As vezes acampam ao lado da igreja onde tem pouco movimento. Acampar é modo de falar,
dormem ali, as crianças brincando, a mulher no fogo, outros saem para vender balaio, as pessoas
vem aqui e dão “marmitecs”, pão. Interessante ir a Nova Cantu, tem restos de redução onde o
Chmyz esteve conosco, foi coletado material, borra de ferro, restos de carvão. Alicerces de
pedra, não tinha nada edificado, mas ali tinha uma construção muito rudimentar, o Igor deve ter
estas fotos, em volta destes restos de construção, duas ou três habitações subterrâneas no
entorno, devia ser uma redução kaingang. Nossos índios não usavam ferro, por isso devia ser
redução. Foi feito escavação, pouca, superficial e em uma delas foi encontrada borra de ferro,
possivelmente resto do forno onde derretia o minério de ferro.
E sobre o caminho do Peabiru:
Os vestígios do peabiru vão para o Mato Grosso e atravessam ao Paraguai, passa por
Naviraí e Porto Casado. As ramificações, Pitanga, Cantu, Campina da Lagoa, Ubiratan, Juranda.
A cidade de Piabiru se chama assim devido ao ramal que vinha de Campo Mourão, direção
Norte - Sul. A cidade de fênix tem esse nome porque os primeiros habitantes formaram um
povoado perto da redução jesuítica. Ao lado, formaram o aglomerado próximo a redução,
nascido das próprias cinzas. Em Cantu, os vestígios estão sendo afetados, a reserva florestal do
Slaviero é fundamental aqui na região pela preservação destes espaços. Um grupo de sem terra
tentou invadir a reserva, e o Slaviero não pensou duas vezes, doou um pedaço pro movimento e
não se incomodou mais eu assinei como testemunha em 1983 ou 84.
Às vezes entra alguém lá pra cavocar pra ver se encontra o ouro dos jesuítas. O lugar
onde está a reserva em Nova Cantu se chama Santo Rei devido a imagens que foram
encontradas na região. Aí este resto de reserva deu o nome de distrito de Nova Cantu de Santo
Rei. As imagens já foram extraviadas, ninguém sabe.
Infelizmente a preservação do passado é difícil de fazer. Teve um cidadão aqui, veio de
fora, se apresentou como pesquisador e tentou comprar meu material arqueológico para vender
em Campo Mourão, para um museu recém montado na cidade. Queria cerâmica, pedra de raio,
que na verdade era a machadinha. Nunca vi pesquisador comprar nada. Quando apareceu aqui a
segunda vez, saiu corrido daqui....
Pedro Altoé coleciona a historia da cidade há quase 50 anos, é um curioso, um
erudito orgânico e um historiador local. As suas lembranças mais antigas foram com
relação ao tempo de duração dos deslocamentos:
Hoje o pessoal reclama das duas horas que precisa para ir a Campo Mourão, eu, na
época levava dois dias no mesmo caminho, se chovia era lama, se não era uma poeira danada.
Aqui não tinha tropa, mas temos as lembranças de uma chacrinha que comprava a criação
pequena de todo mundo e três quatro caminhões saiam daqui por semana para levar a Campo
Mourão. Sempre tivemos ligados a Campo Mourão, aqui era distrito. Campina começou em
1942 com os primeiros colonizadores, colonos brasileiros e não europeus. Pequena comunidade,
passou a ser povoado e distrito administrativo de Campo Mourão, tinha um administrador da
cidade, depois começou nos anos 60 a briga pela criação do município, 4 de novembro de 61 foi
a lei. O nome Campina das Três Lagoas é o nome original da cidade. Era um topônimo, a
campina das três lagoas, mas quando o projeto foi sancionado pelo governador mudaram o
nome para Campina da Lagoa.
O Igor sempre me mandou muito material dele, publicações sobre pesquisas na região.
Ele é um dos principais pesquisadores da área, ou talvez o único. O Igor tem um amontoado de
material, não é propriamente um museu, era no laboratório dele, continua lá, tem algum material
la que é daqui.
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