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Revista de Ciências da Administração • v. 12, n. 28, p. 222-239, set/dez 2010
Allan Augusto Platt • Luiz Salgado Klaes
Utilizando o Sistema Integrado de Gestão (ERP)
no apoio ao Ensino de Logística e Gestão da
Cadeia de Suprimentos
Allan Augusto Platt
1
Luiz Salgado Klaes
2
Resumo
O presente trabalho apresenta uma metodologia para o ensino de Logística e
Gestão da Cadeia de Suprimentos por meio da utilização de Sistema Integrado
de Gestão, também chamado de ERP. Inicialmente define-se o que é Logística,
identificando o conjunto de atividades empresariais reunidas sob o seu conceito,
e apresentadas aos alunos em sala de aula, bem como o atual conceito de Gestão
da Cadeia de Suprimentos, englobando as atividades interorganizacionais.
O Sistema Integrado de Gestão (ERP) é caracterizado em seguida, como evolução
do Sistema MRP (Material Requirement Planning) e da necessidade das empresas
em aperfeiçoarem o controle de suas operações e a tomada de decisões. Exemplos
do uso do ERP como ferramenta de apoio no processo de ensino-aprendizagem
são demonstrados em seguida. Por último, o trabalho apresenta a possibilidade
de utilização do ERP para o ensino dos conteúdos de Logística e Gestão da Cadeia
de Suprimentos, tomando como exemplo dois casos desenvolvidos no Brasil.
Palavras-chave: Logística. Gestão da Cadeia de Suprimentos. Sistema Integrado
de Gestão. ERP. Ensino.
1 Introdução
O ensino de conteúdos da área de Logística e Gestão da Cadeia de
Suprimentos tem se pautado, como a maioria dos conteúdos da área de Ad-
1
Doutor pelo Programa de Pós- Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal de Santa Catarina. Professor da área de
Administração de Marketing e Logística do Departamento de Ciências de Administração da Universidade Federal de Santa Catarina. Endereço:
Universidade Federal de Santa Catarina, Campus Reitor João David Ferreira Lima, Bairro Trindade – Florianópolis, Santa Catarina – CEP 88.040-
970. E-mail: allanplatt14@yahoo.com.br.
2
Professor da área de Administração de Produção do Departamento de Ciências de Administração da Universidade Federal de Santa Catarina.
Endereço: Universidade Federal de Santa Catarina, Campus Reitor João David Ferreira Lima, Bairro Trindade – Florianópolis, Santa Catarina –
CEP 88.040-970. E-mail: [email protected].
Artigo recebido em: 25/05/2010. Aceito em: 22/07/2010. Membro do Corpo Editorial Científico responsável pelo processo editorial: Rolando Juan
Soliz Estrada.
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Utilizando o Sistema Integrado de Gestão (ERP) no apoio ao Ensino de Logística e Gestão da Cadeia de Suprimentos
ministração, nos métodos de ensino-aprendizagem tradicionais. No entanto,
com o surgimento de novas ferramentas, fruto do grande avanço da tecnologia
da informação, como sistemas de informação avançados, softwares de simu-
lação, uso da Internet para disponibilização de conteúdos e interação aluno-
professor, incluindo as tecnologias de ensino a distância, tem ocorrido
investidas acadêmicas em busca de novas alternativas de ensino.
Uma das tecnologias mais utilizadas nos últimos anos, enfatizada pelo
interesse de seus fornecedores em divulgar e disseminar em universidades,
sobretudo, em faculdades de Administração, Engenharia e Computação, é o
Sistema Integrado de Gestão, ou como é popularmente conhecido, o ERP.
O uso do ERP no meio acadêmico passa desde a simples navegação
em seus módulos, ilustrando conteúdos nas áreas de Sistemas de Informa-
ção, até a própria simulação de operações (transações) em suas várias funci-
onalidades, contextualizando o que é visto pelos alunos em sala de aula, em
conteúdos das disciplinas de Finanças, Recursos Humanos, Marketing, Pro-
dução e Logística, entre outros, ilustrando a visão empresarial atual de
gerenciamento de processos, em contrapartida à visão tradicional funcional
e departamental, como no desenvolvimento de habilidades junto a um Sis-
tema de Informação.
2 Logística e Gestão da Cadeia de Suprimentos
A logística tem origem militar, sendo descrita por Heródoto como parte
das artes militares que se destina a assegurar às forças armadas todos os mei-
os necessários para a sua sobrevivência no campo de batalha, incluindo me-
lhores condições de movimentação, abastecimento, alojamento e transporte
de tropas (MEDINA, 2002). Voltou a ser ressaltada no período pós-guerra, em
que as atividades logísticas militares utilizadas na II Guerra Mundial influenci-
aram significativamente os conceitos logísticos utilizados atualmente.
Um desses conceitos é apresentado por Ballou (2001, p. 21):
[...] é o processo de planejamento, implementação e con-
trole do fluxo eficiente e economicamente eficaz de maté-
rias-primas, estoque em processo, produtos acabados e
informações relativas desde o ponto de origem até o ponto
de consumo, com o propósito de atender às exigências dos
clientes.
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Já Christopher (1997, p. 2) define logística como:
[...] o processo de gerenciar estrategicamente a aquisição,
movimentação e armazenagem de materiais, peças e pro-
dutos acabados (e os fluxos de informações correlatos)
através da organização e seus canais de marketing, de
modo a poder maximizar as lucratividades presente e fu-
tura por meio de atendimento dos pedidos a baixo custo.
O conceito de logística, de acordo com os autores, relaciona-se com o
gerenciamento e execução das atividades ao longo de toda a cadeia de su-
primentos, incluindo atividades junto a fornecedores e clientes, visando a
racionalizar os fluxos físicos e informacionais e à satisfação das demandas
dos consumidores. A Figura 1 ilustra esquematicamente esses fluxos:
Figura 1: Fluxos logísticos
Fonte: Elaborada pelos autores
Para Medina (2002), a logística, hoje, é considerada uma abordagem
gerencial, que trata de forma sistêmica e integrada todas as atividades relaci-
onadas aos fluxos físicos, financeiros e de informações da organização. No
início, suas atividades eram gerenciadas de forma isolada, atreladas a outros
departamentos da empresa (finanças e marketing, por exemplo), até os dias
de hoje, com uma abordagem integrada de suas funções, como ilustra a Fi-
gura 2:
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Figura 2: Evolução logística a partir de 1960
Fonte; Elaborada pelos autores
Com a evolução natural do conceito de logística integrada, represen-
tando uma integração interna de atividades, surge o conceito de Supply Chain
Management (Gestão da Cadeia de Suprimentos) que traduz a integração
externa das atividades da empresa em uma série de processos interligando
seus fornecedores, clientes e consumidores finais.
Conjugando os processos logísticos, que tratam do fluxo de materiais e
informações dentro e fora das empresas, com os relacionamentos que sur-
gem ao longo dessa cadeia (Figura 3), a Gestão integrada da Cadeia de Su-
primentos visa a assegurar resultados às empresas tanto em termos de redu-
ção de desperdício como em agregação de valor. Questões colaborativas
definidas por esse conceito integrativo, como a formação de parcerias e de
alianças estratégicas logísticas, visam a explorar as atividades logísticas em
busca de vantagens mútuas (FIGUEIREDO; ARKADER, 1998).
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Figura 3: Esquema ilustrativo de uma cadeia de suprimentos
Fonte: Elaborada pelos autores
Em relação ao ensino dessa área, Figueiredo e Arkader (1998) comen-
tam que em escolas líderes no ensino de logística, como a da universidade
de Michigan (MSU), foram realizadas fusões entre professores e pesquisado-
res das áreas de Operações (incluindo Logística e Produção) e Marketing,
criando uma área multidisciplinar de Gestão da Cadeia de Suprimentos.
Quanto aos conteúdos, destacam-se o uso de sistemas de informação e ou-
tras inovações proporcionadas pelo avanço nas tecnologias da informação,
como EDI que facilitam a integração dos elos da cadeia, bem como a disse-
minação de conceitos gerenciais como o JIT (Just in Time), QR (Quick
Response) e o ECR (Efficient Consumer Response), além do uso das
tecnologias de informação para simulações de situações com as quais os alu-
nos irão se deparar no mercado.
3 Sistema Integrado de Gestão (ERP)
O avanço da tecnologia de informação permitiu que as organizações
incorporassem sistemas informatizados no apoio às suas atividades. Um dos
expoentes desse avanço são os sistemas de informação empresariais, desen-
volvidos para atender aos requisitos específicos das diversas áreas e departa-
mentos.
Dávalos e López (2002) apresentam os sistemas de informação como
um conjunto de componentes inter-relacionados, desenvolvidos para cole-
tar, processar, armazenar e distribuir informações, facilitando a coordenação,
o controle, a análise, a visualização e o processo decisório nas organizações.
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No entanto, esses sistemas de informação foram desenvolvidos como
rebatimento às estruturas organizacionais funcionais e departamentais. Sur-
gem assim, sistemas que suportam as necessidades financeiras da empresa,
outros voltados à produção, compras, outros, ainda, para o gerenciamento
de estoques, contabilidade e recursos humanos. Como consequência, verifi-
ca-se que a operacionalização, controle e tomada de decisões nas empresas
é sustentada por uma grande quantidade de sistemas, com linguagens de
programação e bases de dados distintas, dificultando o processo de gestão.
Adicionado à pressão competitiva global em busca das melhores práti-
cas, a promoção da reengenharia de processos de negócio pelas grandes
firmas de consultoria, a tendência internacional de privatização dos serviços
públicos, a ampliação dos recursos destinados à área de Tecnologia da Infor-
mação para suportar a reengenharia das empresas e a pressão para mudan-
ças rápidas de adequação dos sistemas de informação às necessidades da
empresa, surgem os fatores necessários para o desenvolvimento dos sistemas
integrados de gestão, também denominados de ERPs (WIEDER, 1999).
O termo ERP (Enterprise Resource Planning), deriva de um trocadilho
para os sistemas que o antecederam, denominados MRP ((Material
Requirement Planning) e MRP II (Manufacturing Resource Planning). Esses
sistemas estão relacionados ao apoio às áreas de produção e suprimentos da
empresa que evoluíram, abrangendo funções contábeis e financeiras e, por
último, todas as principais funções gerenciais da organização.
A estrutura de um sistema integrado de gestão é composta de módulos
que incorporam os processos de negócio da organização, baseados nas me-
lhores práticas mundiais de execução desses processos e desenvolvidas por
fornecedores como SAP, Oracle, JDEdwards, Peoplesoft, Migrosiga e Datasul.
Suas características principais são:
a) orientação à gestão por processos ao invés de gerenciamento fun-
cional e departamental, característica dos sistemas legados;
b) multifuncionais, incorporando processos de compras, vendas, fi-
nanças, entre outros;
c) possuem uma base de dados única, permitindo a integração dos
processos;
d) modular, possibilitando que sejam utilizados com qualquer combi-
nação de módulos;
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e) estruturados sob a arquitetura cliente/servidor; e
f) expansíveis, permitindo a integração externa com interfaces com
empresas parceiras e a utilização do comércio eletrônico (PLATT,
2004).
A Figura 4 ilustra a estrutura de um ERP:
Figura 4: Estrutura típica de funcionamento de um sistema ERP
Fonte: Elaborada pelos autores
4 O Sistema ERP no Ensino Superior
Inúmeras parcerias foram desenvolvidas entre universidades e empre-
sas fornecedoras de Sistemas ERP nos últimos dez anos, como apresentam
Watson e Schneider (1999), Wieder (1999), Becerra-Fernandez e Murphy
(2000), Guthrie e Guthrie (2000), Antonucci e Meuhlen (2001), Kurihara e
Breternitz (2001), Hawking e McCarthy (2001), Hawking et al. (2002), Dávalos
e López (2002), Dávalos e Platt (2002), Platt et al. (2004).
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Utilizando o Sistema Integrado de Gestão (ERP) no apoio ao Ensino de Logística e Gestão da Cadeia de Suprimentos
Para alguns desses autores, há uma clara oportunidade para as univer-
sidades obterem valor agregado e percebido em seus currículos dos cursos
voltados aos negócios, engenharia e computação, aumentando a
empregabilidade dos recém-formados e elevando a procura por matrículas
nestes cursos (WATSON; SCHNEIDER, 1999; GUTHRIE; GUTHRIE, 2000).
Em contrapartida, a formação de profissionais graduados com habili-
dades nestas ferramentas (ERP), garantindo propaganda e custos mais bai-
xos de implementação de seus sistemas, além de associação de seus nomes
às instituições, são fatores que impulsionam os fornecedores de ERP na rea-
lização dessas parcerias (HAWKING; MCCARTHY, 2001).
Para Guthrie, Guthrie (2000), como o ERP é um modelo empresarial
baseado em computador, ao ser trazido para o ambiente pedagógico, poderá
ser uma ferramenta muito útil, demonstrando a relevância do conteúdo do
curso para o mundo real, além de permitir o aprendizado prático junto ao
sistema, através da navegação em seus módulos, na execução de atividades
(transações) e na produção de relatórios gerenciais.
No entanto, um plano que determine tempo, esforço do pessoal (tanto
da instituição como do fornecedor do ERP) e recursos para infraestrutura,
deve ser elaborado para que a parceria tenha sucesso. Watson e Schneider
(1999) colocam que esse plano deve estar sincronizado com os objetivos da
parceria que geralmente são identificados desta forma:
a) desenvolvimento de um simulador computacional;
b) exposição dos alunos às situações do mundo real;
c) desenvolvimento de um currículo interdisciplinar;
d) enriquecimento de currículos específicos com o uso do sistema ERP;
e) desenvolvimento de oportunidades de novas pesquisas; e
f) criação de vantagem competitiva.
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5 O ERP no Ensino de Logística e Gestão da Cadeia de
Suprimentos
Como um sistema que vem configurado com as melhores práticas de
negócio, o ERP permite o registro, processamento e armazenamento de da-
dos relativos às atividades empresariais, tornando-se uma ferramenta que
pode auxiliar o processo de ensino-aprendizagem, sobretudo, das Ciências
da Administração, tanto na contextualização de conteúdos das disciplinas do
curso, como na visão de processos integrados, além do próprio funciona-
mento da prática empresarial e de um sistema de informações que o repre-
sente e auxilie o processo de tomada de decisões.
O ensino da Logística Empresarial pode se beneficiar do uso do ERP
na operacionalização de conteúdos práticos relacionados à gestão de Esto-
ques (análise ABC, elaboração de previsões e tendências de consumo, con-
figurações de MRP, com estabelecimento no sistema de ponto de pedido, lote
de compra, estoque de segurança, determinação dos custos de estoque, en-
tre outros), gestão de compras (elaboração de todo o processo, desde as re-
quisições, verificação em estoque, elaboração de cotações, ordenação no
sistema das alternativas cotadas, elaboração de pedido, etc.), bem como de
suas atividades operacionais de armazenagem, movimentação, classificação,
transportes de materiais, entre outras, através da realização de atividades e
processos no próprio módulo do sistema.
No entanto, com o avanço do conceito de Gestão da Cadeia de Supri-
mentos, os conteúdos de Logística se ampliam para fora das fronteiras da
empresa, exigindo contextualização de conceitos de integração não apenas
interfuncional como interorganizacional, através das transações integradas.
Um exemplo clássico é o da realização de um processo de gestão do pedido,
com a elaboração de atividades pré-venda, realização do pedido de um cli-
ente via sistema, análise de estoque para verificar disponibilização dos itens,
montagem do pedido, definição do roteiro de entrega, faturamento e contas
a receber como ilustra a Figura 5:
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Utilizando o Sistema Integrado de Gestão (ERP) no apoio ao Ensino de Logística e Gestão da Cadeia de Suprimentos
Figura 5: Processo de negócio de gestão de pedido
Fonte: Elaborada pelos autores
Caso não haja disponibilidade em estoque, é possível após a configu-
ração do MRP, enviar uma ordem de produção, realizar pedidos aos fornece-
dores via comércio eletrônico, registrar o recebimento das matérias-primas,
incorporar os itens em estoque, programar a produção, determinar os custos dos
produtos, realizar o pagamento das matérias-primas, enfim, realizar, através de
simulação, todas as atividades de uma Cadeia de Suprimentos tradicional.
Além dessas atividades, o conhecimento desses conteúdos junto ao ERP
é aprofundado com a parametrização do sistema pelos alunos, por meio da
criação de clientes, fornecedores, produtos, armazéns e, principalmente, de
relatórios gerenciais, desenvolvendo nos alunos habilidades gerenciais
exigidas no exercício de sua futura profissão.
É importante ressaltar a visão de processos do sistema que irá propiciar
aos alunos e professores uma visão integrada de empresa e,
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consequentemente, de curso, com boas possibilidades de integração com
disciplinas de Contabilidade e Custos, Administração Financeira, Economia,
Administração de Marketing, Administração de Produção, Importação e Ex-
portação, Administração de Sistemas de Informação, Comércio Eletrônico,
entre outras.
Como sistemáticas para uso do ERP, Guthrie e Guthrie (2000) apresen-
tam três possibilidades de integração com currículos universitários:
intermodular, modular do currículo e interdisciplinar.
A primeira abordagem possibilita uma visão do sistema como um todo,
com exposição geral de todos os módulos, podendo ser realizada por uma
disciplina como Sistema de Informações e anterior a de áreas-fim de uma
empresa, como Logística e Gestão da Cadeia de Suprimentos, Finanças,
Marketing, etc.
Na integração modular do currículo, os alunos cursam uma discipli-
na e aprendem os conceitos no módulo do ERP correspondente. Aqui, os
alunos podem aprender os conceitos logísticos de gestão de estoques e com-
pras configurando o sistema e realizando transações no sistema que
contextualizem o que aprendem em sala de aula.
Já com a integração interdisciplinar, o conceito de processos inte-
grados é colocado à prova, com a realização de processos envolvendo con-
ceitos de várias disciplinas, como o ilustrado anteriormente de ciclo de pedi-
do (Figura 5).
Atividades mais complexas como a de Implementação de um módulo
de ERP, em que é possível customizar um processo, adequando-o à realida-
de de uma empresa específica, determinada pelo professor da disciplina e a
Simulação, em que é permitido ao aluno comparar as melhores práticas de
negócio, incorporadas no sistema e desenvolver alternativas possíveis de pro-
cessos específicos da empresa, incluindo análise de gaps são citadas por
Watson e Schneider (1999) como alternativas mais avançadas no processo
de ensino-aprendizagem.
Exemplos brasileiros de utilização de conceitos de Logística e Gestão
da Cadeia de Suprimentos no meio acadêmico, utilizando o ERP, são escas-
sos ainda. O trabalho mais relevante foi desenvolvido pelo Núcleo de Manu-
fatura Avançada (NUMA) da USP – São Carlos, eleito o melhor projeto das
Américas no “SAP Research and Development Grant Award”, que apoia as
melhores propostas de utilização do Sistema R/3 (ERP da SAP) em iniciati-
vas educacionais e de pesquisa.
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Utilizando o Sistema Integrado de Gestão (ERP) no apoio ao Ensino de Logística e Gestão da Cadeia de Suprimentos
Denominado IPROS (“Integrated Production and Supply Chain
Management”), o projeto desenvolveu um simulador de cockpit de produ-
ção, baseado nas aplicações do R/3 para o gerenciamento da Cadeia de Su-
primentos. Baseado em conceitos de integração interorganizacional, o pro-
jeto permite, por exemplo, que os dados de uma máquina que quebrou e a
informação de que algum segmento da produção está atrasado pode ser útil
e interessar não apenas quem está dentro da empresa, como também a ou-
tros elos da cadeia produtiva, como um fornecedor de matéria-prima. Essas
informações ainda podem gerar novos indicadores e auxiliar no desenvolvi-
mento de novos padrões na inteligência de negócios, bem como no
replanejamento e na tomada de decisões dentro da fábrica. O projeto IPROS
apresenta o cenário conceitual de uma Cadeia de Suprimentos do setor me-
tal-mecânico como representado na Figura 6, com posterior construção de
um cockpit de produção.
Figura 6: Modelo da cadeia de suprimentos do projeto IPROS
Fonte: Elaborada pelos autores
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Platt (2004) apresenta um trabalho realizado nessa área por um grupo
de pesquisadores da Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL) que
criou um modelo que simula uma Cadeia de Suprimentos, configurando o
ERP de acordo com as características econômicas e os cursos oferecidos em
cada Campus da respectiva Universidade (Figura 7).
Os alunos dos cursos de negócio (Administração, Contabilidade, Eco-
nomia) dos quatro Campus são agrupados em quatro empresas representa-
das na Cadeia de Suprimentos. Nessas empresas, eles desenvolvem ativida-
des empresarias relacionadas à compras, finanças, produção, vendas e re-
cursos humanos, além das interações comerciais do tipo B2B (comércio ele-
trônico entre empresas) e de Supply Chain Management (Gestão da Cadeia
de Suprimentos).
Já os alunos das áreas tecnológicas (Computação, Sistemas de Infor-
mação e Engenharias) são reunidos em dois grupos, constituindo duas em-
presas de suporte para as quatro empresas da Cadeia de Suprimentos, as
quais desenvolverão atividades de aprimoramento, administração dos siste-
mas e de suas bases de dados, desenvolvimento de customizações, etc.
A estratégia de alocação das empresas fictícias em função dos Campus
atende aos interesses da UNISUL em contextualizar seus conteúdos com a
vocação da região onde o respectivo Campus está instalado. O critério relaci-
onado aos cursos oferecidos nos Campus também é levado em conta para a
localização das empresas da seguinte forma:
a) Empresa fornecedora (instalada no laboratório do Campus
Araranguá) é responsável pelas atividades de beneficiamento de
matérias-primas.
b) Empresa industrial (instalada no laboratório Campus Tubarão) é a
responsável pelas atividades de compra e montagem de produto.
c) Empresa varejista 1 (instalada no laboratório do Campus da Gran-
de Florianópolis) e empresa varejista 2 (instalada no laboratório
do Campus do Norte da Ilha) responsabilizam-se pela compra e
venda de produtos ao consumidor final.
d) Empresa fornecedora de serviços de suporte 1 (instalada no labo-
ratório do Campus Tubarão) atua no desenvolvimento de
aplicativos, customizações e administração da base de dados e dos
sistemas das empresas fornecedora (Campus Araranguá) e da pro-
dutora (Campus Tubarão).
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Utilizando o Sistema Integrado de Gestão (ERP) no apoio ao Ensino de Logística e Gestão da Cadeia de Suprimentos
e) Empresa fornecedora de serviços de suporte 2 (instalada no labo-
ratório do Campus da Grande Florianópolis) atua no desenvolvi-
mento de aplicativos, customizações e administração da base de
dados e dos sistemas das empresas varejistas.
Figura 7: Modelo abrangente que inclui o sistema ERP na UNISUL
Fonte: Elaborada pelos autores
Encerrando, é possível verificar que tanto na contextualização de con-
teúdos como no desenvolvimento de simulações, vislumbram-se grandes al-
ternativas ao ensino de Logística e Gestão da Cadeia de Suprimentos através
do uso de sistemas integrados de gestão.
Os exemplos de interação aluno-sistema, através da realização de tran-
sações nos módulos do ERP, em processos integrados com outras áreas, pos-
sibilitarão, além de mais conhecimentos sobre um sistema integrado de ges-
tão e processos logísticos de negócio, o desenvolvimento de habilidades
gerenciais fundamentais ao exercício da profissão de Administrador.
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6 Considerações Finais
Este trabalho apresentou alternativas de uso de sistema integrado de
gestão como ferramenta de apoio no processo de ensino-aprendizagem de
Logística e Gestão da Cadeia de Suprimentos.
A possibilidade de utilização de uma ferramenta ERP como recurso de
apoio ao processo de ensino aprendizagem é muito valiosa, pois permite,
por meio de simulação, que o aluno tenha acesso à interação prática com um
sistema que representa os processos de negócio de uma empresa. A
contextualização dos conteúdos de Logística e Gestão da Cadeia de Supri-
mentos com a realização de transações no sistema, de processos integrados
com outras áreas da organização, análises ABC, realização de previsões, con-
figuração de MRP, determinando ponto de pedido, estoque de segurança,
custos de estoque, processamento de pedidos, comércio eletrônico, entre
outros podem ser estudados com base no ERP.
Através de dois casos apresentados, é possível verificar que além do
uso para transações empresariais, o uso do ERP também permite extrapolar
o aprendizado para todas as interações em uma Cadeia de Suprimentos, tra-
zendo aos alunos uma visão integrada de gerenciamento e possibilitando
análises mais profundas para a tomada de decisão.
O grande desafio que surge a partir de uma iniciativa desse tipo é o
delineamento de um projeto que permita a união de instituição, por meio de
seus cursos, coordenadores, professores, técnicos e alunos e pelo fornecedor
do sistema, com seu software e equipe de consultores, para iniciarem uma
parceria que, entre inúmeros benefícios, irá formar pessoal mais qualificado
e sintonizado com a realidade do mercado.
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Utilizando o Sistema Integrado de Gestão (ERP) no apoio ao Ensino de Logística e Gestão da Cadeia de Suprimentos
Utilizing the Enterprise Resource Plannig (ERP)
Supporting Logistcs Teaches and Suppli Chain
Management
Abstract
The present work introduces one methodology for Logistics and Supply Chain
Management teaching through an utilization of an Enterprise Resource
Planning, called also ERP. In the first place it is defined what Logistics is, identifying
the conjunct of business activities grouped under your concept, and presented to
the students in the class, as well the actual concept of Supply Chain Management,
covering the inter organization activities. The Enterprise Resource Planning (ERP)
is afterwards characterized, like an evolution of MRP System (Material Requirement
Planning) and the necessity of companies improve the control of yours operations
and decision-making. Examples about the use of ERP like a support instrument in
the process of teaching/ learning are demonstrated right away. At last the work
present the possibility of ERP utilization for teaching subjects like Logistics and
Supply Chain Management, clarifying using two cases developed in Brazil.
Key words: Logistics. Supply Chain Management. Enterprise Resource
Planning. ERP. Teaching.
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