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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRECOSSISTEMAS
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
CAPITAL SOCIAL E ESTRATÉGIAS DE DESENVOLVIMENTO
ECONÔMICO NA MICRORREGIÃO DE ITAPIRANGA (SC)
MAURO HAHN
ORIENTADOR: PROF. DR. ADEMIR ANTÔNIO CAZELLA
CO-ORIENTADOR: PROF. DR. WILSON SCHMIDT
FLORIANÓPOLIS, AGOSTO DE 2005
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRECOSSISTEMAS
CAPITAL SOCIAL E ESTRATÉGIAS DE DESENVOLVIMENTO
ECONÔMICO NA MICRORREGIÃO DE ITAPIRANGA (SC)
MAURO HAHN
ORIENTADOR: PROF. DR. ADEMIR ANTÔNIO CAZELLA
CO-ORIENTADOR: PROF. DR. WILSON SCHMIDT
Banca Examinadora: Prof. Dr. José Carlos Fiad Padilha (UFSC)
Prof. Dr. Lauro Mattei (UFSC)
Profª. Dra. Claire Cerdan (CIRAD)
Prof. Dr. Sérgio Leite G. Pinheiro (EPAGRI)
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de s-graduação em
Agroecossistemas como requisito para
obtenção do tulo de Mestre em
Agroecossistemas
Florianópolis, agosto de 2005
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CAPITAL SOCIAL E ESTRATÉGIAS DE DESENVOLVIMENTO
ECONÔMICO NA MICRORREGIÃO DE ITAPIRANGA (SC)
MAURO HAHN
Esta dissertação foi julgada e aprovada em sua forma final para obtenção do título de
MESTRE EM AGROECOSSISTEMAS
BANCA EXAMINADORA
__________________________________
Prof. Dr. Ademir Annio Cazella
(Orientador)
_________________________________
Prof. Dr. Wilson Schmidt (Co-Orientador)
__________________________________
Prof. Dr. José Carlos Fiad Padilha
Presidente (UFSC)
__________________________________
Prof. Dr. Lauro Mattei (UFSC)
_________________________________
Profª. Dra. Claire Cerdan (CIRAD)
__________________________________
Prof. Dr. Sérgio Leite G. Pinheiro
(EPAGRI)
__________________________________
Prof. Dr. Luiz Carlos Pinheiro Machado
Filho (Coordenador do Programa)
Florianópolis, agosto de 2005
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DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho à Aloísio e
Ana Amália Hahn, meus pais, aos
meus irmãos e à Beatriz Inês Tepe,
minha namorada, que junto comigo
alimentaram o sonho de ver este
trabalho concldo.
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AGRADECIMENTOS
Agradeço a todas as instituições que contribuíram direta ou indiretamente, para
a realização deste trabalho.
Especialmente ao professor Dr. Ademir Antônio Cazella pela orientação e pela
sua contribuição em parte importante da minha formação acadêmica. Pela competência e,
sobretudo, pela convivência e cordialidade com que conduziu este trabalho.
Ao professor Wilson Schmidt, co-orientador na elaboração deste trabalho, pelo
incentivo e as sugestões.
Aos meus pais e irmãos, pelo exemplo de disciplina e espírito familiar.
Também pelo apoio financeiro e moral nas horas de maior dificuldade.
Aos professores e funcionários do Programa de s-Graduação em
Agroecossistemas da Universidade Federal de Santa Catarina, por repartirem parte de seus
conhecimentos comigo.
Às inúmeras pessoas que compartilharam seu saber em longas conversas e que
emprestaram documentos históricos, fotografias e outros materiais de pesquisa.
Aos colegas de mestrado, principalmente os que iniciaram em 2003, pelos
momentos de reflexão, estudo, descontração e alegria que sua presença proporcionou.
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SUMÁRIO
LISTA DE QUADROS.............................................................................................. vii
LISTA DE MAPAS................................................................................................... viii
LISTA DE FOTOS ................................................................................................... ix
SIGLAS .................................................................................................................... x
RESUMO ................................................................................................................. xi
ABSTRACT ............................................................................................................. xii
INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 14
CAPÍTULO 1. DO INÍCIO DA COLÔNIA À EMANCIPAÇÃO DO MUNICÍPIO: 1926
A 1954 ....................................................................................................................... 25
1.1 A concepção do projeto Porto Novo ............................................................ 27
1.2 A Volksverein ............................................................................................ 35
1.3 Projetando a colonização ............................................................................. 37
1.4 A implantação da colônia ............................................................................. 40
1.5 A mobilização do capital social nos primeiros anos da colonização ........... 45
1.5.1 “Sparkas” o banco do colono para o colono .............................................. 46
1.5.2 As escolas paroquiais ................................................................................ 50
CAPÍTULO 2. DA EMANCIPAÇÃO ÀS PROPOSTAS DE DESENVOLVIMENTO
ECONÔMICO: 1954 A 1985 ................................................................................... 55
2.1 A emancipação do distrito de Itapiranga .................................................... 56
2.2 As recomendações do plano de desenvolvimento de 1962 ........................... 60
2.3 Industrialização dos produtos agrícolas ...................................................... 62
2.3.1 A Missereor .............................................................................................. 62
2.3.2 A Comissão Municipal de Desenvolvimento (COMUDE) ........................ 65
2.4 As obras de maior impacto propostas pelo plano de desenvolvimento de 1962
................................................................................................................................... 67
2.4.1 A cooperativa de laticínios ........................................................................ 67
2.4.2 O abatedouro de suínos ............................................................................. 74
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CAPÍTULO 3. ITAPIRANGA 30 ANOS DEPOIS DA EMANCIPAÇÃO: 1985 ATÉ
2005 ........................................................................................................................... 81
3.1 Caracterização da microrregião de Itapiranga ........................................... 83
3.2 A integração agroindústria agricultura familiar ......................................... 86
3.3 A integração pequena propriedade fumageiras .......................................... 91
3.4 A bovinocultura de leite ............................................................................... 94
3.5 Os sistemas alternativos de produção .......................................................... 99
3.6 A pequena agroindústria familiar ............................................................... 101
3.7 O empreendedorismo na microrregião de Itapiranga ................................ 105
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 111
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 116
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LISTA DE QUADROS
Quadro 1. Venda de terras no projeto Porto Novo ...................................................... 42
Quadro 2. Estimativas e censos populacionais da Volksverein para colônia Porto Novo entre
os anos 1930 e 1950................................................................................................... 44
Quadro 3. Densidade demográfica e urbanização de Itapiranga, São João do Oeste e Tunápolis
................................................................................................................................... 84
Quadro 4. Evolução do número total de suinocultores integrados no Oeste catarinense 87
Quadro 5. Número de propriedades e propriedades integradas com as agroindústrias . 90
Quadro 6. Estabelecimentos que cultivaram fumo na safra 2000/2001 ....................... 93
Quadro 7. Número de propriedades e produção de leite por município ....................... 97
Quadro 8. Quantidade de Empresas por município ..................................................... 106
Quadro 9. Número de trabalhadores integrantes da família nas empresas de Itapiranga 109
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LISTA DE MAPAS
Mapa 1. Localização dos municípios de Itapiranga, Tunápolis e São João do Oeste .... 28
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LISTA DE FOTOS
Foto 1. Núcleo urbano de Itapiranga (antiga Porto Novo), às margens do Rio Uruguai
por volta de 1927 ........................................................................................................ 44
Foto 2. A agroindústria Seara alimentos AS de Itapiranga na atualidade ...................... 78
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SIGLAS
ACARESC - Associação Catarinense de Assistência Técnica e Extensão Rural de
Santa Catarina
COMUDE - Comissão Municipal de Desenvolvimento
CREDI - Cooperativa de Crédito de Itapiranga
EPAGRI - Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina
IAESC - Instituto Assistência e Educação São Canísio
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ONG - Organização não goverenamental
PEA - População Economicamente Ativa
SAFRITA - Sociedade Anônima Frigofico de Itapiranga
SICOOB - Sistema de Cooperativas de Crédito Integradas
SUP - Sociedade União Popular
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RESUMO
O objetivo central deste trabalho é, através de um resgate histórico da colonização da
microrregião de Itapiranga SC, analisar as relações existentes entre o capital social e
os veis de desenvolvimento econômico e social desta região. O capital social refere-se
às relações de confiança, reciprocidade e cooperação no interior de determinados grupos
sociais. Recentemente, a contribuição trica do conceito de capital social na análise de
processos de desenvolvimento, fundamentou-se mais em abordar estas relações, não
pelas suas características intnsecas, mas pelo valor como capital, ou seja, como
recurso dos agentes para cumprir determinados fins. Desta maneira, o capital social
pode ser entendido como a soma dos capitais e poderes contidos nas relações sociais
estabelecidas por um grupo de agentes. Comunidades com alto capital social têm
apresentado melhores condições de se articular e mobilizar forças coletivamente,
criando uma economia mais dinâmica e melhores índices de qualidade de vida. Com
base nesta discussão, no primeiro capítulo recupera-se o período compreendido entre
1926 e 1954, ou seja, do inicio da colonização até a emancipação do munipio de
Itapiranga. Este período foi marcado por um intenso exercício da confiança,
reciprocidade e cooperação para o alcance dos objetivos iniciais da colônia. O segundo
capítulo analisa o período compreendido entre 1954 e 1985, fase marcada pela
instalação do munipio e, a elaboração e execução de um plano de desenvolvimento
econômico que mobilizou os principais recursos presentes na comunidade local, bem
como, a superação de inúmeros conflitos. Já, no terceiro capítulo analisa-se a fase
compreendida de 1985 até hoje. Neste período, além da emancipação de dois distritos
de Itapiranga (Tunápolis e São João do Oeste), aconteceram mudanças nos sistemas de
produção, a intensificação da integração entre as agroindústrias e os agricultores
familiares e o aumento nos índices de empreendedorismo da microrregião. Apesar da
busca por resultados individuais o espírito comunitário ainda permanece vivo e permite
concluir que existe relação entre os atuais índices de qualidade de vida da microrregião
e o capital social.
Palavras-chave: capital social, empreendedorismo, desenvolvimento econômico e
social.
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ABSTRACT
The main purpose of this work is, through a historical rescue of the colonization of the
microregion or Itapiranga-SC, to analyze the existent relationships between the social
capital and the economic and social levels of development on this area. The capital
stock refers to the relations trust, reciprocity and cooperation inside certain social
groups. Recently, the theoretical contribution of the social capital concept in the
analysis of development processes, was based more in approaching these relationships,
not for their intrinsic characteristics, but for the value as capital, as resource of the
agents to accomptish certain ends. Therefore, the social capital can be understood as
the sum ofthe capitais and powers contained in the social relationships estabtished by a
group of agents. Communities with high social capital have been presenting better
conditions to articulate and to mobilize collectively forces, creating a more dynamic
economy and best index of tife quatity. Based on this discussion, in the first chapter it
recovers the period between 1926 and 1954, from the beginning of the colonization to
the emancipation of the municipal district of ltapiranga. This period was marked by an
intense exercise of trust, reciprocity and cooperation to reach the eartiest objectives of
the colony. The second chapter analyzes the period between 1954 and 1985, phase
marked by the installation of the municipal district and, the elaboration and execution
of an economical development plan that mobilized the main resources present in the
local community, as well as, the overcoming of countless conflicts. In the third chapter
we understood the phase from 1985 until today. ln this period, besides the
emancipation of two districts of Itapiranga (Tunápotis and São João do Oeste), changes
happened in the production systems, the intensification of the integration between the
agribusinesses and the family farmers and the increase in the indexes on enterprising of
the microregion. ln spite of the search for individual resuIts the community spirit is still
ative and it allows to conclude that relationship exists between the current indexes on
tife quatity on the microregion and the social capital.
Keywords: social capital, enterprising, economic and social development.
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INTRODUÇÃO
O presente estudo encontra-se inserido em um trabalho de pesquisa mais amplo
que vêm sendo desenvolvidos sobre a temática do desenvolvimento territorial
sustentável no âmbito da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Trata-se de
um trabalho de identificação e caracterização de iniciativas exemplares de
desenvolvimento em curso no estado de Santa Catarina, avaliando comparativamente os
obstáculos e as potencialidades que cercam o esforço de consolidação institucional e
dinamização destas iniciativas
1
.
O objetivo central do estudo é a compreensão do papel do capital social no
processo de desenvolvimento do Munipio de Itapiranga e a relação deste com os
atuais índices de desenvolvimento neste munipio. De forma mais específica, o
objetivo é perceber, através do resgate histórico da evolução da colonização de
Itapiranga como o conjunto de relações, normas e redes sociais tem contribdo nesse
processo.
1
CAZELLA et al. Desenvolvimento territorial: diagnóstico de potencialidades e obstáculos em zonas
rurais do estado de Santa Catarina. Florianópolis, PPAGR/UFSC, 2004, projeto de pesquisa, 13p. Esse
projeto conta com apoio financeiro da Fundação de Ciência e tecnologia (Funcitec) do governo de Santa
Catarina.
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A formulação do conceito acerca do termo capital social está relacionado à
ampliação teórica do termo capital. Na década de 1960 foram propostos os conceitos
relacionados ao capital sico e humano, sendo inclusive, criados os índices referenciais
de desenvolvimento humano. Nos anos noventa foi proposto também o capital social.
Este conceito é uma noção trica de utilização recente na literatura e nas pautas dos
governos, organizações não-governamentais (ONGs) e organismos internacionais.
Segundo Castilhos (2002) a expressão capital social procura dar significado,
essencialmente, à importância da presença e da qualidade das relações sociais para o
desencadeamento do processo de desenvolvimento. Capital social se refere, portanto,
às relações sociais que estão institucionalizadas e culturalmente incorporadas na
forma de normas ou de redes sociais”.
O conceito “capital social contempla componentes culturais e estruturais
relacionados às relações sociais. Ao mesmo tempo em que contempla as relações
estabelecidas na forma de redes ou normas sociais, contempla também, os atributos
culturais da reciprocidade, confiança e cooperação. No âmbito acadêmico,
principalmente, os trabalhos da Bourdieu (1985), Coleman (1990) e Putnam (1993)
2
,
passaram a trabalhar o recurso contido nesse tipo de relações sociais. Desenvolveram
teorias que estabelecem a contribuição desse tipo de capital às diferentes esferas da vida
social, em particular a econômica e social.
2
De acordo com Castilhos (2002 a contribuição de Bourdieu se principalmente na identificação dos
vários outros tipos de capital (além do físico), sendo que entre estes ele considera o capital social.
Coleman é um importante autor que contribuiu na discussão sobre capital social. Ele faz uma abordagem
sociogica sobre o capital social, mostrando a sua importância para o funcionamento dos sistemas e
estruturas sociais. E Putnam é um dos autores centrais para o debate sobre o capital social.
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O conceito de capital social é construído, embora de maneiras distintas,
inicialmente por Bourdieu (1985), que acredita que o capital social é a somatória dos
recursos reais e virtuais, produzidas pelas redes de relacionamentos de mútuo
entendimento e reconhecimento, à disposição dos indiduos e grupos e, por Coleman
(1990), que embora reconheça a presença de capital social em grupos e comunidades,
centra sua análise no indiduo.
Coleman caracteriza o capital social como os recursos produzidos pela interação
social entre os indiduos ou grupos, que resultam em confiança e credibilidade. Estes
recursos, quando dispoveis, facilitam a ação social seja dos indiduos seja de grupos
ou comunidades. Destaca que o conceito de capital social não é uma entidade única, ele
possui uma variada gama de manifestações que se encontram na estrutura social e que
facilitam a ação dos indiduos dentro desta. Segundo Dias Junior (2001), o capital
social não se encontra nos indiduos nem nos implementos físicos de produção. Este
tipo de capital, diferentemente das outras formas de capital (econômico, por exemplo)
encontra-se na estrutura das relações entre as pessoas de uma comunidade.
Putnam, estabelece que o capital social diz respeito às características culturais
da organização social, como confiança, normas e sistemas, que contribuem para
aumentar a eficiência da sociedade, facilitando as ações coordenadas. Em outras
palavras, Putnam sugere que o capital social é um bem comunitário.
Conforme Castilhos (2002), o principal e mais influente trabalho feito acerca
da importância do capital social como conceito trico é o de Putnam. Este autor
identificou as diferenças no desempenho das então emergentes instituições regionais,
criadas pelo governo italiano para representar os diversos meios econômicos, sociais,
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culturais e políticos da Itália a partir de um estudo da dinâmica do desenvolvimento
institucional.
O trabalho de Putnam enfatiza as rzes históricas mais longínquas da
formação, no Norte da Itália, de um espírito vico, base de seu processo de
desenvolvimento. Provavelmente seja este o maior problema da obra deste autor. A sua
análise é restrita e permeada por uma compreensão determinista sob o ponto de vista
histórico e cultural. Pela análise de Castilhos (2002), este autor atribui papel central ao
capital social na determinação dos veis de desenvolvimento cio-econômico, porém,
sua concepção trica o permite que se crie ou se forme capital social em locais onde
este esteja ausente. Em regiões de colonização mais recente, sob este ponto de vista, não
seria possível a formação de capital social devido os laços sociais não estarem
suficientemente enraizados culturalmente. Sob este olhar, o capital social, seria
determinado, exclusivamente, pela disponibilidade de atributos culturais e históricos
que existem em determinada sociedade.
Entretanto, elementos tamm importantes na formação e exercício do
capital social são os conflitos sociais. Hirschman (1995) aponta que os conflitos sociais
aumentam a coesão social nas sociedades democráticas de mercado. Este autor
argumenta que o conflito é, de fato, uma característica da sociedade e que se evidencia
com notável persistência. Ele é a contrapartida natural do progresso técnico e
conseqüente criação de nova riqueza. Os conflitos derivam de desigualdades e declínios
setoriais ou regionais. Essas desigualdades e declínios são precisamente a contrapartida
de vários desenvolvimentos dinâmicos em outras partes da economia. Ainda, o autor
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chama atenção no sentido de que o segredo da vitalidade da sociedade de mercado pode
estar na sucessão de crises e problemas. A sociedade, assim, produz conflitos que
precisam ser resolvidos e que ela aprende a administrar.
Os sistemas sociais não se resumem, portanto, a um conjunto de normas ou,
de outra forma, não são somente influenciados apenas por questões culturais. Tais
sistemas possuem tanto componentes culturais como sociais, e os agentes sociais podem
promover mudanças no processo de desenvolvimento e nas escolhas que são feitas. Para
Castilhos (2002) tais modificações podem provocar alterações nas relações sociais,
permitindo a institucionalização de novos códigos culturais e práticas sociais que
promovam, portanto, a formação do capital social. Assim, a ampliação da noção teórica
sobre capital social para rios tipos e dimensões permite incorporar uma visão
multidimensional e dinâmica desse ativo de capital em detrimento a visão determinista
de Putnam.
Neste sentido, Castilhos (2002, p. 11) identifica três tipos de capital social
que são classificados conforme o tipo de posição que descrevem as relações sociais: (i)
“Capital social institucional” é o que descreve as relações sociais existentes entre a
sociedade civil e o Estado (os diversos órgãos e “espaços públicos” com que se
relacionam os cidadãos); (ii) “Capital social extracomunitário”, são as relações
sociais geradoras de capital que determinada comunidade estabelece com grupos
sociais e econômicos externos. Este tipo de capital social é muito importante, pois
permite que os indivíduos estabeleçam as relações sociais, as “trocas econômicas”
(relações de mercado) e o acesso às informações (conhecimento) presentes em meios
“externos” a sua comunidade e (iii) “Capital social comunitário”, aquele que
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corresponde às relações sociais comunitárias dos indivíduos. Refere-se à capacidade
que estes possuem para gerar relações sociais baseadas em reciprocidade e confiança
nas suas comunidades, além do potencial organizativo que estas mesmas comunidades
possuem.
Estes três tipos de relações sociais podem proporcionar aos indiduos ou
grupo sociais o alcance de objetivos que isoladamente seriam impossíveis de serem
alcançados. Para que isto aconteça é necessário que as relações sociais estejam
culturalmente enraizadas na realidade dos indiduos e também que a postura destes seja
favorável ao estabelecimento de relações benéficas baseadas em reciprocidade e
confiança, que possibilitem a criação do capital social.
Neste sentido, a noção de capital social permite ver que os indiduos não
agem independentemente e que seus objetivos não são estabelecidos de maneira isolada.
As estruturas e relações sociais fazem parte dos recursos, são ativos de capital de que os
indiduos podem dispor. O capital social, dessa maneira, pode ser produtivo, já que ele
torna possível que se alcancem objetivos que o seriam atingidos na sua ausência.
Com base nesta discussão busca-se nesta dissertação compreender a
construção de capital social e o seu papel no processo e nos atuais índices de
desenvolvimento do munipio de Itapiranga-SC. O problema de pesquisa consiste em
saber se o alcance dos bons índices de desenvolvimento desta região, geograficamente
isolada, distante dos principais mercados consumidores e com pouca interferência do
Estado até a década de 1970, é resultado de mecanismos de reorganização, criação e
mobilização do capital social pelos colonizadores deste local.
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Para o desenvolvimento do presente trabalho, foram observados os seguintes
procedimentos: revisão bibliográfica; mobilização e análise de documentos históricos
buscando situar os principais acontecimentos referentes à implantação da colônia e ao
crescimento econômico da microrregião de Itapiranga; investigação junto aos órgãos
públicos e às empresas da microrregião para identificar dados econômicos, sociais e
demográficos; entrevistas com pioneiros da colonização do antigo Projeto Porto Novo
3
com a finalidade de enriquecer este trabalho com contribuições de pessoas que viveram
as dificuldades do pioneirismo; entrevistas com o Presidente do Sindicato dos
Trabalhadores Rurais da década de 1960, com o Presidente da Cooperativa de Crédito
de Itapiranga das décadas de 1950 e 1960 e com membros da extinta Comissão
Municipal de Desenvolvimento (COMUDE) para mobilizar informações referentes ao
planejamento para o desenvolvimento econômico da microrregião; entrevistas com
integrados das agroindústrias procurando identificar a opinião destes sobre o rumo que
os principais empreendimentos resultantes do planejamento de 1962 tomaram;
entrevistas com o Prefeito de Itapiranga (administração 2001/2004) e com os gerentes
locais da EPAGRI, da Cooper A1 (Filial da Cooperativa Aurora de Chapecó/SC) e da
Seara Alimentos S/A e, identificação através das respostas geradas pelas entrevistas, da
atuação dos órgãos públicos e das empresas no processo de desenvolvimento da
microrregião de Itapiranga.
3
Localizada na extremidade oeste do território catarinense, nas margens do rio Uruguai, a colônia Porto
Novo passou em 1929 a se denominar Itapiranga que na língua guarani significa pedra vermelha (ita:
pedra e piranga: vermelha), nome sugerido pelo eno governador Adolfo Konder. Itapiranga emancipou-
se politicamente do município de Chapecó em 1954. Seus dois distritos, Tunas e São João se
emanciparam posteriormente, formando os atuais municípios de Tunápolis e São João do Oeste.
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Essas entrevistas foram realizadas a partir de um roteiro mínimo de questões,
objetivando, dentro do tema de pesquisa, não desperdiçar informações que, dar
condições para que os interlocutores expressassem suas opiniões da forma mais
abrangente e aberta possível. A identificação dos pioneiros se deu a partir de indicações
de lideranças locais e da própria vivencia e conhecimento do pesquisador na região. No
total foram realizadas sete entrevistas com pioneiros e quinze entrevistas com
integrados das agroindústrias. Cabe aqui ressaltar a importância que teve neste trabalho
o Sr. Ervino Jaeger, pioneiro da colonização e importante liderança nas primeiras
décadas da colônia, pelo seu empenho em colocar a disposição o seu grande acervo de
documentos e materiais históricos e pelas inúmeras conversas que tivemos.
Infelizmente, este senhor faleceu antes que este trabalho estivesse pronto.
A dissertação divide-se em três capítulos, sendo que no primeiro capítulo
faz-se um resgate histórico do processo de colonização da região até a emancipação do
munipio em 1954. Os dados foram obtidos através de pesquisas em documentos
históricos e entrevistas com pioneiros, na busca de identificar os momentos marcantes
de reorganização, criação e mobilização de capital social para o alcance dos objetivos
iniciais do projeto de colonização. A seleção dos pioneiros para as entrevistas se deu a
partir de inúmeras conversas com pessoas da região que indicaram aqueles
remanescentes que tiveram maior importância nos eventos ocorridos na região. As
entrevistas foram abertas e na sua maioria gravadas na língua alemã devido a
dificuldade destas pessoas em se comunicar na língua portuguesa.
A colônia de Porto Novo, denominada Itapiranga a partir de 1929, foi uma
das muitas colonizações de empresas particulares feitas na região Oeste de Santa
Catarina, porém, com uma diferença fundamental em relação às demais. Foi projetada
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por uma instituição ligada à Igreja Católica e destinada preferencialmente para
imigrantes católicos de origem germânica. Desde o processo de planejamento da colônia
a preocupação maior sempre foi com a “organização e o espírito comunitário” dos
colonos.
A suposta harmonia pretendida pelos idealizadores do projeto, por várias
vezes, foi abalada, exigindo dos atores locais habilidade para contornar os principais
problemas, bem como capacidade para que os momentos de maior crise se
transformassem em aprendizado e oportunidade para o desenvolvimento. Entre os
principais conflitos surgidos nos primeiros anos da colonização, podemos citar a falta de
acesso ao crédito, suprida com a fundação da primeira cooperativa de crédito de Santa
Catarina em 1932, a nacionalização do ensino em 1938, que exigia que as aulas
deixassem de ser ministradas na língua alemã e a portuguesa fosse oficialmente adotada,
revertendo mais tarde na inclusão de novos valores e menor submissão à Igreja. Além
da constante tensão decorrente da pouca autonomia política local pelo fato da colônia
estar ligada ao munipio de Chapecó, situação que mudou a partir de 1954, com a
emancipação do munipio de Itapiranga.
No segundo capítulo faz-se uma análise do período compreendido entre 1954
e 1985. Esta fase é marcada por transformações significativas na economia da região. A
partir da emancipação, a comunidade local passa a perceber com maior clareza que o
modelo de desenvolvimento adotado até aquele momento não havia acompanhado o
ritmo das demais regiões vizinhas. A economia local encontrava-se pouco integrada à
economia regional e nacional, as práticas agrícolas já não correspondiam às
necessidades nem às novas tecnologias. Em resumo, era preciso traçar novas linhas para
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o desenvolvimento do novo munipio. Algumas tentativas isoladas de melhorias foram
empreendidas no final da década de 1950. Percebendo a abrangência limitada destas
ações e por sugestão da Misereor, instituição de ajuda internacional ligada à Igreja
Católica Alemã, lideranças locais optaram por realizar um levantamento da real situação
da economia local e, a partir dele, elaborar um plano de desenvolvimento que mostrasse
as possibilidades e os caminhos a serem trilhados para dar novos rumos ao
desenvolvimento do munipio.
Este levantamento e planejamento se deram no período compreendido entre
novembro de 1961 e fevereiro de 1962. A implantação das principais ações sugeridas
ocorreu imediatamente após este período e exigiu o exercício da capacidade de
organização e mobilização das forças comunitárias, bem como, o uso das relações extra-
comunitárias para a realização dos objetivos comuns. O levantamento identificou,
dentre outras necessidades, a de instalação de uma indústria de latinio, um abatedouro
de suínos para a industrialização dos produtos dos agricultores e a instalação de uma
escola agrícola para melhorar a formação dos agricultores.
Estes empreendimentos foram realizados com a orientação técnica da Agro e
Hidrotécnica Ltda, empresa responsável pela coleta de dados e planejamento, e com o
apoio financeiro da Misereor, bem como a mobilização das poupanças e trabalho
voluntário dos atores locais. A consolidação desses empreendimentos está, no entanto,
permeada por inúmeros conflitos. Muitos foram os problemas enfrentados, sendo na
maioria superados, não sem provocar mudanças profundas no projeto inicialmente
idealizado. O mais importante é que são empreendimentos que determinam ainda hoje a
dinâmica de desenvolvimento da região.
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Por fim, o último capítulo analisa o período de 1985 até a atualidade. O
objetivo é analisar as principais mudanças nas relações sociais e o atual estágio de
desenvolvimento da região. Para tanto, discutem-se os sistemas de produção
agropecuários e os índices de empreendedorismo local e suas inter-relações. Este
período é marcado também pela emancipação de dois distritos do munipio de
Itapiranga: Tunápolis em 1989 e São João do Oeste em 1993. Além dos
desmembramentos, a partir da década de 1980 acontece na microrregião o
fortalecimento do sistema de integração entre os agricultores familiares e as empresas
agroindustriais. Este sistema, de um modo geral, não coincide com os prinpios da
organização comunitária que havia sido imaginada na fase inicial do projeto de
colonização, pois está alicerçado no individualismo e na competição por melhores
resultados. Mesmo assim, o espírito comunitário permanece presente na comunidade
local e são freqüentes os exemplos de mobilização de recursos como a cooperação,
reciprocidade e confiança (festas comunitárias, projeto microbacias, etc) que são
fundamentais na evolução de um novo processo e busca de alternativas que podem estar
gerando na região um novo modelo de desenvolvimento. Finalmente serão apresentadas
algumas conclusões e possíveis sugestões para a formulação de novas propostas de
desenvolvimento.
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CAPÍTULO I: DO INÍCIO DA COLÔNIA À EMANCIPAÇÃO DO MUNICÍPIO:
1926 A 1954
Várias levas de imigrantes europeus atravessaram o Oceano Atlântico
durante a segunda metade do século XIX em busca de melhores condições de vida.
Fizeram-no por razões diversas. A imagem de uma vida próspera e tranqüila em meio a
exuberantes paisagens, cultivando as terras extraordinariamente férteis, abundantes e de
sua propriedade, permeava suas expectativas. Tal imagem era fomentada pela
propaganda de empresas colonizadoras e pelas notícias de quem havia partido. Para
trás ficava o meio no qual haviam criado laços culturais demasiados fortes para serem
esquecidos. Talvez por isso levavam consigo esse forte apego às tradições que se
constituíam em bens culturais, posterior matéria prima para a consolidação de colônias
de imigrantes no Brasil.
No Rio Grande do Sul, as novas colônias foram constitdas a partir da
junção do ambiente novo com os antigos costumes, tradições, instituições e formas de
sociabilidade, profundamente arraigados trazidos pelos colonos de além mar. Nas
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primeiras décadas do século XX, entretanto, as colônias mais antigas começaram a
enfrentar uma situação que, para os primeiros imigrantes, parecia improvável. Com o
acentuado crescimento demográfico e a vinda de novos imigrantes, somado ao
esgotamento do solo, as terras das colônias mais antigas, outrora férteis e abundantes,
começavam a perder o vigor ao mesmo tempo em que se tornavam mais caras. Isto
acabou por incentivar a busca por novas regiões de colonização.
Neste sentido, as terras do oeste catarinense, especialmente às margens do
rio Uruguai, apresentavam-se como uma região promissora. Várias colônias surgiram
nesta região. Entre elas está Porto Novo que a partir de 1929 passou a se chamar
Itapiranga. O que a diferencia das demais colônias do Oeste catarinense é o fato de ter
sido planejada e organizada por uma associação de alemães católicos, a Volksverein für
Deutschen Katholiken im Rio Grande do Sul (Sociedade União Popular para Alemães
Católicos do Rio Grande do Sul), fundada em 1912 e orientada por religiosos da
Companhia de Jesus (Jestas) daquele estado.
Porto Novo foi fundado em 26 de fevereiro de 1926. Esta data é aceita
historicamente e comemorada como o dia da fundação do atual munipio de Itapiranga.
A propaganda veiculada no Rio Grande do Sul sobre as “maravilhas” de Porto Novo foi
intensa. Para tanto foram usados panfletos, jornais, revistas e livretos especiais, além do
apoio da Igreja Católica e campanhas feitas pelos gerentes das Sparkassen
4
e deres
comunitários. A Volksverein contratava pessoas para passar de vila em vila e
arregimentar interessados em migrar para a nova colônia. Os padres jesuítas foram
4
Nome dado às cooperativas de crédito dos colonos do Rio Grande do Sul (Banco do colono para
colono).
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grandes incentivadores do projeto e, dada sua credibilidade perante os colonos, sua
propaganda tinha um grande poder de convencimento entre as famílias de colonos.
O presente capítulo pretende, portanto, resgatar o processo inicial de
concepção e planejamento da colônia buscando identificar os momentos mais
significativos da reorganização, criação e mobilização de capital social pelas famílias
envolvidas, bem como as dificuldades e conflitos surgidos ao longo deste processo.
Pretende-se destacar os aspectos históricos que ajudam a explicar o rumo do
desenvolvimento dessa microrregião do extremo-oeste do estado de Santa Catarina.
1.1 A CONCEPÇÃO DO PROJETO PORTO NOVO
Entre as inúmeras colonizações organizadas e implantadas no oeste de Santa
Catarina, nas segunda e terceira décadas do século XX, a do munipio de Itapiranga
constitui-se, provavelmente, na mais fechada no que diz respeito ao controle da origem
étnica e opção religiosa. Os candidatos à compra de um lote de terra deviam ser,
necessariamente, de origem germânica e da religião católica. Isso explica, em grande
parte, a difusão de valores como a ajuda mútua, confiança e reciprocidade entre as
famílias, embora se possa questionar esses valores pelo profundo grau de discriminação
étnica.
O Projeto Porto Novo abrangia uma área de 583,9 Km², dividida em 2.340
lotes com cerca de 25 ha cada lote. Localizado no extremo oeste de Santa Catarina,
estava vinculado do ponto de vista administrativo ao munipio de Chapecó. A partir de
1926, esse projeto recebeu sucessivas levas de famílias de origem alemã, oriundas do
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Rio Grande do Sul e do litoral catarinense, além de algumas vindas diretamente da
Alemanha. O Mapa 1, a seguir, apresenta a localização dos atuais munipios de
Itapiranga, São João do Oeste e Tunápolis.
Mapa 1: Localização dos municípios de Itapiranga, Tunápolis e São João do Oeste
Fonte: Síntese Anual da Agricultura de Santa Catarina 2003-2004
A área de terra onde foi implantado o projeto de colonização era considerada
devoluta até final do século XIX. A partir da primeira década do século XX passou a
pertencer à multinacional Brasil Development and Colinization Company, filial da
empresa inglesa Railway Company. Ela recebeu grande parte do terririo do oeste
catarinense como pagamento pela construção da ferrovia que liga o Rio Grande do Sul a
São Paulo. Mais tarde, a porção que se estendia de Chapecó até o Rio Pepery, na divisa
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com a Argentina, foi comprada pela Empresa Chapecó-Pepery Ltda
5
. Entre 1925 e
1926, parte dessas terras foi adquirida pela Volksverein
6
também conhecida como
Sociedade União Popular (SUP), instituição que servia de ponto de convergência entre a
Igreja Católica e a população alemã das denominadas colônias velhas
7
, localizadas no
estado do Rio Grande do Sul.
Criada em 1912, pelo missionário jesuíta imigrante Pe. Theodor Amstad, a
SUP chegou a congregar mais de doze mil sócios naquele estado. Ela deu o suporte
ideológico (assistência religiosa e social), financeiro e técnico para a efetivação de
inúmeras colonizações organizadas nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
A SUP assumia como prioridade a salvaguarda da cultura alemã e da religião
católica. O crescimento demográfico, a concentração fundiária, o esgotamento da terra e
a pauperização verificados nas colônias velhas comprometiam a manutenção de parte
importante das famílias e, conseqüentemente, da cultura alemã.
Dessa forma, a igreja tratou de recrutar os interessados em migrar,
deslocando-os para a região oeste de Santa Catarina. Usando o argumento de que as
autoridades eram relapsas e negligentes com a situação social dos alemães gaúchos, os
jesuítas conseguiam agrupar muitas pessoas em torno da idéia de formar novas colônias.
Eles temiam a decadência dos valores culturais das comunidades germânicas
implantadas no Rio Grande do Sul, no século XIX.
5
Empresa Chapecó-Pepery era uma das inúmeras empresas colonizadoras que atuavam no oeste
catarinense. Esta empresa detinha a posse das terras localizadas entre o Rio das Antas e Rio Pepery no
oeste catarinense.
6
Devido à sua importância para o projeto aqui analisado, esta instituição será melhor caracterizada no
próximo item.
7
Termo usado para caracterizar os municípios do Rio Grande do Sul de onde vieram a maioria dos
colonos da região oeste de Santa Catarina. Os principais municípios eram São Leopoldo, Salvador do Sul,
Montenegro, Estrela, Vencio Aires, Santa Cruz do Sul, Lajeado, Vera Cruz e Arroio do Meio.
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Dotada de uma importante infra-estrutura (bancos, técnicos, jornais, etc), a
Sociedade União Popular tratou de estruturar a partir da primeira metade do século XX
uma colonização organizada no Oeste de Santa Catarina. Através das Caixas Rurais
(Sparkassen) fornecia crédito acessível a partir de recursos provenientes das poupanças
dos agricultores, aos colonos dispostos a migrar para a nova frente de colonização.
Estas associações confessionais ou cooperativas estabeleceram no Estado de
Santa Catarina grande número de colonos gaúchos. Não as moveu o espírito
de lucro, mas sua ação foi favorecida por outros elementos, particularmente o
fato de que permitiam aos colonos agruparem-se segundo a origem étnica, a
religião e mesmo a região de procedência (Roche, 1969, p.359).
O extremismo dessa seleção consistiu, sem dúvida, na separação das famílias
alemãs católicas das alemãs evangélicas. Para os últimos era sugerido que se dirigissem
para a colônia Porto Feliz, atual munipio de Mondai. Ela implicou, também, numa
profunda exclusão da população nativa que já habitava a região ndios e caboclos).
O próprio contrato de compra de terras estampava a obrigatoriedade de que o
comprador do projeto Porto Novo fosse de confissão católica. O comprador, quer
solteiro ou casado, compromete-se a entrar como sócio na comunidade Catholica de
Porto Novo, logo que fixe residência em suas terras, sujeitando-se ao pagamento das
taxas e mensalidades por esta estipuladas”
8
.
Neste contexto formou-se uma forte identidade cultural em que a
participação ativa da comunidade nas realizações da igreja era fundamental.
8
Conforme contrato de compra e venda de terras entre a SUP e o colonizador, cláusula 17.
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A ação social dos jesuítas visava a coordenação das atividades econômicas,
culturais, recreativas e profissionais, promovendo tanto o setor ativo da
sociedade como a fundação de novas colonizações, de caixas econômicas
rurais, cooperativismo, melhoria da produção e de novas técnicas agrícolas. É
muito elucidativo neste sentido a fundação de duas colonizações, a de Cerro
Largo (RS) e Porto Novo (SC), promovidas diretamente pelos jesuítas.
Etnicamente e religiosamente homogêneas, com estrutura física de
comunidades rurais em que 120 170 famílias de pequenos proprietários
começaram uma história comum em torno de uma capela (igreja) e escola,
teve-se base física propícia para um pleno desenvolvimento desta ampla rede
de associações econômicas, culturais e recreativas. Estas duas colonizações
são citadas com freqüência na literatura teuto brasileira como exemplo de
organização e progresso (Kreutz, 1991, p.71).
Essas colonizações do século XX foram chamadas por Roche (1969) de
colônias particulares, em face da inexpressiva ajuda do Estado em infra-estrutura. Essa
ausência foi, em parte, compensada através da criação de uma ampla rede de
associações, em particular a escola.
Desde os primórdios da colonização os imigrantes teutos zelavam por uma
instituição que se tornou característica das comunidades rurais, a escola
comunitária. Tornou-se uma instituição singular, com o mérito de suprir a
ausência inicial das escolas públicas (Paiva, 1973, p.83).
As primeiras escolas serviam também de igreja (Schulkapelen) devido a falta
de recursos para edificar estabelecimentos específicos. Os colonos estavam endividados
com a compra das terras, mas a presença de pelo menos uma escola por linha colonial
era vista como fundamental.
As linhas coloniais, às vezes também denominada de picadas”, eram as
linhas ou estradas pelas quais seguia a colonização. Abria-se uma estrada na floresta,
geralmente ao longo do leito de pequenos rios, a partir da qual se mediam os lotes das
famílias. Nestas linhas se fundavam as “comunidades”, que eram grupos de moradores,
com suas propriedades rurais localizadas próximas umas das outras, que constram
uma igreja, escola e salão de festas. As empresas colonizadoras geralmente já
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destinavam um local para essas construções. Uma linha colonial podia ter mais de uma
comunidade, dependendo da estrada e do rio.
O fracionamento da área colonizada em linhas coloniais auxiliou na criação
de um sentimento comunitário, que foi determinante para edificação de
estabelecimentos escolares, religiosos e sociais sustentados por uma ampla rede de
associações. Ainda hoje, nessas comunidades, é comum encontrar associações que
mantém a igreja, os clubes sociais, clubes de tiro e escolas. No âmbito municipal, a
maioria dessas entidades está agrupada em uma associação de segundo grau,
responsável pela organização dos calendários de eventos e pela sua gestão.
As terras da colônia Porto Novo foram divididas em lotes rurais, chácaras e
terrenos urbanos. Os lotes tinham área de 25 ha, as chácaras de 7,5 ha e estavam
localizadas próximo das futuras vilas. os terrenos urbanos tinham diversas dimensões
e se situavam nas áreas selecionadas para ocupar a sede das comunidades e a sede da
colonização.
As despesas de viagem eram descontadas no pagamento da primeira parcela.
O plano de viagem para a colônia era amplamente divulgado entre as famílias das
colônias velhas.
Plano de viagem: para quem quer conhecer Porto Novo, o melhor caminho a
ser percorrido é passando por Santa Bárbara, de trem, onde há um caminhão
fretado pela Volksverein, de propriedade do Sr. Nicolau Biernfield, que
percorre o trajeto para Porto Feliz, de onde se vai a Porto Novo. O
caminhão parte as quintas-feiras pela man bem cedo da estação férrea de
Santa Bárbara.Preço da passagem: uma viagem custa 40$000 Réis e o preço
de ida e volta é 70$000 Réis até Porto Feliz. Compradores de terras terão este
valor abatido no pagamento da primeira parcela das terras, mas somente se
esta viagem for feita com o caminhão da Volksverein (Der
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Familienfreund, 1928, p. 02). Traduzido do original em alemão
por A.W.
O comprador deveria tomar posse da terra, isto é, se instalar nela, num prazo
de 2 anos depois da compra. O contrato de compra e venda interditava a aquisição de
terras para fins de especulação financeira.
Outra condição é a ocupação da terra por parte do próprio comprador, dentro
do prazo estipulado em contrato. Caso o comprador não cumprir esta cláusula
de seu contrato, sem justificativa e comprovação dos motivos, ele receberá de
volta o dinheiro empenhado. A administração da colônia, como protetora dos
interesses dos colonos instalados, não irá permitir que sejam feitas
especulações com a terra, deixando-a abandonada e sem ser trabalhada
(Middeldof, 1932, p.14):
Com isto, a Volksverein pretendia acelerar o povoamento da colônia. Quanto
mais famílias instaladas e de forma rápida, melhor seriam as novas vendas de lotes, bem
como as condições de sobrevivência na colônia. Entretanto, parece que nos primeiros
tempos, muitos compradores não tomavam posse imediata de suas terras. É o que se
pode verificar na notícia publicada no St. Paulusblatt de 1928:
Atenção! Compradores de terras de “Porto Novo”.Todo um grupo de
compradores de lotes de nossa colônia, que fizeram suas compras a dois anos,
o está cumprindo suas cláusulas contratuais de desmatar a floresta,
construir e morar em suas terras. Para o interesse do desenvolvimento de
nossa colonização, o não cumprimento desse termo contratual não pode ser
adiado por muito tempo. Por isso, quem não cumprir suas obrigações
contratuais até a primavera, isto é, até o final de setembro, perde seus direitos
da conia comprada e a terra estará a disposição da administração da
conia. O dinheiro pago será reembolsado sob as considerações da
cláusula contratual.Porto Novo, 1 de julho de 1928. A Administração da
conia da Volksverein “Porto Novo (St. Paulusblatt, agosto de 1928, p. 2).
Aconteceram inúmeras dificuldades no icio da colonização que
contribram para formar uma imagem depreciativa do projeto Porto Novo. A acirrada
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concorrência entre empresas de colonização prejudicou a venda de lotes e, em
conseqüência, exigiu atitudes novas por parte da direção da colônia.
Dentre os acontecimentos mais importantes nessa direção encontram-se as
sucessivas invasões de propriedades por grupos de assaltantes e tropas do exército. Isso
gerava preocupação entre os moradores e era, também, notícia nas colônias velhas,
fazendo com que poucos se aventurassem a viajar para a região. Além disso, surgiram
conflitos internos na Volksverein. Os padres jesuítas foram substituídos por padres da
Sagrada Família. Da mesma forma, acusações de desvio de dinheiro e a priorização de
outros projetos o ligados à colonização dificultaram ainda mais as vendas de lotes. Os
padres da Sagrada Família apenas assumiram a orientação religiosa, sendo que a
administração da colônia ficou sob a responsabilidade de leigos (pessoas da
comunidade). Algumas dessas pessoas foram acusadas de trabalhar em proveito próprio,
o que acabou gerando processos judiciais e mandados de retratação pública em alguns
casos.
Em 1931, depois de dois anos sob a responsabilidade dos padres da Sagrada
Família o controle religioso da colônia Porto Novo voltou aos Jesuítas, que trataram de
melhorar a imagem da colônia e recrutar mais colonizadores.
A forma ideal de organização e a localização da colônia foram estudadas e
planejadas pela Volksverein. Coube a essa instituição traçar as linhas gerais do
empreendimento; ou seja, projetar e viabilizar o projeto.
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1.2 A VOLKSVEREIN
A Sociedade União Popular para Católicos Alemães (SUP) era, também,
denominada pelo termo alemão Volksverein. Ela foi fundada no congresso católico de
1912, realizado em Venâncio Aires (RS). Não era a primeira experiência do Pe.
Theodor Amstad nessa área, um de seus fundadores, pois já havia idealizado o
Bauernverein, a Associação de Agricultores, de caráter não confessional, planejado para
ser interétnica
9
. O Bauernverein surgiu no II Katholikentage (2º Congresso Católico)
realizado em Feliz (RS), em 1900, e seus objetivos direcionavam-se principalmente aos
problemas econômicos e técnicos dos agricultores. Uma das principais idéias defendidas
pela associação era o cooperativismo, cujo maior incentivador era o próprio Pe. Theodor
Amstad. Entretanto, em 1912, ocorreu uma divisão na associação. Os católicos
fundaram a Volksverein, uma associação de caráter confessional e os protestantes
continuaram com a Bauernverein, com o nome de Liga Colonial (Rambo, 1992).
Como seu nome indica, a Volksverein era uma associação de católicos de
origem alemã e se insere no quadro das atividades desenvolvidas pelos padres jesuítas
no sul do país. Numa brochura destinada a divulgar o projeto de Porto Novo na
Alemanha, essa Associação se apresentava da seguinte forma:
A Volksverein é a associação dos católicos de fala alemã do Rio Grande do
Sul, dos quais assume os problemas materiais, espirituais e culturais. A
associação está legalmente constituída, sendo portadora dos direitos de
pessoa jurídica. Trabalhos, objetivos, recursos bem como administração estão
previstos[...]. A Volksverein deve e pode assumir a representação dos anseios
dos católicos de fala alemã, mesmo daqueles que ainda não se associaram,
pois os frutos de seu trabalho m para o bem de todos os associados e não
9
Pelos seus estatutos, foi a associação dos agricultores pensada como uma organização interétnica e
interconfessional. As pretensões, portanto, não se limitavam à solução dos problemas dos teuto-brasileiros
católicos apenas. Tratava-se de um projeto de promoção humana que não deveria excluir nenhuma das
vertentes étnicas ou religiosas presentes no Rio Grande do Sul (Rambo, 1992).
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associados. Por isso, espera que também aqueles que a o momento não se
associaram entrem em suas filas (Middeldorf, 1932, p. 46).
A associação tinha, portanto, o objetivo de assumir os interesses materiais,
espirituais e culturais de seus associados. Para isso, suas atividades eram diversas:
publicações de periódicos, fundação de hospitais, escolas, seminários, caixas rurais e a
criação de colonizações para alemães de origem católica.
A Volksverein estava intimamente ligada às assembléias gerais dos
católicos
10
, cujas resoluções pretendia por em prática. A idéia que norteou sua fundação
era de formar uma estrutura que abrangesse todas as comunidades em que se fizessem
presentes descendentes de imigrantes alemães. Procurava-se que, pelo menos, um
representante dessas comunidades participasse ativamente da organização.
Os jesuítas que se instalaram junto aos imigrantes alemães no Brasil
pretendiam auxiliar os colonos, desenvolvendo atividades com acentuado caráter
associativista e assistencial. Neste sentido, uma das atividades que merece destaque
especial é, sem dúvida, a formação do núcleo colonial Porto Novo, cuja idéia, já
aparecia no esboço dos estatutos da associação apresentado no Congresso Católico de
Venâncio Aires pelo Pe. Theodoro Amstad.
A Volksverein indicou os primeiros administradores da colônia Porto Novo e
foi muito atuante em todo o processo de instalação da nova colônia. A associação
detinha uma série de instrumentos que contribram na implementação do projeto Porto
10
As assembléias geral dos católicos ou congressos católicos (Katholikentage) eram encontros
promovidos pela Igreja Católica e tinham por objetivo discutir as necessidades mais urgentes da
população católica. Todas as comunidades tinham representantes nestes congressos com direito de opinar
durante as reuniões.
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Novo: bancos, revistas, jornais, etc. Além disso, os dirigentes da Volksverein eram
pessoas de grande circulação no meio público e mantinham contatos com importantes
instituições alemães, a exemplo da Rafaelsverein e da Katholicches Gesellenvereis
aus Koln”, o que facilitava a obtenção de recursos financeiros e técnicos.
Na década de 1950 a Volksverein participou tamm ativamente da
campanha pela emancipação do distrito de Itapiranga do munipio de Chapecó. A
emancipação potica e administrativa gerou mudanças no modo de agir dos
administradores locais, levando-os a buscar alternativas para o desenvolvimento
econômico da região que estava pauperizada e antes praticamente esquecida.
1.3 PROJETANDO A COLONIZAÇÃO
A intenção inicial era criar novas colônias no estado do Rio Grande do Sul,
onde existia alguma infra-estrutura, como escolas e igrejas. Esta opção se mostrou
inviável devido ao preço elevado das terras. Além disso, membros do governo gaúcho
o viam com bons olhos uma colonização formada exclusivamente por alemães
católicos. É o que escreveu Pe. Rick, um dos idealizadores do projeto Porto Novo:
Numa consulta do Sr. Alberto Bins ao governador do Estado, Dr. Antônio
Borges de Medeiros, pronunciou-se este disposto a colocar terras a venda
para os católicos alemães. Por causa disto fizemos um requerimento por
terras, situadas perto de Santa Rosa e Três Arroios. Entregou-se esta petição
ao Dr. Borges de Medeiros, mas ela acabou o tendo qualquer resposta. Fui
eu mesmo, por quatro vezes ao palácio por motivo desta situação.
Desculpava-se Sua Senhoria de cada vez com o fato da falta de medição. Na
minha última visita, disse-lhe eu sucintamente que pouco se nos dava da
circunstância de a medição fazer-se um ano mais cedo ou mais tarde, sendo
nosso desejo termos uma resposta decisiva no sentido de realmente podermos
esperar a recepção de tais terras. Ela não veio. O homem a impedir o negócio,
era o Dr. Carlos Torres Gonçalves, inimigo dos “alemães” e pessoa hostil aos
católicos (Rick, 1989, p. 117).
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A alternativa que se apresentou foi a colonização de terras do Oeste
catarinense, que eram tidas como férteis e baratas. O advento da I Guerra Mundial, no
entanto, interrompeu os planos da Volksverein, mas a idéia de formar uma colonização
de alemães católicos não foi abandonada. No 12
o
Congresso Católico, realizado em
Novo Hamburgo em 1926, a primeira compra de terras já havia sido concretizada.
Diversas viagens da comissão de terras da Volksverein haviam sido efetuadas para
verificar as condições e a fertilidade das terras da Empresa Chapecó-Pepery Ltda. A
decisão de compra fora tomada numa reunião de delegados, que aconteceu nos dias 26 e
27 de abril de 1925 em Santa Cruz do Sul (RS). A primeira gleba de terra adquirida se
deu em 28 de janeiro de 1926. Mais tarde, outras áreas foram incorporadas, perfazendo
o total de 584 Km².
A área foi dividida em pequenas propriedades rurais, em moldes o muito
diferentes dos lotes das antigas colônias. Considerou-se na época que 25 hectares seriam
suficientes para uma família se estabelecer, sobreviver e progredir. O projeto previa que
as famílias o fossem assentadas em lotes muito distantes de uma sede comunitária
dotada com igreja e escola, mais uma estrutura para o comércio e lazer. Esse seria o
cenário ideal, segundo os idealizadores do projeto, para criação de comunidades coesas
e identificadas pelo senso de igualdade social e convívio comunitário. Kreutz (1991)
chama a atenção para a importância social das pequenas comunidades ou linhas
coloniais:
Insisto na explicitação a estrutura física destes núcleos coloniais, pois eles
são a base sem a qual a rede de organizações socioculturais e religiosas a
animar e caracterizar a vida dos colonos, praticamente sem a marginalização
de ninguém que compusesse esta comunidade rural. Previa-se a participação
de todos na igreja, escola e associações, inclusive com trabalhos concretos
(Kreutz, 1991, p. 57).
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A estrutura buscada seria, portanto, aquela que mais facilitasse a integração
dos moradores, mesmo os mais distantes da comunidade; isto é, a participação nos
eventos religiosos, econômicos e culturais. A organização das linhas coloniais era
importante, por isso foi adotado o sistema de travessão para a divisão dos lotes e
formação das comunidades.
a topografia de Porto Novo permitia mais facilmente a implantação do
sistema de travessão, também conhecido como espinha de peixe, para a
distribuição dos lotes. O mais importante era o núcleo para o qual convergia
o travessão. Este núcleo deveria ter as condições básicas para a integração
dos habitantes desta área, ou como então se dizia, para o desenvolvimento
comunitário. A partir destes núcleos foram surgindo as vilas ou sedes
distritais (Kreutz, 1991, p. 59).
O projeto para a colonização de Porto Novo não tinha apenas fins
comerciais. Como já foi mencionado, os jesuítas pretendiam gerenciar os interesses
materiais, espirituais e culturais dos associados. Neste sentido Middeldorf, relata que:
A colonização de Porto Novo não é um empreendimento comercial. Não visa
a especulação financeira e segue unicamente o programa de colonização. A
Volksverein persegue objetivos colonizatórios, econômicos e culturais. A
serviço da religião e da boa identidade do povo, visa colonizar as terras com
agricultores de fala alemã (Middeldorf, 1932, p. 7).
A importância de manter os costumes e promover o espírito comunitário e o
cooperativismo eram os principais prinpios sociais que norteavam as práticas da
Volksverein. Com isso, pretendia-se potencializar o desenvolvimento econômico da
colônia. O espírito comunitário era visto como fundamental para a realização das
principais obras comunitárias e como uma forma de manter a comunidade coesa em
torno dos objetivos estabelecidos pelos Jesuítas, mentores da colônia.
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No que se refere à possibilidade de miscigenação étnica das famílias na
colônia de Porto Novo, o que mais se temia era a ausência do espírito comunitário
ocasionado pelo desconhecimento da língua, já que neste período a maioria dos
imigrantes ainda o falava português. O convívio, por exemplo, de descendentes de
alemães com descendentes de italianos ou de caboclos
11
numa mesma comunidade
dificultaria a comunicação entre eles, o que tornaria, segundo os coordenadores do
projeto, dicil a promoção do espírito comunitário. A ausência desse elemento era
considerada, por sua vez, uma ameaça à fé e ao desenvolvimento econômico da colônia.
Apesar do viés discriminatório no que diz respeito à homogeneidade étnica e
religiosa, o reservando espaço, principalmente, para os nativos da região, o projeto
Porto Novo, pretendia já na sua fase de planejamento, criar uma comunidade pautada
em prinpios cooperativos, em laços de confiança e de reciprocidade, que
possibilitassem o desenvolvimento da colônia que estava por ser criada.
1.4 A IMPLANTAÇÃO DA COLÔNIA
Com a compra das terras pela Volksverein, o passo seguinte consistiu em pôr
em prática as idéias e metas do projeto que vinham sendo discutidas anos. Era
necessário arregimentar os pioneiros, persuadir as famílias a se instalar em Porto Novo e
o nas outras várias colônias particulares que estavam surgindo no oeste catarinense.
Essa tarefa foi facilitada pela estrutura da associação, que se encontrava ramificada por
11
O termo “caboclo” é usado pela população local para identificar os nativos da região, mestiços e
indígenas que viviam livremente nas terras da colônia antes do início da colonização.
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todas regiões de colonização alemã no Rio Grande do Sul, além de contar com diversos
jornais, com a Sparkass
12
, e com a ajuda dos padres das comunidades.
Havia, entretanto, uma acirrada concorrência com outras empresas que
tinham na compra e venda de terras um negócio muito lucrativo. Surgiram assim
intrigas e boatos que implicavam, inclusive, em disputas judiciais. Neste contexto, a
Volksverein lançou mão de diversas estratégias de propaganda, como textos e imagens
veiculadas em seus meios de comunicação. Além disso, pros formas facilitadas de
aquisição de terras, com pagamento parcelado e com prazos maiores que os da
concorrência.
Como as outras empresas colonizadoras também prometiam uma boa infra-
estrutura e atraiam imigrantes para outros locais, a Volksverein adotou uma postura mais
agressiva para arregimentar colonos. Isto, somado a má fé de alguns dirigentes da
própria Volksverein, que recebiam suborno para selecionar interessados em mudar para
outras empresas colonizadoras, acabou por conferir à organização uma imagem que se
afastava cada vez mais dos prinpios associativistas e aproximava-se do modo de
funcionamento de uma empresa colonizadora.
Apesar desses problemas, a partir de 1926, os primeiros compradores de
terras se instalaram em seus lotes. As famílias vindas do Rio Grande do Sul
atravessavam o Rio Uruguai e se instalavam na floresta virgem em meio a grandes
dificuldades devido à falta de infra-estrutura básica (habitações, casas comerciais,
escolas e outras).
12
A importância das cooperativas de crédito dos colonos será discutida nos próximos ítens.
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Os primeiros moradores de Porto Novo foram acompanhados pelo Pe. Max
Von Lasseberg, todos saídos de Cerro Azul no Rio Grande do Sul. Eles se instalaram
nos lotes mais próximos do Rio Uruguai. As linhas coloniais seguiam os afluentes do
rio interior adentro, de modo que a ocupação foi se interiorizando. O Quadro 1, a seguir,
mostra a evolução das vendas dos lotes de terras na nova colônia. As vendas foram mais
intensas nos primeiros anos da colonização em função das condições oferecidas e a
dedicação na divulgação do novo empreendimento. Os pioneiros foram ocupando as
terras das margens do Rio Uruguai. A expansão aconteceu para o norte e em direção à
fronteira da Argentina.
Quadro 1. Venda de terras na colônia Porto Novo
Períodos Venda de terras (%)
1926 a 1930 50
1931 a 1940 25
1941 a 1969 25
Fonte: Jungblut, 2000.
Por volta de 1932, começaram a chegar em Porto Novo famílias vindas
diretamente da Alemanha. Conforme Middeldorf (1932, p.45), a Volksverein mantinha
contatos e relações na Alemanha com associações com objetivos semelhantes aos seus.
Dessa forma, em 1931, representantes da Rafaelsverein (Sociedade São Rafael) e da
Katholicches Gesellenvereis aus Koln (associação inspirada nos ideais de Adolf
Kolping)
13
visitaram a colônia para estudar possíveis imigrações de alemães para Porto
Novo, o que se concretizou no ano seguinte. A partir de 1950, muitas famílias das
13
Em 1934 foi construído em Itapiranga um clube social para centralizar as atividades da associação
inspirada nos ideais de Adolf Kolping que pregava o convívio comunitário e cooperativo. Este clube
existe ainda hoje. Seu prédio foi tombado como patrimônio histórico de Itapiranga.
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regiões mais antigas de colonização alemã de Santa Catarina, também, optaram por se
instalar na colônia da Volksverein.
Muitos dos que vieram diretamente da Alemanha se instalaram na Linha
Presidente Becker
14
, comunidade localizada próximo da fronteira com a Argentina. A
vinda desses imigrantes alemães para Porto Novo incorporou novos conhecimentos à
comunidade local. Eles eram, na maioria, de origem urbana, conhecedores de um ofício
ou uma profissão o-agrícola, mas que estavam desempregados no país de origem. Na
fase inicial na colônia, eles se dedicaram à agricultura, mas conforme o projeto foi
avançando passaram a realizar outras atividades (Willems, 1946). Essas famílias
mantinham, também, laços sociais mais próximos com seu país de origem. Estas
relações foram fundamentais para o acesso a recursos financeiros e técnicos que
contribram na realização de muitos novos empreendimentos. A Foto 1, a seguir,
ilustra o surgimento do núcleo urbano de Itapiranga em 1927.
14
Até hoje esta comunidade guarda alguns traços específicos, a exemplo de festas típicas (Oktoberfest) e
dialeto com certas variações em relação ao alemão falado pela maioria dos itapiranguenses.
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FOTO 01 NÚCLEO URBANO DE ITAPIRANGA (ANTIGA PORTO NOVO), ÀS
MARGENS DO RIO URUGUAI, POR VOLTA DE 1927.
FONTE: MIDDELDORF (1933).
A Volksverein se preocupava, também, em acompanhar o aumento
populacional da colônia. Diversas estimativas e censos populacionais foram divulgados,
conforme demonstra, a seguir, o Quadro 2.
Quadro 2: Estimativas e censos populacionais da Volksverein para a Colônia Porto
Novo entre os anos 1930 e 1950
Ano População Estimada Censo oficial
1930 1.300
1931 2.000
1937 4.000
1940 4.813
1947 10.000
1950 12.000 13.542
Fonte: Jungblut, 2000.
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A maior parte dos lotes foi vendido nos primeiros anos da colonização, no
entanto, a sua ocupação foi mais intensa a partir da década de 1940. Em muitos casos,
partiam primeiro o pai e os filhos homens mais velhos para organizar o lote e construir
as primeiras benfeitorias e, mais tarde, o restante da família vinha para a colônia. Dessa
maneira, o crescimento populacional expressivo de Porto Novo a partir do final da
década de 1930 até a década de 1950 é resultado da chegada de novas famílias e de
membros das famílias que já estavam na região.
1.5 A MOBILIZAÇÃO DO CAPITAL SOCIAL NOS PRIMEIROS ANOS DA
COLONIZAÇÃO
Em 1932, já se pode ter uma primeira demonstração da capacidade de
mobilização do capital social e econômico na nova colônia. No dia 21 de outubro de
1932 foi fundada em Itapiranga, com 41 sócios a primeira cooperativa de crédito
15
de
Santa Catarina, sob a denominação de Caixa Rural União Popular, ligada à central das
Caixas Rurais (SPARKASS) do Rio Grande do Sul. A constituição desta cooperativa se
deu devido à dificuldade sentida na colônia Porto Novo de acesso ao crédito das Caixas
Rurais do Rio Grande do Sul.
O objetivo das Caixas Rurais, conforme seus estatutos, era “combater a
usura, fornecendo a juros módicos, a seus cios e somente a eles, os capitais
necessários à exploração de seu pequeno trabalho, facilitando-lhes o exercício de sua
profissão” (Estatuto da Caixa Rural União Popular de Porto Novo, 1932).
15
Esta cooperativa teve papel importante no desenvolvimento do município, principalmente no começo
da década de 1960 quando participou da execução do plano de desenvolvimento econômico de Itapiranga.
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1.5.1 SPARKASS: “o banco do colono para o colono”
O vocábulo alemão Spar-und Darlehenkasse significa caixas de poupança e
de empréstimos. Foi assim que os colonos denominaram o sistema de crédito
implementado pelos jesuítas entre os agricultores de origem alemã do Rio Grande do
Sul e do Oeste de Santa Catarina. Seu nome oficial era Sistema de Crédito das Caixas
União Popular e a idéia mestra era auxiliar os colonos nos seus problemas financeiros e,
especialmente, promover ou financiar novas colonizações. O Sistema se inspirou nos
prinpios associativistas de Friedrich Wihlelm Raiffeisen (1818 1888), que havia
desenvolvido cooperativas de crédito na Alemanha, em meados do século XIX. Como
prefeito de Flammersfeld, uma cidade essencialmente agrária da Alemanha, Raiffeisen
buscou alternativas para crise que a assolava através da criação de um sistema de crédito
entre os agricultores, contando inicialmente com 60 sócios (Pinho, 1982).
Desta experiência surgiram ainda outras e, em 1865, Raiffeisen escreveu um
livro sobre o assunto, intitulado Die Darlehenskassenvereine als Mittel zu Abhilfe der
Not der Ländlichen Bevölkerung
16
(As sociedades de caixas de empréstimo como
instrumento de auxílio da necessidade da população agrária). Provavelmente este livro
foi lido pelo Pe. Theodor Amstad
17
, pois foi ele que, junto com um grupo de 19 colonos
de Nova Petpolis (RS), fundou em 1902 a primeira Caixa de Crédito que,
posteriormente, iria dar origem ao Sistema de Crédito das Caixas Rurais União Popular.
16
Citado por Feeger, Ranz. F.W Raiffeisen hat das Dorf Kreditwürdig gemacht. In Skt Paulusblatt. Junho
de 1988, p. 24
17
O padre. Theodor Amstad era suíço e veio para o Brasil em 1886 como missionário. Foi um dos
fundadores da Volksverein e idealizador do projeto Porto Novo.
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O objetivo do sistema era criar uma ferramenta de distribuição da riqueza e
auxílio aos menos afortunados, como pode ser percebido no discurso do diretor da
colônia Porto Novo, na ocasião da fundação da Caixa Rural nessa colônia em 1932.
O agricultor, que emigra de núcleos mais populosos para procurar nas terras
virgens o futuro de seus filhos fica abandonado ao léo nas inóspitas paragens
do interior, desbrava a mata virgem, (...) não pode esperar pelas providências
tardias das autoridades que no sertão grosso, com a deficiência dos meios de
comunicação, com a falta de meios não a acorrem ou quiçá ignoram-lhe os
anseios verdadeiros. A caixa rural é o que a todos deve unir, ela recolhe as
sobras dos que mais possuem e as emprega a módicos juros para incentivar
aqueles que, menos compensados foram pelo aquinhoamento da sorte. O
espírito da harmonia e da cooperação conseguirá em pouco refletir-se
beneficamente sobre os interesses da coletividade e o lema cristão de um por
todos e todos por um, constituirá o princípio de prosperidade da colônia. O
capital ganho na gleba assim permanecerá na própria colônia, não
convergindo para os bancos, que tem seus interesses nas cidades, mas se
empregado na própria circunscrição rural, onde influirá sobre a fortuna da
população geral
18
.(grifos meus)
Pode-se notar a ênfase em apontar, por um lado, o caráter econômico da
instituição financeira que se estava fundando, no sentido de auxiliar os agricultores que
ficavam praticamente isolados nas zonas distantes de centros urbanos. Por outro lado,
este auxílio econômico o é destituído de um sentimento cristão expresso no lema de
um por todos e todos por um” adotado simbolicamente pela Volksverein.
Um artigo publicado pelo jornal “A Voz de Chapecó”, considerava a
Cooperativa como a mais importante organização do gênero em toda América do Sul.
A primeira destas caixas foi fundada em 1902, cinco anos antes, portanto, de
ser promulgada, no Brasil, a primeira lei de cooperativa do país. Naquele
tempo era secretário geral da Sociedade União Popular, o padre Theodoro
Amstad, de saudosa memória, natural da suíça, o apóstolo sem par do
cooperativismo do sul do Brasil. A essa caixa seguiram-se, aos poucos, novas
fundações e com o correr dos anos, até hoje, se formou esta pujante família
de crédito cooperativo integrada pelas 47 Caixas existentes. Os resultados
18
Discurso de Carlos Francisco Rohde, diretor da colônia Porto Novo, registrado no livro de Matricula de
cios da Caixa União Popular de Porto Novo. P. 02.
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foram surpreendentes e a prova cabal do acerto no sistema adotado como
modelo pela União Popular: o clássico sistema Reiffeisen, que prega a
formula da constituição sem capital, sem distribuição de lucro e com a
responsabilidade solidária e limitada do associado, bem como a gratuidade da
diretoria. Poder-se-á imaginar rmula mais ideal e cristã para o manejo do
dinheiro? Parece nos que o. A Central das Caixas Rurais foi fundada no
ano de 1926, quando o número de Caixas havia ascendido a mais de uma
dúzia, foi pelas mesmas resolvido fundar uma central, a atual Central das
Caixas Rurais citada. Visavam, com esta centralização de federativa,
facilitar o intercâmbio de dinheiro entre as diversas zonas agrícolas,
promover a uniformização e, sobretudo, criar um serviço eficaz e permanente
de assistência às cooperativas de crédito existentes, no que concerne à
contabilidade, técnica de receber dinheiro, eliminação de vícios e abusos,
esclarecimentos sobre legislação, defesa das caixas nos seus direitos e
isenção de impostos [...]. A Caixa Rural é na verdade, o Banco do Colono
para Colono. (A voz de Chapecó, 1949, p.5)
As Caixas Rurais formavam um sistema integrado que visava o intercâmbio
do dinheiro para o desenvolvimento de diferentes regiões agrícolas. A Central
Financeira pode ser entendida como uma forma de promover o auxílio entre as
diferentes regiões através da distribuição de riquezas envolvendo regiões mais abastadas
e as de condições mais precárias ou as que estariam iniciando o processo colonizatório.
Além disso, a retenção da poupança na região é, até hoje, um elemento mencionado
como estratégico pelas instituições especializadas em desenvolvimento local.
Nos primeiros tempos, a Caixa Rural fazia vários tipos de operações
financeiras, porém, a partir do final da década de 1950 e início dos anos 1960, esta
passa pelo seu momento de maior importância. A Caixa Rural de Itapiranga apoiou o
planejamento e a execução do plano de desenvolvimento econômico elaborado para o
munipio de Itapiranga
19
, dispondo de um jipe com motorista para transportar a equipe
19
Este plano de desenvolvimento foi elaborado com o objetivo de estimular o crescimento econômico do
município de Itapiranga. No Capítulo 2 faz-se uma análise desse processo.
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de pesquisadores para os pontos das reuniões e, mais tarde, tornando-se detentora dos
direitos autorais deste plano de desenvolvimento, concedidos a ela pela Misereor
20
.
como resultado do plano de desenvolvimento, a Caixa Rural, foi
responsável pela organização de cursos de curta duração para mais de 2.000 agricultores
sobre criação e manejo de bovinos e suínos, cooperativismo e técnicas de conservação
do solo. Estes cursos foram ministrados pelo médico veterinário Hans Fischer, o
agrônomo Bernardo Lenz e o sociólogo Martinho Lenz; os dois últimos ligados a igreja
católica e o primeiro trazido pela Comissão Municipal de Desenvolvimento
(COMUDE).
A Caixa Rural teve importância fundamental durante o desenvolvimento das
principais obras do plano de desenvolvimento econômico. Era ela quem recebia e
distriba os recursos recebidos das instituições alemães e os empréstimos do governo
federal e do estado.
Além da Sparkass, em 1937, onze anos após a chegada dos primeiros
colonos, Itapiranga contava com doze escolas espalhadas pelas comunidades do
interior. A existência de escolas era vista como fator decisivo para a vinda de novos
agricultores e, fundamental para o bom andamento do projeto. Desde o início da
colonização sempre existiu uma preocupação em fornecer condições de estudo para os
filhos dos colonos. A educação era vista pelos padres jestas como a maneira mais
eficaz de se manter a identidade cultural e religiosa, já que era uma instituição
coordenada pelos sacerdotes. A escola, portanto, era importante ferramenta para o
20
Organização não governamental ligada a igreja católica da Alemanha que patrocinou boa parte dos
custos de elaboração e implantação do plano de desenvolvimento econômico do município de Itapiranga,
em 1962.
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controle e a difusão da religião e da ética do trabalho e para homogeneização das ações
dos indiduos locais.
1.5.2 As escolas paroquiais
Importante instrumento de formação de capital social, a escola foi também
uma ferramenta de repressão, inibindo, muitas vezes, a incorporação de novos valores e
conceitos e exclusão de quem não fosse de origem germânica e confissão católica. Os
professores eram indicados pela igreja, a língua usada era o alemão, o estudo do
catecismo era obrigatório e eram aceitos como alunos os filhos dos imigrantes. Os
caboclos eram vistos como seres inferiores e a sua presença era indesejada e combatida,
o na escola como nas demais instituições. com a presença de pessoas de outras
etnias e religiões a preocupação era menor, pois a seleção já acontecia no momento da
compra dos lotes sendo dicil a presença de outra etnias de origem européia em Porto
Novo.
Percebe-se, tanto nas ações da Caixa Rural, quanto no modelo de ensino
adotado, um certo caráter discriminatório na formação de capital social e de exclusão
das famílias da região. As regras eram extremamente rígidas, impedindo a participação
daqueles que não fossem do grupo social preconizado pelo projeto de colonização.
Com os trabalhos prestados pela Caixa Rural, a disponibilidade de escolas
para a grande maioria dos filhos dos colonos e a superação da maioria dos problemas
relacionados à Volksverein, tudo indicava que o projeto se desenvolveria sem maiores
contratempos. O plano de formar uma colônia homogênea do ponto de vista étnico e
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religioso, finalmente, se concretizaria. Os colonos poderiam viver tranqüilos,
preservando o modo de ser de seus antepassados, falando a língua alemã e celebrando o
culto religioso católico, sem que ameaças externas os pudessem desvirtuar.
Mas nos termos de Rohde (1952, p. 236), a calmaria antes da tempestade”
o durou muito tempo. A “tempestade” veio em 1938, com a nacionalização do ensino
e a conseqüente necessidade de seguir os preceitos da Constituição brasileira. A vida
normal na colônia Porto Novo foi desestabilizada pela Lei Federal 7.614, de 12 de
dezembro de 1938, que no seu artigo sétimo determinava que A instrução primária será
ministrada exclusivamente em português”. Esta lei federal reforçou a de 406, e os
decretos-leis estaduais 88, de 1938, e 301, de 1939, aplicados pelo governador
Nereu Ramos. Ela implicou em desdobramentos administrativos e pedagógicos no
munipio a exemplo dos demais munipios catarinenses colonizados por outras etnias.
Além de proibir falar a língua alemã em Santa Catarina, estabeleceu-se uma
significativa repressão à população. Escolas foram proibidas de ensinar em língua
estrangeira e a polícia reprimia manifestações culturais típicas.
Houve grande empenho dos jesuítas em tentar reabrir as escolas. A grande
preocupação do clero era a perda do controle sobre a sociedade, mas o esforço em
manter a uniformidade das escolas foi em vão. O Diário Oficial do Estado de Santa
Catarina, 1.288, de 27 de agosto de 1938, publicou o decreto 516, do governador
Nereu Ramos, que nega o registro das escolas paroquiais, extinguindo-as, e, em seu
lugar, determina a abertura de escolas públicas estaduais.
Neste distrito, no ano de 1938, funcionavam doze escolas primárias
organizadas pela empresa colonizadora O ensino era ministrado em língua
alemã, os livros eram neste idioma e os professores recebiam subvenção do
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estrangeiro.Depois por ordem do governo estadual, essas escolas foram
fechadas(...) Depois, no ano de 1939, nove daquelas escolas foram reabertas
sob o compromisso de ser o ensino praticado em língua portuguesa. Nenhuma
autoridade escolar visitou as aludidas escolas e três destas ainda continuam
fechadas, havendo grande número de crianças se criando em completo
analfabetismo. Nos lares, na atividade da vida, nos negócios e trabalhos se
falava a língua estrangeira. Será isto nacionalização?Muito duvidamos.
21
(Bellani, 1995, p. 235).
A transformação das escolas paroquiais em públicas trouxe, através de
concursos, professores de outras regiões. Os decretos-leis sobre a nacionalização do
ensino, que na prática representava a implantação de escolas públicas e a substituição da
língua alemã pela ngua portuguesa, foram cumpridos a rigor. Além da nacionalização
do ensino, o período da Segunda Guerra Mundial também provocou mudanças na vida
das pessoas. Perseguições e delações daqueles que falavam alemão, invasões
domiciliares e apreensões de aparelhos de rádio
22
, além de intrigas e torturas sicas
foram comuns na tentativa de obter informações sobre a suposta existência de armas ou
culto ao nazismo.
A repressão, as ameaças e as dificuldades acabaram servindo para aumentar
a coesão comunitária. Aos poucos alguns dos antigos professores foram reconduzidos
aos seus cargos e, naqueles casos onde isso não foi possível, aconteceram negociações
para a contratação de pessoas que pelo menos entendessem a língua alemã
23
. O que se
percebeu foi também uma melhora significativa na qualidade da educação. O estudo do
catecismo não foi abolido, mas perdeu espaço em relação aos conteúdos escolares.
21
Itapiranga. A Voz de Chapecó. 02/06/1940, nº 47, p.2.
22
Acerca do relato de alguns acontecimentos deste período, veja-se o livro de Rohde, 1942.
23
Entrevista com ex-professor da época.
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Percebe-se que é nos períodos de maior desequilíbrio que acontece um
fortalecimento da coesão comunitária. O fechamento das escolas paroquiais permitiu o
icio da introdução de novos valores na colônia que até aquele momento permanecia
fechada e totalmente subordinada aos preceitos da igreja. A Segunda Guerra e a
nacionalização do ensino também reacenderam uma vontade antiga da colônia; a
emancipação política com conseqüente formação de um novo munipio.
Para tanto, após o fim da segunda guerra, a Volksverein que administrava a
colônia tratou de restabelecer o fluxo de imigrantes gaúchos e catarinenses, usando toda
a sua estrutura de meios de comunicação espalhada pelo Rio Grande do Sul e nas
regiões catarinenses de colonização alemã.
Através desses fatos, pode-se afirmar que o processo de organização da
colônia esteve assentado num jogo de relações que culminou num processo intenso de
produção de capital social. O termo capital social o aparece, é claro, nos documentos
e discursos da época, pois é uma noção relativamente nova e que vem sendo usada com
mais freqüência apenas nas últimas décadas. Fica claro, no entanto, o objetivo de
cultivar os laços de confiança, reciprocidade e cooperação como uma forma de fazer da
implantação da nova colônia um território de desenvolvimento singular.
A presença da confiança entre os agentes facilitava a difusão dos “negócios”,
transações” ou os “contratos” entre estes. Em regiões em que as populações possuem
tais atributos, as transações econômicas ocorrem mais facilmente e os custos destas
também são menores, visto que são necessários menos instrumentos e organizações que
cumpram o papel de coerção, punição ou fiscalização. A reciprocidade ou a cooperação
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também é um importante mecanismo cultural que confere caráter produtivo ao capital
social. Assim, outro pressuposto que a noção teórica sobre capital social questiona é que
o são somente a competitividade e os interesses egoístas que movem a economia
capitalista. A cooperação e a reciprocidade entre os agentes são fundamentais e
necessárias para o desenvolvimento e este fato também foi observado nos terririos
mais avançados do planeta do ponto de vista tecnológico e econômico.
Abramovay (1998, p. 9-10) ressalta, por exemplo, que o importante, no
processo que fez do Vale do Silício Costa Oeste norte-americana - o mais profícuo
centro mundial de criação de novas tecnologias foram os contatos em primeira mão com
as novidades e a existência de uma comunidade de indústrias na qual as idéias poderiam
circular e as pessoas poderiam conversar de modo totalmente contrário ao espírito da
competição ao menos na forma com que ela é entendida na economia convencional de
mercado”.
No próximo capítulo analisa-se o período compreendido do s-Guerra até
meados dos anos 1980. Uma atenção especial será dada ao processo de planejamento do
desenvolvimento local operado a partir dos anos 1960. Entende-se que esse processo
exerceu um papel estratégico de estruturação socioeconômica da microrregião e auxilia
na compreeno da sua situação atual.
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Capítulo II: DA EMANCIPAÇÃO ÀS PROPOSTAS DE DESENVOLVIMENTO
ECONÔMICO: 1954 a 1985
Terminada a Guerra Mundial, a vida, as estruturas sociais voltaram à
normalidade em Itapiranga. Devido à importância da arrecadação de impostos,
Itapiranga mereceu em 1948 a visita do então Governador Aderbal Ramos e em 1952
esteve no distrito o Governador Irineu Bornhausen. Naquela oportunidade autoridades
locais apresentaram um veemente pedido para que, em 1953, Itapiranga fosse
emancipado e se tornasse sede municipal.
A emancipação aconteceu em 1954, provocando transformações na vida e na
economia local. Ela foi o ponto de partida para uma série de realizações que iniciaram
com a organização da administração municipal e culminaram com o desencadeamento
de um processo de planejamento do desenvolvimento econômico e social.
O objetivo deste capítulo é resgatar os fatos mais importantes relacionados
ao período compreendido entre 1954 e 1985 e que dizem respeito à implantação do
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munipio e aos trabalhos de planejamento para o desenvolvimento econômico e social.
Itapiranga, no início da década de 1950 encontrava-se em situação econômica difícil e
necessitava implantar um processo organizado de desenvolvimento. Para isso, as
lideranças locais lançaram o do bom relacionamento com uma diversidade de
instituições locais, regionais e alemãs para obter recursos de todas as ordens e iniciar
um novo ciclo de crescimento no novo munipio. Em meio a muitos conflitos,
prevaleceram o espírito comunitário, a confiança e a cooperação que renderam ao
munipio obras importantes que passaram a determinar a dinâmica local de
desenvolvimento.
2.1 EMANCIPAÇÃO DO DISTRITO DE ITAPIRANGA
A Constituição de Santa Catarina de 23 de julho de 1947 em seus artigos 96
e 97 estabelecia que novos munipios deveriam possuir, no nimo 20.000 habitantes e
novos distritos somente poderiam ser criados se tivessem mais de 5.000 pessoas. Além
disso, o novo munipio deveria ter uma arrecadação de Cr$ 300.000,00 Cruzeiros e os
distritos Cr$ 50.000,00 Cruzeiros. Fixava ainda os anos terminados em 3 e 8 para
emancipação de munipios e distritos (Jungblut, 2000).
Pela Coletoria da Sub-prefeitura de Itapiranga, em 1947 foram arrecadados
aproximadamente Cr$ 300.000,00 Cruzeiros em impostos estaduais e mais cerca de Cr$
115.000,00 em tributos municipais. A população, no entanto, estava em torno de 10.000
habitantes (Rohde, 1951), deixando Itapiranga abaixo dos requisitos mínimos
estabelecidos por lei. Em 1948, alguns municípios foram emancipados no Estado e
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lideranças do distrito tentaram incl-lo no processo. A iniciativa não encontrou,
contudo, respaldo político.
A oportunidade seguinte seria em 1953. Como o mesmo problema de
cumprimento da lei atingia também os Distritos de São Miguel do Oeste, Descanso e
Mondai, em 1952 pensou-se em reuni-los em um novo munipio. A discussão
acalorada estava na definição da sede. Se São Miguel do Oeste era o lo comercial da
região, Itapiranga tinha um trunfo poderoso: a presença de seu “filho” João Vicente
Schneider, como deputado, na Assembléia Legislativa de Santa Catarina. No começo de
1953, todavia, foi apresentada uma proposta de Emenda à Constituição de Santa
Catarina, reduzindo a população mínima para emancipação de 20.000 para 5.000
habitantes. Após discussões e disputas partidárias, a Emenda foi aprovada em dezembro
daquele mesmo ano. Os principais distritos da região entraram, então, com pedidos
independentes para serem emancipados acabando com a mencionada disputa pela sede.
A Assembléia Legislativa aceitou os pedidos e pela Lei Estadual 133 emancipou oito
distritos em 30 de dezembro de 1953: São Miguel do Oeste, São Carlos, Mondai,
Palmitos, Dionísio Cerqueira, Xaxim, Xanxerê e Itapiranga.
A comissão de emancipação de Itapiranga, que havia sido criada em 1948,
reuniu-se em 26 de janeiro de 1954 e escolheu por unanimidade o Sr. Wilibaldo
Schoeler, um dos principais comerciantes do munipio, para ser prefeito provisório até
a primeira eleição prevista para dali a dez meses. A solenidade de instalação do
munipio aconteceu em 14 de fevereiro de 1954 e contou com a presença de inúmeras
autoridades, sendo a mais importante, o governador do Estado.
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A economia local era pouco integrada aos mercados nacional e estadual. A
madeira, a banha e o fumo constituíam-se nas únicas fontes de renda da população do
munipio. A criação do suíno tipo banha
24
respondia, no final da década de 1950, por
aproximadamente 73% da renda dos agricultores locais. O comércio e a indústria eram
muito pouco desenvolvidos e constituídos por pequenos estabelecimentos artesanais e
familiares.
Embora o processo de modernização da agricultura tenha iniciado em
algumas microrregiões do Oeste Catarinense
25
já nos anos 1940, Itapiranga parecia não
progredir, o que preocupava as lideranças e, principalmente, as instituições que tinham
apostado e investiam no munipio. Por volta de 1960, o isolamento da região, as
precárias vias de escoamento da produção, a diminuição da fertilidade natural do solo e
a descapitalização dos agricultores geravam condições insustentáveis de vida para
população local.
Diante desse quadro, a Misereor
26
, entidade com sede na Alemanha, que
através da Volksverein constantemente remetia recursos para a região demandou a
elaboração de um plano de desenvolvimento com análise de viabilidade como condição
para que continuasse a beneficiar a região com suas verbas. Assim, por iniciativa da
Misereor e com o apoio da Prefeitura, Volksverein e da Caixa Rural, foi contratada, no
24
Este tipo de suíno era tamm conhecido como porco comum, porco preto ou simplesmente
Speckschwein, sendo praticamente a única raça de suínos criada no município até o final da década de
1960.Por incentivo das agroindústrias existentes na região, esta raça de suínos passa a ser substituída
primeiro pelo porco vermelho (Duroc) e depois pelas raças de porco branco (Landrace e Large White)
25
Municípios como Concórdia, Chapecó, Joaçaba e Videira já contavam com agroindústrias e sistemas de
produção bem mais modernos do que Itapiranga.
26
A “Misereor” é uma Organização Episcopal da Alemanha que, na sua origem, se ocupava de obras de
caridade desenvolvidas pelos católicos alemães em favor das populações famintas de todo mundo.
Atualmente esta organização trabalha especialmente com organizações não governamentais em projetos
que visam a melhoria das condições de vida de pequenos agricultores, bem como, comunidades da
periferia das cidades.
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icio dos anos 1960, a empresa Agro e Hidrotécnica de São Paulo
27
, especializada em
planejamento estratégico, para fazer um minucioso levantamento sócio-econômico, com
o objetivo de elaborar um plano de desenvolvimento para o munipio.
No período de novembro de 1961 a fevereiro de 1962 foram realizados os
trabalhos de levantamento de dados pelos técnicos da Agro e Hidrotécnica em todo o
munipio de Itapiranga. Este levantamento foi o mais completo já realizado até hoje na
região, abrangendo desde dados geográficos até a identificação pormenorizada da
situação econômica local. O plano de desenvolvimento econômico elaborado para
Itapiranga, a partir dos dados obtidos no recenseamento, apresentava propostas de
melhorias em todas as áreas de atuação. Este planejamento para o desenvolvimento
econômico da microrregião de Itapiranga, provavelmente, é um dos maiores diferenciais
da região. Podemos ver que um tema que hoje ainda não entrou na pauta de discussão
de muitos munipios, já na década de 1960, foi realizado com muito sucesso nesta
região.
Graças a participação da comunidade local os dados coletados apresentavam
alta confiabilidade e proporcionaram uma noção bastante precisa da situação econômica
e social. Na seqüência passamos a discutir o a implantação das principais obras
sugeridas, bem como, as negociações e acordos para a obtenção de recursos.
27
Empresa especializada em planejamento estratégico era uma filial da Agran und Hidrotechhnik de
Dusseldorf, na Alemanha.
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2.2 AS RECOMENDAÇÕES DO PLANO DE DESENVOLVIMENTO DE 1962
O levantamento sócio-econômico permitiu à Empresa Agro e Hidrotécnica
recomendar ações para todas as áreas de atuação. Foram indicadas ações para curto,
médio e longo prazo.
Na área da educação foram sugeridas as formações de líderes rurais, a
construção de pequenas bibliotecas sobre economia e atividades rurais e o oferecimento
de cursos de economia doméstica. Estas medidas deveriam ser tomadas no curto prazo.
No longo prazo foi sugerida a construção de uma Escola Agrícola de segundo grau para
a formação profissional dos filhos dos agricultores. Esta escola foi construída quase que
exclusivamente com mão-de-obra voluntária da população local e o ensino
profissionalizante passou a ser oferecido nas dependências da mesma somente a partir
de 1980.
Para a saúde foram recomendados o controle do alto grau de verminose, o
reaparelhamento dos três hospitais que na época existiam na região e a promoção de
higiene do lar. No médio prazo, foram sugeridas a instalação de uma estação de
tratamento de água - o que aconteceu em 1967- e a instalação de rede de esgoto na sede
do munipio, obra iniciada em 1981 e que continua sendo estendida até hoje.
No setor dos transportes, as principais sugestões foram a melhoria urgente da
malha rodoviária com prioridade para a rodovia que dava acesso aos munipios de
Mondai e Chapecó, o asfaltamento da rodovia de acesso a São Miguel do Oeste - que
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aconteceu em 1978 - e a construção de um aeroporto de porte médio, realizado em
1977.
Para as comunicações foi sugerida a ligação da rede telefônica com as linhas
da TELESC - feita em 1977 - e a aquisição de um canal de rádio - realizado em 1963. Já
no setor da energia elétrica as recomendações foram no sentido de aumentar a oferta e
de proceder a ligação da rede local, que trazia energia do Rio Grande do Sul, com a
CELESC - o que aconteceu em 1970.
Na agropecuária, setor em que se encontravam as maiores dificuldades, as
sugestões eram de melhorar os índices zootécnicos dos rebanhos, a sanidade e genética
dos plantéis e a produtividade das principais culturas e criações. O instrumento seria a
assistência técnica aos agricultores, que começou a melhorar a partir de 1964 quando foi
instalado no munipio um escririo da Associação de Crédito e Assistência Rural de
Santa Catarina (ACARESC) que desenvolveu inúmeros trabalhos junto às propriedades
agrícolas.
De maneira geral, todas as ações se davam na direção da melhoria das
condições de vida de toda a comunidade local. Muitas obras foram realizadas com
grande envolvimento comunitário. A que mais demandou a participação efetiva dos
atores locais, sem dúvida nenhuma, foi a construção da escola agrícola. Somente nesta
obra foram contabilizados 9.056 dias de serviço voluntário. Eram feitas as escalas de
trabalho e a cada dia os moradores de uma nova linha colonial prestavam serviço
voluntário. Muitas vezes, as atividades das propriedades eram paralisadas para auxiliar a
construção da nova escola. Além dessas obras de âmbito social, o plano para o
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desenvolvimento econômico de Itapiranga sugeriu também algumas obras para
incrementar a economia do munipio.
2.3 INDUSTRIALIZAÇÃO DOS PRODUTOS AGRÍCOLAS
Finalmente, a Agro e Hidrotécnica indicava a industrialização dos produtos
do agricultor local. Duas indústrias foram sugeridas, a primeira foi a instalação de um
abatedouro de suínos com o objetivo de industrializar e agregar maior valor ao principal
produto do munipio: o suíno. A outra indústria sugerida foi um latinio, através da
qual se poderia inserir um grande número de produtores com um menor custo.
Os projetos foram apresentados à população e a diversos órgãos possíveis
financiadores das obras. A grande maioria das propostas apresentadas foi concretizada
ainda na década de 1960. Tiveram papel fundamental na realização dos principais
objetivos do plano de desenvolvimento a Misereor e a Comissão Municipal de
Desenvolvimento (COMUDE). Dada a importância dessas instituições na
operacionalização do plano e na organização e mobilização da comunidade local, na
seqüência, analisa-se as mesmas com mais profundidade.
2.3.1 A “Misereor
A Organização Episcopal da Alemanha Ocidental (Misereor), era entidade
que controlava as obras de caridade desenvolvidas pelos católicos alemães em favor das
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populações famintas de todo mundo. Estes trabalhos em favor dos povos necessitados
sem distinção de cor, raça e crença eram controlados pelo órgão Miserere,
organização caritativa para habitantes especialmente da África, Ásia e América Latina.
O espírito caritativo se justificava, em grande parte pelo pânico de ver o
mundo ser dominado pela União Soviética e pelo comunismo. Muitas vezes nas
pregações religiosas era usada a afirmação: não adianta formar novos partidos e nova
política: se o ocidente quiser sobreviver e não ser aos poucos devorado pela União
Soviética, é preciso ajudar os povos necessitados”
28
.
A instituição Misereor foi criada em 1959 e suas finalidades se resumem
em três pontos principais seguidos até hoje: a) melhorar e aumentar a produção dos
alimentos; enviando técnicos, empregando sementes, adubos, máquinas próprias e
escolas agrícolas; b) levantar o vel de vida; construir escolas; c) melhorar a assistência
à saúde, instruindo o povo, na orientação higiênica e sanitária.
Todo e qualquer projeto que era patrocinado deveria ser antes apresentado à
Organização dos Bispos da Alemanha. Os projetos passavam pela avaliação da
instituição que de acordo com a viabilidade, liberava os recursos. No caso de Itapiranga,
pelo fato de sempre terem existido intensas trocas de informação com a Alemanha, a
Misereor passou a atuar no ano de sua fundação (1959). Inicialmente os recursos
eram destinados para projetos de pequeno alcance social a exemplo de melhorias em
centros comunitários de algumas comunidades e escolas. No entanto a avaliação que a
28
Itapiranga em Marcha, nº 68, 1962 pag 7.
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instituição teve foi de que os resultados eram insignificantes e, por isso, sugeriu que
fosse elaborado um plano de desenvolvimento para o munipio.
Este plano passou a ser de propriedade exclusiva da Caixa Rural de
Itapiranga, órgão coordenador local do projeto. A “Misereor” custeou todas as despesas
do recenseamento e elaboração das propostas de desenvolvimento. O custo total deste
trabalho foi de Cr$ 3.950.264,00 cruzeiros
29
. Este valor corresponde a aproximadamente
440 salários mínimos da época (Cr$ 8.960,00 cruzeiros). O dinheiro foi depositado a
fundo perdido na Caixa Rural para que fossem pagas as despesas com do planejamento.
Além de bancar as despesas da elaboração do plano de desenvolvimento, a
Misereor enviou em outras oportunidades elevadas quantias em dinheiro a fim de
financiar a compra de animais e fazer melhorias nas propriedades dos pequenos
agricultores. Teve também importância fundamental na construção da escola agrícola
sugerida no plano de desenvolvimento.
Para coordenar a instalação das obras sugeridas no plano de
desenvolvimento patrocinado pela Misereor”, foi necessária a criação de uma
comissão que dirigisse os trabalhos. Essa comissão foi criada ainda em 1962 e foi
designada Comissão Municipal de Desenvolvimento (COMUDE).
29
Oeste em Marcha, 1963, p.2.
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2.3.2 Comissão Municipal de Desenvolvimento (COMUDE)
A comissão municipal de desenvolvimento foi constituída por lei municipal
em 1962, com os objetivos de promover, coordenar e controlar a execução das
sugestões do plano de desenvolvimento econômico para Itapiranga, assim como de
manter vivo e atuante o espírito desenvolvimentista da população.
A comissão ficou constitda pelo Prefeito (Artur Goerck) e os
representantes da Caixa Rural (Ervino E. Jaeger); do setor industrial (Wilibaldo Stuelp);
comércio (Lindolfo Weis) e a Associação dos Produtores Rurais (Inácio Melchiors).
Para secretário geral foi escolhido o Sr. Rudi Goerck
30
, empresário do setor madeireiro
e pessoa com grande respaldo político. Na constituição da diretoria se teve o cuidado de
contemplar todas as áreas econômicas do munipio. No entanto, ficou claro o domínio
dos setores comercial e industrial. Os agricultores que representavam mais de 80% da
população participaram com apenas um representante. Essa desproporcionalidade
resultou, com o tempo, o favorecimento de alguns setores e pessoas. Os integrantes da
COMUDE, mais tarde, tornaram se os principais acionistas de uma das indústrias
implantadas no munipio a partir das orientações do Plano de desenvolvimento.
A COMUDE teve papel importante na organização e construção das
principais obras propostas pela Agro e Hidrotécnica. Esta comissão coordenava os
trabalhos e era responsável pela aplicação dos recursos financeiros, seja os da população
local, ou aqueles obtidos a partir de remessas feitas pela Misereor, ou oriundos de
30
Itapiranga em marcha, 1962 p 1 73
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empréstimos bancários. Para cada obra foi eleita uma equipe de trabalho, que era
subordinada à COMUDE.
Juntamente com a COMUDE, a Caixa Rural teve importância fundamental
durante o desenvolvimento das principais obras do plano de desenvolvimento
econômico para Itapiranga. Era ela quem recebia e distriba os recursos recebidos das
instituições alemãs e os empréstimos dos governos do Federal e do Estado. No exercício
de 1961, a Caixa União Popular de Itapiranga contava com 848 sócios, dos quais 186
contrram empréstimos naquele ano. Considerando a existência de 1.824
estabelecimentos agrícolas na época, pode-se afirmar que a maioria dos agricultores não
integrava a Cooperativa de Crédito. Esta situação teve reflexos na distribuição dos
recursos recebidos pela agência local para o financiamento de melhorias nas
propriedades dos agricultores. Eram priorizados os que eram sócios.
A partir de 1964, os governos militares praticamente interditaram o
funcionamento das cooperativas de crédito. A Lei 4.595/64 impôs muitas restrições às
Caixas Rurais. Poucas sobraram, entre elas a de Itapiranga.
A partir de 1980, a legislação voltou a fazer concessões às cooperativas de
crédito. Assim voltaram a ser criadas as cooperativas singulares e as centrais. Em Santa
Catarina, criou-se a COCECRER à qual a caixa rural de itapiranga, denominada então
de Cooperativa de Crédito de Itapiranga – CREDI-Itapiranga, filiou-se em 1985.
A COMUDE, instituição que antecedeu as atuais comissões de
desenvolvimento nos munipios, juntamente com a cooperativa de crédito mostraram-
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se importantes ferramentas de formação e mobilização de capital social na microrregião.
Duas instituições acima de qualquer questionamento, condição que permitiu mais tarde,
negociações em proveito próprio aos membros das mesmas. Esses acontecimentos,
juntamente com fatores de mercado resultaram em mudanças no rumo das duas
indústrias sugeridas no plano de desenvolvimento econômico de 1962.
2.4 AS OBRAS DE MAIOR IMPACTO PROPOSTAS NO PLANO DE
DESENVOLVIMENTO DE 1962
Para os objetivos deste trabalho serão analisadas as instalações do
abatedouro de suínos e da indústria de laticínios, obras que provocaram transformações
no sistema de produção e estimularam o crescimento econômico da região. Busca-se
levantar os elementos que favoreceram ou inibiram o crescimento dessas atividades,
bem como, o jogo de relações estabelecido ao longo do período de consolidação destas
indústrias. Ambas as obras contaram com ampla participação comunitária. Estes
empreendimentos representavam a possibilidade de crescimento econômico e melhora
nas condições de vida da população.
2.4.1 A cooperativa de laticínios
A industrialização de leite teve início no interior do munipio em
fabriquetas instaladas na comunidade de Sede Capela e no distrito de São João. Havia
um pequeno comércio de compra de nata que era revendida no munipio de Ij (RS).
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Em 7 de janeiro de 1957, o Pe. Afonso Hansen, durante a assembléia do
Instituto de Assistência e Educação de São João
31
, lançou a idéia desse Instituto fundar
uma Indústria de Latinios no distrito. No começo houve grande empolgação, porém o
projeto não prosperou.
Em 1962, a indicação de um laticínio pelo plano realizado pela Agro e
Hidrotécnica deu novo ânimo para instalação da indústria. As justificativas do
empreendimento consistiam nos seguintes aspectos:
- Existência de um rebanho de gado bovino com certa aptidão leiteira;
- Falta de comércio para o leite e seus derivados;
- Das matrizes bovinas, cerca de 4.205 vacas apresentavam aptidão
leiteira, com potencial de produção de aproximadamente 5 litros/dia,
gerando um total de 21.025 litros diários, dos quais 10.000 poderiam ser
comercializados. Esta produção renderia 400kg de manteiga, 800kg de
queijo e uma sobra de 5.800 litros de soro por dia para alimentar suínos em
fase de terminação.
- Do ponto de vista técnico e econômico, a indústria deveria ser instalada
no distrito de São João ou na comunidade de Sede Capela.
- A indústria foi orçada em 40 milhões de cruzeiros (111 mil lares), sem
contar o terreno para instalação, fonte de energia, postos de coleta e meios
de transporte. Os sócios deveriam formar mais um capital circulante de 12
milhões de cruzeiros. Os recursos para este investimento seriam
31
Instituição ligada a Companhia de Jesus que mantinha o Hospital do distrito de São João e oferecia
tamm assistência em outras áreas de atuação, entre elas, a agricultura.
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assegurados por empréstimo bancário, sendo o empreendimento
comprovadamente autofinanciável.
A população, de um modo geral, via na indústria de laticínios o projeto mais
interessante entre os indicados pela Agro e Hidrotécnica. Era um empreendimento de
menor custo e maior abrangência. No entanto, a história desse projeto começou mal.
Aconteceu severa disputa entre lideranças comunitárias no momento de definir o local
de instalação da fábrica. A comunidade do distrito de São João reivindicava a empresa
em troca de apoio para a construção do abatedouro de suínos, a ser instalado próximo da
cidade de Itapiranga.
Esta disputa resultou em certo desinteresse e falta de apoio por parte de
muitas lideranças. Aquelas do distrito de Sede Capela e da sede de Itapiranga pouco
participaram da implantação do projeto, o que dificultou a formação de uma equipe de
trabalho com competência suficiente para tocar o empreendimento.
Os primeiros passos da organização do latinio foram feitos sob a
orientação do Dr. Koglewich, de origem húngara, especialista em planejamento sócio-
econômico ligado a Agro e Hidrotécnica e por Willibaldo Wagner, engenheiro
agrônomo.
A assembléia geral de fundação ocorreu em 4 de agosto de 1962. A diretoria
da cooperativa foi formada pelo comerciante Willibaldo Stuelp Presidente, Lauro T.
Giehl-profissional autônomo como Diretor Gerente, o agricultor Tealmo Meurer como
Secretário e para conselheiros, o agricultor Jo Foelmer por São João e o funcionário
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público Ervino Jaeger por Itapiranga. Este último era o componente da diretoria com o
maior respaldo potico no nível local.
Nessa mesma assembléia foram aprovados os estatutos da cooperativa. Foi
levantada uma ressalva pelo gerente da Caixa Rural de Itapiranga, que dizia respeito à
legislação de 1937 e limitava a cota de participação de cada associado a no máximo
5.000 cruzeiros. Essa ressalva tornava insuficientes os recursos para começar a obra. A
solução encontrada foi associar marido e mulher de cada família interessada. Cerca de
1.200 famílias assinaram as cotas partes de duas parcelas de 5.000 cruzeiros, dos quais
metade eram pagos no ato e a outra metade descontada da produção entregue ao
latinio. Somando os valores das cotas partes pagas no ato da associação e empréstimos
feitos na Caixa Rural, 24 milhões de cruzeiros foram arrecadados, soma suficiente para
começar a construção do latinio.
Portanto, foi adquirida uma área de 29.100 m² na sede do distrito de São
João. Os investimentos logo ultrapassaram o capital disponível e o projeto teve que ser
paralisado um ano após seu início. A paralisação das obras gerou descrédito e o
abandono do projeto era cada vez mais evidente. No dia 23 de setembro de 1963, foi
convocada uma assembléia geral extraordinária. A assembléia decidiu pela continuidade
da indústria. Na oportunidade foi resolvido aumentar o número de sócios, prorrogar os
empréstimos com a Caixa Rural por mais um ano e pleitear auxílio financeiro junto a
“Misereor
32
.
32
Entrevista com um agricultor associado da cooperativa de laticínios.
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No entanto, os conflitos internos eram cada vez mais freqüentes, que
associados a desmandos de membros da diretoria geraram um clima de desconfiaas,
vidas e o vencimento de financiamentos e, a falta de máquinas e capacidade de
pagamento alimentavam as intrigas.
A Misereor enviou um auxílio financeiro equivalente a 120 milhões de
cruzeiros. Ele chegou na agência dos correios de Itapiranga em lares, destinados a
Caixa Rural. Esta retirou o cheque rápida e sigilosamente, foi a Porto Alegre cambiar os
dólares. A diretoria do laticínio tomou conhecimento da chegada do dinheiro e julgou
que o valor se destinasse para a indústria. Sabia, no entanto, que a Caixa Rural alegava
precisar reservar valores anteriormente emprestados e pretendia ficar com todo o
dinheiro.
O organizador do latinio, Dr. Koglewich, também foi a Porto Alegre, na
tentativa de reverter a situação. Mesmo indo de avião de Ij a Porto Alegre, ele não
chegou a tempo de fazê-lo. Para minorar o conflito, a Caixa Rural cedeu 14 milhões de
cruzeiros em forma de empréstimo, para um tomador com dois avalistas, por um ano.
Enquanto isso, novo pedido de ajuda foi encaminhado para a Misereor”, solicitando a
mesma quantia cedida pelo banco. O valor foi recebido e a Caixa Rural apenas
comunicou que o empréstimo havia sido pago
33
.
Para comprar as máquinas da indústria, 23 agricultores proprietários de terra
sócios do latinio fizeram um financiamento no Banco do Brasil. No banco, o
argumento usado pelos agricultores para conseguir o financiamento foi a compra de
33
Entrevista direta com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de 1968.
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vacas para melhorar e aumentar o plantel leiteiro das propriedades. Quando vencia um
empréstimo, este era repassado para outro agricultor na forma de um novo
financiamento, ou seja, o financiamento era pago com um novo financiamento. Este
procedimento ficou conhecido como o “escândalo da vaca de papel”. A diretoria do
latinio sempre dava plenas garantias verbais de que todo dinheiro seria devolvido.
Quando veio a falência da cooperativa, em dezembro de 1966, muitos amargaram
elevados prejuízos
34
, alguns, inclusive, perderam parte de suas terras (Jungblut, 2000, p.
502).
Meses antes de decretar falência a indústria começou a produção. A
inauguração aconteceu em 5 de março de 1966, com 1.456 sócios. Eram produzidos
queijo, manteiga e doce de leite. Todavia, as contas mostravam déficits cada vez
maiores. De setembro de 1966 até o final do mesmo ano aconteceu ainda uma seca que
deixou as propriedades sem pastagens, reduzindo muito a produção de leite. O golpe de
miserirdia veio em dezembro de 1966, quando a cooperativa teve retornada uma
carga de 4.000kg de queijo julgado fora de condições de venda. A diretoria mandou
ocultar o queijo, que mais tarde foi descoberto, desencadeando uma série de acusações e
escândalos.
Foi nomeada uma comissão de intervenção para apurar irregularidades. Dois
contadores foram nomeados e elaboraram um balanço geral, que não foi aceito pelo
conselho fiscal e rejeitado pela comissão de intervenção, sob a alegação de conter
muitos erros. O presidente e o gerente da fábrica foram afastados e sofreram processo
judicial. Novos contadores foram nomeados. Eles não encontraram erros na
34
Ninguém soube informar quantos agricultores estiveram envolvidos nestas transações, no entanto, os
entrevistados afirmaram que mais de uma centena de sócios desembolsou dinheiro para pagar as dividas
do laticínio após a falência.
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contabilidade da cooperativa, a não ser uma troca de títulos de 90.000 cruzeiros que
atribram a inabilidade do contador. O processo se estendeu por muito tempo e, no seu
final, o presidente e o gerente foram considerados inocentes e o contador do latinio,
incompetente. A conclusão que se tirou disso tudo foi que a fábrica faliu porque nunca
teve capital suficiente para funcionar.
Em 19 de novembro de 1968, a assembléia geral dos sócios s a indústria à
venda e foi instituída uma comissão liquidante. O Banco do Brasil, porém, já havia
penhorado o que sobrara da fábrica. Em 1969, um grupo de industrialistas de São Paulo,
liderados pelo Dr. Koglewich, comprou a fábrica. O Banco do Brasil, no entanto,
retomou o imóvel, por falta de pagamento do grupo que havia comprado a indústria.
No dia 15 de fevereiro de 1970, houve uma reunião para reorganizar a
indústria, sendo que Lauro Schoeler, presidente da bem sucedida Sociedade Anônima
Frigofico de Itapiranga (Safrita) se prontificou a ser o presidente do latinio. A
desmotivação dos agricultores levou o empreendimento a nova falência em 8 de julho
de 1971. Seguiu um leilão judicial e não houve comprador.
Em 1974, o que restava da indústria foi vendido pelo Banco do Brasil a uma
família de São João, por 230 mil cruzeiros. A partir de então, foi formada a firma
Latinios Itaipu Ltda”, que passou a produzir queijo, manteiga, doce de leite e leite
pasteurizado. Como o Serviço de Inspeção Federal, ligado ao Ministério da Agricultura,
o havia vistoriado as instalações da indústria, esta ficou impossibilitada de vender
seus produtos. No ano de 1979 aconteceu nova estiagem, resultando na paralisação das
atividades até 1983.
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Em 1983, a indústria foi novamente negociada, sendo adquirida por Rubens
Grasel e Egon Stulp, também comerciantes do distrito de São João. Em 1988, ocorreu
outra troca de dono, sendo comprada pela Ivoti Ltda e, finalmente em 1991, a
Cooperativa Central Catarinense (Aurora) comprou a indústria. Depois da compra da
indústria pela Aurora aconteceu um incremento grande na produção de leite na região,
motivado, principalmente, pela estruturação de um eficiente quadro técnico responsável
por levar novas tecnologias aos agricultores. A partir desse período rias empresas se
instalaram na reião e a produção de leite se transformou numa das principais fontes de
renda para grande parte dos estabelecimentos rurais.
2.4.2 O abatedouro de suínos
O levantamento cio econômico identificou a produção de 44.000 suínos
por ano no munipio de Itapiranga no icio dos anos 1960. Com mais 30.000 suínos
dos munipios vizinhos e melhoras no sistema de criação e manejo seria possível
viabilizar um frigofico.
A vontade das lideranças locais era de constituir uma cooperativa de
suinocultores, mas a Agro e Hidrotécnica, responsável pelo projeto, avaliou que os
agricultores sozinhos não teriam dinheiro para viabilizar a obra e infra-estrutura. A
forma jurídica sugerida pela empresa de consultoria coincidiu com a já experimentada
por outros frigoficos da região
35
. Ou seja, uma Sociedade Anônima (SA) em que
35
Perdigão Sociedade Anônima Indústria e Comércio de Videira, Sadia S/A, Frigorífico Chapecó
Industrial (SAICC), etc.
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comerciantes, profissionais liberais e agricultores pudessem comprar ações e compor
uma empresa industrial.
O abatedouro foi dimensionado para processar até 400 suínos por dia. O
custo da obra foi estimado em Cr$ 130.000.000 Cruzeiros ou U$ 361.000 dólares em
cotação da época, sem considerar a instalação de energia elétrica, a aquisição do terreno,
a construção do sistema de tratamento de efluentes e melhorias no sistema de
comunicação e transporte.
Ainda em 1962, foi constituída a equipe provisória para coordenar o projeto.
A comissão ficou composta por Bruno Koeln, Lauro Schoeler, Lauro T. Ghiel, Artur
Goerck e Rudi Goerck, todos homens com influência na política local, auxiliados pelo
Pe. Edvino Schmitt. Estas pessoas tornaram-se sócios majoritários do frigorífico. A
assembléia de fundação da Sociedade Anônima Frigofico de Itapiranga (Safrita)
aconteceu em 2 de setembro de 1962. Em 18 de julho de 1967, quando o abatedouro foi
inaugurado, 745 acionistas eram cios da agroindústria.
Muitas reuniões foram feitas nas comunidades rurais para explicar aos
agricultores as vantagens de ser acionista do frigorífico. Os argumentos usados eram os
mais variados, inclusive com forte apelo religioso. Muitos agricultores venderam áreas
de terra e animais a fim de comprar ações da Safrita.
No primeiro ano de funcionamento foram abatidos 30.000 suínos. Cinco
anos depois, em 1972, eram abatidos 80.000 animais por ano, dos quais 50.000 eram
provenientes do próprio munipio de Itapiranga.
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Em 1971, 478 acionistas fundaram uma subsidiária, a Frigoaves que
produzia 80.000kg de ração/dia para aves. Essa subsidiária trouxe para Itapiranga o
sistema de integração entre o criador de aves e a Safrita. Em 5 de fevereiro de 1973, a
empresa realizou o seu primeiro abate de frangos.
Em 1976, foi criada a segunda subsidiária, a Safrita Agropecuária Ltda, que
assumiu o fomento da criação de aves de corte, perus e suínos. Eram mantidas duas
filiais para recepção e venda de produtos, uma em São Paulo e outra no Rio de Janeiro.
Nos anos 1970, a empresa começou a enfrentar suas primeiras dificuldades.
Muitos produtores vendiam a produção em outras cidades (Chapecó, Concórdia)
motivada pelos melhores preços. A partir de 1978, com o auge da denominada Peste
Suína Africana, instalou-se uma grave crise da suinocultura
36
(Strieder, 2000) que,
juntamente com a instalação de uma fazenda de produção de guaraná, no munipio de
Maués-Amazonas, que não teve seus objetivos explicados e demandou muitos recursos,
parecem ter sido os principais elementos para a venda da Safrita, em 1981, para o Grupo
HERING. A venda da indústria representou para os acionistas, a perda de quase tudo
que haviam investido. Alguns receberam quantias irrisórias, distribdas em parcelas a
perder de vista e outros, que preferiram não vender suas cotas, de vez em quando
recebem valores insignificantes de dividendos dos lucros da empresa.
36
A peste suína africana é uma doença epidêmica, causada por um vírus que ataca os suínos causando
grande mortalidade. Os agricultores conheciam a peste suína clássica (Schweinspest), mas jamais foram
esclarecidos da versão piorada da peste que ocorreu na região entre 1976 e 1979. A doença provocou
muita polêmica. (Jungblut, 2000).
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Quando da venda da indústria para a HERING, muitos acionistas não
receberam nada e outros ficaram muito longe do que tinham investido. Um agricultor
entrevistado, por exemplo, em 1963 comprou ações no valor de 103 mil cruzeiros e
recebeu, em 1981, 400 cruzeiros, uma caixa de sabão e 2 caixas de cervejas por suas
cotas.
Apesar disso, o sentimento maior que existe entre as pessoas que investiram
boa parte de seus recursos em ações do frigorífico e, também, na indústria de latinio
o é de perda ou de terem sido enganados. O sentimento predominante pode ser
sintetizado da seguinte forma: o mais importante é que a região cresceu e que a
comunidade de Itapiranga a partir disto tem um padrão de vida melhor.
A venda para o grupo HERING aconteceu em 17 de Julho de 1981 na Bolsa
de Valores de São Paulo. A nova empresa fez várias melhorias nas instalações e nos
sistemas de criação. Em 1993 o abate de suínos foi paralisado, permanecendo apenas o
abate de frangos. As instalações exigiram uma completa reformulação para se adequar
às normas legais. Percebendo o alto custo das reformas, a empresa resolveu transportar
os suínos até a unidade de abate que possuía no munipio de Seara. Para os integrados
o aconteceram grandes mudanças. A indústria continuou a comprar os suínos e
manteve os contratos de integração com os agricultores.
Em 1997, o grupo Bunge e Born da Argentina assumiu o controle da
indústria e anunciou vários investimentos. Entre 1998 e 2002 foram investidos mais de
40 milhões de reais na ampliação da capacidade de abate de aves, que passou no ano de
2000 de 78.000 para 230.000 frangos/dia. Além disso, ocorreu a instalação de uma
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indústria de termoprocessados de carne de frango. No início de 2004 foi anunciado novo
investimento de 12 milhões de reais para ampliação da indústria de termoprocessados.
A foto 2 mostra a unidade da Seara Alimentos S/A de Itapiranga na atualidade. O nome
se deve ao fato de quando da compra da indústria pelo grupo Bunge, este ter comprado
também a marca Seara e fazer uso desta para sua linha de produtos alimentícios.
FOTO 2 A AGROINDÚSTRIA SEARA ALIMENTOS S/A DE ITAPIRANGA,
NA ATUALIDADE Fonte: RAMBO, Nestor Francisco, 2004.
Poderia-se pensar que, no início dos anos 1980, período das maiores
transformações relacionadas aos empreendimentos sugeridos no plano de
desenvolvimento de 1962, o crescimento da região fosse prejudicado, ou até mesmo
estancado, em função principalmente da passagem do controle acionário do frigorífico
Safrita para o grupo CEVAL e a venda do que restou da indústria de latinio para
empresários locais, deixando estas de ser empresas de participação comunitária e
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cooperativa para serem empresas privadas fortemente integradas à economia de
mercado.
A adoção de novas técnicas e políticas de trabalho diferenciado,
inicialmente, provocaram grande apreensão e desconfiança. Os novos empresários
trataram de implantar uma nova filosofia de trabalho. Era preciso aumentar a escala de
produção e melhorar os índices das criações para que as indústrias se tornassem
rentáveis.
Essa mudança na filosofia de trabalho das indústrias gerou transformações
nos sistemas de produção, na economia e na organização social local. O sistema de
integração entre indústria e criadores de suínos e aves foi intensificado, exigindo
investimentos e aumentando a interferência da indústria nas propriedades. As novas
exigências fizeram com que muitos agricultores fossem “excldos”
37
do processo. Isto
permitiu, no entanto, que muitos viessem a empreender em novas áreas do setor
produtivo, transformando os estabelecimentos em empreendimentos rurais, com um
controle rígido dos fatores de produção e voltados à reprodução social das famílias e do
modo de vida local.
De maneira geral os empreendimentos surgidos do planejamento de 1962,
são os que hoje ditam a dinâmica econômica local. As indústrias, no seu devido tempo e
com seus devidos problemas, cresceram e se consolidaram, criando condições para que
37
Trabalhos como os de Testa et al (1996); Strieder (2000): Eidt (1999) caracterizam os agricultores que
o aderiram ao sistema de integração ou que por motivos alheios não foram aceitos como integrados
como excluídos do processo de desenvolvimento, que, a grande maioria destes era historicamente
criador de suínos e com o novo sistema praticamente foram obrigados a deixar a atividade. No entanto,
muitos dos estabelecimentos migraram para outras atividades, entre elas a bovinocultura de leite, onde
empreenderam e vem alcançando sucesso.
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se instalassem no seu entorno e associadas à elas uma série de empresas e serviços que
atendem as suas demandas. Possibilitaram, também, mudanças significativas no campo.
Aconteceu, é verdade, um processo intenso de seleção de pequenos agricultores pela
agroindústria de carnes. Foram selecionados para integrados ou parceiros aqueles com
posse do título da terra, alguma capacidade de investimento e, principalmente, os
dispostos a se sujeitar à política de trabalho da empresa.
Os agricultores que não se enquadravam nas exigências das empresas
integradoras tiveram que se adaptar a outras atividades. Essa adaptação permitiu que
muitos empreendessem em atividades como a bovinocultura de leite, plantio de fumo e
pequenas indústrias rurais. Esta transformação gerou uma dinâmica econômica própria e
permitiu que a região de Itapiranga alcançasse bons índices de desenvolvimento cio-
econômico.
Prova de que a economia da microrregião é dinâmica são os seus índices de
desenvolvimento. No ano 2000, Itapiranga ocupava a 32ª segunda posição em qualidade
de vida no estado de Santa Catarina e a 119ª no Brasil, num universo de 5.561
munipios. Dos munipios desmembrados de Itapiranga, Tunápolis ocupava a 53ª
posição no estado e a 216ª no país e São João do Oeste a 86ª no estado e a 362ª no país
(Ipea/Pnud/Fundação João Pinheiro, 2001). Na região extremo-oeste, estes munipios
perdem em qualidade de vida apenas para o munipio de São Miguel do Oeste, que
ocupa a 25ª posição no estado e a 84ª no país. A situação sócio-econômica atual da
microrregião será analisada com mais detalhes no capítulo seguinte.
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CAPÍTULO III: A MICRORREGIÃO DE ITAPIRANGA HOJE: DE 1985 À
ATUALIDADE
O objetivo deste capítulo é analisar o período que vai de 1985 até os dias de
hoje com a finalidade de identificar as oportunidades e os conflitos criados a partir da
implementação das principais obras propostas pelo plano de desenvolvimento
econômico para Itapiranga. Além disso, analisa-se a interferência desses
empreendimentos nas relações sociais da comunidade local e no atual estágio de
desenvolvimento do munipio. Conforme visto, estas obras foram executadas através
da intensa participação comunitária, com a mobilização das principais formas de
capital social disponíveis na comunidade local, mas com importante aporte técnico e
financeiro externo. Com o passar do tempo, algumas transformações não previstas no
planejamento inicial foram ocorrendo; no entanto, elas representam hoje peças
fundamentais no processo de desenvolvimento regional.
As mudanças ocorridas na trajetória destas empresas trouxeram para a região
alterações significativas nos sistemas de produção e no modo de vida das pessoas. A
intensificação do sistema de integração entre agricultores familiares e as agroindústrias
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prioriza resultados individuais em detrimento dos laços sociais comunitários. A
organização de classes não é vista com bons olhos pelas agroindústrias e, no caso dos
integrados das indústrias de carnes, é combatida com punições que vão desde
advertências até o fim da parceria. Percebe-se, no entanto, que também existe aspectos
positivos nesse processo. Na busca de melhores resultados, muitos têm melhorado sua
qualidade de vida. A busca de resultados pode propiciar melhoria nas condições de
infra-estrutura dos estabelecimentos rurais, das vias de acesso e o vel de informação
dos agricultores.
Além disso, o espírito comunitário permanece presente na comunidade local,
sendo freqüentes os exemplos de mobilização de recursos como a cooperação e a
reciprocidade para a realização de eventos sociais ou para o alcance de objetivos
comuns, como é o caso de festas comunitárias, da instalação de água tratada para
comunidades do interior, a criação de novas alternativas de produção e a manutenção
das estruturas de promoção social das comunidades.
É neste cenário mesclado pela pressão do sistema capitalista de produção
com o espírito comunitário, que a microrregião de Itapiranga tem conseguido bons
índice de crescimento econômico e social e, de certo modo, tem se orientado para um
modelo diferente de desenvolvimento, onde a inclusão social a partir de alternativas de
produção para aqueles estabelecimentos que não se adaptaram ao sistema de integração
com a agroindústria, também é importante.
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3.1 CARACTERIZAÇÃO DA MICRORREGIÃO DE ITAPIRANGA
A microrregião de Itapiranga, constituída pelos atuais munipios de
Itapiranga, São João do Oeste e Tunápolis, que formavam o antigo Projeto Porto Novo,
faz divisa ao Oeste com a República da Argentina, ao Sul com o Rio Grande do Sul
através do Rio Uruguai e, ao Norte e Leste com os munipios de Ipo do Oeste, Santa
Helena e Mondai. A população é basicamente de origem alemã e tem sua economia
baseada na agropecuária, indústria, comércio e serviços.
Em 1989, foi criado pela lei número 7503/89 o munipio de Tunápolis,
sendo que a primeira eleição aconteceu em 15 de novembro de 1989 e a posse em 01 de
janeiro de 1990. O novo munipio ficou com uma área de 133,6 Km² e uma população
de pouco mais de 5.200 habitantes. Em 1992, desmembrou-se de Itapiranga o distrito de
São João, sendo criado o munipio de São João do Oeste, com uma área de 161,4 Km²
e uma população próxima a 6.500 habitantes.
Com estes desmembramentos, Itapiranga ficou com uma superfície de 285,6
Km² e uma população de quase 15.000 habitantes. O Quadro 3, a seguir, mostra as
populações e a densidade demográfica de cada um dos munipios no ano 2000.
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Quadro 3: Densidade demográfica e urbanização dos municípios de Itapiranga,
São João do Oeste e Tunápolis
População
Município
Urbana Rural
Densidade
demográfica (km2)
Urbanização
(%)
Itapiranga 5.382 8.616 49,00 38,4
S Jô.ão do Oeste 1.494 4.295 35,9 25,8
Tuápolis 1.217 3.560 35,8 25,5
Total 8.093 16.471 - -
Fonte: IBGE.
Percebe-se que a população rural nos três munipios é bem maior que a
urbana, porém, a tendência que se tem revelado nos últimos anos é de haver uma
redução nessas diferenças. O aumento dos empregos na indústria e no comércio tem
atrdo cada vez mais pessoas para as sedes dos munipios. Os três munipios têm
apresentado, ainda, algum êxodo, devido a busca por parte de muitos jovens,
principalmente, de estudo em centros maiores.
A microrregião conta hoje com três agências e dois postos bancários
avançados, um em São João do Oeste e um em Tunápolis. Neste sentido, aparece com
papel importante a Credi Itapiranga, antiga Caixa Rural, que hoje congrega mais de
4.000 sócios nos três munipios de abrangência. Esta instituição tem participado
ativamente do desenvolvimento da região, principalmente, através da oferta de recursos
para o financiamento das atividades dos agricultores familiares, com destaque para o
Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) do Governo
Federal.
A produção agropecuária se em pequenas propriedades familiares, sendo
que mais de 75% dos estabelecimentos rurais possuem menos de 20 ha e a área média
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deles é de 14,5 ha. A mão-de-obra utilizada é de forma predominante familiar e a tração
animal predomina nas propriedades. As principais fontes de renda são as criações de
frangos de corte e suínos no sistema de integração com as agroindústrias de carnes,
além da produção de leite, fumo e cereais.
O sistema de integração entre as agroindústrias e os agricultores familiares
iniciado na microrregião desde o final da década de 1970 tem se intensificado com os
investimentos realizados na adaptação e ampliação das estruturas de industrialização,
principalmente, no munipio de Itapiranga. Esse sistema possui especificidades que são
contrárias à organização e mobilização social e, muitas vezes, tem sido visto como
obstáculo à formação e ampliação do capital social. Diversos trabalhos têm criticado os
sistemas de integração, com o argumento de que este seria uma maneira das
agroindústrias obterem matérias-primas a baixos custos, sendo os agricultores
trabalhadores sem salário e encargos sociais”.
Apesar dos possíveis obstáculos gerados pelo sistema de integração, se tem
visto na microrregião de Itapiranga, um desenvolvimento econômico e social
significativo. Aqueles agricultores integrados às agroindústrias têm, na sua maioria,
promovido melhorias no aspecto das propriedades e, sobretudo, na sua qualidade de
vida. É importante ressaltar que mesmo acontecendo a busca por melhores resultados
econômicos, onde prevalece o individualismo de cada unidade de produção, o espírito
comunitário continua presente na população e são freqüentes as mobilizações para o
alcance de objetivos sociais de cunho coletivo. Na seqüência aprofundamos a discussão
sobre o sistema de integração dos agricultores com as agroindústrias, em especial as de
carnes, dada a importância das mesmas na dinâmica socioeconômica local.
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3.2 A INTEGRAÇÃO AGROINDÚSTRIA E AGRICULTURA FAMILIAR
A integração é hoje caracterizada como uma forma de terceirização da
produção. Seu berço remonta aos séculos XVI a XVIII, período em que se deu ênfase à
indústria doméstica. Naquela época, as famílias, sem se desligarem da terra, passavam a
produzir mercadorias para os capitalistas”, recebendo, em troca, pagamento (Streder,
2000). “A família inteira, incluindo os filhos menores, ajudava ativamente no trabalho,
sem, no entanto, se desligarem totalmente das práticas agrícolas. Essa forma produtiva,
na época, foi abolida, porque as terras foram cercadas, e muitos artesãos faliram. Na
Inglaterra, isso ocasionou um acréscimo significativo de mão-de-obra dispovel nos
centros urbanos”.
As agroindústrias que desde os anos 1960 se instalaram na região, hoje,
novamente buscam investir nas regiões rurais. Este processo é fundamental e estratégico
para aumentar a acumulação de lucros e a própria sobrevivência das empresas. Nesse
processo, um fator importante reside nas oportunidades que se criam no entorno destas
empresas e que resultam numa infinidade de empreendimentos que geram dinamismo
econômico. Outro fator relevante é a conseqüente transposição de tecnologias e ciência
para regiões rurais. Isto permite uma redução de grande parte das diferenças entre
cidade e campo.
A tecnologia produtiva, organizacional e de trabalho que acompanha a
agroindústria propaga um novo modo de vida, trazendo em sua esteira mudanças no
comportamento das pessoas. Para ser aceito como integrado das agroindústrias, o
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agricultor deve seguir os preceitos tecnológicos recomendados pelos técnicos das
empresas e fazer os investimentos necessários para iniciar ou melhorar suas atividades.
Um estudo realizado pelo Instituto Cepa/SC (1994), que tomou como base o
Censo Agropecuário de 1985 (IBGE, 1991), confirma a tendência de
seleção/concentração da produção de suínos no oeste catarinense. O estudo indicou a
existência de cerca de 45.000 produtores (45% dos estabelecimentos rurais da região)
para os quais a suinocultura era uma fonte de renda relevante em 1985. Essa chifra caiu
para cerca de 20.000 no icio do milênio. Na primeira metade dos anos 1980, quando
aproximadamente 5% dos suinocultores eram integrados, já se observava um processo
de seleção; cerca de 22.000 produtores saíram da atividade, sem que houvesse redução
da produção (Quadro 4).
Quadro 4. Evolução do total de suinocultores e de integrados no Oeste
catarinense
Anos Integrados Total de produtores
1980 3.860 67.000
1981 4.045 -
1982 5.242 -
1983 9.396 -
1984 12.639 -
1985 18.232 45.000
1986 26.176 -
1987 25.657 -
1988 24.056 -
1993 - 30.000(E)
1994 - -
1995 18.700(E) 20.000(E)
2000 - 20.000(E)
Fonte: Instituto Cepa/SC (1990). (E) Dados estimados por Testa et al, 1996.
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Os dados acima mostram, também, a tendência a partir de 1988 de redução
do número de integrados das agroindústrias e, por conseqüência, um aumento na
concentração de animais por propriedade produtora. Essa tendência é constatada em
todo o Oeste catarinense.
Na microrregião estudada, a seleção dos criadores de suínos começou com a
instalação do frigofico local e a mudança na base genética dos animais criados para
comercialização. Esse processo se intensificou a partir do momento em que a
agroindústria passa a firmar contratos de parceria com os agricultores.
O contrato formal entre o integrado e a agroindústria, quando ele existe
38
,
determina o tipo de matéria-prima que o primeiro irá produzir. A matéria-prima
produzida é vendida com exclusividade para essa agroindústria. O compromisso da
agroindústria é o fornecimento de insumos, a assistência técnica e, em alguns casos, a
facilitação do financiamento das instalações necessárias. Além da compra dos
equipamentos, o produtor integrado precisa investir na construção das benfeitorias. Os
produtos como ração, medicamentos e animais para reposição, financiados diretamente
com a agroindústria, são descontados do produtor no final de cada lote de animais
criados.
Muitos dos que não foram aceitos ou não se adaptaram ao novo sistema
ficaram à margem do processo. Muitos enxergam no sistema de integração a perda da
autonomia e a interferência excessiva da agroindústria nas atividades da propriedade e
preferem encerrar a atividade. Outros, ainda, foram excldos pela agroindústria devido
38
Em alguns casos, o acerto entre o agricultor e a agroindústria é apenas verbal e ocorre entre o técnico e
o agricultor.
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à distância em relação aos abatedouros ou à precariedade de condições materiais nas
propriedades (estradas, instalações, capital próprio, etc).
De maneira ainda mais intensa que na suinocultura, na avicultura de corte o
sistema de integração coincide com o início desta atividade na região. Os primeiros
aviários para frangos de corte foram constrdos no munipio de Itapiranga em 1973.
Desta data até os dias atuais o que se viu foi um incremento muito grande na produção e
no abate de frangos. No entanto, se comparada à suinocultura, essa atividade é
concentrada em um número ainda menor de propriedades e muito mais exigente em
investimentos. Estes fatores explicam a existência de um pequeno número de integrados
nesta atividade.
O Quadro 5, a seguir, uma noção da quantidade de estabelecimentos nos
três munipios do antigo projeto Porto Novo e do número de propriedades que
trabalham em sistema de integração com as agroindústrias nas atividades de suínos e
aves de corte. O número real de propriedades integradas pode ser menor que a
apresentada, pois algumas delas criam, ao mesmo tempo, aves e suínos.
Quadro 5. Número de propriedades e propriedades integradas com as
agroindústrias em 2001
Município Nº total
propriedades
de propriedades
Integradas/suínos
de propriedades
integradas/aves
Itapiranga 1461 209 93
São João do Oeste 1115 112 58
Tunápolis 796 54 46
Total 3.372 375 197
Fonte: Epagri/Itapiranga e CIDASC/Itapiranga
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Os dados revelam que menos de um quinto das propriedades estão integradas
às agroindústrias de suínos e frangos de corte. Todas as propriedades que trabalham
com aves de corte são integradas da Seara Alimentos S.A. na criação de suínos, três
integradoras operam na região: Seara Alimentos, Cooperativa Central Aurora, através
da unidade local da Cooper A1, e a Integradora Grasel
39
. Estimativas do escririo local
da Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc)
40
dão
conta de que na produção de suínos, além das propriedades integradas, existem
aproximadamente mais duas dezenas com criação e comercialização independente.
A concentração da produção de frangos e suínos num pequeno número de
propriedades facilita o controle de todas as fases de produção, bem como, a distribuição
dos insumos (rações, medicamentos) e a programação de abate pelas agroindústrias. No
entanto, essa mesma concentração de animais em uma área bem mais restrita vem
provocando problemas ambientais sérios.
Para os agricultores integrados, sua reprodução social está fortemente
associada a essa atividade. As mais modernas tecnologias de produção são postas a sua
disposição. Ele se torna um elemento estratégico do sistema, que cada vez mais depende
dos mercados internacionais e da qualidade do processo produtivo.
Através do sistema de integração, esses agricultores encontram as condições
para melhorar as benfeitorias, mas também as condições de vida social e econômica. É
39
Empresa familiar que mantém um sistema de parceria com criadores de suínos no qual a empresa
fornece os animais e a alimentação e os agricultores entram com a mão-de-obra e as instalações. No final
do lote a firma recolhe os animais e os vende para frigoríficos da região.
40
Empresa da Secretaria da Agricultura e Política Rural responsável pelo Serviço de Inspeção Estadual.
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notável a distinção entre algumas propriedades inseridas no sistema de integração e
aquelas que não têm esse nculo
41
. A maior parte das propriedades integradas é
extremamente especializada, atuando muitas vezes apenas na produção da matéria-
prima para agroindústria. Este aspecto permite que as atividades convencionais do
sistema agrícola sejam incorporadas com maior intensidade pelas propriedades o
integradas. Ou seja, estas encontram nessas atividades a alternativa para subsistir e até
progredir.
Como o sistema de integração de produção de suínos e frangos trabalha com
poucas propriedades e as mais intensivas em capital, muitos agricultores se voltam para
atividades agrícolas que exigem investimentos menores. É o caso da fumicultura, que
tem atuação importante na região e tem permitido que muitos agricultores consigam
renda para investir e iniciar novos empreendimentos.
3.3 INTEGRAÇÃO PEQUENA PROPRIEDADE/FUMAGEIRAS
O cultivo de fumo acontece na região desde os primeiros anos da
colonização. Para muitas propriedades esta atividade sempre representou importante
fonte de renda, inicialmente com a produção de fumo de corda e hoje com a produção
do Fumo Burley (fumo de galpão) e Fumo Virgínia (fumo de estufa).
41
Na maioria das propriedades inseridas no sistema de integração, a organização interna e o cuidado com
os diferentes aspectos da propriedade são evidentes. Estes aspectos, juntamente com a qualidade do lote
de animais, definem a composição da remuneração do agricultor. algumas das propriedades não
integradas ignoram estes aspectos e, por conseqüência, acontece maior desleixo com as demais operações
na propriedade. A maioria das propriedades integradas tem sido incentivada a implantar o sistema de
qualidade total que estimula a organização e administração eficiente do estabelecimento.
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Em geral, esta atividade acontece naquelas propriedades com menor vel
tecnológico. É comum encontrar agricultores que, por um ou outro motivo, saem do
sistema de integração com as agroindústrias de carnes migrando primeiro para o cultivo
de fumo e depois para outras atividades. Isto acontece porque o investimento inicial
nesta atividade é muito baixo. Além disso, a adaptação de instalações
42
existentes na
propriedade para a secagem e armazenamento do produto é de fácil operacionalização.
O cultivo de fumo é uma atividade muito exigente em mão-de-obra, razão de
se adaptar com facilidade à agricultura familiar. Os agricultores o consideram, no
entanto, um trabalho penoso, além de demandar o uso de grandes quantidades de
agrotóxicos
43
e com acúmulo de trabalho num curto espaço de tempo.
Muitos aceitam o apelo das fumageiras para o plantio de fumo pelo fato
desta atividade representar um meio de obter recursos para posterior migração para
outras atividades menos desgastantes como por exemplo a bovinocultura de leite.
Outros estabelecimentos permanecem na atividade por completa falta de opção ou
conhecimento. É uma atividade que apresenta produções elevadas em áreas
relativamente pequenas e revertem numa boa remuneração da mão-de-obra
44
. O Quadro
6, a seguir, apresenta o número de estabelecimentos que atuam na produção de fumo na
microrregião de Itapiranga.
42
Antigas pocilgas, aviários, estábulos e até casas vazias são adaptadas para a secagem e armazenamento
do fumo na época da colheita.
43
É comum nas conversas com plantadores de fumo se escutar queixas referentes à saúde dos mesmos.
Geralmente, estes problemas são associados ao uso excessivo de venenos e a permanência por longos
períodos no interior dos galpões durante a fase de despenca e classificação do produto.
44
São cultivados por hectare aproximadamente 20.000 plantas, que resultam numa produção média de 8 a
12 arrobas de folhas por cada 1.000 plantas. O preço médio por arroba na safra 2004/2005 ficou em
R$ 55,00 reais, gerando aproximadamente R$ 11.000,00 reais/ha bruto.
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Quadro 6: Estabelecimentos que cultivaram fumo na safra 2000/2001
Município Nº de
estabelecimentos na
atividade
Área plantada/ha Produtividade
kg/ha
Itapiranga 680 850 1.800
S. João do oeste 432 746 2.040
Tunápolis 196 350 1.950
Total 1.308 1.946 1.930
Fonte: Epagri/ Itapiranga, 2001
Aproximadamente um terço das propriedades atuavam nesta atividade na
safra 2000/2001, revelando a importância deste cultivo para a economia familiar. A área
média cultivada é de aproximadamente 1,5 ha. Em geral, uma família com quatro
pessoas não consegue suprir a demanda de trabalho de mais de dois hectares de fumo.
Um sério problema que sempre assombra os produtores de fumo é o
comportamento clico do preço pago pela indústria. Os preços oscilam de acordo com a
oferta e demanda do produto. Percebe-se uma falta de organização na cadeia produtiva,
pois quando o preço está bom, muitos entram na atividade, resultando em supersafras e
conseqüente queda de preços. As empresas não se importam com o excesso de
produção, pelo contrário, é uma maneira de comprar matéria-prima com preços baixos e
fazer estoques.
Estes fatos mostram que não existe uma organização sindical dos produtores
de fumo suficientemente forte na região. Na tentativa de reverter esta situação, os
sindicatos de trabalhadores rurais têm empreendido ações visando uma melhor
negociação com as empresas integradoras, porém com pouco sucesso. Percebe-se um
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alto grau de intransigência das fumageiras, que contrasta com a fragilidade
organizacional dos agricultores.
Outra atividade em ascensão na região é a bovinocultura de leite. Esta
atividade representa uma alternativa para aqueles que o se integraram com as
agroindústrias de carnes ou que saíram do ramo.
3.4 A BOVINOCULTURA DE LEITE
Para região Oeste Catarinense a produção de leite vem assumindo o papel de
produto compensatório e nova oportunidade de empreender para os pequenos
agricultores que perderam a oportunidade na suinocultura e na avicultura, ou que, por
algum motivo, não se viram motivados para se tornar integrados das agroindústrias de
carnes. A bovinocultura de leite é uma atividade que absorve grande quantidade de
mão-de-obra, o que facilitou sua adaptação em pequenas propriedades.
Juntamente com essa atividade, surgiram na região inúmeras instituições
preocupadas em gerar tecnologias e auxiliar no seu desenvolvimento. As administrações
municipais e as cooperativas agropecuárias criaram um sistema organizado de
assistência técnica. A oferta de cursos, palestras e encontros relacionados à atividade é
freqüente, sendo a evolução nesta atividade de fácil percepção. Os incentivos dessas
instituições acontecem no sentido de contemplar o maior número possível de
estabelecimentos.
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A partir do final da década de 1980, com o deslocamento do eixo de
produção de leite do Vale do Itaj para o Oeste catarinense várias indústrias de
beneficiamento
45
se instalaram na região e passaram a incentivar a melhoria dos
sistemas de produção. Esse processo foi facilitado pela existência de um plantel com
uma certa qualidade genética, remanescente das tentativas anteriores de consolidar a
bovinocultura de leite na região, além processo de seleção de integrados e concentração
da produção de frangos e suínos.
Na microrregião de Itapiranga, em particular, houvera tentativas de
consolidar a bovinocultura de leite como uma importante atividade econômica para os
pequenos agricultores. A mais importante delas aconteceu a partir do plano de
desenvolvimento econômico de 1962. Apesar da cooperativa de latinios, conforme
visto, não ter prosperado nos moldes previstos no plano, diversos produtores
mantiveram seus rebanhos. Com os recentes incentivos à atividade, o “saber-fazer”
existente na região explica o crescente número de agricultores interessados e que com
uma certa facilidade passaram a empreender no ramo.
O sistema de produção de leite difere das integrações convencionais (aves e
suínos) no que se refere ao poder de decisão e liberdade do agricultor no processo de
tomada de decisão. Porém, melhorias significativas no sistema de produção m
acontecendo, através de um sistema de assistência técnica fornecido pelas empresas aos
seus integrados.
45
Instalaram unidades de industrialização e resfriamento e rotas de coleta de leite na região de Itapiranga
a Parmalat, a Laticínios Tirol, a Laticínios Cedrense, a Royal Fleysmann, a Laticínio Lac Lelo, a
Laticínios Bornhold e a Cooper Central Aurora, através das cooperativas de Itapiranga e da Cooper A1 de
Palmitos.
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Além dessa assistência técnica, as prefeituras fornecem subdios para
melhoria dos índices zootécnicos dos plantéis. As três prefeituras que compõem a
microrregião de Itapiranga oferecem programas de inseminação artificial
46
para
melhoria da qualidade genética dos rebanhos, assistência veterinária e promovem
eventos
47
relacionados à atividade.
Esta atividade tem crescido rapidamente em volume de produção e número
de agricultores. Visando se adaptar as exigências do mercado consumidor, indústrias e
agricultores investem na qualidade do leite. Desde o ano de 1998, a totalidade do leite
coletado pelas diferentes empresas que atuam na região é feita em caminhões equipados
com tanque térmico. Os agricultores vêm sendo incentivados a incorporar e usar
técnicas adequadas para conservação do leite nas propriedades até a hora da coleta.
Mais de 80% dos produtores possuem equipamentos adequados
48
para a conservação do
leite, segundo dados das empresas. O Quadro 7, a seguir, demonstra a importância
socioeconômica que a bovinocultura de leite vem assumindo junto às propriedades
familiares da região.
46
As prefeituras doam sêmen de alta qualidade zootécnica, geralmente importado, e o agricultor apenas
paga o serviço do inseminador.
47
A prefeitura de Itapiranga promove a cada dois anos a Efrait (Exposição e feira agropecuária de
Itapiranga); a prefeitura de Tunápolis promove, tamm de dois em dois anos, a Efacitus (Exposição e
feira agropecuária de Tunápolis) e a Prefeitura de São João do Oeste oferece anualmente incentivos para a
Feira da Terneira e da Novilha promovida em conjunto com a Cooperativa Agropecuária de Itapiranga.
48
As empresas incentivam atras de preços diferenciados para o leite a compra de resfriadores para
conservação do leite. A diferença do preço por litro de leite para agricultores com a mesma cota de
produção, em casos extremos, pode chegar a até 10 centavos de real por litro a mais para os que possuem
resfriadores apropriados em relação aos que conservam o leite em freezer ou geladeira.
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Quadro 7. Número de propriedades e produção de leite por município
Município Total de
estabelecimentos
Estabelecimentos na
atividade leiteira
Produção/2001 em
milhões de litros
Itapiranga 1.461 1.010 25,92
São João do
Oeste
1.115 948 16,65
Tunápolis 796 620 11,38
Total 3.372 2.578 53,95
Fonte: Epagri/Itapiranga
Os dados revelam que quase 80% das propriedades atuam na produção de
leite nesses três munipios. Pela sua abrangência, a atividade engloba propriedades
com diferentes capacidades de investimento e de adoção tecnológica. Alguns
estabelecimentos investem em sistemas modernos de ordenha e resfriamento, possuindo
um controle muito rígido sobre todos os fatores de produção. Existem, porém, aqueles
que produzem de modo mais tradicional. Nesses casos, a bovinocultura de leite se
constitui em atividade secundária, responsável por uma renda complementar destinada
ao pagamento das contas mensais
49
.
A tendência atual é que aconteça uma seleção das propriedades produtoras
de leite e aquelas que não conseguirem atender as exigências referentes à qualidade e
quantidade mínima serão excldas do processo produtivo. A Normativa 51, do
Ministério da Agricultura e Abastecimento, que deve entrar em vigor ainda em 2005,
deve acelerar este processo de seleção e exclusão. Esta Normativa visa estabelecer
parâmetros para qualidade do leite e seus derivados. A política de preços das empresas
compradoras de leite se baseia nas quantidades e qualidade do leite produzido. Recebe
49
É comum ouvir de agricultores a afirmação: “O leite da o dinheiro para pagar as contas do mês”.
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mais quem produz maior quantidade e com melhor qualidade. Esta potica inviabiliza
aquelas propriedades com pequenas produções.
Conscientes desta situação, os órgãos públicos do setor agrícola vêm
tomando iniciativas para orientar para outras atividades aqueles que não conseguirem se
adaptar às novas exigências. Vários programas vêm sendo criados e incentivados para
que estes pequenos agricultores permaneçam no campo. Dentre os programas
municipais mais incentivados estão o “frango bom de bico”, a produção de alho e
amendoim, os produtos agroecológicos, além dos programas de reflorestamento e de
criação de novilho precoce
50
. Estes programas representam um exercício à organização
e cooperação. O bom andamento dos mesmos depende da capacidade e disposição dos
agricultores em adotar de forma conjunta normas de produção pré-estabelecidas. Essas
iniciativas se apresentam como uma nova proposta de desenvolvimento que não ignora
a importância da agroindústria e dos sistemas convencionais de produção, mas sim, que
visa a inclusão daqueles estabelecimentos que não apresentam recursos técnicos ou
financeiros exercerem as atividades tidas como convencionais. Elas se diferenciam do
modelo atual, por partir de um planejamento conjunto entre o poder público municipal e
os agricultores e por possuirem, geralmente, regras claras em que o objetivo não é
concentrar a produção, mas sim, permitir que aqueles que idealizaram as propostas
consigam se manter e até progredir. Esse tema será aprofundado na seqüência.
50
A prefeitura oferece assistência técnica, auxilia nas negociações para venda dos produtos e em alguns
casos fornece subsídios para o início da atividade.
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3.5 OS SISTEMAS ALTERNATIVOS DE PRODUÇÃO
Estimativas das prefeituras da microrregião de Itapiranga dão conta de que
aproximadamente 30% dos estabelecimentos agrícolas não têm uma fonte de recursos
definida. São propriedades que foram excldas dos sistemas de integração com as
agroindústrias de carnes, leite e fumo e não apresentam outra atividade potencial para
geração de renda para reprodução familiar. São aqueles estabelecimentos que
freqüentemente migram de uma atividade para outra sem ter capital suficiente investir.
Na expectativa de reverter esta situação, as prefeituras municipais têm criado
diversos programas de incentivo à geração de renda e à permanência destes agricultores
nas suas propriedades. O prinpio básico de funcionamento é o trabalho cooperativo e o
aproveitamento das brechas deixadas pelos sistemas de produção especializados,
visando uma parcela do mercado consumidor relegada pelas agroindústrias.
O programa de criação de frango caipira incentivado pela prefeitura de
Itapiranga é um exemplo prático de um produto que a agroindústria tradicional não
oferece para os consumidores. O programa “Frango Bom de Bico” agrega mais de uma
dezena de famílias e tem algumas normas bem definidas. A mais importante delas é a
escala de produção. Nenhuma família pode alojar mais de 500 frangos por mês,
evitando assim que se tenha uma saturação do mercado ou que, com o tempo, um ou
dois estabelecimentos atendam sozinhos a demanda do mercado. O poder público
municipal oferece toda a assistência técnica para o projeto e subsidia a compra do
primeiro lote. O agricultor entra com a instalação, a mão-de-obra e a alimentação dos
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animais. As regras do programa são claras e objetivam o controle do excesso de
matéria-prima.
A intenção do projeto é a construção de um abatedouro de pequeno porte
para o abate e embalagem das aves com posterior venda para toda região. O projeto
prevê a constituição de uma associação de agricultores. No momento, em função de
conflitos com as agroindústrias de carnes, a construção desse abatedouro foi suspensa.
Essas últimas alegam que essas atividades podem gerar problemas sanitários à
avicultura comercial do munipio devido à menor rigidez no controle de doenças. O
debate encontra-se em curso e seu resultado final dependerá da negociação entre as
partes e do grau de organização das instituições representativas dos agricultores
implicados.
Além da criação de frangos caipiras, as prefeituras vêm incentivando o
plantio e produção de alho e amendoim. O objetivo destes produtos é atender à demanda
local. No caso da produção de alho é abastecer os supermercados e as pequenas
indústrias de embutidos de carne. a colheita de amendoim é destinada basicamente
para as fabriquetas de rapadura instaladas nos munipios da microrregião.
Existem, também, os programas de incentivo ao reflorestamento. As
prefeituras doam as mudas das árvores e a assistência técnica e o agricultor entra com a
terra e o trabalho de implantação e manejo das árvores que tem mercado garantido nas
indústrias e serrarias da região. Além destes, existe o programa de incentivo à
agricultura ecológica, com a realização de feiras semanais nas cidades.
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3.6 A PEQUENA AGROINDÚSTRIA FAMILIAR
Nos primórdios da colonização a transformação e industrialização dos
produtos excedentes da agricultura familiar foram, de uma ou outra maneira,
importantes para a sobrevivência dos colonizadores e, mais tarde, também fundamentais
para a evolução do processo de desenvolvimento econômico de diversas regiões do
estado de Santa Catarina. Muitas das atuais grandes empresas do setor de alimentos do
estado, tiveram origem em pequenos estabelecimentos familiares. Hoje, a pequena
agroindústria familiar, representa, para muitos estabelecimentos, importante fonte de
agregação de valor aos produtos agropecuários produzidos nas propriedades rurais. Para
auxiliar a destacar a importância acerca da pequena agroindústria familiar na região,
nessa sessão utiliza-se como suporte o trabalho desenvolvido por Mior (2003), que pela
sua abrangência e importância, pode ser considerado, entre os trabalhos mais recentes
sobre o tema, um dos mais completos.
A necessidade de conservar parte do alimento excedente para consumo
futuro fez com que os colonizadores utilizassem técnicas artesanais de conservação de
alimentos. A ausência de energia elétrica e, por conseqüência, de eletrodomésticos para
conservação dos produtos, intensificou o uso das técnicas de defumação, embutidos e
conservação das carnes de suíno na banha extrda dos próprios animais abatidos.
Alguns estabelecimentos familiares, além de produzirem para seu próprio consumo,
iniciaram, dessa maneira, pequenas produções artesanais para venda e obtenção de
renda. A atividade evoluiu e a partir daí, surgiram as primeiras indústrias do setor de
carnes na região Oeste catarinense. Segundo Mior (2003, p.179), da fase artesanal, a
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produção de salame e banha passa a ser crescente e é transformada em atividade
industrial, com a constituição dos primeiros frigoríficos (fábricas de banha e salame).
Surgiram assim a Perdigão S.A Indústria e Comércio em 1940, a Comercial Industrial
Pagnocelli em 1942, a Sadia em 1944”.
Para Mior (2003), a formação de agroindústrias rurais pode ser vista, como
um processo de reorganização de recursos promovido pela agricultura familiar em
conjunto com associações de produtores e o poder público. O produto que anteriormente
era visto apenas como um alimento para os períodos de menor oferta ou que
simplesmente era vendido como matéria prima para agroindústria convencional, com o
incremento das pequenas agroindústrias familiares se transforma em produto comercial
com valor de troca e, portanto, como fonte de renda para unidade de produção familiar.
É nesse contexto que rias agroindústrias rurais têm surgido na
microrregião de Itapiranga. Muitas unidades de produção familiar têm optado pela
transformação da matéria-prima e agregação de valor aos produtos da propriedade. É
considerável o número de pequenas agroindústrias familiares que tem surgido na área de
industrialização de leite e derivados, carnes e cana-de-açúcar na última década.
Incentivadas pelas prefeituras, órgãos de assistência técnica, ONGs e
associações, muitas unidades de produção familiar têm empreendido na industrialização
e comercialização dos produtos da propriedade. Segundo Mior (2003), em geral, a
produção sai da cozinha das mulheres do campo e alcança dimensões maiores, o que
possibilita a comercialização dos produtos. Inicialmente, a produção é pequena sendo
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distribda ou vendida na vizinhança e comunidade e, com o tempo, sua importância
cresce, sendo possível a venda nas feiras livres, mercados e lanchonetes.
Os produtos da agroindústria familiar, geralmente, atendem uma parte do
mercado consumidor que busca qualidade e produtos diferenciados. Acaba dessa
maneira, ocupando as brechas deixadas pela grande agroindústria. Esta última, devido à
padronização de seus produtos, deixa parcelas do mercado sem serem atendidas. O uso
de temperos, métodos e receitas próprias dos produtos da pequena agroindústria rural
são o seu principal diferencial. O desejo de saborear um produto semelhante ao que os
antepassados faziam, para muitos, é o que motiva a compra de produtos coloniais.
No entanto, a transformação da atividade de processamento de alimentos
para a agroindústria familiar rural vem sendo vista como um dos maiores desafios para
esta nova estratégia de produção. Mior (2003) relata que são várias as exigências, que
o desde a questão fiscal, legislação ambiental e, principalmente, sanitárias, nas quais a
pequena agroindústria familiar precisa se enquadrar.
Este autor cita na página 195 do seu trabalho o fato de o agricultor não poder
fazer uso da nota de produtor rural para a comercialização de produtos com algum nível
maior de processamento. A grande maioria dos produtos transformados como carnes e
derivados de leite e cana-de-açúcar necessitam de nota fiscal para comercialização.
Entre as alternativas para isso estão a formação de cooperativas, associações ou
microempresas. Cada uma delas tem suas peculiaridades que facilitam ou dificultam a
concretização do processo de consolidação da agroindústria familiar.
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Ainda, segundo Mior (2003, p. 196), as cooperativas esbarram geralmente na
legislação que exige um número mínimo de cios e a cobrança de imposto de renda
dos cooperados, conforme portaria 123 de 1999 da Receita Federal. A microempresa
implica na perda da identidade do agricultor familiar, tendo que abrir mão da condição
de segurado especial do INSS e do acesso às políticas públicas para agricultura.
Na microrregião de Itapiranga, uma alternativa encontrada para auxiliar as
pequenas agroindústrias foi a instituição do Serviço de Inspeção Municipal (SIM) e a
isenção de impostos municipais. No munipio de Itapiranga, o SIM para as indústrias
de carnes vem funcionando desde o ano de 2002. Mais de duas dezenas de
estabelecimentos já aderiram às normas deste serviço. Hoje, o munipio conta com dois
abatedouros de pequeno porte para suínos e bovinos: o Açougue Santa Fé, localizado na
comunidade de Santa Alta de propriedade da família Eidt e o Abatedouro Xirú de
propriedade da família Hahn da Linha Sede Capela.
Estas duas unidades estão autorizadas a realizar o abate de animais. Para
tanto, as carcaças são inspecionadas por um Médico Veterinário cedido pela Prefeitura.
Os demais estabelecimentos compram as caraças inspecionadas
51
dos abatedouros do
munipio ou de frigoríficos com inspeção estadual ou federal da região e apenas
transformam as carnes em embutidos. O SIM tem proporcionado um sistema de
cooperação entre as unidades autorizadas para abate e as que apenas transformam ou
vendem os produtos. Ao mesmo tempo em que as primeiras oferecem produtos dentro
dos padrões sanitários exigidos, as demais indicam estabelecimentos rurais com animais
51
É bem verdade que o abate clandestino de animais é bastante freqüente, no entanto, existe um trabalho
de fiscalização e controle sendo realizado pelas instituições públicas e melhoras significativas já têm sido
percebidas.
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prontos para abate. Associado a isso se tem, também, uma melhor qualidade dos
produtos que são oferecidos aos consumidores.
Além das pequenas agroindústrias de transformação de produtos de origem
animal, a microrregião conta com estabelecimentos em vários outros ramos. Vale
ressaltar a importância das indústrias de transformação de cana-de-açúcar, das quais,
uma obteve, recentemente, autorização para exportar cachaça para a Europa. A
existência desse grande número de pequenas agroindústrias rurais, bem como, de
diversos empreendimentos em outras áreas de ação, fazem da microrregião de
Itapiranga, um local com altos índices de empreendedorismo e qualidade de vida.
3.7 O EMPREENDEDORISMO NA MICRORREGIÃO DE ITAPIRANGA
Um aspecto muito importante para ser analisado quando se estuda o grau de
desenvolvimento de uma comunidade é o seu grau de empreendedorismo econômico.
Essa é uma questão crucial, pois está diretamente relacionado ao dinamismo de uma
economia, gerando constantemente novos produtos e serviços.
Veiga (2002) argumenta que o fato de atividades primárias estarem muito
mais presentes em regiões rurais não significa que os outros dois setores da economia
(indústria e comércio) sejam privilégio das zonas urbanas. Segundo o autor, o emprego
industrial é mais significativo nas regiões relativamente rurais que nas essencialmente
urbanas e os serviços têm quase o mesmo peso em regiões essencialmente urbanas e
relativamente rurais.
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Para as condições brasileiras, um município com alto grau de
empreendedorismo apresenta uma relação entre sua população e o número de Micro e
Pequenas Empresas (MPE) inferior a 40 habitantes/empresa (Veiga, op. cit.). Em 2001,
Itapiranga tinha 13.990 habitantes e 372 MPE formais (SEBRAE, 2000), o que
corresponde a uma relação de 37,6 pessoas por empresa formal. Ou seja, Itapiranga
apresenta um alto grau de empreendedorismo, apesar de ser um munipio
essencialmente rural. Se, às empresas formais, for somado os estabelecimentos agrícolas
com caráter empreendedor, o índice de empreendedorismo do munipio seria ainda
maior. No Quadro 8, abaixo, são apresentados os números de empresas formais em cada
setor empresarial para a microrregião de Itapiranga.
Quadro 8. Quantidade de empresas por município
Município Comércio Indústria Serviços
Itapiranga 169 32 171
São João do Oeste 36 14 54
Tunápolis 27 11 25
Total 232 57 250
Fonte: SEBRAE (2002).
Dentre os munipios da Secretaria de Desenvolvimento Regional, cuja
sede é São Miguel do Oeste, Itapiranga perde em empreendedorismo formal apenas para
o próprio munipio de São Miguel do Oeste (IBGE, 2000). quando se analisa o
empreendedorismo formal e informal (SEBRAE, 2004), Itapiranga aparece na quarta
colocação dentro do estado, ficando atrás apenas dos munipios de Balneário
Camburiú, Joaçaba e Arroio Trinta.
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Veiga (2002) argumenta que não existe muita clareza sobre as condições que
estariam determinando uma alta manifestação de empreendedorismo em pequenos
munipios, relativamente às suas pequenas e rarefeitas populações, mas mesmo assim
aponta para duas características importantes que, provavelmente, estimulam esse
dinamismo: a diversificação do setor primário e um alto vel educacional
proporcionado aos filhos e netos dos colonos que formaram esses munipios.
Quem sabe o elemento que gera um diferencial nessa microrregião em
relação às demais resida na segunda característica apontada pelo autor. O acesso à
educação proporcionado aos filhos e netos dos agricultores familiares que formaram
esses munipios, através da construção de escolas, igrejas, clubes recreativos e
ambientes educacionais que propiciaram a ascensão dos jovens ao ensino médio e
profissões técnicas e liberais, foi complementada com a posterior migração de jovens
para centros urbanos. Uma parte desses filhos de agricultores acabou voltando para
empreender em seus munipios de origem, principalmente no setor terciário,
incorporando assim ao munipio rural um capital humano e uma capacidade de
investimento que dificilmente poderia ser gerada no local.
Muitos dos filhos dos agricultores familiares freqüentam cursos superiores
na faculdade do próprio munipio e em faculdades de cidades próximas. Itapiranga
conta desde o ano 2000 com uma Faculdade
52
, onde estão matriculados em 2005 mais
de 1300 estudantes. Apesar das faculdades localizadas no interior serem muito
criticadas, é indiscutível a contribuição dessas unidades em mobilizar recursos e
capacidades locais mal utilizados ou desvalorizados.
52
A Faculdade de Itapiranga (FAI) oferece os cursos de agronomia, contabilidade, matemática, normal
superior, marketing e administração de empresas com especialização em comércio exterior, recursos
humanos, os quais recentemente foram reconhecidos pelo MEC com conceito A.
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Outro indicador do papel estratégico da educação nessa zona foi o título
obtido no ano de 2002 pelo munipio de São João do Oeste por possuir o menor índice
de analfabetismo no âmbito nacional. Recentemente, a Escola de Ensino Fundamental
Porto Novo foi a vice-campeã no Prêmio Nacional de Referência em Gestão Escolar
(COMUNIDADE... 2002).
Uma característica apontada por Raud (1999) é a importância da família
agrícola na configuração de um espaço que propicia o desenvolvimento de inúmeras
pequenas empresas. Segundo essa autora, a família fornece o lugar, os capitais e o
trabalho para iniciar um negócio. Ela assegura a flexibilidade da mão-de-obra,
oferecendo a cada um dos membros um refúgio em caso de emprego temporário, assim
como sua formação, no caso de empresa familiar. Sem as estratégias familiares, a
multiplicação de pequenas empresas seria impossível; sem as alianças entre famílias as
redes de cooperação entre pequenos produtores o seriam tão seguras. Em Itapiranga,
praticamente todas as empresas possuem integrantes da família como trabalhadores nos
três ramos de atividade (Quadro 9).
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Quadro 9. mero de trabalhadores integrantes da família nas empresas de
Itapiranga
Trabalhadores da família
Ramo de Atividade
Comércio Prestação Serviços Industrial
N
o
% N
o
% N
o
%
0 0 0 3 3,0 0 0,0
1 37 30,3 47 47,5 8 29,6
2 56 45,9 32 32,3 9 33,3
3 20 16,4 6 6,1 3 11,1
4 5 4,1 6 6,1 3 11,1
5 ou mais 4 3,3 5 5,1 4 14,8
Sub-total 122 100 99 100 27 100
Não-informaram 41 15,2 68 40,7 5 15,6
TOTAL
163 167 32
Fonte: SEBRAE (2002).
Os dados revelam o caráter familiar da maioria dos empreendimentos do
munipio de Itapiranga. Este fato de modo geral acontece pela passagem do negócio
familiar de geração para geração. É freqüente a saída de um ou mais membros da
família para outros lugares com a finalidade de trabalhar ou estudar
53
e o retorno destes
ao final dos estudos ou após economizar certa quantia em dinheiro reverte em novos
investimentos na região de origem.
O que vemos na região é a busca constante de alternativas para a reprodução
social das famílias. Seja dentro ou fora dos estabelecimentos rurais os indiduos
constroem relações capazes de gerar oportunidades que lhes possibilitam a ascensão
social. As possibilidades que as vezes se colocam podem ser contrárias aos prinpios
comunitários em que as comunidade foram criadas. Nesse sentido, os sistemas de
integração entre as agroindústrias e os agricultores familiares na microrregião têm
53
Neste sentido é importante citar os fato de muitos jovens da microrregião viajarem para a Alemanha,
Áustria e Suíça com a finalidade de estudar e trabalhar. Muitos retornam ao final da validade de seu visto
de permanência nestes países com poupanças. Alguns investem estes recursos na melhoria das
propriedades de seus pais e outros aplicam na abertura de pequenas empresas.
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provocado mudanças significativas e se mostrado contrários à organização e
mobilização social para o alcance de objetivos comuns, principalmente dos integrados.
No entanto, esse mesmo sistema tem criado oportunidades de geração de recursos para a
melhoria da qualidade de vida dos integrados, bem como, para novas alternativas em
outros setores.
Nesse sentido, a microrregião de Itapiranga, mesmo tendo encarado
mudanças significativas nos sistemas de produção e no modo de organização da
sociedade, tem conseguido manter uma certa coesão comunitária. Ainda são freqüentes
eventos e esforços conjuntos para construir obras comunitárias, que beneficiem o maior
números de pessoas possíveis.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo pretendeu relacionar o processo de desenvolvimento da
microrregião de Itapiranga com a noção de capital social. Seu principal resultado foi
identificar a importância deste recurso de capital para que os objetivos de uma
colonização, inicialmente particular, se consolidassem, resultando em um processo
dinâmico de desenvolvimento, que reverteu em bons índices de desenvolvimento e
qualidade de vida para população. Pudemos também perceber que em cada uma das
fases, determinado tipo de capital social foi explorado com mais intensidade. Na
primeira fase, o alcance dos principais objetivos foi possível através do exercício do
capital social comunitário e do institucional. Na segunda fase, além dos dois anteriores
o capital social extracomunitário também foi de grande importância para a realização
dos objetivos da comunidade local. na terceira fase ou fase atual, em função dos
diferentes sistemas de produção o capital social parece menos expressivo, no entanto,
o está ausente e muito menos deixou de existir. Mesmo os prinpios dos diferentes
sistemas de produção sendo, muitas vezes, opostos aos do capital social, este último
continua atuante na região. Indicativo disso é a busca de alternativas de produção para
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aqueles estabelecimentos excldos dos sistemas convencionais de produção, para que
estes possam continuar existindo e até mesmo progredindo. Persiste tamm o espírito
de organização e participação dos eventos comunitários que tem representado
importante meio de integração e convívio comunitário.
Na primeira fase, compreendida entre 1926 e 1954, a reorganização do
capital social dos imigrantes no início do processo de colonização da Colônia Porto
Novo e o estilo de vida adotado favoreceu o alcance e a satisfação das necessidades
mais urgentes na nova colonização. A construção de igrejas, escolas e centros
comunitários em sistema de mutirão contribram para o fortalecimento dos laços de
confiança, cooperação e reciprocidade na comunidade local.
A superação comunitária dos principais conflitos surgidos ao longo do
processo de implantação da colônia e a busca de soluções para as deficiências
encontradas resultou, já nos primeiros anos da colonização, na criação de uma
cooperativa de crédito que fornecia recursos financeiros aos colonos a fim de que estes
iniciassem alguma atividade econômica em suas propriedades. Também, a manutenção
de uma ampla rede de relações com instituições de outras regiões do Brasil e,
principalmente, da Alemanha permitiu a incorporação de novos colonizadores, valores,
conhecimentos e recursos financeiros importantes para o processo de desenvolvimento.
O uso da noção trica do capital social permitiu, portanto, perceber que foi
de extrema relevância a existência, criação, organização e uso deste recurso como um
ativo de capital para o processo de desenvolvimento dessa região geograficamente
desfavorecida e sem recursos naturais de grande importância econômica para explorar.
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Nesta fase, o capital social comunitário e o institucional foram os mais intensamente
explorados. A coesão e o trabalho comunitário, juntamente com a ação da igreja e da
Sparkass permitiram que os objetivos iniciais fossem alcançados com sucesso.
Na segunda fase (1954 a 1985), que teve início com a emancipação do então
distrito de Itapiranga, os problemas que outrora se apresentavam foram percebidos com
maior clareza. Era preciso encontrar alternativas para viabilizar os sistemas produtivos
desta região isolada geograficamente e, por conseqüência, distante dos mercados
consumidores. Por sugestão da Misereor, instituição ligada à igreja católica da
Alemanha, foi realizado no início da década de 1960 um minucioso estudo
socioeconômico que mostrou, entre outras coisas, a necessidade de melhorar as
condições de vida da população e a existência de um grande excedente de produtos
agropecuários, com destaque para suínos, que deveriam ser mais bem aproveitados,
agregando-lhes valor através da industrialização.
Foram sugeridas as instalações de uma escola profissionalizante para os
filhos dos agricultores e duas indústrias: um laticínio e um abatedouro para a
industrialização dos produtos dos agricultores. O latinio foi constituído na forma de
uma cooperativa e o abatedouro de suínos como uma sociedade anônima.
Provavelmente, o período de instalação e consolidação destas obras tenha sido o
momento em que o uso do capital social tenha sido mais intenso na comunidade
itapiranguense. As relações extracomunitárias, a organização da estrutura da
administração municipal e a organização, mobilização e participação da comunidade
foram fundamentais para que o plano de desenvolvimento e a implantação das obras por
ele sugeridas pudessem ser viabilizadas. A elaboração e execução de um plano de
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desenvolvimento econômico já na década de 1960 é um incio muito forte do elevado
grau de capital social na microrregião de Itapiranga. Prova disso, é que hoje, em pleno
século XXI, muitos munipios têm dificuldades de colocar em sua agenda de discussão
as estratégias de desenvolvimento a serem por eles utilizadas.
Durante o período da construção das obras físicas das indústrias e, também,
da escola profissionalizante, aconteceu intensa mobilização de recursos existentes na
comunidade local. A comunidade da microrregião de Itapiranga lançou mão da sua
capacidade de organização e cooperação, das relações com órgãos e entidades públicas
e de suas relações com instituições externas, permitindo assim, a obtenção de recursos
físicos, técnicos e financeiros para a execução das obras.
Vários foram os problemas enfrentados para a consolidação dos
empreendimentos, conflitos precisaram ser superados, mas o mais importante, como
dizem os próprios atores deste processo, é que as empresas se desenvolveram e
atualmente contribuem na dinâmica de desenvolvimento local.
A partir da afirmação destas iniciativas foram criadas possibilidades em
diversas áreas de atuação, permitindo que a criatividade de muitos aflorasse e surgissem
empreendimentos nas mais variadas áreas. A introdução do sistema de integração entre
agroindústrias e agricultores gerou a especialização de um certo número de
estabelecimentos agrícolas, que se transformaram em verdadeiros empreendimentos
rurais.
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A existência de brechas no mercado consumidor deixadas pelas grandes
agroindústrias do setor de alimentos favoreceu, também, o surgimento de uma série de
pequenas agroindústrias familiares na região. Além destes empreendimentos rurais, o
crescimento das principais indústrias do munipio e a consolidação dos sistemas
agrícolas de produção (aves, suínos, leite e fumo) tem permitido um fomento rápido e
contínuo do setor terciário na região.
Como resultado deste processo, a microrregião de Itapiranga apresenta hoje
os melhores índices de desenvolvimento regional e até nacional. Os índices de
empreendedorismo também acompanham este desempenho.
A partir do ano 2000, com os investimentos feitos pelas empresas da região,
acontece um aumento significativo da pluriatividade, fazendo com que muitos jovens
novamente passassem a ter interesse em ali permanecer. Esse período coincide com a
criação da Sociedade Educacional de Itapiranga (SEI) e das Faculdades de Itapiranga
(FAI). O munipio e a região mantêm parte dos seus jovens como estudantes em seus
lugares de origem (Rambo, 2005). A geração local de conhecimento e tecnologia traz
grandes benefícios à pequena propriedade agrícola familiar e à sociedade local.
Apesar do sucesso em muitos projetos, existem alguns estrangulamentos que
podem ser determinantes na continuidade da construção de um processo sustentável de
desenvolvimento. A questão ambiental hoje parece ser o principal ponto de limitação do
processo de desenvolvimento da microrregião e precisa ser contemplada com a geração
de novas tecnologias menos agressivas ao meio. Este tema representa um aspecto de
estudos para próximos trabalhos a serem realizados na região.
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