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protetor que nos faz esquivar de certas situações limites, um esquema que nos
protege dos horrores, como diz Deleuze (2007, p. 31):
[...] Temos esquemas para nos esquivarmos quando é desagradável
demais, para nos inspirar resignação quando é horrível, nos fazer
assimilar quando é belo demais. Notemos a este respeito que mesmo
as metáforas são esquivas sensório-motoras, e nos inspiram algo a
dizer quando já se sabe o que fazer: são esquemas particulares, de
natureza afetiva. Ora, é isso um clichê. Um clichê é uma imagem
sensório-motora da coisa. Como diz Bergson, nós não percebemos a
coisa ou a imagem inteira, percebemos sempre menos, percebemos
apenas o que estamos interessados em perceber, ou melhor, o que
temos interesse em perceber, devido a nossos interesses econômicos,
nossas crenças ideológicas, nossas exigências psicológicas. Portanto,
comumente, percebemos apenas clichês.
No entanto, o citado autor revela que se os esquemas sensórios-motores quebrarem
ou forem bloqueados, resta-nos apenas um outro tipo de imagem, uma pura, inteira e
sem metáforas: uma imagem ótico-sonora. Nesse caso, as imagens fazem surgir a
coisa em si, sem rodeios, em sua literalidade, os excessos de horror e de beleza
injustificáveis, pois não busca mais justificativas no bem e no mal. Logo, as imagens
mostram a vida como ela é, interrogam sobre como são as coisas, não numa relação
de semelhança, mas numa relação com a realidade das coisas. Ainda sobre essa
questão, Deleuze (2007, p.32) enfatiza que:
Por um lado a imagem está sempre caindo na condição de
clichê: porque se insere em encadeamentos sensórios-motores,
porque ela própria organiza ou induz seus encadeamentos, porque
nunca percebemos tudo o que há na imagem, porque ela é feita para
isto (para que não percebamos tudo, para que o clichê nos encubra a
imagem...). Civilização da imagem? Na verdade uma civilização do
clichê, na qual todos os poderes têm interesse em nos encobrir as
imagens, não forçosamente em nos encobrir a mesma coisa, mas em
encobrir alguma coisa na imagem. Por outro lado, ao mesmo tempo,
a imagem está sempre tentando atravessar o clichê, sair do clichê.
Não se sabe até onde uma verdadeira imagem pode conduzir: a
importância de se tornar visionário ou vidente. Não basta uma
tomada de consciência ou um mudança nos corações [...] Às vezes é
preciso restaurar as partes perdidas, encontrar tudo o que não se vê
na imagem, tudo o que foi dela subtraído para torná-la
“interessante”. Mas, às vezes, ao contrário, é preciso fazer buracos,
introduzir vazios e espaços em branco, rarefazer a imagem, suprimir
dela muitas coisas que foram acrescentadas para nos fazer crer que
víamos tudo. É preciso dividir ou esvaziar para encontrar o inteiro.
Podemos, assim, perceber que as imagens propostas, criadas e representadas
em filmes/telefilmes corroboram com o que vínhamos estabelecendo como imagem