Terenas, Sabe? Os Terenas começaram, os patrícios usaram os Terenas
para poder ser assim um ponto de auxílio para eles. Eles plantaram, os
Terenas toda vida gosta de agricultura, eles plantam mandioca, arroz,
feijão, milho, isso aí, eles não eram, não são verdadeiros donos, mas
cuidavam para os patrícios Kadiwéu, enquanto eles vigiavam essa
enorme área que nós temos aqui. [...] Esse São João, aldeia de São João,
já vem há muito tempo essa história aí. Esses Terenas, vem sendo aliado
com os Kadiwéu, sempre vivendo subordinado, os Kinikinau
subordinados aos Kadiwéu. Não podia fugir porque eles tinham uma
tarefa a fazer com ele, então trouxeram eles. Eles escolheram um lugar
como de agricultura e coisa e tal. O único, o recurso mais próximo que
eles mesmo acharam de tocar um recurso de agricultura, no caso, uma
lavourinha que eles fazem, é aqui para o lado do PI São João, porque fica
perto de Três Morros, que existia primeiro bolixo que eles se mantinha
daquele lugar. Então eles, os patrícios disseram: – Então vocês ficam aqui
[...] aqui é o canto da nossa área, aqui qualquer coisa, qualquer
irregularidade que vocês vê, procuram nos localizar, nos avisar o que está
acontecendo. Agora vocês têm obrigação, planta milho, arroz feijão, tudo
o que se dá aqui vocês planta, e nós vamos comercializar entre nós
mesmos, lá pelo rio Paraguai, por aí, tudo o que nós conseguir nós
entrega aqui, nós não temos como negociar [...] Nós vamos negociando,
isso aí, vocês ficam como vigilante nosso, como ponto de segurança
nosso. Aí toparam, onde existe o PI São João.
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A respeito do convívio com os Xamacoco, Domingos Soares, um descendente
desses índios, conta que:
Antigamente, quando a gente vivia os costumes, mas agora a gente já está
misturado. Ainda existe um Kadiwéu, mas os outros não são Kadiwéu
puro. A gente já está tudo misto nesta aldeia. Eu sou da nação dos
Xamacoco, mas já estou vivendo entre os Kadiwéu. Os Kadiwéu antigos
(oniwotagodepodi ejiwajigi = nossos senhores Kadiwéu) quase não
existem mais. Já não existem mais, existe só os Xamakoko e os Enimaga
[respectivamente, os Ishir e os Maká, do Paraguai na atualidade
83
]. Eu
ainda sou um Kadiwéu dos antigos. Eu não sou considerado como
escravo. A minha culpa foi eu mesmo, que não tinha aquele prazer de
saber como eram os costumes Kadiwéu. Antigamente era verdade que os
brancos não entravam nessa área. Se algum entrasse era morto. Os
Kadiwéu não gostavam dos brancos. Era só Kadiwéu aqui nesta área. É
por isso que os Kadiwéu invadiam as outras tribos, a tribo dos
Xamakoko. Eles começaram a invadir os paraguaios, pegavam-nos para
ser seus escravos. E também já existe o civilizado no meio de nós. Existe
um civilizado que era escravo e um paraguaio também. Agora já existem
os Terena, mas já são Kadiwéu. Já existe os Terena, os paraguaios. É
porque existiu essa escravidão, é por isso que tem a nação dos bolivianos,
mas não são mais um boliviano de raça. As crianças do Sr. Adriano são
todas da nação de boliviano. Em outras partes eles são Kadiwéu. O pai do
Sr. Adriano era Kadiwéu puro a mãe dele é que era da nação dos
bolivianos. O pai dele se chamava Nigodenigi. Quando eles ainda
pegavam as pessoas para serem escravos, aí existiu os bolivianos, os
82
Citado por SIQUEIRA JR., 1993, p. 130-131.
83
Cf. ZANARDINI e BIEDERMANN, 2001.