pensa que foi ele construído para ser o Estádio da cidade de São Paulo.
Puro engano, o Estádio Municipal foi apenas um complemento dos campos
de atletismo, ápice do programa de educação social dos menores paulistas,
aqueles que não podiam freqüentar os clubes a pagamento, aqueles para os
quais a administração pública só olhava quando os metia na cadeia, sob o
pretexto de crimes e contravenções, cuja maior responsabilidade recai sobre
o meio social que os deixa em abandono”
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(DUARTE, 1971, p.87-8).
Na verdade, os campos de atletismo e piscinas não se concretizaram
plenamente, com espaço próprio, como se havia previsto. No entanto, eles
foram introduzidos no governo subseqüente, no espaço de alguns parques,
como também, o novo governo implantou os “campos” nos parques em
construção, alterando seus desenhos, para que ali se desenvolvessem
atividades esportivas destinadas aos jovens e adultos, desfigurando, com isso,
de modo camuflado, mas intencional, a proposta dos PIs a começar pelo
projeto arquitetônico. Nicanor Miranda
161
em conferência ministrada no Rotary
Clube de São Paulo em 1938 fala dos campos de atletismo como se fossem a
concretização do projeto do governo anterior, portanto, sem assumir que com
essas alterações, os parques estavam perdendo seu caráter fundamental:
“Os parques infantis eram para crianças, então o Departamento de
Cultura cria uma ‘Seção de Estádio, Campos de Atletismo e Piscinas’,
destinados estes dois últimos aos adolescentes e adultos operários, para
que tivessem oportunidade nas suas horas de lazer de dedicar-se à
160
No mesmo fragmento, há uma longa explanação de como Duarte encontrou nos arquivos da prefeitura
documentos de cessão de terreno para o Estádio, e de como, de posse desses documentos, convenceu o
prefeito Fábio Prado da importância desse equipamento, conseguindo, por isso, a autorização para o início
das obras. Há ainda relato dos ataques que recebeu de funcionário da administração subseqüente sobre
suposta negociata em torno da cessão do terreno e da defesa que, em público, fez dele próprio e dos
membros da gestão Fábio Prado. O senhor Prestes Maia foi elegante diz Paulo Duarte, a ponto de, como
informaram pessoas da intimidade do então prefeito, ter fechado a boca do pequeno miserável com um
pito que não admitia réplica DUARTE, 1971, op.cit., p.88-9.
161
Já mencionamos em capítulos anteriores que Nicanor Miranda foi nomeado para a Direção dos
Parques Infantis pelo prefeito Fábio Prado com o apoio de Paulo Duarte e continuou na administração
seguinte assumindo integralmente as diretrizes políticas do novo prefeito. Para explicar essa adesão,
Paulo Duarte retoma a questão da nomeação de Miranda: “Fábio Prado queria nomear para a direção dos
Parques Infantis, minha irmã, que era candidata exclusivamente de Mário de Andrade que sabia de seus
conhecimentos com relação a Parques Infantis (...) Mostrei a Fábio o inconveniente de nomear minha
irmã, pois os ataques e críticas viriam contra mim e contra o próprio Fábio (...) depois da recusa de Alice
Meireles Reis [uma das candidatas de Paulo Duarte] para aceitar o cargo (...) foi nomeado Nicanor
Miranda [o outro candidato de Paulo] (...) rapaz culto e que freqüentava o grupo do apartamento da
avenida São João (...) Tudo correu admiravelmente até 10 de novembro de 1937 (...)” E, para falar da
mudança de posição política de Nicanor, Paulo Duarte refere-se a um encontro que havia sido realizado
em sua casa quando ficou resolvido que “aquele que contasse relações prestigiosas na nova situação,
mesmo que tivesse de humilhar-se, se aproximaria dos donos do regime, para a defesa do DMC. Nicanor
Miranda foi o primeiro que teve oportunidade, mas foi longe demais:aderiu inteiramente à nova situação
(...) Foi premiado com a confiança dos donos do Brasil e de São Paulo, àquele momento. Mas foi
praticamente expulso do nosso grupo, pois todos, sem exceção, manifestaram-lhe sua repulsa” DUARTE,
op.. cit., 1971,p 84-5.