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doméstico, que lembra os afazeres do lar, mas que mesmo assim, ainda demonstra um
determinado extrato social de responsabilidade.
As representações sociais desempenham um papel muito amplo na vida das
professoras, articulando percepções sobre si mesmas, sobre suas capacidades e conflitos:
Significa desempenhar uma função de responsabilidade, somente delegada a
quem possui determinadas qualidades, ainda que a leitura geral sobre seu
trabalho leve em conta mais sua desqualificação profissional.
(...)
Significa ter a oportunidade de se envolver com o diferente, ampliando o
círculo de relações sociais e atingindo um universo de relações que lhe
permite ampliar seus próprios horizontes.
Significa ter um grau até certo ponto satisfatório de autonomia, constituindo-
se, em alguma medida, em uma autoridade.
Significa ter a oportunidade de resgatar, através de crianças (que são “os
seus”), direitos e desejos não satisfeitos.
Significa descobrir-se capaz, encontrando brechas para desconstruir a
percepção negativa sobre si mesma construída ao logo da vida nos diversos
lugares em que a condição subalterna e, no caso da escola, a distância
cultural e os mecanismos de seletividade internos ao sistema encarregaram-
se de lhe incutir.
Significa, ainda, a vivência de inúmeros conflitos nas relações com as
crianças e suas famílias, muitos dos quais a remetem a reflexões sobre
dimensões fundamentais sobre sua própria vida, constituindo-se em um
ambiente afetivo intenso.
(...)
Significa, por último, um questionamento permanente de seus valores e
conhecimentos, o que as conduziu a uma situação de ambigüidade: a de ter
sua atividade reconhecida e, ao mesmo tempo, ser questionadas sobre esse
mesmo aspecto, mostrando-lhes a vastidão do que há por acontecer e,
conseqüentemente, a insuficiência de suas condições atuais no tocante ao
desempenho profissional. (SILVA, p.68-69, 2001)
A heterogeneidade da formação também constitui um fator de influência nas
representações sociais das professoras, pois pode apontar elementos de diferenciação de
acordo com o tipo de formação a que tiveram acesso, naquilo que diz respeito à imagem que
elas têm do seu trabalho e quais as características que prevalecem neste trabalho, e isso
influencia na caracterização da profissão das professoras.
O elemento formação também está relacionado ao fato das professoras terem
escolhido este tipo de trabalho ou não: a escolha ou não de uma profissão está intimamente
ligada à satisfação em realizá-lo ou à idéia de obrigação. Para Ongari; Molina (2003):
Estritamente ligada à especificidade do percurso de formação é, além disso, a
motivação expressa em relação ao trabalho, ou seja, ao fato de que se tenha
chegado a fazer este trabalho por escolha ou de maneira casual. Essa variável
deveria ser importante, sobretudo no que diz respeito aos elementos de
avaliação do trabalho, tanto nos seus aspectos positivos (satisfação,
correspondência às expectativas) como de cansaço ou de dificuldade: de fato,
pode-se supor que quem escolheu fazer este tipo de trabalho tenha
expectativas bem definidas em relação ao seu conteúdo, e possa encontrar