24
direita, ou seja, trata-se de um texto que praticamente não apresenta nenhuma característica
que o relacione ao gênero falado, nem do ponto de vista conceptual, nem do ponto de vista
medial. Por isso o consideramos um protótipo da escrita.
No entanto, à medida que os textos se colocam mais à esquerda do plano superior, o
grau de formalidade da escrita vai diminuindo e, gradativamente, elementos da fala vão se
incorporando aos textos, ou seja, eles vão adquirindo características do texto falado, mas
não deixam de ser, medialmente, textos escritos. Tomemos, como exemplo, os textos de
conversações na internet, mais especificamente os chats. Este gênero textual, se
considerado no esquema acima, ocuparia a extrema esquerda do plano superior do gráfico,
juntamente com outros textos escritos que apresentam afinidade, em termos de concepção,
com o texto propriamente falado. Essa afinidade ocorre porque o chat, embora seja uma
manifestação medialmente escrita, se identifica pela condição de produção on-line. A
possibilidade de os interlocutores interagirem alternadamente, em seqüência de turnos,
como se estivessem falando, acaba imprimindo, a esse gênero textual, características
típicas da fala, a ponto de os interactantes considerarem-se falando e não escrevendo,
embora seja este o meio pelo qual se realize a manifestação lingüística.
O mesmo ocorre no plano inferior do gráfico 1. TF1 representa o texto falado
prototípico, que é assim definido por ter, do ponto de vista do meio, caráter fônico e, em
termos das condições de comunicação e estratégias de formulação, ser identificado,
conceptualmente, como falado. Exemplos de TF1 são as conversas espontâneas em geral.
A partir de TF1, dispõem-se, no gráfico, os textos falados de forma tal que quanto mais à
esquerda estiver um texto, maior sua semelhança com o protótipo da fala. Em
contrapartida, os textos que forem, gradativamente se distanciando da esquerda, continuam
sendo medialmente compreendidos como falados, todavia, em termos de concepção,
aproximam-se das características das manifestações escritas. Exemplo disso são as
exposições acadêmicas, os discursos oficiais, as conferências, que são textos marcados pela
formalidade e outras características dos textos escritos.
A partir dessa nova concepção da relação fala e escrita,
Marcuschi
(2003)
propõe a
disposição dos diversos gêneros textuais em
um continuum tipológico. Os gêneros vão se
distribuindo de um pólo a outro, ou seja, do pólo dos textos prototipicamente falados ao
pólo dos prototipicamente escritos ou vice-versa, e se distinguindo entre si com base em