10
nada, é livre “[...] no sentido que não há outro atrás determinando suas ações [...]” (PEIRCE
apud IBRI, ibid., p.10), é original, possuindo o frescor da novidade, da vida.
A Secundidade corresponde ao Outro, o não-ego. Possui o caráter da
alteridade, da negação, de se opor ao eu, é portanto, um segundo em relação a. Advém da
Secundidade a idéia de ação-reação, aqui e agora, força bruta. “Estamos continuamente
colidindo com o fato duro. Esperávamos uma coisa ou passivamente tomávamo-la por
admissível e tínhamos sua imagem em nossas mentes, mas a experiência força esta idéia ao
chão e nos compele a pensar muito diferente.” (PEIRCE apud IBRI, ibid., p. 07)
A Terceiridade corresponde à ordem, regularidade, permanência,
hábito e lei. Há uma ordem e uma regularidade na realidade que a torna inteligível, na medida
em que se pode observar a conduta dos fenômenos e entendê-los, a partir de características e
fatos com os quais estão impregnados, como conduta, forma, movimento, qualidades etc., é
possível perceber que há uma lei regendo os fenômenos, possibilitando prever as condutas
futuras e assim, adquirir conhecimento sobre estes. “De fato, a generalidade é um ingrediente
indispensável da realidade, pois a simples existência ou atualidade sem qualquer regularidade
é uma nulidade. O caos é um puro nada”. (PEIRCE, 1998, p. 138)
Depois dessa breve explanação sobre a fenomenologia na filosofia
peirciana, é necessário observar as características da experiência fenomenológica da
metrópole, e com isso, trazer essas categorias gerais e abstratas para o ambiente moderno.
Como Singer esclarece em Cinema e a invenção da vida moderna:
A modernidade implicou um mundo fenomenal – especificamente urbano – que era
marcadamente mais rápido, caótico, fragmentado e desorientador do que fases
anteriores da cultura humana. Em meio à turbulência sem precedentes do tráfego,
barulho, painéis, sinais de trânsito, multidões que se acotovelavam, vitrines e
anúncios da cidade grande, o indivíduo defrontou-se com uma nova intensidade de
estimulação sensorial. A metrópole sujeitou o indivíduo a um bombardeio de
impressões, choques e sobressaltos. O ritmo da vida também se tornou mais
frenético, acelerado pelas novas formas de transporte rápido, pelos horários
prementes do capitalismo moderno e pela velocidade sempre acelerada da linha de
montagem. (SINGER, 2004, p. 96)
A metrópole inaugura um ambiente saturado de fenômenos, o passear
pela cidade grande se torna uma experiência rica e ao mesmo tempo confusa de sensações,
sentimentos e pensamentos. Tudo se mistura, palavras, imagens, sons, corpos, roupas,
vitrines, lojas, bondes, ruas, cores, gostos, odores etc. em ritmo acelerado e descontínuo. “A
cidade moderna parece ter transformado a experiência subjetiva não apenas quanto ao seu