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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO DE COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DA TRADUÇÃO
FABIANA REGINA DA SILVA SOARES
TRADUÇÃO COMENTADA DE CARTAS DE BYRON PARA E
SOBRE MADAME DE STAËL
Florianópolis
2010
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FABIANA REGINA DA SILVA SOARES
TRADUÇÃO COMENTADA DE CARTAS DE BYRON PARA E
SOBRE MADAME DE STAËL
Dissertação de Mestrado apresentada
ao Curso de Pós-Graduação em Estu-
dos da Tradução da Universidade Fe-
deral de Santa Catarina como requisito
parcial para a obtenção do tulo de
Mestre em Estudos da Tradução.
Orientadora: Profa. Marie-ne
Catherine Torres, Dra.
Florianópolis
2010
2
Catalogação na fonte pela Biblioteca Universiria da
Universidade Federal de Santa Catarina
S676t Soares, Fabiana Regina da Silva
Tradução comentada de cartas de Byron para e sobre
Madame de Sel [dissertação] / Fabiana Regina da Silva
Soares ; orientadora, Marie-Hélène Catherine Torres.
Florianópolis, SC, 2010.
151 p.:
Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de
Santa Catarina, Centro de Comunicação e Expressão.
Programa de Pós- Graduação em Estudos da Tradução.
Inclui referências
1. Byron, George Gordon Byron, 1788-1824. 2. Stael,
Madame de, 1766-1817. 3. Berman, Antoine. 4. Tradução
e interpretação. 5. Cartas. I. Torres, Marie-Helene Catheri-
ne. II. Universidade Federal de Santa Catarina. Programa
de Pós- Graduação em Estudos da Tradução. III. tulo.
CDU 801=03
3
FABIANA REGINA DA SILVA SOARES
TRADUÇÃO COMENTADA DE CARTAS DE BYRON PARA E
SOBRE MADAME DE STAËL
Prof. Dr. Walter Carlos Costa
Coordenador - PGET
Apresentada à banca examinadora integrada pelos professores:
Prof. Dr. Walter Carlos Costa
Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC
Profa. Dra. Marie-ne Catherine Torres
Universidade Federal de Santa Catarina UFSC
Profa. Dra. Luana Ferreira de Freitas
Universidade Federal do Ceará - UFC
Florianópolis, 13 de setembro de 2010
Esta dissertação fo
Mestre em Estudos da Tradução no Programa de Pós-Graduação em Estu-
dos da Tradução do Centro de Comunicão e Expressão da Universidade
Federal de Santa Catarina.
5
Dedico este trabalho ao meu filho, Lu-
ís Fernando, e ao meu esposo, Fábio,
que iluminam minha existência e me
estimulam a procurar ser uma pessoa
um pouco melhor a cada dia. A vocês,
o meu amor e o meu reconhecimento.
6
AGRADECIMENTOS
Agrado primeiramente a Deus, que tem estado comigo durante toda a
caminhada.
Agrado também aos meus pais, Vanda e Edson, e especialmente à
minha avó Adélia, por terem cuidado de meu filho com muito zelo e
amor nos momentos em que o estudo e o trabalho exigiram que eu esti-
vesse ausente.
Agrado ao meu esposo, bio, pelo interesse demonstrado por minha
pesquisa e por me ajudar a ver a tradução sob a ótica de um leitor crítico
e atento.
Agrado igualmente ao meu filho, Luís Fernando, por, desde os primei-
ros meses de vida, ter-me acompanhado nas andanças de uma mãe-
mulher-esposa-trabalhadora-estudante e por aceitar, com admiração no
olhar, a ausência que por muitas vezes se fez necessária para que este
trabalho fosse concluído.
Um agradecimento especial à amiga Thays, pelos conselhos sempre
sábios, pelo exemplo de mulher, pela amizade inabalável e por todo o
tempo dedicado a ouvir minhas queixas, lamúrias e a famosa frase “es-
tou trabalhando na minha dissertação.
Quero agradecer, também, ao professor Jonathan Jon Holloway (aka
Lord Blackadder), por ter se deixado contagiar por minha empolgação
pelo tema “Byron e pelas horas dedicadas à exaustiva revisão dos tre-
chos mais intrincados das cartas traduzidas.
Ao professor Dr. Apóstolo Theodoro Nicolacópulos, pelas melhores
aulas de inglês que alguém poderia ter e por sedimentar em mim o amor
pela língua inglesa.
À professora Dra. Marie-Hélène Catherine Torres, pela oportunidade
junto à PGET e por jamais ter deixado de acreditar em meu trabalho.
E a todos aqueles que direta ou indiretamente contribuíram para a reali-
zação deste projeto.
7
RESUMO
A presente pesquisa, vinculada à linha da Teoria, crítica e história da
tradução” apresenta a tradução comentada para o português de uma
seleção de cartas em língua inglesa escritas por Byron para Madame de
Staël ou endereçadas a terceiros, porém com referência a ela. O corpus,
selecionado pela amostragem intencional, é composto de 26 cartas e
constitui material ainda sem tradução em língua portuguesa, o que, so-
mado à relevância dos dois autores para a história e para a literatura,
justifica sua escolha para esta pesquisa. O processo tradutório foi norte-
ado pelos conceitos de tradução da letra, projeto de tradução, horizonte
tradutório e posição tradutória, conforme proposta de Berman (1995 e
2007). Com base nesses conceitos, objetivou-se (1) realizar uma tradu-
ção em que preponderasse o respeito à letra do texto original, com a
manutenção das marcas estilísticas do autor e (2) verificar a aplicabili-
dade dos conceitos de projeto de tradução, posição tradutória e horizonte
tradutório no processo de tradução. O corpus da pesquisa foi submetido
a um trajeto da tradução semelhante ao aplicado por Berman (1995) para
a análise de textos traduzidos. Estabeleceu-se, então, um projeto de tra-
dução em que preponderasse o respeito à letra do texto original, identifi-
cou-se o horizonte tradutório atual como marcado por traduções em que
se privilegia o sentido do texto e definiu-se a posição tradutória a ser
adotada na presente pesquisa como contrária a essa tendência aclimata-
dora. Os resultados indicam que é possível produzir traduções que res-
peitem a letra do texto original, evidenciando sua estrangeiridade. Entre-
tanto, algumas marcas estilísticas presentes no texto original não pude-
ram ser mantidas na tradução, em função da diferença entre os dois sis-
temas linguísticos. Ainda, a aplicação do trinômio projeto, posição e
horizonte tradutório possibilitou a explicitação dos critérios adotados no
processo tradutório, fundamentando as escolhas feitas e servindo como
base para a crítica da tradução e para a autocrítica do tradutor.
Palavras-chave: Byron. Madame de Staël. Cartas. Estudos da Tradução.
História da Tradução. Antoine Berman. Tradução Comentada.
8
ABSTRACT
This research, related to the field of Theory, criticism and history of
translation”, presents a commented translation from English into Portu-
guese of a selection of letters from Byron addressed or referring to Ma-
dame de Staël. The corpus, selected through intentional sampling, is
made of 26 letters still unpublisehd in portuguese and together with the
historical and literary relevance of these two authors, justify its choice
for the present research. The translation process followed Antoine Ber-
mans concepts of traduction-de-la-lettre, translation project, translation
position and translation horizon. Based on such concepts, we aimed (1)
to do a translation focusing on the respect for the form of the original
text, preserving the authors style and (2) to verify the applicability of
the concepts of translation project, translation position and translation
horizon for the translation process. The research corpus underwent the
same translation guidelines applied by Berman (1995) for the analysis of
translated texts. We then established a translation project focused on the
respect for the form of the original text, identified the current translation
horizon as marked by linearised translations and defined the transla-
tions position of this research as contrary to this tendency. The results
indicate that it is possible to do translations that respect the form of the
original text, highlighting its foreing characteristics. However, some
marks of the authors style were not kept in translation, because of the
diference between the two languages. Yet, the applicability of the triad
translation project, position and horizon made explicit the criteria fol-
lowed in the translation process, serving as basis for the translation criti-
cism and for the translators self criticism.
Keywords: Byron. Madame de Staël. Letters. Translation Studies.
Translation History. Antoine Berman. Commented Translation.
9
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.................................................................................... 11
1 BYRON E MADAME DE STAËL................................................. 19
2 EPISTOLOGRAFIA........................................................................ 30
2.1 AS CARTAS AO LONGO DA HISTÓRIA
OCIDENTAL........................................................................................ 32
2.1.1 Epistolografia no Brasil.............................................................. 36
2.2 OS GÊNEROS LITERÁRIOS E A EPISTOLOGRAFIA ..............39
2.3 BYRON E SUA CORRESPONDÊNCIA.......................................45
3 TRADÃO COMENTADA......................................................... 47
3.1 ASPECTOS TEÓRICOS DA TRADUÇÃO ..................................47
3.1.1 A tradução do sentido e a infidelidade do tradutor............... 47
3.1.2 A reflexão de Antoine Berman sobre tradução........................ 50
3.1.3 O trajeto da tradução................................................................. 52
3.2 TRADUÇÃO DAS CARTAS.........................................................55
3.3 JUSTIFICANDO AS ESCOLHAS...............................................133
REFERÊNCIAS……………………………………. 145
11
INTRODUÇÃO
I am seeking, I am striving, I am in it
with all my heart.
Vincent Van Gogh
Em 1821, Madame de Staël afirmou que traduzir as obras-primas
do espírito humano era o mais eminente serviço que se podia prestar à
literatura, desde que ao contrário da prática empregada pelos franceses
daquela época não se desse a própria cor a tudo o que era traduzido
1
.
Para ela, a circulação das ideias era, dentre todos os tipos de comércio,
aquele que apresentava as mais seguras vantagens. Mas essa circulação
não poderia ser proveitosa se passasse pelo toque de Midas”, porque
embora transformasse em ouro tudo o que lhe chegasse às mãos, ainda
assim o resultado seria um só e dele não se poderia tirar nenhum alimen-
to novo para o pensamento.
Mais de um século e meio depois, o tradutor, teórico, crítico e
historiador de tradução Antoine Berman, por meio de suas reflexões
sobre o tema e mais especificamente de estudos sobre a cultura e a tra-
dução na Alemanha romântica
2
, aponta na mesma direção. Nesse estudo,
Berman examina teorias de tradutores que vão de Novalis, Friedrich
Schlegel e A. W. Schlegel a Hölderlin e Schleiermacher. Reunidos em
torno da revista Athenäum, esses estudiosos produziram uma série de
grandes traduções que se mostraram ser um bem durável do patrimônio
alemão (BERMAN, 2002). A prática tradutória dos alemães românticos
é um exemplo de como a tradução pode ser empregada para o cresci-
mento da ngua e da cultura de uma nação. Utilizando o conceito de
Bildung, os alemães do século XVIII deram início a um processo de
formação da língua e da cultura nacional que passava por um projeto de
tradução estrangeirizante
3
de obras literárias. Em artigo que trata sobre
1
STAËL-HOLSTEIN, Germaine de. Do espírito das traduções. Tradução de Marie-Hélène
Catherine Torres, in: BORGES DE FAVERI, Cláudia; TORRES, Marie-Hélène Catherine
(orgs.). Clássicos da Teoria da Tradução – Antologia Bilíngue (Francês-Português). Florianó-
polis: UFSC, NUT, 2004. Extraído de Oeuvres completes de Madame la Barone de Staël.
Tome dixseptième. Paris: Treuttel et Wurtz, 1821. A queso da tradução também foi abordada
por Madame de Staël em De la Littérature, De l’Allemagne e Biblioteca Italiana.
2
A pesquisa de Berman sobre o assunto examina as teorias de tradução propostas e aplicadas
pelos românticos alemães e deu origem ao livro A Prova do Estrangeiro, publicado no Brasil,
em 2002, pela EDUSC, com tradução de Maria Emília Pereira Chanut.
3
Os conceitos de tradução estrangeirizante e tradução etnontrica propostos por Berman serão
apresentados e discutidos no capítulo 3 deste trabalho.
12
esse conceito, Suarez
4
(2006, p. 192) afirma queBildung expressa,
sobretudo, o processo da cultura, da formação, razão pela qual ela
refere-se à Bildung como formação cultural(grifo da autora). Dessa
forma, o conceito de Bildung pode ser utilizado para falar do grau de
formação de um indivíduo, de um povo, de uma língua.
A designação de Bildung como processo aparece, tanto em Hegel
quanto em Goethe, ligada à prática, ao trabalho.
Elemento definidor e resultado do processo cultu-
ral, Bildung significa, no pensamento de Hegel, a
partir de sua Propedêutica filosófica, ruptura com
o imediato e passagem do particular ao universal,
mais ainda, elevação ao universal, conotando a-
primoramento, engrandecimento. Como trabalho,
Bildung é formação prática, formação de si pela
formação das coisas. No Goethe de Wilhelm
Meister e nos românticos de Viena, Bildung se ca-
racteriza como uma viagem, Reise, cuja essência é
lançar o "mesmo" num movimento que o torna
"outro". A "grande viagem" de Bildung é a expe-
riência da alteridade. Para tornar-se o que é o via-
jante experimenta aquilo que ele não é, pelo me-
nos, aparentemente. Pois está subentendido que,
no final desse processo, ele reencontra a si mes-
mo. (SUAREZ, 2006, p. 193, grifo da autora).
Tanto a reflexão de Madame de Staël quanto a de Antoine Ber-
man, respaldadas pela prática dos românticos alemães, concedem à tra-
dução um papel relevante na formação e no crescimento da língua e da
cultura de um povo, desde que o tradutor prime pelo respeito à forma do
texto original ou texto primeiro em detrimento de formas aclimata-
doras em uso num determinado período no contexto da língua para a
qual se está traduzindo. É o trilhar de caminhos excêntricos ao qual se
referiu Friedrich Schlegel, fazendo com que o texto a ser traduzido saia
de sua língua materna e mergulhe na língua de seu original, emergindo
desta mais próximo de si exatamente por ter se banhado no outro.
Em seu ensaio sobre os métodos de tradução, Friedrich Schleier-
macher (2001, p. 43), tradutor que participou ativamente do movimento
4
Professora no quadro complementar do Departamento de Filosofia da PUC-Rio, Doutora em
filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.
13
romântico alemão, também aborda a questão do respeito em tradução, ao
afirmar que:
O verdadeiro tradutor, aquele que realmente pre-
tende levar ao encontro essas duas pessoas tão se-
paradas, seu autor e seu leitor, e conduzir o último
a uma compreensão e uma apreciação tão correta
e completa quanto possível e proporcionar-lhe a
mesma apreciação que a do primeiro, sem ti-lo
de sua língua materna, que caminhos ele pode to-
mar? A meu ver, só existem dois. Ou o tradutor
deixa o autor em paz e leva o leitor a ele; ou
deixa o leitor em paz e leva o autor a ele. Am-
bos são tão diferentes um do outro que um deles
tem de ser seguido tão rigidamente quanto possí-
vel do início ao fim.
Esse respeito a que se referem os autores citados deixa claro que
o ato de traduzir implica necessariamente em escolhas que serão feitas
pelo tradutor do texto. Fidelidade ao texto original, aclimatação à língua
e à cultura alvo, tradução livre, adaptação, enfim, todas as formas liga-
das à tradução serão regidas pela relação do tradutor com o texto origi-
nal, assim como pela relação do tradutor com o mundo. Essa afirmão
é reforçada por Marcos Siscar e Cristina Carneiro Rodrigues (2000, p.
6), ao afirmarem que tradução tem significado [...] muito mais do que
um processo de transferência linguística; tradução tem também busca-
do dizer a nossa maneira de relação com o mundo, em seus diversos
tipos de determinação (grifo dos autores). Essa relação com o mundo
reflete-se na leitura que o tradutor fará do texto primeiro e é ela que dará
origem ao texto traduzido. Considerando que essa leitura será influenci-
ada por todos os elementos que constituem o saber, o pensar e o agir do
tradutor, ela será sempre uma interpretação do texto original.
É impossível resgatar integralmente as intenções
e o universo de um autor, exatamente porque es-
sas intenções e esse universo serão sempre, ine-
vitavelmente, nossa visão daquilo que possam ter
sido. [...] O autor passa a ser, portanto, mais um
elemento que utilizamos para construir uma in-
terpretação coerente do texto. [...] O foco inter-
pretativo é transferido do texto, como receptácu-
lo da intenção original” do autor, para o intér-
prete, o leitor, ou o tradutor. [...] Significa que,
14
mesmo que tivermos como único objetivo o res-
gate das intenções originais de um determinado
autor, o que somente podemos atingir em nossa
leitura ou tradução é expressar nossa visão desse
autor e suas intenções [...]. (ARROJO, 2000,
p.40-44, grifo da autora)
Ainda, Davi Pessoa Carneiro (2007, p. 5), em artigo para a Revis-
ta Scientia Traductionis, cita o pressuposto de Walter Benjamin sobre a
tarefa do tradutor, que seria a de “extrair da língua original a sua própria
essência”, deixando fluir o que Benjamin chama de língua pura, que
representaria o enriquecimento de uma língua através de uma vincia
linguística e social calcada em outras línguas. Essa tarefa, acreditamos,
só existe e é realizada devido ao que Berman denominou de a pulsão
do traduzir que, segundo Wanessa Gonçalves Silva (2005, p. 3), se
expressa como um desejo latente de desvendar o texto e mostrá-lo nu a
outra língua.
Foi pensando na contribuição que o tradutor pode dar para o de-
senvolvimento da língua e da sociedade, bem como na responsabilidade
de se realizar uma tarefa que, via de regra, é guiada por escolhas pesso-
ais e avaliada por critérios subjetivos, e movidos por essa pulsão, que
este trabalho passou a ser delineado.
Vinculada à linha da Teoria, crítica e história da tradução, a
presente pesquisa tem por objetivo traduzir para o português uma sele-
ção de cartas em língua inglesa de Byron destinadas a Madame de Staël
e também aquelas escritas para outros destinatários, porém com menção
a esta.
O fato de a correspondência em Língua Inglesa entre Madame de
Stl e Byron configurar-se em material ainda sem tradução para o por-
tuguês, somado à importância dos escritos de Madame de Staël e da
poesia de Byron para a história e a literatura mundial, justificam a esco-
lha do tema para a presente dissertação. Ainda, embora outros destinatá-
rios tanto de Byron quanto de Madame de Staël apresentem maior vo-
lume de cartas, é exatamente a pouca atenção dispensada a um estudo
comparativo desses dois autores igualmente famosos em sua época e
influentes até hoje que nos estimula ao estudo do tema proposto.
A opção por traduzir cartas, e não obras literárias do autor, foi
feita com base no crescente interesse acadêmico pelas pesquisas envol-
vendo os textos privados, tais como biografias, diários e corresponn-
cias. Além disso, conforme conceituação de rard Genette (1987), as
cartas podem ser consideradas como paratextos das obras literárias,
15
paratextos esses que podem explicitar nuances e sutilezas sobre a obra
de um escritor. Indo um pouco além, de acordo com a argumentação de
Brigitte Diaz
5
(2002), a correspondência pode caracterizar-se não apenas
como paratexto das obras de um autor, mas como textos independentes,
impregnados pelo estilo, pela personalidade e pela essência de quem os
escreve. Com base na última afirmação, as cartas de Byron e de Mada-
me de Staël, figurando como obras literárias, despertam igualmente o
interesse de quem deseja estudar e aprofundar-se no legado literário dos
dois autores.
O processo tradutório foi norteado pelas reflexões de Berman
(1995 e 2007), com foco especial em seus conceitos de projeto de tradu-
ção, posição tradutória e horizonte tradutório, os quais serviram como
pressupostos para o processo de tradução das cartas. Berman propõe o
estabelecimento de um planejamento tradutório – ou projeto de tradução
, que deverá nortear o processo tradutório e servir como referência para
as análises e críticas que possam ser feitas do texto traduzido. Indissoci-
avelmente ligada ao projeto de tradução, está o que Berman classifica
como a posição tradutória, ou seja, o compromisso entre a consciência
do tradutor e o modo como ele internalizou as normas sobre o traduzir
determinadas pelo meio. Posição tradutória e projeto de tradução, por
sua vez, estão inseridos no que Berman (1995, p. 79) denomina de hori-
zonte tradutório, que seriao conjunto dos parâmetros da linguagem
literários, culturais e históricos que ‘determinam o sentir, o agir e o
pensar do tradutor (grifo do autor)
6
. Com base nesses conceitos e no
axioma bermaniano de tradução da letra, procuramos definir e seguir um
projeto de tradução em que preponderasse o respeito à letra do texto
original.
Com base nas reflexões de Berman, definimos o horizonte no
qual esta tradução tomou corpo. O número de pesquisas focando a tra-
dução comentada tem crescido consideravelmente nos últimos anos.
Dentre esse número, encontram-se algumas cujo objeto de estudo é a
correspondência. Teóricos da literatura também têm dirigido sua atenção
ao gênero classificado como epistolar. Somamos a isso as teorias da
tradução sobre essa atividade, especificamente as reflexões que questio-
nam a tendência a se produzirem traduções fluentes na língua de chega-
da e temos o horizonte tradutivo preliminarmente delimitado.
5
Brigitte Diaz é professora de Literatura Francesa na Universidade de Caen e publicou em
2002 o livro L’épistolaire ou la pensée nomade, um estudo detalhado sobre a correspondência
em nível histórico, cultural e literário, com aprofundamento nas cartas do século XIX.
6
Todas as traduções ao português, quando sem indicação do tradutor, são de nossa autoria.
16
Após tomar consciência do horizonte que nos cerca, buscamos
identificar nossa posição tradutória. É inegável que a tendência a se
produzirem traduções que privilegiem o sentido imprime marcas em
nível consciente e também inconsciente estas últimas bem mais difí-
ceis de serem modificadas. Nossa orientação primeira no tocante à tra-
dução, assim como nossa prática, foi calcada nessa tendência. O estudo
e a reflexão acerca da tradução como tradução do sentido foi o que de-
sencadeou os questionamentos que hoje transformamos em princípios.
Contudo, é importante ter em mente que esses princípios estão sendo
gradativamente assimilados, substituindo os anteriores. Essa substitui-
ção não impede que os impulsos já existentes aqueles ligados à fln-
cia do discurso se manifestem em algum momento do processo. Ou
seja, uma vez que nossa posição tradutória prima pelo respeito à letra do
texto original, redobraremos a atenção no processo de tradução do texto,
para evitar que tendências privilegiadoras do sentido se cristalizem no
texto final.
Em complemento à posição tradutória que assumimos neste tra-
balho, definimos nosso projeto de tradução: traduzir as cartas de Byron
para o português de modo a privilegiar a letra do original, obtendo um
texto na ngua de chegada marcado pela estrangeirizão e, em conse-
quência, pela estranheza, de modo a propiciar ao leitor do texto traduzi-
do o contato mais estreito possível com o Outro através do Próprio.
De acordo com Georges Solovieff (1970), Madame de Stl es-
creveu dez vezes a Byron no período de 1813 a 1817, na forma de cartas
e bilhetes. Desse total, apenas dois bilhetes chegaram até nós, publica-
dos numa seleção de cartas organizada por Solovieff
7
. Já a coletânea da
correspondência de Byron, compilada por Leslie A. Marchand
8
a mais
completa até hoje publicada, com um total de 3.000 cartas nos apre-
senta três cartas escritas por Byron a Madame de Stl, todas seleciona-
das para o corpus da presente pesquisa. No tocante às cartas escritas por
Byron a outros destinatários, o critério utilizado para a seleção delas foi
a relevância do comentário do autor sobre Madame de Stl. Todas as
cartas em que Byron faz comentários acerca das obras de Madame de
Staël, ou de sua personalidade, constam do corpus, as quais, somadas às
três cartas diretas, perfazem um total de 26.
7
Sobre o assunto, ver STAËL-HOLSTEIN, Germaine de. Madame de Staël: ses amis, ses
correspondants. Choix de Lettres (1778 - 1817). Présenté et commenté par Georges Solovieff.
Paris: Éditions Klincksieck, 1970.
8
BYRON, George Gordon. Byron’s letters and journals. Edited by Leslie A. Marchand.
Cambridge: Harvard University Press, 12 vols. 1973-1982.
17
Iniciamos o trabalho com a leitura de todas as cartas contidas nos
três volumes selecionados para a pesquisa, sem levar em consideração,
num primeiro momento, se o seu conteúdo seria utilizado no corpus.
Isso nos deu uma boa noção sobre as relações de amizade de Byron e
sobre seu estilo na escrita epistolográfica. O tom de suas cartas variava
de acordo com a intimidade com o destinatário. Após a leitura destas,
passamos a selecionar aquelas cujo conteúdo seria de nosso interesse. A
cronologia adotada para a busca e seleção das cartas abrangeu o período
de 1813 ano em que Byron e Madame de Stl foram oficialmente
apresentados em Londres , a 1817, ano do falecimento de Madame de
Stl. A exceção foi um bilhete escrito por Byron, em 25 de agosto de
1819, na contracapa do exemplar em italiano do romance Corinne, de
Madame de Staël, bilhete este cujo destinatário era sua amante, a Con-
dessa Teresa de Guiccioli, dona do exemplar em questão. Selecionadas
as cartas, optamos por apresentá-las cronologicamente, por acreditarmos
ser esta a melhor forma para a compreensão dos assuntos abordados
devido ao encadeamento sequencial dos acontecimentos.
Passamos em seguida à leitura das biografias de Byron e de Ma-
dame de Staël, o que reforçou ainda mais tros contidos na correspon-
dência entre e sobre ambos. Após, iniciamos o trabalho de levantamento
biográfico a respeito dos principais destinatários das cartas selecionadas
no corpus. Essa pesquisa possibilitou um cruzamento entre as relações
de parentesco ou amizade entre os indivíduos com o tom empregado nas
cartas. Juntamente com o levantamento biográfico dos correspondentes,
desenhamos a linha do tempo na esfera privada e social da vida de B-
yron, o que nos levou à seguinte divisão, relevante para a análise psicos-
social do momento em que cada carta foi escrita:
a) Cartas escritas em 1813 e 1814, período em que, acredita-se
pelas biografias lidas, Byron, então solteiro, mantinha uma li-
gação amorosa clandestina com sua meia-irmã, Augusta Leigh
e em que ele desponta para o sucesso como poeta na Inglater-
ra, ganhando posição de destaque na sociedade londrina.
b) Cartas escritas em 1816, período em que Byron encontrava-se
em exílio voluntário, na Suíça, após o término de seu contur-
bado casamento com Lady Anabella Milbanke e do esndalo
que adveio.
c) Cartas escritas em 1817 e 1819, quando Byron já estava vi-
vendo na Itália.
Findo o levantamento biográfico do remetente e dos destinatários,
refizemos a leitura das cartas do corpus, dessa vez identificando as pas-
18
sagens que julgamos problemáticas e procurando destacar as marcas
do autor, sejam palavras, expressões, ou o próprio tom empregado no
texto. Por meio dessa delimitação, distinguimos os pontos em que terí-
amos alguma liberdade de tradução daqueles em que deveamos em-
pregar maiores esforços para a preservação das marcas textuais do autor.
Somente após o escoramento em leituras colaterais e as a análise do
corpus foi que iniciamos o processo de tradução das cartas selecionadas.
Em sequência a esta introdução, que apresentou os aspectos me-
todológicos e as bases teóricas que nortearam nossa pesquisa, apresen-
tamos, no Capítulo 1, informações biográficas de Byron e de Madame
de Staël, com comentários acerca da relevância das obras desses autores
para sua época. Pela narrativa biográfica, esperamos evidenciar a proje-
ção que ambos fizeram de suas experiências pessoais na composição de
suas obras, bem como a influência exercida pela composição de Mada-
me de Staël na produção literária de Byron e vice-versa.
No Catulo 2, abordamos o crescente interesse por pesquisas
nesse ramo da literatura e apresentamos uma revisão histórica sobre a
prática da correspondência escrita, além de citar alguns dos principais
epistológrafos de nosso tempo. Ainda, apresentamos um apanhado sobre
a teoria de gênero literário e procuramos situar a correspondência em
literatura como um gênero próprio, nem maior nem menor, surgido da
inevitável adequação do none dos gêneros às mudanças socioculturais.
Além disso, apontamos aspectos da correspondência de Byron.
No Catulo 3, dedicado ao estudo da teoria da tradução, discor-
remos sobre a história da tradução e a origem dessa prática como tradu-
ção do sentido. Para ilustrar tal prática, fazemos uso das reflexões de
Antoine Berman (1995 e 2007) e de Lawrence Venuti (1995) relativas
ao cânone vigente de tradução como tradução-do-sentido, bem como da
análise de Berman sobre esse assunto, abordando tal prática em termos
culturais e literários. Apresentamos no catulo, ainda, as reflexões so-
bre teoria da tradução propostas por Berman (1995) que norteiam esta
pesquisa. Além do pressuposto de que a tradução é a tradução da letra de
um texto, percorremos o mesmo trajeto proposto por Berman para a
análise de traduções, porém adaptada à prática da tradução, trajeto esse
fundamentado nos conceitos de projeto de tradução, posão tradutória e
horizonte do tradutor. Nesse capítulo também apresentamos o texto das
cartas traduzidas na íntegra, figurando a tradução junto ao seu original,
seguido da confrontação da tradução com seu projeto, feita pela exem-
plificação no texto traduzido das escolhas feitas.
Na Conclusão, apresentamos os resultados finais da pesquisa,
com algumas reflexões acerca do processo de tradução.
19
1 BYRON E MADAME DE STAËL
Il y a, dans le sentiment même des regrets, quelque
chose de doux et d'harmonieux qu'il faut tâcher de faire
connaître à ceux qui n'ont encore éprouque les amertumes.
(Madame de Staël, Corinne)
Nothing so difficult as a beginning
In poesy, unless perhaps the end;
For oftentimes when Pegasus seems winning
The race, he sprains a wing, and down we tend,
Like Lucifer when hurl'd from heaven for sinning;
Our sin the same, and hard as his to mend,
Being pride, which leads the mind to soar too far,
Till our own weakness shows us what we are.
(Byron, Don Juan, Canto IV)
Quando Madame de Staël morreu, no dia 17 de julho de 1817,
aos 51 anos, Byron homenageou-a com dois textos distintos. O primeiro
aparece nas notas do Canto IV de Childe Harold’s Pilgrimage, publica-
do em 1818; o segundo é parte de um poema que Byron incluiu numa
carta para seu editor, John Murray, em agosto de 1817. Nas notas que
esclarecem as estrofes 54 e 55 do Canto IV, onde celebra os ilustres
escritores sepultados em Florença, o poeta antevê o tempo em que o
talento singular de Madame de Stl será valorizado, livre das distorções
do julgamento da época, influenciando a posteridade (WILKES, 1999).
Boa parte da nota, no entanto, enfoca Madame de Stl como pessoa e
não apenas como escritora, mostrando não se tratar, nesse caso, de um
escritor elogiando outro, mas do depoimento de um ser humano a res-
peito de alguém com quem teve a oportunidade de conviver.
Essa convivência aconteceu no verão de 1816, durante o exílio ao
qual Byron se entregou após o término de seu conturbado casamento
com Lady Anabella Milbank, oportunidade em que ele visitou Madame
de Staël regularmente na propriedade desta última no Chateau de Cop-
pet, às margens do Lago Leman, na Suíça (WILKES, 1999). Coppet, na
época, era um conhecido ponto de encontro para escritores e intelectu-
ais. O círculo que Madame de Staël construiu à sua volta incluía A. W.
Schlegel, Benjamin Constant, Simonde de Sismondi e Chateaubriand.
Desse período, Byron declarou que a despeito das imagens sublimes do
Lago Leman, sua satisfação maior veio da contemplação das admiráveis
qualidades da incomparável anfitriã de Coppet (WILKES, 1999).
20
Esses depoimentos, no entanto, divergem da opinião inicial de
Byron sobre Madame de Stl, formada logo após a apresentação formal
de ambos, ocorrida no dia 20 de junho de 1813, durante um jantar na
residência de Lady Jersey, em Londres
9
. Na época, Madame de Staël já
era famosa na Inglaterra graças a seus trabalhos literários e também por
sua oposição à política de Napoleão Bonaparte. Byron, por sua vez,
ganhava notoriedade com seu Childe Harolds Pilgrimage, chocava a
sociedade com seu comportamento pouco convencional e era admirador
de Napolo Bonaparte. Após a apresentação oficial, ambos encontra-
ram-se várias vezes em sociedade nos anos de 1813 e 1814, até o retorno
de Madame de Staël a Paris (WILKES, 1999).
A primeira impressão de Madame de Staël sobre Byron foi a de
que ele erao homem mais sedutor da Inglaterra (SOLOVIEFF, 1970,
p. 464). Byron, por sua vez, incomodava-se com o hábito de Madame de
Stl de afogar os demais em conversas sem fim, conforme uma das
anotações feitas no diário que manteve durante os anos de 1813 e 1814.
Para sua confidente, Lady Melbourne, ele declara que tenta evitar a
presença de Stl, já queem sociedade não vejo nada além de uma
mulher muito simples forçando os outros a ouvi-la e a ol-la com sua
caneta atrás da orelha e com a boca cheia de tinta (WILKES, 1999, p.
4; grifo do autor). Anos mais tarde, Byron ainda lembraria o quanto ela
perdia-se em longos discursos. Embora o falar sem fim fosse o tópico
central da aversão de Byron, ele também se sentia repelido pela auncia
de beleza da mulher de meia-idade: em junho de 1814, ele escreveu a
uma correspondente na Suíça dizendo esperar que ela não fosse parecida
com Madame de Staël, já que esta eraassustadora como um precipício
(Ibid., p. 5)
Entretanto, os motivos explicitados por Byron para sua aversão a
Madame de Staël não eram tão fortes quanto o ciúme profissional, já
que, conforme Wilkes (1999, p. 5):
[...] Madame de Staël chegou à Inglaterra em ju-
nho de 1813, famosa como a autora de diversos
trabalhos, notadamente o romance best-seller de
1807, Corinne ou a Itália (Corinne, ou lItalie).
Ela também era celebrada como o centro da re-
sistência intelectual ao arqui-inimigo da Breta-
nha, Napoleão Bonaparte: em 1813, seu estudo
da política e literatura alemã, Germany (De
9
Conforme cronologia apresentada por Leslie A. Marchand em seu livro Byron’s letters and
journals, vol. 3 (1813 – 1814). Cambridge: Oxford University Press, 1974.
21
l’Allemagne), cuja primeira impressão em 1810
foi destruída sob ordens de Napoleão, havia fi-
nalmente sido publicado por Murray – na In-
glaterra. A tradução para o ings desse imensa-
mente longo e acadêmico trabalho vendeu 2.250
cópias em 1813, enquanto a primeira edição do
original em francês, 1500 cópias, esgotou-se em
três dias. A resposta de Byron a Staël em 1813-
14 foi, portanto, presumivelmente afetada pelo
seu despertar para a realidade de encontrar al-
guém tão famoso quanto ele próprio.
Outro motivo, também consistente, para a resisncia de Byron à
influência de Madame de Staël dizia respeito à sua crença de que ela
havia se tornado uma apoiadora acrítica da Ala Tory do Governo Inglês
e das forças religiosas conservadoras da Inglaterra. Em carta endereçada
a Thomas Moore logo após ter sido apresentado à escritora, Byron es-
creve que as convicções políticas de Madame de Stl estão “tristemente
modificadas, uma vez que ela éfavorável ao Lorde de Israel e ao Lor-
de de Liverpool uma vil antítese de um Metodista e de um Tory não
fala de outra coisa a não ser de devoção e do ministério e, presumo,
espera que Deus e o governo ajudem-na com uma pensão”.
Alguns meses depois dessa afirmação, seu poema satírico The
Devil’s Drive foi publicado, contendo entre as visões do demônio que
evidenciavam o calamitoso estado político da Inglaterra, um baile ofere-
cido pelo Regente e prestigiado por Madame de Stl, transformada em
Metodista e Tori”. Byron exagerava em relação ao alcance das convic-
ções políticas e religiosas de Madame de Stl: ela via o sistema político
britânico de forma geral, ao invés do Governo Tory propriamente dito,
como um modelo para outras nações seguirem; sua atração era pelo
idealismo religioso e não por manifestações particulares de qualquer
corrente religiosa (WILKES, 1999). Mesmo assim, sua tendência de
elogiar a vida política, social e religiosa da Inglaterra permaneceu como
ponto de disputa para Byron e a exposição poética do que ele via como a
corrupção e a hipocrisia de seus compatriotas teve como um de seus
alvos a imagem elogiosa dos ingleses apresentada por Madame de Staël
em suas obras.
Nesse período inicial, Byron declarou a respeito da obra literária
de Madame de Staël que suas obras são meu encanto, assim como ela
própria pormeia hora. Eu não gosto de sua políticapelo menos não
do fato dela tê-la modificado [...]. Mas ela é uma mulher por si só e tem
22
feito muito mais do que todas elas juntas, intelectualmenteela devia
ter sido homem”. (MARCHAND, 1974, p. 227).
Constantemente provocada pelos comentários de Byron acres-
cidos de um prazer sádico em atormentá-la , Madame de Stl chegou
a dizer dele:é um demônio!” (Ibid., p. 263). Entretanto, apesar das
frequentes alfinetadas, ele já fornecia indícios de que conseguia perce-
ber algo mais atrativo e interessante na personalidade de Madame de
Stl. Quando ela lhe agradeceu efusivamente por conferir mérito literá-
rio às suas obras numa nota do poema The Bride of Abydos, Byron mos-
tra-se compelido a tentar formular uma resposta ao agradecimento em
seu diário, quando escreve,
[...] primeiro, todas as mulheres apreciam todos,
ou qualquer elogio; segundo, isso foi inesperado,
porque eu nunca a cortejei, e terceiro, como Scrub
diz, aqueles que m sido durante toda a vida cor-
tejados regularmente, por críticos regulares, apre-
ciam uma pequena variação, e alegram-se quando
alguém sai de seu caminho para fazer um comen-
tário cortês; e quarto, ela é uma criatura de boa
índole, que é a melhor razão, afinal, e, talvez, a
única.
10
Apesar de seu aparente desprezo pela condição feminina de Ma-
dame de Stl, assim interpretada em função da dificuldade em aceitar
que obras tão bem escritas possam ter sido compostas por uma mulher,
no comentário acima Byron parece reprovar-se pelo cinismo no trato
para com ela, já que reconhece tratar-se de uma pessoa de bom caráter.
Esse reconhecimento consolida-se em 1816, em meio ao estado
emocionalmente abalado que teve origem após o esndalo ocorrido em
seu matrimônio com Lady Annabella Milbanke e por sua consequente
saída de Londres. Diante do pedido de divórcio feito por Lady Byron,
provocado, entre outros motivos, pela suspeita de que Byron mantinha
uma relação incestuosa com sua meia-irmã, Augusta Leigh, desde antes
do casamento, ele parte de Londres numa espécie de exílio autoimposto,
deixando para trás a esposa e a filha recém-nascida, Augusta Ada
(MACCARTHY, 2002, p. 5).
Em um de seus destinos Suíça , Byron hospedou-se na Vila
Diodati, às margens do Lago Leman, em cuja margem oposta localiza-
10
Entrada do diário de Byron datada de 7 de dezembro de 1813, presente no volume 3 de
Byron’s Letters and Journals.
23
va-se o Château de Coppet, casa de campo de Madame de Staël. Nesse
ponto de seu degredo, Byron viu em Madame de Staël uma anfitr
compreensiva e hospitaleira. Ela, de espírito engajado por natureza,
abrou a causa da separação de Byron, buscando uma reconciliação
entre ele e Lady Byron, mas não obteve êxito na empreitada (Ibid., p. 6).
A confirmão de que Byron havia sido tocado pelas qualidades
da salonièrede Coppet está expressa numa das cartas desse período
enviadas por Byron a Augusta Leigh, na qual ele afirma queMme. de
Stl tem sido particularmente gentil e amigável para comigo – e (ouço
dizer) travou inúmeras batalhas em minha muito indiferente causa.
Comentários similares também podem ser lidos em cartas subsequentes
para Augusta Leigh, Thomas Moore, John Murray e Samuel Rogers.
Para John Murray, por exemplo, Byron escreveu que Madame de Staël
havia feito de Coppet um lugar tão aprazível quanto a sociedade e o
talento poderiam fazê-lo por qualquer lugar no planeta (Ibid., p. 7).
Apesar desses comentários e dos registros em cartas expressarem
a relevância do verão de 1816 em Geneva para consolidar a opinião de
Byron sobre Madame de Stl, tanto as abordagens literárias quanto as
biográficas desse período enfocam muito mais a amizade de Byron com
Percy Bysshe Shelley e seu círculo íntimo do que com Madame de
Stl. As razões para isso vão desde o fato de ambos Byron e Shelley
serem poetas conterrâenos, passando pela presença de Byron na ocasi-
ão em que Frankenstein foi delineado por Mary Shelley e culminando
com o relacionamento de Byron com Claire Clermont meia-irmã de
Mary –, do qual nasceu sua segunda filha, Allegra.
Sobre o talento literário de Madame de Stl, as opines nas car-
tas e registros em diário desse período são entusiasmadas. Em um des-
ses registros, Byron faz um elogio a De l’Allemagne: “Li seus livros – e
gosto da maioria deles e me encanto com o último (MACCARTHY,
2002, p. 8). Seu reconhecimento do talento literário de Madame de Staël
é reforçado em 1817, período em que ela buscava um editor para sua
história sobre a Revolução Francesa. Byron apressou-se em escrever
para seu próprio editor, John Murray, incentivando-o a aceitar a publi-
cação do livro, sob o argumento de que Consirations sur La voluti-
on française seriaseu melhor trabalho e permanentemente histórico.
(Ibid., p. 8)
11
. Embora os registros disponíveis sobre respostas diretas de
Madame de Stl a Byron sejam escassos, é possível afirmar que ela
admirava o trabalho do poeta, mas era de opinião que, pelo menos entre
11
Madame de Staël faleceu antes dos acertos finais, fato que fez com que o livro acabasse
sendo publicado na Inglaterra pela editora Baldwing and Cradock.
24
os anos de 1813 e 1814, ele era uma pessoa difícil de lidar (MACCAR-
THY, 2002).
Tal opinião era corroborada por aqueles que compunham o círcu-
lo de amizades de Byron. Uma hipótese para essa personalidade difícil
pode residir na ambivancia física e psicológica do poeta: seu poder de
atração em relação às mulheres era muito mais pela aparência delicada,
quase diáfana, do que por uma compleição física máscula; seu espírito
delicado, seus caprichos, sua vaidade, contrapunham-se à mente racio-
nal e analítica (Ibid., p. 8). Uma das melhores descrições sobre a perso-
nalidade de Byron foi apresentada pelo historiador George Finlay (1861,
p. 22-23):
Era como se duas almas distintas ocupassem seu
corpo alternadamente. Uma era feminina e cheia
de simpatia; a outra masculina, e caracterizada
por julgamento claro e por um raro poder de a-
presentar para consideração apenas os fatos que
eram exigidos para se formar uma decisão.
Quando uma chegava, a outra partia. Em socie-
dade, sua alma compreensiva era seu tirano. So-
zinho, ou com apenas uma pessoa, sua prudência
masculina mostrava-se como sua amiga. Nenhum
homem poderia então arranjar fatos, investigar
suas causas, ou examinar suas consequências,
com maior precisão lógica, ou com espírito mais
prático. Porém, em seu momento mais sagaz, o
surgimento de uma terceira pessoa desarranjaria
a ordem de suas ideias o julgamento sumia e a
simpatia, geralmente sorrindo, tomava seu lugar.
Donde ele parecia extremamente caprichoso em
sua conduta, enquanto em suas opiniões ele pos-
suía realmente enorme firmeza. Frequentemente,
entretanto, ele demonstrava uma tendência femi-
nina de desapontar-se com coisas mínimas, en-
quanto ao mesmo tempo possuía uma candura
feminina de alma, um amor natural pela verdade,
que o fazia muitas vezes desprezar a si próprio
quase tanto quanto ele desprezava a elegante so-
ciedade inglesa pelo que ele denominava de sua
descarada hipocrisia.
25
Assim como Byron, Madame de Staël também era afeta a refe-
rências elogiosas em seus escritos. Em um bilhete de agradecimento a
Byron pela referência feita a ela numa nota do poema The Bride of Aby-
dos, ela afirma que a menção -la sentir-se, pela primeira vez, certa de
sua fama. Apesar dessa amabilidade, em 1814, ao parabeni-lo pelo
estilo encantador de O Corsário, Madame de Stl o critica por suas
reservas em relação a ela, e dá a entender que ele tem algum tipo de
mania de perseguição, quando diz
Se estás cometendo o erro de não te importar com
a raça humana, parece-me que ela está fazendo
tudo o que lhe está ao alcance para reconciliar-se
contigo, e o destino não destratou o homem que
ele próprio fez o maior poeta de seu século. Tra-
teis aqueles que te admiram com um pouco mais
de gentileza. (WILKES, 1999, p. 9).
Sobre o trabalho de Byron, o comentário de Madame de Stl em
sua cobertura sobre a cultura britânica na obra Considérations sur La
Révolution française é igualmente laudatório. Assim como ele a colocou
entre as mentes brilhantes do Lago Leman, ela o elogia como parte de
uma nova escola de poesia britânica que inclui Samuel Rogers, Thomas
Moore, Campbell e Scott e que se caracteriza pela imaginação, sensibi-
lidade e por uma espécie de fervor idealista, que ela denominou de en-
tusiasmo.
12
Para Wilkes (1999), existem evidências consideráveis na poesia
de Byron da influência que os trabalhos de Madame de Staël exerceram
sobre ele, assim como esta última foi movida pelo corpus do trabalho de
Byron publicado enquanto ela ainda vivia. Segundo a autora, o tributo
que Byron ofereceu a Madame de Staël no Canto IV de Childe Harold
está inserido naquela exata passagem não apenas para li-la aos gran-
des escritores enterrados em Santa Croce, em Florença, mas para recor-
dá-la de sua própria evocação dos mesmos escritores no mesmo local,
em sua mais famosa obra, Corinne
13
, que foi o primeiro romance de
Madame de Stl a expressar uma atitude melancólica em relação às
viagens e a assinalar a aura de paixão da Itália, duas características
melancolia e paixão associadas diretamente ao Romantismo e, mais
12
Considérations sur la Révolution Française (1818), présenté et annoté par Jacques Godechot
(Paris: Tallandier, 1983), pt 5, ch. 5, p. 551.
13
Corina ou a Itália, 1945, Edições Cultura.
26
especificamente, com o Childe Harold de Byron alguns anos depois.
Wilkes (1999) sugere que uma forma interessante de interpretação de
Childe Harold IV seria enten-lo como uma resposta a Corinne.
Embora existam poucas discussões sobre o impacto das obras de
Byron nas de Madame de Stl, sobretudo por conta do período de pos-
sível influência ter sido reduzido com a morte dela
14
, sua primeira bió-
grafa, Mme. Necker de Saussure, afirmou que os poemas de Byron pro-
vocaram fortes emoções na autora, agindo como um tônico para suas
ideias e para sua criatividade. Ainda, uma faceta da mudança de orienta-
ção na poesia de Byron, identificada a partir de 1816 e comentada por
diversos críticos , pode ser atribuída a uma tentativa de reparação de
sua imagem pessoal, esforço que a própria Madame de Stl procurou
fazer diante do escândalo do divórcio de Lord e Lady Byron (WILKES,
1999).
No tocante às suas obras, tanto Byron quanto Madame de Staël
beneficiaram-se de uma perspectiva continental que fez deles verdadei-
ros cosmopolitas. Os títulos de seus trabalhos Corinne, ou l’Italie, De
L'Allemagne, Childe Harold's Pilgrimage, Don Juan, Beppo, e os dra-
mas venezianos Marino Faliero e The Two Foscari fornecem evidên-
cias de que ambos podem ser considerados cidadãos do mundo. Essa
característica em comum demonstrava que ambos exploravam a capaci-
dade de adaptação aos mais variados ambientes, inerente ao ser huma-
no; a mobilité atribuída por Madame de Stl a sua heroína Corinne tem
seu paralelo na mobility empregada por Byron na personagem Lady
Adeline Amundeville, em Don Juan, assim como nos heróis protagonis-
tas desta última obra e também de Beppo (WILKES, 1999). Essa pers-
pectiva cosmopolita pode -los levado a criar heis e heroínas simila-
res, porém com um quê de superioridade, culminando assim com o sur-
gimento de protagonistas cujos temperamentos, talentos e experiências
permitem elevá-los acima da esfera dos pobres mortais figuras como
Delphine e Corine de Stl e os famosos heis byronianos (de Byron)
Childe Harold, Giaour, Selim, Conrad/Lara e Manfred(o)”. (Ibid., p.17).
Para alguns críticos e estudiosos do assunto (MOERS, 1985;
GUTWIRTH, 1978), Corinne pode ser vista como a versão feminina de
Childe Harold ou, ainda, como o herói byroniano para as mulheres.
Wilkes (1999) afirma que tanto Corinne quanto Delphine intrigaram os
leitores europeus e que Corinne exerceu grande influência nas mulheres
leitoras da época, devido, especialmente, aos seus brilhantes feitos como
artista, somados à aclamão pública que lhe renderam, o que desafiava
14
Madame de Staël faleceu em 1817, não tendo acesso a grande parte da obra de Byron.
27
a ideia de que a natureza feminina destinava-se, apenas, à vida domésti-
ca como esposas e mães. Ambas Corinne e Delphine são retratadas pela
autora como mulheres possuidoras de qualidades incomuns. Corinne é
uma mulher de origem desconhecida, possuidora de grande beleza físi-
ca, que encanta a todos com seus dons artísticosmostrando-se excelen-
te dançarina, atriz, música, pintora e escritora e, principalmente, com
suas qualidades de improvisadora; Delphine, apesar de não possuir os
talentos artísticos da primeira, é igualmente bela fisicamente, de espírito
idealista e coerente com seus princípios, agindo de acordo com sua
consciência e com generosidade, mesmo que isso signifique ir contra a
opinião pública e pôr em risco sua reputação. Por sua vez, o herói byro-
niano é um ser errante temperamental e sem descanso, um exilado da
sociedade, que possui um leve desdém pelos valores convencionais e
pelo destino da humanidade. Considerando os traços pessoais mais ad-
mirados pelo Romantismo convicção passional, independência e indi-
vidualismo absolutos, desrespeito pela autoridade restritiva e pelas leis
injustas que essa mesma autoridade representa , a noção de herói ro-
mântico encaixa-se perfeitamente na personalidade dos protagonistas de
Byron. Seus mais famosos personagens, Manfred, Childe Harold e Don
Juan, tipificam esse perfil de herói, assim como o próprio Byron. Eis
onde o herói romântico mistura-se com o herói byroniano e come,
também, a heroína staeliana (WILKES, 1999).
Outro ponto em comum nos personagens é que tanto a heroína
staeliana quanto o herói byroniano compartilham o destino de não al-
cançarem o pleno desenvolvimento de seu brilhante potencial, com a
diferença de que, enquanto as heroínas criadas por Madame de Staël são
vítimas de terceiros, o herói byroniano é autodestrutivo. A passividade
das heroínas de Madame de Stl reflete a submissão dela própria à
moral e às convenções da sociedade, apesar de sua postura influenciado-
ra e de suas manobras de bastidores sugerirem o contrário. Já Byron
criou protagonistas bastante ativos. Para Wilkes (1999), as atitudes pró-
ativas dos heis byronianos são uma demonstração da busca de Byron
pela realização pela fama e pelo poder. No periódico The Edinburgh
Review, John Croker Wilson acusou Byron de ser um "indubitável ado-
rador do poder, cujo herói supremo era Napolo. Evidências para tal
afirmativa devem-se à celebração que Byron fez do poder do homem e
da masculinidade em Manfred e em Childe Harold III. Diferentemente
de Byron, porém em consonância com suas heroínas, Madame de Stl
não se identificava com o desprezo que Napolo demonstrava por ter-
ceiros. Sobre essa característica de Napolo, Madame de Staël escreveu
queele considera uma criatura humana como um fato, ou como uma
28
cousa, mas não como um ser humano. Ele não odeia mais do que ama:
para ele, existe apenas ele próprio, e todas as outras criaturas são nada.
(Ibid., p. 79).
Uma das diferenças entre os heis diz respeito à personalidade
lacônica do herói byroniano em oposição às habilidades comunicativas
da heroína staeliana. Essa diferença, entretanto, apenas evidencia tros
de uma composição autobiográfica desses dois heis, na medida em
que Childe Harold reflete o espírito taciturno de Byron, e Corinne, por
sua vez, a eloquência de Madame de Stl (WILKES, 1999).
Ao seu modo, cada um dos autores envolveu-se com a vida polí-
tica do período, procurando exercer algum impacto como escritores,
esforço este que sofreu influência de gênero. Segundo Wilkes (1999),
existe uma forte demarcação do papel social dos sexos em obras como
Delphine, Corinne, Childe Harold, e nos Cantos de Don Juan. Para a
autora, as queses de gênero envolvendo as obras desses autores de-
vem-se, em grande parte, à influência que o pensamento de Jean-
Jacques Rousseau exerceu sobre ambos. O primeiro trabalho publicado
de Madame de Staël intitulava-se Lettres sur les ouvrages et le
caractère de J. J. Rousseau. Por sua vez, Byron expressou seu interesse
pelo filósofo genovês em Childe Harold III, talvez em função de ser
constantemente comparado a ele. A comparação foi comentada e ne-
gada por Byron em seu Detached Thoughts (WILKES, 1999). Já para
Madame de Stl, o relacionamento com Rousseau mostrava-se bem
mais importante, em grande parte pela delimitação que este fez dos
papéis políticos e literários que caberiam às mulheres. As considerões
de Rousseau, relegando as mulheres à esfera privada da vida em socie-
dade, exerceram influência na sociedade e na política francesa durante a
vida de Madame de Stl, fazendo-a aceitar a marginalidade feminina
em relação à vida pública. (Ibid., p. 26). Para ela, a vida doméstica e a
dependência em relação aos homens eram atribuições da vida feminina.
Além disso, ela elogiava a rígida demarcação dos papéis sexuais na
Inglaterra. Contudo, o esforço de Madame de Stl para ver o papel
político da mulher como exclusivamente moral era embaraçado por suas
próprias tentativas de exercer influência política indireta ao buscar posi-
cionar estrategicamente na vida pública os homens que participavam de
seus saes literários. Uma possível justificativa para a não realização
do potencial de suas heroínas pode residir exatamente em seu conflito
interno diante da moral da sociedade e dos desejos do espírito: enquanto
aspirava e trabalhava para a plena realização de suas potencialidades por
meio de uma influência indireta na vida social e política, deparava-se
com a necessidade de submissão ao sexo oposto, imposta pela moral da
29
época, que não admitia uma presença ativa ou a inflncia feminina em
sociedade.
Além das similaridades apontadas pelo estudo comparativo das
obras dos dois autores, Wilkes (1999) evoca o conceito mais recente de
intertextualidade como relevante para a análise das influências presentes
na composição das obras tanto de Madame de Staël quanto de Byron. A
autora cita o conceito de Roland Barthes (1992), para intertextualidade,
onde textos anteriores de uma cultura própria ou de culturas próximas
influenciam textos posteriores, fazendo com que cada texto seja o resul-
tado consciente ou inconsciente de citões já feitas. No caso de Mada-
me de Stl e de Byron, especificamente, temos dois autores com amplo
conhecimento literário e de mundo embasado em frequentes e sucessi-
vas leituras inclusive das obras um do outro –, memória privilegiada e
grande erudição. Portanto, onde as afinidades literárias entre ambos não
são explicadas pela influência direta, Joanne Wilkes, pelo seu estudo
comparativo e pelo conceito de intertextualidade, evidencia uma dimen-
são mais ampla, onde as experiências vividas por ambos levaram a criar
personagens afins preservadas as diferenças de gênero e a abordar
questões similares em suas obras.
30
2 EPISTOLOGRAFIA
Why are you capable of imagining a world
without letters? Without good souls who write
letters, without other souls who read and en-
joy them, without those third-party souls who
take them from this person to that person –
that is, a world without senders, addressees,
and letters carriers? A universe in which all is
said dryly, in abbreviated fashion, hurriedly
and on the run, without art and without
grace?
Pedro Salinas, Defense of the Missive Letter
and of the Epistolary Correspondence (1948)
John L. Brown (1990), em artigo publicado no periódico World
Literature Today
15
, afirma que a carta pessoal, como nós costumávamos
conhecê-la, está desaparecendo. Seja pelas exigências da vida contem-
porânea, que fazem com que os indivíduos assumam mais e mais res-
ponsabilidades e tarefas que precisam ser executadas cada vez em me-
nos tempo, seja pela relação proporcionalmente inversa das interões
humanas modernas conhecemos um mero enorme de pessoas, po-
rém nos relacionamos mais superficialmente com elas , o fato é que a
comunicação atual parece estar abolindo a correspondência escrita tro-
cada via correio convencional.
A carta tradicional, com o advento da internet que popularizou
o correio eletrônico
16
e contribuiu para a propagação do uso do compu-
tador pessoal , passou a ser substituída pela mensagem eletrônica (e-
mail), em um processo natural de modernização dos meios de comuni-
cação. No que diz respeito ao e-mail, a velocidade com que uma mensa-
gem eletrônica chega a seu destino, aproximando virtualmente pessoas e
acontecimentos por vezes geograficamente muito distantes, é o grande
15
BROWN, John L. What ever happened to Madame de Sévigné? Reflections on the fate of the
epistolary art in a media age. World Literature Today, vol. 64, 1990, p. 219 a 220. Com for-
mação acadêmica em Literatura Comparada, John L. Brown foi colaborador e membro da
comissão editorial do World Literature Today por várias décadas.
16
Embora a utilização em massa do correio eletrônico só tenha acontecido após a populariza-
ção da internet na década de 1990, sua criação data de 1965, 4 anos antes do surgimento da
ARPANET considerada como a precursora da rede mundial de computadores a que hoje
temos acesso.
31
diferencial em relação à secular forma de correspondência com papel e
tinta.
Paradoxalmente, enquanto o século XX a partir da segunda me-
tade viu diminuir o número de adeptos da epistolografia, [...] nunca
houve tantas cartas, tantas correspondências completas editadas e publi-
cadas, tantos artigos acadêmicos, colóquios e conferências devotados a
cada aspecto literário, sociológico e psicológico da arte epistolar.”
(BROWN, 1990, p. 216).
Apesar do interesse crescente pelo tema, Barton e Hall (2000) a-
firmam que a epistolografia ainda é um campo pouco explorado em
comparação a gêneros como o romance e a poesia, num contraponto ao
aspecto cronológico e histórico da prática epistolográfica. Oliveira
(1997, p. 14) oferece argumentos que reforçam essa afirmão ̶ sob a
ótica dos estudos linguísticos ̶ , quando diz que o gênero epistolográfi-
co não é um dos mais entusiasticamente preferidos pelos que se detêm
na análise das produções textuais. Ainda segundo a autora, a palavra,
circunscrita a um contexto situacional particular e, por isso mesmo,
individualizado, não parece exercer o mesmo fasnio ao estudioso, o
leitor-crítico, que, em maioria, recorre a outros tipos de composição
como fontes de perquirição linguística” (Ibid., p. 14).
Para Diaz (2002), o caráter nômade das cartas, que as faz circu-
lar entre diversos gêneros literários ̶ exatamente por apresentarem ca-
racterísticas tão abrangentes que dificultam sua categorização ̶ , pode
ser apontado como um dos responsáveis pelo desinteresse em se tomar
as cartas como objeto de estudo. Talvez a ameaça de extinção dessa
32
prática tenha contribuído para sua presente valorização acadêmica e
literária.
2.1 AS CARTAS AO LONGO DA HISTÓRIA OCIDENTAL
Os registros mais consistentes sobre a origem da carta remontam
à Grécia Antiga, nas chamadas epístolas escritas pelos retóricos e na
correspondência de um pequeno grupo de filósofos, composto especial-
mente por Epicuro, Isócrates e Platão (MIRANDA, 2000). Essas cartas,
embora algumas vezes endereçadas a apenas um destinatário e bem
próximas da fala, representavam o discurso específico dos oradores, ou
seja, do falante sofisticado para o público, além de serem escritas com
consciência de leitura por e para mais de uma pessoa e de não necessari-
amente reproduzirem a forma e o tom de uma genuína conversa. Se
tomarmos como base a definição de carta como sendo o meio de co-
municação que sucede imediatamente o oral, suprindo a ausência de um
interlocutor direto (SAINTSBURY, 1922, p. 1), as epístolas de Sinésio
de Cirene são as que melhor exemplificariam tais escritos na referida
época. Além de importantes como documento literário, suas cartas dão
mostras claras de sua personalidade e, de modo geral, da cultura grega
no período de queda do Helenismo (CAMILOTTO, 2001).
Em sequência, buscando inspiração no modelo grego, despontam
as cartas do período romano, cuja produção e qualidade superam a dos
primeiros. Um dos motivos para a superioridade das cartas romanas
diante das gregas pode ser atribuído à estrutura da sociedade grega ter
sido formada por cidades pequenas e quase que independentes, onde
todos se avistavam diariamente e os assuntos das outras cidades não lhes
ocupavam tanto o interesse. Assim, desaparece para os gregos o objetivo
essencial da carta, que é o de encurtar disncias, aproximando os ausen-
tes e compartilhando informações. o exemplos da epistolografia ro-
mana as cartas de Cícero, Plínio, Sidônio Apolinário e de Sêneca. Den-
tre esses autores, as colões de epístolas redigidas por cero são as
que mais alcançaram notoriedade. Suas cartas, num corpus de mais de
oitocentas, são dirigidas a um mero pequeno de destinatários e retra-
tam a vida do orador e político no seu dia a dia, suas angústias e espe-
ranças, suas emoções e opções, o fluir dos acontecimentos (PEREIRA,
2006). Ainda sobre as cartas desse período, sendo alguns de seus autores
cristãos, Saintsbury (1922) aponta para uma conexão entre a dissemina-
33
ção do cristianismo e a prática epistolográfica, apesar da deficiência de
registros literários formais para comprovar tal pensamento.
Do período da Idade Média Cssica (séculos XI a XIII), cuja
escassez de registros não permite quantificar nem qualificar a produção
literária, as cartas mais famosas são as de Abelardo e Heloísa, datadas
do século XII, cujo conteúdo retrata a história de amor e a tragédia que
envolveu o casal. Ao ci-las, Sainstbury (1922) aborda a polêmica
questão referente à autenticidade delas, levantada no século XIX por
críticos como Barbey DAurevilly, Johan Gaspar Orelli, L. Lalanne e S.
M. Deutsch. Para os dois últimos, a correspondência não devia ser vista
como uma obra histórica ou biográfica, mas como um trabalho de fic-
ção literária, imaginado e escrito pelo próprio Abelardo (ROCHA,
1997, p. 26, grifo do autor). Esses estudos fundamentaram outros, surgi-
dos no século XX, em especial os de B. Schmeidler e de Ch. Carrier. A
contestação desses estudos veio com maior força nos anos 1950 e 1970,
com as pesquisas de J. T. Muckle e em especial os de J. F. Benton e J.
Monfrin, cujos trabalhos foram apresentados e debatidos no Colóquio
Internacional do Centro Nacional de Pesquisa Científica de Paris, ocor-
rido em 1972 (ROCHA, 1997). Em que pesem todas as discussões –
passadas e presentes sobre o tema, um maior peso recai, por enquanto,
para o lado dos que defendem a autenticidade da correspondência de
Abelardo e Heloísa.
No século XV, despontam como exemplos da produção epistolo-
gráfica inglesa as Paston Letters. Esses escritos refletem a condição da
Inglaterra durante o período de 1422 a 1509, mostrando um momento
conturbado pela fraqueza da coroa britânica e por um estado de guerra
civil entre os nobres do país. No plano íntimo, revelam as relações dos
Pastons com seus vizinhos algumas delas hostis; outras, amigáveis.
Também são imeras as ilustrões do curso de eventos de interesse
público, bem como dos costumes e da moral da época (DAVIS, 1999).
Em seguida às Paston Letters, já no século XVI, despontam as
cartas de Roger Ascham (1515-1568), um dos principais representantes
da transição da Idade Média para a Renascença. Formado pela St. Johns
College, onde obteve seu tulo de Bacharel em Grego, Ascham ocupou,
entre outros postos, o de tutor da Princesa Elizabeth, que, anos depois,
se tornaria a Rainha Elizabeth I. Escreveu diversos tratados, dentre os
quais se destacam The Scholemaster e Toxophilus. Estudioso, diplomata
e cosmopolita, Ascham iniciou a escritura de sua correspondência em
latim, optando, mais tarde, por escrever em inglês. Ainda no período da
Renascença, quando as colões de correspondências de cero, Sêneca
e Plínio começaram a ser publicadas, assim como as cartas do poeta
34
italiano Annibale Caro (1507-1566) e do escritor e compositor Girolamo
Parabosco (1524-1577), a correspondência francesa passa a destacar-se
com autores como Etienne du Tronchet e Etienne Pasquier (SAINTS-
BURY, 1922).
O volume da produção de cartas não para de crescer nos séculos
XVII e XVIII. Especificamente neste, tanto a França quanto a Inglaterra
experimentaram o desabrochar de sua produção epistolográfica. E não
apenas o volume aumentou consideravelmente, mas a qualidade das
cartas escritas nesse século era, também, admirável. Como afirma
Brown (1997, p. 2), cultivated people, undistracted by television, had
time, lots of time, to write letters. Além da correspondência pessoal,
esse período viu surgir o romance epistolar onde cartas parcialmente ou
inteiramente fictícias, eram utilizadas como veículo de narração. Brown
(1990) cita como exemplos de romances epistolares as Lettres d’une
péruvienne (1847), de Mme. de Graffigny, as Cartas Portuguesas
(1669), escritas pela freira Mariana Alcoforado, a Nouvelle Héloïse
(1761), de Jean-Jacques Rousseau e as Ligações Perigosas (1782), de
Chordelos de Laclos. No tocante à correspondência pessoal, apenas para
ilustrar a produção desses dois séculos, no contexto inglês citamos a
correspondência de Samuel Pepys (1633-1703), James Howell (1594-
1666), John Donne (1572-1631), John Evelyn (1620-1706), Dorothy
Osbourne (1627-1695), Jonathan Swift (1667-1745), Alexander Pope
(1688-1744), Horace Walpole (1717-1797), Thomas Gray (1716-1771)
e William Cowper (1731-1800). Já na França, temos as cartas do médico
Guy Patin (1601-1672), a volumosa correspondência de Voltaire (1694-
1778) e de Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), as cartas de prisão do
Marquês de Sade (1740-1814), assim como as cartas de diversas autoras
femininas, tais como Madame de vigné (1626-1696), Mlle de Launay
(1684-1750), Mlle Aissé (1694-1733), Madame Du Deffand (1697-
1780) e Mlle de Lespinasse (1732-1776)
17
.
A produção epistolográfica se manteve constante no século XIX.
Embalada pelo Romantismo e por seus representantes, a corresponn-
cia nesse período era utilizada pelos escritores para comentar suas obras
com amigos e editores, servindo como uma espécie de laboratório para
suas produções artísticas. Ao mesmo tempo, as obras de outros autores
eram comentadas pelas cartas trocadas entre seus leitores, em um tipo
de crítica literária postal. Sobre a importância da correspondência nesse
período, Raleigh (1923, p. 85) afirma que
17
Cf. SAINTSBURY, 1922.
35
[...] dos dois poetas do Movimento Romântico
Byron e Keats , pode-se dizer que não os conhe-
ceríamos como conhecemos se não fossem por
suas cartas. Byron era algo como um poseur,
mas em suas cartas, porque estas eram escritas pa-
ra seus amigos, isso é posto de lado, elas são sim-
ples, sinceras, diretas, ndidas e masculinas,
cheias de sábias críticas sobre literatura e de inte-
ligentes reflees sobre a vida, sem a menor si-
mulação de elevação ou de bravatas.
Com base na afirmativa de Raleigh (1923), é possível sugerir que
a noção de cartas como paratextos das obras literárias tenha surgido
exatamente dessa visão de que os autores tanto expunham sua persona-
lidade quanto discutiam o processo de criação e de análise de suas obras
por meio de suas correspondências. Como exemplo de epistológrafos do
século XIX, citamos, na França, Madame de Staël (1766-1817), Fran-
çois-né de Chateaubriand (1768-1848), licité Robert de Lamennais
(1782-1854), Stendhal (1783-1842), Honoré de Balzac (1799-1850),
Victor Hugo (1802-1885), George Sand (1804-1876), Charles Augustin
Sainte-Beuve (1804-1869), Gustave Flaubert (1821-1880) e Émile Zola
(1840-1902). Na Inglaterra, são exemplos de epistológrafos de destaque
Robert Soutney (1774-1843), Charles Lamb (1775-1834), Byron (1788-
1824), Percy Bysshe Shelley (1792-1822), John Keats (1795-1821),
Thomas Carlyle (1795-1888), Jane Welsh Carlyle (1801-1866), Elizabe-
th Barrett Browning (1806-1861), Edward Fitzgerald (1809-1883), Wil-
liam Makepeace Thackeray (1811-1863), Charles Dickens (1812-1870),
John Ruskin (1819-1900), e Robert Stevenson (1850-1894)
18
.
Já no século XX, apesar da competição instaurada pelo telefone,
pelo telégrafo e pela mídia escrita e falada, as cartas resistiram até mea-
dos da década de 60, quando a correspondência com papel e caneta co-
mou a ceder lugar, gradativamente, para o correio eletrônico. Já as
pesquisas sobre o gênero epistolar e a publicação de coleneas de cartas
dos epistológrafos do século XX aumentaram e crescem exponencial-
mente, num movimento compensatório à escassez da correspondência
tradicional.
18
Cf. SAINTSBURY, 1922.
36
2.1.1 Epistolografia no Brasil
A história do Brasil começou a ser contada por meio de uma
carta. Pero Vaz de Caminha, ao escrever para o Rei de Portugal, Dom
Manuel, dando nocia sobre a chegada em solo novo, não economizou
em detalhes e observações sobre a terra recém-descoberta. Ao ler uma
versão contemporânea daquele documento, temos a sensação de presen-
ciar o descobrimento, com toda a carga de surpresa e fascínio diante do
encontrado (MOARES, 2005, p. 25-26). Graças ao zelo do autor, hoje se
sabe com riqueza de detalhes o que aconteceu há mais de 500 anos, tudo
devidamente registrado nas folhas daquela que é conhecida como a cer-
tidão de nascimento de nosso País.
Ainda no século XVI, começa a tomar corpo a correspondência
do Padre José de Anchieta, religioso da Companhia de Jesus que apor-
tou em terras brasileiras em 13 de julho de 1553, onde permaneceu em
missão apostólica durante 44 anos, até sua morte em 1597. Devotado a
seus objetivos missionários, José de Anchieta aprendeu rapidamente a
língua dos índios para levar a eles o ensinamento cristão. Em carta ende-
reçada a Ignácio de Loyola, é possível perceber tanto a firme conscn-
cia cristã do jesuíta que pensava em salvar muitas almas quanto os sinais
de que a cultura indígena estava prestes a perder, irremediavelmente,
suas raízes. (Ibid., p. 36)
Do século XVII, podemos citar as cartas do Padre Antônio Vieira
(1608-1697). Nascido em Portugal e educado em cogio de jesuítas na
Bahia, Antônio Vieira sempre demonstrou desejo de intervir nos mais
importantes acontecimentos políticos e sociais no Brasil daquele perío-
do. Em suas cartas e sermões, ficaram registradas as marcas do homem
participativo e documentados os desmandos do poder em terras brasilei-
ras, o sofrimento dos escravos, as mentiras, as intrigas e os interesses da
corte e dos colonizadores (Ibid., p. 42).
Como exemplo da correspondência brasileira do século XVIII,
temos as cartas do magistrado Diogo de Toledo Lara de Ordonhes, pau-
lista educado em Coimbra e designado como provedor pela coroa portu-
guesa na cidade de Cuiabá durante o período das monções para desco-
berta de ouro na região. Em uma de suas cartas, Diogo de Toledo relata
a um amigo essa viagem de o Paulo a Cuiabá, revelando as dificulda-
des e os sustos da empreitada. Além dos relatos da viagem, é possível
identificar nos escritos do magistrado uma visão de mundo com resquí-
cios da ideologia da época do descobrimento, com o colonizador con-
37
vertendo os gentios e destruindo, pouco a pouco, sua cultura bárbara
(Ibid., p. 50).
Já no culo XIX, são vários os expoentes brasileiros no campo
da epistolografia. Temos as cartas do poeta Álvares de Azevedo (1831-
1852), que transcreve nas linhas que traça a sua mãe, o quão intolerável
lhe parecia a província de o Paulo, onde fora cursar Direito. Nas quei-
xas à mãe, o jovem Álvares, então com 17 anos, parece imaturo e frívo-
lo, em nada condizente com o outro, que escreve em tom intelectualiza-
do ao amigo Luís Antônio Silva Nunes, expondo projetos literários e
leituras formadoras do espírito ultrarromântico (Ibid., p. 58).
Além de Álvares de Azevedo, o século XIX traz as cartas do poe-
ta maranhense Gonçalves Dias (1823-1864), genuíno representante da
primeira fase do romantismo literário brasileiro, marcada pela busca de
uma literatura original, valorizando a natureza do país e o índio (Ibid., p.
62). É também desse período a extensa correspondência do poeta Antô-
nio Frederico de Castro Alves (1847-1871), assim como a do poeta sim-
bolista João da Cruz e Sousa (1861-1898), que deixa fluir o romantismo
nas cartas à sua noiva e, posteriormente, externa ao amigo Nestor Vitor
toda a anstia e sofrimento pela doença nervosa da já esposa. Temos
ainda a correspondência de D. Pedro I (1798-1834) à Marquesa de San-
tos (1797-1867), trocada durante o período em que foram amantes, que
foi de 1822 a 1829. A temática é variada, mas repete-se ao longo dos
anos. Nas cartas, os períodos do romance apresentam-se bem demarca-
dos pelas formas de tratamento empregadas pelo Imperador. Quando a
paixão está ardente, D. Pedro chama a marquesa de Titília e assina
como O Demonão, Demo ou Fogo Foguinho; no momento medi-
ano da relação, ele a trata por Querida marquesa; e quando o relacio-
namento esfria e está a ponto de ter fim, o tratamento é o deMarquesa
de Santos. Curiosidade sobre a correspondência é que as cartas costu-
mavam ser cruzadas, com D. Pedro respondendo no mesmo papel em
que a marquesa lhe havia escrito (AGUIAR, 2000, p. 103, grifos do
autor).
O século XIX tem ainda a correspondência entre os escritores Jo-
sé de Alencar (1829-1877) e Machado de Assis (1839-1908), que mostra
um verdadeiro jogo verbal dos dois intelectuais brasileiros, diferentes
em estilo, mas conscientes do seu fazer linguístico, no emprego sólido
da palavra escrita (AGUIAR, 2000).
Adentrando o século XX, temos as inúmeras cartas de Augusto
de Carvalho Rodrigues dos Anjos (1884-1914) endereçadas à mãe, D.
Córdula de Carvalho Rodrigues dos Anjos, nas quais podemos acompa-
nhar cronologicamente a vida do poeta na sua passagem pela Paraíba,
38
por Pernambuco e pelo Rio de Janeiro. Também do século XX são as
cartas apaixonadas que o poeta Olavo Bilac (1865-1918) escreveu à
noiva Amélia de Oliveira, dando vazão a todo o sentimento que o futuro
poeta sentia pela jovem donzela. O noivado foi interrompido por desejo
de um dos irmãos de Amélia, que considerava demeritório o casamento
da jovem com um jornalista e quem saiu lucrando foi a poesia, uma vez
que em muitos dos versos de Olavo e de Amélia (também poeta), perce-
be-se a sombra desse amor sem solução (OLIVEIRA, 1997, p. 78).
Em seguida, temos a extensa correspondência de Monteiro Loba-
to (1882-1948). Lúcido em relação às causas de seu tempo, Lobato deu à
sua pena de escritor uma atribuição militante, criticando o atraso eco-
nômico e a precariedade intelectual do Brasil (OLIVEIRA, 1997, p. 82).
Epistológrafo admirável, parte de sua produção foi endereçada a Godo-
fredo Rangel e posteriormente compilada e publicada sob o tulo de A
Barca de Gleyre. Considerado por muitos como um escritor acadêmico,
as cartas de Lobato mostram grande espontaneidade e agudeza na análi-
se de obras, autores e pessoas (OLIVEIRA, 1997, p. 26).
Merecem destaque também as cartas de Oswald de Andrade
(1890-1954), considerado um dos mais importantes introdutores do
Modernismo no Brasil, bem como a correspondência de José Lins do
Rego Cavalcanti (1901-1957), cujos destinatários iam de José Américo
de Almeida e Antônio Houaiss a Érico Veríssimo e Graciliano Ramos
(LIMA; FIGUEIREDO Jr., 2000).
Um dos grandes expoentes brasileiro na epistolografia foi, sem
dúvida, Mário de Andrade (1893-1945). Correspondente contumaz,
como ele próprio se classificou, produziu ao longo de sua vida um acer-
vo de cartas que conta com 7688 documentos (LOPEZ, 2000, p. 276).
Sua correspondência é comparada à dos grandes nomes da epistolografia
universal e apresenta-se como solo fecundo para as mais variadas linhas
de pesquisa.
As cartas trocadas entre ele e Manuel Bandeira (1886-1968), num
ir e vir que durou 20 anos, ensinam muito sobre o movimento modernis-
ta brasileiro, pois historiam debates sobre os valores artísticos da van-
guarda e revelam as estratégias de um grupo para consolidar uma arte
que pudesse melhor traduzir o caráter nacional do País. Situados no
mesmo plano intelectual e possuindo interesses comuns no campo da
arte, Mário e Bandeira puderam, principalmente, estabelecer o diálogo
franco da crítica” (MORAES, 2005, p. 91). Trocaram produções literá-
rias, aguardando apreciões para que pudessem melhorar o escrito.
Nesse ir e vir de missivas, ambos crescem, aceitando ou recusando su-
gestões e, assim, a criação literária se faz a quatro mãos” (Ibid., p. 92).
39
O mesmo aconteceu com Carlos Drummond de Andrade (1902-
1987) que, por ter sobrevivido vários anos ao amigo
19
e parceiro na
epistolografia, debruçou-se sobre o material oriundo da prosa epistolar
e, em conjunto com Alexandre Graça Faria, transcreveu os manuscritos
e datiloscritos, que culminaram com a publicação do livro Carlos &
Mário, contendo a correspondência completa desses dois expoentes da
literatura e da cultura brasileira (MORAES, 2005).
2.2 OS GÊNEROS LITERÁRIOS E A EPISTOLOGRAFIA
Os primeiros a aventurarem-se como teóricos da epistolografia
foram o orador ateniense Demétrio de Falero, em seu tratado Do estilo,
o sofista Filostrato, que compôs Typi epistolares, e o neoplatônico Pro-
clo, com o seu De forma epistolari. Em suas obras, os três reproduziam
modelos que ensinavam a desenvolver os temas mais variados com a
clareza e a qualidade necessárias (MIRANDA, 2000, p. 43). Embora
esses autores apresentassem uma classificação das cartas, tendo Demé-
trio, inclusive, discorrido sobre uma teoria do gênero epistolar, suas
obras assemelhavam-se mais a manuais de como bem escrever, seme-
lhantes ao Ars dictaminis e aos vários publicados a partir do século
XVI, nascidos da necessidade de afirmação da sociedade de corte por
meio do controle sobre gestos e atitudes.
A ideia era assegurar o convívio social através
de comportamentos que todos pudessem acei-
tar e decodificar. Rapidamente, esse princípio
espalhou-se às mais diversas atividades do co-
tidiano. A escrita foi uma das práticas que o
sofreu com maior intensidade. Em vários paí-
ses, a própria maneira de segurar a pluma, de
forma a, com determinados gestos, obter os e-
feitos mais interessantes, era ensinada nas es-
colas através de tratados, e cultivada com ab-
soluta propriedade pelos chamados mestres
escrivães”. (REVEL, 1990, p. 169).
19
A correspondência entre Carlos e Mário teve início em 1924, ano em que se conheceram, e
durou até fevereiro de 1945, quando Mário faleceu prematuramente em São Paulo.
40
Apesar do grande mero de manuais versando sobre a arte de
bem escrever cartas, foi a partir do século XVIII que a epistolografia, até
então difundida e praticada apenas entre membros de camadas privilegi-
adas da sociedade, recebeu impulso novel e passou a ser incluída entre
os gêneros textuais, impulso este devido, em grande parte, à alfabetiza-
ção das massas, em decorrência da Revolução Industrial (Ibid., p. 42).
Foi também nesse período que o romance epistolar galgou os degraus da
crítica literária por tratar-se de texto imaginativo, surgido do talento e da
criatividade de quem o escreve, encaixando-se, assim, nas classificões
de gênero propostas pelas teorias vigentes. Quanto à epistolografia, ou
seja, a escrita íntima sobre fatos cotidianos e reais, esta permaneceu em
segundo plano, especialmente por carecer, às vistas de cticos e estudio-
sos da literatura, de talento e ficcionalidade.
Foi no século XIX, com o rompimento dos autores românticos
com a teoria neoclássica dos gêneros, negando assim as qualidades es-
senciais para a classificação de uma obra como literária – pureza, fixidez
e hierarquia ̶ , que a epistolografia começou a ocupar espo nas teorias
de gênero, embora ainda como texto de classificação diversa, devido ao
caráter difuso de seu conteúdo.
Segundo Maria de Fátima Valverde,
O termo carta refere-se a determinadas prescri-
ções formais (indicação do emissor, do recep-
tor, local, data, saudações iniciais e finais, con-
teúdo distribuído no corpo do texto onde se
manifestam os objectivos e as motivações do
emissor), a algumas propriedades enunciativas
e a traços temáticos específicos determinados
pelo tipo de carta (2001, p. 12).
Enquanto texto, a carta tem a possibilidade de provocar modifi-
cações no destinatário, assim como o poder de influenciar ideias, atitu-
des, de enriquecer e permitir a reflexão, atuando como mediadora de
ficcionalidades e de funcionalidades” (VALVERDE, 2001, p. 13). De-
vido à autoridade textual de seu emissor, a carta pode transformar-se
também, pelo seu carácter reflexivo, em guia para explorar as profundi-
41
dades da alma e do ser, um meio de aferir e de apreender concepções
estéticas (Ibid., p. 11). A carta, nesse sentido, é o receptáculo da escrita
de si (écrire de soi), conceito formulado por Foucault (1984) para defi-
nir uma forma de expressão pessoal que permite uma análise biográfica
do autor através do que ele pensa de si e do que ele constrói para o lei-
tor, independente de essa construção ocorrer de forma consciente ou
inconsciente. Conceição (2006, p. 23) argumenta que:
[...] a escrita de si, presente nas correspondências,
está intrinsecamente relacionada com o outro, en-
volvendo uma prática social que os pesquisadores
devem levar em consideração ao analisar as mis-
sivas. A escrita de uma carta marca um constante
intermbio entre remetente e destinatário, em
que o outro, mesmo ausente, se faz presente [...]
(grifo da autora).
Valverde (2001, p. 11-12) defende ainda a carta como gênero e-
pistolar trans-histórico, recorrente ao longo de vários séculos de litera-
tura”, com vários aspectos a se considerar, tais como:
[...] a modalidade de enunciação: emissor/receptor
que poderíamos inserir no âmbito de uma comu-
nicação indireta objetivada; classe com um estatu-
to próprio que não se integra a priori e diretamen-
te, na narrativa, drama ou lírica; subclasses dentro
do gênero epistolar que permitem um estudo das
suas variantes múltiplas que o alargam a uma di-
mensão a um tempo ficcional e funcional: gênero
co-extensivo a dois domínios: ficcional e funcio-
nal (Ibid., p. 13).
Genette (1987), por sua vez, subdivide o gênero epistolar em dois
grupos: o das cartas confidenciais, onde o remetente tem em geral um
destinatário e o dos diários, onde o autor escreve para si mesmo. Em
relação às cartas confidenciais, o autor se dirige em primeiro lugar a um
confidente real, cuja personalidade importa na comunicação, até o ponto
de fazer variar sua forma e seu conteúdo. E se, eventualmente, o públi-
co, finalmente admitido nessa confidência ou nessa intimidade, tomar
conhecimento de uma maneira sempre diferenciada de uma mensa-
42
gem que, a priori, não lhe é dirigida, o leitor dessa correspondência deve
sempre levar em consideração seu destinatário.
Ainda segundo Genette (1987), as cartas de um escritor exercem
uma função paratextual em relação às suas obras, na medida em que,
pela correspondência, o autor pode dar um testemunho sobre os vários
momentos de sua autoria: sua composição, sua publicação, a recepção
do público e da crítica especializada, enfim, sobre todas as nuances que
circundam sua obra. Das reflexões de Genette, utilizamos neste trabalho
as características relativas a emissor, receptor e objetivo por ele propos-
tas, mas optamos por complementar sua pesquisa com a de Brigitte Diaz
(2002) no que se refere à classificação e à função das cartas em literatu-
ra.
Na obra Lépistolaire ou la pensée nomade, Diaz (2002) questio-
na a classificação da correspondência como mero paratexto das obras de
um escritor e defende que não ocupa um gênero definido em literatura
exatamente por navegar entre vários gêneros. Segundo a autora, é difícil
considerar a correspondência como um anexo biográfico do autor e de
sua obra ou ainda como um conjunto autônomo de escritos secundários
e subalternos, já que a correspondência vem, ao longo do tempo, lubrifi-
cando e dinamizando toda a engrenagem da escrita em si.
Ao analisar o posicionamento da correspondência nas classes de
gêneros literários, Diaz (2002) afirma que, por serem consideradas como
textos híbridos, as cartas têm sido sujeitas a toda forma de identificão
genérica, oscilando imprecisamente entre as classificações propostas
dentro da teoria literária: em alguns casos, aparecem na categoria de
arquivos; em outros, na de documentos históricos; há ainda autores que
as classificam como relatos. A crítica do século XIX situou-as nas fron-
teiras da literatura, aceitando-as, contanto que não ultrapassassem esse
limite. Uma característica paradoxal em relação à correspondência como
gênero literário: embora sejam guardadas com fervor, publicadas, difun-
didas e comentadas exatamente como obras independentes, as cartas são
igualmente reduzidas ao status subalterno de dados biográficos ou psi-
cológicos para servir como exemplificação da história de um indivíduo
e, eventualmente, da de sua obra. Eis onde Diaz (2002) questiona o re-
ducionismo de Genette (1987), quando este considera a correspondência
como uma ferramenta paratextual.
Considerar as cartas como textos que ultrapassam a classificação
formal dos gêneros, tal como defende Diaz (2002), não significa que as
cartas não possam formar um gênero novo, autônomo em relação aos
existentes. A teoria moderna admite que os gêneros não são limitados
em número e que sofrem mudanças e transformações, o que faz com que
43
alguns desapareçam e novos surjam, podendo, ainda, se misturar numa
mesma obra. Alguns podem corresponder mais que outros às exigências
ou necessidades de determinadas épocas estilísticas ou mesmo de auto-
res, ao passo que outros podem apresentar dificuldade de classificação
(COUTINHO, 1987, p. 740). Considerando que há escritores que se
subordinam apenas parcialmente aos arquétipos do gênero, modifican-
do-os ou, por sua vez, renovando-os, é certo afirmar que muitos gêneros
se renovam ou renascem através desse processo, denominado por Bakh-
tin (1997) como “transmutação dos gêneros (grifo nosso).
Ainda sobre a classificação da epistolografia dentro da teoria dos
gêneros, Tin (2005, p. 8) defende a autonomia do gênero epistolar. Se-
gundo o autor,
[...] essa autonomia pode ser mais facilmente re-
conhecida em confronto com os gêneros que mais
se aproximam do epistolar. A carta se diferencia
do diário na medida em que, embora ambos sejam
textos escritos ao longo do tempo, no passar dos
dias, a carta pressupõe um destinatário imediato,
que é efetivamente o destinatário da carta, en-
quanto que o diário é supostamente secreto, mes-
mo que seja escrito tendo em vista um destinatá-
rio imediato.
A carta difere da autobiografia também nesse aspecto do destina-
tário, pois a autobiografia se destina explicitamente ao público, enquan-
to a carta, em princípio, é dirigida apenas ao destinatário nela estampa-
do. O mesmo se pode dizer das memórias que, além da intenção de pu-
blicação, carregam ainda o aspecto de serem escritas em momento muito
posterior à ocorrência dos fatos narrados, enquanto a carta é redigida no
calor dos acontecimentos, ou em momento imediatamente posterior. A
carta mantém certa semelhança com o diálogo, ao pressupor um interlo-
cutor presente em ausência, que é o destinatário, além de guardar, por
vezes, tros do diálogo, como a coloquialidade e a informalidade. Essa
proximidade com o diálogo parece estar na raiz do gênero epistolar, e
desde os mais remotos tempos corrobora para que a carta seja definida
como uma conversa escrita (TIN, 2005, p. 9).
Para aqueles que argumentam que as cartas são um texto de qua-
lidade inferior em virtude de apenas comunicarem algo a alguém que
não está presente, Amaral (2000), em artigo publicado sobre a corres-
pondência de Madame de vigné, afirma que a ausência de um projeto
literário não significa despreocupação com o texto. Angelides (2001, p.
44
15) propõe o mesmo questionamento acerca das cartas como obras lite-
rárias: Pode ser a carta lida e usufruída como obra de literatura, ou
constitui apenas um material auxiliar para o conhecimento de seu autor,
de problemas relacionados com a sua obra, de suas concepções e de seu
ambiente social?”. A própria autora fornece a resposta (Ibid., p. 23),
quando argumenta que:
[...] embora numa carta a descrição de uma paisa-
gem, o relato de um acontecimento, de uma vi-
vência, a expressão de um sentimento tenham o
cunho da veracidade, da não-ficção, porque seu
sujeito-de-enunciação é histórico, o material lin-
guístico é submetido ao crivo altamente seletivo
do escritor, que recria a sua experiência pessoal.
E prossegue:
Sendo as cartas, em geral, dirigidas a uma deter-
minada pessoa, esta orienta muitas vezes o grau
de literariedade, de fragmentação, de espontanei-
dade, bem como o teor e o tom do discurso. [...]
Entretanto, é preciso também considerar outros
fatores decisivos no discurso epistolar, tais como
o assunto, a situação em que o autor se encontra
etc. Tudo isso conduz a forma do discurso e con-
tribui para compor as suas ltiplas facetas, al-
gumas de valor meramente documental, outras de
valor estético ou estético-documental (Ibid., p.25).
Moraes (2007) afirma que é possível, inicialmente, recuperar na
carta a expressão testemunhal que define um perfil biográfico. Confi-
dências e impressões espalhadas pela correspondência de um artista,
contam a trajetória de uma vida, delineando uma psicologia singular que
ajuda a compreender os meandros da criação da obra” (MORAES, 2007,
p. 30).
Uma segunda possibilidade de abordagem do gênero epistolar
Procura apreender a movimentação nos bastidores
da vida artística de um determinado período. Nes-
se sentido, as estratégias de divulgação de um
projeto estético, as dissensões nos grupos e os
comentários acerca da produção contemporânea
45
aos diálogos contribuem para que se possa com-
preender que a cena artística (livros e periódicos,
exposições, audições, altercações públicas) tem
raízes profundas nos bastidores. (Ibid., p. 30)
Há ainda uma terceira via interpretativa, que vê o gênero epistolar
como arquivo da criação, espaço onde se encontram fixadas a gênese e
as diversas etapas de elaboração de uma obra artística, desde o embrião
do projeto até o debate sobre a recepção crítica favorecendo a sua even-
tual reelaboração (Ibid., p. 30). Nessa última linha, a carta ocupa o
estatuto de crônica da obra de arte” (Ibid., p. 30).
No caso específico da carta como arquivo da criação, um texto
que soe encenado, exibicionista, propositadamente construído, deve ser
tratado com excesso de zelo. A narrativa testemunhal por meio da cor-
respondência deve ser posta em permanente suspeição, com a crítica
genética caminhando a passos cautelosos no universo da epistolografia,
pois o sujeito molda-se como personagem em face do interlocutor. As-
sim, a escrita-de-si poderia transmutar-se numa invenção-de-si, da qual
o remetente pode ter maior ou menor grau de consciência. Não sendo
possível definir quando e se essa transmutação ocorre, a natureza do
gênero epistolar torna-se ainda mais complexa, levando-nos a conside-
rar, em qualquer análise, que a carta encontra-se ancorada em um ponto
da trajetória de vida do sujeito. E é nesse ambiente movediço que a ver-
dade que a carta eventualmente contém a do sujeito em determinada
insncia, premido por intenções e desejos, deve ser entendido e analisa-
do, dentro de sua condição pontual, cambiante e rtil de idiossincrasias
(MORAES, 2007, p. 31-32).
2.3 BYRON E SUA CORRESPONDÊNCIA
Durante sua vida, Byron escreveu cartas numa frequência bastan-
te regular para a época, o que acabou produzindo um numeroso material
epistolográfico. A colenea mais relevante de sua correspondência ati-
va, organizada por Leslie A. Marchand
20
, possui 3.000 cartas compila-
20
BYRON, George Gordon. Byron’s letters and journals. Edited by Leslie A. Marchand.
Cambridge: Harvard University Press, 1973-1982, 12 vols.
46
das em doze volumes, apresentados em ordem cronológica, iniciando
em 1798 e terminando em 1824.
Segundo Marchand (1974), as cartas de Byron, seja qual fossem o
conteúdo ou o destinatário, eram sempre recheadas com a inteligência, a
ironia e o sarcasmo característicos do autor, além de trazerem observa-
ções agudas a respeito das pessoas e da sociedade londrina. Por meio de
seus comentários, Byron forneceu não apenas uma visão particular dos
assuntos que abordava, mas mostrou aspectos da personalidade do ho-
mem que influenciou a literatura e o comportamento de seu tempo.
Os inúmeros correspondentes de Byron iam desde jovens moças
apaixonadas pelo poeta, com as quais a troca de cartas era tão efêmera
quanto o interesse dele por elas, até confidentes de toda uma vida. Den-
tre essa gama, citamos aqueles que mais relevância tiveram para nossa
pesquisa, por serem os destinatários das cartas selecionadas para nosso
trabalho de tradução. o eles Lady Melbourne amiga e confidente de
Byron –, Thomas Moore amigo íntimo e poeta admirado por Byron
desde a adolesncia , John Murray editor de suas obras , Lady Ca-
roline Lamb sua amante mais obstinada , Samuel Rogers amigo
quase tão estimado quanto Thomas Moore , Augusta Leigh sua meia-
irmã e Lady Annabella Milbanke esposa pelo período de um ano e
mãe de sua filha legítima, Augusta Ada. Embora Madame de Stl tenha
sido uma correspondente de menor proporção pelo volume de cartas, sua
relevância histórica e literária justifica a seleção para nossa pesquisa.
As primeiras cartas de Byron a que tivemos acesso foram as que
continham comentários acerca de Madame de Stl, remetidas a destina-
tários diversos. Nessas cartas, seu tom é mais informal e oscila entre o
jocoso e o depreciador. Embora a opinião de Byron sobre ela não fosse
das mais positivas, ele ainda assim conseguia distinguir a pessoa da
autora, elogiando em determinados momentos as obras da escritora.
Já as três únicas cartas a que tivemos acesso escritas por Byron
para Madame de Stl apresentam um tom mais formal ou de respeito,
talvez devido à etiqueta e aos assuntos abordados na primeira carta,
Byron comenta sobre a referência que fez à obra De l’Allemagne em seu
poema The Bride of Abydos; e nas seguintes, comenta e agradece os
esforços de Madame de Stl na tentativa de reconciliá-lo com a ex-
esposa.
Uma vez apresentadas as características textuais do corpus de
nossa pesquisa, passaremos às reflexões teóricas que a fundamentam e à
tradução comentada.
47
3 TRADÃO COMENTADA
O tradutor tem todos os direitos, desde que
jogue honestamente.
Antoine Berman
Este catulo traz um apanhado sobre a história da tradução e a
origem dessa prática como tradução do sentido, além das reflexões sobre
tradução de Antoine Berman (1995 e 2007), escolhidas para nortear
nossa pesquisa, apresentando, também, a tradução comentada do corpus
selecionado para nosso trabalho.
3.1 ASPECTOS TEÓRICOS DA TRADUÇÃO
3.1.1 A tradução do sentido e a infidelidade do tradutor
Em A tradução e a letra ou o albergue do longínquo, Antoine
Berman (2007) relata que durante um seminário ocorrido no Collège
International de Philosophie, em Paris, no ano de 1984, sua menção à
expressãotradução literal” provocou mal-entendidos na platéia, especi-
almente entre os tradutores tidos como profissionais, mal-entendidos
esses que o autor não conseguiu resolver por completo. Para sua audn-
cia, a expressão utilizada significava tradução palavra por palavra,
prática considerada como quase que inaceitável por um tradutor experi-
ente. O problema criou-se pela confusão que existe entre a palavra e a
letra de um texto. Enquanto defendia a tradução literal como sendo a
tradução da letra de um texto, sua plateia a entendia como defesa da
tradução palavra por palavra. Para esses profissionais, traduzir é buscar
equivalentes, é buscar a transmissão do sentido, transmissão essa que
deve tornar o texto traduzido mais claro, limpá-lo das obscuridades, da
estranheza inerente à língua estrangeira. É rejeitar o Outro em favor do
Próprio
21
. É submeter à cultura própria tudo o que se encontra fora dela,
21
As expressões Outro e Próprio foram utilizadas por Berman em A prova do estrangeiro
(2002) e podem, por analogia, ser ligadas aos binômios estrangeirização/domesticação, tradu-
ção da letra/tradução do sentido.
48
numa prática classificada pelo autor como tradução etnocêntrica. Cabe-
nos agora o seguinte questionamento: de onde vem a prática da tradução
como tradução do sentido, como ela se opera e quais bases a sustentam?
Segundo Berman (2007), a tradução do sentido nasceu em Roma
e é visível nas traduções anexionistas, com os textos, as formas e os
termos gregos sendo latinizados. Porém, apesar de terem sido os roma-
nos os primeiros a evidenciar essa prática, sua essência está calcada no
pensamento grego, mais precisamente em Platão. Berman (2007) deno-
mina de corte platônico a separação feita por Platão entre o sensível e o
inteligível, entre o corpo e a alma e, por extensão no que diz respeito à
tradução –, entre o sentido e a letra de um texto. O corte platônico tem
suas bases na ideia da exisncia de um logos, ou sentido universal, do
qual todas as nguas estariam impregnadas. Com esse pensamento,
todas as línguas seriam dotadas de um sentido invariante e, em existindo
esse sentido, a forma pela qual ele é transmitido não teria relevância. Eis
onde sentido e letra são dissociados.
O autor aponta três características da tradução do sentido: em
termos culturais, ela é etnontrica, ou seja, reduz tudo à cultura para a
qual se traduz; em termos literários, ela é hipertextual, na medida em
que as mudanças implementadas por essa redução ao que é doméstico
implicam alterões que ultrapassam o limite imposto pelo texto origi-
nal; e em termos filosóficos, a tradução é platônica, pois dissocia em um
texto o sentido de sua letra. Para ele, essas três características encobrem
outras três, porém ligadas ao respeito à letra: a ética, a poética e a tradu-
ção filosófica, dos quais ele analisa apenas os dois primeiros, já que o
terceiro demandaria um estudo bastante particular e extenso (BERMAN,
2007).
Sobre o etnocentrismo, Berman (2007, p. 29) nos apresenta a
visão de tradução de Colardeau, poeta frans do século XVIII, segundo
o qualSe há algum mérito em traduzir, só pode ser de aperfeiçoar, se
possível, seu original, de embelezá-lo, de apropriar-se dele, de lhe dar
um ar nacional e de naturalizar, de certa forma, esta planta estrangeira”.
Essa concepção de tradução gerou na França dos séculos XVII e XVIII
as famosas “belas infiéis” – obras em que o tradutor realizava alterações
no texto traduzido de acordo com seu gosto e vontade, independente do
texto original da obra estrangeira.
Ainda sobre a tradução etnocêntrica, Berman aponta os dois prin-
cípios nos quais ela se baseia: [...] deve-se traduzir a obra estrangeira
de maneira que não se sinta’ a tradução, deve-se traduzi-la de maneira a
dar a impressão de que é isso que o autor teria escrito na língua para a
qual se traduz”
(BERMAN, 2007, p. 33).
49
Com base nesses dois princípios, podemos deduzir que, numa
tradução, as marcas da língua de origem acabarão sendo apagadas; que a
tradução buscará respeitar os padrões normativos da língua para a qual
se traduz; que ela tentará não chocar com “estranhamentos, sejam eles
lexicais ou sintáticos. Para tanto, o tradutor fará uso de processos literá-
rios. Eis o ponto onde, segundo o autor, a tradução etnocêntrica torna-se
hipertextual.
Para Berman (2007, p. 29), hipertextual remete a qualquer texto
gerado por imitação, paródia, pastiche, adaptação, plágio, ou qualquer
outra espécie de transformação formal, a partir de um outro texto
existente (grifo do autor). Todas essas relões de hipertextualidade
agem de forma livre e mesmo lúdica sobre um texto original. O resulta-
do disso são adaptações, pastiches, textos novos que têm sua origem em
um texto anterior, mas não são necessariamente sua tradução. É prová-
vel que dessa prática em que se adapta, se imita, ou se pasticha um texto
sob a alegação de que se está traduzindo-o, tenha advindo o conhecido
adágio italiano tradutore traditore
22
.
Nos séculos XIX e XX, a prática da tradução como tradução do
sentido, em uso na França e nos Estudos Unidos, comou a ser questi-
onada, mas esse questionamento não necessariamente alterarou o câno-
ne vigente. A confirmação disso quem nos dá é Lawrence Venuti
(1995). Em sua obra A invisibilidade do tradutor, Venuti (1995, p. 1)
afirma que um texto traduzido, seja ele poesia ou prosa, ficção ou não
ficção,
[...] é julgado aceitável pela maioria das editoras,
revisores e leitores quando apresenta leitura fluen-
te, quando a ausência de qualquer peculiaridade
linguística ou estilística o faz parecer transparen-
te, dando a impressão de que reflete a intenção ou
personalidade do autor, ou o significado essencial
do texto estrangeiro a impressão, em outras pa-
lavras, de que a tradução não é de fato uma tradu-
ção, mas o original”.
Como se observa pela argumentação de Venuti (1995), o etnocen-
trismo continua presente na cultura contemporânea da tradução. A exi-
gência dos editores por tradões fluentes, claras, por traduções escritas
dentro dos limites da ngua-padrão na cultura para a qual se traduz,
22
Tradutor traidor.
50
somada à mínima relevância dada ao tradutor nesse processo, fortalece o
cânone da tradução do sentido.
Outro fator, segundo Venuti (1995), responsável pela manutenção
do cânone da fluência em tradução, advém da crítica especializada. Crí-
ticos apontam como as melhores traduções aquelas que são claras, escri-
tas de acordo com a língua padrão, livres de jargões e expressões idio-
máticas estrangeiras. Uma tradução fluente é imediatamente reconhecí-
vel e inteligível, familiarizada’, domesticada, não desconcertan-
te[mente] estrangeira, capaz de dar ao leitor livre acesso a grandes pen-
samentos’, ao que está ‘presente no original’.” (VENUTI, 1995, p. 5;
grifos do autor).
Apesar da dimensão e do status canônico alcançado pela prática
da tradução como tradução do sentido em grande parte avalizada por
teorias que a justificam
23
, outras reflexões buscam resgatar a essência
perdida e articular de forma consciente essa prática, como abordaremos a
seguir.
3.1.2 A reflexão de Antoine Berman sobre tradução
No primeiro catulo de La traduction et la lettre ou l’auberge du
lointain, Antoine Berman (2007) parte do seguinte axioma para nortear
suas reflexões sobre tradução: “[...]a tradução e tradução-da-letra, do
texto enquanto letra. Que isto é a essência última e definitiva da tradu-
ção ficará claro pouco a pouco” (BERMAN, 2007, p. 25; grifo do au-
tor).
Embora Berman não apresente de forma expcita o conceito de
letra, podemos defini-la tomando de empréstimo algumas expressões
da Linguística como a combinação, feita pelo autor, dos vários signos
em estruturas dentro da língua, ou ainda como “as estruturas e maneiras
como os significantes de uma língua são agenciados de modo a dar uma
dimensão artística’ ao texto”.
24
Sendo o autor um artista, ele trabalha
as palavras moldando-as tanto quanto um escultor molda a argila para
23
Berman afirma que certas áreas da escrita como no caso das traduções técnicas exigem
apenas uma transferência do sentido, caso em que essa prática de tradução é plenamente aceita
e justificável. Mas tal prática não se refere às obras literárias, nas quais es centrada toda a
reflexão bermaniana.
24
Adotamos aqui a definição bastante simples e ao mesmo tempo completa dada pela Profa.
Dra. Cláudia Borges de Faveri, em suas aulas de Teoria da Tradução, semestre 2005/2, PGET,
quando da discussão do tema.
51
dali fazer surgir sua obra , para desse trabalho fazer surgir seu texto. O
grifo é nosso e sugere que, embora não haja discurso original, a arquite-
tura que um autor emprega na construção de seu texto torna-o bastante
individual. Quando falamos sobre o estilo deste ou daquele autor, nada
mais fazemos do que identificar em seu texto um arranjo específico das
palavras, ou seja, a letra de sua obra.
Podemos questionar qual seria a importância dessa letra em um
texto. Seria ela apenas uma questão de identidade de quem escreve? A
resposta buscamos também em Berman (2007), contida na expressão
ser-em-língua, que pode ser entendida como a relação do ser com a n-
gua, do homem como crítico e atualizador do seu sistema de língua.
Assim, a letra de um texto não é relevante apenas como elemento de
caracterização do indivíduo como autor, mas também porque atua como
instrumento de revitalização de uma língua e, por conseguinte, de uma
cultura.
Outra pergunta que pode ser feita advém do corte platônico pre-
sente na tradução do sentido. Se sensível e inteligível, se corpo e espíri-
to, se letra e sentido estão dissociados, o respeito à letra não implicaria a
perda do sentido da obra? Em primeiro lugar, essa dissociação – de cará-
ter mais filosófico e religioso não deveria exercer sua força na tradu-
ção. Como Berman (2007) aponta, sentido e letra estão obstinadamente
unidos. Separar o sentido de sua letra estrangeira é necessariamente
subme-lo à letra própria. A diferença aqui é que ao privilegiar o senti-
do numa tradução, estaremos abandonando a letra do Outro em favor da
letra Própria, ao passo que, ao traduzirmos a letra, o sentido seu com-
panheiro inseparável – virá ter com ela.
Retomando as características da tradução citadas anteriormente,
lembramos que em oposição à tradução etnocêntrica, hipertextual e
platônica ligadas à tradução do sentido –, Berman (2007) coloca a
tradução ética, poética e filosófica invariavelmente ligadas à tradução
da letra. Enquanto ética, a tradução se propõe a não ir am dos limites
do texto que lhe é anterior, fazendo com que o tradutor sinta-se compe-
lido a ser fiel ao texto que traduz, a fazer uma tradução exata. Fidelidade
e exatidão, aqui, dizem respeito à letra do texto. Essa meta ética consiste
em reconhecer o Outro e em rece-lo como tal, na cultura Própria. Esse
acolhimento do Outro, esse albergar o Estrangeiro que o tradutor pode
optar ou não por fazer é o que permite a uma ngua e a uma cultura
crescerem
25
.
25
Berman realizou um estudo detalhado sobre a manifestação do Próprio quando confrontado
com o Outro tomando por base o movimento Romântico Alemão do culo XIX. Sobre o
52
Sobre a meta ética, Berman afirma que fidelidade e exatidão se
reportam à literalidade carnal do texto. O fim da tradução, enquanto
objetivo ético, é acolher na língua materna esta literalidade. Pois é nela
que a língua desenvolve sua fancia, sua Sprachlichkeit e realiza sua
manifestação do mundo” (Ibid., p. 71).
À meta ética une-se a meta poética da tradução. Fidelidade e exa-
tidão à letra da obra original não devem impedir que o tradutor deseje
fazer uma obra. A tradução, para Berman (2007), não deve ser um páli-
do reflexo do original. Se a meta ética compele o tradutor a não ultra-
passar os limites do original, a meta poética o faz desejar que o texto
que ele traduz seja reconhecido como tal: como texto.
Estabelecidos os pressupostos que guiam nossa reflexão sobre
tradução, passaremos ao estudo do trajeto proposto por Berman (1995 e
2007) para a análise e crítica de traduções, trajeto esse que considerare-
mos para o processo de tradução propriamente dito.
3.1.3 O trajeto da tradução
Em seu livro Pour une critique des traductions: John Donne,
Berman (1995) sugere um trajeto analítico para a crítica de traduções
que pode ser igualmente aplicado no processo tradutório. Esse trajeto
analítico adaptado ao processo tradutório é dividido em etapas su-
cessivas, sendo as primeiras relacionadas com a leitura concreta do ori-
ginal e as seguintes aos momentos fundamentais do ato tradutório em si.
O trajeto inicia-se com a leitura e releitura do original, leitura esta
que todo tradutor supostamente faz antes de começar a traduzir o texto.
Berman aponta como necessárias o que ele chama de leituras colaterais,
tais como outras obras do autor, trabalhos diversos sobre esse autor,
estudos sobre sua época, etc. Traduzir, assim, exige leituras vastas e
diversificadas. Esse apoio em leituras colaterais, que Berman denomina
de escoramento da tradução, em nada retira sua autonomia básica, na
medida em que são, para o tradutor, leituras livres e não dizem necessa-
riamente o que o tradutor deve fazer.
Uma vez feita a pré-análise da obra, passa-se ao recorte das pas-
sagens pertinentes e significativas no original. Tal recorte é de caráter
interpretativo e permitirá identificar ou confirmar onde a obra se con-
assunto, ver BERMAN, Antoine. A Prova do Estrangeiro. Bauru, SP: EDUSC, 2002. Tradução
de Maria Emília Pereira Chanut.
53
densa, se representa, se significa ou se simboliza. Essa interpretação
identificará o que é necessário e o que é aleatório na obra, ou ainda, os
elementos tangíveis e intangíveis desta. Tais elementos, além daqueles
classificados como marcados e não marcados, são de extrema importân-
cia para o tradutor, pois convertem-se no espaço de suas possíveis liber-
dades (BERMAN, 1995).
Segundo Berman (1995), para que se compreenda a lógica do tex-
to traduzido, é preciso que se vá à procura do tradutor, momento por ele
considerado como ainda mais essencial. Assim como diante de um texto
original coloca-se a pergunta: Quem é o autor?”, diante de uma tradu-
ção também se deve perguntar quem é o tradutor. Porém, esta última
pergunta possui uma finalidade diversa da primeira. O objetivo não é
saber sobre aspectos psicológicos e existenciais do tradutor, mas, sim,
sobre sua prática tradutória, sobre os princípios que o guiam. É relevante
saber, por exemplo, se ele traduz de uma ou de várias nguas, a forma
como aprendeu o idioma – se é falante nativo ou não –, se vive da tradu-
ção ou tem outra fonte de sustento, se é também autor, se escreve sobre
sua prática de tradutor, etc. Uma vez que se saiba quem é o tradutor,
pode-se determinar sua posição tradutória, seu projeto de tradução e seu
horizonte tradutório. Berman (1995) afirma que qualquer tradutor man-
tém uma relação específica com sua própria atividade, relação essa que
se evidencia através de certa concepção do que é, para ele, o ato de tra-
duzir. Apesar de individualizada, essa concepção é marcada por todo um
discurso histórico, social, literário e ideológico sobre a tradução. Resu-
mida na forma de um conceito, a posição tradutória pode ser entendida
como o compromisso entre a consciência do tradutor e o modo como ele
internalizou as normas sobre o traduzir ditadas pelo meio. Segundo o
autor,não há tradutor sem posição tradutória. Mas há tantas posições
tradutórias quanto há tradutores (BERMAN, 1995, p. 75).
Quanto ao projeto de tradução, Berman (1995, p. 76) afirma que:
A união, numa tradução bem-sucedida, da auto-
nomia e da heteronomia, não pode resultar além
do que se poderia chamar um projeto de tradução,
o qual não se tem necessidade de ser teórico. [...]
O tradutor pode determinar a priori qual será o
grau de autonomia ou heteronomia que atribuirá à
sua tradução e isso sobre a base de uma p-
análise – digo p-análise porque nunca tem-se
54
um texto realmente analisado antes de traduzi-lo ̶
de uma análise preliminar do texto a traduzir.
Toda tradução é regida por um projeto, seja ele explicitado pelo
tradutor ou não. O projeto é articulado com base na posição tradutória e
nas exigências específicas, impostas pela obra que se irá traduzir. O
projeto de tradução é, dessa forma, a maneira como o tradutor, após
confrontar-se com a obra, escolhe traduzir o texto. A importância do
projeto de tradução fica mais clara quando se adentra o terreno da crítica
de tradução. Geralmente feitas com base em critérios subjetivos, as críti-
cas de traduções feitas pela confrontação da tradução com seu projeto
seriam capazes de revelar tradões bem-sucedidas, mostrando as razões
desse sucesso, e também de pontuar onde, na tradução, não se alcançou
a meta estabelecida pelo projeto.
Posição tradutória e projeto de tradução, por sua vez, são tomados
num certo horizonte que Berman denominou de horizonte do tradutor.
Tomando emprestada a conceituação da hermenêutica moderna, o autor
define o horizonte tradutório comoo conjunto de parâmetros linguísti-
cos, literários, culturais e históricos que determinam o sentir, o agir e o
pensar do tradutor.” (Ibid., p. 79, grifo do autor).
A noção de horizonte possui natureza dupla, de um lado desig-
nando aquilo a partir do que o agir do tradutor tem sentido e pode esten-
der-se apontando o espo aberto desse agir –, mas de outro determi-
nando aquilo que fecha o mesmo tradutor em um círculo de possibilida-
des limitadas.
Projeto de tradução, posição tradutória e horizonte tradurio de-
finidos, é hora de passar à sua aplicação no processo tradutório.
55
3.2 TRADUÇÃO DAS CARTAS
Carta 1 – Para Thomas Moore
June 22d, 1813
* * * * * * * * * * * * * * * *
Yesterday I dined in company with * * [Mme. de Stael], the Ep-
icene whose politics are sadly changed. She is for the Lord of Israel
and the Lord of Liverpoola vile antithesis of a Methodist and a
Torytalks of nothing but devotion and the ministry, and, I presume,
expects that God and the government will help her to a pension.
* * * * * * * * * * * * * * * *
Murray, the αυαξ of publishers, the Anac of stationers, has a de-
sign upon you in the paper line. He wants you to become the staple and
stipendiary Editor of a periodical work. What say you? Will you be
bound, like "Kit Smart, to write for ninety-nine years in the Universal
Visitor?" Seriously, he talks of hundreds a year, andthough I hate
prating of the beggarly elementshis proposal may be to your honour
and profit, and, I am very sure, will be to our pleasure.
I don't know what to say about "friendship". I never was in
friendship but once, in my nineteenth year, and then it gave me as much
trouble as love. I am afraid, as Whitbread's sire said to the king, when he
wanted to knight him, that I am "too old:" but, nevertheless, no one
wishes you more friends, fame, and felicity, than
yours, &c
22 de junho, 1813
* * * * * * * * * * * * * * * *
Ontem eu jantei em companhia de * * [Mme. de Stl], o Epice-
no
1
cuja política está tristemente mudada. Ela é a favor do Lord de
Israel e do Lord de Liverpooluma vil antítese de um Metodista e um
Tórinão fala de nada a não ser de devoção e do ministério, e, presu-
mo, sue que Deus e o governo a ajudarão com uma pensão.
* * * * * * * * * * * * * * * *
1
N. do E. O adjetivo originalmente apareceu no periódico Anti-Jacobin, em um poema deno-
minado Canning’s New Morality. A linha “Neckars fair daughter, Staël the Epicene”, baseou-
se na acusação feita por Quatremère de Quincy, questionando a sexualidade de Madame de
Staël junto ao Conselho dos Quinhentos, o que provocou sua deportação para a Guiana.
56
Murray, o αυαξ dos editores, o Rei dos livreiros, te quer no ramo
jornalístico. Ele quer que te tornes o renomado e remunerado Editor de
um trabalho periódico. Que dizes tu? Te comprometerás, como Kitty
Smart, a escrever por noventa e nove anos no Universal Visitor?”
2
De
fato, ele fala de centenas por ano, eembora eu deteste entrar em deta-
lhes a proposta dele pode ser para tua honra e lucro, e, tenho plena
certeza, será para nosso prazer.
Eu não sei o que dizer sobre “amizade”. Eu nunca estive em ami-
zade a não ser uma vez, no meu décimo nono ano, e então tal fato me
deu tanto trabalho quanto o amor. Eu temo, como o genitor de Whitbre-
ad disse ao rei, quando este quis fazê-lo cavaleiro, que eu esteja muito
velho”, mas, todavia, ninguém te deseja mais amigos, admiração e ale-
grias, do que
teu, &c.
2
N. do E. Christopher Smart foi contratado pelo editor Gardner para escrever uma miscenea
mensal intitulada o Universal Visitor. O contrato por escrito era para um período de 99 anos
(Boswell, 6 de abril, 1775).
57
Carta 2
Para Augusta Leigh
June 27
th
. 1813
My dearest Augusta—If you like to go with me to ye. Lady
Davy's tonight, I have an invitation for you.There you will
see the Staelsome people whom you know& me whom
you do not know—& you can talk to which you please—& I
will watch over you as if you were unmarried & in danger of
always being so—Now do as you like but if you chuse to
array yourself before or after half past ten—I will call for
you. I think our being together before 3d. people will be a
new sensation to both.—
ever yrs.
B
27 de junho. 1813
Minha querida AugustaSe quiseres ir comigo à casa de
Lady Davy esta noite, tenho um convite para ti. verás a
Stael—algumas pessoas que conheces& a mim que tu não
conheces& poderás conversar com quem quiseres& eu
velarei por ti como se fosses solteira e em perigo de sempre o
serAgora faz como quiseres—mas se iscolheres arrumar-te
antes ou após as dez e meia—eu chamarei por ti. Acho que
estarmos juntos diante de 3ºs será uma nova sensação para
ambos.
teu sempre
B
58
Carta 3 - Para Thomas Moore
4, Benedictine-street, St. James's, July 8th, 1813
I presume by your silence that I have blundered into something
noxious in my reply to your letter, for the which I beg leave to send,
beforehand, a sweeping apology, which you may apply to any, or all,
parts of that unfortunate epistle. If I err in my conjecture, I expect the
like from you, in putting our correspondence so long in quarantine. God
he knows what I have said; but he also knows (if he is not as indifferent
to mortals as the nonchalent deities of Lucretius), that you are the last
person I want to offend. So, if I have, why the devil don't you say it at
once, and expectorate your spleen?
Rogers is out of town with Madame de Stl, who hath published
an Essay against Suicide, which, I presume, will make somebody shoot
himself;as a sermon by Blenkinsop, in proof of Christianity, sent a
hitherto most orthodox acquaintance of mine out of a chapel of ease a
perfect atheist. Have you found or founded a residence yet? and have
you begun or finished a Poem? If you won't tell me what I have done,
pray say what you have done, or left undone, yourself. I am still in
equipment for voyaging, and anxious to hear from, or of, you before I
go, which anxiety you should remove more readily, as you think I sha'n't
cogitate about you afterwards. I shall give the lie to that calumny by
fifty foreign letters, particularly from any place where the plague is
rife,without a drop of vinegar or a whiff of sulphur to save you from
infection. Pray write: I am sorry to say that * * * *.
The Oxfords have sailed almost a fortnight, and my sister is in
town, which is a great comfort,for, never having been much together,
we are naturally more attached to each other. I presume the illumina-
tions have conflagrated to Derby (or wherever you are) by this time. We
are just recovering from tumult and train oil, and transparent fripperies,
and all the noise and nonsense of victory. Drury-lane had a large M.W.,
which some thought was Marshal Wellington; others, that it might be
translated into Manager Whitbread; while the ladies of the vicinity of
the saloon conceived the last letter to be complimentary to themselves. I
leave this to the commentators to illuminate. If you don't answer this, I
sha'n't say what you deserve, but I think I deserve a reply. Do you con-
ceive there is no Post-Bag but the Twopenny? Sunburn me, if you are
not too bad.
59
4, Benedictine Street
1
, St. James's, 8 de julho, 1813
Presumo por teu sincio que topei com algo nocivo em minha
resposta à tua carta, pelo que po licença para enviar, antecipadamente,
uma extensa desculpa, que podes aplicar a qualquer, ou a todas, as par-
tes daquela lamentável epístola. Se me engano em minha conjectura,
espero o mesmo de ti em colocar nossa correspondência por hora em
quarentena. Deus sabe o que eu disse; mas ele também sabe (se não é
tão indiferente aos mortais como as deidades impassíves de Lucretius),
que és a última pessoa que quero ofender. Portanto, se o fiz,porque
diabos não dizes de uma vez, e expectoras tua irritação?
Rogers está fora da cidade com Madame de Staël, a qual publicou
um Ensaio contra o Suicídio, que, presumo, fará alguém estourar os
miolos;como um sermão de Blenkinsop
2
, a favor do Cristianismo,
mandou um conhecido meu, até então o mais ortodoxo, para fora de
uma capela como um perfeito ateísta. Já fixaste ou fundaste uma resi-
dência? e começaste ou terminaste um Poema? Se não me dirás o que eu
fiz, diz o que tens feito, ou deixado por fazer. Estou ainda me apare-
lhando para viajar, e ansioso por ouvir de ti, ou sobre ti, antes que eu vá,
ansiedade esta que poderias remover mais de pronto, já que pensas que
não devo cogitar a teu respeito depois. Devo desmentir tal calúnia por
cinquenta cartas estrangeiras, particularmente de qualquer lugar onde a
praga seja abundante,sem uma gota de vinagre ou um sopro de enxo-
fre para salvar-te da infecção. Por obséquio, escreva: eu sinto muito
dizer que * * *.
Os Oxfords zarparam há quase uma quinzena, e minha irmã es
na cidade, o que é um grande consolo,pois, nunca tendo estado muito
juntos, somos naturalmente mais ligados um ao outro. Presumo que as
iluminações
3
tenham conflagrado até Derby (ou onde quer que estejas) a
essa hora. Nós estamos recém nos recuperando do tumulto e óleo de
baleia
4
, e ouropéis transparentes, e de todo o barulho e tolice da vitória.
Drury-lane tem um grande M.W., que alguns pensaram ser de Marshal
Wellington; outros, que poderia ser traduzido por Manager Whitbread;
enquanto as damas das redondezas do salão imaginaram a última letra
1
N. do E. Bennet Street.
2
N. do E.o identificado.
3
N. do E. As iluminações em honra à vitória dos exércitos de Wellington em Vittoria (21 de
junho de 1813), realizadas em 7 de julho, causaram um grande incêndio em Woolwich e, de
acordo com o comentário de Byron, podem ter se espalhado até Mayfiled, perto de Ashbourne,
em Derbyshire, onde Moore estava residindo na época.
4
N do T. Utilizado como combustível para a iluminação em casas e ruas. Fonte: Wikipédia.
Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%93leo_de_baleia. Acesso em: 01 fev. 10.
60
como sendo lisonjeira a elas. Deixo isso para os comentaristas ilumina-
rem. Se não responderes esta, não direi o que tu mereces, mas acho que
eu mereço uma resposta. Acreditas que não há Postagem a não ser a de
Dois Pence?
5
Enchas-me de sol, se não és mau demais.
5
N. do E. Em 1813, Moore publicou, anonimamente, seu “Intercepted Letters, or the Two-
penny Post-bag, um pasquim/sátira divertido com um toque de ctica política e social.
61
Carta 4 - Para Thomas Moore
July 13th, 1813
* * * * * * * * * * * * * * * *
Your letter set me at ease; for I really thought (as I hear of your
susceptibility) that I had said—I know not what—but something I
should have been very sorry for, had it, or I, offended you;though I
don't see how a man with a beautiful wifehis own childrenquiet
famecompetency and friends, (I will vouch for a thousand, which is
more than I will for a unit in my own behalf,) can be offended with any
thing.
Do you know, Moore, I am amazingly inclinedremember I say
but inclinedto be seriously enamoured with Lady A. F. [Adelaide
Forbes]but this * * has ruined all my prospects. However, you know
her; is she clever, or sensible, or good-tempered? either would do—I
scratch out the will. I don't ask as to her beautythat I see; but my cir-
cumstances are mending, and were not my other prospects blackening, I
would take a wife, and that should be the woman, had I a chance. I do
not yet know her much, but better than I did. * * * * *
I want to get away, but find difficulty in compassing a passage in
a ship of war. They had better let me go; if I cannot, patriotism is the
word—"nay, an they'll mouth, I'll rant as well as they." Now, what are
you doing?writing, we all hope, for our own sakes. Remember you
must edite my posthumous works, with a Life of the Author, for which I
will send you Confessions, dated "Lazaretto," Smyrna, Malta, or Pal-
ermoone can die any where.
There is to be a thing on Tuesday ycleped a national fete. The
Regent and * * * are to be there, and every body else, who has shillings
enough for what was once a guinea. Vauxhall is the scenethere are six
tickets issued for the modest women, and it is supposed that there will
be three to spare. The passports for the lax are beyond my arithmetic.
P. S. The Stael last night attacked me most furiouslysaid that I had
"no right to make lovethat I had used * * [Caroline] barbarously—
that I had no feeling, and was totally insensible to la belle passion, and
had been all my life." I am very glad to hear it, but did not know it be-
fore. Let me hear from you anon.
62
13 de julho, 1813
* * * * * * * * * * * * * * * *
Tua carta tranquilizou-me; porque eu realmente pensei (já que
oo falar de tua suscetibilidade) que havia dito—não sei o quê—mas
algo pelo que deveria estar muito arrependido, tivesse isso, ou eu, te
ofendido; embora não veja como um homem com uma bela espo-
sa,seus próprios filhos,—tranquilidade—famacompetência e ami-
gos, (darei testemunho de uma centena, que é mais do que darei por uma
unidade de minha própria parte) pode ofender-se com o que quer que
seja.
Sabe Moore, estou espantosamente inclinado—lembra que eu
disse apenas inclinadoa me enamorar por Lady A. F. [Adelaide For-
bes]mas esta * * arruinou todas as minhas expectativas. Contudo, tu
a conheces;ela é inteligente, ou sensível, ou bem-humorada? qualquer
dessas dariaeu risco o da. Não pergunto em relação à belezaisso
eu vejo; minhas condições
1
estão melhorando, e se meus outros aspectos
não estivessem piorando, eu tomaria uma esposa, e aquela seria a mu-
lher, tivesse eu a chance. Ainda não a conho muito, mas melhor do
que conheci. * * * * *
Quero escapar, mas encontro dificuldade para conseguir passagem
em uma nau. É melhor que eles me deixem ir; se eu não puder, patriotis-
mo é a palavra não, e eles dirão, eu protestarei assim como eles
2
.
Agora, o que ess fazendo?escrevendo, todos nós esperamos, para
nosso próprio bem. Lembra que deves heditar meus trabalhos póstumos,
com uma Vida do Autor, para o qual mandarei para ti Confissões, datadas
Lazaretto, Smyrna, Malta, ou Palermopode-se morrer em qualquer
lugar.
Está para acontecer uma cousa na terça-feira denominada de festa
3
nacional. O Regente e * * * estarão lá, e todo o mundo mais, que dise
de xelins suficientes para o que antes custava um guinéu. Vauxhall é o
cenário—há seis ingressos destinados às mulheres modestas, e supõe-se
que três sobrarão. Os passaportes para os luxurioros estão além da minha
aritmética.
1
N. do T. Condições financeiras.
2
N. do E. Ver Hamlet, Ato V, cena i. Em seu The Twopenny Post-bag, ao atacar o Príncipe
Regente, Moore escreveu: “Nay, na thou’lt mouth. I’ll rant as well as thou.”
3
N. do E. A Grande Festa Nacional, celebrando a Vittoria, teve lugar nos Jardins Vauxhall no
dia 20 de julho de 1813, iniciando com um banquete no qual brindaram a Wellington. A festa
foi patrocinada pelo Regente.
63
P.S. A Stael ontem me atacou furiosamente—disse que eu não tinha
direito algum de fazer amor—que usei * * [Caroline] barbariamente
que não tinha sentimento e era totalmente insensível à la belle passion, e
o tinha sido minha vida inteira.Me alegro em ouvir isso, mas não tinha
conhecimento dantes. Mande notícias tuas dentro em breve.
64
Carta 5 – Para Lady Melbourne
August 5
th
. 1813
My dear Ly. M[elbourne]My sister who is going abroad with
me is now in town where she returned with me from New[mar]ket
under the existing circumstances of her lord’s embarrassments—she
could not well do otherwise& she appears to have still less reluctance
at leaving this country that even myself.— Ly. C[aroline] may do as she
pleases—if Augusta likes to take her she may but in that case she will
travel by herself.—Nugent does not know I am in town—& if he didI
could not at present accept his invitationthough your presence is a
strong temptation—indeed much stronger for not being a new one.
So Me. de Stael says my visit was justificatory”this is not very
justifiable in herif she asserts that I said what I really did not—I shall
revenge myself by repeating what she really did say—this she would not
like—although our conversation was neither amatory nor political.—I
called because she said by not visiting her I treated her with con-
tempt”—an impression of which Common Politeness required the re-
movalI am always delighted to visit you at your own hourbut I am
never myself in a morning—or rather I am myself or Lord Stair (I doubt
which very often) my dullness is so very ineffable.We have an event
in our familya female cousin going to Mouros for religioncould not
you send one of your family to join her—she is to have a spare waist-
coatthat will fit the other I dare say.—If not I believe I must try my-
self.ever yrs. Dr. Ly. M.
5 de agosto. 1813
Minha cara Lady M[elbourne]Minha irmã, que viajará para o
exterior comigo está agora na cidade por termos retornado juntos de
New[mar]ketsob as presentes circunsncias embaraçosas de seu
senhor—ela não poderia ter feito de outra forma&parece ter menos
reluncia em deixar este país do que eu mesmo. —Ly. C[aroline] pode
fazer o que achar melhorse agrada a Augusta levá-la consigo, que ela
assim o faça—mas nesse caso ela viajará sozinha.—Nugent não sabe
que estou na cidade—& se soubesse—eu não poderia no momento acei-
tar seu convite—embora sua presença seja uma forte tentaçãoem
verdade muito maior por não ser uma presença nova.Então Me. de
Stael diz que minha visita foi justificatória” isso não é muito justi-
fivel nela—se ela afirma que eu disse o que na verdade não disse
devo vingar-me repetindo o que ela de fato dissedisso ela não iria
gostarembora nossa conversa não tenha sido nem amadora nem polí-
65
tica. —Fui porque ela disse que por não visitá-la “a tratei com despre-
zo”—uma impressão que a Etiqueta exigia a remoçãoÉ sempre um
prazer visitar-te em tua hora habitual—mas eu nunca sou eu mesmo nas
manhãsou mais exatamente sou eu mesmo ou Lord Stair
1
(hesito
sobre qual com muita frequência) minha lentidão é tão inexprimível. —
Temos um acontecimento em nossa famíliauma prima indo para
Mouros para a religiãonão poderias enviar uma de tua família para
juntar-se a ela—ela deve ter um colete sobressalenteque servirá na
outra, me atrevo a dizer. Caso não sirva, devo provar eu mesmo.teu
sempre, Cara Ly. M.
1
N. do E. John William Henry (Dalrymple), 7º Earl of Stair (1784-1840), de visão política
liberal, casou em 1804 com Johanna, primeira filha de Charles Gordon de Cluny. o conside-
rando tal casamento como válido (por haver sido realizado com base em promessas), ele casou
em 1808, por licença especial, com Laura, a filha caçula de John Manners com Louisa, posteri-
ormente Condessa de Dysart. O último casamento foi, entretanto, anulado pela Corte Consisto-
rial de Londres em 16 de julho de 1811. O casamento de 1804 terminou em dircio em 1820.
66
Carta 6 – Para Lady Melbourne
August 8
th
. 1813
My dear Ly. M[elbourn]e—I wrote ye. annexed note 3 days
ago& as it contains a direct answer to some of your queries—I shall
even let it go as it isI put it in my drawer & forgot it—for I have been
occupied to weariness with various somethings & nothings ever since—
amongst others in preventing two men (one an old friend) from cutting
one anothers throats after a quarrel in which I was called in to mediate
& succeeded in reserving them for a different fate—& I humbly hope a
better.— —I rather plume myself upon thisbeing the first decent deed
I have done since my acquaintance with the most celebrated personage
of your illustrious housewhose fault it is not—that I have not had the
obligation returned.—I have not broken in upon your grief for the depar-
ture of your diplomatic progeny to cope with BuonaparteI think Ly.
Ay. might be an useful appendage to his suite—as by all late accounts
the Emperor is rather more frail than becomes a hero.— Me. de
Staels favourite son has had his head cleft by a vile Adjutant who knew
the broadsword exercise better than piquet—for that was ye. cause of
carnage. I thought that game had only been dangerous to your sex.
Corinne is doubtless very much affected—yet methinks—I should con-
jecture—she will want some spectators to testify how graceful he grief
will be—& to relate what fine things she can say on a subject where
commonplace mourners would be silent.Do I err in my judgment
of the woman think you? She is in many thingsa sort of C[arolin]e
in her sensesfor she is sane.—
ever yrs truly
B
8 de agosto, 1813
Minha cara Ly. M[elbourne]escrevi a anexa há três dias—&
como ela contém uma resposta direta” a alguns de teus questionamen-
tosdevo encamin-la como es—eu a coloquei em minha gaveta &
esqueci dela—pois tenho estado ocupado à exaustão com várias cousas
& cousas algumas desde então—entre outras em impedir dois homens
(um dos quais um velho amigo
1
) de cortarem um a garganta do outro
após uma contenda à qual fui chamado para mediar & obtive sucesso em
1
N. do E. O amigo em questão era Scrope Davies, que que teve uma disputa por jogo de
apostas com Lord Foley.
67
reser-los para destino diferente.& humildemente espero, para um
melhor.—Certamente me orgulho dissotendo sido o primeiro feito
feliz que fiz desde meu conhecimento com a personagem mais celebrada
de tua ilustre casade quem não é a culpa—por eu não ter a gentileza
retribuída. —Não comentei sobre teu pesar pela partida do teu filho
2
diplomata para lidar com Buonaparte—acho que Ly. Ay. seria um útil
complemento à comitiva dele—pois conforme todos os relatos recentes
o Imperador está mais frágil ao invés de tornar-se um herói. O
filho predileto
3
de Me. de Stael teve a cabeça decepada por um terrível
Ajudante-de-Ordens que conhecia o exercício do montante
4
melhor do
que o do piquet
5
porque essa foi a causa da carnagem. Pensei que tal
jogo fosse perigoso apenas para teu sexo.—Corine está indubitavelmen-
te muito afetada—mesmo assim me parece—ouso conjeturarque ela
desejará alguns espectadores para testemunhar quão gracioso seu sofri-
mento se& para relatar que cousas primorosas ela pode dizer sobre
um assunto onde os enlutados comuns permaneceriam silenciosos.—
Erro em meu julgamento sobre a mulher, crês tu? Ela é em muitas
cousasuma espécie de C[arolin]e equilibrada— porque ela é sã.
sempre teu verdadeiramente
B
2
N. do E. Frederick Lamb, o terceiro filho de Lady Melbourne, havia entrado no serviço
diplomático e era Secretário para Missões Diplomáticas sob a supervisão de Lord William
Bentinck na Sicília, tornando-se, posteriormente, Ministro Plenipotenciário para a Corte das
Duas Sicílias.
3
N. do E. O filho favorito de Madame de Staël, Albert de Staël, foi morto em um duelo por
jogo de apostas em Doberan, uma pequena cidade no então ducado de Mecklenburg-Schwerin,
situado no nordeste da Alemanha, na costa do Mar Báltico.
4
N. do T. Espada grande que se manejava com ambas as mãos para golpear o adversário pelo
alto. Fonte: Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa, versão 3.0.
5
N. do T. Jogo de cartas em que dois jogadores utilizam um baralho reduzido, com apenas 32
cartas. Todas as cartas abaixo de sete são omitidas. A origem do jogo é francesa. Fonte: The
Free Dictionary. Disponível em <http://www.thefreedictionary.com/piquet>. Acesso em: 31
jul. 2009.
68
Carta 7 – Para Thomas Moore
Bennet-street, August 22d, 1813
* * * * * * * * * * * * * * * *
As our late—I might say, deceased—correspondence had too
much of the town-life leaven in it, we will now, paulo majora” prattle a
little of literature in all of its branches; and first of the first—criticism.
The Prince is at Brighton, and Jackson, the boxer, gone to Margate,
having, I believe, decoyed Yarmouth to see a milling in that polite
neighbourhood. Made. de Stael Holstein has lost one of her young bar-
ons, who has been carbonadoed by a vile Teutonic adjutant, kilt &
killed in a coffee-house at Scrawsenhawsen. Corinne is, of course, what
all mothers must be,—but will, I venture to prophesy, do what few
mothers could—and write an Essay upon it. She cannot exist without a
grievance—and somebody to see, or read, how much grief becomes her.
I have not seen her since the event; but merely judge (not very charita-
bly) from prior observation.
In a mail-coach copy of the Edinburgh, I perceive the Giaour is
2d article. The numbers are still in the Leith smackpray, which way is
the wind? The said article is so very mild and sentimental, that it must
be written by Jeffrey in love;—you know he is gone to America to mar-
ry some fair one, of whom he has been, for several quarters, éperdument
amoureux. Seriously—as Winifred Jenkins says of LismahagoMr.
Jeffrey (or his deputy) has done the handsome thing by me”, and I say
nothing. But this I will say,If you and I had knocked one another on
the head in his quarrel, how he would have laughed, and what a mighty
bad figure we should have cut in our posthumous works. By the by, I
was called in the other day to mediate between two gentlemen bent upon
carnage, and,—after a long struggle between the natural desire of de-
stroying ones fellow-creatures, and the dislike of seeing men play the
fool for nothing,I got one to make an apology, and the other to take it,
and left them to live happy ever after. One was a peer, the other a friend
untitled, and both fond of high play;—and one, I can swear for, though
very mild, not fearful, and so dead a shot, that, though the other is the
thinnest of men, he would have split him like a cane. They both con-
ducted themselves very well, and I put them out of pain as soon as I
could.
* * * * * * * * * * * * * * * *
There is an American Life of G. F. Cooke, Scurra deceased, late-
ly published. Such a book!—I believe, since Drunken Barnabys Jour-
nal, nothing like it has drenched the press. All green-room and tap-
69
roomdrams and the dramabrandy, whisky-punch, and, latterly,
toddy, overflow every page. Two things are rather marvelousfirst, that
a man should live so long drunk, and, next, that he should have found a
sober biographer. There are some very laughable things in it. neverthe-
less;but the pints he swallowed and the parts he performed are too
regularly registered.
All this time you wonder I am not gone: so do I; but the accounts
of the plague are very perplexing—not so much for the thing itself as the
quarantine established in all ports, and from all places, even from Eng-
land. It is true the forty and sixty days would, in all probability, be as
foolishly spent on shore as in the ship; but one likes to have ones
choice, nevertheless. Town is awfully empty; but not the worse for that.
I am really puzzled with my perfect ignorance of what I mean to do;—
not stay, if I can help it, but where to go? Sligo is for the North,a
pleasant place, Petersburgh, in September, with ones ears and nose in a
muff, or else tumbling into ones neckcloth or pocket-handkerchief! If
the winter treated Buonaparte with so little ceremony, what would it
inflict upon your solitary traveler?—Give me a sun, I care not how hot,
and sherbet, I care not how cool, and my Heaven is as easily made as
your Persians. The Giaour is now 1000 and odd lines. Lord Fanny
spins thousand a such day
1
, eh, Moore?
yours ever,
BN.
P.S. I perceive I have written a flippant and rather cold-hearted letter; let
it go, however. I have said nothing, either, of the brilliant sex; but the
fact is, I am, at this moment, in a far more serious, and entirely new,
scrape that any of the last twelvemonths,and that is saying a good
deal. * * * It is unlucky we can neither live with nor without these
women.
I am now thinking and regretting that, just as I have left New-
stead, you reside near it. Did you ever see it? dobut dont tell me that
you like it. If I had known of such intellectual neighbourhood, I dont
think I should have quitted it. You could have come over so often, as a
bachelor.—for it was a thorough bachelors mansionplenty of wine
and such sordid sensualitieswith books enough, room enough, and an
air of antiquity about all (except the lasses) that would have suited you,
when pensive, and served you to laugh at when in glee. I had built my-
self a bath and a vaultand now I shant even be buried in it. It is odd
1
N. do E. Imitations of Horace, de Alexander Pope, Sátira I, linha 6.
70
that we can’t even be certain of a grave, at least a particular one. I re-
member, when about fifteen, reading your poems there,which I can
repeat almost now,and asking all kinds of questions about the author,
when I heard that he was not dead according to the preface; wondering
if I should ever see himand though, at that time, without the smallest
poetical propensity myself, very much taken, as you may imagine, with
that volume. AdieuI commit you to the care of the godsHindoo,
Scandinavian, and Hellenic!
P.S.2d. There is an excellent review of Grimms Correspondence and
Made. de Stael in this No. of the E[dinburgh] R[eview] * * * * * Jeffrey,
himself, was my critic last year; but this is, I believe, by another hand. I
hope you are going on with your grand coup—pray do—or that damned
Lucien Buonaparte will beat us all. I have seen much of his poem in
MS., and he really surpasses every thing beneath Tasso. Hodgson is
translating him against another bard. You and (I believe, Rogers) Scott,
Gifford and myself, are to be referred to as judges between the twain,—
this is, if you accept the office. Conceive our different opinions! I think
we, most of us (I am talking very imprudently, you will thinkus, in-
deed!) have a way of our own,at least, you and Scott certainly have.
Bennet-street, 22 de agosto, 1813
* * * * * * * * * * * * * * * *
Como nossa últimaeu poderia dizer, finadacorrespondência
tinha muito da agitação da vida da cidade em seu conteúdo, nós agora
iremos, paulo majora
2
, papear um pouco sobre literatura em todas as
suas áreas; e a primeira de todas—crítica. O Príncipe está em Brighton,
e Jackson, o boxeador, foi para Margate, tendo, creio, instigado Yar-
mouth a assistir uma luta de boxe
3
naquela educada vizinhança. Made.
de Stl Holstein perdeu um de seus jovens baes, o qual foi fatiado
por um desprezível Ajudante-de-Ordens teutônico, mdo & morto em
um café em Scrawsenhawsen. Corinne está, é claro, como todas as mães
devem estar,—mas fará, arrisco profetizar, o que poucas mães fariame
escreverá um Ensaio sobre o assunto. Ela não concebe existir sem um
sofrimento—e sem alguém para ver, ou ler, o quanto o sofrimento se
2
N. do T. Paulo Majora lat - Cousas um pouco mais elevadas. Verso de Virgílio, emprega-
do quando se quer passar de um assunto para outro mais importante. Fonte:
<http://www.sedep.com.br/index.php?idcanal=8400>. Acesso em: 03 set. 2009.
3
N do T. Luta de boxe sem uso de luvas, apenas com ataduras amarradas nas mãos.
71
torna ela própria. Não a vejo desde o evento; mas julgo meramente (não
muito caridosamente) por observações anteriores.
Numa cópia carruagem-correio do Edinburg
4
, noto que o Gia-
our está no artigo. As cópias ainda estão na barca de Leith
5
por
gentileza, para que lado sopra o vento? O tal artigo é o ameno e sen-
timental, que deve ter sido escrito por um Jeffrey apaixonado;— sabes
que ele rumou à América para casar-se com uma beldade, pela qual ele
tem estado, há vários quartos de lua
6
, éperdument amoureux. De fato
como Winifred Jenkins diz de Lismahago—Mr. Jeffrey (ou seu substitu-
to) fez a cousa bela por mim”
7
, e eu digo nada. Mas isto direi,—se tu e
eu tivéssemos golpeado um ao outro na cabeça na contenda dele, como
ele teria rido, e que poderosas figuras más nós teamos sido em nossas
obras póstumas. A propósito, fui requisitado outro dia para mediar entre
dois cavalheiros inclinados à carnagem, e,após uma longa luta entre o
desejo natural de destruir o semelhante, e o desagrado de ver homens
bancarem os tolos por nada,—consegui que um fizesse um pedido de
desculpas, e que o outro o aceitasse, e deixei-os para viverem felizes
para sempre. Um era um par, o outro um amigo sem título, e ambos
dados a apostas altas; e um, eu posso jurar, embora muito brando,
não pavoroso, e com um pontaria tão mortal, que, fosse o outro o mais
magro dos homens, ele o teria partido como a uma cana. Ambos condu-
ziram-se muito bem, e eu os coloquei a salvo tão logo pude.
* * * * * * * * * * * * * * * *
uma Biografia Americana de G. F. Cooke, Scurra
8
falecido,
publicada recentemente. Que livro!—Acho que, desde o Jornal de
Drunken Barnaby
9
, nada como isso encharcou o prelo. Tudo bastidores
e bar—dose e o dramaconhaque, ponche de uísque, e, por último,
araca, inundam cada página. Duas cousas são particularmente assombro-
sasprimeiro, que um homem tenha vivido por tanto tempo bêbado, e,
depois, que ele tenha encontrado um biógrafo sóbrio. umas partes
4
N. do E. A Revista trimestral Edinburgh Review, em seu número de julho de 1813, fez a
ctica literária do Giaour de Byron, enaltecendo seu poder poético, mas reprovando a “inutili-
dade e culpa” dos personagens principais e lamentando a devoção de Byron a temas revoltantes
e melancólicos.
5
N. do T. Leith: distrito portuário de Edinburgo, na Escócia. Fonte: The Free Dictionary.
Disponível em < http://www.thefreedictionary.com/Leith>. Acesso em: 31 jul. 2009.
6
N. do T. Com designação de contagem de tempo.
7
N. do T. Fez-me um favor.
8
N. do T. Byron utiliza a palavra “scurra” que geralmente significa parasita”, em sua outra
acepção - bufão”. BYRON, George Gordon. The Works of Lord Byron: Letters and Journals.
London, Elibron Classics, 2005. p. 249.
9
N. do E. Publicado anonimamente por volta de 1650, supostamente como sendo de autoria de
Barnaby Harrington da Queens College, Oxford; também atribdo a Richard Braithwait.
72
muito engraçadas no livro. aliás;mas os litros de cerveja que ele en-
tornou e os papéis que ele interpretou estão registrados por demais regu-
larmente.
Todo esse tempo tu conjecturas que ainda o parti: também o
faço; mas os registros da praga são muito desconcertantesnão tanto
pela cousa propriamente dita como pela quarentena estabelecida em
todos os portos, e de todos os lugares, mesmo da Inglaterra. É verdade
que o quadragésimo e o sexagésimo dias seriam, com toda probabilida-
de, passados tão tolamente na margem quanto no navio; mas gostamos
de ter nossa própria escolha, contudo. A cidade está estranhamente vazi-
a; mas isso não incomoda. Estou realmente intrigado com minha perfeita
ignorância quanto ao que pretendo fazer;—não ficar; se puder evitar,
mas para onde ir? Sligo fica ao Norte,um lugar aprazível, Petersbur-
go, em setembro, com as orelhas e o nariz numa peluda
10
ou então me-
tendo-se
11
na gravata ou no lenço de bolso de alguém! Se o inverno
tratou Buonaparte com tão pouca cerimônia, o que ele infligiria a teu
solitário viajante?—Dê-me um sol, não me importo quão quente, e sher-
bet, não me importo quão frio, e meu Céu é tão facilmente feito quanto o
teu Persa
12
. O Giaour está agora com 1000 e tantas linhas. Lord Fanny
produz mil por dia,, Moore?.
teu sempre,
BN.
P.S. Percebo que escrevi uma carta frívola e certamente insensível; dei-
xe-a ir, contudo. Eu não disse nada, também, sobre o brilhante sexo;
mas o fato é que, estou, neste momento, em uma bem mais séria, e intei-
ramente nova, enrascada, do que qualquer uma dos últimos doze me-
ses
13
,—e isso já diz muito. * * * É uma pena que nós não possamos
viver com nem sem essas mulheres.
Estou agora pensando e lamentando que, tão logo deixei Newste-
ad, tu vives perto dela. Tu a viste alguma vez? Veja-amas não me
digas que a aprecias. Se eu tivesse sabido de tão intelectual vizinhança,
não creio que a teria abandonado. Tu poderias ter vindo com tanta fre-
quência, como solteiro.— pois ela era uma mansão de solteiro por com-
pleto—repleta de vinho e de tão sórdidas sensualidades—com livros o
bastante, espaço o bastante, e um ar de antiguidade em relação a tudo
10
N. do T. Referência ao órgão sexual feminino.
11
N. do T. Referência sexual implícita.
12
N. do E. A Persian’s Heav’n is easily made ‘Tis but black eyes and lemonade Thomas
Moore, Intercepted Letters, letter IV.
13
N. do E. Byron deu dica a Moore sobre sua ligação com Augusta Leigh. Os asteriscos suge-
rem que Byron lhe contou mais sobre a relação.
73
(com exceção das criadas) que teria combinado contigo, quando melan-
cólico, e te servido para rir-se de quando alegre. Constr para mim um
quarto de banho e um cofree agora não deverei sequer ser enterrado
nela. É estranho que não possamos nem ter a certeza de um mulo, pelo
menos de um particular. Eu recordo, quando com cerca de quinze anos,
lendo teus poemas lá,os quais posso repetir quase agora
14
—e fazendo
toda sorte de questionamentos sobre o autor, quando soube que ele não
estava morto de acordo com o prefácio; conjecturando se alguma vez o
veria—e embora, naquele tempo, sem a menor propensão poética em
mim mesmo, deveras tocado, como podes imaginar, com aquele volume.
Adieuconfio-te aos cuidados dos deusesHindus, Escandinavos e
Henicos!
P.S.2. uma excelente crítica da Correspondência de Grimm e Made.
de Stael neste No. do E[dinburgh] R[eview]
15
* * * * * Jeffrey, ele
mesmo, foi meu crítico ano passado; mas esta é, creio, por outra mão.
Espero que estejas prosseguindo com a tua grand coup
16
por gentileza,
prossiga—ou aquele maldito Lucien Buonaparte vencerá todos nós. Vi
muito do poema dele no MS., e ele realmente supera tudo abaixo de
Tasso. Hodgson o está traduzindo contra outro bardo
17
. Tu e (eu creio,
Rogers) Scott, Gifford e eu mesmo, devemos ser escolhidos como juízes
entre os dois,isto é, se aceitares o ofício. Imagina nossas diferentes
opines! Creio que nós, a maioria de nós (estou falando de maneira
muito imprudente, pensarásnós, não me diga!) temos nosso próprio
estilo—ao menos, tu e Scott certamente o têm.
14
N. do E. Em 1803, Byron tinha 11 anos de idade, provável época em que ele teve contato
com os versos eróticos de The Poems of The Late Thomas Little, um dos primeiros poemas de
Thomas Moore, publicado pela primeira vez em 1801.
15
N. do E. A obra Germany de Madame de Staël foi revisada por Sir James Mackintosh no
Edinburgh Review de julho de 1813. No mesmo número do periódico, há uma longa revisão do
Correspondance Littéraire et Philosophique de Grimm.
16
N. do T.: obra-prima.
17
N. do E. Hodgson e o Dr. Samuel Butler traduziram o poema Charlemagne, de Lucien
Buonaparte, que foi publicado em 1815.
74
Carta 8 – Para Thomas Moore
October [1]-2, 1813
You have not answered some six letters of mine. This, therefore,
is my penultimate. I will write to you once more, but, after that—I swear
by all the saintsI am silent and supercilious. I have met Curran at
Holland-househe beats every body;his imagination is beyond hu-
man, and his humour (it is difficult to define what is wit) perfect. Then
he has fifty faces, and twice as many voices, when he mimics;I never
met his equal. Now, were I a woman, and eke a virgin, that is the man I
should make my Scamander. He is quite fascinating. Remember, I have
met him but once; and you, who have known him long, may probably
deduct from my panegyric. I almost fear to meet him again, lest the
impression should be lowered. He talked a great deal about youa
theme never tiresome to me, nor to any body else that I know. What a
variety of expression he conjures into that naturally not very fine coun-
tenance of his! He absolutely changes it entirely! I have done—for I
cant describe him, and you know him. On Sunday I return to * * [As-
ton], where I shall not be far from you. Perhaps I shall hear from you in
the mean time. Good night.
Saturday Morn.Your letter has cancelled all my anxieties. I did
not suspect you in earnest. Modest again! Because I don’t do a very
shabby thing, it seems, I “don’t fear your competition. If it were re-
duced to an alternative of preference, I should dread you, as much as
Satan does Michael. But is there not room enough in our respective
regions? Go onit will soon be my turn to forgive. To-day I dine with
Mackintosh and Mrs. Stale[de Stael]—as John Bull may be pleased to
denominate Corinnewhom I saw last night, at Covent-garden, yawn-
ing over the humour of Falstaff.
The reputation of gloom, if ones friends are not included in the
reputants, is of great service; as it saves one from a legion of imperti-
nents, in the shape of common-place acquaintance. But thou knowst I
can be a right merry and conceited fellow, and rarely larmoyant. Mur-
ray shall reinstate your line forthwith. I believe the blunder in the motto
1
was mine;and yet I have, in general, a memory for you, and am sure it
was rightly printed at first.
I do blush very often, if I may believe Ladies H[olland?] and
M[elbourne?]—but luckily, at present, no one sees me. Adieu.
1
N. do E. Byron havia citado incorretamente uma passagem do poema Irish Melodie”, “As a
beam o’er the face”, nas primeiras edições do Giaour, mas corrigiu o engano nas edões
posteriores.
75
[1] - 2 de outubro, 1813
Não respondeste umas seis cartas minhas. Esta, portanto, é minha
peltima. Escreverei para ti uma vez mais, mas, depois dissojuro por
todos os santosestarei silencioso e arrogante. Encontrei Curan em
Holand-houseele supera qualquer um;sua imaginação é sobre-
humana, e seu humor (é difícil definir perspicácia) perfeito. Então ele
tem cinquenta expressões, e duas vezes mais vozes, quando faz mími-
ca;jamais conheci alguém assim. Agora, fosse eu uma mulher, e ade-
mais virgem, eis o homem que eu faria meu Scamander. Ele é deveras
fascinante. Recorda, eu o vi apenas uma vez; e tu, que o conheces há
mais tempo, podes provavelmente deduzir do meu panegírico. Quase
temo encontrá-lo novamente, por medo que a impressão seja diminuída.
Ele falou muito a teu respeito—um tema jamais cansativo para mim, ou
para qualquer outro que eu conha. Que variedade de expressão ele
conjura naquela naturalmente não muito agradável feição! Ele absolu-
tamente a modifica por completo! Termino por aquiporque não posso
descre-lo, e tu o conheces. No domingo retorno a * * [Aston], onde
não devo estar longe de ti. Talvez eu saiba de ti nesse meio tempo. Boa
noite.
Manhã de sábado—Tua carta cancelou todas as minhas ansieda-
des. Não suspeitei que falavas sério. Modesto outra vez! Porque não
faço uma cousa deveras boa, ao que parece, não temo tua competição.
Se isso fosse reduzido a uma alternativa de preferência, eu deveria te-
mer-te, tanto quanto Satan teme Michael. Mas não há espo suficiente
em nossas respectivas regiões? em frenteem breve será minha vez
de perdoar. Ho-je janto com Mackintosh e com Mrs. Stale [de Stael]a
quem John Bull pode deleitar-se em chamar Corinea quem vi ontem à
noite, em Covent-garden, bocejando sobre o humor de Falstaff.
A reputação de melancólico, se os amigos não estão incluídos
entre os juízes, é de grande valia; pois que o salva de uma legião de
impertinentes, na forma de conhecidos comuns. Mas vocês sabem que
eu posso ser um deveras alegre e convencido sujeito, e raramente lamu-
rioso. Murray deverá restaurar tua linha sem demora. Creio que a man-
cada no moto foi minha?—e ainda tenho, em geral, uma lembrança para
ti, e tenho certeza de que ela foi impressa de forma correta de início.
Eu sim coro com muita frequência, se posso acreditar nas Ladies
H[olland?] e M[elbourne?]mas afortunadamente, no momento, nin-
guém me vê. Adieu.
76
Carta 9 – Para Annabella Milbanke
Novr. 10
th
. 1813
A variety of circumstances & movements from place to place—
none of which would be very amusing in detail—nor indeed pleasing to
any one who (I may flatter myself) is my friend have hitherto prevented
me from answering your two last lettersbut if my daily self-reproach
from the omission can be any atonement—I hope it may prove as satis-
factory an apology to youas it has been a compunctious visiting to
myself. Your opinion of my reasoning powers is so ex-
actly my on—that you will not wonder if I avoid a controversy with so
skilful a casuistparticularly on a subject where I am certain to get the
worst of it in this world—and perhaps incur a warmer confutation in the
next.—But I shall be most happy to hear your observations on the sub-
jector on any subject—if anybody could do me much good—probably
you mightas by all accounts you are mistress of the practice as well as
theory of that benevolent science (which I take to be better than even
your Mathematics) at all events it is my fault if I derive no benefit from
your remarks.I agree with you quite upon Mathematics too—and
must be content to admire them at an incomprehensible distance—
always adding them to the catalog of my regretsI know that two and
two make four& should be glad to prove it too if I could—though I
must say that if by any sort of process I could convert 2 & 2 into five it
would give me much greater pleasure.The only part I remember
which gave me much delight were those theorems (is that the word?) in
which after ringing the changes uponAB&C—D. &c. I at last came
to which is absurd—which is impossible and at this point I have al-
ways arrived & I fear always shall through lifevery fortunate if I can
continue to stop there. I perceive by part of your last letter
that you are still a little inclined to believe me a very gloomy person-
age—those who pass so much of their time entirely alone cannot be
always in very high spiritsyet I don’t know—though I certainly do
enjoy society to a certain extent I never passed two hours in mixed
company in my life—without wishing myself out of it againstill I
look upon myself as a facetious companionwell respected by all the
Witsat whose jests I readily laugh—& whose repartees I take care
never to incur by any kind of contestfor which I feel as little qualified
as I do for the more solid pursuit of demonstration.I am happy so far
in the intimate acquaintance of two or three men with whom for ten
years of my life I have never had one word of differenceand what is
rather strangetheir opinions religious moral & political are diametri-
77
cally opposite to mine—so that when I say difference” I mean of
course serious dispute—coolness—quarrelor whatever people call
it—now for a person who began life with that endless source of squab-
ble—satire—I may in this respect think myself fortunate.My reflec-
tions upon this subject qualify me to sympathize with you very sincerely
in the departure of your friend Miss Montgomerythe more soas
notwithstanding many instances of the contrary I believe the friendship
of good womenmore sincere than that of men—& certainly more
tender—at least I never heard of a male intimacy that spoilt a mans
dinner—after the age of fifteenwhich was that when I began to think
myself a mighty fine gentleman & to feel ashamed of liking anybody
better than one’-self. I have been scribbling another poem—as it is
called—Turkish as beforefor I can’t empty my head of the Eastand
horrible enough—though not so sombre quite as ye. Giaour (that unpro-
nounceable name) and for the sake of intelligibility it is not a frag-
ment.—The scene is on the Hellesponta favourite sejour of mine
and if you will accept it—I will send you a copy—there are some Mus-
sulman words in it which I inflict upon you in revenge for your “Ma-
thematical[] & other superiority. — — — When shall you be in
town?by the byeyou won’t take fright when we meet, will you? &
imagine that I am about to add to your thousand and one pretendants?
I have taken exquisite care to prevent the possibility of that—though
less likely than ever to become a Benedickindeed I have not seen
(with one exception) for many years a Beatriceand she will not be
troubled to assume the part.—I think we understand each other per-
fectly& may talk to each other occasionally without exciting specula-
tionand the worst that can be said—isthat I would—& you wont
and in this respect you can hardly be the suffererand I am very sure I
shant.—If I find my heart less philosophic on the subject than I at pre-
sent believe it—I shall keep out of the waybut I now think it is well
shielded—at least it has got a new suit of armourand certainly it stood
in need of it.—I have heard a rumour of another added to your list of
unacceptables—and I am sorry for himAs I know that he has talent
& his pedigree ensures him wit & good humour.—You make sad hav-
ock among us youth it is lucky that Me. de Stael has published her
Anti-suicide at so killing a timeNovember too!—I have not read it—
for fear that the love of contradiction might lead me to a practical confu-
tation.—Do you know her? I don’t ask if you have heard her? her ton-
gue is “the perpetual motion.”—
ever yrs.
Byron
78
P.S. Nov. 17
th
.—The enclosed was written a week ago & has lain in my
desk ever since—I have had forty thousand plagues to make forget not
you but itand now I might as well burn it—but let it go & pray for-
give ye. scrawl & the Scribe
If you favour me with an answerany letter addressed here will
reach me wherever I may be—I have a little cousin Eliza Byron com-
ing—nogoing to some school at Stocktonwill you notice her? It is
the prettiest little blackeyed girl of Paradise—& but 7 years old.—
10 de nov. 1813
Uma variedade de circunsncias & movimentos de lugar a lu-
garnenhum dos quais seria deveras divertido em detalhe—nem de fato
agradável a qualquer um que (posso gabar-me) seja meu amigo me im-
pediram até agora de responder tuas duas últimas cartas—mas se minha
auto-reprovação diária pela omissão pode ser de alguma reparação
espero que isso possa servir-te como uma desculpa satisfatória—como
ela tem sido uma visita compungida” a mim mesmo.— Tua
opinião sobre meus poderes de argumentação é tão exatamente a mi-
nhaque não te admirarás se eu evitar uma controvérsia com tão habi-
lidosa casuísta—particularmente em um assunto onde estou certo de ser
derrotado neste mundo—e talvez expor-me a uma refutação mais calo-
rosa no próximo.Mas ficarei muito feliz em ouvir tuas observações
sobre o assunto—ou sobre qualquer assunto—se alguém pudesse me
fazer algum bemprovavelmente serias tupois segundo dizem todos
és mestra na prática assim como na teoria dessa benevolente ciência
(que considero como sendo melhor até do que a tua Matemática) de
qualquer modo é minha culpa se eu não colher nenhum proveito das tuas
observões.—Concordo contigo sobre Matemática tambéme devo
me contentar em admirá-las a uma distância incompreensível—sempre
adicionando-as ao catálogo de meus arrependimentosSei que dois e
dois são quatro—& ficaria feliz em provar isso também se pudesse—
embora deva dizer que se por algum processo eu pudesse converter 2 &
2 em cinco isso me daria um prazer muito maior.—a única parte de que
recordo que me deu grande prazer foram aqueles teoremas (é essa a
palavra?) nos quais após utilizá-los continuamente, mas de maneira
diferente—A—B& CD. &c. finalmente cheguei a é um absurdoé
impossível e a esse ponto tenho sempre chegado & e temo sempre
chegarei por toda a vida—muita sorte se puder continuar e chegar lá.
79
—Percebo por parte de tua última carta—que ainda ess um pouco
inclinada a ter-me como uma pessoa muito melancólica—aqueles que
passam tanto de seu tempo completamente sozinhos o podem estar
sempre animadose no entanto não seiembora certamente aprecie a
sociedade até certo ponto nunca passei duas horas em companhia varia-
da em minha vida—sem desejar estar fora dela outra vez—ainda assim
me vejo como um companheiro brincalhãobem respeitado por todos
os Perspicazes—de cujas piadas eu protamente prontamente rio—& a
cujas respostas prontas tomo cuidado para nunca me sujeitar por qual-
quer sorte de competiçãopara a qual sinto-me tão pouco qualificado
quanto me sinto para a mais real busca de demonstração.—Estou feliz
por hora no conhecimento íntimo de dois ou três homens com os quais
por dez anos de minha vida jamais tive uma palavra de diferença—e o
que é deveras estranhosuas opines religiosas morais & políticas são
diametralmente opostas às minhasentão quando digo diferença”
quero dizer é claro disputa sériaindiferença—brigaou seja como for
que as pessoas o chamemagora para uma pessoa que começou a vida
com aquela fonte inesgotável de altercação—sátira—posso a esse res-
peito considerar-me um afortunado.—Minhas reflexões sobre este as-
sunto me qualificam a compartilhar de teus sentimentos de forma muito
sincera sobre a partida de tua amiga Miss Montgomerytanto mais
quea despeito de muitos casos ilustrativos do contrário acredito que a
amizade de boas mulheresmais sincera do que a de homens—& cer-
tamente mais frágil—pelo menos nunca ouvi falar de uma intimidade
masculina que tenha estragado o jantar de um homemapós a idade de
quinze anosque foi quando comecei a me considerar um fino cava-
lheiro & a ter vergonha de gostar de alguém mais do que de mim mes-
mo. Rascunhei um novo poemacomo é chamado—Turco como an-
tespois não consigo esvaziar minha cabeça do Oriente—e horrível o
suficiente—embora não tão sóbrio como o Giaour (esse nome impro-
nuncvel) e pelo bem da inteligibilidade não é um fragmento.A cena
é no Helesponto—um sejour
2
favorito meue se o aceitares—enviarei
uma cópia para ti—há algumas palavras em muçulmano nele as quais eu
infligo a ti em vingança pela tua superioridade Matemática [] & por
outra.Quando estarás na cidade?—a propósito—não te as-
sustarás quando nos conhecermos, ou assustarás? & imaginarás que
estou para somar aos teus mil e um pretendentes?—Tomei imenso cui-
2
N. do T.: local/estadia.
80
dado para evitar tal possibilidade
3
embora menos inclinado do que
antes a me tornar um Benedick—de fato não tenho visto (com uma ex-
ceção) por muitos anos uma Beatrice—e ela não assumirá o papel.
Acho que nos entendemos perfeitamente—& podemos conversar um
com o outro ocasionalmente sem provocarmos especulação—e o pior
que pode ser dito—é—que eu iria& tu nãoe a esse respeito tu difi-
cilmente podes ser a sofredorae estou muito certo de que não deve-
rei.Se eu descobrir meu coração menos filosófico sobre o assunto do
que o acredito no momento—me manterei fora do caminho—mas agora
o considero bem protegido—pelo menos ele conseguiu uma nova arma-
dura—e certamente necessitava dela.—Ouvi rumores de outro adiciona-
do à tua lista de inaceiveis—e sinto muito por ele—pois sei que tem
talento—& sua linhagem lhe assegura perspicácia & bom humor
4
.—Tu
causas triste devastação entre nós jovens é uma sorte que Me. de Stael
tenha publicado seu Anti-suicídio em hora tão fatal—Novembro tam-
bém!Não o li—por temer que o amor pela contradição me levasse a
uma refutação prática. Tu a conheces? Não pergunto se tu a tens ou-
vido? A língua dela é o movimento perpétuo.”
sempre teu
Byron
P.S. 17 Nov.A anexa foi escrita há uma semana & tem estado em
minha escrivaninha desde então—Tive quarenta mil pragas para me
fazer esquecer não de ti mas delae agora eu poderia igualmente quei-
-la—mas deixe-a ir & po desculpe o garrancho & o Escriba
Se me obsequiares com uma resposta—qualquer carta aqui ende-
reçada me alcançará onde quer que eu possa estartenho uma pequena
prima Eliza Byron vindonão—indo para alguma escola em Stock-
ton—tu a verás? É a garotinha de olhos negros mais linda do Paraíso
& tem apenas 7 anos de idade.
3
N. do E. Annabella, é provável, não estaria muito satisfeita com a dica de Byron de que ele
havia formado outra ligação amorosa.
4
N. do E. Alguns registros dão conta de que um dos pretendentes de Annabella era Stratford
Canning (depois Lorde Stratford de Redcliffe). Seu biógrafo afirma que: an additional cause
of [his] depression [in 1814] was his failure to ein the hand of Annabella Milbanke...” (The
Life of Stratford Canning, E. F. Malcom-Smith, Londres, 1933, p. 49).
81
Carta 10 – Para Madame de Staël
Novr. 30
th.
1813
Dear MadamI shall not apologize for answering your very kind
letter in my own language with which you are so well acquainted. I
should be fearful of replying to you in yourseven had I been born and
educated a native of France.My knowledge of French is superficial yet
sufficient to comprehend the beauty & originality of thoughts which
belong to no particular country or quarter of the globebut must strike
to the hearts of all who inhabit it.In referring to your recent work in the
note with which you are obliging enough to be pleasedI was but too
happy to avail myself of your authority for a real or fancied confirmation
of my opinion on a particular subject.My praise was only the feeble
echo of more powerful voicesto yourself any attempt at eulogy must
be merely repetition. Of the work itself I can only saythat few days
have passed since its publication without my perusal of many of its pag-
es& that I should be sorry for my own sake to fix the period when I
should not recur to it with pleasure.The talewhich you have hon-
oured by your noticewas written hastily& published I fear injudi-
ciouslyand has moreover the disadvantage on being composed in some
of those moments when we are forced by reality to take refuge in Imagi-
nationI am much more obliged to it than I ever can be to the most par-
tial readeras it wrung my thoughts from selfish & sorrowful contem-
plation& recalled them to a part of the world to which I am indebted
for some of the brightest and darkest but always the most living recollec-
tions of my existence.My time is passed so irregularly that you will not
mistake my omissions in the etiquette of visitingfor want of respect for
your talentsnor neglect of your society: with all the world at your feet;
you can neither miss nor regret the absence of a solitary and sometimes a
sullen individual.My friendsat least my acquaintanceswho are
most of them your friendsand all your admirerscould or might tell
you that this carelessness is habitualI do not say it is excusable&
certainly it is not so in the present instance. But your Goodnature will
forgive my negligence & perhaps some of my faultsamongst which
however cannot be numbered any deficiency in real respect & sincere
admiration on the part of
your obliged & very faithful humble servt
Byron
30 de nov. 1813
Cara MadameNão devo me desculpar por responder vossa
amável carta em minha própria língua com a qual estais o bem familia-
82
rizada. Temeria responder na vossamesmo tivesse nascido e sido
educado um nativo da França.Meu conhecimento de francês é super-
ficial porém suficiente para compreender a beleza & a originalidade de
pensamentos que pertencem a nenhum país ou quarto do globo em parti-
cularmas devem tocar os corações de todos que o habitam.Em refe-
rindo-me a vosso recente trabalho na nota sobre a qual expressais vossa
gratidão
1
fiquei não menos que muito feliz por valer-me de vossa au-
toridade para uma confirmação real ou imaginária de minha opinião
sobre um assunto em particular.Meu elogio foi apenas o débil eco de
vozes mais poderosaspara vós qualquer tentativa de louvor será me-
ramente repetição.Da obra mesma posso apenas dizerque poucos
dias transcorreram desde sua publicação sem minha leitura atenciosa de
muitas de suas páginas& que eu deveria lamentar para o meu próprio
bem colocar-lhe o ponto final quando não retornasse a ela com pra-
zer.A históriapor vós honrada com vossa observãofoi escrita
apressadamente& publicada temo que injudiciosamentee tem de
mais a mais a desvantagem de ter sido composta em um daqueles mo-
mentos em que somos forçados pela realidade a buscar regio na Ima-
ginaçãoSou muito mais grato a ela do que jamais poderei ser ao mais
parcial dos leitorespois ela arrancou meus pensamentos da contem-
plação pesarosa e egoísta & lembrou-os de uma porção do mundo à
qual devo algumas das mais brilhantes e sombrias mas sempre as mais
vivas recordações de minha existência.Meu tempo escoa tão irregu-
larmente que não confundireis minhas omissões na etiqueta de visi-
tascom falta de respeito para com vossos talentosnem com negli-
gência de vossa sociedade: com o mundo todo a vossos pés; não podeis
sentir ou lastimar a ausência de um solitário e por vezes soturno indiví-
duo.Meus amigospelo menos meus conhecidosos quais são em
sua maioria vossos amigose todos vossos admiradorespoderiam ou
deveriam dizer-vos que essa desatenção é habitualo digo que seja
escusável& certamente não o é no presente caso. Mas vosso bondoso
coração perdoará minha negligência & talvez algumas de minhas fa-
lhasentre as quais contudo não pode enumerar-se qualquer falta de
real respeito & sincera admiração da parte de
vosso reconhecido & muito fiel humilde servo
Byron
1
N. do E. Em uma nota a uma linha em seu poema The Bride of Abydos (canto I, stanza VI),
Byron escreveu: For na eloquent passage in the latest work of the first female writer of this,
perhaps of any age, on the analogy... between painting and music’, see vol. Iii, cap. 10, De
LAlemagne.” Essa carta é uma resposta ao belíssimo bilhete de Madame de Staël, conforme
Byron registrou em seu diário (30 de Nov, 1813).
83
Carta 11 – Para Lady Melbourne
January 8th. 1814
My dear Ly. M[elbourn]e.I have had too much in my head to
writebut don’t think my silence capricious.C[aroline] is quite
outin ye. first place she was not under the same roofbut first with
my old friends the H[arrowby]s in B[erke]l[e]y Squareand afterwards
at her friends the V[illiers]s nearer me.The separation is utterly false
& without even a shadow of foundation so you see her spies are ill paid
or badly informed.Butif she had been in ye. same houseit is less
singular than C[aroline]s coming to itthe house was a very decent
house till that illustrious person thought proper to render it otherwise.
As to Me. de StaelI never go near herher books are very delight-
fulbut in society I see nothing but a very plain woman forcing one to
listen & look at her with her pen behind her ear and her mouth full of
ink.So much for her.Now for a confidencemy old love of all
lovesMrs.[Chaworth-Musters] (whom somebody told you knew
nothing about me) has written to me twiceno love but she wants to see
meand though it will be a melancholy interview I shall gowe have
hardly met & never been on any intimate terms since her marriagehe
has been playing the Devilwith all kinds of vulgar mistresses&
behaving ill enough in every respect.I enclose you the last which pray
return immediately with your opinionwhether I ought to see her or
notyou see she is unhappyshe was a spoilt heiressbut has seen
little or nothing of the worldvery pretty& once simple in character
& cleverbut with no peculiar accomplishmentsbut endeared to me
by a thousand childish & singular recollectionsyou know her estate
joined mine & we were as children very much togetherbut no mat-
terthis was a love-matchthey are separated.I have heard from Ph.
[Frances Webster]who seems embarrassed with the constancyher
date is the Grampian hillsto be sure with that latitude & her precious
epouxit must be a shuddering kind of existence.C[aroline] may do
as she pleasesthanks to your goodnature rather than my merits or
prudencethere is little to dread from her love & I forgive her hatred.
Ly. H[arrowby?]s second son is in Notts & she has been guessing &
asking about Mrs. C[Haworth-Musters]no matterso that I keep her
from all other conjectures.I write to you in a tone which nothing but
hurry can excusedon’t think me impatient or peevish but merely con-
fusedconsider one momentall things& do not wonderby the
byeI lately passed my time very happily. By the byethis letter
will prove to you that we were at least friends& that the Mother in
84
lawerred when she told you that it was quite a dreamwill you be-
lieve me another time.Adieu, ever yrs. pray write& believe me
most affectly. yrs.
B
8 de janeiro. 1814
Minha cara Ly. M[elbourn]e.Tenho estado com a cabeça muito
cheia para escrever mas não pense em meu silêncio como capricho-
so.C[aroline] está bem por foraem primeiro lugar ela
1
não esteve
sob o mesmo teto, mas primeiro com meus velhos amigos os
H[arrowby] em B[erke]l[e]y Squaree após com os amigos dela os
V[illiers] mais próximo a mim.A separação é absolutamente falsa &
sem a mínima sombra de fundamento então vês que os espiões dela são
mal remunerados ou mal informados.Masse ela tivesse estado na
mesma casaseria menos excepcional do que C[aroline] vindo para
elaa casa era muito decente até que aquela distinta pessoa achou por
bem conferir-lhe outro status. Quanto a Me. de Stael nunca che-
go perto delaseus livros são muito agradáveismas em sociedade não
vejo nada além de uma mulher muito comum forçando os outros a ouvi-
la & observá-la com sua pena atrás da orelha e sua boca cheia de tin-
ta.Chega dela.Agora como uma confidênciameu antigo amor de
todos os amoresMrs.[Chaworth-Musters] (a qual alguém te disse
sabia nada sobre mim) escreveu para mim duas vezes nenhum amor
mas ela quer ver-me e embora vá ser uma entrevista melancólica devo
irnós mal nos vimos & nunca estivemos em situação mais íntima
desde seu casamentoele tem feito o Diabocom todo o tipo de aman-
tes vulgares& comportado-se mal o bastante em todos os aspec-
tos.Anexo para ti a última a qual peço que devolvas imediatamente
com tua opiniãose devo ir -la ou nãotu vês ela está infelizela
foi uma herdeira mimadamas viu pouco ou nada do mundo muito
bela& certa vez simples em caráter & inteligentemas sem feitos
peculiaresmas estimada por mim devido a mil lembranças infantis &
singulares a propriedade dela se unia à minha & nós estávamos quan-
do crianças um bocado juntosmas não importaeste era um par per-
feitoeles estão separados.ouvi de Ph. [Frances Webster]que pa-
rece constrangida com a constânciaa data dela são os montes Gram-
pian para ser honesto com aquela latitude & o precioso epouxdeve ser
um tipo horrível de exisncia.C[aroline] pode fazer como bem lhe
agradargraças à tua boa índole ao invés dos meus méritos ou prun-
1
N. do E. Augusta Leigh.
85
ciahá pouco a temer do seu amor & perdôo o seu ódio. O segun-
do filho de Ly. H[arrowby?] está em Notts & ela tem estado a conjectu-
rar & a perguntar sobre Mrs. C[Haworth-Musters]não impor-
tacontanto que eu a mantenha a salvo de todas as outras conjectu-
rasescrevo para ti em um tom que nada além da pressa pode justifi-
caro me julgues impaciente ou impertinente mas simplesmente
confusoconsidera por um momentotodas as cousas& não te
admiresa propósito ultimamente passei meu tempo muito alegre-
mente. A propósitoesta carta provará a ti que nós éramos ao me-
nos amigos& que a Sograenganou-se quando te disse que isso era
inteiramente um sonho acreditarás em mim noutra hora.Adieu,
sempre teu por obséquio escreva& creia-me
muito afetuosamente teu
B
86
Carta 12 – Para John Murray
[January 11, 1814]
Dear Sir/—Correct this proof by Mr. G[ifford]’s (and from the
M.S.S.) particularly as to the pointing—I have added a section for Gul-
nare to fill up the parting—& dismiss her more ceremoniouslyif Mr.
G[ifford] or you dislike—‘tis but a spunge and another midnight better
employed than in yawning over Miss E[dgewort]hwho by the bye
may not return ye. compliment.—
Wednesday—or Thursday—
P.S.—I have redde Patronage it is full of praises of Lord Ellenbor-
ough!!! From which I infer near & dear relations at the barand has
much of her heartlessness & little of her humour (wit she has none) and
she must live more than 3 weeks in London to describe good (or if you
will) high society—the ton of her book is as vulgar as her fatherand
no more attractive than her eyesI do not love Me. de Staelbut de-
pend upon it—she beats all your Natives hollow as an Authoress—in
my opinionand I would not say this if I could help it.— — —
P.S. Pray repeat my best acknowledgements to Mr. G[iffor]din any
words that may best express how truly his kindness obliges meI wont
bore him with lip thanks or notes.
11 de janeiro, 1814
Prezado Senhor—Corrija este esboço de Mr. G[ifford] (e de
M.S.S.) particularmente em relação à pontuaçãoadicionei uma seção
ao Gulnare para tor-lo mais longo& termi-lo mais cerimoniosa-
mente—se Mr. G[ilford] ou tu não gostaremisso nada mais é do que
um spunge
1
e outra meia-noite melhor empregada do que em bocejar
sobre Miss E[dgewrt]h a qual, afinal, pode não retribuir o elogio.—
Quartaou Quinta
P.S. Eu lli Patronage”
2
ele está carregado de louvores ao Lord El-
lenborough!!! Pelo que deduzo existirem relações familiares no bare
possui muito da crueldade & pouco de seu humor (perspicácia ela possui
nenhuma) e ela deve morar por mais de 3 semanas em Londres para
descrever a boa (ou se preferires) alta sociedade— o tom de seu livro é
tão vulgar quanto seu paie não mais atraente do que seus olhosnão
1
N. do T. Bolo de massa levedada feito com trigo, ovos e um pouco de gordura.
2
N. do E. Na obra Patronage, de Maria Edgeworth, o Lord Chief Justice, Lord Oldborough,
é idealizado como um benevolente juiz.
87
amo Me. de Stael—mas acredite-meela arrasa todos os teus Nativos
como Autora—em minha opinião—e eu não diria isso se pudesse evi-
tar.— — — —
P.S. Por obséquio, transmita minhas recomendões a Mr. G[iffor]d
em quaisquer palavras que possam melhor expressar o quão de fato sua
gentileza me deixa grato—não o importunarei com agradecimentos
verbais ou notas. —
88
Carta 13 – Para Lady Melbourne
Jany. 13
th
. 1814
My dear Ly. M[elbourn]e.I do not see how you could well
have said lessand that I am not angry may be proved by my saying a
word more on ye. subject.—You are quite mistaken however as to her
and it must be from some misrepresentation of mine that you throw the
blame so completely on the side least deserving and least able to bear
it—I dare say I made the best of my own story as one always does from
natural selfishness without intending it—but it was not her faultbut
my own folly (give it what name may suit it better) and her weakness
for—the intentions of both were very different and some time adhered
to—& when not it was entirely my own—in short I know no name for
my own conduct.Pray do not speak so harshly of her to me—the
cause of all— I wrote to you yesterday on other subjects and par-
ticularly C[aroline]— —As to mannermine is the same to anyone I
know or like—and I am almost sure less marked to her than to you
besides any constraint or reserve would appear much more extraordinary
than the reverseuntil something more than manner is ascertainable.
Nevertheless I heartily wish Me. de Stael at the Devil—with her obser-
vations—I am certain I did not see herand she might as well have had
something else to do with her eyes than to observe people at so respect-
ful a distance.—SoPh [Frances Webster] is out of my though-
ts”—in the first place if she were out of themshe had probably not
found a place in my wordsand in the nextshe has no claimif peo-
ple will stop at the first tense of the verb aimer they must not be sur-
prised if one finishes the conjugation with somebody else.How soon
I get the better of”—in the name of St. Francis and his wife of Snow—
and Pygmalion & his statue what was there here to get the better of?—a
few kisses for which she was no worse—and I no better.—Had the
event been differentso would my subsequent resolutions & feelings
for I am neither ungratefulnor at all disposed to be disappointed—on
the contrary I do firmly believethat I have often only begun to love
at the very time I have heard people say that some dispositions become
indifferent.— Besidesher fool of a husbandand my own re-
cent good resolutionsand a mixture of different piques and mental
stimulants together with something not unlike encouragement on her
part—led me into that foolish businessout of which the way is quite
easyand I really do not see that I have much to reproach myself with
on her accountif you think differently pray say so.As to Mrs.
C[harworth-Musters] I will gobut I don’t see any good that can result
89
from it—certainly none to mebut I have no right to consider my-
self.—When I say this I merely allude to uncomfortable feelingsfor
there is neither chance nor fear of anything elsefor she is a very good
girl—and I am too much dispirited to rise even to admiration.I do
verily believe—you hope otherwiseas a means of improving mebut
I am sunk in my own estimationand care very little of course for that
of others.— —As to Phshe will end as all women in her situation
do—it is impossible she can care about a man who acted so weakly as I
did with regard to herself.— What a fool I amI have been inter-
rupted by a visitor who is just gone& have been laughing this half
hour at a thousand absurdities as if I had nothing serious to think
about.—
yrs. ever
B
P.S.—Another epistle from M[ary Chaworth-Musters]my answer
must be under cover to dear friend who is doing or suffering a folly—
what can she Miss R[adford]
be about?—the only thing that could make
it look illis mysteryI wrote to her and frankedthinking there was
no need for concealmentand indeed conceiving the affectation of it an
impertinence.but she desires me not—and I obeyI suspect
R[adford] of wishing to make a scene between him & me out of dislike
to bothbut that shall not prevent me from going a moment—I shall
leave town on Sunday.
[page missing?] pantomimeI don’t think I laughed once save in so-
liloquy for ten dayswhich you who know me wont believe (every one
else thinks me the most gloomy of existences) we used to sit & look at
one anotherexcept in duetto—to be sure our gestures were rather more
sensible—the most amusing part was the interchange of notes—for we
sat up all night scribbling to each other& came down like Ghosts in
the morning—I shall never forget the quiet manner in which she would
pass her epistles in a music book—or any book—looking in [Web-
ster]’s face with great tranquility the whole time& taking mine in the
same wayonce she offered one as I was leading her to dinner at
N[ewstead]—all the servants before& W[ebster] & sister close be-
hindto take it was impossible—and how she was to retain itwithout
pocketswas equally perplexing—I had the cover of a letter from
Claughton in mine—and gave it to her saying “there is the Frank for Ly.
Water[ford?] you asked for she returned it with the note beneath
withit is dated wrong—alter it tomorrow and W[ebster] complain-
ing that women did not but scribble—wondered how people could have
the patience to frank & alter franksand then happily digressed to the
90
day of the monthfish sauce—good wine& bad weather.Your
matrimonial ladder wants but one more descending step—“d—nation
I wonder how the carpenter omitted itit amused me much.I wish I
were marriedI don’t care about beauty nor subsequent virtue—nor
much about fortuneI have made up my mind to share the decorations
of my bettersbut I should like—let me seelivelinessgentleness
cleanliness—& something of comeliness—& my own first bornwas
ever man more moderate? what do you think of my Bachelors wife”?
What a letter have I written
13 de Jane, 1814
Minha querida Ly. M[elbourn]e.—Não vejo como poderias ter
dito menose que não estou bravo pode ser provado por mim dizendo
uma palavra mais sobre o assunto.—Ess deveras enganada contudo
quanto a ela
1
e deve ser em função de alguma narrativa incorreta mi-
nha que jogaste a culpa tão completamente no lado que menos merece e
menos capaz de suportá-la—Ouso dizer que tirei o melhor proveito de
minha própria história como sempre se faz por egoísmo natural sem ter
a intenção—mas não foi culpa dela—mas minha própria tolice (dê a isso
o nome que melhor se encaixar) e fraqueza delaporqueas intenções
de ambos eram muito diferentes e por algum tempo as mesmas & quan-
do não inteiramente a minha própria—em resumo não conho nehum
nome para minha conduta.—Por obséquio não fale tão rudemente dela
comigoa causa de tudo— escrevi para ti ontem sobre outros
assuntos e particularmente C[aroline]— No que diz respeito a educa-
çãoa minha é a mesma para qualquer um que eu conheça ou goste—e
estou quase certo menos acentuada para ela do que para tialém do
mais, qualquer constrangimento ou reserva revelaria-se muito mais ex-
traordinário do que o contrárioaté que algo mais do que educação seja
possível.—o obstante, eu de coração desejo Me. de Stael ao Diabo—
com as observões dela—E eu estou certo de que não a vi—e ela pode-
ria muito bem ter tido cousa melhor para fazer com seus olhos do que
observar as pessoas a tão respeitável distância. EntãoPh
[Frances Webster] está fora de meus pensamentos”em primeiro lugar
se ela estivesse fora delesprovavelmente não teria encontrado um
lugar em minhas palavrase em segundoela não tem direitose as
pessoas param no primeiro tempo do verbo aimer não devem ficar
surpresas se terminamos a conjugação com outro alguém.O quanto
1
N. do E. Augusta Leigh.
91
antes eu superar”—em nome de St. Francis e de sua esposa de Neve
2
?—
e Pigmalion & sua estátua o que havia para ser superado?alguns bei-
jos pelos quais ela não ficou pior—nem eu melhor. Tivesse o even-
to sido diferentetambém o teriam sido minhas resoluções & sentimen-
tos ulteriorespois não sou nem ingrato—nem estou desapontado—ao
contrário acredito piamente—que tenho muitas vezes começado a a-
marna exata hora em que ouvi a pessoa dizer que algumas disposições
tornam-se indiferentes.Além dissoo tolo do marido dela—e
minhas próprias boas resolões recentese uma mistura de diferentes
melindres e estimulantes mentais em conjunto com algo não diferente de
encorajamento da parte dela—levaram-me a entrar naquele negócio
tolo—cuja saída é bastante fácil—e realmente não vejo que eu tenha
muito a me reprovar em relação a ela—se pensas diferentemente por
obséquio diga.Quanto a Mrs. C[harworth-Musters] eu irei—mas não
vejo qualquer bem que possa resultar dissocertamente nenhum para
mimmas não tenho direito de considerar a mim mesmo.—Quando
digo isto simplesmente aludo a desconfortáveis sentimentos—pois não
há nem chance nem medo de qualquer outra cousapois ela é uma
menina muito boa—e estou por demais abatido para erguer-me mesmo
para admiração.Eu verdadeiramente acredito—tu esperas de outro
modo—como uma forma de melhorar-memas estou afundado em
minha própria opinião—e importo-me muito pouco é claro com a dos
outros. Quanto a Ph—ela terminará como todas as mulheres na
situação dela terminamé impossível que possa se importar com um
homem que agiu tão covardemente como o fiz em relação a ela.
Que tolo soufui interrompido por um visitante que acaba de partir—&
tenho estado a rir nesta última meia hora de mil absurdos como se não
tivesse nada sério sobre o que refletir.
teu sempre
B
P.S.—Outra epístola de M[ary Chaworth-Musters]minha resposta
deve ir disfarçada à cara amiga que está fazendo ou sofrendo uma
tolice—o que ela Miss R[adford] pode estar querendo?a única cousa
que poderia fazê-la parecer prejudicial—é o misrioEu escrevi a ela e
franqueeiacreditando que não havia necessidade de segredoe de
fato concebendo a afetação disso uma impertinência.—mas ela não me
2
N. do E. A lenda de que St. Francis aliviava suas paixões com uma esposa de neve foi uma à
qual Byron se referiu novamente em Don Juan (6:17).
92
deseja—e eu obedeço—Suspeito que R[adford] deseje fazer uma cena
entre ele & eu para desagrado de ambosmas tal não evitará que me vá
por um momentodevo deixar a cidade no domingo.— — —
[página faltando] pantomimaNão creio que tenha rido uma vez a não
ser em soliquio por dez diasno que tu que me conheces não acredi-
tarás (todos os demais me tem como o mais melancólico que existe) nós
costumávamos sentar & olhar um para o outro—exceto em duettopara
ser honesto, nossos gestos eram sem dúvida mais sensíveisa parte
mais divertida era a troca de bilhetespois nós senvamos a noite toda
rabiscando um para o outro—& descíamos como Fantasmas de ma-
n—Jamais esquecerei o jeito calmo com que ela passava suas epísto-
las em um livro de música—ou em qualquer livro—olhando— no
rosto de [Webster] com grande tranquilidade todo o tempo& receben-
do as minhas da mesma maneira—certa feita ela ofertou-me uma en-
quanto eu a levava para jantar em N[ewstead]—todos os servos diante
(de nós)& W[ebster] & irmã logo atrás—pe-la era impossível—e
como ela a guardaria—sem bolsosera igualmente confusoEu tinha
o envelope de uma carta de Claughton no meu bolsoe dei-o a ela di-
zendo aí está o franqueamento para Ly. Water[ford?] que solicitaste”
ela retornou-o com o bilhete embaixo—“está datado errado—altere-o
para amanhã e W[ebster] reclamando que mulheres não faziam nada
além de rabiscar—perguntando-se como as pessoas tem a paciência de
franquear & alterar franqueamentose então alegremente desviou o
assunto para o dia do mêsmolho para peixebom vinho& mau
tempo.— Tua “escada matrimonial requer apenas mais um degrau
descendenteda-nação Me pergunto como o carpinteiro omitiu-o
isso me divertiu muito.—Quem dera eu fosse casado—Não ligo para
beleza nem ulterior virtude—nem muito para fortuname decidi a
compartilhar dos ornamentos de meus superiores—mas eu apreciaria—
deixe-me verjovialidadegentileza—asseio—& algo de decência—
& meu próprio primogênito—já foi algum homem mais moderado? O
que pensas de minha “esposa de Solteiro? Que carta escrevi.
93
Carta 14 – Para Lady Melbourne
January 16
th
. 1814
My dear Lady M[elbourn]e.—Lewis is just returned from Oat-
lands where he has been quarrelling with Stael about everything and
every body.She has not even let poor quiet me alonebut has discov-
ered first that I am affected& 2dly. that Ishut my eyes during din-
ner!”what this last can mean I don’t know unless she is opposite—if I
then do—she is very much obliged to meand if at the same time I
could continue to shut my earsshe would be still more so.— —If I
really have so ludicrous a habit—will you tell me so& I will try and
break myself of it.—In the mean time I think the charge will amuse
youI have more faults to find with her thanshutting her eyes”one
of which is opening her mouth too frequently.— Do not you think
people are very naught[y]what do you think I have this very day
heard said of poor M[Mary Charworth-Musters]? it provoked me be-
yond any thing—as he was named as authoritywhythe abominable
stories they circulate about Lady Wd. of which I can say no moreall
this is owing to dear friend as yet as far as it regards dear friend I
must say I have very sufficing suspicions for believing them totally
falseat least she must have altered strangely within these nine years
but this is the age of revolution.The ascendancy always appeared
to me that of a cunning mind over a weak one.butbutwhy the
woman is a frightwhich after all is the best reason for not believing
it.— —I still mean to set off tomorrow—unless this snow
adds so much to the impracticability of the roads as to render it use-
less—I don’t mind anything but delay—and I might as well be in Lon-
don as at a sordid inn waiting for thaw—or the subsiding of a flood &
the clearing of snow.I wonder what your answer will be on Ph’s let-
terI am growing rather partial to the younger sister who is very pret-
tybut fearfully young—and I think a foola wife you say would be
my salvationnowI could have but one motive for marrying into that
familyand even that might possibly only produce a scene & spoil
every thingbut at all events it would in some degree be a revenge
and in the very face of your compliment (ironical I believe) on the want
of selfishnessI must say that I never can quite get over the not” of
last summer—nothough it were to become yeatomorrow.I
do believe that to marry would be my wisest step—but whom?I might
manage this easily with Le Pere”—but I dont admire the connection
and I have not committed myself by any attentions hitherto.—But all
wives would be much the sameI have no heart to spare—& expect
94
none in returnbut as Moore says a pretty wife is something for the
fastidious vanity of a roué to retire upon.”and mine might do as she
pleased so that she had a fair temper—and a quiet way of conducting
herself—leaving me the same liberty of conscience.—What I want is a
companiona friendrather than a sentimentalistI have seen enough
of love matches& of all matchesto make up my mind to the com-
mon lot of the happy couples.The only misery would be if I fell in
love afterwards which is not unlikelyfor habit has a strange power
over my affections—in that case I should be jealous—and thenyou do
not know—what a devil any bad passion makes meI should very
likely do all that C[aroline] threatens in her paroxysms—and I have
more reasons than you are aware of for mistrusting myself on this
point.—Heigh ho! Good night.
ever yrs. most truly
BN
P.S. The enclosed was written last nightand I am just setting off—you
shall hear from Newsteadif one ever gets there in a coach really as
large as the cabin of a 74 and I believe meant for the Atlantic instead of
the Continent.— 1000 thanks for yours on this Morn.never
loved so before”—well thenI hope never to be loved so againfor
what is it for the purpose?—You wonder how I answered it?—to tell
you the truth (which I could not tell her) I have not answered it at all—
nor shall—I feel so much inclined to believe her sincerethat I cannot
sit down and coolly repay her truth with fifty falsehoods—I do not be-
lieve her for the same reason you believebut because by writing she
commits herself & that is seldom done unless earnest.—I shall be de-
lighted to hear your defence against my insinuationsbut you will
make nothing of it—and he is very much to be envied—but you mistake
mefor I do not mean in generalon the contrary I coincide with him
in taste but upon one instance.— C[aroline] was right about the
poemI have scribbled a longer one than either of the last—& it is in
the press—but you know I never hold forth to you on such topicswhy
should I?—now you will think this a piece of conceitbut really it is a
relief to the fever of my mind to write& as at present I am what they
call popular as an author—it enables me to serve one or two people
without embarrassing anything but my brains—for I never have nor
shall avail myself of the lucre—& yet it would be folly merely to make
presents to a booksellerwhose accounts to me last year are just 1500
guineas without including C[hilde] H[arold]—now the odd part is that if
I were a regular stipendiary & wanted it probably I should not be of-
95
fered one half—but such are mankind—always offering or denying in
the wrong place.But I have written more than enough already& this
is my last experiment on public patience—and just at present I won’t try
yours any further.
ever yrs. my dear Ly. Me.
B
16 de janeiro. 1814
Minha cara Lady M[elbourn]e.Lewis acaba de retornar de Oa-
tlands
1
onde esteve indispondo-se com Stael sobre tudo e todos.Ela
não deixou nem mesmo este pobre coitado em paz—mas descobriu
primeiro que sou afetado—& quefecho meus olhos durante o jan-
tar!”—o que este último pode significar não sei a menos que ela esteja
sentada à frentese então o façoela é muito agradecida a mimse ao
mesmo tempo pudesse continuar a fechar meus ouvidos—ela deveria o
ser mais ainda.Se de fato tenho tão absurdo hábito—tu o dirás
&tentarei e me livrarei dele.Nesse meio tempo acredito que a incum-
bência te divertirá—tenho mais defeitos para encontrar nela do que
fechar os olhos”um dos quais é abrir a boca em demasia.
o achas que as pessoas são muito perversaso que achas que ouvi
dizer dia desses mesmo sobre a pobre M[Mary Charworth-Musters]?
Isso me provocou além de qualquer cousapois ele foi nomeado como
autoridadepor queas histórias abomináveis que circulam sobre
Lady Wd. sobre as quais não posso dizer mais nada—tudo isso devido à
cara amiga e ainda no que diz respeito à cara amiga devo dizer que
tenho indícios o bastante para crê-las totalmente falsas.ao menos ela
deve ter mudado estranhamente nesses nove anosmas esta é a era da
revolução.— A ascenncia sempre pareceu-me aquela de uma mente
astuta sobre uma fraca.—masmasporque a mulher é um terrorque
afinal de contas é o melhor motivo para não acreditar.— — —
ainda pretendo por-me a caminho amana menos que essa neve con-
tribua tanto para a impraticabilidade das estradas a ponto de torná-las
iteisnão me importo com nada a não ser com atrasoe posso tanto
estar em Londres quanto em uma sórdida estalagem esperando pelo
degeloou o cessar de uma enchente & o caminho aberto na neve.
me pergunto qual tua resposta será em relação à carta de Phestou
ficando particularmente inclinado em relação à irmã mais nova que é
muito bela—mas assustadoramente joveme penso uma tola—uma
1
N. do E. Propriedade do Duque de York perto de Weybridge, Surrey.
96
esposa dizes seria minha salvaçãoagoraeu teria apenas um motivo
para contrair matrimônio dentro daquela família—e mesmo isso poderia
possivelmente apenas produzir uma cena & arruinar tudomas de qual-
quer forma seria de certo modo uma vingança—e à vista do teu elogio
(irônico eu acredito) na ausência de egoísmodevo dizer que não supe-
ro nunca o não” do último verão—nãoembora fosse tornar-sesim
amanhã.— — realmente acredito que casar seria meu passo mais
sábio—mas com quem?Eu poderia gerenciar isso facilmente com Le
Pere
2
”—mas não admiro a conexão—e não comprometi com quaisquer
atenções até agora.—Mas todas as esposas seriam a mesma cousaNão
tenho coração para dispensar& não espero nenhum de volta—mas
como Moore diz uma bela esposa é algo para aquietar a impertinente
vaidade de um devasso.”e a minha poderia fazer como lhe agradasse
contanto que tivesse um temperamento moderadoe uma maneira sos-
segada de comportar-sedeixando-me a mesma liberdade de conscn-
cia.—O que eu quero é uma companheira—uma amiga—ao invés de
uma sentimentalista—já vi o bastante de pares perfeitos—& de todos os
parespara decidir-me pelo lote comum de casais felizes.—O único
infortúnio seria se eu me apaixonasse mais tarde o que não é imprová-
velpois o hábito tem um estranho poder sobre minhas afeiçõesnesse
caso eu ficaria enciumado—e entãotu não sabes—que demônio qual-
quer paixão inferior me tornaEu muito provavelmente faria tudo o
que C[aroline] ameaça nos seus paroxismose tenho mais razões do
que estás a par para desconfiar de mim nesta questão. Heigh ho! Boa
noite.
Sempre teu muito verdadeiramente
BN
P.S. A anexa foi escrita a noite passada—e estou pondo-me a cami-
nho—deverás ouvir de mim de Newsteadse alguém algum dia chegar
lá em uma carruagem realmente tão ampla quanto a cabide de um 74 e
creio feita para o Atlântico ao invés do Continente. 1000 agra-
decimentos pela tua nesta Manhã.nunca amei tanto antes”—bem
então—espero nunca ser tão amado outra vez—com que propósito?—
Perguntas como respondi a isso?—para dizer-te a verdade (que eu não
poderia dizer a ela) não respondi de modo algumnem devereime
sinto tão inclinado a acreditar que ela é sincera—que não consigo sentar
e friamente retribuir a verdade dela com cinquenta falsidades—não
acredito nela pela mesma razão que tu acreditasmas porque ao escre-
2
N. do T. O pai.
97
ver ela se compromete & isso é raramente feito a menos que seja sé-
rio.— terei o máximo prazer em ouvir tua defesa contra minhas insinua-
çõesmas não darás importância a issoe ele tem pelo que ser inveja-
do—mas te enganas a meu respeitopois não quero dizer no geralao
contrário coincido com ele em gosto em apenas um caso.— — —
C[aroline] tinha rao sobre o poemaeu rabisquei um mais longo
ainda do que o último& ele está no prelo—mas sabes que nunca con-
verso contigo sobre tais assuntospor que deveria?agora acharás isso
um pouco de vaidade—mas realmente é um alívio para a febre de minha
mente escrever—& como no momento sou o que eles chamam popular
como autor—isso me permite satisfazer uma ou duas pessoas sem em-
baraçar nada a não ser meus miolos pois nunca me vali nem me vale-
rei do lucro& no entanto seria tolice simplesmente ofertá-lo a um
vendedor de livroscuja prestação de contas para mim no ano passado
foi de 1500 guinéus sem incluir C[hilde] H[arold]—agora a parte pecu-
liar é que se eu fosse um remunerado regular & o quisesse provavel-
mente não me ofereceriam uma parte—mas assim são os homens—
sempre oferecendo ou negando no lugar errado.—Mas já escrevi mais
do que o suficiente—& este é meu último experimento sobre paciência
pública—e presentemente não testarei mais a tua.
teu sempre minha querida Ly. Me.
B
98
Carta 15 – Para Samuel Rogers
Tuesday [June 7, 1814?]
My dear RogersSheridan was yesterday at first too sober to
remember your invitation but in dregs of the third bottle he fished up his
memory& found that he had a party at home. I left & leave any other
day to him & yousave Monday & some yet undefined dinner at Bur-
detts.Do you go to-night to Lord Eardleys? & if you do—shall I call
for you(anywhere) it will give me great pleasure.
ever yrs. entire
B
P.S. —The Stael out-talked Whitbreadoverwhelmed his spousewas
ironed by Sheridanconfounded Sir Humphry& utterly perplexed
your slave.The rest (great names in the red book nevertheless) were
mere segments of the circle—Mamselle daunced a Russ saraband with
great vigour—grace—& expression—though not very prettyI think
her eyes & figure promise a lively part in bed.— —
Terça-feira, [7 de junho, 1814?]
Meu caro RogersSheridan estava ontem de início sóbrio demais
para lembrar do teu convite mas nos últimos tragos da terceira garrafa
ele recobrou a memória—& descobriu que tinha uma festa em casa.
deixei & deixo qualquer outro dia para ele & para ti—exceto Segunda
& algum ainda indefinido jantar nos Burdett. vais esta noite à resi-
dência de Lord Eardley? & se fores—chamarei por ti(em qualquer
lugar) isso me dará imenso prazer.
sempre teu por completo
B
P.S. —A Stl venceu Whitbread nos argumentosassoberbou a esposa
dele—foi ferroada por Sheridan—confundiu Sir Humphry—& absolu-
tamente deixou perplexo teu escravo. —Os demais (grandes nomes no
livro vermelho todavia) eram meros segmentos do círculoMamoselle
dançou uma sarabanda Russa com grande vigor—graça& expres-
sãoembora não muito bela—eu acho que seus olhos & forma prome-
tem uma lépida parte
3
na cama. — —
3
N. do T. Referência às partes pudentas.
99
Carta 16 – Para John Murray
Diodati—nr. Geneva. July 22d. 1816
Dear Sir—I wrote to you a few weeks agoand Dr. P[olidori]
received your letter—but ye. packet has not made its appearance nor ye.
epistle of which you gave notice therein.I enclose you an advertise-
mentwhich was copied by Dr. P[polidori]—& which appears to be
about the most impudent imposition that ever issued from Grub
Street.—I need hardly say that I know nothing of all this trash—nor
whence it may spring—Odes to St. HelenaFarewells to England
&c. &c.”—and if it can be disavowedor is worth disavowing you
have full authority to do so.—I never wrote nor conceived a line of any
thing of the kindany more than of two other things with which I was
saddled—something about Gaul and another about Mrs. La Va-
lette”—and as to the Lily of France”—I should as soon think of cele-
brating a turnip.— —On the morning of my Daughter’s birth I had
other things to think of than verses—and should never have dreamed of
such an inventiontill Mr. Johnson and his pamphlets advertisement
broke in upon me with a new light on the Crafts & subtilties of the De-
mon of printing—or rather publishing. I did hope that some suc-
ceeding lies would have superseded the thousand and one which were
accumulated during last winter—I can forgive whatever can be said of
or against mebut not what they make me say or sing for myself—it is
enough to answer for what I have writtenbut it were too much for Job
himself to bear what one has not—I suspect that when the Arab Patri-
arch wished that his Enemy had written a book he did not antecipate
his own name on the title page.— —I feel quite as much bored with this
foolery as it deservesand more than I should be—if I had not a head-
ache.—Of GlenarvonMadame de Stl told me (ten days ago at
Copet) marvelous & grievous thingsbut I have seen nothing of it but
the Motto—which promises amiably For us & for our tragedy if
such be the posy what should the ring be? a name to all succeeding
&c.”—the generous moment selected for the publication is probably its
kindest accompanimentand truth to say—the time was well chosenI
have not even a guess at the contents—except for the very vague ac-
counts I have heard—and I know but one thing which a woman can say
to the purpose on such occasions and that she might as well for her own
sake keep to herself—which by the way they very rarely can—that old
reproach against their admirers of kiss and tell bad as it is—is surely
somewhat less than—and publish.I ought to be ashamed of the
Egotism of this letterit is not my fault altogether—and I shall be but
100
too happy to drop the subject when others will allow me.—I am in toler-
able plightand in my last letters told you what I had done in the way
of all rhymeI trust that you prosperand that your authors are in
good conditionI should suppose your Stud has received some in-
creaseby what I hearBertram must be a good horsedoes he run
next meeting? and does the Quarterly cover still at so much the mare
and the groom? I hope you will beat the Row
yrs. always & [truly?]
Diodati—nr. Geneva. 22 de julho. 1816
Prezado Senhor—Escrevi para ti algumas semanas atráse o Dr.
[Polidori] recebeu tua cartamas o pacote não apareceu nem a epístola
da qual deste aviso em particular.—Envio em anexo um anúncio—que
foi copiado pelo Dr. P[polidori]—& que parece ser sobre a mais leviana
imposição que já resultou de Grub Street
1
.— nem preciso dizer que não
sei nada sobre todo esse lixonem de onde pode resultar—Odes a St.
HelenaDespedidas à Inglaterra—&c. &c.”—e se isso pode ser repudi-
ado—ou se valer ser repudiado tens total autoridade para fazê-lo.—
nunca escrevi nem pensei uma linha de qualquer cousa do tipo—mais do
que outras duas cousas das quais fui acusado—algo sobre Gaul e ou-
tro sobre Mrs. La Valette”—e quanto ao Lírio da França”eu devo
sem demora pensar em celebrar um nabo.— —Na manhã do nascimen-
to de minha Filha eu tinha outras cousas sobre as quais pensar além de
versose jamais deveria ter sonhado com tal invenção—até que Mr.
Johnson e seu panfleto de anúncio me surpreenderam com uma nova luz
sobre as Astúcias & sutilezas do Demônio da impressãoou particu-
larmente da publicação.— —Eu sim esperava que algumas mentiras
ulteriores substituíssem as mil e uma que foram acumuladas durante o
último verãoposso perdoar o que quer que possa ser dito de ou contra
mimmas não o que eles me fazem dizer ou cantar eu mesmojá é o
bastante responder pelo que tenho escrito—mas foi demais até mesmo
para Jó tolerar o que outro não toleroudesconfio que quando o Patri-
arca Árabe desejou que seu Inimigo tivesse escrito um livro”
2
ele não
anteviu seu próprio nome na página tulo.— me sinto tão aborrecido
1
N. do T. No início do culo XIX, Grub Street era uma rua na localidade pobre de Moorfi-
leds, em Londres, famosa por abrigar pastichadores e imitadores, aspirantes a poeta e editores
de obras fraudulentas. De acordo com Samuel Johnson, o nome da rua passou a ser utilizado
para denominar toda e qualquer obra de autoria duvidosa e de pouco valor literário. Fonte:
Wikipedia <http://en.wikipedia.org/wiki/Grub_Street>.
2
N. do E. “Oh... that mine adversary had written a book.” Jó, XXXI: 35.
101
com essa parvoíce quanto ela o merece—e mais do que deveria estar
não tivesse eu uma dor de cabeça.— —De Glenarvon
3
Madame de
Stl me disse (há dez dias em Copet) cousas maravilhosas & doloro-
sasmas não vi nada dele além do Moto—que promete afavelmente
Por nós & por nossa tragédia”
4
se tal é o buquê como deverá o anel
ser? um nome para todos os ulteriores &c.”
5
—o generoso momento
escolhido para a publicação é provavelmente o seu mais gentil acompa-
nhamento—e verdade seja ditaa ocasião foi bem escolhidanão te-
nho nem um palpite sobre os assuntosexceto pelas muito vagas narra-
tivas que tenho ouvido—e só sei de uma cousa que uma mulher pode
dizer pertinente em tais ocases e tal ela deveria para seu próprio bem
guardar para sio que por sinal elas raramente conseguem fazerque a
acusação passada contra seus admiradores de beijo e boato”
6
ruim co-
mo éé certamente algo menos do que— e publicar.Eu devia
me envergonhar do Egotismo desta carta—não é minha culpa de todo—
e ficarei não menos do que muito feliz em abandonar o assunto quando
outros assim o permitirem.estou em tolerável dilemae em minhas
últimas cartas contei-te o que tinha feito no caminho de todas as rimas
acredito que prosperas—e que teus autores estão em boa condição—eu
deveria supor que teu Garanhão recebeu algum incremento—pelo que
ouçoBertram
7
deve ser um bom cavaloele corre o próximo páreo? E
a capa do Quarterly ainda sobre a égua e o cavalariço? espero que Triun-
fes
teu sempre & [verdadeiramente?]
3
N. do E. Glenarvon, romance de Lady Caroline Lamb, apareceu pela primeira vez em junho,
logo as Byron ter deixado a Inglaterra. O herói-vilão, Glenarvon, é claramente inspirado em
Byron.
4
N. do E. Hamlet, ato III, cena 2.
5
N. do E. Lady Caroline Lamb modificava o moto a cada edição. O moto a que Byron se refere
era de O Corsário, (levemente alterado): “He left a name to all succeeding times, Linkd with
one virtue and a thousand crimes”.
6
N. do T. O mesmo que conquistas amorosas com envolvimento sexual.
7
N. do E. Bertram, escrito por Maturin, que Byron recomendou a Drury Lane, foi produzido
pela primeira vez em 9 de maio de 1816 e teve a successfull run. Murray publicou a pa, que
alcançou sua sétima edição em 1816.
102
Carta 17 – Para Samuel Rogers
Diodati—nr. Geneva July 29
th
. 1816
Dear RogersDo you recollect a book? Mathinsons letters
which you lent mewhich I have still—& yet hope to return to your
library?well—I have encountered at Copet and elsewhere Grays
Correspondent (in its Appendix) that same Bonstetten (to whom I lent
ye. translation of his Correspondents epistles for a few days)but all
he could remember of Gray amounts too little—except that he was the
most melancholy and gentlemanlike”of all possible poets.—
Bonstetten himself is a fine & very lively old manand much esteemed
by his Compatriotshe is also a litterateur of good repute—and all his
friends have a mania of addressing to him volumes of letters
MathinsonMuller the historian &c. &c. He is a good deal at Copet—
where I have met him a few times.All there are wellexcept Roc-
ca—who I am sorry to say—looks in a very bad state of health—the
Duchess seems grown tallerbut—as yet—no rounder since her mar-
riageSchlegel is in high force—and Madame as brilliant as ever.—I
came here by the Netherlandsand the Rhine Route& Basle—
BerneMorat& LausanneI have circumnavigated the lakeand
shall go to Chamouniwith the first fair weatherbut really we have
had lately such stupid mistsfogsrainsand perpetual density—that
one would think Castlereagh had the foreign affairs of the kingdom of
Heaven alsoupon his hands.I need say nothing to you of these
parts—you having traversed them alreadyI do not think of Italy be-
fore September.— —I have read Glenarvon”
From furious Sappho scarce a milder fate
— —by her loveor libelled by her hate”
& have also seen Ben. Constants Adolphe—and his preface denying
the real people—it is a work which leaves an unpleasant impression
but very consistent with the consequences of not being in love—which
is perhaps as disagreeable as anything—except being soI doubt how-
ever whether all such liens (as he calls them) terminate so wretchedly
as his hero & heroines.there is a third Canto (a longer than either
of the former) of Ch[il]de Har[ol]d finishedand some smaller
thingsamong them a story on the “Chateau de Chillon”I only wait a
good opportunity to transmit them to the Grand MurraywhoI
hope—flourishes. Where is Moore? why aint he out?—my love to
himand my perfect consideration & remembrances to all—
particularly to Lord and Lady Holland& to your Duchess of So-
mers[e]t. — ever yrs. very truly
103
B
Diodati—nr. Geneva 29 de julho. 1816
Caro RogersTu recordas de um livro? Cartas de Mathinson
8
que emprestaste para mimque tenho ainda—& ainda espero devolver
à tua biblioteca?—bemeu encontrei em Copet e alhures o correspon-
dente de Gray (no Apêndice) aquele mesmo Bonstetten
9
(a quem em-
prestei a tradução das epístolas de seu Correspondente por alguns di-
as)mas tudo que ele podia lembrar de Gray era muito poucoexceto
que ele era o mais melancólico e cavalheiresco” possível—de todos os
poetas.—Bonstetten ele mesmo é um gentil & muito vigoroso senhor de
idade—e muito estimado por seus Compatriotas—ele também é um
litterateur de boa reputação—e todos os seus amigos tem uma mania de
endereçar a ele volumes de cartas—MathinsonMuller
10
o historiador
&c. &c. Ele fica muito em Copet—onde o encontrei algumas vezes.
Todos lá estão bemexceto Rocca
11
o qual sinto dizer—parece estar
em um péssimo estado de saúde—a Duquesa
12
parece mais alta—mas
por ora—não mais redonda desde seu casamento—Schlegel
13
está em
plena forçae Madame tão brilhante quanto nunca.—Cheguei aqui
pelos Países Baixose pela Rota do Reno& Basle—Berne—Morat
& Lausannecircunaveguei o lagoe devo ir para Chamounicom o
primeiro tempo bommas realmente nós temos tido ultimamente tão
estúpidas névoasneblinas—chuvase perpétua densidade—que al-
guém pensaria que Castlereagh tinha as relões exteriores do reino do
Céu tambémem suas mãos.—Não preciso dizer nada sobre estas par-
testu já tendo-as cruzadonão penso na Itália antes de setembro.—
—Li Glenarvon”
Da furiosa Safo rara mais branda a sina
— —
14
por seu amor—ou difamado por sua ira
15
8
N. do E. Friedrich Von Matthinson (1761-1831), poeta alemão.
9
N. do E. Charles Victor de Bonstetten (1745-1832), epistografo suíço, conheceu Thomas
Gray na Inglaterra em 1769 e trocou uma extensa correspondência com ele.
10
N. do E. Johann von Muller (1752-1809), autor de History of the Helvetic Confederation, era
amigo e correspondente de longa data de Bonstetten.
11
N. do E. Em 1811, Madame de Staël contraiu núpcias com seu segundo marido, um jovem
oficial frans de nome M. de Rocca.
12
N. do E. Albertine, filha de Madame de Staël, casou-se em fevereiro de 1816 com o Duque
de Broglie.
13
N. do E. August Wilhelm Von Schlegel (1767-1845), protegido de Madame de Staël, viveu
em Coppet e fez parte de seu brilhante círculo. Seu egotismo fez com que Byron não gostasse
dele.
14
N. do T. The Poetical Works of Alexander Pope. Vol 5. 1804. Gloucester. Colley Cibber.
Pag. 30.
15
From Popes Horace Imitated, primeira sátira do segundo livro, linhas 83-84.
104
& também vi o Adolphe de Ben. Constant
16
—e seu prefácio negando as
pessoas reaisé um trabalho que deixa uma desagradável impressão
mas muito consistente com as consequências de não se estar apaixona-
do—que é talvez tão desagradável quanto qualquer cousa—exceto estar
apaixonado—duvido no entanto se todas as tais liens”
17
(como ele as
denomina) findam tão desditosamente quanto as do herói & da heroína
dele.há um terceiro Canto (um mais longo ainda do que o anterior)
de Ch[il]de Har[ol]d terminado—e algumas cousas menoresentre as
quais uma história no “Chateau de Chillon”—aguardo apenas uma boa
oportunidade para transmiti-los ao Grande Murray—o qualespero—
prospera. —Onde está Moore? por que ele não está na rua?meu
amor para ele—e minhas perfeitas considerações & lembranças a to-
dosem especial a Lord e Lady Holland& à tua Duchess de So-
mers[e]t. —
teu sempre muito verdadeiramente
B
16
N. do E. O romance Adolphe, de Benjamin Constant, retratou de maneira cruelmente deta-
lhista seu relacionamento com Madame de Staël.
17
N. do T. Ligações.
105
Carta 18 – Para Madame de Staël
August 24
th
. 1816
Dear MadamIt was my intention to address you at some
length but my subject has too many thoughts for words. The
intelligence which you mentioned came upon me unexpectedly—as my
Correspondents in England are forbidden by me to name or allude to any
branch of that family, except my daughter. To say that I am merely sorry
to hear of Lady B[yron]s illness is to say nothing—but she has herself
deprived me of the right to express more.The separation may have
been my faultbut it was her choice.I tried all means to prevent—
and would do as much & more to end it,—a word would do sobut it
does not rest with me to pronounce it.— You asked me if I thought
that Lady B[yron] was attached to meto that I can only answer that I
love her.I am utterly unable to add a word more upon the subject, and
if I were to say ten thousandthey would only come to the same con-
clusionand be as unavailing as sincere.
Bn
1
I cannot conclude without thanking you once more for your kind dispo-
sition towards me on this—as on other occasionsand by begging you
to believe me ever and faithfully
your obliged and affectionate servant
BYRON
24 de agosto. 1816
Cara MadameEra minha intenção escrever com alguma minú-
cia—mas meu tema tem pensamentos demais para palavras. A
informação que mencionaste apossou-se de mim inesperadamente—já
que meus Correspondentes na Inglaterra estão proibidos por mim de
nomear ou aludir a qualquer ramificação daquela família, com exceção
de minha filha. Dizer simplesmente que sinto muito em saber da enfer-
midade de Lady B[yron] é dizer nadamas ela mesma privou-me do
direito de expressar mais.A separação pode ter sido minha culpa—
mas foi escolha dela.—Tentei todos os meios para impedir—e faria
igual & mais para termi-la,uma palavra o fariamas não compete a
1
N. do E. A carta termina nesse ponto no manuscrito existente na colão de Murray. A última
sentença foi adicionada do manuscrito da carta de V. de Pange que consta numa dissertação
não publicada, que encontra-se na Bodleian Library. Uma vez que de Pange tinha acesso ao
manuscrito de cartas constantes da Coleção de Broglie, isso pode sugerir que o manuscrito de
Murray era um primeiro rascunho da carta, motivo pelo qual a parte extra foi aqui adicionada.
106
mim pronunciá-la.— —Perguntaste se achava que Lady B[yron] era
afeiçoada a mima isso só posso responder que a amo.—Estou comple-
tamente impossibilitado de adicionar uma palavra a mais ao assunto, e
se fosse proferir mais dez milelas apenas levariam à mesma conclu-
são—e seriam tão iteis quanto sinceras.
Bn
Não posso concluir sem agradecer-te uma vez mais por tua gentil
disposição em relação a mim neste assunto—como em outras ocases
e rogar que me consideres sempre e fielmente
teu agradecido e afeiçoado servo
BYRON
107
Carta 19 – Para Madame de Staël
August 25
th
. 1816
Dear MadamMy letter is at your disposalbut it will be use-
less:it contains however the truth of my wishes and my feelings on
that subject— and as they have been doubted—I am willing to put
them to the proof.I will take my chance of finding you at home some
morning in the ensuing week.— —I received the work of Mr. Schle-
gelwhich I presume is the book to which you alludeand will take
great care of it.—Your messenger waits, and I will not now take up
more of your time than to assure you how much I am, ever & truly
yr. obliged & faith[fu]l Servt.
BYRON
Agosto 25. 1816
Cara MadameMinha carta está à tua disposição—mas será
itil:Ela contém no entanto a verdade de meus desejos e sentimentos
sobre o assunto— e uma vez que deles duvidaramestou disposto a
pô-los à prova.—Arriscarei encontrar-te em casa nalguma manhã da
semana vindoura.—Recebi o trabalho de Mr. Schlegelo qual pre-
sumo seja o livro ao qual aludese cuidarei muito bem dele.—Teu
mensageiro aguarda, e não tomarei mais do teu tempo a não ser para
assegurar-te o quanto sou, sempre & sinceramente,
teu agradecido & fiel Servo,
BYRON
108
Carta 20 – Para Augusta Leigh
[Diodati—Geneva Sept. 8
th
. 1816]
My dearest Augusta—by two opportunities of private convey-
ance—I have sent answers to your letter delivered by Mr.
H[obhouse].— —S[crope] is on his return to England& may probably
arrive before this.He is charged with a few packages of seals—
necklacesballs—&c.—& I know not what—formed of Chrystals
Agates—and other stonesall of & from Mont Blanc bought & brought
by me on & from the spotexpressly for you to divide among yourself
and the children—including also your niece Ada, for whom I selected a
ball (of Granite—a soft substance by the waybut the only one there)
wherewithal to roll & playwhen she is old enough—and mischievous
enough—and moreover a Chrystal necklace—and anything else you
may like to add for herthe Love!The rest are for you& the
Nurserybut particularly Georgianawho has sent me a very nice
letter.—I hope Scrope will carry them all safelyas he promised
There are Seals & all kinds of fooleries—praylike themfor they
come from a very curious place (nothing like it hardly in all I ever
saw)to say nothing of the giver.— And soLady B[yron] has been
kind to you you tell mevery kind umphit is as well she
should be kind to some of usand I am glad she has the heart & the
discernment to be still your friendyou was ever so to her.I heard the
other day—that she was very unwell—I was shocked enough—and
sorry enough—God knowsbut never mind;—H[obhouse] tells me
however that she is not ill—that she had been indisposedbut is better
& well to do.—this is a relief.As for me I am in good health—&
fair—though very unequal—spiritsbut for all that—she—or rather
the Separationhas broken my heart—I feel like as if an Elephant had
trodden on it—I am convinced I shall never get over it—but I try.—I
had enough before I ever knew her and more than enough—but time &
agitation had done something for me; but this last wreck has affected me
very differently—,—if it were acutely—it would not signifybut it is
not that,—I breathe lead.— While the storm lasted & you were all
pressing & comforting me with condemnation in Picadillyit was bad
enough—& violent enoughbut it is worse now.I have neither
strength nor spiritsnor inclination to carry me trough anything which
will clear my brain or lighten my heart.—I mean to cross the Alps at the
end of this month—and goGod knows whereby Dalmatiaup to
the Arnauts againif nothing better can be done;I have still a world
before methisor the next.— H[obhouse] has told me all the
109
strange stories in circulation of me & mine;—not true,—I have been in
some danger on the lake—(near Meillerie) but nothing to speak of; and
as to all these mistresses”Lord help meI have had but one.
Now—dont scold—but what could I do?—a foolish girlin spite of all
I could say or dowould come after meor rather went before me
for I found her hereand I have had all the plague possible to persuade
her to go back again—but at least she went.—Nowdearest—I do most
truly tell thee—that I could not help this—that I did all I could to pre-
vent it—& have at last put an end to it.—I am not in love—nor have any
love left for any,but I could not exactly play the Stoic with a wom-
anwho had scrambled eight hundred miles to unphilosophize me
besides I had been regaled of late with so many “two courses and a de-
sert (Alas!) of aversionthat I was fain to take a little love (if pressed
particularly) by way of novelty.And now you know all that I know
of that matter—& it is over.—Praywrite—I have heard nothing since
your lastat least a month or five weeks ago.—I go out very little
except into the air—and on journeysand on the waterand to
Copet—where Me. de Stael has been particularly kind & friendly to-
wards me& (I hear) fought battles without a number in my very indif-
ferent cause.It has (they say) made quite as much noise on this as the
other side of La Manche”—Heaven knows why—but I seem destined
to set people by the ears. Don’t hate mebut believe me ever
yrs. most affectly.
B
[Diodati—Geneva 8 de set. 1816]
Minha querida Augusta—por duas oportunidades de transporte
privado—enviei respostas à tua carta entregues por Mr. H[obhouse].
S[crope] está de retorno à Inglaterra& pode provavelmente chegar
antes desta.—Ele está encarregado de alguns pacotes de sinetes
colaresbolas&c.—& sei lá o quefeitos de Cristais—Ágatas—e
outras pedras—tudo da & de Mont Blanc comprado & tradizo por mim
na hora & no lugarexpressamente para dividires entre ti e as crian-
ças—incluindo também tua sobrinha Ada, para quem eu selecionei uma
bola (de Granito—uma substância delicada por sinal—mas a única dis-
ponível) para rolar & brincarquando ela for grande o suficiente—e
travessa o suficientee além disso um colar de Cristal—e o que mais
achares por bem adicionar para ela—o Amor! —os demais são para
ti—& para o Berçáriomas particularmente para Georgianaque en-
viou-me uma carta muito agradável.—Espero que Scrope os transporte
110
em segurança—como ele prometeu Sinetes & toda sorte de
bobagens—por obséquioaprecie-as—pois elas vem de um lugar muito
curioso (como aquele quase nunca vi outro)—para não dizer nada do
doador.— —E entãoLady B[yron] tem sido gentil para contigo tu
me dizesmuito gentilumphao menos ela devia ser gentil com
algum de nóse fico satisfeito que ela tenha a coragem & o discerni-
mento para ser ainda tua amigatu sempre o foste para ela.—Ouvi
outro dia—que ela estava bastante adoentada—fiquei chocado o bastan-
te—e pesaroso o bastante—Deus sabe—mas não importa;—H[obhouse]
me diz entretanto que ela não está enfermaque ela esteve indisposta—
mas está melhor & próspera.—isto é um alívio.— —Quanto a mim
estou com boa saúde& moderado—embora muito irregular
ânimomas por tudo aquiloela—ou sem dúvida—a Separação—
partiu meu coração—Sinto como se um Elefante tivesse pisado nele—
estou convencido de que jamais superarei o ocorrido—mas tento.—Tive
o suficiente antes de tê-la conhecido e mais do que suficiente—mas o
tempo & a agitação fizeram algo por mim; mas este último naufrágio
afetou-me de maneira muito diferente—,—se fosse agudamentenão
importaria—mas não é o caso,—eu respiro com dificuldade.—
Enquanto a tempestade durou & vocês estavam todos acotovelando-se
& confortando-me com condenação em Picadillyera ruim o bastan-
te—& violento o bastantemas é pior agora.não tenho força nem
ânimonem propensão para sustentar-me em algo que limpará minha
mente ou aliviará meu coração.—Pretendo cruzar os Alpes no fim deste
mêse ir—Deus sabe aondepor Dalmatia—subindo os Arnauts outra
vez—se nada melhor puder ser feito;—Tenho ainda um mundo diante
de mimeste—ou o próximo. H[obhouse] me contou todas as
estranhas histórias em circulação sobre mim & minhas;não verdadei-
ras,—Estive em algum perigo no lago(perto de Meillerie) mas nada
para se falar a respeito; e quanto a todas essas amantes”o Senhor me
ajudetive apenas uma.Agora—não ralha—mas o que eu poderia
fazer?—uma garota tolaa despeito de tudo o que eu pudesse falar ou
fazer—veio atrás de mimou ao contrário veio antes de mimpois a
encontrei aquie tive todas as pragas possíveis para persuadi-la a ir-
semas pelo menos ela se foi.—Agora—amada—eu o mais verdadei-
ramente digoque não pude evitar issoque fiz todo o possível para
impedir—& finalmente dei cabo do assunto.—Não estou apaixonado—
nem tenho mais qualquer amor para alguém,mas eu não podia exata-
mente bancar o Estóico com uma mulherque atravessou oitocentas
milhas para me desfilosofar—além do mais tenho sido tão relagado
ultimamente com tantos dois pratos e uma sobremesa (Ai!) de aver-
111
sãoque estava bem disposto a aceitar um pouco de amor (se forçado
particularmente) à guisa de novidade.E agora tu sabes tudo o que
eu sei sobre esse assunto—& ele está terminado.Por obséquio—
escreva—não tive notícias desde a tua últimapelo menos há um mês
ou há cinco semanas.Eu saio muito poucoexceção ao ar livree
em caminhadas—e para a águae a Copet—onde Me. de Stael tem
sido particularmente gentil & amigável para comigo& (ouço) travou
batalhas sem mero em minha muito indiferente causa.—Tem feito
(dizem) tanto barulho neste lado como no outro lado do “La Manche”—
Deus sabe o porquemas eu paro destinado a fazer inimigos.
Não me odeiesmas creia-me sempre
teu mais afeiçoado.
B
112
Carta 21 – Para Augusta Leigh
Milan.—Octr. 13
th
. 1816
My dearest Augusta—You see I have got to Milan.We came
by the Simplonescaping all perils of precipices and robbers—of
which last there was some talk & apprehensiona chain of English
carriages having being stopped near Cesto a few weeks ago& hand-
somely pilfered of various chattels.We were not molested.—The
Simplon as you know—is the most superb of all possible routes;—so I
shall not describe it—I also navigated the Lago Maggiore—and went
over the Borromean Islands—the latter are fine but too artificial—the
lake itself is beautifulas indeed is the whole country from Geneva
hitherand the Alpine part most magnificent.— —Close to Milan is the
beginning of an unfinished triumphal arch—for Napoleonso beautiful
as to make one regret its non-completion.As we only reached Milan
last nightI can say little about itbut will write again in a few
days.The Jerseys are hereMade. de Stael is gone to Paris (or going)
from Coppet.—I was more there than elsewhere during my stay at Dio-
dati—and she has been particularly kind & friendly towards me the
whole time.—When you write—address to Genevastill—Poste re-
stanteand my banker—(Monsr. Hentsh) will forward your letters.I
have written to you so often lately—that you will not regret the brevity
of this.I hope that you received safely my presents for the children
(by Scrope) and that you also have (by the post) a little journal of a
journey in & on the Alps which I sent you early this monthhaving
kept it on purpose for you.—
ever my own dearest yrs. most
B
Milão.—13 de out. 1816
Minha querida Augusta—Tu vês cheguei a Milão.—Nós viemos
pelo Simplonescapando de todos os riscos de precipícios e salteado-
ressobre o último havia alguma conversa & apreensãotendo uma
comitiva de carruagens inglesas sido parada perto de Cesto algumas
semanas atrás& elegantemente pilhada de vários bens móveis.Nós
não fomos amolados.O Simplon como sabesé a mais soberba de
todas as rotas possíveis;portanto não devo descre-la—também na-
veguei pelo Lago Maggiore—e segui pelas Ilhas Borromeanas últi-
mas são bonitas mais muito artificiaiso lago propriamente dito é be-
lo—como de fato o é todo o país de Geneva para e a parte Alpina
deveras magnífica.—Próximo a Milão está o início de um arco do
113
triunfo não concluído—para Napoleontão belo a ponto de fazer la-
mentar sua não conclusão.—Como só chegamos a Milão a noite passa-
da—posso dizer muito pouco sobre ela—mas escreverei novamente em
alguns dias.—Os Jerseys estão aquiMade. de Stael foi para Paris (ou
está indo) de Coppet.—Eu estive mais lá do que em qualquer outro
lugar durante minha estada em Diodati—e ela foi particularmente gentil
& amigável comigo todo o tempo.—Quando escreveres—endereça para
Genevaainda—Poste restantee meu banqueiro—(Monsr. Hentsh)
encaminhará tuas cartas.Eu tenho escrito para ti com tanta frequência
ultimamenteque não lamentarás a brevidade desta.—Espero que tu
tenhas recebido incólumes meus presentes para as crianças (por Scrope)
e que também tenhas recebido (pelo correio) um pequeno diário de uma
jornada pelos & nos Alpes que enviei no icio deste mêstendo-o
mantido de propósito para ti.—
sempre minha querida teu muito
B
114
Carta 22 – Para John Murray
Venice April 2d. 1817
Dear Sir, —I sent you the whole of the dramaat three several
timesact by act, in separate coversI hope that you have or will re-
ceive someor the whole of it.— So Love has a conscience—by
Diana!I shall make him take back the box though it were Pan-
doras;the discovery of its intrinsic silver occurred on sending it to
have the lid adapted to admit Marianna
1
s portrait—of course I had the
box remitted in Statu quo—& had the picture set in anotherwhich
suits it (the picture) very well.—The defaulting box is not touched
hardlyit was not in the mans hands above an hour.—I am aware of
what you say of Otway—and am a very great admirer of his—all except
of that maudlin bitch of chaste lewdness & blubbering curiosity Belvid-
era—whom I utterly despiseabhor, & detestbut the story of Marino
Falieri—is different & I think so much finerthat I wish Otway had
taken it instead;—the head conspiring against the bodyfor refusal of
redress for a real injury;jealousy—treasonwith the more and invet-
erate passions (mixed with policy) of an old or elderly man—the Devil
himself could not have a finer subject—& he is your only tragic drama-
tist.— When Voltaire was asked why no woman has ever written
even a tolerable tragedy? Ah (said the Patriarch) the composition of a
tragedy requires testicles”.If this be true Lord knows what Joanna
Baillie doesI suppose she borrows them. There is still, in the Doges
palace the black veil painted over Falieris picture & the staircase
whereon he was first crowned Doge, & subsequently decapitated.—This
was the thing that most struck my imagination in Venice—more than
the Rialto, which I visited for the sake of Shylock—and more too than
Schillers Armenian”
2
a novel which took a great hold of me when a
boyit is also called the Ghost Seer”—& I never walked down St.
Marks by moonlight without thinking of it &at nine o’clock he
died!”—But I hate things all fiction & therefore the Merchant &
Othellohave no great associations to mebut Pierre has—there
1
N. do E. O retrato, que seria de Marianna Segati, não foi localizado nas pesquisas. O fato a
que Byron se refere no tocante à caixa de prata -, es detalhado e carta para John Murray,
datada de 25 de fevereiro de 1817. De maneira resumida, trata-se de um conjunto de tabaquei-
ras compradas por Byron do Joalheiro Sr. Love, de Bond Street, como sendo todas de ouro. Ao
enviar uma para ter a tampa modificada de modo a acolher o retrato de Marianna, Byron
descobriu que a referida caixa era, na verdade, de prata.
2
N. do E. O romance de Schiller, intitulado Geisterseher no original, foi traduzido para o
inglês por W. Bender (1800) como The Armenian, ou o Ghost-seer.
115
should always be some foundation of fact for the most airy fabric—and
pure invention is but the talent of a liar.— Maturins tragedy
3
.—By
your account of him last year to me he seemed a bit of a coxcomb per-
sonally;poor fellowto be sure he had a long seasoning of adver-
sitywhich is not so hard to bear as t’other thing—I hope that this
won’t throw him back into the Slough of Despond”—let him take
heart—whom the Lord loveth he chasteneth [;] blessed by the name of
the Lord! This sentence by the way in contrast to the other one of
Quem Deus vult perdere prius dementat which may be thus done into
English
God maddens him whom ‘tis will to lose,
And gives the choice of death or phrenzy—Choose!
You talk of marriage”—ever since my own funeralthe world makes
me giddy& throws me into a cold sweat—pray don’t repeat it.—Tell
me that Walter Scott is better—I would not have him ill for the world—
I suppose it was by sympathy that I had my fever at the same time.I
joy in the success of your Quarterly—but I must still stick at the Edin-
burghJeffrey has done so by me I must say through everything&
this is more than I deserved from him.I have more than once ac-
knowledged to you by letter the Article” (& Articles) say that you have
received the said lettersas I do not otherwise know what letters ar-
rive.Both reviews camebut nothing more. M[aturin]’s play & the
extract yet not come.There have been two Articles in the Venice pa-
pers one a review of C. Lambs Glenarvon (whom may it please the
beneficent Giver of all Good to damn in the next world! As she has
damned herself in this) with the account of her scratching attempt at
Canicideand the other a review of C[hilde] Har[ol]d in which it pro-
claims me the most rebellious & contumacious Admirer of Buona-
parte—now surviving in Europe;—both these articles are translations
from the literary Gazette of German Jena.I forgot to mention them at
the timethey are some weeks old.—They actually mentioned Caro
Lamb& her mother’s name at full lenght—I have conserved these
papers as curiosities.— Write to say whether or not my Magician has
arrived with all his scenes spells &c.
Yours ever
B
P.S. Will you tell Mr. Kinnaird—that the two recent letters I wrote to
him were owing to a mistake of a booby of a Partner of Siri and Wil-
halm (the Bankers here) & that one of them called this morning to say
3
N. do E. Manuel.
116
all was rightand that there was no occasion for a further letter
however heaven knows whether they are right or not—I hope I shall not
have the same bother at Rome.— you should close with Madame de
Staëlthis will be her best work—& permanently historical—it is on
her fatherthe revolution& Buonaparte, &c. Bontestten told me in
Switzerland it was very great. I have not seen it myself—but the author
oftenshe was very kind to me at Copet.—I like your delicacyyou
who print Margaret& Ilderim and then Demur at Corinne.—The
failure of poor M[aturin]s play will be a cordial to the aged heart of
Saulwho has been kicking against the pricks of the managers so
long and so vainlythey ought to act his Ivan”as for Kean he is an
infidus Scurra” and his conduct on this occasion is of a piece with all
one ever heard of him.Pray look after Mr. St. AubinHe is an Oxo-
nianit is very odd & something more than negligent that he has not
consigned the letters &c. it was his own offer.—It is useless to send to
the Foreign Office nothing arrives to me by that conveyance—I suppose
some zealous Clerk thinks it a Tory duty to prevent it.— —
Veneza 2 de abril. 1817
Caro Senhor,— enviei para ti todo o dramaem três distintas
oportunidadesato por ato, em envelopes separadosespero que te-
nhas recebido ou que recebas algumou todo ele.Então Love tem
uma consciência—por Diana!Eu deveria fazê-lo tomar a caixa de
volta embora ela fosse de Pandora;—a descoberta de sua prata intrínseca
ocorreu ao enviá-la para ter a tampa adaptada de modo a receber o retra-
to de Mariannaobviamente eu restituí a caixa em Statu quo& colo-
quei o retrato em outra—que combina (com o retrato) muito bem.A
malograda caixa não foi muito tocada—ela não esteve nas mãos do
homem por mais do que uma hora.—Estou ciente do que dizes de Ot-
waye sou um grande admirador delecom exceção daquela senti-
mental meretriz de pura lascívia & chorosa curiosidade Belvidera—a
quem absolutamente desprezo—abomino, & detesto—mas a história de
Marino Falieri—é diferente & acredito tão mais refinada—que eu gosta-
ria que Otway a tivesse usado ao invés;a cabeça conspirando contra o
corpo—por recusa de reparação por uma ofensa verdadeira;—ciúme,
traição—com as mais arraigadas e inveteradas paixões (misturadas com
política) de um velho ou idoso homemo Diabo ele mesmo não pode-
ria ter um tema mais refinado—& ele é teu único trágico dramatista.
Quando perguntaram a Voltaire porque nenhuma mulher jamais es-
creveu uma tragédia tolerável? Ah (disse o Patriarca) a composição de
117
uma tragédia requer colhões”.—Se isso é verdade, Deus sabe o que
Joanna Baillie fazsuponho que ela os pegue emprestado. Existe ainda,
no palácio do Magistrado
4
o véu negro posto sobre o retrato de Falieri &
a escada onde ele foi primeiro coroado Magistrado, & subsequentemen-
te decapitado.—Isto foi a cousa que mais impressionou minha imagina-
ção em Venezamais do que o Rialto, quevisitei em consideração a
Shylock—e mais também do que o Armenian de Schiller, um roman-
ce que apossou-se de mim quando meninoele também é chamado o
Aquele que vê Fantasmas”& eu nunca caminhei por St. Mark ao luar
sem pensar nele &“às nove horas ele morreu!”Mas detesto cousas
de pura fião & portanto o Merchant & Othellonão tem grandes
ligões comigo—mas Pierre temdeveria sempre haver algum fundo
de realidade na mais ilusória construção—e a pura invenção nada mais é
do que o talento de um mentiroso.— a tragédia de Maturin.
Segundo teus comentários no ano passado ele pareceu um sujeito um
pouco pretencioso pessoalmente;—pobre coitadopara falar a verdade
ele teve uma longa temporada de adversidadeque não é tão difícil de
suportar quant’outra cousaeu espero que isso não o atire de volta ao
Abismo do Desalento”—deixe-o recobrar o ânimoaquele a quem o
Senhor ama ele pune [;] abençoado em nome do Senhor! Esta sentença
a propósito em contraste com a outra de Quem Deus vult perdere prius
dementat que pode ser assim feita em inglês
Deus antes enlouquece aquele que dará por perdido,
Morte ou loucuradizei qual o escolhido!
Falas de casamento”—desde meu próprio funeral—a palavra me deixa
aturdido& me arremessa a um suor frio—por obséquio, não a repi-
ta.—Diga que Walter Scott está melhoreu não o conceberia doente
por cousa alguma deste mundo—suponho que foi por empatia que tive
minha febre simultaneamente.me alegro com o sucesso da tua Quar-
terly
5
mas ainda devo persistir na EdinburghJeffrey fez o mesmo
por mim devo dizer em tudo—& isso é mais do que mereço dele.—Mais
de uma vez acusei o recebimento para ti por carta do Artigo (& Arti-
gos) diga que recebeste as ditas cartaspois doutro modo não sei quais
cartas chegam.Ambas críticas chegarammas nada mais. A peça de
M[aturin] & o resumo ainda não chegaram.Havia dois artigos nos
jornais de Veneza um uma resenha do Glenarvon de C. Lamb (a quem
pode aprazer ao caritativo Pai de toda Bondade condenar no próximo
mundo! Como ela condenou a si mesma neste) com o relato da pobre
4
N. do E. Magistrado Supremo da Antiga República de Veneza.
5
N. do T.: Publicação Trimestral.
118
tentativa dela em Canicidee o outro uma crítica de C[hilde] Har[ol]d
em que sou proclamado o mais rebelde & contumaz Admirador de Buo-
naparte—agora sobrevivendo na Europa;ambos esses artigos são
traduções da Gazeta literária de German Jena.Esqueci de mencio-
los na época—eles são de umas semanas atrás.Eles realmente men-
cionaram Caro Lamb& o nome da mãe dela por extenso—Conservei
esses jornais como curiosidades.Escreva para dizer se meu Mági-
co
6
chegou ou não com todas as suas cenas feitiços &c.
teu sempre
B
P.S. Diga a Mr. Kinnaird—que as duas cartas recentes que escrevi para
ele foram devidas a um engano de um pateta de um Sócio de Siri e Wi-
lhalm (os Banqueiros aqui) & que um deles veio esta manhã para dizer
que tudo estava certo—e que não havia rao para mais uma carta—
contudo o Céu sabe se eles estão certos ou nãoespero não ter a mesma
preocupação em Roma.devias fechar com Madame de Staël
7
este
será o melhor trabalho dela& permanentemente históricoé sobre
seu pai—a revolução—& Buonaparte, &c. Bontestten disse-me na Suíça
que ele era muito bom. Eu mesmo não o vimas a autora com freqn-
cia—ela foi muito gentil comigo em Copet.Eu aprecio tua finura—tu
que publicas Margaret& Ilderim e então Exitas com Corinne.—O
fracasso da peça do pobre M[aturin] será um tônico para o coração enve-
lhecido de Saul
8
que tem estado adebatendo-se contra os gerentes
por tanto tempo e tão inutilmente—eles têm que encenar o Ivan de-
le—quanto ao Kean ele é um infidus Scurra
9
e a conduta nesta ocasi-
ão é consistente com todas as que já se ouviu dele.—Por obséquio, en-
carrega-te de Mr. St. Aubinele é um Oxoniano
10
—é muito estranho &
algo mais do que negligente o fato dele não ter transferido as cartas &c.
foi oferta dele mesmo.—É itil remeter ao Minisrio das Relações
Exteriores nada chega a mim por esse meio—suponho que algum zeloso
Balconista considere um dever de Tóri impedir isso.—
6
N. do E. Byron referia-se ao seu poema Manfred.
7
N. do E. A obra de Madame de Staël Considérations sur La volution Française foi ofereci-
da a Murray por 4.000 libras, mas antes que se chegasse a um acordo, ela veio a falecer (14 de
julho de 1817). O livro foi publicado por Baldwin and Cradock.
8
N. do E. A obra de William Sotheby Saul: a Poem in Two Parts, foi publicada em 1807. Em
1815, Byron recomendou a peça de Sotheby Ivan para produção em Drury Lane. Ela foi aceita,
mas devido a objeções de Kean, não chegou ao palco.
9
N. do T. bufão dissimulado. Ver Carta 7, nota 7 referente ao emprego de scurra.
10
N. do T. Nativo ou habitante de Oxford; membro da Universidade de Oxford.
119
Carta 23 – Para Samuel Rogers
Venice. April 4
th
. 1817
My dear RogersIt is a considerable time since I wrote to you
last—& I hardly know why I should trouble you nowexcept that I
think you will not be sorry to hear from me now and then.—You and I
were never correspondents—but always something better—which is
very good friends.I saw your friend Sharpe in Switzerlandor rather
in Genevan territory—(which is & is not Switzerland) & he gave Hob-
house & me a very good route for the Bernese Alpshowever we took
another from a German—& went by Clarens over the Dent de Jamant to
Montbovon & through the Simmenthal to Thoun—& so on to Lauten-
brunen—except that from thence to the Grindelwald instead of round
about we went right over the Wengen Alps very summit, & being
closer under the Jungfrau saw it—its Glaciers& heard the avalanches
in all their Gloryhaving famous weather therefor.—We of course
went from the Grindelwald over the Shadack [sic] to Brientz & its
lake—past the Reinchenbach & all the mountain roadwhich reminded
me of Albania & Ǽtolia—& Greeceexcept hat the people here were
more civilized & rascally.—I did not think so very much of
Chamouniexcept the source of the Avveyron [sic] to which we went
up to the teeth of the ice so as to look into & touch the cavity against the
warning of the guides only one of whom would go with us so closeas
of the Jungfrau & the Pissevache & Simplon.—which are quite out of all
mortal computation.I was at Milan about a moon& saw Monit—&
some other living curiosities& thence on to Verona—where I did not
forget your story of the assassinationduring your sojourn there&
brought away with me some fragments of Juliets tomb—& a lively
recollection of the Amphitheatre. The Countess Goetz (the governors
wife here) told me that there is still a ruined castle of the Montecchi
between Verona and Vicenza—I have been at Venice since Novem-
ber—but shall proceed to Rome shortlyor my deeds hereare they
not written in my letters to the unreplying Thomas Moore?—to him I
refer to youhe has received them all & not answered me.—Will you
remember me to Ld. & Lady Hollad—I have to thank the former for a
book which I have not yet receivedbut expect to reperuse with great
pleasure on my returnviz—the 2d. Edition of Lope de Vega.I
have heard of Moores forthcoming poemhe cannot wish himself
more success than I wish & augur for him. I have also heard great
things of Tales of my Landlord but I have not yet received themby
all accounts they beat even Waverley &c. —& are by the same au-
120
thor.—Maturins 2d. tragedy has it seems failed—for which I should
think every body will be sorryexcept perhaps SothebywhoI must
saywas capriciously & evilly entreated by the Sub-committee—about
poor dear Ivan whose lot can only be paralleled by that of his origi-
nalI don’t mean the authorwho is anything but originalbut the
deposed imperial infant who gave his name & some narrative of the
drama thereby entitled.—My health was very victorious—till within the
last monthwhen I had a fever.there is a Typhus in these parts,
but I don’t think it was that.—However I got well without a Physician or
drugs.I forgot to tell you that last Autumn—I furnished Lewis with
bread & salt fo some days at Diodati—in reward for which (besides
his conversation) he translated Goethes Faust to me by word of
mouth;& I set him by the ears with Madame de Staël about the slave
trade.— I am indebted for many & kind courtesies to our Lady of
Copet—& now I love her—as much as I always did her works—of
which I was and am a great admirer.— When are you to begin with
Sheridan? what are you doing? & how do you do?
ever & very truly & affectionately yrs. B
Veneza. 4 de abril. 1817
Meu caro RogersFaz um tempo considerável desde que escrevi
para ti a última vez—&nem sei porque deveria importunar-te agora
exceto por achar que não te incomodarás em ter notícias minhas de vez
em quando.—Tu e eu nunca fomos correspondentesmas sempre algo
melhorque émuito bons amigos.—Vi teu amigo Sharpe
1
na Suíça—
ou melhor em território Genovês(que é & não é Suíça) & ele indicou
a Hobhouse & a mim uma ótima rota para os Alpes Bernesesno en-
tanto nós seguimos uma outra de um Alemão& fomos por Clarens
pelo Dent de Jamant para Montbovon & através de Simmenthal para
Thoun—& depois para Lautenbrunen—exceto que de lá para o Grin-
delwald ao invés de dar a volta nós seguimos em dirão ao topo do
Alpe de Wengen, & estando próximo sob o Jungfrau o vimossuas
Geleiras& ouvimos as avalanches em toda a sua Glóriagozando de
excelente tempo por sinal—Nós é claro fomos do Grindelwald através
do Shadack [sic] para Brientz & seu lago—passamos o Reinchenbach &
toda a estrada da montanhao que me lembrou da Albânia & da Ǽtoli-
a& da Grécia—exceto que as pessoas aqui eram mais civilizadas &
1
N. do E. Richard “Conversation Sharp.
121
vis.Eu não apreciei tanto assim Chamouniexceto a fonte do Avve-
yron [sic] na qual nós subimos até os dentes de gelo de forma a olhar
dentro & tocar a cavidade contra os avisos dos guias apenas um dos
quais chegou conosco tão próximocomo do Jungfrau & Pissevache &
Simplon.que estão além de qualquer lculo mundano.—Eu estava
em Milão há cerca de uma lua& vi Monit—& outras curiosidades
vivas& de lá para Veronaonde não esqueci tua história do assassi-
nato—durante tua temporada lá—& trouxe comigo alguns fragmentos
da tumba de Juliet—& uma viva recordação do Anfiteatro. Countess
Goetz (a esposa do governador daqui) falou que ainda existem as ruínas
do castelo dos Montéquio entre Verona e VicenzaEstou em Veneza
desde novembro—mas devo seguir para Roma em breve—ou meus
feitos aquinão estão eles escritos em minhas cartas ao silencioso
Thomas Moore?sobre ele eu pergunto a tiele recebeu-as todas &
não me respondeu.Podes dar minhas lembranças a Ld. & Lady Hol-
landtenho que agradecer à última por um livro que ainda não recebi
mas que espero reexaminar com grande prazer em meu retorno
2
isto
éa 2d. Edição de Lope de Vega.—Ouvi falar do vindouro poema
de Moore—ele não pode desejar a si mesmo mais sucesso do que desejo
e & auguro a ele.Também ouvi grandes cousas de Contos de meu
Senhorio mas ainda não os recebisegundo dizem todos eles batem
até mesmo Waverley &c. —& são do mesmo autor
3
.—a 2ª tragédia de
Maturin parece ter falhado—pelo que devo acreditar que todos ficarão
pesarososexceto talvez Sothebyo qualdevo dizer—foi capricho-
samente & maldosamente solicitado pelo Subcomitê—sobre o pobre
coitado Ivan cujo destino só pode equiparar-se ao de seu original
não quero dizer o autor—que é tudo menos original—mas o infante
imperial destituído que lhe deu o nome & alguma narrativa do drama
assim intitulado.Minha saúde estava muito vitoriosaaté o último
mêsquando tive uma febre.— há um Tifo nestas partes, mas não
acho que tenha sido o caso.—De qualquer forma melhorei sem um Mé-
dico ou remédios.—Esqueci de contar que no outono passado—supri
Lewis com pão & sal por alguns dias em Diodati—em retribuição
pelo feito (além da conversa) ele traduziu “Fausto de Goethe para mim
verbalmente;& eu o indispuz com Madame de Staël sobre o tráfico de
escravos.Estou em dívida por muitas & gentis cortesias da nossa
2
N. do E. A obra de Lord Holland Some Accoun of the Life and Writings of Lope Felix de
Vega Carpio apareceu anonimamente em 1807 e foi republicada com o nome do autor em
1817.
3
N. do E. Aparentemente, Byron não sabia que Scott era o autor de Waverley.
122
Lady de Copet& agora eu adoro-a—tanto quanto sempre adorei seus
trabalhosdos quais fui e sou grande admirador.— —Quando coma-
rás com Sheridan? O que ess fazendo? & como tens passado?
sempre & muito verdadeiramente & afetuosamente teu. B
123
Carta 24 – Para John Murray
Venice, August 12
th
1817
Dear Sir—I have been very sorry to hear of the death of
M[adam]e. de Staelnot only because she had been very kind to me at
Copet—but because now I can never requite her.—In a general point
of view she will leave a great gap in society & literature.— With
regard to death—I doubt that they have any right to pity the dead for
their own sakes.— —The copies of Manfred & Tasso are arrived
thanks to Mr. Crokers cover.You have destroyed the whole effect &
moral of the poem by omitting the last line of Manfred’s speaking &
why this was done I know not.—Why you persist in saying nothing of
the thing itself I am equally at a loss to conjectureif it is for fear of
telling me something disagreeable—you are wrong—because sooner
or later I must know it—& I am not so new nor so raw nor so inexperi-
encedas not to be able to bear—not the mere paltry petty disap-
pointments of authorship—but things more seriousat least I hope
so& that what you may think irritability is merely mechanical&
only acts like Galvanism on a dead body,or the muscular motion
which survives sensation.— If it is that you are out of humour be-
cause I wrote to you a sharp letterrecollect that it was partly from a
misconception of your letter— & partly because you did a thing you
had no right to do without consulting meI have, however, heard
good of Man[fre]d from two other quarters& from men—who would
not be scrupulous in saying what they thoughtor what was said—&
So Good Morrow to youGood Master Lieutenant”—I wrote to you
twice about the 3d [sic in MS.] Canto—which you will answer at your
pleasure.—Mr. Hobhouse & I have come up for a day to the cityMr.
Lewis is gone to England—& I am
yrs. ever
B
Veneza, 12 de agosto 1817
Prezado Senhor—Eu senti muito em saber da morte de
M[adam]e. de Staelnão apenas porque ela foi muito gentil comigo
em Copet—mas porque agora nunca poderei retribuir a gentileza.De
um ponto de vista geral ela deixará um grande vazio na sociedade & na
literatura.— —Com relação à morteeu duvido que eles tenham qual-
quer direito de lamentar os mortos pelo próprio bem deles.— —As
cópias de Manfred & Tasso chegaramgraças ao envelope de Mr.
Croker.—Destruíste todo o efeito & a moral do poema ao omitir a
124
última linha da fala de Manfred
1
& porque isto foi feito não sei.—
Porque insistes em dizer nada sobre a cousa propriamente dita eu i-
gualmente não consigo conjecturarse é por receio de dizer-me algo
desagradáveless errado—porque mais cedo ou mais tarde eu o
saberei& não sou nem tão novo nem tão tosco nem tão inexperien-
te—a ponto de não saber lidar—não com os meros pequenos mesqui-
nhos dissabores da autoriamas com cousas mais sériasao menos
assim espero—& o que podes achar que é irritabilidade é meramente
mecânico—& apenas age como Galvanismo em um corpo morto,—ou
o movimento muscular que sobrevive à sensação. Se é porque
estás sem humor porque escrevi para ti uma carta afiada—recorda que
foi em parte por uma ideia errônea da tua carta— & em parte porque
fizeste uma cousa que não tinhas o direito de fazer sem me consultar—
tenho, contudo, ouvido falar bem de Man[fre]d de duas outras partes—
& de homensque não seriam escrupulosos em dizer o que pensa-
vamou o que foi dito—& Então Bom Dia para ti—Bom Mestre
Tenente
2
escrevi para ti duas vezes sobre o [sic em MS.] Can-
to—que responderás como te agradar.Mr. Hobhouse & eu fizemos
uma pausa para um dia na cidade—Mr. Lewis partiu para a Inglater-
ra—& sou
teu sempre
B
1
N. do E. A última linha de Manfred, que Murray omitiu na primeira impressão, era “Old man!
‘tis not so difficult to die. Por insistência de Byron, ela foi recolocada nas edições subsequen-
tes.
2
N. do E. Otelo, ato III, cena 1: “Good morrow, good lieutenant.”
125
Carta 25 – Para John Murray
La MiraNear VeniceAugust 21
st
. 1817
Dear Sir—I take you at your word about Mr. Hanson& will
feel obliged if you will go to him& request Mr. Davies also to visit
him by my desire—& repeat that I trust that neither Mr. Kinnairds
absence nor mine will prevent his taking all proper steps to accelerate
and promote the sales of Newstead and Rochdale—upon which the
whole of my personal comfort dependsit is impossible for me to
express how much any delays upon these points would inconvenience
me& I do not know a greater obligation that can be conferred upon
me than the pressing these things upon Hanson& making him act
according to my wishes.I wish you would speak out at least to me &
tell me what you allude to by your odd way of mentioning himall
mysteries at such distance are not merely tormentingbut mischevi-
ous—& may be prejudicial to my interestsso pray—expoundthat I
may consult with Mr. Kinnaird when he arrives—& remember that I
prefer the most disagreeable certainties to hints & inuendoes—the
devil take every bodyI never can get any person to be explicit about
any thing—or any body& my whole life is past in conjectures of
what people meanyou all talk in the style of Caroline Lambs nov-
els.It is not Mr. St. John—but Mr. St. Aubyn, Son of Sir John St.
Aubyn.Polidori knows him& introduced him to mehe is of
Oxford—& has got my parcelthe Doctor will ferret him out or
ought.—The Parcel contains many letterssome of Madame de Staël
and other people’sbesides M.S.S., &c.By Gdif I find the
gentleman & he don’t find the parcel—I will say something he wont
like to hear.—You want a civil and delicate declension for the medi-
cal tragedy? Take it—
Dear Doctor—I have read your play
Which is a good one in its way
Purges the eyes & moves the bowels
And drenches handkerchiefs like towels
With tears that in a flux of Grief
Afford hysterical relief
To shatter’d nerves & quickened pulses
Which your catastrophe convulses.
I like your moral & machinery
Your plot too has such scope for Scen-
ery!
126
Your dialogue is apt & smart
The plays concoction full of art—
Your heroe raves—your heroine cries
All stab—& every body dies;
In short your tragedy would be
The very thing to hear & see—
And for a piece of publication
If I decline in this occasion
It is not that I am not sensible
To merits in themselves ostensible
butand I grieve to speak it—plays
are drugs—mere drugs, Sir, nowadays—
I had a heavy loss by “Manuel”—
Too lucky if it prove not annual
And Sotheby with his damned Orestes”
(Which by the way the old Bores best
is,)
Has lain so very long on hand
That I despair of all demand
I’ve advertizedbut see my books
Still IvanIna & such lumber
My back shop glutmy shelves encum-
ber.—
Theres Byrontoo—who once did bet-
ter
Has sent mefolded in a letter—
A sort ofits no more a drama
Than DarnleyIvanor Kenama
So altered since last year his pen is
I think he lost his wits at Venice—
Or drained his brains away as Stallion
To some dark-eyed & warm Italian;
In short Sir—what with one & t’other
I dare not venture on another—
I write in haste, excuse each blunder
The Coaches through the Street so thun-
der.
My Rooms so full—weve Gifford here
Reading M.S.S.with Hookham Frere
Pronouncing the nouns & particles
Of some of our forthcoming articles,
127
The Quarterly—Ah Sir! If you
Had but the Genius to review—
A smart Critique upon St. Helena
Or if you would but tell in a
Short compass whatbut, to resume
As I was saying—Sir—the Room
The Rooms so full of wits & bards
CrabbesCampbellsCrockers
Freres—& Wards,
And others neither bards nor wits;
My humble tenement admits
All persons in the dress of Gent.
From Mr. Hammond to Dog Dent.
A party dines with me today
All clever men who make their way,
They’re at this moment in discussion
On poor De Staels late dissolution
Her book they say was in advance—
Pray Heaven! She tell the truth of France
‘tis said she certainly was married
To Rocca& had twice miscarried,
No—not miscarried—I opine
But brought to bed at forty-nine,
Some say she died a PapistSome
Are of opinion thats a Hum
I don’t know that—the fellow Schlegel
Was very likely to inveigle
A dying person in compunction
To try the extremity of Unction.
But peace be with her—for a woman
Her talents surely were uncommon.
Her Publisher (& Public too)
The hour of her demise may rue
For never more within his shop he
Praywas not she interred at Coppet?[”]
Thus run our time and tongues away
But the return Sir—to your play
Sorry—Sirbut I can not deal—
Unless ‘twere acted by O’Neil—
My hands are fullmy head so busy—
Im almost dead& always dizzy
128
And so with endless truth & hurry
Dear Doctor—I am yours
John Murray
P.S.—Ive done the 4
th
& last Canto—which mounts 133 Stanzas.I
desire you to name a price—if you don’tI willso I advise you in
time.
yrs.
there will be a good many notes.
La MiraPróximo a Veneza21 de agosto. 1817
Prezado Senhor—acredito no que dizes sobre Mr. Hanson—&
ficarei agradecido se fores até ele—& solicitares a Mr. Davies que
também o visite por minha vontade& repita que confio que nem a
ausência de Mr. Kinnaird nem a minha o impedirão de tomar todas as
medidas necessárias para promover a venda de Newstead e de Rochda-
le—das quais todo o meu conforto pessoal depende—é impossível
expressar o quanto quaisquer atrasos nesses pontos me estorvariam
&não sei que favor maior me poderia ser feito do que forçar Hanson
nessas cousas& fazê-lo agir de acordo com meus desejos.Gostaria
que falasses com franqueza pelo menos comigo & dissesses-me a que
te referes com tua forma estranha de mencio-lo—todos os mistérios
a tal distância não são meramente atormentadoresmas maliciosos
& podem ser prejudiciais aos meus interesses—então por obséquio
esclareçaque posso consultar-me com Mr. Kinnaird quando ele che-
gar& lembra que prefiro as mais desagradáveis certezas a dicas &
insinuaçõeso diabo carregue a todos eu nunca consigo fazer nin-
guém ser explícito sobre o que quer que seja—ou quem quer que se-
ja—& toda minha vida transcorre em conjecturas sobre o que as pesso-
as querem dizer—vós todos falais ao estilo dos romances de Caroline
Lamb.— —o é Mr. St. Johnmas Mr. St. Aubyn, Filho de Sir John
St. Aubyn.Polidori o conhece& apresentou-o a mimele é de
Oxford—& está com meu pacote—o Doutor o deslindará ou o deve-
rá.—O Pacote contém muitas cartasalgumas de Madame de Stl e
de outras pessoas—além das de M.S.S., &c.—Por De—us—se eu
encontrar o cavalheiro & ele não encontrar o pacote—direi algo que
129
ele não gostará de ouvir.—Queres uma recusa gentil e delicada”
3
para
a tragédia médica? Toma-a
Caro Doutor—eu li tua peça
Que ao seu modo é boa à beça
Purga os olhos & move as tripas
Ensopando lenços em bicas
Com grimas que em Aflição
o histérico alívio e vasão
A nervos trêmulos & pulsos
Que tua tragédia faz convulsos.
Bela moral & maquinário
Na trama que evoca Cenário!
Teu diálogo hábil & sagaz
A peça muita arte nos traz—
Junto ao herói—a heroína clama
Feridosa morte os chama;
Tua tragédia devia ser
O ideal pra ouvir & ver—
E para uma publicação
Se eu declino na ocasião
o é que eu não seja sensível
A mérito em si tão crível
mase eu lamento dizerpeças
agora vendem mal à beça
Perdi muito com Manuel”
4
O revés não me fez pinel
E Sotheby com seu Orestes”
(que bate o Bore, aquele, a peste,)
Está há tanto em minha manga
Que eu desespero da demanda—
Eu anunciei—mas veja os livros
IvanIna
5
& suas asneiras
3
N. do E. Murray escreveu para Byron em carta datada de 5 de agosto de 1817: “Polidori
enviou-me a tragédia dele! Faça-me a gentileza de enviar uma delicada recusa para o texto, que
eu copiarei fielmente”.
4
N. do E. A tragédia escrita por Maturin, denominada Manuel, foi produzida em Drury Lane
em 8 de março de 1817, com Kean como protagonista, mas foi uma decepção. Murray a publi-
cou, pois já tinha feito o mesmo com a peça de sucesso de Maturin, Bertram.
5
N. do E. Tragédia da Sra. Wilmot, conforme carta de Byron para Murray datada de 23 de
abril de 1815.
130
Apinham-se nas prateleiras.
Byrontambémmas sem galope
Mandoudentro de um envelope—
Algonão é assim um drama
6
Melhor que DarnleyIvanKenama
7
Sua pena já não é mais a mesma
Perdeu seu talento em Veneza
Vivendo como Garanhão
De uma beldade de Milão;
Pois bemSr.—já com um e outro
o ouso ir mais nem um pouco
A pressa faz deste um borrão
Na Rua o som é de um trovão.
Gifford está—no abarrotado
Com M.S.S. e Frere ao lado
Lendo alguns dos substantivos
De nossos próximos artigos,
No Quarterly— Se tua pena
Pudesse escrever a resenha—
Uma crítica sobre Helena
Ou por numa folha pequena
mas, Sr., como eu dizia
Na Sala, grande é a correria
o cheia de sábios & bardos
CrabbesCampbellsCrockers
Freres—& Ward(o)s,
E outros nem bardos nem espertos;
Minha sala admite por certo
Todos vestidos como Gente.
De Hammond
8
a Dog Dent(e)
9
.
Um grupo janta hoje comigo
Todos sábios bem sucedidos,
que falam fora do papel
6
N. do E. Manfred.
7
N. do E. Darnley e Ivan de Sotheby; Kehama de Southey.
8
N. do E. George Hammond (1763-1853), diplomata que ocupou o cargo de Sub-Secretário de
Estado das Relações Exteriores, era amigo íntimo de Canning e esteve envolvido na fundação
do Anti-Jacobin e da Quarterly Review. Foi como frequentador da sala de visitas de Murray
que Byron o conheceu.
9
N. do E. John Dent, banqueiro, foi apelidado de “Dog Dent” devido à sua preocupação com a
Dog-tax Bill de 1796.
131
Da morte da pobre Staël
Seu livro trouxe de antemão—
O que era a França de então
Com Rocca ela se casou
Parece também que abortou,
Opinonão de modo nobre
Mamãe aos quarenta e nove?
Dizem que ela morreu Papista—
Uns, que isso não está na lista
O Schlegel—uns nos fazem crer
Era capaz de converter
Um moribundo em contrição
A provar da extremunção.
Descanse em paz—cara Madame
pra uma mulher não deu vexame.
Seu Editor posso apostar
Sua morte vai lastimar
Pois nunca mais ele vai ter—
Obras da Dama de Coppet?[”]
E assim correm línguas e tempo
Mas a resposta—no momento—
Sua peça não vou publicar
Só se O’Neil
10
a encenar
Com a cabeça tão ocupada—
Estou sempre dando topada—
Então com pressa pela frente—
Sou teu
John Murray,
o de sempre
P.S.—Concluí o 4
º
& último Cantoque remonta a 133 Estrofes.
Solicito que coloques um preçose não o fizeres—eu o farei
portanto te aviso a tempo.
teu
haverá um bocado de notas.
10
N. do E. A Srta. Eliza O’Neil era uma das protagonistas em Drury Lane, substituindo a Sra.
Siddons em papéis trágicos.
132
Carta 26 – À Condessa Teresa Guiccioli
August 25th. 1819
My dearest TeresaI have read this book in your gardenmy
loveyou were absentor else I could not have read it.—It is a favor-
ite book of yours& the writer was a friend of mine.—You will not
understand these English wordsand others will not understand
themwhich is the reason I have not scrawled them in Italian.But
you will recognize the handwriting of him who passionately loves
you& you will divine thatover a book which was yourshe could
only think of love.In that word—beautiful in all languages but most
so in yoursAmor miois comprised my existence here and hereaf-
ter.—I feel I exist here, and I fear that I shall exist hereafteras to what
purpose you will decide;my destiny rests with you—& you are a
womanseventeen years of age& two out of a convent.—I wish that
you had stayed there—with all my heart—or—at least—that I had never
met you in your married state.But all this is too late.—I love you&
you love meat least you say soand act as if you did sowhich last
is a great consolation in all events.—But I more than love you, and can-
not cease to love you.Think of me sometimeswhen the Alps and
the ocean divide us—but they never will—unless you wish it.
B
25 de agosto, 1819
Minha querida Teresali este livro em teu jardimmeu amor—
tu estavas ausente—ou então não poderia tê-lo lido. —É um de teus
livros favoritos& a autora era amiga minha. —Tu não entenderás
estas palavras em Inglêse outros não as entenderãoque é a rao
pela qual não as rabisquei em Italiano.—Mas tu reconhecerás a letra
daquele que ardentemente ama-te & tu descobrirás que—debruçado
sobre um livro que é teuele só poderia pensar no amor. Em tal pa-
lavra—bela em todas as línguasmas muito mais na tuaAmor mio
está resumida minha exisncia aqui e doravante—para qual propósito
tu decidirás;meu destino depende de ti—& és uma mulherdezessete
anos de idade—& há dois saída de um convento. —Gostaria que tives-
ses ficado lá—de todo o meu coraçãoouao menosque eu jamais
tivesse te conhecido em tua condição de casada. —Mas é tarde demais
para tudo isto. —Amo-te—& tu me amasao menos o dizese ages
como se me amasseso que ao menos é um grande consolo em todos
os casos. —Mas eu mais do que amo-te, e não posso cessar de amar-
te.—Pensa em mim às vezes—quando os Alpes e o oceano nos separa-
remmas eles jamais o farão—a menos que tu o desejes.
B
133
3.3 JUSTIFICANDO AS ESCOLHAS
Edoardo Bizzarri (2003, p. 63), tradutor de Guimarães Rosa para
o italiano, em carta a este datada de 3 de dezembro de 1963, esboça, de
maneira tácita, seu projeto tradutório, ao afirmar que tenho também que
obedecer ao meu sistema de trabalho, [...] que é custoso a exploração
miúda do texto , para do texto extrair a poesia e, depois, todas as outras
possíveis implicões”.
Neste subcapítulo, descreveremos o processo de tradução e con-
frontaremos a tradução com seu projeto, pela exemplificação no texto
traduzido das escolhas feitas.
O primeiro ponto de que tratamos foi a evolução nas relões de
amizade entre Byron e Madame de Staël, o que pode ser notado no tom
empregado por ele nos diferentes períodos em que escreveu para ela ou
ainda sobre ela para terceiros. Essa evolução precisava ser preservada na
tradução. Para tanto, fizemos uso diferenciado dos pronomes pessoais de
pessoa (no singular e no plural) de acordo com o grau de formalidade
com que Byron dirigia-se a ela. Na carta de 1813, em que a formalidade
nas relações sociais entre ambos fica evidente, optamos por traduzir you
por vós, vos, convosco” e your por vosso (a) (s)”; já nas duas outras
cartas, apesar do tom de respeito presente na escrita, uma relação de
amizade já havia se estabelecido entre eles, razão pela qual optamos por
traduzir os mesmos pronomes por tu, te, ti contigo” e teu (s), tua (s)”,
respectivamente. Os demais destinatários, que privavam da intimidade
de Byron desde as primeiras cartas, tiveram o pronome traduzido igual-
mente desta última forma.
Essa diferenciação na forma como traduzimos os pronomes pes-
soais deixou marcado no texto de chegada não apenas o grau de forma-
lidade ou informalidade nas relações interpessoais, mas evidenciou um
registro arcaico da língua. Durante todo o período pré-tradutório, refle-
timos sobre a idade” das cartas. Sendo todas elas datatas do início sécu-
lo XIX, era evidente que a língua em que foram escritas havia se modi-
ficado, tanto quanto a língua para a qual elas seriam traduzidas. Nossa
dúvida residia, então, se deveríamos empregar propositalmente arcaís-
mos no texto de chegada, sabedores de que o texto original havia passa-
do por mudanças inerentes à transformação da língua. Optamos por
empregar alguns poucos arcaísmos, na ngua de chegada, de modo a
salientar a disncia temporal da obra. Essa opção teve por objetivo
evitar que o texto de chegada se apresentasse ao leitor como uma leitura
cansativa, devido à presença de muitas palavras e expressões com regis-
134
tro de uso menos corrente. Dentre as escolhas arcaicas feitas, citamos a
substituição do substantivo simples coisa por cousa. Experimentamos,
também, a substituição do advérbio de intensidade muito por mui, mas o
texto mostrou-se, então, deveras latinizado e bem menos próximo de sua
origem inglesa. Por esse motivo, o emprego do mui foi abolido como
estratégia envelhecedora.
Os substantivos próprios (nomes de pessoas) não foram traduzi-
dos, como forma de reforçar as marcas de estranheza no texto. A mesma
opção foi feita em relação aos tulos nobiliárquicos e às formas de tra-
tamento (Mr., Mrs., Miss). Já os substantivos próprios que se referiam a
nomes de lugares conhecidos ou habituais foram traduzidos, unicamente
para facilitar a correlação com a sua localização geográfica. Essa estra-
tégia não foi aplicada aos substantivos próprios que dão nome a lugares
considerados pouco conhecidos ou habituais. Os substantivos que indi-
cam unidades monetárias shillings e guinea foram traduzidos, mas não
convertidos na ngua de chegada. Essa escolha objetivou não apenas o
respeito à meta da estrangeiridade, mas também serviu como outro mar-
cador temporal do texto traduzido. Uma das marcas da escrita de Byron
presente em diversas cartas é o emprego do & (e comercial) no lugar da
conjunção aditiva e. Essa marca também foi mantida na tradução.
As cartas de Byron contêm palavras e expressões estrangeiras,
tais como αυαξ, la belle passion, éperdument amoureux, adieu e amor
mio, que foram mantidas como no original. Essa escolha teve como
objetivos evidenciar o espírito cosmopolita de Byron, cujo contato com
outras culturas era feito não só por viagens, mas também por leituras
constantes, e destacar como as culturas estrangeiras exerceram infln-
cia em sua personalidade e, por consequência, em seus escritos. A
maioria dessas expressões, embora tenha permanecido em língua estran-
geira, é perfeitamente compreensível pelo contexto. Quando a compre-
ensão não se fez clara, adicionamos a tradução em nota de rodapé, como
no caso de liens (ligações).
Como as cartas selecionadas para nossa pesquisa foram todas elas
retiradas das edições de Leslie A. Marchand, convém listarmos a forma-
tação dada pelo pesquisador na sua transcrição:
O local e a data são posicionados na parte superior direita da
carta.
Embora Byron como vários de seus contemporâneos fosse
inconsistente e exntrico no emprego de letras maiúsculas,
seu uso foi preservado, uma vez que a letra maiúscula no meio
135
da frase às vezes indica a importância por ele dada à palavra
naquele contexto.
A saudação foi posta na mesma linha do corpo da carta, sepa-
rada por um travessão.
As letras sobrescritas, tais como em S
r
. e &.
c
, foram lineariza-
das, aparecendo nos textos como Sr. e &c..
A grafia de Byron foi mantida e o uso do sic foi reduzido aos
poucos casos em que a grafia errônea das palavras pudesse ge-
rar uma modificação no significado ou na compreensão da
sentença (como quando ele grafa there como t-h-e-i-r).
A pontuação de Byron não seguia qualquer regra própria ou
gramatical. Ele empregava travessões e vírgulas livremente,
aparentemente para possibilitar pequenas pausas no texto, ou
para dar ênfase a certas passagens. O uso de vírgulas, ponto e
vírgula, ponto final e principalmente de travessões foi mantido
conforme os originais. O texto, assim, não está dividido em
parágrafos, mas marcado pela pontuação irregular de Byron, o
que deixa ao leitor a responsabilidade de definir onde ele ter-
minava uma sentença e começava outra.
Palavras ausentes, mas perfeitamente dedutíveis pelo contex-
to, foram postas em colchetes, unicamente para facilitar a
compreensão do leitor.
Palavras ou expressões destacadas no original foram apresen-
tadas em itálico, na tentativa de preservar a ênfase dada a elas
pelo autor.
Todos os cuidados listados acima, tomados pelo editor para pre-
servar as características do texto original, foram igualmente preservados
na tradução. Além disso, todas as notas do editor foram mantidas e tra-
duzidas. Quando necessário, inserimos notas do tradutor para fornecer
informações que julgamos importantes para a compreensão do texto.
Algumas palavras e passagens foram traduzidas com base em sua
forte carga de significado, como no exemplo a seguir:
Yesterday I dined in company with * *
[Mme. de Stael], the Epicene whose politics
are sadly changed. She is for the Lord of Israel
and the Lord of Liverpoola vile antithesis of
a Methodist and a Torytalks of nothing but
devotion and the ministry, and, I presume, ex-
136
pects that God and the government will help
her to a pension.
(Carta 1 – para Thomas Moore)
O adjetivo Epicene associado a Madame de Staël apareceu inici-
almente no periódico Anti-Jacobin, em um poema denominado Can-
ning’s New Morality. A linha Neckars fair daughter, Stl the Epice-
ne baseou-se na acusação feita por Quatremère de Quincy, o qual ques-
tionou a sexualidade de Madame de Stl junto ao Conselho dos Qui-
nhentos. Embora o sentido inicialmente empregado à palavra tenha sido
o de hermafroditismo ou androginia, Byron parece empregar o mesmo
adjetivo como ctica política à posição adotada por Madame de Staël na
época, qual seja, a de defesa do governo inglês, contrariando sua nacio-
nalidade francesa. Portanto, optamos pela seguinte solução:
Ontem jantei em companhia de * * [Mme. de
Staël], o Epiceno cuja política está tristemen-
te mudada. Ela está a favor do Lord de Israel e
do Lord de Liverpooluma vil antítese de um
Metodista e um Tórinão fala de nada a não
ser de devoção e do ministério, e, presumo,
supõe que Deus e o governo a ajudarão com
uma pensão.
Pelo julgamento feito por Byron de que Madame de Staël havia
mudado sua visão política, possivelmente por ela, como francesa, ter-se
tornado admiradora e defensora do sistema político-partidário ings,
optamos por traduzir Epicene por Epiceno, já que a definição de “co-
mum de dois gêneros seria uma representação aceitável da crítica de
Byron, sem deixar, no entanto, de caracterizar o primeiro significado
empregado à palavra no contexto original.
Alguns arcaísmos empregados por Byron estão presentes no ori-
ginal, seja em citações utilizadas pelo autor ou em sua própria composi-
ção. Procuramos, na tradução, mantê-los evidentes, sempre que possível,
como no exemplo a seguir:
Now, were I a woman, and eke a virgin, that is
the man I should make my Scamander.
(Carta 8 – para Thomas Moore)
137
You talk of marriage”—ever since my own
funeralthe word makes me giddy—& throws
me into a cold sweatpray dont repeat it.
(Carta 22 – para John Murray)
No primeiro caso, o advérbio eke poderia ser traduzido por tam-
bém, mas sua condição de arcaísmo se perderia na tradução, por também
ser um advérbio em pleno uso na língua de chegada. No segundo exem-
plo, a interjeição pray poderia ser traduzida como por favor, mas tam-
bém aqui o arcaísmo se perderia no texto traduzido. Nossa ideia foi,
portanto, a de buscar a tradução por uma palavra menos usual:
Agora, fosse eu uma mulher, e ademais vir-
gem, eis o homem que faria meu Scamander.
Falas de “casamento”—desde meu próprio fu-
nerala palavra deixa-me aturdido—& arre-
messa-me a um suor friopor obséquio não a
repitas.
Em algumas situações, no entanto, o arcaísmo se perdeu na tradu-
ção, como mostram os exemplos abaixo:
My dear Ly. M[elbourn]eI wrote ye. an-
nexed note 3 days ago—
(Carta 6 – para Lady Melbourne)
Rogers is out of town with Madame de Staël,
who hath published an Essay against Suicide,
which, I presume, will make somebody shoot
himself;
(Carta 3 – para Thomas Moore)
No primeiro exemplo, ye é a forma arcaica do artigo definido the;
no segundo, hath é a conjugação arcaica na 3ª pessoa do singular do
verbo to have. Para traduzir ye, não encontramos solução diferente do
artigo definido o, a, os, as; no segundo caso, o arcaísmo de hath i-
gualmente se perde, pois a construção gramatical com o verbo no Pre-
sent Perfect é apagada na tradução, como mostram os excertos a seguir:
138
Minha cara Ly. M[elbourne] escrevi a anexa
três dias atrás—
Rogers está fora da cidade com Madame de
Staël, a qual publicou um Ensaio contra o Sui-
cídio, que, presumo, fará alguém estourar os
miolos;
Byron, em consonância com sua veia poética, compunha seus
textos fazendo uso, algumas vezes, de aliterões e trocadilhos, como
nos exemplos abaixo:
but, nevertheless, no one wishes you more
friends, fame, and felicity,
Carta 1 para Thomas Moore
Have you found or founded a residence yet?
(Carta 3 – para Thomas Moore)
for I have been occupied to weariness with vari-
ous somethings & nothings ever since
(Carta 6 – para Lady Melbourne)
being the first decent deed I have done since
my acquaintance with the most celebrated person-
age of your illustrious house—
(Carta 6 – para Lady Melbourne)
Por se tratarem de marcas autorais no texto original, essas passa-
gens exigem atenção e dedicação maiores para que não sejam apagadas
no texto de chegada. Buscamos, sempre que possível, manter a relação
significante e significado presente nas aliterões e trocadilhos. As tra-
duções dos trechos acima ficaram como segue:
mas, todavia, ninguém deseja-te mais amigos,
admiração e alegrias
Já fixaste ou fundaste uma residência?
pois tenho estado ocupado à exaustão com vá-
rias cousas & cousas algumas desde então—
139
tendo sido o primeiro feito feliz que fiz desde
meu conhecimento com a personagem mais cele-
brada de tua ilustre casa—
Na primeira tradução, a aliteração em f de friends, fame and feli-
city não poderia ser preservada sem modificarmos totalmente o signifi-
cado de uma das palavras presentes. Nossa solução foi buscar uma alite-
ração no texto de chegada em que outro significante estivesse presente e
em que todas as palavras tivessem significado o mais próximo do origi-
nal. Dessa forma, ao traduzirmos como amigos, fama e felicidade, esco-
lhemos a aliteração em a de amigos e, buscando sinônimos para fama e
felicidade, terminamos por formar amigos, admiração e alegrias. No
exemplo seguinte, found or founded, a aliteração possui um trocadilho
implícito no significado. A tradução por encontraste ou fundaste perde-
ria tanto o jogo de significados quanto a aliteração. Nossa opção, portan-
to, foi a de manter a aliteração em f, buscando palavras correlatas ao
significado no original, chegando à escolha já mostrada. Os exemplos
seguintes também ilustram jogos de palavras que tentamos preservar,
traduzindo somethings & nothings por várias cousas & cousas algumas,
onde a palavra cousa faz o trabalho de repetição existente nas termina-
ções em ing, mantendo, ainda o significado inerente a cada vocábulo.
No último exemplo, a aliteração de decent deed done é mantida na tra-
dução feito feliz fiz, igualmente sem perdermos a carga semântica pre-
sente no texto.
Em algumas passagens, Byron imprime sua marca ao grafar cer-
tas palavras de forma peculiar, como chuse (para choose), edite (para
edit) e redde (para read). Também essas particularidades foram observa-
das e procuramos soluções na tradução que mantivessem a marca do
autor. No primeiro caso, a preponderância fotica sobre a ortográfica se
mostra presente ao traduzimos chuse por iscolheres. No segundo caso,
edite e edit não apresentam variação fonética, apenas estão grafadas de
forma a chamarem a atenção do leitor. Portanto, optamos por acrescen-
tar a letra h à tradução de edit (editar) também como recurso para man-
ter a palavra marcada no texto traduzido. Também redde e read não
apresentam variação fonética, por isso acrescentamos uma letra l a mais
na tradução redde (lli) igualmente para manter a palavra marcada na
tradução.
Um dos pontos mais desafiadores no processo tradutório foi a
resposta em forma de poema que Byron enviou a John Murray, presente
na carta 25, como mostra o excerto abaixo:
140
Dear Doctor—I have read your play
Which is a good one in its way
Purges the eyes & moves the bowels
And drenches handkerchiefs like towels
With tears that in a flux of Grief
Afford hysterical relief
To shatter’d nerves & quickened pulses
Which your catastrophe convulses.
(Carta 25 – para John Murray, linhas 1 a 8)
Sendo o corpus de nosso trabalho composto por textos em prosa,
a presença desse trecho em verso demandou nova reflexão sobre como
traduzi-lo em concordância com a meta inicial de respeito à letra do
original. Erna Bennett (2002, p. 1), afirma que
A poesia não é nem apenas palavras, nem somen-
te métrica. Ela é uma música de palavras, e é uma
forma de se ver e interpretar o mundo e nossa ex-
periência dele, e de fornecer ao ouvinte uma
consciência realçada dele através de uma intensa
concentração de metáforas e palavras em que a
fluidez natural dos sons do discurso é moldada a
um tipo de padrão formal. Tais padrões jamais
poderão ser os mesmos as o ato tradutório.
Sabedores de que a tradução de textos poéticos requer um estudo
aprofundado sobre o tema em particular e considerando que os textos
escolhidos para o corpus de nossa pesquisa foram os textos em prosa de
Byron e não suas obras poéticas, nossa decisão foi a de nos mantermos
dentro do projeto de tradução inicialmente proposto, ou seja, o de buscar
uma tradução, também para os textos em verso, em que preponderasse o
respeito pela letra do original. Em nossa análise, consideramos a letra do
original como sendo a métrica aplicada pelo autor ̶ no caso em questão,
o poema é octossílabo e a rima presente no texto poético. Então, para
nos mantermos coerentes com o projeto de tradução proposto, o poema
foi inicialmente traduzido com o objetivo de manter a rima dos versos,
porém sem nos afastarmos demais do sentido de cada um deles. O ras-
cunho da tradução ficou como mostra o excerto a seguir:
141
Caro Doutor—eu li tua peça
Que ao seu modo é boa à beça
Purga os olhos & move as tripas
E encharca lenços em bicas
Com lágrimas que num fluxo de Aflição
Dão histérico avio e vasão
A nervos abalados & acelerados pulsos
Que tua catastrofe faz convulsos
Após terminarmos a primeira versão do texto poético, procede-
mos à contagem das sílabas poéticas nos versos traduzidos. Pelo e-
xemplo acima, podemos observar que os três primeiros versos perma-
neceram octossílabos. Já a métrica dos versos seguintes varia de uma
redondilha no quarto verso a um verso rbaro no sétimo. Dessa for-
ma, a tradução inicial da letra com a manutenção da rima gerou versos
cujas métricas flutuantes desacordavam da métrica do texto original. A
solução que encontramos foi alterar o número de sílabas poéticas nos
versos em que a tradução não gerou um octossílabo, reduzindo-as ou
aumentando-as, conforme a necessidade. O texto traduzido final ficou
como mostra o exemplo abaixo:
Caro Doutor—eu li tua peça
Que ao seu modo é boa à beça
Purga os olhos & move as tripas
Ensopando lenços em bicas
Com lágrimas que em Aflição
Dão histérico avio e vasão
A nervos trêmulos & pulsos
Que tua tragédia faz convulsos
No primeiro verso, para obtermos um octossílabo, contamos as
sílabas poéticas fazendo uso de uma sinérese na palavra tua”. As síla-
bas ficaram assim divididas: “ca-ro-dou-tor-eu-li-tua-pe-ça”. Como a
contagem no verso termina na última sílaba tônica da última palavra, o
ça” de “peça não foi contado e obtivemos, assim, o octossílabo.
No verso seguinte, a contagem de sílabas foi feita da seguinte
forma: que-ao-seu-mo-d-bo-aà-be-ça”. Para obtermos o octossílabo,
dispensamos a elisão de que ao”, assim como a sinérese de boa” e
fizemos uso da elisão em modo é” e em boa à”.
142
Nos versos seguintes, os recursos da sinérese, diérese e elisão fo-
ram empregados dentro das necessidades para que o texto poético per-
manecesse octossílabo do início ao fim.
Dessa forma, consideramos a questão formal da métrica em poe-
sia e da rima, pois, embora o significado transmitido nos textos tenha
igualmente sua importância, é inegável que, ao escolher o verso numa
determinada métrica para sua composição, o autor desejava transmitir o
sentido do texto pela musicalidade presente nas palavras, fazendo uso de
um recurso específico. Ainda, conforme argumentação de Berman
(2007), ao traduzir a forma, o sentido tenderá a vir com ele, o que nem
sempre ocorre quando o sentido do texto é privilegiado na tradução.
143
4 CONCLUSÃO
We work to become, not to acquire.
Elbert Hubbard
Em relação à proposta deste trabalho, procuramos seguir o mes-
mo caminho trilhado por Berman (1995 e 2007) na análise de traduções,
porém aplicado ao processo pré-tradutório, da tradução em si e pós-
tradutório. Nosso projeto de tradução baseou-se no respeito à letra do
original, evidenciando a estrangeiridade no texto traduzido. As escolhas
tradutórias foram feitas em concordância com esse princípio. Além dis-
so, procuramos tratar a questão da temporalidade do texto ao traduzir
determinadas palavras com arcaísmos em ngua portuguesa.
O processo pré-tradutório passou pela leitura das cartas contidas
nos três volumes da correspondência de Byron selecionados como fonte
inicial de pesquisa e pela posterior seleção daquelas cujo conteúdo esta-
va ligado ao objetivo de nosso trabalho, ou seja, cartas enderaçadas a
Madame de Staël ou que possuíssem comentários relevantes sobre ela.
Em seguida, como escoramento da tradução (BERMAN, 1995), fizemos
a leitura das biografias dos autores e o levantamento biográfico a respei-
to dos principais destinatários das cartas selecionadas para o corpus.
Concluído o escoramento da tradução, refizemos a leitura das car-
tas do corpus, identificando as passagens que julgamos problemáticas e
destacando as passagens onde a marca do autor se fazia mais evidente
daquelas em que poderíamos exercer alguma liberdade de tradução.
No processo tradutório, as escolhas feitas passaram principalmen-
te pela não tradução de substantivos próprios, pela manutenção dos arca-
ísmos, aliterões e trocadilhos utilizados pelo autor e pela manutenção
de palavras e expressões estrangeiras como no original.
É relevante revisarmos, também, as opções feitas para a tradução
do texto poético, presente na Carta 25 do catulo anterior. A decisão
tomada foi a de nos mantermos dentro do projeto de tradução, obser-
vando o respeito pela letra do original. Para tanto, o texto original teve
suas sílabas poéticas contadas e foi traduzido com o objetivo de manter
a rima dos versos, porém sem nos afastarmos demais do sentido de cada
um deles. Feito esse primeiro rascunho, procedemos à contagem das
sílabas poéticas nos versos traduzidos, que foram encurtados ou alonga-
dos de modo a se manterem octossílabos como o texto original.
144
Feita a tradução, passamos à sua confrontação com o seu projeto,
por meio das exemplificação das escolhas no catulo dedicado à tradu-
ção comentada. Embora tenhamos chegado a escolhas aceitáveis, não foi
possível mantermos todas as marcas do texto original no texto de chega-
da, em função do apagamento de alguns arcaísmos. Apesar disso, consi-
deramos que o projeto atingiu seu objetivo incial ao apresentar ao leitor
de língua portuguesa uma tradução que primou pelo respeito à letra do
texto original e marcada pela estrangeiridade.
É importante termos em mente que, mais do que chegar a uma
tradução adequada, nossa pesquisa buscou colocar em prática os concei-
tos e reflexões sobre tradução apresentados neste trabalho e discutidos
durante o período de estudo na Pós-Graduação em Estudos da Tradução.
As reflexões de Berman (1995 e 2007) relativas ao processo de
análise e crítica de traduções mostraram-se válidas também no processo
tradutório. Ao pensarmos o ofício do tradutor e a meta da tradução,
fomos levados a um processo de tomada de decisões mais consciente
como profissionais e estudiosos do tema.
O trinômio projeto de tradução, posição tradutória e horizonte
tradutório, conforme proposto por Berman (1995), permite ao tradutor
delinear de forma mais embasada os critérios que serão adotados no
processo tradutório, fundamentando as escolhas feitas e servindo como
base para a crítica da tradução e a autocrítica do tradutor. Ao confrontar
a tradução com seu projeto, o tradutor não apenas julgará seu trabalho
como mais ou menos adequado de acordo com os critérios estabelecidos
por ele ou por quem solicita a tradução –, mas também poderá refletir
sobre as escolhas feitas no processo tradutório, tendo assim a oportuni-
dade de enriquecer sua prática e contribuir com os estudos teóricos da
tradução.
145
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