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Resumo
As abelhas sem ferrão, além de serem as principais responsáveis pela
polinização da flora nativa, têm uma grande importância como fonte de renda para
muitas famílias ribeirinhas do Amazonas. A exploração extrativista das abelhas
jupará (Melipona compressipes) e jandaíra (M. seminigra) no estado vêm se
desenvolvendo há décadas sem nenhum plano de manejo e conservação para
populações naturais ou de cativeiro. A necessidade de conservação, manejo e
recuperação de populações degradadas requer uma abordagem que envolva não
somente aspectos demográficos e ecológicos, mas também a genética de
populações. O enfoque genético, pela caracterização da estrutura genética e do
tamanho efetivo, em populações com diferentes níveis de intervenção antrópica,
constitui uma ferramenta adequada para ser utilizada neste tipo de estudo. Visando
traçar planos de conservação e desenvolvimento sustentável, este trabalho objetivou
caracterizar locos microssatélites em M. compressipes e M. seminigra, analisar a
distribuição e as freqüências alélicas destes locos para ambas as espécies e
comparar a variabilidade genética entre colméias naturais e manejadas em
diferentes localidades dos municípios do Amazonas. Para caracterização dos locos,
foram amostradas 13 colméias (5 operárias/colméia) de M. compressipes nos
municípios de Jutaí, Manaus, Urucará e Parintins; e 18 colméias (5
operárias/colméia) de M. seminigra nos municípios de Alvarães, Manaus, Cacau
Pirera, Careiro Castanho e Urucará. Para comparação entre colméias naturais e
manejadas, foram amostradas 54 colméias (27 naturais e 27 manejadas) de M.
compressipes (2 indivíduos/colméia) e 18 (10 manejadas e 8 naturais) de M.
seminigra (5 indivíduos/colônia). Utilizando primers microssatélites heterólogos
desenvolvidos para M. bicolor, foram amplificados cinco locos em M. compressipes,
e quatro em M. seminigra. M. compressipes apresentou um total de 20 alelos
diferentes, variando entre três a sete alelos/loco enquanto M. seminigra teve 19
alelos variando entre quatro a seis alelos/loco. As freqüências e distribuição dos
alelos variaram tanto em nível inter quanto intracolonial para ambas as espécies,
com M. compressipes apresentando maiores índices de heterozigosidade observada
que M. seminigra. Percebeu-se uma clara hierarquia de variação genética: entre
localidades, dentro da localidade e dentro da colméia. Ou seja, as colméias
amostradas em uma mesma localidade apresentaram menor diversidade de alelos
que colméias amostradas em diferentes localidades. A curta distância de dispersão e
a presença de alelos exclusivos nas diferentes localidades, indicando um fluxo
gênico restrito, sugerem que esteja ocorrendo uma estruturação genética em ambas
as espécies no estado do Amazonas. M. compressipes apresentou um maior
diversidade genética nas colméias manejadas que nas colméias naturais, o que
pode ser reflexo de uma manipulação mais intensa das colméias por conta da troca
de caixas e rainhas entre os meliponicultores no estado do Amazonas, aumentando
a probabilidade de recombinações genotípicas e a heterozigosidade nas diferentes
colméias. Em M. seminigra, ambos os tipos de colméias apresentaram índices de
diversidade genética similares, indicando que a meliponicultura ainda tem pouca
influencia na genética desta espécie no Amazonas. Considera-se, no entanto, que a
exploração de seus recursos e as ações antrópicas (desmatamento, queimadas,
dentre outras) ainda têm pouca influencia sobre as colméias de meliponíneos
analisadas apesar de algumas colméias de M. seminigra apresentarem deficiência
de heterozigotos que pode ser reflexo do pequeno número de amostras ou da
presença de alelos nulos.