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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ
CENTRO DE HUMANIDADES
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
MESTRADO EM HISTÓRIA E CULTURAS
JOSÉ OLIVEIRA DA SILVA FILHO
Tramas do Olhar: a arte de inventar a cidade de São Luís do Maranhão pela
lente do fotógrafo Gaudêncio Cunha.
Fortaleza
2009
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JOSÉ OLIVEIRA DA SILVA FILHO
Tramas do Olhar: a arte de inventar a cidade de São Luís do Maranhão pela
lente do fotógrafo Gaudêncio Cunha.
Dissertação apresentada ao programa
de Pós-graduação em História e
Culturas da Universidade Estadual do
Ceará como exigência para obtenção
do título de Mestre em História
Orientação: Profº Dr. Alexandre
Almeida Barbalho.
Fortaleza
2009
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Silva Filho, José Oliveira da
Tramas do Olhar: a arte de inventar a cidade de São Luís
do Maranhão pela lente do fotógrafo Gaudêncio Cunha / José
Oliveira da Silva Filho. – Fortaleza, 2009.
...f
Dissertação (Mestrado) Curso de Mestrado em História e
Cultura, Universidade Estadual do Ceará, 2009.
Orientador: Profº Dr. Alexandre Almeida Barbalho
1. Fotografia 2.Cidade 3.História 4.São Luís I.Título
CDU:
93/99 :77
(812.1)
JOSÉ OLIVEIRA DA SILVA FILHO
Tramas do Olhar: a arte de inventar a cidade de São Luís do Maranhão pela
lente do fotógrafo Gaudêncio Cunha.
Dissertação apresentada ao programa
de Pós-graduação em História e
Culturas da Universidade Estadual do
Ceará como exigência para obtenção
do título de Mestre em História
Orientação: Profº Dr. Alexandre
Almeida Barbalho.
Aprovada em: __/__/__
Banca Examinadora
____________________________________________
Profº Dr. Alexandre Almeida Barbalho - Orientador
Universidade Estadual do Ceará
____________________________________________
Profº Dr. Francisco Carlos Jacinto Barbosa
Universidade Estadual do Ceará
____________________________________________
Profª Drª Kadma Marques
Universidade Estadual do Ceará
A Heitor e Andréia
Um dia as ausências serão compreendidas
AGRADECIMENTOS
Ao meu filho Heitor e minha esposa Andréia por serem a partir deste
trabalho co-autores de todos os meus projetos;
A Deus por permitir que eu continuasse a ver o colorido da vida;
A minha mãe Anilda Oliveira e a todos os meus irmãos por terem sido
parceiros em toda minha trajetória de vida;
Aos amigos Humberto, Gracilene, Ivanete que souberam reconhecer o
devido valor desta lida;
Ao meu orientador professor Dr. Alexandre Barbalho que soube
prontamente acompanhar todas as etapas desse trabalho com paciência e presteza;
Ao professor Dr. Carlos Jacinto pelas sugestões e acompanhamento do
trabalho;
A professora Drª Kadma Marques pelas observações valiosas;
Ao professor Dr. Francisco Damasceno pelo incentivo;
A todos os professores do Mestrado Acadêmico em História da UECE por
terem contribuído para a minha formação;
Aos meus irmãos em Fortaleza, Marcelo Magalhães e Roosevelt Lins com
os quais dividi não só a morada mais também angustias, alegrias, solidão;
Aos meus colegas de curso: Luciana (bruxa), Luana, Joaquim e Iramar
que mais do que extrapolaram as formalidades da vida acadêmica e se
transformaram numa verdadeira família pra mim em fortaleza;
As pesquisadoras Rosana, Gabriela e Irisnete Melo por compartilhar
fontes, estímulos e amizade durante todo o trabalho de pesquisa;
Aos amigos em Fortaleza, Mateus Sousa, Igor, Andréa que ajudaram a
combater a tristeza da solidão com muita alegria e amizade verdadeira;
Aos Professores do departamento de História da UFMA: Regia, Wagner
Cabral, Manuel de Jesus, Maria da Glória pelo incentivo;
Aos amigos Williamdickson, Widmardson, Mario Alberto, Rodrigo, Elanes,
João Capistrano e Elisa por dividirem angustias, ansiedades, alegrias durante toda
a escrita do trabalho;
Aos amigos Alan e Sandra pela atenção dispensada;
Aos funcionários da Biblioteca Pública Benedito Leite que dispensaram
sua atenção durante a realização desta pesquisa;
As colegas da Escola Luiz Rego que torceram para que a esse momento
se realizasse;
Ao Governo do Estado do Maranhão que me possibilitou sem prejuízo de
remuneração a oportunidade de concluir o curso;
A Roberta pela ajuda na elaboração do Abstract.
“As fotos são de fato experiência
capturada (...)”
Susan Sontag
RESUMO
O texto que o leitor tem em mãos inscreve-se num campo ainda não muito explorado
pelos historiadores, o uso de imagens para a construção de suas narrativas, o
trabalho parte da análise de um conjunto de 143 fotografias que tem a cidade de
São Luis como tema. A pesquisa busca essencialmente compreender de que forma
os signos de progresso e civilização são manipulados pelos agentes produtores do
Álbum do Maranhão de 1908. Busquei através do uso de metodologias específicas
construir uma narrativa que desse conta das problemáticas inerentes a
complexidade que envolve a leitura e interpretação de imagens. Neste sentido o
trabalho pretende dar conta das múltiplas dimensões que envolvem o ambiente
urbano, social e cultural no qual as imagens forma produzidas, no intuito de
compreender as razões existentes na lógica da trama das representações
fotográficas. A partir de uma análise contextual foi possível compreender as
principais motivações que levaram a confecção do álbum do Maranhão em 1908.
Neste percurso procurei inicialmente realizar um mapeamento das temáticas
selecionadas pelos produtores e idealizadores do álbum, posteriormente me detive
na construção de uma narrativa situada num plano qualitativo empreendendo para
isso um trabalho de leitura e interpretação de parte das fotografias concernentes a
coleção. Duas estratégias de percepção foram utilizadas para a realização do
trabalho, uma que partiu da identificação e análise dos padrões temático-visuais e
dos atributos formais, e a outra sedimentada mais no plano da subjetividade na
medida em que através de um olhar mais detido sobre algumas fotografias foi
possível buscar uma melhor compreensão dos recortes selecionados.
Palavras-chave: Fotografia. Cidade. História. São Luís.
ABSTRACT
The text that the reader has at his hand is part of a field not much explored by
historians, the use of images for the construction of their narratives, The worke part
of the analysis at a set of the 143 photos that have the city of Sao Luis as a theme.
The research seeks to understand essentially how the signs of civilization progress
are handled by agents producing the album of Maranhão in 1908. I sought through
the use of specific methodologies to construct a narrative account of the problems
inherent in the complexity that involves reading and interpreting images. In this way
this works inteds realize the multiple dimensions that involving the urban, social and
cultural environment in which the images were produced, in order to understand the
reasons in the logic of the woof of photographic representations. From the contextual
analysis was possible to understand the main motivations that led to the making of
the album of Maranhão in 1908. In this way initially tried to conduct a mapping of the
themes selected by the producers and creators of the album, latter I stopped in the
construction of a narrative situated in terms of quality, to this undertaking the job of
reading and interpretation some of the photography concerning the collection. Two
strategies of perception were used
accomplishment
the work, one to bigns to
identification and analysis of the thematic and visual patterns and formal attributes,
and other sedimented more in terms of subjectivity in that through a closer look on
some photographs could get a better understanding of selected excerpts.
Key - words: Photography. City. History. São. Luís.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Ilustração 1 - Planta da cidade de São Luís 1912 .................................................... 66
Ilustração 2 - Detalhe da planta da cidade de São Luís............................................ 67
Ilustração 3 - Maranhão- As obras do Largo do Palácio ( Avenida Maranhense)
legenda original ........................................................................................................ 84
Ilustração 4 - Sátira do cotidiano pós-abolição ....................................................... 102
LISTA DE FOTOGRAFIAS
Fotografia 1 – Presidente Afonso Pena e Governador Benedito Leite .................... 40
Fotografia 2 - Casa comercial de J. Franco de Sá ................................................... 77
Fotografia 3 - Estação suburbana (legenda original) ............................................... 79
Fotografia 4 - Avenida Maranhense foto tomada a partir do Palácio Episcopal ...... 96
Fotografia 5 - Avenida Maranhense foto tomada a partir da rampa do Palácio ....... 97
Fotografia 6 - Palácio dos Leões sede do Governo Estadual ................................. .98
Fotografia 7 - Fachada Lateral do Palácio dos Leões .............................................. 98
Fotografia 8 - Intendência Municipal ........................................................................ 99
Fotografia 9 - Detalhe da fotografia 7 ..................................................................... 100
Fotografia 10 - Praça João Lisboa ..........................................................................100
Fotografia 11 - Detalhe da foto 9 .............................................................................101
Fotografia 12 - Chafariz da Praça João Lisboa ...................................................... 103
Fotografia 13 - Rua do Sol ..................................................................................... 104
Fotografia 14 - Detalhe da fotografia 12 ................................................................. 105
Fotografia 15 - Detalhe da fotografia 12 ................................................................. 105
Fotografia 16 - Teatro São Luís .............................................................................. 106
Fotografia 17 - Salão Nobre do teatro São Luís ..................................................... 107
Fotografia 18 - Teatro São Luís Interior ................................................................. 107
Fotografia 19 - Rua Afonso Pena ........................................................................... 108
Fotografia 20 - Detalhe da fotografia 18 ................................................................. 108
Fotografia 21 - Casa Comercial Maia Sobrinhos & Cia .......................................... 110
Fotografia 22 - Detalhe da fotografia 20 ................................................................. 111
Fotografia 23 - Detalhe da fotografia 20 ................................................................. 111
Fotografia 24 - Detalhe da fotografia 20 ................................................................. 112
Fotografia 25 - Detalhe da fotografia 20 ................................................................. 112
Fotografia 26 - Rua Portugal .................................................................................. 113
Fotografia 27 - Detalhe da fotografia 25 ................................................................. 114
Fotografia 28 - Rua São Pantaleão ........................................................................ 115
Fotografia 29 - Detalhe da fotografia 27 ................................................................. 116
Fotografia 30 - Residência Particular ..................................................................... 116
Fotografia 31 - Um Chalet nos arredores de São Luís ........................................... 118
Fotografia 32 - Sala de Teares ............................................................................... 120
Fotografia 33 - Fábrica de Tecidos Rio Anil ........................................................... 122
Fotografia 34 - Aula de Desenho ............................................................................ 123
Fotografia 35 - Escola Normal ................................................................................ 125
Fotografia 36 - Liceu Maranhense .......................................................................... 125
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 13
Caracterização do Objeto ...................................................................................... 13
Trajetos da pesquisa: caminhos possíveis ......................................................... 16
Estruturação dos capítulos ................................................................................... 23
CAPITULO 1 - O MELHOR DOS MUNDOS POSSÍVEIS......................................... 26
1.1 O fotógrafo, a cidade e seu contratante.......................................................... 26
1.2 Um certo hálito de progresso: a presença do Maranhão nas exposições ..43
1.3 O Rio está na moda .......................................................................................... 54
CAPÍTULO 2 - TRAMAS DO OLHAR: análise dos padrões temático-visuais .... 62
2.1 Os temas fotografados .................................................................................... 65
2.2 Sobre como são fotografados os temas ........................................................ 70
2.3 Os padrões temático-visuais ........................................................................... 73
2.3.1-Monumentalidade ............................................................................................ 74
2.3.2- Circulação Urbana .......................................................................................... 77
2.3.3- Paisagem: o ordenamento da natureza ......................................................... 82
2.3.4-Infra-estrutura urbana ...................................................................................... 86
3.2.5-Padrão retrato ................................................................................................. 88
2.3.6-Síntese dos padrões ....................................................................................... 89
CAPÍTULO 3 - ENTRE OLHARES: leituras da cidade .......................................... 92
3.1 Fotografias que dizem sobre a cidade ........................................................... 93
3.2 Reedificando epítetos: imagens da “Manchester do Norte”....................... 119
3.3 Imagens de uma razão positiva .................................................................... 122
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 128
REFERÊNCIAS .................................................................................................. 132
ANEXOS ............................................................................................................. 141
13
INTRODUÇÃO
No raiar do século XX, um fotógrafo possivelmente acompanhado de seus
auxiliares percorriam as ruas da cidade de o Luís com o propósito de registrar
seus principais logradouros. Desejoso de atender com esmero e presteza a seu
contratante (o Governo do Estado do Maranhão), o velho fotógrafo Gaudêncio
Cunha dedicava-se na execução das suas chapas, no tempo em que a Fotografia
União, a qual era proprietário, foi uma das mais conceituadas casas do ramo na
cidade, embora existissem outras.
Ao realizar uma secção de fotos com os homens do corpo de bombeiros o
trabalho do fotógrafo virou notícia na imprensa que prontamente registra todos os
paços do “artista.”
O trabalho tinha a pretensão de reunir num luxuoso álbum um conjunto de
fotografias que retratasse o Estado do Maranhão com toda sua potencialidade infra-
estrutural, onde a capital São Luís, enquanto principal centro urbano estaria
representada com um maior número de Imagens:143, entre 220 fotografias.
Assim registrou o jornal do Comércio a atuação do fotógrafo em março de
1908: “Em serviço do Governo, tirando photografias para confeccionar um álbum
que será enviado á exposição Nacional, acha-se entre nós a Sr. Gaudêncio Cunha,
Photograppho Habilissímo.”
1
Caracterização do Objeto
O trabalho que o leitor tem em mãos, parte de um conjunto de 209
fotografias reunidas em um álbum confeccionado no início do século XX mais
precisamente em 1908, por ocasião da Exposição Nacional que se realizou no Rio
de Janeiro naquele ano. O caráter de tais eventos já foi objeto de interesse de vários
historiadores que se mobilizaram no intuito de tentar entender seus significados.
2
Para efeito de análise dediquei-me num estudo quantitativo somente de 143
imagens do conjunto total das 209 que compõem o álbum. A escolha destas deve-se
1
Jornal do Comércio, São Luís, 09 de março de 1908 p.2.
2
PESAVENTO, Sandra Jathay. Exposições Universais: espetáculo da modernidade do século XIX.
São Paulo: HUCITEC. 1997.
FREYRE, Gilberto. Ordem e Progresso. Rio de Janeiro: José Olympio Ed., 1974.
HARDMAN, Francisco Foot. Trem fantasma: A modernidade na selva. São Paulo: Companhia das
Letras, 1988.
14
ao enfoque da pesquisa, que tem a cidade de São Luís como objeto de estudo,
numa época em que segundo o geógrafo Raimundo Lopes apenas São Luis e
Caxias no Maranhão, apresentavam-se essencialmente como núcleos urbanos.
3
Pensar as maneiras de como as idéias de civilização e progresso são
explorados no álbum, consubstancia-se num objetivo preeminente nesta pesquisa.
Considerando que tais termos são congêneres do conceito de modernidade e que
esta no século XIX assume um critério econômico nos países ditos de terceiro
mundo, como afirma Le Goff, busco a partir de alguns indícios materiais encontrar
sinais de uma modernidade pretendida no universo da série em questão.
De acordo com Le Goff “a afirmação de modernidade, mesmo que
ultrapasse o domínio da cultura, refere-se, antes de mais nada, a um meio restrito,
de intelectuais e tecnocratas.”
4
Penso que tal conclusão também seja passível de
ser verificável na realidade maranhense, que a confecção do álbum foi idéia de
um grupo que buscou através de um artifício moderno, no caso a fotografia, construir
uma imagem de cidade, a partir de ícones tidos como modernos, ainda que muitos
destes já fossem considerados obsoletos na época.
Elaborado em peça única o Álbum compõe desde 3 de setembro de 1973 o
acervo do Museu Histórico e Artístico do Maranhão. Este anteriormente pertenceu a
Biblioteca Pública Benedito Leite. Sabe-se que possivelmente, o álbum fez parte do
acervo de jornais, manuscritos e mapas pertencentes ao professor JoRibeiro do
Amaral.
5
Para a historiadora Zita Possamai “o álbum é sem dúvida a feição mais
remota que adquiriu a coleção de imagens fotográficas [...] configura uma seleção de
determinadas imagens, entre tantas outras vistas por aquele que o elaborou.[...].
6
No álbum estudado as fotografias encontram-se dispostas rodeadas por
motivos florais sendo acompanhadas por curtas legendas, que pretendem situar o
leitor a cerca dos logradouros representados.
3
LOPES, Raimundo. Uma região tropical. Rio de Janeiro: Ed. Fon-fon e Selecta, 1970.
4
LE GOFF, Jacques.História e Memória.Campinas-SP:Editora da UNICAMP, 2003.p.202-203.
5
MARTINS, José Reinaldo Castro. Passado e Modernidade no Maranhão pelas lentes de
Gaudêncio Cunha. Dissertação de mestrado apresentada ao PPG em Ciências da Comunicação da
USP. São Paulo, 2008. p.16.
6
POSSAMAI, Zita R. Cidade fotografada: memória e esquecimento nos álbuns fotográficos -Porto
Alegre, décadas de 1920 e 1930. 468p. Tese (Doutorado em História)-Faculdade de Filosofia e
Ciências Humanas-Universidades Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2005 p.138.
15
A partir das indicações do Jornal “A Pátria” foi possível constatar que o
álbum iniciava-se com a imagem do busto do Governador Benedito Leite e findava-
se com duas chapas da Fotografia União, de propriedade do fotógrafo.
7
Na difícil tarefa de recortar é preciso que façamos escolhas, escolhas estas,
que necessariamente, deveriam atender tanto as aspirações de quem recorta assim
como no caso do álbum do Maranhão o desejo de seu contratante que a partir de
seu imaginário político pretendia construir uma narrativa condizente com o seu
projeto político, no caso do Governo do Maranhão, a intenção parecia recair em
muitos aspectos numa ideologia política ainda muito viva naquele início do século.
Dentre os diversos temas retratados alguns pareciam fazer alusão direta ao ideário
positivista tal como o mito educacional defendido por todos os fieis seguidores de
Conte, que naquele cenário político parecia influenciar várias mentes entre os
governantes da primeira República.
Ivan Lins em seu denso estudo sobre a Historia do Positivismo no Brasil,
identifica dentre os positivistas de relevo no Maranhão a figura de Benedito Leite que
teve contato com tal postulado teórico ainda na Faculdade de Direito do Recife em
meados da segunda metade do século XIX.
Enquanto que na capital da República promovia-se o processo de
reformulação urbana que entrou para História como bota abaixo, iniciado pelo
prefeito Pereira Passos nos primeiros anos do século XX, na capital da província
maranhense a cidade São Luís parecia adormecida, estática, conservada
praticamente como esteve durante todo o século XIX. A cidade apresentava apenas
tímidos melhoramentos o que pouco mudou suas feições.
Destarte o governo Republicano esforçava-se por substituir a imagem de um
Brasil Pitoresco, imagem vinculada durante todo o regime monárquico. Segundo
Carvalho e Lima:
[...] a exclusão de edificações típicas da arquitetura vernacular na seleção
dos motivos urbanos, expressando a negação dos valores estético
construídos no período colonial, pode ser entendida no contexto cultural
dos primeiros anos deste século, (século XX) onde é clara a preocupação
em constituir uma imagem moderna do Brasil Republicano.
8
7
A Pátria. São Luís, 06 de maio de 1908.
8
LIMA, Solange Ferraz de; CARVALHO, Vânia Carneiro de. Fotografia e Cidade: da razão urbana a
lógica do consumo. Álbuns de São Paulo (1887-1954). São Paulo: Mercado de Letras, 1997, p. 16.
16
Em se tratando da capital maranhense praticamente em nada conseguiria
mudar suas feições arquitetônicas. Conservando suas antigas feições a cidade
continuaria a nutrir o velho estereotipo colonial, associado diretamente ao antigo, à
ruína, ao velho, atributos diretamente ligados ao regime monárquico recém
substituído.
Trajetos da pesquisa caminhos possíveis
Não me lembro de fato quando tive o primeiro contato com o Álbum do
Maranhão de 1908, o certo é que, desde o primeiro momento parecia que
continuaria a nutrir um imenso desejo em examiná-lo, analisá-lo, e quem sabe
compreendê-lo. Do primeiro contato até o presente momento ele continua a desafiar
minha curiosidade, por isso, a cada contato, parece principiar-se uma nova
descoberta num contínuo e incansável diálogo.
Neste trajeto de pesquisa, foram muitas as idas e vindas à biblioteca
pública Benedito Leite onde conheci a primeira edição do álbum publicada em 1979.
Daí em diante começaria uma seqüência de descobertas sobre a sua história. A
partir da leitura da introdução desta edição publicada, pude chegar ao conjunto
original das 220 fotografias que compunha a coletânea de imagens o qual fazia parte
da luxuosa peça guardada pelo Museu Histórico e Artístico do Estado do Maranhão.
A partir de então, algumas conclusões preliminares puderam ser tiradas
sobre a história do álbum. Sabia de início que o mesmo, tinha sido encomendado
pelo Governo do Maranhão para participar de uma Exposição realizada no Rio de
Janeiro em 1908. Contudo, muitas questões ainda estavam sem respostas.
Questões estas que demandaram intenso trabalho de pesquisa iniciado em 2004
quando adentrei num curso de especialização em História do Maranhão o que
resultou num trabalho de conclusão de curso, que teve a cidade de São Luís como
tema pensado a partir do álbum.
Por sua vez, no direcionamento desta pesquisa, busco a partir da
estruturação discursiva das imagens, encontrar, possíveis significados para as
representações fotográficas ali presentes, procurando utilizar-me de uma estratégia
de análise que visa relacionar texto e contexto no qual as imagens foram
17
produzidas. Como sugere Lucrecia Ferrara “a cidade não é um dado, mas um
processo contextual onde tudo é signo, linguagem.”
9
As imagens assim como qualquer outro tipo de fonte exigem do seu
manipulador a capacidade de compreendê-la a partir de suas singularidades, pois
assim como a escrita alfabética convencional, as imagens, neste caso as fotografias,
possuem também seus códigos de leitura. digos estes passíveis de serem
interpretados por um leitor especializado, como afirma Deleuze “(...) não se
descobre nenhuma verdade, não se aprende nada, senão por decifração e
interpretação.”
10
De acordo com o historiador Jean Claude Shmitt um duplo desafio está
lançado ao historiador das imagens: “analisar a arte em sua especificidade e em
relação dinâmica com a sociedade que a produziu.”
11
Para realizar tal operação
busquei me apropriar de uma vasta bibliografia especializada, tendo que obviamente
fazer escolhas, o que com certeza demandou bastante tempo até realizar uma
seleção definitiva, sempre procurando seguir as indicações sugeridas pelas fontes.
Outra útil e pertinente observação feita por Shmitt em relação às imagens,
é a de que a construção do espaço da imagem e a organização entre as figuras
nunca são neutras. Em suas palavras: “exprimem e produzem ao mesmo tempo uma
classificação de valores, hierarquias, e opções ideológicas”
12
.
Sugere Shmitt
13
que é “Na relação entre forma e função da imagem que
encontra-se expressa a intenção do artista
14
, do financiador e de todo o grupo social
envolvido na realização da obra.” Neste sentido como nos lembra Fraya Frehse
“Como imagem que é, vale para a fotografia o que vale para a imagem de maneira
geral: esta fornece indicações sobre a realidade que retrata e sobre o olhar daquele
que a produziu.”
15
Tomando por base as considerações supracitadas, ao me deter sobre o
álbum do Maranhão de 1908, passei a refletir sobre as escolhas do fotógrafo e as
9
FERRARA, Lucrecia D’Aléssio. A estratégia dos signos. São Paulo: Editora Perspectiva. 1986. p.
119-120.
10
DELEUZE, Gilles.Proust e os signos.Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2006.p.5.
11
SHMITT. Jean Claude.O corpo das imagens:ensaios sobre a cultura visual na Idade Média.
Bauru-SP: EDUSC,2007. P.33.
12
Ibid. p.34.
13
Ibid. p.46.
14
Ibid.
15
FREHSE, Fraya. Antropologia do encontro e do desencontro: fotógrafos e fotografados nas ruas de
São Paulo (1880-1910). In:_________. O imaginário e o poético nas Ciências Sociais. o Paulo:
Edusc, 2005. p.185.
18
aspirações do contratante do álbum, no caso o Governo do Maranhão. Diante da
limitação de dados relativos ao fotógrafo produtor das imagens, restou-me a opção
de pensar a narrativa fotográfica produzida por Gaudêncio Cunha partindo da
análise das suas deferências assim como, as aspirações do contratante, neste caso
o governador Benedito Leite. Levo em consideração ainda, a participação dos
diversos atores sociais envolvidos na confecção do Álbum.
Vale lembrar que o Governador Benedito Leite esteve diretamente
envolvido na organização dos preparativos para que o estado participasse da
Exposição de 1908. Em passagem de seu relatório o comissário Domingos de
Castro Perdigão assim se referiu à participação do governador: “Em um dos últimos
dias do mez de abril S. Exc foi pessoalmente inspeccionar os produtos recebido,
mostrando-se muito satisfeito com o serviço”
16
Em modos de ver, seus autores nos previnem que: “aquilo que sabemos
afeta o modo como vemos as coisas.”
17
Foi pensando nesta observação que foi
desenvolvido uma ampla pesquisa sobre o período histórico em que as fotografias
foram tiradas e organizadas no álbum de 1908, o que aumentou certamente a minha
capacidade de enxergar o “porquê” de alguns temas presentes no álbum. Do mesmo
modo a historiadora Zita Possamai lembra que “para decifrar as imagens
fotográficas é necessário recorrer-se ao texto, caminho a percorrer a fim de ler o
texto visual.”
18
Assinalo nesta trajetória de pesquisa o lugar enquanto leitor das
fotografias colecionadas no álbum. Neste sentido um duplo estranhamento
19
parece
nortear a leitura aqui proposta. Um refere-se ao recorte do fotógrafo que ao
selecionar o que deveria ser retratado promove uma singularização daquilo que
merecia ser visto. E o outro refere-se ao olhar enquanto leitor de um tempo, também
realizo uma operação de estranhamento na medida em que dialogo com as
fotografias a partir daquilo que sei sobre o que encontra-se ali registrado.
Tratando-se de um conjunto de fotografias colecionadas num álbum
caberia certamente a mim enquanto leitor das imagens ali organizadas, atentar para
16
PERDIGÃO, Domingos de Castro. O Maranhão na Exposição Nacional de 1908. Relatório
apresentado ao Exmº Sr. Américo Vespúcio dos Reis, Presidente do Congresso Legislativo, no
exercício do cargo de Governador do estado. Maranhão: Imprensa oficial, 1910. p.14.
17
BERGER, John. Modos de ver. Rio de Janeiro: Editora Rocco. p. 143.
18
POSSAMAI Op. cit. p. 141.
19
O conceito de estranhamento aqui pensado tem por base a definição de Chklóvski para quem
estranhar “consiste em construir, através da linguagem, circunstâncias singulares de percepção.” In:
FERRARA, Op. cit p.119.
19
o processo de ordenamento das mesmas, o que me sugeriria uma espécie de
hierarquização dos lugares selecionados pelo fotógrafo. No entanto esta
hierarquização não pôde ser revelada devido ao estado de conservação das
fotografias originais que compõem o álbum, que o mesmo encontra-se com suas
pranchas soltas o que inviabilizou desde a primeira edição impressa, uma precisão
na ordem das fotografias elencadas.
Além do processo de seqüênciamento das fotografias é possível perceber
outra forma de hierarquia na medida em que algumas fotografias encontra-se
colocadas em destaque devido a ampliação de seus tamanhos o que demonstra
certamente a importância de alguns logradouros da cidade naquele dado momento
histórico.
Procuro neste passeio pela cidade de papel construída por Gaudêncio
Cunha, mapear quais deferências o fotógrafo realizou dentre as múltiplas
possibilidades de representação sobre a cidade de São Luís no início do século XX.
Como se refere Monteiro “trata-se de refletir sobre a realidade da representação;
essa realidade que é construída, codificada, sedutora em sua montagem e em sua
estética, de forma alguma ingênua, inocente (...).”
20
Nesta experiência de leitura Martine Joly certamente foi uma das
primeiras autoras a me fazer entender que o haveria um método absoluto para a
análise de imagens, o que existiria na verdade seria “sim opções a fazer, ou a
inventar, em função dos objetivos.”
21
Voltei-me então dessa forma para a minha
principal fonte de trabalho e passei a investigar detidamente os temas retratados e
os motivos que moveriam tais escolhas. Após esta experiência inicial percebi que
para compreender aquilo que eu conseguia ver era preciso buscar auxílio nos textos
verbais, como assegura Menezes nada impede “(...) que práticas e representações,
em modo verbal e visual possam eventualmente corresponder-se”
22
.
A tarefa de ler imagens é aparentemente muito cil, que a imagem
principalmente a fotografia nos oferece um código de leitura direta, apriori facilmente
identificado por um leitor comum, por mais leigo que seja. A diferença no entanto,
está em ler e compreender,onde a mesma relação pode ser percebida entre o
20
MONTEIRO, Charles. História, Fotografia e Cidade: a construção da cidade moderna nas
fotorreportagens da Revista do Globo nos anos 1950. In: Dimensões do Urbano: múltiplas facetas da
cidade. Chapecó: Argos, 2008. p.46.
21
JOLY, Martini. Introdução à análise de imagem. Lisboa: Edições 70, 1994. p.15.
22
MENESES, Ulpiano. O imaginário e o poético nas Ciências Sociais. São Paulo: Edusc, 2005, p.
44
20
analfabeto funcional que consegue imediatamente reconhecer a estrutura de
palavras de um texto escrito, sem que no entanto compreenda o significado destas,
e um leitor mais treinado que além de meramente reconhecer letras de um alfabeto,
conseguiria decifrar seus significados, ou seja, ler e compreender aquilo que está
sendo dito. Como afirma Louis Martin: [...] ler é compreender o que lemos, dotar
essa operação de re-conhecimento da estrutura de signifiance, de uma significação.
23
Então como ler imagens de um tempo tão distante? Eis ai o desafio a ser
transposto por leitores de segunda ordem, ou seja, leitores no tempo. Como então
ler imagens de um outro tempo que não o tempo vivido? Um duplo desafio parece
estar lançado ao historiador: reconhecer os códigos culturais de uma época que não
a sua, e fundamentalmente buscar compreender os significados desses digos
para a época em que eles foram produzidos, vivenciados. Para Alberto Manguel “[...]
o código que nos habilita a ler uma imagem, conquanto impregnado por nossos
conhecimentos anteriores, é criado após a imagem se constituir.”
24
Ler uma imagem neste sentido depende então de conhecimentos prévios
sobre esta, pois como afirma Manguel:“ podemos ver coisas para as quais
possuímos imagens identificáveis, assim como podemos ler em uma língua cuja
sintaxe, gramática e vocabulário já conhecemos”
25
.
No início dos anos oitenta alguns autores voltaram-se para a problemática
concernente a leitura de imagens. Na tentativa de refletir sobre o sentido intrínseco
na mensagem fotográfica Roland Barthes afirma que as artes imitativas entre elas a
fotografia comporta duas mensagens: uma denotada que segundo ele seria o
próprio analogon e uma conotada que seria a maneira pela qual a sociedade oferece
a leitura.
Para Barthes a mensagem conotada comporta um plano de expressão e um
plano de conteúdo, ou seja, significantes e significados, obrigando-se a uma
verdadeira decifração. Neste sentido a leitura de uma fotografia se daria a partir da
decifração de seu código de conotação, sendo tal operação sempre histórica,
23
MARTIN, Louis. Ler um quadro: uma carta de Poussin em 1639. In: CHARTIER, Roger
(org.).Práticas da leitura. São Paulo: Estação Liberdade, 1996, p.119.
24
MANGEL, Alberto. Lendo imagens. São Paulo: Companhia das Letras. 2003.p. 32e 33.
25
Ibid, p.27.
21
dependente sempre do saber do leitor “tal como se fosse uma verdadeira língua,
inteligível apenas para aqueles que apreenderam seus signos.”
26
Para Barthes existiriam então três tipos de conotação: a conotação
perceptiva, a cognitiva e a ideológica. A primeira seria percebida se verbalizada,
o segundo tipo de conotação a cognitiva leva em consideração o saber de quem
iria fazer a leitura da imagem e o último tipo de conotação a ideológica seria “aquela
que introduz na leitura da imagem razões ou valores.”
27
.
As reflexões de Barthes ao refletir sobre a mensagem fotográfica naquele
início de década eram voltadas para a fotografia jornalística, contudo penso que tais
reflexões possam também ser úteis para pensarmos acerca das imagens
fotográficas presente na confecção do álbum.
No Brasil, as idéias de Barthes parecem encontrar ressonância nas práticas
de leitura e interpretação divulgadas também na década de oitenta pelo arquiteto e
fotógrafo pós-graduado em história Ivan Lima, que estabelece um percurso de leitura
da imagem fotográfica semelhante ao caminho proposto por Barthes. De forma
simplificada seu itinerário se daria inicialmente através da percepção visual, em
seguida naquilo que ele chamou de leitura de descrição e finalmente a interpretação.
O ponto de interseção entre o caminho proposto por Barthes, Manguel e
Lima, reside na aceitação de que para interpretação de uma imagem fotográfica
deve-se levar em consideração, fundamentalmente as experiências do leitor receptor
das imagens além de ter que se levar em conta a história e o universo cultural em
que as imagens foram concebidas.
Diante da polêmica de como eleger o melhor caminho de empreender um
esforço interpretativo diante das imagens, penso que talvez as observações de
Phillippe Duboar seja importante. Para este existiriam três grandes campos
estruturantes nas atitudes que deveríamos ter diante da imagem. Sendo
consideradas as atitudes fenomenológica, estruturalista e histórica. O desafio de
acordo com Dubois seria o equilíbrio entre ambas sem deixar cair no extremo
fenomenológico.
Nesse itinerário de leitura a cidade retratada pelo fotógrafo será vista por
mim como um texto, um texto imagético que como tal reserva complexidades
26
O BARTHES, Roland. O óbvio e obtuso. Trad. Lea Novaes. Rio de Janeiro: Nova fronteira, 1990,
p. 22.
27
Ibid, p. 23.
22
inerentes a sua linguagem fotográfica. Neste sentido as fotografias editadas no
álbum por Gaudêncio Cunha e sua equipe serão vistas por mim como uma narrativa
visual construída sobre a cidade, um discurso imagético elaborado a partir de uma
seleção de imagens, não sendo estas ingênuas, na medida em revela idéias e
intenções alicerçadas no imaginário social da época em que as fotografias foram
produzidas. De acordo com Possamai “o imaginário social interfere tanto na criação
das imagens fotográficas, como na concepção da coleção que resultou no álbum
fotográfico.”
28
Sendo uma das práticas mais remotas do ato de colecionar, o álbum
fotográfico funciona como uma das faces da memória que estabelece o que deve ser
lembrado assim como esquecido, jogando com o que deve ser visto e o que deve
continuar invisível entre os traços da cidade.
29
Neste exercício de leitura resguardo o meu lugar de leitor visual como
alguém que tenta decifrar a narrativa construída pelo fotógrafo a partir de uma
interpretação histórica, marcada pelo entrelaçamento dos conceitos de studium e
punctum desenvolvido por Barthes. Onde o studium pertenceria ao campo do saber
e da cultura, relacionados à “bagagem de conhecimento adquirido sobre o mundo e
que nos permite buscar as razões e intenções das práticas sociais e das
representações construídas sobre a realidade.”
30
Já o Punctum de acordo com
Pesavento está relacionado às emoções, “sobre aquilo que nos toca na relação
sensível do eu com o mundo, refere-se ao que emociona ao que passa pela
experiência, pelas sensações.
31
Se o ato de “ler” como afirmou Marilena Chauí “é retomar a reflexão de
outrem como matéria-prima para o trabalho de nossa própria reflexão”
32
neste
sentido as fotografias aqui analisadas serão vistas/lidas como matéria-prima
privilegiada para construção de uma narrativa histórica sobre a cidade de São Luis
no início do século XX.
Parto ainda da experiência pioneira e inovadora das historiadoras Vânia
Carneiro e Solange Lima que desenvolveram um todo de diálogo com as
28
POSSAMAI Op cit. p. 138.
29
Ibid.
30
PESAVENTO, Sandra Jathay e LAGUE, Frederique. Sensibilidades na história: Memórias
singulares e identidades sociais. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2007, p.13.
31
Ibid. p.13.
32
CHAUÍ apud TURAZZI, Maria Inez. Oficina de fotografia. In: Ilmar Rohloff de Mattos. (Org.). Ler e
escrever para contar; documentação, historiografia e formão do historiador. Rio de Janeiro: Access,
1998, v., p. 145-158.
23
imagens fotográficas, que tem por base os vastos conhecimentos desenvolvidos a
então pelas diversas áreas do conhecimento que lidam com o desafio de ler
imagens.
Destaco ainda como imprescindível o trabalho de Zita Possamai que foi
bastante inspirador ao utilizar uma opção metodológica muito próxima daquilo que
acredito que deveria seguir como proposta de análise. Possamai constrói sua trama
a partir de duas estratégias: uma a partir de um trabalho quantificação sobre a rie
fazendo uso de um vocabulário controlado, levando em consideração os temas e
padrões e outra a partir de um olhar particular se colocando na condição de leitora
visual.
Outra contribuição imprescindível encontra-se no trabalho desenvolvido por
Carneiro e Lima (1997) fazem uso de um vocabulário controlado que visa identificar
os atributos icônicos e formais. Os primeiros dizem respeito aos aspectos figurativas
das imagens, enquanto que os segundos levam em considerações os atributos
formais da imagem sendo considerado o enquadramento das imagens, os arranjos
dos motivos, a articulação dos planos, os efeitos de valorização dos elementos
fotografados e por fim a estrutura dos elementos fotografados.
Com propósito de aproximar o leitor do universo vocabular da época optei
por preservar a grafia original dos documentos primários com os quais utilizo no
decorrer do trabalho.
Estruturação dos capítulos
A estrutura da dissertação aqui pensada, dissolve a problemática em três
capítulos assim divididos:
No primeiro Capítulo denominado O melhor dos mundos possíveis,
intento situar o leitor no tempo em que o álbum foi elaborado procurando desvendar
a atmosfera cultual vivida pela cidade de São Luis em princípios do século XX. O
capítulo encontra-se subdividido em três subtítulos, no primeiro denominado: O
fotógrafo, a cidade e seu contratante,procurei fazer um levantamento de dados
sobre a vida dos principais atores sociais envolvidos na composição da trama, assim
como resgatar a aura da cidade naquele princípio do século XX.
o segundo tópico tem como tema: Um certo hálito de progresso: a
presença do Maranhão nas exposições, busquei situar o leitor sobre a
24
participação do estado do Maranhão em algumas exposições, revelando desta forma
a valorização dada pelos seus representantes a este tipo de evento.
No terceiro e último subtítulo pertencente a este capítulo que tem como
tema “O Rio está na moda,objetivei reconstituir o cenário vivenciado na Capital
Federal que naquele princípio de século XX atraia todas a atenções dos demais
Estados da federação para o grande certame realizado em 1908.
No segundo capítulo que chamarei de Tramas do olhar: análise dos
padrões temático-visuais, buscando identificar as escolhas realizadas pelo
fotógrafo a partir de um mapeamento quantitativo da série, no intuito de verificar
quais as escolhas realizadas pelos envolvidos na construção de uma imagem da
cidade de São Luís no período.
A metodologia utilizada neste capítulo segue a proposta elaborada pelas
historiadoras Vânia Carneiro e Solange Lima que desenvolveram um método
baseado num diálogo entre fotografia e história de forma a construir certa autonomia
da fotografia enquanto fonte. O todo utiliza-se de categorias denominadas pelas
autoras de padrões temático-visuais, subdividindo-se entre descritores icônicos e
descritores formais.
Dadas as especificidades desta pesquisa, obviamente que nem todas as
categorias utilizadas pelas autoras, serão empregadas nesta análise, podendo ainda
serem acrescidas ou não de outras, considerando que cada trajetória de pesquisa
segue caminhos próprios.
Após a leitura, de vários autores constatei a inexistência de um único
método seguido por todos, que elegem a fotografia como fonte privilegiada para
construção de seus escritos, sendo assim optei pelos caminhos supracitados dentre
os muitos possíveis.
Por fim seria oportuno observar que parte das percepções visuais
foram realizadas graças ao recurso do zoom, presente em meu computador
doméstico, que possibilitou uma maior aproximação dos detalhes presentes nas
fotografias.
no último capítulo intitulado “Entre olhares: leituras da cidade” foi
possível promover um diálogo entre as fotografias e um diversificado universo de
fontes buscando extrair significados das imagens a partir de uma análise contextual
25
aquilo que Lucrecia Ferrara denominou de “signo contextual”
33
. Utilizo-me das mais
variadas fontes escritas para iniciar o diálogo, fazendo uso desde impressões sobre
a cidade de alguns viajantes que passaram por São Luís naquele princípio de
século, assim como de uma narrativa literária que tem como enfoque a cidade no
período histórico recortado.
A partir deste cruzamento de fontes busco compreender as diversas
estratégias utilizadas pelo fotógrafo e seu contratante para a construção de uma
imagem de cidade que atendesse até certo ponto as aspirações de seu contratante.
Da mesma maneira tento desvendar a partir dos recortes selecionados pelo
fotógrafo traços de subjetividade deste, na tentativa de entender o “porquê” de
muitas de suas escolhas.
Como estratégia de análise, optei por proceder com a leitura da
seqüência de imagens definidas pelos editores da segunda edição do álbum que
data de 2008, que seria impossível definir uma ordem oficial devido o estado de
conservação do álbum, que para um melhor acondicionamento a instituição
detentora optou por separar as pranchas em grandes envelopes como explicitado
anteriormente.
33
FERRARA, Op. cit. p. 119.
26
CAPITULO 1 - O MELHOR DOS MUNDOS POSSÍVEIS
34
Como evidência histórica que é, a fotografia, como qualquer outro tipo de
documento, também precisa ser contextualizada, uma vez que o desconhecimento
dos envolvidos na trama fotográfica, faz com que se cometa muitos equívocos na
hora de empreender um exercício de leitura de qualquer natureza. É neste sentido
que proponho conduzir o leitor para o tempo e espaço em que as imagens foram
concebidas.
1.1 O fotógrafo, a cidade e seu contratante.
Olhares atentos, poses estáticas, alguns displicentes, outros curiosos.
Com equipamento na mão ou fixado no tripé, um homem e seu instrumento de
trabalho chama atenção em mais um dia de trabalho pelas ruas da cidade.
Acreditamos que assim era visto o fotógrafo Gaudêncio Cunha ao iniciar mais um
dia de trabalho pelas ruas da cidade de São Luís do Maranhão entre o final do
século XIX e princípios do século XX.
Proveniente da cidade de Belém do Pará em 1888, juntamente com seu
amigo João D’oliveira Pantoja. Gaudêncio resolve, em sociedade, inaugurar um
estabelecimento fotográfico na cidade. Clodomir Braga D’Oliveira Pantoja, filho de
João Pantoja, afirma em entrevista concedida ao projeto “História da fotografia no
Maranhão” que seu pai trabalhava em Belém no foto Fidanza e que ao visitar o
Maranhão em companhia de seu amigo Gaudêncio Cunha, constataram a
inexistência de casa específica do ramo na capital maranhense. Pantoja
imediatamente volta a Belém para comprar quina fotográfica e aparelhamento
para trabalhar com fotografia, deixando o Velho Gaudêncio em São Luis.
34
O título que nome a este capítulo é atribuído ao filósofo Voltaire. Frase originalmente
mencionada como “Vivemos no melhor dos mundos possíveis” in: Jornal A Platéa, 1901. COSTA,
Ângela Marques; SCHWARCZ, Lilia Moritz. 1890- 1914: no tempo das certezas. São Paulo:
Companhia das Letras, v. 6, Virando séculos, 2000.
27
Mais tarde, estes desfazem a sociedade, Inaugurando Gaudêncio Cunha
em de setembro de 1895 a Fotografia União, casa que se tornaria referência no
ramo. Tratou o fotógrafo de noticiar, nos vários jornais que circulavam na capital, o
grande evento de inauguração de sua casa fotográfica, que podemos constatar
neste aviso:
Montada como se acha a photographia União com todas as commodidades
e decência dispondo de machinas das mais aperfeiçoadas espera merecer
do público maranhense o acolhimento próprio de sua proverbial
hospitalidade e convida-o a assistir a inauguração que terá lugar no
domingo próximo. (DIÁRIO DO MARANHÃO, p.3, 1895).
Situada inicialmente na Rua da Cruz 47, funcionando todos os dias da
semana das 8 da manhã às 5 da tarde, a Fotografia União prometia realizar trabalho
a partir dos mais diversificados sistemas, sendo eles retratos em Platinotipia, Crayon
e coloridos, dispondo ainda de uma máquina especial para retratos de crianças “as
mais travessas
35
.” O proprietário prometia realizar ainda trabalhos fora do atelier de
qualquer natureza mediante ajuste prévio.
Na última década do século XIX época em que Gaudêncio Cunha chega a
São Luís, a cidade contava com apenas três casas do ramo fotográfico, uma delas
pertencia ao “hábil” e “distinto” fotógrafo Gaudêncio Rodrigues da Cunha.
No ano seguinte a sua inauguração, o atelier do fotógrafo anuncia que
acabara de passar por uma importante reforma, anunciando que dispunha dos mais
aperfeiçoados aparelhos. Sendo uma das novidades apresentadas pelo atelier um
esplêndido pano de fundo pintado pelo hábil cenógrafo Luiz Luz. O proprietário
prometia ainda realizar trabalhos nunca antes executados na cidade tais como:
seda, louça, porcelanas, vidros, marfim etc., e colorido de perfeita duração. Por
preços cômodos, anunciava ainda trabalhos de reprodução de grupos, paisagens
etc.
36
No dia 21 de outubro de 1899, no jornal Regeneração, o fotógrafo
comunica ao público da capital a mudança de seu atelier fotográfico da Rua da Cruz
para a Rua do Sol n-30. A essa altura Gaudêncio havia tornado-se um dos mais,
se não o mais conceituado fotógrafo da cidade, sendo visto pelos principais meios
35
Diário do Maranhão, São Luís, 01 de fev. 1896.
36
Op. Cit.
28
de comunicação do período como uma referência, é o que afirma uma matéria da
Revista Typographica (1910, p.03):
O Gaudêncio Cunha, por exemplo, é um excelente propulsor da sua arte,
dando inconcussas provas do alto gosto e conhecimento artístico que
possui. Sem querer tratar desse conhecidíssimo obreiro da arte de
Daguerre, que já se acha bastante relacionado na sociedade maranhense.
Em princípios do século XX, O fotógrafo já gozava de boa reputação junto
aos vários órgãos da imprensa local tendo inclusive seu nome lembrando pelo
“Jornal dos Artistas” que durante a passagem de seu aniversário divulgou a seguinte
nota
37
:
Na intimidade do seu lar festejou a data de seu aniversário natalício,
transcorrida em 14 do corrente mez, o nosso particular amigo e hábil
photographo, cujo nome, epigraphe estas linhas, proprietário da acreditada
e bem montada “Photographia União” à Rua do Sol n- 30.
A partir dos adjetivos, “hábil” em relação ao fotógrafo, e “acreditada” em
relação a sua casa fotográfica, é possível perceber a maneira como o fotógrafo era
visto por boa parte da imprensa local.
Como estratégia de distinção, o fotógrafo participou de várias exposições.
Gaudêncio foi autor do álbum “Maranhão Ilustrado,” enviado pelo governo do Estado
à Exposição Mundial de Paris em 1900 e do álbum do maranhão de 1908, este
último objeto de análise por excelência deste estudo.
Em março de 1908, Gaudêncio foi saudado pelo Jornal do Comércio em
plena confecção de algumas imagens que comporiam o álbum do Maranhão de
1908, o que podemos constatar na seguinte nota
38
:
Em serviço do governo, tirando Photographias para confeccionar um álbum
que será enviado à Exposição Nacional, acha-se entre nós o sr. Gaudêncio
Cunha, photographo habilíssimo. Comprimentanmo-lhe.”
No mês de julho do mesmo ano, o fotógrafo apresenta através de seus
auxiliares o resultado de seu trabalho para a imprensa local. O que pode ser
observado na seguinte matéria do jornal “A Pátria”
39
:
37
Jornal dos artistas. Órgão do Centro Artístico Operário Eleitoral Maranhense. 17. out. 1909.
38
Jornal do Comércio. São Luís, 09 mar. 1908.
39
A pátria. São Luís, 01 jul. 1908.
29
Os nossos distictos amigos e hábeis photographos Gregório Pantoja e
Guilherme de Mattos, da conceituada “Photographia União” de Gaudêncio
Cunha, mostraram-nos, hoje o grande álbum,que o distincto artista
Gaudêncio Cunha preparou por conta do governo para a Exposição
Nacional.
Trabalho nítido e perfeito, o álbum é uma valiosa recommendação o artista
que nele trabalhou. Fica satisfeita qualquer exigência ante o bem acabado
dos serviços que hoje tivemos ocasião de ver.
Repartições públicas, e seus compartimentos, estabelecimentos comerciais,
margens de rios, portas engenhos, em fim um aspecto geral do Estado está
nelle perfeitamente photographado.
Abre com o busto de s. exc. Dr. Benedicto Pereira Leite, e fecha com duas
chapas da “Photographia União”. É um trabalho excellente.
Como se pode constatar o trabalho realizado pelo fotógrafo adquiria
inclusive status de obra de arte. Montado em grandes placas de papelão o trabalho
de composição do álbum encomendado pelo governo do estado era composto de
100 páginas, contendo ao todo 220 fotografias espalhadas em grandes placas
ornamentadas com motivos florais pintados à mão, que reunidas, formariam um
grande álbum coberto com luxuosa capa em couro.
Gaudêncio Cunha teve seu trabalho premiado na Exposição Nacional de
1908 obtendo o grande prêmio e a medalha de ouro. Em setembro de 1910, em
anúncio do jornal “O paladium” o fotógrafo utiliza-se das premiações como forma de
valorizar ainda mais o seu trabalho informando que teria sido premiando em várias
exposições e que realizava retratos em Platinotypia, ampliação de todos os
tamanhos e em todos os papéis inalteráveis.
A casa informava ainda que tirava retratos de criança com nitidez perfeita
e que dispunha de “grande sortimento de chapas e máquinas fotográficas dos mais
acreditados fabricantes tanto da Americanos como Europeus”.
40
Em relação aos
diversos produtos químicos utilizados no processo de revelação, a matéria informava
que a casa dispunha de
41
:
Papeis albuminados simples, sensiilisada, ao gelatino bromureto, ao
gelatino horureto e ao extracto de prata, etc. etc.
Aqui temos proptos todos os reveladores e viragens a ouro e platina.
Productos chimicos puros, passe–par touts, porta–retratos, álbuns e
cartões.
40
Jornal O Paládium. São Luís, 23 set. 1910.
41
Op. cit.
30
Lembremos que a fotografia vivia outros tempos, tendo o fotógrafo que se
adaptar a esse novo momento, dominado pela fotografia amadora. Neste sentido,
a estratégia de diversificar seus produtos e serviços foi adotada pelo fotógrafo como
forma de se manter no mercado.
No que diz respeito à produção e consumo de imagens era comum
encontrarmos anúncio de venda de álbuns de vistas da cidade e do Estado na
imprensa local, como este que aparece no jornal A Pacotilha (1908 p. xx):
Álbum do Maranhão
A revista do Norte acaba de editar um álbum do Maranhão contando com 24
vistas deste Estado, coloridas, impressas pelo sistema de phototipia e
acondicionados numa belíssima capa de percalline encadernada com a
inscripção a ouro.
Recordação do Maranhão
E’ um bello livro para adornar uma meza de uma sala, ou para um mimo a
offerecer.
Além do mercado fotográfico propriamente dito, a cidade havia
experimentado desde abril de 1898 a presença do cinema ambulante que encantava
os freqüentadores das salas alugadas e mais tarde do Teatro São Luis, também
alugado pelos proprietários dos diversos aparelhos que circularam em São Luís
desde a última década do século XIX. Em 1909, o então estudante Sálvio Mendonça
proveniente da cidade de Viana, diz ter se “encantado pelo teatro e pelo sorvete,
coisas que tinha apenas algumas noticias
42
”. No teatro São Luis o estudante afirma
que assistiu ao drama “ladrão” levado a cena por Apolônia Pinto”.
Não por acaso, um dos envolvidos na introdução do cinema em terras
maranhenses seria um fotógrafo conhecido do público da capital. Sobre o
fotógrafo, em matéria do dia 09 de abril de 1898, o jornal A Pacotilha trazia a
seguinte notícia
43
:
O senhor Moura Quineau, hábil fotografo que aqui já residiu, touxe agora a
esta capital a ultima invenção deste fim de século em matéria de
maravilhas.
É o Cronophotographo de Demeny, apparelho que reproduz a photographia
animada com todos os movimentos naturaes.
É realmente curioso e digno de ver-se o cronophotographo que o sr Moura
Quineau vae exibir ao publico por estas noites, no próximo domingo, à rua
do Sol, em frente ao thetro.
42
MENDONÇA, Sálvio. História de um menino pobre. 2ª ed. São Luís: Aquarela, 2004.
43
MATOS, Fábio Belo. ... E o cinema invadiu Atenas: a história do cinema ambulante em São
Luís 1898 – 1909. São Luís: UNI SÃOLUIS, 2002.
31
No que diz respeito ainda a circulação e ao consumo de fotografias, em
São Luís editou-se entre os anos de 1901 e 1906 o periódico noticioso e literário do
Maranhão: a Revista do Norte, publicada na tipografia Gaspar Teixeira e Irmão, que
além de São Luís circulava também em duas capitais do norte do pais: Belém e
Manaus, além de Fortaleza no Ceará. O periódico trazia além de seus artigos de
cunho literário, diversas fotografias das capitais por onde a revista circulava,
destacando fotografias dos principais logradouros das cidades, além das fotografias
de praças e avenidas era comum também na revista o registro dos chamados tipos
populares paraenses e maranhenses.
A Revista do Norte, era ilustrada por imagens de diversos fotógrafos,
inclusive amadores. Dentre várias fotografias foi possível constatar a presença de
algumas de autoria de Gaudêncio Cunha que estranhamente não atribuía crédito ao
fotógrafo, ao contrário de outras que especificava o fotógrafo, informando ainda se o
mesmo era amador ou profissional. Nesta mesma revista, na secção de anúncios,
encontramos divulgação da Fotografia União de Gaudêncio, que nestes primeiros
anos do culo XX se encontrava oferecendo inclusive material fotográfico tanto
para profissionais como amadores. O anúncio informava ainda que a casa
encontrava-se em correspondência direta com os primeiros fabricantes da Europa
como dos Estados Unidos. Como estratégia de Marketing, o fotógrafo alegava seu
pioneirismo, se colocando como “um dos primeiros do Norte da República
44
”. Sendo
inclusive honrado segundo ele pela “ilustrada” imprensa maranhense.
Não sabemos precisar por quanto tempo a Fotografia União continuou a
existir em o Luís, contudo sabe-se que pelo menos no território da memória das
gentes da capital ela sobreviveu por longas datas. Cecílio Inácio de , nascido em
1913 lembra-se da Fotografia União como sendo uma das primeiras que inventaram
em São Luis. Adotado pela família de Gaudêncio Cunha, este se lembra que a
família do fotógrafo veio do Pará e que fora abrigado na casa dele localizada à Rua
dos Craveiros, onde recebeu cuidados de uma Senhora, possivelmente esposa de
Gaudêncio Cunha
45
.
44
Revista do norte. São Luís,08 de Set. 1904.
45
SÁ, Cecílio Ignácio de. Memória de Velhos: depoimentos. Uma contribuição à memória oral da
cultura popular maranhense. São Luís: Lithograf, 1997. p. 27.
32
A cidade de São Luís, vivenciada por Gaudêncio em princípios do século
XX, estava longe de acompanhar as reformas urbanas implementadas na capital da
jovem República brasileira. Notoriamente Imperial, São Luís, em sua quase
totalidade preservava suas feições coloniais, com telhados de duas quedas à
amostra, fachadas azulejadas e sacadas de ferro batido com rendilhado
característico de uma época em que se importava quase tudo da Europa.
Fran Pacheco intelectual português que residia na capital desde o final do
século XIX, afirma que, em 1916 as condições do casario de São Luís, continuariam
a mesma, apesar do crescimento da população, esta estava disposta a agüentar “a
fedentina dos baixos de sobrado, as goteiras, o esfarinhamento dos caibros, o
esboroar do assoalho
46
.”
Na mesma época Raimundo Lopes assim descreve a situação das casas
em São Luis: “A casa [...] é voltada para o interior, e nem mesmo um pátio ou jardim
oferece para o lado da via publica; um jardim junto à rua, em São Luis, é coisa rara;
a construção é cerrada.
47
Creio que a idéia de Belle Époque tão disseminada entre diversos autores
para se pensar o contexto das transformações vividas no País em princípios do
século XX, parece inadequado para refletirmos a realidade maranhense e, por
conseguinte a situação da capital do Estado, muito embora houvesse por parte das
elites políticas e intelectuais desejos e aspirações de dotá-la de alguns
melhoramentos.
“Era uma cidade pequena.
48
A partir desta diminuta e primeira definição,
dada por Paulo Roberto Câmara para definir a cidade de São Luis na passagem do
século XIX para o XX, é possível percebermos suas dimensões morfológicas. De
feições relativamente pequenas, a cidade se resumiria ao que hoje conhecemos
como sendo o centro, como afirma Medeiros
49
.
46
PACHECO, Fran. O trabalho maranhense. São Luís: Imprensa Oficial, 1916. p. 27.
47
LOPES, Raimundo. Uma região tropical. Rio de Janeiro: Ed. Fon-fon e Selecta, 1970. p. 77.
48
CAMARA, Paulo Roberto Pereira. Trabalho e rua: análise acerca do trabalho de rua em São
Luís na passagem do século XIX ao XX. Dissertação de mestrado apresentada ao PPG em
Ciências Sociais da UFMA. São Luís, 2008. p. 29.
49
MEDEIROS, Carlos Henrique Guimarães. Peste bubônica em São Luís: Epidemia e perspectiva
de reordenamento urbano. Dissertação de mestrado apresentada ao PPG em Ciências Sociais da
UFMA. São Luís, 2007. p. 06.
33
Ao descrever a cidade de forma comparativa entre os séculos, desde a
sua fundação, Raimundo Lopes nos fornece uma síntese do que era a capital
maranhense no início do Século
50
:
São Luis, ao contrário de Alcântara, foi uma cidade comercial, burguesa, de
edificação simples. Ainda hoje guarda esses caracteres. [...]
O desenvolvimento gradual da cidade apresenta três fases: a) a formação
do núcleo urbano (século XVI); b) a construção do atual bairro central (XVIII
e primórdios do XIX); ) formação dos bairros excêntricos e superiores ( XIX
e atual).
Os bairros considerados excêntricos por Lopes naquele o início de século
XX, são eles Remédios e São Pantaleão. O primeiro era famoso porque nele
acontecia a Festa dos Remédios, o segundo na época em que escrevia o autor, era
onde se abrigava parte da população pobre da cidade devido à proximidade com as
fábricas de tecidos: Cânhamo e São Luis.
Culturalmente marcada por ares provincianos, a cidade cultivava hábitos
que faziam jus as suas dimensões morfológicas. Numa espécie de pasquim que
circulou na cidade no início do século XX, foi possível perceber o quanto a cidade
ainda esboçava um perfil de cidade tipicamente provinciana. Denominado de “O coió
do brodio” o pasquim dizia pregar a moralidade “[...] arrancando a máscara dos
tartufos, que desgraçam filhas de família”.
51
Com um tom de pilhéria “O Coió” seguia dando conta da vida alheia,
chamando atenção daqueles que insistiam em ultrapassar os preceitos da moral
vigente no período. Nesta passagem é passível vislumbrarmos a maneira como os
seus redatores se dirigiam a algumas pessoas
52
:
O namoro do gallego á rua Grande continua no mesmo...
é tempo de pedir a moça, a realizar o casamento no civil e católico, do
que você andar fazendo brincadeira, brincando de pegador.
E se escondendo atraz da porta para melhor ser pegado...
Isto não é serio, se fosse à filha do piloto, já você tinha azulado, por que elle
está sempre de “porrete à esquina”.
É preciso saber que a moça, não pode estar perdendo tempo com você,
resolva logo isso, é o melhor. Até domingo.
50
LOPES, op. cit., p.06.
51
O coió do bródio. São Luís, 26 de jan. 1908, p.02 .
52
Op. cit. p.2.
34
Apesar da pouca alteração de suas feições notadamente coloniais, a
cidade respirava influências européias principalmente francesas, onde seus
habitantes procuravam vestir-se em consonância com a famosa moda parisiense.
Em 1908 ao visitar o magazine “Paletot Moderno” o cliente poderia ter
acesso à “cortes de seda e fustão para coletes ultima creação parisiense”
53
.
A influência francesa era vista até mesmo na denominação de algumas
casas do ramo de tecidos. Na Praça João Lisboa era possível encontrar uma casa
com denominação que lembra a atração dos maranhenses pela França, na casa de
numero 02 funcionava “A Notre Dame” especialista no ramo de tecidos, próximo dali,
na Rua Grande, a loja “O Brasil” anunciava que “Acaba de despachar grande e
deslumbrante sortimento de chapéos enfeitados o que há de mais chic, última
novidade de Paris.
54
Ainda na Rua Grande era possível apreciar além do café, uma boa
cerveja gelada seguida de vinhos especiais além dos famosos pastéis do Café Chic.
Se o cliente desejasse podia ainda se distrair jogando uma partida de bilhar, e não
era qualquer bilhar. A casa anunciava que acabavam de chegar de Paris, o que
havia de melhor.
55
No final do século XIX, segundo dados extraídos da obra do professor
José Ribeiro do Amaral,
56
São Luis contava com uma população por volta dos 50 mil
habitantes. o censo demográfico de 1900 atribui a capital uma população de
37.798 habitantes
57
. Contudo, a partir do relatório do médico higienista Vitor Godinho
que esteve em São Luis no ano de 1904, é possível segundo Medeiros
58
,
considerarmos pelo menos o dobro da população apresentada no censo de 1900.
As incertezas em relação ao levantamento populacional nascem das
diversas maneiras de se calcular o número de habitantes. Neste caso acredito que a
conclusão de Godinho
59
talvez seja a mais aproximada, escutemos as impressões
do médico sobre a cidade:
53
Paletot Moderno. Jornal dos artistas. São Luis, 20 de Jan. 1908. Anúncios. p. 04.
54
O Brasil. O Maranhão. São Luís, 14 de Maio de 1908. Anúncios.
55
CAFÉ CHIC. O Maranhão. São Luís, 29de Jan. 1908. Anúncios.
56
AMARAL, José Ribeiro do. O estado do Maranhão. São Luís: Typ. Farias, 1987.
57
MEDEIROS, Carlos Henrique Guimarães. Peste bubônica em São Luís: Epidemia e perspectiva
de reordenamento urbano. Dissertação de mestrado apresentada ao PPG em Ciências Sociais da
UFMA. São Luís, 2007. p.18.
58
Ibid.p.18.
59
GODINHO, 1904 p. 105 apud MEDEIROS, 2007, p.18.
35
S.Luiz é uma cidade de população muito condensada. É um centro muito
industrial e por isso dando abrigo a grande número de pessoas de pouco
conforto na vida social, como são em regra os operários. As casas são
construídas sem separação alguma, seguindo-se uma a outra como contas
de um rozario. Desta sorte, toda a população está condensada em uma
pequena área.O numero de seus habitantes não deve estar longe de
60.000, se não attingir effectivamente aquelle número(...)
A presença do médico sanitarista Vitor Godinho no Maranhão deu-se
diante da avassaladora epidemia de Peste bubônica que provocou muitas mortes no
ano de 1904. Tal epidemia marcou profundamente a história da cidade que além da
peste, teve que conviver também com outras epidemias como a de varíola.
Em 1908, a imprensa insistia em denunciar o estado insalubre da cidade
considerado horroroso pelo editorial do Jornal dos Artistas
60
que assim se
pronunciava frente a situação precária em que a cidade se encontrava:
[...] O estado sanitário é horroroso. Dantes era só a quebradeira geral que
interrompia os lares, depois surgiu a terrível varíola que vae tenazmente
coifando os numerosos, estes que povoam o Estado, não distinguindo vidas
nem attendendo aos clamores das mães afflitas. É um remédio infatigável
que a debbele por completo meta emergência dolorosa. Não se suggere. A
vacina não duvida que é um preservativo contra o “morbus” mas o povo
por ora ainda se não quer compenetra na faculdade da Tympha vaccinica e
prefere visitar ininterruptamente o desagradável Lyra.[...].
A matéria além de construir um quadro sanitário da cidade, revela ainda a
resistência da população que insistia em recorrer a práticas não oficiais para se
proteger das doenças. Ao se referir ao estranho hábito do povo em visitar o bairro do
Lyra, a matéria faz alusão ao uso de práticas profiláticas ligadas a umbanda, prática
ainda muito comum na cidade. Devido a proximidade com o bairro da Madre-de-
Deus onde até hoje abriga um dos mais famosos terreiros de umbanda da capital,
acredito que o autor do editorial ao se referir ao Lyra como uma local de refugio, se
reporte a presença de terreiros no bairro.
No que diz respeito a elementos infra-estruturais tidos como modernos, a
cidade dispunha de rede telegráfica inaugurada no estado desde dezembro de
1884 e rede telefônica inaugurada na capital em 18 de novembro de 1890
61
.
Em relação à viação urbana, a cidade dispunha de um serviço de
transporte urbano realizado desde 1886 pela Companhia de Ferro-Carril do
60
O nosso estado de cousas. Jornal dos Artistas, São Luís. 29 de Ago. de 1908. Editorial, p.01.
61
AMARAL, José Ribeiro do. O estado do Maranhão. São Luís: Typ. Farias, 1987. p. 50-51.
36
Maranhão herdeira da antiga companhia implantada em 1871. No ano de 1896 a
companhia dispunha de 3 linhas urbanas que partindo do largo do palácio dirigiam-
se à Estação Central, ao bairro dos Remédios e à ao bairro de São Pantaleão,
cortando grande número de ruas e algumas praças com desenvolvimento de 5.310
metros.
62
no que diz respeito à presença de automóveis a cidade conheceria
a novidade em 1905 quando o empresário do setor têxtil proprietário da fábrica
Santa Isabel Sr. Joaquim Moreira Alves dos santos trouxe da Inglaterra um exemplar
da marca Speedwell modelo Phaeton, com capacidade para acomodar quatro
passageiros equipado com motor De Dion Bouton, monocilíndrico, 14 HP á gasolina.
A novidade “parou” a capital, com as pessoas acotovelando-se nas calçadas do
casario colonial, sendo que por volta de 1908 desembarcara no porto de o Luis
mais quatro veículos
63
.
Em meio a desejos e aspirações de progresso e civilização alguns
membros das elites políticas e econômicas perseguiam a utopia de conquistarem um
estágio de maior avanço econômico rumo a um desenvolvimento sem precedentes.
Ao findar o regime escravocrata as elites econômicas no Maranhão
atribuem à ausência de braços para a lavoura a responsabilidade pela sua
derrocada financeira questão muito discutida pela historiografia maranhense.
Contudo no apagar das luzes do século XIX antigos proprietários agrícolas e
prósperos comerciantes do bairro da Praia Grande em São Luis e da cidade de
Caxias, no interior do estado, passam a acreditar numa nova maneira de investir
seus capitais, resolvem então apostar na implantação de um pólo industrial no
estado, construindo uma dezena de fábricas em sua quase totalidade voltadas para
o setor têxtil.
Para o sociólogo José de Ribamar Chaves Caldeira
64
em sua clássica
tese de doutorado “origens da indústria no sistema agro-exportador maranhense -
1875-1895”:
62
Ibid. p. 51-52.
63
Centenário do automóvel no Maranhão. O Estado do Maranhão. o Luís, 13 nov. 2005. Caderno
alternativo
.
64
CALDEIRA, José de Ribamar Chaves. Origens da indústria no sistema agro-exportador
maranhense -1875-1895. Tese (Doutorado em Sociologia) Programa de Pós-Graduação em
Sociologia, USP, São Paulo, 1988.
37
A criação do primeiro parque fabril maranhense inclui-se entre as
manifestações concretas regionais do crescimento industrial sem
industrialização, ocorrido no país, no final do século XIX. E resultou
sobretudo de reunião de capitais investidos por comerciantes inportadores-
exportadores, fazendeiros e pessoas ligadas a outras atividades, com o
apoio dos governos central e regional. Noutros termos, o referido parque
surgiu da iniciativa daqueles indivíduos e de capitais recrutados na própria
região.
Caldeira, ao contrário de alguns estudiosos da temática,
65
rejeita a tese
de que a implantação do parque fabril tenha se dado devido à crise provocada pela
abolição da escravatura, preferindo explicá-la a partir das condições que
favoreceram a expansão da atividade industrial no Brasil.
A primeira experiência bem sucedida com relação à implantação da
indústria têxtil no Maranhão se deu na cidade de Caxias, no interior do Maranhão em
1885, na qual predominou a exploração do trabalho feminino e infantil.
Diante dos resultados obtidos pela Companhia Caxiense, diversos
comerciantes e fazendeiros interessaram-se pela criação de uma fábrica xtil em
São Luis.
Quando da implantação do lançamento da pedra fundamental do edifício
que abrigaria a maior fábrica do setor têxtil em São Luis, o jornal A Pacotilha
66
de 22
de Agosto de1891 anunciava:
Uma era de prosperidade para a pátria maranhense que de certo tempo
para vai despertando do marasmo, da indiferença em que permaneceu
longos anos, da atrofia, com que o organismo depauperado pelos vícios da
escravidão.
Para a Cientista Social Vadenira Barros
67
“A instalação de fábricas e a
realização de exposições foram maneiras que as elites locais encontraram de entrar
no mundo moderno, aproximando o seu discurso do discurso de lugares
considerados “avançados.”
No Maranhão são muitas as vozes que irão propalar a prosperidade
advinda com a presença das bricas, um exemplo disso é dado pelo engenheiro
65
Sobre esta temática ver: VIVEIROS, Jerônimo de. História do Comercio no Maranhão. V. 3, São
Luís: Lithograf, 1992.
CORRÊA, Rossini. Formação social do Maranhão: o presente de uma arqueologia. São Luís:
SIOGE, 1993.
66
ITAPARY, Joaquim. A Falência do Ilusório: memória da companhia de fiação de tecidos do Rio
Anil. São Luís: Alumar, 1995. p. 27.
67
BARROS, Valdenira. Imagens do moderno em São Luis. São Luis: Estação em movimento: 2001.
p.20.
38
Eurico Teles de Macedo
68
que ao chegar ao Maranhão nos idos de 1906, contratado
para trabalhar na construção da estrada que ligaria São Luis a Caxias, diz ter se
surpreendido com o movimento apressado nas ruas de operários e operárias que se
dirigiam para toda parte em suas roupas de trabalho.
Outro entusiasta da prosperidade do estado foi o visionário governador
Benedito Leite responsável pela encomenda do álbum do Maranhão de 1908. Este
foi eleito para governar o Maranhão para o quatriênio de 1906 a 1910. Formado a
partir de preceitos do ideário Contista, foi segundo o sociólogo Rossine Correia, um
amante do “evolucionismo progressista
69
.”
Dentre as várias descrições do homem público que foi Benedito Leite uma
chama atenção pelo esmero e presteza. Na avaliação do Literato Viriato Correia:
“[...] Ele era um sonhador. Gastava na intenção sincera de melhorar. Tinha a utopia
de por o Maranhão ao lado dos Estados mais ricos e prósperos do Brasil.”
70
As proposições utópicas de Benedito Leite talvez incorresse naquilo que
José Murilo de Carvalho afirmou sobre o “positivismo,” ao refletir sobre a sua
aplicação nos modelos de organização social pensados pelos republicanos
brasileiros as vésperas da implantação do regime: que este “possuía ingredientes
utópicos.”
71
Benedito Parreira Leite, filho do auspicioso comerciante português
Antonio Leite Pereira e Dona Ana Rita de Sousa Leite, nasceu na então pequena
vila do Rosário em outubro de 1857. Formado pela faculdade de Direito do Recife na
turma de 1882, Leite ascendeu de forma bastante pródiga ao posto de maior
autoridade política do estado do Maranhão. Para o sociólogo Rossine Correia os
maranhenses formados na Faculdade de Direito do Recife no final do século XIX
foram todos “inspirados pelo ateísmo, pelo abolicionismo e pelo republicanismo
[...].”
72
De acordo com Correia a mudança de regime político promoveu um
contexto de sucessão geral de lideranças políticas surgindo numerosos partidos
68
MACEDO, Eurico Teles de. O Maranhão e suas riquezas. São Paulo: Siciliano, 2001.
69
CORRÊA, Rissini. Formação social do Maranhão: o presente de uma arqueologia. São Luís:
SIOGE, 1993.
70
VIVEIROS, Jerônimo de. Benedito Leite: um verdadeiro republicano. Rio de Janeiro: Taveira,
1957. p. 238-239.
71
CARVALHO. José Murilo de. Formação das Almas: o imaginário da República no Brasil. São
Paulo: Companhia das Letras, 1990. p. 09.
72
Ibid. P.156.
39
políticos, que após serem deflacionados terminaram em dois: Partido Federalista no
qual assumiu sua direção no Maranhão Benedito Leite, e partido Republicano tendo
a frente seu principal opositor político Costa Rodrigues.
Herdeiro de um político remanescente do antigo regime, o respeitado
Gomes de Castro, que segundo Correia era republicano convicto, optou por
defender o Federalismo como alternativa para as forças conservadoras, “ressalvada
a peculiaridade de esboçar convicção no evolucionismo progressista.”
73
Após cursar Direito matriculou-se na Faculdade de Filosofia onde
rapidamente tratou de substituir seus preceitos religiosos pelas teorias de Darwim e
Hackel, mais tarde tornou-se sectário das idéias de Augusto Conte, passando a
admirar seu sistema filosófico. Ivan Lins em seu livro “Historia do Positivismo no
Brasil”
74
classifica-o como um positivista convicto, talvez isso justificasse sua
obstinação pela idéia de progresso.
Segundo Rossine Correia “Benedito Leite foi o instante maranhense de
composição da política dos Governadores”
75
. Mantendo-se durante o seu mandato
de governador vinculado a figura do presidente Afonso Pena com quem manteve
uma relação bastante afeiçoada. Correia assim define a posição política de Benedito
Leite que teve sua carreira política patrocinada pelo irmão senhor-de-engenho Jo
Leite:
Se, no âmbito da família, houve um coronel com recursos econômicos à
disposição do chefe político, no âmbito da comunidade maranhense não
faltou os coronéis, garantido o controle dos municípios à oligarquia de
Bendito Leite, para que, manipulada a maquina do Estado, a política dos
Governadores legitimasse o Presidente da República, através do
comportamento conveniente das bancadas estaduais, formadoras do
Congresso Federal, aprovando os projetos de interesse à sustentação do
poder executivo.”
76
Na fotografia abaixo de autoria anônima datada de 1906, tirada no Palácio
do Governo durante a visita de Afonso Pena ao Maranhão podemos inquirir que, a
pose induz a uma proximidade entre os dois retratados consubstanciando-se naquilo
que a historiadora Patrícia Lavelle chamou de “cordialidade fotográfica,”
77
explicada
73
Ibid. p. 166.
74
LINS. Ivan. História do Positivismo no Brasil. São Paulo:Companhia Editora Nacional, 1967.
p.112.
75
CORRÊA, op. cit. p.167.
76
Ibid., p. 166-167.
77
LAVELLE. Patrícia. O espelho distorcido: imagens do indivíduo no Brasil oitocentista. Belo
Horizonte: editora UFMG, 2003.p.57.
40
a partir do conceito extraído das proposições de Sergio Buarque de Holanda ao se
referir ao fenômeno da “cordialidade” que segundo este, seria tão peculiar às esferas
públicas e privadas no Brasil.
Fotografia 1 – Presidente Afonso Pena e o Governador Benedito Leite 1906.
Fonte: VIVEIROS, Jerônimo de. Benedito Leite: um verdadeiro republicano.
Rio de Janeiro: Taveira, 1957.
Observe que apesar da pose austera do Presidente Afonso Pena, o
governador Benedito Leite ao posicionar-se do seu lado esquerdo, apóia-se e
segura com discrição ao braço da cadeira bem próximo ao ombro do Presidente
denotando intimidade, proximidade.
A pose sugere ainda num plano simbólico, a relação de apoio político
mantida no período a partir da chamada “política dos Governadores”. Como nos
lembra Lavelle “É preciso compreendermos que a pose não deve ser entendida de
maneira literal, mas como metáfora, como algo que está em lugar de outra coisa de
uma certa representação social”
78
Como bem traduziu o historiador maranhense Jerônimo de Viveiros,
Benedito Leite sobrepujou importantes políticos anteriores a sua ascensão,
ocupando posição política a partir de seu próprio esforço, tendo estendido sua
influência política por um largo período. Antes da carreira política Benedito Leite foi
promotor em varias comarcas do estado e chefe do tesouro estadual quando em
78
Ibid., p.66
41
1892 chegara a Câmara Federal e ainda jovem com apenas 39 anos de idade e 6 de
atividade política foi eleito Senador da República.
79
Apesar de ter sido eleito para o quatriênio que teria início em 1906 indo
até 1910, oficialmente cumpriu dois anos de mandato quando foi acometido de
grave doença que lhe levaria à óbito. Antes da morte, refúgio-se em Hayres na
França onde buscou tratamento de saúde.
Segundo Viveiros “[...] o seu domínio absoluto na administração e na
política do Estado estendeu-se por cerca de quinze anos, de 1893 a 1908. É este
período que se deve entender por seu governo.”
80
Após a morte de Benedito Leite, várias autoridades se mobilizaram como
intuito de erguer em sua homenagem uma estátua localizada na praça que leva o
seu mesmo nome, dentre estes destacamos o discurso do jurista e presidente da
comissão encarregada de promover o levantamento da estátua, o Sr. Godofredo
Viana que em discurso solene no ato de erguimento da estátua assim descreveu o
político: “Tipo excelso de patriota abnegado andavam-lhe sempre os olhos
embebidos na grandiosa visão do futuro que sonhava para a terra querida.
81
No mesmo ato supracitado, a professora Elvira Augusta dos Reis Vieira,
da Escola Normal, lhe rendeu as seguintes palavras: “homem do progresso,
esforçou-se por dotar o seu Estado com todos os melhoramentos, para collocal-o a
hombrear com os mais adiantados do Paiz.”
82
Em continuidade com as homenagens
João Nunes também professor da Escola Normal afirmou sobre Benedito leite:
[...] era também um forte, um ambicioso que queria conquistar para a sua
terra um logar digno no concerto da civilização moderna.
Vendo-o trabalhar n’um dispêndio sobrehumano de energia, na ancia de
resolver as dificuldades que surgiram ante o programa que traçara com a
clarividência de um espírito robusto, para sacudir o torpor de colônia do
Maranhão, segui-o confiante como o crente ao apostolo.”
83
Em carta aberta direcionada ao Exmº Sr. Dr. Afonso Pena, publicada no
jornal “Pacotilha” quando da visita deste no Maranhão em 1906, o redator terce em
um subtítulo denominado “Os planos de Grandeza do Dr. Benedito Leite” o perfil
megalomaníaco do então governador do Maranhão, ouçamos um trecho da carta :
79
VIVEIROS,op. cit. p.196.
80
Ibid., p. 78.
81
À memória do Dr.Benedito Leite.Homenagem das escolas. Maranhão, S. ed. 1909. p. 07.
82
Ibid., p. 22.
83
Ibid., p. 27.
42
Está o Dr. Benedito Leite de certo tempo a esta parte tomando dum
verdadeiro delírio de grandezas... E uma das manifestações dessa lacuna
está, para o acreditarmos sinceramente neste ponto, no plano phantastico
dos melhoramentos que fala S.S em introduzir em nosso Estado.
S. Luiz, segundo esse plano, rivalizará questão de mezes, com as mais
adiantadas capitais do mundo. << Será uma outra Nova York!.. Será a nova
York da América do Sul!...>>.
Tudo o que a civilização e o progresso tem espelhado, a mãos cheias, pela
orbe, nós vamos também possuir... Caminhos de Ferro que contem o
estado do Septentrião ao meio dia, do oriente ao ocidente; iluminação
elétrica bondes elétricos... - qual bondes elétricos?...-<< isto é
melhoramento que os outros estados possuem...vamos ter coisa muito
superior e que será gloria nossa, muito nossa, porque a instituiremos antes
de qualquer outro Estado...Vamos ter ...( segredo inteira reserva), vamos ter
o serviço de locomoção todo elle feito automóveis!...>>; água canalizada e
eletricidade; um sistema de esgottos segundo os últimos processos; [...]
84
Grudada as devidas proporções e veracidade das promessas atribuídas a
Bendito Leite que estamos falando do Jornal “Pacotilha” que na época
representava um dos principais órgãos opositores do governo, podemos afirmar que
em parte o discurso do redator da carta contempla em alguns pontos aspirações do
estadista. No que diz respeito à criação de uma malha férrea no estado Benedito
Leite ainda no senado apresentou o projeto para a construção da estrada de ferro
São Luís-Caxias que até a sua morte teve concluso apenas um pequeno trecho.
Em mensagem apresentada ao congresso do estado no ano de 1908 o
Governador Benedito Leite assim se refere sobre a construção da estrada:
Entretanto dominado pela ilimitada confiança que deposito no patriotismo e
na orientação do eminente brasileiro que dirige os destinos do paiz, tenho a
satisfação de conseguir aqui um facto que enche da mais viva esperança a
alma do povo maranhense. Refiro-me à estrada de ferro S. Luiz a Caxias,
com um ramal para o porto do Itaqui, auctorizada pela lei número 1329 de
Janeiro de 1905 e a obra daquele Porto.
85
Para Benedito Leite a construção da estrada possibilitaria acabar de vez
com a interrupção de comunicação do interior do estado que ameaçava, segundo
ele, de “morte o comércio, a indústria e as lavouras do estado e das regiões
limítrofes do Piauí e do Goiás”
86
.
84
Um trecho da história política do Maranhão (1890- 1906). A Pacotilha. Carta aberta ao Ilmº Sr. Dr.
Affonso Penna. Maranhão: Pacotilha, 1906.p.56-57.
85
LEITE, Benedito. Mensagem Apresentada ao Congresso Legislativo do Estado do Maranhão.
São Luís, 21de fev. 1908.
86
VIVEIROS, op. cit., p. 196.
43
Além de entusiasta do poder das locomotivas enquanto símbolo do
progresso, Benedito Leite vai ser bastante criticado pela imprensa oposicionista por
investir maciçamente na ornamentação e praças e reformas de prédios públicos na
capital. Em 1907, o Escritor Artur Azevedo sai em defesa do político em órgão da
imprensa nacional em “O País.” Na edição de 09 de agosto é possível visualizarmos
de que forma o intelectual rebate as críticas: “A um Maranhense ouvi dizer que o
Dr. Benedito Leite sacrificou todo o Estado ao Largo do Carmo, porque ele fez do
Largo do Carmo, que era feio, uma das mais bonitas praças do Brasil!”
87
.
Benemérito de Benedito Leite, Artur Azevedo tinha o governador como
amigo pessoal através do qual era beneficiado na capital federal tendo em vista o
prestígio com o qual o político gozava na cidade do Rio de Janeiro.
Mais tarde estes dois personagens serão protagonistas ativos do certame
realizado no Rio de Janeiro. Benedito Leite se apresentara na condição de
contratante do álbum de 1908 produzido por Gaudêncio, além de responsável pela
viabilização da participação do estado na Exposição Nacional. Artur Azevedo
será eleito júri da seção de artes liberais, na qual o álbum de Gaudêncio Cunha seria
premiado.
1.2 Um certo hálito de progresso
88
: a presença do Maranhão nas exposições
Dista de longa data a participação do Estado do Maranhão em exposições
tanto de cunho nacional como internacional, sendo as exposições uma ótima
oportunidade para o fomento do comércio e da indústria como bem observou um
eminente governante do estado ainda em princípios do século XX.
No ano de 1904 o então governador em exercício, Alexandre Colares
Moreira Junior, resolve nomear para representar o estado na exposição universal de
São Luiz nos Estados Unidos da América uma comissão de distintos cavalheiros que
foram encarregados de viabilizarem a participação do Estado naquele certame.
A participação do estado em eventos como esse garantia a este a
sensação de manter-se em consonância com as novidades do mundo civilizado e
moderno no qual Europa e Estados Unidos figuravam.
87
Jornal “O País”, 09 de Ago. 1907. in: VIVEIROS, 1957, passim.
88
Expressão extraída do editorial do Jornal dos Artistas, out. 1908.p.01.
44
O desejo de está sempre de os dadas com o progresso motivou em
princípios da segunda metade do culo XIX a criação da Sociedade Festa Popular
do Trabalho, organização que tinha como propósito fomentar eventos que
possibilitassem a exibição de artigos produzidos no Estado. Criada em 1871 a
entidade tinha como finalidade promover exposições de agricultura artes e
indústrias. Esta sociedade realizou seu primeiro ensaio de exposição no dias 10, 11
e 12 de dezembro no salão da câmara municipal, tendo como presidente do ato de
inauguração o então presidente da província, Augusto Olympio Gomes de Castro.
Segundo os organizadores, a exposição teria sido muito freqüentada,
sendo dividida em três seções, contudo nesta exposição não foi possível à
distribuição de prêmios, se restringido em fornecer apenas menções honrosas em
seu relatório aos expositores que se distinguiram durante o evento
89
.
A segunda tentativa de exposição realizada pela organização se realizou
nas instalações da casa dos educados artífices nos dia 15,16 e 17 de 1872, sendo o
evento mais desenvolvido e animado em relação ao primeiro, este contou com 66
expositores distribuíndo 71 prêmios. Ainda neste ano com retirada de muitos de
seus membros e o falecimento de outros a sociedade terminou por se desorganizar.
90
Contudo no dia 7 de setembro de 1905 a sociedade volta a reestruturar-
se com a iniciativa de Domingos de Castro Perdigão e vários representantes das
diversas classes sociais. Em sessão presidida por pelo Sr. Manuel Vieira Nina,
antigo membro da sociedade, a reunião aprovara então a reorganização da
“Sociedade Festa Popular do Trabalho.” De acordo com Domingos de Castro
Perdigão “vendo a necessidade que de animação para as nossas artes e
indústrias e de um auxílio para a agricultura e desejando fazer nascer o entusiasmo
pelo trabalho por meio do estímulo, tive a idéia de reorganizar neste Estado esta
utilíssima instituição.”[...].
91
A primeiro de Maio de 1906 a Sociedade Festa Popular do Trabalho
realizara a primeira exposição da recém reorganizada Sociedade, onde de acordo
com seu regulamento as exposições anuais seriam organizadas sempre no dia 1º de
maio, data em que se comemorava universalmente o dia do trabalho.
89
Exposição Festa popular do Trabalho. Diário do Maranhão. São Luis, 23 de Jun., 1906.
90
Ibid.
91
Op. cit. São Luis, 25 de Jun., 1906.
45
A exposição recebera do então governador do Estado, Sr. Benedito Leite,
todo o auxílio necessário para a sua realização, pondo inclusive a disposição da
sociedade o prédio da repartição de obras públicas para que fosse realizada a
exposição, o que foi rejeitado pela organização do evento por localizar-se um tanto
distante do centro da cidade, para solucionar o problema o sócio Alfredo Fernandes
Paz colocou a disposição da comissão diretora a casa onde funcionava o externato
Gonçalves Dias, localizada à Rua da Cruz 66 canto com a Rua Coronel Colares
Moreira, onde de fato se realizou o evento.
92
Assim noticiava o jornal Diário do Maranhão sobre a abertura da
exposição:
[...] Às duas Horas da tarde do dia 1º de maio acham-se presentes a
comisssão diretora, o Sr. Inspetor da instituição publica diversos senhores
representantes das classes artísticas e industriais, diversos sócios da
sociedade e muitos visitantes, assumio a presidência o coronel Manuel
Vieira Nina, presidente da Assembléia Geral, que declarou aberta a sessão,
usando então a palavra o Sr. Domingos Perdigão, vice-presidente da
comissão diretora, que depois de mostrar as vantagens da exposição
agradeceu aos expositores que accudiram ao appelo da sociedade aos
presentes, ao governo do estado pela boa vontade que mostra de auxiliar
tão útil instituição e finalmente aos seus companheiros de lucta pelo leal e
franco concurso que lhes prestam.
Então o senhor presidente declarou aberta a “Exposição da Festa Popular
do Trabalho” no corrente ano, tocando nessa ocasião a banda do corpo de
polícia do Estado o Hynno do Maranhão, que foi ouvido de pé por todos.
A exposição estava dividida em 3 secçoes. A seção das bellas Artes, que
ocupava a sala da entrada à esquerda offerecia um aspecto agradável pela
arte e gosto na collocação dos diversos quadros de desenho, aquarellas,
pinturas a óleo, retratos á crayon, ampliações photográficas, photographias,
flores artificiais, bordados, escultura em mármore e em madeira, etc, etc.
[...].
93
Além da seção de Belas artes, única descrita na matéria acima, a
exposição também contou com a seção de Artes Industriais e Agricultura. Na seção
de artes Industriais foram expostos com os mais diversos produtos como: sapataria,
produtos de padaria, trabalhos tipográficos, alfaiataria, tabacarias, tecidos, frutas em
conserva, doces, vinhos, licores, chapéus, obras de ferro batido, ourivesaria etc.
94
em relação à seção de Agricultura o redator do jornal Diário do
Maranhão pergunta-se de forma irônica sobre esta secção, perceba de que maneira
este manipulara a sua fala:
92
Op. cit. São Luis, 27 de Jun., 1906.
93
Exposição Festa popular do Trabalho. Diário do Maranhão. São Luis, 23 de Jun., 1906.
94
Op. cit. São Luis, 27 de Jun., 1906.
46
“E a Agricultura?
“vimos umas bonitas canas cultivadas aqui na ilha, umas fructas de
cacau e garrafas com aguardente de cana.”.
95
Durante o período em que esteve aberta, a exposição recebeu diversas
autoridades, inclusive o Governador do estado e sua família, seguido do Intendente
municipal Alexandre Colares Moreira Junior. De acordo com matéria do jornal Diário
do Maranhão o governador mostrou-se satisfeito pelo resultado obtido na exposição
apreciando detidamente os vários objetos expostos.
96
A freqüência total durante todo o período em que esteve aberta foi de
2.743 pessoas, sendo adultos: 1985, crianças: 418, sócios: 43, expositores: 237,
sócios expositores: 86, e 21 autoridades. A exposição concedeu ao todo 113
prêmios, sendo 3 grandes prêmios, 85 de lugar, 42 de 2º, 28 de e 5 de 4º. A
exposição encerrou suas atividades no dia 13 de maio de 1906
97
.
Na prática a exposição da Festa Popular do Trabalho, serviu como um
grande ensaio para a participação do Estado do Maranhão na grande Exposição
Nacional de 1908. Não causou surpresa, o fato dos diversos atores sociais
envolvidos na organização do evento de 1906 reaparecerem no contexto de 1908, à
frente da organização mais uma vez irão estar o então governador Sr. Benedito Leite
e Domingos de Castro Perdigão, responsável pelo ressurgimento da Sociedade
Festa Popular do Trabalho, o que, certamente, lhe garantiu o respaldo para está à
frente enquanto comissário responsável por viabilizar a participação do Estado no
certame de 1908.
A Sociedade Festa Popular do Trabalho, também foi responsável pela
realização da Exposição de 1912 em São Luis, realizada com o intuito de
comemorar os trezentos anos da fundação Francesa de o Luis. Nesta exposição
também esteve à frente da organização Domingos de Castro Perdigão. Em discurso
pronunciado durante a abertura deste certame, Perdigão se colocava juntamente
com seus pares, um dos poucos a lutar pelo progresso de sua terra. Em seu
discurso ao se referir aos poucos franceses que fundaram a cidade de São Luis em
1612, Perdigão assim se pronuncia:
95
Ibid.
96
Ibid. p.01.
97
Ibid.
47
[...] Eram poucos disse eu; poucos também somos nós os membros da
Sociedade ‘Festa Popular do Trabalho’, e temos que luctar contra o
indifferentismo, a falta de compreensão do nosso ideal e a despreocupação
do povo pelo progresso desta terra. E se elles conseguiram mostrar aos
indígenas como se principiava a edificar uma cidade, nós queremos ter a
vaidade de continuar a desbravar o caminho do progresso, que foi iniciado
pelos fundadores da sociedade promotora da exposição que hoje se
inaugura
98
...
Sobre a escolha de Domingos Perdigão para delegado responsável por
viabilizar a participação do estado do Maranhão na exposição Nacional de 1908 o
jornal “O Maranhão” tece pesadas críticas.Observe o que diz parte da matéria:
[...] Não sabemos se os srs. Domingos de Castro Perdigão e Oscar Wilson
da Costa são definitivamente nossos delegados, ou apenas auxiliares, dos
representantes que ainda hão de ser nomeados.
Não temos má vontade a esses dignos moços, mas achamos que elles não
teem as habilitações precisas para dadresm desempenho cabal à missão
que lhes foi confiada, segundo corre, de de nossos delegados na
Exposição.
Podem ser optimos auxiliares, mais nunca bons delegados.
A nomeação destes dous cavalheiros obedeceu a planos de economia por
parte do governo?
Não temos no Estado e na capital Federal, tanto maranhense illustre, que
com brilho e sem remuneração alguma, aceitasse a honrosa incumbência?
[...]
99
A matéria segue listando possíveis nomes de intelectuais, autoridades e
maranhenses ilustres que poderiam ser nomeados sob pena do estado se colocar
em posição de inferioridade frente aos outros estados da federação “O Maranhão, o
Estado, não deve ficar na retaguarda dos outros Estados, porque assim o exigem o
amor, o brio e a dignidade dos seus filhos”
100
.
Visando justificar a sua escolha por parte do governo, Perdigão diz que ao
ser chamado para conferenciar com o Governador Benedito Leite, declarou que
considerava tais encargos superiores às suas aptidões o que segundo ele o
governador teria replicado reconhecendo toda dedicação que este teria empregado
para o ressurgimento da Sociedade festa Popular do Trabalho. No dia 11 do mês de
98
BARROS, Valdenira. Imagens do moderno em São Luís. São Luís: Estação em movimento:
2001. p.24.
99
O Maranhão na exposição. O Maranhão. São Luís, 24 de junho de 1908.
100
Ibid.
48
setembro, Perdigão integrou a comissão da repartição de Obras Públicas, viação,
Indústria, Terras e Colonização.
101
Creio não se tratar de economia a escolha dos nomes a cima para
representar o estado na organização do evento, pois para prestar os “relevantes”
serviços, Domingos de Castro recebeu, além de seus vencimentos normais, uma
gratificação mensal no valor de seiscentos mil réis (600:000), enquanto que seu
auxiliar Oscar Wilson, trezentos mil réis mensais a contar da data que
desembarcaram da capital. Os dois receberam ainda respectivamente a quantia de
um conto de réis e de quinhentos reis para despesas de suas instalações
102
.
Para as despesas necessárias, o governo autorizou através da lei 478
de 11de abril de 1908, um crédito no valor de dez contos de réis (10:000$000) “para
que o Estado tome parte na Exposição Nacional que deverá realizar-se no corrente
anno na Capital da Republica.
103
Em seu relatório confeccionado para ser apresentado ao “eminente”
Benedito Leite, o que não foi possível devido ao seu desaparecimento entre os
vivos, Domingos Perdigão descreve com minúcias como se deu a preparação,
mobilização e organização do estado para participar do certame de 1908.
Após eleger como comissários propagandistas no estado os senhores
Salomão Damasceno Ferreira e o Capitão reformado do corpo de infantaria
estadual, Eleutério Luiz da Rocha (ambos indicados por Perdigão), o governo tratou
de enviá-los para as seguintes zonas: o primeiro tinha a missão de percorrer a zona
compreendida entre os rios Itapecuru e Parnaíba; o segundo para a zona do norte
desde Tury-assú indo até a cidade de Guimarães. (PERDIGÃO, 1910, p.06)
Salomão Damasceno partira em 27 de outubro percorrendo lugares como:
Rosário, Itapecurú-Mirim, Coroatá, Conceição, Codó, Caxias, Engenho d’agua,
Flores, Curralinho, Brejo, Santa Quitéria, São Bernardo, Porto da Repartição,
Arayoses e Tutóia, retornando a São Luis em 26 de dezembro de 1907.(PERDIGÃO,
1910, p.6)
o comissário Eleutério Rocha partiu em princípios de dezembro
percorrendo os municípios de Guimarães, Cururupu, Tury-assú, e os lugares a Alto-
101
PERDIGÃO, Domingos de Castro. O Maranhão na Exposição Nacional de 1908. Relatório
apresentado ao Exmº Sr. Américo Vespúcio dos Reis, Presidente do Congresso Legislativo, no
exercício do cargo de Governador do estado. Maranhão: Imprensa oficial, 1910.
102
COLEÇÃO DE LEIS, PARECERES, RESOLUÇÕES DO CONGRESSO, DECRETOS E
DECISÕES DO ESTADO DO MARANHÃO. São Luís 22 de abril de 1908.
103
Ibid.
49
Tury, Alto-Gurupy, Maracassumé, Curucaua e Colônia Amélia. Segundo Perdigão
este comissário que retornou em Fevereiro de1908 trouxe logo consigo grande
quantidade de produtos adquiridos por conta do Estado. Este foi elogiado pelo
governo por mostrar bravura arriscando-se a ir “extrair nas nossas mattas virgens, só
habitadas por indígenas e animaes bravios, o rico minério de ouro e a preciosa
colleção de madeiras que trouxe.” (PERDIGÃO, 1910, p.06).
A Domingos de Castro coube a propaganda dos municípios próximos a
ilha como Alcântara, São Bento, Villa de Pinheiro, povoação Macapá e Palmeira.
Perdigão diz ter lamentado não poder ter percorrido todas as regiões do estado para
que assim pudesse dar as informações necessárias que muitas vezes foram-lhe
solicitadas durante a sua estadia no Rio de Janeiro.
104
A partir da relação das cidades percorridas é possível contatarmos a
precariedade das vias de locomoção no Estado. O maranhão no início do século XX
era um estado que necessitava da construção de estradas, sendo a comunicação
entre as diversas regiões feita basicamente a partir das navegações fluviais e
marítimas.
Economicamente agrário e extrativista, o estado conseguiu levar poucos
produtos verdadeiramente industrializados, se restringindo a enviar além dos tecidos
produzidos pela indústria fabril da capital, muitos produtos em sua maioria
manufaturados ou produzidos por hábeis artesãos.
No mês de fevereiro de 1908 os produtos começaram a chegar do interior
do estado, sendo todos encaminhados para a sede do edifício da repartição de
obras públicas localizada na Rua da Estrela nº 70, para serem catalogados e
embalados. Pela imprensa local é possível percebermos a mobilização das pessoas
que desejam participar do certame:
Exposição Nacional
“Continuam a ser recebidas na repartição de obras públicas, à rua da
Estrella nº 70, os produtos destinados à Exposição Nacional, que se
realizará, na capital da Republica, em junho deste anno.
Nesta semana foram recebidas mais os seguintes produtos:
Antonio de Azevedo Gulardt, do Município de Guimarães, Fazenda bom
Jesus - Um Caixão com 24 garrafas de aguardente de canna capim,
Alexandre Colares Moreira Nina, 3 caixas com 12 dúzias zias néctar de
caju, Candido ribeiro & Comp., um Mural de Madeira polido e
envidraçado,contendo diversas peças de fazenda, preparadas na fábrica de
tecidos Santa Amélia e algodão tinto em ram e fio tinto, na fábrica São Luis.
104
Ibid. p.6.
50
A repartição encarregada da classificação e acondicionamento dos
produtos, pede aos expositores que desejarem enviar os mesmos
encaixotados todos, que segurem as tampas dos caixões com parafuzos e
não pregos, para facilitar a abertura e conserva-los perfeitos para sua
reexpedição, bem assim que façam a remessa por todo o próximo mez de
abril, por que em maio serão enviados para o Rio de Janeiro de acordo
com o artigo 7º do regulamento da expedição de productos.”
105
Por ocasião do período de propaganda no interior do estado, muitos
produtores alegaram não disporem de recursos para participarem do certame de
forma independente, neste sentido o governo do estado percebendo a
impossibilidade de muitos fabricantes em disponibilizar seus produtos, decidiu por
conta própria, adquirir boa parte dos objetos que seriam exibidos no evento, tais
como: veis e pinturas. Estes após a exposição serviram para mobiliar o palácio
do Governo do Estado
106
.
Contudo a Exposição Nacional de 1908 mostrou-se bastante significativa
para muitos entusiastas, sejam eles homens blicos, ou até mesmo empresário do
ramo de calçados. Por ocasião da exposição de 1908 o comércio da capital
maranhense aproveitava-se do evento para inclusive propagandear seus produtos
como insinuava este anúncio no jornal “A Pátria” de 28 de maio de 1908: “Não é
somente no Rio que exposição, na Sapataria Pinto também está aberta a visita
pública uma notável exposição de calçados para homem, senhoras e meninas
[...]
107
.
Fora grande o número de produtos enviados pelo estado do Maranhão
nas quatro seções em que esteve dividida a Exposição, tendo o Estado participado
de todas. Na secção de agricultura, o Estado obteve sua melhor colocação ficando
em oitavo lugar. De acordo com Perdigão “Apesar de decadente e desanimada a
nossa agricultura representou-se brilhantemente na Exposição[...].
108
Ao se referir aos produtos maranhenses, Perdigão enfaticamente
supervaloriza os produtos que mereceram destaque nesta seção, no Maranhão não
se produz simplesmente algodão, mas sim “o melhor algodão do mundo.”
109
105
Exposição Nacional. A PACOTILHA. São Luís. Sábado, 28 de Março de 1908.
106
PERDIGÃO. Op. cit. p.13.
107
Exposição. São Luís. A Pátria, de 28 de maio de 1908.
108
PERDIGÃO. Op. cit. p.28.
109
Ibid. p. 28.
51
Em relação aos produtos expostos pelo estado nesta secção ganharam
destaque: o açúcar cristal de cana, cultivada segundo perdigão pelos modernos
processos de culturas no engenho d’agua, o algodão, o fumo e o arroz.
110
Sobre esta secção ainda, Perdigão faz questão de destacar em seu
relatório que. “[...] a não ser o laborioso estado da Bahia, a quem coube o 4º lugar,
todos os outros do norte ficaram em plano inferior ao Maranhão, na secção de
agricultura.”
111
na secção de indústria pastoril o estado do maranhão participou
apenas com dois exemplares de raça cavalar que foram enviados por compra do
governo do estado. Devido à dificuldade com transporte, Perdigão justifica que o
Estado ficou impossibilitado de enviar exemplares da raça bovina, obtendo nesta
seção sétimo lugar.
112
No que diz respeito à secção de artes liberais o número total de prêmios
obtidos pelo Estado foi 163, ocupando este a décima primeira colocação. Nesta
secção mereceram destaque, os “magníficos” móveis de luxo expostos pelos
senhores Jo Maria de Lima & Filho e domingos Monteiro de Souza, que
mereceram de acordo com Perdigão, as melhores recompensas do júri da
exposição, os tecidos das fábricas de São Luis, as redes de São Bento, três quadros
formados com delicadas flores artísticas, rendas, bordados, conservas de frutas
nativas, vinhos de caju, sapato-botina, motor com caldeira, chumbo de munição e
pregos da fábrica de chumbo, uma vastíssima coleção de tintas para escrever, e
etc.
113
Na quarta e última secção, de acordo o nosso comissário, mereceram
destaque o “Grande álbum de Photographias do Estado do Maranhão, o maior que
esteve na exposição e que foi geralmente elogiado alcançando o seu expositor o Sr.
Gaudêncio Cunha, um grande prêmio, [...]”
114
O álbum do Maranhão foi de fato não só elogiado, como chamou bastante
atenção dos visitantes maranhenses que se fizeram presentes nas salas que
abrigara os produtos do maranhão. Segundo Perdigão, um dos visitantes ilustres
que demonstrou entusiasmo pelo álbum, foi o Arthur Azevedo, que na última vez que
110
Ibid. p. 29.
111
Ibid. p. 29.
112
Ibid. p.31.
113
Ibid. p.33.
114
Ibid. p.35.
52
visitou as instalações do Maranhão antes de ter falecido, examinou detidamente
todas as 220 fotografias que compunha o álbum e teria pronunciado as seguintes
palavras “Cheguei agora do Maranhão, Está muito melhorada a minha terra, mas eu
ainda a conheço bem.”
115
Além do álbum mereceram destaque ainda na secção os trabalhos
tipográficos e fotogravuras do Sr. Gaspar Teixeira & Irmãos e a coleção de obras de
autores maranhenses.
116
O governo estava mesmo disposto a angariar todos os esforços para
garantir a participação do estado no certame. Perdigão afirma que ao conferenciar
com o governador quando este o convidara para ser o comissário do estado, afirma
que o governador mostrou
117
:
O quanto lhe doía o não poder por desde logo, sua terra natal ao lado dos
mais prósperos estados do Brazil, e declarou-me, com uma convicção
assombrosa : estar disposto a arriscar todos os interesses, quer
particulares quer políticos, todas honras e posições, tudo a bem do
progresso do seu querido Maranhão!
Sobre o empenho do governo em viabilizar a participação do Estado, o
jornal “O Maranhão,periódico oposicionista do governo que circulava em são Luis
em 1908, publicou em um de seus editoriais a seguinte anedota criticando a postura
do governo em mobilizar todos os esforços em detrimento de outras necessidades
pendentes
118
:
[...];- dias subiram as escadas do velho e falido Thezouro do Publico do
Estado, ao mesmo tempo dois credores precisados.
Um ia reclamar o preço de um trabalho que o desgovernador lhe
encomendara para a Exposição, e o outro velho servidor do estado, ia
implorar. (e o outro) quase pelo amor de Deus, o pagamento de um mez, ao
menos dos seus vencimentos atrazados mais de um anno.[...]Para
decidir a difficuldade, o inspetor dirige-se ao telefone da casa , liga para o
palácio do Governo narrando as peripécias ao Eminente Estadista:
[...]Fulano de tal, velho e doente, cheio de necessidade, veio pedir-me o
pagamento em atrazo, allegando que está prestes a morrer de fome, e
fulano de tal artista, estabelecido em tal parte,veio cobrar o preço de uma
tela que preparou para a Exposição, por ordem de V. Exc. Diga-me a quem
devo pagar de preferência.
___ As encomendas para a exposição são sagradas. Pague o artista! [...]
115
Ibid. p. 23.
116
Ibid. p. 35.
117
Ibid. p. 04.
118
O Eminente e a Exposição.O Maranhão,São Luís, 14 de maio de 1908.
53
Mesmo com todo esforço do governo em elevar o conceito do Maranhão
dentre os outros Estados da federação, a realidade parecia eminente, o estado
dispunha de poucos produtos industrializados para serem expostos, salvo os tecidos
das indústrias têxteis locais, praticamente mais nada de industrioso existiria em
terras maranhense. Sobre esta matéria alguns jornais oposicionistas do governo
foram implacáveis frente a situação em que o Maranhão se colocava. Numa longa
matéria sobre a história das exposições, o jornal “A pacotilha foi bastante enfático e
direto em relação a realidade do estado
119
:
[...] Da exposição Nacional do Rio de Janeiro virá, sem duvida , grande
vantagem para os Estados que ali exibem o que possuem para vender ,
estimulando o comercio tanto interestadual, como internacional, mas para
que esse rezultado se obtenha, claro é que cada Estado deverá expor o que
realmente possui de utilizável e de mercantil, e não objetos de mera
curiosidades e fantazia.
O Bom da expozição (o nome bem o diz) é fazer ver, conhecer, apreciar o
que cada Estado ou nação, ou fabricante, ou industrial tem de bom e de útil
e de vendável. Assim S. Paulo, Rio de janeiro, Minas Geraes, Rio Grande
do sul, etc. terão que expor suas riquezas gêneros que podem exportar, que
o vizitante pode comprar, tendo por amostra o specimen exibido ali.
Não se compreende assim que no Maranhão. Na maioria do cazos o que o
Maranhão vai expor no rio de Janeiro, são objetos de mera fantazia,
reveladores embora de apurado gosto e grande habilidade.
As críticas sobre os produtos e a participação do Maranhão na Exposição
do Rio de Janeiro não foram divulgadas somente pela Pacotilha, jornal publicamente
oposicionista do governo, mas também em outro periódico simpático à participação
do Estado no certame. Este, ao tentar rebater um boato que correu na cidade em
1908, propalado por pessoas provenientes do Rio acaba por nos oferecer um outro
contraponto à versão apresentada por Domingos Perdigão em seu relatório. A
matéria começa por elogiar a participação do Estado saudando inclusive a astúcia
deste frente aos ricos estados da federação como São Paulo e Minas Gerais que
apesar “[...] de abastados confiados na sua riqueza, pouco açodamento fizeram e
deram o que lhes sobejara, ao passo que o Maranhão revestio-se de duplo esforço
e, despido de orgulho e phantasia, deu tudo que de melhor possuía.”
120
. Entretanto
no final da matéria o jornal acaba por ter de sair em defesa frente aos boatos que
corria na cidade
121
:
119
A Exposição Nacional do Rio de Janeiro. A Pacotilha. Editorial. 01 de jun. 1908.
120
Na Exposição. Jornal dos Artistas. São Luís. Out. 1908.p. 01.
121
Ibid. p.01.
54
A principio pessoas vindas do Rio de Janeiro, pessoas que sem lucro algum
teem o mau vezo de diffamar a terra em que nasceram, e de que esta
eivado o mundo - dizem que o Maranhão estava fazendo figura péssima na
Exposição, servindo apenas de galhofa aos espectadores, que os moveis
procedentes daqui estavam em canto cobertos com umas redes sujas de
poeira, que só abriram uma caixinha de bordados por que sabiam que
tinham ido daqui, que o retrato do nosso “eminente” estava em um quadro
toscamentefeito de paozinhos e dentro de um armário sem vidraça. [...]
Apesar disso, a repercussão sobre a participação do estado do Maranhão
na imprensa nacional foi de certa forma elogiosa, muito embora tenhamos que
ponderar a seleção feita pelo senhor Domingos Perdigão, que certamente só anexou
em seu relatório as que trouxeram boas referências sobre o Estado. Em sua
reportagem do dia 13 de agosto de 1908, o jornal “O Paiz” assim se pronunciou
sobre o estado: “A exposição do Maranhão, colocada na ala esquerda do andar
superior, é uma das mais completas, como mostra de recursos naturaes e
industriaes característicos da região.”
122
No quadro geral de prêmios o estado do Maranhão obteve o décimo
primeiro lugar com 219 prêmios no total, ficando o estado atrás dos estados do
Amazonas, Rio de Janeiro, Pará, Santa Catarina, Minas Gerais, Rio Grande do Sul,
Distrito Federal, Bahia e São Paulo que terminaram em primeiro lugar
123
.
Terminara assim a participação do estado do Maranhão naquele certame
que se configurou como um dos mais importantes realizados no Brasil, onde a
Capital Federal se preparou com todas as pompas e distinções para receber
visitantes de todos os estados brasileiros traduzindo-se naquilo que Sandra Jathay
Pesavento denominou de uma “[...] metrópole moderna e apresentável, digna de ser
vivida e visitada.”
124
1.3 O Rio está na moda
Rio de Janeiro, treze horas do dia 11 de Agosto de 1908. A capital federal
amanhecera com um sol glorioso e radiante. Após a abertura dos portões na Praia
Vermelha, centenas de pessoas se dirigiram aos edifícios onde se encontravam
122
PERDIGÃO. Op. cit. p. 54.
123
Ibid. p.36.
124
PESAVENTO, Sandra Jatahy.O imaginário da cidade: visões literárias do urbano. Porto
Alegre: Universidade - UFRGS, 2002. P. 177.
55
expostos os produtos da grandiosa Exposição Nacional de 1908. Sendo
disponibilizado inclusive um portão especialmente construído para garantir a entrada
com segurança e tranqüilidade de autoridades, pessoas notáveis além de
convidados estrangeiros. Uma hora depois iniciou o discurso de abertura proferido
pelo Sr. Antonio Olyntho dos Santos Pires responsável pela organização da
exposição, seguido pelo ministro Miguel Calmon e pelo presidente da República, sua
excelência Dr. Afonso Pena, que destacou em seu discurso que aquele evento tinha
uma missão: “inventariar o País.
125
Para o ministro Miguel Calmon, a finalidade da Exposição Nacional de
1908 era fazer um balanço das riquezas do Brasil após a sua emancipação
econômica conquistada com a abertura dos portos ao comércio internacional. Tinha
o intuito de fazer “um verdadeiro inquérito sobre os recursos e o desenvolvimento
econômico do país”(...)
126
.
De acordo com Foot Hardman “Uma marca característica e derradeira das
Exposições: é seu caráter de celebração das efemérides nacionais ou
internacionais.”
127
A Exposição encontrava-se dividida em quatro seções: Agricultura,
Indústria Pastoril, Várias Indústrias, e Artes Liberais. Sua direção foi composta de
uma comissão compreendida de um presidente, um secretário geral, três vice-
presidentes e 36 membros, sendo enviado para todos os estados comissários para
garantir a agilidade no que diz respeito à divulgação e envio dos produtos. Para o
Maranhão e Piauí foi enviado o Dr. Sylvio Gomes Pereira.
128
Com uma área total que ocupou os exatos 182.000 metros quadrados, a
Exposição abrigou mais de 11.000 expositores com mais de 100.000 amostras. Logo
na chegada o visitante se deparava com um portão monumental de 25 metros de
altura, com 10 caminhos independentes. Iluminado com 8.000 lâmpadas
incandescentes e mais de 30 de arco a vapor de mercúrio. De acordo como relatório
do Ministro Miguel Calmon inscreveram-se nas quatro seções da exposição 11.286
125
HEIZER, Alda. O Jardim Botânico de João Barbosa Rodrigues na Exposição Nacional de
1908. Revista
Fênix. Rio de Janeiro, V. 04
nº. 3, Ano, p.03, setembro de 2007. Disponível em: <
http: www.revistafenix.pro.br.> Acesso em: 20 Mar. 2008.
126
ALMEIDA, Miguel Calmon du Pin. Relatório apresentado ao Presidente da República dos
Estados Unidos do Brasil. v. l. Ministério da Indústria, Viação e Obras Públicas. Rio de Janeiro:
Imprensa Nacional, 1909. p.01. v.1.
127
HARDMAN. Francisco Foot. Trem fantasma: A modernidade na selva. São Paulo: Companhia das
Letras, 1988. p. 60.
128
PERDIGÃO, 1910, passim.
56
expositores, divididos dessa forma: Agricultura: 1.640, Indústria: pastoril: 237, Várias
indústrias 6.503, Artes liberais: 2.286.
129
Coube ao engenheiro brasileiro, Dr. Sampaio Correia, a direção das obras
de instalação da Exposição, ficando este responsável pela preparação do terreno,
sua divisão em quarteirões destinados as ruas, praças, jardins e edifícios. Foi
erguido ainda um teatro, dois restaurantes, além da construção de um pavilhão para
máquinas, outro para a pecuária, outro para viaturas, e um palácio, posto à
disposição do governo português para a exibição de seus produtos. Estados como
São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Santa Catarina, e Distrito Federal informaram ao
Governo federal com antecedência que construiriam pavilhões privativos para a
exibição de seus produtos
130
.
Segundo o Ministro Miguel Calmon, várias nações além de Portugal,
demonstraram interesse em participar do certame nacional, sendo negado tal
pedido, devido o fato de tais concessões desvirtuarem aos propósitos
comemorativos da Exposição, retirando assim o seu caráter nacional. No entanto foi
concedido a qualquer nação estrangeira o direito de nela exibir seus produtos, estes
deveriam ser instalados em edifício separado, onde Estados Unidos e Alemanha,
por exemplo, trouxeram máquinas e matérias agrícolas para serem exibidos
131
.
A exposição durou precisamente 97 dias, ficando a disposição do blico
de 11 de agosto a 15 de novembro de 1908. Com uma freqüência de mais de um
milhão de pessoas, a exposição teria sido muito mais visitada segundo o ministro
Calmon, se não fosse à morte do rei de Portugal, figura ilustre que visitaria a
Exposição, e a epidemia de varíola que fez diminuir e muito a visitação
132
.
Em capítulo dedicado a reflexão sobre as Exposições Universais,
Francisco Foot Hardman
133
ressalta que “o que mais impressiona, contudo é o
número elevado de exibidores e, em especial de visitantes (...) indicando o forte
atrativo que representavam essas festas da modernidade, sua relevância econômica
e sócio-cultural.”
Iniciava-se dessa forma mais um certame na capital da República,
seguindo a mesma ritualística das grandes exposições universais realizadas em fins
129
ALMEIDA, Op. cit., p. 594.
130
Ibid. p.02.
131
Ibid. p.02.
132
Ibid. p.03.
133
HARDMAN. Op. cit. p.50.
57
do século XIX, esta cumpria mais uma vez a sua motivação primeira, basicamente
associada ao desenvolvimento industrial, funcionando como um verdadeiro palco
para o mundo burguês. “Procurando transmitir valores e idéias como a harmonia
entre as classes, a crença no progresso ilimitado e a confiança nas potencialidades
do homem (...).”
134
Para a historiadora Margarida Neves de Sousa “A exposição foi feita para
mostrar as reformas urbanas do Rio de Janeiro, que se via como uma Paris tropical.
A exposição era a teatralização de uma religião leiga que se chama progresso”
135
.
Segundo Jaques Le Goff a idéia de progresso, desenvolveu-se entre o
nascimento da imprensa no século XV e a Revolução Francesa, reconhecendo
Descartes como o teórico que teria lançado as suas bases. Para Le Goff o progresso
científico seria o principal promotor da idéia de progresso, sendo o século XIX o
grande irradiador de tal perspectiva. Para este “Os sucessos da Revolução
Industrial, do conforto, do bem estar e da segurança, mas também o progresso do
liberalismo, da alfabetização, da instrução e da democracia.”
136
Maria do Carmo Rainho, historiadora do Arquivo Nacional, se refere à
Exposição de 1908 como uma “espécie de vitrine de um Brasil que queria se mostrar
moderno e republicano. Queria se provar que o Brasil tinha resolvido problemas
de saúde pública, acabado com a escravidão e com os cortiços”
137
.
No boletim comemorativo da exposição Nacional de 1908 entregue aos
visitantes do evento, é possível percebermos as principais justificativas para a
realização do certame, “sendo destinada a marcar no caminho dos séculos o
primeiro estágio da vida do Brazil no mundo civilizado, sem dependência do vínculo
colonial que prendia o seu comércio nas relações internacionais (...)”
138
. Tal
justificativa se dava num contexto em que se desejava a todo custo livrar-se de
todas as associações com o período colonial, símbolo do atraso histórico com o qual
o país esteve imerso. Desejava-se a todo custo livrar-se de tais estigmas. Sedo o
regime republicano um incentivador de tais iniciativas.
134
PESAVENTO, Sandra Jathay. Exposições Universais: Espetáculo da modernidade do Século
XIX. São Paulo: HUCITEC. 1997. p. 42.
135
SOUZA, Margarida Neves de. As Vitrines do progresso apud FABIAN. Alessandra; ROHDE.
Bruno. Progresso e Modernidade: o sonho de uma nação. São Paulo. Revista Eclética, p. 05. Dez.
2007. Disponível em: < http: www.puc-riodigital.com.puc-rio.br>: Acesso em: 28 Mar. 2008.
136
LE GOFF, Jacques. História e Memória. Campinas-SP: Editora da Unicamp, 2002. p.257.
137
FABIAN, Alessandra; ROHDE. Bruno. Op. cit. p. 02.
138
DIRETORIA GERAL DE ESTATÍSTICA. Boletim Comemorativo da Exposição Nacional de
1908. Rio de Janeiro: Typographia da Estatística, 1908.p. v.
58
Jeffrey Neendell, estudioso do período denominado segundo ele de Belle
Époque tropical, afirma que “abraçar a civilização significava deixar para trás aquilo
que muitos na elite carioca viam como um passado colonial atrasado (...)
139
Se entendermos o conceito de civilização como pensa Norbert Elias como
sendo “uma grande variedade de fatos: ao nível de tecnologia, ao tipo de maneiras,
ao desenvolvimento dos conhecimentos científico, às idéias religiosas e aos
costumes”
140
podemos afirmar, segundo Neendell, que para os brasileiros do século
XIX e por conseguinte os do início do século XX que a civilização para estes, era a
França e a Inglaterra.
141
Outro objetivo do certame era apresentar “n’um quadro magnífico, a
imagem do progresso do Brazil, fazendo n’um século de apressada marcha o
percurso necessário para alcançar o gráo de cultura , que as antigas nacionalidades
attingiam em milhares de annos.”
142
Buscava-se neste período, como aponta os
idealizadores do evento, a todo custo colocar o país na marcha interrupta do
progresso com o intuito de “elevar o seu conceito no mundo civilizado.”
143
Criada para comemorar o centenário de abertura dos portos 1808, a
exposição foi criteriosamente planejada gerando grande expectativa nos estados
brasileiros que se preparavam para participar do certame, citemos a iniciativa do
governador da Bahia José Marcellino, que no início de 1908 aumentou o crédito para
construção do pavilhão do seu estado
144
.
Gilberto Freire em “Ordem e progresso”, obra que conjuntamente com
Casa grande e Senzala e Sobrados e Mocambos compõem a trilogia da tentativa de
entender o Brasil, destacou que: pairava sobre o País em princípios do culo XX,
uma “mística de progresso industrial,” referindo-se a Exposição Nacional como
sendo “carnavalesca; e cujo progresso era antes de tudo ficção que realidade.
145
Para Freire, a Exposição era uma “espécie de parada ou exibição de progresso
estritamente industrial e metropolitano.
146
139
NEEDELL, Jeffrey D. Belle Époque Tropical. Sociedade e cultura de elite no Rio de Janeiro
na virada do século. São Paulo: Companhia das Letras, 1993. p.70.
140
ELIAS, Norbert. O processo Civilizador: uma história dos costumes. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Editor, 1990. p. 23.
141
NEEDELL. Op. cit. p.49.
142
DIRETORIA GERAL DE ESTATÍSTICA. Op. cit. p.VII.
143
Ibid. p. VII.
144
DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO DO MARANHÃO. São Luís, 5 fev. 1908.
145
FREYRE, Gilberto. Ordem e Progresso. Rio de Janeiro: José Olympio Ed., 1974. p.474.
146
Ibid. p. 478.
59
Ouçamos a narrativa do autor em passagem de sua obra Ordem e
Progresso:
Aliás o ano de 1908 foi o ano da Exposição Nacional do rio de Janeiro; e
nessa exposição o Brasil procurou exibir o que de melhor se vinha
produzindo no País,numa demonstração de ser realidade brilhante o
progresso brasileiro de manufaturas e industrias. Inclusive águas minerais
engarrafadas.
Muitos foram os brasileiros do Sul, do Norte e do Centro que a exposição
atraiu ao Rio de Janeiro; e que desembarcaram, quase todos, de vapores
do Lloyd Brasileiro; alguns, dos vapores estrangeiros em que era chic viajar
dos estados para o Rio; vários, de trens vindos do Sul e de Minas. Os hotéis
se enchem desses brasileiros ávidos de ver não o que a Exposição
exibia nos seus pavilhões como as reformas que vinham modernizando o
Rio.
147
Havia certamente, como observa Gilberto Freire, a pretensão de se
mostrar um Rio de Janeiro civilizado, seguindo a lógica de reestruturação urbana
pensada pelo engenheiro Pereira Passos que buscou a todo o custo como bem nos
lembra Nedeell “o afrancesamento do Rio.”
148
Para Alda Heizer “A Exposição pretendia transparecer aos olhos do
mundo a imagem de uma República recém inaugurada, de homens livres, numa
cidade cartão-postal,(...)
149
De acordo com o jornalista José Reinaldo Castro Martins “uma das
causas motivadoras da montagem da exposição teria sido a necessidade de dar
visibilidade a esse novo Rio de Janeiro como cartão-postal do Brasil.”
150
Sendo a
Exposição Nacional o primeiro grande evento organizado pelo poder público depois
das reformas implementadas por Pereira Passos no início do século XX.
Em relação à presença da fotografia nas exposições, Maria Inez Turazzi
afirma que o final do século XIX representaria o fim de uma era para a história da
fotografia e das Exposições Universais, onde o cinema com sua dinâmica do
movimento roubaria da fotografia parte do seu encanto. Foi o que ocorreu de fato na
Exposição Universal de Paris onde o cinema teria sido a grande estrela do
espetáculo
151
.
147
Ibid. p. 474.
148
NEEDELL. Op. cit. p.55.
149
HEIZER. Op. cit. p.03.
150
MARTINS, José Reinaldo Castro. Passado e Modernidade no maranhão pelas lentes de
Gaudêncio Cunha. Dissertação de mestrado apresentada ao PPG em Ciências da Comunicação da
USP. São Paulo, 2008. p. 84.
151
TURAZZI, Maria Inez. Poses e trejeitos: a Fotografia e as exposições na Era do Espetáculo.
Rio de Janeiro: Rocco, 1995. p. 19.
60
Mesmo não gozando de todo seu prestigio conquistado desde seu
surgimento, a fotografia continuaria a encantar o público das exposições. Ainda em
princípios do século XX, nos salões da Exposição Nacional de 1908 sua presença se
fez de maneira a mobilizar um grande número de simpatizantes, sendo preocupação
constante dos governantes dos Estados participantes da exposição.
Além do Maranhão vários estados também se mobilizaram para a
confecção de álbuns fotográficos que representassem seus respectivos estados a
exemplo do estado de Santa Catarina como podemos visualizar nesta matéria
publicada no Jornal A Pacotilha:
Por occasião da Exposição Nacional de 1908 será publicado um Excelente
álbum Catharinenses revista dedicada por Carlos Reis ao Estado de santa
Catarina, com estudos especiais sobre política, finanças administração,
comercio, riquezas naturais, artes e navegação. O álbum mais vistas e
gravuras de todos os municípios e principais vultos do Estado. Para essa
importante publicação os poderes estaduaes e municipais tem concorrido
com grande auxílio pecuniário.
152
Ávido por livrar-se da representação pitoresca em vigor até fins do regime
imperial, o novo regime republicano esforçava-se por construir uma imagem do país
muito mais alinhada a um padrão civilizatório e modernizante. O Uso de fotografias
por parte dos estados expositores teria sido inclusive estimulado pelos
organizadores da Exposição Nacional de 1908.
Segundo Maria Eliza Borges, o ministro da Indústria, viação e obras
públicas ao redigir em 1907 as bases para a organização do certame, pelo Decreto
6.545 em 4 julho de 1907, Em seu artigo 8º, Parágrafo Único, definiu: “os
expositores deveriam, “sempre que possível, enviar photografias de fábricas, usinas,
campos de cultura, etc.”, para figurarem ao lado das exposições in natura dos
produtos nacionais.
153
Para Sandra Jathay Pesavento “A identidade do Rio de Janeiro, não
poderia ser construída em cima de uma cidade feia, imunda, perigosa, caótica. A
cidade [...] deveria refletir a imagem de uma urbe higiênica, linda e ordenada.”
154
152
Álbum de Fotografias. A PACOTILHA. São Luís, 6 de Março de 1908.
153
BORGES, Maria Eliza Linhares. Representações do Brasil Moderno para ler, ver e ouvir no
circuito dos Museus Comerciais Europeus, 1906 a 1908. História. São Paulo, v. 26, n. 2.
Disponível em: < http: www.revistabrasileiradehistória.br.
> Acesso em: 23 Mar. 2008.
154
PESAVENTO, Sandra Jatahy. O imaginário da cidade: visões literárias do urbano. Porto
Alegre: Ed. da Universidade - UFRGS, 2002. p. 169.
61
Neste sentido investiu-se na construção de boulevards e nas fachadas ecléticas ou
art-nouveau da Avenida Central.
É neste cenário idealizado pelas autoridades governamentais do país que
encontrei as múltiplas e possíveis razões pelas quais o álbum do Maranhão de 1908
foi idealizado e montado. A partir da capacidade de leitura de tal contexto foi
possível perceber aquilo que Pesavento denominou de “ethos moderno.
155
Compreendido enfim o ethos que conduziu as iniciativas realizadoras
daquele início de culo, acredito que, a construção de uma espécie de
mapeamento dos temas retratados, se faz necessário no intuito de perceber a
extensão e os imites de tais influências na realidade maranhense. Mais do que
identificar os temas preponderantes no álbum, no capitulo a seguir sepossível
compreender de que forma os mesmos formam formatados, ou seja, quais os
artifícios técnicos utilizados pelo fotógrafo.
155
PESAVENTO. Op. cit p. 161.
62
CAPÍTULO 2 - TRAMAS DO OLHAR: análise dos padrões temático-visuais
Era uma quarta-feira, 1 de junho de 1908, quando veio a público a notícia
de que o álbum do Maranhão ficara pronto. O principal jornal da capital maranhense
“A Pacotiha” destaca em suas linhas a incontestável habilidade do fotógrafo
Gaudêncio Cunha e seus auxiliares. Da mesma forma o Jornal a Pátria rende
elogios ao distinto fotógrafo e aos senhores Gregório Pantoja e Guilherme de Mattos
pela produção da obra.
Como bem observaram os jornalistas da época, o álbum pretendia
realizar uma espécie de síntese do Estado do Maranhão em seu aspecto estrutural
naquele momento: “[...] Repartições públicas, e seus compartimentos,
estabelecimentos commerciaes, margens de rios, portos, engenhos, em fim um
aspecto geral do Estado está nelle perfeitamente Photographado. [...].”
156
Contudo toda síntese pressupõe um recorte, ou seja, uma seleção,
seleção esta que certamente sofreu influência de seus autores e realizadores como
observa Jeziel de Paula:
A interferência conotativa na imagem não é exclusiva do operador da
Câmara, prevalecendo apenas o seu ponto de vista. Vários outros sujeitos
atuam de forma concomitante na operação, e a subjetividade ideológica do
fotógrafo não é o único elemento que compõe o universo da imagem
fotográfica, mas um entre vários.
157
.
Creio que este seja o caso do álbum do Maranhão, produto de múltiplos
agentes, sejam eles envolvidos diretamente em sua confecção e montagem ou
indiretamente ao corroborar com uma dada perspectiva ideológica.
O álbum como foi divulgado na imprensa do período foi confeccionado
com um objetivo de participar do grande certame ocorrido no ano de 1908. Sabendo
do caráter de tais eventos logo algumas perguntas me foram suscitas. Então pensei
nestas questões como se também fizesse parte da equipe responsável pela sua
confecção do álbum no período.
156
A pátria. São Luís, 01 de julho de 1908.
157
DE PAULA, Jeziel. 1932: Imagens construindo a história. Campinas/Piracicaba: Editora da
Unicamp/Editora da Unimep, 1998. p.32.
63
Neste sentido passei a refletir sobre as seguintes questões: O que deveria
ser retratado? Como deveria ser mostrado? Por que deveria ser mostrado? Tais
perguntas talvez tivessem sido preocupação também dos idealizadores do álbum.
Como discutido no capítulo anterior, o caráter de tais eventos seguia a
lógica que perseguia a todo custo à dinâmica do progresso alicerçado nas
conquistas promovidas pelos avanços tecnológicos. Contudo, considerando as
especificidades da realidade maranhense é preciso que sejam feitas algumas
ponderações devido ao contexto histórico vivenciado pelo Estado no período.
Como sugere o discurso político do período, o estado atravessava uma
grave crise econômica, a muito a bonança vivenciada na dita época áurea
158
da
economia maranhense vivenciada entre os anos de 1756 e 1820 do século XIX
parecia ter se esvaído.
A estratégia expressa no álbum parecia então construir uma imagem do
Estado e conseqüentemente da Capital a partir de suas potencialidades. Divulgar tal
potencial industrioso parecia retroalimentar a ideologia da singularidade
159
maranhense no contexto nacional, reforçando a idéia de que o Estado continuava
(pelo menos no plano simbólico) nos trilhos do progresso.
Justifica-se dessa forma o porquê do destaque no álbum, de muitos
motivos que fizessem alusão direta a tais potencialidades: a fábrica, o trilho, a
ferrovia, a locomotiva, as embarcações reportavam-se diretamente a tais
potencialidades e possibilidades de desenvolvimento.
A construção aparente do Estado e da capital parecia ganhar status de
verdade tomando-se a parte pelo todo como numa construção metonímica. O efeito
ilusório desses motivos cumpria muito bem o caráter pedagógico que estas imagens
costumavam evocar.
158
De acordo com o historiador Wagner Cabral da Costa a tradicional historiografia sobre a economia
do Maranhão cristalizou uma interpretação a cerca da evolução econômica do estado estando esta
dividida em três etapas: A barbárie - inicio da colonização portuguesa (1615-1756); A prosperidade-
inserção da economia maranhense à economia mundial com a exportação do algodão e arroz (1756-
1820) e por fim a decadência com a crise do sistema agro-exportador de 1820 até o final do século
XIX princípios do século XX. Ver: COSTA. Wagner Cabral da. Vai trabalhar vagabundo. São
Luís:Projeto de pesquisa em história, 1996. p.01.
159
A historiadora Maria de Lourdes Lauande Lacroax denomina de Ideologia da singularidade a
tendência de muitos intelectuais maranhenses em escreveram sobre a história da cidade e construir
certos epítetos no intuito de exaltar a história de São Luis como sendo uma experiência singular,
inigualável. LACROAX. Maria de Lourdes Lauande. A fundação francesa de São Luis e seus
Mitos.Sãoluis: Lithograf. 2000.
64
Tais evocações talvez conseguissem provocar em um leitor menos
avisado uma ilusão espetacular. Considerando as aspirações visionárias do governo
Bendito Leite, constatei que a seleção das imagens cumpria em parte o desejo de
seu contratante: exibir uma imagem de cidade que se encontrava nos trilhos do
progresso e civilização, na medida em que procurava perseguir tais ideais. Como
sugeriu Giulio Argan sempre existe uma cidade ideal dentro ou sob a cidade real,
distinta desta como o mundo do pensamento o é dos mundos dos fatos”
160
Busco neste capítulo deter-me na análise quantitativa das imagens
fotográficas identificando os padrões de recorrência temática e formal, sendo
estabelecido sub-conjuntos a partir do total de imagens.Tais conjuntos são
elaborados a partir dos temas selecionadas pelo fotógrafo.
O trabalho teve início com a identificação dos atributos icônicos e formais
de cada imagem fotográfica, a partir da confecção de grades interpretativas. Os
atributos icônicos dizem respeito aos aspectos figurativas das imagens, enquanto
que os atributos formais foram estabelecidos a partir da metodologia elaborada por
Solange Lima e Vânia Carneiro assim como da historiadora Zita Possamai. Dado as
semelhanças existentes no universo das pesquisas, adotei as mesmas
nomenclaturas de padrões existentes na pesquisa desta última, com exceção do
padrão retrato, que acrescentei como uma característica específica da minha
pesquisa .
Certamente, dado a especificidade de cada pesquisa, nem todos os
atributos utilizados pelas autoras supracitadas foram encontrados em minha
pesquisa, sendo utilizadas somente as variáveis encontradas nas imagens
fotográficas manipuladas por mim.
No que diz respeito as variáveis formais, os atributos levados em
consideração foram: O enquadramento das imagens, os arranjos dos motivos, a
articulação dos planos, os efeitos de valorização dos elementos fotografados e
por fim a estrutura dos elementos fotografados.
A quantificação das variáveis de cada unidade se deu a partir da
confecção de tabelas específicas, fazendo uso de uma metodologia estatística
tradicional, sendo cada elemento contabilizado sem a ajuda de programa específico
de computador.
160
ARGAN, Giulio Carlo. História da arte como história da cidade. São Paulo:Martins Fontes, 1998.
65
O processo inicial de quantificação se deu a partir da enumeração de
cada imagem fotográfica, presente na segunda edição do álbum do Maranhão,
recém publicada em 2008 em comemoração ao centenário da Academia
Maranhense de Letras.
O número total das imagens pesquisadas é de 143, restritas apenas as
que retratam a capital, São Luis, somando um total de 220 imagens que fazem parte
do álbum do Maranhão de 1908.
Seria oportuno lembrar que todas as imagens fotográficas encontram-se
devidamente legendadas, o que possibilitou neste capítulo, que levássemos em
consideração para efeito de análise, quatro legendas nas quais as fotos foram
extraviadas. Ainda assim estas estarão incluídas na proposta de quantificação dos
logradouros fotografados. Por fim não serão levados em consideração os motivos
que apresentaram-se abaixo de 2% de um total de 143 imagens.
2.1 Os temas fotografados
As escolhas do fotógrafo em relação ao que deveria ser fotografado
concentram-se basicamente na área considerada central no período, restringindo-se
a Praça João Lisboa em direção ao que hoje conhecemos como Praia Grande, local
onde se concentrava o grosso do comércio da capital devido a sua proximidade com
o Cais, com um percentual de 41,9% (60 fotografias). Estando esta área incluída na
área considerada a mais importante da cidade, onde o poder público costumava
concentrar a maior parte dos investimentos infra-estruturais.
A cidade no geral tinha dimensões pequenas sendo neste início de século
dividida por distritos. Palhano nos informa através da Lei nº 2, de 26 de dezembro de
1893 que a cidade esteve dividida em distritos, o que segundo o autor acabava
revelado o modo como a cidade encontrava-se hierarquizada. Sendo o primeiro e o
segundo distritos considerados áreas nobres, logo, estes eram os que mais
receberam atenção por parte do poder público. O primeiro distrito correspondia ao
seguinte trajeto:
Rua Grande, Canto da de São João, lado esquerdo, até o Largo do Carmo,
descendo pela rua do Quebra Costa do beco Boaventura, até a praia. Do
66
mesmo ponto de partida, pela de São João, lado direito, até a praia de S.
Tiago.
161
Não posso afirmar ao certo se a cidade naquele início do século XX
conservava a mesma estrutura de distritos, adotada em 1893. Contudo, comparando
a descrição da lei 2, com um mapa da cidade elaborado pelo professor Justo
Jansen Ferreira datado de 1912, observei que pelo menos no que diz respeito ao
primeiro distrito as delimitações descritas na lei e desenhadas no mapa, parecem
coincidir-se. Feito um levantamento estatístico acerca das fotografias que
representavam o Primeiro Distrito, constatei que 44% delas, concentravam-se nesta
área, num total de 63 fotografias.
lustração 1- Planta da cidade de São Luis 1912
Fonte: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO LUÍS,Secretaria Municipal de Urbanismo.
Rua Grande: um passeio no tempo. São Luis: Prefeitura Municipal; São Paulo: Pancron,
1992.
161
PALHANO, Raimundo Nonato Silva. A produção da coisa pública: serviços e cidadania na
primeira República. São Luís: IPES, 1988. p. 259.
67
Ilustração 2 - Detalhe da planta da cidade de São Luis 1912
Fonte: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO LUÍS,Secretaria Municipal de Urbanismo.
Rua Grande: um passeio no tempo. São Luis: Prefeitura Municipal; São Paulo: Pancron,
1992.
Reunindo as fotografias dos demais distritos ou bairros, observei que
estas procuravam retratar também os logradouros com melhor aspecto infra-
estrutural, concentrando-se em praças, ruas e avenidas dotadas de alguma
melhoria. Os demais bairros reunidos concentraram um total de 32,1% (46
fotografias) dos motivos fotografados. Alguns logradouros devido a uma melhor
contextualização espacial foram impedidos de serem contabilizados na categoria
centro ou bairro o que preferi chamá-los de logradouros indefinidos, estes
corresponderam um total de 21,6% (31 fotografias).
No que diz respeito à categoria tipologia urbana esta foi subdividida em
cinco conjuntos de imagens: ruas, avenidas, esquinas, praças e arrabaldes. As ruas
foram representadas por 10 fotografias, perfazendo um total de 6,9%. As Avenidas
por 6 fotografias, 4,1%; as esquinas foram fotografadas em maior número 20
fotos, correspondendo ao considerável percentual de 13,9%; As praças, também
foram representadas em 10 fotografias contabilizando 6,9% e finalmente os
arrabaldes da capital representado em 9 fotografias o que correspondeu a 6,2%. A
forte recorrência da retratação de esquinas certamente denota o alto grau de
circulação urbana nestas áreas.
Em relação à categoria abrangência espacial, as fotografias
concentraram-se basicamente nas vistas parciais, num total de 41,2% (59
fotografias); as vistas pontuais em menor escala 24,4% (35 fotografias). De
acordo com Possamai:
68
As vistas parciais propiciam tomadas abrangentes, contextualizando o
motivo principal e propiciando a visualização de uma variedade de
elementos (...). as vistas pontuais isolam o motivo principal, por vezes
descontextualizando-o, com a finalidade de valorização
.
162
Em se tratando de atributos referente à natureza adotei a denominação
paisagem para a vegetação que tenha sofrido qualquer intervenção do homem.
Neste sentido, no tocante a arborização constatei que esta se faz presente em
25,1% entre as fotografias, correspondendo a 36 fotos.
O aspecto paisagístico da cidade de São Luis naquele início de século
seguia o estilo francês que privilegiava praças plantadas e árvores que margeiam
vias publicas como o ajardinamento da Praça João Lisboa e arborização da Avenida
Maranhense recém aformoseada na administração do Intendente Afonso Henriques
de Pinho em 1904 (ver fotografia 5 p. 97).
Localizadas geralmente em frente a igrejas as praças forneciam a cidade
certo ar pitoresco, onde geralmente concentravam-se importantes casas comerciais
e residências de abastardas famílias ludovincenses.
163
Para a arquiteta Evelyn
werneck Lima “Desde os tempos remotos a praça sempre foi o microcosmo da vida
urbana, oferecendo a população das cidades possibilidade de lazer e de
convivência.”
164
Na categoria infra-estrutura/processos/serviços definida pelos
melhoramentos urbanos, merece destaque os itens Iluminação presente em 27,2%
das fotografias (39 fotografias) e Pavimentação com 32,8% (47 fotografias). Na
categoria Infra-estrutura/comunicação, os trilhos de bonde são destaque em 28
fotografias o que corresponde a 19,5% (ver fotografia 5 p. 97), os portos
aparecem de forma diminuta somente 5,5% num total de apenas 8 fotografias. A
supervalorização dos trilhos de bondes, certamente nos remete ao grau de
modernização vivenciado pela cidade. No entanto no caso de São Luis tal serviço ao
contrário de algumas capitais do país que a esta época já haviam renovado o
serviço, substituindo os antigos bondes puxados a muares por bondes elétricos, na
capital maranhense estes sobreviveriam por mais quase duas décadas.
162
POSSAMAI, Zita R. Cidade fotografada : memória e esquecimento nos álbuns fotográficos -Porto
Alegre, décadas de 1920 e 1930. 468p. Tese (Doutorado em História)-Faculdade de Filosofia e
Ciências Humanas-Universidades Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2005. p. 211
163
Nome dado aos nascidos na cidade de São Luis
164
LIMA,Evelyn Furquim Werneck. Arquitetura do espetáculo. Rio de Janeiro: Editora da
UFRJ,2000.
69
A partir da categoria estrutura/funções arquiteturais utilizada para
caracterizar os tipos de edificações existentes na cidade, foi possível constatar o
quanto à cidade ainda guardava traços notoriamente coloniais, consubstanciando-se
numa completa hibridez. O aspecto colonial das edificações foi verificado em 48
fotografias, 33,5% das imagens, enquanto que as edificações com traços
neoclássicos e ecléticos, este último em moda no período, foram contabilizadas em
45 fotografias 31,4%.
Os tipos de edificações que ganharam destaque nas fotografias da capital
foram às edificações publicas, correspondendo a 33,5% das imagens 48 fotografias,
seguidas das edificações eclesiásticas (Igrejas, capelas, Palácio Episcopal) que
aparecem em 11,1% das fotos (16 fotografias). As fábricas que simbolicamente
representariam o progresso econômico da cidade aparecem em 9% das fotografias
(13 fotos). Reuni ainda em um subconjunto as edificações comerciais e associações
que foram identificadas em 6,9% (10 fotografias) do total de imagens pesquisadas.
Por fim ainda no que se refere à categoria estrutura/funções identifique
um pequeno número de edificações particulares 4,8% (7 fotografias) estas, resumir-
se-iam a exemplares suntuosos de habitações aristocráticas.
Apesar dos recortes espaciais de Gaudêncio deterem-se em sua quase
totalidade aos artefatos urbanos como ruas, praças e edificações foi possível
identificar a presença de pessoas em uma grande quantidade de imagens. Tal
categoria segundo Possamai denota mobilidade e dinamicidade. Dentre as
fotografias pesquisadas a presença de pessoas foi identificada em mais da metade
das fotografias 53,8% (77 fotografias). Vale lembrar que a identificação de pessoas
em algumas imagens foi possível graças à ampliação das mesmas através do
recurso de zoom de meu computador doméstico. Nas imagens manipuladas a figura
masculina aparece em maior quantidade 39,1% (56 fotografias) enquanto que a
figura feminina foi encontrada em 20% das imagens (29 fotografias).
Outra presença constante nas ruas de São Luis são as crianças que as
contabilizei indistintamente entre meninos e meninas 18,8% (27 fotografias). É
importante ressaltar que boa parte das crianças encontravam-se desacompanhadas
da presença de adultos, 10,4% (15 fotografias).
Tentei identificar ainda, a presença de outros personagens nas fotografias
pesquisadas, utilizando-me das seguintes categorias: transeuntes, trabalhadores e
multidão. Considerei transeunte qualquer indivíduo que transite a pela cidade
70
seja ele homem ou mulher. No conjunto de imagens pesquisadas esta categoria
manifestou-se em 14,6 % (21 fotografias).
Em relação a trabalhadores foi contabilizado 13,9% (20 fotografias).
com relação à multidão, inclui nesta categoria, somente as fotografias que
apresentassem mais de dez pessoas reunidas em uma mesma localidade, sobre
esta categoria registrei a recorrência de 11,1% (14 fotografias) (ver fotografia 19 p.
108). Percentual a meu ver considerado pequeno já que esta categoria nos remete a
atribuição de sentido de alta dinamicidade nas grandes cidades.
A última categoria elencada por mim no que diz respeito ao temas
fotografados é a categoria elementos móveis/transporte, esta se faz presente em
11,8% das imagens (17 fotografias). Apesar de pretender-se moderna, a cidade
apresentada, na verdade encontrava-se com uma estrutura de transportes obsoleta,
contando com carros (no sentido primitivo do termo: carruagens), carroças, carros de
boi e bonde ainda puxado a burro. Com relação aos carros estes foi verificado
somente em 3,4% das fotografias (5 fotos).
A variável carroça ou carro de boi foi encontrada diminutamente nas
imagens somente 2% (3 fotografias). com relação as variáveis bonde e barcos,
ambas apresentaram um percentual também irrisório 2,7% (4 fotografias cada). O
baixo índice de recorrência de tais aparatos talvez demonstre o quanto à cidade
ainda apresentava uma estrutura de transporte deficitária.
2.2 Sobre como são fotografados os temas
Em “fotografia e cidade Solange Ferraz Lima e Vânia Carneiro de
Carvalho demonstram onde foi apanhada a base instrumental que lhes permitiram a
constituição dos chamados descritores formais. Para as autoras, foi através de “uma
bibliografia especializada em análise formal, gestada principalmente no campo da
historia da arte”
165
que foi possível chegar à elaboração dos atributos formais.Tais
165
LIMA, Solange Ferraz de; CARVALHO, Vânia Carneiro de. Fotografia e Cidade. Da razão urbana
à lógica o consumo. Álbuns de São Paulo (1887-1954). Campinas, São Paulo: Mercado das Letras;
São Paulo: FAPESP, 1997. p. 50.
71
atributos formais segundo Possamai “referem-se as opções técnicas e estéticas a
disposição do autor das imagens, o fotógrafo”
166
Os atributos formais encontrados na coleção de imagens que hora analiso
são: enquadramento, arranjo, articulação dos planos, estrutura e efeitos.
No que se refere a enquadramento identifiquei na coleção câmara alta e
ponto de vista do fotógrafo. A câmara alta é utilizada com o intuito de “preservar a
imagem de distorções produzidas no registro de edificações a partir do
posicionamento da câmera em ângulo reto com o chão e em planos elevados,
(...).”
167
Em meu conjunto de imagens tal recurso se fez presente em 27,2% das
imagens ( 39 fotografias) (ver fotografia 37 anexo p.142).
O recurso ponto de vista refere-se ao posicionamento do fotógrafo em
relação à cena urbana em foco (central, diagonal, ascensional, descensional).
Segundo Possamai “Esta escolha determinará o arranjo dos elementos contidos na
imagem, o grau de dinamicidade e estabilidade dada a imagem e a abrangência
espacial da tomada.”
168
Encontrei em meu conjunto de imagens, pontos de vista
central, diagonal e ascensional sendo irrisório o número de tomadas descencionais.
A utilização do ponto de vista central se deu em 12,5% das imagens (18 fotografias)
(ver fotografia 38 anexo p.142). O diagonal em 31,4% (45 fotografias) (ver fotografia
16 p.106) e o ascensional em 10,4% (15 fotografias) (ver fotografia 39 anexo p.143).
Em se tratando do registro de edificações identifiquei um numero significativo da
combinação ponto de vista diagonal com câmera alta 11, 1% (16 fotografias) (ver
fotografia 16 p.106).
Outro atributo utilizado pelo fotógrafo Gaudêncio Cunha, foi arranjo, este,
refere-se à forma de organização dos motivos figurativos nas imagens.
169
Em minha
pesquisa foram encontrados dois tipos de arranjos: cadência e profusão. O arranjo
cadência é caracterizado pela repetição de um mesmo elemento de forma regular na
imagem, o arranjo profusão é tido como um arranjo caótico definido pela
apresentação intensa e desordenada de um mesmo elemento na imagem
170
. No que
concerne a cadência, este foi encontrado em número significativo no conjunto 19,5
% (28 fotografias) (Ver fotografia 5 p.97), em se tratando de profusão este
166
POSSAMAI, Op.cit. p. 215.
167
LIMA ; CARVALHO, Op cit. p. 51.
168
POSSAMAI, Op cit. p.215.
169
POSSAMAI, Op. cit p.216.
170
LIMA ; CARVALHO, Op cit. p. 51.
72
manifesta-se de maneira bastante incipiente, apenas 2% das imagens (03
fotografias) (ver fotografia 21 p.110).
O atributo seguinte constatado por mim no conjunto se refere à
articulação dos planos, este, foi quantificado considerando somente a direção
(Diagonal, Horizontal, Centrípeta, Curva) e contigüidade espacial. Contigüidade
espacial caracteriza-se pela identificação de uma linha visual que atravessa todos os
planos da imagem, agindo como meio de unificação do espaço e valorizando o tipo
de especialidade do tecido urbano representado.
171
As direções, conforme Possamai
“orientam um ordenamento dos elementos contidos na imagem”
172
Em relação à direção, o sentido diagonal foi o mais utilizado pelo
fotógrafo, na hora de retratar edificações, sendo percebido em 41,9% (60
fotografias) (Ver fotografia 40 anexo p.143), a segunda direção mais recorrente foi
a centrípeta encontrada em 34,2% (49 fotografias) (ver fotografia 19 p.108).De
maneira também significativa foi encontrada a direção horizontal, presente em
15,3% (22 fotografias) (ver fotografia 41 anexo p.144). Em menor proporção no
entanto foi identificada a direção curva, apenas 6,2% (9 fotografias) (ver fotografia
10 p.100).
O penúltimo atributo identificado em minhas fontes foi estrutura, este
está relacionado aos atributos concernentes à articulação dos elementos
morfológicos da imagem em relação aos seus eixos perpendiculares e
diagonais
173
Em minha pesquisa optei por quantificar apenas o formato das imagens.
De maneira preponderante a opção de formato utilizada por Gaudêncio
Cunha em sua grande maioria se deu a partir da utilização do formato retangular
horizontal verificado em 83,9% das fotografias, (120 imagens). Quanto a retângulo
vertical este foi identificado em 15,3% (22 fotografias). Além destes dois formatos
acrescentei em estrutura o formato ampliado presente especificamente em minha
pesquisa. Tal formato foi utilizado de modo considerável no álbum servindo como
um recurso pelo qual o fotógrafo e organizador do álbum pôde dar destaque a
alguns logradouros da cidade, este foi verificado em 9% das imagens (13
fotografias).
171
LIMA ; CARVALHO, Op cit. p. 53.
172
POSSAMAI, Op. cit p. 216.
173
Ibid p.56.
73
Por fim em efeito foi mapeado entre os elementos figurativos que alteram
ou ressaltam partes da configuração original implícita nas imagens. Alguns atributos
de efeito encontrados na coleção foram: Contraste de escala, Inversão de escala,
Frontalidade, Atividade, Repouso ou pose.
De acordo com Possamai “o contraste de escala possibilita a valorização
de determinados elementos, ressaltando as diferenças reais de escala entre
ambos,”
174
no montante das imagens pesquisadas tal atributo se fez presente em
6,2% das imagens (9 fotografias) (ver fotografia 38 anexo p.142). Em se tratando de
Inversão de escala este “acentua diferenças irreais de escala entre
objetos”
175
apresentando-se em apenas 4,1% das imagens (6 fotografias) (ver
fotografia 12 p. 103).Com relação a frontalidade, este está associado a presença da
singularidade, encontrado em 5,5% das imagens (8 fotografias) (ver fotografia 42
anexo p.144). Já um dos efeitos encontrados de maneira abundante em minha
pesquisa foi atividade, este está ligado ao registro de movimento na imagem, e seria
representado pela ação de meios de transportes ou pessoas, traduzindo-se em
dinamismo. Nas imagens selecionadas por Gaudêncio, tal atributo foi utilizado em
20,2% das imagens (29 fotografias) (ver fotografia 19 p.108).
O último atributo referente a efeito encontrado em minhas fontes foi
repouso ou pose presente de maneira significativa num total de 73,4% das imagens
o que corresponde a 105 fotografias (ver fotografia 43 anexo p.145). Tal atributo
encontra-se caracterizado pela ausência de elementos móveis na composição
fotográfica, incluindo-se também nesse atributo os figurantes que pousaram durante
o ato fotográfico.
2.3 Os padrões temático-visuais
Para as historiadoras Solange Lima e Vânia de Carvalho padrão seria um
“grupo de imagens que expressa a maneira pela qual esses atributos visuais
articulam-se em torno de certos temas.”
176
174
POSSAMAI, Op. cit. p. 218.
175
Ibid. p.218.
176
LIMA ; CARVALHO, Op cit. p. 57.
74
Em sua tese de doutorado, a historiadora Zita Possamai afirmou que “(...)
guardadas as especificidades locais, o processo de modernização urbana pelo qual
passaram as cidades brasileiras entre fins do século XIX e primeiras décadas do
século XX reservaram características semelhantes, (...).” Neste sentido a mesma se
perguntou em que medida as escolhas dos fotógrafos e dos produtores visuais para
a elaboração de uma visualidade urbana também coincidiria?
Após analisar alguns estudos referente a álbuns confeccionados no
período, que retrataram diferentes cidades, posso afirmar de certa forma que sim. O
trabalho da historiadora Rosa Claudia Cerqueira Pereira que pesquisou sobre a obra
de alguns fotógrafos que atuaram na capital paraense entre o final do século XIX e
início do século XX pode servir de exemplo além de outros.
177
No que se refere a padrões, atributos icônicos e formais parece haver
uma constante na hora de representar as cidades neste período, consubstanciando-
se em uma verdadeira cultura fotográfica utilizada por diferentes profissionais em
diferentes regiões.
Como dito anteriormente identifiquei no Álbum produzido por Gaudêncio
Cunha padrões semelhantes aos encontrados nos álbuns pesquisados por
Possamai. Neste sentido, foram identificados cinco padrões na obra de Gaudêncio
Cunha: monumentalidade, circulação urbana, paisagem, infra-estrutura urbana e
retrato.
Nesta análise dos padrões, foram realizados cruzamentos entre alguns
atributos icônicos e formais no intuito de verificar de que forma os temas
preponderantes eram apresentados no álbum.
2.3.1-Monumentalidade
De acordo com Possamai o padrão monumentalidade compreende todas
as imagens de edificações “(...) realizadas a partir de tomadas restritivas, com efeito
177
Ver também: LOBO. Maurício Nunes. Imagens em Circulação: Os cartões postais produzidos na
cidade de Santos pelo fotógrafo José Marques Pereira no início do século XX. Dissertação de
mestrado apresentada ao PPG em História da UNICAMP. Campinas, 2004. Noemia Maria Queiroz
Pereira. Os caminhos do olhar: Circulação propaganda e humor,Recife 1880-1914. Tese
(Doutorado em História)-Universidades Federal de Pernambuco, CFCH.Recife, 2008.SANDRI. Sinara
Bonamigo. Um fotógrafo na mira do tempo Porto Alegre, por Virgílio Calegari. Dissertação de
mestrado apresentada ao PPG em História da UFRGS.Porto Alegre, 2007
.
75
formal de singularidade (...),” estas poderão ou não aparecerem isoladas do
contexto urbano.
Nas imagens concebidas por Gaudêncio observou-se que metade delas,
foram elaboradas a partir de um enquadramento que privilegiou o ponto de vista
central, tendo alguma frontalidade, e ponto de vista diagonal, sendo verificado em
55,5% das imagens (25 fotos) de um total de 45 imagens correspondentes ao
padrão monumentalidade. Tais tomadas em perspectiva valorizam a volumetria da
edificação o que certamente contribui para reforçar a idéia de grandiosidade ou
monumentalidade da edificação.
Dentre as fotografias inclusas neste padrão as que chamam mais atenção
são as diversas tomadas do Palácio do governo que reforçam a idéia de
grandiosidade de monumentalidade. Pois como afirma J.Teixeira Netto “A amplidão
exibe o poder de seu possuidor. E atemoriza.”
178
Em 24,4% (11 fotografias) foi verificado somente o atributo ponto de vista
central, enquanto que em ponto de vista diagonal fora contabilizado 17,7% (8
imagens).
Fora verificado ainda no conjunto monumentalidade as imagens
concebidas com a utilização do recurso mera alta, identificado em 22,2% (10
fotografias). Este recurso como descrito em item anterior refere-se às fotografias de
edificações a partir do posicionamento da câmera em ângulo reto com o chão e em
planos elevados. Outra combinação verificada foi a realização de tomadas com
edificações em ponto de vista central tendo alguma frontalidade com a utilização de
câmera alta, estes formam encontrados em apenas 8,8% das imagens ( 4
fotografias).
Nas fotografias incluídas no padrão monumentalidade verificou-se
também o número de transeuntes, os meios de transporte, assim como o número de
fotografias em que pessoas do sexo masculino e feminino se encontram no mesmo
enquadramento das edificações.
A presença de transeuntes em frente às edificações foi verificada em
22,2% das imagens (10 fotografias). No que se refere a presença de transportes a
recorrência foi de apenas 15,5 % (7 fotografias). Em relação à presença de pessoas
do sexo masculino foi verificada em um número significativo, 62,3 % das imagens
178
COELHO NETTO, J. Teixeira. A construção do sentido na arquitetura. São Paulo: Perspectiva,
2007 p. 65.
76
(28 fotografias), a presença de mulheres foi constatada em menor número 28,8%
(13 fotografias). Em sua grande maioria as edificações que concentravam o maior
número de pessoas eram geralmente repartições públicas como a Intendência
Municipal.
Das imagens incluídas no padrão monumentalidade a sua grande maioria
são edificações públicas, principalmente a sede do governo estadual recém
reformado e que teve sua fachada completamente modificada no governo de
Benedito Leite, portanto não sendo por acaso que o mesmo apareça retratado em
diversos ângulos. De um total de 43 imagens de edificações 17 são repartições
públicas 39,5% (17 fotografias).
Iniciado o período republicano a cidade não sofreu grandes mudanças em
suas feições arquitetônicas, contudo ao contabilizar as edificações incluídas no
padrão monumentalidade verifiquei que uma modernidade pretendida representada
pelo gosto arquitetônico Neoclássico e eclético, parecia ter sido sutilmente sugerida
pelos produtores do álbum do Maranhão, num total de 28 imagens de edificações
incluídas no padrão monumentalidade 19 fotografias de edificações públicas e
particulares retratavam motivos neoclássicos e ecléticos 67,8%. Entre as edificações
públicas e particulares excluindo as imagens de igrejas e edificações eclesiásticas
apenas 9 fotografias retratavam o motivo colonial, 32,1 %.
Nestor Reis Filho afirma que “A arquitetura da segunda metade do culo
XIX correspondeu em geral a um aperfeiçoamento técnico dos edifícios (...),”
179
sendo o Ecletismo a solução para tais propósitos. Este parece ter perdurado ainda
nas primeiras décadas do século XX como sendo o modelo arquitetônico mais
utilizado. Na cidade apresentada por Gaudêncio Cunha o gosto eclético aparece em
edificações de cunho residenciais localizadas em áreas de ocupação relativamente
recentes, como a imagem de um palacete particular localizado próximo a Praça
Gonçalves Dias no bairro dos Remédios.
Em seu livro História da casa brasileira A.C. Carlos esclarece que “Quanto
mais rica a sociedade, mais rápida a alteração de sua paisagem urbana e as
cidades pobres por isso mesmo continuaram a guardar seus antigos visuais”.
180
São
Luís em princípios do século XX parecia incluir-se neste postulado. No plano macro
179
REIS FILHO, Nestor Goulart. Quadros da arquitetura no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 1970.
p.154.
180
CARLOS, A.C. Historia da casa brasileira.São Paulo: Contexto (Repensando a História), 1996.
p. 47.
77
econômico lia-se inclusive no discurso oficial do governo o lamento da crise
atravessada pelo Estado que ressentia-se pelas grandes perdas econômicas
expressa na incapacidade do Estado de se desenvolver devido a inexistência de
mão-de-obra e de recursos infra-estruturais, o que pôde ser verificado na mensagem
apresentada ao Congresso Legislativo do Estado do Maranhão em 21 de fevereiro
de 1908:
Chamei a vossa atenção para o pouco desenvolvimento da vida econômica
do Estado, devido isso principalmente aos efeitos do regime da escravidão,
a falta de educação profissional para a exploração das indústrias e de
braços para o trabalho, às difficuldades do transporte e a carência de
iniciativa particular.
181
Apensar da tentativa dos produtores do Álbum de privilegiar as
edificações de gosto material mais atualizado para a época, nas tomadas de
edificações que fazem o mínimo de contextualização espacial, é possível perceber
que as edificações com características Neoclássicas e Ecléticas encontram-se em
minoria num universo onde a estética colonial parece dominar a cena de forma
preponderante. A urbanidade que se via era a do sobrado, como podemos constar
nesta imagem da casa comercial J. franco de Sá:
Fotografia 2 – Casa comercial de J. Franco de Sá.
Fonte: CUNHA, Gaudêncio. Maranhão 1908. São Luis: Edições AML, 2008.
181
Mensagem apresentada ao congresso legislativo do estado do maranhão em 21 de Fevereiro de
1908 pelo Exelm Sr. Dr. Benedicto Pereira Leite. p.5.
78
Repare que em meio a dois sobradões coloniais está à casa comercial
com motivos neoclássicos contrastando diretamente com estes, revelando dessa
forma as feições heterogêneas da cidade.
2.3.2 Circulação Urbana
Este padrão tem por finalidade identificar a presença de elementos
móveis na composição das imagens: pessoas e meios de locomoção. Contudo é
necessário lembrar que nas fotografias que fazem parte do álbum do Maranhão o
elemento pessoas em sua quase totalidade, aparece em situação completamente
desproporcional em relação aos monumentos e logradouros representados. Neste
sentido foi necessário que a identificação deste componente representacional se
fizesse com o uso do recurso zoom presente em meu computador doméstico,
através daquilo que chamei de varredura feita individualmente em cada fotografia.
Somente dessa maneira foi possível em muitos casos realizar o trabalho de
identificação dos sujeitos que faziam parte de alguns recortes realizados pelo
fotógrafo.
Cada cidade parece ter seu ritmo,
182
e a cidade de São Luis do
Maranhão naquele início de século XX parecia marcar um ritmo muito lento, pelo
menos é o que sugere a cidade de papel recortada por Gaudêncio Cunha, ruas
timidamente habitadas por pessoas, parecia demarcar um tempo lento, típico de
uma pequena e pacata cidade provinciana.
Então como pensar em circulação urbana de pessoas e meios de
locomoção numa cidade com ritmo tão lento? A cidade parecia obedecer a uma
lógica ainda imperial com seus bondes puxados à burro implantado em 1870 e suas
carroças e carruagens praticamente os únicos meios de locomoção a existirem na
cidade a então. O automóvel ainda era raridade talvez existindo apenas um
exemplar de propriedade do industrial Niozinho Santos, que costumava chamar
atenção dos muitos curiosos que se mostravam admirados com a tecnologia até
então pouco conhecida. Causa estranhamento a ausência do automóvel como
símbolo do moderno nas deferências do fotógrafo.
182
BARTHES, Roland. A aventura semiológica. São Paulo: Martins Fontes, 2001. p.223.
79
As carruagens estão presentes em 9% das imagens (3 fotografias) as
carroças meio de transporte muito utilizado na área do comércio e trapiche aprecem
de forma preponderante 30,3% (10 fotografias), os bondes puxados a burros, único
meio de transporte coletivo da capital, aparecem em 12,1% (4 fotografias).
A locomotiva um dos maiores símbolos da modernidade do período
aparece no álbum de Gaudêncio apenas na imagem abaixo, Localizada num
arrabalde da cidade, a estação suburbana, situada entre o Caminho grande e o
bairro do Anil.
Fotografia 3 - Estação suburbana (legenda original)
Fonte: CUNHA, Gaudêncio. Maranhão 1908. São Luis: Edições AML, 2008.
O trem suje no álbum como signo do progresso assim como os trilhos que
ligam o centro da cidade ao não muito longe bairro suburbano do Anil. A locomotiva
aparece ai com a imponência que a fez celebrá-la como a “deusa do progresso.”
183
Sua presença parecia continuar a alimentar os desejos e aspirações dos espíritos
mais sonhadores.
Em 1903 quando ainda senador Benedito Leite, a pedido da Associação
Comercial do Maranhão, apresentou projeto de Lei para a construção de uma
ferrovia que segundo o engenheiro Eurico Teles de Macedo “estava destinada
indubitavelmente a ser a coluna vertebral de todo o progresso do Maranhão”
184
Para a Associação Comercial do maranhão a via rrea seria antes de
tudo um meio de salvação pública. Em defesa de sua construção o engenheiro
Palmério Cantanhede expõe seu parecer na carta enviada ao senador. Os
183
HARDMAN, Francisco Foot. Trem fantasma: A modernidade na selva. São Paulo: Companhia das
Letras, 1988 p.39.
184
MACEDO, Eurico Teles de. O Maranhão e suas riquezas. São Paulo: Siciliano, 2001. p.111.
80
argumentos eram os mais convincentes possíveis. Segundo o engenheiro a estrada
resolveria o problema das ssimas condições de navegabilidade dos principais rios
que cortavam o estado, inviabilizando o escoamento de toda a produção.
Para a vitória do projeto o momento não poderia ser mais oportuno, pois
Benedito Leite gozava de prestigio político junto ao Governo Federal, chefiando
juntamente com Rosa e Silva o chamado bloco do Norte. Finalmente em 1905 o
Presidente da República sancionaou a lei que determinava a construção da estrada
que ligaria a capital São Luis a cidade de Caxias.
ocupando o cargo de governador do Maranhão em 1906, Benedito
Leite não exitou em empenhar-se para a execução do projeto. Convencendo o então
presidente Afonso Pena, que visitava o Maranhão em 1906 a viajar de barco pelo rio
Itapecuru com destino a Teresina. Conta o engenheiro Eurico Macedo em forma de
anedota que o número de encalhes nessa viagem fora tanto que o presidente havia
declarado não haver necessidade de que o barco encalhase mais um vez para que
ele estivesse convencido da necessidade da construção da ferrovia
185
.
Em maio de 1906 Benedito Leite bate simbolicamente a estaca zero no
local onde iria localizar-se o início da ferrovia. No cálculo inicialmente pensado pelo
engenheiro Cantanhede, a estrada estaria pronta em três anos o que jamais
ocorreu. Benedito Leite não viveria o suficiente para ver a estrada pronta. Devido a
constantes atrasos no repasse de seu custeio e mudanças técnicas a estrada
viria a ficar pronta em 1921 quando finalmente seus 398 quilômetros foram
completamente concluídos. Até a exibição do álbum, o Maranhão contava de fato
com 78 quilômetros de via férrea no trecho que ligava Caxias a Cajazeiras, sendo o
penúltimo em número de quilômetros de trilhos entre os estados da federação a
contar com essa via de desenvolvimento.
As locomotivas exibidas no álbum restringiam-se a fazer um pequeno
percurso de 8 quilômetros que ligava o centro da cidade ao vizinho bairro industrioso
do Anil. Talvez estas estão ali para alimentar o desejo de grandeza do
contratante do álbum que segundo seus opositores costumava alimentar idéias
megalomaníacas.
186
185
Ibid p.111.
186
Um trecho da história política do Maranhão (1890- 1906). A Pacotilha. Carta aberta ao Ilmº Sr. Dr.
Affonso Penna. Maranhão: Pacotilha, 1906.
81
O Padrão circulação urbana me fez pensar ainda sobre: quem estava na
rua?, Por que estava na rua?, Como estava na rua?, Na rua o sujeito do sexo
masculino é figura preponderante aparece em 100% das imagens referentes ao
padrão (33 fotografias), as mulheres em menor numero 54% (18 fotografias)
aparecem em combinação com sujeitos do sexo masculino.
Em sua grande maioria os sujeitos que aparecem nas imagens de
Gaudêncio Cunha são trabalhadores negros que exerciam atividades de estiva no
entorno da área de comércio e trapiches, geralmente descalços, e vestindo roupas
simples. O número de transeuntes foi verificado em poucas imagens.
Os logradouros com maior incidência de circulação urbana foi a rua, com
51,5% (17 fotografias) de um total de 33 fotografias .Nas avenidas a movimentação
de pessoas e elementos móveis fora registrada em apenas duas imagens 6%. Em
se tratando da combinação rua e esquina o padrão circulação pôde ser verificado
em 21,2% (7 fotografias). Por fim nas praças apenas 9% (3 fotografias).
Com relação ao atributo ponto de vista no padrão circulação urbana foi
registrado em 45,4% das imagens (15 fotografias) de um total de 33. ponto de
vista diagonal aparece em 33,3% das fotos (11 fotografias).
A presença do enquadramento em câmera alta pode ser identificado em
15,1% das imagens concernentes a este padrão (5 fotografias). Em se tratando dos
arranjos presentes foram identificados três: sobreposição, profusão e cadência. O
arranjo sobreposição principalmente de postes de iluminação pública aparece em 39
% das fotografias, (13 fotos) (ver fotografia 44 anexo p.145). profusão é utilizada
em 12,1% das imagens (4 fotografias). Cadência pode ser notado em apenas 9%
das imagens (3 fotografias).
Em se tratando da articulação dos planos, foi contabilizado três direções:
centrípeta, horizontal e vertical. A direção centrípeta foi identificada em 36,3% das
imagens (12 fotografias), a horizontal em 42,4% (14 fotografias) e a vertical em
18,1% (6 fotografias).
Uma última inferência a fazer na análise do padrão circulação urbana
está relacionado ao fator aglomeração de pessoas ou multidão, este caracterizado
pela reunião de um número igual ou superior a dez pessoas no mesmo espaço.
Folheando as páginas do álbum, o leitor observará esta situação em pelo menos 20
fotografias 60,6% das imagens de um total de 33 fotografias contabilizadas no
82
padrão, porém no montante das 143 imagens utilizadas na análise como um todo,
esse número é relativo, apenas 13,9% das imagens.
O uso dos dados demográficos talvez me forneceria uma pista para que
fosse esclarecida a quase ausência de pessoas circulando nas vias urbanas da
capital. Infelizmente naquele início de século a cidade não dispunha de um censo
oficial que contabilizasse seus habitantes de forma confiável.
Em um artigo de 1912 o professor José Ribeiro do Amaral
187
criticava a
falta de iniciativa para que fosse realizado um recenseamento mais preciso da
população. A alternativa encontrada por ele foi a de se basear por antigos censos
que traziam dados relativos ao número de habitações existentes na capital além da
contagem do número de pessoas.
Para chegar a sua conclusão o professor comparou o número de imóveis
da cidade de São Luis que no ano de 1836 era de 2199 casas habitadas, com uma
população presumível de 25.000 almas, com o número de casas existentes em 1912
que segundo ele era três vezes mais, sendo assim Amaral chega à conclusão que a
população da cidade beirava os 60.000 habitantes.
Imprecisões a parte, acredito que naquele início de século a população da
capital se não beirava a cifra pensada pelo professor Amaral estivesse próximo
disso. Então que a população não era tão rarefeita assim caberia nos perguntar o
porquê da preferência do fotógrafo em retratá-la um tanto quanto vazia? A resposta
talvez estivesse nas limitações técnicas disponíveis que costumava transformar
pessoas em movimento em borrões, dando um efeito fantasmagórico à presença de
pessoas. Como afirma Peter Burke “As primeiras fotografias de cidade mostram com
freqüência ruas implausivelmente desertas, para evitar os borrões nas imagens
causados pelo movimento rápido, ou representam pessoas em poses
estereotipadas”
188
. O efeito fantasma está presente em várias fotos da coleção de
Gaudêncio.
2.3.3 Paisagem: o ordenamento da natureza
187
AMARAL, José Ribeiro do. O Maranhão Histórico:Artigos de Jornais (1911-1912). São Luis:
Instituto Geia,2003. p. 68.
188
BURKE, Peter. Testemunha Ocular: História e imagem. Bauru-SP: EDUSC, 2004. P. 106.
83
O padrão paisagem refere-se à presença de “natureza artificialmente
arranjada”
189
. Na expressão do arquiteto J. Teixeira Netto o que o homem ocidental
costuma cultivar “são “amostras” da natureza (reduções do natural) (...) onde plantas
e outros elementos do natural estão presentes em seus jardins na qualidade de
lembranças (...).”
190
Na análise do conjunto de fotografias que compõem este padrão foram
dois os aspectos considerados: o primeiro diz respeito à necessidade de
embelezamento da cidade e o segundo encontra-se ligado à questão do
saneamento das cidades naquele início de século. Para a historiadora francesa
Françoise Choay:
Os espaços verdes públicos correspondem então em primeiro lugar, a
exigência de higiene. Eles são decorrentes de uma preocupação de
“moralização das classes laboriosas”. Entretanto sua institucionalização e
sua generalização os tornaram freqüentados por todas as classes sociais.
191
A preocupação com a estruturação de áreas verdes em São Luis se dá
em princípios do século XX simultaneamente com o que ocorria em outras capitais.
Em 1904, o Rio de Janeiro está em festa com a inauguração da famosa
Avenida Central, Cartão postal do Brasil, um ano antes em 1903 construiu-se a
Avenida Silva Maia em São Luis, longe de comparar-se a primeira com a segunda,
esta última não promoveu uma completa remodelação de seu entorno, restringindo-
se a construção de duas vias laterais e um passeio central bem arborizado com
jardins geometricamente ordenados à moda inglesa, contando ainda com um
suntuoso chafariz. De maneira acanhada a construção da avenida reafirma a
necessidade da cidade de se colocar em sintonia com as modernas metrópoles, ao
que parece uma alusão direta ao famoso boulevard parisiense que em menor
escala em tamanho e suntuosidade.
Foi também em 1904 que a Praça João Lisboa passou por um completo
processo de remodelação, obra realizada pelo Governo do Estado que destinou
generosas quantias para tal fim. Outro exemplo de remodelação se deu na Avenida
maranhense que também em 1904 teve seu calçamento modificado com destaque
189
LIMA ; CARVALHO, Op cit. p. 92.
190
COELHO NETTO. Op. cit. p.57.
191
CHOAY, Françoise. A natureza urbanizada, A invenção dos “Espaços verdes.” Projeto história.
São Paulo, V.18, p.104,Maio 1999.
84
para a arborização das calçadas laterais. Nas páginas da Revista do Norte encontrei
estampadas fotos da obra:
Ilustração 3 - Maranhão - As obras do Largo do Palácio (Avenida Maranhense) Legenda original.
Fonte: Revista do Norte 1904.
Tanto a foto da Avenida Maranhense como da Praça João Lisboa após
serem reformadas tornaram-se cartão postal da cidade o que comprova que
algumas fotos que estão no álbum de 1908 são na verdade imagens tiradas em um
outro momento, num contexto diferenciado daquele no qual as mesmas foram
exibidas em conjunto na Exposição Nacional, revelando assim um artifício fantasioso
utilizado por Gaudêncio Cunha e seus auxiliares.
Tanto as Avenidas Silva Maia e Maranhense como a Praça João Lisboa
são exemplos de natureza remodelada, uma tendência muito comum na época
quando acreditava-se que as áreas verdes ajudariam no combate a insalubridade
contribuindo assim para um aspecto de cidade higienizada livre de miasmas
responsáveis pela transmissão de doenças. Coincidência ou não o ano de 1904 foi o
ano em que a cidade atravessava uma de suas piores crises epidemiológicas tendo
a peste bubônica dado cabo de muitas vidas. A cidade encontrava-se em meio a
uma situação preocupante onde nem mesmo autoridades escapavam do contágio.
Médicos e engenheiros cariocas foram convidados pelo então senador Benedito
Leite para tentar avaliar a situação da capital. Nos relatórios do médico sanitarista
85
Victor Godim e do engenheiro Palmerio Cantanhede é possível ter dimensão da
realidade enfrentada pela população de São Luis.
192
No padrão paisagem o número de vistas parciais aparece em maior
proporção 71,4% (35 fotografias) (ver fotografia 37 anexo p.142) de um total de 49
fotografias que foram classificadas no padrão, ressalta-se aí a necessidade de
contextualização espacial. As praças são retratadas em 20,4% das imagens (10
fotografias) com destaque para a Praça João Lisboa considerada um dos
logradouros mais importantes da capital no período. A presença de transeuntes nas
imagens correspondentes a este padrão é relativamente pequeno 24,4% (12
fotografias).
O tipo de enquadramento utilizado pelo fotógrafo neste padrão em sua
maioria privilegiou ponto de vista central 67,3% (33fotografias), seguido por ponto de
vista diagonal 28,5% (14 fotografias). No que concerne ao atributo direção foi
verificado o uso preponderante de duas, horizontal e centrípeta. A direção horizontal
foi identificada em maior número 71,4% (35 fotografias) a direção centrípeta foi
encontrada em 24,4% (12 fotografias).
Considerando o atributo arborização este foi encontrado em 25,1% de um
total de 143 imagens trabalhadas na pesquisa. Em relação somente ao padrão este
atributo foi verificado em 73,4% (36 fotografias) de um total de 49 fotografias. A
combinação arborização com cadência foi verificada em 32,6% (16 fotografias) (ver
fotografia 37 anexo p.142). De acordo com Possamai “a presença do verde no
espaço urbano terá um novo componente, o aspecto sanitário.”
193
Saúde pública
neste período encontrava-se diretamente ligada a existência de espaços verdes e
abertos.
As fotografias que melhor representam este padrão são as fotografias da
Avenida maranhense retratada em diferentes ângulos aparecendo no álbum de
maneira privilegiada em duas tomadas e em formato ampliado preenchendo o
espaço de uma página inteira do álbum. Tanta preocupação não parecia
despropositada que nesta avenida concentrava-se o mais importante centro de
poder do estado os Palácios dos governos estadual e municipal.
192
CANTANHEDE. Palmério. Saneamento das cidades e sua aplicação à capital do Maranhão.
São Luís:Typ. Frias, 1902. GODINHO, Victor. A peste no Maranhão. São Luís: Typogravura Teixeira.
1904.
193
POSSAMAI, Op. cit. p. 244.
86
2.3.4-Infra-estrutura urbana
Em sua obra “Uma região Tropical”, o geógrafo Raimundo Lopes informa
sobre as condições estruturais da cidade no início do século XX descrevendo a
aparência da capital maranhense:
Algumas administrações da República operaram trabalhos de
embelezamento no começo do século: foram ajardinadas praças e
avenidas; sem falar na melhoria parcial da edificação pública e privada,
Infelizmente o sistema de esgotos não foi posto em estado de funcionar. Foi
tardia a eletrificação da luz e da viação urbanas, melhoramento tão
necessário a expansão e movimento interno da cidade
.
194
Como o leitor pôde perceber, algumas mudanças foram implementadas
na cidade naquele princípio de século, sendo justamente essas mudanças que
mereceram destaque no álbum confeccionado por Gaudêncio Cunha. No entanto
estas mudanças na verdade mostraram-se tímidas e amorfas.
A intenção dos organizadores do álbum era justamente revelar um perfil
de cidade em sintonia com os modernos centros urbanos do país o que só foi
possível parcialmente que suas feições notoriamente coloniais apresentavam
problemas infra-estruturais.
Pontualmente o padrão infra-estrutura urbana encontra-se caracterizado
pelos atributos icônicos relacionados aos serviços urbanos de Iluminação,
pavimentação, trilhos e de comunicação
195
existentes na cidade recortada pelo
fotógrafo.
Nas imagens selecionadas pelos organizadores do álbum a cidade
parecia gozar de relativo aspecto infra-estrutural, com a maioria de suas ruas
calçadas e detentoras de serviço de iluminação, assim como suas principais artérias
bem servidas por linhas de bondes. No álbum as deferências sobre este aspecto,
são de 42,6% (61 fotografias) com relação ao conjunto de 143 imagens. As vistas
parciais aprecem em maioria absoluta em 77% (47 fotografias) das imagens relativas
a este padrão. Os temas principais são ruas, avenidas e praças.
Os serviços urbanos ressaltados visualmente são em sua maioria
pavimentação, iluminação e trilhos de bonde. O serviço de pavimentação das ruas
194
LOPES, Raimundo. Uma região tropical. Rio de Janeiro: Ed. Fon-fon e Selecta, 1970. p.106.
195
POSSAMAI, Op. cit. p. 240.
87
aparecem em larga maioria em 80,3% do conjunto (49 fotografias) seguido pela
presença de postes de iluminação 68,8% (42 fotografias), os trilhos de bonde
estão presentes em 42,6% (26 fotografias).
Ponto de vista central é utilizado em 54% das fotografias (33 imagens)
seguido por ponto de vista diagonal com 40,9% (25 fotografias). No que se refere a
combinação câmera alta e ponto de vista diagonal a recorrência é relativamente
pequena 18% (11 imagens) (ver fotografia 46 anexo p.146), em se tratando de
somente Câmera alta, este se fez presente em 27,8% (17 fotografias).
Somente em quatro fotografias encontrei a existência de contigüidade
espacial combinada com direção diagonal 6,5% (ver fotografia 41 anexo p.144).
Com relação a direção diagonal o número de fotografias neste padrão foi
significativo 39,% (24 fotografias).Relativamente expressivo também foi o número de
imagens que combinou direção diagonal com direção centrípeta 29,5% (18
fotografias) (ver fotografia 19 p.108).
A presença de trilhos de bonde colocados em destaque em algumas
imagens de cenas urbanas visava, certamente criar sentido de modernidade, porém
considerando que na maioria das capitais o serviço de bondes puxados a burro
estava sendo substituído pelo uso de bondes movidos a eletricidade, na capital
maranhense esta novidade levaria ainda anos para ser alcançada. São Luis viria
a contar com os benefícios do invento de Thomas Edison na administração de
Godofredo Viana entre 1923 e 1926.
196
Os postes de iluminação pública que aparecem nas imagens de autoria
de Gaudêncio Cunha utilizava na verdade gás carbônico, num sistema recém
construído que veio a substituir ao antigo sistema de candeeiro de azeite que foi
definitivamente abolido em 1907 após a autorização do poder público municipal em
conceder ao inglês George Wallace Anderson o serviço de iluminação pública
através da lei nº126, de 12 de dezembro.
197
Para o economista e historiador
Raimundo Palhano a capital maranhense apesar de ter sido uma das primeiras
capitais brasileiras a contar com serviços considerados modernos em princípios do
Império, teria sido uma das últimas a renovar tais serviços.
198
196
LOPES, Op. cit. p.106.
197
VIEIRA FILHO, Domingos. Breve História das Ruas e praças de São Luis.
2a ed. revista e
aumentada, Rio de Janeiro, Gráfica Olímpia Editora Limitada, 1971,
p. 16.
198
PALHANO, Op. cit.
88
Com relação à situação das ruas de São Luis em princípios do século,
Fran Pacheco assim se refere:
(...) é inadmissível é que as novas ruas sejam ainda mais corcoveantes, do
que as existentes séculos. Verifica-se o mesmo em povoações que por
ai vão se levantando à toa, sem plano e sem gosto, como se no tortuoso
Anil [...]. Os bairros da Currupira, o Pantaleão e Apicum, etc., imundos,
estreitos e ziguezagueantes, são recentes. E ninguém dirá que não o mil
vezes inferiores à cidade propriamente colonial.
199
Certamente essas novas ruas mencionadas por Pacheco não fizeram
parte da seleção feita por Gaudêncio que a intenção era mostrar uma cidade
saneada e racionalizada o que necessariamente deveria atender a intenção do seu
contratante. O que efetivamente foi retratado foram as ruas que faziam parte da área
da cidade mais privilegiada em relação aos serviços de infra-estrutura urbana.
2.2.5 Padrão retrato
O padrão retrato refere-se a um subconjunto de pouco mais de 6
fotografias o que representa 4,1% do total de 143 fotos (ver fotografia 46 anexo
p.146). Este padrão compreende ao conjunto de 5 fotografias que foram tiradas por
Gaudêncio do Batalhão de bombeiros da capital juntamente com a fotografia que
abre o álbum que traz a figura do governador responsável pela encomenda do
álbum, o Sr. Benedito Leite.
Talvez o leitor assim como eu esteja a se perguntar o porquê da
retratação do corpo de bombeiros entre todos os órgãos que compõem a
administração pública, Já que em todo o álbum são raras as imagens em que
existem pessoas pousando. Sendo as imagens relativas à Companhia de bombeiros
as únicas além do retrato do estadista, em que é possível perceber o rosto das
pessoas com total nitidez a olho nu.
Encontrei em uma matéria de jornal em 1908 o dia preciso em que o
fotógrafo saiu à rua para realizar a secção de fotos a pedido do governo do estado.
Esta assim se referia à atividade do fotografo Gaudêncio Cunha: “Em serviço do
199
CORREIA, Maria da Glória Guimarães. Nos fios da trama: quem é essa mulher? Cotidiano e
trabalho do operariado feminino em São Luís na virada do século. São Luis: Edufma, 2006. p.29.
89
governo, tirando photographias para confeccionar um álbum que será enviado à
Exposição Nocional, acha-se entre s o Sr. Gaudêncio Cunha, Photographo
habilíssimo.”
200
Das cinco imagens, quatro encontram-se agrupadas em uma única
página, enquanto que a quinta fotografia apresenta-se de maneira ampliada. De
acordo com a legenda das imagens os homens que aparecem ali retratados são
inferiores e praças que além de pousarem formando um semicírculo exibem todo o
arsenal de carros e equipamentos a disposição destes.
Para o Jornalista José Reinaldo Martins a imagem de um contingente
formado por brancos e negros na companhia de bombeiros significaria a imagem
ideal de República onde estes homens “fardados limpos e patenteados representam
a imagem desejada de um Brasil distante da imagem escravagista”
201
Entusiasta da criação da Companhia de bombeiros no Maranhão o
governador Benedito Leite foi um de seus principais incentivadores talvez por esse
motivo as imagens da companhia apareçam no álbum de Gaudêncio.
2.3.6 Síntese dos padrões
De modo geral os padrões constituídos tentam imprimir um perfil de
cidade em sintonia com uma iconicidade moderna com perfeita associação com as
novidades do período presentes em vários lugares do país e amesmo da Europa.
O uso de uma operação metonímica
202
por parte dos idealizadores do álbum tentou
de alguma forma elevar os fragmentos de cidade à representação do todo urbano.
A retratação de um universo fabril racionalizado em perfeito
funcionamento, tentou demonstrar o potencial industrioso do Estado e, por
conseguinte da capital. Tal representação visava transportar o leitor visual a uma
cidade em franco processo de desenvolvimento alicerçada nos ditames modernos
do pregresso e da civilização ocidental.
O uso de recursos técnicos e estéticos utilizados pelo fotógrafo
Gaudêncio Cunha procurou através do uso de vistas parciais dá visibilidade a
200
Jornal do Comércio. São Luís, 09 de março de 1908.
201
MARTINS, José Reinaldo Castro. Passado e Modernidade no maranhão pelas lentes de
Gaudêncio Cunha. Dissertação de mestrado apresentada ao PPG em Ciências da Comunicação da
USP. São Paulo, 2008. p. 137.
202
LIMA ; CARVALHO, Op cit. p. 96.
90
espaços tidos como pontos focais da cidade. A utilização de tomadas diagonais na
hora de retratar as edificações visavam ressaltar as suas volumetrias
consubstanciando-se em obras arquitetônicas monumentais.
A grande quantidade de fotografias que retratou o centro da cidade a
ver as condições fisionômicas da urbe no período, onde o centro concentrava a
maioria dos serviços urbanos existentes na capital.
A existência da retratação de áreas verdes no interior do álbum visava
certamente associar a imagem da cidade a idéia de cidade saneada livre das
ameaças epidemiológicas.
As direções predominantemente diagonais na hora de retratar os
elementos figurativos além de ressaltar o motivos fotografados em muitos casos
parecem terem sido impostos dado a impossibilidade de se retratar algumas
edificações de forma central, devido a estreiteza da maioria das ruas de São Luis
ainda de traçado marcadamente colonial.
Os tipos humanos retratados no padrão circulação urbana parecem estar
mais próximos do período colonial, sendo as ruas espaços predominantemente
ocupados por pessoas do sexo masculino. Quando muito a presença feminina nas
ruas se dava através da existência de mulheres negras e pobres que circulavam
pela cidade exercendo alguma atividade de trabalho.
As nuances da modernidade apresentadas no álbum me pareceram ser
mais desejo do que propriamente uma realidade tangível. Mudanças acanhadas,
numa cidade híbrida parece mais condizente com a situação da cidade de São Luis
naquele princípio de século.
A historiadora Francisca Michelon ao analisar as imagens da cidade de
Pelotas em igual período afirmou que a idéia de cidade presente nas fotografias
parecia ser “usufruída apenas na imagem e não na sua materialidade”
203
.Neste
sentido fiquei a me perguntar se não estaríamos diante de caso semelhante em
relação as fotografias da cidade de São Luis do Maranhão.
O trabalho de decupagem do Álbum realizado até aqui, foi importante na
medida em que possibilitou uma visão ampla e sistêmica dos temas mais evidentes
no conjunto das imagens que compõe a série. Identificadas tais temáticas optei por
eleger somente algumas para a elaboração de uma narrativa sobre a cidade de São
203
POSSAMAI, Op. cit. p. 252.
91
Luis no próximo capítulo. A escolha de algumas fotografias em detrimento de outras,
justifica-se pela capacidade de diálogo estabelecida pelos próprios limites das fontes
que foram possíveis de serem arroladas para a elaboração da trama.
92
CAPÍTULO 3 - ENTRE OLHARES: leituras da cidade
algum tempo que sabemos o quanto nossa vida é regida pelos
estímulos sensoriais, hoje principalmente pelo poder sedutor das imagens como
afirmou René Huygle os choques sensoriais conduzem-nos e dominam-nos; a vida
moderna assalta-nos pelos sentidos, pelos olhos, pelos ouvidos.”
204
É principalmente
pelo estímulo visual que pretendo conduzir o leitor neste capítulo.
Parto de uma narrativa visual descrita ainda no calor dos acontecimentos,
logo após o termino da Exposição de 1908, quando o comissário Domingos de
Castro Perdigão resolve registrar em relatório apresentado ao governo do Estado,
um balanço da participação do Maranhão no certame nacional de 1908.
Iniciado o ato solene de abertura da Exposição Nacional de 1908,
milhares de pessoas se dirigiram aos estandes onde puderam apreciar os produtos
expostos de cada estado. Conta o comissário maranhense Domingos Perdigão que
muitos conterrâneos seus, residentes na Capital Federal, visitaram a secção do
Maranhão, onde puderam apreciar “com amor e carinho os produtos expostos,
pedindo informações e lembrando-se com saudades do nosso caro Maranhão”
205
.
Após examinarem atentamente cada produto, as pessoas costumavam demorar por
muitas horas a folhear o grande álbum de fotografias elaborado pelo Sr. Gaudêncio
Cunha.
Uma das figuras tida como “notável” que visitou a secção maranhense foi
o homem de letras, Artur Azevedo, que dias antes de falecer teria examinado
detidamente todas as 220 fotografias do álbum, este, ao terminar de folheá-lo teria
dito: “Cheguei agora do Maranhão. Está muito melhorada a minha terra mas eu
ainda a conheço bem.”
206
Artur Azevedo assim como outros visitantes que tiveram a oportunidade
de visualizar o álbum, certamente experienciaram o poder que a fotografia tem de
nos transportar através do tempo e espaço e nos provocar nostalgia. Como leitor de
um tempo próximo em que às fotografias foram elaboradas, Azevedo certamente
204
HUYGLE, René. O poder das imagens. Lisboa:Edições 70, 1998. p. 9.
205
PERDIGÃO, Domingos de Castro. O Maranhão na Exposição Nacional de 1908. Relatório
apresentado ao Exmº Sr. Américo Vespúcio dos Reis, Presidente do Congresso Legislativo, no
exercício do cargo de Governador do estado. Maranhão: Imprensa oficial, 1910. p.23.
206
Ibid. p.23.
93
conseguiu de imediato estabelecer um relação de empatia, de reconhecimento sobre
as imagens que lhe atraíram tão detidamente.
Passados mais de cem anos da primeira exibição do álbum de Gaudêncio
Cunha, este ainda continua a atrair a atenção de leitores seduzidos pela estética de
suas imagens.
3.1 Fotografias que dizem sobre a cidade
Seduzido assim como Artur Azevedo pelo poder das imagens, inicio agora
um passeio pela cidade de papel, conduzido pelas páginas do álbum de Gaudêncio
Cunha. De maneira aleatória promovo um diálogo somente com algumas imagens. A
escolha justifica-se pela limitação de informações relativas aos espaços retratados, o
que limitou minha capacidade de olhar e dizer sobre todas as imagens que
compõem o álbum.
O olhar lançado sobre as imagens nesta experiência de leitura distingue-
se do simples ato de “ver” que conota no vidente certa discrição e passividade.
207
Por oposição ao ato de ver, a idéia de olhar remete o sujeito ao ato de investigação,
indagação a partir e para além do visto, pois como afirmou Sergio Cardoso “O olhar
pensa;é a visão feita interrogação.”
208
As imagens selecionadas por mim para compor este capítulo busca
revelar ao leitor visual os sentidos e significados das representações construídas
sobre a cidade de São Luís do Maranhão na passagem do século XIX para o XX, a
partir do conjunto de fotografias que compõem o álbum do Maranhão de 1908.
Ainda que saibamos que o álbum tenha sido confeccionado por
encomenda do governo do Estado do Maranhão para participar da Exposição
Nacional de 1908, na cidade do Rio de Janeiro, e que as Exposições na época eram
consideradas “vitrines do progresso” com o intuito de divulgar as potencialidades
econômicas dos estados e ou Países, entendendo que no caso das fotografias que
compõem o Álbum do Maranhão além desta finalidade clara e preeminente uma
forte predominância da subjetividade do fotógrafo que em muitos enfoques revela
um cotidiano de cidade que certamente vai muito além das intenções dos
207
CARDOSO, Sérgio. O olhar viajante, do etnólogo. In: Adauto Novaes. (Org.). O Olhar. 1 ed. São
Paulo: Cia. das Letras, 1989, p.348.
208
Ibid.p. 349.
94
idealizadores do álbum. Corrobora com essa afirmativa o fato de que algumas
fotografias já circulavam em periódicos como a Revista do Norte.
209
Suponho que as fotografias reunidas no álbum datam dos anos situados
entre 1895, período em que o fotógrafo inaugura a fotografia União e 1908, ano da
Exposição no Rio de Janeiro.
O momento histórico que compreende esta narrativa tem início em
princípios do republicanismo. Momento em que diferentes aspirações e frustrações
se cruzaram revelando assim todas as contradições de um período de discursos
inflamados em torno das idéias de progresso e civilização. De acordo com
Pesavento, a república, apresentava-se: “como o regime político que melhor
encarnava as propostas de [...] desenvolvimento econômico, avanço tecnológico, e
acesso a educação,[...]”
210
. É, sobretudo sob estas premissas que os estadistas
naquele princípio de século irão assentar seus discursos.
A cidade na época da composição do álbum, apresentava basicamente as
feições herdadas do século XIX, sendo ampliada somente a partir dos bairros
operários que foram surgindo em tono das fábricas.
Diferentemente da Capital Federal por aqui não houve bota a baixo
211
como os que ocorreram na administração do Prefeito Parreira Passos no Rio de
Janeiro. Em São Luís a topografia foi sendo ligeiramente acrescida quando da
instalação do parque fabril na última década do século XIX.
Como nos lembra Balandier “a topografia duma cidade é social e política”.
Enquanto representação do poder as imagens reunidas no álbum composto pelo
fotógrafo Gaudêncio Cunha, por encomenda do governo do Estado do Maranhão,
traz em muitas fotos tanto aspectos que revelam o desejo de cidade ideal pautada
em ideais de civilização e progresso como também nos revela uma cidade
permeada pela presença de espaços dominados pela pobreza e simplicidade.
Por entender que a “cidade não é um dado, mas um processo contextual
onde tudo é signo, linguagem”
212
elegemos a rua num primeiro momento como local
privilegiado para pensarmos a dinâmica do ambiente urbano, que ela “se coloca
209
Periódico quinzenal, editado em São Luís, de circulação regional, que trazia entre suas matérias
fotografias das diversas cidade do norte-nordeste onde a revista circulava.
210
PESAVENTO, Sandra Jatahy.O cotidiano da república: elite e povo na virada do século. Porto
Alegre: Ed. Da Universidade UFGRS,1995.p. 11.
211
Destruição de alguns prédios, casas e ruas para o alargamento de vias no início do século XX na
cidade do Rio de Janeiro.
212
FERRARA, Lucrecia D’Alessio. A estratégia dos signos: linguagem/espaço/ ambiente Urbano.
São Paulo: Editora Perspectiva S.A,1986.p. 120.
95
como dimensão concreta da espacialidade, das relações sociais num determinado
momento histórico, revelando nos gestos, olhares e rostos, as pistas das diferenças
sociais.”
213
Penso que seria interessante obedecer ao ordenamento da seqüência de
imagens a partir da montagem e composição do álbum, infelizmente devido o fato
das pranchas que compõem o mesmo encontrarem-se soltas e em processo de
deteriorização, não é possível estabelecermos com precisão a seqüência pensada
pelo fotógrafo e ou editor. No entanto observou-se que algumas fotos receberam
uma maior atenção por parte do fotógrafo devido o seu tamanho impresso.
A primeira fotografia a me chamar atenção, refere-se à porta de entrada
da cidade, a avenida maranhense, logradouro considerado o berço da cidade dotado
de simbologia para as elites intelectuais ligadas as instituições oficiais que
promovem ritos comemorativos do aniversário de fundação da cidade. Onde o mito
fundar francês continua a ser reverenciado pela propaganda dos governos Estadual
e Municipal. Pois como reza a tradição, foi justamente sobre as ruínas do forte São
Luís construído pelos franceses, que se encontra construído o Palácio do Governo.
Dotada de um significado simbólico de grande importância para a história
da cidade o logradouro servia no período de porta de entrada da cidade, recebendo
grande atenção por parte do poder público no sentido de conservação do
logradouro.
O jornalista e escritor Rocha Pombo ao visitar a cidade em outubro de
1918 teve boa impressão do local: “a entrada é auspiciosa. A avenida por onde
fomos, do caes ao hotel, é bem aprazível, cheia de arvoredo, e ladeada de
jardins.”
214
Assim como o Viajante Annibal Amorim que esteve na cidade em 1909:
Quem deixa o porto e vence a rampa que liga o caes á parte alta da cidade, tem
logo, deante de sí, uma bella via pública, bem construída e cuidadosamente
arborizada. É a avenida Maranhense.”
215
o poeta e ensaísta Osório Duque Estrada que esteve de passagem
pela cidade também em 1909, não teve a mesma impressão do logradouro
considerado por ele um local simples e desolador, escutemo-lo:
213
CARLOS, Ana Fani Alessandri. O lugar no/do mundo. São Paulo: HUCITEC, 1996.p.86.
214
POMBO, Rocha. Notas de Viagem: Norte do Brasil. Rio de Janeiro:Benjamim de Aguila, 1918. p.
116.
215
AMORIM, Aníbal. Viagens pelo Brazil. Rio de Janeiro Garnier, p. 113.
96
[...] fui desembarcar ao pé da rampa que ao cabo de três minutos de penosa
acessão leva o excursionista á praça ajardinada em que se ergue na sua
simplicidade, apparentemente de qurtel, o palácio do governador.
A entrada do hotel (situado no mesmo local) dá-me uma impressão
desoladora de vetusticidade. Negros e Negras, sentados no chão, espalham
em roda os insignificantes objetos do seu comércio: Pannos, rendas, cuias,
frutas e quitandas de vários doces.”
216
O local foi retratado por Gaudêncio Cunha a partir de dois planos
diferentes, um que parte da rampa do palácio do Governo tendo como pano de
fundo o Palácio Episcopal e o outro que parte deste último em direção ao início da
rampa.
Fotografia 4 - Avenida Maranhense- foto tomada a partir do Palácio Episcopal
Fonte: CUNHA, Gaudêncio. Maranhão 1908. São Luis: Edições AML, 2008.
216
ESTRADA, Osório duque. O norte: Impressões de viagem. Porto: Livraria Chardron, 1909. p. 86.
97
Fotografia 5 - Avenida Maranhense foto tomada a partir da Rampa do Palácio
Fonte: CUNHA, Gaudêncio. Maranhão 1908. São Luis: Edições AML, 2008.
Repare que na fotografia 5, o fotógrafo ressalta como destaque o trilho do
bonde de uma das linhas que partiam deste logradouro. Segundo Domingos Vieira
Filho foi na administração do Intendente Afonso Henrique de Pinho em 1904, que a
o logradouro tomou “[...] feição de avenida, com passeios, aleas e canteiros,
despendendo a municipalidade com obras de construção e embelezamento a
quantia de 28:122$000.”
217
Era exatamente na Avenida Maranhense que encontrava-se o Palácio dos
Leões sede do governo do estado construído sobre as ruínas do forte de origem
francesa quando do curto período em que estes estiveram no Maranhão. O Palácio
foi retratado em seus diversos ângulos e espaços, interno e externamente com
destaque para a fachada lateral com feições neoclássicas com platibandas e janelas
arrematas com pequenos frontões.
217
VIEIRA FILHO, Domingos. Breve história das ruas e praças de São Luís. Rio de Janeiro:
Olímpia Editora, 1971. p.152.
98
Fotografia 6 - Palácio dos Leões sede do governo estadual
Fonte: CUNHA, Gaudêncio. Maranhão 1908. São Luis: Edições AML, 2008.
Fotografia 7 - Fachada lateral do Palácio dos Leões
Fonte: CUNHA, Gaudêncio. Maranhão 1908. São Luis: Edições AML, 2008.
Na mesma avenida ao lado do palácio encontra-se o prédio da
Intendência Municipal. O prédio também se apresenta com feições neoclássicas.
Segundo Nestor Reis Filho “os padrões barrocos que haviam prevalecido durante o
período colonial, são substituídos pelo neoclássico, que se torna a arquitetura oficial
99
do primeiro e do segundo Império, mantendo-se em uso até a proclamação da
República.”
218
Fotografia 8 - Intendência Municipal
Fonte: CUNHA, Gaudêncio. Maranhão 1908. São Luis: Edições AML, 2008.
Observe que o ângulo escolhido para retratar o prédio da Intendência
segue uma tendência muito difundida no período, valorizando um ângulo levemente
lateral com o intuito de retratar “[...] as duas fachadas a principal e lateral e assim
comprovar a imponência do volume dando a impressão da terceira dimensão”
219
Diferentemente da foto do Palácio que fora retratado sem a presença de
elementos humanos, na da Intendência, o fotógrafo opta por representá-la em seu
cotidiano de funcionamento com a presença de pessoas que encontravam-se no
local durante o ato fotográfico. Observe que as pessoas ali presentes dão conta da
presença do fotógrafo, alguns como o garoto negro que se apóia com um guarda
chuva em primeiro plano, pousa para o fotógrafo no instante em que este aponta a
objetiva em direção a fachada principal do prédio.
218
FILHO, Nestor Reis. Quadro da Arquitetura no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 1970. p.11.
219
PEREIRA, Rosa Claudia. Fotografias e modernidades em Belém (1986-1908). Dissertação
(mestrado em história social da Amazônia) UFPA, 2006. p.124.
100
Fotografia 9 - Detalhe da fotografia 7
Fonte: CUNHA, Gaudêncio. Maranhão 1908. São Luis: Edições AML, 2008.
Partindo do Largo do Palácio em direção sul da cidade encontra-se a
Praça João Lisboa, logradouro onde pulsava o coração da cidade, nesta estava
localizado segundo Aroldo de Azevedo o comércio varejista.
220
Fotografia 10 - Praça João Lisboa
Fonte: CUNHA, Gaudêncio. Maranhão 1908. São Luis: Edições AML, 2008.
Fotografada em diversos ângulos, a praça aparece ai como local de
sociabilidade, no momento em que uns poucos transeuntes circulam pelo local,
220
AZEVEDO,1950 apud MOTTA, Lia (Cord.). Cidades Históricas; Inventário de Pesquisa: São
Luís- Rio de Janeiro: IPHAN, 2006.p.56.
101
observe que o destaque da foto volta-se para o trilho da linha de bonde que
circulava nesse perímetro. Tido como signo do progresso o destaque dado aos
trilhos em várias imagens procura chamar a atenção do leitor visual para a infra-
estrutura urbana existente na cidade. No entanto como foi dito em capítulo anterior,
tal serviço encontrava-se obsoleto, mais uma vez o registro dos viajantes que por
aqui estiveram deram conta da condição na qual tal serviço se encontrava.
Escutemos o que diz Duque Estrada sobre o serviço: “O passeio pela cidade
consiste apenas em tomar um bonde contemporâneo da inquisição e percorrer aos
trancos, algumas ruas desertas e de velha casaria tristonha. [...
]”
221
Com menos
sagacidade, porém de forma enfática, Rocha pombo também relata sobre a
condição dos bondes que serviam a cidade Em S. Luiz, além de uns bondezinhos
de tração animal ( muito ruins, e de um archaismo affrontoso, que destoa dos ares
da cidade) há viaturas de praças e particulares, principalmente caleches.”
222
O local é retratado pelo fotógrafo no momento em que um distinto senhor
em primeiro plano parece parar ao perceber que está sendo fotografado, enquanto
que na calçada dois homens e uma criança pousam ao perceber a ação do
fotógrafo.
Fotografia 11 - Detalhe da fotografia 9
Fonte: CUNHA, Gaudêncio. Maranhão 1908. São Luis: Edições AML,
2008.
Comentando sobre a hierarquia presente nos componentes de uma
escrita icônica o professor Ivan Lima esclarece que na escrita fotográfica “os
221
ESTRADA, Op. cit p.87.
222
POMBO, Op cit p. 118.
102
componentes vivos dominam sobre os componentes fixos, qualquer que sejam seus
tamanhos respectivos.”
223
Se nos detivermos detalhadamente sobre os quatro personagens que
aparecem nessa imagem perceberemos, através de sua indumentária, a condição
social dos respectivos sujeitos retratados. Repare que dentre os quatro sujeitos, três
vestem-se de acordo com a moda vigente no período, de inspiração inglesa, dois de
chapéu panamá, um de terno preto e gravata e botas altas na rua e outro de terno
branco e também de chapéu panamá na calçada.
O que chama atenção na figura 6 é a presença do homem negro descalço
ao lado do sujeito vestido de terno branco. O fato deste encontrar-se descalço,
denota um antigo costume dos negros no Brasil, durante o regime escravocrata.Tal
costume, foi Bastante criticado quando do advento do 13 de Maio, é o que
demonstra uma traça do período.
Ilustração 4 - Sátira do cotidiano pós-abolição.
FONTE: ALENCASTRO, Luiz Felipe. (org.). Historia da vida privada no
Brasil: Império. São Paulo: Cia das Letras, 2002
.
223
LIMA, Ivan. A fotografia e sua linguagem. Rio de Janeiro: Espaço e tempo, 1988. p.19.
103
Observe que a traça da revista ilustrada satirizava de maneira
preconceituosa o hábito dos recém-libertos de andarem descalços. Passado alguns
anos após a abolição percebe-se que tal hábito ainda vigorava no estado do
Maranhão.
A historiadora Rosa Claudia Pereira, acredita que a retratação de sujeitos
históricos das classes populares, seja uma atitude que passou a fazer parte das
representações dos fotógrafos somente com o advento do regime republicano,
que no Império estes apareciam retratados na condição de “tipos humanos” no
formato “carte de visite” para divulgar o lado pitoresco da sociedade imperial na
Europa.
224
O que fica evidente é que a República com seu ideário de expansão dos
direitos de cidadania, pouco alterou a condição social dos negros.
Em outro ângulo da praça, o destaque é para um dos chafarizes de
origem inglesa que ornamentavam as praças da cidade, onde podemos ressaltar o
perfeito ajardinamento do local tendo a natureza sido moldada pelo paisagismo
inspirado em modelo francês com “[...] construções vegetais, aparadas e
condicionadas em formas geométricas de disposição [...]”
225
Fotografia 12 - Chafariz Praça João Lisboa
Fonte: CUNHA, Gaudêncio. Maranhão 1908. São Luis: Edições AML, 2008.
224
PEREIRA, Op. cit. p.171.
225
COELHO NETTO, J. Teixeira. A construção do sentido na arquitetura. São Paulo: Perspectiva,
2007 p. 65.
104
Na época da confecção do álbum, corria através da imprensa que a praça
era vista como a “menina dos olhos” do governador, onde este teria sido acusado de
destinar farto volume de recursos públicos para manter a praça sempre em perfeito
estado. No jornal “O País”, Artur Azevedo, amigo pessoal do Governador, saía em
defesa do estadista nas trincheiras jornalísticas da época. Na imprensa nacional,
assim se pronunciava o escritor: “A um maranhense ouvi dizer que o Dr. Benedito
Leite sacrificou todo o estado ao Largo do Carmo, por que ele fez do Largo do
Carmo (posteriormente denominado praça João Lisboa), que era feio, uma das mais
bonitas praças do Brasil”
226
.
Fotografia 13 - Rua do Sol
Fonte: CUNHA, Gaudêncio. Maranhão 1908. São Luis: Edições AML, 2008.
Em outra foto também tirada nas imediações da praça tendo como foco a
Rua do Sol observa-se o destaque em primeiro plano no lado esquerdo para uma
morada inteira com suas janelas em arco pleno e fachada com platibanda, no lado
direito destaque para a casa Sul América ou Casa americana onde podia-se
226
VIVEIROS, Jerônimo de. Benedito Leite: um verdadeiro republicano. Rio de Janeiro: Taveira,
1957. p. 222.
105
encontrar os mais diversos gêneros trazidos da Europa e especialmente dos
Estados Unidos, como as modernas máquinas Singer e os mais diferentes artigos
para o casa, desde mobília para sala, alcova e varanda a produtos para costura
como linhas, agulhas,bordados. A casa ainda dispunha de perfumaria, vinhos e
licores assim se reportavam um anuncio escrito no Almanack do Diário do Maranhão
de 1880.
A foto registra ainda o movimento alguns transeuntes que passavam pela
calçada da casa Sul Americana, que distraídos não percebe a presença do
fotógrafo. Na porta do teatro um grupo de distintos senhores conversam em roda
despreocupadamente.
Fotografia 14 - Detalhe fotografia 12 Fotografia 15 - Detalhe fotografia 12
Fonte: CUNHA, Gaudêncio. Maranhão 1908. São Luis: Edições AML, 2008.
Freud afirma que “nenhum aspecto, porém, parece caracterizar melhor a
civilização do que a sua estima e incentivo em relação as mais elevadas atividades
mentais - suas realizações intelectuais, cientificas e artísticas.”
227
A retratação do
imponente teatro São Luis, talvez atenda tal prerrogativa, na medida em que o
teatro é deferenciado em diversos ângulos e ambientes.
227
FREUD, Sugmund. O Mal-estar na civilização 1956-1939. Rio de Janeiro: Imago Editora,1997.
p.47.
106
Fotografia 16 - Teatro São Luís
Fonte: CUNHA, Gaudêncio. Maranhão 1908. São Luis: Edições AML, 2008.
Construído por iniciativa dos portugueses Eletério Lopes da Silva e
Estevão Gonçalves Braga o teatro começou a ser construído em 1815 sendo
inaugurado dois anos depois. Símbolo de ilustração o edifício foi retratado em
ângulo, valorizando suas duas fachadas, como já explicado anteriormente tinha
função de dar monumentalidade ao edifício, fachada central composta de três
pavimentos e terminada por frontão triangular. Completam a ornamentação da
fachada lira em alto relevo e pilastras coríntias dispostas nas laterais da fachada.
Com portas e janelas com vergas retas algumas encimadas com frontões clássicos e
outras com frontões arqueados, nota-se acima destes a presença de vários óculos
que tinha a função de proporcionar ventilação e luminosidade para o espaço interno.
107
Fotografia 17 - Salão nobre do Teatro São Luís
Fonte: CUNHA, Gaudêncio. Maranhão 1908. São Luis: Edições AML, 2008.
Fotografia 18 - Teatro São Luís. Interior.
Fonte: CUNHA, Gaudêncio. Maranhão 1908. São Luis: Edições AML, 2008.
Ainda nas proximidades do largo do Carmo ou Praça João Lisboa o
fotógrafo registra o flagrante do movimento da rua Afonso Pena artéria de grande
movimento onde também funcionava grande parte do comercio varejista.
108
Fotografia 19 - Rua Afonso Pena
Fonte: CUNHA, Gaudêncio. Maranhão 1908. São Luis: Edições AML, 2008.
Tomada a partir do Largo do Carmo, a foto da Rua Afonso Pena nos dá a
dimensão do grande fluxo de pessoas que circulavam naquele importante
logradouro. Em trajes alinhados, algumas parecem olhar de forma atônita o trabalho
do fotógrafo. Crianças também circulam pela rua, a maioria bem vestida, mesmo não
estando acompanhadas é possível supor que algumas delas não são crianças em
estado de abandono. A rua retratada, à época, tinha dupla função: além de abrigar
alguns estabelecimentos comerciais como mostra a fotografia, ali se situava também
muitas residências.
Nessa rua, havia nascido o então, governador do Maranhão Benedito
Leite. Este cresceu nas imediações do Largo do Carmo, mais precisamente num
imponente sobrado de aparência senhorial, construído à época do Império. No plano
fotográfico, é possível situá-lo mais precisamente no quinto prédio ao lado direito da
rua. Estaria aí talvez justificado tamanha atenção àquelas imediações?
Sem precisar exatamente o período, Vieira Filho
228
menciona a existência
de cocheiras de aluguel. Forradas com veludo e rodas revertidas de borracha de
propriedade dos comerciantes Baltazar Parreira e Bemzinho Mendes que se
228
VIEIRA FILHO. Op. cit. p.28.
109
situavam nessa rua próxima ao largo do Carmo. A partir da evidência fotográfica, é
possível visualizar a presença de um coche estacionado ao lado esquerdo da rua,
próximo ao largo. Mesmo não afirmando com precisão que se trate de um dos
coches dos comerciantes mencionados acima, é possível inferir a sobrevivência
desse tipo de serviço na cidade de São Luís, até boa parte do século XX, que na
cidade o automóvel era ainda objeto de extremo luxo inacessível até mesmo as
classes mais abastardas.
Fotografia 20 - Detalhe da fotografia 18
Fonte: CUNHA, Gaudêncio. Maranhão 1908. São Luis: Edições AML, 2008.
Nesta rua o fotógrafo registra uma das importantes casas comercias
existentes no período denominada de Maia, sobrinhos & Cia. em pleno
funcionamento. A casa aprece no Almanack de 1879 na lista de quitandas.
Tomo esta foto como uma das mais significativas em relação à
familiaridade do fotógrafo com a gente da cidade. Ao registrar o movimento na casa
comercial o fotógrafo inclui na imagem pessoas que se quisesse, poderia ter deixado
de fora do recorte, que o foco seria a casa comercial. Creio que é justamente por
valorizar neste ponto uma estética marginal que o fotógrafo mais se distancia da
vontade de seu contratante.
Numa época ainda muito marcada pelo preconceito de cor, a opção do
fotógrafo em incluir nos seus recortes a presença do negro, sem distinção, evidencia
o desprendimento deste, com o preconceito ainda latente, considerando a
proximidade de um recém s-abolição. Certamente o fotógrafo não corroborava
com um discurso ainda muito propagado no período: sobre a indolência do negro.
110
Tais vozes foram compartilhadas tanto por estrangeiros como pelas elites nacionais.
Escutemos o que disse sobre o assunto o viajante francês Paul Walle que esteve de
passagem pela região em 1909:
O limitado progresso alcançado por alguns desses estados é devido, sem
qualquer dúvida, ao numero exagerado de negros que se concentram
após a abolição da escravatura, como aconteceu na Bahia, Maranhão,
Pernambuco e Rio de Janeiro, e de modo muito particular nos dois
primeiros. Graças à suavidade do clima e à fertilidade do solo - que lhes
praticamente sem trabaho algumas frutas, bananas, batatas-doce, e a
mandioca necessárias à sua alimentação - podem eles vadiar à vontade,
com o que prejudicam o desenvolvimento do país, por força de sua
indolência.”
229
Como bem observa o viajante a presença do negro era bastante acentuada em
terras maranhenses devido a herança colonial de uma economia marcada pela
presença massiva do braço escravo, nas muitas imagens que retratam as ruas da
cidade a presença desses indivíduos é algo marcante nos enquadramentos de
Gaudêncio.
Fotografia 21 - Casa Comercial Maia Sobrinhos & Cia.
Fonte: CUNHA, Gaudêncio. Maranhão 1908. São Luis: Edições AML, 2008.
229
WALLE, Paul. No Brasil, do Rio São Francisco ao Amazonas. Brasília: Senado Federal,
Conselho editorial, 2006. p.13.
111
No ato fotográfico observe que boa parte dos retratados, percebem a
presença do fotógrafo e direcionam seus olhares para este, a fotografia a apesar de
ter sido tirada no pós-abolição, relembra uma cena bastante comum da cidade
colonial, onde os negros exerciam tarefas braçais, como os dois sujeitos que
descarregam os caixotes com mercadoria, enquanto que um jovem branco, que se
apóia em um dos caixotes, lembra a presença dos populares caixeiros, geralmente
de origem portuguesa, que vinham para o Maranhão em busca de fazer fortuna.
Fotografia 22- Detalhe da fotografia 20
Fotografia 23 -
Detalhe da fotografa 20
Fonte: CUNHA, Gaudêncio. Maranhão 1908. São Luis: Edições AML, 2008.
Sobre a classe dos caixeiros o escritor Nascimento Moraes em uma
passagem de seu Romance “Vencidos e degenerados” assim descrevia com ar de
desdém seus modos:
O que ganham é pouquíssimo; se vivessem somente a suas expensas, não
lhes daria o ordenado para pagar o domicílio e as refeições, mas como essa
pequenina quantia luxam e com isso satisfazem um dos pontos do
programa, procuram vestir-se como os patrões, andar como eles, imitar-lhes
as maneiras, seguir- lhes os hábitos.”
230
Como de costume no período colonial o prédio era utilizado com dupla
função, sendo a parte de baixo geralmente utilizada para as atividades comerciais,
enquanto que a parte de cima seria ocupada como residência do proprietário do
230
MORAES, José Nascimento. Vencidos e Degenerados. São Luís: Centro Cultural Nascimento de
Moraes, 2000. p. 56.
112
imóvel. Repare que na foto, na parte superior da casa comercial encontram-se dois
distintos senhores que observam atentamente o trabalho do fotógrafo.
Fotografia 24 -
Detalhe da fotografa 20
Fonte: CUNHA, Gaudêncio. Maranhão 1908. São Luis: Edições AML, 2008.
Observe que os quatro últimos jovens do lado esquerdo da foto em
primeiro plano, juntamente com as duas mulheres, parecem não manter nenhuma
relação com a casa comercial.
Fotografia 25 -
Detalhe da fotografa 20
Fonte: CUNHA, Gaudêncio. Maranhão 1908. São Luis: Edições AML, 2008.
Gilberto Freire se reportando a condição social do negro brasileiro no pós-
abolição, afirma que “vagou o liberto ás tontas pelas cidades (...) numa angustiosa
inquietação de ex-escravo que desejasse também tornar-se ex-negro.
231
231
FREYRE, Gilberto. Ordem e Progresso. Rio de Janeiro: José Olympio Editora. Tomo II, 1974.
p.487.
113
Com trajes simples e pés descalços os rapazes com ar de desocupados,
deviam atuar como uma espécie de free-lance na época, que a espera de algum
trabalho costumavam permanecer nas proximidades dos estabelecimentos
comerciais.
Outro logradouro selecionado pelo fotógrafo foi a Rua Portugal antiga rua
do Trapiche, nesta artéria funcionava o grande comércio atacadista durante muito
tempo dominado pelos portugueses. A objetiva do fotógrafo atem-se precisamente
em registrar o movimento de transeuntes revelando o cotidiano movimentado do
logradouro.
Fotografia 26 - Rua Portugal
Fonte: CUNHA, Gaudêncio. Maranhão 1908. São Luis: Edições AML, 2008.
Tomada precisamente de uma das janelas de algum edifício situado à
Rua da Estrela, artéria que faz esquina com a rua em foco, a fotografia destaca em
primeiro plano o conjunto de edificações onde funcionava um grande número de
firmas comercias, como a que aparece em primeiro plano: Azevedo Almeida & Cia
no lado direito do conjunto de edificações. Do lado esquerdo do plano o destaque é
para parte do quadrilátero que compunha o prédio da Companhia Confiança
maranhense criada em 1859, que abrigava varias casas comerciais. Em um anuncio
da casa comercial José Marques Rodrigues & Cia. encontrado no Almanak,
Administrativo, Mercantil e Industrial para o ano de 1870 é possível ter idéia das
114
mercadorias comercializadas ali, de vinhos do Porto a cerveja Holandesa, Ervilhas,
feijão em lata, biscoitos finos, tapioca do Pará, manteiga além de louças de diversas
qualidades.
Fotografia 27 -
Detalhe da fotografa 25
Fonte: CUNHA, Gaudêncio. Maranhão 1908. São Luis: Edições AML, 2008.
Roland Barthes em seu clássico estudo “A câmera clara” faz uso do
conceito denominado por ele de Punctum para apontar um “detalhe” um objeto
parcial nas fotografias por ele analisadas
232
Na fotografia da Rua Portugal elegi
como punctum a presença das três crianças em primeiro plano. Causa-me
estranheza, o fato de estarem descalças e desacompanhadas, o que denota a
condição social das mesmas. Penso que a presença de tais elementos vai de
encontro à tentativa do contratante de tentar edificar uma imagem de cidade
civilizada, predominando neste sentido as escolhas do fotógrafo que consciente ou
inconscientemente inclui tal detalhe no ângulo de sua objetiva.
Para além do pitoresco, a cidade com seus largos e praças, suas
principais ruas e avenidas também nos é revelada por imagens que denunciam o
cotidiano simples de seus habitantes em seus bairros mais afastados do cleo
urbano. Na foto a seguir da rua de São pantaleão o fotógrafo direciona o olhar do
leitor das imagens para uma outra margem da cidade em um de seus bairros
operários.
232
BARTHES, Roland. A câmara clara: nota sobre fotografia. Rio de janeiro: Nova fronteira, 1984.
p.49.
115
Fotografia 28 - Rua São Pantaleão
Fonte: CUNHA, Gaudêncio. Maranhão 1908. São Luis: Edições AML, 2008.
Viver em São pantaleão neste período era conviver no endereço em que
a pobreza residia. Em uma outra passagem de seu romance “Vencidos e
degenerados” O escritor Nascimento Moraes assim descrevia o bairro em seus dias
de festa:
No andro de São Pantaleão, em seus dias de festa, não se encontram à ufa
leões da moda, os princípios da elegância e do bom tom . O bairro pode-se
dizer é da pobreza, e por isso ela é quem se diverte nestes dias, mal
vestida, em geral, modesta e simples, mas arruaceira,armada de grossos
cacetes e vozes ásperas para os moços bonitos da cidade, como dizem os
rapazes, em tom de mofa, enfezamento e agressivos.
233
Negro, pobre, filho de um engraxate, vítima de todos os preconceitos de
uma sociedade aristocrática como a ludovinsense, o escritor ambienta sua obra em
boa parte neste bairro onde circulam seus personagens “vencidos e degenerados”.
Como bem ressaltou o também escritor Nauro Machado o romance de Nascimento
233
MORAES Op. Cit. p.95.
116
Moraes “se constitui na verdade como uma crônica de costumes e fatos de São Luis
logo após a libertação dos negros e da proclamação da Republica.”.
Mais uma vez se utilizando de uma tomada em grande-angular o fotógrafo
coloca em primeiro plano o feio aspecto das casas baixas que predominavam em
toda rua com suas fachadas em estado deteriorável onde crianças mal vestidas e
descalças aproveitam a sobra da calçada em pleno sol a pino provavelmente por
volta de uma da tarde.
Fotografia 29 - Detalhe da fotografia 27
Fonte: CUNHA, Gaudêncio. Maranhão 1908. São Luis: Edições AML, 2008.
Num claro exemplo de que a pobreza não seria o alvo principal do contratante ao
divulgar as feições da cidade, o fotógrafo volta sua lente para dois exemplos de
habitações modernas no período, estas é claro dignas de figurarem no álbum, pois
representava as novas formas de habitação burguesa.
Fotografia 30 - Residência Particular
Fonte: CUNHA, Gaudêncio. Maranhão 1908. São Luis: Edições AML, 2008
117
Situadas em áreas de ocupação mais recente da cidade, as casas
estavam situadas uma na rua dos Remédios, em frente ao largo dos amores ou
Praça Gonçalves Dias, e a outra nas cercanias da cidade no fim do Caminho Grande
em direção ao Cutim.
A primeira casa anteriormente representada, pertencia á época ao mais
destacado comerciante da Praça de São Luís no final do século XIX, Joaquim
Baptista do Prado, grande capitalista que segundo Jerônimo de Viveiros “De menino
pobre de Alcântara, escalando pelos estágios de caixeirinhos de um armazém em
São Luis e outras funções da carreira, chegou ele, em menos de vinte anos à alta
posição de banqueiro da praça.”
234
Em consonância com os modernos padrões arquitetônicos da segunda
metade do século XIX, o solar adotava o modelo de circulação “francesa”, baseada
no isolamento de cada uma das zonas da habitação, com área de serviço no porão
inclusive a cozinha
235
. Outra inovação importante é a presença de um grande jardim
lateral com imponente arco em pedra de cantaria guarnecido por um suntuoso
portão de ferro.
A segunda casa retratada no álbum visava exibir padrões que
evidenciavam a fórmula de “exotismo,” “modernidade” e opulência. Inspirados em
hábitos e lugares Europeus os “chalés” em modelo suíço, tiveram seu auge no
segundo Império no último quartel do século XIX na década de 80. Os primeiros
surgiram por iniciativa de ricos proprietários que habitavam nos bairros
suburbanos
236
.
234
VIVEIROS, Jerônimo de. Historia do comercio no Maranhão. V.3 São Luís: LITHOGRAF, 1992.
p.18.
235
CARLOS, A. C. Historia da Casa Brasileira. (Repensando a historia) São Paulo: Contexto, 1996.
p.52.
236
DEL BRENNA, Giovanna Russo. Ecletismo no Rio de Janeiro (Século XIX-XX) FABRIS In:
Annateresa (Org.). O ecletismo na arquitetura brasileira.São Paulo: Nobel,1987.
118
Fotografia 31 - Um Chalé nos arredores de São Luís
Fonte: CUNHA, Gaudêncio. Maranhão 1908. São Luis: Edições AML, 2008
De acordo ainda com a arquiteta Giovanna Del Brenna “Mais do que na
aplicação da modernidade a industrialização, a estandardização- o fascínio do
Chalet estava na alusão à modernidade. Na evocação de hábitos e saudades que
pertenciam a outros lugares e outros paises [...]
237
.
A imagem de Gaudêncio revela todo o bucolismo dos arredores da cidade
onde estava situado o Chalé. Todo avarandado com colunas de ferro fundido, a casa
lembrava ainda o estilo franco-suíço com suas empenas voltadas para rua e
enfeitadas de lambrequis
238
certamente de zinco, diferente da tradição luso
brasileira. com seus telhados em duas quedas.
A cidade retratada por Gaudêncio Cunha revela em sua face ambígua
toda ambivalência de um espaço esquizofrênico que ora pretende-se civilizado com
logradouros em perfeito estado de conservação e embelezamento, e que ao mesmo
tempo revela a suas feições “bárbaras” com a presença massiva de sujeitos
pertencentes às classes subalternas que dão vida a cidade.
237
DEL BRENNA, op. cit p.36.
238
Rendilhado de madeira recortada ou zinco, usado na decoração das extremidades dos beirais de
certo tipo de construção européia da zona alpina, o conhecido chalé, que entrou na moda no Brasil a
partir do fim do século XIX. CARONA, Eduardo; LEMOS, Carlos Alberto Cerqueira. Dicionário da
arquitetura brasileira. São Paulo: EDART, 1972. p.481.
119
Constatou-se ainda na representação fotográfica de Gaudêncio Cunha,
que a rua continuou a ser território masculino, como durante todo século XIX, salvo o
pequeno numero de mulheres que aparecem nas fotografias certamente da classe
economicamente menos favorecida que circulam pela cidade com suas vestimentas
simples.
3.2 Reedificando epítetos: imagens da “Manchester do Norte”
No limiar do culo XX existiam em São Luis 6 fábricas do ramo têxtil
estas, sobreviviam às ameaças de falência e fechamento das portas, pois segundo a
tradicional historiografia que se ateve ao período, a maioria delas, deu lucro
alguns anos após o início do seu funcionamento. Ao Mencionar o exemplo da
primeira fábrica instalada em São Luis que se chamou Companhia de Fiação de
tecidos Maranhense, vulgarmente conhecida por Camboa do Mato, O historiador
Jerônimo de Viveiros afirma que: “Entre as 11 que formavam o parque industrial de
São Luis, a Camboa conseguiu um período verdadeiramente áureo.”
239
Ainda
segundo este, A baixa da taxa cambial e a má administração das fábricas, desde
as construções aos funcionamentos, completaram a hecatombe.”
240
Fran Pacheco, ao referir-se ao parque fabril erguido em o Luís em
sua obra “Geografia do Maranhão” publicada em 1922 o faz com ressalvas elogiosas
pelo caráter empreendedor do empresariado fabril assim como aponta a avaliação
que se sucederia mais tarde pela tradicional historiografia, em suma, a idéia de
malogro do parque fabril visto como um ato insano dos investidores maranhenses.
Ao se reportar sobre as fábricas existentes em São Luis no início dos anos 20, na
parte destinada da obra para falar sobre as indústrias no Maranhão, Pacheco firma
que:
Os dinheiros colocados no fabrilismo escederam, por ventura, o limite das
energias operadoras do Maranhão. Mas, sem lisonja, a màquinofatura daqui
grangeou uma apreciável eqüipolência, ao que de mais perfeito no
Brasil.
241
239
VIVEIROS, Jerônimo de. História do Comércio do Maranhão, 1896+1934. São Luís: Lithograf,
1992. p.58.
240
VIVEIROS, Op. cit p. 51.
241
PACHECO, Fran. Geografia do Maranhão. São Luís: Typ. Teixeira, 1922. p. 126.
120
Contudo em São Luis, mesmo após sua dita idade de ouro
242
a cidade
continuou a pronunciar epítetos que lhe garantisse distinção e notoriedade no
cenário nacional, ainda que estes fossem apenas obra do imaginário das classes
políticas e economicamente mais favorecida. Neste sentido a afirmação do político
Pedro Tavares Junior que assumiu o governo provisório no Maranhão quando da
mudança do regime monárquico para o republicano parece representar bem a
crença de uma época marcada pela euforia da idéia de progresso:
[...] O Maranhão inaugurava uma situação econômico-financeira de
decadência prolongada. Em compensação, os agentes políticos perseguiam
até a obsessão a evolução pelo progresso, na esperança de reverter o
declínio material, substituindo-o pelo crescimento econômico e ordenado a
conjuntura maranhense, que experimentava o aparente paradoxo da
convivência de um parque industrial, justificando-lhe a denominação
excessiva de Manchester do Norte, (...).
243
Benedito Leite político experiente, ainda na primeira década do século XX
continuou a alimentar de forma obstinado a idéia de progresso. Como signos do
progresso as imagens de bricas, jamais poderiam ficar de fora de uma publicação
destinada a reforçar tal idéia. Num total de 13 imagens, as bricas, na sua maioria
de tecidos daí o epíteto de Manchester,
244
foram retratadas em fotos que mostravam
as partes interiores e exteriores. O cotidiano do trabalho fabril em algumas imagens
foi notoriamente modificado para a construção e elaboração de um ambiente fabril
racional e higienizado, como nesta imagem da sala de teares da fábrica do Anil:
Fotografia 32 - Sala de teares
Fonte: CUNHA, Gaudêncio. Maranhão 1908. São Luis: Edições AML, 2008.
242
Ver nota explicativa p.63 sobre a época de prosperidade na economia maranhense.
243
CORRÊA, Rossini. Formação social do Maranhão: o presente de uma arqueologia. São Luís:
SIOGE, 1993.p. 159.
244
Alusão a famosa cidade inglesa que no século XIX foi grande produtora de tecidos.
121
As mulheres, mão-de-obra preponderante no ambiente fabril da época,
são convidadas a pousar enfileiradas em frente aos teares pelos quais as mesmas
eram responsáveis. Contrastando com o que diz a historiadora Maria da Glória que
descreve o ambiente fabril como sendo um ambiente insalubre, compare:
Em termos de condição física, ambientais, em que trabalhavam, por serem
fábricas de fiação e tecidos, permaneciam elas com as janelas fechadas,
afim de que o vento não quebrasse os fios, decorrendo dum ambiente
quente abafadiço, que obrigava as operárias a saírem “no tempo,” vez por
outra, de corpos suados, contribuindo, assim, para que a tuberculose fosse
o grande mal das fábricas, de acordo com o diagnóstico da doença
formulado por muitas delas.
245
A fábrica do Anil inaugurada em 1893 foi mais um dos projetos industriais
que despertou euforia e atração frente a sua monumentalidade, com seus 97 metros
de frente e 103 de fundo, a área ocupada era de 9.991 metros quadrados,onde os
salões de tecelagem poderiam abrigar até 500 teares.
No álbum encontram-se retratadas 6 fábricas de tecidos são elas: Santa
Isabel com 1 tomada externa; Cânhamo, também com 1 tomada externa frontal; Anil,
com 1 tomada externa frontal e 2 internas com destaque para a secção de teares e
gomadores; Industrial, com uma fotografia externa; Fábrica São Luis, com duas
tomadas externas sendo uma frontal e outra do pátio interno; Camboa, com 1
tomada (foto extraviada); Santa Amélia, com 1 tomada externa lateral, seguidas por
fábricas de outros seguimentos: Fábrica de Fósforos, com uma vista frontal, Fábrica
de Arroz com uma vista lateral.
Com relação a algumas fotografias externas de fábricas, as imagens
parecem ir de encontro ao discurso decadentista propalado por alguns historiadores
e economistas que se detiveram sobre a temática em questão, muito embora
parecesse outra, a intenção do contratante ao valorizar a temática como símbolo do
progresso local, é o que se pode verificar na imagem referente a fachada externa da
Companhia Rio Anil que aparece retratada no álbum com sua frente tomada pelo
mato que se alastra por toda a área do terreno:
245
CORREIA, Maria da Glória Guimarães. Nos fios da trama: Quem é essa mulher? Cotidiano e
trabalho do operariado feminino em São Luis na virada do século XIX. São Luis: Edufma, 2006.p.
213.
122
Fotografia 33 - Fábrica de tecidos Rio Anil
Fonte: CUNHA, Gaudêncio. Maranhão 1908. São Luis: Edições AML, 2008
Acredito que mesmo amargando os insucessos do seu curto período de
sobrevivência, as fábricas Têxteis no Maranhão alimentaram o sonho de muitos
entusiastas do industrialismo brasileiro, traço marcante de um período pautado na
crença, na idéia de progresso advindo com os sucessos da técnica. Talvez quem
melhor tenha traduzido às aspirações do período seja o escritor Nascimento de
Morais o qual afirma em passagem de sua mais famosa peça literária: “Terra
perdida! Perdidos sonhos de população ávida de progresso e desenvolvimento.”
246
3.3 Imagens de uma razão positiva
Outro tema bastante enfatizado no álbum diz respeito à Instrução pública
temática que reforça o interesse do contratante em divulgar suas realizações nessa
área. Somando-se com as duas fotografias da biblioteca pública, o número de
imagens que retratam ambientes escolares soma-se 13 fotografias, com fotografias
de ambientes internos e externos, no qual os ambientes de sala de aula
curiosamente aparecem vazios com ênfase na mobília.
246
MORAES. op.cit.p. 212.
123
Fotografia 34 – Aula de Desenho
Fonte: CUNHA, Gaudêncio. Maranhão 1908. São Luis: Edições AML, 2008.
Possivelmente a mesma Mobília na qual se refere Jerônimo de Viveiros
ao se deter sobre um projeto de lei elaborado pelo então deputado Benedito Leite
que redigiu pessoalmente a proposta em 1896. “Depois da aprovação do projeto, a
Escola Normal, instituição de ensino tradicional existente na capital, foi reorganizada
e dotada de: “[...] material didático de primeira ordem mobiliário e gabinete de física,
química, historia natural, geografia e desenho-todo importado da França.”
247
Conta ainda o biógrafo de Benedito Leite, que em certa ocasião quando
este ainda era estudante secundarista, que em uma solenidade de entrega de
escolas na qual este, se fazia presente, na condição de representante de seu
educandário, que o então estudante após ouvir alguns versos alusivos à importância
de se abrir escola, Benedito Leite emocionado teria pronunciado a seguinte
afirmação a um amigo: “Hemetério, eu também hei de fundar escolas e presidir
solenidades como esta”
248
Segundo Jerônimo de Viveiros, Benedito Leite dedicou-se em seu
governo às escolas de primeiras letras o político de acordo com Viveiros teria dado
início a sua momentosa “obra que seria a mais brilhante página de sua vida de
estadista e que lhe daria a imortalidade no coração do professorado maranhense.”
249
247
VIVEIROS, Jerônimo de. Benedito Leite: um verdadeiro republicano. Rio de Janeiro: Taveira,
1957. p.172.
248
Ibid. p 14.
249
Ibid. p.166.
124
Exageros à parte, considerando-se o teor de efeméride dado pelo biógrafo Jerônimo
de Viveiros, também a socióloga Maria Regina Nina Rodrigues afirmou que Benedito
Leite “entendia ser a instrução o maior elemento de civilização e o mais energético
fator de progresso, termômetro do valor moral dos povos, garantia do direito, atalaia,
das mais sagradas liberdades”
250
.
O destaque sobre a temática da instrução pública seguiria certamente a
crença republicana, de que através da instrução uma sociedade atingiria os mais
elevados índices de progresso e desenvolvimento, como demonstra esta passagem
da novela de Astolfo Marques “E necessário se tornava que os fundadores da
República bem compreendessem a necessidade do desenvolvimento da instrução,
de forma a corresponder ao progresso social resultante da transformação do
rejimen.”
251
Para a historiadora Mary Angélica, a educação/instrução seria parte de
um programa de desenvolvimento proposto ao Brasil.
Fiel seguidor dos preceitos positivistas adquiridos certamente durante os
anos de estudo na faculdade de direito do recife, Benedito Leite foi um estadista que
ao menos no plano discursivo nos leva a crê que procurou valorizar o problema da
Instrução pública no Estado.
No álbum, o destaque recai sobre os edifícios da Escola Normal, Liceu, e
Escola Modelo, ambos situados à Rua Afonso Pena. Tais estabelecimentos de
ensino não passaram despercebidos também pelo viajante francês Paul Walle que
em 1910 assim se referiu sobre eles: “Em São Luis o ensino é dado pelo Liceu
Maranhense; Escola Normal, Escola Modelo Benedito Leite, fundada pelo senador
com esse nome e chefe político estadual.”
252
250
NINA RODRIGUES. Maria Regina. Maranhão: do Europeísmo ao Nacionalismo Política e
Educação.São Luís: SIOGE,1993. p. 80.
251
MARQUES, Astholfo. A nova aurora. São Luiz: [s.e.], 1912. p. 140.
WALLE, op. cit., p.287.
125
Fotografia 35 –Escola Normal
Fonte: CUNHA, Gaudêncio. Maranhão 1908. São Luis: Edições AML, 2008.
Fotografia 36 - Liceu Maranhense
Fonte: CUNHA, Gaudêncio. Maranhão 1908. São Luis: Edições AML, 2008.
126
No entanto de acordo com o pensamento da Socióloga Maria Regina Nina
Rodrigues “o pensamento educacional construído na primeira República girou em
torno do reconhecimento da educação como uma prática necessária, básica e, ainda
como um direito que deveria ser estendido a todos.”
253
Contudo, como reconhecer
não é fazer, no Maranhão como bem enfatizou um dos entrevistados Pela
professora Nina Rodrigues: “As escolas ‘Benedito leite’, ‘Normal’, e ‘Liceu’ eram
destinadas para os filhos dos ricos. Os pobres, se quisessem estudar, dizia, tinham
de se contentar com aquelas que lhes ofereciam apenas um ofício”
254
Para o jornalista José Reinaldo Castro Martins a presença de imagens
que retratam os ambientes escolares, assim como a biblioteca pública seria uma
forma de reedificar a imagem da cidade como Atenas brasileira, epíteto bastante
propagado entre o final do século XIX e início do século XX. Ao se perguntar sobre a
necessidade do Governo Benedito Leite em incluir no álbum fachadas e ambientes
externos de centros de saber o jornalista é categórico em afirmar que:
Essas imagens transparecem a necessidade de se apresentar no álbum
uma das mais cultuadas singularidades maranhenses a que apresenta São
Luis como Atenas brasileira, a terra de poetas e escritores.
255
Acredito que a explicação de Martins, não deveria ser de uma toda
rejeitada, mas creio que talvez a presença das imagens referentes às instituições de
ensino existentes na capital, possivelmente reflita a influência do pensamento de
Conte, adquirido ainda na faculdade de Direto do Recife, onde Leite teria tido
contato com as idéias do pensador francês.
Hélgio Trindade, estudioso da influência que as idéias positivistas tiveram
no Brasil, afirmou que além do plano filosófico-doutrinário, estas “também refletiu-se
na prática política segundo a concepção Comtiana.”
256
Talvez também ansiou
Benedito Leite, “encontrar os guias de uma educação saudável”
257
ensinamentos
presentes no discurso da filosofia positiva de Conte.
253
NINA RODRIGUES, Op. cit. p. 79.
254
Op. cit. p. 83.
255
MARTINS, José Reinaldo Castro. Passado e Modernidade no maranhão pelas lentes de
Gaudêncio Cunha. Dissertação de mestrado apresentada ao PPG em Ciências da Comunicação da
USP. São Paulo, 2008. p. 142.
256
TRINDADE, Hélgio. A república positivista: teoria e prática. In: TRINDADE, Hélgio.(org.). O
positivismo teoria e pratica. Porto Alegre: Ed. Universidade/ UFGRS, 1999. p. 110.
257
PETIT, Anni. História de um sistema: o positivismo comtiano. In: TRINDADE, lgio.(org.). O
positivismo teoria e pratica. Porto Alegre: Ed. Universidade/ UFGRS, 1999.p. 22.
127
Certamente o positivismo, como uma ideologia de longa duração como
afirma Bosi
258
, marcou profundamente a formação de “Doutores,” intelectuais e toda
a geração da década de 1870, na qual o estadista maranhense foi formado, penso
que ai resida parte do porque das escolhas de alguns temas retratados no álbum a
pedido do contratante.
258
Bosi, Alfredo. “O positivismo no Brasil: uma ideologia de longa duração” in Revista Brasileira. Rio
de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, ano XI, abr.-jun. 2005, n. 43.
128
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O exercício interpretativo realizado aqui, a partir das imagens elaboradas
pelo fotógrafo Gaudêncio Cunha, certamente me permitiu uma dada compreensão
dos temas retratados, possibilitando um melhor entendimento do período em que as
imagens foram confeccionadas, assim como de toda trama que envolveu a
confecção e seleção das imagens presentes no álbum do Maranhão 1908. Mas do
que um registro da pequena, e pacata São Luis, daquele início de século, as
fotografias elencadas no álbum forneceram à história, referências sócio-culturais que
só existem na própria fotografia.
Busquei num primeiro momento conhecer o ambiente social, cultural e
histórico na qual o autor das fotografias estava inserido assim como identificar os
principais atores sociais envolvido no processo de produção e edição das imagens
selecionadas, no intuito de compreender os elos estabelecidos entre ambos, assim
como o componente ideológico que nutria as motivações políticas dos idealizadores
do álbum.
A princípio realizei um trabalho de investigação na tentativa de reunir o
maior número de informações possíveis sobre a vida do fotógrafo Gaudêncio Cunha,
contudo constatei que tais informações eram um tanto quanto limitadas. A ausência
de um conhecimento maior sobre a vida do autor das imagens certamente tornou
mais difícil à tarefa de leitura e interpretação das fotografias selecionadas, no
entanto não inviabilizou a pesquisa que a maneira de como os recortes foram
realizados e os artifícios utilizados na confecção das imagens naturalmete por si
já diz muito sobre a maneira de pensar do seu autor.
Neste caso creio que um leque maior de possibilidade de interpretação
abre-se na medida em que o pesquisador é obrigado a ser mais astuto na hora de
inquirir sua fonte, tendo neste sentido que buscar alternativas de aproximação
através da utilização de uma variedade de fontes que lhe possibilite uma
compreensão maior do período histórico e o objeto analisado.
Na eminência de minimizar as lacunas concentrei-me no estudo das
dimensões morfológicas, sociais e culturais da cidade de São Luis do Maranhão
naquele início de século, posteriormente na conduta política do governador Benedito
Leite que na qualidade de chefe político do estado e contratante, teve participação
direta na encomenda feita ao fotógrafo. O estudo de suas práticas e ações políticas
129
me possibilitou uma melhor compreensão do imaginário político no qual estava
inserido.
Outra vertente da pesquisa voltou-se para o estudo das Exposições
realizadas no período. Procurei dessa forma, compreender a lógica de realização de
tais eventos no sentido de identificar seus propósitos e interesses. Dessa forma foi
possível compreender o porquê de algumas escolhas e recortes feito pelo fotógrafo
a pedido de seu contratante.
na segunda e a terceira parte do trabalho realizei um diálogo direto
com as imagens presentes no álbum. Num primeiro momento a partir de uma análise
quantitativa pude contabilizar temas, estratégias e artifícios de recorte das
fotografias onde procurei a partir de um vocabulário controlado mapear os atributos
formais, assim como os padrões temático-visuais estabelecidos pelo fotógrafo
contratado. Observei a partir desse mapeamento que a idéia de modernidade
pretendida encontrava-se mais no desejo dos produtores oficiais do álbum do que
efetivamente poderia transparecer.
Na terceira e última parte do trabalho o enfoque se deu através de uma
análise qualitativa das imagens, na medida em que procurei realizar uma narrativa
visual a partir do cruzamento de fontes no intuito de promover um exercício de
leitura, interpretação e compreensão das fotografias analisadas. Concentrei-me na
elaboração de uma narrativa construída a partir de algumas temáticas em evidência
no álbum. Tal narrativa visual sobre a cidade, se deu através de intenso diálogo com
outras fontes, que assim possibilitaram a critica documental sobre as realidades
retratadas nos enquadramentos ali recortados.
Verifiquei que a autonomia da capacidade de dizer das imagens em
muitos aspectos permitiu um desvio de intenções das vontades de quem
encomendou o álbum. Onde as narrativas pelo menos do ponto de vista temático,
procurou atender a intenção de quem o contratou. Em muitos casos o desvio
acontece justamente no ato fotográfico onde o domínio da composição esteve
sempre marcado pela vontade de quem recorta e de como recorta.
Neste sentido uma das conclusões possíveis está relacionada
diretamente às temáticas. Estas por mais que estivessem subordinadas aos ditames
de uma enunciação previamente estabelecida pelo contratante possibilitaram a
visualização de uma estética muito mais afeita a maneira de olhar do fotógrafo,
130
muito embora muitos dos pressupostos políticos de quem o contratou estivessem
presente nas temáticas retratadas.
A cidade inventada por Gaudêncio procurou certamente refletir a miragem
da modernidade européia que foi capaz de seduzir as mentes até mesmo dos mais
longínquos rincões do país. Esta espécie de ethos moderno experimentado pelos
diversos estados brasileiros encontrou nas gentes do Maranhão um desejo súbito de
acompanhar ao menos no plano discursivos a glória das conquistas provocadas pelo
desejo de “ser” e “ter” de um tempo marcado pela sede de civilização e progresso.
Se o Maranhão não alcançou de fato a prosperidade e o desenvolvimento
esperado, do ponto de vista industrial, parecia ser o que menos importava diante da
pretensão das imagens contratadas pelo governo Benedito Leite, o que parecia
importar mesmo era viver “no melhor dos mundos possíveis.” Interessava na
verdade era exibir as “potencialidades” do estado, da cidade, ainda que a infra-
estrutura se mostrasse deficiente e obsoleta, ainda que um velho casario colonial
oferecesse um contraste desigual com uns poucos edifícios tidos como “modernos”
naquele princípio de século, uma transformação como nos lembra Schwarz
259
superficial.
Outra constatação observada é a de que embora o foco das imagens não
estivesse voltado diretamente para a retratação de tipos humanos o leitor pôde
verificar que os enquadramentos realizados por Gaudêncio Cunha, indistintamente
registrou a presença de pessoas de diferentes níveis sociais no cenário urbano.
Como afirmou Fraya Frehse as fotografias são na verdade “testemunho do encontro
físico entre o fotógrafo e os sujeitos que este capta visualmente por meio da
câmera.”
260
Procurei com este estudo demonstrar ainda as medidas de uma
visualidade urbana criada pelo fotógrafo, assim como das intenções do contratante
relacionando-as a um dado imaginário. Tive como preocupação utilizar duas
estratégias metodológicas especialmente voltadas às fontes visuais com o objetivo
de verificar a construção dos sentidos no universo das imagens presentes no álbum.
259
SCHWARZ, Roberto. Ao vencedor as batatas: Forma literária e processo social. São Paulo:
duas cidades. 1992.
260
FREHSE, Fraya. Antropologia do encontro e do desencontro: fotógrafos e fotografados nas
ruas de são Paulo (1880-1910). In: O imaginário e o poético nas Ciências Sociais. São Paulo:
Edusc, 2005. p. 186.
131
O leitor pôde verificar ainda, que, a confecção do álbum, insere-se num
momento ímpar da história brasileira, um instante em que a glorificação de novos
ideais advindo com o processo de industrialização do país, foi capaz despertar nos
mais incipientes rincões do Brasil um desejo de progresso ilimitado, fazendo da
Exposição Nacional de 1908 um marco de sagração dos ideais do novo grupo social
hegemônico em princípios do regime republicano.
Se acompanhar o progresso significava “alinhar-se com os padrões de
ritmo de desdobramento da economia européia [...],”
261
a partir da pesquisa foi
possível constatar que os recortes selecionados pelo fotógrafo Gaudêncio Cunha
por mais que no plano simbólico buscasse acompanhar tais perspectivas, estes
estavam muito aquém desta realidade.
A partir do diálogo com diversos autores que tiveram a fotografia como
matéria prima primordial para a construção de diferentes narrativas históricas, pude
concluir, que, o trabalho de Gaudêncio Cunha também estava inserido no circuito
difusor de idéias referentes à fotografia, consubstanciando-se naquilo Maria Inêz
Turazzi
262
classificou como uma “cultura fotográfica” em vigor em nossa sociedade,
já que o conteúdo, os usos e funções basicamente serviam a um mesmo propósito.
O desejo de compreender o significado das representações fotográficas
construídas por Gaudêncio Cunha certamente continuará a desafiar diversos
pesquisadores em diferentes épocas, espera-se que o exercício realizado aqui,
venha a somar com os já existentes e estimule a possibilidade de novas leituras.
261
SERVCENKO. Nicolau. Literatura como missão. São Paulo: brasiliense, 1983. p. 29.
262
TURAZZI, Maria Inês. Uma cultura fotográfica. In: REVISTA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO
BRASILEIRO- Fotografia. Rio de Janeiro: IPHAN, 2001. p. 9.
132
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ANEXOS
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Fotografia 37 Largo do Carmo
Fonte: CUNHA, Gaudêncio. Maranhão 1908. São Luis: Edições AML, 2008.
Fotografia 38 Cathedral - S. Luís.
Fonte: CUNHA, Gaudêncio. Maranhão 1908. São Luis: Edições AML, 2008.
143
Fotografia 39 Igreja do Rosário e rua do Egito
Fonte: CUNHA, Gaudêncio. Maranhão 1908. São Luis: Edições AML, 2008.
Fotografia 40 Tesouro Público do Estado
Fonte: CUNHA, Gaudêncio. Maranhão 1908. São Luis: Edições AML, 2008.
144
Fotografia 41 Um trecho da Praça Deodoro da Fonseca - S. Luís.
Fonte: CUNHA, Gaudêncio. Maranhão 1908. São Luis: Edições AML, 2008.
Fotografia 42 Hospital Português
Fonte: CUNHA, Gaudêncio. Maranhão 1908. São Luis: Edições AML, 2008.
145
Fotografia 43 Biblioteca - Sala de Leitura
Fonte: CUNHA, Gaudêncio. Maranhão 1908. São Luis: Edições AML, 2008.
Fotografia 44 Rua da Estrela
Fonte: CUNHA, Gaudêncio. Maranhão 1908. São Luis: Edições AML, 2008.
146
Fotografia 45 Praça Benedito Leite.
Fonte: CUNHA, Gaudêncio. Maranhão 1908. São Luis: Edições AML, 2008.
Fotografia 46 Inferiores, praças e carros da Companhia de Bombeiros.
Fonte: CUNHA, Gaudêncio. Maranhão 1908. São Luis: Edições AML, 2008.
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