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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
INSTITUTO DE BIOLOGIA
DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA CELULAR
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA MOLECULAR
CARACTERIZAÇÃO MOLECULAR DO
VÍRUS DA HEPATITE C EM INDIVÍDUOS
CO-INFECTADOS COM HIV-1
Claudiner Pereira de Oliveira
BRASÍLIA
2007
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ii
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
INSTITUTO DE BIOLOGIA
DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA CELULAR
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA MOLECULAR
CARACTERIZAÇÃO MOLECULAR DO VÍRUS DA
HEPATITE C EM INDIVÍDUOS CO-INFECTADOS COM
HIV-1
Claudiner Pereira de Oliveira
Orientador: Prof. Dr. Marcelo de Macedo Brígido
Co-orientadora: Profª. Drª. Cláudia Renata Fernandes Martins
Colaboradores:
Regina Maria Santos de Amorim
Luiz Sasso Filho
José Eduardo Trevizoli
BRASÍLIA
2007
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iii
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
INSTITUTO DE BIOLOGIA
DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA CELULAR
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA MOLECULAR
CARACTERIZAÇÃO MOLECULAR DO VÍRUS DA
HEPATITE C EM INDIVÍDUOS CO-INFECTADOS COM
HIV-1
Claudiner Pereira de Oliveira
Orientador: Prof. Dr. Marcelo de Macedo Brígido
Co-orientadora: Profª. Drª. Cláudia Renata Fernandes Martins
Banca examinadora:
Profª. Dra. Andréa Queiroz Maranhão (Suplente) Universidade de Brasília
Prof. Dr. Bergmann Morais Ribeiro Universidade de Brasília
Prof. Dr. José Paulo Gagliardi Leite Fundação Oswaldo Cruz
Prof. Dr. Marcelo de Macedo Brígido Universidade de Brasília
BRASÍLIA
2007
iv
"Uma longa jornada começa com um único passo."
Lao Tzu
v
Aos meus pais, Francisco e Zenilde, que
iluminaram-me e incentivaram-me a trilhar
o caminho mais importante que eu poderia
seguir: o estudo.
Aos meus irmãos, Claubert e Claudiana,
por estimularem-me com o mais nobre
combustível da criatividade: a curiosidade.
Às duas mulheres mais fascinantes que
conheci: Patrícia e Cláudia Renata. Por
inspirarem-me a maior virtude das grandes
pensadoras: a sabedoria.
Aos homens e mulheres timas da co-
infecção que, anonimamente, tornaram
possível este trabalho.
Dedico.
vi
AGRADECIMENTOS
Embora uma dissertação seja, pela sua finalidade acadêmica, um trabalho
individual, há contribuições de natureza diversa que merecem ser enfatizadas aqui.
Por essa razão, desejo expressar os meus sinceros agradecimentos:
aos meus ilustres orientadores Profª Drª Cláudia Renata Fernandes Martins e
Prof. Dr. Marcelo de Macedo Brígido que contribuíram singularmente para o
sucesso da minha vida profissional e pessoal, apresentando-me um projeto de
sonho, ajudando-me na sua compreensão e, principalmente, desafiando-me a
construí-lo;
à todas as amigas e amigos do Grupo de Estudos em Virologia, veteranas e
veteranos do lendário HHV: Eduardo e Gegê, Tainá e nior, Daniela e Ugo,
Daniella e Diogo, Natália e Rafael, Dra. Regina, Nazle, Profª. D. Marisa
Xanthomonas e Mateus;
ao Prof. Dr. José Paulo Gagliardi pelo inestimável apoio e por acreditar em
nosso trabalho;
à „chefa‟ Dra. Regina M. Amorim pela grande amizade, pelo apoio
fundamental, pela existência do grupo do HCV, e pela sábias contribuições
para o realização deste trabalho;
à Patrícia pelo amor, apoio e inspiração;
à todos os membros da banca examinadora deste trabalho, em especial, Prof.
Dr. Bergmann M. Ribeiro e Profª. Dra. Andréa Q. Maranhão pelas relevantes
contribuições para este trabalho;
aos colaboradores do LACEN-DF: Luiz Sasso Filho, Helena T. K. Fink, Cecília
M.S. Cunha, Eliane M. dos Santos, Larissa R. T. das Neves e Carlita C. Felix.
Obrigado a todos vocês pela ajuda na busca das amostras, pela paciência e,
principalmente, pela cordialidade;
aos colaboradores Dr. José Eduardo Trevizoli do Hospital de Base (HBDF) e
Dra. Lara Velasco do Laboratório Sabin, que viabilizaram a realização desse
trabalho;
vii
aos amigos ex-companheiros de bancada David Neves, Márcio Rojas, Verônica
Veras e Margareti Medeiros que em momentos distintos contribuíram cada um
do seu jeito para a minha vida acadêmica;
aos Professores do Departamento de Biologia Celular, em especial, Profª Drª.
Sônia Báo e Prof. Dr.Renato Rezende e todos os colegas que trabalharam ou
que ainda trabalham no Laboratório de Microscopia Eletrônica;
ao Prof. Dr. Ricardo Titze do MMB, pela acolhida fundamental em seu
laboratório para a realização de alguns experimentos do trabalho;
a todos os Professores e Funcionários do Laboratório de Fitopatologia pela boa
receptividade e convivência no dia-a-dia;
à querida funcionária Ana da Secretaria do Departamento de Biologia Celular
pela competência e dedicação ao trabalho. Sempre solucionando os problemas
de ordem burocrática que permitiram o correto andamento das etapas que
envolvem este trabalho;
aos meus familiares, em especial, meus pais Francisco e Zenilde, meus irmãos
Claubert e Claudiana e minha cunhada Keila, pelo apoio fundamental e pela
grande harmonia;
à minha querida sogra Fernanda e ao meu cunhado nerd Rafael que tanto me
ajudaram nos momentos mais difíceis;
aos grandes amigos: Prof. Aloízio (pois “a vida é a arte dos encontros...”), Prof.
Clementino Neto (porque sempre devemos usar o bom senso...”), Marcelo
Black Padilha e Marcelo Passa-a-Bola Salviano, e aos grandes seres humanos
que conheci na profissão (monitores, professores, empregados e alunos) e na
faculdade (colegas de turma, de disciplina e de saídas de campo) durante todos
esses anos;
ao Programa de Pós-graduação da UnB;
ao CNPq e a FINATEC pelo apoio financeiro;
e por último, mas não menos importante, à todos àqueles que acreditam que a
ousadia e o erro são caminhos para as grandes realizações.
viii
ÍNDICE
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................... 15
1.1 Histórico ..................................................................................................... 15
1.2 O vírus da Hepatite C ................................................................................ 20
1.3 O genoma do vírus da Hepatite C e as proteínas virais ........................... 21
1.4 A diversidade genética do vírus da Hepatite C e os subtipos virais ....... 23
1.5 Epidemiologia do vírus da Hepatite C ...................................................... 25
1.6 A replicação do vírus da Hepatite C ..........................................................28
1.7 Modelos de estudo da replicação do vírus da Hepatite C ....................... 29
1.8 A transmissão do vírus da Hepatite C ...................................................... 32
1.9 O diagnóstico laboratorial do vírus da Hepatite C .................................. 34
1.10 A genotipagem do vírus da Hepatite C ................................................. 35
1.11 A hepatite C ................................................................................................ 36
1.12 O vírus da Hepatite C e a infecção crônica ........................................... 38
1.13 Tratamento ............................................................................................ 40
1.14 A co-infecção HIV-1/HCV ..................................................................... 41
2. JUSTIFICATIVAS E OBJETIVOS ................................................................ 45
3. MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................ 47
3.1 População Estudada ................................................................................... 47
3.2 Coleta das amostras ................................................................................... 47
3.3 Extração de RNA e Transcrição Reversa .................................................. 47
3.4 Amplificação pela nested-PCR ..................................................................48
3.5 Clonagem .................................................................................................... 50
3.6 Caracterização dos genótipos .................................................................... 51
3.6.1 Seqüenciamento automático ............................................................. 51
3.6.2 Análise das seqüências ....................................................................... 51
ix
3.6.3 Análise filogenética ............................................................................ 51
4. RESULTADOS ................................................................................................ 53
4.1 Caracterização da população de co-infectados ........................................ 53
4.2 Transcrição reversa e amplificação pela nested-PCR .............................. 53
4.3 Genotipagem .............................................................................................. 55
4.3.1 Definição dos Genótipos do HCV com base na análise das regiões
genômicas 5‟UTR e NS5 ............................................................................................ 55
4.3.2 Análise Filogenética ........................................................................... 58
5. DISCUSSÃO ................................................................................................... 63
5.1 A prevalência do HCV em HIV-1 soropositivos ....................................... 63
5.2 Os genótipos do HCV ................................................................................. 65
5.3 A Diversidade Genética do HCV e a Co-infecção com o HIV-1 .............. 67
6. CONCLUSÕES ............................................................................................... 71
7. PERSPECTIVAS ............................................................................................. 72
8. BIBLIOGRAFIA ............................................................................................. 73
x
RESUMO
As infecções pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV-1) e pelo rus da
hepatite C (HCV) são consideradas problemas de saúde pública com cerca de 40
milhões de pessoas infectadas com o HIV-1 e cerca de 170 milhões com HCV no
mundo. A co-infecção HIV-1/HCV é comum em indivíduos expostos a vias de
transmissão percutânea e a hepatite C tem emergido como a principal causa de morte
em pacientes HIV-1 soropositivos, devido à alta prevalência do HCV nessa população.
O HCV pertence à família Flaviviridae, gênero Hepacivirus, e é classificado em 6
genótipos e múltiplos subtipos. Diferenças na distribuição genotípica são observadas
em diferentes áreas do mundo e em um mesmo país. Alguns genótipos do HCV
parecem estar relacionados a uma melhor resposta virológica sustentada após o
tratamento, como os genótipos 2 e 3, que apresentam melhor resposta do que
indivíduos infectados com os genótipos 1 e 4. Existem poucos dados sobre populações
de co-infectados com HIV-1/HCV, a prevalência dos genótipos é relatada para as
infecções separadamente nas diferentes populações. Assim, esse trabalho teve como
objetivo caracterizar a prevalência dos genótipos e subtipos do HCV na população de
co-infectados com HIV-1/HCV no Distrito Federal e entorno. Para isso foram
analisadas 45 amostras de indivíduos co-infectados com HIV-1 e anti-HCV positivos
por meio de amplificação por PCR das regiões genômicas 5‟UTR e NS5B do HCV
seguida de seqüenciamento e análise filogenética. O genótipo 1 foi o mais prevalente
(81%), seguido dos genótipos 3 (10%), 2 (6%) e 4 (3%). Esse resultado está de acordo
com relatos de outros estudos da região Centro-Oeste, onde existe maior prevalência
do genótipo 1. Os genótipos 2 e 4, raros no Brasil, foram descritos pela primeira vez
na população HCV positiva do Distrito Federal (DF). A concordância entre os
resultados obtidos por meio da análise de homologia das seqüências pelo programa
HCV-BLAST para as regiões 5‟UTR e NS5B foi de 97% para os genótipos e 90% para
os subtipos, corroborando o descrito na literatura sobre a necessidade da análise de
mais de uma região para a correta determinação do subtipo. A análise filogenética das
seqüências definiu os genótipos e subtipos divergentes. A presença de genótipos 1, 2,
3 e 4 do HCV na população de co-infectados com HIV-1 atendidos no DF indica a
importância da genotipagem nessa população uma vez que esses genótipos têm
importância clínica na predição da resposta ao tratamento antiviral, sendo o HCV-1 o
que responde mal ao tratamento ao tratamento.
xi
ABSTRACT
Human immunodeficiency virus (HIV-1) and Hepatitis C virus (HCV) are
considered problems of public health with about 40 millions infected by HIV-1 and
170 millions infected by HCV worldwide. The co-infection HIV-1/HCV is common in
individuals exposed to percutaneous pathways and the hepatitis C has been emerging
as the main cause of death in HIV-1 positive individuals due the high prevalence of
HCV in this population. The HCV is classified into 6 genotypes and several subtypes.
Differences in the genotypic distribution are observed in different areas worldwide
and within a country. Some HCV genotypes appear to be related to a better virological
response after treatment, as the genotypes 2 and 3 for example, that show better
response than individuals infected with genotypes 1 and 4. There is little information
about co-infected HIV-1/HCV population; the genotype prevalence is reported to the
infections separately. Thus, the aim of this study was to characterize the HCV
genotypes and subtypes prevalence in the co-infected HIV-1/HCV population of
Federal District. Forty-five samples from co-infected patients were analyzed by PCR
amplification of 5‟UTR and NS5B genomic sequences followed by automatic
sequencing and phylogenetic analysis. The HCV genotype 1 was the most prevalent
(81%), followed by genotype 3 (10%), 2 (6%) and 4 (3%). This result is in concordance
with reports from other studies from Central West region of Brazil, where there is a
major prevalence of genotype 1. The genotypes 2 and 4, rare in Brazil, were described
for the first time in the HCV positive population of Federal District. The agreement
between the results obtained by the analysis of the sequences homology by the
software HCV-BLAST to the regions 5‟UTR and NS5B was of 97% for genotypes and
of 90% for subtypes, corroborating with the described in literature as to the need to
the analyze more than one genomic region in order to achieve correct subtype
determination. The phylogenetic analysis defined the diverging genotypes and
subtypes. The presence of the genotypes 1, 2, 3, and 4 in the co-infected HIV-1/HCV
population attended in the Federal District indicates the importance of genotyping in
this population once these genotypes have clinical importance in the prediction of the
response to the antiviral treatment.
xii
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1. Estrutura do genoma viral,. ............................................................................. 20
Figura 2. Organização do genoma do HCV ..................................................................... 23
Figura 3. Distribuição dos diferentes genótipos do HCV no mundo. ........................... 26
Figura 4. Distribuição dos genótipos de hepatite C nas diferentes regiões do Brasil. . 27
Figura 5. Filogenia do HCV. ............................................................................................. 27
Figura 6. Ciclo de replicação hipotético do HCV. ........................................................... 29
Figura 7. Análise eletroforética dos produtos de PCR .................................................... 54
Figura 8. Gráficos com prevalênica de genótipos e subtipos de HCV no DF. .............. 57
Figura 9. Análise filogenética da região 5‟UTR do HCV em amostras de co-infectados
com HIV-1 .......................................................................................................................... 59
Figura 10. Análise filogenética da região NS5B do HCV em amostras de co-infectados
com HIV-1. ........................................................................................................................ 60
xiii
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1. Seência e local de alinhamento dos iniciadores ......................................... 49
Tabela 2. Relação dos resultados de amplificação .......................................................... 54
Tabela 3. Número de amostras amplificadas .................................................................. 55
Tabela 4. Número de amostras e os respectivos genótipos do HCV encontrados ....... 56
Tabela 5. Número de amostras e os respectivos subtipos do HCV encontrados.......... 56
Tabela 6. Concordância na genotipagem do HCV. ......................................................... 57
Tabela 7. Amostras genotipadas somente para a região 5‟UTR do HCV ...................... 58
Tabela 8. Genótipo das amostras de co-infectados com HIV-1/HCV ........................... 61
LISTA DE ABREVIATURAS
AIDS Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
ALT Alanina Aminotransferase
ARF-P Proteínas de quadro de leitura alternativo - alternative reading frame
proteins
C Proteína core
CTLs Linfócitos CD8
+
citotóxicos
E Proteínas estruturais
eIF-3 Fator eucariótico de iniciação 3
FDA Food and Drug Administration
HAART Terapia anti-retroviral - Highly Active Antiretroviral Therapy
HAV Vírus da hepatite A
HBsAg - Antígeno de superfície do vírus da hepatite B
HBV Vírus da hepatite B
HCC Hepatocarcinoma celular
HCV Vírus da hepatite C
HCVpp Pseudopartículas de retro- e lentivírus
HIV-1 Vírus da imunodeficiência humana
HVR - Regiões hipervariáveis - Hypervariable Regions
IRES Sítios internos de entrada ribossomal - Internal Ribossomal Entry Site
LACEN-DF Laboratório Central de Saúde Pública do Distrito Federal
NANB - hepatite não-A, não-B
NIH - Instituto Nacional de Saúde dos EUA - National Institute of Health
NS Proteínas não estruturais
OMS Organização Mundial de Saúde
PCR Reação em cadeia da polimerase Polymerase Chain Reaction
RdRP RNA polimerase dependente de RNA
RE Retículo endoplasmático
RER Retículo endoplasmático rugoso
ssRNA RNA de fita simples - sigle stranded RNA
UTR Região não traduzida - Untranslated Region
15
1. INTRODUÇÃO
1.1 Histórico
Vários vírus podem atingir o fígado no decurso de uma infecção sistêmica,
concomitantemente com o envolvimento de outros órgãos, originando uma hepatite.
Em muitos casos, a hepatite não chega a ter expressão clínica, sendo detectada
ocasionalmente por alterações em exames laboratoriais. As infecções por
citomegalovírus e o vírus Epstein-Barr, entre outros, são exemplos de tal
eventualidade. Nas regiões tropicais e subtropicais há também um grande mero de
vírus, genericamente conhecidos pela designação vírus emergentes, como o vírus da
Febre Amarela, vírus Ebola, vírus Lassa e o vírus Marburg, que podem provocar
lesões hepáticas, por vezes de extrema gravidade, simultaneamente com lesões em
outros órgãos (Freitas, 2003 ).
No entanto, existe um grupo de rus que tem em comum a capacidade de se
desenvolver nos hepatócitos, causando como principal manifestação, pelo menos na
fase inicial, uma hepatite aguda. O termo hepatite viral é convencionalmente
reservado para as doenças causadas por este restrito subgrupo de vírus
hepatotrópicos (Freitas, 2003).
A história das hepatites remonta, provavelmente, aos primórdios da civilização.
De fato, existem registros de surtos de icterícia na Babilônia ocorridos mais de
2500 anos e Hipócrates no século IV a.C. fez referência nos seus escritos à icterícia
epidêmica. Geralmente na Idade Média, a eclosão de epidemias de icterícia estava
associada a catástrofes ou períodos de guerra que ameaçavam seriamente as
condições sanitárias (Freitas, 2003). O aumento da freqüência da icterícia epidêmica
na Europa acompanhou o rápido aumento da população nos séculos XVII, XVIII e
XIX, mas as grandes epidemias coincidiram quase sempre com as guerras. Surgiram
então as designações icterícia de campanha, usada desde a Idade Média, ou doença
do soldado, introduzida mais recentemente (Freitas, 2003).
As epidemias de icterícia constituíram no passado um grave problema das
campanhas militares nas quais, muitas vezes, influenciavam o desfecho. Na guerra da
Secessão Americana (1861-65) mais de 40 mil soldados foram atingidos. A dimensão
das epidemias era proporcional à dimensão dos campos de batalha e dos exércitos
16
envolvidos, como foi verificado nas grandes epidemias que acompanharam as duas
Guerras Mundiais da primeira metade do Século XX (Freitas, 2003).
O mero de casos de hepatite durante a Segunda Grande Guerra foi estimado
em cerca de 16 milhões. Posteriormente, atribuiu-se estes grandes surtos epidêmicos
ao vírus da hepatite A e, eventualmente, ao vírus da hepatite E, em algumas zonas do
conflito. No entanto, na época da II Guerra Mundial, ainda não estava difundido o
conceito de que pudessem ser o resultado de infecções virais transmitidas por água
ou alimentos contaminados (Freitas, 2003).
A confirmação da natureza infecciosa da hepatite A só foi estabelecida durante o
período imediatamente a seguir à II Guerra Mundial, por meio de uma série de
estudos realizados com voluntários (Freitas, 2003). Em 1973, o vírus da hepatite A
(HAV) foi identificado e, em 1979, foi possível isolar o vírus em culturas de células.
Em 1995, o órgão norte-americano Food and Drug Administration (FDA) licenciou
uma vacina para prevenir a infecção pelo HAV (Swan e Raymond, 2004).
A hepatite A é endêmica em muitos países do mundo e uma vez a pessoa
infectada com o HAV, a re-infecção não ocorre. Entretanto a hepatite A aguda pode
ser fatal entre pessoas com infecções crônicas de hepatite B ou de hepatite C (Swan e
Raymond, 2004).
Em 1965, B. S. Blumberg descobriu um antígeno, nomeado Antígeno Austrália,
que posteriormente foi designado como antígeno de superfície (HBsAg) do rus da
hepatite B (HBV). Em 1968, o antígeno foi associado com o agente infeccioso
responsável pelos casos de hepatite pós-transfusional. Atualmente, mais de 350
milhões de pessoas no mundo estão infectadas com hepatite B e 1,25 milhões de
pessoas desenvolvem infecção crônica (Swan e Raymond, 2004).
Uma vacina para prevenir a infecção pela hepatite B tornou-se disponível em
1982 e desde 1991, o Conselho Americano para Práticas de Imunização tem
recomendado a vacinação universal contra hepatite B para recém-nascidos e
adolescentes. Em 2001, o FDA aprovou uma vacina combinada para proteger contra
as infecções causadas pelo HAV e pelo HBV (Swan e Raymond, 2004).
Após a descoberta do HBsAg, a perspectiva de uma resolução definitiva para o
grave problema da hepatite pós-transfusional foi adiada com os resultados obtidos
em estudos prospectivos, onde ficou evidente que a introdução do rastreamento do
antígeno na seleção de doadores de sangue reduzia somente 25% os casos de hepatite
17
pós-transfusional (Swan e Raymond, 2004; Freitas, 2003). E ainda, outros estudos
alertaram para a elevada prevalência de hepatite quando se usava sangue de origem
comercial e chamaram a atenção para o fato de o sangue do doador pago apresentar
maior risco de transmissão de hepatite B pós-transfusional quando comparado com o
sangue de doadores voluntários. A adoção da política de exclusão do sangue de
doadores pagos teve uma repercussão muito maior na prevenção da hepatite do que o
rastreio do HBsAg. A introdução de técnicas cada vez mais sensíveis na detecção
deste antígenos permitiu reduzir progressivamente o risco de transmissão da hepatite
B pós-transfusional até praticamente desaparecer no final dos anos 70 nos países
desenvolvidos (Freitas, 2003).
No entanto, casos de hepatite continuaram a ocorrer em cerca de 5 a 10% dos
doentes que recebiam sangue ou seus derivados (Freitas, 2003). A hipótese de que o
responsável seria o então recém descoberto HAV foi verificada na época. A
descoberta do HAV e a introdução de testes laboratoriais para sua detecção tornaram
possível identificar os casos de hepatite pós-transfusional que não eram provocados
pelo vírus HBV e, então, verificaram que o HAV estava ausente em todos esses casos
(Freitas, 2003).
Um grupo de pesquisadores do Instituto Nacional de Saúde dos EUA (National
Institute of Health - NIH), liderados por H. J. Alter, envolvidos no estudo desses
casos decidiu então designar a doença por hepatite não-A, não-B (NANB). Na
seqüência lógica da nomenclatura das hepatites, introduzida por MacCallum em
1947, chegou a ser considerado o nome de hepatite C, mas Purcell propôs que esse
nome devia ser preterido enquanto não se esclarecesse se havia um ou mais vírus
envolvidos. A designação hepatite NANB, introduzida em 1975, viria a manter-se
durante 14 anos, tempo decorrido até a identificação do vírus da hepatite C (HCV)
(Alter e Houghton, 2000; Freitas, 2003).
Estudos clínicos e epidemiológicos permitiram obter informação pormenorizada
sobre muitos aspectos da hepatite NANB antes da identificação do HCV: o modo de
transmissão; o freqüente aparecimento de casos esporádicos adquiridos na
comunidade e sem registro de contato conhecido com sangue ou derivados; o período
de incubação; a fase aguda, muitas vezes clinicamente assintomática; a elevada
tendência de progressão para a hepatite crônica e para a cirrose (Freitas, 2003).
18
Embora a maioria das infecções NANB fosse identificada através dos aumentos
nos níveis das enzimas hepáticas durante a infecção aguda, outras formas de
diagnóstico envolviam os sintomas característicos desenvolvidos por parte das
pessoas infectadas, como fadiga, febre, perda de apetite, náusea, vômitos e icterícia
(Alter et al., 1992; Koretz, 1993). Posteriormente, observou-se em muitos pacientes
NANB a persistência dos valores elevados das enzimas hepáticas e, em alguns casos,
graves lesões no fígado (Swan e Raymond, 2004).
Em 1978, foi demonstrado que a hepatite NANB de transmissão parentérica
podia ser transmitida ao chimpanzé por meio de sangue infectado de doentes. A
obtenção de um modelo animal foi determinante para o progresso dos estudos que
viriam a culminar anos mais tarde na identificação do HCV (Freitas, 2003).
Pesquisadores do NIH organizaram um painel padrão de soroconversão de
chimpanzés infectados e de humanos não infectados, contra os quais foram testados
todos os possíveis suspeitos de serem o vírus não A, não B (Alter e Houghton, 2000).
Os virologistas e imunologistas buscavam a detecção sorológica do agente causal, mas
as técnicas convencionais não eram suficientemente sensíveis e específicas para tal
(Freitas, 2003).
Finalmente, Michel Houghton e colaboradores (1989) da Chiron Corporation,
Qui-Lim Choo, George Kuo e Daniel Bradley, após 7 anos de investigação,
conseguiram, utilizando ferramentas de biologia molecular, a clonagem de
fragmentos do genoma do HCV (Choo et al., 1989) e o posterior desenvolvimento de
um teste sorológico baseado na pesquisa de anticorpos contra antígenos do vírus
(Alter et al., 1989). A era pré-sorológica da hepatite NANB tinha terminado e um
novo vírus, o HCV, era acrescentado ao grupo dos outros vírus hepatotrópicos até
então conhecidos: HAV, HBV e HDV (vírus da Hepatite delta). A identificação do
HCV por clonagem molecular direta do seu genoma, sem prévio conhecimento da
natureza do agente infeccioso e da resposta imunológica envolvida, pela sua
originalidade e importância, constituiu um marco na história da virologia, que abriu o
caminho para a futura identificação de outros vírus (Freitas, 2003; Swan e Raymond,
2004).
Ao mesmo tempo, o estudo da infecção permitiu aprofundar o conhecimento da
sua epidemiologia, vias de transmissão, história natural e outros aspectos que já
tinham sido estudados relativamente à hepatite NANB. A hepatite NANB, de
19
transmissão parentérica, adquiriu oficialmente, em 1989, o nome que 14 anos antes, o
grupo de pesquisadores do NIH tinha preterido: hepatite C. Cerca de um ano depois
se identificou o vírus da hepatite NANB epidêmica, ou seja, o vírus da hepatite E
(Freitas, 2003; Swan e Raymond, 2004).
No estudo pioneiro que identificou o HCV, um chimpanzé foi identificado com
altos títulos de um agente que tinha capacidade de transmitir hepatite NANB. Do
soro deste animal foi obtida uma suspensão que provavelmente continha o vírus
causador da hepatite C. A partir do RNA extraído, foi sintetizado o DNA
complementar (cDNA) e inserido em um clone vetor e expresso em Escherichia coli.
A partir destes clones foram obtidas as proteínas expressadas e hibridizadas com
soros de pacientes que apresentavam diagnóstico de hepatite NANB. Um único clone
foi considerado reativo e sua clonagem e expressão em leveduras Saccharomyces
cerevisiae resultaram no antígeno C100-3. Esse antígeno foi o primeiro a ser utilizado
em testes sorológicos para detecção de anticorpos contra o HCV. Novas gerações de
testes, cada vez mais específicos e sensíveis têm sido descritos e pesquisados em todo
o mundo (Kuo et al. 1989; Choo et al. 1991; Morton e Kelen 1998; Zein, 2000). A
pesquisa por marcadores sorológicos prosseguiu, permitindo, dessa forma, avaliar
parâmetros como prevalência, incidência e transmissão do HCV (Smith et al., 1997;
Choo et al., 1989).
O desenvolvimento de testes sorológicos de grande sensibilidade e
especificidade e sua implementação na seleção de doadores de sangue reduziu a zero
a incidência da hepatite C pós-transfusional, nos Estados Unidos, em meados da
década de 90. Estima-se que 40 000 infecções sejam evitadas anualmente. Esse teste
é importante para o diagnóstico e tratamento dos pacientes com hepatite C (Freitas,
2003; Swan e Raymond, 2004).
A infecção pelo HCV se torna crônica em pelo menos 80% dos pacientes e em
10% dos casos evolui para cirrose ou carcinoma hepatocelular (HCC).
Aproximadamente, 20% dos portadores crônicos podem desenvolver cirrose hepática
após 20 anos e 10% carcinoma hepatocelular após 30 anos do início da doença.
Portanto, as conseqüências mais sérias da infecção pelo HCV se manifestam após um
longo período evidenciando a necessidade de um diagnóstico precoce para esses
pacientes assintomáticos. (Doorn et al., 1996; Weber et al., 1996).
20
1.2 O vírus da Hepatite C
O HCV é um rus hepatotrópico, não-citopático pertencente à família
Flaviviridae e ao gênero Hepacivirus. É transmitido por meio de exposição ao
sangue ou derivados contaminados. Apesar de ser um flavivírus não se conhece vetor
invertebrado e por ser um hepacivirus difere dos outros gêneros na sua inabilidade de
ser propagado eficientemente em cultura de células (Fauquet et al., 2005; Chisari,
2005).
Estudos de microscopia eletrônica demonstraram que o rus apresenta forma
esférica com aproximadamente 50 nm de diâmetro e contém um envelope lipídico. O
capsídeo viral possui simetria icosaédrica e, aproximadamente, 30 nm de diâmetro
(Fauquet et al., 2005).
O HCV possui como material genético um RNA de fita simples (ssRNA) de
polaridade positiva com aproximadamente 9,6 quilobases (kb). O genoma possui
regiões não traduzidas nas porções 3e 5‟ (untranslated region UTR), que incluem
elementos de controle necessários para a replicação e tradução (Lindenbach e Rice,
2005). As regiões UTR‟s flanqueiam uma fase de leitura aberta (ORF) que codifica
uma única poliproteína de aproximadamente 3011 resíduos de aminoácidos. Essa
poliproteína é processada por proteases do rus e do hospedeiro em subunidades
protéicas estruturais (core, E1, E2 e p7) e não-estruturais (NS2, NS3, NS4A, NS4B,
NS5A e NS5B) (Penin, et al, 2004) (Figura 1).
Figura 1. Estrutura do genoma viral, incluindo a longa fase de leitura aberta codificando genes
estruturais e não-estruturais e 5 e 3‟UTR‟s. O esquema de processamento da poliproteína o
mostrados logo abaixo. Círculo claro é o sítio de atuação da pepetidase celular; círculos escuros são
sítios de atuação das peptidases virais; seta clara indica atuação da autoprotease NS2-NS3; e as setas
escuras os locais de atuação da protease NS3-NS4A. (Adaptado de Lindenbach e Rice, 2005).
A região 5‟UTR e o gene do core são os mais conservados, enquanto os genes do
envelope, E1 e E2, apresentam regiões hipervariáveis (Hypervariable Regions -
HVR) (Simmonds et al., 1993; Doglio et al., 1998; Zein, 2000).
21
1.3 O genoma do vírus da Hepatite C e as proteínas virais
A região 5‟UTR possui uma seqüência de 341 nucleotídeos (nt) e apresenta
estruturas secundárias e terciárias no RNA conhecidas como IRES (Internal
Ribossomal Entry Site Sítios internos de entrada ribossomal), essenciais para a
tradução do genoma viral. Os IRES permitem a ligação direta da subunidade
ribossomal 40S, não necessitando de fatores de pré-iniciação, fazendo que o códon de
iniciação fique posicionado sob o tio P (Appel et al., 2006). O complexo IRES-40S
recruta então o fator eucariótico de iniciação 3 (eIF-3) e o complexo ternário de Met-
tRNA-eIF2-GTP para formar um intermediário 48S, antes da lenta transição cinética
para o complexo traducional ativo 80S (Lindenbach e Rice, 2005).
A expressão das proteínas virais a partir do genoma monocistrônico é
primariamente alcançada por meio da produção de uma poliproteína que é clivada
proteoliticamente, em seguida, nas proteínas estruturais core, E1 e E2, no peptídeo
hidrofóbico p7 e nas proteínas não estruturais NS2, NS3, NS4A, NS4B, NS5A e NS5B.
As proteínas estruturais são clivadas por uma peptidase celular entre C/E1, E1/E2 e
E2/p7 (Lindenbach e Rice, 2005; Appel et al., 2006).
A primeira clivagem da poliproteína gera a proteína core (C) responsável pela
formação do nucleocapsídeo. Alguns trabalhos relatam que a proteína core interfere
no metabolismo intracelular de lipídeos e lipoproteínas, favorecendo o
desenvolvimento de esteatose (Alberti e Benveg, 2003). Uma forma alternativa da
proteína core, gerada por iniciação interna da tradução em uma fase alternativa de
leitura, tem sido relatada. Essas proteínas, designadas ARF-P ou proteínas-F
(alternative reading frame ou frameshifting), são dispensáveis para a replicação do
RNA, pelo menos em cultura de células (Appel et al., 2006).
Em seguida, ocorre a clivagem das proteínas do envelope E1 e E2. No gene que
codifica a proteína E2, existem duas regiões hipervariáveis (HVR-1 e HVR-2) que
apresentam uma grande variabilidade na seqüência devido às altas taxas de mutações
(Locarnini, 2002).
p7 é um pequeno peptídeo hidrofóbico que tem atividade de canal iônico para
os diferentes genótipos do HCV e sua necessidade para a replicação do HCV em
chimpanzés confirma a proteína como um possível alvo para a quimioterapia
antiviral, apesar de seu papel na replicação viral ser desconhecido (Sakai et al.,
2003).
22
A proteína não-estrutural NS2 associada com NS3 (Ns2/NS3 protease) é a
primeira protease viral ativada no polipeptídio e é responsável pela maturação das
proteínas NS restantes (Dumoulin et al., 2003). Até recentemente, algumas poucas
propriedades foram atribuídas para a proteína NS2 clivada madura, visto que ela
parece agir na inibição da apoptose, na modulação da expressão gênica e na
fosforilação de NS5A (Franck et al., 2005). A porção carboxi-terminal de NS2 possui
uma tríade catalítica da enzima cisteíno-protease, necessária para a clivagem de
NS2/3 (Lindenbach e Rice, 2005; Appel et al., 2006).
NS3 é uma proteína multifuncional, com um domínio serino-protease na porção
N-terminal e um domínio RNA helicase/ NTPase na porção C-terminal (Lindenbach e
Rice, 2005; Appel et al., 2006). Não se sabe qual o papel da helicase do HCV, mas
possivelmente ela es envolvida na iniciação da síntese de RNA, atuando na
dissociação das fitas nascentes de RNA de seus moldes ou no deslocamento de
proteínas ou de outro fator trans-atuante do genoma de RNA (Pang et al., 2002)
Embora NS3 possua uma atividade proteolítica intrínseca, a clivagem da
poliproteína é fortemente reforçada pelo co-fator NS4. Este pequeno peptídeo ancora
a protease às membranas intracelulares por meio de um segmento transmembrana
N-terminal presente em NS4A; estabiliza a protease contra a degradação proteolítica;
e ativa a protease mudando sua geometria e intercalando domínios de NS4A
(Lindenbach e Rice, 2005).
NS5A interage com muitas proteínas celulares e sua função ainda não é
completamente definida. Ela é fosforilada em vários resíduos de serina por uma
cinase celular e pode ser encontrada nas formas hipofosforilada (56 kDa) e
hiperfosforilada (58 kDa). Ainda não está claro quais cinases estão envolvidas, nem
quais sítios de fosforilação são funcionalmente relevantes (Appel et al., 2006).
NS5B é fundamental para a maquinaria de replicação do RNA viral, pois
codifica a RNA polimerase dependente de RNA (RdRP). A iniciação da síntese
dependente de RNA e não dependente de iniciador com um complexo multiprotéico
(replicase) foi demonstrada para essa proteína (Lindenbach e Rice, 2005; Appel et
al., 2006).
A região 3‟UTR apresenta uma região variável com aproximadamente 40nt
ligada à seqüência codificante do genoma do HCV, um segmento rico em
polipirimidina com aproximadamente 100nt e uma região terminal altamente
23
conservada de 98nt designada cauda-X (Appel et al., 2006). Todas as atividades das
enzimas virais, o gene p7 e as regiões 5‟ e 3‟ UTR necessárias para a replicação viral in
vivo são apresentados na Figura 2.
Figura 2. Organização do genoma do HCV com as funções de cada gene. IRES, sítio interno de
entrada do ribossomo. A primeira seta escura indica o sítio de clivagem de protease do hospedeiro, as
demais setas escuras e claras indicam os tios de clivagem das proteases virais. Os números acima da
figura indicam as posições de aminoácidos no genoma do protótipo 1b HCV-J (Adaptado de Hofmann
et al., 2005)
O entendimento acerca do ciclo de replicação do HCV e da composição
molecular das partículas virais ainda continua hipotético. Entretanto, detalhes do
ciclo começam a emergir devido à disponibilidade de eficientes sistemas in vitro,
mais notavelmente o sistema de replicon do HCV (Lohmann et al., 1999; Blight et al.,
2000), pseudopartículas de HCV (Hsu et al., 2003) e, mais recentemente, o primeiro
sistema para produção eficiente de HCV infeccioso em culturas de células (Zhong et
al., 2005; Liendenbach et al., 2005). Como os componentes nimos necessários
para a replicação e tradução do RNA-HCV estão nas regiões codantes NS3 a NS5B e
das não codantes UTR‟s os estudos acabam se concentrando nessas regiões (Appel et
al., 2006).
1.4 A diversidade genética do vírus da Hepatite C e os subtipos virais
A diversidade genética é um dos fatores mais importantes do genoma do HCV
(Zein, 2000). O vírus da hepatite C pode ser filogeneticamente classificado em 6
clados, baseados na heterogeneidade do genoma de isolados identificados pelo
mundo (Fauquet et al., 2005). O HCV é classificado em genótipos e subtipos de
acordo com a homologia de seqüências completas do genoma viral ou das regiões
genômicas 5‟UTR, core, E1 ou NS5B (Bukh et al., 1993; Simmonds et al., 1996; Thiers
et al., 1997). Os genótipos são numerados de 1 a 6 e divergem entre,
aproximadamente, 25 e 35% nas seqüências de nucleotídeos. Genótipos de 7 a 11
24
foram descritos, mas análises genéticas mais extensivas concluíram que os genótipos
7, 8, 9 e 11 pertenciam ao genótipo 6 e o genótipo 10 pertencia, na verdade, ao
genótipo 3. Os 6 genótipos são subdivididos em mais de 50 subtipos, que diferem
entre si em, aproximadamente, 15 a 25% na seqüência de nucleotídeos (Fauquet et
al., 2005).
A elevada taxa de replicação viral e a ausência de mecanismos de revisão dos
erros da polimerase viral explicam a modificação freqüente do RNA genômico do
HCV. Uma grande população de HCV se replicando em um indivíduo infectado
cronicamente produz um aglomerado de variantes genéticos denominados
quasispecies, cada um com um genoma viral individual. A diversidade das
quasispecies de HCV pode contribuir para o desenvolvimento de uma infecção
crônica e para o escape do sistema imune. Isso porque as proteínas do envelope
mudam rapidamente em resposta à pressão imune (Hoofnagle et al., 2002).
Tem sido sugerido que a infecção primária por HCV constitui um evento
oligoclonal no qual a adaptação do HCV para a persistência in vivo envolve um
aumento seletivo do número de poucos variantes do amplo espectro da população de
quasispecies, provavelmente representando a contraparte da adaptação viral para
cada hospedeiro. Recentemente, a análise filogenética usando seqüências 5‟UTR de
isolados do genótipo 1 no Uruguai, Chile, Brasil e Costa Rica revelou uma quasispecie
diferente das encontradas nos principais subtipos (1a e 1b), indicando um aumento
da diversificação dos vírus HCV nessa região (Cristina, 2005).
A investigação da evolução das quasispecies do HCV na população de indivíduos
co-infectados com HIV-1 (Human immunodificiency virus) e com HCV tem
apresentado resultados conflitantes. Quando comparados com controles infectados
apenas com HCV, indivíduos co-infectados com HIV-1/HCV apresentam maior
diversidade de quasispecies (Bowen e Walker, 2005; Cristina, 2005; Swan e
Raymond, 2004).
Por outro lado, outros estudos com indivíduos co-infectados sugerem que a
diversidade de quasispecies diminui com a imunossupressão e com menor variação
das células CD4
+
(Bowen e Walker, 2005; Cristina, 2005).
A associação entre o aumento da carga viral de HCV e o aumento da diversidade
das quasispecies pode ser explicada pela evolução adaptativa do HCV em resposta à
pressão imune ou seja, mutantes gerados nesse ambiente que conseguem escapar do
25
sistema imune podem se replicar mais livremente resultando na elevação da carga
viral. Por outro lado, uma resposta imune menos robusta não seleciona os mutantes
que escapam por meio de seu desempenho de replicação e, então, pacientes com
menor carga viral do HCV apresentam uma menor diversidade de quasispecies
(Bowen e Walker, 2005).
O aumento da diversidade de quasispecies do HCV com a pressão imune está de
acordo com o que foi descrito para a evolução de quasispecies do HIV-1 durante o
curso da mono-infecção com HIV-1. Wolinsky et al. (1996) demonstraram que em
indivíduos HIV-1 como positivos, a rápida diminuição na contagem de células CD4
+
está associada com uma estagnação evolutiva do HIV-1; enquanto que uma menor
perda da contagem de células CD4
+
está associada com um acumulo de mutações e,
em particular, substituões não-sinônimas, indicando que a pressão seletiva exerce
um importante papel na evolução das quasispecies do HIV-1. Assim, HCV e HIV-1
agem de modo semelhante na resposta à pressão imune, ou seja, uma maior
competência imunológica está associada ao aumento adaptativo na diversidade
genética e evolução de ambos os vírus (Babik e Holodniy, 2003).
1.5 Epidemiologia do vírus da Hepatite C
Os genótipos de HCV apresentam diferença na distribuição geográfica (Figuras
3 e 4), na progressão da doença e na reposta à terapia (Figura 5) (Zein, 2000; Feld e
Hoofnagle, 2005), além de apresentar associação com grupos de risco específicos
(Simmonds, 2004).
O genótipo 1 é o mais prevalente nas Américas do Sul e Central região do Caribe
(Zein, 2000), os subtipos 1a e 1b os mais comuns nos Estados Unidos e Norte da
Europa, os subtipos 2a e 2b são comuns na América do Norte, Europa e o genótipo 3
é mais freqüente na Índia. O genótipo 4 é o mais comum na África e no Oriente
Médio. Os genótipos 5 e 6 são raros e encontrados em áreas geográficas isoladas, o
genótipo 5 na África do Sul e o genótipo 6 em Hong Kong e Sudeste Asiático
(Hoofnagle et al., 2002; Zein, 2000). No Japão o subtipo 1b é responsável por 75%
das infecções pelo HCV, mas também são encontrados os genótipos 2a e 2b. Nos
Estados Unidos e Europa, os genótipos 3a e 1a são os mais freqüentes entre os
usuários de drogas e o genótipo 1b parece ser o que predomina em pacientes que
adquiriram HCV por meio de transfusão, na maioria dos casos evoluindo para a
26
infecção crônica e resistência ao tratamento com interferon (Zein, 2000; Carvalho,
1999).
Figura 3. Distribuição dos diferentes genótipos do HCV no mundo. Os diferentes genótipos
e subtipos do vírus da hepatite C (HCV) apresentam distribuição geográfica distinta, com os
genótipos 1, 2 e 3 apresentando distribuição mundial e os outros genótipos distribuição limitada,
sendo o genótipo 4 mais comum na África e Oriente Médio e os genótipos 5 e 6 raros e encontrados em
áreas geográficas isoladas, o genótipo 5 na África do Sul e o genótipo 6 em Hong Kong e Sudeste
Asiático. Fonte: http://www.clevelandclinicmeded.com/hcv/print/phcvimages.htm (com adaptações).
No entanto, diferenças na distribuição genotípica podem ser observadas em
diferentes áreas da região bem como em diferentes áreas em um país. No Brasil,
estudos de genotipagem foram realizados nas regiões Sudeste (Rio de Janeiro e o
Paulo), Sul (Porto Alegre) e Nordeste (Natal, Salvador e Recife) (Amorim, 2003;
Campiotto et al, 2005) encontrando diferentes prevalências do HCV nas diferentes
populações anti-HCV soropositivas (Figura 4). Algumas variações são encontradas na
distribuição do subtipo 3a na população jovem, principalmente entre os usuários de
drogas intravenosas (Farci et al., 2000; Zein, 2000; Pybus et al., 2001).
Amorim (2003) caracterizou os genótipos do HCV em doadores de sangue no
Distrito Federal e observou uma prevalência de 60,9% para o genótipo 1 e 39,1% para
o genótipo 3 (Amorim, 2003).
27
Figura 4. Distribuição dos genótipos de hepatite C nas diferentes regiões do Brasil. Os
meros ao lado dos gáficos reperentam o número absoluto de casos de cada genótipo em cada uma
das regiões. Fonte: Campiotto et al, 2005 (com modificações).
Figura 5. Filogenia do HCV. A análise filogetica foi realizada com seqüências codantes
completas dos diferentes genótipos do HCV. Os grupos de risco identificados para cada genótipo
(UDI‟s, receptores de sangue ou derivados o triados, outras exposições parenterais) foram indicados
com círculos escuros e texto. A árvore foi construída por neighbor-joining e implementada no
conjunto de programas MEGA, usando correções de distância Jukes-Cantor (Adaptado de: Simmonds
et al., 2005).
28
Outras diferenças na distribuição podem ser observadas entre isolados de HCV
na América Central e do Sul, onde o genótipo 1 é o mais prevalente, em comparação
com isolados da região do Caribe onde os genótipos 2 e 4 prevalecem (Zein, 2000).
1.6 A replicação do vírus da Hepatite C
Como todo vírus de RNA de fita positiva, a replicação do RNA-HCV ocorre em
associação com membranas citoplasmáticas alteradas. A atividade associada do RNA-
HCV, das proteínas NS e RdRP às estruturas vesiculares foi denominada
membranous web, conforme observado em hepatócitos infectados pelo HCV e em
sistemas de replicon do HCV. Experimentos recentes têm fornecido mais dados
acerca da relação entre membranas celulares, metabolismo de lipídeos e replicação
do RNA-HCV. Em cultura de células, a replicação do RNA-HCV é estimulada pelo
aumento da disponibilidade de ácidos graxos saturados e monosaturados e inibida
pelos ácidos graxos poliinsaturados ou por inibidores de síntese de ácidos graxos.
Estes resultados sugerem que a fluidez da membrana é importante para o
funcionamento da membranous web. (Lindenbach e Rice, 2005; Appel et al., 2006).
Uma área bastante explorada atualmente tem sido a delineação dos elementos
de RNA cis-atuantes que orientam a replicação viral. Quase toda a região de 5‟UTR é
necessária para a eficiente amplificação do RNA. Como essa região apresenta os
IRES, existe um interesse considerável no entendimento de como essa região pode
modular a tradução e replicação, que não ocorrem simultaneamente no mesmo RNA
molde (Lindenbach e Rice, 2005; Appel et al., 2006).
Pouco se sabe a respeito da síntese de RNA-HCV no complexo de replicação. Por
inferência, a partir do conhecimento de rus relacionados, a ntese de RNA parece
ser semiconservativa e assimétrica: a fita positiva do genoma serve de molde para a
síntese de um intermediário de fita negativa que serve como molde para a produção
de vários genomas nascentes. Evidências sugerem que apenas uma pequena fração
das proteínas NS participa ativamente da replicação do RNA (Lindenbach e Rice,
2005; Appel et al., 2006).
A figura 6 apresenta um esquema do modelo hipotético da replicação do HCV
em hepatócitos.
29
Figura 6. Ciclo de replicação hipotético do HCV. Partículas de HCV se ligam à célula hospederia
via interação específica entre as glicoproteínas do envelope e receptores celulares. As partículas ligadas
são então internalizadas, provavelmente por meio de endocitose mediada pelo receptor. Após a
liberação do genoma viral no citoplasma (desnudamento) ocorre a tradução, no retículo
endoplasmático rugoso (RER) em uma poliproteína que é clivada nas proteínas estuturais e não
estruturais. As proteínas não estruturais participam da replicação viral e as estruturais fazem parte da
estrutura do capsídeo e glicoproteínas do envelope. O local da montagem das partículas virais ainda
não foi identificado, mas acredita-se que seja em membranas intracelulares derivadas do retículo
endoplasmático ou do compartimento de Golgi. Os vírions recém montados são então liberados da
célula hospedeira possivelmente por meio da via secretória. Fonte:
http://www.tibotec.com/content/backgrounders/www.tibotec.com/hcv_lifecycle.html (com
adaptações).
1.7 Modelos de estudo da replicação do vírus da Hepatite C
Importantes questões acerca da natureza das partículas infecciosas do vírus, das
vias de entrada do vírus e da montagem das proteínas estruturais e do RNA em novas
partículas virais ainda não estão completamente esclarecidas. O principal obstáculo
para o entendimento do ciclo de replicação do rus e para o desenvolvimento de
terapias esna inabilidade de se isolar o HCV eficientemente em cultura de células
(Lindenbach et al., 2005). Numerosos modelos in vitro para investigação da
replicação do HCV têm sido desenvolvidos. Entretanto, até recentemente não existia
um modelo in vitro no qual o ciclo de replicação do HCV pudesse ser estudado por
meios bioquímicos diretos (Sheehy et al., 2007).
A expressão e o processamento dos produtos de genes estruturais foram
caracterizados em estudos de expressão heteróloga. A proteína E2 se liga com alta
30
afinidade ao receptor celular CD81, uma tetraspanina que é expressa em vários tipos
de células, incluindo hepatócitos. Embora seu padrão de expressão não explique o
hepatotropismo do HCV, CD81 parece estar envolvida na mediação da entrada do
HCV. Vários outros receptores de HCV foram identificados, incluindo receptores de
lipoproteínas de baixa densidade (Bartosch e Cosset, 2006). Vários sistemas
hospedeiros têm sido desenvolvidos para examinar a relevância dessas interações e
para estudar a estrutura e função de E1/E2, no entanto, o uso de pseudopartículas de
lentivírus (HCVpp) fornece a melhor compreeensão da entrada do HCV na célula.
HCVpp infectam hepatócitos humanos primários e uma variedade de linhagens
celulares hepáticas e sua entrada é dependente de CD81. A expressão de CD81 não é
suficiente para a entrada do HCV em células não-hepáticas, sugerindo a existência de
uma ou mais moléculas ainda não identificadas necessárias para a entrada e o
hepatotropismo do HCV (Swan e Raymond, 2004; Lindenbach et al., 2005; Bartosch
e Cosset, 2006; Appel et al., 2006;).
Vários estudos têm demonstrado que o HCV pode infectar linhagens de
hepatócitos e de células T e B, porém geram uma infecção passageira e de baixo
desempenho. A infecção in vitro de células de mamíferos com partículas do HCV não
resulta em uma replicação com desempenho suficiente para os estudos identificarem
agentes antivirais ou delinear as fases do ciclo de replicação do HCV. Dessa forma
modelos sustentáveis para a replicação do HCV dependem de estratégias que
envolvam manipulação genética do genoma do HCV (Sheehy et al., 2007).
A produção de vírus infecciosos em células transfectadas com RNA foi descrito
para vírus de RNA de fita positiva e, no caso do HCV, foi descrito um modelo de
replicação após a transfecção de linhagens de células de hepatomas com transcritos
de RNA-HCV. A construção de clones moleculares de HCV com seqüência consenso
de aminoácidos do genótipo 1a (isolado Hutchinson 77 ou H77) levou à primeira
demonstração da natureza infecciosa de transcritos sintéticos de RNA-HCV em
chimpanzés. Apesar do pioneirismo desses estudos, limitações no curso variável da
infecção do HCV e no risco requerido para realizá-los requerem o desenvolvimento de
modelos mais práticos para futuros estudos da replicação do HCV (Swan e Raymond,
2004; Lindenbach et al., 2005; Bartosch e Cosset, 2006; Appel et al., 2006; Sheehy
et al., 2007).
31
Modelos in vitro onde ocorrem expressão de clones moleculares de HCV em
linhagens de células de mamíferos foram obtidos nos últimos anos e esses modelos
são úteis para o estudo do RNA-HCV, caracterização do efeito da expressão do mRNA
celular durante a síntese das proteínas do HCV, análise da interferência do interferon
na sinalização celular e investigação das propriedades/funções de várias proteínas do
HCV. No entanto, algumas limitações ainda precisam ser superadas como, por
exemplo, a dificuldade de transmitir a infecção para células não infectadas e tornar a
expressão de proteínas não tóxica para a cultura de células (Swan e Raymond, 2004;
Lindenbach et al., 2005; Bartosch e Cosset, 2006; Appel et al., 2006; Sheehy et al.,
2007).
A descrição da replicação autônoma de um replicon de HCV foi a primeira
demonstração de uma replicação do HCV in vitro com bom desempenho e representa
o caminho mais promissor para o delineamento de muitos processos do ciclo de
replicação viral. O desenvolvimento do replicon de HCV fundamenta-se na
capacidade de replicação autônoma in vitro de regiões subgenômicas do genoma de
flavivírus e no uso de marcadores em clones moleculares de flavivírus que permitem a
seleção de células que possuem níveis elevados de replicação viral. Várias evidências
demonstraram que o replicon subgenômico de RNA-HCV em células Huh-7
representa um modelo para o estudo da replicação e da expressão das proteínas
virais. Os níveis de replicação do HCV parecem estar ligados aos níveis de
crescimento da célula hospedeira, sendo os maiores níveis de RNA-HCV encontrados
nas células que crescem exponencialmente. Apesar dos bons resultados, limitações
experimentais existem nesse modelo. Replicons de RNA-HCV somente se replicam
com maior eficiência em células Huh-7, apresentam mutações adaptativas que não
ocorrem freqüentemente nos genomas do HCV e que podem responder
diferentemente à agentes antivirais comparado com o tipo selvagem do HCV, e
podem diminuir os níveis de infectividade do HCV em chimpanzés. No entanto, ainda
assim replicons de RNA-HCV representam o principal avanço no estudo da biologia
molecular do HCV (Bartosch e Cosset, 2006; Sheehy et al., 2007).
Recentemente, foram desenvolvidos replicons subgenômicos do HCV derivados
de uma seqüência de genótipo 2a, isolado de um paciente japonês com hepatite
fulminante (denominado JFH-1). Esse modelo constitui uma poderosa ferramenta
para o estudo do ciclo de replicação e para o desenvolvimento de novas estratégias
32
antivirais contra o HCV (Lindenbach et al., 2005; Bartosch e Cosset, 2006; Sheehy et
al., 2007). Contudo, estudos estruturais e bioquímicos das proteínas virais bem como
análises moleculares da replicação do RNA viral estão entre os maiores desafios
(Lindenbach e Rice, 2005; Appel et al., 2006).
1.8 A transmissão do vírus da Hepatite C
Os principais fatores citados associados à transmissão do HCV são as
transfusões de sangue ou hemoderivados, uso de drogas injetáveis, uso de materiais
perfuro-cortantes não esterilizados e uso de órgãos transplantados de doadores
infectados. Em países desenvolvidos o uso de drogas injetáveis, nas últimas décadas,
tem sido o principal fator de novas infecções pelo HCV. Nos países em
desenvolvimento, injeções terapêuticas não esterilizadas e transfusões de sangue e
derivados contaminados são os principais modos de transmissão, especialmente nos
países onde as taxas de soroprevalência idade-específica sugerem um risco crescente
da infecção pelo HCV. Nos países desenvolvidos com elevada prevalência do HCV em
grupos de idosos, o uso de injeções terapêuticas não esterilizadas provavelmente teve
um papel fundamental na transmissão 30-50 anos atrás (Zein, 2000; Shepard et al.,
2005).
Em muitos países em desenvolvimento, o fornecimento de seringas estéreis
pode não ser adequado ou ser inexistente e, ainda, injeções não esterilizadas podem
ser utilizadas para aplicar medicações que poderiam ser administradas por via oral.
Neste ambiente, pessoas podem ter contato com várias injeções contaminadas ao
longo do tempo, promovendo um risco cumulativo para infecção pelo HCV.
Equipamentos de injeção contaminados constituem o principal fator de risco para
infecção do HCV em vários países, incluindo nações populosas como Egito, Índia,
Paquistão e Taiwan (Shepard et al., 2005).
A transfusão de sangue é um meio extremamente eficaz de transmissão do HCV.
Na maioria dos países desenvolvidos, várias medidas tomadas nas últimas quatro
décadas resultaram em uma redução no risco de infecções do HCV transmitidas por
meio de transfusões. Entre as medidas adotadas estão inclusas a adoção de sistema
de doador voluntário, triagem do sangue doado com testes laboratoriais para doenças
hepáticas, triagem de potenciais doadores baseada em respostas de questões relativas
33
aos fatores de risco do HIV-1, testes anti-HCV e testes para RNA do HCV, HIV-1 e
HBV (Freitas, 2003; Shepard et al., 2005).
Muitos países em desenvolvimento não fazem triagem para o HCV nas doações
de sangue. O Banco de Dados Global para Segurança do Sangue, órgão da
Organização Mundial de Saúde, estima que 43% das doações de sangue não são
triadas adequadamente para as infecções transmitidas por transfusão, incluindo o
HCV. Na Índia, a triagem para o HCV em produtos sanguíneos é determinada por lei,
mas não é cumprida devido aos custos financeiros envolvidos. Em Gana, estima-se
que um terço das 2578 doações é contaminado com HCV (Shepard et al., 2005).
A transmissão do HCV por meio ocupacional, perinatal e exposição sexual
ocorre com uma prevalência menor quando comparada com a transmissão por meio
de grandes ou repetidas exposições percutâneas. A transmissão ocupacional do HCV
entre os profissionais na área de saúde apresenta baixos níveis, em torno de 0,3% e,
normalmente, envolvem contaminações por materiais perfuro-cortantes. A
transmissão perinatal é estimada entre 2,7% e 8,4%; e a proporção é maior no caso de
mães co-infectadas com HIV-1/HCV. A transmissão sexual entre parceiros infectados
ou entre múltiplos parceiros tem sido um fator de risco para essa forma de
transmissão do HCV, que é menos eficiente quando comparada com outros vírus
transmitidos sexualmente. Outros modos de transmissão incluem procedimentos
cosméticos e religiosos ou práticas culturais como tatuagem, body-piercing,
barbeamento comercial, rituais de escarificação, circuncisão e acupuntura (Zein,
2000; Shepard et al., 2005).
No entanto, em 20-40% das infecções não se identifica um fator clássico
associado à transmissão do HCV. Em um estudo caso-controle realizado por
Karmochkine et al. (2006), os autores identificaram 15 novos fatores de risco
independentes para a infecção pelo HCV em indivíduos sem um fator de risco padrão.
O estudo concluiu que internação hospitalar, endoscopia digestiva, alguns
procedimentos dermatológicos e uso de cocaína por via intra-nasal são os fatores de
risco mais importantes para aquisição de HCV na comunidade em geral e que outros
fatores menos reconhecidos tais como prática de esportes violentos, uso regular de
manicure, depilação em salão de beleza e procedimentos dermatológicos também
parecem estar envolvidos. Todos esses fatores explicam 74% das rotas não
identificadas de infecção pelo HCV.
34
1.9 O diagnóstico laboratorial do vírus da Hepatite C
O HCV pode ser diagnosticado por meio de testes imunoenzimáticos de segunda
e terceira geração que podem detectar os anticorpos após 4-12 semanas, mas o
padrão-ouro, em termos de sensibilidade e especificidade, no diagnóstico da infecção
pelo HCV, particularmente em populações imunodeprimidas, é o RT-PCR. Como o
RNA-HCV pode ocasionalmente não ser detectado, decisões de diagnóstico e
tratamento não devem ser embasadas nos resultados de um único resultado de RT-
PCR. As RT-PCRs qualitativos são ferramentas importantes porque são
significativamente mais sensíveis que a maioria dos testes quantitativos. Atualmente
a sensibilidade destes ensaios é de 50 cópias de UI/mL. A especificidade destes
ensaios excede a 99%. Um único teste positivo para o RNA-HCV confirma a
replicação ativa do HCV, mas um resultado negativo isolado não garante que o
paciente não seja virêmico. Nesse caso, um seguimento clínico-laboratorial com a
pesquisa do RNA-HCV deverá ser feito para confirmar a ausência de replicação ativa
do HCV. Uma vez confirmada a infecção pelo HCV, a repetição do teste qualitativo
para o RNA-HCV, em pacientes em seguimento clínico, porém sem tratamento, não
apresenta nenhuma utilidade diagnóstica. A maioria dos pacientes permanece
virêmico e um resultado negativo pode apenas refletir um declínio transiente da carga
viral abaixo do limite de detecção do ensaio utilizado (Davies, 2005).
A caracterização molecular do HCV pode ser realizada pela análise direta da
seqüência genômica ou pela hibridização reversa sobre sondas de oligonucleotídeos
genótipo-específico. A hibridização reversa é um teste comercial que permite a
determinação fácil e rápida dos seis genótipos e seus subtipos. O ensaio é baseado nas
variações encontradas na região 5‟UTR de diferentes genótipos do HCV. Este ensaio
permite a interpretação em 100% dos casos. O teste de genotipagem apresenta
importância clínica, principalmente em relação ao tempo e resposta à terapia com
interferon (Zein, 2000; Davies, 2005).
Diferente dos testes de RNA-HIV-1, os testes quantitativos de RNA-HCV o
fornecem informações prognósticas para a hepatite C (Davies, 2005). Tanto o nível
da enzima hepática alanina aminotransferase (ALT) quanto o nível do RNA-HCV não
permitem indicar ou predizer com clareza a gravidade da doença hepática e ambos
não apresentam o mesmo grau de confiabilidade dos marcadores do hospedeiro
utilizados para guiar o tratamento do HIV-1. E ainda, pessoas com níveis normais de
35
ALT podem apresentar sérios danos hepáticos e mesmo as drogas anti-retrovirais
podem elevar os valores de ALT (Davies, 2005).
Embora as análises por meio de ultra-som e de painéis de biomarcadores
sorológicos forneçam alternativas aos procedimentos invasivos, eles ainda não foram
validados em pacientes co-infectados com HIV-1/HCV. A biópsia do fígado tem sido
usada para avaliar o dano hepático embora seu uso deva ser criterioso por ser um
teste invasivo (Davies, 2005).
1.10 A genotipagem do vírus da Hepatite C
As regiões genômicas mais utilizadas para genotipagem são 5‟UTR, core, E1 e
NS5B (Zein, 2000; Erensoy, 2001; Corbet et al., 2003; Busek e Oliveira, 2003). A
região 5‟UTR é a mais conservada do genoma e por isso muito usada para diagnóstico
e genotipagem. No entanto, essa região não diferencia o subtipo 1a do subtipo 1b, por
apresentar apenas uma diferença nucleotídica na posição 99 com uma adenina (A)
no subtipo 1a ou uma guanina (G) no subtipo 1b (Chen e Weck, 2002; Corbet et al.,
2003). Assim, a análise da seqüência de mais de uma região pode ser necessária para
a discriminação dos subtipos (Erensoy, 2001).
Alguns genótipos do HCV parecem estar relacionados a uma resposta virológica
sustentada após o tratamento. Indivíduos infectados com os genótipos 2 e 3 do HCV
respondem melhor ao tratamento que indivíduos infectados com os genótipos 1 e 4. A
genotipagem de todos os indivíduos precisa ser realizada ao tempo do primeiro
diagnóstico e em casos onde a exposição ao HCV for suspeita, o genótipo pode variar
ao longo do tempo por meio de re-infecção e por isso precisa ser testado
periodicamente (Davies, 2005).
A genotipagem do HCV é clinicamente significativa, pois indivíduos com
genótipos 1a, 1b, 4 e 5 não apresentam respostas satisfatórias ao tratamento com
interferon (Zein et al., 1996a; Poynard et al., 1998; Mondelli e Silini, 1999; Neumann
et al., 2000; Fried et al., 2002; Swan e Raymond, 2004). A infecção pelo genótipo 1
também está associada com altos veis de RNA-HCV (Blatt et al., 2000; Swan e
Raymond, 2004). A infecção com o subtipo 1b pode aumentar a probabilidade de
infecção crônica (Amoroso et al., 1998; Swan e Raymond, 2004) e está associada com
doenças do fígado mais agressivas e mais graves, porém essa associação apresenta
resultados controversos em diferentes estudos (Takahashi et al., 1996; Yano et al.,
36
1993; Yotsuyanagi et al., 1995; Zein et al., 1996b; Reide et al., 1999; Swan e
Raymond, 2004). Casos de re-infecção e co-infecção com mais de um genótipo do
HCV foram documentados, embora o impacto clínico dessa infecção mista ainda não
esteja claro (Swan e Raymond, 2004).
A determinação do genótipo do HCV é importante nos pacientes co-infectados
com HIV-1. Em um estudo com pacientes co-infectados Fried et al. (2002)
mostraram que a prevalência dos genótipos 1, 2, 3 e 4 foi de 60%, 12%, 28% e 8%,
respectivamente. Comparativamente, em outro estudo, Torriani et al. (2004)
evidenciaram que pacientes mono-infectados com HCV apresentaram prevalência de
65% para o genótipo 1, 12% para o genótipo 2, 19% para o genótipo 3 e 3% para o
genótipo 4. Dados da influência do genótipo do HCV na doença são limitados.
Pacientes hemofílicos HIV-1 soropositivos, infectados com HCV genótipo 1,
apresentam maior mortalidade do que indivíduos infectados com outros genótipos do
HCV (Yoo et al., 2005).
As infecções com mais de um genótipo do HCV parecem ser comuns (>10%) em
pacientes co-infectados com HIV-1/HCV, particularmente em usuários de drogas
intravenosas e hemofílicos (Forns e Costa, 2006).
1.11 A hepatite C
O curso da infecção aguda do HCV é normalmente assintomático, embora
possam ser observados os sintomas típicos de hepatite como icterícia (em cerca de
20% dos pacientes), anorexia, mal-estar e elevação das enzimas transaminases
hepáticas. Elevados níveis de viremia são observados, com mais de 10 trilhões de
partículas virais sendo produzidas por dia (comparada com os 10 bilhões de
partículas por dia do HIV-1). Se o HCV for eliminado espontaneamente e a carga viral
tornar-se indectectável, os níveis de enzimas hepáticas se normalizam e os anticorpos
podem persistir por muitos anos (Davies, 2005).
A infecção crônica do HCV é freqüentemente assintomática, com viremia
persistente e níveis normais de transaminases. A ALT tem sido considerada a enzima
hepática mais sensível para a infecção com HCV, embora a gravidade da infecção não
esteja diretamente correlacionada com a elevação da ALT, que pode ter suas taxas
variando consideravelmente de um mês para o outro (Davies, 2005).
37
Embora a infecção pelo HCV possua as formas aguda e crônica, a principal
morbidade associada com a infecção está relacionada ao desenvolvimento da doença
crônica do fígado em um subgrupo de indivíduos infectados anos após o início da
infecção. Entretanto, é difícil estabelecer a incidência da infecção do HCV porque a
maioria das infecções é assintomática (Shepard et al., 2005).
Visto que é impraticável medir diretamente a incidência da infecção do HCV,
pesquisadores têm contado com modelos matemáticos para inferir as tendências da
incidência. Isso tem ocorrido mais freqüentemente em países onde dados de
soroprevalência idade-específica da população estão disponíveis e levam em conta
que a prevalência atual reflete o risco cumulativo de adquirir a infecção (Shepard et
al., 2005).
As principais descrições da epidemiologia do HCV contam apenas com estudos
de soroprevalência. Esses estudos, tipicamente transversais e pontuais, são feitos em
populações pouco representativas tais como a de doadores de sangue, de pacientes
com infecção crônica pelo HCV ou doentes renais crônicos. Estudos baseados em
populações representativas são mais eficazes, porém são impraticáveis na maioria
dos países do mundo, particularmente, naqueles em desenvolvimento (Shepard et al.,
2005).
Os países com maior prevalência de infecção pelo HCV estão localizados na
África e na Ásia, enquanto que na América do Norte, Norte e Oeste da Europa, e
Austrália apresentam menor prevalência. Dentre os países com baixa prevalência a
Alemanha apresenta 0,6%, Canadá 0,8%, França e Austrália 1,1%. A soroprevalência
nos EUA é de 1,8%, no Japão varia entre 1,5-2.3% e na Itália é de 2,2% (Zein, 2000;
Shepard et al., 2005).
Existe uma grande variação nos valores estimados para a prevalência da
hepatite C nos pses em desenvolvimento e, geralmente, são poucos os dados
disponíveis que permitem validar o impacto da doença. Essa variação na prevalência
se reflete nas estimativas não confiáveis dos países em desenvolvimento que estão
entre as nações mais populosas do mundo. China e Índia, que representam juntas
dois quintos da população mundial, possuem registros de soroprevalência em torno
de 3,2% e 0,9%, respectivamente. Para a Indonésia os valores registram 2,1%, mas
são baseados na soroconversão de voluntários doadores de sangue. Dados mais
precisos podem ser obtidos da soroprevalência no Paquistão com valores que variam
38
entre 2,4% e 6,5%. Egito, cuja população é estimada em 73 milhões de indivíduos,
possui uma das maiores soroprevalências com 22% (Shepard et al., 2005; Zein,
2000).
No Brasil, Focaccia et al. (1998) reportou uma prevalência estimada em 1,42%
para a hepatite C na população geral do município de São Paulo. Dados da infecção
do HCV no Brasil mostraram que a prevalência em doadores de sangue para as
diferentes regiões do Brasil: 0,9% a 2,4% para a região Norte; 1,7% a 3,4% para a
região Nordeste; 1,0 a 1,4% para a região Centro-Oeste; 0,8% a 2,8% para a região
Sudeste; e, 1,1 a 2,1% para a região Sul (Campiotto et al., 2005).
Em indivíduos portadores de HCV, vários co-fatores estão associados à
acelerada progressão da fibrose hepática ou ao aumento da incidência das
complicações relacionadas ao HCV como, por exemplo, as complicações da doença
hepática ou hepatocarcinoma celular (HCC). Esses co-fatores incluem sexo
masculino, idade avançada, forma de aquisição da infecção pelo HCV, co-infecção
com HBV e consumo de álcool. São de particular interesse os co-fatores que podem
ser evitados por meio de programas preventivos de saúde pública tais como infecção
com HIV-1, HBV e consumo de álcool (Shepard et al., 2005).
A infecção pelo HCV implicou no aumento da incidência do HCC em muitos
países desenvolvidos como Japão, Espanha, França e Itália, onde a proporção de
casos de HCC atribuída ao HCV varia entre 50% e 70% dos casos. A contribuição do
HCV para a morbidade por HCC é particularmente evidente em países com elevada
prevalência em grupos de idosos como foi verificado em 71% dos idosos infectados
com HCV no Japão, 42% na Indonésia e 11% na China (Zein, 2000; Shepard et al.,
2005).
1.12 O vírus da Hepatite C e a infecção crônica
Aproximadamente, 70% dos 85% de indivíduos que desenvolvem infecção
crônica pelo HCV apresentarão um curso lento, com baixa elevação de ALT e
progressão ou não para cirrose durante algumas décadas. Depressão e fadiga são os
sintomas mais comuns da infecção crônica do HCV. Aproximadamente, 20% das
pessoas com infecção crônica desenvolverão cirrose em um intervalo de 15 a 20 anos,
alguns podem desenvolver cirrose posteriormente e outros podem não desenvolver
39
nenhum dano hepático significativo. A co-infecção com o HIV-1 acelera essa
progressão (Davies, 2005).
As variações no genoma viral que permitem sua replicação mais eficiente à
medida que cada sistema imune do hospedeiro sugere a atuação de seleção genética
Darwiniana. Estudos verificaram que, quando a resposta do sistema imune
enfraquece, o vírus naturalmente apresenta mutação ao longo do conjunto de 3000
aminoácidos o estado mais favorável para o vírus. Durante a fase aguda, sob
intensa pressão imune, o vírus é forçado a distanciar-se do grupo de seqüência
ancestral (a seqüência consenso), usando mutações que permitem escapar do sistema
imune. Uma vez que o rus foi bem sucedido em escapar de um sistema imune em
particular, ocorre reversão na sua seqüência de aminoácidos para o grupo consenso.
Assim é proposto que este direcionamento genético é o mecanismo pelo qual o vírus
escapa da resposta imune aguda e estabelece o estado crônico da infecção (Bowen e
Walker, 2005).
O dano hepático e a oncogênese são causados por distúrbios na apoptose
celular. A injúria do fígado desencadeada pelo HCV é mediada principalmente por
mecanismos imunes do hospedeiro. A via pró-apoptótica pode estar envolvida no
dano hepático enquanto que a inibição da apoptose, modulada por proteínas do HCV
e da célula, pode contribuir para a persistência viral e desenvolvimento do HCC.
Recentemente, demonstrou-se que a proteína E2, em conjunto com a glicoproteína
gp120 do HIV-1 induz a apoptose em hepatócitos (Bantel e Shulze-Osthoff, 2003).
O dano nos hepatócitos não é provocado por efeitos citopáticos da infecção viral,
mas por indução de apoptose nas células infectadas pelo HCV. Os mecanismos
moleculares que causam a apoptose nas células hepáticas durante a infecção aguda e
crônica do HCV ainda não estão completamente definidos (Davies, 2005). Uma
possível explicação para a patogênese da doença hepática é que devido à resposta
celular imune contra o vírus, que inclui linfócitos CD8
+
citotóxicos (CTLs), as células
estreladas hepáticas são ativadas levando à inflamação e fibrose do tecido. Também
tem sido observado que o HCV pode escapar à resposta inata anti-viral do hospedeiro
de rias formas, seja inibindo os genes que estimulam a síntese de interferon ou
mesmo inibindo a sinalização do interferon e bloqueando a proteínas cinases
induzidas por interferon (Mercer et al., 2001).
40
O mecanismo preciso pelo qual o HCV causa o HCC é pouco conhecido.
Diferentemente do HBV, o HCV não é incorporado aos núcleos dos hepatócitos.
Provavelmente, o HCC é resultado de uma série de eventos que envolvem a
inflamação e regenerão, associada com a injúria do fígado devido à hepatite crônica
(Davies, 2005).
Fatores que podem estar relacionados ao aumento do desenvolvimento de HCC,
são: idade, sexo masculino e gravidade da doença hepática. O genótipo viral pode ser
um fator importante, embora as evidências de que a infecção com o genótipo 1b é
mais propensa para o desenvolvimento do HCC ainda não tenham sido confirmadas
em grandes estudos. Nenhuma ligação foi estabelecida entre os níveis de RNA-HCV
no soro e a progressão do HCC (Davies, 2005).
1.13 Tratamento
A terapia para a infecção com HCV é baseada no uso de interferon e é um
componente importante na prevenção da morbidade e mortalidade da infecção do
HCV com taxas de resposta sustentada entre 80-98% (Zein, 2000). A combinação de
terapias de interferon com ribavirina introduzida em 2001 induziu uma resposta
sustentada em 42-82% dos pacientes com hepatite C crônica, dependendo do
genótipo. Em países onde a prevenção primária da infecção foi direcionada à
implementação de práticas seguras do uso de injeções e de transfusões, a prevenção
secundária da morbi-mortalidade da infecção pelo HCV concentrou-se no uso de
terapias baseadas em interferon para as pessoas infectadas (Shepard et al., 2005).
Entretanto, os tratamentos disponíveis ainda apresentam alto custo cerca de
25 mil dólares para uma terapia de 48 semanas para a infecção com o genótipo 1 do
HCV (Shepard et al., 2005; Deuffic-Burban et al., 2007). Um aumento exponencial
para os próximos 10-20 anos, previsto por modelos matemáticos, no número de casos
de doenças hepáticas relacionadas à infecção com HCV deverá dificultar o acesso ao
tratamento, tornando este um grave problema de saúde blica. Uma análise
econômica recente projetou em 10,7 bilhões de dólares as despesas médicas diretas
nos EUA para as doenças relacionadas com o HCV entre 2010 e 2019, baseando-se na
estimativa de crescimento de duas vezes no mero de casos anuais de mortes
relacionadas com o HCV durante estes anos, comparado com 1991. Entretanto, de
acordo com os custos envolvidos com a hepatite C nos últimos anos estas projeções
41
podem se exceder na próxima década (Shepard et al., 2005; Deuffic-Burban et al.,
2007).
1.14 A co-infecção HIV-1/HCV
As infecções pelo HIV-1 e pelo HCV são consideradas problemas de saúde
pública. Atualmente, estima-se que 40 milhões de pessoas estejam infectadas com o
HIV-1 no mundo, e cerca de 3% da população mundial infectada pelo HCV levando a
estimativa de mais de 170 milhões de indivíduos co-infectados por esse vírus
(Rockstroh et al., 2005). A co-infecção HIV-1/HCV é comum na Europa e nos EUA
com aproximadamente 30% dos indivíduos infectados com HIV-1 e 10% dos
pacientes infectados com HCV (Sherman et al., 2002). Sendo assim, estima-se que 17
milhões de pessoas estejam co-infectadas com HIV-1/HCV no mundo. Como o HCV é
um rus de transmissão parenteral, sua incidência é elevada em países onde o HIV-1
se tornou uma epidemia entre usuários de drogas intravenosas, como pode ser
observado em alguns países do leste europeu (Davies, 2005).
Os dois vírus compartilham vias de transmissão percutânea. Portanto, a co-
infecção é comum em indivíduos expostos à essas vias de transmissão (Rockstroh e
Spengler, 2004). O HCV é muito mais infeccioso que o HIV-1 na exposição
percutânea ao sangue, sendo transmitido entre 15 e 30 de 1000 injúrias provocadas
por materiais perfuro-cortantes, comparado com 3 de 1000 do HIV-1 (CDC, 2001). E
ainda, o vírion do HCV é mais resistente podendo continuar infeccioso no ambiente
por pelo menos 16 horas (Kamili et al., 2007) enquanto que o HIV-1 torna-se não
infeccioso em menos de 6 horas (Wei et al., 2003). Além disso, as taxas de replicação
do HCV são mais elevadas do que as do HIV-1, resultando em elevada viremia, o que
por si só constitui um fator para a transmissão (Davies, 2005).
Dados de prevalência da co-infecção HIV-1/HCV são raros. Estimativas de
prevalência da co-infecção em pessoas HIV-1 soropositivas nos EUA e na Europa
variam entre 16% e 33% (Davies, 2005; Rockstroh et al., 2005; Swan e Raymond,
2004; Rockstroh e Spengler, 2004).
O HCV é encontrado em 60 a 90% dos hemofílicos HIV-1 soropositivos e em 50
a 70% dos usuários de drogas intravenosas (Rockstroh e Spengler, 2004). Cerca de
30% dos indivíduos infectados pelo HIV-1 estão co-infectados pelo HCV nos Estados
Unidos (Rockstroh et al., 2005).
42
Nos países em desenvolvimento, os dados são escassos para que a prevalência
da co-infecção possa ser estimada. Nessas regiões, o uso de drogas injetáveis é um
comportamento menos comum e a transmissão heterossexual é responsável pela
maioria dos novos casos de HIV-1. Apesar da transmissão sexual do HCV ainda não
ser bem compreendida, a estimativa de prevalência da co-infecção HIV-1/HCV nos
países em desenvolvimento se baseia no principal fator de risco para a transmissão
do HIV-1. São poucos os estudos de soroprevalência do HCV entre indivíduos HIV-1
soropositivos que contraíram o vírus por relação heterossexual e dados sobre co-
infecção HIV-1/HCV em pessoas com exposição freqüente à injeções terapêuticas não
esterilizadas. No entanto, recentes estudos sobre um surto de infecção com HIV-1 e
HCV ocorrido na bia, relacionado ao uso de equipamentos hospitalares não
esterilizados, mostraram que 47% das mais de quatrocentas crianças atendidas em
um hospital foram co-infectadas com ambos os vírus (de Oliveira et al., 2006;
Shepard et al., 2005).
Na Argentina, a prevalência da co-infecção varia entre 5,8% e 88,3% (Consenso
Argentino, 2005). Fainboim et al. (1999) ao estudar 484 pacientes HIV-soropositivos
observou que 58,5% estavam co-infectados com HCV, embora 48,3% desses
pacientes fossem usários de drogas intravenosas. No Brasil, existem poucos dados
sobre pacientes co-infectados por HIV-1/HCV. A prevalência da co-infecção varia
entre 17,5% e 95% em diferentes estudos realizados com diferentes populações de co-
infectados (Mendes-Corrêa e Barone, 2005).
Em contraste, a transmissão sexual do HCV é rara, o que explica a baixa
freqüência (4 a 8%) das co-infecções em pacientes homossexuais infectados pelo
HIV-1. A prevalência da transmissão sexual não é significativa entre parceiros
heterossexuais monogâmicos infectados apenas com HCV (Halfon et al., 2001a); no
entanto, é mais expressiva entre os homossexuais masculinos HIV-1 soropositivos
(Matthews-Greer et al., 2001).
A co-infecção com HIV-1/HCV aumenta o risco da transmissão perinatal, e
mães com alta carga viral de HCV apresentam risco maior de transmissão perinatal
do HCV (Rockstroh e Spengler, 2004). O risco de transmissão vertical do HCV
aumenta de 2-5% dos recém nascidos de mães infectadas com HCV para 17-20% caso
a mãe esteja co-infectada com HIV-1. E ainda, diferentemente do que já foi descrito
43
para o HIV-1, não se observou associação entre a amamentação e aquisição do HCV
(Roberts e Yeung, 2002).
As evidências sugerem que o HCV se comporta como uma infecção oportunista
em indivíduos infectados com o HIV-1. Após a introdução da terapia anti-retroviral,
os indivíduos co-infectados apresentaram uma maior progressão da doença hepática
e, em conseqüência, uma menor sobrevida. O HCV pode aumentar a morbidade e
mortalidade relacionada ao HIV-1. Devido ao aumento da hepatotoxicidade da
terapia anti-retroviral em indivíduos co-infectados, a infecção pelo HCV pode
comprometer o resultado do tratamento para o HIV-1 (Hall et al, 2004).
O efeito da infecção do HCV na progressão da doença do HIV-1 permanece
controverso (Dorrucci et al., 2004). Possivelmente, a associação entre a terapia anti-
retroviral com as diferentes características da resposta imune e da doença por HCV
possam explicar os resultados contraditórios que têm sido descritos até hoje (Caudai
et al., 2005).
Estudos realizados na era pré-HAART (Terapia anti-retroviral - Highly Active
Antiretroviral Therapy) falharam em demonstrar que o HCV acelera a progressão da
doença causada pelo HIV-1 por meio da avaliação de parâmetros clínicos e
imunológicos. Apesar disso, o HCV é considerado co-fator na progressão da doença
do HIV-1 estimulando a replicação do HIV-1 por meio de uma resposta imune não-
específica, favorecendo a depleção do grupo de células CD4 por meio da infecção de
células do sistema imune, comprometendo a recuperação imune da qual depende o
sucesso da terapia anti-retroviral e, finalmente, o HCV pode comprometer o benefício
da HAART elevando a incidência de hepatotoxicidade e descontinuidade do
tratamento (Greub et al., 2000; Swan e Raymond, 2004).
O uso da HAART tem reduzido drasticamente a morbidade e a mortalidade nos
indivíduos infectados pelo HIV-1. Entretanto, paralelamente ao sucesso da terapia, a
hepatite C tem emergido como a principal causa de morte em indivíduos HIV-1
soropositivos, devido à alta prevalência do HCV nessas populações e ao aumento de
sua patogenicidade na co-infecção com o HIV-1 (Braitstein et al, 2004).
Os indivíduos co-infectados que recebem tratamento para HCV apresentam
uma resposta virológica sustentada menor sendo 40% nos pacientes HIV-1
soropositivos contra 55% nos HIV-1 soronegativos. Entre os infectados com o
genótipo 1 do HCV a resposta virológica sustentada é 29% quando são HIV-1
44
soropositivos contra 45% quando são HIV-1 soronegativos. A eficácia da resposta ao
tratamento para HCV é limitada por numerosos fatores, entre os quais se incluem a
contra-indicação para o tratamento, os elevados custos, o direcionamento do
tratamento, a prevalência maior do genótipo 1, e a co-infecção com HIV-1 (Braitstein
et al, 2004).
O efeito da HAART no perfil de quasispecies dos indivíduos co-infectados com
HIV-1/HCV ainda não foi descrito. Dado o valor do potencial preditivo da variação
das quasispecies como marcador para a doença relacionada ao HCV e à resistência ao
interferon, a determinação de como a HAART afeta a diversidade genética do HCV
fornece importantes implicações no entendimento do curso da doença do HCV no
ambiente da infecção com HIV-1, além disso, ajuda a ter uma melhor definição do
tratamento terapêutico dos indivíduos co-infectados (Swan e Raymond, 2004; Greub
et al., 2000).
Existe pouca evincia de que haja uma interação direta entre o HIV-1 e o HCV
no fígado. O HIV-1 é linfotrópico e não infecta hepatócitos diretamente. Por outro
lado, o HCV que é um rus hepatotrópico parece ser linfotrópico visto que
seqüências virais foram amplificadas a partir de células mononucleares periféricas
(PBMCs) de indivíduos infectados. A infecção de células extra-hepáticas pode
constituir um reservatório que poderia favorecer a seleção de variantes do HCV e dos
mecanismos de persistência viral. De fato, a recorrência quase universal de infecção
pelo HCV após transplantes de fígado corrobora a existência de sítios extra-hepáticos
onde o HCV pode persistir e replicar (Davies, 2005).
45
2. JUSTIFICATIVAS E OBJETIVOS
Pouca informação está disponível acerca da infecção pelo HCV em indivíduos
HIV-1 soropositivos na América Latina e no Brasil (Mendes-Corrêa e Barone, 2005).
Existem poucos dados sobre a população de co-infectados com HIV-1/HCV e a
prevalência dos genótipos é relatada para as infecções de forma separada nas
diferentes populações. Alguns estudos têm relatado a co-infecção HIV-1/HCV na
população de usuários de drogas injetáveis, nas quais o genótipo 1 do HCV apresenta
maior prevalência (Shire e Sherman, 2005; Garten et al., 2005).
A genotipagem do HCV é um importante marcador epidemiológico e, em
combinação com outros métodos, pode auxiliar no controle da infecção crônica e no
prognóstico da terapia com interferon (Ichimura et al., 1994; Pozzato et al., 1995;
Martins et al., 1998; Zein, 2000; Lauer et al., 2001).
Dentre os fatores que interferem na resposta ao tratamento antiviral e que
podem variar de acordo com genótipo ou subtipo do HCV estão a patogenicidade da
infecção, o perfil demográfico dos pacientes e a detecção viral nos testes de
diagnósticos (Carvalho, 1999).
Em pacientes co-infectados com HIV-1 e HCV o genótipo do HCV pode ser
usado como prognóstico para reposta ao tratamento, pois as infecções com genótipos
2 e 3 apresentam uma resposta significativa quando são tratados durante um ano
com interferon peguilado e ribavirina (Forns e Costa, 2006).
Na região Centro-Oeste do país existe uma carência de dados sobre a
variabilidade genotípica do HCV encontrado nas diferentes populações de indivíduos
mono- e co-infectados.
Em 2003 nosso grupo de pesquisa realizou a caracterização molecular do HCV
em população de doadores de sangue do Distrito Federal (Amorim, 2003) e,
recentemente, vem trabalhando com outras populações de mono-infectados pelo
HCV, tais como as populações de doentes renais crônicos e população em geral.
No sentido de caracterizar molecularmente a infecção do HCV em populações
de co-infectados com outros vírus e, com vistas a ampliar o conhecimento acerca dos
genótipos e subtipos que infectam a população de co-infectados com HIV-1/HCV no
Distrito Federal e Entorno o presente trabalho tem como objetivos específicos:
46
Caracterizar os genótipos de HCV e sua prevalência na população de indivíduos
co-infectados com HIV-1/HCV;
Caracterizar os subtipos de HCV e sua prevalência na população de indivíduos co-
infectados com HIV-1/HCV do Distrito Federal;
Estabelecer uma correlação entre os genótipos obtidos por meio de
seqüenciamento da região 5‟UTR com aqueles obtidos para a região NS5B do genoma
do HCV;
Realizar a análise filogenética das seqüências obtidas das amostras para
confirmação dos genótipos obtidos para a população de co-infectados com HIV-
1/HCV;
Comparar dados da prevalência de genótipos e subtipos encontrados em co-
infectados com HIV-1/HCV com dados disponíveis.
47
3. MATERIAIS E MÉTODOS
3.1 População Estudada
A população estudada consistiu de 45 indivíduos co-infectados com HIV-1/HCV
atendidos pelos serviços públicos de assistência à saúde no Distrito Federal. As
amostras analisadas foram encaminhadas ao Laboratório Central de Saúde blica
do Distrito Federal (LACEN-DF) para a realização de exames qualitativos,
quantitativos ou de genotipagem do HCV. O trabalho foi submetido e aprovado pelo
Comitê de Ética e Pesquisa do Distrito Federal.
Este é um estudo anônimo, transversal e descritivo, de série histórica, onde
foram analisadas amostras coletadas durante o período de 2004 a 2006, de
indivíduos co-infectados com HIV-1/HCV residentes do Distrito Federal e Entorno,
atendidos pela rede pública de saúde do Distrito Federal.
A representatividade da população foi calculada utilizando-se o programa
Statcalc (EPIINFO 6.0), para um intervalo de confiança de 99,9%. Para tanto, foi
considerada a população estimada de 30% de indivíduos co-infectados com HCV
(http://www.hepatites.com.br/sc/hepatite/web/noticias/default.aspx?IDNoticia=36208)
entre o número total de indivíduos HIV-1 soropositivos do Distrito Federal (n=5000).
Utilizou-se a freqüência de 90% para o menor resultado de amplificação e 98% como
freqüência de amplificação esperada.
3.2 Coleta das amostras
As 45 amostras foram coletadas de indivíduos comprovadamente co-infectados
com HIV-1/HCV atendidos no Distrito Federal e Entorno. Para a realização dos
experimentos foi coletada uma alíquota de 140 μL do plasma de cada amostra que foi
encaminhada ao laboratório em recipiente térmico e foi armazenada em temperatura
de -80ºC para posterior extração do RNA.
3.3 Extração de RNA e Transcrição Reversa
O RNA do plasma foi extraído utilizando um kit comercial QIAamp Viral RNA
(Qiagen) em um volume final de 60 μL conforme o protocolo indicado pelo
fabricante. A reação de transcrição reversa foi realizada em um volume final de 20
μL, a partir da extração do RNA. Inicialmente, uma solução contendo 0,02 μg de
48
oligonucleotídeos randômicos, 5,00 μg de RNA viral total, 0,5 mM de cada dNTP
(dATP, dCTP, dGTP, dTTP) (Invitrogen, Life Technologies) e água Milli-Q para um
volume final de 13 μL, foi mantida a 65ºC por 5 minutos e, imediatamente,
transferida para um recipiente com gelo por 1 minuto. Adicionou-se, em seguida, 0,75
de tampão first-strand (Invitrogen, Life Technologies), 5 mM de ditiotreitol (DTT),
100 mM de inibidor de RNAse (Pharmacia Biotech) e 200U da enzima SuperScript®
Transcriptase Reversa (Invitrogen, Life Technologies). Esta reação foi inicialmente
incubada a 25 ºC por 5 minutos e, em seguida, a 50 ºC por 60 minutos. A reação foi
interrompida com a inativação da enzima a 70ºC por 15 minutos. O cDNA sintetizado
foi armazenado a -20ºC.
3.4 Amplificação pela nested-PCR
O cDNA obtido foi amplificado por meio de nested-PCR, utilizando-se
iniciadores específicos para as regiões 5‟UTR e NS5B do HCV (Tabela 1) (Ginabreda
et al., 1997; Chen e Weck, 2002). No primeiro ciclo foram usados os iniciadores
externos e, no segundo ciclo, os iniciadores internos das respectivas regiões
genômicas.
Para a amplificação do fragmento da região NS5B entre os nucleotídeos 7935 e
8266 foram utilizados no primeiro ciclo, os iniciadores S1 e AS1 (Integrated DNA
Technologies) e, no segundo ciclo, os iniciadores S2 e AS2 (Integrated DNA
Technologies) (Chen e Weck, 2002) (Tabela 1).
Para a amplificação do fragmento entre os nucleotídeos -258 e -50 da região
5‟UTR foram utilizados no primeiro ciclo os iniciadores P7 e P8 (Integrated DNA
Technologies) e no segundo ciclo os iniciadores P10 e P17 (Integrated DNA
Technologies) (Ginabreda et al., 1997). As seências e as posições de alinhamentos
no genoma do HCV podem ser observadas na tabela 1.
O primeiro ciclo de amplificação para 5‟UTR foi realizado em um volume final
de 50,0 µL contendo, respectivamente, 1,0 µL de cDNA, 0,2 mM de dNTPs
(Invitrogen, Life Technologies), 0,8 µM dos iniciadores externos P7/P8 (Integrated
DNA Technologies), 1,25 U da enzima Taq DNA Polimerase (Invitrogen, Life
Technologies), 1X de tampão da enzima (Invitrogen, Life Technologies), 5 mM de
cloreto de magnésio (Invitrogen, Life Technologies) e água Milli-Q qsp 50,0 µL. As
reações foram realizadas em termociclador (PTC-100 Research Inc) com os
49
parâmetros dos ciclos térmicos descritos na Tabela 1. Um microlitro do produto de
PCR foi submetido a um segundo ciclo de amplificação usando os iniciadores internos
P10/P17 (Integrated DNA Technologies) sob as mesmas condições de amplificação
do primeiro ciclo.
O primeiro ciclo de amplificação para NS5B foi realizado em um volume final de
50,0 µL contendo, respectivamente, 5,0 µL de cDNA, 0,2 mM de dNTPs (Invitrogen,
Life Technologies), 0,8 µM dos iniciadores externos S1/AS1 (Integrated DNA
Technologies), 1,25 U da enzima Taq DNA Polimerase (Invitrogen, Life
Technologies), 1X de tampão da enzima (Invitrogen, Life Technologies), 5 mM de
cloreto de magnésio (Invitrogen, Life Technologies) e água Milli-Q qsp 50,0 µL . Os
parâmetros dos ciclos térmicos estão descritos na Tabela 1. Um microlitro do produto
da primeira amplificação foi submetido a um segundo ciclo usando os iniciadores
internos S2/AS2 (Integrated DNA Technologies) nas mesmas condições do primeiro
ciclo, porém, usando 25 ciclos de amplificação.
Tabela 1. Seqüência e local de alinhamento dos iniciadores externos e internos usados no
estudo, e parâmetros dos ciclos térmicos do nested-PCR para as regiões genômicas NS5B e 5‟UTR do
HCV.
Regiões
genômicas
Ciclo
Seqüências e Posição de Alinhamento dos
Iniciadores
Parâmetros da PCR
NS5B
S1 (7904 a
7922): 5‟TGGGGTTCTCGTATGATACCC3‟
AS1 (8295 a 8275): 5‟CCTGGTCATAGCCTCCGTGAA3‟
95ºC - 1 min
95ºC - 20 s
54ºC - 30 s 40 ciclos
72ºC - 1 min
72ºC - 10 min
S2 (7916 a 7935): 5‟GATACCCGCTGCTTTGACTC3‟
AS2 (8284 to 8266): 5‟CCTCCGTGAAGGCTCTCAG3‟
95ºC - 1 min
95ºC - 20 s
54ºC - 30 s 25 ciclos
72ºC - 1 min
72ºC - 10 min
5’UTR
P7 (-304 a -280): 5‟CACTCCCCTGTGAGGAACTACTGTC3‟
P8 (+3 a -23): 5‟ATGGTGCACGGTCTACGAGACCTCC3‟
94ºC - 2 min
94ºC - 15 s
55ºC - 45 s 35 ciclos
72ºC - 1 min
72ºC - 7 min
P17 (-279 a -258): 5‟TTCACGCAGAAAGCGTCTAGCC3‟
P10 (-26 a -50): 5‟GGGCACTCGCAAAGCACCCTATCAGG3‟
94ºC - 2 min
94ºC - 15 s
55ºC - 45 s 35 ciclos
72ºC - 1 min
72ºC - 7 min
As amostras amplificadas por nested-PCR foram submetidas à eletroforese em
gel de agarose na concentração de 1%. Brometo de etídio foi utilizado para impregnar
e permitir a visualização dos fragmentos de DNA. Controles negativos foram
50
incluídos durante os procedimentos de amplificação para monitorar possíveis
contaminações.
3.5 Clonagem
Para as amostras que precisaram de confirmação dos resultados de genotipagem
foi realizada a reação de ligação dos produtos de PCR no plasmídeo pGEM®-T easy
(Promega) seguindo as instruções do fabricante.
Os plasmídeos foram utilizados para transformar bactérias Escherichia coli da
linhagem DH5, pelo método de choque térmico. Inicialmente, 10 L da solução
contendo os plasmídeos foram incubados com 300 L das células competentes no
gelo por 40 minutos. Em seguida, as células foram submetidas a 42 °C por 2 minutos,
em banho-maria, e novamente transferidas para o banho de gelo por 1 minuto. Foram
adicionados 700 L de meio líquido 2xYT (1,6 mg/mL de triptona, 1,0 mg/mL de
extrato de levedura e 85,6 mM de NaCl), que em seguida foi incubado a 37 °C por 1
hora. Após a incubação, os tubos foram centrifugados por 5 minutos a 3000 rpm
(Jouan S.A. A14/V1), e 700 L foram removidos por aspiração. As bactérias foram
espalhadas em placas de Petri contendo meio sólido 2xYT, com 16,7 ηmol de IPTG,
800 ηg de X-Gal e 4mg/mL de ampicilina.
As placas de Petri foram incubadas overnight em estufa a 37 °C. Os clones
recombinantes foram selecionados e incubados overnight a 37°C sob agitação em
meio líquido 2xYT, contendo 4mg/mL de ampicilina. O DNA plasmidial foi extraído
utilizando-se o Kit Sephaglas FlexiPrep™ (GE Healthcare) seguindo as instruções do
fabricante.
O DNA plasmidial foi utilizado como molde para amplificação por PCR,
utilizando os iniciadores universais M13. A reação foi realizada em um volume final
de 50 L, contendo: 1 L do DNA plasmidial, 0,2 mM de dNTPs (Invitrogen), 0,4 M
dos iniciadores M13F/M13R (Integrated DNA Technologies), 1,25 U da enzima Taq
DNA Polimerase (Invitrogen), 1X de tampão da enzima (Invitrogen) e 1 mM de
cloreto de magnésio (Invitrogen). As seguintes condições foram adotadas:
desnaturação a 94°C por 2 minutos, seguidos de 35 ciclos de desnaturação a 94°C por
30 segundos, anelamento dos iniciadores a 55°C por 25 segundos e extensão a 72°C
por 30 segundos.
51
Os clones amplificados foram submetidos à eletroforese em gel de agarose na
concentração de 1%. Brometo de etídio foi utilizado para permitir a visualização dos
fragmentos de DNA. Controles negativos foram incluídos durante os procedimentos
de amplificação, para monitorar possíveis contaminações.
3.6 Caracterização dos genótipos
3.6.1 Seqüenciamento automático
Os produtos de nested-PCR foram seqüenciados automaticamente, pelo menos
duas vezes, somente no sentido senso, utilizando-se os iniciadores internos P17
(Ginabreda et al., 1997) para 5‟UTR e S2 (Chen e Weck, 2002) para NS5B. As reações
de seqüenciamento nucleotídico foram realizadas no laboratório de Biologia
Molecular da Universidade de Brasília, utilizando-se o Kit ET-Terminator, no
Sistema Molecular Dynamics MegaBACE 500 plus (GE Healthcare) e no laboratório
Plataforma de Seqüenciamento de DNA da EMBRAPA-CENARGEN utilizando-se o
Kit ABI PRISM® BigDye™ Terminator Cycle Sequencing Ready Reaction versão 3.1
(Applied Biosystems).
3.6.2 Análise das seqüências
A qualidade das seqüências obtidas nas reações de seqüenciamento automático
foi verificada pelo programa PHRED (Ewing and Green, 1998). A homologia das
seqüências nucleotídicas com seqüências depositadas no banco genômico do HCV foi
determinada pelo programa HCV-BLAST (Basic Local Alignment Search Tool)
(Karlin, e Altschul, 1990; Karlin, e Altschul, 1993), disponível no tio HCV Sequence
Database (http://hcv.lanl.gov) (Kuiken et al., 2005). A seqüência mais similar à
amostra foi considerada.
3.6.3 Análise filogenética
Para a realização das análises filogenéticas, as seqüências dos isolados do
Distrito Federal (DF) foram alinhadas com seências referência dos genótipos 1, 2, 3
e 4 do HCV, obtidas no sítio do HCV Sequence Database (http://hcv.lanl.gov), pela
ferramenta ClustalW Multiple Alignment (Thompson et al., 1994). As regiões com
falta de informação de seqüência para qualquer uma das amostras foram descartadas
52
de todas as seqüências. Foi utilizado um fragmento de no mínimo 208 nucleotídeos
correspondendo ao gene NS5B e 198 nucleotídeos correspondendo à região 5‟UTR.
A análise de Maximum likelihood PHYLIP package (Felsenstein, 1981) foi
utilizada para o estudo das relações filogenéticas de HCV. Os valores de bootstrap
foram calculados pelo método neighbor joinning com fator de correção de 2
parâmetros de Kimura (Kimura, 1980). A confiabilidade das árvores foi avaliada pela
análise de 1000 réplicas (bootstrap). Foram usadas como grupo externo a seqüência
referência do genótipo 5a para NS5B e 2e para 5‟UTR. As árvores foram desenhadas
com o programa TreeView 1.6.6 (Page, 1996).
53
4. RESULTADOS
4.1 Caracterização da população de co-infectados
Nesse estudo foram analisadas 45 amostras de plasma de indivíduos reagentes
para anti-HCV e co-infectados com HIV-1, atendidos no DF e Entorno, que
realizaram exames no LACEN-DF. O cálculo dessa amostragem, representativa da
população alvo, foi realizado no programa Statcalc (EPIINFO 6.0), considerando-se o
total de 5000 indivíduos HIV-1 soropositivos no DF no ano de 2006 e uma
soroprevalência de 30% do anti-HCV, com um intervalo de confiança de 99,9%
A faixa etária dos pacientes variou de 15 a 52 anos com média de 41 anos. A
freqüência de pacientes com mais de 40 anos foi de 71,11% (32/45). O sexo que
predominou foi o masculino, com 60% (27/45) do total. Entre os pacientes, 77,77%
(35/45) tiveram contagem de células CD4 abaixo de 200 céls/µL, caracterizando
quadro de Síndrome da Imunodeficncia Adquirida AIDS.
A procedência da maior parte dos pacientes foi do Distrito Federal, com um
percentual de 86,66% (39/45), três pacientes foram provenientes de Goiás, um de
Minas Gerais e dois de São Paulo.
4.2 Transcrição reversa e amplificação pela nested-PCR
No presente trabalho, 45 amostras de RNA total foram transcritas reversamente
e as regiões genômicas 5‟UTR e NS5B foram amplificadas pela nested-PCR. As
amostras amplificadas foram submetidas à eletroforese em gel de agarose a 1%,
posteriormente corado com brometo de etídio. Os produtos de PCR obtidos
apresentaram aproximadamente 253 pares de base (pb) para 5‟UTR e 331 pb para
NS5B (Figura 7). Adicionaram-se controles negativos durante os procedimentos de
amplificação para monitoramento de possíveis contaminações.
54
Figura 7. Análise eletroforética dos produtos de PCR das regiões genômicas 5‟UTR (a) e NS5B
(b) em gel de agarose 1% impregnado com brometo de etídio. Os poços com o número 1 representam
os fragmentos amplificados para as duas regiões genômicas, de acordo com o tamanho esperado para
5‟UTR (≈253 pb) e NS5B (≈331 pb). M1 = marcador DNA ladder 100 pb (Ludwig Biotecnologia), M2 =
marcador DNA ladder 100 pb (Invitrogen) e CN = controle negativo.
Do total de 45 amostras avaliadas para a região 5‟UTR, 40 amostras (89%)
tiveram o cDNA amplificado pela nested-PCR e em 5 amostras (11%) não foi possível
estabelecer uma amplificação. A análise da carga viral do HCV revelou que todas as 5
amostras apresentaram valores abaixo do limite de detecção (< 615 UI/ml) nos
exames quantitativos realizados no LACEN-DF (Tabela 2).
Do total de 45 amostras avaliadas para a região NS5B obteve-se a amplificação
de 33 amostras (73%) e para 12 amostras (27%) não foi possível estabelecer uma
amplificação. Por meio da análise dos resultados dos exames de carga viral do HCV
realizados no LACEN-DF verificou-se que das 12 amostras PCR negativas testadas, 10
amostras apresentaram carga viral menor que 615 UI/mL e 2 amostras apresentaram
carga viral maior que 615 UI/mL (Tabela 2).
Tabela 2. Relação dos resultados de amplificação por nested-PCR para as regiões genômicas de
5‟UTR e de NS5B do HCV com os resultados de carga viral do HCV realizados com as amostras de
indivíduos co-infectados com HIV-1 e HCV do Distrito Federal.
5’UTR
NS5B
Carga viral HCV
PCR +
PCR -
TOTAL
PCR +
PCR -
TOTAL
< 615 UI/ mL
8
5
13
3
10
13
> 615 UI/ mL
32
0
32
30
2
32
TOTAL
40
5
45
33
12
45
B
a
A
a
500 pb
300 pb
M
1
1 CN
M
2
CN 1
600 pb
400 pb
253 pb
≈331 pb
55
4.3 Genotipagem
4.3.1 Definição dos Genótipos do HCV com base na análise das regiões genômicas
5’UTR e NS5
O seqüenciamento automático foi realizado no sentido senso para as 40
amostras amplificadas para a região de 5‟UTR e para as 33 amostras amplificadas
para NS5B. Desse total, todas as 40 amostras amplificadas para 5‟UTR apresentaram
seqüências satisfatórias para realização da genotipagem por seqüenciamento. No
entanto, somente 31 das 33 amostras amplificadas para NS5B apresentaram
seqüências satisfatórias para a realização da genotipagem e 2 amostras amplificaram,
mas não produziram seqüências com qualidade o suficiente para permitir a correta
identificação dos genótipos do HCV pelo programa HCV-BLAST (Tabela 3).
Tabela 3. Número de amostras amplificadas por nested-PCR e seqüenciadas automaticamente
para as regiões 5‟UTR e NS5B do HCV e número de seqüências usadas na genotipagem pelo programa
HCV-BLAST (Kuiken et al., 2005).
Região genômica
Amplificação e Seqüenciamento
Genotipagem
5’UTR
40
40
NS5B
33
31
Os genótipos e subtipos do HCV foram definidos de acordo com a similaridade
das seqüências analisadas por meio do programa HCV-BLAST (Karlin, e Altschul,
1990; Karlin, e Altschul, 1993), onde as mesmas são alinhadas com as seqüências do
HCV disponíveis no banco genômico do HCV - HCV Sequence Database no sítio
(http://hcv.lanl.gov) (Kuiken et al., 2005).
Trinta e uma amostras foram genotipadas para ambas as regiões genômicas
(Tabela 4). Dentre essas amostras o genótipo 1 apresentou prevalência de 81%,
seguido pelo genótipo 3 com 10% e genótipo 2 com 6% (Figura 8).
56
Tabela 4. Número de amostras e os respectivos genótipos do HCV encontrados por meio
da análise da homologia das seqüências das regiões 5‟UTR e NS5B do HCV no programa HCV-BLAST
(Kuiken et al., 2005).
Genótipo HCV
5’UTR
NS5B
1
34
25
2
2
2
3
3
4
4
1
0
TOTAL
40
31
A concordância obtida entre os resultados de genotipagem para as regiões
genômicas de 5‟UTR e NS5B do HCV foi de 97%, com 30 das 31 amostras
apresentando subtipos concordantes para ambas as regiões genômicas (Tabela 5).
Tabela 5. Número de amostras e os respectivos subtipos do HCV encontrados para as
regiões 5‟UTR e NS5B do HCV por meio da análise da homologia das seqüências no programa HCV-
BLAST (Kuiken et al., 2005).
Subtipo HCV
5’UTR
NS5B
1a
27
24
1b
2
1
1a/1b
5
0
2b
2
2
3a
3
4
4c/4d
1
0
Total
40
31
Sendo assim, 77% foram classificadas como subtipo 1a, 3% como subtipo 1b,
10% como subtipo 3a, e 6% como subtipo 2b (Figura 8). Todas as amostras 2b
tiveram seus genótipos confirmados por clonagem, purificação e seqüenciamento.
57
Figura 8. Gráficos com prevalênica de genótipos e subtipos de HCV no DF. Porcentagem de
genótipos e subtipos do HCV obtidos por meio de seqüenciamento das regiões 5‟UTR e NS5B do HCV
nos indivíduos co-infectados com HIV-1/HCV analisados no presente estudo.
Uma amostra (3%), entre as 31, apresentou divergência de genótipo encontrado
na análise das duas regiões genômicas, caracterizando-se subtipo 3a quando foi
analisada a seqüência de NS5, e subtipos 1a e 1b quando foi analisada a seqüência de
5‟UTR. Sendo assim, a concordância dos resultados de genotipagem realizados para
as regiões genômicas 5‟UTR e NS5B do HCV foi de 97% entre os genótipos
encontrados para o HCV, mas obteve 90% de concordância quando a análise verificou
o subtipo da amostra (Tabela 6).
Tabela 6. Concordância na genotipagem do HCV por meio de comparação da análise das
seqüências das regiões genômicas 5‟UTR e NS5B de amostras de indivíduos co-infectados com HIV-
1/HCV do presente estudo.
n=3
1
Concordância entre resultados de genotipagem com as regiões 5’UTR
e NS5B
Genótipo
30
97%
Subtipo
28
90%
Para as 9 amostras que foram amplificadas e genotipadas apenas para a região
5‟UTR os resultados de genotipagem encontrados são apresentados na tabela 7 a
seguir. Dessas destaca-se uma amostra cuja seqüência apresentou similaridade com
os subtipos 4c e 4d do HCV. Esse resultado de genotipagem foi confirmado por meio
da análise de hibridização do produto da PCR (INNO-LiPA, Innogenetics) no
LACEN-DF.
58
Tabela 7. Amostras genotipadas somente para a região 5’UTR do HCV por meio da análise
da homologia das seqüências no programa HCV-BLAST (Kuiken et al., 2005).
Amostra
Resultado da Genotipagem para 5’UTR
5
1a
10
1a
15
1a
22
1a
23
1a
32
1b
37
4c/4d
43
1a
45
1a/1b
4.3.2 Análise Filogenética
A análise filogenética foi realizada utilizando-se o programa PHYLIP
(Felsenstein, 1981), para as seqüências obtidas com o mínimo de 198 nucleotídeos
para as regiões de 5‟UTR e 208 para NS5B. Desse modo, 38 amostras caracterizadas
para 5‟UTR foram utilizadas na análise filogenética juntamente com as seqüências
referência dos subtipos 1a (>1a.GB.Glasgow.AY885238_), 1b (>1b.DE.HCV-
AD78P1.AJ132997_), 3a (>3a._.CB.AF046866_), 2b (>2b.JP.HC-J7.D10077_) e
seqüências provenientes do banco genômico 4c (número de acesso: AY766511) e 4d
(AY766523). Como grupo externo, utilizou-se a seqüência referência do genótipo 2e
(>2e.ID.JK020.D49745_) (Figura 9).
Para a análise filogenética de NS5B foram usadas 27 amostras mais as
seqüências referência dos subtipos 1a (>1a._.H77.NC_004102_), 1b (>1b.CN.HCV-
S.AY460204_), 3a (>3a.DE.HCVCENS1.X76918_) e 2b (>2b.JP.HC-J8.D10988_)
tendo como grupo externo a seqüência referência do genótipo 5a
(>5a._.FR741.D50466_) (Figura 10).
59
Figura 9. Análise filogenética da região 5’UTR do HCV em amostras de co-infectados
com HIV-1. Árvore de máxima verossimilhança enraizada com HCV 2e como grupo externo. Os
valores nos ramos correspondem aos valores de bootstrap calculados pelo método neighbor joinning
com fator de correção de 2 parâmetros de Kimura em 1000 réplicas. São mostrados valores de
bootstrap acima de 70%. O valor da barra de escala no canto esquerdo inferior de cada figura
representa a distância genética em substituições por nucleotídeo do fragmento analisado. As setas
vermelhas indicam os subtipos de referência.
0.1
2e 5'UTR
28
2b 5'UTR
27
21
3a 5'UTR
26
39
38
4c 5'UTR
4d 5'UTR
37
23
40
19
12
43
07
08
44
36
45
17
14
31
06
04
47
33
24
1b 5'UTR
29
13
32
30
22
15
10
1a 5'UTR
11
34
41
09
03
01
94%
100%
77%
70%
70%
60
Figura 10. Análise filogenética da região NS5B do HCV em amostras de co-infectados
com HIV-1. Árvore de máxima verossimilhança enraizada com HCV 5a como grupo externo. Os
valores nos ramos correspondem aos valores de bootstrap calculados pelo todo neighbor joinning
com fator de correção de 2 parâmetros de Kimura em 1000 réplicas. São mostrados valores de
bootstrap acima de 70%. O valor da barra de escala no canto esquerdo inferior de cada figura
representa a distância genética em substituições por nucleotídeo do fragmento analisado. As setas
vermelhas indicam os subtipos de referência.
0.1
5a NS5B
09
30
19
1a NS5B
08
41
13
01
07
17
03
29
36
12
40
33
47
14
04
24
11
1b NS5B
06
38
3a NS5B
39
21
26
2b NS5B
28
27
100%
100%
87%
100%
61
Como pode ser observado nas figuras 9 e 10, todas as amostras agruparam com
as seqüências de referência dos genótipos correspondentes, com um valor mínimo de
bootstrap de 70% na árvore de 5‟UTR e de 87% na árvore de NS5B. Também pode ser
observado que em ambas as árvores as amostras não formaram subgrupos distintos
evidenciando uma transmissão que não possui a mesma origem. Além disso, todos os
isolados de referência do mesmo genótipo formaram grupos bem caracterizados, com
valores de bootstrap acima de 70%, evidenciando a confiabilidade da análise.
A confirmação dos genótipos para cada região genômica foi baseada nos
agrupamentos observados na análise filogenética com um valor de bootstrap igual ou
superior a 70%. A análise em conjunto dos genótipos detectados por meio da análise
das seqüências pelo programa HCV-BLAST (Kuiken et al., 2005) das regiões
genômicas de 5‟UTR e NS5B, bem como a análise filogenética, permitiu a
classificação em genótipos para todas as 40 amostras e em subtipos para 38
amostras. Assim, as amostras 17, 21 e 47, que apresentaram genótipos ou subtipos
divergentes na análise das seqüências pelo programa HCV-BLAST (Kuiken et al.,
2005) foram, finalmente, classificadas de acordo com os agrupamentos observados
nas árvores. O subtipo não pode ser definido para as amostras 37 e 45, pois as
mesmas não tiveram a seqüência de NS5B analisada devido à baixa carga viral e à
ausência de conservação dessa região, impossibilitando a amplificação para essa
região. Além disso, a análise filogenética de 5‟UTR não permitiu a distinção entre os
subtipos, pois não houve formação de aglomerado com valor de bootstrap
significativo separando os subtipos 1a de 1b e 4c de 4d (Figura 9). Os resultados
obtidos pela análise de similaridade e confirmados pela análise filogenética estão
sumarizados na Tabela 8. Algumas amostras puderam também ter seus genótipos e
subtipos determinados pela técnica de hibridização Inno-LiPA HCV II (Innogenetics)
realizada no LACEN-DF (dados apresentados na Tabela 8) (Stuyver et al., 1996).
62
Tabela 8. Genótipo das amostras de co-infectados com HIV-1/HCV de acordo com os
resultados obtidos por meio da análise da homologia das seqüências de 5‟UTR e NS5B no programa
HCV-BLAST (Kuiken et al., 2005) confirmadas pela análise filogenética no programa PHYLIP
(Felsenstein, 1981) e pela técnica da Inno-LIPA HCV II (Innogenetics) (Stuyver et al., 1996). Em
vermelho as amostras discordantes ou com subtipo indefinido pela análise do programa HCV-BLAST
(Kuiken et al., 2005).
Amostra
N=40
Genótipo
e Subtipo
HCV-
BLAST
5’UTR
Genótipo
Análise
Filogenética
5’UTR
Genótipo
e Subtipo
HCV-
BLAST
NS5B
Genótipo e
Subtipo
Análise
Filogenética
NS5B
Genótipo e
Subtipo
Consenso
dos
Resultados
Genótipo
e Subtipo
InnoLiPA
HCV II
1
1a
1
1a
1a
1a
-
3
1a
1
1a
1a
1a
-
4
1a
1
1a
1a
1a
-
5
1a
-
-
-
1a
-
6
1b
1
1b
1b
1b
-
7
1a
1
1a
1a
1a
-
8
1a
1
1a
1a
1a
-
9
1a
1
1a
1a
1a
-
10
1a
1
-
-
1a
-
11
1a
1
1a
1a
1a
-
12
1a
1
1a
1a
1a
-
13
1a
1
1a
1a
1a
-
14
1a
1
1a
1a
1a
-
15
1a
1
-
-
1a
-
17
1a/1b
1
1a
1a
1a
-
19
1a
1
1a
1a
1a
-
21
1a/1b
3a
3a
3a
3a
-
22
1a
1
-
-
1a
-
23
1a
1
-
-
1a
-
24
1a
1
1a
1a
1a
-
26
3a
3a
3a
3a
3a
-
27
2b
2b
2b
2b
2b
-
28
2b
2b
2b
2b
2b
-
29
1a
1
1a
1a
1a
-
30
1a
1
1a
1a
1a
-
31
1a
1
1a
-
1a
1a
32
1b
1
-
-
1b
1b
33
1a
1
1a
1a
1a
1a
34
1a
1
1a
-
1a
1a
36
1a
1
1a
1a
1a
1a
37
4c/4d
4
-
-
4c/4d
4c/4d
38
3a
3a
3a
3a
3a
3a
39
3a
3a
3a
3a
3a
3a
40
1a
1
1a
1a
1a
1a
41
1a
1
1a
1a
1a
-
42
1a
-
1a
-
1a
-
43
1a
1
-
-
1a
-
44
1a
1
1a
-
1a
-
45
1a/1b
1
-
-
1a/1b
-
47
1a/1b
1
1a
1a
1a
-
Total
40
38
31
27
40
9
63
5. DISCUSSÃO
5.1 A prevalência do HCV em HIV-1 soropositivos
A co-infecção HIV-1/HCV atinge mais de um terço dos pacientes infectados com
HIV no mundo. Estima-se que nos EUA a prevalência da co-infecção HCV/HIV-1
esteja entre 15% e 30%, enquanto que entre os usuários de drogas injetáveis, estes
valores chegam a 90%. No continente europeu a co-infecção HIV-1/HCV apresentou
prevalência de 33% entre os indivíduos infectados com HIV-1 (Rockstroh et al.,
2005).
No Brasil, a elevada soroprevalência de HCV na população de pacientes HIV-1
soropositivos supera a registrada para populações como a de doadores de sangue ou
população em geral (Fainboim et al., 1999). Em muitos países da América, inclusive
no Brasil, diferenças na distribuição dos casos de HIV-1 soropositivos, de acordo com
a categoria de exposição, foram observadas na década passada quando comparada
com os anos 80. Inicialmente, no Brasil, a epidemia afetou principalmente
homossexuais ou bissexuais do sexo masculino, hemofílicos e outros que recebiam
derivados de sangue. Entretanto, com o passar dos anos, houve um aumento na
infecção pelo HIV-1 entre usuários de drogas intravenosas e heterossexuais
(Fainboim et al., 1999). O uso de drogas intravenosas é responsável por cerca de 20%
dos casos acumulados de AIDS no Brasil (Soto et al., 1997). Treitinger et al. (2000)
estudaram a soroprevalência do HCV em 93 pacientes HIV-1 soropositivos em Santa
Catarina e encontraram 88,2% de prevalência do HCV entre 34 usuários de drogas
intravenosas.
Em um estudo realizado com 232 pacientes anti-HIV soropositivos cerca de
54% foram considerados também anti-HCV soropositivos (Pavan et al., 2003). Em
um estudo retrospectivo com 2.821 pacientes com AIDS do Brasil, onde 29,5% foram
testados para sorologia, a prevalência do anti-HCV foi de 33% (Marins et al., 2005). A
prevalência do HCV em pacientes HIV-1 soropositivos tratados nos serviços de saúde
em estudo realizado em Belém, região Norte do Brasil, foi de 16% (Monteiro e
Nascimento, 2004) e na cidade de Santos, região Sudeste, 36,2% (Segurado et al.,
2004). Na cidade de São Paulo (região Sudeste) entre 1.457 pacientes HIV-1
soropositivos analisados, 17,7% eram soropositivos para o HCV (Mendes-Corrêa et
al., 2000).
64
Na cidade de Goiânia (região Centro-Oeste) (n = 592), Pereira et al. (2006)
encontraram uma prevalência do HCV em 42% dos indivíduos HIV-1 soropositivos. A
prevalência da co-infecção HIV-1/HCV no Distrito Federal e Entorno ainda não foi
estimada, tornando-se necessário a realização de estudos mais aprofundados. É
importante que se amplie o conhecimento epidemiológico da hepatite C em função do
tempo, da diversidade genética do HCV, das características da população e da região
geográfica afetada, com a identificação dos principais fatores de risco associados à
transmissão do HCV para que, no futuro, se ampliem as estratégias de detecção, de
prevenção e de controle da infecção.
A prevalência de anticorpos anti-HCV em indivíduos co-infectados com HIV-
1/HCV varia de acordo com os fatores de risco da co-infecção e com o teste sorológico
utilizado. Entre os hemofílicos HIV-1 soropositivos, a prevalência de anticorpos anti-
HCV varia entre 60% a 90% (Navarro et al., 2005). E ainda, a prevalência de anti-
HCV pode ser subestimada devido às flutuações de anticorpos anti-HCV em pacientes
soropositivos para o HIV-1, conforme foi observado em um estudo no qual 18 de 52
pacientes HIV-1 soropositivos e anti-HCV não reagentes apresentaram RNA-HCV
positivo (Mendes-Corrêa et al., 2001). No entanto, os testes para detecção de
anticorpos anti-HCV são úteis para diagnosticar a exposição ao rus, mas não
evidenciam a viremia ativa (Majid e Gretch, 2002). Além disso, a presença de
anticorpos anti-HCV não determina o estágio da infecção em que o indivíduo se
encontra (Carvalho, 1999; Amorim, 2003).
No presente estudo, dentre as amostras de co-infectados analisadas, 5 amostras
não tiveram o material genético amplificado para a região 5‟UTR e 12 amostras não
foram amplificadas para NS5B. A maioria dessas amostras anti-HCV positivas
(10/12) apresentou níveis indetectáveis de carga viral nos testes quantitativos do HCV
realizados no LACEN-DF. Na situação onde o teste anti-HCV é positivo e o PCR
negativo, pode-se considerar algumas possibilidades como infecção crônica com os
níveis de RNA flutuantes, eliminação viral espontânea ou supressão da infecção por
meio de tratamento (Erensoy, 2001). E ainda, as amostras (2/12) que apresentaram
valores elevados de carga viral, possivelmente não tiveram seu material genético
amplificado pela PCR devido às limitações da técnica que envolve, por exemplo, a
escolha dos iniciadores e a conservação da região genômica utilizada (Zein, 2000).
65
Corroborando os resultados encontrados neste estudo, a região NS5B não apresenta a
mesma conservação encontrada na região 5‟UTR (Majid e Gretch, 2002).
5.2 Os genótipos do HCV
A determinação do genótipo do HCV é um parâmetro para o prognóstico da
resposta ao tratamento antiviral uma vez que o genótipo 1 está associado a uma
menor resposta virológica sustentada (40-45%) quando comparado com os genótipos
2 e 3, cuja resposta virológica sustentada é de 70-80% na terapia combinada de
interferon com ribavirina. Além disso, a genotipagem é importante
epidemiologicamente, pois os seis genótipos apresentam distribuição geográfica
distinta. Embora os genótipos 1, 2 e 3 apresentem uma distribuição mundial, sua
relativa prevalência varia de uma área geográfica pra outra. O genótipo 4 do HCV, por
exemplo, é encontrado no Oriente Médio e Norte da África, e os genótipos 5 e 6 no
Sul da África e Ásia, respectivamente (Simmonds et al., 2005).
No Brasil, um país de dimensões continentais, estudos realizados na população
de doadores de sangue retratam a diversidade genotípica do HCV. Na região Centro-
Oeste do país, em um estudo realizado em Goiânia (n = 42), o subtipo 1a foi o mais
prevalente (50%), seguido dos subtipos 3a (30,9%) e 1b (16,7%). Outro estudo,
realizado no Mato Grosso (n = 44), entretanto, encontrou que o subtipo 1b (29,5%)
foi mais freqüente que o subtipo 3a (25%). No Mato Grosso do Sul (n = 38), subtipos
1a e 1b foram igualmente detectados (36,8%), seguidos pelo subtipo 3a (21,1%). O
subtipo 2b raramente foi encontrado nesses estudos, com valores de 2,4%, 4,5% e
5,3%, respectivamente (Martins et al., 2006). No Distrito Federal (n = 41), Amorim
(2003) encontrou que o genótipo 1 foi o mais prevalente (60,9%) na população de
doadores de sangue, seguido pelo genótipo 3 (39,1%) sendo o subtipo 3a (39%) mais
freqüente que os subtipos 1a (34,1%) e 1b (26,8%).
Estudos sobre a prevalência de genótipos do HCV na população de indivíduos
co-infectados com HIV-1 e HCV são escassos no Brasil. Em um estudo realizado em
indivíduos co-infectados do noroeste de São Paulo e do Mato Grosso do Sul (n = 35)
77% dos HCVs foram caracterizados como genótipo 1 e os demais como genótipo 3
(Aguiar et al., 2005). Em Goiânia (Centro-Oeste) Pereira et al. (2006) demonstraram
que o subtipo 3a foi encontrado em 86% das amostras, seguido de 14% do subtipo 1a.
66
No presente estudo sobre a caracterização molecular em indivíduos co-
infectados HCV/HIV-1, a prevalência dos genótipos na população de indivíduos co-
infectados foi determinada por meio de seqüenciamento das regiões genômicas
5‟UTR e NS5B do HCV e confirmada por meio de análise filogenética dessas regiões
genômicas. O genótipo do HCV mais prevalente nas amostras de indivíduos com co-
infecção HIV-1/HCV foi o genótipo 1 com 81%, seguido dos genótipos 3 (10%), 2 (6%)
e 4 (3%). Os genótipos 2 e 4, raros no Brasil (Martins et al., 2006), foram descritos
aqui pela primeira vez na população HCV positiva do Distrito Federal mono ou co-
infectada com outros vírus.
Trabalhos demonstram que quando diferentes regiões do genoma, como 5‟UTR,
core, NS3 e NS5 são seqüenciadas, os resultados dos genótipos são concordantes
(Zein, 2000; Majid e Gretch, 2002). A concordância entre os resultados de
genotipagem encontrados neste estudo e feito para as regiões 5‟UTR e NS5B foi de
97% para os genótipos e 90% para os subtipos, resultado corroborado por outros
trabalhos da literatura (Zein, 2000; Majid e Gretch, 2002). A concordância
apresentada para a determinação dos subtipos (90%) foi menor porque a análise de
diferentes regiões do genoma pode resultar em diferentes subtipos (Arens, 2001) e,
além disso, em 5% a 10% das amostras cujos subtipos são determinados por meio da
seqüência da região 5‟UTR o método não consegue distinguir os subtipos 1a do 1b
(Erensoy, 2001).
O seqüenciamento de 5‟UTR fornece uma efetiva discriminação dos principais
genótipos, embora apresente limitações na distinção entre alguns subtipos (Germer
et al., 1999; Halfon et al., 2001b), sendo indicado o seqüenciamento de outras regiões
genômicas para uma melhor exatidão na determinação dos subtipos (Robertson et al,
1998). Outros estudos analisando diferentes regiões genômicas do HCV precisam ser
conduzidos para permitir um melhor entendimento da dinâmica da infecção do HCV
no Brasil, uma vez que a maioria dos dados disponíveis é proveniente da análise de
5‟UTR e, geralmente, não classificam os isolados virais até o vel de subtipo devido
às conhecidas limitações do uso de 5‟UTR.
No presente estudo, duas amostras (2/31) tiveram seus resultados limitados na
determinação do subtipo na análise da região 5‟UTR porque em alguns isolados,
apenas uma ou duas mudanças nucleotídicas distinguem os subtipos como, por
exemplo, a substituição na posição -99 da adenina pela guanina entre os subtipos 1a e
67
1b. No entanto, tem sido demonstrado que a classificação do HCV em nível de
genótipo é suficiente para o prognóstico clínico e terapêutico (Campiotto et al.,
2005).
A prevalência dos genótipos e subtipos encontrada neste estudo esde acordo
com os resultados de outros estudos de caracterização molecular do HCV circulante
na população de doadores de sangue da região do Centro-Oeste (Martins et al., 1998;
Amorim, 2003), onde existe maior prevalência do genótipo 1, o que tem importância
epidemiológica e clínica, sendo útil no prognóstico e no tratamento da infecção (Zein
et al, 2002; Hoofnagle, 2002).
A falta de concordância entre os subtipos encontrados em 10% das amostras
sugere que os métodos de genotipagem que visam à obtenção de maior distinção
entre os variantes do HCV por meio da amplificação pela nested-PCR e
seqüenciamento de uma única região genômica não asseguram a definição exata do
subtipo, embora os resultados do presente estudo indiquem que, na maioria dos
casos, existe uma alta concordância quando seqüências de 5‟UTR e NS5B são usadas
para definição apenas de genótipos do HCV.
A amostra 7 foi caracterizada como genótipo 1 pela análise de similaridade de
seqüências do banco genômico do HCV e análise filogenética para a região 5‟UTR e
como genótipo 3 para a região NS5B. Uma das possíveis explicações seria a infecção
mista por mais de um genótipo, apesar de raros, casos de co-infecção com mais de
um genótipo do HCV foram documentados (Swan e Raymond, 2004). Além disto,
como se trata de um paciente com provável comportamento de risco, uma vez que
apresenta co-infecção com HIV-1/HCV este paciente pode ter sido exposto a mais de
um genótipo de HCV.
5.3 A Diversidade Genética do HCV e a Co-infecção com o HIV-1
O estudo da diversidade viral fornece um melhor entendimento sobre a origem e
dinâmica da infecção viral. Pybus et al. (2001) encontraram diferença significativa de
comportamento entre os diferentes genótipos do HCV ao observarem que os
genótipos 1 e 3 se espalharam antes dos métodos de triagem de doação de sangue
serem adotados, enquanto que infecções com genótipos 4 e 6 seguiram o padrão das
doenças adquiridas por uma ampla variedade de rotas domésticas e sociais não
definidas.
68
Identificar o genótipo do HCV é clinicamente importante porque pode predizer
a resposta à terapia antiviral, sendo o genótipo 1 associado à maior resistência ao
tratamento. Entretanto, não existe consenso se a diferença na gravidade clínica e
histológica da doença pode ser explicada pelas diferenças entre os genótipos
infectantes. Estudos sugerem que o genótipo 1b esteja associado a uma maior
gravidade da doença embora esses resultados apresentem divergência com outros
estudos que relataram pouca ou nenhuma influência do genótipo na progressão da
doença (Harris et al., 2006).
Estudos que analisam o papel dos genótipos do HCV na eliminação viral
espontânea também apresentam resultados controversos. Alguns estudos não
encontram associação entre o genótipo do vírus e a eliminação do RNA-HCV, com
fatores do hospedeiro, como o sexo do paciente, sendo mais importantes, enquanto
que alguns estudos têm sugerido que a infecção com subtipo 1b pode ter menor
capacidade de ser eliminada espontaneamente quando comparada com a infecção
causada por outros genótipos (Campiotto, 2005; Harris et al., 2006).
Após a introdução da terapia antiretroviral a infecção do HCV tem sido
considerada a principal causa de morbidade e mortalidade entre indivíduos co-
infectados com HIV-1. Indivíduos co-infectados apresentam uma morbidade mais
elevada do que indivíduos mono-infectados com HIV-1, e a infecção pelo HCV é
considerada um prognóstico para mortalidade (Rockstroh et al., 2005).
Alguns estudos sugerem que a viremia do HCV é maior em pacientes HIV-1 positivos
quando comparado com pacientes não co-infectados com HIV-1 (Hall et al., 2004).
Um estudo realizado em São Paulo com 1457 pacientes HIV-1 soropositivos
demonstrou que 17,7% eram anti-HCV positivos e, destes, 98% eram positivos
também para RNA-HCV (Mendes-Corrêa e Barone, 2000). Ainda com relação à co-
infecção HIV-1/HCV, foi observado por alguns autores que a resposta à HAART sofre
influência do HCV, com resultados inferiores, sobretudo da contagem de células CD4,
quando comparados com o que ocorre nos pacientes sem co-infecção (Swan e
Raymond, 2004; Rockstroh et al., 2005).
O tratamento da infecção pelo HCV torna-se importante para alcançar maior
sobrevida e melhor qualidade de vida dos indivíduos co-infectados (Zocratto et al.,
2006). A co-infecção com HIV-1/HCV representa um maior risco de progressão para
a doença crônica do fígado do que a infecção apenas com HCV (Swan e Raymond,
69
2004). A elevação da hepatotoxicidade foi relatada em pacientes co-infectados devido
ao uso de drogas inibidoras de protease (Mendes-Corrêa e Barone, 2000).
O genótipo do HCV é o principal determinante na resposta ao tratamento da
hepatite C crônica. Apesar dos dados relativos às taxas de resposta na infecção com o
genótipo 4 do HCV serem limitados e controversos, um grande estudo realizado com
amostras da França e do Egito infectadas com genótipo 4 observou que pacientes
infectados com o subtipo 4a respondem melhor ao tratamento do que aqueles
infectados com subtipo 4d. Observou-se ainda que, assim como ocorre com a infecção
do genótipo 1 do HCV, uma baixa carga viral do genótipo 4 antes do tratamento tem
significativa associação com melhor resposta ao tratamento. De acordo com o estudo,
o subtipo do HCV influencia a resposta ao tratamento em pacientes infectados com
HCV 4 (Roulot et al., 2007).
Entre os genótipos do HCV, o genótipo 3 tem sido associado à elevação do nível
de transaminases durante a HAART, exercendo um papel mais expressivo do que as
drogas na hepatotoxicidade. No estudo de Mendes-Corrêa e Barone (2000), relativo a
pacientes infectados com genótipo 3 atendidos na cidade de São Paulo, 89,2%
apresentavam níveis de ALT muito elevados, mas ainda não está claro se o HCV
genótipo 3 pode representar um fator de risco adicional na elevação das
transaminases durante a HAART (Torti et al., 2006).
O efeito da HAART na carga viral do HCV ainda é controverso. Muitos estudos
demonstraram nenhuma mudança nos títulos do RNA-HCV com o uso da HAART
(Rockstroh et al., 1998; Torre et al., 2001) enquanto que em outros estudos houve um
aumento transiente (Rutschman et al, 1998; Puoti et al., 2000) ou sustentado (Ragni
et al., 1999) na carga do HCV e, ainda, outros estudos demonstraram uma diminuição
nos níveis de RNA-HCV e, em alguns casos, o clareamento do HCV (Swan e
Raymond, 2004). O aumento da carga viral do HCV associado ao longo tratamento
da HAART pode não ser um fator prognóstico da gravidade da doença causada pelo
HCV ou pelo HIV-1, mas pode ser importante para predizer a resposta à terapia com
interferon (Babik e Holodniy, 2003).
No presente estudo, as análises das seqüências por meio do programa
HCV_BLAST (Kuiken et al., 2005) e análise filogenética definiram os genótipos e os
subtipos das amostras de HCV circulantes em indivíduos co-infectados com HIV-
1/HCV no Distrito Federal. Como pôde ser observado nas figuras 9 e 10, as amostras
70
se agruparam junto aos isolados referência dos genótipos 1, 2, 3 e 4 com valores de
bootstrap superiores a 87% para NS5B e 70% para 5‟UTR validando essas
informações. Não foi possível a distinção entre os subtipos 1a e 1b pela análise
filogenética da região 5‟UTR, pois as seqüências desses subtipos apresentam grande
similaridade, e assim as amostras de genótipo 1 se agruparam aleatoriamente, sem a
formação de aglomerados distintos de subtipos 1a e 1b. A presença de genótipos 1, 2,
3 e 4 do HCV na população de co-infectados com HIV-1-HCV merece ser investigada
mais profundamente, pois esses genótipos m importância na predição da resposta
ao tratamento antiviral.
71
6. CONCLUSÕES
A prevalência do Genótipo 1 (81%) do HCV na população de co-infectados
atendidos no DF e Entorno foi significativamente maior do que a dos
genótipos 2, 3 e 4 juntos (19%);
A prevalência do subtipo 1a (77%) do HCV foi significativamente maior do que
a dos outros subtipos juntos (23%);
A concordância entre a genotipagem realizada para as regiões de 5‟UTR e
NS5B foi de 100% na caracterização dos genótipos e 93% na caracterização dos
subtipos;
A análise filogenética das seqüências se mostrou uma importante ferramenta
para genotipagem, uma vez que permitiu confirmar os resultados da
genotipagem e definir, com base nos agrupamentos da árvore de NS5B,
aqueles subtipos que não puderam ser definidos por meio da genotipagem de
5‟UTR;
Os dados obtidos por este trabalho estão de acordo com aqueles obtidos em
estudos realizados com outras populações mono-infectadas com HCV da
região Centro-Oeste.
72
7. PERSPECTIVAS
O presente trabalho é um estudo de série histórica de amostras de indivíduos
co-infectados por HIV-1/HCV atendidos pelo sistema de saúde pública do Distrito
Federal e Entorno, que teve como principal objetivo caracterizar molecularmente os
genótipos e subtipos e suas respectivas prevalências nesta região geográfica do Brasil.
Nesse contexto, deve-se ressaltar a importância de se conhecer por meio de
mais estudos a prevalência da população de indivíduos co-infectados por HVI-1/HCV
na população de indivíduos HIV-1 soropositivos e na população de HCV soropositivos
do Distrito Federal e Entorno, visto a escassez de dados que afeta essa região do país.
Com isso, juntamente com os dados gerados por meio dessa avaliação de série
histórica será possível obter um melhor perfil epidemiológico da população de co-
infectados por HIV-1/HCV.
Mais análises são necessárias para se obter um perfil da infecção do HCV nos
indivíduos do Distrito Federal e Entorno co-infectados por HIV-1/HCV que
possibilitem gerar dados que contribuirão para as análises da história evolutiva do
HCV nessa região e que permitirão comparar com os dados obtidos em outras regiões
do país contribuindo, possivelmente, para um melhor entendimento da epidemia de
HCV no Brasil.
Em conclusão, a necessidade de uma cuidadosa avaliação epidemiológica no
Brasil nos diferentes grupos populacionais é reforçada pelo fato do conhecimento da
freqüência e distribuão dos genótipos poderem fornecer informações fundamentais
para o entendimento da dispersão do HCV bem como fornecer subsídios para
direcionamentos do tratamento. E ainda, esses dados podem ajudar profissionais da
saúde a tratarem melhor os pacientes infectados com HIV-1 e reforçam a necessidade
de programas de prevenção da transmissão do HIV-1.
73
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