RESUMO
O transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) desenvolve-se após a vivência
de um trauma e caracteriza-se pela presença de três grupos de sintomas
distintos: revivência do trauma, esquiva / entorpecimento emocional e
hiperestimulação autonômica. No entanto, a simples exposição ao evento
traumático não determina o desenvolvimento de TEPT, uma série de fatores
interagem na aquisição dos sintomas, incluindo fatores individuais como traços
de personalidade e fatores de resiliência. Dentro de uma população de policiais
que permanecem expostos a eventos de risco constantes, a melhor
compreensão dessas características individuais contribui para o
desenvolvimento de técnicas preventivas, visando modificar o impacto de
reações negativas e assim, promovendo uma melhor qualidade de vida. Nessa
perspectiva o objetivo principal do presente estudo foi verificar se
características de resiliência e personalidade em uma população específica de
policiais influenciam o desenvolvimento de sintomas de TEPT. Método:
Estudamos 32 policiais militares do sexo masculino do Estado de São Paulo,
encaminhados pelo Centro de Assistência Social e Jurídica da Policia Militar do
Estado de São Paulo (CASJ), participantes de um evento específico ocorrido
em maio de 2006, quando uma facção do crime organizado atacou diversas
unidades da polícia militar em São Paulo. Os policiais foram encaminhados
para avaliação no Centro de Atenção Integrada à Saúde Mental (CAISM), após
dois meses do evento traumático. Foram aplicadas para diagnóstico as escalas
SCID-CV (entrevista clínica estruturada para os transtornos do eixo I) e CAPS
(escala de PTSD administrada pelo clínico).Uma vez os critérios de inclusão
estabelecidos os sujeitos responderam ao Inventário de Temperamento e
Caráter e o Questionário de Resiliência na mesma data. Resultados: 26,7% da
população estudada desenvolveu sintomas de TEPT. Na comparação dos
grupos que desenvolveram ou não os sintomas verificou-se que os traços de
personalidade apresentaram maiores índices de autodirecionamento e
cooperatividade no grupo que não desenvolveu sintomas, e maiores índices de
busca de novidades e autotranscendência no grupo que desenvolveu sintomas.
A aplicação da análise fatorial apresentou as diferenças na amostra estudada
agrupando os sujeitos em quatro conglomerados; sendo que, em dois destes
as diferenças se mostraram acentuadas: no conglomerado que não
desenvolveu os sintomas e o conglomerado que obteve um maior número de
sujeitos com sintomas de TEPT. Tais diferenças sugerem que traços de
personalidade e comportamentos resilientes possam proteger o indivíduo do
desenvolvimento dos sintomas.