adicionais correspondentes a um ano letivo que incluirão, quando for
o caso, formação pedagógica.
§2º Os professores a que se refere a “letra b” poderão alcançar,
no exercício do magistério, a série do ensino de grau mediante
estudos adicionais correspondentes no mínimo a um ano letivo.
20
Queremos dar destaque aqui no modo como esse trecho da lei foi apresentado. Quando é dito das
“fases de desenvolvimento dos alunos” imediatamente somos levadas a pensar na teoria piagetiana
de aprendizagem e desenvolvimento, cujos pilares estão na caracterização de cada uma das etapas
do processo de desenvolvimento cognitivo de crianças e adolescentes. Entendemos que, como foi
nessa mesma década, 1970, que tal teoria estava sendo difundida no Brasil, certamente o legislador
estava imbuído dela, de modo que foi influenciado ao escrever o texto da lei.
49
(BRASIL, CONGRESSO NACIONAL, 1971)
Pela “letra c” do art. 30, constatamos que o pedagogo que possuísse
licenciatura plena poderia atuar em todo o e Graus. No entanto, sabemos,
como relatado neste capítulo, que foi dado o direito a ele de lecionar, além das
disciplinas pedagógicas dos cursos de formação de professores do Ensino Primário,
a disciplina de Matemática, História e Filosofia no período de 1954 Portaria MEC
21
478/1954 a 1969, quando foi retirado esse direito (SILVA, 2006) e que, a partir de
1965, pela Portaria MEC nº 341/1965, foi lhe acrescentado o direito às disciplinas de
Psicologia (2º ciclo colegial), Sociologia (2º ciclo colegial) ou Estudos Sociais (1º
e ciclos ginasial e colegial). Desse modo, concluímos que, a partir de 1971, ao
licenciado em Pedagogia, foi conferido o direito de lecionar apenas as disciplinas
regulamentadas pela Portaria MEC nº 341/1965.
Como já ressaltado anteriormente, o Conselho Federal de Educação, na
figura de seus conselheiros, se empenhou em implementar as regulamentações que
diziam respeito à formação de profissionais da educação dispostas na Lei
5.692/1971. Para tanto, Valnir Chagas lança um conjunto de Indicações, que
discutiremos agora, na tentativa de facilitar e acelerar esse processo de
implementação.
Algumas das Indicações, após serem aprovadas pelo Conselho Federal de
Educação e homologadas pelo então Ministro da Educação e Cultura, Ney Braga,
foram sustadas e devolvidas ao CFE por meio do Aviso Ministerial 385/1976
(SILVA, 2006) (CHAVES, 1981). O motivo da devolução ao CFE foi pela forte reação
de alguns setores envolvidos no assunto. Porém, mesmo que algumas das
Indicações, feitas nessa década, não tenham alcançado êxito nos trâmites de
aprovação, o de importância histórica para o curso de Pedagogia, assim como
para os outros cursos de formação para o magistério. Pois, desse modo, veremos
como as Indicações, caso fossem aprovadas e implementadas, delineariam os
cursos de formação de professores, em especial o curso de Pedagogia, nosso
interesse neste capítulo.
21
Ministério da Educação
50
2.4.1 - A Caminho de uma Definição da Formação de Professores
Entre as Indicações, merece destaque a Indicação CFE 22, de 8 de
fevereiro de 1973 que dita as normas a serem seguidas por todas as licenciaturas,
ou seja, define a filosofia geral a ser seguida na formação do magistério de e
Graus (CHAVES, 1981).
Tal Indicação, concordando com a Lei 5.692/1971, também diz sobre o
preparo regular do magistério, entendido aqui como o preparo de docentes e
especialistas para o ensino de e Graus. Em sua primeira norma, regulamenta
que tal preparo será feito
conforme o conteúdo e a duração dos estudos, em nível de grau,
para exercício docente até a quarta ou sexta séries do grau, e, em
nível superior, para exercício docente ou de especialidade
pedagógica em toda a escola de 1º grau ou nesta e na de 2º grau.
(CHAGAS, 1976, p.23)
Da Indicação CFE 22/1973, dita introdutória, resultam outras indicações
básicas para determinação e caracterização dos cursos e habilitações a organizar:
uma para o setor de educação geral, outra para o de formação especial e uma
terceira para o setor pedagógico” (CHAGAS, 1976, p.14). Chagas (1976) coloca
ainda que poderão tais indicações básicas se desmembrar em quantas outras
indicações específicas forem necessárias. Silva (2006) e Chaves (1981), ao se
referirem a essas três indicações básicas, as chamam de “três ordens de
licenciaturas”: Licenciatura para as áreas de Educação Geral, Licenciatura para as
áreas de Educação Especial e Licenciatura para as Áreas Pedagógicas. Essa última
ordem é a que interessa para nosso estudo, mas nos remeteremos, mesmo que
brevemente, às outras duas ordens para oferecer um panorama geral das idéias
presentes no conjunto das Indicações
22
.
A Licenciatura para as áreas de Educação Geral, a primeira ordem da
Indicação CFE 22/1973, prevê três núcleos de conhecimentos, Ciências, Estudos
Sociais, Comunicação e Expressão, que o regulamentados pela Indicação CFE
22
Ainda nesse conjunto de Indicações da década de 1970 temos:
A Indicação 36 de 9 de agosto de 1973 que trata da formação em cursos de Licenciatura em
Educação Artística;
A Indicação CFE nº 46 de 7 de junho de 1974 que trata da Licenciatura em Ciências a qual foi
incorporada à Resolução CFE nº 30 de 1974 e que será apresentada e estudada no próximo capítulo.
51
23 de 8 de fevereiro de 1973. Tais núcleos compreendem os seguintes cursos de
licenciatura com suas devidas habilitações:
No campo de Ciências:
Curso de Ciências
Habilitação em Matemática, Física, Química, Biologia;
No campo de Estudos Sociais:
Curso de Estudos Sociais
Habilitação em Geografia, História, Organização Social e Política
do Brasil, Educação Moral e Cívica;
No campo de Comunicação e Expressão:
Cursos de Letras
Habilitação em Língua Portuguesa, Língua Estrangeira Moderna,
Língua Clássica;
Curso de Educação Artística
Habilitação em Música, Artes Plásticas, Desenho, Artes Cênicas;
Curso de Educação Física
Habilitação em Ginástica e Atletismo, Técnica Desportiva,
Recreação; (CHAGAS, 1976).
Segundo Chaves (1981) os cursos de Licenciatura para as áreas de
Educação Especial estavam, em sua maior parte, sem regulamentação, mesmo que
a Resolução CFE nº 3/1977 tenha tentado traçar algumas diretrizes para a formação
de professores para o ensino profissionalizante de 2º Grau.
A terceira ordem, provinda da Indicação CFE 22/1973, se dirige para as
Áreas Pedagógicas, ou melhor, versa sobre os Estudos Superiores de Educação. E
é sobre as Indicações que regulamentam esses cursos queincide nosso interesse.
A Indicação CFE 67 de de setembro de 1975 dá as orientações às áreas
pedagógicas das licenciaturas de conteúdo e aos cursos ou habilitações dedicadas
ao preparo de professores para os anos iniciais de escolarização, para a educação
especial, para o trabalho com as habilitações pedagógicas de Grau e para o de
profissionais para as especialidades educacionais, bem como do pedagogo em
geral
23
.
23
A Indicação CFE nº 67/1975 nos chama a atenção pelo fato de, ao se referir ao preparo do
professor para os anos iniciais de escolarização, do professor para a educação especial, bem como
do professor para o trabalho nas habilitações pedagógicas de 2º grau, ela não remete tal formação à
52
No item 8 das conclusões da Indicação CFE 67/1975 é explicitado que
cada modalidade de formação projetada em seus itens anteriores, n
os
2 a 5, será
objeto de indicações específicas. Ou seja, tal Indicação se desmembrou em outras
Indicações sobre as áreas pedagógicas, a saber, a Indicação CFE 68/1975, versa
sobre Formação Pedagógica das Licenciaturas de conteúdo; a Indicação CFE
70/1976 regulamenta o Preparo de Especialistas em Educação; a Indicação CFE
71/1976 trata da Formação de Professores para a Educação Especial ou de
excepcionais. A Indicação CFE 67/1975 previa a apresentação da Indicação CFE
69/1975 que regulamentaria a formação, em nível superior, do professor dos
primeiros anos de escolarização e da pré-escola. No entanto, esta Indicação não
chegou a ser homologada.
Trataremos agora das principais idéias e regulamentações presentes nas
Indicações supracitadas.
Vemos que a Indicação CFE 68/1975, que trata da formação pedagógica
das licenciaturas, é encarada “como parte de cada curso, em que se integrará num
processo de mútuo ajustamento com os conteúdos” (CHAGAS, 1976, p.78). Temos
assim o que Chagas (1976) chama de “princípio da concomitância”, ou seja, integrar
o conteúdo e a formação pedagógica. Compreendemos aqui a tentativa para que as
licenciaturas não se organizassem mais no modelo 3+1, o qual deixava clara a
ruptura entre conteúdo e método.
A Indicação CFE 68/1975 deixa de fora o curso destinado ao preparo de
professores para as séries iniciais do 1º Grau, alegando que, para as peculiaridades
exigidas em tal curso, se fazia necessária uma indicação específica a ele.
Entendendo que a formação pedagógica vem a ser um “conjunto de estudos e
experiências que tornem o futuro professor capaz de criar situações didáticas para
desenvolvimento da aprendizagem em determinado campo de conhecimento”
(CHAGAS, 1976, p.83), e que isso implica em um “domínio não apenas de conteúdo
como dos fundamentos científicos do ato docente-discente e da correspondência
metodológica”, a Indicação prevê as seguintes matérias para comporem a parte
pedagógica das licenciaturas: Psicologia do Desenvolvimento, Psicologia da
figura do pedagogo. No entanto, nos pareceres anteriormente estudados por nós, constatamos que
tais funções estavam diretamente ligadas ao licenciado em Pedagogia. Ainda nessa Indicação, no
momento em que trata da formação do especialista em Educação, fala também na “formação do
pedagogo em geral” (CHAGAS, p.75), mas não um aprofundamento no que seria essa formação e
que profissional seria esse.
53
Aprendizagem, Ensino de e Graus e Metodologia de Ensino de e Graus.
Compondo ainda esse conjunto de disciplinas temos a Prática de Ensino sob a
forma de Estágio Supervisionado e a Instrumentação para o Ensino.
A Indicação CFE 70 de 29 de janeiro de 1976 regulamenta o Preparo de
Especialistas em Educação, em nível de graduação. Aos chamados “especialistas
em áreas educacionais”, se incluem os professores para o ensino pedagógico de
grau e o que, mais amplamente, a Comissão Especial de Currículos denominou de
‘pedagogo’” (CHAGAS, 1976, p.101).
Desse modo, no art. do Projeto de Resolução que incorpora a Indicação
CFE 70/1976, fica estabelecido que o preparo de especialistas em educação e de
professores para o ensino pedagógico de Grau, assim como o do pedagogo em
geral, se da na forma de habilitações acrescidas a cursos de licenciatura. Tal
Indicação permite que esses estudos sejam feitos em nível de mestrado e
doutorado, onde houver condições para isso. No entanto, se admitirá
transitoriamente, em função das condições de cada região, a realização de
especializações a docentes que tenham a formação de 2º Grau.
Vemos, assim, que a orientação para se oferecerem as especializações em
nível de pós-graduação, aventada nessa Indicação e prevista pelo Professor Valnir
Chagas desde a década de 1960, ficava mais uma vez projetada para o futuro. Ou
seja, o especialista se desenvolveria no preparo e na experiência do professor em
nível de graduação.
Tal projeção para o futuro se justificava com três argumentos. Em primeiro
lugar, a existência de dezesseis cursos de pós-graduação em Educação no ano de
1975, data da aprovação dessa Indicação, dos quais apenas cinco eram
credenciados. Ou seja, não existiam cursos stricto senso suficientes para a demanda
da época. Em segundo lugar, a questão do status e da remuneração de especialistas
e professores para o ensino superior conduzia à idéia de que o mestre deveria ser o
profissional a ocupar o espaço universitário, ainda carente de pessoal qualificado.
Em terceiro lugar, para a pós-graduação não havia
24
a necessidade de antecipação
dos mínimos curriculares, o que implicava no não-controle da formação do
especialista e de sua uniformização nacional. (CHAVES, 1980)
24
E não há.
54
No artigo do projeto de resolução, presente na Indicação CFE 70/1976,
são fixadas, em caráter inicial, as habilitações em Administração, Supervisão e
Orientação, além do Magistério Pedagógico de Grau, em nível de graduação, não
impedindo que os Institutos de Ensino Superior (IES) criassem outras. Assim, fica
claro que essa Indicação trouxe orientações a serem seguidas a fim de formar os
profissionais não-docentes de Educação. Tal Indicação faz o que os Pareceres
anteriores deixaram de fazer, a definição de cada especialidade mencionada.
2.4.2 - O Currículo Pretendido pela Indicação CFE nº 70/1976 para o
Curso de Pedagogia
A Indicação CFE 70/1976, também estabelece o currículo mínimo
compreendendo disciplinas dedicadas à formação teórica e a prática (estágio de
prática). As disciplinas compreendem uma parte comum e uma diversificada. A parte
comum, em sua primeira camada, obedece às quatro primeiras disciplinas
estabelecidas na Formação Pedagógica das Licenciaturas, por meio da Indicação
CFE 68/1975, pois o candidato às especialidades terá passado por uma
licenciatura plena, portanto tais disciplinas tornam-se uma exigência. Cabe, ainda, às
Unidades Universitárias a exigência para que o aluno curse, em integridade ou em
programa de disciplinas da parte comum regulamentadas pela Indicação CFE
68/1975, caso ele não as tenha estudado, ou, se sim, não as tenha seguido em sua
amplitude e segundo as orientações constantes na Indicação que as regulamenta.
A parte comum, em sua segunda camada tende a direcionar a formação dos
profissionais não-docentes e abrange as seguintes disciplinas com as
especificidades a serem estudadas em cada uma delas: Sociologia Geral e da
Educação: “estudo teórico e empírico da organização e da mudança sociais, visando
ao conhecimento crítico das bases sócio-culturais da Educação” (CHAGAS, 1976,
p.125); História da Educação: “visão das concepções e instituições educacionais ao
longo dos tempos, refletindo os valores de cada época e de cada sociedade, para
explicação do quadro presente e de seus desdobramentos previstos ou previsíveis”
(CHAGAS, 1976, p.125); Filosofia da Educação: “reflexão crítica sobre a natureza do
conhecimento pedagógico e do processo educativo, para determinar-lhes os
conceitos fundamentais e analisar os valores e fins que devem orientar esse
55
processo” (CHAGAS, 1976, p.125); e Estatística Aplicada à Educação: “estudo dos
métodos estatísticos de investigação, envolvendo procedimentos básicos para
coleta, análise e descrição dos dados com vista à captação ou explicação de fatos e
tendências do setor educacional” (CHAGAS, 1976, p.125).
A Parte Diversificada proposta pela Indicação CFE 70/1976 estabelecia as
seguintes habilitações com suas respectivas disciplinas: Administração: Introdução à
Administração Educacional, Planejamento Educacional, Gestão de Escolas e
Sistemas Escolares, Avaliação e Controle de Escolas e Sistemas; Supervisão:
Didática, Planejamento Curricular, Coordenação do Processo Didático, Avaliação do
Ensino e da Aprendizagem; Orientação: Psicologia da Personalidade, Psicologia
Social, Teoria da Orientação Educacional, Diagnóstico Psicopedagógico e Social,
Coordenação e Aconselhamento.
É também parte integrante do currículo, a realização do Estágio de Prática na
área correspondente a cada habilitação, bem como na habilitação ao Magistério
Pedagógico de 2º Grau.
Com o fato de as especializações funcionarem da maneira como foi
explicitada, ou seja, como cursos acrescidos às licenciaturas, possibilitou ao relator
Valnir Chagas viabilizar o que seria, segundo Silva (2006, p.59), a sua idéia mestra:
“a necessidade de ‘formar o especialista no professor’”. Valnir Chagas defende essa
idéia pautando-se no argumento de que falta maturidade ao aluno recém saídos do
Grau, adolescente, ou seja, tal aluno tem contra ele o fato de não ter experiência
“das circunstâncias em que irá exercer a sua atividade específica” (CHAGAS, 1976,
p.103). Assim, para o preparo do especialista, acredita-se na importância da
experiência profissional com alunos, com o ensino, com a escola, pois se parte da
consideração de que “orientar, supervisionar e administrar são ações transitivas que
perdem sentido sem o conhecimento do objeto; a menos que se reduzam a uma
aplicação mecânica de fórmulas, quando não inócua [...]”. (CHAGAS, 1976, p.103).
Mas se é justamente a imaturidade que o candidato comum, o docente,
apresenta, e que somente com o tempo e com a experiência ele desenvolveria a
maturidade tida como necessária, então, poderemos pensar que tal experiência
poderia se dar com a vivência desse candidato nas ocupações pertinentes ao cargo
que a sua habilitação lhe permite exercer. Por que não? Chagas (1976, p.103), em
outro momento, faz apontamentos sobre a questão levantada.
56
Se é certo, assim, que a imaturidade tende a “corrigir-se” com o
passar dos anos, repetindo um truísmo que aqui se justifica, menos
certo não é que poderá ela de muito ser abreviada ou compensada
pela vivência da profissão.
Compreendemos que Valnir Chagas anuncia o futuro do curso de
Pedagogia, bem como das outras licenciaturas, ao tomar a docência como a base
dos cursos de formação para o magistério, no momento em que redige a Indicação
CFE nº 22/1973, afirmando que “[...] o magistério é visto como um só, na sua
constituição de professores que se prolongam ou não em especialistas. Quer isso
dizer que todos são ou devem ser basicamente professores”. (CHAGAS, 1976, p.
105).
Vemos que o objetivo da Indicação CFE nº 70/1976 se encontra na formação
dos profissionais o-docentes por meio de habilitações Administração,
Supervisão e Orientação, isto é, as habilitações fundamentais, assim chamadas por
serem “resultantes da própria especificação legal” (CHAGAS, 1976, p.113) e na
formação do professor do magistério pedagógico do Grau entendida como um
caso especial de habilitação - que tenderia a se extinguir onde e quando a formação
do professor dos anos iniciais passasse a ser realizada em nível superior. A
Indicação não se dedica em nenhum momento a formação do professor dos anos
iniciais, como foi mostrado, e portanto, ela não se dedica a formação do professor de
Matemática dos anos iniciais.
2.4.3 - Capacitando o Pedagogo para o Ensino de Matemática?
Uma das questões esboçadas na Indicação CFE 67/1975, e que estava
próxima de ser efetivada, diz respeito à formação em nível superior de professores
primários, apesar de a Indicação CFE nº 69/1975 que trataria especificamente desse
assunto não ter sido encaminhada. Nas conclusões apresentadas na Indicação CFE
nº 67/1975, tal formação é assim caracterizada no item três de suas conclusões:
3. - A formação superior de professores para os anos iniciais da
escolarização, que não exclui o preparo de grau onde este se
recomende, será feita em cursos de duração curta ou plena com
vistas ao ensino por atividades, predominante até a fase em que o
currículo passa a desenvolver-se por áreas de estudo, abrangendo
assim as faixas de educação tradicionalmente denominadas pré-
escolar e primária.
57
(CHAGAS, 1976, p.75)
Essa questão fazia parte do projeto do professor Valnir Chagas desde 1962.
Porém, ele não deixa claro que tal formação devesse ser oferecida pelo curso de
Pedagogia, apenas diz que a formação do professor dos primeiros anos de
escolarização será oferecida em nível superior, mesmo que ainda, onde houver
necessidade ela seja dada em nível de 2º Grau.
Ao se fazerem esses deslocamentos da formação do professor primário para
o Ensino Superior, surgiu o questionamento sobre a existência do curso de
Pedagogia. Fica evidente, que a Habilitação Específica de Magistério Pedagógico de
Grau, campo direto de trabalho do pedagogo, tendia a se extinguir com esse
deslocamento, mesmo que isso ocorresse a longo prazo. Ainda, vemos que, mesmo
que a Indicação que regulamenta a formação do professor primário o tenha sido
encaminhada, a Indicação CFE 68/1975, que regulamenta a formação nas áreas
pedagógicas das licenciaturas, em nenhum momento vincula a formação do
professor primário ao curso de Pedagogia, como anteriormente havíamos
comentado e nem a nenhum outro curso.
Segundo Silva (2006), o relator nessa fase havia mudado seus planos
quanto ao curso de Pedagogia e alguns supõem que ele estaria propondo a sua
“extinção”. Ele indicou a criação da ‘licenciatura para as áreas pedagógicas’ uma
das três ordens de Licenciatura que passaria a existir com o desdobramento das
antigas tarefas que faziam parte do curso de Pedagogia em várias alternativas de
cursos e/ ou habilitações. Ou seja, ao propor isso, não se falaria mais em curso de
Pedagogia, como até então e as atividades anteriormente exercidas pelo pedagogo
prioritariamente, passariam a ser tarefas de qualquer outro profissional da Educação
que assim desejasse e buscasse a formação/ certificação para exercê-la.
No art. 15 do Projeto de Resolução, presente a Indicação CFE 70/1976, é
afirmado que não mais será criado nenhum curso de Pedagogia após a vigência de
tais regulamentações.
Art. 15 - A partir da vigência da presente Resolução, não será criado
ou autorizado a funcionar o curso de Pedagogia disciplinado na
Resolução CFE 2/69, a qual permanecerá em vigor apenas para
os estudos iniciados até o ano letivo de 1976.
(CHAGAS, 1976, p. 138)
Desse modo, a figura do pedagogo estaria extinta se pensarmos em termos
de legislação, pois ela não estaria presente nas regulamentações específicas para a
58
Pedagogia (SILVA, 2006). Porém, o relator ainda continua admitindo a figura do
pedagogo ao defini-lo como um especialista em Educação, um profissional que se
dedica à teoria da Educação, aos seus fundamentos ou metodologias (CHAGAS,
1976).
Assim, “a identidade do pedagogo estaria vinculada aos estudos a respeito da
educação” (SILVA, 2006, p.60). Porém, tais estudos, pelo projeto de resolução
presente na Indicação CFE 70/1976, poderiam ser feitos pelos profissionais da
educação que comprovassem experiência, de dois anos no mínimo, no exercício do
magistério. Esses estudos estavam abertos a todos os licenciados (licenciatura
plena ou curta), aos professores dos primeiros anos de escolarização
25
e educação
especial, diplomados em nível superior, e aos professores do ensino de Grau
formados em nível de 2º Grau.
Dado o exposto até o momento e retomando as discussões apresentadas,
temos que: Como a Indicação CFE 70/1976 trata prioritariamente da formação
dos profissionais não-docentes, expropriando tal formação do curso de Pedagogia e
vinculando-a a outros profissionais da educação, e dado que a Indicação CFE
68/1975 trata da formação pedagógica das licenciaturas, deixando claro no
parágrafo único de seu Projeto de Resolução que fica excluído “a licenciatura
destinada ao preparo de professores para os anos iniciais da escolarização, prevista
no item 3 da Indicação CFE 67/75, em que a parte de formação pedagógica será
desde logo apresentada juntamente com a de conteúdo” (CHAGAS, 1976, p.98),
entendemos que a formação do professor dos primeiros anos de escolarização, e
com ela a formação do professor de Matemática dos anos iniciais, tenderia a se dar
em nível superior
26
, porém diferente do que acontece hoje. Pois, tal formação, pelas
leis, não estava, naquela década, sendo vinculada ao curso de Pedagogia ou a outro
curso. Então, onde a formação do professor dos anos iniciais, especialmente a do
professor de Matemática, ocorreria? Ainda nos Cursos Normais?
25
Não vinculado ao pedagogo.
26
E com o passar do tempo a formação em nível superior desse profissional passou a ser obrigatória.
59
2.5 - O Movimento Nacional em Defesa da Formação de Professores
Vários impasses foram gerados pelas Indicações do conselheiro Valnir
Chagas, os quais fizeram aflorar, na comunidade acadêmica da década de 1970, a
questão sobre a identidade do pedagogo e do próprio curso de Pedagogia, que até o
momento não era vista e assumida explicitamente (SILVA, 2006). Segundo
Brzezinski (2006, p. 81), a homologação do conjunto de indicações pelo CFE “foi
recebida pelos educadores como mais uma arbitrariedade do poder que
desconhecia as práticas, as pesquisas e os estudos desenvolvidos pelos
profissionais que tratam dessas questões em seu cotidiano”.
Os educadores entendiam essa nova legislação, que trazia modificações ao
curso de Pedagogia, como mais uma ameaça à sua existência. Segundo a mesma
autora, a justificativa da extinção do curso se encontrava
na tendência brasileira de centrá-lo [o curso de Pedagogia] na
vertente profissionalizante, que mantém pouca relação com os
estudos epistemológicos. Essa razão assenta-se na quase
inexistência, até essa época, de estudos teóricos que tratassem a
pedagogia como ciência unitária.
(BRZEZINSKI, 2006, p.82)
E juntamente com esses impasses, nasceu o movimento nacional em defesa
dos cursos de formação de professores a partir do fim da década de 1970. Esse
movimento foi iniciado por professores e estudantes após as Indicações de Valnir
Chagas CFE 67/1975 e CFE 70/1976 terem sido retomadas pelo MEC,
para serem novamente discutidas. Desse modo, a Comissão de Ensino da Área de
Educação CEAE
27
/MEC retomou as discussões sobre os estudos superiores de
Educação, tendo como coordenador dos trabalhos o professor Roberto Moreira, da
Universidade de São Paulo (BRZEZINSKI, 2006). A retomada das discussões pelo
MEC foi feita pelo então Ministro da Educação, Eduardo Portella. Ele solicitou ao
27
Passada a agitação causada pela possibilidade de extinção do curso de pedagogia enquanto tal, o
então Ministro de Educação e Cultura formou uma comissão, presidida pelo professor Roberto
Moreira, para realizar tal tarefa. Porém, em virtude da troca de governo em 1979, essa comissão ficou
um tempo em recesso tendo sido reativada a partir do aviso circular n. 935 de 7/11/1979, do então
ministro Eduardo Portella. Posteriormente, através do MEMO n. 031 de 23/06/1980, a Coordenadoria
de Ciências Humanas e Sociais da Secretaria de Ensino Superior formou outra comissão com o
objetivo de propor alternativas a serem enviadas ao então Conselho Federal de Educação” (SILVA,
2006, p. 63). Segundo Brzezinski (2006), essa Comissão é denominada segunda CEAE, sendo
constituída com o objetivo de estudar as Indicações de Valnir Chagas.
60
presidente do MEC a devolução do Aviso Ministerial 385/1976, que sustou as
Indicações, bem como as Indicações atualizadas.
O movimento lutava para que as decisões sobre os cursos de formação de
professores não fossem feitas de cima para baixo, ou seja, por meio de imposições
do CFE, pelo poder instituído a ele. Esse movimento, que perdura até os nossos
dias, não era apenas dos estudantes e professores. Abrangia as Instituições
Universitárias e os organismos governamentais interessados no assunto.
2.5.1 - Mobilizações que Focam os Cursos de Formação do
Educador/Professor
Desse modo, iniciaram-se as primeiras mobilizações em torno das questões
inerentes ao curso de Pedagogia e demais Licenciaturas. Tais mobilizações
começaram antes mesmo da reconstituição da comissão que iria estudar o assunto
das Indicações, motivo central da movimentação dos educadores e alunos. Silva
(2006) retrata em seu trabalho a importância do I Seminário de Educação Brasileira,
realizado na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) em 1978, para os
rumos que seriam tomados pelo movimento, pois este delineou os passos que mais
tarde seriam percorridos e mostrou a necessidade de discussões em âmbito
nacional.
Nesse Seminário, as discussões giraram em torno das investidas do CFE em
modificar os cursos de formação de professores. Os debates centraram nos
seguintes pontos sintetizados por Brzenzinski:
Extinção ou não do curso de pedagogia;
Formação do pedagogo em geral ou do pedagogo especialista;
Formação do especialista no professor ou do especialista e do
professor no educador;
Formação do especialista nas habilitações da graduação ou na
pós-graduação;
Formação na perspectiva da pedagogia do consenso ou da
pedagogia do conflito;
Formação mais teórica ou mais prática;
Entendimento do pedagogo como reprodutor ou produtor de
conhecimento;
Abstração ou concretude do termo educador.
(BRZEZINSKI, 2006, p.100)
61
Diante desses tópicos acima mencionados, fica claro por que esse Seminário
é considerado um marco inicial na história do Movimento Nacional de Reformulação
dos Cursos de Formação do Educador, como já dito.
A comissão responsável pelos trabalhos relativos aos cursos de formação de
professores CEAE/MEC, dentro de sua agenda de atividades, em 1979, solicitou o
pronunciamento de três Universidades sobre seus estudos a respeito da
reformulação do curso de Pedagogia e das habilitações. Uma das instituições
consultadas foi a UFG. Segundo consta na entrevista que Ildeu Coelho concedeu a
Brzezinski (2006), os professores da Faculdade de Educação (FE) ficaram
assustados e desconfiados das intenções do MEC, porém, resolveram responder à
consulta feita e, desde aquele momento, assumiram de maneira explícita que a
formação por meio de habilitações não era o caminho que deveria ser seguido pelo
curso de Pedagogia.
No documento elaborado pelo grupo de professores da FE/UFG, foi deixado
claro que, por se tratar de um assunto muito importante e que demandava estudos e
discussões, se fazia necessário ouvir todas as Faculdades e Institutos envolvidos.
Explicitaram sua proposta em cinco tópicos e, um deles diz que
o curso de pedagogia deixaria de formar o especialista habilitado em
Administração Escolar, Orientação Educacional e Supervisão Escolar
e outros, recuperando a formação pedagógica a sua função
essencial: a formação de educadores docentes, responsáveis diretos
pela formação do aluno.
(ANDES, 1981, p. 53 apud BRZEZINSKI, 2006, p. 104)
Desse modo, a posição assumida em 1979 pela FE-UFG a colocaria na
“vanguarda da ruptura do curso de pedagogia com as habilitações”. (BRZEZINSKI,
2006, p.104).
A UFG, contexto em que está centrada nossa investigação sobre a formação
de professores de Matemática dos anos iniciais, sempre esteve discutindo a
formação de professores de modo corajoso e empenhado, buscando deixar claros
seus princípios e concepções e engajando-se no movimento nacional de formação
de educadores a partir da década de 1980.
Em 1980, durante a I Conferência Brasileira de Educação (CBE), organizada
e sediada pela Pontifícia Universidade Católica de o Paulo (PUC-SP), com a
presença de educadores de vários pontos do país, desencadeou-se uma
mobilização nacional com o intuito de intervir nos rumos do processo do CFE/MEC
62
sobre o curso de Pedagogia. Criou-se, então, nessa Conferência, o Comitê Nacional
Pró-Reformulação dos Cursos de Formação de Educadores
28
e, dessa forma, o
movimento começou a ganhar peso nacional, pois ele funcionaria por meio das
articulações dos comitês regionais que passaram a ser, também, criados. (SILVA,
2006).
(...) o mais importante foi que o Comitê não surgiu de uma pessoa
específica, surgiu de uma necessidade comum a todo Brasil e a CBE
foi o momento de eclosão.
(SILVA,J.I. 1986, p.6 apud BRZEZINSKI, 2006, p.107)
O Comitê nasceu com uma estreita ligação com a I CBE. Tal vinculação se
manteve nas outras conferências realizadas até o ano de 1991, mostrando-se
positiva para o movimento, pois era um modo de ele conservar vivos os princípios
pelos quais lutavam e, assim, continuar a mobilização nacional.
A primeira sede do Comitê Nacional foi no Estado de Goiás, em Goiânia,
tendo o professor Ildeu Coelho como presidente. Acreditavam que a proximidade de
Brasília pudesse privilegiar o movimento para intervir e participar nas decisões sobre
os cursos de formação de professores e também nas políticas educacionais como
um todo. Entretanto, em entrevista a Brzezinski (2006), Coelho afirmou que essa
proximidade era uma ilusão, pois não era apenas um aspecto físico que iria garantir
a participação e a intervenção no que fosse necessário, mas também o contato e a
influência com pessoas ligadas ao poder. E que, nesse caso, cidades como Belo
Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro estariam mais privilegiadas que Goiânia.
O Comitê chegou a conclusões importantes em sua primeira reunião realizada
na I CBE, no dia 02 de abril de 1980. Tais conclusões, publicadas no Boletim 1
(maio/1980), foram frutos das discussões de 41 educadores
29
, representantes de
oito estados brasileiros. Elas são apresentadas a seguir:
A discussão do tema, formação do educador, deve ser feita
considerando-se o projeto global da sociedade e não apenas o
âmbito da escola;
28
De acordo com Brzezinski (2006, p.105), o nome do comitê criado na I CBE foi Comitê Pró-
Formação do Educador, registrado nos Anais da I CBE como Comitê Pró-Participação na
Formação do Educador”. De acordo com Silva (2006), o nome do comitê é como incorporamos ao
nosso texto Comitê Nacional Pró-Reformulação dos Cursos de Formação de Educadores”. Em
outra parte de seu trabalho, ela se refere ao mesmo comitê como Comitê Pró-Participação na
Reformulação dos Cursos de Pedagogia e Licenciatura(SILVA, 2006, p.71). Usaremos, quando
nos referirmos ao Comitê Nacional, o nome dado por Silva, ou apenas Comitê Nacional.
29
A discussão foi desencadeada após a apresentação e debates iniciais do painel coordenado pela
professora Míriam Jorge Warde.
63
Qualquer tentativa de solução que não conte com a participação
de educadores de todo País corre o risco de não atender às
necessidades concretamente evidenciadas;
É necessário repensar a prática, conquistar o espaço político,
reivindicando o direito de participar das reformas educacionais;
Está na hora de intervir no processo de reformulação do curso de
pedagogia, em fase de elaboração no MEC;
Com base nessas conclusões, o grupo decidiu:
Deflagrar um processo de reflexão e debate em todo o País,
organizando, em cada cidade, universidade e/ou estado um comitê
com o objetivo de mobilizar as bases em torno da questão;
Constituir um Comitê Nacional. Foi escolhido o grupo de Goiás por
se achar mais próximo de Brasília e já ter uma proposta embrionária
sobre o tema.
(p.1 apud BRZEZINSKI, 2006, p.108)
Como podemos constatar, as conclusões tomadas nessa reunião acenavam
para os trabalhos a serem realizados pelo Movimento Nacional.
Assim, como várias conclusões e indicações quanto à revisão dos cursos
puderam ser pensadas no movimento para direcionar os rumos do curso de
Pedagogia, é verdade também que, por meio dos debates promovidos, emergiu a
consciência de quão complexo e problemático é tratar das áreas pedagógicas. E
assim, “mais uma vez, o impasse sobre a questão da identidade do pedagogo e do
próprio curso de pedagogia pode ser identificado como o ponto nevrálgico da
questão” (SILVA, 2006, p.65).
O Comitê Pró-Reformulação dos Cursos de Pedagogia e Licenciatura
regional de São Paulo teve como presidente Jefferson Ildefonso da. Silva. Em
1981, a coordenação de tal comitê elaborou uma proposta por meio de um
documento, o qual acirrou os debates, ampliando as bases do Movimento. Tal
documento, chamado de Proposta alternativa para reformulação dos cursos de
pedagogia e licenciatura (Ante-Projeto), “constituiu-se num forte marco no sentido de
imprimir as bases que passaram a nortear os rumos dos trabalhos daí para a frente”
(SILVA, 2006, p. 65).
A proposta da Regional de São Paulo, diferentemente das Indicações do CFE,
atingiu fortemente os cursos de Licenciatura, propondo uma modificação na relação,
estabelecida até então, entre bacharelado e licenciatura
30
. Tal Proposta partiu da
idéia-chave de que todo professor deveria ser considerado um educador e, portanto,
30
“As licenciaturas desenvolveram-se, em geral, no Brasil, como apêndices dos bacharelados,
cumprindo funções meramente cartoriais de transformação de bacharéis em professores”. (SAVIANI,
[1980?], FREITAS, 1992 apud SILVA, 2006, p.66)
64
teria de haver uma base comum de estudos em sua formação. A partir dessa
premissa, pensou-se na criação dos chamados “cursos de educação”. Esses cursos
partiriam de um “núcleo comum” de estudos sobre o qual se assentaria a formação
específica dos diferentes cursos, seriam oferecidos na graduação e estariam
voltados à formação de professores para os vários níveis de ensino” (SILVA, 2006, p.
66). Desse modo, a formação de educadores para as tarefas não docentes seria
feita na especialização, e a formação de especialistas em educação, na pós-
graduação, stricto senso, que se voltaria à formação de pesquisadores e/ou
docentes do ensino superior, ou de 3º Grau (SILVA, 2006).
Ao assumir essas idéias, o comitê de São Paulo se posicionou contra a
concepção tecnicista do CFE, concepção essa presente a partir de 1969 em suas
políticas públicas de formação de profissionais da educação. No entanto, Silva
(2006) ressalta que o Comitê não se referiu à figura do pedagogo e também não
recuperou a idéia de curso de Pedagogia enquanto tal. Porém a mesma autora
supõe que o movimento estava pautado na idéia de Saviani
31
entendendo
Pedagogia como “teoria geral da educação”. E, assim,
o comitê entendeu que o fato de se considerar a especificidade do
conhecimento pedagógico não deveria implicar, necessariamente, a
concentração de seu estudo nos limites de um único curso, mas, sim,
em sua presença em todas as modalidades de preparação dos
profissionais da educação.
(SILVA, 2006, p. 67)
Algumas posições tomadas pelo Comitê Regional de o Paulo foram
também fortemente defendidas pelo Comitê Nacional.
Como era de se esperar, o Movimento Nacional, representado por seus
comitês regionais, estaduais e nacional, exerceu influências nos trabalhos da
Secretaria de Educação Superior (SESu) do então Ministério da Educação e Cultura,
a partir de 1981. Assim, a SESu/MEC passou a organizar os “Seminários Regionais
de Recursos Humanos para a Educação” nesse mesmo ano. O Comitê enviou
representantes em todos os Seminários organizados pelo MEC, no intuito de se
resguardar dos possíveis desdobramentos das discussões e tomada de decisão do
MEC. Ainda existia o receio de que o MEC tomasse decisões quanto ao destino dos
cursos antes que as discussões estivessem amadurecidas, ou seja, houvesse uma
31
Idéia presente em seu artigo intitulado “Uma estratégia para a reformulação dos cursos de
pedagogia e licenciatura: formar o especialista e o professor no educador” publicado no ano de 1981.
65
proposta concreta do movimento, gerada em conjunto em seu interior. Portanto, com
o perfil desejado.
Nesses encontros regionais, os representantes do Comitê Nacional, sempre
presentes, davam início aos trabalhos após retomar as decisões tomadas em
Assembléias nos seminários anteriores, para que o movimento não se perdesse de
seus objetivos. Observavam que o MEC, com a finalização dos Seminários
Regionais
32
, pretendia tomar suas decisões quanto os rumos dos Cursos Superiores
de Educação. No entanto, o Comitê Nacional frisava a importância de um debate
nacional, em que se fizessem presentes todas as regiões levando os
encaminhamentos levantados em suas discussões, para amadurecimento e
fortalecimento de uma proposta. Esse era também um dos objetivos da presença do
Comitê Nacional nos Seminários Regionais, insistir pela realização de um debate em
nível nacional. Porém, essa reivindicação encontrou fortes barreiras introduzidas por
parte da comissão do MEC, que argumentava ser desnecessário essa discussão
nacional. Apesar de os educadores permanecerem firmes no propósito de haver um
seminário nacional, pois não aceitavam que os debates regionais fossem encarados
como conclusivos para a discussão e para os devidos encaminhamentos, a
resistência permaneceu até o ano de 1983. Porém afirmavam a importância da
continuidade desses encontros regionais.
reafirmamos a importância de os educadores se mobilizarem
participando das discussões sobre a formação do educador, quer nas
Coordenações Locais, quer nos Comitês Regionais. Somente através
do fortalecimento das discussões que tornaremos possível a
realização do Seminário Nacional.
(Boletim nº 6, ago. 1981, p.2 apud BRZEZINSKI, 2006, p.118)
O Comitê Nacional realizou sua II Reunião Nacional durante a II CBE, sediada
pela cidade de Belo Horizonte, em 11 de junho de 1982. Nessa ocasião, o Comitê
Nacional transferiu sua coordenação do Estado de Goiás para o Estado de São
Paulo, permanecendo até novembro de 1983. Nessa reunião, ficou decidido, em
assembléia, que o Comitê faria uma parceria
33
com o MEC na elaboração do
32
Foram realizados nessa fase sete Seminários Regionais de Recursos Humanos para a Educação
com o intuito de extrair deles uma proposta sobre a formação do educador. Tais seminários ocorreram
no período de agosto a outubro de 1981 em diferentes pontos do país (Brasília, Manaus, Fortaleza,
Rio de Janeiro, Belo Horizonte, São Paulo e Porto Alegre).
33
Tal parceria partiu de um convite do MEC aos educadores para comporem a comissão que, então,
seria criada para a elaboração do Documento-Síntese.
66
Documento-Síntese dos Seminários Regionais. Para tanto, foi criada uma
comissão
34
que passou a trabalhar com esse intuito.
Tal comissão trabalhou na elaboração do Documento-Síntese no período de 4
a 8 de outubro de 1982, cuidando para que ele permanecesse fiel aos documentos
dos Seminários Regionais. Ficou conhecido como Documento do Rio de Janeiro
(BRZEZINSKI, 2006).
O Documento-Síntese dos Seminários Regionais mostrou os problemas da
realidade brasileira, no que se referia à Educação, e evidenciou as propostas de
reformulação de cursos de formação de educadores, ou seja, abrangeu uma gama
de preocupações presentes naquele contexto e não muito diferentes do contexto
atual.
2.5.2 - Delineando o Projeto de Formação de Professores: o Curso de
Pedagogia e a Formação do Professor de Matemática dos Anos Iniciais
Os pressupostos registrados no Documento-Síntese referem-se à concepção
de Educação, do educador e dos cursos de formação do educador. Brzezinski
(2006) transcreve esses pressupostos em seu trabalho e nós os citaremos aqui:
Os referentes à concepção de Educação e do educador:
a educação como ato político realiza-se dialeticamente, de forma
abrangente, nos contextos social, cultural, econômico e político da
sociedade tomada como um todo;
a educação só pode chegar à plenitude de sua realização numa
situação de liberdade que permita a ação livre de seres conscientes
envolvidos na ação educativa;
educadores são entendidos como os profissionais que
desenvolvem ações educativas, quer como professores nos diversos
níveis dos sistemas formais de ensino, quer como administradores,
supervisores, orientadores e outros, nestes mesmos sistemas, quer
ainda como especialistas em áreas específicas que não as
abrangidas pela escola;
34
A comissão era composta de dois representantes do Comitê Nacional Pró-Formação do Educador
(professora Míriam Jorge Warde, da PUC/SP, e Lisete Regina Gomes Arelaro, da USP), dois do
MEC/Sesu, um do Distrito Geoeducacional 34/Santa Catarina, um do Distrito Geoeducacional 30/São
Paulo, dois da Universidade do Acre, um do Ceará, um de Goiás, um de Minas Gerais, um da
Paraíba, um do Rio Grande do Sul, um do Rio de Janeiro, um do Paraná, um de Passo Fundo, um da
Universidade Estadual do Rio de Janeiro, um da PUC do Rio de Janeiro, dois da PUC de São Paulo.
A coordenação da comissão ficou com a Universidade Católica do Rio de Janeiro e contou com a
assessoria das Universidades do Rio Grande do Sul e da PUC/SP” (MEC/Sesu 1982, apud
BRZEZINSKI, 2006, p.145).
67
o educador é o profissional que domina um conteúdo específico,
conhece e sabe utilizar técnicas e recursos didáticos e é capaz de
perceber as relações existentes entre as atividades educacionais e a
totalidade das relações sociais, econômicas, políticas e culturais em
que o processo educacional ocorre (...).
(MEC/SESu, 1982, p 8-10, apud BRZEZINSKI, 2006, p. 146)
Os referentes à concepção dos cursos de formação do educador:
os educadores devem ser formados para a compreensão da
realidade educacional brasileira, de forma a apreendê-la na sua
abrangência e complexidade;
a formação do educador deve vir conjugada a uma revisão da
divisão do trabalho no interior dos sistemas escolares, de modo a
atender às reais necessidades da educação brasileira, bem como a
revalorizar o trabalho docente;
o denominador comum à formação de todas as modalidades
profissionais de educação é constituído por ampla e sólida base de
formação geral e pedagógica. A formação específica, para atender às
exigências dos diversos campos de trabalho a que se destinam os
educadores, integrar-se-á à formação geral e pedagógica;
a nova formação do professor, enquanto educador, deve
pressupor a valorização da formação geral e pedagógica, de modo
que o professor se torne eficaz e interessado divulgador de
conhecimentos histórica e criticamente acumulados, para que um
maior mero de indivíduos possa deles se apropriar, através do
ensino de 1º e 2º graus, bem como se torne capaz de compreender o
sentido educativo dos conhecimentos que transmite e suas
implicações sociais;
aos educadores deve ser proporcionada uma adequada formação
tecnológica, articulada à fundamentação teórica;
aos educadores deve ser garantida a integração entre a teoria e
prática na formação de sua concepção de educação e na sua ação
educativa.
(MEC/SESu, 1982, p 8-10, apud BRZEZINSKI, 2006, p. 146-147)
Havia também alguns pontos sobre a formação do educador que não eram
consensuais entre as propostas levadas para a criação do Documento-Síntese. Elas
divergiam quanto o local de formação do educador: algumas propostas traziam que
todo educador, independente da etapa de ensino que fosse atuar, deveria ser
formado na unidade de educação dentro da universidade; outras propostas
defendiam que o educador deveria ser formado nas “diversas licenciaturas ou no
curso de Pedagogia independentemente” (BRZEZINSKI, 2006, p.147); e outras
ainda defendiam a idéia que os diferentes centros ou faculdades é que deveriam
assumir essa formação de modo integrado. Divergiam também quanto aos níveis de
formação dos profissionais da educação: um grupo de propostas defendia a idéia e
que a formação deveria se dar exclusivamente em nível superior, enquanto outro
grupo trazia a proposta de revitalização do Curso Normal, ou seja, continuar
68
formando o professor dos anos iniciais em vel de Grau. Divergiam ainda quanto
a formação do especialista: alguma propostas defendiam a exigência de experiência
no magistério para essa formação, enquanto outras acreditavam que essa exigência
era desnecessária.
As propostas referentes ao curso de Pedagogia presentes no Documento-
Síntese e apresentadas por Brzezinski (2006) são as seguintes:
O curso seria composto por uma parte comum e outra diversificada:
o A parte comum (também chamada de ciclo ou núcleo básico, ou
formação básica, ou base comum), teria por objetivo abordar os
conteúdos das Ciências da Educação. Deveria durar de dois a quatro
semestres;
o A parte diversificada: variaria em quatro modalidades, a saber:
1ª: Visaria exclusivamente à formação docente;
2ª: Deveria ser dividida em dois blocos:
formação específica;
formação pedagógica;
Tal modalidade “enfatizaria a formação do educador como pedagogo
generalista ou pedagogo polivalente, sem, contudo, privilegiar a formação do
professor”. (BRZEZINSKI, 2006, p.148)
3ª: Seria dividida em dois blocos:
Núcleo de formação específica: visaria à formação de
professores para as séries iniciais do Grau, do ensino
especial, da alfabetização de adultos e da habilitação de
magistério em nível de 2º Grau.
Núcleo de formação orientada: visaria à formação do
especialista nas habilitações fundamentais e em outras
atividades não-docentes;
4ª: Visaria à formação do professor em suas diferentes
especialidades e a formação dos especialistas em orientação
educacional, supervisão escolar, administração escolar,
inspeção escolar e planejamento educacional, “em cursos de
pós-graduação ou de complementação pedagógica com
exigência de experiência de magistério” (BRZEZINSKI 2006,
p.148);
69
Analisando as proposta apresentadas no Documento-Síntese sobre a
formação do educador, fruto das propostas apresentadas nos Seminário Regionais,
e focando a formação do professor dos primeiros anos de escolarização vemos que
apesar de não haver consenso sobre onde esse profissional deveria ser formado
em nível de Grau por meio do Curso Normal ou em nível superior por meio do
curso de Pedagogia ou ainda em um dos núcleos inserido em uma de suas
modalidades de formação diversificada uma forte tendência de que sua
formação se dê no curso de Pedagogia ou na habilitação específica do magistério de
Grau. Vemos que na proposta para o curso de Pedagogia o magistério
pedagógico de Grau é uma das modalidades de formação do curso e, portanto,
de atuação do pedagogo e assim mostra que o professor dos anos iniciais seria
formado também em nível de 2º Grau.
Alegamos a existência dessa tendência pautadas no trabalho de Brzezinski
(2006). Ela afirma que das 81 instituições de ensino superior que participaram dos
Seminários Regionais levando propostas para o curso de Pedagogia, 61
apresentavam propostas estruturadas. Por meio dessas propostas a autora
mostra ainda, como estariam estruturados os cursos de Pedagogia no território
nacional a partir do ano de 1982, caso as instituições efetivassem as idéias
apresentadas.
[...] 13% das instituições formariam exclusivamente o professor; 18%
dedicar-se-iam à formação do educador (pedagogo generalista ou
pedagogo polivalente), sem privilegiar a formação do professor; 23%
formariam o professor em todas as suas especialidades e manteriam,
na graduação, as habilitações fundamentais e 18% das instituições
formariam o professor em todas as especialidades e transfeririam a
formação dos especialistas para o nível de pós-graduação, com
exigência de experiência de magistério.
[...] 43% dessas instituições inauguraram em seus currículos a
formação do professor para as séries iniciais de escolarização, que
46% reafirmaram a importância da formação do professor das
disciplinas pedagógicas da habilitação do magistério em nível de
grau, que apenas 7% manifestaram-se favoráveis à revitalização da
Escola Normal e que 94% são contra a formação de professores em
licenciaturas curtas.
(BRZEZINSKI, 2006, p.150)
Podemos concluir, pelas propostas sintetizadas no Documento-Síntese, que a
formação do professor de Matemática dos anos iniciais também tende a se dar em
nível superior, no curso de Pedagogia. Ou seja, no instante em que o Movimento
lança a proposta de o curso de Pedagogia formar o professor dos primeiros anos de
70
escolarização pautado em propostas vindas de rias instituições que oferecem o
curso, ele coloca o curso de Pedagogia como responsável pela formação do
professor de Matemática dessa fase de ensino.
2.6- Os Encontros Nacionais do Movimento e suas Propostas
No Documento-Síntese, encontra-se também o pedido para que fosse
realizado um Encontro Nacional, como havíamos comentado anteriormente, bem
como a solicitação para que o MEC fizesse uma consulta a todas as instituições para
que tomassem ciência e divulgassem as propostas que estavam sendo estudadas e
desenvolvidas pelos cursos de Licenciaturas e Pedagogia, visando à avaliação do
trabalho que estava sendo desenvolvido no país.
Nessas atividades do Comitê, foi marcante a presença do movimento
estudantil. No Encontro Regional do Comitê Pró-Reformulação dos Cursos de
Pedagogia e Licenciaturas de São Paulo, os estudantes das licenciaturas
participaram na apresentação de trabalhos e nos debates com os professores. Eles
foram autores de críticas à formação do educador e propuseram alternativas.
Desse modo, os estudantes assumiram seus papéis de delegados em
reuniões, assembléias e nos encontros regionais, estaduais e nacionais, com o
mesmo propósito dos professores: elaborar propostas de reformulação do curso de
Pedagogia e Licenciaturas.
O I Encontro Nacional do Projeto de Reformulação dos Cursos de Preparação
de Recursos Humanos para Educação, tanto almejado e aclamado pelos
educadores nos Seminários Regionais e explicitado no Documento-Síntese, foi
realizado de 21 a 25 de novembro de 1983, na cidade de Belo Horizonte.
O MEC/SESu convidou todos os Estados para esse evento. Tal convite
mobilizou a efetivação de encontros estaduais no período de junho a novembro de
1983. As Comissões Estaduais de Reformulação dos Cursos de Formação do
Educador se encarregaram de organizar os encontros estaduais, os quais
obedeceram à metodologia definida pelo MEC. Esses eventos se caracterizaram
como preparatórios para o I Encontro Nacional. Neles foram reestruturadas 23
Comissões Estaduais.
71
Foi no I Encontro Nacional do Movimento que o Comitê Nacional Pró-
Reformulação dos Cursos de Formação de Educadores se transformou em
Comissão Nacional de Reformulação dos Cursos de Formação do Educador
(CONARCFE).
2.6.1- Presença Estudantil e a Crise Gerada no I Encontro Nacional do
Movimento
O I Encontro Nacional foi também marcado pela presença dos estudantes,
fruto da articulação iniciada pelo Comitê de São Paulo com a representação
estudantil. Essa presença ocasionou um forte conflito. Sob a coordenação da
professora Lisete Regina Gomes Arelaro, da USP, os estudantes enfrentaram a
Comissão do MEC/SESu que insistia em não reconhecer sua presença como
delegados
35
, solicitando que deixassem o local do evento.
Os estudantes resistiram à pressão e não se retiraram do local. A situação
provocada por esse impasse fez aflorar ainda mais o descontentamento dos
professores delegados com a pauta a ser discutida no encontro, que havia sido
imposta pelo MEC. Desse modo, um embate se instaurou entre representantes do
Movimento e o MEC, que foi obrigado a retirar-se do evento no primeiro dia, logo
depois de terem feito sua abertura oficial.
Os estudantes e educadores permaneceram organizados, conseguindo
vitórias importantes como essa e, segundo Brzezinski, esse foi
um momento decisivo para o fortalecimento do Movimento Nacional
de professores e estudantes, uma vez que romperam definitivamente
as amarras com o MEC, que pretendia manter certa tutela sobre
esse movimento
(BRZEZINSKI, 2006, p.115)
Essa forte presença política dos estudantes se enfraqueceu nas outras
edições dos Encontros Nacionais.
35
Segundo Brzezinski (2006), estavam presentes oito estudantes (seis titulares e dois suplentes) da
Comissão Estadual de São Paulo. Comissão essa que levou maior número de delegados.
72
2.6.2- Organização dos Educadores: as Propostas Apresentadas
Os educadores se organizaram e passaram a coordenar o evento, propondo
assim uma nova pauta para discutir diferente da proposta trazida pelo MEC, que
se configurava na apresentação dos documentos conclusivos dos Encontros
Estaduais e em seguida, elaboração de uma proposta final em Assembléia. A nova
pauta incluía:
Autonomia universitária e poder decisório;
Curso de pedagogia e formação para o magistério;
A formação do professor para as séries iniciais de 1º grau;
Curso de pedagogia e habilitações específicas;
O estágio supervisionado e a prática de ensino na dinâmica do
curso de pedagogia e demais licenciaturas;
Conteúdo específico e formação pedagógica nas licenciaturas;
Articulação do bacharelado com a licenciatura;
Relação das unidades de educação com as demais unidades
acadêmicas.
(BREZINSKI, 2006, p.156)
Em Assembléia no dia 25 de novembro de 1983, a Professora Márcia Ângela
Aguiar, que na época era professora da Universidade Federal e Católica de
Pernambuco e uma das delegadas do Comitê Regional do Nordeste, foi eleita para o
cargo de coordenadora da CONARCFE. Juntamente com ela, a CONARCFE foi
composta por 23 professores e 11 estudantes.
Desse I Encontro Nacional, nasceu uma proposta de reformulação dos cursos
de Pedagogia e Licenciaturas que ficou conhecida como Documento Final. A
Proposta gerada constitui uma referência para os encaminhamentos tomados sobre
a Formação do Educador.
2.6.3 - Proposta sobre Formação: Licenciatura e Pedagogia
Algumas decisões/ indicações presentes no “Documento Final”, destacadas
por Silva (2006), por sua importância para a discussão sobre a formação do
educador e sobre a identidade do curso de Pedagogia e do pedagogo, são
apresentadas a seguir:
Formar o professor como educador, independente da etapa de ensino que
irá atuar;
73
Ter a “docência como a base da identidade de todo o educador” (SILVA,
2006, p.68);
Existência de um núcleo comum de estudos para todos os profissionais da
educação. Núcleo esse que passou a ser chamado de Base Comum
Nacional”;
Encaminhamento da discussão da relação entre bacharelado e
licenciatura, mostrando a necessidade de os envolvidos debaterem sobre
o assunto, principalmente pelo fato de que as discussões estavam no
início.
Essas idéias básicas foram sendo discutidas, ampliadas e aprofundadas nos
outros encontros nacionais realizados bienalmente.
Ainda de acordo com Silva (2006), o Documento Final do I Encontro Nacional,
no que se refere ao curso de Pedagogia, discordou do Comitê de São Paulo
recobrando a idéia do curso.
O curso teria como conteúdos próprios as discussões sobre: “teorias da
educação, dinâmica e organização da educação brasileira e processo de
ensino-aprendizagem”; (SILVA, 2006, p. 69)
O curso estaria voltado prioritariamente para a “formação do professor das
matérias pedagógicas”. (SILVA, 2006, p. 69)
Nas indicações que tratam sobre o curso de Pedagogia, não ficou claro onde
se daria a formação do professor das séries iniciais do Grau. Tal formação não
ficou vinculada ao curso de Pedagogia, uma vez que ele, juntamente com as
Faculdades de Educação, seriam responsáveis por oferecer aperfeiçoamento aos
professores das primeiras séries de escolarização, e se envolver com a melhoria do
Ensino de Grau. Assim, o Documento Final é pouco claro nessa questão. De
acordo com Silva (2006), ele apenas indicou que a formação do professor de a
séries do 1º Grau deveria se dar no espaço escolar. Silva (2006, p.70), ao mencionar
a passagem do documento que se refere a essas colocações, questiona: “[...] estaria
ele [o Documento Final] referindo-se à formação em serviço?”.
O referido documento continha, ainda, algumas ressalvas feitas pelos
educadores. Recomendavam que as idéias ali expostas não deveriam se tornar
objeto de legislação imediata pelo então CFE, entendendo que a discussão sobre os
cursos de formação do educador não se encerrava ali, novas etapas de debates
74
deveriam existir. Recomendavam também que o CFE/MEC comunicasse a
CONARCFE sempre que alguma reforma referente às licenciaturas ou ao ensino em
geral estivesse na pauta de suas discussões, a fim de, também, realizarem um
debate sobre o assunto.
No período que antecedeu o II Encontro Nacional, foram realizados vários
eventos com o objetivo de avaliar as atividades da CONARCFE. O primeiro Encontro
de Avaliação foi realizado na 36ª SBPC, em São Paulo, em julho de 1984. O
segundo ocorreu em Niterói no ano de 1984, na ocasião da III CBE. O terceiro
Encontro de Avaliação da Comissão Nacional foi promovido durante a VII Reunião
Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação
(ANPED), em 1985. Nesse evento decidiu-se que a CONARCFE iria encaminhar um
projeto de pesquisa ao Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
"Anísio Teixeira" (INEP), com o objetivo de auxiliar na definição tanto da identidade
do curso de Pedagogia quanto da base comum nacional dos currículos dos cursos
de formação de educadores.
Apesar de a Comissão solicitar que o MEC aguardasse os resultados da
referida pesquisa, em 1986, ele aprovou o Parecer CFE 161/1986 da relatora
Eurides Brito da Silva, que trazia encaminhamentos extraídos dos Seminários sobre
a formação do educador. Silva (2006, p.70) afirma que esse material foi “considerado
sem a densidade necessária para o trato da matéria no conselho”. Segundo a
mesma autora,
[...] As orientações do CFE sobre o assunto consistiram, então, em
que experiências pedagógicas à luz do artigo 104
36
da lei federal
n.4.024/61 passassem a ser incentivadas nas instituições de ensino
superior de forma que, uma vez autorizadas pelo conselheiro e
acompanhadas pela SESu, pudessem enriquecer os dados
levantados com vistas à formulação de um novo currículo nimo
para o curso de pedagogia. Na verdade, o então CFE nada mais fez
do que encaminhar o assunto na direção em que o “Documento
Final” havia indicado.
(SILVA, 2006, p.70)
O II Encontro Nacional foi realizado durante a IV CBE na cidade de Goiânia-
GO, em 1986. Os Encontros Estaduais preparatórios para o Encontro Nacional
36
Art. 104 - Será permitida a organização de cursos ou escolas experimentais, com currículos,
métodos e períodos escolares próprios, dependendo o seu funcionamento para fins de validade legal
da autorização do Conselho Estadual de Educação, quando se tratar de cursos primários e médios, e
do Conselho Federal de Educação, quando de cursos superiores ou de estabelecimentos de ensino
primário e médio sob a jurisdição do Governo Federal. (Revogado pela Lei nº 9.394, de 1996).
75
aconteceram como no I Encontro Nacional. A realização da IV CBE era o prazo limite
para a CONARCFE apresentar ao MEC suas propostas acerca dos cursos de
licenciatura. No entanto a finalização de sua pesquisa sobre o assunto se daria com
a realização do Encontro Nacional. Porém o MEC parecia desconsiderar a pesquisa
que a Comissão estava desenvolvendo e solicitava respostas referentes aos estudos
realizados até então, antes de um novo debate nacional. O MEC não apoiava a
realização desse evento que ocorreu à sua revelia. A coordenadora da Comissão
Nacional fez várias tentativas em vão solicitando apoio financeiro ao MEC e ao
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) para o
evento.
Esse encontro foi marcado pelo aprofundamento das discussões sobre a
Base Comum Nacional, proposta vinda do I Encontro Nacional, em que se definiram
três dimensões que deveriam integrá-la: epistemológica, política e profissional. Esse
tema ainda seria objeto de estudos nos encontros seguintes do CONARCFE.
No período que antecedeu o II Encontro Nacional, pode-se dizer que houve
uma retração nas ações do Movimento. Segundo Brzezinski (2006), um dos
principais motivos foi o fato de o MEC não reconhecer o papel da Comissão
Nacional.
O III Encontro Nacional foi realizado durante a V CBE, em agosto de 1988, na
cidade de Brasília - DF. De acordo com Brzezinski (2006), foi evidente a estagnação
do Movimento nessa época. Mesmo passando por um período difícil, foram dados
passos importantes para a revitalização da Comissão. Sugeriu-se que a Unicamp
fosse a sede da CONARCFE, e o nome do professor Luiz Carlos Freitas foi
apontado para reorganizar o movimento.
Um novo Encontro Nacional foi realizado extraordinariamente em 1989 em
função da tramitação dos anteprojetos de Lei de Diretrizes e Bases Os educadores
pretendiam interferir nos rumos da Lei apresentando emendas aos anteprojetos que
circulavam. Desse modo, o IV Encontro Nacional da CONARCFE foi realizado em
Belo Horizonte - MG, em julho de 1989, com o apoio do Instituto de Recursos
Humanos João Pinheiro (IRHJP), do INEP, da SBPC e da Faculdade de Educação
da Unicamp. Esse encontro foi importante, pois a partir dele a Comissão expandiu
sua ação abrindo mais uma frente de luta como entidade integrante do Fórum
Nacional em Defesa da Escola Pública” (BRZEZINSKI, 2006, p.168). Porém algo
76
que ainda preocupava os integrantes da Comissão era a inexpressiva participação
estudantil.
Foi também, durante o IV Encontro Nacional, que surgiu a proposta de a
Comissão Nacional tornar-se uma associação.
As evidências demonstravam que a CONARCFE começava a perder
lentamente sua característica provisional para se transformar em
uma entidade com características mais formais e permanentes. O
movimento evoluía e o seu novo perfil prenunciava uma etapa de
mudanças.
(BRZEZINSKI, 2006, p.168)
E esse prenúncio não demorou a acontecer.
O V Encontro Nacional da CONARCFE
37
, ocorrido no IRHJP em Belo
Horizonte em julho de 1990, tinha três finalidades:
a) examinar a possibilidade de transformar a CONARCFE em uma
ASSOCIAÇÃO NACIONAL; b) realizar uma primeira discussão
específica sobre a questão da BASE COMUM NACIONAL; e c)
examinar o PROJETO DE LDB aprovado pela Comissão de
Educação da Câmara.
(CONARCFE, DOCUMENTO FINAL, 1990, p. 4)
A primeira finalidade do evento foi objeto de discussão em uma Assembléia
específica, que decidiu transformar a CONARCFE em Associação Nacional pela
Formação dos Profissionais da Educação (ANFOPE). Ela foi pensada com os
seguintes objetivos:
a) Congregar pessoas e instituições interessadas na questão da
formação do profissional da educação, integrantes do Sistema
Nacional de Formação de Profissionais da Educação, para uma
reflexão crítica de suas práticas.
b) Defender as reivindicações destas instituições no tocante à
formação dos profissionais da educação, em articulação com as
demais entidades da área educacional.
c) Incentivar e fortalecer a criação de Comissões Estaduais
destinadas a examinar criticamente a questão da formação do
profissional da educação em seus respectivos estados.
d) Defender a educação enquanto um bem público e uma política
educacional que atenda às necessidades populares, na luta pela
democracia e pelos interesses da sociedade brasileira.
e) Gerar conhecimento, socializar experiências, acompanhar e
mobilizar as pessoas e instituições formadoras dos profissionais da
educação, nos termos dos princípios defendidos historicamente pelo
Movimento Pró-formação do Educador, representado até 1990 pela
CONARCFE, e expresso nos Documentos Finais dos cinco
encontros nacionais realizados entre 1983 e 1990.
37
O evento contou com o apoio da Faculdade de Educação da UFMG, do CEDES-Centro de Estudos
Educação e Sociedade, do IRHJP, da SBPC e da Faculdade de Educação da UNICAMP.
77
f) Articular-se a outras associações e entidades que têm
preocupações semelhantes, no desenvolvimento de ações comuns.
(CONARCFE, DOCUMENTO FINAL, 1990, p. 4)
As outras finalidades presentes na pauta do V Encontro Nacional foram
trabalhadas em grupos e depois apresentadas em forma de plenária. Realizaram um
“mapeamento” das propostas existentes em relação à Base Comum Nacional, as
quais seriam objeto de discussão e aprofundamento em seminários que a ANFOPE
passaria a promover. Quanto ao Projeto de LDB, foram sugeridas modificações no
texto legal.
De 1990 a 1992, a ANFOPE teve como Coordenador Nacional o Professor
Luiz Carlos Freitas. Desde o III Encontro Nacional, ele foi sugerido para coordenar
as atividades do Movimento por ser um nome forte e atender a várias características
necessárias. O Professor também permaneceu como presidente da ANFOPE de
1992 a 1994
38
.
Silva (2006, pp.71-72) destaca que, a partir do I Encontro Nacional, em 1983,
“a idéia da pedagogia enquanto curso se fortaleceu no interior do movimento”. Desse
modo, a discussão sobre a existência do curso perdeu seu espaço. Em
contrapartida, as dúvidas sobre que profissional deveria ser formado e qual a
estruturação do curso para atingir tal formação ficaram mais explicitas, pois ainda se
mostravam indefinidas.
Esses fatos foram destaque nos relatórios de discussão dos encontros
subseqüentes, ou seja, o impasse a respeito da “identidade do pedagogo” veio à
tona e passou a ser assumido nesses documentos. Silva (2006, p. 73) afirma que “a
recuperação da idéia da pedagogia enquanto curso trouxe em seu bojo a
recuperação, também, da questão da identidade do pedagogo”. Entre os
participantes dos debates realizados, decidiu-se que essa questão deveria ser
encaminhada a partir das experiências de modificações nos cursos, relatadas pelas
várias instituições, e que estudos sobre essas modificações fossem realizados.
Desse modo, a questão da identidade do pedagogo não caminhou no intuito de
redefinir a legislação sobre o assunto.
38
Para maiores informações sobre a trajetória da ANFOPE e suas respectivas coordenações, ver a
dissertação de Simone Carvalho Massias, que tem como título “As Propostas da Associação Nacional
pela Formação dos Profissionais da Educação (ANFOPE) para a Definição do Curso de Pedagogia
no Brasil (1990-2006)”, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, ano de 2007.
78
Como comentamos, acreditavam que a identidade do pedagogo e a do
curso de Pedagogia estavam intimamente ligadas à atuação profissional e,
conseqüentemente, a uma definição do mercado de trabalho. Porém, de acordo com
Silva (2006), as tentativas de encontrar essa identidade, nos termos expostos, foram
se esgotando dentro do Movimento, ao passo que foi ficando nítida a falta de um
elemento fundamental para solucionar essa questão da identidade. Então, passou-
se a ver a relação existente entre a estruturação do curso de Pedagogia e a
Pedagogia como campo de conhecimento e de investigação. Silva (2006, p. 74)
esclarece:
[...] o que se percebia era que a explicitação das questões referentes
à dimensão teórico-epistemológica da pedagogia poderia oferecer
elementos para aclarar as discussões no que concerne à sua
dimensão prático-institucional, para nortear, então, a definição da
identidade do pedagogo bem como a construção de uma estrutura
curricular compatível com as necessidades de sua formação.
Apesar de as questões supracitadas ficarem mais claras, ainda havia o
impasse a ser resolvido, a saber, a identidade da Pedagogia enquanto campo de
conhecimento, de modo que a indicação era que tal questão fosse trabalhada pelo
Movimento.
É sabido que os princípios do Movimento, explicitados, foram o alvo de
discussões nos encontros promovidos por ele, sendo aperfeiçoados e atualizados.
Silva (2006) afirma que a questão da identidade do curso de Pedagogia, discutida
em termos da estruturação do curso e de suas funções, não foi mais o assunto
central da ANFOPE
39
. a partir do ano de 1990, passando a ser a Base Comum
Nacional o seu foco.
2.6.4 - Delineando a Formação do Professor de Matemática dos Anos
Iniciais no Âmbito do Movimento de Educadores
E a formação dos professores de Matemática dos primeiros anos de
escolarização, como ficou delineada do Movimento de Educadores? Para
respondermos a essa questão temos que primeiramente olhar como ficou a
formação do professor dos anos iniciais de um modo geral. Tentaremos trazer as
39
Para mais informações sobre a trajetória da ANFOPE e sobre seus Encontros Nacionais ver Site:
www.lite.fae.unicamp.br/anfope/ e a dissertação de Massias (2007).
79
principais idéias sobre a formação do professor, especificamente o dos anos iniciais,
expostas pelo Movimento de Educadores por meio de seus Encontros Nacionais.
Segundo Massias (2007), as discussões sobre o curso de Pedagogia no I
Encontro Nacional, em 1983, giraram em torno de sua formação enquanto
especialista ou professor. Entendiam que as habilitações causavam divisão no
interior do próprio curso. Assim, como mostrado, defendiam desde essa época a
docência como a base da identidade de todo profissional da Educação e nela viam
um de seus princípios gerais.
Pelo Documento Final advindo do I Encontro Nacional do Movimento de
Educadores vimos que defendiam que o foco do curso de Pedagogia estaria na
formação do professor das matérias pedagógicas de Grau. E quanto à formação
do professor dos primeiros anos de escolarização e, portanto, do professor de
Matemática, o documento é pouco claro, levando até mesmo a entender segundo
Silva (2006) que essa formação poderia se dar em serviço. Entretanto, as
discussões sobre o curso de Pedagogia e sobre a formação do professor dos anos
iniciais fizeram-se presentes em outras edições do encontro nacional, ora de
maneira direta, ora indireta, e assim, foram sendo mais bem delineadas pelos
educadores.
Em 1990, no V Encontro Nacional, falaram sobre as habilitações dentro do
curso de Pedagogia e como entendem a sua presença.
Um dos grandes danos que as habilitações causaram ao curso de
Pedagogia foi colocar o trabalho docente com uma habilitação: a
habilitação magistério. Isso levou inúmeros cursos a permitirem que
outras habilitações não docentes fossem obtidas sem o envolvimento
destes profissionais como magistério. O trabalho docente, na prática,
ficou sendo optativo. Uma tendência bastante palpável, atualmente, é
a recuperação deste trabalho como algo obrigatório nos Curso de
Pedagogia e anterior às habilitações não docentes.
(CONARCFE, DOCUMENTO FINAL, 1990, p. 17)
No VI Encontro Nacional, em 1992, é tratado sobre a idéia de escola única de
formação. Essa idéia teve seu nascimento em 1989 e estava sendo rediscutida.
Segundo o estudo de Massias (2007, p. 81) a proposta de escola única atingiria
todas as licenciaturas e o curso de Pedagogia, pois ela “era considerada como um
meio de viabilizar o conceito de base comum na formação do profissional da
educação” e, como sabemos, a Base Comum Nacional foi alvo de intensas
discussões e aprofundamento por parte do Movimento.
80
Nessa proposta, o curso de Pedagogia seria o responsável pela formação do
professor da Educação Infantil e dos primeiros anos de escolarização, entre outras
funções docentes. Ou seja, o movimento de educadores já vai delineando o campo
de trabalho docente do pedagogo.
No IX Encontro Nacional, em 1998, quanto ao curso de Pedagogia o
movimento reforça suas críticas à fragmentação produzida pelas habilitações dentro
do curso e segue afirmando ser a docência a base da identidade de todos os
profissionais da educação.
Em 2000, no X Encontro Nacional, o curso de Pedagogia é novamente
discutido pela ANFOPE. Falam da importância e da necessidade de se discutir sobre
as Diretrizes para o curso de Pedagogia. No que diz respeito à atuação do pedagogo
nos anos iniciais do Ensino Fundamental e na Educação Infantil, os educadores
explicitaram a sua vontade de que essa seja a formação básica do curso e não
apenas como uma de suas possíveis habilitações.
O processo de discussão instaurado a partir da elaboração das
Diretrizes para a Pedagogia evidenciou os dilemas e contradições da
formação de professores, indicando as “correções de rumos” que
podem e devem ser feitas a partir dessas mesmas diretrizes,
particularmente no que diz respeito à docência para as séries iniciais
e educação infantil, como formação básica (não como habilitação),
no curso de Pedagogia.
(ANFOPE, DOCUMENTO FINAL, 2000, p. 29 apud MASSIAS, 2007,
p. 87)
Segundo Massias (2007) no XI e XII Encontros Nacionais, realizados em 2002
e 2004 respectivamente, as discussões sobre o curso de Pedagogia foram
abordadas e registradas nos documentos de modo direto. Em 2002 discutiram sobre
a existência do Curso Normal Superior como responsável também pela formação de
professores para atuarem na Educação Infantil e nas primeiras séries da Educação
Básica, contestando o Parecer CNE
40
/CES
41
133/2001 que não autoriza cursos
de Pedagogia não pertencentes a unidades universitárias a formarem docentes,
dando certa preferência ao curso Normal Superior.
Sobre o curso de Pedagogia e sua responsabilidade de formação, a autora
ainda coloca que para a ANFOPE
40
CNE- Conselho Nacional de Educação: O Conselho Nacional de Educação é um órgão colegiado
integrante do Ministério da Educação. Ele foi instituído pela Lei 9.131, de 25 de novembro de 1995,
com a finalidade de colaborar na formulação da Política Nacional de Educação e exercer atribuições
normativas, deliberativas e de assessoramento ao Ministro da Educação.
41
CES: Câmara de Educação Superior.
81
[...] o Curso de Pedagogia, nos anos 90, passou a ser considerado
como o principal meio de formação dos docentes para a educação
básica e infantil. Na ocasião [2002], a entidade posicionou-se contra
a formação fragmentada do pedagogo, defendendo a formação tanto
do docente quanto do especialista, para atividades escolares e não
escolares.
(MASSIAS, 2007, p.96)
Assim, nesse encontro a comunidade de educadores reafirma a docência
como base da formação do pedagogo, entendendo que a Pedagogia não se esgota
nas funções docentes. E ainda compreende que a formação do pedagogo deve
envolver três dimensões: docência, gestão e pesquisa, trabalhadas de modo
articulado e não fragmentado. Assim, a associação se posiciona contra a proposta
da SESu de organização do curso de Pedagogia, em que a formação é
dicotomizada em: Bacharelado Acadêmico, Bacharelado Profissionalizante e
Licenciatura” (MASSIAS, 2007, p. 96). No Encontro de 2004 a ANFOPE reafirma
todas as posições tomadas no encontro anterior.
Assim, desde o início o Movimento de Educadores toma a docência como a
base da identidade de todos profissionais da educação, concebendo-os como todo
profissional formado em cursos de Pedagogia e licenciaturas específicas. Isto é, o
pedagogo tem como base de sua formação e de sua identidade a docência que aos
poucos foi sendo definida como docência nos primeiros anos de escolarização e na
Educação Infantil.
A associação dos educadores ao longo de sua existência e de sua busca por
melhorias aos profissionais da educação foi delineando a sua proposta de formação
de professores, deixando claro o campo de trabalho que vislumbra para o pedagogo,
a docência, porém admitindo que ele possa atuar em outros campos não-escolares.
“E as propostas de organização do curso, se fundamentam na idéia de escola única
de formação e na base comum nacional” (MASSIAS, 2007, p. 102).
Nesse sentido compreendemos que os educadores, representados pela
ANFOPE, defendem o curso de Pedagogia como o responsável pela docência dos
anos iniciais do Ensino Fundamental e da Educação Infantil. Logo, nós também
compreendemos que ao assim se posicionarem, tomam o curso de Pedagogia como
o que formará o professor de Matemática dos anos iniciais.
82
2.7- Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 e os
Cursos de Formação de Professores
No ano de 1996, foi promulgada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional 9.394, de 20 de dezembro de 1996 e, juntamente com ela a identidade
do curso de Pedagogia foi novamente questionada.
Tal Lei define os níveis e modalidades de Educação e Ensino e regulamenta-
os. Desse modo, a Educação Escolar é formada pela Educação Básica e Educação
Superior. A Educação Básica, por sua vez, é composta pela Educação Infantil,
Ensino Fundamental e Ensino Médio. A Educação Infantil compreende a educação
de crianças de 0 (zero) a 6 (seis) anos de idade.
O Ensino Fundamental corresponde ao que na Lei 5.692/1971 era
denominado de Ensino de Primeiro Grau. Atualmente, por meio da Lei 11.274, de
2006, o Ensino Fundamental, que tinha a duração de oito anos, passou a ter nove
anos obrigatórios, sendo iniciado pelas crianças a partir dos seis anos de idade.
Assim, ele é oferecido em duas fases: do ao ano, chamada primeira fase do
Ensino Fundamental, e do 6º ao ano, chamada segunda fase do Ensino
Fundamental.
O Ensino Médio corresponde ao Ensino de Grau da Lei 5.692/1971,
tendo duração mínima de três anos. Essa fase de ensino se voltará à formação geral
do educando e de acordo com o art 36A da LDB/1996
42
, “poderá prepará-lo para o
exercício de profissões técnicas” (BRASIL, CONGRESSO NACIONAL, 1996, p. 14).
A LDB/1996 também dispõe sobre a Educação de Jovens e Adultos, a
Educação Profissional, a Educação Superior e a Educação Especial.
Ela também se dedica aos profissionais da educação, em especial à sua
formação, sendo redigido o título VI somente para discutir sobre o assunto. Tal título,
composto por seus artigos, será analisado a seguir.
O artigo 62 dispõe sobre a formação de professores para a Educação Básica.
Art. 62. A formação de docentes para atuar na educação básica far-
se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena,
em universidades e institutos superiores de educação, admitida,
como formação mínima para o exercício do magistério na educação
42
Usaremos a sigla LDB/1996 para nos referirmos a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
nº 9.394/1996.
83
infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a
oferecida em nível médio, na modalidade Normal.
(BRASIL, CONGRESSO NACIONAL, 1996)
Nesse artigo, a formação de professores para a Educação Básica, que
compreende o Ensino Fundamental e o Médio, é vinculada aos cursos de
Licenciatura plena. Assim, para a atuação na Educação Básica e, sendo mais
específica, na primeira fase do Ensino Fundamental, poderá ser admitida a presença
de profissionais das diversas áreas, desde que tenham feito licenciatura plena.
Compreendemos que, mesmo que a LDB/1996 admita como formação mínima, para
a atuação na Educação Infantil e nos anos iniciais, a recebida em nível médio, na
modalidade Normal, ela abre possibilidades para a atuação, no Ensino Fundamental,
em suas duas fases, de licenciados em geral, como havíamos comentado. Ou
seja, a LDB/1996 não proíbe que o licenciado em Matemática atue nos anos iniciais
do Ensino Fundamental com a disciplina de Matemática.
E o pedagogo, onde atuaria profissionalmente? Existiria um campo de
trabalho somente dele? Novamente o impasse sobre sua identidade aflora.
O artigo 63 refere-se aos Institutos Superiores de Educação, mencionado
no artigo 62, explicitando as suas responsabilidades.
Art. 63. Os institutos superiores de educação manterão:
I - cursos formadores de profissionais para a educação básica,
inclusive o curso normal superior, destinado à formação de docentes
para a educação infantil e para as primeiras séries do ensino
fundamental;
II - programas de formação pedagógica para portadores de
diplomas de educação superior que queiram se dedicar à educação
básica;
III - programas de educação continuada para os profissionais de
educação dos diversos níveis.
(BRASIL, CONGRESSO NACIONAL, 1996)
De acordo com o inciso I do referido artigo, fica a cargo dos Institutos
Superiores de Educação, além da formação de profissionais para a Educação
Básica, a formação, por meio do Curso Normal Superior, de professores para a
Educação Infantil e para os anos iniciais do Ensino Fundamental. Desse modo, a
LDB/1996 não vincula a formação de professores, para atuarem na primeira fase do
Ensino Fundamental e na Educação Infantil, ao curso de Pedagogia. Onde atuariam
os egressos do curso de Pedagogia? O curso continuaria manteria a formação de
professores para o Ensino Fundamental e para a Educação Infantil, ou não? O curso
de Pedagogia continuaria a existir?
84
Parte dos questionamentos é logo respondida no artigo 64 da LDB/1996,
porém outros ainda persistem. O artigo 64 define a missão do curso de Pedagogia:
Art. 64. A formação de profissionais de educação para administração,
planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional para a
educação básica, será feita em cursos de graduação em pedagogia
ou em nível de pós-graduação, a critério da instituição de ensino,
garantida, nesta formação, a base comum nacional.
(BRASIL, CONGRESSO NACIONAL, 1996)
Assim, fica estabelecido que os egressos do curso de Pedagogia devem atuar
em atividades de administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação
educacional na Educação Básica. Mas aqui ainda cabe o questionamento sobre a
existência do curso de Pedagogia, visto que tal formação, a critério das instituições
de ensino, poderá ser oferecida em nível de pós-graduação. Portanto, se este for o
desejo das instituições de ensino, qual seria a função do curso de Pedagogia?
Assim, ele é mais uma vez colocado na pauta das discussões, e a sua
identidade é novamente questionada.
2.7.1 - Proposta de Diretrizes Elaborada pela ANFOPE
Silva (2006) diz que, diante desse impasse, com relação ao curso de
Pedagogia, a expectativa sobre a sua existência foi grande. A mesma autora
esclarece que em 1997, o MEC solicitou por meio do edital 4/1997 da SESu que
as Instituições de Ensino Superior (IES) encaminhassem propostas para as novas
Diretrizes Curriculares dos cursos superiores. A finalidade dessa medida era fornecer
subsídios para as Comissões de Especialistas do Ensino das diferentes áreas do
conhecimento elaborarem aquelas diretrizes. Em tal solicitação o curso de
Pedagogia está presente. Desse modo, o MEC sinalizava para a manutenção do
curso.
No entanto, no inicio desses trabalhos de sistematização das propostas, a
Comissão de Especialistas do Ensino de Pedagogia (CEEP) não tinha recebido
muitas contribuições das instituições que ofereciam o curso. Como ainda nada havia
sido regulamentado em relação aos artigos 62, 63 e 64 e nem sobre os Institutos
Superiores de Educação, era a oportunidade de as instituições trabalharem em
85
propostas sobre o curso de Pedagogia de acordo com suas interpretações dos
referidos artigos.
Mediante a não-manifestação das IES, o MEC insistiu por meio do ofício
circular 014/1998. Desse modo, foram encaminhadas mais de quinhentas
propostas (SILVA, 2006). A CEEP solicitou que as demais entidades nacionais
ligadas ao assunto também enviassem suas propostas.
Para o referido pedido, a ANFOPE elaborou o documento intitulado Proposta
de Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Formação dos Profissionais
da Educação na ocasião de seu IX Encontro Nacional, realizado em agosto de 1998,
na cidade de Campinas - SP.
Tal Documento, como era de se esperar, destaca sobre a importância da Base
Comum Nacional, alvo de estudos e intensas discussões pela Associação. No
documento fica exposto que essa Base deve direcionar a organização curricular dos
cursos de formação de profissionais da educação e que, a partir dela, as instituições
formadoras organizem as suas propostas curriculares tendo sempre a docência
como a base da formação e da identidade de todos profissionais da educação.
Essas são as orientações gerais a todos os cursos.
Assinala que as universidades e suas faculdades/ centros de Educação
“constituem-se o locus privilegiado da formação dos profissionais da educação para
atuação na educação básica e superior” (ANFOPE, BOLETIM 8, 1998, p. 1),
apontando para a necessidade de se repensarem as suas estruturas. Indica também
uma reorganização dos cursos de Pedagogia e demais Licenciaturas, “no sentido de
superar a fragmentação entre as Habilitações no Curso de Pedagogia e a dicotomia
entre a formação dos pedagogos e dos demais licenciandos” (ANFOPE, BOLETIM 8,
1998, p. 1).
A partir do que foi apresentado, a proposta elaborada pela ANFOPE discute
sobre o perfil do profissional da educação, as competências e áreas de atuação
desses profissionais, os eixos norteadores da Base Comum Nacional, a organização
curricular e a duração dos cursos.
Ao referir-se às áreas de atuação dos profissionais da educação, a ANFOPE
especifica as seguintes: Educação Básica: Educação Infantil, Ensino Fundamental,
Ensino Médio, Educação de Jovens e Adultos, Educação para portadores de
necessidades especiais, Curso Normal; Educação Profissional; Educação não-
formal; Educação Indígena e Educação a Distância.
86
Os eixos norteadores da Base Comum Nacional são definidos pela ANFOPE
da seguinte maneira: sólida formação teórica e interdisciplinar, unidade entre
teoria/prática, gestão democrática, compromisso social e ético, trabalho coletivo e
interdisciplinar e articulação entre a formação inicial e a continuada.
Quanto à estruturação específica do curso de Pedagogia e às funções a
serem preenchidas pelos egressos do curso, o documento da ANFOPE não é claro,
deixando-as em aberto.
2.7.2 - Proposta de Diretrizes Curriculares da Comissão de Especialistas
do Ensino de Pedagogia – 1999
Analisadas todas as propostas de Diretrizes para o curso de Pedagogia e,
portanto, finalizados os trabalhos da CEEP, foi divulgado em 6 de maio de 1999 o
documento denominado Proposta de Diretrizes Curriculares de autoria da referida
comissão. Segundo Silva (2006), tal proposta foi bem recebida pela comunidade
acadêmica, por contemplar os princípios do Movimento representado pela ANFOPE
e abrir espaço para outras funções emergentes de atuação do pedagogo.
Já no início a proposta, define o perfil desse profissional, o pedagogo:
Profissional habilitado a atuar no ensino, na organização e gestão de
sistemas, unidades e projetos educacionais e na produção e difusão
do conhecimento, em diversas áreas da educação, tendo a docência
como base obrigatória de sua formação e identidade profissionais.
(grifo nosso)
(CEEP, 1999, p. 1).
Como vemos, a Proposta de Diretrizes assume a docência como a base
obrigatória da formação e da identidade do pedagogo indicando onde estará
habilitado a atuar.
Em seguida define as áreas de atuação profissional. Estabelece, então, sua
atuação na docência na educação infantil, nas séries iniciais do ensino
fundamental e nas disciplinas da formação pedagógica do nível médio” (grifo nosso)
(CEEP, 1999, p.1) indicando, ainda, outras áreas possíveis de atuação como na
“organização de sistemas, unidades, projetos e experiências educacionais escolares
e não-escolares” (CEEP, 1999, p.1). Assim, por meio das citações, concluímos que a
87
base da formação e da identidade do pedagogo, de acordo com a CEEP, é a
docência na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental.
A Proposta de Diretrizes Curriculares, elaborada pela CEEP, recebeu
contribuições de diversas instituições que mantêm o curso de Pedagogia. Isso nos
leva a entender que, em linhas gerais, ela está em consonância com os interesses
dos educadores ao caracterizar o pedagogo como o docente da Educação Infantil e
dos anos iniciais do Ensino Fundamental, sendo essa, portanto, a base de sua
formação e de sua identidade.
Essa proposta ainda estabelece nove tópicos sobre a formação do pedagogo
e o curso de Pedagogia, nos quais indica as competências e habilidades que o curso
deverá desenvolver em seus estudantes; fala sobre os conteúdos básicos, os de
aprofundamento e/ou diversificação da formação e os estudos independentes;
discorre sobre a duração do curso, a prática pedagógica e sobre o trabalho de
conclusão de curso; define a estrutura geral do curso e os princípios que devem
nortear essa estrutura e, por fim, fala sobre a avaliação do aluno.
Quanto aos conteúdos básicos, ou núcleo de estudos básicos, a proposta diz
que eles devem estar presentes na estrutura curricular e relacionados:
a) ao contexto histórico e sócio-cultural, compreendendo os
fundamentos filosóficos, históricos, políticos, econômicos,
sociológicos, psicológicos e antropológicos necessários para a
reflexão crítica nos diversos setores da educação na sociedade
contemporânea.
b) ao contexto da educação básica, compreendendo:
1. o estudo dos conteúdos curriculares da educação básica
escolar;
2. os conhecimentos didáticos; as teorias pedagógicas em
articulação às metodologias; tecnologias de informação e
comunicação e suas linguagens específicas aplicadas ao ensino.
3. o estudo dos processos de organização do trabalho pedagógico,
gestão e coordenação educacional;
4. o estudo das relações entre educação e trabalho, entre outras,
demandadas pela sociedade.
c) ao contexto do exercício profissional em âmbitos escolares e não-
escolares, articulando saber acadêmico, pesquisa e prática
educativa. (grifos nossos).
(CEEP, 1999, p. 2-3)
Focando nosso interesse neste trabalho podemos entender que a proposta da
CEEP também entende o curso de Pedagogia como responsável pela formação do
professor de Matemática dos primeiros anos de escolarização. E pela exposição do
núcleo de estudos básicos, é de responsabilidade do curso oferecer em seu
88
currículo o estudo dos conteúdos curriculares da Educação Básica, garantindo assim
os conteúdos da área de atuação do pedagogo, e isso inclui a disciplina de
Matemática.
2.7.3- Os Institutos Superiores de Educação e a Formação de
Professores
Os Institutos Superiores de Educação, por meio do art. 62 e do art. 63 da Lei
9.394/1996, ficaram responsáveis por manter cursos de formação de professores
para Educação Básica, porém, somente em 1999 pela Resolução CNE/CP
43
1, de
30 de setembro, é que esses Institutos foram regulamentados. Silva (2006)
esclarece que a eminência da aprovação da referida Resolução fez com que os
educadores, que se sentiam ameaçados quanto ao futuro do curso de Pedagogia,
apoiassem mais fortemente a Proposta de Diretrizes Curriculares elaborada pela
CEEP em 06 de maio de 1999.
O artigo da Resolução CNE/CP nº 1/1999, que regulamenta os Institutos
Superiores de Educação, estabelece que:
Art. Os institutos superiores de educação, de caráter profissional,
visam à formação inicial, continuada e complementar para o
magistério da educação básica, podendo incluir os seguintes cursos
e programas:
I - curso normal superior, para licenciatura de profissionais
em educação infantil e de professores para os anos iniciais do
ensino fundamental;
II - cursos de licenciatura destinados à formação de docentes
dos anos finais do ensino fundamental e do ensino médio;
III - programas de formação continuada, destinados à
atualização de profissionais da educação básica nos diversos níveis;
IV - programas especiais de formação pedagógica, destinados a
portadores de diploma de nível superior que desejem ensinar nos
anos finais do ensino fundamental ou no ensino médio, em áreas de
conhecimento ou disciplinas de sua especialidade, nos termos da
Resolução CNE nº 2/97
44
;
V - formação pós-graduada, de caráter profissional, voltada para
a atuação na educação básica. (grifo nosso).
(BRASIL, CNE/CP, 1999, p. 1)
43
CP: Conselho Pleno.
44
Essa Resolução dispõe sobre os programas especiais de formação pedagógica de docentes para
as disciplinas do currículo do Ensino Fundamental, do Ensino Médio e da Educação Profissional em
nível médio.
89
Sobre o Curso Normal Superior, a referida Resolução dispõe em seu artigo 6º,
inciso I e II, que tal curso será aberto aos concluintes do Ensino Médio e que deverá
preparar profissionais capazes de:
I - na formação para a educação infantil, promover práticas
educativas que considerem o desenvolvimento integral da criança a
seis anos, em seus aspectos físico, psico-social e cognitivo-
lingüístico;
II - na formação para o magistério dos anos iniciais do ensino
fundamental, conhecer e adequar os conteúdos da língua
portuguesa, da matemática, de outras linguagens e códigos, do
mundo físico e natural e da realidade social e política, de modo a
assegurar sua aprendizagem pelos alunos a partir de seis anos (grifo
nosso).
(BRASIL, CNE/CP, 1999, p. 3)
Ainda sobre o Curso Normal Superior, o parágrafo do artigo 6º estabelece
sobre a atuação dos profissionais egressos do curso e sobre a sua diplomação:
§ 3º A conclusão de curso normal superior dará direito a diploma de
licenciado com habilitação para atuar na educação infantil ou para a
docência nos anos iniciais do ensino fundamental.
(BRASIL, CNE/CP, 1999, p. 4)
Fica clara a intenção do Conselho Pleno, quanto à função do Curso Normal
Superior e ao destino dos profissionais egressos desse curso. O curso se voltará à
formação de professores para a Educação Infantil e para os anos iniciais do Ensino
Fundamental, de modo que podemos nos perguntar se o curso de Pedagogia
deixaria a sua função de formar professores. Como ficaria, novamente, a situação do
curso de Pedagogia? Se no artigo 62 da LDB/1996 diz que a formação de
professores para a Educação Básica se dará em nível superior admitindo como
formação mínima, para atuar nos anos iniciais, a do magistério de 2º Grau por que
não continuar oferecendo tal formação em cursos de licenciaturas plenas, e aí,
incluindo-se o curso de Pedagogia? Por que essa tendência na lei de criar outro
locus de formação de professores? Haveria mesmo essa necessidade? Não temos a
intenção de responder os questionamentos colocados, apenas queremos suscitar
reflexões, da mesma forma que eles nos fizeram refletir.
A situação anunciada na Resolução CNE/CP 1/1999 foi acentuada e
assegurada pelo Parecer CNE/CES
45
970, de 9 de novembro de 1999. Esse
Parecer retira a possibilidade de o curso de Pedagogia voltar-se à formação de
docentes para as séries iniciais do Ensino Fundamental e para a Educação Infantil.
45
Câmara de Educação Superior.
90
Julgamos que, conforme o estabelecido no Parecer
46
CES 115/99, a
criação de cursos específicos para a formação de professores para
as SIEF [séries iniciais do Ensino Fundamental] e EI [Educação
Infantil], com projeto pedagógico próprio, que contemple o equilíbrio
entre as matérias pedagógicas e aquelas destinadas a oferecer aos
futuros docentes o domínio necessário das áreas de conhecimento
que integram as Diretrizes e Parâmetros Curriculares para esses
níveis de ensino, consiste opção correta.
Por esta razão, julgamos que não devem mais ser autorizadas as
habilitações para magistério nas SIEF e EI nos cursos de
Pedagogia, mas tão somente Cursos Normais Superiores. (grifos
nossos).
(BRASIL, CNE/CES, 1999, p.2)
Houve várias manifestações contrárias. O conselheiro Jacques Velloso fez
uma declaração de voto expondo os motivos pelos quais discordava do Parecer.
Houve também manifestações por parte das universidades e entidades acadêmicas
ligadas ao assunto, como a ANFOPE. Segundo Silva (2006), as intensas
manifestações levaram o Conselho Pleno do Conselho Nacional de Educação a
pensar na reversão de tal Parecer. Esse Conselho marcou uma reunião para discutir
o assunto no dia 7 de dezembro de 1999. No entanto, tal reunião nem chegou a
acontecer. A posição da Câmara de Educação Superior (CES), explicitada por meio
do Parecer CNE/CES 970/1999, foi socorrida pelo Decreto Presidencial 3.276,
de 6 de dezembro de 1999.
O Decreto nº 3.276/1999 dispõe sobre a formação em nível superior de
professores para atuar na Educação Básica. Ele vem regulamentar os artigos 61, 62,
63 da LDB/1996, confirmando o que a CES pretendia no Parecer CNE/CES 970.
No artigo 3º, § 2º, o decreto dispõe que:
Art. 3º...
§ 1º...
§ 2º A formação em nível superior de professores para a atuação
multidisciplinar, destinada ao magistério na educação infantil e nos
anos iniciais do ensino fundamental, far-se-á exclusivamente em
cursos normais superiores (grifo nosso).
(BRASIL, PRESIDÊNCIA DA REPUBLICA, 1999, p. 1)
46
O Parecer CES 115/1999 diz respeito aos Institutos Superiores de Educação e aos Normais
Superiores. “Neste Parecer [nº 115/1999] a importância da criação dos Institutos Superiores de
Educação e dos Cursos Normais Superiores foi justificada em termos da necessidade de uma
profunda renovação da formação inicial dos professores para a educação básica, a qual deveria ser
feita em cursos profissionais específicos, com projetos pedagógicos próprios, eliminando-se portando,
a possibilidade de que a Licenciatura fosse oferecida de forma regular como mero adendo de
matérias pedagógicas a um curso organizado como bacharelado. Inversamente não se deveria
também conceber que a formação para o magistério nas SIEF e da EI fosse oferecida como mero
adendo aos cursos regulares de pedagogia, cuja finalidade é outra” (grifos do autor) (BRASIL,
CNE/CES, 1999, p.2).
91
Com esse Decreto, a formação de professores para os anos iniciais do Ensino
Fundamental, bem como para a Educação Infantil, fica exclusivamente a cargo dos
Cursos Normais Superiores, expropriando, desse modo, o curso de Pedagogia
dessa função. Qual seria, então, a função do curso de Pedagogia, visto que a
formação do magistério em nível de Ensino Médio estava se extinguindo
gradativamente?
Os, então, Pró-Reitores de Graduação das três universidades estaduais
paulistas, Ada Pellegrini Grinover (USP), Ângelo Luiz Cortelazzo (UNICAMP) e Maria
Aparecida Viggiani Bicudo (UNESP), se posicionaram contra o Decreto
3.276/1999, entendendo-o como “inconstitucional, extremamente autoritário, não
respeita a história da educação brasileira e compromete a formação de
professores(...) é um ato inconstitucional por não ser admissível que um decreto
ultrapasse a lei” (GRINOVER, CORTELAZZO, BICUDO, 2000, p. 3).
Os mesmos autores se perguntam o que estaria por traz de tal ato do
executivo, quais seriam os interesses imperiosos a ponto de não aguardarem as
decisões do órgão governamental competente para discutir e opinar sobre questões
educacionais.
O artigo 87 (parágrafo 3º inciso III) da LDB/1996 institui que o Distrito Federal,
cada Estado e Município e, supletivamente, a União devem: “realizar programas de
capacitação para todos os professores em exercício, utilizando também, para isto, os
recursos da educação a distância”. Diante dessa determinação da LDB/1996 e do
Decreto Presidencial, Grinover, Cortelazzo e Bicudo (2000, p. 3), questionam:
Dada a abrangência e complexidade da realidade existente no
território nacional no que concerne à habilitação de professores, que
nos mostra professores lecionando sem formação nima,
interesse de o governo apressar a capacitação desses
profissionais, lançando mão do “treinamento em serviço” por
meio de educação a distância? Estaria a formação em cursos
normais superiores associada a algum intento de produzir
estatísticas que mascarem a real situação do ensino? (grifos
nossos).
também posições favoráveis ao ato do Executivo. Segundo o então
Ministro da Educação, Paulo Renato de Souza, os cursos de Pedagogia não têm a
tradição de formar professores para os primeiros anos de escolarização, os quais, ao
longo da história, ficaram sob a responsabilidade dos Cursos Normais de nível
médio, daí a idéia de criação dos Cursos Normais Superiores exclusivamente para
esse fim. Os cursos de Pedagogia continuariam a existir, porém, somente com a sua
92
função tradicional de formar profissionais não-docentes administradores,
supervisores, inspetores escolares, orientadores educacionais e também para
exercerem a docência das disciplinas pedagógicas nas outras licenciaturas. Souza
(2000, p. 4), afirma que esse novo sistema
trará benefícios sobretudo à qualificação dos professores. Com
conteúdos mais densos e dirigidos ao ofício de bem ensinar, os
futuros docentes desfrutarão de uma estrutura que permitirá a
montagem de cursos de primeira classe. O sistema ganha em
qualidade. A começar pela carga horária ampla aprovada, de 3.200
horas-aula, e pela associação ao longo do curso de teoria e prática.
O último parágrafo do texto, publicado pelo ministro Paulo Renato de Souza,
nos leva a entender que um dos objetivos do governo era aumentar o número de
professores formados em nível superior, e esse novo sistema ajudaria a cumprir
essa meta, como inferido pelos pró-reitores Grinover, Cortelazzo e Bicudo.
O decreto teve como objetivo marcar a posição do governo com
relação ao que pensamos sobre a formação de professores, cuja
qualidade é uma das nossas principais bandeiras. É uma meta que
se justifica fartamente, uma vez que as redes escolares do país
possuem ainda 73 mil professores no ensino fundamental sem a
formação mínima necessária (grifos nossos)
(SOUZA, 2000, p.4)
Como era de se esperar, o Decreto Presidencial nº 3.276/1999 gerou
controvérsias. Ações de resistência a tal ato do Poder Executivo, tanto de entidades
organizadas, quanto da comunidade acadêmica como um todo
47
, como relatado,
fizeram com que as decisões tomadas fossem repensadas e esse Decreto viesse a
sofrer modificações.
O Parecer CNE/CP nº 10, de 9 de maio de 2000, relatado por Roberto Cláudio
Frota Bezerra, propôs substituir o termo exclusivamente por preferencialmente.
Desse modo, no dia 7 de agosto de 2000, o Presidente da República, por meio do
Decreto 3.554/2000, deu nova redação ao § 2
o
do art. 3
o
do Decreto n
o
3.276/1999, que passa a vigorar com a seguinte redação:
Art. 3º...
47
“No dia seguinte ao decreto presidencial, uma carta aberta de oito conselheiros da Câmara de
Educação Básica do CNE dirigida às universidades, sociedade científica e entidades profissionais
relacionadas à educação recrimina o Ato do Executivo. Tais entidades, por sua vez, mobilizaram-se
através da criação do Fórum em Defesa da Formação de Professores, o qual foi composto,
inicialmente, por 11 delas: ANDES/ Sindicato Nacional (SN), ANFOPE, ANPED, ANPAE [Associação
Nacional de Política e Administração da Educação], ABT, CEDES, Comissão de Especialistas de
Ensino de Pedagogia, Fórum de Diretores das Faculdades/ Centros de Educação das Universidades
Públicas Brasileiras, Fórum Paulista de educação infantil, Fórum Paulista de Pedagogia e Fórum
Nacional em Defesa da Escola Pública” (SILVA, 2006, p.85).
93
§ 1º...
§ 2
o
A formação em nível superior de professores para a atuação
multidisciplinar, destinada ao magistério na educação infantil e nos
anos iniciais do ensino fundamental, far-se-á, preferencialmente,
em cursos normais superiores (grifo nosso).
(BRASIL, PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, 2000, p.1)
Mas, a decisão tomada pelo Decreto 3.554/2000, provocada pelo Parecer
CNE/CP 10/2000, não foi pacífica dentro do CNE/CP. O Parecer 10/2000 teve
voto em separado dos Conselheiros Lauro Ribas Zimmer, Eunice Ribeiro Durham,
Sylvia Figueiredo Gouvêa e Yugo Okida que não estavam de acordo com a decisão.
A conselheira Eunice Ribeiro Durham expõe suas objeções em três aspectos: quanto
ao conteúdo da proposta, quanto às dificuldades que acarretam para a autorização
de novos cursos e reconhecimento dos existentes e quanto à forma pela qual a
sugestão é apresentada.
No que diz respeito ao conteúdo (...). A lei não diz que os cursos
normais superiores serão a forma preferencial de preparação de
docentes das séries iniciais e da educação infantil ela estabelece,
ao contrário, que os cursos normais superiores são destinados à
formação desses docentes.
Quanto às conseqüências da modificação (...). Não fica claro, quando
e em que circunstâncias e com base em quais critérios será dada
preferência à criação de cursos normais superiores ou se aceitará a
formação como habilitação em cursos de Pedagogia.
Em terceiro lugar, (...). Não consta dele nenhuma argumentação
substantiva, de ordem pedagógica ou referente à política educacional
que justifique a reformulação do Decreto.
(BRASIL, CNE/CP, 2000, P.3)
Com essa nova redação, o curso de Pedagogia retomou o direito, embora
facultativo, de ser um curso de licenciatura, porém “de forma pouco qualificada ou,
pelo menos, secundarizada” (SILVA, 2006, p.85).
Os educadores e estudantes, por meio de suas entidades, queriam que
ambos os decretos fossem revogados. Segundo Silva (2006), eles apoiavam
fortemente o projeto de lei 385 do deputado Gilmar Machado. Esse projeto de lei
objetivava a sustação de ambos os decretos que feriam o curso de Pedagogia.
94
2.8- A Caminho das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso
de Pedagogia
Em 2001 um novo documento sobre o curso de Pedagogia foi elaborado pela
CEEP
48
e pela Comissão de Especialistas de Formação de Professores (CEEFP).
Aprovado em 2 de fevereiro, recebeu o nome de Documento Norteador para
Comissões de Autorização e Reconhecimento do Curso de Pedagogia.
Esse documento expõe no início os objetivos do curso de Pedagogia:
(...) a formação do profissional para atuar:
no magistério : da educação infantil, dos anos iniciais do ensino
fundamental e da formação pedagógicas do profissional docente;
na gestão do trabalho pedagógico na educação formal e não-
formal.
(CEEP; CEEFP, 2001, p.1)
Ainda dentro dos objetivos do curso, a comissão fala sobre o trabalho docente
e a identidade profissional do pedagogo, explicitando que o primeiro será o principal
articulador da formação, e que a base da identidade do pedagogo será a docência
nos anos iniciais do Ensino Fundamental e na Educação Infantil.
O trabalho pedagógico será o principal articulador dessa formação,
sendo a docência, na educação infantil e nos anos iniciais do ensino
fundamental, a base da organização curricular e da identidade
profissional.
(CEEP; CEEFP, 2001, p.1)
O Documento trata ainda do projeto acadêmico do curso de Pedagogia e das
dimensões que ele deve abarcar e da duração do curso. Ele indica que o curso de
Pedagogia dever ser estruturado em projetos acadêmicos distintos, expondo as
áreas de atuação. Desse modo, o documento define essas áreas:
1. Magistério da educação infantil, formação pedagógica do
profissional docente, gestão educacional;
2. Magistério das séries iniciais do ensino fundamental, formação
pedagógica do profissional docente, gestão educacional.
(CEEP; CEEFP, 2001, p.2)
Portanto, o Documento elaborado pela CEEP e CEEFP distingue duas
modalidades específicas de docência para a atuação do pedagogo na Educação
Infantil e nas séries iniciais do Ensino Fundamental adicionando a essas duas
modalidades o magistério de formação pedagógica do profissional docente e a
48
Essa comissão é composta por membros designados para o período de 2000 a 2002.
95
gestão educacional. O primeiro se refere à formação do pedagogo para atuar como
professor de disciplinas relacionadas à docência e ao processo de ensino-
aprendizagem em “curso normal em nível médio/superior, programas especiais de
formação pedagógica, licenciaturas, programas de educação continuada, etc.”
(CEEP; CEEFP, 2001, p.2). E o segundo se refere ao desenvolvimento de atividades
como “planejamento, coordenação, acompanhamento e avaliação do processo
educativo formal e não formal”. (CEEP; CEEFP, 2001, p.3).
Nesse mesmo ano, 2001, o Conselho Nacional de Educação aprovou o
Parecer CNE/CES 133, de 30 de janeiro de 2001
49
, que faz um esclarecimento
quanto à formação de professores para atuar na Educação Infantil e nos anos
iniciais do Ensino Fundamental. Depois de apresentar alguns argumentos pautados
em leis, a comissão composta pelos relatores Éfrem de Aguiar Maranhão, Silke
Weber, Francisco sar de Sá Barreto, Roberto Cláudio Frota Bezerra, emitiu o
seguinte voto:
A oferta de cursos destinados à formação de professores de nível
superior para atuar na Educação Infantil e nos Anos iniciais do
Ensino Fundamental obedecerá aos seguintes critérios:
a) quando se tratar de universidades e de centros universitários, os
cursos poderão ser oferecidos preferencialmente como Curso
Normal Superior ou como curso com outra denominação, desde
que observadas as respectivas diretrizes curriculares;
b) as instituições não-universitárias terão que criar Institutos
Superiores de Educação, caso pretendam formar professores em
nível superior para Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino
Fundamental, e esta formação deverá ser oferecida em Curso
Normal Superior, obedecendo ao disposto na Resolução CNE/CP
1/99 (grifos nossos).
(BRASIL, CNE/CES, 2001, p. 3)
Por meio desse Parecer, vemos que a Câmara de Educação Superior evita,
por motivos desconhecidos, usar o nome “curso de Pedagogia” para designar os
cursos de formação de professores para a Educação Infantil e anos iniciais do
Ensino Fundamental.
Silva (2006, p.88) questiona o significado do que anda acontecendo ao curso
de Pedagogia no âmbito da legislação, afirmando que:
Há, na verdade, uma grande apreensão a respeito dos novos rumos
a serem traçados para o curso de pedagogia no Brasil, uma vez que,
até o momento, o que existe é o silêncio, ou então documentos que
determinam o que ele não pode fazer, ou o que ele não tem a
49
Mesma época em que a CEEP e CEEFP elaboraram o Documento norteador para comissões de
autorização e reconhecimento de cursos de Pedagogia.
96
preferência para fazer, ou até que optam por seu nome não aparecer.
O que se tem questionado é o significado de tudo isso.
Em 2002 foi homologada a Resolução
50
CNE/CP1, de 18 de fevereiro, que
institui as DCN para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível
superior, curso de licenciatura, de graduação plena. Essa Resolução está
fundamentada em dois Pareceres homologados em 2001 que dispõem sobre o
mesmo assunto, a saber, o Parecer CNE/CP nº 9, de 8 de maio e o Parecer CNE/CP
nº 27, de 2 de outubro.
Tal Resolução, ao tratar em seu art. 7º sobre a organização institucional da
formação de professores, determina que:
VIII- nas instituições de ensino superior não detentoras de autonomia
universitária serão criados Institutos Superiores de Educação, para
congregar os cursos de formação de professores que ofereçam
licenciaturas em curso Normal Superior para docência multidisciplinar
na educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental ou
licenciaturas para docência nas etapas subseqüentes da educação
básica.
(BRASIL, CNE/CP, 2002, p. 4)
Desse modo, fica estabelecido a criação de Institutos Superiores de
Educação, para o oferecimento do curso Normal Superior, responsável pela
Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental e, portanto, não aventa a
possibilidade de abertura de cursos de Pedagogia, visto que essa Resolução está
respaldada na Lei que dá preferência ao curso Normal Superior, por meio dos
decretos que regulamentam os artigos 61, 62, 63 da LDB/1996. E, tal Resolução
está também de acordo com a Resolução CNE/CP 1/1999 e com o Parecer
CNE/CES nº 133/2001.
No parágrafo único da Resolução CNE/CP 1/2002, é estabelecido que nas
licenciaturas em Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental aqui
podemos entender nos cursos de Pedagogia e nos cursos Normal Superior?
“deverão preponderar os tempos dedicados à constituição de conhecimento sobre
os objetos de ensino” (BRASIL, CNE/CP, 2002, p. 5). O que seriam esses objetos de
ensino que deverão ser estudados predominantemente durante o curso? Estaria a
Resolução dizendo da dedicação às disciplinas de conteúdo ngua Portuguesa,
Matemática, Ciências Naturais, Ciências Sociais?
50
Essa Resolução foi alterada pela Resolução CNE/CP n.º 2, de 27 de agosto de 2004, que adia o
prazo previsto no art. 15 desta Resolução e pela Resolução CNE/CP n.º 1, de 17 de novembro de
2005, que acrescenta um parágrafo ao art. 15 da Resolução CNE/CP nº 1/2002
97
Sabe-se que em 2001 e 2002 vários cursos de graduação estavam com suas
DCN aprovadas ou em processo de aprovação no CNE, enquanto que para o curso
de Pedagogia havia o silêncio no que concerne a suas diretrizes.
O CNE, no ano de 2003, formou uma Comissão Bicameral, composta por
conselheiros da CES e da Câmara de Educação Básica (CEB), com o objetivo de
definir as DCN para o Curso de Pedagogia. Em função da renovação periódica de
membros do CNE, a Comissão Bicameral
51
foi recomposta no ano de 2004 com a
incumbência de “tratar das matérias referentes à formação de professores, dando
prioridade às diretrizes curriculares para o curso de Pedagogia” (BRASIL, CNE/CP,
2005, p.1).
Em 2005, essa comissão submeteu a primeira versão do projeto de
Resolução que define as diretrizes para o curso de Pedagogia à apreciação da
comunidade educacional. No período de março a outubro do mesmo ano, o CNE
recebeu inúmeras críticas, comentários, sugestões, etc. referentes ao projeto.
De acordo com Cruz (2008, p. 66),
Essa primeira versão incorporou as perspectivas organizativas para o
Curso Normal Superior, limitando em vários aspectos as
possibilidades formativas até então possíveis ao Curso de
Pedagogia. De acordo com o proposto, o curso, definido como uma
licenciatura, formaria essencialmente os professores para atuarem
na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental.
Segundo a mesma autora, várias universidades e entidades se posicionaram
contra o projeto de DCN proposto pelo CNE. Em seu trabalho, Cruz (2008, pp 66 -
67) apresenta algumas críticas referentes a esse projeto de Resolução:
ele contrariou as aspirações históricas dos educadores; reduziu o
Curso de Pedagogia ao que se pretendeu estabelecer para o Curso
Normal Superior; desconsiderou o Curso de Pedagogia como o
espaço acadêmico de que a universidade brasileira dispõe para os
estudos sistemáticos e avançados na área de educação; e não levou
em conta a proposta da CEEP.
51
A Comissão foi composta pelos conselheiros, Clélia Brandão Alvarenga Craveiro, Petronilha Beatriz
Gonçalves e Silva, Antônio Carlos Caruso Ronca, Anaci Bispo Paim, Arthur Fonseca Filho, Maria
Beatriz Luce e Paulo Monteiro Vieira Braga Barone.
98
2.8.1- Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia
52
No dia 13 de dezembro de 2005, foi aprovado por unanimidade o Parecer
CNE/CP 5 sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Pedagogia.
Tal Parecer, segundo seus relatores,
leva em conta proposições formalizadas, nos últimos 25 anos, em
análises da realidade educacional brasileira, com a finalidade de
diagnóstico e avaliação sobre a formação e atuação de professores,
em especial na Educação Infantil e anos iniciais do Ensino
Fundamental, assim como em cursos de Educação Profissional para
o Magistério e para o exercício de atividades que exijam formação
pedagógica e estudo de política e gestão educacionais
(BRASIL, CNE/CP, 2005, p.1)
O Parecer, apesar de ter sido aprovado por unanimidade, recebeu declaração
de voto, em separado, de três conselheiros, a saber, César Callegari, Francisco
Aparecido Cordão e Paulo Monteiro Vieira Braga Barone.
O conselheiro César Callegari diz da existência de algo “restritivo ao que
dispõe o artigo 64 da Lei nº 9.394/96” (BRASIL, CNE/CP, 2005, p. 17). A Lei
determina que a formação de profissionais para as atividades de administração,
planejamento, inspeção e orientação educacional para a Educação Básica será
realizada em cursos de Pedagogia ou em nível de pós-graduação, desde que
garantida a base comum nacional, enquanto que o artigo 14 do projeto de resolução
presente no Parecer CNE/CP 5/2005 diz que a formação dos especialistas em
educação se dará em cursos de pós-graduação, especialmente estruturados para
esse fim, e abertos a todos os licenciados. Logo o conselheiro conclui que aquilo
que a Lei dispõe, uma outra Lei poderá dispor em contrário” (BRASIL, CNE/CP,
2005, p. 18).
Em função desse voto, o Parecer foi objeto de pedido de reexame pelo
Ministério da Educação e encaminhado à CNE/CES, a qual reestudou a matéria,
especificamente quanto à redação do artigo 14, culminando na aprovação do
Parecer CNE/CP 3, de 21 de fevereiro de 2006. Tal Parecer retifica o artigo 14 do
Parecer CNE/CP nº 5/2005, apresentando-o da seguinte maneira:
Art. 14. A Licenciatura em Pedagogia nos termos do Parecer
CNE/CP 5/2005 e desta Resolução assegura a formação de
52
Não pretendemos nesse tópico deste capítulo fazer um estudo detalhado das Diretrizes
Curriculares Nacionais para o curso de Pedagogia, pois, existem vários artigos que o fazem. O que
pretendemos é apenas evidenciar alguns aspectos que achamos relevantes para o interesse desta
pesquisa.
99
profissionais da educação prevista no art. 64, em conformidade com
o inciso VIII do art. 3º da Lei nº 9.394/96.
§ Esta formação profissional também poderá ser realizada em
cursos de pós-graduação, especialmente estruturados para este fim
e abertos a todos os licenciados.
§ Os cursos de pós-graduação indicados no § deste artigo
poderão ser complementarmente disciplinados pelos respectivos
sistemas de ensino, nos termos do Parágrafo único do art. 67 da Lei
nº 9.394/96.
(BRASIL, CNE/CP, 2006, p. 3)
Tal Parecer foi aprovado, como relatado acima, contudo, essa decisão não foi
unânime. O então conselheiro Francisco Aparecido Cordão votou contrariamente à
proposta apresentada no Parecer CNE/CP 3/2006, que altera o artigo 14 do
Projeto de Resolução que acompanha o Parecer CNE/CP 5/2005 e fez uma
declaração de voto. Argumenta que a alteração “desconfigura o que tem de mais
inovador no texto aprovado em dezembro último (...) e que representa uma afronta
às Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação de Professores da Educação
Básica” (BRASIL, CNE/CP, 2006, p. 4), reafirmando, ainda, que tal emenda
retificativa proposta pela Comissão Bicameral de Formação de Professores
“transforma o curso de Pedagogia em um curso genérico e desfigurado, sem
condições de contribuir efetivamente tanto para a valorização dos professores e da
sua formação inicial quanto para o aprimoramento da Educação Básica no Brasil”
(BRASIL, CNE/CP, 2006, p. 4).
Como sabemos, as DCN para o curso de Pedagogia tiveram sua origem em
1999 com a proposta da CEEP. Depois de acertos e desacertos, somente em 2006 é
que realmente foram concretizadas. Assim, as Diretrizes Curriculares Nacionais para
o Curso de Pedagogia, licenciatura, foram instituídas pela Resolução
53
CNE/CP nº 1,
de 15 de maio de 2006, pautadas no Parecer CNE/CP 5/2005 e no Parecer
CNE/CP nº 3/2006.
As DCN do curso de Pedagogia, em seu artigo 1º, anunciam o que pretende:
definir princípios, condições de ensino e de aprendizagem, procedimentos a serem
observados no planejamento e na avaliação pelos órgãos de ensino e pelas
instituições de Educação Superior do país.
Vimos que durante anos os educadores buscaram a identidade do curso de
Pedagogia, acabando por entendê-la como docência, ou seja, a base da identidade
53
Depois de 37 anos, por meio da Resolução CNE/CP 1, de 15/05/2006, em seu artigo 15, a
Resolução CFE nº 2, de 12/5/1969, foi revogada.
100
de todo educador e, portanto, do pedagogo, se daria na e pela docência
54
. No
decorrer dos anos, ela foi sendo delineada como docência na Educação Infantil e
nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Sabemos que a docência nessas fases do
ensino era anteriormente contemplada apenas pelas instituições que se propunham
a assumir uma proposta pedagógica configurada dessa maneira, de modo que hoje,
por meio das DCN para o curso de Pedagogia, ela se configura como o principal
objetivo formulado para o curso.
Art. O curso de Licenciatura em Pedagogia destina-se à formação
de professores para exercer funções de magistério na Educação
Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de
Ensino Médio, na modalidade Normal, de Educação Profissional na
área de serviços e apoio escolar e em outras áreas nas quais sejam
previstos conhecimentos pedagógicos. (grifos nossos).
(BRASIL, CNE/CP, 2006, p. 2)
Além das atividades docentes esboçadas acima, as DCN para o curso de
Pedagogia dispõem, no parágrafo único do artigo 4º, que o curso também se destina
a formar profissionais que se dediquem à organização e gestão de sistemas e
instituições de ensino. E, no artigo 14, como já comentamos, o curso deve ter o
objetivo de formar profissionais da educação como previsto no artigo 64 da
LDB/1996, ou seja, formar administradores, planejadores, inspetores, supervisores e
orientadores educacionais.
O artigo da Resolução CNE/CP 1/2006 diz sobre o perfil do egresso do
curso de Pedagogia, ou ainda, sobre o que ele deverá estar apto a fazer. Entre os
dezesseis itens trazidos pelo documento nesse artigo, explicitaremos um item
pertinente à nossa discussão:
Art. 5º (...)
VI - ensinar ngua Portuguesa, Matemática, Ciências, História,
Geografia, Artes, Educação Física, de forma interdisciplinar e
adequada às diferentes fases do desenvolvimento humano. (grifo
nosso).
(BRASIL, CNE/CP, 2006, p. 2)
As Diretrizes indicam que a estrutura do curso de Pedagogia deverá se
constituir de três grandes núcleos: Núcleo de estudos básicos, núcleo de
aprofundamento e diversificação de estudos e núcleo de estudos integradores.
O núcleo de estudos básicos, entre outras finalidades, é responsável pela:
Art. 6º (...)
54
Essa não é a única posição defendida para a identidade do pedagogo e conseqüentemente para o
curso de Pedagogia. Falaremos sobre isso mais à frente.
101
I - (...)
i) decodificação e utilização de códigos de diferentes linguagens
utilizadas por crianças, além do trabalho didático com conteúdos,
pertinentes aos primeiros anos de escolarização, relativos à Língua
Portuguesa, Matemática, Ciências, História e Geografia, Artes,
Educação Física. (grifos nossos).
(BRASIL, CNE/CP, 2006, p. 3)
o núcleo de aprofundamento e diversificação de estudos estará
direcionado às áreas de atuação profissional presentes no projeto pedagógico das
instituições, enquanto que o núcleo de estudos integradores será o responsável por
oferecer o enriquecimento curricular.
Quanto à integralização de estudos, a Resolução CNE/CP 1/2006
determina que ela deve ser feita por meio de disciplinas, seminários e atividades de
natureza predominantemente teórica, práticas de docência e gestão educacional,
atividades complementares e estágio curricular, realizado preferencialmente na
Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, totalizando 3.200
horas, carga horária mínima para o curso de Licenciatura em Pedagogia.
A Resolução CNE/CP nº 1/2006, em seu artigo 9º, determina que todos os
cursos existentes e os que forem criados em instituições com ou sem autonomia
universitária, que se voltem para a formação de professores para a Educação Infantil
e anos iniciais do Ensino Fundamental, deverão cumprir as determinações dispostas
na referida Resolução.
Determina também, em seu artigo 10 que as habilitações ainda oferecidas
pelos cursos de Pedagogia entrarão em regime de extinção a partir do período
seguinte à publicação da Resolução, ou seja, a partir do segundo semestre de 2006.
Portanto, não se prevêem habilitações, mas uma licenciatura plena que habilite o
licenciado em Pedagogia a exercer, além das funções de magistério, às relativas à
administração escolar, inspeção escolar, supervisão escolar, orientação educacional
e ao planejamento educacional para a Educação Básica.
Ao olharmos atentamente para a formação do professor de Matemática dos
anos iniciais na ótica das DCN para o curso de Pedagogia, vemos que elas
estabelecem, em seu artigo 6º, que o núcleo de estudos básicos articulará o trabalho
didático com os conteúdos presentes na Educação Básica e, portanto, se referem
também ao trabalho didático com os conteúdos matemáticos. Sem dúvida esse
trabalho é algo muito importante para a formação e para a atuação do pedagogo.,
porém, acreditamos que é possível focar a dimensão didática se um domínio
102
dos conteúdos a serem trabalhados. Na proposta ora aprovada não fica evidente o
estudo dos conteúdos específicos que fazem parte da Educação Básica e, por
conseguinte, o estudo dos conteúdos de Matemática.
As Diretrizes estabelecem ainda, que o pedagogo deve estar apto a ensinar,
entre outras disciplinas que compõem a Educação Básica em sua primeira fase, a
disciplina de Matemática de modo interdisciplinar com as outras áreas do
conhecimento. Entretanto, diferente da proposta apresentada pela CEEP em 1999
que propõe o estudo dos conteúdos curriculares presentes na Educação Básica
escolar e, portanto, o estudo dos conteúdos de Matemática, nas DCN de 2006
propõe-se focar somente o trabalho didático com os conteúdos durante a formação
do profissional, não ficando evidente a recomendação do trabalho com os
conteúdos específicos e, deste modo, com os conteúdos matemáticos.
2.8.2- Repercussão das DCN para o Curso de Graduação em Pedagogia
na Comunidade de Educadores.
Em dezembro de 2006, as entidades da área da Educação
55
fizeram um
pronunciamento em relação às DCN para o curso de graduação em Pedagogia.
Afirmaram que a aprovação das Diretrizes representa um avanço histórico no campo
da formação de professores, em especial de professores para a Educação Infantil e
para os anos iniciais do Ensino Fundamental. Disseram ser um avanço também no
que diz respeito à formação de profissionais para as funções de administração,
supervisão, planejamento, inspeção e orientação educacional.
Esse avanço histórico foi justificado pelas entidades em quatro itens que
sintetizaremos a seguir. Primeiramente porque as Diretrizes definem de maneira
clara que o curso de licenciatura em Pedagogia é o responsável
56
pela formação de
professores para atuarem na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino
Fundamental. Em segundo, porque as Diretrizes definem que a formação “para o
exercício do magistério deve articular-se à formação para a produção de
conhecimento em educação e para a gestão educacional, na perspectiva da gestão
55
ANPED, ANFOPE, ANPAE, CEDES, FORUMDIR- Fórum de Diretores das Faculdades/ Centros de
Educação das Universidades Públicas Brasileiras.
56
Mas não é o curso exclusivo que oferece formação para essa fase de ensino. Pois ainda os
Institutos Superiores de Educação que ofertam o Curso Normal Superior.
103
democrática” (ANFOPE; ANPED; ANPAE; CEDES; FORUMDIR, 2006, pp.1361-
1362). Desse modo, as entidades acreditam que se está rompendo com a formação
“fragmentada” e “aligeirada” dos profissionais da educação em torno das habilitações
específicas. Em terceiro porque as Diretrizes reconhecem e materializam a produção
teórica dos últimos vinte anos sobre a formação de professores e, por fim, por que
consolidam a experiência construída pelos cursos de Pedagogia das Instituições
públicas de Ensino Superior alocadas em diversas regiões do País.
Compreendemos que para as entidades da área de Educação, as Diretrizes
materializam as principais aspirações expostas para o curso de Pedagogia, ou seja,
elas concretizam as bandeiras do Movimento em prol da formação do educador,
defendidas ao longo dos anos de sua existência. Uma das bandeiras mais
fortemente defendidas e contempladas pelas Diretrizes é a docência como base da
formação de todo educador e de sua identidade profissional. Desse modo, o curso
de Pedagogia tem a base de sua identidade na docência dos anos iniciais do Ensino
Fundamental e da Educação Infantil.
No entanto, vários educadores, isoladamente, se posicionaram quanto às
DCN para o curso de Pedagogia. Entre esses posicionamentos, o de Libâneo (2006-
a) nos chamou a atenção, pois se contrapõe não apenas à Legislação em vigor, mas
também à posição defendida pelas entidades da área da Educação, principalmente
pela ANFOPE. O autor fala especificamente de imprecisões teóricas presentes nas
Diretrizes do curso de Pedagogia e de concepções estreitas sobre a formação
profissional de educadores. Afirma que “imprecisão conceitual com relação a
termos centrais da teoria pedagógica: educação, pedagogia, docência” (2006-a, p.
846). Entre as incoerências apontadas, apresentaremos duas por entender a sua
relevância para a nossa discussão.
Libâneo (2006-a) diz que no momento em que a Resolução, em seus artigos
e 4º, estabelece que o curso de licenciatura
57
em Pedagogia se destina à
formação de professores para o exercício da docência na Educação Infantil e nos
anos iniciais do Ensino Fundamental
58
, deixa claro um reducionismo da Pedagogia à
docência. Ele afirma que:
57
Libâneo (2006) diz que o curso de licenciatura em Pedagogia poderia, de acordo com os moldes
estabelecidos pela Resolução, se chamar “Licenciatura para a Educação Infantil e Anos Iniciais”.
58
Destina-se também à formação de professores para atuarem em cursos de Ensino Médio, na
modalidade Normal, em cursos de Educação Profissional na área de serviço e apoio escolar, bem
como em outras áreas que requeiram conhecimentos pedagógicos.
104
O conteúdo da Resolução do CNE expressa uma visão estreita da
ciência pedagógica, resultado de um equívoco teórico sem
precedentes na tradição da investigação teórica da área, a
subsunção da pedagogia na docência, reduzindo a essencialidade
dos processos formativos a uma das dimensões do trabalho
pedagógico.
(LIBÂNEO, 2006-a, p. 849)
O autor compreende a docência como uma das modalidades de atividade
pedagógica a que o profissional da Educação poderá se dedicar, afirmando ainda
que a formação pedagógica é a base para a docência e não o contrário. Assim, com
base nesse raciocínio, afirma de modo enfático que
a base de um curso de pedagogia não pode ser a docência. Todo o
trabalho docente é trabalho pedagógico, mas nem todo trabalho
pedagógico é trabalho docente. Um professor é um pedagogo, mas
nem todo pedagogo precisa ser professor.
(LIBÂNEO-a, 2006, p. 850)
Mais uma incoerência evidenciada por Libâneo (2006-a) diz respeito às outras
atividades docentes definidas no texto da Resolução e que também são de
responsabilidade do Curso de Pedagogia. É estabelecido no artigo 4º, parágrafo
único, que as atividades docentes que também compreendem participação na
organização e gestão de sistemas e instituições de ensino” (grifos nossos) (BRASIL,
CNE/CP, 2006, p. 2) por meio do planejamento, coordenação, avaliação, produção e
difusão do conhecimento educacional em ambientes escolares e não escolares.
Surge, assim, uma confusão quanto ao papel do curso de Pedagogia na formação
de profissionais da educação. Libâneo (2006) critica o uso da expressão
participação na, presentes no artigo e em outros artigos da Resolução. Explica
que “não está claro se cabe ao curso apenas propiciar competências para o
professor participar da organização e da gestão ou prepará-los para assumir funções
na gestão e organização da escola” (grifos do autor) (LIBÂNEO, 2006-a, p. 845).
Assim, se a atividade docente, “aplicada a esferas que nada têm a ver com a
docência” (LIBÂNEO, 2006-a, p.846), for entendida meramente como a participação
na organização e gestão de sistemas e instituições de ensino, torna-se descabida a
afirmação do artigo 14 de que a Licenciatura em Pedagogia nos termos dos
Pareceres CNE/CP nº 5/2005 e 3/2006 e da Resolução CNE/CP nº 1/2006,
assegura a formação de profissionais da educação prevista no artigo 64 da LDB de
1996.
105
Portanto, o posicionamento de Libâneo (2006-a, p. 849) quanto às DCN para
o curso de graduação em Pedagogia se explicita da seguinte maneira:
[...] a insuficiência epistemológica, decorrente da ausência de uma
conceituação clara do campo teórico da pedagogia, originou uma
Resolução cheia de imprecisões acerca da natureza da atividade
pedagógica, do campo científico da pedagogia e seu objetivo, das
relações entre ação educativa e ação docente, entre atividade
pedagógica e atividade administrativa, comprometendo todo o
arcabouço lógico e teórico da Resolução.
2.9 - A Caminho de uma Síntese Compreensiva sobre a Formação
do Professor de Matemática dos Anos Iniciais do Ensino
Fundamental no Curso de Pedagogia
Do estudado e interpretado, tendo como norte a formação do profissional que
irá trabalhar nos anos iniciais do Ensino Fundamental com o ensino de Matemática,
egresso do Curso de Pedagogia, temos algumas considerações a apresentar.
Da trajetória do curso de Pedagogia, desde a sua criação, constatamos que
as propostas trazidas pela legislação não direcionavam para o trabalho com as
disciplinas específicas e, portanto, não focavam a disciplina de Matemática no que
diz respeito aos seus conteúdos e ao seu ensino. Primeiramente porque, até o fim
da década de 1960, o curso de Pedagogia não tinha por objetivo formar professores
para os primeiros anos de escolarização. Seu foco era formar os chamados
“técnicos” ou “especialistas” em educação, profissionais responsáveis pelos cargos
não docentes
59
administração, planejamento, orientação, supervisão e inspeção
em escolas e/ou instituições que necessitassem de conhecimentos pedagógicos e
formar professores para atuarem nas Escolas Normais com as disciplinas
pedagógicas.
Considerando a premissa de que quem pode o mais pode o menos, a partir
do início da década de 1970, os egressos do curso de Pedagogia receberam o
direito de atuar no Ensino Primário. Com esse direito outorgado entendemos que os
pedagogos exerceriam a docência de todas as disciplinas do Ensino Primário,
59
Nesse momento histórico, essas áreas de atuação do pedagogo eram entendidas como atividades
não docentes, diferente do que é expresso na Resolução CNE/CP nº 1/2006.
106
inclusive da disciplina de Matemática. Porém, constatamos que, apesar do direito
concedido, sua formação não se voltava para o trabalho a ser exercido nos anos
iniciais. Não havia disciplinas que se aprofundassem em conteúdos específicos e
uma única disciplina que focava a metodologia do ensino de Primeiro Grau,
anunciando, portanto, que o curso não preparava os profissionais para exercerem a
docência nos primeiros anos de escolarização. No entanto, com essa abertura o
curso foi se delineando em outros moldes distintos dos da época de sua criação.
O Movimento Nacional em prol dos cursos de formação de professores,
nascido na década de 1980, foi progressivamente firmando aquilo que seria um de
seus grandes lemas: A docência como base da formação e da identidade de todo
educador. Assim, o movimento, no que diz respeito ao curso de Pedagogia,
defendeu e defende a tese de que a base da identidade do pedagogo e, tão logo a
do curso de Pedagogia é a docência nos anos iniciais do Ensino Fundamental e na
Educação Infantil.
Essa bandeira defendida pelo Movimento de educadores, representado pela
ANFOPE, foi consolidada na Resolução CNE/CP 1/2006, que define a docência
nos anos iniciais do Ensino Fundamental e na Educação Infantil como a principal
área de atuação do pedagogo.
Desse modo, como mencionamos neste capítulo, a formação de
professores para os anos iniciais que, anterior à Resolução de 2006, era
desenvolvida pelas instituições que assim se projetassem, hoje se tornou uma
diretriz a ser seguida por todos os cursos de Pedagogia. Por meio dessa Resolução
entendemos que no momento em que o licenciado em Pedagogia é habilitado a
exercer a docência nos anos iniciais do Ensino Fundamental, ou seja, atuar em um
conjunto de disciplinas presentes nessa fase de ensino, esse mesmo profissional
também é o professor de Matemática dos primeiros anos de escolarização. Portanto,
vemos o curso de Pedagogia como um curso responsável pela formação do
professor de Matemática dos anos iniciais do Ensino Fundamental e, assim, nos
resta questionar e olhar para essa formação.
Como é possível um curso se dedicar à formação de um único profissional
com um perfil tão amplo, sendo ele um professor de Matemática, Português,
Geografia, História, Ciências Naturais e, ainda, um gestor educacional e um
pesquisador em Educação? Vemos que no curso de Pedagogia, em função das
excessivas atribuições previstas para o egresso, poderá ocorrer um inchamento de
107
disciplinas no currículo e isso poderá levar a um tratamento superficial na formação
específica de disciplinas de conteúdo e também nas outras disciplinas que comporão
a grade curricular do curso. (LIBÂNEO, 2006)
Ao compreendermos a Licenciatura em Pedagogia como um curso que forma
o professor de Matemática dos anos iniciais e focarmos nosso olhar para essa
formação, vemos que um conjunto de conteúdos/ conceitos e metodologias
específicos para essa área do saber necessários ao exercício da profissão.
Concordamos com Libâneo (2006-a) quando diz que não dá para formar bons
professores sem o domínio dos conhecimentos específicos. Perguntamo-nos como
questões como essas estão sendo pensadas na formação do professor de
Matemática dos anos iniciais, sabendo que toda uma problemática envolvendo
essa disciplina.
Ainda discutindo sobre a formação específica presente, ou que deveria estar
presente, no curso de Pedagogia, autores (CURI, 2005), (LIBÂNEO, 2006-a, 2006-
b), (MELLO, 2002) colocam a sua quase inexistência nesse curso, afirmando que
em sua grande maioria a priorização dos aspectos metodológicos.
Em boa parte dos atuais cursos há quase que total ausência no
currículo de conteúdos específicos [...] existindo apenas as
metodologias. Como formar bons professores sem o domínio desses
conhecimentos específicos? Essa exigência se amplia perante as
mais atuais concepções pedagógicas, em que o ensino está
associado ao desenvolvimento das capacidades cognitivas dos
alunos por meio dos conteúdos, ou seja, aos processos do pensar
autônomo, crítico e criativo. Não se trata mais de passar
conhecimentos, mas de desenvolver nos alunos capacidades e
habilidades mentais referentes a esses conhecimentos. Está sendo
requerido dos professores que dominem os conteúdos mas,
especialmente, o modo de pensar, raciocinar e atuar próprio de
cada disciplina, dominar o produto junto com o processo de
investigação próprio de cada disciplina. Como fazer isso sem os
conteúdos específicos?
(LIBÂNEO, 2006-a, p. 861)
D’Ambrósio (1996 apud Perez, 1999) também fala sobre algumas das
questões trazidas por Libâneo (2006). Afirma que o papel do professor,
especificamente o de Matemática, vem mudando, deixando de ser aquele que
transmite o conhecimento sem admitir questionamentos, passando a ser aquele que
articula o processo e contribui de forma significativa para a construção do
conhecimento.
Não duvida quanto à importância do professor no processo
educativo. Fala-se e propõe-se tanto educação a distância quanto
108
outras utilizações de tecnologia na educação, mas nada substituirá o
professor. Todos esses serão meios auxiliares para o professor. Mas
o professor, incapaz de se utilizar desses meios, não terá espaço na
educação. O professor que insistir em seu papel de fonte e
transmissor de conhecimentos está fadado a ser dispensado pelos
alunos, pela sociedade em geral. O novo papel do professor será o
de gerenciar, de facilitar o processo de aprendizagem e,
naturalmente, de interagir com o aluno na produção e crítica de
novos conhecimentos.
(D’AMBROSIO, 1996 apud PEREZ pág 264, 1999)
D’Ambrosio afirma que nada substituirá o professor, então, quais devem ser
as características que nucleiam a prática educadora deste professor e qual a
importância da formação para a aquisição dessas características? Como os cursos
de formação, especificamente o curso de Pedagogia, têm contribuído para deixar
claro o trabalho do professor de Matemática dos anos iniciais do Ensino
Fundamental, e também, contribuído para a construção de um perfil de professor de
Matemática apropriado para o trabalho nessa fase?
109
A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA
60
: O CAMINHO
PERCORRIDO PELO CURSO DE LICENCIATURA
Neste capítulo abordaremos aspectos históricos do curso de Licenciatura em
Matemática. Para isso, vamos nos fundamentar na legislação que regulamenta esse
curso, bem como na legislação que regulamenta os cursos de formação de
professores, as licenciaturas.
Para falarmos da Licenciatura em Matemática e de sua trajetória em nosso
país somos levadas a falar sobre aspectos históricos dos cursos de nível superior de
formação de professores. De modo atento, não podemos desvencilhá-los.
Buscaremos, também, estudos de autores que tratam dos cursos de formação de
professores, as licenciaturas e em especial a Licenciatura em Matemática.
Alguns aspectos históricos abordados no capítulo anterior tais como, as Leis
de Diretrizes e Bases da Educação, serão novamente mencionados neste
capítulo se houver necessidade para um melhor esclarecimento.
60
No Brasil
110
3.1- Os Primeiros Cursos de Licenciatura em Matemática - Década
de 1930
As primeiras iniciativas de formar professores em nível superior se encontram
no Estado de o Paulo e Rio de Janeiro (ainda capital do Brasil na década de
1930). Nos remeteremos, portanto, às instituições que ofertaram, naquela época,
cursos de licenciatura nesses Estados por entender que eles conduziram a formação
de professores, bem como a formação em outras áreas acadêmicas, para o restante
das Universidades do país que foram sendo criadas ao longo da história
61
.
Sabemos que o curso de Pedagogia foi oficialmente criado em 1939 com a
reorganização da Faculdade Nacional de Filosofia. Juntamente com ele, em função
da Seção especial de Didática, foi possível licenciar profissionais de diversas áreas
do saber. Assim sendo, podemos afirmar que as iniciativas de formar o professor em
nível superior datam da década de 1930. Em especial, as Licenciaturas das áreas
específicas, como costumeiramente chamamos, tiveram sua criação no início dessa
década, como trataremos logo abaixo. As tentativas de formar o professor em nível
superior desencadeadas na década de 1930 se justificam pelo fato de haver uma
“preocupação com a regulamentação do preparo de docentes para a escola
secundária”. (CANDAU, 1987, p.11).
Não muito diferente do curso de Pedagogia, os cursos de formação de
professores em nível superior, ofertados em cursos de Licenciatura, tiveram seu
ponto de convergência em termos de sua criação na década de 1930,
especificamente após a promulgação do Estatuto das Universidades Brasileiras em
1931. Mas, de acordo com Bernardo (1989) as raízes da formação de professores
para o Ensino Secundário, remontam à época do Império com a criação das Escolas
Normais. Em São Paulo, pela Lei 34, de 16 de março de 1846 e no Rio de
Janeiro, por meio da Lei 10, de 1935
62
. Foi também nessa época, com a criação
das Escolas Normais, que se localizaram as primeiras iniciativas de se formar o
professor primário. (TANURI, 2008).
61
Vale ressaltar que algumas universidades existiam no país, criadas no início do século XX,
principalmente na década de 1920. Houve ainda várias tentativas de criar universidades no Brasil no
século XIX. (Ver FÁVERO, 2006 - A Universidade no Brasil: das origens à Reforma Universitária de
1968).
62
De acordo com Tanuri (2000), a Escola Normal do Rio de Janeiro foi a primeira Escola Normal
brasileira.
111
O Governo Provisório em 1930 criou o Ministério da Educação e Saúde
Pública (14/11/1930) e Francisco Campos foi o seu primeiro Ministro. Ele elaborou e
implementou suas reformas no ensino a partir de 1931, iniciando com a promulgação
do Estatuto das Universidades Brasileiras por meio do Decreto-Lei 19.851 de 11
de abril de 1931. Esse Estatuto “estabelece os padrões de organização do ensino
superior em todo país” (CANDAU, 1987, p.11) e com ele traz a reforma da
Universidade do Rio de Janeiro, por meio do Decreto 19.852/1931, que passa a
ser considerada como modelo para as demais universidades do Brasil.
De acordo com Candau (1987) a Universidade do Rio de Janeiro segundo o
Decreto que dispõe sobre sua organização, deveria ser composta por uma
Faculdade de Educação, Ciências e Letras e teria entre outros objetivos o
desenvolvimento do magistério. Fávero (2006, p.24) coloca que “caberia à
Faculdade de Educação, Ciências e Letras imprimir à universidade seu ‘caráter
propriamente universitário’, o que na prática não ocorreu”. De fato, a existência
dessa faculdade nem mesmo era obrigatória. Candau (1987, p.12), diz que não se
“obrigava a existência de uma faculdade de educação, ciências e letras nas
instituições universitárias, em geral, e, na prática, inclusive, essa faculdade nem
chega a ser instalada pelo Governo Federal”. Essa Universidade ainda passou por
mais duas reformas, pois como já dito, a Faculdade de Educação, Ciências e Letras,
proposta pelo Decreto de sua reforma de 1931, não chegara a existir. Retomaremos
logo a frente a discussão sobre essas reformas.
Em 25 de janeiro de 1934, pelo Decreto 6.283, a Universidade de o
Paulo - USP foi criada. O Projeto original da USP incluía uma Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras, que estava incumbida de desenvolver os estudos de
cultura livre e desinteressada e uma Faculdade de Educação, resultante da
incorporação da Escola de Professores do Instituto Caetano de Campos, que estaria
responsável pela formação de professores para o Ensino Secundário, ou ainda,
como acontecia, responsável somente pela formação pedagógica dos candidatos ao
magistério.
O Instituto Caetano de Campos foi elevado à categoria de escola superior em
1933, por meio do Decreto-Lei nº 5.346 de 21 de fevereiro. Assim, o Instituto,
112
especificamente a sua Escola de Professores
63
, como comentado anteriormente,
com a criação da USP em 1934, passa a fazer parte dessa Universidade, com a
responsabilidade de dar a formação pedagógica aos candidatos ao magistério
provenientes dos cursos de bacharelado oferecidos pela Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras. Dessa forma, as disciplinas pedagógicas oferecidas eram:
Biologia Educacional Aplicada ao Adolescente, Psicologia Educacional, Sociologia
Educacional, História e Filosofia da Educação, Educação Comparada e Metodologia
do Ensino Secundário. Porém, essa estrutura de formação pedagógica não
permaneceu por muito tempo.
Em 1938 o Instituto de Educação foi desvinculado da USP pelo interventor
Adhemar Pereira de Barros que criou a Seção de Educação na Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras. Com a criação da Seção de Educação professores da
Escola Normal foram elevados a professores universitários.
A esse respeito, Bernardo (1989) fala sobre a ideologia dos criadores da
Universidade de São Paulo. Segundo a autora houve uma discriminação em relação
à Educação, primeiramente pelo fato de não incluírem uma Faculdade de Educação
imediatamente após a criação da USP e segundo por não manifestar em relação à
área da Educação o mesmo cuidado tido em relação às outras áreas, as quais
receberam, para dar início às atividades, professores titulados vindos de fora do
país.
[...] a ideologia dos mentores da Universidade de São Paulo [...]
discriminou a Educação tanto por desconsiderar a inclusão de uma
faculdade de Educação na Universidade, quanto por não demonstrar
o mesmo zelo para com a área, buscando professores titulados e
com cabedal que pudessem enriquecê-la, no mesmo nível que foi
enriquecida a área de Filosofia, da Física, da Matemática entre
outras, com a vinda de professores estrangeiros. É de conhecimento
63
A Escola Normal passou por várias reformas desde a sua criação. Segundo Bernardo (1989, p.12)
a Escola Normal “não se constitui numa prioridade, pois o ensino primário era deixado à mercê das
circunstâncias [...]. A ênfase era dada para as escolas secundárias [...]”. Após várias reformas nessa
escola, Bernardo (1989) relata que em São Paulo somente quando Fernando de Azevedo assume o
cargo de diretor geral da instrução pública do Estado é que a situação da Escola Normal começa a
modificar. As disciplinas responsáveis pela formação do professor passam a ser valorizadas “sob uma
perspectiva inovadora que chega com o funcionamento do Instituto de Educação (1933) destinado a
formar professores primários e secundários, inspetores e diretores de escolas, manter cursos de
aperfeiçoamento para o magistério, bem como ministrar ensino primário e secundário” (BERNARDO,
1998, p. 14).
O Instituto de Educação “Caetano de Campos” era composto pela Escola de Professores, que
oferecia o Ensino Normal - elevado a nível superior como já dito, Escola Primária, Escola Secundária,
Jardim de Infância, Biblioteca e ainda pelo centro e psicologia aplicada à educação e centro de
puericultura. (Mais informações visitar site http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/neh/1825-
1896/1846_Escola_Normal.pdf. Acesso em: 10 set. 2008)
113
de todos a contratação de professores alemães, italianos, franceses
e também de um professor português e outro espanhol para
começarem os trabalhos na Universidade recém-criada.
(BERNARDO, 1989, p.16).
Esse fato - de se ter contratado professores “qualificados” (titulados) para
iniciarem os trabalhos na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras enquanto que,
em relação ao corpo docente que comporia a Faculdade de Educação ter sido
formado pelos professores da Escola Normal - é considerado, por alguns estudiosos,
um dos motivos de a profissão e dos cursos de licenciaturas serem tão
desprestigiados em nosso país. Tanuri (2008, p.77), a esse respeito, diz que alguns
autores relacionam o “desprestigio dos estudos superiores de educação ao fato de
que seus primeiros docentes eram antigos professores do curso normal, elevados,
com suas ‘cadeiras’, ao nível superior”.
Tais acontecimentos da década de 1930 nos leva a concordar com essas
colocações, pois qual o motivo de não terem sido contratados profissionais titulados
para a área da Educação? Embora sabendo que o Instituto de Educação tivesse,
segundo Bernardo (1989), “entre seus docentes professores do porte de Fernando
Azevedo, estava longe de suprir as qualificações requeridas para um curso
universitário”; por que essa falta de cuidado com a Educação?
Em relação ao curso de Matemática da USP, sabemos que apenas o
bacharelado funcionou nos primeiros anos. Somente após a criação da Seção de
Educação na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, com a extinção do Instituto
de Educação, é que o curso de Licenciatura em Matemática passou a existir com o
objetivo de formar professores de Matemática. Portanto, no início, o curso de
Licenciatura em Matemática tinha o mesmo currículo do curso de Bacharelado em
Matemática, com duração de três anos, com mais um ano de disciplinas
pedagógicas.
No ano de 1935 houve a tentativa de um novo projeto para criação de uma
universidade no Rio de Janeiro, então Distrito Federal. Esse projeto foi proposto pelo
então Diretor de Educação da Capital, Anísio Teixeira. De acordo com Candau
(1987, p.12), tal projeto de Universidade teria vida curta, pois o “Estado Novo
acabaria por cassá-lo”.
Pelo trabalho de Candau (1987), vemos que a Universidade do Distrito
Federal (UDF) tinha objetivos interessantes para a formação de profissionais da
educação. Essa Universidade incorporou, como no caso da USP, a Escola de
114
Professores do Instituto de Educação do Rio de Janeiro, que passou a se chamar
Escola de Educação. Ela, além de formar professores para todos os Graus do
ensino, e oferecer vários cursos para a formação do magistério, objetivava, ainda,
ser um centro de documentação e pesquisa.
Todas as idéias de estrutura e funcionamento da UDF, como já relatado,
tiveram vida curta, pois em 1939 ela foi incorporada com seus prédios, professores e
seus estudantes à Universidade do Brasil e segundo Candau (1987, p. 13), dá-se a
essa universidade “o destino que, dificilmente, num regime autoritário e centralizador
como o que se implanta definitivamente em 1937, poderia ser outro”.
A Universidade do Rio de Janeiro, criada em 1920 pela integração de alguns
cursos/ faculdades existentes e reformada em 1931 sob a égide do Estatuto das
Universidades Brasileiras, aprovado no mesmo ano, passou ainda por mais duas
reformas, como anunciado anteriormente neste capítulo. Em 1937, ela foi
transformada na Universidade do Brasil. Assim, com a reestruturação da Faculdade
Nacional de Filosofia, pertencente a essa Universidade, algumas modificações foram
introduzidas no currículo dos cursos de formação de professores. Tal Universidade,
como mencionado neste trabalho, se tornou o modelo de estruturação para as
demais universidades do país. Nessa nova estrutura a Faculdade de Educação,
Ciências e Letras que nem mesmo chegou a existir foi fragmentada em duas:
Faculdade Nacional de Educação e Faculdade Nacional de Filosofia, Ciências e
Letras, porém outra reforma estava a caminho.
Dois anos depois da reforma de 1937 a Universidade do Brasil sofreu mais
uma reforma por meio do Decreto-Lei 1.190, de 4 de abril de 1939. Esse Decreto
transforma a Faculdade de Educação em duas seções, seção de Pedagogia e em
uma seção especial de Didática e agrega-as a Faculdade de Filosofia. A seção de
Pedagogia oferecia o curso de bacharelado em Pedagogia e a seção especial de
Didática habilitava os estudantes a lecionar no Ensino Secundário por meio do curso
de Didática.
Dessa forma, o curso de Matemática, pertencente à Seção de Ciências da
Faculdade Nacional de Filosofia, tinha por objetivo formar o bacharel em
Matemática. O aluno interessado no magistério deveria fazer, também, o curso de
Didática. Esse curso tinha por objetivo preparar professores para o Ensino Normal e
para o Ensino Secundário, ou seja, para o que corresponderia ao Ensino
Fundamental II (6º ao 9º ano) e ao Ensino Médio de hoje. Então, o aluno do curso de
115
Matemática deveria realizar as seguintes disciplinas: série: Análise Matemática,
Geometria Analítica e Projetiva, Física Geral e Experimental; Série: Análise
Matemática, Geometria Descritiva e Complementos de Geometria, Mecânica
Racional, Física Geral e Experimental; Série: Análise Superior, Geometria
Superior, Física Matemática, Mecânica Celeste. (BRASIL, PRESIDÊNCIA DA
REPÚBLICA, 1939, NÓBREGA, s.d., p. 563). Os alunos que almejavam o magistério
cursavam, após o bacharelado, as disciplinas do curso especial de Didática, a saber:
Didática Geral, Didática Especial, Psicologia Educacional, Administração Escolar,
Fundamentos Biológicos da Educação, Fundamentos Sociológicos da Educação. A
esses alunos era conferido o diploma de licenciados no conjunto de disciplinas que
compunham o curso de bacharelado (BRASIL, PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA,
1939, NÓBREGA, s.d., p. 568), e aos alunos que cursavam apenas o bacharelado
recebiam o diploma de Bacharel em Matemática (BRASIL, PRESIDÊNCIA DA
REPÚBLICA, 1939, NÓBREGA, s.d., p. 568).
Assim se apresentava e se organizava o curso de Matemática na Faculdade
Nacional de Filosofia no Rio de Janeiro em 1939 e tal organização impulsionou
outros cursos a se organizarem em moldes semelhantes.
Sabemos que pelo Decreto-Lei nº 1.190/1939 os cursos de formação de
professores eram ofertados no modelo “3 + 1”, ou seja, os alunos cursavam três
anos de disciplinas específicas da área de habilitação e no último ano do curso
faziam o curso ordinário de Didática. No ano de 1946 um novo decreto, embora
facultativo, o Decreto-Lei 9.092, de 26 de março, amplia o regime didático das
Faculdades de Filosofia. Em seu artigo 2º, determina que para receber o diploma de
licenciado ou bacharel, o aluno deverá dedicar quatro anos de estudos, de modo
que, nos três primeiros anos do curso os alunos “seguirão um currículo fixo de
cadeiras, cuja discriminação será a atual ou objeto de instrumentação baixadas pelo
Ministério da Educação e Saúde.” (BRASIL, PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, 1946;
NOBREGA, s/d, p.575) e no quarto ano o aluno deverá optar por “duas ou três
cadeiras ou cursos, dentre os ministrados pela faculdade.” (BRASIL, PRESIDÊNCIA
DA REPÚBLICA, 1946, NOBREGA, s/d, p.575). Assim, os alunos do quarto ano
interessados no magistério receberiam a formação didática, teórica e prática no
ginásio de aplicação e deveriam ainda cursar Psicologia Aplicada à Educação. Os
alunos que não realizassem as atividades descritas acima receberiam, após o quarto
ano de estudos, o diploma de bacharel.
116
E a formação de professores de Matemática para os primeiros anos de
escolarização? Como vimos no capítulo dois, nessa época e até meados da década
de 1970, a formação de professores para atuarem nos anos iniciais estava a cargo
das Escolas Normais. Assim, os cursos de Licenciatura não tinham como foco a
formação de professores para essa fase do ensino.
Apresentamos como se configurou os primeiros cursos de formação de
professores de Matemática no Brasil. Outras reformas referentes à formação de
professores foram realizadas. Ressaltamos a da década de 1960, que trouxe
algumas alterações para a formação pedagógica das licenciaturas e a da década de
1970 que por meio da Resolução 30/1974 altera de modo significativo os cursos
de Ciências no Brasil. E é sobre essas reformas que falaremos agora.
3.2- O Parecer CFE nº 295/1962 e o Parecer CFE nº 292/1962
No ano de 1962 alguns pareceres foram aprovados trazendo modificações
para o curso de Licenciatura em Matemática e também ao conjunto de matérias
pedagógicas para as Licenciaturas.
O Parecer CFE 295, de 14 de novembro de 1962 estabelece o currículo
mínimo para a Licenciatura em Matemática. Tal documento, relatado pelo
conselheiro F. J. Maffei diz que o currículo estabelecido para esse curso deverá ser
ministrado em um período de quatro anos. Assim, estabelece as seguintes matérias:
Desenho Geométrico e Geometria Descritiva;
Fundamentos de Matemática Elementar;
Física Geral;
Cálculo Diferencial e Integral;
Geometria Analítica;
Álgebra;
Cálculo Numérico;
Matérias Pedagógicas estabelecidas pelo Parecer CFE nº 292/1962.
O Parecer ainda explica que a disciplina Fundamentos da Matemática
Elementar tem como objetivo analisar e rever os temas lecionados “nos cursos de
Matemática dos Ginásios e dos Colégios, não tendo em vista dar aos licenciados
117
um conhecimento mais aprofundado desses assuntos como ainda para procurar
enquadrá-los no conjunto de teorias matemáticas estudadas pelo aluno (...)”
(BRASIL, CFE, DOCUMENTA nº 10, 1962, p. 86).
O Parecer também faculta aos alunos da Licenciatura o direito de estudar
disciplinas que compõem o currículo do curso de bacharelado em Matemática.
As disciplinas pedagógicas dos cursos de Licenciatura e, portanto, do curso
de Licenciatura em Matemática, foram disciplinadas pelo Parecer CFE nº 292, de 14
de novembro de 1962. Esse Parecer, relatado pelo conselheiro Valnir Chagas, teve
por objetivo oferecer os estudos profissionais que habilitassem “ao exercício do
magistério nos estabelecimentos de ensino médio” (BRASIL, CFE; DOCUMENTA nº
10, 1962, p. 95).
As matérias pedagógicas que foram fixadas por esse Parecer o: Psicologia
da Educação: Adolescência e Aprendizagem; Didática; Elementos de Administração
Escolar e Prática de Ensino sob a forma de Estágio Supervisionado. De acordo com
esse Parecer, a parte pedagógica presente nas Licenciaturas ficou reduzida de um
quarto, como era antes, para um oitavo do tempo de quatro anos dos cursos. Isso se
explica, primeiramente, pela redução do número de disciplinas. Como podemos
observar as disciplinas de Fundamentos Biológicos e Sociológicos da Educação
foram excluídas do currículo. E, em segundo lugar, porque cada disciplina seria
ofertada em um semestre do curso e não mais no final dele, durante um ano ou uma
série, como antes. Assim, seriam totalizados cinco semestres letivos dedicados à
parte pedagógica que, em linhas gerais, ocupariam apenas um único semestre letivo
completo. Nessa configuração, restaria mais um oitavo do curso, ou seja, um
semestre letivo, para “aprofundamento das especialidades relativas aos diversos
cursos” (BRASIL, CFE, DOCUMENTA nº 10, 1962, p. 99).
Assim, o aluno que cursasse as disciplinas de conteúdos matemáticos fixadas
para o curso de Matemática e o conjunto de disciplinas pedagógicas acima descritas
estaria habilitado a exercer o magistério em escolas de nível médio, ou seja, estaria
licenciado a atuar como professor de Matemática.
Pelos Pareceres supracitados, temos que a Licenciatura em Matemática, na
década de 1960 se voltava para a formação de professores do Grau Médio, ou seja,
de professores para os cursos Ginasial e Colegial, o que corresponderia ao Ensino
Fundamental, fase, e ao Ensino Médio de hoje. Ou seja, o curso de Licenciatura
em Matemática não tinha como objetivo formar o professor de Matemática dos
118
primeiros anos de escolarização, de modo que essa formação, como tratada no
capítulo anterior, ainda estava a cargo das Escolas Normais e progressivamente
sendo transferida para o curso de Pedagogia.
3.3 - O Parecer CFE nº 672/1969
Ainda na década de 1960, seis anos após o Parecer CFE nº 292/1962,
pequenas modificação no currículo e na duração da parte pedagógica dos cursos de
licenciatura foram trazidas pelo Parecer CFE 672/1969. Esse Parecer substitui o
nome da disciplina Administração Escolar por Estrutura e Funcionamento do Ensino
de Segundo Grau. Ao mudar o nome, pretendia-se deixar explícito qual era o
objetivo dessa disciplina, pois com a disciplina Administração Escolar, a ênfase, na
prática, estava sendo posta nos aspectos administrativos, enquanto que o objetivo
dela era estudar a estrutura, o funcionamento e os objetivos da escola do Primeiro e
do Segundo Graus.
Pesquisando documentos que versam sobre os cursos de formação de
professores, encontramos no ano de 1968 a Indicação CFE 8, de 4 de junho que
trata sobre as normas para reexame de currículos mínimos
64
e duração de cursos
superiores. Tal documento afirma que o CFE procederia ao reexame de todos os
currículos mínimos fixados, bem como da duração dos cursos superiores com vistas
“a reajustá-los à luz da experiência colhida em sua execução” (BRASIL, CFE,
DOCUMENTA 87, 1968, p. 113). Pela Indicação, o reexame dos currículos ficou a
cargo de quatro comissões especiais que eram coordenadas por uma comissão
central. Assim, o primeiro grupo era o encarregado, entre outros cursos de Exatas e
Naturais, do curso de Matemática (licenciatura) e o terceiro grupo estava
encarregado de reexaminar o currículo mínimo das Matérias Pedagógicas para as
Licenciaturas e do curso de Pedagogia (Bacharelado, Licenciatura), entre outros
cursos da área de Humanas.
Como sabemos, as Matérias Pedagógicas da Licenciatura foram alvo do
Parecer CFE 672/1979 já relatado por nós anteriormente e o curso de Pedagogia
recebeu nova regulamentação pelo Parecer CFE nº 252/1969 como também já
64
Currículo mínimo é entendido como o núcleo de matérias, fixadas pelo CFE, indispensáveis para
uma adequada formação profissional.
119
tratamos no capítulo anterior. Assim, buscamos por uma possível regulamentação
que focaria o curso de Licenciatura em Matemática no ano de 1969, mas não
encontramos nenhum parecer dado pelo CFE nesse período. No entanto,
encontramos no ano de 1969 o Parecer CFE 774/1969 que reconhece o Instituto
de Matemática e Estatística (IME) da UFG, criado no ano de 1963.
Esse Parecer traz os cursos ministrados pelo IME e as respectivas disciplinas
que estão sob sua responsabilidade. Assim, o Parecer CFE 774/1969 indica as
seguintes disciplinas, ministradas em regime semestral, para o curso de Matemática
(Licenciatura e Bacharelado): Cálculo I, Cálculo II, Cálculo III, Cálculo IV, Cálculo
Vetorial e Matrizes, Geometria Analítica, Cálculo Numérico I, Cálculo Numérico II,
Álgebra I, Álgebra II, Física I, Física II, Física III, Física IV, Álgebra Linear I, Álgebra
Linear II, Fundamentos da Matemática Elementar I, Fundamentos da Matemática
Elementar II, Probabilidade e Estatística I, Probabilidade de Estatística II, Desenho
Geométrico e Geometria Descritiva I, Matérias Eletivas para o Bacharelado e
Matérias Pedagógicas para a Licenciatura (oferecidas pela Faculdade de Educação)
Ao olhar para o grupo de disciplinas acima, podemos inferir que o curso de
Matemática, configurado como o IME apresenta, estava ainda sob a regulamentação
do Parecer CFE 295/1962. Assim, podemos afirmar que, mesmo com a
orientação de reexame dos currículos mínimos dos cursos superiores, efetuado no
ano de 1968, o foi realizada nenhuma reformulação no conjunto de disciplinas
matemáticas da Licenciatura em Matemática, permanecendo ela até o ano de 1974
sob as orientações do Parecer CFE nº 295/1962.
3.4 - Resolução CFE 30/1974: o Curso de Licenciatura em
Ciências
Na década de 1970, como visto no capítulo dois, um conjunto de indicações
com o objetivo de reformular os cursos de formação de profissionais para o
magistério foi elaborado pelo conselheiro Valnir Chagas. Entre as indicações
encontramos uma que trouxe mudanças não para o curso de Matemática como
também para os cursos de Física, Biologia e Química. Além dessa indicação, temos
120
aquela que reformula a parte pedagógica dos cursos de licenciaturas. Tal Indicação,
já comentada no capítulo anterior, será brevemente retomada neste capítulo.
A Indicação CFE 46, de 7 de junho de 1974 foi incorporada a Resolução
CFE 30, de 11 de julho de 1974. Essa Indicação e respectiva Resolução tratam
sobre o Curso de Licenciatura em Ciências para formar professores “para a área de
estudo e disciplinas do ensino de 1º e Graus relacionadas com o setor científico”
(CHAGAS, 1976, p. 50). De acordo com o Relator Valnir Chagas, a formação nesse
curso, “tem como traço dominante (...) a idéia de integração do conhecimento como
suporte para uma diversificação que já não se faça em detrimento do conjunto
(CHAGAS, 1976, p. 42) e sua “perspectiva é a da ciência como um todo” (CHAGAS,
1976, p. 43).
A Indicação CFE nº 46/1974 divide a Licenciatura em Ciências em duas
partes, uma comum e outra diversificada. A primeira parte, comum a todas as
habilitações, se configura em uma licenciatura curta que objetivava oferecer uma
base científica sólida para que o aluno pudesse prosseguir seus estudos na
habilitação específica. Caso o aluno desse continuidade a seus estudos, estaria
habilitado a lecionar Ciências no Grau. A parte diversificada tinha como objetivo
oferecer, em duração plena, formação específica na área de interesse do aluno,
habilitando-o a lecionar, Matemática, Física, Química ou Biologia no Ensino de
Grau. De acordo com a Indicação outras habilitações poderão ser acrescidas à parte
diversificada.
Art. 2º - O curso de Ciências será estruturado como licenciatura de 1º
grau, de curta duração, ou como licenciatura plena, ou abrangendo
simultaneamente ambas as modalidades de duração, de acordo com
os planos das instituições que o ministrem.
Parágrafo único - A licenciatura de grau proporcionará habilitação
geral em Ciências, e a licenciatura plena, além dessa habilitação
geral em Ciências, conduzirá a habilitações específicas em
Matemática, Física, Química e Biologia, sem exclusão de outras que
sejam acrescentadas pelo Conselho Federal de Educação ou,
mediante aprovação deste, pelas instituições de ensino superior.
(CHAGAS, 1976, p. 50)
A Indicação CFE nº 46/1974 define as seguintes matérias para compor a parte
comum: Matemática, Física, Química, Elementos de Geologia e Biologia. De acordo
com a Indicação deveriam ser focalizados nessas matérias:
os conceitos fundamentais, com fenômenos básicos e suas inter-
relações: aspectos especiais de metodologia como aplicações do
método científico; relações teóricas e práticas com outras ciências;
121
contribuição para o bem-estar da Humanidade e importância atual
para o progresso sócio-econômico.
(CHAGAS, 1976, p. 44)
Na área da Matemática, presente na parte comum do curso, o objetivo era dar
uma “visão das abordagens clássica e moderna” (CHAGAS, 1976, p. 44) e o foco
era dado no estudo de “conceitos e técnicas do cálculo diferencial e integral, da
álgebra das matrizes e de probabilidade e estatística” (CHAGAS, 1976, p. 44).
Da parte diversificada nos interessa expor as disciplinas que compunham a
habilitação específica em Matemática, a saber: Cálculo Diferencial e Integral,
Álgebra, Análise Matemática, Geometria, Matemática Aplicada e ainda as disciplinas
da formação pedagógica e a Instrumentação para o Ensino, as duas últimas também
estudadas pelas outras habilitações.
A Indicação traz quais temas são objeto de estudo em cada disciplina da
habilitação em Matemática. Vejamos abaixo:
Cálculo Diferencial e Integral: Conceitos básicos e as técnicas de derivada
e integral de funções de várias variáveis, dando seguimento ao estudado
na parte comum;
Álgebra: Álgebra Linear e suas diversas aplicações em outras áreas.
Estruturas Algébricas, ou seja, grupos, anéis e corpos;
Análise Matemática: Os principais assuntos do Cálculo Diferencial e
Integral abordados com maior rigor;
Geometria: Trabalho com o modelo axiomático, aprofundando na
geometria elementar estudada. Esse estudo abordará os aspectos
histórico, crítico e filosófico;
Matemática Aplicada: Basicamente aborda equações diferenciais e
aplicações em outras áreas do conhecimento. Abordará ainda tópicos da
Matemática Finita.
122
A Instrumentação para o Ensino trazida na Indicação CFE nº 46/1974 é
também tratada na Indicação CFE nº 68/1975 que regulamenta a formação
pedagógica das Licenciaturas. De acordo com a Indicação CFE 46/1974, a
Instrumentação para o Ensino não faz parte nem das disciplinas específicas e nem
das pedagógicas, ela é tida como um item especial que “encerrará o endereço
didático a imprimir ao estudo das Ciências e, reciprocamente, dará o tom científico
da formação pedagógica” (CHAGAS, 1976, p. 47). A ela cabe oferecer ao
estudante a instrumentação necessária para sua atividade profissional, a qual será
dada da seguinte maneira:
pela montagem, avaliação, crítica e melhoria de experiências
adequadas à escola de 1º e 2º graus, pelo desenvolvimento de
recursos auxiliares para o ensino e pela familiarização do aluno com
as técnicas de execursão (sic) e outras formas de realizar a pesquisa
escolar e observar aplicações de ciência.
(CHAGAS, 1976, p. 47-48)
As disciplinas pedagógicas das licenciaturas foram regulamentadas pela
Indicação CFE 68/1975. Tal Indicação, consubstanciada no Parecer CFE
4873/1975 que não chegou a ser homologado, define como currículo mínimo as
seguintes disciplinas: Psicologia do Desenvolvimento; Psicologia da Aprendizagem;
Ensino de 1º e Graus; Metodologia do Ensino de e Graus; Instrumentação
para o Ensino e Prática de Ensino sob a forma de Estágio supervisionado. Com essa
nova regulamentação, a carga horária da parte pedagógica aumentaria de um
oitavo, como fora fixada em 1969, para um sexto. Porém, como tal Parecer o foi
homologado, a formação pedagógica das licenciaturas e, portanto, da Licenciatura
em Matemática ficou regulamentada, naquela época, pelo Parecer anterior, ou seja,
o Parecer CFE nº 672/1969 que resultou na Resolução CFE nº 9/1969.
Assim, a Resolução CFE 30/1974 determina a duração do curso de
Licenciatura em Ciências: para a licenciatura curta, duração mínima de 1800 horas
de atividades (integralizáveis de dois a quatro anos) e para licenciatura plena,
duração nima de 2800 horas (integralizáveis de três a sete anos, com o tempo
médio de quatro anos). Tal Resolução no ano de 1975 torna-se obrigatória por meio
da Resolução CFE nº 37/1975 e todos os cursos, até o ano de 1978, devem
implementar o novo currículo.
A licenciatura de 1º Grau trazida por essa Resolução não é uma novidade. Na
década de 1960 ela havia sido criada, pelos Parecer CFE 81 (licenciatura curta
123
na área de Ciências) e Parecer CFE 236 (Licenciatura curta na área de Letras).
Tais cursos objetivavam formar professores para a escola média, de modo que os
egressos de cursos superiores de curta duração poderiam, caso formados em dois
anos, lecionar no ginasial. E no caso de serem formados em quatro anos, os alunos
poderiam lecionar no colegial. De acordo com Candau (1987) a existência de cursos
de curta duração para formar professores para o ginásio se justificava pela escassez
de professores na década de 1960. Afirma ainda que é nesse argumento que se
sustenta a diferença entre as propostas das duas décadas, ou seja, enquanto “que
nos anos 60 ela tinha um caráter emergencial e, portanto transitório, nos anos 70,
ela surge como um processo regular de formação de professores e ganha inclusive
uma justificativa pedagógica: a de formar o professor polivalente” (CANDAU, 1987,
p. 25).
Ainda de acordo com essa autora, a aprovação dessa modalidade de
licenciatura polivalente para o Grau o teve grande aceitação por parte das
sociedades científicas, de modo que, “desencadeou todo um movimento de reação
ao novo sistema de formação de professores” (CANDAU, 1987, p. 26). Concordando
com Candau (1987), Braga (1988, p. 152) afirma que a Resolução nº 30/1974
provocou imediata repulsa e indignação na comunidade científica do país” e as
sociedades como, Sociedade Brasileira de Física (SBF), Sociedade Brasileira de
Química (SBQ), Sociedade Brasileira de Matemática (SBM) e Sociedade Brasileira
para o Progresso da Ciência (SBPC) enxergaram inadequações presentes na nova
proposta aprovada e, desse modo, apontavam tais desajustes ao MEC.
Como se tornou obrigatória a implantação do novo currículo, algumas
Universidades, entre elas a Universidade Federal de Goiás, iniciou a implantação da
Resolução CFE 30/1974. No entanto, Candau (1987, p.26) afirma que, em geral,
“os estudantes estavam extremamente mal preparados para desempenhar suas
funções, além do curso em si ser desestimulante” o que de acordo com a mesma
autora provocou um grande índice de evasão. Ao contrário dessas universidades,
que no período de 1975 a 1978 estavam trabalhando na implantação da Licenciatura
em Ciências, algumas das maiores Universidades do país como a Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG), de acordo com Braga (1988), se recusaram a implantar o novo currículo
fortalecendo, desse modo, às manifestações contrárias à Resolução CFE
30/1974.
124
O mesmo autor afirma que essas reações contrárias à Resolução também
foram fortalecidas por experiências negativas de várias instituições que, premidas
por diversas circunstâncias, instalaram cursos nos moldes preconizados pela
Resolução” (BRAGA, 1988, p.152). De modo que, a comunidade insatisfeita com
essa licenciatura polivalente questionava
o contraste entre a abrangência do currículo e o pouco tempo
disponível para a formação do professor; a idéia do ensino de ciência
integrada através do método de projetos (...); a separação entre o
bacharelado e a licenciatura; a necessidade premente de formação
de um grande contingente de licenciados em curto espaço de tempo,
para atender às regiões do país carente de professores; etc.
(BRAGA, 1988, p.152)
As contestações por parte da comunidade científica foram tantas que o CFE
se viu obrigado a adiar a implantação da Resolução CFE 30/1974. Assim, por
meio da Resolução CFE 5/1978 o CFE revogou a Resolução 37/1975 e criou
em julho do mesmo ano, uma comissão, Comissão de Especialistas em Ensino de
Ciências (CEEC), para reexaminar a matéria e propor um projeto que substituísse a
Resolução CFE nº 30/1974.
Essa comissão concluiu seus trabalhos em 1980 lançando dois documentos,
“Minuta de Resolução” e a “Indicação sobre a Resolução 30”, que segundo Braga
(1988, p.152) “maquiavam a Resolução 30/74”, pois tal proposta mantinha vivos os
fundamentos da proposta anterior, ou seja, a formação polivalente e curta, o ensino
da ciência integrada. No entanto, a proposta da CEEC deixava facultativa a
implantação da licenciatura única em Ciências, isto é, permitia que licenciaturas
funcionassem no modelo anterior à Resolução 30/1974 e, também, permitia a
criação de licenciaturas plenas polivalentes em Ciências para o ensino de 1º Grau.
Algumas divergências no âmbito da própria comissão, durante o
desenvolvimento do trabalho, ocasionou a saída de alguns de seus membros
gerando repercussão na comunidade universitária. Esses acontecimentos levou a
SESu a organizar em agosto de 1980 uma reunião entre a CEEC e membros das
sociedades científicas a fim de apreciarem a proposta da CEEC. As divergências de
opinião entre os representantes das sociedades e a CEEC levou a SESu a solicitar
que, por meio da SBPC, as sociedades científicas enviassem sugestões sobre o
assunto.
A SBPC compôs uma comissão e após reuniões regionais (São Paulo, Rio de
Janeiro, Belo Horizonte, Salvador) encaminhou em dezembro de 1980 um conjunto
125
de propostas à SESu por meio do documento nomeado Sugestões para a Formação
de Professores da área científica para as escolas de 1º e 2º Graus
65
.
Esse documento traz, para a formação de professores de 1º e Graus na
área de Ciências e Matemática, as seguintes sugestões, que sintetizaremos:
Primeiramente, as áreas de Matemática, Biologia, Química e Física devem
ser oferecidas como disciplinas obrigatórias no Ensino de 2º Grau;
Sobre o ensino de Ciências nas quatro primeiras séries do Grau, a
proposta diz que ele poderá estar a cargo do professor habilitado para
àquele nível;
Os professores para o Ensino de e Graus para a área de Ciências e
Matemática deverão ser formados em cursos de licenciatura plena
específica. Assim, especificamente, o curso de Licenciatura em
Matemática
66
habilita o profissional para atuar com a disciplina de
Matemática no Ensino de 1º e 2º Graus, onde:
O ensino de Matemática de a séries do Grau se dará sob a
forma de disciplinas, estando a cargo, obrigatoriamente, de um
licenciado em Matemática;
O ensino de Matemática de a séries do Grau poderá ser
desenvolvido por atividades ou áreas de estudo, estando a cargo de
um professor habilitado para o ensino nesse nível.
A formação pedagógica deverá ser obrigatoriamente oferecida por meio de
disciplinas de caráter técnico e também por disciplinas que abordem as
questões da história e filosofia da Educação, permitindo, assim, ao
licenciado uma “compreensão do papel cultural e social da escola e da
educação” (SBPC, 1981, p.375);
65
Esse documento foi publicada em março de 1981 na revista Ciência e Cultura nº 33 (3).
66
A proposta ainda as orientações para as outras licenciaturas: em Biologia, em Química em
Física.
126
As licenciaturas ainda devem preparar o professor para o trabalho de sala
de aula por meio de disciplinas especiais, tais como Prática de Ensino e
Instrumentação para o Ensino;
Permissão, em caráter provisório, de formar professores em esquemas
emergenciais somente em regiões que comprovarem carência de
professores habilitados;
Proximidade na formação do licenciado e do bacharel, da mesma área,
por meio de uma base comum de formação entre os dois cursos.
Na proposta da SBPC, um item é dedicado para falar sobre as condições de
trabalho do professor, explicitando que não faz sentido apresentar uma proposta
para a educação brasileira que não seja acompanhada de indicações para aprimorar
a situação dos professores, pois não se deve desviar a atenção dos “problemas que
o magistério enfrenta e que são, em última instância, os fatores determinantes da
qualidade do ensino” (SBPC, 1981, p.373).
[...] a baixa remuneração do professor, a instabilidade de seus
contratos, a falta de oportunidade para a ascensão na carreira, as
condições sócio-econômicas dos alunos, a pobreza de materiais
didáticos, a mercantilização do ensino, etc., são fatores muito fortes
que determinam a degradação do nosso ensino.
(SBPC, 1981, p. 374)
Essas idéias trazidas no documento são, sem sombra de dúvidas, importantes
para os profissionais da educação, pois além de evidenciar o comprometimento das
sociedades científicas com questões sociais e trabalhistas, denunciam uma
realidade precária de péssimas condições de trabalho e baixa remuneração, vividas
pelos professores em nosso país, indicando mudanças nesses aspectos e não
somente no currículo dos cursos de licenciaturas.
Gomes (1984, p.1565) faz um quadro comparando as principais
características das propostas apresentadas pela SBPC e pela CEEC. Vejamos:
127
Características Propostas SBPC Propostas CEEC
1. Duração
Somente licenciatura plena
Plenas ou curtas
2. Formação de professores
de Matemática
Separado da licenciatura de
ciências (sem direito de
lecionar ciências)
Diversas possibilidades:
a. Licenciatura em 1º grau,
abrangendo ciências e
matemática
b. Licenciatura em 1º e 2º
graus, ciências e matemática
c. Licenciatura em 2º grau:
física, química, biologia e
matemática (separados)
3. Formação de professores
de biologia, química e física
Licenciatura plena, específicas
Diversas possibilidades:
a. Licenciatura em 1º grau,
abrangendo ciências e
matemática
b. Licenciatura em 1º e 2º grau,
ciências e matemática
c. Licenciatura em 2º grau:
física, química, biologia e
matemática (separados)
4. Formação de professores
de ciências
Habilitação após a licenciatura
plena
Licenciatura de 1º grau (isolada)
Licenciatura em 1º e 2º graus
Complementação, Licenciatura
específica
5. Esquemas emergenciais Admite licenciatura em
ciências em condições muito
especiais
Não prevê
6. Relação com bacharelado Permite a reopção com
aproveitamento de estudo
Não é tratado
7. Principal divergência Rejeita a idéia de ciência
integrada
Aceita a idéia de ciência
integrada.
Fonte: GOMES, 1984, p.1565.
Em função da grande incompatibilidade entre as propostas da CEEC e da
SBPC, a SESu realizou uma consulta em nível nacional às IES que ofereciam cursos
de licenciatura a fim de opinarem sobre ambas as propostas.
De acordo com Hamburger (1984), 128 instituições, das 253 existentes na
época, responderam à consulta, de modo que 40 delas enviaram conclusões e
sugestões sobre as propostas da SBPC e da CEEC. Gomes (1984) apresenta em
seu trabalho um quadro com o resumo das propostas apresentadas pelas
Instituições que se propuseram a responder a consulta feita pelo MEC. Pelo quadro
mostrado por ele fica evidente a preferência das IES pela proposta da SBPC. Como
sabemos, a UFG implantou Resolução CFE 30/1974 e em relação à consulta
feita, emitiu resposta favorável ao documento elaborado pela CEEC, indicando a
128
manutenção de seus currículos adequados à Resolução CFE 30/1974 até o ano
de 1985.
As justificativas apresentadas pela UFG são relatadas por Silva (1984) que
efetua, em seu trabalho, uma análise das respostas dadas à consulta por
universidades da região Sul e Centro-Oeste. Segundo o autor, a UFG apresenta em
seu documento alguns fatores que, em geral, desprestigiam as licenciaturas e
sugere ações para que elas sejam valorizadas. Para essa universidade a
Licenciatura em Ciências deve ser mantida como licenciatura plena. E, ainda, com a
realidade vivida pelo Estado - falta de professores de Ciências - a licenciatura curta
em ciências, efetivada provisoriamente, ajudaria a resolver esse problema.
Em relação à consulta realizada, Hamburger (1984) conclui em seu trabalho
que, entre as instituições respondentes, a proposta da SBPC foi a preferida e,
também, que a maior parte das IES se manifestou pelo retorno das licenciaturas
específicas. Outro dado trazido pela autora informa que a maioria das IES que
oferecem a formação de professores de Ciências Naturais e Exatas são privadas.
De acordo com Braga (1988) o se sabe quais foram os desdobramentos
tomados pelo MEC em relação a esse trabalho de consulta às IES.
3.5 - O Movimento de Educadores da Década de 1980 e as
Propostas para as Licenciaturas
Como vimos no capítulo anterior, em resposta ao conjunto de Indicações de
Valnir Chagas, da cada de 1970, nasceu no início da década de 1980 o
movimento em defesa da formação do educador que, mais tarde, na década de
1990, se transformou na ANFOPE. Esse movimento, desde o início, contou com uma
participão maior de pedagogos. Era tímida a presença de profissionais formados
em licenciaturas específicas.
O I Encontro Nacional do Movimento de educadores, ocorrido no ano de 1983
na cidade de Belo Horizonte, tinha como finalidade discutir questões sobre a
formação de educadores em nosso país. Nesse encontro, posições quanto à
formação de professores foram assumidas e expressadas no Documento Final.
129
Sobre as licenciaturas específicas, de acordo com Candau (1987), o Documento
expressa que:
Todas as licenciaturas devem ter uma base comum de formação, pois elas
objetivam formar professores e a docência é tida com a base da identidade
profissional de todo educador;
Tal base comum, de acordo com o Documento, não deve ser concebida
como um currículo mínimo, ou um elenco de disciplinas, e sim como uma
concepção básica da formação do educador e a definição de um corpo de
conhecimento fundamental” (DOCUMENTO FINAL, 1983, p. 60 apud
CANDAU, 1987, p. 29);
Toda a problemática que envolve as licenciaturas em áreas de conteúdo
específico deve ser trabalhada em conjunto pelos professores
responsáveis pela formação pedagógica e pela área específica,
envolvendo inclusive entidades profissionais e sociedades científicas”
(CANDAU, 1987, p. 29);
Nas licenciaturas específicas devem ser incluídas disciplinas de conteúdo
da área, disciplinas de cunho pedagógico e disciplinas integradoras,
respeitando sempre a base comum;
A formação pedagógica e de conteúdos específicos além de ser fortificada
ao longo do curso, a necessidade de uma integração entre ambas, na
tentativa de que a realidade educacional brasileira esteja presente em todo
o processo dessa formação;
Especialmente em relação à formação pedagógica, o documento diz que é
necessário que ela seja repensada para que se torne mais sólida e,
portanto, menos fragmentada. Indica ainda que o seu desenvolvimento
deve se dar ao longo de todo o curso com uma carga horária ampliada, de
modo a não prejudicar o desenvolvimento dos conteúdos específicos;
As disciplinas integradoras
67
, mencionadas anteriormente, são aquelas
que trabalharão o conteúdo específico na ótica do ensino, ou seja,
67
Para saber mais sobre as disciplinas integradoras ver o artigo “A quem cabe a licenciatura” de Anna
Maria Pessoa de Carvalho e Deise Miranda Vianna, publicado na revista Ciência e Cultura 40 (2) de
fevereiro de 1988.
130
pedagogicamente. Tais disciplinas o de grande importância para a
formação do profissional;
As licenciaturas curtas ou plenas, bem como as licenciaturas parceladas
em Estudos Sociais devem ser extintas imediatamente;
Nas instituições onde são ofertados cursos de licenciatura e bacharelado
na mesma área, não deve existir, inicialmente, separação entre ambos os
cursos, evitando-se dessa maneira uma possível discriminação do curso
de licenciatura;
Durante todo o período do curso deve-se primar pela articulação “prática-
teoria-pratica” em todas as disciplinas desenvolvidas;
As IES devem programar a realização do estágio supervisionado, de
preferência em escola públicas.
Sabemos que durante as outras edições do Encontro Nacional da
CONARCFE e depois da ANFOPE foram aprofundados alguns temas e um dos mais
discutidos foi a Base Comum Nacional.
Em relação à discussão sobre as questões da licenciatura alguns pontos são
praticamente unanimidade entre a comunidade acadêmica, no entanto alguns itens
são polêmicos e continuam sendo alvo de grandes discussões.
De acordo com Braga (1988) são pontos próximos da unanimidade:
a rejeição à licenciatura curta, e à plenificação dos cursos curtos; o
combate ao ensino de ciência integrada; a condenação da
polivalência; a necessidade de uma melhor integração entre os
institutos de conteúdo específicos e as faculdades de educação; a
existência de um tronco comum entre bacharelado e licenciatura; a
defesa de que melhores condições de trabalho e salários dignos são
indispensáveis para se atrair e manter no magistério profissionais
para um ensino de boa qualidade.
(BRAGA, 1988, p. 157)
Como já anunciado anteriormente, alguns pontos foram e são polêmicos entre
os profissionais da educação. De acordo com Braga (1988), algumas das teses do
Movimento Nacional de educadores, acatadas majoritariamente pelos pedagogos,
não são defendidas pelos professores das licenciaturas específicas. Uma das
divergências existentes está na substituição da palavra professor pelo termo
educador, onde educador é definido pelo Movimento Nacional como aquele
profissional
131
que domina determinado conteúdo técnico, científico e pedagógico
que traduz o compromisso ético e político com os interesses da
maioria da população brasileira e é capaz de perceber as relações
existentes entre as atividades educacionais e a totalidade das
relações sociais, econômicas, políticas e culturais em que o processo
educacional ocorre, sendo capaz de atuar como agente de
transformação da realidade em que se insere, assumindo, assim, seu
compromisso histórico.
(DOCUMENTO FINAL, 1983 apud BRAGA, 1988, P.154)
Segundo Braga (1988), em geral, os professores das áreas de conteúdo
específico rejeitam a idéia de formar o “educador”, pois se preocupam “com a
formação do professor e perguntam se é possível educação sem ensino” (BRAGA,
1988, p. 157).
O mesmo autor afirma ainda que a Base Comum Nacional, debatida e
defendida pelo Movimento Nacional, também tem pouca aceitação entre os
profissionais das licenciaturas específicas. Esses profissionais acreditam que a
“base comum impossibilita o tronco comum entre bacharelado e licenciatura numa
mesma área comprometendo irremediavelmente a formação do licenciado” (BRAGA,
1988, p. 157) e, ainda, tal Base Comum “deslocaria o eixo de formação do licenciado
para um plano não desejado: a ênfase no educador, em detrimento do professor”
(BRAGA, 1988, p. 157). No entanto, se mostram favoráveis à presença de
disciplinas, no currículo das licenciaturas, que discutam Filosofia, História e Políticas
Educacionais.
Como sabemos, os profissionais da educação, em cada uma de suas áreas,
têm se manifestado isoladamente ou em conjunto a respeito da formação de
educadores/professores. Como vimos no capítulo anterior, os pedagogos se
articularam em torno da CONARCFE e posteriormente da ANFOPE.
Na área de Ciências e Matemática, “o canal de expressão foi e tem sido as
sociedades científicas, notadamente a SBPC e a SBF, que vêm tratando do assunto
desde 1975” (BRAGA, 1988, p. 157).
Atualmente, em relação à área de Matemática, além da Sociedade Brasileira
de Matemática - SBM, que estava presente juntamente com a SBPC discutindo as
questões da licenciatura em Matemática no final da década de 1970 e início da de
1980, temos a Sociedade Brasileira de Educação Matemática (SBEM), criada em 17
de janeiro de 1988. O objetivo dessa sociedade é congregar profissionais da área de
Educação Matemática e de áreas afins para buscar meios para o desenvolvimento
da formação matemática de todo cidadão de nosso país.
132
3.6 - A Caminho das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso
de Matemática
No ano de 1997, um ano após a promulgação da LDB/1996, o MEC solicitou,
por meio do Edital 4/1997, que as instituições do país enviassem sugestões para
as CEEs das diferentes áreas, visando à discussão e elaboração de DCN para os
cursos superiores. Esgotado o prazo para o envio das sugestões, as Comissões
foram convocadas para darem início aos trabalhos: sistematizar as sugestões e
produzirem as propostas a serem encaminhadas ao Conselho Nacional de
Educação. A partir de dezembro de 1998 as primeiras propostas sistematizadas
foram divulgadas na Internet para que fossem alvos de discussões e críticas
gerando novas sugestões.
Os cursos de Licenciatura também receberam Diretrizes Curriculares. A SESu
observou a necessidade de promover articulações entre as diferentes áreas que
oferecem formação para o exercício do magistério na Educação Básica, de modo a
elaborar diretrizes gerais para as licenciaturas, objetivando fortalecer essa formação.
Assim, a SESu formou um grupo, que chamou de grupo-tarefa, composto por
especialistas em formação de professores, incumbido de formular um documento
com orientões “que possam caracterizar as licenciaturas como uma formação
profissional com identidade própria, superando, assim, sua condição atual, que em
geral, não tem passado de um apêndice do bacharelado” (BRASIL, MEC, SESu, s.d,
p. 4). A SESu tinha o objetivo de aproximar a proposta que seria elaborada por esse
grupo-tarefa e as propostas das diferentes CEEs que estavam trabalhando na
elaboração da diretrizes dos cursos de graduação que também oferecem a
modalidade licenciatura.
Assim, em 8 de maio de 2001 o Parecer CNE/CP 9, que trata das DCN
para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de
licenciatura, de graduação plena foi aprovado. Tal Parecer recebeu nova redação no
item 3.6 alínea c, que trata sobre o estágio supervisionado, em outubro do mesmo
ano por meio do Parecer CNE/CP nº 27/2001.
Desse modo, pautada nesses dois Pareceres, em 18 de fevereiro de 2002,
por meio da Resolução CNE/CP 1, foram instituídas as DCN para a Formação de
Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de
133
graduação plena. As diretrizes, de acordo com seu artigo “constituem-se de um
conjunto de princípios, fundamentos e procedimentos a serem observados na
organização institucional e curricular de cada estabelecimento de ensino e aplicam-
se a todas as etapas e modalidades da educação básica” (BRASIL, CNE, 2002, p.1).
Tal Resolução aborda, de modo mais específico, as competências e
habilidades que devem ser desenvolvidas nos futuros professores, carga horária,
avaliação (as competências servirão de referência para avaliação), organização
institucional e pedagógica, princípios norteadores que devem estar presentes no
processo de formação e também sobre a prática, indicando que ela deve permear
todo o período do curso e não somente no estágio supervisionado.
Uma Resolução especialmente voltada para a duração e para a carga horária
dos cursos de Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior,
curso de licenciatura, de graduação plena foi homologada no dia 19 de fevereiro de
2002. Tal Resolução CNE/CP 2/2002 pautou-se no Parecer CNE/CP 28, de 02
de outubro de 2001, que altera a redação do Parecer CNE/CP nº 21, de 6 de agosto
de 2001.
A Resolução CNE/CP 2/2002 estabelece uma carga horária mínima de
2800 (duas mil e oitocentas) horas a serem efetivadas ao longo do curso. Dessa
carga horária total, deve-se garantir por meio da articulação teoria-prática, nos
termos dos projetos pedagógicos de cada curso,
I - 400 horas de prática como componente curricular, vivenciadas ao
longo do curso;
II - 400 (quatrocentas) horas de estágio curricular supervisionado a
partir do início da segunda metade do curso;
III - 1800 (mil e oitocentas) horas de aulas para os conteúdos
curriculares de natureza científico-cultural;
IV - 200 (duzentas) horas para outras formas de atividades
acadêmico-científico-culturais.
(BRASIL, CNE/CP, 2002, p.1)
A carga horária mínima exigida para os cursos de formação de professores foi
alvo de críticas por alguns autores. Para Freitas (2002), nos cursos de formação de
professores é exigida uma carga horária menor comparada com a carga horária
exigida em outros cursos que formam profissionais mais valorizados em nossa
sociedade. De certo modo, a autora compreende que as Diretrizes privilegiam o
aligeiramento e o rebaixamento da formação de professores entre outras questões
que ela traz em seu trabalho.
134
Pela leitura da Resolução CNE/CP nº 1/2002 compreendemos que a
existência de Institutos Superiores de Educação é fortalecida. Em seu art. 7º, item
VIII, diz da criação dos Institutos Superiores de Educação e de Cursos Normais
Superiores como espaço de formação de professores, reforçando, portanto, o que a
LDB/1996 havia anunciado. De acordo com Freitas (2002), a ANFOPE se
manifestou em uma audiência pública para apresentação das diretrizes, enviando
um documento ao CNE. Nesse documento a ANFOPE dá destaque essa questão do
locus de formação de professores alertando para
o forte viés, presente no documento em análise, de institucionalizar a
formação de professores nos institutos superiores de educação como
local exclusivo para tal missão, em vez de indicar fortemente a
responsabilidade da instituição universitária como locus preferencial
para o enfrentamento de tal tarefa.
(ANFOPE, 2001 apud FREITA, 2002, P.151)
Assim, as Resoluções apresentadas acima, que regulamentam todos os
cursos de Licenciatura, regulamentam também o curso de Licenciatura em
Matemática e é por meio delas que ele deverá, também, se fundamentar e adequar
o seu Projeto Pedagógico.
A Comissão de Especialistas do Ensino de Matemática (CEEM) recebeu um
total de 32 sugestões para serem sistematizadas e, por meio delas, elaborar as DCN
para o curso de Matemática (bacharelado e licenciatura). Trabalhando com
sugestões e fazendo as consultas previstas à comunidade acadêmica, a CEEM
finalizou os trabalhos de sistematização das propostas recebidas e, desse modo, o
Parecer CNE/CES 1.302, que trata da matéria foi homologado.em 06 de
novembro de 2001,
Nesse Parecer, de início, são definidos os objetivos do curso de
Matemática. O bacharelado objetiva “preparar profissionais para a carreira de ensino
superior e pesquisa” (BRASIL, CNE/CES 2001, p.1) e a licenciatura tem como meta
a “formação de professores para a educação básica” (BRASIL, CNE/CES 2001, p.1).
Focando os objetivos para a licenciatura vemos que ao explicitar de modo geral que
o curso formará professores para a “Educação Básica”, o Parecer não restringe a
etapa de atuação do licenciado, de modo que podemos entender que a licenciatura
e, Matemática poderá também formar profissionais para as primeiras fases da
Educação Básica.
135
Algo nos causou estranheza no voto do Relator Francisco César de
Barreto. Ele diz ser favorável à “aprovação das Diretrizes Curriculares para o Curso
de Matemática, Bacharelado(BRASIL, CES 2001, p.1), e do projeto de resolução
que acompanha o Parecer, não mencionando, portanto, a Licenciatura. Qual o
motivo que levou o Relator mencionar apenas o bacharelado uma vez que as
Diretrizes para o curso de Matemática dizem respeito também a Licenciatura?
O Parecer CNE/CES 1.302/2001 traz tópicos considerados importantes e
que devem fazer parte do projeto de formação de profissionais em um curso de
Matemática. São focados pontos como: perfil dos formados; competências e
habilidades; estrutura do curso; conteúdos curriculares; estágio e atividades
complementares. Faremos a apresentação desses tópicos, focando o que é
proposto para a licenciatura em Matemática.
Quanto ao perfil do Licenciado em Matemática deseja-se que os cursos
construam as seguintes características em seus alunos:
Visão de seu papel social de educador e capacidade de se inserir
em diversas realidades com sensibilidade para interpretar as
ações dos educandos
Visão da contribuição que a aprendizagem da Matemática pode
oferecer à formação dos indivíduos para o exercício de sua
cidadania
Visão de que o conhecimento matemático pode e deve ser
acessível a todos, e consciência de seu papel na superação dos
preconceitos, traduzidos pela angústia, inércia ou rejeição, que
muitas vezes ainda estão presentes no ensino-aprendizagem da
disciplina.
(BRASIL, CNE/CES, 2001, p. 3)
As competências e habilidades desejadas para os profissionais formados pelo
curso de Matemática são apresentadas de modo genérico, ou seja, são
apresentadas primeiramente as habilidades e competências gerais e comuns ao
bacharelado e a licenciatura. Em seguida são explicitadas aquelas desejadas para o
educador matemático especificamente. Assim, aspira-se que o currículo da
Licenciatura em Matemática desenvolva as seguintes habilidades e competências no
futuro educador matemático:
a) elaborar propostas de ensino-aprendizagem de Matemática para a
educação básica;
b) analisar, selecionar e produzir materiais didáticos;
c) analisar criticamente propostas curriculares de Matemática para a
educação básica;
d) desenvolver estratégias de ensino que favoreçam a criatividade, a
autonomia e a flexibilidade do pensamento matemático dos
136
educandos, buscando trabalhar com mais ênfase nos conceitos do
que nas técnicas, fórmulas e algoritmos;
e) perceber a prática docente de Matemática como um processo
dinâmico, carregado de incertezas e conflitos, um espaço de criação
e reflexão, onde novos conhecimentos são gerados e modificados
continuamente;
f) contribuir para a realização de projetos coletivos dentro da escola
básica.
(BRASIL, CNE/CES, 2001, p. 4)
Os conteúdos curriculares devem ser estruturados de modo que os conceitos
matemáticos trabalhados e os processos de ensino utilizados possam partir das
representações que os alunos já possuem e, ainda, serem estruturados objetivando
construir uma visão global dos conteúdos de maneira teoricamente significativa.
Os conteúdos curriculares devem também levar em consideração o perfil e as
habilidades e competências definidas. Para a licenciatura em Matemática são
definidos os seguintes conteúdos a serem desenvolvidos por meio de disciplinas ao
longo do curso:
Cálculo Diferencial e Integral;
Álgebra Linear;
Fundamentos de Análise;
Fundamentos de Álgebra;
Fundamentos de Geometria;
Geometria Analítica;
Conteúdos matemáticos presentes na Educação Básica nas áreas de
Álgebra, Geometria e Análise;
Conteúdos de áreas afins à Matemática;
Conteúdos da Ciência da Educação, da História e Filosofia das Ciências e
da Matemática.
Orienta-se ainda que o curso propicie aos alunos contato com o computador e
outras tecnologias para que adquiram familiaridade e possam utilizá-los no trabalho
em sala de aula na Educação Básica, a fim de aprimorar o ensino da Matemática.
O Parecer ainda indica ações a serem realizadas pelo aluno no intuito de
complementar a sua formação, tais como a participação de programas de iniciação
científica e à docência, a elaboração de monografias. E no caso específico da
licenciatura há ainda a realização do estágio supervisionado. De acordo com o
Parecer o estágio é essencial nos cursos de formação de professores, pois ele
137
auxilia o aluno, por meio de ações pedagógicas orientadas por profissionais
experientes, no processo de familiarização do trabalho docente, de modo gradativo.
O Parecer CNE/CES 1.302/2001 no ano de 2003 consubstanciou-se na
Resolução CNE/CES 3 de 18 de fevereiro que institui as Diretrizes Curriculares
Nacionais para o curso de Matemática, Bacharelado e Licenciatura. Em seu artigo 1º
diz que as Diretrizes Curriculares, oriundas do Parecer CNE/CES 1.302/2001,
deverão orientar a elaboração do projeto pedagógico do curso de Matemática,
Bacharelado e Licenciatura. Desse modo, em seu artigo 2º são explicitados os
pontos que deverão estar presentes nesse projeto. Esses itens são trazidos também
pelo Parecer e foram apresentados neste trabalho. Um dos pontos trazidos na
Resolução é nomeado como “formas de avaliação”, no entanto, ele não é explicitado
com maiores detalhes no Parecer CNE/CES 1.302/2001 e nem mesmo na
Resolução CNE/CES nº 3/2003 que o apresenta.
No que se refere a carga horária do curso de Licenciatura em Matemática, ela
está regulamentada pela Resolução CNE/CP nº 2/2002 que estabelece a carga
horária para os cursos de formação de professores.
A aprovação de DCN para o curso de Matemática, Bacharelado e
Licenciatura, e para outros cursos de graduação, se mostra, em nosso entender,
como uma ação positiva do MEC, pois se buscou levar em consideração as
propostas oriundas das IES. Apesar de existirem as Diretrizes Curriculares
específicas para os cursos de formação de professores, que atingem também o
curso de Licenciatura em Matemática, temos uma que se volta de modo específico
para ele.
Como dito anteriormente, as Diretrizes para o curso de Licenciatura em
Matemática definem a Educação Básica como área de atuação do licenciado. Como
a Educação Básica compreende, de acordo com a LDB/1996, a Educação Infantil, o
Ensino Fundamental (e fase) e o Ensino Médio, entendemos que as Diretrizes
não fecham a formação do licenciado para sua atuação somente na segunda fase do
Ensino Fundamental e no Ensino Médio, apesar da tradição de as licenciaturas
formarem professores para essas fases do ensino.
138
3.7 - O que Diz a Sociedade Brasileira de Educação Matemática -
SBEM sobre as Diretrizes
Fizemos anteriormente uma apresentação do conteúdo das DCN para o curso
de Matemática. No entanto, são identificadas, nesse documento, algumas
incoerências que o discutidas pelas sociedades científicas. Assim, apoiadas pela
SBEM traremos algumas criticas às DCN para o curso de Matemática apresentadas
no Documento: Subsídios para a Discussão de Propostas para os Cursos de
Licenciatura em Matemática: uma Contribuição da Sociedade Brasileira de
Educação Matemática.
Entendendo que o processo de discussão sobre as DCN para a Licenciatura
em Matemática não pode desconsiderar todo o trabalho teórico e prático de
profissionais que vêm desenvolvendo pesquisas e atuando em várias instituições, a
SBEM fez uma síntese das discussões sobre o assunto, ocorridas em suas
Diretorias Regionais e com a colaboração de pesquisadores da área, no intuito de
contribuir para a discussão sobre os cursos de Licenciatura em Matemática e a
formação de professores dessa área.
Anexaram nesse documento a carta enviada ao CNE e à SESu solicitando a
reabertura de espaço para discussão e elaboração de uma nova proposta de
Diretrizes para o curso de Matemática e, juntamente com essa carta, apresentam um
anexo contendo as discussões e algumas observações preliminares sobre as DCN
para o curso de Matemática, Bacharelado e Licenciatura.
De acordo com a SBEM o Parecer CNE/CES 1.302/2001, que trata das
DCN para o curso de Matemática, representa um retrocesso em relação as
discussões que vinham sendo feitas pela comunidade de educadores matemáticos
e, em função disso, solicita reexame da matéria com a participação das instituições
superiores de ensino e das sociedades científicas e representativas de professores.
Essa solicitação foi feita no I Fórum Nacional de Licenciatura em Matemática.
No estudo do Parecer CNE/CES 1.302/2001, durante o I Fórum Nacional
de Licenciatura Matemática, ocorrido em agosto de 2002, alguns aspectos foram
destacados pelos membros dos Grupos de Trabalho, a saber:
O Primeiro aspecto evidenciado, destacado por nós anteriormente, diz do
voto do relator e conselheiro Francisco César de Barreto, que não deixa claro se
139
a sua aprovação abrange também o curso de Licenciatura, visto que menciona
apenas o Bacharelado.
De acordo com a comunidade de educadores presentes no Fórum, a proposta
contida no Parecer “não contempla e, em alguns casos nega, aspectos que têm sido
considerados fundamentais para a formação de professores de Matemática em
fóruns nacionais de educadores” (SBEM, 2002, p.38) e referindo especificamente ao
curso de Licenciatura em Matemática, tais Diretrizes “ignoram e até mesmo
contradizem princípios apresentados nas ‘Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Formação de Professores da Educação Básica’” (SBEM, 2002, p. 38). Tais aspectos
e contradições são também trazidos nesse documento.
Como mostrado, a Licenciatura em Matemática é caracterizada no Parecer
como um curso que prepara o profissional específico para o ensino e atuação na
Educação Básica. De acordo com a SBEM tal caracterização deixa subtender que
“não há necessidade de uma ‘formação sólida’ em várias áreas do conhecimento,
sobretudo em Matemática e em Educação Matemática” (SBEM, 2002, p. 38) e ainda
diferencia a formação que deve ser oferecida em ambos os cursos, trazendo para a
Licenciatura “uma educação ‘menos sólida’, mais superficial” (SBEM, 2002, p. 38).
Recorrem ao perfil trazido para ambos os cursos para mostrar esse aspecto.
Para o Bacharel em Matemática deseja-se uma “sólida formação de
conteúdos (...); uma formação que lhes prepare para enfrentar desafios das pidas
transformações da sociedade (...)” (BRASIL, CES, 2001, p. 3), enquanto que para o
Licenciado em Matemática espera-se somente que ele adquira visões e tenha
sensibilidade e consciência, como pode ser visto anteriormente quando trouxemos o
perfil do licenciado presente no Parecer.
Os educadores matemáticos criticam e afirmam que a formação ‘superficial’
está presente no documento das Diretrizes como um todo. Mas, de modo específico
no instante em que é dito que apenas ao bacharel em Matemática será oferecida
uma formação visando a pesquisa e o ensino superior” (BRASIL, CNE/CES, 2001,
p. 3).
De acordo com o documento da SBEM, tal afirmação denota o total
desconhecimento de que a Educação Matemática é uma área de conhecimento
consolidada nacional e internacionalmente e, também, evidencia que o curso de
Licenciatura não é reconhecido como capaz de formar o professor do Ensino
140
Superior e de formar pesquisadores; e ainda, evidencia que a prática de pesquisa
não é contemplada como uma alternativa para a formação docente.
Este último ponto é exemplificado com o item do Parecer que trata sobre o
estágio supervisionado e as atividades complementares. Em tal item, recomenda-se
que no Bacharelado sejam desenvolvidas atividades complementares que auxiliem
na formação do pesquisador, enquanto que para a Licenciatura diz que o educador
matemático “deve ser capaz de tomar decisões, refletir sobre sua prática e ser
criativo na ação pedagógica” (BRASIL, CNE/CES, 2001, p.6). Dessa forma, “não
aparece como uma possibilidade de organização curricular da Licenciatura em
Matemática ‘o aprimoramento, do futuro professor, em práticas investigativas’, como
recomenda o Artigo (item IV) da Resolução CNE/CP 1 de 18/02/2002” (SBEM,
2002, p. 40).
Outra incoerência é apontada no momento em que são apresentadas as
habilidades e competências e os conteúdos curriculares. Em primeiro lugar são
trazidas as habilidades e competências que se deseja para os egressos de ambos
os cursos e especificamente para os alunos da Licenciatura acrescentam-se mais
seis. Entretanto, mesmo desejando-se as mesmas habilidades e competências para
os alunos de ambos os cursos, “fica explícita a tentativa de ‘reduzir e ‘suavizar as
disciplinas de conteúdo matemático para o licenciado” (SBEM, 2002, p. 40).
Assim, a Sociedade Brasileira de Educação Matemática contesta a falta de
articulação entre o que a comunidade de educadores matemáticos vem produzindo
sobre a área e o que é exposto nas Diretrizes, que revela a fragmentação entre o
conhecimento matemático e o pedagógico. E, ainda, se coloca à disposição no
intuito de contribuir na “constituição de um currículo de formação do licenciado em
matemática em bases mais próximas da produção teórica sobre a formação do
educador matemático” (SBEM, 2002, p. 42).
3.7.1 - A Proposta da SBEM
No Fórum Nacional realizado pela SBEM, além da análise das Diretrizes
Curriculares para o curso de Matemática, explicitada acima, a sociedade, por meio
da discussão e de sugestões advindas das Diretorias Regionais, elaborou uma
proposta para ser encaminhada às instituições e também ao CNE juntamente com a
141
carta que analisa o conteúdo das Diretrizes. Como dito, a proposta lançada pela
SBEM para a formação de professores de Matemática é fruto de intensos debates
entre a comunidade de Educadores Matemáticos de vários Estados do Brasil,
sintetizadas com a Realização do I rum Nacional de Licenciaturas em Matemática
em agosto de 2002.
Na proposta feita pela SBEM são trazidas questões pertinentes à formação de
professores, em especial para os cursos de Licenciatura em Matemática.
Em primeiro lugar, extraem das discussões ocorridas entre a comunidade de
educadores matemáticos que o curso de Licenciatura em Matemática deve ser
concebido “como um curso de formação inicial em Educação Matemática, numa
configuração que permita romper com a dicotomia entre conhecimentos pedagógicos
e conhecimentos específicos e com a dicotomia entre teoria e prática” (SBEM, 2002,
p.4).
Evidenciam, em segundo, os problemas a serem enfrentados nos cursos de
Licenciatura em Matemática para que, conscientes deles, se possa pensar e
compreender o perfil do egresso, entre outros aspectos, presente em sua proposta.
Assim, qual o perfil do Licenciado em Matemática desejado pela Sociedade
Brasileira de Educação Matemática?
Na proposta apresentada pela SBEM não é exposto de modo direto o perfil do
egresso. São destacados os papéis a serem desempenhados pelo professor de
Matemática para que, por meio deles tenha-se condições de definir o perfil de um
profissional que é solicitado a “formular questões que estimulem a reflexão de seus
alunos, que possua sensibilidade para apreciar a originalidade e a diversidade na
elaboração de hipóteses e de proposições de solução aos problemas” (SBEM, 2002,
p. 7). Esses papéis são:
Conceber a Matemática como um corpo de conhecimento
rigoroso, formal e dedutivo, mas também como atividade
humana.
Construir modelos matemáticos para representar os problemas e
suas soluções.
Criar e desenvolver tarefas e desafios que estimulem os
estudantes a coletar, organizar e analisar informações, resolver
problemas e construir argumentações lógicas.
Estimular a interação entre três componentes básicos da
Matemática: o formal, o algorítmico e o intuitivo.
Estimular seus alunos para o uso, natural e rotineiro, da
tecnologia nos processos de ensinar, aprender e fazer
Matemática.
142
Estimular seus alunos para que busquem alcançar uma ampla e
diversificada compreensão do conhecimento matemático e para
vincular a Matemática com outras áreas do conhecimento
humano.
Propiciar situações ou estratégias para que seus alunos tenham
oportunidade de comunicar idéias Matemáticas.
Relacionar a Matemática com a realidade, a fim de ajudar seus
alunos na tarefa de compreender como essa ciência permeia
nossa vida e como os seus diferentes ramos estão
interconectados.
Utilizar diferentes representações semióticas para uma mesma
noção Matemática, usando e transitando por representações
simbólicas, gráficas, numéricas, entre outras.
(SBEM, 2002, p. 8)
Para que os futuros profissionais possam ter um desempenho adequado dos
papéis citados acima, indicam que os cursos de formação, inicial e continuada, de
professores de Matemática sejam repensados e modificados. A reorganização dos
cursos, de acordo com a proposta, deve ser pensada levando em consideração
alguns aspectos:
A importância de se propor atividades curriculares que favoreçam o
desenvolvimento de uma cultura geral” (SBEM, 2002, p. 10);
Integração, na cultura profissional, de “tudo aquilo que é próprio da
atuação do professor de Matemática” (SBEM, 2002, p. 10), inserindo-a em
um contexto mais amplo, ou seja, na “própria realidade social e política
brasileira e suas questões educacionais” (SBEM, 2002, p. 10);
Discussão, de forma contextualizada, sobre temas próprios da docência,
tais como: currículo, gestão escolar, relação professor-aluno, avaliação,
entre outros;
Preparar e incentivar a leitura e a produção de textos acadêmicos;
Contato com Tecnologias da Informação e Comunicação, afim de que
alunos apropriem -se de seu uso;
A pesquisa como integrante do processo de ensino e de aprendizagem
dos conteúdos escolares; a pesquisa como conteúdo de aprendizagem na
formação, para que os alunos possam conhecer os métodos, as
abordagens e concepções de pesquisa em Educação Matemática;
Compreendem a importância de um projeto pedagógico de qualidade para a
construção de um curso de Licenciatura em Matemática com identidade própria.
143
Assim, afirmam ser necessário que um projeto de formação inicial de professores
atenda os seguintes requisitos:
Contemple uma visão histórica e social da Matemática e da
Educação Matemática, numa perspectiva problematizadora
das idéias Matemáticas e educacionais.
Promova mudanças de crenças, valores e atitudes prévios
visando a uma Educação Matemática crítica.
Propicie a experimentação e a modelagem de situações
semelhantes àquelas que os futuros professores terão que
gerir.
(SBEM, 2002, p. 13)
A proposta da SBEM traz ainda uma discussão sobre a Matemática, a
Educação, a Educação Matemática, a Prática de Ensino e o Estágio Supervisionado
nos cursos de Licenciatura em Matemática. Nas linhas que se seguem
sintetizaremos as discussões apresentadas.
a) A Matemática nos Cursos de Licenciatura em Matemática
De acordo com a SBEM (2002), os conteúdos de Análise, Álgebra, Geometria,
Probabilidade, Estatística, entre outros, constituirão no curso de Licenciatura em
Matemática “os chamados conhecimentos substantivos do futuro professor” (SBEM,
2002, p. 14), de modo que devem ser escolhidos e abordados de forma a possibilitar
ao futuro professor conhecimentos amplo, consistente e articulado da Matemática,
destacando “aspectos de sua construção histórica, suas aplicações em outras áreas,
os principais métodos utilizados por matemáticos ao longo dos tempos, os desafios
atuais dessa área de conhecimento e as pesquisas matemáticas em
desenvolvimento” (SBEM, 2002, p.15)
Esses conteúdos devem, ainda, ser organizados de forma não
compartimentada. Em relação aos conteúdos da Educação Básica, a SBEM afirma
que devem ser tratados em seus aspectos epistemológicos e históricos, articulando
ainda com os demais conteúdos matemáticos e educacionais, deixando de ser
abordados apenas como pré-requisitos e nivelamento para a continuidade dos
estudos de disciplinas matemáticas do curso.
A proposta da SBEM deixa claro que o tratamento dos conteúdos
matemáticos no decorrer do curso é um aspecto importante para a formação, pois é
essencial que o futuro professor seja capaz de desenvolver diversas ações que
144
abarquem esses conteúdos. Essas ações só se tornarão possíveis se nas disciplinas
matemáticas não for priorizado o aspecto algorítmico.
Desse modo, são apresentados aspectos importantes, recomendados para
abordagem nas disciplinas de Cálculo Diferencial e Integral, Álgebra, Geometria,
Probabilidade e Estatística, enfatizando ainda que nas diferentes disciplinas
matemáticas devem ser planejadas atividades que estabeleçam uma articulação
entre outras áreas do conhecimento, gerando no futuro professor a construção de
conhecimentos de outras áreas além de desenvolver um trabalho interdisciplinar.
b) A Educação nos Cursos de Licenciatura em Matemática
As disciplinas chamadas “pedagógicas” são alvo de críticas tanto quanto as
disciplinas de conteúdo matemático. As primeiras são apontadas, em geral, como
desinteressantes pelos alunos das Licenciaturas, enquanto que as disciplinas
matemáticas são criticadas por serem apresentadas de modo desvinculado das
necessidades de formação dos professores. Assim, de acordo com a SBEM (2002,
p.18), nos cursos de Licenciatura em Matemática, a “abordagem tradicional dos
chamados Fundamentos da Educação’ (Sociologia da Educação, Psicologia da
Educação, Filosofia da Educação) precisa ser revista”.
É importante que se busque trabalhar “sobre o papel do professor de
Matemática como educador”, partindo de problematizações reais e abrangendo
também contextos mais amplos. Deseja-se ainda que sejam trabalhadas questões
como: “políticas públicas de educação, dados estatísticos, as relações da educação
com o trabalho, as relações entre escola e sociedade (...), a análise da escola como
instituição (...), a concepção de comunidade escolar, a gestão escolar democrática”
(SBEM, 2002, p.19).
c) A Educação Matemática nos Cursos de Licenciatura em Matemática
A Educação Matemática, atualmente, é uma área de conhecimento
consolidada, de modo que suas discussões e pesquisas devem permear os cursos
de Licenciatura em Matemática “dotando a formação do professor de Matemática de
um conteúdo que lhe é próprio” (SBEM, 2002, p.20). Assim afirma a SBEM:
145
(...) neste início do século XXI, um Curso de Licenciatura em
Matemática não pode ser concebido sem a preocupação e o
compromisso de proporcionar ao professor em formação, um amplo
conhecimento da Educação Matemática, de suas motivações, dos
conteúdos de suas investigações, das implicações e resultados sobre
o ensino e a aprendizagem da Matemática (...)
(SBEM, 2002, p.20)
O estudo da Educação Matemática traz para o currículo dos cursos de
formação de professores algumas dimensões epistemológicas, filosóficas,
históricas, psicológicas, políticas, metodológicas e culturais que contribuirão para
uma melhor compreensão dos processos de ensino e de aprendizagem da
Matemática e também do papel social e político que ela carrega.
d) A Prática de Ensino e o Estágio Supervisionado nos Cursos de
Licenciatura em Matemática
As atividades de Prática de Ensino devem permear todo o processo de
formação, não acontecendo isoladamente. Por esse motivo, a SBEM (2002) diz que
em todas as disciplinas e não somente as “pedagógicas”, devem ter sua dimensão
pedagógica.
Orienta-se que nas atividades práticas os alunos aprendam e discutam como
registrar o que aprendem, dando destaque às suas opiniões, seus sucessos, suas
preocupações, etc. Entre outras ações, recomenda-se que os alunos sejam
direcionados a elaborar portfolios contendo suas observações, analisar livros
didáticos e protocolos de alunos e ainda, dentre as ações fundamentais da Prática
de Ensino está a elaboração de projetos de trabalho.
O Estágio Supervisionado, assim como a Prática de Ensino, não pode se
configurar como um espaço isolado e desarticulado das demais atividades do curso.
Ele deve ter como objetivos:
(...) proporcionar a imersão do futuro professor no contexto
profissional, por meio de atividades que focalizem os principais
aspectos da gestão escolar, como a elaboração da proposta
pedagógica, do regimento escolar, a gestão dos recursos, a escolha
dos materiais didáticos, o processo de avaliação e a organização dos
ambientes de ensino, em especial no que se refere às classes de
Matemática.
(...) a análise reflexiva da prática, por meio de observação em salas
de aula de Matemática do Ensino Fundamental e Médio.
(SBEM, 2002, p. 22, 23)
146
Portanto, essas são as idéias da SBEM sobre a presença da Matemática,
Educação Matemática, Educação, Prática de Ensino e Estágio Supervisionado nos
cursos de Licenciatura em Matemática. Destacaremos abaixo outros pontos trazidos
pela sociedade.
Indica-se ainda a necessidade de se repensar a formação dos formadores de
professores e a escolha dos profissionais para atuarem nos cursos de Licenciatura,
pois para constituir a identidade do curso apoiada em conhecimentos matemáticos
vinculados ao tratamento pedagógico e histórico se faz necessário dar mais atenção
a esses aspectos do processo de formação. Desse modo, dizem da importância dos
formadores de professores nos cursos de Licenciatura para que haja “coerência
entre o perfil do curso e o do profissional que se quer formar” (SBEM, 2002, pp. 25,
26). Assim, ao repensar o papel e perfil do formador de professores está, também,
definindo e repensando o curso de Matemática e os profissionais que ele irá formar.
O formador deve estar engajado na construção do projeto pedagógico do
curso e comprometido com ele; estar ciente que os conteúdos abordados irão
instrumentalizar o professor em formação em sua futura atividade docente; conhecer
pesquisas em Matemática e em Educação Matemática sobre o assunto que irá
ensinar; conhecer as políticas educacionais entre outras características desejáveis
para a sua postura e atuação profissional.
A proposta da Sociedade ainda traz discussões sobre as condições políticas e
estruturais para a formação de professores de Matemática, bem como as políticas
de valorização da profissão e sobre as condições de trabalho do formador de
professores.
Sobre a valorização do trabalho docente, reivindicam políticas salariais dignas
e condições de trabalho adequadas. Quanto às condições de trabalho do formador,
reivindicam uma política consistente de composição do corpo docente dos cursos e
que sejam priorizadas as atividades de ensino, pesquisa e extensão por meio de
condições de trabalho apropriadas.
Tratam ainda sobre a avaliação do curso de Licenciatura em Matemática
reivindicando que ela não seja realizada utilizando-se apenas de um instrumento
como foi o Exame Nacional de Cursos. Indicam a necessidade de “estimular o
processo de autocrítica das instituições formadoras, com vistas a garantir a
qualidade de seus projetos” (SBEM, 2002, p. 29).
147
Analisando a proposta da Sociedade Brasileira de Educação Matemática
vemos que ela também não define de forma “precisa” o locus de atuação do futuro
professor de Matemática e conseqüentemente o foco da formação que deverá ser
oferecida. Ou seja, diz da formação desse profissional para atuar na Educação
Básica - Ensino Fundamental e Médio, isto é, de acordo com a legislação vigente.
Quando a proposta trata dos locais onde os alunos cumprirão o estágio
supervisionado ela o faz de modo bem flexível, abrindo possibilidades para o
estudante estagiar em qualquer nível e/ou modalidade da Educação Básica. Assim,
entendemos neste trecho da proposta da SBEM que o aluno poderá estagiar em
qualquer fase do Ensino Fundamental, no Ensino Médio e na Educação de Jovens e
Adultos.
As atividades que culminam o Estágio Supervisionado são as de
regência em salas de aula de Matemática nos diferentes níveis e
modalidades da educação básica em que o futuro professor poderá
atuar.
(SBEM, 2002,p. 24)
Assim, compreendemos que a Sociedade, na proposta analisada e no que se
refere ao campo de atuação, se mostra de modo flexível, podendo o licenciado em
Matemática atuar também nos primeiros anos de escolarização, ou seja, do ao 5º
ano do Ensino Fundamental.
3.8 - A Caminho de uma Síntese Compreensiva sobre a Formação
do Professor de Matemática dos Anos Iniciais do Ensino
Fundamental no Curso de Licenciatura em Matemática
Do analisado e interpretado constatamos que os cursos de Licenciaturas
tradicionalmente destinaram-se à formação de professores para o Ensino
Secundário, que posteriormente, com a LDB/1996, passou a ser nomeado de Ensino
Fundamental (especificamente em sua 2º fase) e Ensino Médio. Ou seja, a formação
de professores em nível superior, em cursos de Licenciatura, nasceu na década de
1930 com o objetivo de formar professores para o Ensino Secundário, elevando a
formação que anteriormente era ofertada em Escolas Normais.
148
Na década de 1960 algumas modificações foram introduzidas nos cursos de
Licenciaturas e, desse modo, no curso de Licenciatura em Matemática. No entanto,
essas reformas não alteraram a estrutura do curso, apenas acrescentaram ou
retiraram algumas disciplinas. O curso permaneceu com a incumbência de formar
professores para o Ensino Médio (antigo Ensino Secundário), de modo que a
formação de professores para o Ensino Primário estava, de acordo com a Lei
4.024/1961, a cargo das Escolas Normais.
Na década de 1970, a aprovação da Lei 5.692/1971 trouxe modificações
para as escolas de 1º e 2º Graus e impulsionou a aprovação de reformas que
também atingissem os cursos superiores de formação de professores. O curso de
Matemática, juntamente com outros cursos da área de Ciências, passou por
transformações acarretadas pela Indicação CFE nº 46/1974.
Tal Indicação, que rapidamente consubstanciou-se na Resolução CFE nº
30/1974, transformou os cursos de Licenciatura em Matemática, Física, Química e
Biologia em um curso único de Licenciatura em Ciências. Tal curso poderia ser feito
em duração curta, formando o profissional para atuar com o ensino de Ciências no
1º Grau ou em duração plena, licenciando o professor para atuar também no 2º Grau
com o ensino da área de aprofundamento de sua habilitação.
Com a aprovação dessas mudanças, a comunidade acadêmica se mobilizou
discutindo o assunto e aprofundando em estudos, mostrando suas idéias para a
formação de professores.
Algumas modificações foram trazidas na década de 1990 LDB/1996, que
dedica um de seus tulos para a formação de profissionais da educação. Algumas
das discussões sobre tal título foram apresentadas no capítulo anterior. Gostaríamos
de destacar que tal lei regulamenta a formação de professores para a Educação
Básica indicando que ela deve se dar em nível Superior, em cursos de Licenciatura
plena. Ela cria, ainda, os Institutos Superiores de Educação para também
oferecerem essa formação por meio dos cursos Normais Superiores.
Assim, como ressaltado no capítulo anterior, a LDB/1996 regulamenta a
atuação do licenciado na Educação Básica e desse modo o proíbe sua atuação
nos anos iniciais do Ensino Fundamental, apesar de tradicional e historicamente, tais
cursos visarem a formação de professores para a segunda fase do Ensino
Fundamental e para o Ensino Médio, cujo ensino acontece por disciplinas e não por
atividades, como nos primeiros anos de escolarização.
149
Na virada do Século novas mudanças aconteceram com as Diretrizes
Curriculares Nacionais para os cursos de Graduação. Em 2003 foi aprovada a
Resolução que institui as DCN para o curso de Matemática, Bacharelado e
Licenciatura, no intuito de orientar melhorias e transformações na formação do
Bacharel e do Licenciado em Matemática e ainda de assegurar que os egressos do
curso de Matemática “tenham sido adequadamente preparados para uma carreira na
qual a Matemática seja utilizada de modo essencial, assim como para um processo
contínuo de aprendizagem” (BRASIL, CNE, 2001, p.1).
Poderíamos dizer que a aprovação dessas Diretrizes foi um ganho para as
áreas, pois os cursos de graduação estão sendo direcionados por uma política
explícita. No entanto, no que se refere às Diretrizes do curso de Matemática,
Licenciatura vimos, pelas críticas da SBEM, que muitos aspectos precisam ser
revistos e analisados com maior cuidado, a fim de garantir a formação de
professores de Matemática de acordo com as pesquisas e os avanços conquistados
pela comunidade de educadores matemáticos.
Pela proposta das DCN para a Licenciatura em Matemática e também pela
proposta lançada pela SBEM, novamente vemos que o curso de Licenciatura em
Matemática destina-se à formação de professores para a Educação Básica, o que
não exclui os anos iniciais do Ensino Fundamental como campo de atuação do
licenciado.
Ao focar a formação do professor de Matemática dos anos iniciais do Ensino
Fundamental, constatamos que ao logo de sua história ela não esteve a cargo dos
cursos de Licenciatura em Matemática. A formação dos professores dos primeiros
anos de escolarização, incluindo o de Matemática, esteve sob a responsabilidade
das Escolas Normais e com o passar do tempo foi sendo elevada ao nível superior,
acontecendo, então, no curso de Pedagogia.
Com a abertura trazida pela legislação, em algumas regiões de nosso país,
como Goiânia, profissionais egressos dos cursos de Licenciatura específica têm sido
contratados para atuarem nas primeiras fases do ensino, inclusive egressos do
curso de Licenciatura em Matemática. Sendo a lei flexível, ao dizer que as
licenciaturas devem preparar o profissional para ser professor da Educação Básica,
que abrange o Ensino Fundamental, em suas duas fases, e o Ensino Médio, temos
nos preocupado se o que vem acontecendo nesse município pode vir a ser uma
tendência na Educação sica, ou seja, profissionais oriundos dos cursos de
150
Licenciaturas em Matemática atuando com o ensino de Matemática nos anos iniciais
do Ensino Fundamental.
Assim, questionamos se os cursos de Licenciatura em Matemática, em
especial o da UFG, estão se preocupando em oferecer uma formação para essa fase
de ensino, visto que ela faz parte da legislação que alicerça os projetos de curso.
151
HERMENÊUTICA DOS PROJETOS PEDAGÓGICOS DE CURSO:
LICENCIATURA EM PEDAGOGIA E LICENCIATURA EM MATEMÁTICA
4.1 - Introduzindo o Tema
Tomaremos como disparador da discussão neste capítulo o que se entende
por um projeto de forma/ação
68
de professores. Projeto entendido como pro-jeto, ou
seja, “o que lança à frente, atualizando-se em ações e programações na
temporalidade e na espacialidade mundana” (BICUDO, 1999, p.11).
Assim, pretendemos olhar para o projeto de formação profissional, que traz
consigo algumas dimensões. Ele está presente na dimensão social, dada por
posições e papéis, na dimensão cultural, na dimensão histórica, das idéias e modos
de se comportar de um povo. Ele abrange do projeto individual de cada indivíduo
seu projeto de vida como pessoa, como cidadão e como profissional e se articula
68
De acordo com Bicudo (2003, p.31) o significado de formação se encontra na idéia, na ação de
perseguir a forma tida como ideal. Contudo, esse ideal não é assumido como uma “forma perfeita que
submeta a formação a um modelo que a aprisione dentro de limites rígidos. Ideal tido como o que
imprime direção ao movimento. Porém, movimento que se efetua com o que se move, e isso que se
move também tem sua força, o que significa que a forma não pode conformar a ação, mas a própria
ação, ao agir com a matéria, imprime nela a forma.”
152
com o projeto institucional, ou seja, aquele da “escola”, sustentado por políticas
públicas de Educação. E é sobre este último que pretendemos tecer considerações
em busca de compreensões.
Entende-se que o articulador, impulsionador, direcionador do trabalho em um
curso de formação é o Projeto Pedagógico. É por meio dele que alunos, professores
e demais envolvidos no processo de formação podem tomar ciência do que fazem,
daquilo a que o curso se propõe, de suas características básicas. É por meio desse
conhecimento que poderão perceber suas tendências, propor mudanças e envolver-
se de modo consciente e comprometido com o que fazem.
É o projeto pedagógico que articula o currículo, entendido como o que está
em curso
69
, “o que está acontecendo segundo uma diretriz que mantém unido o
fluxo dos acontecimentos [...] tendo em vista a formação do profissional, objeto de
trabalho do curso” (BICUDO, 1995, p.12). E é com esses entendimentos expostos
até aqui que nos colocaremos atentas para olhar para os Projetos Políticos
Pedagógicos dos cursos de Licenciatura em Pedagogia e Licenciatura em
Matemática da Universidade Federal de Goiás - UFG.
69
Curso que pode ser encarado como dinâmico, em movimento, conduzindo a uma direção. É
também como caminho a ser percorrido com cuidado.
153
4.2 - Análise e Interpretação do Projeto Político-Pedagógico do
Curso de Pedagogia
70
– UFG
O projeto político-pedagógico do curso de Pedagogia da Universidade Federal
de Goiás
71
é fruto de intensos debates, análises e reflexões realizadas por seus
professores e alunos.
Tal Projeto está em consonância com a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional, Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, com a Resolução
CNE/CP nº 28/2001, que institui as DCN para a Formação de Professores da
Educação Básica, em nível superior, curso de Licenciatura, graduação plena, bem
como com o Regulamento Geral de Cursos de Graduação da Universidade Federal
de Goiás, aprovado pelo CONSUNI em setembro de 2002.
O Projeto Político-Pedagógico do curso de Pedagogia da UFG, versão 2003,
não está adequado às novas Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de
Pedagogia, Licenciatura. Um novo projeto, adequado as DCN ainda está em trâmites
de aprovação na FE/UFG.
O projeto é dividido e apresentado em quatro partes. A primeira é “uma
exposição dos motivos e a justificativa do novo projeto de curso” (FE/UFG, 2003,
p.2). A segunda “apresenta o sentido, os eixos epistemológicos e os objetivos do
novo currículo” (FE/UFG, 2003, p.2). Na terceira parte, é esboçada a estrutura
curricular do curso. A quarta expõe a organização curricular.
Cinco anexos acompanham o projeto político-pedagógico do curso de
Pedagogia, no intuito de tornar sua exposição mais clara. São eles: anexo I Matriz
curricular com sugestão de fluxo para integralização curricular, seguida da tabela de
disciplinas do curso; anexo II Convênio entre Prefeitura de Goiânia e Universidade
70
Tivemos, em 2007, acesso a dois Projetos Pedagógicos do curso de Pedagogia, um datado do ano
de 2003 e outro do ano de 2007. O primeiro projeto, de 2003, é o que estava sendo realizado naquele
ano. O segundo, de 2007, é o projeto que tenta atender às Diretrizes Curriculares Nacionais para o
Curso de Pedagogia e estava em trâmites de aprovação pela Universidade. No entanto com a leitura
de ambos os projetos vimos que a adequação às Diretrizes Curriculares não alterou de modo
significativo à redação do projeto de 2003. Por esse motivo, decidimos proceder a análise da versão
de 2003, pois além de ser o que ainda estava vigorando em 2008, foi a versão que a FE/UFG nos
permitiu analisar.
71
Quando falamos do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Goiás, estamos dizendo dos
cursos desenvolvidos na Faculdade de Educação (FE-UFG), no Campus de Catalão (CAC-UFG) e no
Campus de Jataí (CAJ-UFG) por se valerem do mesmo projeto.
154
Federal de Educação, para a formação dos professores da Rede Municipal de
Ensino em curso de Pedagogia, com versão modificada para adequar-se a esta
nova proposta de curso; anexo III Ementas e bibliografias das disciplinas dos
núcleos comum e específico do novo currículo; anexo IV projeto de Estágio da
Faculdade de Educação e anexo V Apresentação da atuação da FE/UFG na
pesquisa e na extensão, bem como o quadro de seus professores e
funcionários.curricular. Tais anexos tratam de elementos importantes para a
configuração do projeto de curso e, portanto, alguns farão parte de nossa análise.
Ao estudar o Projeto Político-Pedagógico do curso de Pedagogia,
evidenciamos:
4.2.1- O que Ele (o Curso) Pretende
72
i) Seu objetivo: Formar o Pedagogo/Docente
73
para:
“O magistério da Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino
Fundamental” (FE/UFG, 2003, p. 13);
“A gestão do trabalho pedagógico, incluindo o planejamento, a execução e
a avaliação de sistemas, unidades e projetos educacionais na escola e em
outros espaços educativos” (FE/UFG, 2003, p. 13);
“A compreensão do universo da cultura e da produção do saber e a
inserção crítica dos alunos nesse universo” (FE/UFG, 2003, p. 14).
ii) O que o curso persegue:
“[...] contribuir para a formação de seres humanos, de docentes capazes
de compreender o sentido da existência humana, pessoal e social, da
educação e da escola básica, com o objetivo de recriá-las como
inteiramente outras” (FE/UFG, 2003, p. 14);
72
Como? De que modo?: “[...] a partir de um projeto de formação sica, teórica e prática [...]”
(FE/UFG, 2003, p. 14);
73
Ao usar a denominação, Pedagogo/docente”, estamos evidenciando a opção que a Faculdade de
Educação da UFG faz para definir que profissional está sendo formado pelo curso de Pedagogia. Tal
Faculdade, desde 1984, assume a docência como base da formação do pedagogo, ou seja, a
identidade do curso de Pedagogia da UFG se constitui na e pela docência.
155
“[...] a formação crítica, rigorosa e radical, o aprendizado do trabalho com
os conceitos e as articulações da teoria e da prática, indispensáveis à
verdadeira autonomia e à criação em todas as dimensões da existência e
da educação, inclusive no plano da escola, do ensino” (FE/UFG, 2003, p.
11);
Assegurar os seguintes princípios norteadores da formação do
pedagogo:
“O processo educativo como parte integrante da realidade sócio-
histórico-cultural” (FE/UFG, 2003, p. 12);
“O trabalho docente como eixo da formação do pedagogo nos
contextos escolares e não escolares” (FE/UFG, 2003, p. 12);
“Uma formação teórica sólida que permita compreender, de forma
crítica e rigorosa, a sociedade, a educação e a cultura” (FE/UFG,
2003, p. 12);
“A unidade entre a teoria e a prática” (FE/UFG, 2003, p. 12);
“A indissociabilidade entre o ensino, a pesquisa e a extensão e a
articulação entre a graduação e a pós-graduação” (FE/UFG, 2003, p.
12);
“A pesquisa como uma dimensão da formação e do trabalho docente,
visando à inserção crítica dos licenciandos na esfera da
compreensão e produção do saber” (FE/UFG, 2003, p. 12);
“A autonomia dos trabalhos docente e discente” (FE/UFG, 2003, p.
12);
“A interdisciplinaridade na organização curricular” (FE/UFG, 2003, p.
12).
Busca estimular no pedagogo:
“A reflexão, entendida como compreensão crítica, radical e rigorosa,
do sentido e da gênese da esfera da existência humana, social e
pessoal, da esfera da cultura, da educação, da escola e do saber”
(FE/UFG, 2003, p. 13);
“A criação cultural e a formação de docentes e discentes como
sujeitos da cultura” (FE/UFG, 2003, p. 13);
156
“A ação como atividade criadora, transformadora, e a afirmação da
autonomia e da liberdade dos sujeitos e das instituições, em todas as
suas dimensões” (FE/UFG, 2003, p. 13);
“Articulação de todos os componentes curriculares, fecundando o
trabalho educativo” (FE/UFG, 2003, p. 13).
iii) O perfil que esboça de seus egressos:
“Sujeito social formador de sujeitos da cultura, de seres autônomos,
críticos e criativos, no verdadeiro sentido dessas expressões” (FE/UFG,
2003, p. 11);
“Professores que compreendam as complexas relações entre a educação
e a sociedade, pensem e realizem a existência humana, pessoal e
coletiva, e o trabalho pedagógico com vistas à transformação da realidade
social, à superação dos processos de exploração e dominação, à
construção da igualdade, da democracia, da ética e da solidariedade”
(FE/UFG, 2003, p. 11);
Profissional que deve “compreender historicamente as múltiplas
dimensões dos processos de formação humana, participar da produção do
saber da área [...]” (FE/UFG, 2003, p. 13);
“[...] educador capaz de pensar a prática, a existência humana, a
educação, a escola e o saber historicamente produzido” (FE/UFG, 2003, p.
13);
Profissional que atue “[...] como docente em educação infantil e nos anos
iniciais do ensino fundamental, o que inclui a reflexão, o pensamento, a
crítica, a criação, o planejamento, a execução, a gestão e a avaliação do
trabalho pedagógico, dos sistemas, unidades e projetos educacionais na
escola e em outros contextos educativos” (FE/UFG, 2003, p. 13).
4.2.2- Justificativas que a IES apresenta para manter esse Projeto
Afirma terem sido efetuadas vinte e uma avaliações do currículo do curso
com o intuito de que fossem apontadas as possíveis modificações para o
157
curso. Essas avaliações indicam a manutenção do sentido, dos
pressupostos e finalidades do atual curso, numa possível reformulação
curricular;
Outro motivo apresentado para que o curso seja o que é hoje é o
engajamento que essa faculdade manteve com o Movimento Nacional em
prol da formação do educador. Desde o início a Faculdade de Educação,
por meio de seus membros, marcou história no movimento, fortificado na
década de 1980 e presente até os nossos dias. As bandeiras defendidas
pelo Movimento Nacional estão presentes nesse projeto de curso,
justificando, assim, as escolhas feitas pelo colegiado dessa Universidade;
Por uma necessidade das redes de ensino que, sobretudo na década de
1990, passaram pelo processo de municipalização da educação e de
estruturação da política pedagógica para a Educação Infantil e a
conseqüente transferência desse nível de ensino para a rede pública
municipal.
4.2.3- Procedimentos Propostos para Atingir os Objetivos Presentes no
Projeto
5.2.3.1- A Estrutura Curricular
A estrutura curricular, esboçada no Projeto Pedagógico de curso, se encontra
organizada com base em oito componentes curriculares que se articulam entre si e
com a totalidade do projeto pedagógico. São eles:
i. Reflexão sobre a sociedade, a educação, a formação humana e a escola:
Nesse componente priorizam-se o estudo e a compreensão de conceitos,
métodos de investigação e construções das ciências que sustentam a área
de inquérito da Educação, bem como estudos das humanidades que
ampliam o contexto para essa compreensão;
158
ii. Formação didático-pedagógica para a docência: Nesse item foca-se o
estudo dos processos didático-pedagógicos do trabalho docente, dentre os
quais podemos destacar a relação professor-aluno-saber, o processo
ensino-aprendizagem, o planejamento de ensino-aprendizagem, a
mediação pedagógica, a avaliação da aprendizagem e a formação e
profissionalização docente;
iii. Trabalho docente na Educação Infantil e nos anos iniciais do ensino
Fundamental: Esse componente curricular volta-se para o estudo de
questões específicas da Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino
Fundamental para crianças, adolescentes, jovens e adultos. Envolve
estudos sobre saúde, sexualidade, nutrição, corpo, movimento, processos
de socialização, relação entre espaço e tempo, valores e hábitos para
convivência democrática, fundamentos e metodologia do ensino da
linguagem, da Matemática, das ciências naturais e do meio ambiente, das
ciências humanas, das artes, das tecnologias de informação e
comunicação;
iv. Organização e gestão do trabalho pedagógico na educação escolar e não-
escolar: Prevalece nesse item o estudo concernente à organização e
coordenação do trabalho pedagógico e à gestão educacional, englobando
as políticas públicas educacionais, o projeto político-pedagógico, a gestão
democrática, o planejamento, o currículo e a avaliação educacional;
v. Aprofundamento de estudos nas áreas de formação do pedagogo: Diz
respeito ao aprofundamento de estudos em áreas do saber e às
experiências significativas no campo da Educação, a partir de pesquisas e
práticas docente e discente. Essas pesquisas e práticas são possibilitadas
pelas disciplinas de aprofundamento
74
, pelas disciplinas de trabalho de
conclusão do curso e pelas áreas específicas de aprofundamento de
estudos presentes nas disciplinas eletivas do núcleo livre. Essas áreas são
74
O Projeto não deixa claro quais seriam essas disciplinas de aprofundamento. Entendemos que são
tanto as disciplinas do cleo livre, pois são elas que permitem ao aluno se aprofundar na sua área
de interesse, quanto as disciplinas do cleo específico, que dão especificidade à formação do
pedagogo.
159
definidas a partir das linhas de pesquisa do Programa de Pós-Graduação
em Educação, que passamos a apresentar:
A linha Cultura e Processos Educacionais foca áreas como Educação
e Cultura, Ética e Educação, Educação e Linguagem, Linguagem,
Corpo e Movimento, Educação e Arte, Educação Ambiental e
Educação para a Saúde;
Na linha Educação, Trabalho e Movimentos Sociais, entre as
possíveis áreas a serem oferecidas, estão Movimentos Sociais e
Educação, Educação Rural e Trabalho e Educação;
A linha Formação e Profissionalização Docente foca áreas como
Formação e Profissionalização de Professores no Brasil, Educação
de Jovens e Adultos, Educação e Diversidade, Educação, Arte e
Mídias e Didática;
Na linha Estado e Políticas Educacionais, as possíveis áreas
oferecidas são Políticas, Organização e Gestão da Educação,
Educação a Distância, Políticas e Gestão da Educação Superior e
Currículo e Avaliação.
vi. Estágio supervisionado nas áreas de educação infantil e anos iniciais do
Ensino Fundamental: Abrange atividades que visam à profissionalização
do pedagogo, ou seja, são atividades que se voltam para a compreensão,
reflexão e prática da Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino
Fundamental. São realizadas no campo de trabalho sob a supervisão de
um professor da instituição formadora e recebem a participação dos
profissionais do campo de trabalho onde o estágio é desenvolvido;
vii. Atividades complementares/ atividades acadêmico-científico-culturais:
Correspondem a atividades que objetivam o enriquecimento curricular, tais
como: seminários, simpósios, congressos, conferências, debates,
colóquios, cursos e outras atividades nas áreas da cultura, da ciência, das
artes e outras. Essas atividades são validadas pela coordenação do curso;
viii. Núcleo livre: Esse componente curricular tem por objetivo ampliar e
aprofundar a formação humana e a profissional dos alunos por meio de
160
um conjunto de disciplinas eletivas, ou seja, de livre escolha do aluno
entre todas as oferecidas nessa categoria no âmbito da UFG.
4.2.4 - Organização Curricular
O curso de Pedagogia FE/UFG funciona com turmas nos períodos matutino e
noturno e é organizado em regime semestral, tendo 3.120 horas de duração. Essa
carga horária de curso é dividida em oito semestres de 100 dias letivos cada um,
com uma média de quatro horas diárias de atividades, num total de 18 semanas por
semestre.
De acordo com o projeto de curso, cada estudante deverá cumprir
obrigatoriamente, para efeito de integralização do currículo, 3120 horas de
disciplinas dos núcleos comum
75
, específico
76
, livre
77
e de horas de atividades
78
teórico-práticas, acadêmico/científico e culturais; 400 horas de estágio
supervisionado
79
. A integralização curricular deve ser cumprida no tempo mínimo de
três anos e máximo de sete anos.
O curso de Pedagogia oferta um total de 31 disciplinas obrigatórias, sendo 21
do núcleo comum e 10 do núcleo específico. Das disciplinas do núcleo livre
oferecidas pela Universidade, cada aluno deverá cursar nove, de modo a completar
a carga horária prevista para esse núcleo.
Especificaremos abaixo os núcleos de estudos, o estágio supervisionado e as
atividades complementares.
4.2.4.1 - Núcleo Comum e Núcleo Específico
Os núcleos, comum e específico, seguem as orientações do Regulamento
Geral dos Cursos de Graduação (RGCG) da UFG, Resolução - CONSUNI 06, de
20 de setembro de 2002.
75
Núcleo comum: 1.512 horas.
76
Núcleo específico: 832 horas.
77
Núcleo livre: 576 horas.
78
Atividades complementares: 200 horas.
79
O estágio, como explicitado, pertence ao núcleo de estudos específicos, ou seja, as 400 horas
destinadas ao estágio supervisionado estão incluídas nas 832 horas do núcleo específico.
161
De acordo com o art. 5º, § 1º do RGCG, o núcleo comum (NC) é definido
como o conjunto de conteúdos comuns para a formação do profissional que se
pretende. Ele é composto por disciplinas de natureza obrigatória, não devendo
ultrapassar 70% da carga horária total de disciplinas, necessárias para a
integralização curricular. Essas disciplinas poderão ter inscrição compulsória
80
, com
até 100% da carga horária reservada ao NC.
As disciplinas do núcleo específico (NE) são definidas pelo § do art. do
RGCG como o conjunto de conteúdos que darão especificidade à formação do
profissional. As disciplinas do NE poderão ser de natureza obrigatória e a carga
horária deve ocupar no mínimo 20% da carga horária total de disciplinas,
necessárias à integralização curricular.
As atividades e disciplinas previstas no NC e NE, no curso de Pedagogia, são
todas de natureza obrigatória, visando à formação do pedagogo para atuar na
Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental.
O NC oferta 21 disciplinas, totalizando 1.512 horas, portanto, perfaz 51,78%
da carga horária total das disciplinas. O núcleo específico oferta 10 disciplinas, que
totalizam 832 horas, ou seja, 28,49% da carga horária total das disciplinas. A carga
horária de ambos os núcleos soma 2344 horas, ou seja, 80,27%
81
da carga horária
total de disciplinas necessárias para a integralização curricular. Portanto, o Projeto
Pedagógico do curso de Pedagogia da UFG está de acordo com o RGCG no que diz
respeito aos núcleos de estudos e suas respectivas cargas horárias.
4.2.4.2 - Núcleo Livre e Prática como Componente Curricular
As disciplinas do núcleo livre têm por objetivo permitir ao aluno um
aprofundamento de estudos em sua área de interesse, ou seja, o núcleo livre (NL)
permite uma flexibilização curricular. No projeto pedagógico é afirmado também que
o núcleo livre, composto por disciplinas e atividades eletivas, é a base da prática
como componente curricular.
80
De acordo com o art. , § inciso IV do RGCG, as “disciplinas de inscrição compulsória são
aquelas para as quais está pré-determinado na estrutura curricular do curso, com base em pré-
requisitos, o momento em que deverão ser cursadas”.
81
De acordo com o art. § 3º, “O somatório da carga horária do NC e do NE totalizará um mínimo
de 80% da carga horária de disciplinas, necessária para a integralização curricular”.
162
A prática como componente curricular não se reduz à prática de ensino
propriamente dita, pois ela é caracterizada como momento de pesquisa e reflexão
das questões postas pela Educação e pelo trabalho docente.
De acordo com o RGCG, a carga horária total destinada ao NL deverá ocupar
no nimo 5% da carga horária de disciplinas necessárias para integralização
curricular. No Projeto Pedagógico do curso de Pedagogia, o NL perfaz uma carga
horária de 576 horas, portanto 19,72% da carga horária total de disciplinas.
As disciplinas eletivas do núcleo livre poderão constituir-se como áreas de
aprofundamento de estudos. Essas disciplinas são definidas, como já mencionado, a
partir das linhas de pesquisa do Programa de Pós-graduação em Educação da
FE/UFG.
Os alunos serão incentivados a cursar disciplinas em outras unidades e
cursos da Universidade.
O Projeto Pedagógico anuncia sobre o trabalho de conclusão de curso no
mesmo tópico em que o tratados os assuntos aqui expostos. Porém, não há
menção sobre as atividades que compõem o trabalho de conclusão de curso, salvo
no ementário anexo ao Projeto.
Segue abaixo uma tabela com exemplos de disciplinas eletivas/ áreas de
aprofundamento de estudos que compõem o núcleo livre:
Disciplinas do Núcleo Livre
Tópicos de Antropologia da Educação
Tópicos de História da Educação
Tópicos de Filosofia da Educação
Tópicos de Sociologia da Educação
Tópicos de Psicologia da Educação
Tópicos de Educação Ambiental
Tópicos de Políticas Educacionais
Tópicos de Língua Portuguesa
Tópicos de Biologia e Educação
Tópicos Especiais de Currículo
Tópicos Especiais de Didática
Tópicos de Literatura
Movimentos Sociais e Educação
Educação Rural
163
Trabalho e Educação
Educação a Distância
Ética e Educação
Linguagem, Corpo e Movimento
Educação de Jovens e Adultos
Educação e Diversidade
Jogos, Brincadeiras e Brinquedos Pedagógicos
Formação e Profissionalização Docente
(Disciplinas retiradas do Projeto Político Pedagógico do curso de Pedagogia- 2003)
4.2.4.3 - Atividades Complementares/ Atividades acadêmico-
científico-culturais
Atividades Complementares o atividades acadêmicas distintas de
disciplinas cursadas pelos alunos. Portanto, caracteriza-se como atividades
complementares, tais como, a participação em pesquisas, conferências, seminários,
palestras, congressos, debates, minicursos e em quaisquer outras atividades
científica, artística e cultural, desde que devidamente comprovadas e sem vínculo
empregatício.
A carga horária mínima definida, que está em consonância com as DCN para
a formação de professores, é de duzentas (200) horas de atividades
complementares necessárias para integralização curricular.
4.2.4.4 - Estágio Supervisionado e Prática de Ensino
O estágio supervisionado ajuda a compor as disciplinas do núcleo específico.
Ele terá uma carga horária total de 400 horas e será desenvolvido de modo
supervisionado em atividades que permitam ao aluno o contato com o campo de
trabalho em que atuará profissionalmente no futuro, ou seja, na Educação Infantil e
nos anos iniciais do Ensino Fundamental. O estágio terá uma coordenação local,
vinculada à coordenação geral de estágios da PROGRAD
82
.
O projeto de estágio supervisionado do curso de Pedagogia FE/UFG é
desenvolvido no 5º, 6º, e períodos do curso e “será desenvolvido em estreita
82
PROGRAD- Pró-Reitoria de Graduação da UFG.
164
relação com a prática, entendida com componente curricular, nos termos postos pela
Resolução
83
1/2002 - CNE/CP” (ANEXO IV - FE/UFG, 2003, p. 2) . Essa prática
como componente curricular, tratada no Projeto Pedagógico do curso de Pedagogia
da UFG, não se caracteriza como estágio supervisionado, estando em consonância
com a Resolução
84
CNE/CP nº 2/2002.
i) Princípios Norteadores do Estágio Supervisionado:
a) O que é?
O estágio supervisionado é um componente curricular de caráter teórico-
prático. Objetiva por meio do contato prolongado do futuro professor com o campo
de estágio, acompanhado pela instituição formadora, o desenvolvimento de
conhecimentos e habilidades pertinentes à profissão docente.
b) Qual a sua importância?
Sua importância é entendida pelo fato de ele se configurar em um momento
favorável para maior compreensão da realidade profissional, à luz dos aportes
83
Art. 12. (...)
§ A prática, na matriz curricular, não podeficar reduzida a um espaço isolado, que a restrinja ao
estágio, desarticulado do restante do curso.
§ 2º A prática deverá estar presente desde o início do curso e permear toda a formação do professor.
§ 3º No interior das áreas ou das disciplinas que constituírem os componentes curriculares de
formação, e não apenas nas disciplinas pedagógicas, todas terão a sua dimensão prática.
Art. 13. Em tempo e espaço curricular específico, a coordenação da dimensão prática transcenderá o
estágio e terá como finalidade promover a articulação das diferentes práticas, numa perspectiva
interdisciplinar.
§ 1º A prática será desenvolvida com ênfase nos procedimentos de observação e reflexão, visando à
atuação em situações contextualizadas, com o registro dessas observações realizadas e a resolução
de situações-problema.
§ 2º A presença da prática profissional na formação do professor, que não prescinde da observação e
ação direta, poderá ser enriquecida com tecnologias da informação, incluídos o computador e o
vídeo, narrativas orais e escritas de professores, produções de alunos, situações simuladoras e
estudo de casos.
§ 3º O estágio curricular supervisionado, definido por lei, a ser realizado em escola de educação
básica, e respeitado o regime de colaboração entre os sistemas de ensino, deve ser desenvolvido a
partir do início da segunda metade do curso e ser avaliado conjuntamente pela escola formadora e a
escola-campo de estágio. (BRASIL, CNE/CP, 2002, p. 5 - 6).
84
Art. 1º (...)
I - 400 (quatrocentas) horas de prática como componente curricular, vivenciadas ao longo do curso;
II - 400 (quatrocentas) horas de estágio curricular supervisionado a partir do início da segunda
metade do curso. (BRASIL, CNE/CP, 2002, p. 1)
165
teóricos estudados; por se caracterizar como o contexto propício para se levantarem
questões que conduzam à reflexão sobre a realidade e por contribuir na construção
da autonomia profissional.
c) Onde ele será desenvolvido?
O estágio supervisionado se desenvolvido preferencialmente em escolas
públicas creches, escolas, centros de educação que ofereçam a Educação
Infantil e os anos iniciais do Ensino. Poderá ser desenvolvido também em outros
espaços, desde que o projeto construído para a intervenção no campo escolhido
seja previamente aprovado pela coordenação de curso e de estágio.
ii) Objetivos do Estágio Supervisionado na Educação Infantil e anos
iniciais do Ensino Fundamental:
“Vivenciar processos de ensino e pesquisa na escola campo/centro de
educação infantil/creches, ou em outros espaços previamente aprovados,
para que os alunos desenvolvam condições e convicções favoráveis à
continuidade da sua formação” (ANEXO IV - FE/UFG, 2003, p. 4);
“Elaborar, desenvolver e avaliar projetos educativos, a partir do
diagnóstico da realidade da educação infantil e anos iniciais do ensino
fundamental, construindo formas de atuação, com vistas à melhoria da
educação de crianças, jovens e adultos” (ANEXO IV - FE/UFG, 2003, p. 4);
“Desenvolver conhecimentos, habilidades e atitudes relativas à profissão
docente, considerando o contato direto com o campo de estágio e a
formação teórica proporcionada pelo curso” (ANEXO IV - FE/UFG, 2003, p.
4).
iii) Proposta Metodológica
Tem-se, como proposta metodológica para o desenvolvimento do estágio
supervisionado, a utilização da pesquisa. Essa proposta visa desenvolver nos alunos
uma atitude investigativa.
Etapas do estágio supervisionado do curso de Pedagogia:
166
a) “Coleta de dados da realidade do campo de estágio(...)” (ANEXO IV -
FE/UFG, 2003, p. 4) utilizando “instrumentos de pesquisa tais como:
observação, entrevista, análise documental e questionários” (ANEXO IV -
FE/UFG, 2003, p. 4). Diagnóstico dos diferentes aspectos que essa
realidade apresenta. Escolha do tema a ser desenvolvido no projeto
educativo;
b) “Elaboração do projeto educativo a partir da problematização das situações
vividas e analisadas” (ANEXO IV - FE/UFG, 2003, p. 4);
c) “Desenvolvimento do projeto educativo no campo de estágio” (ANEXO IV -
FE/UFG, 2003, p. 5);
d) Relatório final do estágio que contemple o processo desenvolvido no
estágio.
iv) Avaliação
A avaliação será processual e contínua, e serão usadas as seguintes
referências para a avaliação do estágio:
Os trabalhos desenvolvidos individualmente e em grupos;
O diagnóstico elaborado sobre o campo de estágio;
A atuação na docência;
A produção de textos;
O projeto educativo;
O relatório final do estágio;
Auto-avaliação;
“Desenvolvimento de capacidades e atitudes inerentes ao exercício da
docência, como: compromisso, assiduidade, pontualidade, participação,
capacidade de cooperação e de reflexão” (ANEXO IV - FE/UFG, 2003, p.
5).
167
4.2.5 - Tabela de Disciplina do Curso de Pedagogia:
As disciplinas que compõem o núcleo comum e o específico do curso de
Pedagogia, obrigatórias para integralização curricular, são apresentadas na tabela
abaixo, extraída do anexo I-B do Projeto Político-Pedagógico. Nela apresenta-se
ainda a Unidade responsável pela disciplina, os pré-requisitos necessários, a carga
horária de trabalho dividida entre carga horária teórica e prática, e a carga horária
total do semestre, a natureza da disciplina e o núcleo a que ela pertence.
168
TABELA DE DISCIPLINAS DO CURSO DE PEDAGOGIA
DISCIPLINA
UNID.
RESP.
PRÉ-REQUISITO
UNID.
RESP.
CHT
S
NÚCLEO NATUREZA
01
Alfabetização e Letramento FE 72 NC OBR
02
Arte e Educação I FE 72 NC OBR
03
Arte e Educação II FE 72 NC OBR
04
Filosofia da Educação I FE 72 NC OBR
05
Filosofia da Educação II FE 72 NC OBR
06
Fundamentos e Met. de Ciências
Humanas nos anos iniciais do Ens.
Fundamental I
FE 72 NC OBR
07
Fundamentos e Met. de Ciências
Humanas nos anos iniciais do Ens.
Fundamental II
FE 72 NC OBR
08
Fundamentos e Met. de Ciências
Naturais nos anos iniciais do Ens.
Fundamental I
FE 72 NC OBR
09
Fundamentos e Met. de Ciências
Naturais nos anos iniciais do Ens.
Fundamental II
FE 72 NC OBR
10
Fundamentos e Met. de Língua
Portuguesa nos anos iniciais do
Ens. Fundamental I
FE 72 NC OBR
11
Fundamentos e Met. de Língua
Portuguesa nos anos iniciais do
Ens. Fundamental II
FE 72 NC OBR
12
Fundamentos e Met. de Matemática
nos anos iniciais do Ens.
Fundamental I
FE 72 NC OBR
169
13
Fundamentos e Met. de Matemática
nos anos iniciais do Ens.
Fundamental II
FE 72 NC OBR
14
História da Educação I FE 72 NC OBR
15
História da Educação II FE 72 NC OBR
16
Políticas Educacionais e Educação
Básica
FE 72 NC OBR
17
Psicologia da Educação I FE 72 NC OBR
18
Psicologia da Educação II FE 72 NC OBR
19
Sociedade, Cultura e Infância FE 72 NC OBR
20
Sociologia da Educação I FE 72 NC OBR
21
Sociologia da Educação II FE 72 NC OBR
22
Cultura, Currículo e Avaliação FE 72 NE OBR
23
Didática e Formação de Professores
FE 72 NE OBR
24
Educação, Comunicação e Mídias FE 72 NE OBR
25
Estágio em Educação Infantil e
Anos Iniciais do Ensino
Fundamental I
FE 100 NE OBR
26
Estágio em Educação Infantil e
Anos Iniciais do Ensino
Fundamental II
FE
Estágio em Educação
Infantil e Anos Iniciais do
Ensino Fundamental I
FE 100 NE OBR
27
Estágio em Educação Infantil e
Anos Iniciais do Ensino
Fundamental III
FE
Estágio em Educação
Infantil e Anos Iniciais do
Ensino Fundamental II
FE 100 NE OBR
28
Estágio em Educação Infantil e
Anos Iniciais do Ensino
Fundamental IV
FE
Estágio em Educação
Infantil e Anos Iniciais do
Ensino Fundamental III
FE 100 NE OBR
29
Gestão e Organização do Trabalho
Pedagógico
FE 72 NE OBR
30
Trabalho de Conclusão de Curso I FE 72 NE OBR
31
Trabalho de Conclusão de Curso II
FE
Trabalho de Conclusão
de Curso I
FE 72 NE OBR
170
LEGENDA:
NC: Núcleo comum NÚCLEO DAS
DISCIPLINAS
NE: Núcleo Específico
CHTS: Carga Horária Total
Semestral
TEO: Teoria
CARGA HORÁRIA
DAS
DISCIPLINAS
PRA: Prática
OBR: Obrigatória
OPT: Optativa
NATUREZA DAS
DISCIPLINAS
COM: Compulsória
CARGA HORÁRIA
Núcleo Comum
1.512 h
Núcleo Específico
832 h
Núcleo Livre
576 h
Total
2.920 h
Atividades Complementares
200 h
A tabela trazida pelo anexo I-B nos causou estranheza por alguns motivos,
que passamos a expor.
Observamos a existência de dois campos destinados à Unidade Responsável
pela oferta da disciplina. Um após o campo Disciplinas e, o outro após o campo Pré-
Requisito. Compreendemos que o segundo campo existe para indicar qual unidade
será responsável pela disciplina e/ou atividade exigida como pré-requisito. A
existência desse segundo campo se mostra desnecessária, pois a repetição de
uma mesma informação. Exemplificando: “Trabalho de conclusão de curso II” tem
como pré-requisito o “Trabalho de conclusão de curso I”, que está sob a
responsabilidade da FE- Faculdade de Educação, informação essa já oferecida
anteriormente. Como isso já está claro, não há necessidade de novamente tal
informação ser oferecida quando se tem a disciplina como pré-requisito.
Pautada na informação de que a integralização curricular se em 100 dias
letivos com uma carga horária média de quatro horas de trabalhos diários em 18
semanas em média, inferimos:
As disciplinas com carga horária total semestral de 72 horas são
desenvolvidas em 18 semanas com uma média de 4 horas de atividades
semanal;
As disciplinas do núcleo livre, com carga horária total semestral de 64h,
são desenvolvidas durante 16 semanas, com 4 horas de trabalhos
semanal;
171
As disciplinas de estágio, com carga horária total semestral de 100 horas,
também são concluídas em 18 semanas. A carga horária do Estágio
Supervisionado aparece dividida em 72h + 28h, sendo que as 72 horas
são para as atividades desenvolvidas no campo de estágio e em sala de
aula e as 28 horas são para planejamento, estudos e pesquisa de
preparação para o estágio. Assim, à carga horária de atividades semanais
do estágio será cumprida em 18 semanas com 4 horas de trabalho,
acrescentando ainda a essas quatro horas as atividades de preparação
para o seu desenvolvimento.
4.2.6 - Análise da Grade Curricular
De acordo com o art. do RGCG da UFG, “o currículo deve ser a expressão
do projeto pedagógico de cada curso”. Desse modo, ele deve abranger o conjunto
de conteúdos comuns, específicos e eletivos, experiências, estágios e situações de
ensino-aprendizagem direcionadas à formação do aluno.
Assim, visando compreender a formação do professor de Matemática dos
anos iniciais do Ensino Fundamental, dada pelo Projeto Pedagógico do curso,
lançaremos luz sobre a grade curricular do curso de Pedagogia, uma das
perspectivas que ajudarão na busca dessa compreensão.
Focando a sugestão de fluxo da organização curricular apresentada pelo
Projeto Pedagógico e tendo em mãos o ementário das disciplinas, fomos destacando
e sombreando com cores semelhantes aquelas que de algum modo se
interconectavam. Ao olhar novamente para a grade sombreada, vimos a
possibilidade de fazer alguns arranjos quanto à disposição das disciplinas no
semestre a elas determinada na grade curricular. Buscamos com isso facilitar a
visualização do que pretendíamos. Ao procedermos assim, almejamos evidenciar,
por meio da grade curricular, o fio condutor da formação do licenciado em
Pedagogia, explicitada no Projeto Pedagógico de Curso, e em seguida expor nossas
compreensões sobre essa formação.
A grade curricular da maneira que fomos compreendendo é apresentada a
seguir:
172
GRADE CURRICULAR
1º ano 2º ano 3º ano 4º ano
1º SEMESTRE 2º SEMESTRE 3º SEMESTRE SEMESTRE 5º SEMESTRE 6º SEMESTRE 7º SEMESTRE 8º SEMESTRE
História da
Educação I
NC- 72h
História da
Educação II
NC- 72h
Fundamentos e
Metodologia de
Matemática I
NC- 72h
Fundamentos e
Metodologia de
Matemática II
NC- 72h
Políticas
Educacionais e
Educação Básica
NC- 72h
Cultura, Currículo
e Avaliação
NE-72h
Gestão e
Organização do
Trabalho
Pedagógico
NE- 72h
Educação,
Comunicação e
Mídias
NE- 72h
Sociologia da
Educação I
NC- 72h
Sociologia da
Educação II
NC- 72h
Fundamentos e
Metodologia de
Ciências
Humanas I
NC- 72h
Fundamentos e
Metodologia de
Ciências
Humanas II
NC- 72h
Estágio em
Educação Infantil
e Anos Iniciais do
Ensino
Fundamental I
NE- 72h + 28h
Estágio em
Educação Infantil
e Anos Iniciais do
Ensino
Fundamental II
NE- 72h + 28h
Estágio em
Educação Infantil
e Anos Iniciais do
Ensino
Fundamental III
NE- 72h + 28h
Estágio em
Educação Infantil
e Anos Iniciais do
Ensino
Fundamental IV
NE- 72h + 28h
Psicologia da
Educação I
NC- 72h
Psicologia da
Educação II
NC- 72h
Didática e
Formação de
Professores
NE- 72h
Fundamentos e
Metodologia de
Ciências Naturais
I
NC- 72h
Fundamentos e
Metodologia de
Ciências Naturais
II
NC- 72h
Filosofia da
Educação I
NC- 72h
Filosofia da
Educação II
NC- 72h
Núcleo livre
NL- 64h
Arte e Educação I
NC- 72h
Arte e Educação
II
NC- 72h
Alfabetização e
Letramento
NC- 72h
Fundamentos e
Metodologia de
Língua
Portuguesa I
NC- 72h
Fundamentos e
Metodologia de
Língua
Portuguesa II
NC- 72h
Núcleo livre
NL- 64h
Trabalho de
Conclusão de
Curso I
NE- 72h
Trabalho de
Conclusão de
Curso II
NE- 72h
Sociedade,
Cultura e Infância
NC- 72h
Núcleo livre
NL- 64h
Núcleo livre
NL- 64h
Núcleo livre
NL- 64
Núcleo livre
NL- 64h
Núcleo livre
NL- 64h
Núcleo livre
NL- 64h
Núcleo livre
NL- 64h
CHS total: 360h CHS total: 352h CHS total: 352h CHS total: 352h CHS total: 380h CHS total: 372h CHS total: 380h CHS total: 372h
NC - 360h
NE - zero
NL - zero
NC - 288h
NE - zero
NL - 64h
NC - 216h
NE - 72h
NL - 64h
NC - 288h
NE - zero
NL -64h
NC - 216h
NE - 100h
NL - 64h
NC - 72h
NE - 172h
NL - 128h
NC - 72h
NE - 244h
NL - 64h
NC - zero
NE - 244h
NL - 128
NC = 648 h
NE = zero
NL = 64h
NC = 504h
NE = 72h
NL = 128h
NC = 288h
NE = 272h
NL = 192h
NC = 72h
NE = 488h
NL = 192h
Carga horária anual total = 712h Carga horária anual total = 704h Carga horária anual total = 752h Carga horária anual total = 752h
173
Destacamos sete blocos que tentam garantir a formação do licenciado em
Pedagogia. Entre eles, entendemos que quatro podem ser caracterizados como
“blocos fortes” ou de “peso”. Esses blocos são os grupos de disciplinas que darão o
“tom” da formação, ou melhor, são os que sustentam e asseguram a formação
pretendida e anunciada. Os outros três blocos, não menos importantes, auxiliarão
nesse suporte. Desse modo, descreveremos os sete blocos evidenciados.
O primeiro bloco que destacamos, indicado na cor vermelha, é composto
pelas disciplinas de História, Sociologia, Filosofia e Psicologia da Educação.
Compreendemos esse bloco como o que constitui a base da formação do educador,
portanto, a do pedagogo. É composto por disciplinas de Ciências (Psicologia e
Sociologia), Filosofia da Educação e História da Educação, que fornecem
conhecimentos tidos como importantes para a compreensão do fenômeno educativo
e da constituição da região de inquérito Educação. Destacamos também, com uma
nuança vermelha, a disciplina Sociedade Cultura e Infância, entendendo que ela
ajudará a ampliar o horizonte de compreensão do pedagogo, no que diz respeito às
humanidades.
Algo nos chamou atenção nesse primeiro bloco e nos levou a alguns
questionamentos. Qual a razão de sugerir que a disciplina de Filosofia da Educação
seja cursada pelos alunos no sexto e no sétimo períodos do curso? Filosofia é
caracterizada por um pensar analítico e reflexivo. Pode ocorrer que ela se apresente
com esse foco no currículo, o que indicaria que está posta no e semestres,
visando a pensar o realizado durante o curso, colocando a própria formação e
ação do pedagogo em foco. Filosofia pode, também, ser trabalhada como uma área
de conhecimento que trata de temas como as características do ser humano, de seu
modo de ser, envolvendo linguagem e questões de antropologia filosófica, entre
outros. Nesse caso, não deveria estar junto com as disciplinas estudadas nos anos
iniciais do curso?
O segundo bloco, destacado na cor verde, é voltado para os fundamentos e
metodologias das disciplinas específicas com as quais o pedagogo trabalhará.
Compreende as disciplinas Fundamentos e Metodologia de Matemática, de Língua
Portuguesa, de Ciências Naturais e de Ciências Humanas. As disciplinas
Fundamentos e Metodologia de Ciências Humanas I e II englobam apenas as
disciplinas História e Geografia, portanto trata de fundamentos e metodologias do
ensino de História e Geografia.
174
Destacamos também, como pertencentes ao segundo bloco, mas não
explicitamente com foco em metodologia, as disciplinas de Arte e Educação I e II,
por isso destacadas em outra tonalidade de verde. Tais disciplinas estão
direcionadas ao trabalho com música, dança, artes visuais, artes cênicas, enfim, o
trabalho com arte na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental.
Chamamos a atenção, ainda, para a disciplina Alfabetização e Letramento como
pertencente ao mesmo bloco, pois ela, juntamente com as disciplinas de
Fundamentos e Metodologia de Língua Portuguesa I e II, dará suporte para o
trabalho com a Língua Portuguesa e a Literatura no campo de atuação do
Pedagogo. Nessa disciplina não é abordada a temática sobre Alfabetização
Matemática.
Alfabetização Matemática é um tema de bastante interesse para a
comunidade de educadores matemáticos. Danyluk (1991) dedica-se em sua obra,
Alfabetização Matemática: o cotidiano da vida escolar, à investigação de como a
Alfabetização Matemática ocorre nas séries iniciais, tendo o foco de sua atenção,
prioritariamente, na leitura. Atribui o termo Alfabetização Matemática para referir-se
“ao ensino e à aprendizagem da leitura e da escrita do discurso matemático”
(DANYLUK, 1991, p.44), onde discurso matemático é “a articulação inteligível dos
aspectos matemáticos compreendidos e interpretados pelo homem” (DANYLUK,
1991, p.38).
A autora inicia os desdobramentos de seu estudo buscando compreender os
termos alfabetização, alfabetizar, ler, alfabeto. Partindo disso ela afirma que:
Considerando que a palavra “alfabeto” refere-se às primeiras noções
de qualquer ciência e que a Matemática é uma ciência que possui
primeiras noções, tais como as noções iniciais de lógica, as de
aritmética e as de geometria, é possível afirmar que a escrita e a
leitura dessas primeiras idéias podem ser aprendidas e, desse modo,
fazer parte do contexto alfabetização.
(DANYLUK, 1991, p.44)
Assim, entendemos a importância de sermos alfabetizados nas primeiras
noções de Lógica, Aritmética e Geometria e, desse modo, é questionável a ausência
dessa temática no curso de Pedagogia, pois ele é o responsável pela formação do
professor (de Matemática) dos anos iniciais de Ensino Fundamental e da Educação
Infantil.
O terceiro, sombreado em um tom de verde mais escuro que o segundo
bloco, é formado pelos Estágios Supervisionados na área de atuação do pedagogo,
175
Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental. As atividades visadas
pelas disciplinas desse bloco direcionam os alunos ao contato com sua futura área
de atuação profissional. Sombreamos esse bloco na cor verde para mostrar a
proximidade existente entre as disciplinas de “Estágio Supervisionado” e as
disciplinas de “Fundamentos e Metodologia”, pois ambos os blocos estão
direcionados de forma mais específica para a atuação profissional nos anos iniciais.
O quarto bloco, destacado na cor amarela, é composto pelos núcleos livres.
São disciplinas que permitem ao aluno aprofundar conhecimento em sua área de
interesse.
Esses o os quatro blocos de que anteriormente havíamos falado e que
compreendemos como sustentadores da formação do pedagogo.
O quinto bloco, na cor rosa, indica formação em gestão e organização do
trabalho pedagógico, em classe e na Escola, vista como instituição. Para essa
formação é importante um aprofundamento em políticas públicas, discussão essa
abarcada na disciplina Políticas Educacionais e Educação Básica, e em currículo e
avaliação trabalhada na disciplina Cultura, Currículo e Avaliação, a qual discute
currículo em suas várias dimensões e as concepções teóricas de currículo e de
avaliação. Assim, apesar de tais disciplinas não explicitarem nominalmente um todo,
compreendemos que um fio condutor constituído pelo tema gestão as articula.
O sexto bloco, em cor branca, diz da formação do professor, visto como
profissional que deve atuar em sala de aula junto aos seus alunos. Esse bloco é
formado pelas disciplinas Didática e Formação de Professores e Comunicação e
Mídias. A primeira se volta ao estudo de concepções pedagógicas e à organização
do trabalho docente, ou seja, planejamento, desenvolvimento e avaliação do
processo de ensino. a segunda estuda, entre outras coisas, os processos
educativos mediados por tecnologia, suas implicações na Educação e a tecnologia
como cultura e potencializadora da produção de cultura. Assim, compreendemos que
uma conexão entre ambas, pois a segunda ajudará, entre muitos aspectos, o
desenvolvimento do processo de ensino e, assim sendo, no trabalho do professor
como um todo.
O sétimo, destacado na cor cinza, é o bloco que conduz ao trabalho de
diplomação, composto pelas disciplinas Trabalho de Conclusão de Curso I e II. Tais
disciplinas discutem metodologia do trabalho científico cujo objetivo é levar os alunos
a redigirem um texto acadêmico, a monografia, formando-os em pesquisa.
176
Olhando a tabela denominada Grade Curricular, observamos que:
As disciplinas de Fundamentos e Metodologias são vistas em sua maioria
anteriormente ao início do estágio, ou seja, antes do 5º semestre.
As disciplinas de Fundamentos da Educação estão presentes mais
fortemente no primeiro ano de curso, ou seja, no primeiro e segundo
semestres.
Nessa tabela, as quatro últimas linhas foram por nós criadas para dar ênfase à
carga horária dos núcleos formadores. Constatamos que:
Carga horária de núcleo livre dobra na segunda metade do curso;
As disciplinas do núcleo comum vão diminuindo no decorrer do curso;
As disciplinas do núcleo específico vão aumentando no decorrer do curso.
4.2.7 - Apresentação da Ementa das Disciplinas
Para compreender melhor algumas das observações e compreensões
mencionadas, faremos mais detalhadamente o estudo vertical da grade curricular,
explorando as ementas de cada disciplina.
1º SEMESTRE COMENTÁRIOS SOBRE AS EMENTAS
História da Educação I
NC- 72h
Estuda questões da História como ciência, da
História e da História da Educação, englobando um
debate teórico e metodológico atual. Estuda, ainda,
a origem da Educaçã
o Pública e a História da
Educação Brasileira na época da Colônia e do
Império.
Sociologia da
Educação I
NC- 72h
Abarca questões sobre o surgimento da Sociologia.
Discute o objetivo e o método da Sociologia em
Durkheim, Marx e Weber e, a organização da vi
da
social. Todos culminando no estudo da Educação
como processo social.
Psicologia da
Educação I
NC- 72h
Estudo sobre Psicologia e Educação, sobre a
História da Psicologia e seus eixos epstemológicos.
Compreende as abordagens teóricas
177
comportamental e psicanalítica -
e suas
contribuições para a compreesão dos processos
educativos. Abarca questões sobre o
desenvolvimento cognitivo, afetivo, social e
psicomotor do período de desenvolvimento de
criança ao adulto e suas implicações no processo
de ensino e aprendizagem.
Arte e Educação I
NC- 72h
Prioriza além do trabalho com a teoria da Arte em
geral, o trabalho com Música e
Educação, focando a
música na Educação I
nfantil e anos iniciais do
Ensino Fundamental.
Sociedade, Cultura e
Infância
NC- 72h
Estuda que
stões pertinentes à Infância: construção
histórica-
social e cultural do sentimento de infância,
concepções de infância na formação do
pensamento pedagógico a partir de contribuições
de autores como Roussean, Pestalozzi, Montenorl,
Iroebel e Dewey.
2º SEMESTRE COMENTÁRIOS SOBRE AS EMENTAS
História da Educação II
NC- 72h
Prioriza a Educação escolar no período republicano,
as reformas educacionais e o pensamento
pedagógico brasileiro.
Sociologia da
Educação II
NC- 72h
Estuda a concepção de Educação de au
tores
clássicos da Sociologia. Educação e a organização
da cultura em Gravrsci, Educação e teoria da prática
em Bourdieu e a compreensão sociológica da
Edcuação no Brasil.
Psicologia da
Educação II
NC- 72h
Prevalece os processos de ensino e de
aprendizage
m e desenvolvimento da criança ao
adulto sustentado por teóricos como Piaget,
Vygotsky e Wallon. Estuda, ainda, as interações
socioculturais, a construção do conhecimento e a
constituição dos sujeitos nas práticas sociais.
Arte e Educação II
NC- 72h
É Pri
orizado o trabalho com Artes Visuais em suas
diferentes formas e Educação e o trabalho com artes
cênicas linguagem teatral e Educação
, jogos
teatrais.
Núcleo livre
NL- 64h
As disciplinas do núcleo livre são de livre escolha
do aluno dentro do grupo de d
isciplinas oferecidas
no âmbito da UFG.
178
3º SEMESTRE COMENTÁRIOS SOBRE AS EMENTAS
Fundamentos e
Metodologia de
Matemática I
NC- 72h
Enfoca questões relacionadas com a Educação
Infantil, direcionando o estudo para os processos de
ensino e de aprendizag
em dos conteúdos
matemáticos nessa fase.
Visa, ainda, os diferentes
enfoques teóricos e metodológicos e, o estudo da
visão histórica e epistemológica do conhecimento
matemático. Objetiva que seja construído pelos
alunos propostas metodológicas para a Matemática
na Educação Infantil.
Fundamentos e
Metodologia de
Ciências Humanas I
NC- 72h
A Ementa diz que tal disciplina propõe um trabalho
mais geral e amplo no que diz respeito às Ciências
Humanas. As Ciências Humanas nas Educação
Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental.
Didática e Formação de
Professores
NE- 72h
Dois ramos são trabalhados aqui mais fortemente:
concepções pedagógicas e organização do trabalho
docente.
Alfabetização e
Letramento
NC- 72h
Estuda linguagem, sociedade, cultura, discur
so,
ensino da ngua, alfabetização e letramento,
Literatura e alfabetização, concepções teóricas de
aquisição e desenvolvimento da linguagem escrita,
práticas lingüístico-
discursivas e formação do leitor
e do escritor.
Núcleo livre
NL- 64h
As disciplinas
do núcleo livre são de livre escolha
do aluno dentro do grupo de disciplinas oferecidas
no âmbito da UFG.
4º SEMESTRE COMENTÁRIOS SOBRE AS EMENTAS
Fundamentos e
Metodologia de
Matemática II
NC- 72h
Estuda os fundamentos teóricos e metodológicos
dos c
onteúdos matemáticos nos anos iniciais do
Ensino Fundamental, objetivando que os alunos
construam propostas metodológicas para o trabalho
com Matemática nos anos iniciais. Estuda questões
relativas à avaliação da aprendizagem matemática.
Fundamentos e
Metodologia de
Ciências Humanas II
NC- 72h
Estuda a formação de conceitos na Educação Infantil
e anos iniciais, tais como, relações sociais, espaço e
tempo; estuda ainda o local e o regional. Opções
metodológicas para o ensino de Ciências Humanas.
Fundamentos e
Metodologia de
Ciências Naturais I
NC- 72h
Estuda questões relacionadas à construção do
conhecimento científico e os paradigmas das
Ciências. As ciências Naturais na Educação Infantil e
anos iniciais do Ensino Fundamental. O ensino de
Ciências e ques
es como a inclusão, as drogas e o
sexo.
179
Fundamentos e
Metodologia de Língua
Portuguesa I
NC- 72h
Prioriza o estudo de linguagem e lingüística e
Literatura, abarcando o ensino de língua e fracasso
escolar, leitura, produção de texto e análise
lingüística.
Núcleo livre
NL- 64
As disciplinas do núcleo livre são de livre escolha do
aluno dentro do grupo de disciplinas oferecidas no
âmbito da UFG.
5º SEMESTRE COMENTÁRIOS SOBRE AS EMENTAS
Políticas Educacionais
e Educação Básica
NC- 72h
Trabalho centrado
nas políticas públicas
educacionais; em suas relações com o Estado,
principalmente a partir da década de 1990.
Estágio em Educação
Infantil e Anos Iniciais
do Ensino
Fundamental I
NE- 72h + 28h
Investigação e problematização da realidade por
meio do campo
de estágio articulado com o aporte
teórico da Pedagogia, tendo em vista a
profissionalização docente. Nesse semestre
ênfase no conhecimento da organização do trabalho
pedagógico desenvolvido no campo de estágio.
Fundamentos e
Metodologia de
Ciências Naturais II
NC- 72h
Centra-
se no estudo dos objetivos gerais, conceitos
básicos e procedimentos metodológicos para o
ensino das Ciências Naturais na Educação Infantil
de nos anos iniciais do Ensino Fundamental.
Fundamentos e
Metodologia de Língua
Portuguesa II
NC- 72h
Como a disciplina de Fundamentos e Metodologia de
Língua Portuguesa I, essa também estuda produção
de texto e análise lingüística, leitura, Literatura.
Acrescenta-
se o estudo sobre discurso, docência e
pesquisa, e sobre diretrizes e projetos e
m Língua
Portuguesa.
Núcleo livre
NL- 64h
As disciplinas do núcleo livre são de livre escolha
do aluno dentro do grupo de disciplinas oferecidas
no âmbito da UFG.
6º SEMESTRE COMENTÁRIOS SOBRE AS EMENTAS
Cultura, Currículo e
Avaliação
NE-72h
Discute
currículo e avaliação na Educação Brasileira
e, as dimensões epistemológica, histórica, didático-
pedagógica, política e cultural do currículo.
Concepções teóricas do currículo e da avaliação.
Estágio em Educação
Infantil e Anos Iniciais
do Ensino
Fundamental II
Investigação e problematização da realidade por
meio do campo de estágio articulado com o aporte
teórico da Pedagogia, tendo em vista a
profissionalização docente. Nesse semestre há
180
NE- 72h + 28h
ênfase na coleta sistemática de dados e elaboração
do projeto de ensino-aprendizagem.
Filosofia da Educação I
NC- 72h
Foca seu estudo em: natureza e sentido da Filosofia;
Polis; nascimento da filosofia e Paidéia; razão e
Educação na Idade Média e na Idade Moderna.
Núcleo livre
NL- 64h
As disciplinas do núc
leo livre são de livre escolha
do aluno dentro do grupo de disciplinas oferecidas
no âmbito da UFG.
Núcleo livre
NL- 64h
As disciplinas do núcleo livre são de livre escolha
do aluno dentro do grupo de disciplinas oferecidas
no âmbito da UFG.
7º SEMESTRE COMENTÁRIOS SOBRE AS EMENTAS
Gestão e Organização
do Trabalho
Pedagógico
NE- 72h
Faz uma contextualização das relações de trabalho
na sociedade capitalista e da escola nesse contexto.
O primeiro focando a história, os modos de
produção e as relações de
produção e, o segundo
focando a organização, a gestão dos processos
educativos e o trabalho docente. Isso feito, o
trabalho é conduzido, então, para a gestão escolar
presente nas políticas educacionais: concepções de
gestão e de organização. “A escola com
o cultura
organizacional: o Projeto Político-
Pedagógico
coletivo e o trabalho do professor”.
Estágio em Educação
Infantil e Anos Iniciais
do Ensino Fundamental
III
NE- 72h + 28h
Investigação e problematização da realidade por
meio do campo de estágio arti
culado com o aporte
teórico da Pedagogia, tendo em vista a
profissionalização docente. Nesse semestre
ênfase no desenvolvimento e avaliação do projeto de
ensino-aprendizagem.
Filosofia da Educação
II
NC- 72h
Estuda os seguintes ramos: Filosofia e Educação
;
Educação, cultura e formação; Educação, escola,
cultura e saber.
Trabalho de Conclusão
de Curso I
NE- 72h
O estudo é focado na metodologia do trabalho
científico em sua amplitude e, nas normas e técnicas
para a produção da monografia.
Núcleo livre
NL- 64h
As disciplinas do núcleo livre são de livre escolha do
aluno dentro do grupo de disciplinas oferecidas no
âmbito da UFG.
181
8º SEMESTRE COMENTÁRIOS SOBRE AS EMENTAS
Educação,
Comunicação e Mídias
NE- 72h
O trabalho é conduzido para o uso das tecnol
ogias
na Educação. Trabalha-
se também com ênfase na
comunicação e na Educação como práticas culturais
Estágio em Educação
Infantil e Anos Iniciais
do Ensino
Fundamental IV
NE- 72h + 28h
Investigação e problematização da realidade por
meio do campo de está
gio articulado com o aporte
teórico da Pedagogia, tendo em vista a
profissionalização docente. Nesse semestre
ênfase na sistematização, análise e apresentação de
relatório do trabalho desenvolvido.
Núcleo livre
NL- 64h
As disciplinas do núcleo livre sã
o de livre escolha do
aluno dentro do grupo de disciplinas oferecidas no
âmbito da UFG.
Trabalho de Conclusão
de Curso II
NE- 72h
Essa disciplina se volta para a elaboração da
monografia: Documentação e leitura da bibliografia
do trabalho, construção lógi
ca do trabalho e redação
final do trabalho de conclusão de curso.
Núcleo livre
NL- 64h
As disciplinas do núcleo livre são de livre escolha do
aluno dentro do grupo de disciplinas oferecidas no
âmbito da UFG.
Algumas Considerações:
O livro da Terezinha Nunes Carraher, “Aprender Pensando”, está presente na
bibliografia da disciplina Psicologia da Educação II. Ele discute questões
relacionadas ao aprendizado matemático e às relações com a Psicologia.
O trabalho da disciplina Fundamentos e Metodologia das Ciências Humanas I
foca a disciplina de História, como já havíamos comentando. Ou seja, apesar de não
ficar explícito na apresentação de sua ementa da disciplina, sua bibliografia está
centrada no estudo da História. Apresenta livros que discutem metodologia do
ensino de História
Pela bibliografia, e, também pela ementa apresentada pelo Projeto, vemos
que o foco da disciplina Fundamentos e Metodologia das Ciências Humanas II é o
ensino de Geografia. Na Bibliografia sugerida há também livros que discutem
questões mais gerais das Ciências Sociais e Humanas.
Na ementa da disciplina Cultura Currículo e Avaliação não há indicação
bibliográfica.
182
Percebemos que algumas ementas estão apresentadas de maneira vaga,
gerando dificuldades em compreender e explicitar os objetivos a que elas se
propõem a alcançar.
Compreendemos que “fundamentos” de alguma Ciência, seja ela exata,
humana ou natural, é o que sustentação, base à construção do edifício teórico
dessa ciência. No Dicionário Michaelis (2001) encontramos “fundamentos” explicado
como rudimentos, princípios, noções, da Ciência. Assim, compreendemos, ao olhar
para o ementário, que nas disciplinas que são nomeadas como “Fundamentos e
Metodologia de (Matemática, Ciências Sociais, Língua Portuguesa, Ciências
Naturais)” o objetivo não é trabalhar os Fundamentos dessas Ciências, mas sim os
Fundamentos de seu Ensino. Assim, a denominação utilizada é ambígua: pode
tratar-se de rudimentos da ciência em questão e, também, tratar de “Fundamentos e
Metodologia do Ensino de (Matemática, Ciências Sociais, Língua Portuguesa,
Ciências Naturais).
O primeiro destaque apontado na ementa da disciplina Gestão e Organização
do Trabalho Pedagógico diz sobre “o trabalho na sociedade capitalista: história,
modos de produção, relações de produção” (ANEXO III - FE/UFG, 2003, p. 19).
Entretanto, a bibliografia dessa disciplina privilegia aspectos do currículo, da gestão
e administração escolar e do projeto pedagógico. Pode-se entender que a discussão
da concepção de trabalho na sociedade capitalista, bem como seus modos de
produção não o tratados com o destaque apontado na ementa
85
. Silva Jr. (1990)
dedica-se a essa questão em seu livro A escola blica como
local de trabalho.
4.2.8 - Expondo Entendimentos sobre a Formação de Professores de
Matemática dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental no Curso de
Licenciatura em Pedagogia
O curso de Licenciatura em Pedagogia da Universidade Federal de Goiás,
mantido por sua Faculdade de Educação, tem como objetivo maior formar
85
O tema destacado solicita um estudo mais aprofundado que pretendemos desenvolver futuramente
em pesquisa de doutorado, contemplando estudos sobre obras de autores como Gandini, Marx,
Snyders, Ianni, entre outros.
183
professores para atuarem na Educação Infantil e anos iniciais do Ensino
Fundamental, pautado em justificativas apresentadas no início deste capítulo.
Ao objetivar tal formação para seus egressos, entendemos que o curso de
Pedagogia dessa Universidade tem também por objetivo mesmo que não seja
revelado de modo explícito formar o professor de Matemática dos anos iniciais.
Compreendemos conforme o exposto acima, pois, a pretensão de formar
professores para os anos iniciais do Ensino Fundamental implica formar um
professor capaz de trabalhar com conjunto de disciplinas específicas nos anos
iniciais e, portanto, formar o professor de Matemática.
Focando a formação do professor de Matemática no curso de Pedagogia,
percebemos alguns pontos relevantes para a compreensão dessa formação.
As disciplinas de Fundamentos e Metodologia dos conteúdos específicos,
bem como as demais, são de responsabilidade da Faculdade de Educação e, desse
modo, dos professores aí alocados. Podemos afirmar que, em geral, tais professores
têm formação em Pedagogia. Assim, o fato de o haver, na Faculdade de
Educação, professores provenientes das áreas específicas alocados em unidades
específicas da Universidade, como por exemplo, a da Matemática, anuncia ausência
de articulação entre a Faculdade de Educação e os demais Institutos específicos.
Desse modo, a formação do professor que i trabalhar nas séries iniciais com
conteúdo e pensamento matemático fica ao encargo somente da Faculdade de
Educação, o que, possivelmente, os afastam dos modos de trabalhar e produzir
Matemática que profissionais dessa área apresentam.
Compreendendo o ementário do curso de Pedagogia, mediante a análise
apresentada, voltamos nosso olhar atento para as disciplinas que focam o trabalho
com a Matemática, destacando a bibliografia sugerida para o trabalho nessas
disciplinas, na tentativa de evidenciar quais caminhos são anunciados.
São indicados dois livros
86
que trabalham com jogos matemáticos. Um voltado
para a Educação Infantil, que abre possibilidades de serem trabalhados o
aprendizado de conceitos matemáticos e a importância da questão lúdica do jogo
para essa fase de ensino. O outro é voltado especificamente para o ensino de
conceitos matemáticos por meio de jogos e também tem seu foco na pré-escola..
86
AGUIAR, João Serapiã. Jogos para o ensino de conceitos. Leitura e escrita na pré-escola. São
Paulo: Papirus, 1998
KISHIMOTO, T.M. O jogo e a educação infantil. São Paulo, Pioneira, 1994.
184
Apenas um livro
87
, entre os citados na bibliografia, sugere o trabalho com
conteúdos matemáticos e, mesmo assim, sob o enfoque da metodologia
pedagógica. Esse livro conduz para o trabalho com números e operações
aritméticas. Ele não foca o trabalho com Geometria e Medidas.
Também focando o estudo do número e das operações aritméticas,
encontramos livros
88
pautados na teoria piagetiana. Esses livros em geral trazem
uma discussão sobre como a criança aprende o conceito de número e como lida
com as operações aritméticas, centrando no princípio de fazer com que os alunos
construam a sua autonomia e, assim, aprendam Matemática sem se prender a
regras e algoritmos tradicionalmente postos.
Focando a Metodologia da Matemática, encontramos duas indicações
bibliográficas
89
. Relacionados com Metodologia da Matemática também dois
livros
90
que tratam da Resolução de Problemas, um sobre Didática da resolução de
problemas especificamente e o outro sobre resolução de problemas, partindo da
contagem. dois livros
91
que tratam da Matemática para a Educação Infantil, os
quais indicam que o trabalho será voltado para a Metodologia de Ensino da
Matemática. Há indicação, também, de um título
92
específico sobre Didática da
Matemática e reflexões psicopedagógicas, outro
93
sobre ensino-aprendizagem das
operações matemáticas básicas nos anos iniciais e um
94
sobre as implicações da
teoria Vygotskyana na Educação Matemática.
87
CENTURIÓN, Marília. Conteúdo e Metodologia da Matemática. Número e Operação. São Paulo,
Ed.Scipione, 1994.
88
KAMII, CONSTANCE. A criança e o número. Campinas, Papirus, 27 ed, 2000.
KAMII, Constance.Desenvolvendo a Aritmética: Implicações da Teoria de Piaget. Campinas, Papirus,
1998.
KAMII, Constance. Reinventando a Aritmética: Implicações da Teoria de Piaget. Campinas, Papirus,
1995.
89
DUARTE, Ana cia e CASTILHO, Sônia, F. da R. Metodologia da Matemática. Belo
HorizonteVirgília, 3 vol., 1983.
CENTURIÓN, Marília. Conteúdo e Metodologia da Matemática. Número e Operação. São Paulo,
Ed.Scipione, 1994.
90
DANTE, Luiz Roberto.Didática da resolução de problemas. São Paulo: Ática, 2000.
FAYOL, Michel. A criança e o número: da contagem à resolução de problemas.Trad. Rosana Severino
de Leoni . Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
91
DUHALDE, Maria Eliana. Encontros iniciais com a matemática: contribuições à educação infantil
.Trad. Maria Cristina Fontana. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
SMOLE, Kátia Cristina Stocco. A Matemática na Educação Infantil: a teoria das inteligências múltiplas
na prática escolar. Porto Alegre: Arte Médicas, 1996.
92
PARRA, Cecília. Didática da matemática: reflexões psicopedagógicas: Trad. Juan. A Dovens. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1996.
93
SILVA, Eleuza de Melo. O ensino-aprendizagem das operações matemáticas básicas nas quatro
primeiras séries do ensino fundamental. Goiânia: MEEB/FE/UFG, 1995. (Dissertação de Mestrado)
94
MOYSES. Lúcia. Aplicações de Vigotsky à educação matemática. Campinas: Papirus, 2000.
185
Constatamos que a bibliografia apresentada e sugerida no Projeto
Pedagógico do curso de Pedagogia direciona os estudos para números e operações
aritméticas. Assim não há, na bibliografia, indicação de livros que sugiram o estudo
de Geometria, Medidas e Tratamento da Informação, tanto do conteúdo, como da
didática e metodologia de ensino.
Olhando para toda bibliografia indicada no ementário das disciplinas,
constatamos, na disciplina Psicologia da Educação II, um livro que discute Educação
Matemática: Aprender Pensando, de Terezinha Nunes Carraher.
Ao analisar os estágios supervisionados, vemos que não existe um
direcionamento claro para o trabalho com as disciplinas específicas. Não havendo
proposta específica nessa direção no projeto de curso, compreendemos que a
proposta metodológica que os alunos devem construir e desenvolver no campo de
estágio é livre, podendo focar ou não os conteúdos específicos como cerne de sua
proposta, ou focar de modo secundário. Olhando a bibliografia sugerida para as
disciplinas de estágio, vemos alguns núcleos privilegiados. O estudo sobre pesquisa
muito presente na bibliografia, confirma-a como um dos princípios norteadores do
curso a pesquisa como uma dimensão da formação e do trabalho docente, e sua
relação com o ensino e a extensão.
A bibliografia traz títulos sobre interdisciplinaridade, conduzindo a prática de
ensino e o estágio supervisionado para o trabalho do pedagogo que deve se
interdisciplinar, pois carrega a responsabilidade de todos os conteúdos presentes
nos anos iniciais.
O tema prática de ensino e estágio supervisionado também está presente
entre os itens da bibliografia do curso de Pedagogia. Entendemos sua presença
como indicador e exemplificador de caminhos a serem trilhados na prática dos
alunos e também como suporte na compreensão do trabalho que será realizado.
As indicações bibliográficas contemplam ainda o tema metodologia da
alfabetização. A presença dele mostra a importância dada ao trabalho de
alfabetização. Entretanto, não indicações específicas do tema Alfabetização
Matemática. Entendendo que os alunos farão seus estágios na Educação Infantil ou
na Educação de Jovens e Adultos e nos anos iniciais do Ensino Fundamental,
podendo trabalhar com a Matemática. Desse modo, como ficará o trabalho com essa
área do saber com a total ausência, no projeto pedagógico do curso, de estudos
sobre Alfabetização Matemática?
186
Ainda focando nossa atenção no tema referente à formação dos professores
de Matemática dos anos iniciais, daremos destaque à sua relação com as linhas de
pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Educação, oferecido por essa
Universidade. Essas linhas, de acordo com o Projeto Pedagógico do curso, apontam
as áreas em que os alunos da graduação poderão aprofundar seus estudos, por
meio das disciplinas de núcleo livre, dos grupos de estudo, das atividades de
extensão, etc. Ao olhar atentivamente as linhas de pesquisa e suas respectivas
áreas, mencionadas neste capítulo, constatamos que nenhuma delas direcionam
os estudos para a região de inquérito de nosso interesse A Educação Matemática.
Depois de todo o exposto sobre o projeto do curso de Pedagogia da
Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás, questionamos:
Onde está a formação do professor de Matetica dos Anos
Iniciais do Ensino Fundamental?
187
4.3 - Análise e Interpretação do Projeto Político-Pedagógico do
Curso de Licenciatura em Matemática – UFG
O Instituto de Matemática e Física
95
da Universidade Federal de Goiás
nasceu em 23 de novembro de 1963, após três anos do decreto de criação dessa
universidade, em 1960. O início das atividades do curso de Matemática,
Bacharelado e Licenciatura, deu-se a partir de março de 1964.
O Projeto Político Pedagógico do curso de Matemática, aqui apresentado e
analisado, dá sustentação aos cursos ofertados na cidade de Goiânia, no IME, e nos
campus de cada uma destas cidades de Goiás: Catalão, Jataí e Rialma.
Ele está em consonância com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional 9.394, de 20 de dezembro de 1996; com o Regulamento Geral dos
Cursos de Graduação da UFG - RGCG/UFG, aprovado por meio da Resolução -
CONSUNI em 20 de setembro de 2002; com a Resolução CEPEC 626, de 14 de
outubro de 2003, que define a política da UFG para a formação de professores da
Educação Básica; com a Resolução CNE/CES nº 3, de 18 de fevereiro de 2003, que
estabelece as Diretrizes Curriculares para os cursos de Matemática; com a
Resolução CNE/CP 1, de 18 de fevereiro de 2002, que institui as Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em
nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena; e também com a
Resolução CNE/CP 2, de 19 de fevereiro de 2002, que institui a duração e a
carga horária dos cursos de licenciatura, de graduação plena, de formação de
professores da Educação Básica em nível superior.
Antes de receber esse novo projeto, elaborado em 2004
96
, o curso de
Matemática passou por outras modificações curriculares nos anos de 1984 e 1992.
Nesse novo projeto, os cursos de Licenciatura e Bacharelado o apresentados e
vistos como habilitações do curso de Matemática, de modo que ambos constam do
mesmo projeto de curso.
Nossas compreensões sobre o Projeto Político-Pedagógico do curso de
Matemática, licenciatura, serão apresentadas a seguir:
95
O Instituto de Matemática e Física- IMF em 05 de setembro de 1996 foi desmembrado nos Instituto
de Matemática e Estatística - IME, Instituto de Física - IF e Instituto de Informática - INF.
96
O projeto analisado neste capítulo está datado do ano de 2006, no entanto é o mesmo projeto
reformulado no ano de 2004.
188
4.3.1 - O que Ele (o Curso) Pretende
i) Seu Objetivo:
Formar profissionais qualificados para atuarem como:
Matemático - Pesquisador;
Matemático - Educador;
E, ainda, formar profissionais para atuarem em:
“Áreas não acadêmicas que exijam, além do conhecimento matemático,
raciocínio lógico, postura crítica e capacidade de formular, interpretar e
resolver problemas” (IME/UFG, 2006, p. 5).
ii) Concepções que Norteiam a Formação do Professor de Matemática:
No item quatro do projeto pedagógico do curso de Matemática, é anunciado
que serão expostos os princípios norteadores para a formação do profissional. No
entanto, em nossa compreensão são apresentadas concepções de conhecimento,
de Matemática e do seu ensino e aprendizagem que, por interpretações possíveis,
podem indicar que a equipe responsável pelo projeto do curso entende serem
suficientes para nortear a formação do professor de Matemática.
Não são expostos princípios mais abrangentes a respeito da
profissionalização do professor, como os que indicam direções para formação da
pessoa e do cidadão. Assim, podemos entender que os princípios expressos no
projeto se contextuam no âmbito da ciência Matemática e do seu ensino.
No Projeto Político-Pedagógico o conhecimento é concebido, pelo colegiado
de professores que o elaboraram, como “uma estrutura integrada de relações entre
conceitos e proposições que é construída a partir de informações” (IME/UFG, 2006,
p. 5). Assim, compreendem que as experiências vividas pelo indivíduo podem vir a
se tornar parte de seu conhecimento desde que façam sentido, possam ser
lembradas e aplicadas em outras situações. Afirmam, ainda, que o professor pode
oferecer a seus alunos informações, mas não pode dar-lhes conhecimento.
Explicitam, também, algumas concepções sobre Matemática, seu ensino e
aprendizagem, as quais sintetizaremos a partir de agora:
189
Compreendem que os conceitos matemáticos surgem na observação das
relações entre objetos reais, depois de um longo período de experiências
práticas” (IME/UFG, 2006, p. 5). Afirmam que os conceitos matemáticos
são abstratos e que a sua definição é dada somente após seu surgimento.
Essa compreensão, na concepção expressa, leva à indicação de postura
pedagógica, trazida no projeto, a saber: “antes de definir um conceito
procura-se mostrar uma situação da qual ele emerge; depois de
entendido o conceito é que se passa para a tarefa de defini-lo” (IME/UFG,
2006, p. 5) e é pela definição que nos é permitido operar com o conceito;
Compreendem que os conceitos matemáticos, por serem abstratos,
podem ser aplicados ou transferidos a diversas outras situações diferentes
do contexto em que surgiram. A capacidade para realizar tais aplicações
devem ser trabalhadas durante o processo de ensino e de aprendizagem;
Compreendem que as teorias, depois de criadas, “adquirem uma
existência própria e passam a se constituir num objeto de estudo da
matemática, desligado da realidade que lhes deram origem, com
linguagem e método próprios” (IME/UFG, 2006, p. 5). Em geral as teorias
se estruturam axiomaticamente, isto é, em um sistema axiomático. Assim,
partem de objetos não definidos, nomeados conceitos primitivos e de
axiomas, que são proposições aceitas sem demonstração, de modo que
os novos objetos da teoria são definidos e novas proposições são
demonstradas, a partir dos conceitos primitivos e dos axiomas.
Compreendem que uma teoria matemática deve ser consistente, ou seja,
“nela não se pode provar uma proposição e a sua negação também”
(IME/UFG, 2006, p. 6). Esse aspecto em uma teoria matemática é
fundamental. Desejar-se-ia, também, resolver qualquer problema nessa
mesma teoria, ou seja, a teoria deveria ser completa. No entanto,
pautados no matemático Kurt Gödel, compreendem que o método
dedutivo possui limitações, de modo que uma teoria matemática não pode
ser completa, ou seja, haverá dentro dessa teoria uma afirmação da qual
não se pode dizer se é verdadeira ou falsa.
Compreendem ainda que a Matemática é uma construção humana, fruto
de ações de pessoas, com seus defeitos e virtudes. Isso faz com que as
190
motivações que levaram às descobertas matemáticas deixem sua
aprendizagem mais atrativa. Em nosso entender, aqui expressam a
concepção de História da Matemática e sua importância para a
aprendizagem dos alunos;
Compreendem que é importante entender o porquê da veracidade de um
teorema e não somente verificar essa veracidade;
Compreendem a importância da interação professor-aluno no processo de
ensino aprendizagem da Matemática ao explicitarem que “Amar é uma
capacidade humana que se insere na faculdade humana da emoção”
(IME/UFG, 2006, p. 6). Essa afirmação indícios de que concebem a
interação professor-aluno fundada no amor;
Compreendem que educar é um ato de fé, expressando que “educar
pressupõe ter nas potencialidades do ser humano” (IME/UFG, 2006, p.
6), de modo que, a inexistência dessa não ocorrerá educação e sim
manipulação.
Compreendem, pautando-se em Pólya (1987 apud IME/UFG, 2006, p. 6),
que um bom professor é aquele que tem interesse e conhecimento, sendo
capaz de ouvir o ponto de vista dos alunos, de modo que, para aqueles
que ainda não são bons professores, basta experiência para se tornar um;
Compreendem ainda, pautando-se em Thurston (1994 apud IME/UFG,
2006, p. 7), que a preocupação com a linguagem e com a comunicação de
idéias matemáticas deve estar além das definições e teoremas
matemáticos, deve atingir também a comunicação de nossos modos de
pensar.
iii) Expectativas da Formação do Profissional
a) Perfil e Competências do Licenciado em Matemática
Este subtítulo é a denominação explícita deste item trazido no projeto.
Entretanto, compreendemos que existe ambigüidade no que entendem por objetivo,
uma vez que explicitam as competências e habilidades desejadas para o licenciado
em Matemática em termos de objetivos gerais e específicos. Inferimos que, mesmo
que não esteja claro, ao explicitarem as habilidades e competências, o projeto se
191
refere em primeiro lugar àquelas gerais, ou seja, às habilidades e competências
desejadas em um contexto geral da atuação do professor de Matemática e, em
segundo, se referem às específicas, isto é, às habilidades e competências desejadas
em um contexto específico da atuação do professor com a disciplina de Matemática.
O Projeto pedagógico expõe a proposta de formar um profissional que tenha o
seguinte perfil:
“Conhecimento crítico da Matemática voltado para sua atuação
profissional” (IME/UFG, 2006, p. 8);
“Formação pedagógica dirigida para o trabalho do professor” (IME/UFG,
2006, p. 8);
“Consciência da abrangência social de sua profissão” (IME/UFG, 2006, p.
8);
“Visão histórica da educação e que tenha capacidade de relacionar este
conhecimento, em seus vários campos, com as necessidades práticas
encontradas pelo homem em seu cotidiano” (IME/UFG, 2006, p. 8);
E ainda que seja capaz de:
“Desenvolver o papel de mediador, colaborador e incentivador de seus
alunos, colocando-se como agente da construção do conhecimento e da
cidadania” (IME/UFG, 2006, p. 8);
“[...] compreender o mundo em que vivemos. Compreender no sentido de
amar e conhecer” (IME/UFG, 2006, p. 5).
Essa idéia sobre o profissional a ser formado - expressa no item 4, dos princípios
norteadores - não é aprofundada no desenrolar do projeto. Ela foi, de certo modo,
lançada no texto do projeto, ficando em nossa compreensão, desconectada das
demais idéias trabalhadas.
Expõem, também, as seguintes competências e habilidades que desejam que o
profissional apresente:
“Ter uma compreensão crítica dos projetos políticos para a educação de
modo a participar e contribuir para a construção de um projeto educacional
192
na busca de uma sociedade mais justa e equânime” (IME/UFG, 2006, p.
8);
“Desenvolver um ensino contextualizado que leve em consideração as
características sócio–culturais, econômicas e psicológicas dos educandos,
de modo a torná-los cidadãos ativos, críticos e atuantes” (IME/UFG, 2006,
p. 8);
“Ter uma formação dinâmica da Ciência Matemática, que desenvolva uma
estrutura cognitiva básica de como fazer Matemática, seus fundamentos e
métodos dentro de uma visão crítica tal que permita compreender a
estrutura da Matemática e sua transposição para o ensino” (IME/UFG,
2006, p. 8);
“Ter uma compreensão histórica do contexto evolutivo da Matemática, da
Educação e mais especificamente da Educação Matemática, levando a
compreender a atualidade dentro de uma visão filogenética e social”
(IME/UFG, 2006, p. 8);
“Elaborar pensamentos autônomos e críticos para formular seus próprios
juízos de valor de modo a poder decidir por si mesmo como agir nas
diferentes circunstâncias de sua vida profissional” (IME/UFG, 2006, p. 8);
“Ter noção dos processos de pesquisa e investigação para sua atuação
docente” (IME/UFG, 2006, p. 8);
“Ser autônomo na busca de novos conhecimentos e estar consciente da
necessidade de uma formação continuada” (IME/UFG, 2006, p. 8);
“Ter habilidades de trabalhar em equipes interdisciplinares e
heterogêneas” (IME/UFG, 2006, p. 8);
“Compreender as dimensões antropológica, epistemológica, ética e
estética da educação” (IME/UFG, 2006, p. 8).
Focando o trabalho com a Matemática, afirmam ser desejável que o
profissional apresente as seguintes habilidades e competências:
“Estabelecer as conexões da matemática estudada na universidade com a
matemática da educação básica” (IME/UFG, 2006, p. 8);
“Ter a capacidade de interpretar, criticar e redigir dados e textos
matemáticos” (IME/UFG, 2006, p. 9);
193
“Comunicar oralmente temas matemáticos” (IME/UFG, 2006, p. 9);
“Lidar de modo apropriado com as novas tecnologias de comunicação e
com softwares voltados para o ensino da matemática” (IME/UFG, 2006, p.
9);
“Compreender a natureza da matemática, seus métodos e sua estrutura,
como um produto cultural inserido dentro do contexto sócio histórico”
(IME/UFG, 2006, p. 9);
“Perceber e estabelecer as relações entre a matemática e as demais
áreas de conhecimento” (IME/UFG, 2006, p. 9);
“Desenvolver atitudes e disposições relacionadas com o trabalho:
responsabilidade, iniciativa, flexibilidade para aceitar mudanças,
adaptação a formas de trabalho” (IME/UFG, 2006, p. 9);
“Compatibilizar a seleção de conteúdos, todos empregados, interação
professor aluno, com sua concepção de matemática e educação
matemática” (IME/UFG, 2006, p. 9).
4.3.2 - Justificativa Apresentada para a Existência e Manutenção desse
Projeto para o Curso de Matemática
Evidenciamos que uma das justificativas expostas para a reformulação do
antigo projeto é sustentada pela necessidade de adequação à legislação.
De acordo com o que está exposto no projeto, o colegiado de professores
desse curso aproveitou a oportunidade das “imposições” trazidas,
principalmente pela LDBEN nº 9.394/1996 e pelo novo Regulamento Geral
dos Cursos de Graduação da UFG
97
, para desenvolverem o presente
projeto que estamos analisando, o qual, para eles “mantém as virtudes do
atual curso em Matemática e ao mesmo tempo permite o estudo de áreas
da Matemática não tratadas atualmente” (IME/UFG, 2006, p. 4).
97
Entre as modificações trazidas por esse regulamento, está a transformação do regime seriado
anual para o regime semestral.
194
4.3.3 - Procedimentos Propostos para Atingir os Objetivos Presentes no
Projeto
4.3.3.1 - Estágio Supervisionado
a) Política e Gestão do Estágio
O estágio do curso de Licenciatura em Matemática está em consonância com
a Resolução CNE/CP nº 2/2002, pois é ofertado em duas disciplinas, “Estágio
Supervisionado I” e “Estágio Supervisionado II”, perfazendo as 400 horas exigidas.
Essas disciplinas são obrigatórias e fazem parte do núcleo específico da habilitação
“licenciatura”. O estágio conta com um coordenador designado anualmente pela
direção do IME. Suas atribuições estão definidas do RGCG/UFG.
i) Onde realizar os Estágios?
A disciplina de Estágio Supervisionado I faz parte do estágio curricular e
deverá ser cumprida em alguma instituição credenciada junto ao IME/UFG.
O projeto, no tópico destinado à política e gestão do estágio, não deixa
claro os tipos de instituições que devem ser escolhidas pelos alunos e
nem se o trabalho deverá ser necessariamente de caráter docente. No
entanto, na ementa da disciplina “Estágio Supervisionado I”, é dito que o
aluno deverá prestar serviços docentes em instituições de ensino formal,
ou seja, “em escolas de ensino fundamental ou médio da rede pública ou
particular (profissional ou não)” (IME/UFG, 2006, p. 18), ou em instituições
de ensino não formal, por exemplo: “hospitais, instituições de ensino de
alunos com necessidades especiais, ou em cursos: de aceleração, do
SENAI ou SENAC ou outros cursos profissionalizantes” (IME/UFG, 2006,
p. 18);
Em consonância com a resolução anterior, o aluno que tenha exercido a
docência na Educação Básica por um período regular de dois anos
anterior a sua matrícula na disciplina de estágio Supervisionado I, ficará
dispensado de cumprir atividades equivalentes a 100 horas-aula;
195
A disciplina de Estágio Supervisionado II, que se constitui no estágio
curricular, é voltada explicitamente para a docência, tendo suas 200 horas
de atividades desenvolvidas, preferencialmente, em escolas públicas de
Ensino Fundamental, Médio, Educação de Jovens e Adultos ou no Centro
de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação - CEPAE;
Atividades desenvolvidas no IME e/ ou no Laboratório de Educação
Matemática - LEMAT/ UFG farão parte da carga horária da disciplina de
Estágio Supervisionado II.
b) Procedimentos do Estágio Supervisionado
i) Estágio Supervisionado I:
O aluno, juntamente com um profissional da Instituição escolhida, deverá
elaborar um projeto de prestação de serviços. Esse projeto será avaliado e aprovado
pelo Professor Supervisor do IME. O acompanhamento e a avaliação do estudante
no desenvolvimento de seu projeto de estágio serão feitos por meio de relatórios
periódicos enviados ao IME pela instituição que acolhe o estagiário. A instituição
também fará uma avaliação geral do desempenho do aluno. Ao término das
atividades, o aluno deverá fazer um relatório final sobre a execução de seu projeto.
ii) Estágio Supervisionado II:
O aluno desenvolverá suas atividades em quatro etapas, ou seja, divididas
durante os quatro bimestres letivos. Essas etapas são assim caracterizadas:
Etapa 01: Caracterizamos essa etapa como de observação. O aluno deve,
no decorrer do bimestre, observar a escola-campo
98
e a clientela em
suas atividades diárias e também as aulas de Matemática. Nessa etapa
ele deve ainda: desenvolver atividades como participação no planejamento
do ano letivo; colaborar na elaboração do Projeto Político Pedagógico da
escola e estudar o seu regimento; conhecer a administração e a equipe
98
Escola-campo, a escola onde os alunos desenvolverão o Estágio Supervisionado. Estamos usando,
desse modo, a mesma nomenclatura utilizado no Projeto Pedagógico do curso de Matemática.
196
que oferece o apoio pedagógico; conhecer os recursos didáticos
existentes na escola; conhecer a biblioteca e seu acervo da área de
Matemática, bem como sua utilização por parte dos alunos e professores;
analisar o livro didático utilizado nas aulas de Matemática. Desse modo,
essa é a etapa em que o aluno irá “caracterizar a proposta pedagógica da
escola e do ensino da matemática” (IME/UFG, 2006, p. 19). Destacamos
que o termo “observação” traz consigo o significado de separação entre
observador e observado, indicando distanciamento;
Etapa 02: Nessa etapa o aluno realizará um trabalho conjunto com o
professor responsável pela turma, sendo seu monitor no desenvolvimento
das atividades em sala de aula. O objetivo é preparar o licenciando para a
terceira etapa quando ele assumirá a sala de aula. Além dessa atividade, o
aluno deverá definir o seu projeto pedagógico de atuação para a próxima
etapa;
Etapa 03: Nessa etapa o aluno assumirá a sala de aula, executando a sua
proposta pedagógica. Ele deverá desenvolver as diversas atividades que
compõem o trabalho docente em sala de aula, sendo responsável por 32
horas/aula, no mínimo. É uma etapa importante, pois o licenciado “assume
sua prática a partir dos significados que ele mesmo lhe dá, construindo um
conhecimento e um saber-fazer proveniente de sua própria atividade e a
partir dos quais ele a estrutura e a re-orienta” (IME/UFG, 2006, p. 19);
Etapa 04: É a etapa de finalização de todo trabalho de estágio. O
licenciando deverá redigir a versão final de seu Trabalho Final de Curso
(TFC), explicitando sobre sua experiência de estágio. O TFC deverá ser
composto por: “contextualização, fundamentação pedagógica, proposta de
ensino, descrição da experiência, análise dos resultados alcançados,
conclusão” (IME/UFG, 2006, p. 19). É um momento de olhar para a
experiência vivida, para as escolhas pedagógicas feitas e de refletir sobre
essa prática para poder aprimorá-la.
197
c) Desenvolvimento do Estágio
Como já mencionado, o estágio terá um professor coordenador que será
responsável pelo acompanhamento das atividades, promovendo reflexões sobre a
prática docente realizada, interligando a escola-campo e o IME, acompanhando e
coordenando as atividades entre professor da escola-campo, chamado de professor
supervisor, professor do IME, chamado de professor orientador, e o estagiário. Esse
acompanhamento será realizado por meio de reuniões entre os professores:
coordenador, supervisor e orientador. O aluno deverá, também, reunir-se com seu
orientador em todas as etapas do estágio, a fim de direcionar o trabalho e promover
reflexão sobre a ação pedagógica.
O professor supervisor, durante as etapas do estágio, e em especial na
segunda etapa, desempenhará um papel importante, pois será ele quem
acompanhará a prática de ensino do aluno, oferecendo o apoio necessário, visando
estabelecer confiança para que possa assumir a sala de aula.
Um convênio será firmado entre a escola-campo e o IME de modo a ficarem
claras as responsabilidades de cada instituição. Nesse convênio deverá ficar
explícita a “forma de atuação do IME para o aperfeiçoamento do ensino da
matemática na escola” (IME/UFG, 2006, p. 19). E, ainda, as atividades que serão
desenvolvidas devem estar presentes no Projeto Político Pedagógico da escola.
É exigido no projeto que o professor supervisor seja Licenciado em
Matemática e, de preferência, especialista em Educação Matemática, devendo
também estar disposto a se reunir com o professor orientador e com o estagiário
para discutirem e estabelecerem as diretrizes da atuação na sala de aula.
d) Orientações Metodológicas
Neste item é apresentado um texto idêntico ao utilizado no item anterior.
4.3.3.2 - Prática como Componente Curricular
As 400 horas de prática como componente curricular, estabelecidas pela
Resolução CNE/CP nº 2/2002, são divididas e cumpridas pelo alunos, entre algumas
198
disciplinas da grade curricular. No entanto, não fica claro como essa prática,
presente nas disciplinas, será desenvolvida, ou seja, quais as atividades oferecidas
são “prática”. As 400 horas mencionadas estão divididas nas seguintes disciplinas
apresentadas na tabela abaixo:
Disciplinas Carga horária
Álgebra Linear I 16h
Cálculo Diferencial e Integral I 64h
Cálculo Diferencial e Integral II
16h
Cálculo Numérico 32h
Didática da Matemática I 32h
Didática da Matemática II 32h
Didática da Matemática III 32h
Fundamentos de Análise 32h
Fundamentos de Geometria 32h
Prática de Ensino Orientada 48h
Probabilidade e Estatística 32h
Laboratórios de Física I 32h
Tabela retirada do Projeto Político Pedagógico do Curso de Matemática -2006.
4.3.3.3 - Avaliação da Aprendizagem
O projeto dedica um item para a avaliação da aprendizagem dos alunos
indicando que ela deverá atender o RGCG (Capítulo IV, Seção 1 “Da verificação da
Aprendizagem”). Assim, analisamos o RGCG para explicitar as orientações dadas
quanto à avaliação da aprendizagem.
O professor deverá dar no mínimo duas avaliações no semestre, avaliando o
aluno com nota de 0,0 (zero) a 10,0 (dez). As formas e os períodos dessas
avaliações da aprendizagem devem constar no plano de ensino da disciplina. O
aluno será aprovado se obtiver média final igual ou superior a 5,0 (cinco) e
freqüência nima de 75% da carga horária da disciplina. A seção 1 do capítulo IV
do RGCG trata também sobre os procedimentos para a divulgação e revisão de
notas e provas de segunda chamada para os alunos que não fizeram a prova na
data marcada.
199
4.3.3.4 - Atividades Complementares
As atividades complementares a serem realizadas pelos alunos do curso de
licenciatura em Matemática estão definidas no RGCG/UFG, artigoparágrafo §7º, e
não foram trazidos para o projeto. Indo ao RGCG, constatamos que as atividades
complementares são aquelas distintas das disciplinas trazidas na grade curricular.
São atividades de “participação, sem vínculo empregatício, em pesquisas,
conferências, seminários, palestras, congressos, debates e outras atividades
científicas, artísticas e culturais” (RGCG/UFG, 2002, art 5º, § 7º). A definição dos
critérios de validação dessas atividades está sob a responsabilidade da
coordenação do curso. Esses critérios não foram explicitados no projeto de curso.
4.3.3.5 - Como Ensino, Pesquisa e Extensão são trazidos para o
Projeto de Curso?
É expresso no projeto que o IME desenvolverá atividades de ensino, pesquisa
e extensão de modo sistemático. Para isso, o Instituto conta com um quadro atual de
41 professores, sendo 22 doutores, 18 mestres (oito em programas de doutorado) e
um especialista. Conta ainda com três laboratórios: Laboratório de Informática para
Cálculo e Estatística - LINCE, responsável por oferecer “o suporte computacional
para as aulas e aos alunos de toda a UFG” (IME/UFG, 2006, p. 37); Laboratório de
Educação Matemática - LEMAT, responsável por oferecer aos alunos da licenciatura
o apoio pedagógico para o desenvolvimento de atividades em assuntos variados da
Matemática (Ensinos Fundamental e Médio). O LEMAT também oferece apoio aos
professores das redes municipal e estadual de ensino; Laboratório de Apoio às
Pesquisas Matemáticas - LAPEM, responsável por oferecer apoio ao
desenvolvimento de projetos de pesquisas de professores, pós-graduandos e
também a alunos de graduação que desenvolvem projetos de iniciação científica,
extensão e licenciatura.
a) Ensino:
O IME desenvolve atividades de ensino nos seguintes cursos: Licenciatura e
Bacharelado em Matemática; Mestrado em Matemática; Especialização em
200
Matemática, Educação Matemática e Matemática do Ensino Médio. Além disso, esse
Instituto é responsável pelo ensino de disciplinas de Matemática e Estatística em 11
cursos de graduação e 7 de Pós-Graduação da UFG.
O IME oferece também, desde o ano de 1997, a Escola de Verão, quando são
oferecidas, nos meses de janeiro e fevereiro, disciplinas em nível de mestrado,
especialização e de iniciação científica.
O LEMAT também se envolve em atividades de ensino, apoiando alunos e
professores no desenvolvimento do estágio supervisionado. Oferece material de
consulta, material instrucional que ajudarão a planejar as atividades do estágio e
ainda, quando necessário, “auxílio na elaboração das aulas e/ou do trabalho final de
curso” (IME/UFG, 2006, p. 38).
b) Pesquisa:
Neste item do projeto são expressos os convênios que o IME/UFG mantém
com diversas universidades brasileiras e internacionais e com as instituições que
financiam os projetos de pesquisas desenvolvidos. As linhas de pesquisas do
Instituto de Matemática e Estatística são:
1) Álgebra;
2) Equações Diferenciais Parciais;
3) Geometria Diferencial;
4) Matemática Aplicada;
5) Sistemas Dinâmicos;
6) Educação Matemática.
c) Extensão:
O IME desenvolve diversos projetos de extensão, a saber:
Encontro de Matemática e Estatística;
Jornada de Educação Matemática;
Curso de Recepção aos Calouros com diversas atividades para que os
ingressantes possam conhecer a universidade e um pouco mais sobre o
curso que farão;
201
Olimpíada de Matemática do Estado de Goiás, de cuja organização
participam efetivamente os alunos do Instituto;
O LEMAT também se envolve na extensão, desenvolvendo dois projetos
permanentes:
Projeto de Assessoria a professores de Matemática do Ensino Básico
e do Ensino Superior e aos alunos do curso de especialização em
Educação Matemática;
Projeto de Atualização, que visa “atualizar conteúdos e metodologias
do ensino de matemática para professores do Estado de Goiás e a
auxiliar esses professores nas suas atividades docentes” (IME/UFG,
2006, p. 39).
Além desses projetos permanentes, o LEMAT desenvolve ainda outras
atividades de extensão:
Publicação de duas séries de cadernos, “uma voltada para orientação
metodológica e outra para conteúdos de matemática do ensino
fundamental e médio”;
Oferece estágio voluntário para professores de Matemática do Ensino
Básico;
“O IME participa do Projeto de Instituto do Milênio Avanço Global e
Integrado da Matemática Brasileira e Contribuição à Região que deverá
dar uma nova dimensão a Matemática, que é uma área fundamental para
o nosso desenvolvimento científico e tecnológico” (IME/UFG, 2006, p. 39).
4.3.4 - Organização Curricular
De acordo com o colegiado que elaborou o projeto pedagógico do curso de
Matemática, fazem-se presentes nele os três eixos “do debate que concluiu com a
elaboração do RGCG: flexibilização curricular, participação do aluno e
interdisciplinaridade” (IME/UFG, 2006, p. 40).
O quadro de disciplinas é apresentado abaixo. Dele constam o nome da
disciplina, a unidade responsável pela sua oferta, os pré-requisitos, as cargas
horárias teórica e total, a natureza da disciplina e o núcleo a que ela pertence.
202
TABELA DE DISCIPLINAS DA LICENCIATURA EM MATEMÁTICA
Pré-requisito Carga horária
Disciplina
Unidade
Responsável
Disciplina
Unidade
Responsável
Teórica
Prática
Total
Núcleo Natureza
01
Álgebra I IME Não há - 64 64 Comum Obrigatória
03
Álgebra Linear I IME Não há - 48 16 64 Comum Obrigatória
06
Cálculo Diferencial e Integral I IME o há - 128 64 192 Comum Obrigatória
07
Cálculo Diferencial e Integral II IME o há - 80 16 96 Comum Obrigatória
09
Cálculo Numérico IME Não há - 32 32 64 Comum Obrigatória
10
Didática da Matemática I IME Não há - 32 32 64 Específico
Obrigatória
11
Didática da Matemática II IME Não há - 32 32 64 Específico
Obrigatória
12
Didática da Matemática III IME Não há - 32 32 64 Específico
Obrigatória
13
Equações Diferenciais Ordinárias I IME Não há - 64 64 Comum Obrigatória
16
Estágio Supervisionado I IME Não há - 0 0 200 Específico
Obrigatória
17
Estágio Supervisionado II IME 10 IME 0 0 200 Específico
Obrigatória
19
Funções de uma Variável Complexa IME o há - 64 64 Comum Obrigatória
20
Fundamentos de Análise IME Não há - 64 32 96 Específico
Obrigatória
21
Fundamentos de Geometria IME o há - 64 32 96 Comum Obrigatória
22
Geometria I IME Não há - 128 128 Comum Obrigatória
23
Geometria Analítica IME Não há - 64 64 Comum Obrigatória
26
Iniciação à Pesquisa em Educação IME Não há - 64 64 Específico
Obrigatória
28
Introdução à Teoria dos Números IME o - 64 64 Comum Obrigatória
29
Prática de Ensino Orientada IME o há - 16 48 64 Específico
Obrigatória
31
Probabilidade e Estatística IME Não há - 64 32 96 Específico
Obrigatória
44
Introdução à Computação II (INF) Não há - 64 64 Comum Obrigatória
45
Física Geral I IF Não há - 64 64 Comum Obrigatória
47
Laboratórios de Física I IF Não há - 32 32 Comum Obrigatória
49
Fundamentos Filosóficos e Sócio-
históricos da Educação
FE Não há - 64 64 Específico
Obrigatória
50
Políticas Educacionais no Brasil FE Não há - 64 64 Específico
Obrigatória
203
51
Psicologia da Educação I FE Não há - 64 64 Específico
Obrigatória
52
Psicologia da Educação II FE Não há - 64 64 Específico
Obrigatória
02
Álgebra II IME Não há - 64 64 Específico
Optativa
04
Álgebra Linear II IME Não há - 64 64 Específico
Optativa
05
Análise IME Não há - 192 192 Específico
Optativa
08
Cálculo Diferencial e Integral III IME Não há - 64 64 Específico
Optativa
14
Equações Diferenciais Ordinárias II IME o há - 64 64 Específico
Optativa
15
Equações Diferenciais Parciais IME o - 96 96 Específico
Optativa
18
Estatística IME Não há - 64 64 Específico
Optativa
24
Geometria Diferencial IME Não há - 96 96 Específico
Optativa
25
História da Educação Matemática IME o - 64 64 Específico
Optativa
27
Introdução à Criptografia IME Não há - 64 64 Específico
Optativa
30
Probabilidade IME Não há - 64 64 Específico
Optativa
32
Processos Estocásticos IME Não há - 64 64 Específico
Optativa
33
Programação Linear IME Não há - 64 64 Específico
Optativa
34
Projetos Educacionais IME Não há - 64 64 Específico
Optativa
35
Teoria de Grafos IME Não há - 64 64 Específico
Optativa
36
Topologia IME Não há - 96 96 Específico
Optativa
37
Tópicos em Educação Matemática I IME Não há - 64 64 Específico
Optativa
38
Tópicos em Educação Matemática II IME o - 64 64 Específico
Optativa
39
Tópicos em Estatística I IME Não há - 64 64 Específico
Optativa
40
Tópicos em Estatística II IME Não há - 64 64 Específico
Optativa
41
Tópicos em História da Matemática IME o há - 64 64 Específico
Optativa
42
Tópicos em Matemática I IME Não há - 64 64 Específico
Optativa
43
Tópicos em Matemática II IME o há - 64 64 Específico
Optativa
46
Física Geral II IF Não há - 64 64 Específico
Optativa
48
Laboratórios de Física II IF Não há - 32 32 Específico
Optativa
Tabela retirada do Projeto Político Pedagógico do Curso de Matemática.
204
Ao olharmos atentamente para a tabela de disciplinas, percebemos que
alguns pontos merecem destaque e serão por nós evidenciados:
Primeiramente, gostaríamos de apontar que a tabela está apresentada de
modo claro, com a distribuição da carga horária de maneira que possa
compreender como é dividido o trabalho teórico e o prático em cada
disciplina.
As cargas horárias teórica e prática da disciplina “Estágio Supervisionado
I” e “Estágio Supervisionado II” nos causaram estranheza, pois ambas
foram preenchidas com 0 (zero) hora. É possível inferir duas
possibilidades para terem procedido dessa maneira. Poderia ter ocorrido
um equívoco na digitação da carga horária e, também, poderia indicar a
flexibilização do trabalho a ser realizado nessas disciplinas. No entanto, da
maneira como está apresentada pode levar ao entendimento de que não
existe carga horária prática e nem teórica, o que certamente não é
verdade;
Na disciplina “Introdução a Computação”, é indicada a sigla “II” como a
Unidade Responsável pela disciplina. Fomos averiguar essa informação e
percebemos um equívoco. Na tabela de disciplinas apresentada no site do
IME, é indicado como a unidade responsável pela disciplina “Introdução a
Computação” o Instituto de Informática - INF;
A Tabela de disciplinas do curso de Licenciatura em Matemática também
traz duas colunas a serem preenchidas com a Unidade Responsável pela
oferta de disciplinas. A segunda coluna é a unidade responsável por
oferecer a disciplina exigida como pré-requisito. Novamente, avaliamos ser
desnecessária essa coluna pelos mesmos motivos já apresentados na
análise do Projeto Político-Pedagógico do curso de Pedagogia, ou seja,
repete-se uma informação já dada;
As disciplinas foram numeradas de 1 a 52 (um a cinqüenta e dois). No
entanto, elas não o apresentadas seguindo a numeração recebida.
205
Primeiramente, aparecem as disciplinas obrigatórias e, em seguida, as
optativas, de modo que a ordem dada pela numeração se mostra
aleatória.
A disciplina “Fundamentos Filosóficos e Sócio-históricos da Educação”,
trazida na tabela acima, é apresentada também como “Fundamentos
Filosóficos e Sócio-culturais da Educação” em outra parte do projeto. Ela
é nomeada assim em sua ementa e na tabela que traz as disciplinas com
dimensão pedagógica. Quando nos referirmos a essa disciplina, usaremos
o mesmo nome utilizado na tabela.
4.3.5 - Integralização Curricular
Para integralizar o currículo da Licenciatura em Matemática, o aluno deverá
no tempo mínimo de seis semestres e máximo de catorze semestres: cursar todas
as disciplinas de natureza obrigatórias que constam no núcleo comum e específico,
totalizando uma carga horária de 2288 horas; cursar um número de disciplinas
optativas, totalizando uma carga horária igual ou superior a 160 horas; cursar um
número de disciplinas do núcleo livre, totalizando uma carga horária igual ou
superior a 152 horas; e ainda cumprir 200 horas de atividades complementares.
A carga horária de cada semestre é desenvolvida durante 16 semanas, com
atividades de 2 horas, 4 horas ou 6 horas de trabalho semanal, dependendo da
carga horária da disciplina.
No tópico concernente à integralização curricular, encontramos uma
incoerência. A carga horária indicada para as disciplinas optativas e do núcleo livre,
ambas do núcleo específico, são 152 h e 260 h respectivamente. No entanto, no
tópico 8.4 do projeto, que trata da distribuição da carga horária, é indicado como
apresentamos aqui, ou seja, 160h para disciplinas optativas e 152h para disciplinas
do núcleo livre. Segue tabela abaixo retirada do tópico 8.4.
Apresentamos a tabela com a distribuição da carga horária para efeito de
integralização curricular. A tabela retirada do projeto sofreu pequenas alterações no
intuito de colocar em evidência a carga horária da Licenciatura em Matemática.
Vejamos:
206
Distribuição da carga horária
Núcleo
Natureza Carga Horária
%
Comum
Obrigatória
1120
43,1
(Estágio) 400
Obrigatória
(Outras) 768
Específico
Optativa
160
51,1
Livre
152
5,8
Total 2600
100
Atividades complementares 200
Carga horária total 2800
-
Tabela retirada, com pequenas modificações, do Projeto Político Pedagógico do Curso de
Matemática.
4.3.6 - Sugestão de Fluxo: Grade Curricular
Para efeito de integralização curricular, o projeto traz uma sugestão de fluxo
que passamos a analisar.
Citando o art. 5º do RGCG da UFG, temos que o currículo “deve ser a
expressão do projeto pedagógico de cada curso”. Desse modo, ao olharmos para
sugestão de fluxo constante do projeto pedagógico do curso de Matemática, visamos
compreender a formação do professor de Matemática e, de modo mais específico, a
formação do professor de Matemática dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Sob
essa perspectiva lançaremos luz sobre a grade curricular, constante do projeto
pedagógico do curso de Matemática, modalidade licenciatura, uma das perspectivas
que ajudarão a compreender essa formação.
Ao procedermos a análise de fluxo da organização curricular, lançamos mão
do ementário das disciplinas a fim de agrupar e evidenciar os blocos de formação
oferecidos pelo curso. Assim, fomos destacando e sombreando com cores
semelhantes aquelas que de algum modo se articulavam. Ao olharmos novamente
para a grade sombreada, vimos a possibilidade de alguns arranjos de modo que
deixamos mais próximas as disciplinas sombreadas da mesma cor, sem movê-las de
seu respectivo semestre. Buscamos com isso facilitar a visualização do que
pretendíamos, ou seja, ao procedermos assim, almejamos evidenciar, por meio da
grade curricular, o fio condutor da formação do licenciado em Matemática,
explicitada no Projeto Pedagógico de Curso e, em seguida, expor nossas
compreensões sobre essa formação.
A seguir, a grade curricular da maneira como fomos interpretando:
207
GRADE CURRICULAR
1º Ano 2º Ano 3º Ano 4º Ano
1º Semestre 2º Semestre 3º Semestre 4º Semestre 5º Semestre 6º Semestre 7º Semestre 8º Semestre
Cálculo Diferencial e
Integral I
NC - 192h
Cálculo
Diferencial e
Integral II
NC - 96h
Probabilidade e
Estatística
NE - 96h
Estágio Supervisionado I
NE - 200h
Estágio Supervisionado II
NE - 200h
Geometria I
NC - 128h
Fundamentos de
Geometria
NE - 96h
Didática da
Matemática I
NE - 64h
Didática da
Matemática II
NE - 64h
Didática da
Matemática III
NE - 64h
Cálculo
Numérico
NC - 64h
Fundamentos
de Análise
NE - 96h
Física Geral I
NC - 64h
Geometria
Analítica
NC - 64h
Álgebra Linear I
NC – 64h
Álgebra I
NC - 64h
Fund. Fil. e Sócio-
históricos da
Educação
NE - 64h
Laboratório de
Física I
NC - 32h
Equações
Diferenciais
Ordinárias I
NC - 64h
Funções de uma
Variável
Complexa
NC - 64h
__
Introdução à
Computação
NC - 64h
Introdução à
Teoria dos
Números
NC – 64h
Psicologia da
Educação I
NE - 64h
Psicologia da
Educação II
NE -64h
Iniciação à
Pesquisa em
Educação
NE - 64h
Políticas
Educacionais no
Brasil
NE - 64h
Prática de Ensino
Orientada
NE - 64h
__
__ __ __ __
Optativa(s) e/ou
Livre(s)
NE - ?
Optativa(s) e/ou
Livre(s)
NE - ?
Optativa(s) e/ou
Livre(s)
NE - ?
Optativa(s) e/ou
Livre(s)
NE - ?
CHS total: 288h
CHS total: 288h CHS total: 320h CHS total: 288h CHS total: 324h CHS total: 292h CHS total: 292h CHS total: 196h
NC - 288h
NE - zero
NL - zero
NC - 288h
NE - zero
NL - zero
NC - 160h
NE - 160h
NL - zero
NC - zero
NE - 288h
NL - zero
NC - 96h
NE - 228h + opt
NL - ?h
NC - 64h
NE - 228h +opt
NL - ?h
NC - 128h
NE - 164h + opt
NL - ?h
NC - zero
NE - 196h + opt
NL - ?h
NC = 576h
NE = zero
NL = zero
NC = 320h
NE = 288h
NL = zero
NC = 160h
NE = 456h
NL = ?h
NC = 128h
NE = 360h
NL = ?h
Carga horária anual total = 576h Carga horária anual total = 608h Carga horária anual total = 616h Carga horária anual total = 488h
208
Agrupamos dez blocos que buscam garantir a formação do Licenciado em
Matemática. Os blocos sombreados nas cores azul, verde e laranja oferecem,
respectivamente, formação nas principais áreas da Matemática: Análise, Geometria
e Álgebra. Desse modo, compreendemos que esses três blocos compõem um bloco
único que se dirige para a formação matemática para o professor de Matemática.
Os blocos destacados nas cores lilás, roxa e cinza são compostos por
disciplinas que se direcionam para questões da Educação e da Educação
Matemática. Vemos que os blocos nas cores lilás e roxa trazem uma formação
pedagógica específica para atuar com a disciplina de Matemática e o bloco cinza
busca garantir a base da formação do educador e, conseqüentemente, a do
educador matemático. Assim, também compreendemos que esses três blocos
formam um só bloco preocupado com a formação pedagógica do professor de
Matemática.
Os quatro blocos restantes, destacados nas cores amarela, rosa, bege e
vermelha, o tão importantes para a formação do licenciado quanto os seis blocos
evidenciados anteriormente e, desse modo, também irão sustentar essa formação.
Esses blocos são respectivamente os que oferecem abertura para a área de
preferência dos alunos, nas áreas de Física, de Estatística, de Probabilidade e, por
fim, sobre conhecimentos básicos na área de Computação.
Os dez blocos serão apresentados a seguir da maneira como formos
compreendendo seus papéis na formação do professor de Matemática.
O primeiro bloco que destacamos, sombreado na cor azul, traz uma formação
específica em conteúdos matemáticos da área de Análise. São oferecidas, para a
formação nessa grande área, disciplinas consideradas básicas, como a de Cálculo
Diferencial e Integral. Essa disciplina trabalha, em linhas gerais, com os conceitos
fundamentais de Limite, Derivada, Integral e suas aplicações. Conceitos esses que
funcionam como ferramentas indispensáveis para utilização e compreensão de
vários conceitos e técnicas em diferentes áreas da Matemática, sendo aprofundados
nos estudos da disciplina de Análise, ou como aqui ela é apresentada, Fundamentos
de Análise. É a disciplina de Análise que lidará com idéias introduzidas pelo estudo
do Cálculo Diferencial e Integral trazendo, assim, formulações rigorosas às suas
idéias intuitivas. Ou seja, o aprofundamento é tratado na disciplina nomeada
Fundamentos de Análise, que trabalha principalmente com conceitos da Análise
Real, de uma perspectiva histórica e filosófica. As disciplinas Cálculo Numérico e
209
Funções de uma Variável Complexa estão presentes nesse bloco, podendo ser
consideradas como uma expansão da Análise, pois abrangem o estudo dos números
complexos e o de um ramo da Análise que ficou conhecido como Análise Numérica,
responsável pelo estudo de algoritmos e técnicas de Cálculo Numérico aplicados
aos problemas de matemática contínua. O Cálculo Numérico trabalha, entre outros
assuntos, com a solução numérica de equações diferenciais, cálculo de raízes de
equações, interpolação e integração numérica, resolução de sistemas de equações
lineares etc, estando articulado aos estudos de Cálculo Diferencial e Integral, Análise
e de Equações Diferenciais, que fazem parte desse mesmo bloco de formação.
Desse modo, vemos um fio condutor nas disciplinas pertencentes a esse bloco de
formação, conduzindo para o estudo e aprofundamento na área de Análise
Matemática.
O segundo bloco, destacado na cor verde, é formado por um grupo de
disciplinas que discutem Geometria. É formado pelas disciplinas: Geometria I,
Fundamentos de Geometria e Geometria Analítica. Apesar de todas terem como
cerne a Geometria, cada uma delas aborda um aspecto distinto. Geometria I vai
além da Geometria plana e seus axiomas, pois apresenta também em sua ementa o
estudo de Geometria espacial. Fundamentos de Geometria retoma a Geometria
axiomática de Euclides tratada na disciplina anterior, mas abrindo-se ao debate de
questões filosóficas da Matemática. Sua ementa expressa como objetivo testar
modelos de Geometria que satisfazem um conjunto de axiomas, mas não satisfazem
o quinto postulado de Euclides. Sugere uma discussão filosófica sobre o assunto e
não apenas a apresentação do conteúdo matemático. Também, é incluída na
ementa uma discussão sobre o Teorema de Gödel, que traz para a Matemática um
resultado sobre a sua consistência e incompletude. E por fim, a disciplina Geometria
Analítica aborda questões geométricas de um ponto de vista algébrico,
estabelecendo as relações existentes entre a Álgebra e a Geometria.
Muitos dos temas tratados nesse bloco também estão presentes no currículo
dos Ensinos Fundamental e Médio. Contudo, na licenciatura eles são abordados em
nível de ensino superior, possibilitando, assim, a fundamentação de conceitos
geométricos que serão posteriormente trabalhados, em sala de aula, na Educação
Básica.
O terceiro bloco, sombreado na cor laranja, é formado pelas disciplinas que
trabalham com Álgebra. Semelhante ao bloco anterior, cada uma das disciplinas,
210
dispostas nesse bloco, trabalha com a grande área “Álgebra” de uma perspectiva. A
Álgebra Linear tem como cerne o estudo dos Espaços Vetoriais e as transformações
entre eles. Desse modo, a disciplina Álgebra Linear abordará, além de Espaços
Vetoriais, temas, como Matrizes, Vetores e Sistemas de Equações Lineares, entre
outros assuntos correlatos. A disciplina Introdução à Teoria dos Números tem como
núcleo de seus estudos a estrutura do conjunto dos Números Inteiros, ou seja, ela
aprofunda nas propriedades dos Números Inteiros. A disciplina Álgebra I tem como
centro de seus estudos os temas trabalhados na Álgebra Moderna ou Abstrata, isto
é, nessa disciplina é enfatizado o estudo das Estruturas Algébricas, tais como
Grupos, Anéis e Corpos.
Esse bloco de disciplinas também pode proporcionar a fundamentação de
alguns conceitos algébricos que serão posteriormente trabalhados em sala de aula,
na Educação Básica.
O quarto bloco, na cor lilás, é formado pelas disciplinas de Didática da
Matemática e Prática Orientada. Compreendemos essas disciplinas como aquelas
que estão, de modo mais específico, direcionadas para a formação do educador
matemático. São disciplinas de cunho pedagógico, isto é, discutem questões de
Educação, mas com foco voltado para a Matemática e a atuação do professor com
essa disciplina. As disciplinas de Didática da Matemática I, II e III trabalham
especificamente com aspectos didáticos e metodológicos da Matemática escolar.
a disciplina Prática Orientada visa proporcionar ao aluno uma vivência prática por
meio de situações de microensino simuladas em suas salas de aula. Desse modo,
vemos um fio condutor das disciplinas desse bloco, pois as vivências oferecem a
oportunidade de colocar em prática aquilo que foi aprendido nas aulas de Didática,
antes do Estágio Supervisionado.
O quinto bloco, sombreado na cor roxa, é composto pelas disciplinas de
Estágio Supervisionado I e II. Apesar de caracterizarmos essas duas disciplinas
como formando um bloco, compreendemos a proximidade delas com as disciplinas
do quarto bloco. Esse foi o motivo de termos destacado esse bloco com uma cor que
se aproxima do lilás, pois ele também se volta para a formação pedagógica
específica do professor de Matemática, uma vez que os alunos devem vivenciar, em
ambos os estágios, o trabalho docente, visando a sua formação profissional.
O sexto bloco, na cor cinza, é formado pelas disciplinas que discutem
questões presentes na região de inquérito da Educação, ou seja, em um contexto
211
mais amplo daquele da Educação Matemática. Traz disciplinas, como: Psicologia da
Educação, que discute em geral as relações existentes entre a Psicologia e a
Educação; Fundamentos Filosóficos e Sócio-Históricos da Educação, que, como o
próprio nome deixa evidente, abordará os aspectos filosóficos, sociais e históricos
da Educação; Políticas Educacionais do Brasil, que se aprofundará no estudo da
legislação educacional brasileira; e por fim, Introdução à Pesquisa em Educação,
que abordará aspectos de como realizar pesquisas em Educação, especificamente
em Educação Matemática.
O sétimo bloco, na cor vermelha, trabalha com conceitos básicos de Ciências
da Computação. Esse bloco é composto apenas pela disciplina Introdução a
Ciências da Computação, que tem como objetivo maior estudar a construção de
algoritmos estruturados de programação computacional. Utilizam para esse trabalho
a linguagem Pascal.
O oitavo bloco, sombreado na cor bege, é composto pela disciplina
Probabilidade e Estatística, que abordará conceitos básicos dessas áreas. Em
Estatística tratará, basicamente, com alguns tópicos de análise exploratória de
dados e de inferência estatística. Em Probabilidade estudará, necessariamente, os
fundamentos de Probabilidade e o Teorema Central do Limite. Apesar de essa
disciplina estar sozinha compondo um bloco, nós a consideramos, mesmo que ela
não pertença às três grandes áreas da Matemática destacadas no projeto, como
uma disciplina que se insere nos blocos que trabalham com a formação matemática
do professor de Matemática. Além de trabalhar Probabilidade e Estatística como
uma possível área de aprofundamento por parte dos alunos, essa disciplina trata de
conceitos que também serão estudados no Ensino Médio, proporcionando, assim,
uma maior fundamentação aos futuros professores de Matemática.
O nono bloco, destacado na cor rosa, é formado pelas disciplinas Física Geral
I e Laboratório de Física I. Esse bloco abordará o estudo de Mecânica e
desenvolverá atividades práticas, no laboratório, sobre esse assunto.
Sombreamos na cor amarela o décimo bloco composto por disciplinas
optativas do núcleo específico e as disciplinas do núcleo livre. Compreendemos que
esse bloco traz a flexibilidade para o currículo do curso, pois o aluno poderá escolher
as disciplinas que trarão aprofundamento em sua área de interesse. Em nenhuma
parte do projeto aparecem as disciplinas que o IME ofertará como pertencentes ao
Núcleo Livre, sendo apresentadas apenas as disciplinas optativas do Núcleo
212
Específico. Essas disciplinas, mostradas na “Tabela de Disciplinas da Licenciatura
em Matemática”. recortadas do Projeto Pedagógico, serão trazidas novamente aqui.
Elas oferecem aprofundamento em Matemática e em Educação Matemática.
Vejamos, na tabela abaixo:
Disciplinas Optativas da Licenciatura em Matemática
Disciplinas optativas da área de Matemática
Álgebra II
Álgebra Linear II
Análise
Cálculo Diferencial e Integral III
Equações Diferenciais
Ordinárias II
Equações Diferenciais Parciais
Teoria de Grafos
Topologia
Geometria Diferencial
Introdução à Criptografia
Probabilidade
Processos Estocásticos
Estatística
Tópicos em Estatística I
Tópicos em Estatística II
Tópicos em Matemática I
Tópicos em Matemática II
Programação Linear*
Física Geral II*
Laboratórios de Física II*
Disciplinas optativas da área de Educação
Matemática
Projetos Educacionais
História da Educação Matemática
Tópicos em Educação Matemática I
Tópicos em Educação Matemática II
Tópicos em História da Matemática
Disciplinas retiradas do Projeto Pedagógico do Curso de Matemática
* Disciplinas que aprofundam, respectivamente, em Computação e em Física.
Vemos que um leque maior de disciplinas optativas que oferecem um
aprofundamento na Matemática. No entanto, na área de Educação Matemática, são
oferecidas apenas cinco disciplinas optativas.
Olhando para a Grade curricular, observamos também que:
Quatro disciplinas da grade são ainda ofertadas no regime seriado anual:
Cálculo Diferencial e Integral I, Geometria I, Estágio Supervisionado I e
Estágio Supervisionado II.
O grupo de disciplinas pertencentes ao núcleo livre ofertadas pelo IME não
é apresentado no projeto. Inferimos que as mesmas disciplinas indicadas
como optativas, do núcleo específico, também podem ser as ofertadas
como pertencentes ao núcleo livre. Lembramos que os alunos têm direito
213
de cursar qualquer disciplina do núcleo livre no âmbito de toda a
universidade, ou seja, em qualquer faculdade ou instituto.
São trazidos na Grade curricular quatro momentos em que poderão ser
cursadas as disciplinas optativas, ou as livres, ou ambas ao mesmo
tempo. Não foi possível especificar a quantidade de horas para cada uma
das disciplinas livres e optativas, pois a única informação constante no
projeto é a carga horária total a ser cumprida em ambos os grupos de
disciplinas para a integralização curricular.
O IME exige que cada aluno da licenciatura cumpra no núcleo livre uma
carga horária de 152 horas, ou seja, 5,8 % da carga horária total do curso.
Constatamos que o IME exige uma carga horária mínima a ser cumprida
nesse núcleo. Afirmamos isso, pois de acordo com o RGCG, a carga
horária total destinada ao núcleo livre deverá ocupar no mínimo 5% da
carga horária de disciplinas necessárias para integralização curricular.
Ainda focando a carga horária destinada às disciplinas livres e também às
optativas, vamos fazer algumas inferências:
Como podemos constatar no projeto de curso, a carga horária das
disciplinas optativas, em geral, é de 64 horas. Assim, cada aluno
deverá cursar no mínimo três disciplinas optativas para completar a
carga horária mínima exigida para esse grupo de disciplinas, isto é,
160 horas;
Se a carga horária do núcleo livre puder ser cumprida com as
disciplinas optativas, além das disciplinas ofertadas por toda a
Universidade, podemos inferir, também, que os alunos deverão
cursar no mínimo três disciplinas, cumprindo, assim, as 152 horas
exigidas para esse núcleo.
Quanto à distribuição nos núcleos de formação, observamos que:
O núcleo comum, que se volta para a formação específica em
Matemática, se faz mais presente nos três primeiros semestres do
curso, e o núcleo específico, composto pelas disciplinas que
discutem Educação e Educação Matemática, está presente mais
fortemente do 4º ao 6º semestres do curso.
Ao olharmos para cada ano do curso separadamente e
considerarmos todas as disciplinas semestrais, mesmo as que são
214
anuais, quantitativamente poderemos fazer as seguintes
constatões quanto às disciplinas que discutem conteúdos
matemáticos e pedagógicos:
No primeiro ano de curso, quase 100% das disciplinas ofertadas
são de conteúdos matemáticos, salvo a disciplina de Introdução à
Computação;
No segundo ano do curso, 50% das disciplinas são de conteúdos
matemáticos e 50% de conteúdos pedagógicos;
no terceiro ano, 22,22% são de conteúdos matemáticos e
66,66% das disciplinas ofertadas são de conteúdos pedagógicos.
As outras disciplinas são direcionadas para o estudo de Física,
ou seja, 11.11%;
E por fim, no quarto ano, temos a mesma proporção do segundo
ano, ou seja, 50% para conteúdos matemáticos e 50% para os
pedagógicos.
Aqui, consideramos as disciplinas de Fundamentos de Geometria e
Fundamentos de Análise como pertencentes aos blocos de formação matemática,
mesmo sabendo que ambas pertencem ao núcleo específico de formação da
licenciatura e são postas no projeto como disciplinas com dimensão pedagógica.
Fazendo uma análise quantitativa da carga horária total destinada a cada
bloco de formação destacado por nós o grande bloco de formação
matemática, composto pelos blocos azul, verde, laranja e também o bege,
o grande bloco de formação em áreas da Educação e Educação
Matemática, composto pelos blocos cinza, lilás e roxo, e o grande bloco de
formação em outras áreas correlatas à Matemática, composto pelos
blocos vermelho e rosa
99
, temos que:
As disciplinas obrigatórias, pertencentes aos grandes blocos
destacados acima, totalizam 2.288 horas. Dessa carga horária, 556
horas ou 24,30% são destinadas às disciplinas que discutem a área
de Educação Matemática e Educação
100
, 1572 horas ou 68,70%
99
Retiramos o bloco bege, composto pela disciplina de Probabilidade e Estatística, pois como
mencionado nesta análise, ele compõe, juntamente com os outros blocos, a formação matemática do
professor de Matemática.
100
As disciplinas Fundamentos de Geometria e Fundamentos de Análise são trazidas no projeto como
disciplinas com dimensão pedagógica. No entanto, em nossa análise da grade curricular,
215
estão destinadas à formação matemática, ou seja, são disciplinas
que se voltam aos conteúdos matemáticos específicos, e o restante
da carga horária, 160 horas ou 6,99%,está destinado à formação em
outras áreas correlatas à Matemática, Física e Ciências da
Computação.
Na tabela nomeada Grade Curricular, as quatro últimas linhas foram por
nós criadas para dar ênfase à carga horária dos núcleos formadores.
Constatamos que:
A carga horária do núcleo específico, olhada anualmente, oscila no
decorrer do curso tendendo a aumentar;
A carga horária do núcleo comum, olhada anualmente, diminui no
decorrer do curso;
As disciplinas do núcleo livre e as optativas aparecem a partir da
metade do curso.
Uma outra questão apresentada nas considerações finais do Projeto do curso
de Matemática cabe ser comentada neste momento da análise: Articulação entre
bacharelado e licenciatura. Consideram que o Projeto, como havíamos
comentado, está de acordo com o RGCG, pois ao não exigir que o aluno faça sua
opção pela modalidade Licenciatura ou Bacharelado, acreditam estar “permitindo ao
futuro Licenciado uma formação matemática tão próxima à do Bacharel como ele
quiser, e vice-versa, o Bacharel poderá ter uma formação na área da Educação
Matemática, tão próxima à do Licenciado como ele quiser” (IME/UFG, 2006, p.40)
4.3.7 - Apresentação das Ementas das Disciplinas
No tópico “elenco de disciplinas”, são apresentadas a ementa de cada
disciplina, as orientações metodológicas para o desenvolvimento do trabalho, a
carga horária (semanal, teórica, prática, e total) e as indicações bibliográficas. Em
nossa análise tomaremos apenas as disciplinas obrigatórias para a licenciatura,
trazidas na grade curricular. Em geral, somente nas disciplinas de cunho pedagógico
compreendemos que ambas estão nos blocos verde e azul respectivamente, ou seja, fazem parte das
disciplinas que trabalham com a formação matemática do professor de Matemática, mesmo que elas
tenham dimensão pedagógica.
216
é que são dadas as orientações metodológicas mencionadas, conforme
apresentadas nas ementas.
1º Semestre COMENTÁRIOS SOBRE AS EMENTAS
Cálculo Diferencial
e Integral I
NC - 96h
(64 teo.; 32 pra.)
6h semanais
Essa disciplina visa estudar, de um modo geral, os
temas: Limite, Derivada, Integral das funções reais de
uma variável e Aplicações.
Geometria I
NC - 64h
(64 teo.; 0 pra.)
4h semanais
Essa disciplina aborda os seguintes assuntos:
Geometria Plana e Geometria espacial.
Geometria
Analítica
NC - 64h
(64 teo.; 0 pra.)
4h semanais
Essa disciplina objetiva estudar: vetores no plano e no
espaço; produto escalar e vetorial; retas; transformações
geométricas; cônicas; quádricas e coordenadas polares.
Introdução à
Computação
NC - 64h
(64h teo.; 0 pra.)
4h semanais
Essa disciplina visa ao estudo de linguagem de
programação e ao desenvolvimento de algoritmos e
programas. Estuda também a solução de problemas
numéricos e não-
numéricos usando computadores. A
bibliografia sugerida para o desenvolvimento das
atividades está basicamente direcionada para a utilização
da linguagem Pascal.
2º Semestre COMENTÁRIOS SOBRE AS EMENTAS
Cálculo Diferencial
e Integral I
NC - 96h
(64 teo.; 32 pra.)
6h semanais
Idem ao s
emestre anterior, pois essa disciplina é
ofertada em regime seriado anual. Portanto, o que foi
apresentado por nós, no primeiro semestre, corresponde
à ementa que será estudada durante todo o ano letivo.
Geometria I
NC - 64h
(64 teo.; 0 pra.)
4h semanais
Idem ao semestre anterior, pois essa disciplina é
ofertada em regime seriado anual. Portanto, o que foi
apresentado por nós, no primeiro semestre, corresponde
à ementa que será estudada durante todo o ano letivo.
Álgebra Linear I
NC - 64h
(48h teo.; 16h pra.)
4h semanais
Essa disciplina aborda, em linhas gerais, os seguintes
assuntos: Espaços Vetoriais, Matrizes e Sistemas de
Equações Lineares.
217
Introdução à
Teoria dos
Números
NC - 64h
(64h teo.; 0h pra.)
4h semanais
Essa disciplina objetiva estudar as pr
opriedades dos
números inteiros positivos. Para isso, em linhas gerais
são trabalhados os seguintes temas : divisibilidade;
congruência; princípio da casa dos pombos; funções
aritméticas e resíduos quadráticos.
3º Semestre COMENTÁRIOS SOBRE AS EMENTAS
Cálculo Diferencial
e Integral II
NC - 96h
(80h teo.; 16h pra.)
6h semanais
Essa disciplina aborda os conceitos fundamentais de
Limite, Derivada e Integral em funções de várias
variáveis.
Fundamentos de
Geometria
NE - 96h
(64h teo.; 32h pra.)
6h semanais
Analisando a ementa dessa disciplina compreendemos
que se busca lançar luz aos fundamentos da Matemática,
focando a Geometria axiomática de Euclides (modelos
que satisfazem um conjunto de axiomas; o quinto
Axioma de Euclides), a origem das Geometrias não
euclidianas (modelos destas geometrias) e o Teorema de
Gödel (Prova que na Matemática é impossível provar
tudo, ou seja, ele demonstra a incompletude da
Matemática).
Álgebra I
NC - 64h
(64h teo.; 0h pra.)
4h semanais
Essa disciplina, de um modo geral, aborda o estudo de
Estruturas Algébricas com ênfase em Grupos e Anéis.
Psicologia da
Educação I
NE - 64h
(64h teo.; 0h pra.)
4h semanais
Foca o estudo dos fundamentos históricos e
epistemológicos da Psicologia e a sua relação com a
Educação. Discute a aborda
gem comportamental e
psicanalítica e suas contribuições para a compreensão
do desenvolvimento do indivíduo nos aspectos
cognitivo, afetivo, social e psicomotor e as implicações
dessas abordagens teóricas para os processos de
ensino e aprendizagem.
218
4º Semestre COMENTÁRIOS SOBRE AS EMENTAS
Probabilidade e
Estatística
NE - 96h
(64h teo.; 32h pra.)
6h semanais
Visa ao estudo de estatística descritiva; espaço de
probabilidades; probabilidade condicional;
independência; variáveis aleatórias discretas; v
ariáveis
aleatórias contínuas; Teorema Central do Limite;
intervalos de confiança e testes de hipóteses.
Em sua bibliografia o sugeridos livros que tratam
sobre Estatística Básica e sobre Análise Combinatória e
Probabilidade.
Nessa disciplina é abordada
grande parte dos assuntos
trabalhados na disciplina “Probabilidade”, que é optativa
para a modalidade licenciatura e obrigatória para a
modalidade bacharelado.
Didática da
Matemática I
NE - 64h
(32h teo.; 32h pra.)
4h semanais
Essa disciplina aborda aspec
tos filosóficos,
socioculturais e didáticos do processo de ensino e de
aprendizagem da Matemática. Trata ainda sobre as
Tendências da área de Educação Matemática, sobre os
processos de avaliação e de construção do
conhecimento matemático escolar. Tem por m
eta,
também, desenvolver atividades práticas a partir de
situações vividas ou observadas pelos alunos em
alguma escola.
As orientações metodológicas para o desenvolvimento
do trabalho são: primeiramente as aulas devem
promover articulação entre as tendênc
ias da Educação
Matemática e os aspectos filosóficos e socioculturais da
Educação, relacionando-
as com o desenvolvimento
humano. Orienta-
se ainda que as aulas aconteçam por
meio de seminários, aulas expositivas e, também,
trabalhos em grupo.
Nas orientõ
es metodológicas, é indicada uma análise
das propostas curriculares nacionais e internacionais,
mas essa ‘orientação’, em nosso entender, deveria estar
presente na ementa como algo a ser abordado e tratado
durante a disciplina e não como uma orientação
metodológica do trabalho a ser realizado.
Fundamentos
Filosóficos
e Sócio-históricos
da Educação
NE - 64h
(64h teo.; 0h pra.)
4h semanais
Essa disciplina aborda a Educação como processo
social; a sociedade, cultura e educação no Brasil e a sua
experiência na
história do Ocidente. A educação pública:
ideologias e princípios, movimentos educacionais, luta
pela educação pública e a relação com a esfera privada.
Psicologia da
Educação II
NE - 64h
(64h teo.; 0h pra.)
4h semanais
Essa disciplina foca duas abordage
ns teóricas: a
psicologia de Piaget e a psicologia sócio-
histórica de
Vygotsky. E ainda aprofunda-
se no estudo das
contribuições dessas abordagens para a compreensão
do desenvolvimento humano e, também, das implicações
219
dessas teorias para os processos de e
nsino e
aprendizagem.
5º Semestre COMENTÁRIOS SOBRE AS EMENTAS
Estágio
Supervisionado I
NE - 100 h
(0h teo.; 0h pra.)
xh semanal
Nessa disciplina, de regime anual, o aluno deverá
elaborar um projeto de prestação de serviço docente a
alguma instituiçã
o formal ou não formal, escolhida por
ele. Receberá supervisão de um professor do IME, que
será responsável em acompanhar e avaliar a execução
do projeto e será acompanhado por profissional da
instituição acolhedora.
Didática da
Matemática II
NE - 64h
(32h teo.; 32h pra.)
4h semanais
Essa disciplina trabalha com diversos aspectos da
Resolução de Problema: heurística, princípios, métodos,
o ensino e a aprendizagem da Matemática.
Trabalha ainda com a aprendizagem de conceitos e
procedimentos matemáticos e seus aspectos cognitivos.
Aborda o ensino da Matemática por meio da redação e
sua diferença com a prosa comum. Estuda a aplicação
da Matemática no cotidiano e às outras ciências. Foca a
avaliação e o papel do erro nos processos de ensino e
aprendizagem; a e
laboração de seqüências didáticas de
procedimentos matemáticos; a construção de mapas
conceituais. Trabalha, também, com a confecção de
materiais instrucionais.
Nas orientações metodológicas, indica-
se a articulação
dos conteúdos com a respectiva didática
e seus
fundamentos e também a sua contextualização, na busca
de tornar os conteúdos mais significativos de modo a
ajudar na formação do cidadão. Indica-
se, também, o
estabelecimento de conexão entre os conteúdos
matemáticos, as outras disciplinas e também
os temas
transversais. A elaboração de materiais instrucionais
será realizada no LEMAT.
Nas orientações metodológicas, é proposta também a
análise dos Parâmetros Curriculares Nacionais -
PCNs.
Novamente, em nossa compreensão, essa “orientação”
faz parte d
a ementa da disciplina e não das orientações
metodológicas para o desenvolvimento das atividades.
Física Geral I
NC - 64h
(64h teo.; 0h pra.)
4h semanais
Essa disciplina visa estudar sobre os seguintes
conteúdos: grandezas físicas e unidades; cinemática e
dinâmica da partícula; trabalho e energia; conversão de
energia; quantidade de movimento linear e quantidade
de movimento angular.
220
Laboratório de
Física I
NC - 32h
(0h teo.; 32h pra.)
2h semanais
Essa disciplina leva os alunos ao Laboratório para
trabalh
ar com os assuntos abordados na disciplina
Física Geral I, ou seja: grandezas físicas e unidades;
cinemática e dinâmica da partícula; trabalho e energia;
conversão de energia; quantidade de movimento linear;
quantidade de movimento angular.
Iniciação à
Pesquisa em
Educação
NE - 64h
(64h teo.; 0h pra.)
4h semanais
Essa disciplina trabalha com a elaboração e
interpretação de textos acadêmicos e com a
fundamentação teórica para a elaboração de pesquisas
qualitativas e quantitativas em Educação Matemática.
Não foram apresentadas indicações bibliográficas.
Nas orientações metodológicas, é indicada a leitura e
interpretação de pesquisas, artigos científicos e
relatórios de pesquisas em Educação Matemática. Visa
ainda focar nesse trabalho o estudo de pesquisas
re
lacionadas com a realidade do Ensino Fundamental e
do Ensino Médio e trabalhar com a elaboração de textos
científicos relacionados com as outras disciplinas
pedagógicas do curso.
Optativa(s) e / ou
Livre(s)
NE - ?h
As disciplinas do núcleo livre são de li
vre escolha do
aluno dentro do grupo de disciplinas oferecidas pela
UFG.
As disciplinas optativas serão de livre escolha do aluno
dentro do grupo de disciplinas de caráter optativo
oferecidas pelo IME.
6º Semestre COMENTÁRIOS SOBRE AS EMENTAS
Estágio
Supervisionado I
NE - 100 h
(0h teo.; 0h pra.)
xh semanal
Idem ao semestre anterior, pois essa disciplina é
ofertada em regime seriado anual. Portanto, o que foi
apresentado por nós, no primeiro semestre, corresponde
à ementa que será trabalhada durante todo o ano letivo.
Didática da
Matemática III
NE - 64h
(32h teo.; 32h pra.)
4h semanais
Essa disciplina está mas voltada ao Ensino Fundamental
em sua fase final e ao Ensino Médio, focando o trabalho
com os conteúdos presentes nessas fases da Educação
Básic
a de uma forma contextualizada. Visa trabalhar com
as Tecnologias da Informação e Comunicação, tais
como: software, calculadoras, recursos audiovisuais.
Aborda também estratégias de ensino, como: estudo em
grupo, aprendizagem cooperativa, o jornal na sala
de
aula, estudo dirigido, jogos, etnomatemática e
modelagem, redação na Matemática. Trabalha ainda com
a confecção de materiais didáticos.
Nas orientações metodológicas, indica-
se o estudo dos
221
processos de ensino e de aprendizagem dos conteúdos
matemático
s da segunda fase do Ensino Fundamental e
do Ensino Médio relacionado-
os com seus aspectos
cognitivos e socioculturais. Orienta-
se ainda que os
alunos trabalhem em propostas de ensino e estudem
recursos auxiliares elaborando também atividades com
os conteúdos dos Ensinos Fundamental e Médio.
Equações
Diferenciais
Ordinárias I
NC - 64h
(64h teo.; 0h pra.)
4h semanais
Essa disciplina tem como objetivo central estudar as
Equações Diferenciais Lineares Ordinárias de e
ordens, os métodos de resoluções e a
lguns exemplos ou
aplicações.
Políticas
Educacionais no
Brasil
NE - 64h
(64h teo.; 0h pra.)
4h semanais
O objetivo dessa disciplina é estudar a relação do Estado
com as políticas educacionais, trabalhando também os
seus desdobramentos no Brasil no perío
do pós 1964.
Foca as políticas de regulação e gestão da educação
brasileira e a redemocratização da sociedade brasileira.
Objetiva estudar os movimentos da educação nacional, a
legislação educacional atual e, focando o Estado de
Goiás, estudar a regulament
ação do sistema educativo e
as perspectivas para a escola pública.
Optativa(s) e / ou
Livre(s)
NE - ?h
As disciplinas do núcleo livre são de livre escolha do
aluno dentro do grupo de disciplinas oferecidas pela
UFG.
As disciplinas optativas serão de livre
escolha do aluno
dentro do grupo de disciplinas de caráter optativo
oferecidas pelo IME.
7º Semestre COMENTÁRIOS SOBRE AS EMENTAS
Estágio
Supervisionado II
NE - 100h
(0h teo.; 0h pra.)
xh semanal
Como já foi relatado no item em que descrevemos e
analisamos o estágio supervisionado II, essa é uma
disciplina desenvolvida no regime anual, trabalhada em
quatro fases. A primeira fase, o primeiro bimestre, é
caracterizada como uma fase de observação da escola
como um todo e das aulas de Matemática. A segund
a
fase, o segundo bimestre, é caracterizada como uma
fase de co-participação do aluno nas atividades
desenvolvidas pelo professor supervisor em sala de
aula, no modelo da monitoria. É também nessa fase que
o estagiário deve construir o seu projeto de ação
pedagógica que será desenvolvido no próximo bimestre.
Cálculo Numérico
NC - 64h
(32h teo.; 32h pra.)
4h semanais
São apresentados nessa disciplina os seguintes
assuntos: cálculo de raízes de equações; decomposição
LU e de Cholesky de matrizes; resolução d
e sistemas de
equações lineares; interpolação e integração numérica e
222
solução numérica de equações diferenciais;
Funções de uma
Variável Complexa
NC - 64h
(64h teo.; 0h pra.)
4h semanais
Essa disciplina foca: números complexos; funções
analíticas; transfo
rmações por funções elementares;
teoria da integral; série de potências; resíduos e pólos;
aplicações;
Prática de Ensino
Orientada
NE - 64h
(16h teo.; 48h pra.)
4h semanais
Essa disciplina visa funcionar como um laboratório de
experiências pedagógicas. Nessa experiência pretende-
se, de modo orientado, construir experiências que
auxiliem a atividade docente. Para tanto acontecerão
práticas do microensino e de vídeo-formação
objetivando, por parte dos alunos, uma reflexão da
prática.
Orienta-se a realização de microensinos na sala de aula
de modo flexível e aberto permitindo ao aluno um
contato prévio com situações de sala de aula, anterior ao
estágio supervisionado, de maneira que ele vá
adquirindo experiência e um mínimo de saber-
fazer. Esse
microensino será desenvolvido pelos alunos por meio de
seqüência pedagógica em sua sala de aula. Eles serão
observados e analisados pela classe no intuito de
contribuir com a construção de competências
profissionais. Para o desenvolvimento dessa
experiência, é recomenda
do o uso do vídeo para
posterior análise da prática docente.
Optativa(s) e / ou
Livre(s)
NE - ?h
As disciplinas do Núcleo Livre são de livre escolha do
aluno dentro do grupo de disciplinas oferecidas pela
UFG.
As disciplinas optativas serão de livre escol
ha do aluno
dentro do grupo de disciplinas de caráter optativo
oferecidas pelo IME.
8º Semestre COMENTÁRIOS SOBRE AS EMENTAS
Estágio
Supervisionado II
NE - 100 h
(0h teo.; 0h pra.)
xh semanal
Como já dito, a disciplina é no regime seriado anual,
porta
nto, nesse semestre serão desenvolvidas mais
duas fases: na terceira, terceiro bimestre letivo, o aluno
assumirá a sala de aula e apoiado pelo professor
supervisor, desenvolve o seu projeto de ensino
elaborado no semestre anterior; na quarta fase, quarto
bimestre letivo, o aluno se dedicará à redação final de
seu Trabalho Final de Curso que deve conter sua
experiência de estágio.
223
Fundamentos de
Análise
NE - 96h
(64h teo.; 32h pra.)
6h semanais
Essa disciplina trabalha alguns conteúdos que também
são abor
dados na disciplina Análise” obrigatória para o
bacharelado.
No entanto existem orientações metodológicas
para que
esses conteúdos, que fazem parte do estudo de Análise
Real
números reais; conjuntos enumeráveis;
seqüências e séries numéricas; noções topológicas da
reta; funções reais, limite e continuidade; derivada e
suas aplicações ,sejam trabalhados em
uma
perspectiva distinta da maneira como são abordados no
bacharelado.
Por exemplo, no estudo dos números reais, devem-
se
enfatizar os aspectos geométricos, filosóficos e
históricos, além de abordar o processo de
desenvolvimento do pensamento matemático;
no estudo
da derivada, deve-
se tratar as diferentes formalizações e
aplicações.
Optativa(s) e / ou
Livre(s)
NE - ?h
As disciplinas do núcleo livre são de livre escolha do
aluno dentro do grupo de disciplinas oferecidas pela
UFG.
As disciplinas optativas
serão de livre escolha do aluno
dentro do grupo de disciplinas de caráter optativo
oferecidas pelo IME.
Algumas Considerações:
Na apresentação e análise das ementas não obtivemos informação sobre a
realização das atividades práticas mencionadas que darão sustentação à “prática
como componente curricular”. Não vimos essa questão ser tratada no projeto aqui
estudado.
Não colocamos a carga horária em nenhuma célula amarela da tabela acima,
que foi destinada às disciplinas optativas e livres, pois a única informação que temos
é sobre a carga horária total de ambas. Ou seja, o temos a informação da carga
horária que deve ter cada disciplina ofertada e nem quantas disciplinas seriam
necessárias para cumprir a carga horária total. De modo que os alunos devem
cumprir, do quinto ao oitavo semestre do curso, uma carga horária nima de 160h
de disciplinas optativas e 152h de disciplinas livres para efeito de integralização
curricular.
Não é explicado na ementa das disciplinas “Estágio Supervisionado I e
“Estágio Supervisionado II” e nem mesmo no restante do projeto o motivo pelo qual
224
não fica declarada a quantidade de atividade semanal a ser dedicada a essas
disciplinas durante todo o ano letivo e nem mesmo por que a carga horária teórica e
a prática estão estabelecidas como 0(zero) hora em ambas as disciplinas.
4.3.8 - Expondo Entendimento sobre a Formação de Professores de
Matemática dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental no Curso de
Licenciatura em Matemática
O curso de Licenciatura em Matemática da Universidade Federal de Goiás,
mantido pelo Instituto de Matemática e Estatística, tem como objetivo, exposto no
projeto de curso, formar o “matemático-educador”, ou seja, formar o professor de
Matemática ou o educador matemático. Entretanto, não é especificado, no instante
em que é exposto esse objetivo, em que fase do ensino esse profissional será
habilitado a atuar. Em geral, quando é especificado, é expresso que será nos
Ensinos Fundamental e Médio, ou de modo mais amplo, é dito que atuará na
Educação Básica, não centralizando, desse modo, a atuação desse profissional da
segunda fase do Ensino Fundamental em diante.
Há, no entanto, no decorrer de todo o projeto, dois momentos em que
aparecem especificações diretas quanto à fase de atuação profissional do licenciado
pelo curso de Matemática. No primeiro momento, é dito na Apresentação do projeto
que o curso formará o profissional para atuar no Ensino Médio. Essa informação,
entretanto, pode ser contestada, pois em outras partes do projeto, como
mencionado, fala da atuação do licenciado na Educação Básica. No segundo, na
disciplina Didática III, o foco de atuação do licenciado é dado na fase do Ensino
Fundamental e no Ensino Médio, pois os estudos de Didática e Metodologia da
Matemática estão direcionados para essas fases.
Assim, ao se dizer que o licenciado em Matemática atuará no Ensino
Fundamental e no Ensino Médio, entendemos que ele poderá, também, atuar na
primeira fase do Ensino Fundamental. Até mesmo na disciplina de Estágio
Supervisionado II é orientado para que o aluno faça o seu estágio de preferência em
escolas públicas de Ensino Fundamental, Médio, Educação de Jovens e Adultos ou
no Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação - CEPAE, que oferece as duas
225
fases do Ensino Fundamental e o Ensino Médio. Ou seja, o aluno poderá, caso
queira, realizar o seu estágio nos primeiros anos de escolarização.
Historicamente sabemos que os cursos de licenciatura nas áreas específicas
foram criados para formar professores para atuarem no Ensino Secundário, o que
hoje corresponde ao Ensino Fundamental, do ao 9º, e ao Ensino Médio. Desse
modo, eles não tinham o foco nos anos iniciais do Ensino Fundamental e podemos
afirmar que atualmente eles também não têm esse foco na formação oferecida. Esse
fato não é diferente nos cursos de Licenciatura em Matemática de nossas
Universidades.
Sabemos, também, que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de
1996 traz modificações para a formação de professores em nosso país. Em nosso
entender, quando prescreve em seu artigo 62 que o professor da Educação Básica
deverá ser formado em nível superior, em cursos de licenciatura, a lei está admitindo
uma dupla formação de profissionais para atuarem na primeira fase do Ensino
Fundamental. Ou seja, entendemos que o professor dos anos iniciais do Ensino
Fundamental poderá ser oriundo dos cursos de licenciatura específica e, portanto,
não somente dos cursos de Licenciatura em Pedagogia, ou ainda dos Cursos
Normais de grau e cursos Normais Superiores, como a LDB também traz no
mesmo artigo.
Sabemos ainda que o município de Goiânia contrata professores das áreas
específicas para atuarem nos anos iniciais, especificamente no II ciclo, isto é, 4º e
anos. Assim, a abertura dada pela LDB está ocorrendo nesse município do Centro
Oeste de nosso país. Assim, existe uma motivação maior para olharmos para o
curso de Licenciatura em Matemática da UFG, pois ele é um dos responsáveis pela
formação de professores de Matemática dos anos iniciais. Assim sendo, verificamos
se no projeto de formação desse profissional é explicitada preocupação com os
primeiros anos de escolarização da Educação Básica, visto que existe uma
demanda por esse professor para atuar nos anos iniciais, nas escolas da prefeitura.
Pela análise do projeto do curso de Matemática da UFG, percebemos que
salvo algumas disciplinas da área de Educação que, entre outros focos, também
discutem questões relacionadas à infância, não há nenhuma disciplina de
responsabilidade do IME, de modo explícito no projeto, que trabalhe com questões
dos anos iniciais do Ensino Fundamental.
226
Compreendemos, pelo exposto até aqui, que o projeto do curso de
Matemática da Universidade Federal de Goiás o se fecha, ou seja, não limita a
atuação do licenciado em alguma fase da Educação Básica, contudo ele também
não se abre de modo explícito para a formação e atuação do licenciado em
Matemática nos anos iniciais do Ensino Fundamental.
Depois de todo o exposto sobre o projeto do curso de Licenciatura em
Matemática do Instituto de Matemática e Estatística da Universidade Federal de
Goiás, ainda questionamos:
Onde ocorre ou se a formação do professor de
Matemática dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental?
227
A FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA DOS ANOS
INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
Chegamos ao fim deste trabalho que investigou, sob alguns aspectos, a
formação dos professores de Matemática dos anos iniciais do Ensino Fundamental.
Será que chegamos ao fim? Acreditamos que não. O sentimento que fica é o de
estarmos começando, e não terminando. Compreendemos o significado disso ao
considerarmos que o assunto não se esgota aqui. Ao tentar responder à pergunta
que direcionou o desenvolvimento deste trabalho nos deparamos com muitos outros
questionamentos que emanaram na questão inicial. Portanto, o sentimento é de
estarmos caminhando na investigação desse tema.
Discutimos, por meio da análise dos Projetos Político-Pedagógicos dos cursos
de Licenciatura em Pedagogia e em Matemática, como a formação do professor de
Matemática dos primeiros anos de escolarização é pensada nesses cursos, em
termos de projeto, entendendo projeto como o que sustenta e direciona o trabalho
pedagógico.
E, ainda, trouxemos todo um histórico dos cursos focados e as modificações
trazidas pela legislação, no intuito de mostrar o movimento que os cursos fizeram ao
longo de sua existência em nosso país. De certo modo, pela pesquisa do movimento
228
histórico foram ficando mais claros os motivos pelos quais os projetos analisados se
configuram como eles nos foram apresentados.
5.1 - A Caminho de uma Síntese Compreensiva
Mello (2000) traz em seu trabalho uma reflexão interessante sobre a formação
inicial de professores para a Educação Básica. Essas reflexões foram, de certo
modo, evidenciadas no estudo feito sobre os cursos de Licenciatura em Pedagogia e
em Matemática realizados neste trabalho. Sabemos que uma divisão entre a
origem de formação de professores, para o trabalho pedagógico na Educação
Básica, ou seja, os professores polivalentes historicamente vêm atuando na primeira
fase do Ensino Fundamental, trabalhando, em geral, por atividades. os
professores graduados nos cursos específicos têm como campo de atuação, a
segunda etapa do Ensino Fundamental e o Ensino Médio, trabalhando por
disciplinas. Para Mello (2000, p. 3) essa divisão entre esses profissionais, oriundos
atualmente dos cursos de Pedagogia e das Licenciaturas específicas,
respectivamente, “teve na educação brasileira um sentido burocrático-corporativo”.
Corroborando com a autora e com o retrospecto histórico dos cursos de
formação de professores feitos nos capítulos dois e três, vimos que a divisão do
trabalho na atual Educação Básica, em parte origina-se da “separação histórica
entre dois caminhos de formação docente: o normal de nível médio e o superior”
(MELLO, 2000, p.3). A formação de professores para os primeiros anos de
escolarização foi oferecida prioritariamente, e até muito recentemente, em cursos
normais de nível médio, que tinham como docentes responsáveis os professores
licenciados pelos cursos de Pedagogia.
a formação de professores para o Ensino Fundamental, segunda fase, e
Ensino Médio, ao contrário da formação de professores para os primeiros anos de
escolarização, foi pensada, a partir da década de 1930, para ser oferecida em nível
superior. Assim, como a criação oficial das Universidades, as Faculdades de
Filosofia Ciências e Letras, por meio da Seção de Educação, tinham a formação
desses profissionais da educação como um de seus objetivos. Como afirma Candau
(1987), os cursos em nível superior para formação de professores foram criados
229
para atender à preocupação em oferecer formação necessária aos professores do
então Ensino Secundário.
Como vimos no capítulo dois, a partir da década de 1970 a formação de
professores dos anos iniciais foi sendo paulatinamente elevada em nível superior. No
entanto, tal formação não teve as licenciaturas como seu locus, ficando sob a
responsabilidade do curso de Pedagogia e de acordo com Mello (2002), manteve a
segmentação.
Mas, por que a existência dessa dicotomia no exercício docente na Educação
Básica? Por que os professores polivalentes são formados para atuarem somente na
primeira fase do Ensino Fundamental e os professores especialistas na segunda
fase do Ensino Fundamental e no Ensino Médio? Essa tradição na formação de
professores é questionável. Concordamos quando Mello (2002) afirma de modo
crítico que:
Não é justificável que um jovem recém saído do ensino médio possa
preparar-se para ser professor de primeira a quarta série em um
curso que não aprofunda nem amplia os conhecimentos previstos
para serem ensinados no início do ensino fundamental. Nem é
aceitável a alegação de que os cursos de licenciaturas “não sabem”
ou não têm vocação” para preparar professores de crianças
pequenas.
(MELLO, 2002, p. 3)
Pedagogicamente não há nenhuma razão consistente para a existência dessa
divisão (MELLO, 2002). Pela legislação estudada, também constatamos que não é
especificada nenhuma divisão para a atuação dos professores na Educação Básica,
salvo na década de 1970, com a Lei Federal 5.692/1971 e com o pacote
pedagógico do professor Valnir Chagas que de acordo com a formação recebida era
conferido o direito de atuação nas etapas da Educação Básica. Assim, do ponto de
vista da legislação, licenciados podem atuar em todas as fases da Educação Básica,
até mesmo na Educação Infantil e Pedagogos também podem exercer a docência
em todo o Ensino Fundamental e inclusive no Ensino Médio.
Desse modo, apesar de tradicionalmente essa divisão existir, o professor de
Matemática dos anos iniciais, como afirmamos ao longo desta investigação, pode
ser formado na Licenciatura em Pedagogia e na Licenciatura em Matemática e,
portanto, nossa investigação esteve contextuada nesses dois locus de formação.
Os cursos de Licenciatura em Pedagogia e em Matemática da Universidade
Federal de Goiás, por meio de seus projetos pedagógicos, contemplam a formação
230
do professor de Matemática dos anos iniciais quando expõem suas intenções.
Porém, a análise crítica, analítica e reflexiva
101
do projeto pedagógico de ambos os
cursos, bem como, a literatura estudada, revelam que essa formação não é
trabalhada.
Em geral, os cursos que formam os professores polivalentes não direcionam o
trabalho para o estudo e aprofundamento dos conteúdos, objetos de ensino, que
serão, futuramente, por eles ensinados, sendo focada apenas a prática desse
ensino. os cursos de licenciatura específica, incluindo o curso de licenciatura em
Matemática, estão mais preocupados em estimular a formação do pesquisador e são
em geral “ministrados num contexto institucional longínquo da preocupação com a
educação básica” (MELLO, 2000, p.5). Em sua grande maioria, o professor formador
está mais preocupado em desenvolver suas pesquisas do que com o ensino, em
especial com o Ensino Básico, pois, em geral, não trazem para a discussão,
aspectos de interesse para a atuação do professor em formação na Educação
Básica.
Assim, o nosso questionamento sobre onde ocorre a formação de professores
de Matemática dos anos iniciais do Ensino Fundamental, presente insistentemente
ao longo deste trabalho, se mostra mais do que pertinente, indicando a premência
de continuar investigando essa temática.
No decorrer dos estudos, o tema focado foi se revelando importante para a
região de inquérito em que estamos inseridas, a Educação Matemática, de modo
que pretendemos continuar estudando a formação de professores de Matemática
dos anos iniciais em pesquisa futura. Nela, pretendemos trabalhar com mais autores
que também partilham do mesmo interesse na temática e, ainda, ouvir professores,
coordenadores e alunos dos cursos sob investigação.
Para finalizar gostaríamos de ressaltar um aspecto forte que se mostra
explícito em nosso trabalho. Ao retomar aspectos históricos dos cursos de
101
Crítica analítica e reflexiva: Crítica, no âmbito da Filosofia, diz de uma crítica radical, a qual se
refere à análise do que está na raiz das afirmações efetuadas ou das construções discursivas que
relatam acontecimentos ou expõem articulações de idéias. Análise diz da descrição ou da
interpretação de uma situação ou de um objeto qualquer, nos termos dos seus elementos mais
simples pertencentes ao objeto ou à situação em questão. Assim, a crítica vai à raiz do afirmado,
solicitando um movimento analítico para tanto. Reflexiva, pois envolve o movimento de voltar-se sobre
o analisado criticamente e buscar compreender o sentido que o assim interpretado faz para quem
está efetuando a análise e para o contexto de inquérito do focado, bem como para os co-sujeitos
presentes e participantes da análise e reflexão. (Esclarecimento dado pela Profª. Drª. Maria Aparecida
Viggiani Bicudo em 23-1-09).
231
Licenciatura em Pedagogia e Licenciatura em Matemática constatamos como os
órgãos de poder em nosso país tentam resolver os problemas educacionais. Há,
sem sombra de dúvidas, um emaranhado de leis (Pareceres, Resoluções,
Indicações, Portarias, Decretos, etc.) que foram e ainda são aprovadas, promovendo
reformas para os cursos de formação de educadores. No entanto, compreendemos
que os problemas educacionais do nosso país necessitam não apenas de uma
legislação forte que os solucione e que direcione a Educação para uma modificação
consoante com o que a própria legislação proclama e com o que os
educadores/pesquisadores afirmam. Precisamos também de políticas de incentivo à
docência com condições de trabalho e salários mais justos; precisamos de
profissionais responsáveis com o seu dever de educar, comprometidos com a
profissão; precisamos de organismos competentes que cuidem da Educação
Pública, para que ela não seja continuamente “sucateada”. Enfim, não precisamos
de um excesso de leis que, na verdade, modificam a legislação sobre a Educação,
mas não a assumem com responsabilidade.
Enfim, almejamos que por meio da perspectiva, trazida neste trabalho, que
discutiu a formação de professores de Matemática dos anos iniciais, caminhos para
o trabalho com a Matemática nos cursos de Licenciatura em Matemática e em
Pedagogia, possam ser pensados.
232
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