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indiferentes aos contextos nos quais se configura.(KING, 1996, p.37, apud SACRISTÁN,
2000, p.21)
Nas teorias críticas do currículo, a preocupação não é apenas com o que ou como
ensinar, mas também com o “por quê” e “para quem” se ensina e “em que contextos”:
Tomando a prática como objeto pedagógico crítico, revelam-se conflitos,
tensões e intenções. São suas contradições que nos permitem replanejá-la,
construir novas ações. Assim, se a prática pedagógica, como prática política,
pressupõe um “por quê” se ensina, consubstanciado no “para quem” e “para
quê”, tais pressupostos se revelam nas concretudes do sobre “o quê”, do
“como” e do “com quem” se faz o processo ensino-aprendizagem: o discurso
pode ser contundente, mas a contradição está na prática. Concebo a
pedagogia, portanto, como uma ação política, uma intencionalidade
concretizada na prática que, fundamentada em uma racionalidade crítica,
orienta o fazer comprometido e com ela coerente. O fazer que organiza esse
percurso é o tema deste trabalho.
(SILVA, 2004, p. 7)
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No entanto, o reconhecimento do Currículo enquanto campo específico de saber é
relativamente novo, data das proximidades da década de 20, nos Estados Unidos da
América/EUA. O currículo enquanto campo de pesquisa não surgiu para responder problemas
epistemológicos ou pedagógicos, e sim como uma tarefa de gestão administrativa.
Impulsionados pelos pensamentos de Taylor e principalmente de Bobbit, em sua obra
The Curriculum (1918) inicia-se um movimento cuja preocupação centrava-se nas finalidades
da educação e mais precisamente com o que ensinar; na verdade, a preocupação sugeria uma
adequação do modelo escolar ao modelo fabril, ou de outra forma, a preparação para o
trabalho.
Nasciam assim as teorias tecnocratas, que tinham inicialmente a proposição de
romper com o currículo clássico humanista Trivium (gramática, dialética e retórica)
Quadritivium (Aritmética, Geometria, Música e Astronomia), vigente na época. Caracterizam-
se pela primazia das técnicas, do saber fazer, com uma excessiva preocupação utilitarista,
teorização a-histórica, modelos descontextualizados entendidos como base de racionalização
do currículo, que figuram como elementos da tradição curricular americana e que foram
difundidos no mundo todo, influenciando a prática pedagógica de inúmeros educadores,
adeptos das concepções tradicionais e conservadoras de ensino.
Perde-se de vista as dimensões históricas, sociais e culturais do currículo,
para convertê-lo em objeto gestionável. A teoria do mesmo passa a ser um
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Antônio Fernando Gouvêa da Silva, mais conhecido como Gouvêa ou Gôva, foi assessor da SEMEC Belém/Pa
em seu movimento de reorientação curricular via tema gerador, no período de 2000 a 2002
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